A PRODUÇÃO DE TEXTO COM BASE NA REPRESENTAÇÃO DO...

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A PRODUÇÃO DE TEXTO COM BASE NA REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO NA LITERATURA: A ANÁLISE DO DISCURSO DA ALIENAÇÃO Aline de Oliveira ADELINO ([email protected] Crítica Integrativa: estudos de literatura e sociedade, Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Andrey Pereira de OLIVEIRA ([email protected] Crítica Integrativa: estudos de literatura e sociedade, Universidade Federal do Rio Grande do Norte) RESUMO Parte considerável dos alunos de nível médio demonstra dificuldades nas produções textuais a partir de temas e textos-base pré-definidos. Em vista desse tipo de problema, e, com uma reflexão sobre a prática educacional, pretende-se promover um estudo interdisciplinar para maximizar o aprendizado do aluno do ensino básico. É, portanto, necessário que se compreenda como a Literatura e a Música podem facilitar a produção desse aluno em Língua Portuguesa. Para esta pesquisa, utilizam-se conceitos e estudos prévios de autores como Antunes (2010) e Charaudeau (2008). Objetiva-se propor, como procedimento de aula, levar o poema de Vinícius de Moraes, “O operário em construção” e a canção de Zé Ramalho, “Cidadão”, como suporte para discutir e escrever sobre o tema “Desigualdade social: a alienação do trabalhador”, buscando encaixar a discussão nas competências e habilidades que requerem os concursos para ingresso de estudantes em Universidades Públicas. As seções e os procedimentos usados nesta pesquisa são caracterizados para resultar em um roteiro de auxílio à ação de o aluno conseguir escrever a redação com normas pré-definidas. Palavras-chave: Ensino. Discurso. Literatura. Produção textual.

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A PRODUÇÃO DE TEXTO COM BASE NA REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO

NA LITERATURA: A ANÁLISE DO DISCURSO DA ALIENAÇÃO

Aline de Oliveira ADELINO

([email protected] Crítica Integrativa: estudos de literatura e sociedade, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte)

Andrey Pereira de OLIVEIRA

([email protected] Crítica Integrativa: estudos de literatura e sociedade,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

RESUMO

Parte considerável dos alunos de nível médio demonstra dificuldades nas produções

textuais a partir de temas e textos-base pré-definidos. Em vista desse tipo de problema,

e, com uma reflexão sobre a prática educacional, pretende-se promover um estudo

interdisciplinar para maximizar o aprendizado do aluno do ensino básico. É, portanto,

necessário que se compreenda como a Literatura e a Música podem facilitar a produção

desse aluno em Língua Portuguesa. Para esta pesquisa, utilizam-se conceitos e estudos

prévios de autores como Antunes (2010) e Charaudeau (2008). Objetiva-se propor,

como procedimento de aula, levar o poema de Vinícius de Moraes, “O operário em

construção” e a canção de Zé Ramalho, “Cidadão”, como suporte para discutir e

escrever sobre o tema “Desigualdade social: a alienação do trabalhador”, buscando

encaixar a discussão nas competências e habilidades que requerem os concursos para

ingresso de estudantes em Universidades Públicas. As seções e os procedimentos

usados nesta pesquisa são caracterizados para resultar em um roteiro de auxílio à ação

de o aluno conseguir escrever a redação com normas pré-definidas.

Palavras-chave: Ensino. Discurso. Literatura. Produção textual.

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1 Introdução

As produções de texto direcionadas às bancas de concurso no Brasil devem

obedecer a algumas regras impostas previamente, inclusive, a mais conhecida delas: a

do Exame Nacional do Ensino Médio, o famoso ENEM, que possui uma cartilha

própria, organizada pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O ENEM é uma das provas mais conhecidas e, consequentemente, mais

importantes do país no que diz respeito ao ingresso às principais Universidades Públicas

como também aos principais programas do Governo Federal, como foi o caso do

Ciências sem Fronteiras e do Programa Universidade para Todos.

A redação desse concurso é uma das protagonistas no período da prova. O valor

avaliativo dela é mil e o peso é decisivo para a nota final do candidato. Para que o aluno

consiga a nota máxima, ele deve seguir algumas recomendações que são explanadas na

cartilha, como por exemplo, a de respeitar os direitos humanos e escrever mais do que

sete linhas, como veremos a seguir.

A cartilha é como uma carta de recomendação sobre o que deve ou não ser feito

na prova. Ela apresenta direcionamentos, tais como: quem irá avaliar as redações, como

serão avaliadas, como serão atribuídas as notas – competências, como são chamadas as

categorias de conjunto de notas – e o que faria com que o aluno tirasse nota zero, por

exemplo.

Além de apresentar recomendações para cada uma das cinco competências, o

manual mostra caminhos que os estudantes terão acesso também na hora de realizar a

redação, como é o caso da lista do que fazer ou evitar para fugir da nota zero. Um dos

passos é “cópia integral de texto(s) motivador(es) da proposta de redação e/ou de textos

motivadores apresentados no caderno de questões” (Inep 2017) e, por isso,

trabalharemos neste artigo a melhor maneira de aliar o conhecimento prévio e uso dos

textos motivadores na dissertação.

Tendo em vista que grande parte dos alunos possui dificuldade na produção de

texto quando ele já possui um tema e textos-base pré-definidos, este artigo pretende

estimular o uso multidisciplinar de Literatura e Música de modo a facilitar a sincronia

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das artes com a Língua Portuguesa bem como equilibrar o uso dos textos de apoio com

o repertório cultural do aluno.

Em um primeiro momento, abordaremos o que são exigências nos concursos

para saber o que os alunos devem saber antes da prova, ou seja, o que é regra e o que

deverá ser obedecido para garantir que seja feito um bom texto. E também qual a

ligação entre essas regras pré-estabelecidas com a mostra dos textos-base.

Depois, a intenção é desvendar como Literatura e Música podem auxiliar a

escritura desse aluno de forma que ele consiga levar consigo uma bagagem cultural com

um pensamento crítico formado e isso facilite seu julgamento sobre o tema proposto.

Para tanto, foi pedido que alunos escrevessem com os seguintes textos já definidos: “O

operário em construção” de Vinícius de Moraes e “Cidadão” de Zé Ramalho para tratar

o tema “Desigualdade Social: a alienação do trabalhador” e perceber como os alunos

utilizam essas e outras leituras para desenhar sua argumentação.Além disso, serão

apresentados os resultados dessas produções que foram previamente pedidas aos alunos.

Por fim, apresentaremos uma espécie de roteiro de auxílio à ação do aluno.

Como procedimento de aula, esse roteiro funcionará da seguinte forma: o professor terá

acesso ao que se pede pelo principal concurso de ingresso à Universidade Pública do

Brasil, saberá como o seu aluno vai ser avaliado, terá noção do histórico de textos-bases

utilizado para que, então, auxilie o seu aluno a carregar as aulas para a hora de dissertar

de forma prática.

2 Desenvolvimento

2.1 Exigências nos concursos

Aos candidatos que participam de concursos pelo Brasil são pedidos alguns

encaminhamentos gerais que se repetem todos os anos, pois compõem a estrutura da

redação: o texto precisa ser uma dissertação-argumentativa, portanto, escrito em prosa,

necessariamente sobre o tema que eles informarão na hora da escrita, porém com a

margem de discussão entre ordem social, científico, cultural e político.

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É indispensável que o estudante formule uma tese, a qual defenda o seu ponto de

vista sobre o assunto, já que o texto além de ser informativo precisa de argumentação, é

fundamental também que se argumente de forma coerente e coesa, utilizando

habilidades que foram aprendidas ao longo dos anos no ensino regular. Depois, pede-se

que seja elaborada uma proposta de intervenção ou uma solução para o problema

desenvolvido.

Os critérios de avaliação também são conhecidos previamente pelos alunos, são

as chamadas competências e elas são numeradas de um a cinco, cada uma sendo

responsável por avaliar parte do texto escrito pelo candidato. Entre esses critérios está,

por exemplo, o de o aluno demonstrar domínio na modalidade formal da língua

portuguesa.

Na ordem que a cartilha apresenta, resumiremos os critérios de avaliação:

1. A competência um diz respeito, como já foi citado anteriormente, ao aluno

respeitar a norma padrão da língua portuguesa. Ele deverá, portanto, fazer as

concordâncias devidamente adequadas, respeitar a pontuação, garantir que a

ortografia está correta conforma a gramática normativa;

2. A competência número dois pede que o aluno respeite o tipo do texto, então,

que ele escreva um texto dissertativo-argumentativo em prosa, usando outras

áreas do conhecimento para discutir o tema: sociologia, história, geografia,

biologia, a que mais se aproxime da discussão. É pedido também que se

compreenda o tema, pois se houver fuga deste, o aluno receberá uma nota

zero;

3. Na três, é necessário que o candidato organize seus argumentos em defesa de

um ponto de vista;

4. Na quarta competência, a cobrança diz respeito ao conhecimento que o

aluno precisa ter dos elementos linguísticos para construir a argumentação.

Fazer coerência adequada com o texto e com o mundo, utilizando elementos

coesivos para melhor interligar as ideias no texto;

5. Por último, a competência cinco, pede uma proposta de intervenção que

solucione o problema discutido. O estudante precisa solucionar o problema

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respondendo o que será a solução, como ela poderá ser realizada e quem

poderá fazer isso acontecer.

A prova de redação é composta por textos-base que conduzem o aluno ao recorte

do tema. Normalmente, são fragmentos de notícias, artigos de opinião, charges, músicas

que fazem alusão ao tema pedido. No ano de 2016, por exemplo, o MEC colocou o

tema “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” e a proposta

acompanhava quatro textos motivadores, os quais apresentavam, de maneira geral, que

intolerância religiosa é crime no Brasil e estatísticas provando que, apesar disso, ainda

existem muitos casos.

O primeiro texto motivador era do Ministério Público do Rio de Janeiro,

apontando que, de acordo com a Constituição do país, é crime ser preconceituoso e

cometer atos contra a religião de outrem. O segundo texto, fragmento retirado do Jornal

do Senado, informa existir o direito a liberdade de expressão desde que exista

concomitantemente o respeito às diferenças. O código civil compôs o terceiro texto-

base, apresentando o artigo 208, o qual explana, entre outros aspectos, qual a pena para

quem comete esse crime. O quarto e último texto é da Secretaria de Direitos Humanos

da Presidência da República e demonstra, em dados estatísticos, as denúncias realizadas

pelas religiões, entre elas as de descendência afro-brasileira, evangélica e espírita.

Com efeito, é a partir da leitura desses textos que o aluno poderá unir seu

conhecimento sobre o assunto com a sua bagagem cultural (suas leituras de notícias e

literárias, seus conhecimentos sobre filmes, músicas e séries que relembrem o tema).

Como será atribuída nota zero ao aluno que copiar integralmente qualquer um desses

textos, é importante que ele tenha conhecimento extra sobre o assunto. Para isso, o

professor tem papel fundamental na construção desse acervo intelectual.

Muitas são as formas de o aluno ter acesso à cultura e, com isso, desenvolver seu

senso crítico e desenvolver sua opinião sobre diversos assuntos. Poder participar de

momentos extra sala de aula pode auxiliar nisso: assistir a peças de teatro, filmes, séries,

ouvir músicas, ler romances, contos, poemas abre as possibilidades de enxergar o

mundo. Nesse sentido, o próximo tópico demonstrará como dois desses campos podem

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amparar o professor a trabalhar a produção textual em sala de aula: a Literatura e a

Música.

2.2 Literatura e Música como auxílio em sala de aula

Nenhum texto é absolutamente original, nem pertence por inteiro à autoria de

quem o disse ou escreveu. Nossa voz carrega necessariamente as vozes de

todos que nos antecederam, tenhamos consciência disso ou não.

[...]

Assim a intertextualidade está intrinsecamente presente em cada evento de

linguagem. (ANTUNES, pág. 76)

A intertextualidade é a maneira de tratar um mesmo tema usando referência de

outros textos que também já falaram sobre. Direta ou indiretamente, a pessoa que

escreve coloca outras vozes no texto por já terem se apropriado dos discursos antes

lidos ou ouvidos. Isso pode acontecer de maneira natural ou ainda planejada e é dessa

segunda maneira que trataremos neste tópico.

Planejar uma intertextualidade requer um vasto conhecimento sobre textos que

possam interagir com o tema que se escreve seja para concordar seja pra discordar, já

que nenhuma ocorrência desse mecanismo linguístico acontece por acaso. Sempre que

utilizamos o discurso de outro dentro do nosso texto significa que, necessariamente,

tínhamos um propósito para tal, foi uma estratégia para que nosso discurso ganhasse

mais efeito.

Quando nos utilizamos da palavra do outro, podemos fazer isso com a intenção

de fortalecer nosso argumento, maximizar as possibilidades de exposição do nosso

ponto de vista, para aumentar o número de adeptos a mesma concepção ou mesmo para

refutar um raciocínio diferente do nosso. Em qualquer uma dessas possibilidades, é

imprescindível que o escritor tenha total conhecimento sobre o tema, sobre o seu

próprio pensamento e sobre as ideias defendidas pelo outro.

Irandé Antunes, já citada anteriormente, trata em: Análise de textos:

fundamentos e práticas, um tópico específico sobre a relação de um texto com os outros

textos. A seguir, veremos uma passagem que nos faz refletir sobre essa ligação do que

escrevemos com o que já existe, vejamos:

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Não há saída: nossos textos estão ancorados em outros textos prévios, textos

científicos, literários ou do saber comum. As conexões que se vão

estabelecendo entre esses saberes é que geram concepções mais integradas e

favorecem um entendimento mais global do mundo. (pág. 78)

Conforme a linguista, nossos textos ao se interligarem com outros textos pré-

existentes “geram concepções integradas”, portanto, as ideias se convergem com o

objetivo de entender melhor o mundo. A intertextualidade, então, não tem a intenção de

complicar as discussões, mas sim propor outra maneira de interligar, discutir e

argumentar.

Nessa perspectiva, a Literatura e a Música, por estarem presente na rotina do

aluno, seja para o lazer seja nas aulas de língua portuguesa para trabalhar, muitas vezes,

a gramática, podem facilitar a produção de texto do aluno, já que os temas das redações

dos concursos são temas universais e, portanto, certamente já discutidos em outros

textos.

O uso de textos que se aproximam do educando faz com que abra espaço para

ele se expressar, para se comunicar melhor e para promover troca de experiências entre

os estudantes sobre cultura e história individuais. E a música, aqui, é tratada como texto,

pois entendemos a música como um texto tanto oral quanto escrito que pode ser

interpretado, usado para refletir, criticar e reproduzir pensamentos.

Simões et al. (2006) propõem que se utilize letras de música como atividades de

leitura, isso porque acredita-se que o trabalho com esse gênero textual na sala de aula

apresenta algumas vantagens, como: a) possibilidade de lidar com um universo textual

conhecido; b) o uso de uma abordagem interdisciplinar que abranja tópicos transversais;

c) oportunidade para a discussão de diferentes contextos socioculturais a partir das

ideologias expostas nas letras de música.

A literatura como mediadora de produção de textos também apresenta

benefícios. O leitor não é um elemento passivo, ele reflete sobre os significados

apreendidos e essa reflexão é capaz de provocar a imaginação e a criação dos alunos. Na

teoria, para que isso acontecesse o ensino médio precisou passar por modificações e a

nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei 9394/96 oferece uma nova

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maneira de aprendizagem, na qual os conteúdos tradicionais ficam em segundo plano,

priorizando a leitura.

Na prática, ainda não vemos professores de outras disciplinas, muitas vezes nem

os de Língua Portuguesa, colocando a leitura como protagonista em sala de aula, o que

ainda há é a busca por regras, conceitos, nomenclaturas gramaticais e histórias da

literatura.

Nesse sentido, defendemos a importância do auxílio dessas duas áreas e

colocamos em prática como apresentar textos diretamente ligados a temas específicos

ajudam os alunos a escreverem melhor, a pensar criticamente e a fazer ligações de

intertextualidade. O próximo tópico apresentará como foi desenvolvida a atividade.

2.3 Resultados de “Desigualdade Social: a alienação do trabalhador”

Foi proposto a candidatos ao ENEM, a maioria alunos de cursinho ou

terminando o ensino médio, em uma oficina de redação, que eles escrevessem sobre o

tema “Desigualdade Social: a alienação do trabalhador” baseando seus discursos nos

textos entregues anteriormente: o poema “O operário em construção” de Vinícius de

Moraes e a canção de Zé Ramalho, “Cidadão”.

O poema, com traços da segunda e da terceira fases do Modernismo brasileiro, é

uma alegoria da construção da consciência do trabalhador que, até então, é alienado e

não tem noção da sua importância social. Por meio de metáforas, apresentam-se

discussões sobre desigualdade social, direitos do trabalhador e, principalmente,

alienação.

A alienação é apresentada já na primeira estrofe da poesia de Vinícius de

Moraes, o eu-lírico é quem constrói as casas onde antes não havia outras construções,

compara o trabalhador a um pássaro que, sem asas, subia essas casas e desconhecia sua

incumbência, vejamos:

Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as casas

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Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia

De sua grande missão

A canção narra a história do eu-lírico que trabalha como pedreiro e constrói

todos os prédios ao redor, dos quais não pode usufruir em razão de sua condição social.

É uma música que aborda o preconceito, a discriminação e também, como no poema, a

alienação pela qual o trabalhador passa por não ter total noção da sua relevância na

sociedade.

Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido

Dá vontade de beber

E pra aumentar meu tédio

Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer

A alienação, como a diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar ou agir

por si próprios, aparece em ambos os textos e a intenção deste trabalho era que os

alunos, com base neles, escrevessem uma dissertação-argumentativa tratando de como o

trabalhador é importante para a construção da cidade e se esquece da sua própria

construção.

Os alunos receberam essa proposta para, em duas horas, dissertarem sobre o

tema. Não foi a primeira vez que eles receberam os textos previamente, toda oficina eles

trabalhavam com temas diferentes e com textos referentes a eles, fosse música fosse

poema fosse imagem (pintura, fotografia).

Foram entregues os textos e as normas as quais os alunos deveriam obedecer,

respeitando as principais regras que eles também obedecem ao se submeterem ao

ENEM. No entanto, os textos-motivadores nesta atividade poderiam ser usados na

dissertação final deles, pois a intenção era que aumentasse a bagagem cultural desses

estudantes.

A atividade consistia em fazer a leitura dos textos e realizar a escrita antes

mesmo que houvesse alguma discussão sobre o tema para que um discurso não

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influenciasse no outro, pois a realização era individual como é em qualquer concurso. O

enunciado era o seguinte:

“A prova de redação exigirá de você a produção de um texto em prosa, do tipo

dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou

política. Os aspectos a serem avaliados relacionam-se as competências que devem ter

sido desenvolvidas durante os anos de escolaridade. Nessa redação você deverá

defender uma tese- uma opinião a respeito do tema proposto-, apoiada em argumentos

consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual. Seu

texto deverá ser redigido de acordo com a modalidade formal da Língua Portuguesa.

Por fim, você deverá elaborar uma proposta de intervenção social para o problema

apresentado no desenvolvimento do texto que respeite os direitos humanos.

REDAÇÃO: Muitas vezes o trabalho braçal é esquecido e/ou desvalorizado em nossa

sociedade, tendo em vista que os operários – os quais participam de todo processo de

construção – não usufruem dos seus próprios trabalhos, discutida em, no máximo, 30

linhas, o tema: “Desigualdade social: a alienação do trabalhador”.

Todas as oficinas funcionavam da seguinte forma: os alunos recebiam os textos

que também eram projetados em sala para fazer uma leitura em conjunto, sem

discussão, a princípio, para que cada um pudesse fazer sua interpretação individual.

Depois, recebiam o tema da dissertação-argumentativa que precisariam escrever e eram

informados que precisariam usar algum dos textos lidos anteriormente. Isso era feito

para que eles tivessem o costume de pesquisar, ao treinarem sozinhos, textos para

compor sua bagagem cultural.

Na oficina que resultou este artigo, especificamente, os alunos leram o poema de

Vinícius de Moraes e a canção de Zé Ramalho, como já foi dito, e, mais uma vez, foram

informados de que precisariam ou usar ambos os textos ou escolher algum deles para

compor sua argumentação sobre o tema “Desigualdade Social: a alienação do

trabalhador”.

Como exemplo, a aluno 1 escolheu a canção “Cidadão” para integrar o seu

primeiro parágrafo de desenvolvimento, vejamos:

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“Em primeiro plano, essa falta de direitos inicia a partir do momento em que

um construtor trabalha para fazer uma escola na qual seu filho nunca vai poder

estudar por sua falta de renda. Essa situação é a que conta a música “Cidadão” de Zé

Ramalho, “eu nem posso olhar o prédio que ajudei a fazer”, passagem da obra que

mostra ao ouvinte/leitor passar por um criminoso que, muitas vezes, ocorre aos

empregados de baixa renda.”

Esse mesmo aluno continuou a argumentação utilizando outros exemplos

anteriormente usados para trabalhar outro tema, provando, assim, que os textos não se

perdem e compõem o crescimento intelectual, podemos observar:

“Em segundo plano, forte crítica a esse fato se dá no filme “Tempos Modernos”

com Charles Chaplin. A obra mostra a rotina forçada e difícil de um empregado da

indústria, a ponto de ficar viciado no movimento costumeiro e só conseguir fazer isso.

Com isso, apesar de todo o esforço feito pelo trabalhador, ele é demitido sem

remuneração ou conhecimento.”

Já o aluno 2 preferiu utilizar o poema “O operário em construção” na sua

argumentação, como vemos a seguir:

[...] “Tendo isso exposto, é necessário, ainda, relembrar que a alienação

acontece em consequência de uma sociedade extremamente desigual e injusta. Nesse

mesmo sentido, Vinícius de Moraes discutiu em seu poema “O operário em

construção” como esse trabalhador se deu conta de que quase tudo a sua volta

dependia dele para ser construído, “certo dia à mesa, ao cortar o pão o operário foi

tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela mesa –

garrafa, prato, facão – era ele quem os fazia”. Desse modo, constata-se que esse

problema precisa ser sanado ou, ao menos, diminuído.”

No próximo tópico, apresentar-se-á o roteiro de aula como auxílio ao professor e

ao aluno.

2.4 Procedimento de aula: Roteiro de apoio à ação do aluno

Para melhor desenvolver essa atividade, foi pensado um roteiro para auxiliar o

aluno. Esse roteiro vai servir tanto para o professor nortear sua aula como para que o

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aluno utilize-o para todas as produções de texto que precisar fazer. Ela consiste em

seguir os seguintes passos:

1. Apresentação do texto a ser trabalhado (de preferência, poema e/ou canção)

concernente com o tema

2. Leitura do texto

3. Comentários gerais sobre o texto

4. Interpretação individual do texto

5. Estudo do vocabulário

6. Produção de texto com base nos textos estudados

Com esse caminho, ficará mais fácil tanto para o aluno escrever quanto para o

professor direcionar a aula. A seguir, mostraremos como essa facilidade virá passo a

passo.

No passo um, será interessante para o aluno ter variedades de textos para

conhecer o tema proposto, pois, muitas vezes, ele acaba não conhecendo muito

sobre esse tema. Para o professor, ajudará à medida que ele poderá fazer um recorte

como preferir sobre a discussão, articulando o que será mais importante para a

formação do estudante.

No passo dois, os estudantes poderão treinar a leitura dos textos, identificando a

melhor forma de fazê-la para cada gênero. O professor, por sua vez, diagnosticará

quais dificuldades determinados alunos passam. No três, o grupo terá espaço para

comentar, de maneira geral, o texto. Elementos linguísticos, semânticos, temáticos

ou mesmo ligados ao sentimento individual. Para o professor, esse espaço pode

ajudar a reconhecer o nível de bagagem cultural que cada um traz consigo.

No passo quatro, os estudantes poderão exercitar a interpretação de maneira

individual, dessa forma, o discurso se amplia e eles conseguem chegar à essência

dos textos. Essa é uma competência imprescindível para Língua Portuguesa, mas

também para outras disciplinas. O professor vai poder, mais uma vez, reconhecer as

habilidades de discurso dos alunos.

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No cinco, quando forem feitos os estudos sobre o vocabulário, todos os aspectos

linguísticos serão observados pelos alunos e, dessa maneira, ajudará a compreender

conceitos aplicados ao texto. O professor poderá avaliar, de forma contínua, qual a

relação do aluno com a Língua Portuguesa e com a produção textual.

No último passo, o de número seis, serão feitas, de fato, as dissertações com

base nos textos estudados em sala de aula. Os alunos colocarão em prática as teorias

sobre produção de texto bem como seus conhecimentos sobre o tema, inserindo os

resultados das discussões feitas com o professor e os colegas. Já o professor, irá

receber o feedback do seu trabalho, reconhecendo, no outro, a sua complexidade e

levando em consideração, também, suas esferas culturais, afetivas e linguísticas.

3 Considerações finais

Para auxiliar os alunos que demonstram dificuldades em produção textual,

escrevemos este artigo. Foi possível notar, na oficina, que existem ainda muitas

barreiras a serem enfrentadas quanto ao modo de colocar o aluno também como

protagonista. A nossa reflexão teve o objetivo de promover um estudo interdisciplinar

entre Literatura, Música e Produção Textual para facilitar a intertextualidade individual

do aluno, partindo de uma coletiva. Utilizamos autores conhecidos, Vinícius de Moraes

e Zé Ramalho para que os estudantes se sentissem familiarizados e escolhemos um tema

bastante atual e relevante, “Desigualdade social: a alienação do trabalhador” para

despertar o interesse da discussão.

Com a análise dos textos dos alunos, pudemos identificar que eles conseguiram

usar os textos dentro das suas dissertações, atingindo um resultado positivo para o nosso

objetivo principal. Desejamos, agora, que o início do nosso trabalho consiga se

perpetuar e que outros alunos tenham contato com esse método de auxílio, repetição e

resultados.

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REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola

Editorial, 2010.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Ministério da Educação. Temas

transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação

preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo:

Ed, Contexto, 2012.

CITELLI, Beatriz; GERALDI, J. Wanderley. Aprender e ensinar com textos de

alunos. São Paulo: Cortez, 2011.

SIMÕES, D. et al. A música e o ensino da língua portuguesa. Cadernos do CNLF, v.

X, n. 7, 2006. Disponível em: < http://www.filologia.org.br/xcnlf/7/04.htm>. Acesso

em: 07 de Nov de 2017.

ZILBERMAN, R. E. Silva, SILVA, E. T. da Silva. Leitura: perspectiva

interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1995.