A promessa-viii
-
Upload
joao-carreira -
Category
Education
-
view
627 -
download
1
Transcript of A promessa-viii
A PROMESSA
VIII. A Menina e mais outros tantos . . .
Loison, alcunhado pelos portugueses de ‘Luisão’ e de ‘Maneta’, entrou na
cidade da Guarda a gritar pelo ‘Mitra’, mas horas antes e pouco depois
de D. Mendonça Arrais lembrar do púlpito que a força e a nobreza de
qualquer pessoa reside apenas nas suas atitudes, na sua coragem e na
forma como trata os outros, o mesmo foi raptado, atado e escondido num
carro de bois que o levou a Melo. Caso contrário, o Maneta seria capaz
de matar o bispo da Guarda e de Pinhel, mas talvez ficasse para sempre
sem dentes se o encontrasse pela frente. Os franceses que escreveram a
história, gravaram em jornais e livros que Loison entrou como um
grande herói e guerreiro na forte cidade, mas na verdade não foi
assim. Havia na guarda apenas um canhão em condições de fazer frente
ao invasor e mesmo a essa peça já faltavam asas. A Guarda não deixou
de ser forte por causa do que sucedeu, mas os franceses entraram,
destruíram e saquearam o que quiseram na Guarda sem nenhuma
resistência. Os egitanienses não resistiram só por serem pais e filhos,
mas também como por verem tão grande número de franceses. Não foi
nunca falta de coragem, mas juízo… quase todos fugiram e os
assassinatos foram de pessoas idosas e deficientes, que
lamentavelmente não conseguiram fugir. Depois de uma tarde de sangue,
seguiu-se a rapinagem de tudo. Não houve honra, nem coragem dos
franceses, mas os relatos escritos pelos cronistas do 4ºExército falam
de uma grande resistência e uma vitória impar.
Os homens foram a Madrid buscar a menina Francisca, mas foram sem a
ajuda do “Abrólio“, pois este tinha ido para o Douro guardar o vinho do
Porto, para portugueses e ingleses. Também, nessa altura, para lá foram
o “Malha-pão” e o “Patas-de-Lacrau”. O “Abrólio” era vítima constante das
frieiras. Fossem elas nos pés, nas mãos ou nas orelhas. Até a própria
face, às vezes, aparentava a roxidão das ditas. As mulheres que
soravam o queijo invejavam-lhe as mãos geladas e ele só as queria
quentes.
Os ingleses começavam agora a comprar várias quintas e tinham nomes
como Taylor, Offley, Croft ou Sandeman, mas quase todos esses eram
apelidos de mercadores ingleses do vinho Verde e que enriquecidos
depois de despacharem muito vinho em barcos que partiam de Viana do
Castelo com destino aos portos de Londres e de Porthsmouth. As origens
desses eram de mercadores com o mesmo sangue vermelho dos mercadores
de Loriga, de Alvoco da Serra, de Manteigas, de Folguinho e eu sei lá de
onde… Depois, uma segunda geração de ingleses chegou ao Porto para
orientar administrativa e contabilisticamente essas firmas firmas. Era
mais culta, como o talentoso pintor e Barão Forrester ou Sir Robert
William Woodhouse Lancaster. Foram este grupo de ingleses que depois
deram origem às belas e heroicas histórias do Palácio da Feitoria, na
agora rua dos ingleses e que serviram de inspiração a Júlio Dinis
para “Uma Família Inglesa”. Com a partida da família real, Lisboa
rendeu-se aos franceses e o Porto, mais comercial e burguês, tendeu
para a Grã-Bretanha. O Porto nunca se renderia ou renderá. Nem que
morressem todos.
O “Abrólio“ era de Seia e começou como moço de mula do Senhor Manuel
Luís. Bom homem, trabalhador e senhor do seu ofício, apenas com um
valente defeito. O “Abrólio” teve várias alcunhas, todas ganhas em
Loriga, sendo que só essa vingou, pois falava mais do que devia e esse
atrevimento custou-lhe a vida ao desafiar o salteador João Brandão.
Mas até à morte, ainda teve tempo de ser marido de uma rapariga
tecedeira muito bonita, de Gouveia e que ficou cega na juventude. Desse
casamento nasceu, Ana Augusta Pereira, tão bonita quanto a mãe. Se o
nome “Abrólio” nada diz, já o nome do neto talvez diga algo, Afonso
Maria de Ligório.
Afonso foi encontrado às 10 horas da noite à porta de Maria de Jesus,
em Santiago, como “Exposto da Roda”. Assim foi feito por baptismo na
igreja de Santiago, no dia 7 de Março de 1871, muitos anos depois desta
história agora contada. ‘Ligório’, em homenagem ao arcebispo de Milão
que protegia os jesuítas. Em adulto detestava falar das suas origens e
cuidava que esse mistério adensasse a lenda e o herói que foi. Teve
então também o neto do “Abrólio” um sem-número de alcunhas, Jacobino
de Algodres, Conspirador Bolchevista, Chefe de Calceteiros e Mata-
Frades. Joaquim Vieira escreveu na sua Fotobiografia: «Pertence àquela
pequena galeria de homens que passaram à História envoltos por
lendas. Apologéticas e demonizadoras. Ora idealista e patriota. Ora
ambicioso e sem escrúpulos. Ora democrata. Ora ditador. Chegou dele a
dizer-se que batia na mãe...»
Afonso, aos três anos, quase morreu com uma angina. Os médicos diziam
tratar-se de um milagre e o miúdo ria. Tinha o sangue quente, dizia a
gente. Pequeno e gorducho, raramente não passava o dia sem andar à
pancada ou em guerras de pedrada e cabeça rachada. Os ninhos
raramente sobreviviam por onde ele passava. Quando tinha dez anos foi
perfilhado pela filha do ‘Abrólio’, Ana Augusta e o marido, Sebastião
Fernandes da Costa. Este outro Sebastião era quase padre quando se
apaixonou por Ana Augusta. Foi um escândalo, mas lá casou e como
homem inteligente, depressa se formou em Direito e em Coimbra. Assim,
com o perfilhamento, ‘Ligório’ passou a ser Afonso Augusto da Costa. Os
pais mandaram-no para a Guarda e para Coimbra estudar e em ambos os
lugares brilhou nos estudos e nas brigas. Falava alto, como homem
livre e sem medo. Um serrano em tudo o que fazia e isso assustava os
submissos. Tinha 19 anos e ardia de raiva contra o ‘Ultimatum’, fazendo
de seu herói o grande Magalhães Lima, maçon e fundador de ‘O Século’,
que desafiara o rei D. Luís e que estava preso no Limoeiro. Magalhães
Lima foi o mesmo que se bateu ao sabre com Pinheiro Chagas, então
director do Diário da Manhã, deixando-o ferido.
Afonso era mais apurado que Magalhães Lima. Ácido, nos advérbios.
Claro, no argumento. Transparente, nas emoções. Preciso, nas soluções.
Doutorado em 1900, com 29 anos, tornou-se deputado. E no dia 19 de Junho
de 1900, Poças Falcão, presidente da Câmara de Deputados, deu-lhe,
inquieto, a palavra, pela primeira vez. O país nunca mais foi o mesmo.
No jornal O Norte, João Chagas escreveu, «Todos os olhares caem sobre o
deputado do Porto, que começa a falar alto e no seu habitual tom de
energia. Começa a ler, lentamente, como um juiz lê uma sentença, aquela
formidável moção de ordem. O murmúrio, a princípio vago, vai
aumentando. É a tempestade que quer rebentar. Mas Afonso Costa não lê:
impõe. Quando ele conclui – porque conclui! – é um ah! de espanto!». O
resto é história, que todos deveriam saber, sobre aquele que Seia
guarda com carinho, amor e paixão numa rotunda para muitos caminhos.
Também no ano de 1810, quando os homens partiram para Madrid, em
Loriga, nasceu uma criança menos famosa que Afonso Costa, o Zé da
Teresa.
Na Serra os nomes dos pais, por vezes, passam a alcunhas dos filhos,
assim aconteceu com o Zé da Teresa. A Teresa casou três vezes, não por
falta de virtude ou virtudes físicas a mais. Os maridos simplesmente
imigravam para o Brasil e lá morriam em Manaus, de uma maleita pior
do que a da Varíola ou da Pneumónica que assolou a Vide, para não
saltar até ao século XX e ao Tifo de Loriga, que me levou uma bisavó.
Teresa simplesmente enviuvou, como enviuvou a mãe dela, que teve duas
filhas de dois maridos. A meia-irmã de Teresa, Maria, tinha olhos verdes
e cabelo cor de milho, em fim de gestação. Maria era bem diferente, em
tudo e até na saúde. Linda de fazer abrir as bocas e de provocar os
sonhos menos castos, aos moços e homens da vila. Todos sabiam que ela
não era para qualquer um e ela também o sabia. Por ser demasiado
bonita e excessivamente esperta, casou com Vicente Calheiros, de
Valezim.
Vicente era um funcionário da administração que conhecia bem o meio e
que dele tirava os melhores frutos e amizades. Era profundamente,
esperto, ambicioso e só cobiçava o melhor. Havia nele o recalcamento de
alguns, que tendo sido de famílias ricas, não descansam enquanto não
volta a fortuna. Vicente era neto de um conde do Norte, que perdera
tudo em jogos de azar e com amantes. Tal passado engasgara muitas
vezes o pai de Vicente e a este não lhe corria na garganta. Emprestava
a juros. Comprava a quem tinha a corda na garganta e só não tinha o
que não queria. Acordava e deitava-se, desde muito novo, a pensar no
dinheiro, em terras que havia de ter e como as havia de ter. Raramente,
ficou sem as ter.
Teresa não teve a mesma sorte da meia-irmã, até porque não há tantos
ricos como míscaros na Serra. Teresa casou com homens simples e Zé era
filho do primeiro deles. O filho nunca conheceu o pai, mas conheceu os
outros maridos da mãe e mais sete meias-irmãs. Teresa, gordinha e de
ossos largos, tinha os cabelos castanhos-escuros e os olhos azuis que
envelheceram a lavar muita roupa e a ultimar muita peça de lã, mas
nunca perdeu o sorriso franco, rasgado nos lábios, que mesmo nas
piores desgraças se mantinha e que derretia qualquer. Tantas mães da
Serra foram assim, esforçadas e corajosas frente às tristezas. Teresa
criou os filhos sozinha, pois até o último marido, marceneiro, filho
mais novo da ‘tia Taleiga’, cedo se magoou e entravado ficou. Ele, foi
homem que nunca pensou sair de Loriga, pois viu todos os irmãos
partirem para o Brasil e sobrou por cá, para cuidar dos pais na
velhice. O Zé da Teresa criou-se com amoras, castanhas, nozes e todas as
frutas que ia apanhando pelo caminho e as irmãs, criaram-se a
trabalharem no mesmo que a mãe e ao contrário da sua tia Maria. Era
moço de carinho e amava a família como o Sol ama o dia e a Lua ama a
noite. Foi ele que fez aquela estrada que liga a Lapa dos Dinheiros ao
mundo, quando já velho passeava elegantemente de bengala. Gostava de
vestir bem, mas só vaidoso para ele mesmo e não para se afirmar aos
outros; nisso, era talvez humilde em demasia. A fome muitas vezes lhe
tocou fundo na carne e ele nunca se queixou. Deixava a comida para as
irmãs que eram a sua maior fortuna. Gostava de as ver felizes e
contentes, como se fossem princesas e ele, um mero súbdito. Foi nessa
fome, inconfessada, que muitas vezes roubou frutas, galinhas, pão e
raramente foi apanhado. Roubava só a quem tinha e podia viver sem o
que tirava. Muitas foram as vezes que, já com rendimento decente e
trabalho honrado, devolveu em dinheiro o correspondente ao saque,
quando se lembrava da vítima ou a via numa feira ou praça.
Foi Sebastião que o ajudou o Zé da Teresa. Não lhe deu muito, mas
ensinou-o a pescar. Ensinou-o a querer ser mais, de forma honesta,
naturalmente. Coisa que é difícil, mas que é possível. Depois de muito
tempo a roubar ou perdido em pequenos fretes, Sebastião achava que
não era vida para o moço e teve umas conversas com os Calheiros. A
fama destes no campo do dinheiro não era boa, mas era gente que amava
a família, mesmo que Maria não quisesse nada com a irmã Teresa. Dizia
a gente da Serra que a inveja e o ciúme distanciam águas de ribeiras
com mais força que a vara de Moisés, mas Maria não sofria apenas
disso. Talvez Maria não sofresse mesmo disso. Maria sofria de uma
imensurável ira contra Deus e o Conde da Covilhã, colocado em lugares
de destaque na banca, não queria ser conhecido por ter um primo
direito que roubara para sobreviver e através do mesmo Sebastião,
cuidou de ajudar anonimamente o primo, mesmo querendo o contacto
mínimo com ele. Sorte diferente teve o marido de uma irmã do Zé da
Teresa, que tratou de todos os trabalhos de marcenaria no solar dos
Calheiros, em Valezim, que hoje jaz arruinado aos pedaços no meio da
natureza; agora que os lugares estão a ficar vazios de gente. O Zé da
Teresa começou por acompanhar Sebastião, mas era dado em demasia à
conversa, às raparigas e dispersava-se muito em tudo o que fazia.
Diletante nas obrigações, tinha talento para as contas e por isso,
Sebastião arranjou forma de que o Zé ajudasse um guarda-livros famoso
da Covilhã e por lá ficou. Com o tempo, o Zé foi-se aproximando de
Loriga até que, quando a fábrica da Fândega nasceu do granito bem
talhado, tornou-se o seu primeiro guarda-livros e foi nela que morreu
a trabalhar. A doença que ensombrava o seu sangue não lhe tocou, mas
ao seu primo Calheiros acudiram com alguidares de latão para
limparem um mar de sangue. Mal do qual ele pedia segredo. Maria colhia
a força da ira que sentia por Deus, quando Ele colocou no seu sangue o
que só colocara em parte do sangue de Teresa. Depois de ter o filho, fez
da arruda sua companhia. O padre dizia-lhe para suportar a cruz e
Maria mordia a língua, porque vontade tinha ela de O colocar várias
vezes na cruz. Com o tempo, Vicente perdeu-lhe o gosto e procurou
outras mulheres. Ao morrer, Maria não quis a extrema-unção e o padre
não lha deu. Apenas se sabe que nenhum dos seus sobrinhos de sangue
foi ao velório. A morte foi pouco falada em Loriga, mas nas terras-
vizinhas todos estranharam, excepto em Valezim, onde nunca ninguém
ouvira falar a Maria, dos sobrinhos ou da irmã.
O Zé da Teresa já berrava, quando os homens que foram a Madrid já
tinham passado o cemitério de Loriga, poucos metros acima do largo do
Terreiro da Lição e junto à capela de Santo António.
Nesse dia e continuando o início destas páginas, seis léguas abaixo da
Guarda, do outro lado da Serra, a vila da Covilhã foi avisada do
levantamento egitaniense do dia dois, ao mesmo tempo pelos mercadores
de Loriga, da Eirada e por emissários do governador de Coimbra. Quando
os invasores saíram de Almeida a caminho da Guarda, na vila da
Covilhã, às nove horas da manhã, o juiz de fora Caetano de Mello da
Gama Araújo e Azevedo colocou as cinco quinas nas janelas de casa e
gritou vivas ao Príncipe Regente. A tristeza da gente depressa morreu
pelo contágio da alegria do Juiz e nessa tarde do dia três, toda a
gente fez uma enorme festa e cortejo louvando o Príncipe Regente,
chegando o estandarte real a correr as ruas nas mãos do tenente-
coronel Gregório Tavares. A alegria era muita e chegou a marcar-se um
‘Te Deum’ para o dia quatro. A coisa acabou quando de noite, dois homens
de Unhais da Serra espalharam as notícias dos trágicos acontecimentos
da Guarda, depois de o saberem por homens de Alvoco da Serra e de
Loriga. Mesmo assim, a chama do patriotismo não acalmou e o
levantamento manteve-se bem vivo na Covilhã. Gregório Tavares, chefe
do 1ºRegimento de milícias da comarca, conseguiu juntar facilmente
duzentos voluntários para defenderem a vila e achou-se pólvora
suficiente; mas não haviam balas, pois demoravam tempo a fazer. O povo
da Covilhã estava disposto a tudo e fervia num anti estrangeirismo
patriótico nunca antes visto. Conta-se até que com falta de balas, os
homens de Tavares andavam porta-a-porta a ver quem tinha armas e que
ao chegarem a casa de um irlandês, Reynolds de seu nome, o mesmo se
negou a dar as suas armas em prole da vila. A coisa espalhou-se e o
povo todo juntou-se na porta da casa dele. Na casa estava outro
estrangeiro que servia de tradutor, pois Reynolds andava a vender
teares aos mais endinheirados da terra e este saiu nervoso à rua de
espada na mão. O povo caiu-lhe em cima e matou de tanta pancada e
quase aconteceu o mesmo a Reynolds que depois de tanto levar e até
julgarem que estava morto fugiu para o Porto e nunca mais voltou. O
povo gritava em uníssono, ‘TRAIDORES’. Só muito mais tarde e com os
ingleses é que os estrangeiros deixaram de ser vistos com enorme
desconfiança na Covilhã. No dia 4, o ‘Pata-Mole’, homem da Eirada e
alcunhado assim em Loriga por ter pouca sorte com as raparigas,
avisou a Covilhã de que Loison passava ao lado, para lá do Zêzere, a
duas léguas da vila e perto de Belmonte. Loison estava farto das
povoações e procurava não perder tempo no seu caminho para o Sul.
Gregório Tavares pegou então num macho e com o ‘Arranca-Muros’, seu
amigo e mercador de Loriga, conseguiu descobrir onde os franceses
passaram a noite, perto de Caria. O alvoroço era enorme na vila da
Covilhã. Pela noite, o ‘Arranca-Muros’ surpreendeu um dos portugueses
que havia fugido da guarnição francesa. Ao chegarem à Covilhã, esse
homem confessou que os franceses eram, cerca ou mais, de 4400 homens.
Foi então que um frade franciscano de nome José da Madre de Deus saiu
e disse que ia fazer prisioneiros, mas Tavares não deixou que fosse
sozinho e mandou com ele o moço corpulento das mulas do ‘Arranca-
Muros’, o ‘Bichinho’ do Outeiro da Vinha. Os dois homens, ao passarem o
Zêzere, foram surpreendidos por outros quatros homens armados - um
padre, dois mercadores e um barbeiro -, que se juntaram a eles. O frade e
os cinco companheiros, pouco tempo depois encontraram, no lugar da
Capinha, sete franceses que resistiram até que um deles foi morto a
tiro pelo barbeiro e os outros foram imobilizados a soco e pontapé.
Todos acabaram a noite na Covilhã e esse foi o início de um sopro de
resistência lusa só anteriormente vista no tempo das Descobertas. O
frade franciscano José da Madre de Deus ainda deu provas da sua
enorme valentia no bloqueio de Almeida. O povo português levantou-se
como nunca e foi o povo que expulsou verdadeiramente os franceses,
começando a Norte do Douro e contagiando tudo e todos. O ‘Bichinho’
acabou a vida em Manaus e o ‘Arranca-Muros’ foi morto à facada por uma
cigana com quem casou.
Depois destes acontecimentos, os homem do Senhor Manuel Luís chegaram
a Madrid passado uma semana para buscarem a menina Francisca.
Estavam exaustos e cansados de tanto fugirem ao frio e à gente, pois
queriam ir e voltar sem problemas.