A PROVA DE REDAÇÃO ENEM 2016 - novoportal.upf.brnovoportal.upf.br/_uploads/Conteudo/Revisão...
Transcript of A PROVA DE REDAÇÃO ENEM 2016 - novoportal.upf.brnovoportal.upf.br/_uploads/Conteudo/Revisão...
A PROVA DE REDAÇÃO
ENEM 2016Profª Patrícia Valério
CURSO DE LETRAS – UPF
UPF, 29 de outubro de 2016.
O que é um argumento?
(...) razão, raciocínio que conduz à indução ou dedução de algo; prova que serve para afirmar ou negar um fato; recurso para convencer alguém, para alterar-lhe a opinião ou o
comportamento (...)Fonte: Dicionário Houaiss
Argumentum (argu- fazer brilhar, iluminar).
“Um argumento não é necessariamente uma prova deverdade. Trata-se, acima de tudo, de um recurso de naturezalinguística destinado a levar o interlocutor a aceitar os pontosde vista daquele que fala”. (FIORIN, J.L., 2003, p. 279).
1) DOMÍNIO DA MODALIDADE FORMAL:
• DOMÍNIO da modalidade escrita formal;
• Cuidado com ‘desvios gramaticais’;
• Conhecimento de convenções da escrita;
• Escolha vocabular criteriosa.
Matriz de Competências
2) TEMA E TIPO DE TEXTO:
• desenvolver o tema adequadamente – sem tangenciamento;
• desenvolver o tema sem cópia dos textos base;
• apresentar argumentação consistente.
3) SELECIONAR, ORGANIZAR, RELACIONAR E INTERPRETAR:
apresentar informações, fatos e opiniões de forma consistente, configurando autoria, em defesa de um ponto de vista.
4) CONHECIMENTO DA LÍNGUA:
articular as partes do texto;
apresentar bom repertório.
5) PROPOSTA DE INTERVENÇÃO, RESPEITANDO OS DIREITOS HUMANOS:
elaborar com clareza a proposta de intervenção, detalhando-a;
articular a intervenção com o ponto de vista desenvolvido no texto.
MORTE E VIDA SEVERINA
(oposição)
Vida x morte
Pobreza x riqueza
Solidão x companhia
Ausência x abundância água
Desejo de morte x desejo de vida
Passado x futuro
Espaço marginal x espaço centralizado
• Escrever bem (clareza, organização, padrão culto).
• Usar argumentos em defesa de um ponto de vista –fundamentá-los.
• Mostrar que é leitor – outras áreas, do mundo, da atualidade.
• Não fugir da tipologia solicitada.
• Usar vocabulário adequado – construções linguísticas.
• Ler atualidade.
Sugestões de leiturajornais e revistas da atualidade, preferencialmente, acompanhados de outras leituras).
Jornal Folha de São Paulo:http://www.folha.uol.com.br/
Jornal Zero Horahttp://zh.clicrbs.com.br/rs/
Jornal Correio do Povohttp://www.correiodopovo.com.br/
Revista Épocahttp://epoca.globo.com/
Jornal O Estado de São Paulo:http://www.estadao.com.br/
(Jornal El Paíshttp://brasil.elpais.com/
Carta Capitalhttp://www.cartacapital.com.br/
Observatório da Imprensahttp://observatoriodaimprensa.com.br/
ANALISANDO UMA PROPOSTA
ANALISANDO UMA PROPOSTA
Sobre o aborto, deficiência e limitesA possível ligação entre o zika vírus e a microcefalia obrigou o Brasil a encarar
seus tabus
Eliane Brum
Sobre aborto, deficiência e limites
A possível ligação entre o zika vírus e a microcefalia obrigou o Brasil a encarar seus
tabus
Uma doença nunca é só uma doença. Ela nos conta de desigualdades e falências, e
também de paixões. O zika vírus, desde que foi associado à microcefalia, tem revolvido as
profundezas do pântano em que a sociedade brasileira esconde seus preconceitos e
totalitarismos, muitas vezes trazendo-os à superfície cobertos por uma máscara de virtude. É
dessa matéria fervente o debate sobre a permissão do aborto em casos de microcefalia. Diante
da crise sanitária revelada pelo Aedes brasilis, como o mosquito vetor já foi chamado de forma
tão oportuna, o futuro próximo depende de que sejamos capazes de pensar, mesmo que isso
signifique chamuscar as mãos. Pensar e conversar, o que implica vestir a pele do outro antes
de sair repetindo os velhos clichês usados como escudos contra mudanças. Se não formos
capazes de superar o comportamento de torcida de futebol nem mesmo diante de uma
epidemia considerada “emergência global”, o mosquito é o menor dos nossos problemas.
No Brasil, o aborto só é permitido em caso de gravidez resultante de estupro, risco de morte
da gestante e anencefalia do feto. Neste último caso, a liberação foi permitida pelo Supremo
Tribunal Federal em 2012, por se tratar de uma condição incompatível com a vida. Prevaleceu a
tese de que não haveria ali uma vida a ser protegida e, portanto, obrigar uma mulher a levar
uma gestação em que ao final haveria um caixão e não um berço era afrontar a sua dignidade e
submetê-la à tortura. Aquelas mulheres que encontrassem sentido em completar uma gravidez
de feto anencefálico seguiriam, obviamente, com seus direitos garantidos.
Este é um ponto importante: o respeito ao direito de escolha de cada mulher, a partir de suas
condições concretas e subjetivas, da teia de sentidos construída por cada uma para se mover pelo
mundo. Quando o aborto é permitido, em nenhum momento essa liberação tira de qualquer mulher o
direito de não fazê-lo. O que acontece é a ampliação de direitos – e não o estreitamento. Quem entende
que fazer um aborto é o mais coerente para a sua vida faz. Quem entende que não – não faz. Preciso
informar ao leitor que participei ativamente do debate do aborto de feto anencefálico. Como repórter, na
cobertura do tema, e num documentário chamado Uma História Severina, no qual é narrada a luta por
autorização judicial travada por uma mulher nordestina, pobre e analfabeta, para interromper a gestação
de um feto anencefálico.
Embora no Brasil o aborto só seja legalmente permitido em três casos, a prática é inteiramente
outra. E compreender isso é fundamental para qualquer debate honesto. Na vida de todos os dias, o
aborto é liberado para quem por ele pode pagar. Se uma mulher de classe média ou alta engravidar, e
por diferentes motivos essa gravidez for indesejada, ela vai a uma clínica particular, paga entre 5 mil e
15 mil reais e interrompe a gestação com considerável segurança. Seus dilemas são pessoais, internos,
já que a decisão de abortar costuma ser difícil, mesmo quando há convicção pessoal de que é
impossível levar aquela gestação adiante. Mas essa mulher não precisa temer ser presa, muito menos
morrer por um aborto mal feito. Isso quase certamente não acontecerá com ela.
Com as mulheres pobres, sim. Para elas, abortar significa correr o risco de ser presa como
criminosa e significa correr o risco de morrer. Como uma clínica segura, com boas condições sanitárias
e profissionais preparados, custa entre 6 e 17 salários mínimos, ela só poderá se arriscar a esquemas
muito inseguros. A cada ano, há mais de 200 mil atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) por
complicações pós-aborto, a maioria deles por procedimentos induzidos. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), são realizados mais de 1 milhão de abortos inseguros por ano no Brasil. O
aborto é a quinta causa de mortalidade materna no país.
Os números de atendimentos no SUS por complicações pós-aborto provam que dezenas de
milhares de mulheres pobres estavam tão desesperadas que se arriscaram a serem presas e também
a morrer. E, mesmo assim, acreditaram que esse risco era menor do que o de levar a gestação até o
fim. Aqui é preciso interromper o texto por um parágrafo para, juntos, tentarmos nos colocar na pele
dessa mulher. E é preciso fazer isso para além do ódio contra as mulheres, arraigado na sociedade
brasileira. É preciso pensar – e não odiar, que é muito mais fácil.
Quem se arrisca a ser presa e a morrer está se arriscando a muito. Está arriscando tudo. Assim, é
possível concordarmos, ao menos, que os fatos demonstram que aborto não é um ato banal para
essas mulheres, mas uma necessidade profunda, movida por condições objetivas e subjetivas que só
elas conhecem intimamente. Então, cuidado antes de sair apontando um dedo acusatório: nenhuma
delas aborta sem um motivo muito forte. E isso tem de ser escutado por qualquer sociedade que queira
se nortear pela ética.
Escutar é justamente debater. Aqueles que não querem debater aborto no Brasil precisam assumir
que não se importam com a prisão e a morte de mulheres jovens e pobres, a maioria delas negras, já
que estes são os fatos. Precisam assumir também que não se importam que o acesso ao aborto
reproduza a desigualdade racial e social do Brasil, ao tornar-se acessível e seguro para quem pode
pagar e criminalizado e mortífero para quem não pode. Quem se importa, debate os fatos. E escuta a
posição do outro, mesmo que seja muito diferente da sua. Viver é mover-se.
E aqui, vale sublinhar, estamos falando apenas do pior. Mesmo nos casos em que o aborto é
consumado sem complicações, é possível pelo menos imaginar o nível de pavor que uma mulher
enfrenta ao se arriscar a fazê-lo em condições tão terríveis e sem nenhum amparo. É um pesadelo, e é
um pesadelo que agora mesmo, neste instante, está sendo vivido por uma mulher em situação de
extrema fragilidade. Não me parece que seja possível viver ignorando as mulheres que sofrem. E é
assim que a sociedade brasileira tem vivido.
O aborto costuma surgir no debate público como moeda eleitoral. Em busca do
voto religioso, candidatos da direita a esquerda têm se omitido ou chantageado com a
vida das mulheres. Esta é mais uma evidência da corrosão da política tradicional, que
tem se mostrado capaz de leiloar qualquer princípio: primeiro em nome de vencer a
eleição, depois em nome dessa indecência que tem sido chamada de
“governabilidade”.
Quando o zika vírus provoca um debate sobre o aborto, é fundamental que todos
nos esforcemos para qualificá-lo. Diante de um cenário dramático, o melhor caminho é
fazer da crise uma oportunidade para tornar o país mais justo.
BRUM, Eliane. Opinião. Jornal El País. Disponível em
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/15/opinion/1455540965_851244.html. Acesso em 30
de setembro de 2016.
“O ponto de vista cria o objeto.” (Ferdinand de Saussure).
Morte e Vida Severina
Chico Buarque de Holanda
Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca