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152 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 113, p. 152-170, jan./mar. 2013 A produção do conhecimento nas Ciências Sociais e a provisoriedade da realidade material e simbólica* The production of knowledge in Social Sciences and the temporary aspect of the material and symbolic reality Maria do Socorro F. Osterne** Glaucíria Mota Brasil*** Rosemary de Oliveira Almeida**** Resumo: O presente artigo aborda as polêmicas e contradições que têm acompanhado as discussões acerca da cientificidade no campo das Ciências Sociais e suas controvérsias paradigmáticas no intuito de pensar a realidade social. Advoga a ideia do devir, a historicidade e o caráter ideológico do processo de conhecimento, além da inexistência de um único método científico. Destaca a relação sujeito e objeto no processo de objetivação do conhecimento e do vínculo com o empíri- co, sem esquecer que a objetividade é a utopia da ciência. Por fim, enfatiza as exigências do método científico, na condição de constitui- ção de métodos rigorosos e flexíveis que consideram a dinâmica e a provisoriedade da realidade material e simbólica. Palavras-chave: Ciência. Cientificidade. Métodos e ciências sociais. * Artigo originado da reflexão e experiência das autoras pesquisadoras no trato de seus objetos de pesquisa. ** Professora do curso de Serviço Social e do programa de pós-graduação em políticas públicas e so- ciedade da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Fortaleza/CE, Brasil; doutora em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: [email protected]. *** Professora do curso de Serviço Social e do programa de pós-graduação em políticas públicas e sociedade da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Fortaleza/CE, Brasil; doutora em Serviço Social (PUC-SP) e pesquisadora do CNPq. E-mail: [email protected]. **** Professora do curso de Serviço Social e do programa de pós-graduação em políticas públicas e sociedade da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Fortaleza/CE, Brasil; doutora em Sociologia. E-mail: [email protected].

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A produção do conhecimento nas Ciências Sociais e a provisoriedade da realidade material e simbólica*

The production of knowledge in Social Sciences and the temporary aspect of the material and symbolic reality

Maria do Socorro F. Osterne** Glaucíria Mota Brasil***

Rosemary de Oliveira Almeida****

Resumo: OpresenteartigoabordaaspolêmicasecontradiçõesquetêmacompanhadoasdiscussõesacercadacientificidadenocampodasCiênciasSociais e suas controvérsias paradigmáticas no intuito depensararealidadesocial.Advogaaideiadodevir,ahistoricidadeeocaráterideológicodoprocessodeconhecimento,alémdainexistênciadeumúnicométodocientífico.Destacaarelaçãosujeitoeobjetonoprocessodeobjetivaçãodoconhecimentoedovínculocomoempíri-co,semesquecerqueaobjetividadeéautopiadaciência.Porfim,enfatizaasexigênciasdométodocientífico,nacondiçãodeconstitui-çãodemétodosrigorososeflexíveisqueconsideramadinâmicaeaprovisoriedadedarealidadematerialesimbólica.

Palavras-chave:Ciência.Cientificidade.Métodoseciênciassociais.

*Artigooriginadoda reflexãoeexperiênciadasautoraspesquisadorasno tratode seusobjetosdepesquisa.

**ProfessoradocursodeServiçoSocialedoprogramadepós-graduaçãoempolíticaspúblicaseso-ciedadedaUniversidadeEstadualdoCeará(Uece),Fortaleza/CE,Brasil;doutoraemServiçoSocialpelaUniversidadeFederaldePernambuco.E-mail:[email protected].

***ProfessoradocursodeServiçoSocialedoprogramadepós-graduaçãoempolíticaspúblicasesociedadedaUniversidadeEstadualdoCeará (Uece),Fortaleza/CE,Brasil; doutora emServiçoSocial(PUC-SP)epesquisadoradoCNPq.E-mail:[email protected].

****ProfessoradocursodeServiçoSocialedoprogramadepós-graduaçãoempolíticaspúblicasesociedadedaUniversidadeEstadualdoCeará(Uece),Fortaleza/CE,Brasil;doutoraemSociologia.E-mail: [email protected].

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Abstract: This article dealswith the controversies and contradictions that have followed thediscussionsaboutthescientificcharacterinthefieldofSocialSciencesanditsparadigmaticcontrover-siesinordertothinkaboutthesocialreality.Itsupportstheideaofthebecoming,thehistoricityandtheideologicalnatureoftheprocessofknowledge,aswellastheabsenceofasinglescientificmethod.Itemphasizestherelationshipbetweensubjectandobjectintheprocessofobjectificationofknowledgeandthelinkwiththeempirical,havinginmindthatobjectivityistheutopiaofScience.Finally,itstres-ses the requirementsof thescientificmethod in relation to theconstitutionofflexibleandrigorousmethodsthatconsiderthedynamicsandthetemporarycharacterofthematerialandsymbolicreality.

Keywords:Science.Scientificcharacter.Methodsandsocialsciences.

Ocampocientífico,apesardesuanaturezametódica,éatravessadoporconflitosecontradições.Historicamente,nãoforampoucasastentati-vasdeuniformizaçãodeprocedimentosparaaproduçãodoconheci-mentonasCiênciasSociaiscomopré-requisitoparaseuestatutode

ciência.São,portanto,inúmerososquestionamentosemtornodacientificidade,emuitojásefalousobrea“crisedeparadigmas”noâmbitodasCiênciasSociais.OfatoéqueasCiênciasSociaissempreestiveramàsvoltascomacirradaspolêmicasemtornodeseusmodelosteóricos.Daíosquestionamentossobreapossibilidadedeseremascontrovérsiasparadigmáticasalgoinerenteàpróprianaturezadessaáreadoconhecimento.

Arigor,adiscussãoespecíficasobreosparadigmas,emsuagênesemaisatual,nãoemergiunomarcodasCiênciasSociais,masnoseiodaFísica,comfortesre-batimentosnaelaboraçãodachamadaNovaFilosofiadaCiência.

Foinointeriordesseprocessoque,em1962,ThomasKuhn,nasuafamosamonografia,A estrutura das revoluções científicas,definiuoparadigmacomouma“constelaçãoquecompreendeglobalmenteleis,teorias,aplicaçõeseinstrumentos”equepossibilita“ummodeloqueengendraumatradiçãoparticulardeinvestigaçãocientífica”(2006,p.8).

ÉimportantedestacarqueKuhn(2006)restringesuaanáliseàsciênciasqueeleprópriocaracterizacomo“paradigmáticas”,ouseja,aquelasquedispõemdeumparadigmacompartilhadopeladitacomunidadecientíficae,paraele,asciênciasreferidasaosocialsão“pré-paradigmáticas”.NãosepodeignorarqueapróprianoçãodeparadigmaéproblemáticaquandosetratadasCiênciasSociais.

Poroutrolado,Kuhnensinou-nosqueasobservaçõesquefazemossobreumdadofenômenodarealidadenãosão“puras”,masproduzidaspelosnossos

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conceitos;ouseja,nãoexistem“fatos”dissociadosdasideiasqueutilizamosparadescrevê-los.

Aquiémaispertinentetratarodebatenaáreadosocialnumaabordagemqueoapreendamaiscomopolêmicainerenteaosconhecimentosreferidosàso-ciedadedoquecomoinfluxodacontrovérsianaFísica,comosugereNetto(1992).Nessalinhaderaciocínio,oautorconsideraqueoembatenoâmbitodasCiênciasSociaispassaporduasviasdiferenciadas:aprimeiraseriaoquestionamentodoparadigmapositivista;asegunda,oquestionamentodaracionalidadenacrisedamodernidade.

Oparadigmapositivistaéalvodecríticasseculares.Amaisimportantedessascríticasé,semdúvida,aquelasituadanatradiçãomarxista,emborapossamtambémserencontradasnasociologiacompreensivadeWeber,nafenomenologiadeHusserl,enfim,nasderivaçõesdohistoricismoalemão.

Na esteira dessas críticas emergiu o questionamento da racionalidade nacrisedamodernidade.Oprincípioéqueháumacrisedeculturaedecivilização—vinculadaaofracassodaspromessasdamodernidade,compreendidascomoograndeprojetohistórico-socialecultural,herdeiradoIluminismo,relacionavaaracionalidadedocontrolesobreanaturezacomaemancipaçãoealiberaçãodoshomens(Netto,1992).

Adefesadarazão,daracionalidadecomoinstrumentodecontroleeexplora-çãodanaturezaparagarantirumprodutivismoquepossibilitariaaliberaçãoeaautonomiadosindivíduostornou-seumapromessanãorealizadadamodernidade.Assim,aspessoasforamcadavezmaissubmetidasaumaprogressivaheteronomia,ouseja,anovasformasdedominação,exploração,opressãoedesujeição.Aessetipoderacionalizaçãodavidaemsociedade,MaxHorkheimer(1990),daEscoladeFrankfurt,vainominar,emsuateoriacrítica,derazãoinstrumental,eaestavaioporarazãocrítica.AssimcomofaráHabermas(1994),tambémfrankfurtiano,emsuateoriadaaçãocomunicativa.1

1.JürgenHabermas(1929)éumfilósofoesociólogoalemãoquetemseunomeassociadoàEscoladeFrankfurt(estaresponsávelpelolançamentodosfundamentosdachamada“teoriacrítica”ouumconjuntodeideiassobreaculturacontemporâneacombasenomarxismonãoortodoxo,abertasàsinfluênciasqueopensamentoexercesobretodasaspremissasteóricas),cujosprincipaisrepresentantessãoAdorno(1903-1969),Marcuse(1898-1979),Benjamin(1892-1940)eMaxHorkheimer(1895-1973).Emborahajadiferen-çasdepensamentofilosóficoentreeles,umtemacomumatravessasuaobra,queéacríticaradicalàsocie-dadeindustrialmoderna.

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Comainstrumentalizaçãodarazão,aCiêncianeganãosóapossibilidaderealdeacessoaoconhecimentocientífico,comooespíritoiluministadeemancipaçãodaraçahumana.

Éprevisível,portanto,queosmodelosdeanálisetenhamassumidoversõescontemporâneaspeculiaresemfacedasdeterminaçõeshistóricasedaprópriaevo-luçãodopensamentonointeriordasdiferentesmatrizesanalíticas.Emsíntese,oquesepassouaquestionarforamosparadigmasderacionalidadequeseafirmaramnoprocessodamodernidade.

Feitasessasobservaçõesdeordemmaisgeral,cabe-nosfazeraseguintein-dagação:oqueestásedestacandocomonovonaformadepensarasrealidadessociais?

Defato,desdeasúltimasdécadasdoséculoXX,asCiênciasSociaisvêmampliandooslimitesdeseusquestionamentos,suasfontesdereflexãoeseusmeiosdepesquisa.ParaMartins,Eckert eNovaes (2005), essaáreadoconhecimentotransformou-seeseenriqueceudiantedamultiplicidadedeinovadorasediversasformasdeexpressãoereflexãonaproduçãocientífica.

Posturasconceituaiseepistemológicasrenovadorasecriativasdissolvemdicotomiasobsoletas,demarcaçõesseguraseduradouras.Revelamousugeremumgrandeelencodetemaspossíveiseproblemasquehaviamsidoocultadosnoscuidadosprópriosdosformalismosacadêmicos.(p.12)

EssesmesmosautoresacrescentamqueasCiênciasSociaistêmumatradiçãodeinterdisciplinaridadee,sobretudoagora,abrem-secommaisvigorparaastrocasentreasdisciplinas,aosdiálogosteóricosentre“ounoeomúltiplo”,alargandoatradiçãocríticanaproduçãoteóricaenatrocadeconhecimentocomasociedadeparaalémdasfronteirasestritamenteacadêmicas.

SugeremquesevivehojeumanovaeranasCiênciasSociais,marcadapeloquestionamentodascertezaseporumavisívelbuscadereformulações,alargamen-tos, rupturasconceituaise teóricas,questionamentosdosmeiosdepesquisa,detécnicas e demétodo.Reconhecemque noBrasil já aparece uma significativacriatividadenasinstituiçõesacadêmicas,mesmoque,àsvezes,tímida,assimcomoumaconsciênciadanecessidadederevisãocríticaecriativadodiálogocomaso-ciedade, comosmovimentos sociais enfim, comos chamados novos sujeitos.AindaparaMartins,EckerteNovaes(2005,p.13),

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[a]snovidadessociais,osnovosrelacionamentos,asnovasmodalidadesdeação,asnovas necessidades sociais, surgidos comas rupturas relacionadas como regimemilitar,levaramanovasinstitucionalizações,enrijecimentos,preocupantescertezas“definitivas”,multiplicaçãodecontradiçõesedesafiosparaasociedadee,portanto,tambémparaasciênciassociais.

Ocotidianoinseguro,aexperiênciaincertaeosentidodaaçãosãoelementosessenciaisparaoconhecimentonasCiênciasSociais.Manifesta-se,assim,abuscadeumsaberpertinente,namedidaemqueestesevoltanãoapenasparaosaspectosformaisdométodocientíficoedeseusestatutosracionalmenteordenados,comotambémparaainformalidade,paraoinusitadodocotidianodesordenado.Aciênciatece juntocamposantesconsideradosdistintos,comoa totalidadeestruturadaeracionalizadadomundoeconômicoepolíticoeasestruturascotidianasconstituti-vasdasexperiênciasemocionaisepsicológicas,comonosensinaMorinnacon-cepçãodoconhecimentocomplexo:

Oconhecimentopertinentedeveenfrentaracomplexidade.Complexus significaoquefoitecidojunto;defato,hácomplexidadequandoelementosdiferentessãoinsepará-veisconstitutivosdotodo(comooeconômico,opolítico,osociológico,opsicológi-co,oafetivo,omitológico),eháumtecidointerdependente,interativoeinter-retro-ativoentreoobjetodeconhecimentoeseucontexto,asparteseotodo,otodoeaspartes,aspartesentresi.(2000,p.38)

AspectofundamentalécompreenderqueasCiênciasSociaisseconstituemcomoexperiênciaartesanaldecultivodaimaginaçãosociológica,paradesenvolveroraciocínio(Mills,1980),embuscadosentidodoconhecimentoedacompreensãodomundo.Épossívelfazerciênciaracional,nestestermos,namedidaemqueháumaprofundaimersãonasexperiênciasdavidaarticuladascomaelaboraçãointe-lectual,oqueresultanainterpretaçãodomundoedasinteraçõessociaisemsuadiversidade.

Assim,nãoseadvogaummétodoemdetrimentodeoutro,masapossibilida-dedeconhecermedianteconceitoseincursõesmetodológicas,sem,noentanto,utilizá-loscomoconcluídos,masarticulandocomasexperiências,ossentidoseasurgênciasdecompreensãodomundosocial.Apretensãoé:

dilatarossentidos,ampliarohorizontedacompreensão,encontrarnovoscaminhosepercorrerantigastrilhas.Fazerhonraàcomplexidadenoslevahojeadedicar-nosà

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tarefade insuflar sentido.Énecessário rastreara rica redede relaçõesnaqueumacontecimentohá sido tecido, tratardeexpandirouniversodimensionaldenossaexperiênciaedenossahistorização,sabendosemprequeéimpossívelseguirtodasaspistas,ou suspeitaraomenosda suaexistência—entreoutrascoisasporquevãosurgindoemnossaprópriaatividadedeelaboração.(Najmanovich,2003,p.25)

Nãoé,pois,aoacasoquesevenhaobservandoumaênfasedestacadanasexpressõesdaexperiênciae,emespecial,nosatoressociais.Oque,decertama-neira, corrobora coma contemporaneidadedopensamentopolítico deHannahArendt(1992),expressonaseguinteafirmaçãodaautora:“Eunãocreioquepossahaverqualquerprocessodepensamentosemexperiênciapessoal.Todopensamen-toérepensado:elebuscadepoisdacoisa”(p.41).Oque,naverdade,podeserobservadoemtodasuaobra,ouseja,amarcadassuasexperiênciasdevidacomototalitarismo,aviolênciaeabarbárie.Coloca-sehojeemevidência,portanto,arelevânciadossentidosdasaçõeseabuscadaconstruçãodossignificados,avalo-rizaçãodoestudodosdiscursos,dalinguagem,emsuma,osentidodaspalavras.

Pode-se,assim,afirmarqueo“universalismodosfilósofosiluministasjánãonosservemaisdeguia”(Ortiz,2012,p.6)oucomoconstataoautoremseutraba-lho,aexistênciadeummal-estardouniversalismo.Paraeleessaquestãotorna-separadoxalno

momentoemquedeterminadasituaçãohistóricaaproximaatodos,ouniversal,comocategoriapolíticaefilosófica,perdeemdensidadeeconvencimento.Ressurge,assim,umdebateantigo,masqueagoraserevestedeformasdistintas:orelativismo.Esteéumtemaclássiconasciênciassociaisdevidoànaturezadoprópriosabersociológico.Aexistênciadediversascorrentesteóricasrevelamasdificuldadesparaaconstituiçãodeumparadigmaúnico,capazdeseimporparaadisciplinacomoumtodo.Háaindaoutrosimportantes:elessãohistóricos,easubjetividadedeseuspraticanteséumadimensãodecisivanoentendimentodosfenômenossociais.Entretanto,apesardascontrovérsias,osembatesteóricostendemaseconcentrarnumproblemacomum,qualseja, emquemedidaasexplicações sociológicasouantropológicas teriamounãoabrangência“universal”[...].Adúvida,comoemqualqueroutraatividadecientífica,seriaodedelimitaravalidadedopensamento,retirando-odostraçosrestritivosdecadaexperiência.Adiscussãofocaliza,portanto,temasdecaráterteóricoemetodo-lógico.Masaquestãodadiversidadedasinterpretaçõespodeserabordadadeoutraforma,considerando-senãotantoosimpassesdométodo,mascomoasciênciassociaisseconstituemhistoricamente.Nestecaso,somosobrigadosanosperguntarsobreocontextonoqualelasserealizam.(Ortiz,2012,p.7-8)

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Naesteiradessadiscussãoparadigmática,observa-se,pois,comoumagrandevirada,asanálisesdosprocessosdesimbolizaçãoerepresentação,queéocampodaculturapropriamentedito.Jáépossívelperceberumvisívelcrescimentodosestudosliteráriosouculturais,da teoriacrítica,queterminamporevidenciarali-teratura,afilosofia,asarteseashumanidadesdemaneirageral.Domesmomodo,tambémconstata-seênfasenasanálisesdosprocessosdesubjetivaçãoedacons-truçãodasubjetividade,alémdavalorizaçãoda vidacotidianacomodimensãodasconquistasfundamentaisdogênerohumano.Tudoissoteminfluenciadoocresci-mentodointeressepelafenomenologiaepelahermenêutica,abordagensjátradi-cionalmentededicadasaosestudosdessasquestões.

Nessabuscadecompreenderonovo,nota-seoreconhecimentodegrandepartedospesquisadoresdasCiênciasSociaissobreaimpossibilidadedeopesqui-sadorfechar-seemumúnicoparadigmaeanecessidadedacomunicação,dainter-conexãooutransconexãoentreparadigmascomoperspectivateórico-metodológi-cadeexplicaçãodarealidade.

Essasexigênciasdeintercomunicação,oumelhor,datranscomunicaçãonosprocessosdedescrição,compreensãoeanálise,podeaparecerdediferentesformas,taiscomonasínteseentremicroemacronasabordagensteóricas;narelaçãoentreestruturaesujeito;nademandadeinterligaçãoentreprocessosestruturaisepráticassociaise,ainda,quandoospesquisadoresdestacamarelaçãoentreenfoquedees-truturaeenfoquesculturalistas.

Essasquestõespodemservistas,poralguns,comorelativismoeparaoutrossignificarelativizar(DaMatta,1987)paracriarcondiçõesdepossibilidadesparaoalargamentodoshorizontesteóricoseflexibilidadedeanáliseparaseromaisfielpossívelaodadodarealidade,ouseja,estarabertoparaincorporarasdimensõescriativasdarealidadesocial,paraacolhê-laemsuasmúltiplasmanifestações,oquesignificanãovesti-lacomacamisadeforçadedogmatismosteóricoseideológicos.Afinal,todarealidadeésempremuitomaisricaecomplexadoqueapossibilidadedecompreensão,análiseeexplicaçãoquesefaçasobreesta.Oprocessodeconhe-cimentoda realidade é tambémdesconhecimentodesta, umavezquenenhumarealidadeserádesveladanasuatotalidade.

Paraqueopesquisadopossaestarabertoparaincorporarasdimensõescria-tivasdarealidadesocial,tendocomoperspectivateórico-metodológicaacomuni-caçãoeasmúltiplasconexõesentreosparadigmas,precisaráestarsempreatentoeatualizadonotocanteaosprocessosdeconhecimentoedosseusresultados.Do

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contráriopoderánãosaberreconheceroslimitesentreanecessáriaaberturateóricaeoecletismo.Seoecletismoestápresentenacomposiçãodeumarevisãodelite-raturaqueantecedeabuscadoestadodaartedeumtema,poroutrolado,provo-cariaefeitosnefastosnomomentodaadoçãodeummarcoteóricoreferencial.

Nessecenário,énecessárioenfatizara importânciadeopesquisadorestaratentoàsexigênciasdoalargamentodopensamentocríticoeinvestigador.Paranãoaceitaréprecisoconhecer,assimcomoparaconheceréprecisoexercitaraimagi-naçãosociológica(Mills,1980)nosentidomaisamplodaproduçãodoconheci-mentonasCiênciasSociais.Oindivíduoqueexercitaosensocríticoéumespíritoindagadorqueseestranhacomohabituale,comoBertoldBrech,acreditaque“nadadeveparecernatural,nadadeveparecerimpossíveldemudar”.Sóassimpoderáacolherasdimensõescriativasdarealidade.

Éoportunoaindadestacarquenãohácomoficarapenasnos“significados”,pois,ohorizontedastransformaçõespressupõerompercomasestruturasarcaicas.Éclaroqueo simbólicoeas representações sociais têmgrande importâncianareproduçãodasestruturasobjetivasecognitivas.Eéexatamenteporissoquesetornanecessárioentendermaisprofundamentecomoosimbólicoeasrepresentaçõessociaisproduzemesãoreproduzidospelasestruturaseconômicas,políticas,pelafamília,peloparentesco,pelasociedadeenfim.Aspalavras(odito)sãomuitoim-portantesparaentendermoscomoascoisassereproduzem,assimcomotambémonãodito.Terconhecimentodaspalavrasditasenãoditasépré-requisitoparapen-sarefazerasmudançasacontecerem.

Assim,pareceserperfeitamentefactívelapossibilidadedediálogodomar-xismocomoutrosparadigmascontemporâneos,comasversõesculturalistasecomasabordagensdocotidiano.Afinaldecontas,omarxismo,paramantercoerênciacom suabase teórico-crítica, precisa estar posto comoumaperspectiva teóricaalargada.Poroutrolado,ésempreoportunoenfatizaranecessidadedeosfunda-mentosdefontemarxistaseranalisadosporestudosconsistentes.Sóassimserápossívelenxergaroslimitesdomarxismoesuaspossibilidadesatuaiscomorefe-rênciaanalíticanocampodasCiênciasSociais.ComoasseveraPierreBourdieu,“[é]evidente,porexemplo,queWeberviuoqueMarxnãovia,mastambémqueWeberpôdeveroqueMarxnãoviaporqueMarxviuoqueviu”(2004,p.51).

Weber utilizou termos como“infraestrutura” e “superestrutura”, palavras--chavedomaterialismohistóricodeMarx,sem,noentanto,compartilharteorica-mentecomoautor.Analisouocapitalismomodernoutilizando-sedetermoscomo

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fatoreseconômicosemateriais,parecendocorresponderaomarxismo, “masaomesmotempoafastava-sedomaterialismohistóricoaonegarapossibilidadedeencontrar-seumcursoobjetivoedeterminadodosprocessoshistóricos” (Cohn,2000,p.13).Aofazeristo,elequeriasecontraporàsversõesidealistasdaépoca,percebendoatesedaacumulaçãodocapitaledosestudoseconômicosmarxistas,masbuscavacompreender,paraalém,oprocessoderacionalizaçãodacondutadosindivíduosquesópodeserencontradanaparticularidadehistóricaeempíricaemqueseestudadeondeadvinhaainterpretaçãodossentidosculturaisdaaçãocapi-talistaparaalémdoeconômico.

Naconcepçãoweberiana,taissentidossubjetivosdaaçãosãopensadosporsujeitosaosereferiremàcondutadeoutros,apartirdaqualencontrammotivoseseorientamnaação.Sãosentidossubjetivos,individuais,independentesdaquelesjádados,quebuscamascausasdaaçãoesãoobjetosdeinterpretaçãoorientadaporumfim(Weber,1991).

ArelevânciadosdoisautoresclássicosparaasCiênciasSociaispermaneceincontestável.Trata-seaquidelevantarquestõespertinentesqueenglobameali-mentamasteorias,namedidaemquepõemnaordemdodiaaexigênciadeumaposturaalargadaecríticaqueproporcione:odiálogoentreas teorias,evitando,porém,oecletismoetambémodogmatismo;aconexãodasabordagensmicroemacro;asarticulaçõesestruturaiseintersubjetivasnoenfoquedecomportamentosconcretos,simplese“insignificantes”;aabordagemdocotidianoeaexistênciadosentidonabuscadarelaçãoentreestruturaesujeitoparaexplicararealidadesocial.Tendênciasestas,diga-sedepassagem,destacadasdesdeadécadade1990.

Podemosafirmarqueessasquestõescontinuamfecundasnomomentoatual,diferenciadas,contudo,pelonãocrescimento,pelaterceirizaçãoepelosucateamen-todepartedoensinosuperiorpúblico,pelamáqualidadedasbibliotecas,pelosparcosrecursosparaapesquisaepeloempobrecimentodosdocentesediscentesquesefragilizamnosentidodelevaraefeitoumavidaacadêmicadequalidade.

Alémdomais,percebe-sequeapesquisa,principalmenteemsuadimensãoepistemológicaemetodológica,nãovem,efetivamente,perpassandotodoopro-cessodeformaçãodosprofissionaisnoscursosdegraduação.Localiza-seemde-terminadasdisciplinaseaindaéumapráticaassumida,porpoucosgrupos,comoatividadedeiniciaçãoacadêmica.Observamostambémquemuitaspesquisaster-minamsendoreafirmaçõesdecoisasjáditas,nãoacrescentandooutrasinformaçõesàsexperiências.

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DaMatta(1978),comoarticulistadolivroA aventura sociológica: objetivi-dade, paixão, improviso e método de pesquisa, faladoproblemado“divórcio”entreopesquisadorearealidade:

[...]odivórcioentreopesquisadoreatribo,aclassesocial,omito,ogrupo,oritual,obairro,aspessoas,osistemaderelaçõessociais,omododeprodução,osistemapolíticoetantosoutrosdomíniosdarealidadeaserconhecida.(p.24)

Essedivórcio,naconcepçãodoautor,nãodizrespeitosomenteà“ignorância”doestudante.Aocontrário,podeatéestarrelacionadoaoexcessodeconhecimento.Umconhecimento,porém,teórico,universalemediatizado,nãopeloconcretoeprincipalmentepeloespecífico,maspeloabstratoepelonãovivenciado.Mediadopeloslivros,ensaioseartigos,enfim,pelosoutros.

Essadiscussãodecunhomaisfilosófico,epistemológicoemetodológicodapesquisa, no interior doprocesso de formaçãoprofissional, continua sendoumdesafioessencialmentepertinenteaomomentoatualepressupõeoexamedoscha-madosparadigmasdeanálisedarealidadesocialnesseiníciodoséculoXXI.

Umarealidadedesafianteque,aoladodeproblemasmaisremotosrelacio-nadosàaindaampliadareproduçãodamisériaedafome,àmanutençãodaopres-sãodeclasse,raça/etniaegênero,àsdificuldadesnotratocomasaúde,educaçãoesegurançaedomauusodapolítica,passaaconvivercomproblemasmaisre-centes,taiscomo:adestruiçãodomeioambienteeadegradaçãodascondiçõesdevida,aviolênciaemsuasdiversasformasdemanifestação,osparticularismoseosindividualismos,ashostilidadesétnicas,asdiscriminações,ospreconceitos,ousoeo tráficodedrogas,ocrimeorganizadoe tantasoutrassituações,queaoexpressarnovosdesafios,colocamnovastemáticaseapontamparanovastendên-ciasdeanálise.

Sabe-seque,paraapesquisa,omovimentodarealidadesocialesuasdeman-das, e as perspectivas teórico-metodológicas encarregadas de reconstruir essarealidade,sãodimensõesfundamentaisàsuafinalidade.Aideiabásicaénãoesque-cerqueateorianãopodeseroutracoisasenãoa(re)construçãoemníveldopen-samentodoprópriomovimentodarealidade.Nestesentido,todaequalquerteoria,pormaiorquetenhasidoorigordométodo,serásempremuitomaislimitadadoquearealidadeemsi.Emoutraspalavras,qualquerconhecimentoéaproximadoeconstruído,ouseja,oconhecimentopressupõeummétododeraciocínio,nuncaumaverdade.

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ParaLadrière(1977),quandosequerchegaraumconhecimentodarealidadesocialéprecisocaptá-laemsuaprópriaprodução,istoé,naação.Éimperativoconsideraraaçãonelamesma,noseuprocessodeefetuação,nãoemseuefeito.Ora,osefeitossãopassíveisdeobservação.Aaçãoemsinãooé.Porémelapodesercompreendidaapartirdelamesma.Deduz-sedessasconsideraçõesquealgumasciências,como,porexemploasCiênciasdaNatureza,podemserexplicadas;outras,comoéocasodasCiênciasSociais,sópodemsercompreendidas.

Osdilemasentreascondiçõesdepossibilidadedousodoesquemadaexpli-cação,que,porsuavez,utilizaalinguagemdosistemaedousodoesquemadacompreensãoqueutilizaalinguagemdosentido,sãoinúmeros.

Nessesentido,Ladrière(1977)indagaseaopçãoportratarosfatossociais“comocoisa”,atravésdasregrasformais,nãoseriarejeitaroqueédaordemdassignificações,dasintencionalidades,dasfinalidadesedosvaloresinerentesàfaceinternadaação.Poroutrolado,perguntaseaoacolherocaminhoda“compreensão”nãoestariasearriscandoaumaperspectivaessencialmentesubjetiva.Oautorsaidoimpassesugerindoqueoessencialnãoéencontrarefetivamenteumacordoarespeitodequaléoconteúdodeterminadodoconhecimento,tampoucofundarummétodouniversalizante.

Paraele,acientificidaderepresentaumaideiareguladora,nãoummodelodeterminadoeconstituídodeumavezportodas.Suaopiniãoéquesetornaimpos-síveldefinirumametodologiadasCiênciasHumanastendocomodiretrizumaideiadecientificidadejáconstruída.Acrescentaque:“Narealidadehistóricadeseudevir,oprocedimentocientíficoéaomesmotempoaquisiçãodeumsaber,aperfeiçoa-mentodeumametodologia,elaboraçãodeumanorma”(Ladrière,1977,p.11).Sea epistemologia é possível, continua argumentando, deve-se ao fato de que aciênciajáfuncionae,nofuncionamentoquelheéendógeno,certaideiaregulado-rajásemanifestouparcialmente.

Dessareflexãoinferequeaepistemologiadeverádirigirsuaatençãonãoparaosresultados,nãoparaaciênciajáconstruída,masparaosprocedimentos,ouseja,paraodevir.Emsíntese,paratudoaquiloquefazdaatividadeinvestigativaumatarefacategoricamenteprospectiva.

Percebe-se,então,queomaisimportantenessaordemdelógicaécompreen-der,comprecisão,dequeformaapesquisapodesercriadora,comopodefazeraparecernãosomentenovosresultados,masnovosmétodosparaqueaideiadecientificidadepossaassumir,progressivamente,contornosmaisprecisos,controlar

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asimesmaesetornarmaiseficazparaadaptar-sedeformacadavezmaisestreitaaseuobjeto.

NestepontoéoportunovoltaraMorin(1991),como“paradigmadasimpli-cidade”,referidoparasecontraporaométodocartesianoeenaltecerapresençadooutro,ahumildade,aabertura,origoreatolerância,aprovisoriedadedoconheci-mentoeaemergênciadoincertoedoaleatórionavidadaspessoas.Nessamesmalinha de raciocínioMartins (2000), em sua defesa da sociabilidade do homemsimples,afirmaque

[é]nos limites,nosextremosdarealidadesocialquea indagaçãodocientistasetorna fecunda.Aexplicação sociológica é incompleta epobre senãopassapelamediaçãodoinsignificante.Sãonessassituaçõesdeprotagonismoocultoemutila-dodossimples,dohomemsemqualidade,queasociedadepropõeaosociólogosuasindagaçõesmaiscomplexas, seusproblemasmais ricos, suadiversidade teorica-mentemaisdesafiadora.Sãoossimplesquenoslibertamdossimplismos.Orele-vanteestátambémnoínfimo,navidacotidianafragmentáriaeaparentementesemsentido.(Contracapa)

Ainda,sobreapossibilidadedosimplesnaciênciaenapesquisa,Ginzburg(1989)apresentaametáforadocaçador,aquelequebuscaconhecermedianteumalongaaprendizagemdeobservaçãodetalhada,aprendendoa“farejar,registrar,in-terpretareclassificarpistas”(p.151).Significanãodescartaroaparenteinsignifi-cante,osimples,facilmentenegligenciáveispelospesquisadores,masprofunda-mentenotáveisparaoutrosatentosaosresultadoseàproduçãodeumsaberdospormenores empíricos reveladores de fenômenos profundamente enraizados nadinâmicadarealidadeestruturaleestruturante.

É,portanto,partindodaconstruçãodoobjetoqueseconseguirácaptaroaspec-todinâmicodoprocedimentocientífico.Essaconstrução,contudo,éumaoperaçãocontínua.Nuncapoderáserconsideradaconclusa,umavezque,apartirdoinstanteemqueseconseguedescolaroobjetodasituaçãoproblemáticanaqualseencontra-va,elelogosuscitará,emseuprópriomovimento,novosproblemas.

Comotestemunhodahistória,sabe-sequesempreexistiuumafortepreocupa-çãodohomemcomoconhecimentodarealidade.Porintermédiodosmitos,dasreligiõesedasfilosofiasmuitosetemproduzidosobreosignificadodomundo da vida.Minayo(1994)lembraqueapoesiaeaartecontinuamdesvendandológicasdoconscientecoletivo,docotidianoedodestinohumano.Enfatizaqueaciênciaé

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apenasumadessasformasdebuscaroconhecimento,“nãoexclusiva,nãoconclu-siva,nãodefinitiva”,emborahegemônicanasociedadeocidental(p.10).

Aciêncianãoésimplesmenteoprolongamentodavisãoespontâneadomundo,ouumaformulaçãoumpoucosofisticadadoqueseofereceàpercepção.Elasóconseguefazercomquecaptemosaspectosinéditosdarealidadenamedidaemquecomeçaporsubstituirocampoperceptivoporumdomíniodeobjetosqueelaconstróiporseusprópriosmeios.(Ladrière,1977,p.19)

Assim,aunidadedaciênciaserásempreproblemática,poiselaconstitui-semuitomais umcampodeheterogeneidade entre disciplinas que se articulameentresaberesqueseencontramalimentadosporinteraçõesconceituais.Nãoéuna,émúltiplacomoconhecimentopossível.Insere-senumdevirconstanteecontínuo.Emdecorrênciaépossívelconcluirque não existe um método científico.Nomáxi-mooqueseteméumanoçãodemétodocientífico.Ouseja,procedimentosmetó-dicosquepermitempenetraraessênciadosfenômenosnaturais,humanosesociaisporintermédiodaexperimentação.

Passeron (1995)prefereacompreensãoampliadadaaproximaçãodeduasciênciashistóricasesociais—asociologiaeahistória—apartirdaqualcompõeapossibilidadedoraciocíniosociológicocomociênciaempíricadainterpretação,mesclada pela argumentaçãometodológica experimental ouquantitativa e pelacontextualizaçãohistórica,nochamadovaivémargumentativoentreosdoissaberes.Portanto,nãosetratadeumraciocíniomeramenteexperimentalouformal.Seusestudostratamdoléxicosociológicoqueseconstituimedianteoconflitoentrealinguagem teórica,conceituale formaleasexigênciasdaobservaçãodiantedarealidadehistórica.EstamosnocampodasCiênciasSociaisouHistóricas,que,paraoautor,são“ciênciassintéticas”,cujoobjetivoéreconstruirarealidadepelainter-pretação.Assim, é capaz de construir teorias sobre as experiências sociais, aomesmotempoemqueaexperiênciatambémagesobreasteorias.Entretanto,pro-duzemsaberesprovisóriosdiantedarealidadeinfinita.

Taisasserçõescomprometemumaformaderaciocíniosequencial,masqueconstróisuasbasesemmétodosdiversosquerecorremapesquisasdiferenciadas,comaelaboraçãodeconceitosgeraisemaisprecisos,particulares.DizPasseron:“Asociologiaéaomesmotempoesteconjuntosequencialdeconhecimentoseesteconjuntoretalhadoderaciocínios”(1995,p.40).Relevanteénãodesindexarcon-ceitosesaberesdasrelaçõesconstitutivasdarealidade.

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Então,nãoexisteummétodocientífico.Seria,reconhecidamente,impossí-velparaqualquertextolistaratotalidadedosmétodosutilizadosnasciências,atéporqueoaprendizadodosmétodosqueinteressarãoaopesquisadoracompanha-rásuaespecializaçãoemdeterminadocampodeconhecimento.Oobjetodees-tudodecadaciênciaterminarápordesenharquaismétodosespecíficosdevemserutilizados.

OcampodosproblemasqueconstituemobjetodecuriosidadedasCiênciasSociais,porexemplo,épordemaisvastosparaserabsorvidooureduzidoaumaúnicadisciplina.Trata-se,deacordocomBruyne,Herman,Schoutheete(1977),deumcampopluridisciplinar,ondecadadisciplina,sejaaSociologia,aHistória,aEconomia, aAntropologia, aPsicologia etc., pinçaumaspectoparticulardesseespaçoparaestabelecercomeleumarelaçãodeconhecimento.

Assim sendo, pode-se considerar que asCiências Sociais, antes e agora,continuamnacondiçãodeconstituir-sepossibilidadedeconhecimentocientíficocomoenfatizaMinayo(1994).Pensandodessamaneira,aautora,sobaformadequestionamentos,põeemdestaquealgunsdosdilemasinerentesàcientificidadedasCiênciasSociais,entreosquais:comoospesquisadorespodemgarantiraob-jetividadedosresultadosdeseusestudossendoelesprópriosagentesdarealidadepesquisada?Abuscadaobjetividade,própriadasciênciasdanatureza,nãodesca-racterizariaoessencialdosfenômenoseprocessossociaiscujossentidossãodadospela subjetividade?Quemétodogeral poderia ser proposto para explorar umarealidadetãomarcadapelaespecificidadeepeladiferenciação?Enfim,comoga-rantirapossibilidadedeumconsensofundadonumcompartilhamentodeprincípiosenãodeprocedimentos?

Difícilnãoobservarqueexistehoje,categoricamente,umaideiadedevir na noçãodecientificidade.Sendoassim,seriamuitocomplicadoenfrentaraexperiên-ciadasCiênciasSociaiscomanormadeumacientificidadeanteriormenteconsti-tuída.Contudo,Minayo(1994)lembrraque“[a]pesquisasocialésempretateante,mas,aoprogredir,elaboracritériosdeorientaçãocadavezmaispreciosos”(p.13).

Importa,ainda,comentarsobreahistoricidadedoobjetodasCiênciasSociais.Associedadeshumanasvivememespaçosdeterminadosqueexpressamformaçãosocialeconfiguraçãoespecíficas.E,nodizerdeCury(1985,p.30),“cadarealida-denoseudevirélimitadoporoutra,eassimatotalidadeésempreabertaanovasdeterminações.Nessemovimento,cadaelementocontémosanterioreseseabreanovasdeterminações”.

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Dessaforma,amarcadaprovisoriedade,dodinamismoedaespecificidadeestãopresentesemqualquerquestãosocialcomfortesreflexossobreasuapossi-bilidadedeexplicação.

Outranoçãosignificativanointeriordateoriadoconhecimentoéadarelaçãodosujeito(aquelequeobservaeconheceofenômeno)—pormuitosconsideradospoloativodoconhecimento—,comoobjeto(aquiloqueéobservadoeconhecido)—poralgunsentendidocomoopolopassivodoatodeconhecer.Hojejáexisteumaprofundacompreensãodaexistênciadeumanítidaidentidadeentresujeitoeobjeto em todoequalquer atode investigação.Sujeito eobjeto sedeterminammútuaeincessantemente.Essacompreensãoémuitoimportanteparaaconcretiza-çãododesejodaobjetivação,enãodaobjetividade,esta,utopiadaCiência.Avisãodemundodopesquisadoredeseucampodeestudoestápresenteemtodoopro-cessodoconhecimentodesdeaescolhaeconcepçãodoobjeto,passandopelosresultadosdotrabalhoesuaaplicação.

Naverdade,osujeitodoconhecimentonãoconstróiseuobjetoisolando-seoufazendointerrogaçõesasimesmo.Ele,comojáreferidoanteriormente,o(re)constrói,emníveldopensamento,formulandoindagaçõessobrearealidadeaqualeleprópriopertenceemdeterminadotempoeespaçodefinidos.Alémdomais,nãoéapenasopesquisadorqueemprestasentidoàsuaproduçãointelectual,mastodasaspessoasenvolvidas,osgruposeassociedades.

Outraevidênciaéque todoconhecimentosevinculaanecessidades reais.Todoproblemacientíficoserásempre,antes,umproblemadavidaprática,vincula--seanecessidadesreais,fazpartedavida.Todainvestigação,portanto,inicia-secomumproblemaque,porsuavez,articula-seaconhecimentosanteriores.Assim,caipor terraqualquerpretensãodeumconhecimentopuro.Sobreesseaspecto,MirianLimoeirosepronuncia:

[...]oconhecimentopuro—frutodeumapuraextraçãodeverdadesprontase jácontidascomotalnarealidade,oudeumapuraconstruçãológicainteiramenteconti-danoplanoteórico—éumailusão,ilusãoquesóépossívelpelaabstraçãodemo-mentosdaproduçãodeumconhecimento,desconhecendoasuatrajetóriaeosestí-mulos,impulsoseresistênciasligadosaela.(Cardoso,1982,p.10)

Ovínculocomapráticaperpassanecessariamentetodoocursodoconheci-mento,sejacomoproduto,sejacomoprocesso.Asaber,tantonacondiçãodeteoriaquantonacondiçãodemétodo.Admitidaahistoricidadeeateoricidadedosujeito

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edoobjeto,numaempreitadainvestigativa,nãohácomoalmejarqueoconheci-mentoconsigaproduzirteoricamenteumacompletaedefinitivarepresentaçãodoobjetoinvestigado.

Algumas considerações

Porfim,importaenfatizarqueoconhecimentocientíficoseconcretizacomorecursoeexigênciasdametodologiacientífica.Ametodologiaépartedalógicadosprocedimentos científicos.Ela ajuda a compreender e interpretar os produtos etambémopróprioprocessodeinvestigação.Emsuacomposição,asdiversasabor-dagenscientíficasrevelamigualmenteadiversidadedemétodosquedesempenhampapelpreponderante.

Relevanteécompreenderqueosconhecimentos,pormaisrigorososquesejamseusmecanismosdecontrole,exatidãoetransparência,mesmoassimsãoincom-pletoseparciais,põememdúvidaaobjetividade,essautopiadaciênciamoderna.

Todarespostacientíficadependerádafasededesenvolvimentodoseuobjetoassimcomododesenvolvimentoteóricoalcançadoatéentão.Opesquisador,porsuavez,partirádaproblemáticadoseutempo,darealidadeemqueseencontrainserido.Assim, a seleçãodoobjeto, os objetivos da investigação, os recursosdisponíveis,amaioroumenorênfasenaatividadecientíficadefinemprioridadespostaspelasprópriasrelaçõessociaisemcadamomentohistórico.Todoconheci-mentoé,portanto,ideológico,comprometido,veiculaintençõesevisõesdemundohistoricamenteconstituídasmesmoqueseusresultadosecontribuiçõesultrapassemosinteressesdeseudesenvolvimento.

Poroutrolado,oconhecimentocientíficoestarásempreabertoanovascon-tribuições.Oresultadodeumapesquisa,operacionalizadacomorigordométodo,conseguedarcontadarealidade,porémnãodetodarealidade.Omaisimportanteserádarcontadoquesejamaisessencialnessarealidade.Essabuscaéoqueseconvencionouchamarobjetivação,ouseja,origornomanuseiodoinstrumentalteóricoetécnicoparasepenetrarnasexperiênciasprofundasdoreal.

AsCiênciasSociaispossueminstrumentoseteoriascapazesdefazerumaaproxima-çãodasuntuosidadequeéavidadossereshumanosemsociedades,aindaquedeforma incompleta, imperfeita e insatisfatória.Para isso, ela abordao conjuntode

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expressõeshumanasconstantesnasestruturas,nosprocessos,nossujeitos,nossigni-ficadosenasrepresentações.(Minayo,1994,p.15)

Éimportantedizerquesetratadeumrigorflexívelparaalcançaraobjetivação.Este artigo chamaa atençãopara a críticaquepesquisadores têm feito sobre aperspectivadaanterioridadedométodo,damesmaformaque jáfoicomentadosobreatradiçãodarazãocartesiana,quetentaproduzirconhecimentoemlinhareta,segura,semseimportarcomodesalinhamentoincertoeprovisóriodasteoriasedasrealidadesmateriaisesimbólicas.Paraalgunsdessespesquisadores,ométodoquesecolocaanterioràpesquisa,àinserçãonocampo“éumafábula”,uma“ilusão”,comosefosseanterioraosconteúdosdomundovivido,desconsiderandoahistóriavivadopensamentoecomelaasdificuldades,oserroseasconfusõesdaexperiên-cia.(Najmanovich,2003).

Aperspectivapassapelacompreensãodarealidadeemsuadiversidade,preo-cupa-semenoscomessênciaeatotalidadeemaiscomcontextosrelacionaisvarian-tesdiantedosmovimentosconcretoseinvisíveisquefazempartedasexperiênciasetambémdadinâmicadeconstruçãodopesquisador.Osmétodosajudamareferenciaraperspectivadialógicaentreconceitoseempiria,auxiliandoainteraçãocomarea-lidade,constituindonovasrelaçõeseexperimentandonovasarticulações.Osmétodosservemparaobservarfenômenoseindivíduosquenemsempresãoosmaissignifi-cativosenotados,masqueescondem,portrásdasuainvisibilidade,possibilidadesdealcançarmaisconhecimento.ComodizEsteban(2003,p.128),épreciso“ressal-taraparte,oepisódico,oordinário”apartirdosinstrumentosdapesquisaquecon-tribuamparamaiorcompreensãodasrelaçõesinstituídaseinstituintesdouniversopesquisado.

Contudo, esta concepçãonão significa abandonar o rigormetodológico, aconduçãonecessáriadopesquisador,imprescindíveisàpesquisa.Masistonãofechaocaminho.Aocontrário,éflexíveldiantedosdilemasdoimponderável,doincerto.Ametaéarticularteoriasecaminhosmetodológicos,conquistadoseacumuladospelaciênciaesuaracionalidade,comcaminhosarriscadosconstitutivosdenovaseincessantesracionalidadescotidianas,emqueopesquisadorprecisaseaventurardiantedascontradiçõesquecompõemsempreasexperiênciasdehomensemulheres.

Comosenota,osdesafiossãoimensosquandoalguémsepropõeabuscarexplicaçõesparaadinâmicasocial.Essesdesafios,porém,nãosãointransponíveis.Éprecisopreparoparaacolherasurpresa.Istosignificaqueateoriadeveráassumirsuatensãoentreoqueestápostoemformadeabstraçãoampladarealidadesocial

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eoqueestárepostocombasenaquiloqueadinâmicadorealpõeparaserpensado.Afinaldecontas,concordandocomShakespeare,“hámaiscoisasentreocéueaterraquesupõenossavãfilosofia”.

Recebido em 18/6/2012 ■ Aprovado em 10/12/2012

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