a problemática da dependência do brasil em relação a china
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC
CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A PROBLEMÁTICA DA DEPENDÊNCIA DO BRASIL EM RELAÇÃO A
CHINA: UM ESTUDO DE CASO
ROSA FERREIRA DI MIGUELI
Florianópolis (SC), Junho de 2013
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A PROBLEMÁTICA DA DEPENDÊNCIA DO BRASIL EM RELAÇÃO A
CHINA: UM ESTUDO DE CASO
Monografia submetida ao Departamento de Ciências
Econômicas e Relações Internacionais para obtenção
de carga horária na disciplina CNM 7280 –
Monografia, como requisito obrigatório para a
aquisição do grau de Bacharelado em Relações
Internacionais.
Por: Rosa Ferreira Di Migueli
Orientadora: Prof. Helton Ricardo Ouriques
Área de pesquisa: Economia
Palavras-Chave: 1. Brasil
2. China
3. Indústria
4. Economia
5. Mercado
Florianópolis (SC), Junho de 2013
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A banca examinadora resolveu atribuir a nota 9,0 à aluna Rosa Ferreira Di Migueli na
disciplina CNM 7280 – Monografia, como requisito obrigatório para a obtenção do grau
de Bacharel em Relações Internacionais.
Banca Examinadora:
Prof. Helton Ricardo Ouriques
Profª Patricia Fonseca Ferreira Arenti
Prof. Marcelo Arend
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Dedico este trabalho àqueles que sempre
estiveram ao meu lado e que são os grandes
mestres da minha vida, meus pais, Ulisses
Veras Di Migueli e Wanda Maria Di Migueli.
Assim como ao meu noivo, Fernando
Duschenes por sempre me dar apoio,
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AGRADECIMENTOS
O desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso e as conclusões finais
da presente pesquisa demonstram o resultado de um processo que exigiu esforço e
comprometimento pessoal. Tal dedicação não seria possível sem a imprescindível
contribuição de algumas pessoas, as quais acompanharam de perto minha incansável
jornada. É por este motivo, que escrevo com a mais profunda gratidão estas linhas de
agradecimento.
À minha mãe, Wanda Maria Piccoli Ferreira Di Migueli, por ser sempre paciente
e pelo exemplo de dedicação e determinação. Ao meu querido pai, Ulisses Veras Di
Migueli, pelo apoio e igualmente pela paciência e o exemplo que sempre me foi passado
assim como pelas palavras de apoio nos momentos de dificuldade. E aos meus irmãos,
Maria Ferreira Di Migueli, Joana Ferreira Di Migueli e Sebastião Ferreira Di Migueli
por me incentivar e encorajar ao longo de todo o processo.
À meu noivo, Fernando Lass Duschenes, pela paciência e apoio durante o
período de elaboração da presente pesquisa.
Ao Professor Doutor Helton Ricardo Ouriques, pelo seu trabalho de orientação
realizado de forma tão paciente e eficiente, pela objetividade e rigor científico, por todas
as suas orientações, as quais contribuíram de maneira determinante para o
enriquecimento do presente trabalho e pela enorme disponibilidade com que sempre
atendeu a todas às minhas dúvidas.
À Universidade Federal de Santa Catarina por proporcionar um ambiente
acadêmico ideal e um ensino de excelência para todos que ali buscam aprimorar seus
conhecimentos.
Aos meus professores que contribuíram integralmente para a minha formação
profissional e pessoal, para meu desenvolvimento profissional e por sempre me abrirem
novos horizontes.
Aos meus colegas, por terem acompanhado de perto meu crescimento e
proporcionado momentos de alegria.
6
A todos estes, e a todas as demais pessoas, que contribuíram para a elaboração e
conclusão deste estudo, o meu profundo e sincero agradecimento, pois sem o vosso
apoio certamente o mesmo não teria sido possível.
“O verdadeiro valor de um homem não é determinado por sua
posse, suposta ou real, da Verdade, mas por seu sincero esforço
para chegar à Verdade. Não é a posse da Verdade, mas a busca
da Verdade que o leva a estender seus poderes e nela encontrar
seu aperfeiçoamento constante. A posse torna a pessoa passiva,
indolente e orgulhosa”.
“Se Deus tivesse toda a Verdade guardada em sua mão direita, e
em sua mão esquerda apenas o caminho seguro e diligente para a
Verdade e me oferecesse a escolha, embora com a ressalva de
que eu sempre e para sempre iria errar no processo, eu, com toda
humildade, escolheria a esquerda.”
Christopher Hitchens
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RESUMO
DI MIGUELI, Rosa Ferreira. A Problemática da dependência do Brasil em relação a
China . Desafios impostos a indústria nacional frente a concorrência internacional:
Uma Estudo Acerca Da Indústria na empresa Intelbras SA. Florianópolis, 2013.
Monografia – Curso de Relações Internacionais, Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro Sócio Econômico.
A ascensão recente da China à condição de potência econômica em nível global e sua
crescente presença no mercado mundial tem sido motivo de grande atenção nos debates
acadêmicos assim como em debates internacionais. A acentuada expansão do numero de
exportações de manufaturas do país levantam preocupações no sentido de a
concorrência crescente vinda da China acarretarem consequências a mercados de países
em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Nesse sentido, este estudo busca, através
de pesquisa realizada com embasamento em estudo de caso verificar as consequências
que o aumento do comércio entre Brasil e China acarreta para a indústria Brasileira. A
ênfase recai sobre pontos positivos a indústria brasileira advindos do crescente
desenvolvimento do comércio entre os países, sobretudo no que diz respeito ao acesso à
componentes vindos da China que alimentam as linhas de produções brasileiras.
Palavras-Chave: Ascensão Chinesa, Indústria Brasileira, Comércio Bilateral, Comércio
Exterior.
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ABSTRACT
The recent rise of China's economic power on a global level and its growing presence
on the world market has been the subject of great attention in academic debates as well
as in international debates. The marked expansion in the number of manufactured
exports of the country raise concerns towards the growing competition from China
would entail consequences for markets in developing countries, such as Brazil.
Accordingly, this study seeks, through grounding in research with case study to verify
the effects that the increase of trade between Brazil and China lead to Brazilian
industry. The emphasis is on the Brazilian industry positives arising from the increasing
development of trade between countries, especially with regard to access to components
from China which supply lines Brazilian productions.
Key-Words: Chinese Rise, Brazilian Industry, Bilateral Trade, Foreign Trade.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Salário Médio Anual na Indústria ................................................................................ 29
Figura 2 - Exportações Brasileiras para o mundo e para a China (US$ bilhões) ......................... 36
Figura 3 - Pauta Exportadorado Brasil com a China por intensidade tecnológica do produto ... 37
Figura 4 - Pauta Importadora com a China por intensidade tecnológica do produto ................ 38
Figura 5 - Telefonia Fixa - Linhas em serviço ............................................................................... 45
Figura 6 - Estrutura da Empresa no mercado ............................................................................. 47
Figura 7- Presença Internacional da Empresa ............................................................................. 48
Figura 8 - Variação do Dólar 2012 - Real X Orçado ..................................................................... 50
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Evolução Exportações, Importações e correntes de comércio da China ................... 30
Tabela 2 - Participação do Brasil e da China no Mercado Mundial............................................. 35
Tabela 3 - Comparação preços Importados X Nacionais ............................................................. 51
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SUMARIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12 1.1 Tema e Problematização ....................................................................................... 12 1.2 Objetivos ............................................................................................................... 16 1.3 Justificativa ........................................................................................................... 17
1.4 Metodologia e Estrutura do Trabalho ................................................................... 19 2. A PROBLEMÁTICA DA DEPENDENCIA DO BRASIL EM RELAÇÃO À
CHINA. DESAFIOS IMPOSTOS A INDÚSTRIA NACIONAL ................................. 21 2.1 As cadeias mercantis e a economia mundo .......................................................... 21 2.2 Expansão Chinesa no Período Recente ................................................................ 23
3. Relações Comerciais entre Brasil e China .............................................................. 32 3.1 Breve histórico ...................................................................................................... 32 3.2 Indicadores Econômicos ....................................................................................... 34
4. ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 42
4.1 Desafios impostos à indústria nacional frente à concorrência internacional: Um
estudo de caso na empresa Intelbras. .......................................................................... 42 4.2 Breve histórico Mercado de Telefonia no Brasil. ................................................. 42
4.3 A Empresa Intelbras ............................................................................................. 46
4.4 Mercado ................................................................................................................ 47 4.5 Produto Estudado .................................................................................................. 49
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 57
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 61
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1. INTRODUÇÃO
1.1 Tema e Problematização
A recente ascensão da China e seu acelerado crescimento têm despertado
curiosidades a respeito das mudanças ocorridas na Ordem Internacional, assim como as
possíveis consequências que essa nova situação pode acarretar.
A China ascendeu e se consolidou como segunda maior potencia econômica global e
com isso introduziu interrogações sobre a natureza das relações internacionais,
sobretudo no pós-guerra Fria. A forma e a rapidez com que o país se desenvolveu nas
ultimas décadas fez surgir à crença de que uma nova Ordem internacional pode estar
surgindo. “O modelo unipolar de poder instalado no mundo após do fim da Guerra Fria
começa a dar sinais de esgotamento. A hegemonia segundo a qual um Estado dominante
conduz o sistema de Estados numa direção desejada tende hoje a ser posta em dúvida ou
pelo menos dá sinais de um início de acaso” (PRETO, 2011:13).
A China ficou conhecida como “A fábrica do mundo” e nos últimos anos tem
inundado o mundo com uma quantidade incrível de produtos com alta tecnologia e valor
agregado. O aumento das trocas globais desse país esta acarretando efeitos
transformadores sobre a economia mundial e as consequências desse efeito sobre o
Brasil são de extrema importância para a presente pesquisa.
A partir de 2004, mais precisamente 2007, com o acentuado aumento das
exportações de manufaturados e eletrônicos de países asiáticos, sobretudo da China, a
economia brasileira tem se defrontado com desafios frente à concorrência e os efeitos
dessa entrada em massa de produtos no mercado tem desencadeado efeitos bastante
transformadores. “Desequilíbrios e perdas importantes em vários setores industriais
clamam por uma definição sobre o futuro e as escolhas possíveis de diversidade
industrial” (MATTOS, 2011:9).
Se por um lado a entrada de produtos chineses dificulta e até mesmo inviabiliza
determinados setores da economia brasileira, por outro, eles serão determinantes para a
sobrevivência frente à pesada concorrência internacional para alguns seguimentos
industriais. Para determinados segmentos, os insumos vindos da China possibilitam a
produção de produtos de alta qualidade no Brasil, com preços competitivos e tecnologia
13
nacional, o que impulsiona a economia, gera empregos, e contribuem para a
consolidação de produtos produzidos no país no mercado internacional.
As relações comerciais entre Brasil e China tem apresentado crescimento
bastante acentuado nas últimas décadas. A China se tornou o principal parceiro
comercial do Brasil e seu crescimento gigantesco, assim como a recente expansão
brasileira aproximam os dois países. É perceptível o considerável aumento das trocas
comercais entre ambos. O Brasil exporta em quantidades crescentes commodities com
pouco valor agregado ou de valor agregado insuficiente. Por outro lado, importa cada
vez mais bens manufaturados da China com alto valor agregado. Essa situação preocupa
no sentido de estar estabelecendo uma tendência em direção a “desindustrialização do
país”.
Uma das principais dificuldades que o empresariado brasileiro encontra para seu
desenvolvimento é o conhecido1 “custo Brasil”, amplamente reconhecidos nos setores
especializados. Os problemas no Brasil são muitos. Como mostram a tabela 1 e a figura
1, a logística deficitária do país e o sistema fiscal com uma carga tributária
extremamente pesada são grandes entraves que as indústrias nacionais encontram.
Tabela 1 - Comparação da infraestrutura brasileira e outros países
Fonte: DECOMTEC/FIESP (2013)
1 Custo Brasil é um termo genérico utilizado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais, que
encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional, comprometendo a
competitividade e a eficiência da indústria Brasileira fazendo com que nossos produtos se tornem mais
caros que os produtos importados de outros países. Isso reduz a competitividade externa das indústrias
nacionais, contribui para o aumento do desemprego, trabalho informal, sonegação de impostos e evasão
de divisas.
14
Figura 1 - Gráfico comparativo entre a taxa tributária brasileira e outros países
Fonte: DECOMTEC/FIESP (2013)
O custo de produção no Brasil torna-se muito alto com tantos detalhes, o que
dificulta muito o aumento das exportações brasileiras de produtos manufaturados. A
figura 2 mostra como este custo é elevado.
Figura 2 - Gráfico comparativo entre preços de produtos manufaturados no Brasil e importados dos EUA
Fonte: FIRJAN (2013)
15
A figura acima mostra que o produto brasileiro é em média 15% mais caro que o
importado dos EUA. Segundo estudo realizado pela FIESP (2013), um bem
manufaturado nacional é, em média, 34,2% mais caro que similar importado dos
principais parceiros comerciais, e 34,7% em relação à China, já contando com as
alíquotas de importação vigentes, unicamente em função do Custo Brasil, isto é,
deficiências no ambiente de negócios do país, e devido à valorização do real em relação
ao dólar.
Apesar de as indústrias no Brasil terem de encarar dificuldades com relação aos
seus custos de produção, existe uma percepção diferente em relação a esse problema,
que é encarado, de maneira geral, como ponto chave à dificuldade de desenvolvimento.
No país, os investimentos em P&D e desenvolvimento tecnológico são ainda muito
pequenos. O investimento brasileiro em P&D atinge apenas 1% do Produto Interno
Bruto do país, e essa realidade esta também estreitamente ligada às dificuldades de
desenvolvimento que a indústria encara. Processos inovadores, expressos em novos
produtos, processos e patentes, têm relação direta com o desenvolvimento econômico, a
geração de emprego e renda, e o aumento da competitividade. Segundo Furtado (2010:
3) as empresas inovadoras têm 16% mais chances de se tornarem exportadoras.
Outro ponto que merece atenção em relação aos processos e investimentos em
inovações para a indústria nacional, é que, no Brasil, o governo é responsável por 63%
do investimento total em pesquisa Desenvolvimento e Tecnologia, enquanto as
empresas privadas investem somente 37%, justamente o oposto do que ocorre em países
com grande índice de inovações. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem cerca de
800 mil cientistas trabalhando em pesquisa e desenvolvimento, sendo que deste total
81% estão nas empresas, 4% no governo, e 15% em instituições de ensino superior. No
Brasil, segundo dados da Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica (Pintec), do
IBGE, apenas 4% das indústrias com mais de dez funcionários lançaram produtos novos
de 1998 a 2000.
O Brasil carece de um sistema de inovações eficiente, assim como registra baixa
taxa de transformação de pesquisa e desenvolvimento em aplicações comerciais. O país
avança pouco em desenvolvimento tecnológico, o que acaba atrasando de certa forma
seu desenvolvimento. A adoção de novas tecnologias e inovações aumenta a eficiência e
produtividade e contribui para a conquista de novos mercados. Os investimentos, tanto
públicos como privados, precisam ser elevados, para que o país possa se inserir no
mercado mundial de forma mais competitiva.
16
É notório, a partir da ilustração exposta anteriormente, que os problemas e a
preocupação referentes à recente expansão da China e as consequências da mesma sobre
o mercado brasileiro tem sido amplamente discutido e estudado.
Nesse sentido, é de interesse fundamental desta pesquisa demonstrar, através de
análise e estudo de caso, a importância das importações de insumos vindos da China e a
contribuição das mesmas para a Indústria Brasileira, uma vez que para muitos casos,
somente através dessas importações a produção nacional torna-se vantajosa, viável e
sustentável, além de proporcionar acesso a novas tecnologias Pretende-se aqui
incentivar novos debates e reflexões, uma vez que, através de dados comparativos,
pretende-se entender de maneira mais detalhada a atual conjuntura das relações
comerciais entre Brasil e China e verificar o impacto das mesmas para a Indústria
nacional e de que forma o intercâmbio crescente entre os países contribui para a
competitividade e desenvolvimento de determinados setores no Brasil.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Compreender com maior clareza, os pontos centrais acerca dos impactos para a
indústria brasileira da recente ascensão da China como segunda potencia
econômica mundial e do crescente aumento da entrada de produtos deste país no
Brasil e as consequências para a indústria nacional.
1.2.2 Objetivos Específicos
i. Ressaltar a importância do intercambio comercial entre Brasil e China e
apresentar argumentos favoráveis para a indústria Brasileira vindas das
importações de insumos e tecnologias do país asiático.
ii. Avaliar os impactos das importações para a indústria brasileira através de estudo
de caso realizado em empresa Brasileira da área de telecomunicações,
visando conhecer mais detalhadamente os benefícios advindos das
importações chinesas.
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1.3 Justificativa
A atual posição da China como o centro mais dinâmico da economia mundial
acentua a importância das relações com o país para o Brasil. Em 2009 a China ascendeu
à condição de primeiro parceiro comercial brasileiro e principal fonte de investimentos
estrangeiros do país.
Cabe ressaltar que, apesar de as relações comerciais entre Brasil e China terem
obtido crescimento considerável nas ultimas décadas, muito tem se discutido a respeito
dessas relações no Brasil. Os críticos chamam a atenção para os possíveis sinais de
desindustrialização, por conta da excessiva concentração da pauta de exportações
brasileira em commodities.
Por outro lado, em sentido oposto, outros apontam os benefícios de um maior
estreitamento das relações com o país que mais cresce atualmente, não somente para
promover ganhos de comercio, mas também para estimular a recepção de investimentos
e a absorção de alta tecnologia.
Assim, a problemática que envolve a dependência do Brasil em relação ao
mercado Chinês vem sendo amplamente discutido. Não somente em relação às
exportações de commodities, que têm grande representatividade na balança comercial
brasileira, mas também em relação às importações, sobretudo de componentes baratos
para suprir as linhas de produção brasileiras.
Sabe-se que os componentes importados da Ásia contribuem ou, em alguns
casos, são até mesmo fatores determinantes para a sobrevivência de indústrias
brasileiras, devido a seus preços extremamente competitivos. “Determinantes” no
sentido de que a indústria brasileira enfrenta muitas dificuldades, especialmente no que
se refere ao “custo Brasil”. Nesse sentido, para que a produção no país se torne viável,
os insumos com preços extremamente baixos contribuem para que os produtos
produzidos no Brasil alcancem preços de produção competitivos, frente à massa de
produtos importados que entram no mercado.
A relação bilateral Brasil-China tem sido vista por alguns economistas, como
uma parceria do tipo Norte-Sul (rico-pobre) entre duas economias em crescimento. A
China ficou conhecida durante muitos anos por seus produtos de baixo valor agregado
que eram comercializados pelo mundo afora. Os produtos, inclusive, eram vistos como
produtos sem qualidade ou durabilidade. Essa visão mudou, e hoje a China vende para o
mundo inteiro produtos com alta tecnologia agregada.
18
O país conseguiu, sobretudo nos anos de 1990, modificar sua pauta de
exportações aumentando a venda de produtos manufaturados, modificando com isso o
perfil das exportações do país, anteriormente calcado em produtos de baixo valor
agregado.
Nesse período presenciou-se uma mudança no perfil das
exportações industriais antes concentradas em produtos de baixo valor
agregado – como têxtil e confecções - , para uma gama cada vez mais
diversificada de bens de consumo e de capital, que, de 20% em 1990,
passaram a representar mais de 50% das exportações industriais
Chinesas (YIN, 2006:35)
O Brasil, em sentido contrario, concentra suas exportações em produtos
intensivos em recursos naturais e pouco representa nas exportações mundiais de
manufaturados.
De acordo com estudos divulgados pelo Banco Central, o mercado Chinês
absorveu 15,2% das vendas externas brasileiras em 2010, ante 2% em 2000, mostrando
com isso que a relação Brasil-China tem apresentado crescimento bastante
representativo. Em 2009 o principal parceiro comercial do Brasil passou a ser a China,
destronando o então Estados Unidos.
Diante do crescimento acentuado da China, o Brasil vem mostrando que
depende em parte de sua relação com este país, sobretudo no que se refere as suas
exportações. Uma possível desaceleração do crescimento chinês, por exemplo, afetaria a
balança comercial Brasileira de forma significativa.
Não somente as exportações interferem no mercado Brasileiro, mas também as
importações asiáticas têm grande importância para o andamento da economia. Diversas
indústrias nacionais, como é o caso da indústria analisada, dependem de componentes
vindos da China para se tornarem competitivas frente à concorrência internacional.
Alguns segmentos não sobreviveriam sem as importações Chinesas, pois não
atingiriam preços atraentes para competir com os produtos importados que entram no
mercado brasileiro. As indústrias no Brasil precisam lidar com diversos obstáculos para
tornarem-se competitivas. O alto custo de produção torna a concorrência ainda mais
acirrada e desafiadora, e os componentes de baixíssimo custo vindos da Ásia, sobretudo
da China, contribuem para a sobrevivência e competitividade das indústrias no país.
Desse modo, torna-se relevante investigar em que consiste a dependência que
alguns setores industriais brasileiros têm em relação a componentes vindos da China
para manterem sua produção interessante a sustentável. Esse será o foco da presente
análise. Através de pesquisa realizada em uma empresa de capital 100% nacional
19
consolidada do ramo de telecomunicações no Brasil, a Intelbras, a presente pesquisa
pretende mostrar a importância do intercambio comercial entre Brasil e China e os
principais desafios que essa relação impõe a determinados setores neste país. O ponto
chave da pesquisa será demonstrar os benefícios que as importações de componentes
vindos da Ásia trazem para a sustentabilidade da indústria no Brasil.
1.4 Metodologia e Estrutura do Trabalho
Esse capítulo tem como objetivo apresentar a metodologia de pesquisa utilizada
e qual o tipo de pesquisa foi adotada. Antes de definir o tipo de pesquisa, no entanto,
convém esclarecer o que vem a ser uma pesquisa. “[...] a pesquisa tem um caráter
pragmático, e um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método
cientifico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas
mediante o emprego de procedimentos científicos”. (GIL, 1999: 42)
A metodologia de uma pesquisa, tem o objetivo de explicitar os procedimentos
empreendidos durante a execução da pesquisa realizada.
1.4.1 Caracterização da pesquisa
Para alcançar os objetivos propostos por este trabalho, foi importante a
utilização de uma metodologia adequada, compreendendo métodos, técnicas e
instrumentos utilizados nas etapas de desenvolvimento da pesquisa. Foram utilizados
documentos honorários de Estado e organismos internacionais que estão disponíveis em
suas respectivas paginas oficiais da web. Ademais, o presente trabalho procurou incluir
entre suas bases de dados reportagens, artigos, teses e livros que trouxessem a
problemática da recente ascensão Chinesa e suas consequências para o mercado
brasileiro.
A presente pesquisa é classificada como exploratória, pois segundo Gil (1999:
44), ela visa proporcionar maior familiaridade com o problema, buscando explicitá-lo e
construindo hipóteses através de procedimentos bibliográficos.
“O método quantitativo é utilizado, sobretudo, para o estudo de dados oriundos
de um grande número de respondentes, com o uso de escalas numéricas, submetidas a
análises estatísticas formais.“ (MATTAR, 2005: 36).
20
Já “a pesquisa qualitativa considera que existe uma relação dinâmica entre o
mundo real e o sujeito, ou seja, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser apresentado em números. A interpretação dos
fenômenos e a atribuição de significados são os fundamentos do estudo qualitativo. Não
utiliza métodos e técnicas estatísticas, tem como ambiente natural a fonte direta para
coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave” (SILVA, 2001:56).
Um estudo de caso se caracteriza como um tipo de pesquisa cujo objeto é uma
unidade que se analisa profundamente. Visa ao exame detalhado de um ambiente, de um
simples sujeito, ou de uma situação em particular. (GIL, 2002: 25)
Para desenvolver a presente pesquisa, a mesma foi dividida em duas seções. A
primeira apresenta uma análise das principais características a respeito do intercâmbio
de mercadorias entre Brasil e China, assim como um breve histórico da evolução das
relações entre estes países.
A segunda seção, por seu turno, concentra-se no estudo de caso realizado em
empresa brasileira do ramos de telecomunicações, que utilizou-se de coleta de dados.
Também foi realizada pesquisa documental, por meio de consultas a relatórios, tabelas,
gráficos e outros. Foi realizada também, entrevista informal com o objetivo de entender
com maior riqueza de detalhes, as mudanças ocorridas na empresa após o processo de
mudança em seu fornecimento.
A pessoa escolhida para ser entrevistada foi por compreender o assunto
abordado. Importante ressaltar que não foram elaborados questionários estruturados,
apenas conversas informais com o intuito de enriquecer a presente pesquisa.
21
2. A PROBLEMÁTICA DA DEPENDENCIA DO BRASIL EM
RELAÇÃO À CHINA. DESAFIOS IMPOSTOS A INDÚSTRIA
NACIONAL
Para entender de maneira mais detalhada a problemática proposta pela presente
pesquisa, é importante descrever alguns conceitos e conhecer mais detalhadamente a
relação entre os dois países. Para tanto será exposto a seguir uma breve explicação a
respeito das cadeias mercantis seguido de breve histórico acerca das relações, sobretudo
comerciais, entre Brasil e China e a ascensão do país asiático nas últimas décadas.
2.1 As cadeias mercantis e a economia mundo
Para compreender o sistema produtivo como um todo, e o impacto da
produção em larga escala de produtos chineses para a indústria brasileira e a inserção da
mesma no mercado mundial, é necessária a compreensão de dois conceitos
fundamentais para a análise: “economia-mundo” e “cadeia-mercantil”. Para a
compreensão do funcionamento de uma cadeia mercantil, coloca-se a necessidade de
compreender primeiramente o sistema de uma economia-mundo. Para tanto, nada
melhor do que a explicação de seu próprio criador, Immanuel Wallerstein, que identifica
uma economia-mundo da seguinte forma:
“No final do século XV e começo do XVI, nasceu o que poderíamos
chamar de uma economia-mundo europeia” (1999:22). Trata-se de
uma única entidade econômica, que em seu espaço convive com
diferentes formas de entidades políticas (império, cidades-estados,
nações-estado), sendo maior que qualquer uma delas, e por isso
constitui-se num “sistema mundial”. “E é uma <<economia-mundo>>
devido a que o vínculo básico entre as partes do sistema é econômico,
ainda que em certa medida seja reforçado por vínculos culturais e
eventualmente, como veremos, por arranjos políticos, incluindo
estruturas confederativas” (WALLERSTEIN, 1999:21 apud Vieira,
2010)
Em outras palavras as economias-mundo representam um “fragmento do
universo, um pedaço do planeta economicamente autônomo” (BRAUDEL, 1998: 35).
Para Braudel as economias-mundo têm algumas características próprias. A primeira
delas é quanto ao espaço que ocupam, pois sem um espaço não há economia-mundo.
Esse espaço, em geral, é sempre bem delimitado, seus limites são facilmente
detectáveis. Um segundo ponto é que uma economia-mundo necessariamente implica
um centro. Além do centro, é necessário também que haja um sistema capitalista
22
dominante, pois o veículo para a economia se espalhar é o capitalismo. E o capitalismo
não existe sem que haja desigualdade, então enquanto as economias-mundo forem
baseadas no sistema do capitalismo, sempre existirá a diferença de classes, sempre
existirão centros, semiperiferias e periferias. Com isso, fica clara também a presença da
hierarquia nas economias-mundo.
A concretização e a extensão de uma economia-mundo é medida pela variedade
de suas redes de produção e trocas, que segundo Wallerstein e Hopkins (2000) são as
“cadeias mercantis”. A ideia de Cadeias Mercantis como Wallerstein & Hopkins (2000)
denominam, são processos produtivos interligados que têm cruzado múltiplas fronteiras
nacionais e que sempre apresentam dentro deles diferentes formas de controle do
trabalho. Dessa forma, uma cadeia mercantil se refere a uma rede de trabalhos e
processos produtivos cujo resultado final é uma mercadoria. Dito isso, pode-se chegar a
conclusão de que em uma cadeia mercantil há uma divisão do trabalho complexa, assim
como uma interdependência transnacional das atividades produtivas. Em outras
palavras, uma cadeia mercantil é composta por todas as fases necessárias à produção e
comercialização de uma mercadoria, desde os insumos necessários a sua produção, até o
consumo final.
Vê-se, dessa forma, que para entendermos o dinamismo do moderno sistema
mundo, se faz necessário compreender a dinâmica das cadeias mercantis, pois as
mesmas encontram-se em diversos processos. A análise de uma cadeia mercantil
permite conhecer quem são os produtores, os distribuidores, os consumidores, e também
compreender a forma das relações sociais envolvidas. Além disso, a noção de cadeia
mercantil é um instrumento de análise que permite compreender a forma de inserção de
regiões e países nas redes de comércio internacional, que vai de encontro ao ponto da
proposta de pesquisa.
A ascensão recente da China e a forma como o sucesso desse país vem
incomodando outros países, que até então, pareciam deter o “poder” da economia-
mundo, mostra que talvez haja uma nova hierarquia mundial de poder e riqueza, ou pelo
menos demonstra que a hierarquia mantida por tanto tempo com os Estados Unidos
como país mais influente do sistema-mundo pode estar em processo de mudança. Em
2005 a China ultrapassou os Estados Unidos na produção manufatureira, chegando a
13,1% da produção global. O PIB chinês teve um crescimento médio do Produto Interno
Bruto de 10% entre 1980 e 2010. Os dados de crescimento e influencia que a China vem
conquistando em relação à economia de outros países demonstra que o mundo começa a
23
depender cada vez mais do dinamismo chinês e que devido a tais mudanças é possível
verificar uma nova dinâmica no sistema-mundo. Nas palavras de Arrighi:
“As consequências da ascensão da China são grandiosas. A China não é
vassala dos Estados Unidos, como o Japão ou Taiwan, nem é uma reles cidade-
Estado como Hong Kong e Cingapura. Embora seu poderia militar empalideça
quando comparado ao dos Estados Unidos e o crescimento de suas indústria
ainda dependa das exportações para o mercado norte-americano, a riqueza e o
poder dos Estados Unidos dependem igualmente, ou ainda mais, da importação
de mercadorias chinesas baratas e da comprar, por parte da China, de títulos do
Tesouro norte-americano. O mais importante é que, cada vez mais, a China
vem substituindo os Estados Unidos como principal motor da expansão
comercial e econômico na Ásia oriental e em outras partes do mundo
(ARRIGHI,2008: 23).”
Diversos autores consideram a China como sendo a “fábrica do mundo”. “A
China é, no momento, umas das economias com crescimento mais acelerado no mundo,
caracterizando-se por uma ampla diversificação econômica e por exportações que
inundam todos os países” (GEREFFI, 2006:224). A China tem avançado como opção de
fornecimento em praticamente todas as cadeias globais, sobretudo as cadeias de valor
intensivas em trabalho. Diferente da ideia que se tinha a respeito dos produtos chineses
em um passado recente, hoje a China vende produtos intensivos em tecnologia
praticamente para o mundo inteiro. “ Sua atratividade não se restringe aos fabricantes de
mercadorias de baixo preço; ela fornece para todos os produtores de marcas líderes que
se voltam tanto para o mercado dos Estados Unidos, como para mercados globais”
(GEREFFI, 2006:225).
2.2 Expansão Chinesa no Período Recente
Nos últimos anos, o interesse a respeito da China, sua trajetória de
internacionalização, seus indicadores de desenvolvimento, tem sido objeto de discussão
e debate ao redor do mundo. Arrighi (2008) discorre a respeito do acelerado
desenvolvimento Chinês.
Certamente a ascensão desse país representa grande mudança para a ordem
mundial. Nas palavras de Afonso Ouro Preto:
“O crescimento da China nãoconstitui um simples fenômeno
econômico mas repercute evidentemente no plano político. Vemos
surgir uma nova grande potência, talvez ainda não uma superpotência,
na medida em que, a superioridade norte-americana em matéria militar
24
se mantém. A China já projeta, todavia, a sua presença na Ásia central
e em regiões da África.” (PRETO, 2011:21)
Fala-se inclusive a respeito de uma nova ordem internacional. Em seu livro,
Arrigui demonstra a forma como o mundo voltou sua atenção para a China: “Quem
entender esse poderoso império, terá a chave da política do mundo pelos próximos
quinhentos anos” (ARRIGHI, 2008:285).
Existem formas diversas de interpretar o rápido crescimento Chinês e diferentes
autores divergem em relação ao tema. Arrighi (2008), por exemplo, defende a tese de
que o crescimento chinês se sustenta em pilares capitalistas, no entanto, ele acredita que
esses pilares são essencialmente distintos dos vistos até então. Já para o autor Harvey
(2005: 28), o crescimento chinês é sustentado essencialmente por políticas neoliberais.
Os indicadores do crescimento chinês são extraordinários. Somente entre os anos
de 1980 e 1990 o crescimento da China impressionou atingindo taxa de 9.5% aa,
superando a observada nos demais países asiáticos. Entre 1985 e 1995 esta taxa foi
ainda mais surpreendente chegando a atingir 10.2%. Atualmente o país emerge como o
que mais cresce no mundo desde a década de 80.
A China de 1979 era um país bastante diferente do observado nos últimos anos.
Predominava o setor agrário, e no que se refere a tecnologia o país era considerado
atrasado, com exceção da área bélica. O comércio exterior também era pouco
desenvolvido assim como o setor de serviços.
A China no séc. XXI é bastante diferente. O comércio exterior tornou-se
extremamente dinâmico e o país detém grande avanço em tecnologia. Como citado
anteriormente, a China chega a ser classificada por alguns autores como “fábrica do
mundo”. Com um vasto território (cerca de 9.597.000 de km²) e uma população de
praticamente 1,5 bilhão de pessoas a China lidera a produção de milhares de
mercadorias. A ideia que se tinha de que os produtos vindos da China tratavam-se de
quinquilharias mudou, e hoje o país produz tecnologias de ponta para o mundo afora.
A trajetória do país asiático chama a atenção pelo acelerado crescimento
chegando a alcançar países como Estados Unidos e Japão. Segundo dados da UNCTAD
(2007), em 1995 a China respondia por apenas 5,4% da produção manufatureira
mundial enquanto que Estados Unidos representavam 13,1% e Japão 12,1%. Já no ano
de 2005 a representação Chinesa passou para 13,1% da produção global, deixando para
25
trás Estados Unidos com 10% e o Japão com 8,4% da produção Mundial (UNCTAD,
2007).
Uma curiosidade a respeito da forma como o país abriu sua economia ao
capitalismo foi a participação do Estado. Diferente das economias europeias e
estadunidenses, o desenvolvimento chinês foi baseado no mercado, da mesma forma
que o desenvolvimento europeu e estadunidense. A diferença foi a forma de inserção
dos capitalistas no Estado Chinês. Nesse país os capitalistas não puderam botar o Estado
a seu serviço.
Na China as empresas estatais representam um papel de maior relevância no
processo de desenvolvimento industrial. As empresas multinacionais, no entanto, estão
assumindo um papel crescente na economia nos últimos anos. Mesmo que o país seja
ainda considerado fechado, em 2004 a participação das multinacionais na produção de
bens manufaturados alcançou o nível de 32% e as exportações de filiais estrangeiras
como uma parte das exportações totais da China totalizaram 58%, mostrando gradiente
positivo. Já as formas do setor privado são grandes em termos agregados, mas pequenas
individualmente.
As políticas governamentais chinesas procuram criar as bases de uma indústria
internacional competitiva através de políticas para a consolidação das cadeias de
suprimento, criação de marcas de comércio, suporte para internacionalização de
empresas privadas chinesas e proteção do mercado local. Tais políticas desafiam a
convencional trajetória esperada de países emergentes. Observa-se, por exemplo, o caso
da Embraer, que para poder entrar no mercado chinês precisou realizar uma 2joint
venture com uma empresa chinesa e abrir uma fábrica em Harbin.
O caso da China é um caso de internacionalização planejada e com pesada
participação do Estado. Dessa forma vale ressaltar a dominação das empresas Estatais
na Internacionalização do país. Fica claro que o apoio do Estado desempenhou papel
fundamental para a promoção do investimento chinês no Exterior. “A abertura ao
mundo exterior deu-se em etapas. Inicialmente foram eleitas quatro regiões estratégicas
para a introdução de um regime comercial e de atração de investimento direto
estrangeiro, as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEES) “(CUNHA & ACIOLY,
2011:15).
O crescimento dos investimentos diretos externos da China é um dos fatores que
possibilitaram seu alto grau de crescimento. No entanto, a entrada das Empresas
Multinacionais no país faz parte de um processo cuidadosamente assistido pelo Estado,
26
de forma que em um primeiro momento as multinacionais dirigiam-se quase que
exclusivamente para as ²ZEEs, onde recebiam diversos incentivos fiscais, terrenos e
edificações; normalmente localizavam-se ao lado de fornecedores e de outras indústrias
semelhantes, além de centro de pesquisa, incubadores de empresas, laboratórios de
ponta, infraestrutura de energia e transporte.
Essa forma de agrupamento regional das indústrias, especialmente daquelas mais
intensivas em conhecimento, teve papel relevante no desenvolvimento tecnológico
chinês e na alteração da pauta de exportações ao longo dos últimos vinte anos. As
primeiras ZEEs foram escolhidas a dedo pelas lideranças Chinesas, de modo a atrair os
investimentos chineses ou sino-descendentes residentes na região (CUNHA & ACIOLY,
2011:15)
No entanto, a capacidade chinesa em atrair investimentos estrangeiros não se
esgota nos incentivos e vantagens desfrutados pelas empresas multinacionais nas ZEEs.
O capital externo consegue alta rentabilidade na China, pois no país encontra-se mão-
de-obra abundante e bastante barata ao mesmo tempo em que podem contar com uma
taxa de câmbio desvalorizada. A produção dirigida ao mercado externo goza de isenção
de impostos de importação para matérias-primas, peças e componentes. Dessa forma, as
multinacionais, especialmente as do setor de eletrônicos e comunicações, que
representam grande parte das exportações chinesas, podem instalar, no país, as etapas
finais de produção, aproveitando as peças e componentes produzidos pelas filiais
localizadas nos países vizinhos.
O Setor Produtivo Estatal é considerado como a máquina de investimento e
crescimento da China. A política econômica Chinesa induziu simultaneamente o
desenvolvimento do mercado interno assim como a promoção das exportações, que
cresceram números alarmantes nos últimos anos. As ZEEs, espalhadas em zonas
costeiras, foram parte do regime de promoção das exportações. As empresas vinculadas
às ZEEs possuem liberdade cambial e beneficiam-se de isenção de impostos. Em
contrapartida, a liberdade de venda e comércio vai em sentido oposto das empresas que
não se encontram vinculadas ao regime das ZEEs, pois as mesmas são submetidas a
forte protecionismo tendo seu foco voltado ao desenvolvimento do mercado interno.
Dessa forma fica claro dois regimes seguidos pelo país, de proteção ao mercado interno
e promoção às exportações.
O rápido crescimento e desenvolvimento da China demonstram profundas
mudanças em um curto período de tempo. Essas mudanças foram possíveis devido a
27
grandes reformas econômicas e à abertura geral da economia. As mudanças tiveram
início em 1979 e possibilitaram avanços surpreendentes. Entre os anos de 1978 e 1991
era o setor secundário que liderava a taxa de crescimento do PIB e do emprego. Um dos
principais movimentos ocorridos na China nesse período, sobretudo entre 1980 e 1983,
foi a excepcional expansão do setor primário. Também nos anos 80, o número de
empregados nas atividades agrícolas sobre o emprego total teve queda bastante
significativa em comparação do que o total da força de trabalho rural sobre o emprego
total. Em 1994, a primeira relação era de 54,3% e a segunda 72,6% (WORLD BANK,
2009). Esses números demonstram a urbanização do campo com forte expansão do
emprego rural agrícola. Na China, em 1978, 17,9% da população eram classificados
como urbana, em 1990, a população urbana totalizava 26,4% (WORLD BANK, 2009).
O avanço da industrialização Chinesa muito tem haver com a disponibilidade de
mão-de-obra egressa do campo. Com o aumento da produtividade agrícola houve forte
crescimento do emprego urbano. Entre 1978 e 1991 a população em idade de trabalhar
cresceu 2,5%, o emprego total cresceu 2,9%, o emprego agrícola 1,6% e o não agrícola
5,4%. O número de trabalhadores vindos do campo teve crescimento notável com as
reformas do campo do final dos anos 70, com as inovações e o crescimento da
produtividade houve excedente da força de trabalho rural. Somente em 1982 as áreas
urbanas registraram 2 milhões de migrantes das áreas rurais. Em 1993 os migrantes
totalizaram 51 milhões, e em 1995, 80 milhões. Os números mostram a grande
quantidade de força de trabalho disponível e o quanto esse excedente contribuiu para o
desenvolvimento da economia do país.
Outro fator que contribuiu para o crescimento do setor de exportações do
mercado Chinês foi a política de desvalorização do Yuan. Em 1984 o Yuan foi
desvalorizado e estabeleceu-se um mercado dual de câmbio. O câmbio oficial era
administrado como uma taxa flutuante, e o 2 “mercado de swaps” com acesso restrito às
empresas das ZEEs e tradings. A desvalorização cambial é uma das medidas propostas
por Zhou Enlai, primeiro ministro de Mao Tsé Tung e por outros nomes importantes,
como Deng Xiaoping, ainda em meados da década de 70.
“As quatro modernizações” (agricultura; indústria; tecnologia e forças armadas)
foi um projeto que tinha por objetivo tornar a China um mercado mais aberto às
2 O Mercados de Swaps consiste em um acordo para duas partes trocarem o risco de uma posição ativa
(credora) ou passiva (devedora), em data futura,conforme critérios pré-estabelecidos. Essas trocas são
bastante comuns com posições envolvendo taxas de jurus, moedas e commodities.
28
relações internacionais. A criação das Zonas Econômicas Especiais (ZZEs) faz parte do
projeto de modernização.
A dependência da China em relação a compradores globais cria uma pressão
exercida sobre os salários, pois o país sustenta a imagem criada da sobrevivência do
mais barato. O sucesso do país em relação às vendas internacionais esta muito atrelada
aos preços bastante discrepantes em relação aos demais países, e nesse sentido existe
uma poderosa pressão em relação aos salários dos trabalhadores chineses, pois somente
com salários baixos a China consegue manter preços tão absurdamente inferiores.
Tal situação cria condições de trabalho péssimas. “Uma firma industrial
exportadora típica, no sul da China, paga um salário de quarenta dólares por mês, 40%
inferior ao salário mínimo local (GEREFFI, 2006:225). Dessa forma, os trabalhadores
acabam enfrentando jornadas de até dezoitos horas por dia, com péssimas condições de
trabalho, além de sofrerem pressão em relação a produção, já que em muitos casos os
salários estão atrelados ao desempenho do trabalhador.
O gráfico a seguir demonstra a comparação dos salários das indústrias chinesas,
brasileira, mexicana e colombiana. Como se pode ver é bastante complicado para países
como Brasil, México e Colômbia competir frente aos níveis salariais praticados na
China. No caso do Brasil em especial, além da pesada carga tributária o empresariado
ainda precisa lidar com uma legislação trabalhista bastante complicada.
É importante também notar que mesmo em um ano favorável, como foi o caso
de 2002, momento de expressiva desvalorização cambial, os salários no Brasil eram o
triplo dos salários praticados na China.
29
Figura 3 - Salário Médio Anual na Indústria
Fonte: Pesquisas Indústriais Anuais
No entanto, a questão da mão-de-obra praticamente “escrava” na China, pode
estar com os dias contados. Recentemente o 12° Plano Econômico Quinquenal de
Pequim anunciou um aumento anual de 13% do salário mínimo dos trabalhadores até
2015, nas províncias Chinesas. Essa medida pretende garantir a estabilidade social pela
diminuição da diferença de renda entre ricos e pobres. Essa medida pode afetar muito
indústrias no mundo inteiro. Com o aumento no salário mínimo dos chineses,
consequentemente haverá aumento geral nos preços Isto ocorre porque o custo de mão
de obra representa grande parte dos custos de produção, e, para manterem as margens de
contribuição, as empresas acabam repassando este custo para o cliente final.
A China vem atraindo a atenção do mundo com seu extraordinário dinamismo
econômico. No último quarto de século a importância do país na Ordem Mundial chama
à atenção, sobretudo com relação aos seus indicadores. As altas taxas de crescimento,
avanços tecnológicos e capacidade de atrair investimentos externos surpreendem a cada
ano. Com o esforço prévio de entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) e
com o ingresso efetivo em 2001, o regime de investimento da China foi adaptando-se
aos parâmetros usuais das economias de mercado (CUNHA & ACIOLY, 2011:16).
De acordo com a Revista Britânica “The Economist”, desde que se juntou à
Organização Mundial do Comércio em 2001, a China vem rapidamente se tornando
uma força econômica, duplicando sua parcela na oferta mundial de manufaturas,
provocando um boom no mercado de commodities e acumulando cerca de um trilhão de
dólares em reservas. (ZIEGLER, 2007). A entrada do país para a Organização Mundial
30
do Comércio pode ser visto como um dos elementos para a mudança de inserção
Chinesa do comércio internacional. Esse fato demonstra a importância da inserção
internacional da China em seu processo de desenvolvimento. Nesse sentido,
[...] a China, ao transformar o comércio internacional em ponto central
da sua política de crescimento, necessitava da garantia das regras da
OMCde que suas exportações não seriam descriminadas.
Para os membros da OMC, a entrada da China significava a abertura
de um vasto mercado, e a garantia de que um vasto mercado, e a
garantia de que as regras existentes poderiam controlar a invasão a
invasão dos produtos Chineses (THORSTENSEN, 2010-11:12)
As aceleradas transformações ocorridas no início do século XXI no sistema
econômico e político internacional estão estreitamente ligadas a ascensão da China. As
modificações foram significativas na divisão internacional do trabalho e nas posições
relativas de determinados Estados nacionais na hierarquia do sistema mundial. Apesar
de os Estados Unidos ainda representarem bastante em termos de hierarquia no sistema
internacional, o dinamismo econômico da China nas ultimas décadas têm incomodo
esse país e até mesmo levantado suspeitas a respeito do sistema internacional e de
possíveis mudanças.
A participação da China no PIB global vem mostrando crescimento acelerado
nas ultimas décadas. A partir da década de 1990, verificou-se aumento da participação
da China no PIB global de 273% (de 1,8% em 1990 para 3,7% em 2000). Já entre 2000
e 2005, período de expansão da economia mundial, a participação chinesa deu um salto,
passando de 3,7% para 5% (crescimento de 369%). A China também apresentou
elevadas taxas referente a sua participação no comércio mundial. Entre 2000 e 2009 as
exportações chinesas tiveram aumentos expressivos. De US$ 249 bilhões em 2000 para
US$ 1,202 trilhões em 2009 – elevação de 38,2% em médias anuais (ACIOLY,
CINTRA & PINTO, 2010:308). Os dados demonstram as mudanças significativas na
participação da China no comércio mundial. O país passou à condição de maior
exportador e segundo maior importador mundial. A tabela 1 mostra a rápida mudança
de posição Chinesa em tão pouco tempo.
Tabela 2 - Evolução Exportações, Importações e correntes de comércio da China
Exportações Importações Corrente de Comércio
31
Valor % Valor % Valor %
1980 - 1989 31 1,4 35 1,6 66 1,5
1190 - 1999 129 2,9 114 2,6 243 2,6
2000 249 3,9 225 3,4 474 3,7
2001 266 4,3 244 3,8 510 4,1
2002 326 5,1 295 4,5 621 4,8
2003 438 5,9 413 5,3 851 5,6
2004 593 6,5 561 5,9 1155 6,2
2005 762 7,3 660 6,1 1422 6,7
2006 969 8 792 6,4 1761 7,2
2007 1218 8,8 956 6,7 2174 7,7
2008 1429 8,9 1132 6,9 2560 7,9
2009 1202 9,7 1004 7,9 2206 8,8
20101 990 10,4 886 9 1876 9,7 Fonte: Direção de Estatísticas Comerciais/FMI
Elaboração: Elaborado pela autora
A elevação das importações e das exportações chinesas, além de representarem
uma boa parcela da alteração da participação mundial, também contribuíram para a
transformação na corrente de comércio mundial. Entre 2000 e 2009, a corrente de
comércio mundial aumentou 4,6 vezes entre a China e o mundo e 1,9 vezes em termos
globais (ACIOLY, CINTRA & PINTO, 2011:309). Os números mostram a importância
do comércio internacional para a estratégia de crescimento chinês, assim como a
responsabilidade do país pela mudança recente dos fluxos comerciais mundiais.
Existem diversos pontos que explicam o recente sucesso e dinamismo do
mercado chinês. Entre esses elementos podemos destacar como impulsionadores do
desenvolvimento a política cambial, que busca manter o Yuan desvalorizado em relação
ao dólar tornando os produtos chineses ainda mais atraentes; os baixos salários e ganhos
de produtividades da economia, que também contribuem para os preços chineses; e a
entrada da China em novembro de 2011 na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A China conseguiu em pouco tempo (aproximadamente três décadas) mudar de forma
significativa sua importância no sistema mundial, surpreendo com a velocidade e a
forma com que alcançou tal êxito.
32
3. Relações Comerciais entre Brasil e China
3.1 Breve histórico
Brasil e China são países que em um primeiro momento parecem bastante
diferentes e passam a impressão de que pouco ou nada têm em comum. No entanto, os
dois países na verdade tem bastantes pontos em comum. Nas palavras do autor Eduardo
Villella:
“Observando o Brasil e a China, ou outras sociedades orientais, parece
ser difícil fazer uma comparação entre esses países com o Brasil.
Pode-se imaginar que se tratam de países completamente diferentes,
possuindo poucas semelhanças entre si. Fatores como distância
geográfica e as diferenças histórico culturais são os responsáveis por
tal visão. De fato, esses dois fatores são verdadeiros e servem para
diferenciar os povos, no entanto, o Brasil e a China são mais parecidos
do que diferentes” (VILLELA, 2004).
Para a presente pesquisa é importante conhecer com mais detalhes as relações
entre o Brasil e a China, sobretudo as comerciais e mais recentes. Como citado acima,
os dois países, apesar de culturamente e geograficamente serem bastante distante,
apresentam similaridades interessantes e importantes que serão discutidas em seguida.
Um dos pontos de semelhança entre os países é a posição dos mesmos entre as
principais economias em desenvolvimento do mundo. É evidente que o crescimento
caminha em marcha diferente para o Brasil e a China. O crescimento chinês vem tendo
enorme destaque e o Brasil é um país que também merece atenção quanto a sua
evolução nos últimos anos. No entanto, Brasil e China são gigantes que caminham em
velocidades diferentes. O tamanho e extensão de seus territórios é outra característica
em comum entre eles. Brasil e china são países que se encontram na lista dos cinco
maiores países do mundo.
Nas palavras do ex-presidente Chinês Jiang Zemin “A China e o Brasil, apesar
de serem geograficamente tão distantes, são unidos estreitamente pelo objetivo idêntico
de vitalizar a economia nacional, elevar o nível de vida do povo, e salvaguardar a paz e
a estabilidade do mundo”. (VILLELA, 2004).
33
As relações entre Brasil e China são bastante antigas, no entanto, são as relações
mais recentes que terão maior atenção, pois as mesmas nos darão uma ideia do tamanho
e importância das relações entre os dois países.
Um dos primeiros contatos entre Brasil e China em termos de negociações foi
ainda no final do século XIX. Naquela época, o governo brasileiro tentou estabelecer
negociação com o Governo Chinês para recrutamento de mão-de-obra vinda da China
para trabalhar no Brasil e suprir a demanda do país por trabalhadores, sobretudo nas
plantações de café. O projeto de imigração chinesa não se concretizou por falta de
interesse por parte do Governo Chinês e o Brasil acabou atraindo mão de obra de outros
países, sobretudo do continente europeu. Mesmo sem sucesso na tentativa de atrair
mão-de-obra, o Brasil assinou tratado com o país asiático.
“Inicialmente a opção era por mão-de-obra chinesa, motivando o
deslocamento de uma missão brasileira para a China em 1879. Mesmo
com a não concretização dessa corrente migratória, pela proibição
formal da China em permitir emigração para o Brasil, os dois países
assinaram o Tratado de Amizade, comércio e Navegação em 1881,
com o Brasil abrindo um consulado em Shangai em 1883”
(OLIVEIRA,2002: 118).
Entre os anos de 1911 e 1949 as relações Brasil e China foram praticamente
somente no âmbito diplomático. Após a criação da Republica Popular da China, pelo
líder comunista Mao Ze Dong o Brasil rompe relações diplomáticas com a China
Continental, fecha o consulado em Shangai e abre uma embaixada em Taipei. O Brasil
na mesma época reconhece a China nacionalista como a legitima representante do povo
Chinês.
Anos mais tarde, em 1974, o então Presidente Brasileiro Ernesto Geisel retoma
as relações com o país asiático lançando as bases para um convívio e estreitamento das
relações entre os governos. Desde então essas negociações e comercio tiveram
crescimento bastante notável. A balança Comercial entre os dois países mostra o
aumento das trocas comerciais ano após ano.
O intercambio comercial com a China teve crescimento bastante notável nas
ultimas décadas e esse mercado vem se mostrando bastante interessante para o Brasil.
Tanto as exportações quanto as importações entre os países têm mostrado bastante
34
desenvolvimento. A China é para o Brasil um mercado que cresce e contribui
notavelmente à inserção do país no mercado internacional.
De acordo com Oliveria “Em seu projeto atual de inserção internacional, o Brasil
delega à região Asiática um espaço especial, considerando-se a grande demanda por
investimentos e por acesso a tecnologias de ponta, bem como por um mercado com alta
capacidade de consumo” (OLIVEIRA, 2002: 120).
A aproximação entre Brasil e China, principalmente pós 1974 vem mostrando
ampla área de convergência. A China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil.
“Igualmente no ano passado, investiu na economia brasileira US$ 12,7 bilhões”
(PRETO, 2011: 25). O surpreendente desenvolvimento chinês, assim como a expansão
brasileira das últimas décadas, aproximam os países, que foram incluídos no grupo de
países denominado BRICS.
Como mencionado anteriormente, as relações sino-brasileiras iniciaram de
maneira lenta, no entanto, após o restabelecimento de relações diplomáticas em 1974 as
relações adquiriram um grau bastante notável de desenvolvimento.
Em 1993 foi estabelecido entre os países o Acordo de Parceria Estratégica. Em
1998 teve inicio o programa de satélite sino-brasileiro, que teve o primeiro satélite
lançado em 1999. Outros lançamentos ocorreram nos anos de 2003 e 2007. Outro ponto
importante foi a criação do COSBAN – Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de
Cooperação, em 2004, dividida em várias subcomissões.
Os contatos bilaterais tiveram aumento bastante significativo nos últimos anos.
“Os investimentos se multiplicam com grandes operações de firmas chinesas que
alcançaram cifras elevadas. O Brasil também expandiu os seus investimentos na China
com a Embraer, a Embraco, a Vale, a Marcopolo a Weg.” (PRETO, 2011: 26)
Quanto à política, os países também convergem em inúmeras áreas. Brasil e
China concordam em inúmeras questões internacionais, sobretudo na defesa do conceito
de multipolar ismo. Confrontações políticas praticamente inexistem.
3.2 Indicadores Econômicos
O PIB atual do Brasil é semelhante ao da Coréia e da Índia, no entanto, o PIB
per capita tem diferenças relevantes. O PIB per capita Coreano, por exemplo, é três
vezes superior ao do Brasil, que por sua vez, é quatro vezes maior do que o da Índia. O
35
PIB da China é, atualmente, duas vezes o tamanho das três economias e o seu PIB per
capita está entre o do Brasil e o da Índia. É importante observar que entre 1990 e 2003
as economias chinesa e indiana cresceram cinco e duas vezes e meio mais do que a
economia brasileira, mostrando com isso a diferença relativa no dinamismo dos três
participantes do BRIC.
O mercado brasileiro, que até 1990 era relativamente fechado e mantinha uma
política de proteção à indústria doméstica, não obteve a taxa de crescimento esperada
após sua liberalização, e seu mercado interno cresceu mais lentamente do que o resto do
mundo. Além disso, o crescimento da indústria manufatureira brasileira foi mais lento
do que o da maioria das outras regiões, inclusive do resto da América Latina. A
ausência de dinamismo na estrutura das exportações e a forte dependência do mercado
doméstico se mantiveram. Como consequência, a participação do Brasil no mercado
internacional é ainda limitada, particularmente se comparada com a China. É possível
evidenciar esta afirmação observando os dados da tabela a seguir.
Tabela 3 - Participação do Brasil e da China no Mercado Mundial
Ano Brasil China Exportações (%) Importações (%) Exportações (%) Importações (%)
1999 0,8 0,9 3,4 2,8
2000 0,9 0,9 3,9 3,3
2001 0,9 0,9 4,3 3,8
2002 0,9 0,7 5 4,4
2003 1 0,6 5,8 5,2
2004 1 0,7 6,4 5,9
2005 1,1 0,7 7,3 6,1
2006 1 0,8 8 6,4
2007 1,1 0,9 8,7 6,7
2008 1,2 1,1 8,9 6,9
2009 1,2 1,1 9,6 7,9
2010 1,3 1,1 10,4 9,1 Fonte: WTO (2012)
Elaboração: Elaborado pela autora
Em contraste, a participação da China no mercado internacional teve aumento
significativo nos últimos tempos, tendo como uma das justificativas sua participação em
cadeias regionais, alavancada pelo numero crescente de acordos de comércio regionais.
Em compensação, o Brasil mostra um padrão estável com quase dois terços das
36
importações originárias de economias da OECD, enquanto a parcela do comércio inter-
regional se estabilizava pelos problemas do MERCOSUL e pelo fracasso da ALCA.
Isso, de certa forma, deixa o país e as empresas isoladas.
Pode-se observar aumento substancial no comércio bilateral entre Brasil e China
na última década. Entre 1996 e 2003, as exportações do Brasil para a China cresceram
quatro vezes e entre 2000 e 2003, a participação do Brasil no mercado Chinês aumentou
0,43% em 2000 para 1,27% em 2003. Porém, as importações brasileiras para a China
estão crescendo rapidamente e a balança comercial, que, até 2003 representava um
resultado positivo para o Brasil, está sendo invertida.
No gráfico a seguir é possível observar a diferença do crescimento das vendas do
Brasil para o mundo e do Brasil para a China. Fica evidente o salto das exportações
brasileiras para a China.
Figura 4 - Exportações Brasileiras para o mundo e para a China (US$ bilhões)
Fonte: UnComtrade
Elaboração: Ipea
O Brasil exporta commodities e produtos intensivos em recursos naturais, tais
como carvão, grãos, aço, carnes e importa manufaturados. A exportação brasileira de
produtos manufaturados e semimanufaturados para a China representa apenas 5,5% do
total das exportações para esse país. O aumento das exportações de commodities, se por
um lado gera apreciação da moeda local, por outro traz obstáculos para o crescimento
simultâneo.
A pauta de exportações brasileiras se concentra em produtos básicos. Somente
entre 2000 e 2009 os produtos básicos passaram de 68% para 83%. Os produtos de
maior representação em 2010 foram minérios (40%), oleaginosas (23%) e combustíveis
minerais (13%). De acordo com o gráfico a seguir pode-se observar que nos últimos
37
anos o grosso das exportações do país para a China foram de produtos primários e de
manufaturas intensivas em recursos naturais.
É possível observar que as exportações brasileiras de produtos com alta
tecnologia representam muito pouco, e que o grande volume das exportações brasileiras
esta calcado em produtos primários.
Figura 5 - Pauta Exportadora do Brasil com a China por intensidade tecnológica do produto
Fonte: UnComtrade
Elaboração: Ipea
Os indicadores macroeconômicos retratam o tamanho relativo dos dois países,
Brasil e China, e como a velocidade relativa de ambos, em relação as condições
macroeconômicas afetam as estratégias das empresas brasileiras e chinesas nos seus
respectivos processos de internacionalização. Fica evidente que as trajetórias não são
independentes. A ascensão da China já está influenciando a trajetória da economia
brasileira em termos de participação no mercado mundial.
No caso das importações do Brasil com a China o cenário é bastante diferente
em relação as exportações. As importações de produtos de alta tecnologia aumentaram
significantemente no período entre 2000 e 2010 (Figura 6). De acordo com dados
extraídos do IPEA as importações de produtos de alta tecnologia em 2010 representava
US$ 487 milhões. Já em 2008 esse número aumentou para US$ 8 bilhões chegando a
quase US$ 10 bilhões em 2010.
38
Figura 6 - Pauta Importadora com a China por intensidade tecnológica do produto
Fonte: UnComtrade
Elaboração: Ipea
Para a indústria Brasileira, parte importante do estudo proposto, as relações de
compra e venda com países da Ásia, sobretudo a China, pode em um primeiro
momento, parecer ameaçadoras, por conta das incontáveis mercadorias oferecidas em
escala de produção por esses países. No entanto, o ponto chave deste estudo é mostrar,
através de dados, que em alguns casos a industrial brasileira depende de insumos vindos
de países como a China para tornar seus produtos competitivos. “A emergência da
China no mercado mundial deixa no ar uma desconfortável dúvida sobre o futuro da
América Latina na divisão internacional do Trabalho. Por varias vezes esse futuro foi
imaginado como um futuro industrial” (MOREIRA, 2005: 10).
As relações comercial entre Brasil e China mais recentes, mostram um
crescimento bastante notável nos termos de trocas entre ambos. De acordo com os
autores Acioly, Cintra e Pinto:
“As relações comerciais Brasil-China, entre 2000 e 2010, tiveram
crescimento superior à elevação do comércio entre o Brasil e o
mundo”. Os dados mostram que “Entre 2000 e 2010 as exportações
brasileiras para a China elevaram-se de US$ 1,1 bilhão – 2% do total
das exportações do Brasil – para US$ 30,8 bilhões – 15% do total ao
passo que as importações brasileiras da China cresceram de US$ 1,2
bilhão – 2% do total – para U$ 25,6 bilhões – 14% do total”
(ACIOLY, CINTRA & PINTO; 2011: 308).
39
A parceria entre os dois países teve crescimento bastante elevado nas ultimas
décadas. A ascensão Chinesa tem favorecido o mercado Brasileiro tanto em relação às
exportações quanto às importações. Em 2010 os principais destinos das exportações
brasileiras eram Estados Unidos, Argentina, Holanda, Alemanha, Japão, Itália, França,
Bélgica, México e Reino Unido, que totalizavam 66% das exportações brasileiras. Em
2010 houve uma maior desconcentração geográfica, com os dez maiores destinos das
exportações contabilizando 55,3% do total. Outra mudança importante ocorrida em
2010 foi a confirmação da China como maior destino das exportações brasileiras, que na
verdade já em 2009 a China alcançou os Estados Unidos ultrapassando o mesmo na lista
dos maiores compradores dos produtos brasileiros.
Não somente as exportações brasileiras para a china tiveram aumento relevante,
mas também as importações aumentaram substancialmente nas ultimas décadas. “Assim
como nas exportações, a China tem avançado, desde 2001, como um dos principais
países de origem das importações brasileiras”. (ACIOLY, CINTRA & PINTO, 2011:
317). No ano de 2001 o Brasil importou dos Estados Unidos US$ 13,1 bilhões,
enquanto que da China o país importou somente 10% desse valor. Em 2010 houve
mudança substancial. As importações vindas dos Estados Unidos somaram US$ 27,3
bilhões e da China US$ 25 bilhões.
O grande volume das vendas do Brasil para a China esta em produtos intensivos
em recursos naturais. Os principais produtos exportados para a China nos últimos anos
foram: soja (óleo, farelo e grãos), minério de ferro, laminados e semifaturados e ferro e
aço, automóveis, peças e acessórios para tratores e veículos, couro, madeira, celulose, e
papeis. Apesar de ter havido uma ampliação no número de produtos vendidos pelo
Brasil para o país asiático, as exportações concentram-se em poucos produtos. O que
realmente representa o grosso das vendas brasileiras são a soja e os minérios.
O Brasil ainda enfrenta grande dificuldade em aumentar o numero de produtos
em sua pauta de exportações. Problemas como o denominado “custo Brasil” trazem
dificuldades para o desenvolvimento do país e diversificação de sua pauta de produtos.
Fatores como a alta carga tributária que encarem muito a produção, problemas de
infraestrutura como estradas esburacadas, portos e aeroportos mais caros do mundo
acabam gerando graves entraves a logística brasileira. Acrescendo a isso a complexa
legislação trabalhista do país, fica difícil entrar no mercado internacional com produtos
atraentes.
40
A China era, em 2008, o terceiro principal destino das exportações Brasileiras e
o segundo mercado de origem das importações. Com a crise mundial em 2008, as
exportações brasileiras sofreram queda de 23% em 2009 em relação ao ano de 2008,
porém para o mercado Chinês houve aumento de 27%. Em 2009 a China passou a ser o
principal mercado das exportações brasileiras, e o segundo nas importações.
Com relação as importações brasileiras de produtos chineses, apesar de o país ter
conseguido manter superávit durante diversos anos, o numero das importações tem
crescido consideravelmente nos últimos anos. De 2002 para 2003 houve um
crescimento aproximado de 38%. O Brasil importa da China produtos como máquinas,
aparelhos e materiais elétricos, combustíveis, óleos e ceras minerais, produtos químicos
orgânicos, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, tecidos e artigos
para vestuário, brinquedos e outros supérfluos, alho e outros itens alimentares.
Analisando os dados de intercambio entre Brasil e China, nota-se que as
exportações e vice e versa tem aumentado nos últimos anos. Fica evidente que a relação
entre os países torna-se cada vez mais intima e a dependência do mercado brasileiro em
relação ao mercado chinês da mesma forma mostra aumento substancial.
O objetivo principal do presente estudo é analisar, tendo como ponto de partida a
análise de preço de um dos produtos de uma indústria brasileira do ramo de
telecomunicações, a dependência que o Brasil têm, sobretudo a indústria, de insumos
vindos do país asiático. Somente produzindo com produtos vindos a preços bastante
inferiores aos mesmos produtos produzidos no Brasil, o produto final consegue se tornar
competitivo frente a produtos similares importados.
O Brasil enfrenta graves obstáculos, sobretudo no que se refere aos custos de
produção no país, ou o denominado “Custo Brasil” para manter suas indústrias
competitivas e até mesmo viáveis frente a incontável numero de produtos importados
que entram no país. Nesse sentido o papel da China para o desenvolvimento do país
torna-se fundamental até mesmo porque o país asiático demonstra grande potencial.
A China torna-se cada vez mais um desafio para o Brasil e a América Latina
como um todo. Por se tratar de um país com uma população de 1,3 bilhão de pessoas e
uma força de trabalho de 640 milhões, vivendo e trabalhando em um ambiente com
recursos naturais limitados, o país acaba tendo uma imensa vantagem comparativa em
produtos intensivos em mão-de-obra. A vantagem advém da abundancia de oferta de
trabalhadores que acaba possibilitando níveis salariais muito abaixo dos praticados no
Brasil e em países da America Latina. Os salários no Brasil chegam a ser praticamente
41
o triplo dos salários praticados na China, tornando com isso o custo de produção no
Brasil muito diferente em relação aos custos de produção nos países asiáticos. A China
também tem como vantagem a produtividade e a produção em escala, tornando seus
produtos ainda mais competitivos e atraentes.
A seguir será ilustrado o estudo de caso realizado em uma grande indústria de
telecomunicações brasileira que, assim como outras indústrias no país, somente
consegue manter-se competitiva, expandir seus negócios e apresentar índices de
crescimento satisfatórios porque compra grande parte dos componentes necessários à
sua linha de produção de países asiáticos, sobreduto da China.
42
4. ESTUDO DE CASO
4.1 Desafios impostos à indústria nacional frente à concorrência internacional: Um estudo de caso na empresa Intelbras.
O principal objetivo do presente estudo de caso é evidenciar, através de analises
comparativas, as consequências que o aumento das relações de troca entre Brasil e
China tem acarretado para a indústria Brasileira. O ponto de partida é evidenciar não
somente os pontos negativos, que têm sido tema de diversos debates acadêmicos, mas
também e, sobretudo, os pontos positivos que o intercâmbio tem como consequência
para o Brasil.
O foco principal e a proposta da presente análise é concentrar os estudos nas
consequências das importações Brasileiras de produtos Chineses, sobretudo após o
lançamento do Plano Real, em meados dos anos de 1990, quando o mercado Brasileiro
foi inundado pela crescente oferta de produtos vindos da China. Para tanto, foi realizado
estudo de caso em uma empresa consolidada do ramo de telecomunicações no Brasil,a
Intelbras, que tem estreita relação com o intercambio entre Brasil e China e que de certa
maneira depende deste intercâmbio para manter sua competitividade. É importante
ressaltar que a análise será realizada com produto do ramo de telefonia da Empresa, que
posteriormente será apresentado.
O estudo será dividido em 5 etapas. Em um primeiro momento será apresentado
breve histórico sobre o mercado de telefônica no Brasil. Em seguida dados da Empresa
assim como números de seu crescimento são demonstrados. A terceira parte consiste na
apresentação do produto estudado, seguido pela quarta parte que apresentará os dados
coletados. A quinta e última parte do estudo de caso consiste nas conclusões do mesmo.
4.2 Breve histórico Mercado de Telefonia no Brasil.
Em 15 de Novembro de 1879, surgia no Rio de Janeiro, o primeiro telefone
construído para D. Pedro II nas oficinas de Western and Brazilian Telegraph Company.
A companhia Britânica Western foi legalmente estabelecida como a única exploradora
43
dos serviços de telecomunicações no Brasil durante 60 anos. Embora o telefone tenha
sido implantado no país por D. Pedro II em 1879, o serviço somente foi oferecido com
alguma abrangência significativa na metade do século XX.
Na década de 50 no Brasil, a comunicação telefônica era estabelecida quase
sempre com o auxilio de telefonista. Dessa forma, a comunicação consistia na conexão
manual de dois assinantes ligados à mesa de operação por um par metálico.
Por conta da inexistência de diretrizes centralizadas, os serviços de telefonia nos
anos 50 ocorria de forma ineficiente. A abrangência territorial era bastante pequena,
além da baixa qualidade dos serviços. Para uma população de aproximadamente 70
milhões de Brasileiros, havia apenas 1 milhão de telefones instalados. Esse cenário
resultava em um entrave ao desenvolvimento nacional, já que a integração regional era
de extrema importância para o desenvolvimento.
A importância da integração regional, e a perceptível necessidade de melhora no
setor, resultaram em 27 de Agosto de 1972 na primeira ação governamental com a Lei
4.117, que instituía o Código Brasileiro de telecomunicações e disciplinava a prestação
do serviço, colocando-o sob o controle de uma autoridade federal. Esta era o Conselho
Nacional de Telecomunicações (Contel).
A Lei criada definia as políticas de telecomunicações, como a sistemática
tarifária, e o plano para integrar as companhias em um Sistema Nacional de
Telecomunicações. Estabeleceu-se, também, a criação da Empresa Brasileira de
Telecomunicações AS (Embratel). A Embratel tinha como finalidade implementar o
sistema de telecomunicações a longa distância e para tanto instituiu o Fundo Nacional
de Telecomunicações (FNT), que destinava-se a financiar as atividades da Embratel.
Com a criação destes órgãos ficou formalizada uma política pública nacional para o
setor.
Em 11 de Julho de 1972, dando sequencia a política governamental iniciada em
1962 criou-se uma sociedade de economia mista, por meio da Lei 5.792, denominada
Telecomunicações Brasileiras AS (Telebrás),vinculada ao ministério das
Telecomunicações, com atribuições de planejar, implantar e operar o SNT (Siqueira,
1997).
A ideia da criação da Telebrás era suprir a grande necessidade por serviços de
telecomunicações de qualidade. Ela seria a grande prestadora estatal dos serviços, que
oferecia qualidade e quantidade suficiente de linhas. Com o objetivo de alcançar tais
44
façanhas, a Telebrás instituiu em cada Estado uma Empresa-polo e promoveu a
incorporação das companhias telefônicas existentes.
Essa mudança representou um marco, não somente para os serviços de
comunicações, mas também para a indústria do país, já que até 1972, por exemplo, todo
o equipamento de telecomunicações no país era importado, e a maior nacionalização da
indústria traria pontos positivos para o país.
No Brasil, com apoio a política de substituição das Importações, o avanço do
setor deu inicio a necessidade de pesquisas e desenvolvimento. Com isso criou-se não
somente o Centro de Pesquisa de Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD),
pertencente a Telebrás e voltada para o produto, mas também outras empresas
vislumbraram oportunidades de negócios na área.
O Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND, 1974) estabelecia
metas de nacionalização dos equipamentos fabricados pelas multinacionais no país, e
como consequência desta política as fabricante de centrais de comutação
eletromecânicas alcançaram, até o final dos anos 70, índice de nacionalização de 90%
(GORDINHO, 1997).
O desenvolvimento do setor passou a enfrentar dificuldades a partir dos anos 80.
A piora da situação econômica e social do país refletiu diretamente sobre o
desenvolvimento das telecomunicações. Problemas como os reajustes de tarifas
inferiores à inflação, a implantação de subsídios cruzados nos produtos, a politização
dos cargos executivos das estatais e as restrições impostas pelo governo Federal ao uso
do FNT e do lucro operacional da Telebrás, reduziram a capacidade de investir. Esse
cenário apontava um possível esgotamento do modelo monopolista estatal para aquele
setor.
O resultado dessas mudanças na Telebrás acabou resultando na escassez de
novas linhas telefônicas que vieram como resultado da estagnação no crescimento da
Telebrás. Além da dificuldade em relação a novas linhas, problemas como a qualidade
dos serviços prestados, os planos de expansão onerosos com prazos dilatados, o
congestionamento das rotas de longa distância em horários de pico, as tarifas mais
elevadas, e a descapitalização das empresas demonstravam a grande necessidade de
novas mudanças para o setor, principalmente por ele ser determinante para a
competitividade de outros setores da economia.
A necessidade de mudança era bastante clara e necessária. Em 29 de Julho de
1998, a Telebrás foi privatizada, marcando com isso uma nova fase na história das
45
Telecomunicações no Brasil. O processo de privatização teve início antes do ano de
1998, com a mudança na Constituição Federal e prosseguiu com a Promulgação da Lei
Mínima e da Lei Geral de Telecomunicações (LGT), em 1997. A partir daí foi criado e
implementado o órgão regulador (Anatel).
As mudanças após a privatização são bastante expressivas. O número de acessos
instalados na telefonia fica foi de 16,5 milhões em 1996 para 47,8 milhões em 2001.
Outra mudança importante a ser apontada foi a mudança no número de postos de
trabalho no período pós-privatização. Em 1990 havia 93,1 mil postos de trabalho, já em
1998 após a privatização esse número subiu para 153,1 mil, alcançando os 300 mil no
primeiro semestre de 2001 (ANATEL, 2001).
As mudanças no mercado de telefonia no Brasil advindas da privatização dos
serviços, as operadoras realizaram investimentos significativos. Isso criou
oportunidades de investimentos em indústrias de equipamentos de telecomunicações, o
que acarretou na entrada de novos fabricantes no mercado nacional, assim como no
aumento dos já existentes.
Embora a chegada da telefonia móvel ao mercado Brasileiro tenha balançado o
mercado de telefonia fixa, o número linhas telefônicas ainda cresce conforme gráfico
abaixo:
Figura 7 - Telefonia Fixa - Linhas em serviço
Fonte: Anatel/Teleco (2012)
O futuro do mercado de telefonia fica é ainda bastante incerto, visto que a cada
dia novas tecnologias surgem. De acordo com analistas do setor, no futuro não haverá
mais grandes expansões no setor. O Brasil conta com quase 48 milhões de linhas
46
instaladas, e a atual cobertura já abrange as principais regiões e os melhores clientes,
chegando ao ponto de saturação. Nesse sentido, é bastante claro que empresas que
atuam no ramo precisarão inovar e encontrar saídas para os desafios que o mercado
tende a apresentar.
4.3 A Empresa Intelbras
A Intelbras é uma empresa de capital 100% nacional, fundada e, 1976 em São
José/ Santa Catarina. Atua na fabricação de produtos e soluções em telecomunicações,
Redes e segurança eletrônica. Atualmente a empresa conta com quatro unidades fabris,
sendo 43 mil metros quadrados de área construídos e 1.800 colaboradores diretos. As
filiais encontram-se em São José-SC; Santa Rita do Sapucaí – MG e Manaus – AM. A
empresa foi uma das primeiras no Brasil no ramo de telecomunicações e pioneira no
lançamento de uma central telefônica do tipo PABX com tecnologia brasileira. A
Intelbras é líder no mercado brasileiro de centrais telefônicas, telefones e centrais
condominiais.
Atualmente a empresa se tornou referência latino americana no segmento de
telecomunicações. É a maior fabricante de telefones e centrais telefônicas de pequeno
porte do país, com faturamento de 162 milhões de reais em 2001. Desde 1997, a
Intelbras acumulou quase 25 milhões de reais em lucros.
No mercado brasileiro detém 60% de participação nas vendas de centrais
telefônicas; 40% nas vendas de telefones; e 62% nas de centrais condominiais. Na
América Latina dos telefones e centrais telefônicas vendidos 21% e 38,5%
respectivamente, são desta empresa.
A empresa encontra-se presente em todo o território nacional e além de diversos
países da América Latina e África. Possui um dos maiores centros de pesquisa e
desenvolvimento privado da América Latina.
Atualmente a empresa encontra-se entre as 500 maiores do Brasil. Em 2008
alcançou um faturamento de USD 349,2 milhões, além disso foi a quinta maior em
rentabilidade (0,8%) e a oitava em liquidez corrente.
47
4.4 Mercado
A Intelbras hoje esta presente no Brasil com mais de 9.500 pontos de vendas
entre lojas de varejo e revendas para produtos de consumo e 6.000 pontos de vendas
para produtos corporativos, espalhados por todos os estados nacionais. Realiza
treinamentos anuais com os 5.000 técnicos que instalam seus produtos e com os 6.500
de vendas do varejo. Conta com 71 laboratórios de suporte técnico espalhados pelo
Brasil, além de uma rede de assistência com 642 unidades, um centro de atendimento
técnico e um para o consumidor.
Figura 8 - Estrutura da Empresa no mercado
Fonte: Intelbras
Em 1994 a empresa iniciou o projeto de exportação de seus produtos para alguns
países da América do Sul e esta hoje presente na maioria deles e até mesmo em outros
continentes. As exportações chegaram a representar 25% do negócio, no entanto as
vendas para o exterior foram abandonadas quando o mercado brasileiro de telefones
aumentou a demanda e a Intelbras optou por consolidar a liderança nacional.
Atualmente as exportações representam cerca de 5% do faturamento, e estão
concentradas principalmente em países do Mercosul.
48
Figura 9- Presença Internacional da Empresa
Fonte: Intelbras
Trata-se de uma empresa com capital nacional, como mencionado anteriormente,
que tem como concorrentes multinacionais de grande porte como Siemens e Panasonic.
Mesmo com uma concorrência bastante acirrada, a empresa conta com forte presença no
mercado nacional e internacional. Apesar de deter 40% de participação nas vendas de
telefones, seu principal concorrente, a Siemens datem 36%. Os números demonstram
uma disputa apertada, que a empresa Catarinense vem liderando. Seus produtos são
reconhecidos por terem excelente qualidade e estão bastante consolidados no mercado.
Antes da privatização dos serviços de telecomunicações, a Intelbras fornecia
para o sistema Telebrás, produzindo de centrais a tomadas e pinos para telefones. Em
1990 a empresa passou por sérias dificuldades vindas da inadimplência das telefônicas
estaduais das quais a Intelbras fornecia. De 560 funcionários na época, restaram
somente 120.
Depois da crise, a empresa se reestruturou e encontrou o caminho do
crescimento e do lucro. Especializou-se em centrais de até 128 ramais, que representam
80% do mercado, e aparelhos telefônicos e passou a ampliar o leque de clientes e
fornecer para a iniciativa privada.
Com a abertura do mercado, e as privatizações, foi preciso inovar e lidar com a
grande concorrência que passou a entrar com maior facilidade no mercado brasileiro.
Mesmo diante do novo cenário desafiador a empresa não parou de crescer. Nas palavras
de Paulo Gerahrdt, diretor de empresa especializada em treinamento na área de
49
telecomunicações “A Intelbras preparou-se para a competição que veio com a abertura
do mercado”.
Apesar de a empresa ter liderado as vendas de aparelhos telefônicos durante
muitos anos sem maiores preocupações, a concorrência começou a jogar duro na disputa
pelos consumidores de aparelhos telefônicos. A Intelbras fatura hoje 15 vezes mais do
que no início do Plano Real, mas sabe que daqui para frente os desafios ao crescimento
serão maiores. A abertura do mercado trouxe concorrentes de peso para disputar
mercado. Siemens e Panasonic são exemplos de grandes empresas que pretendem
disputar o nicho com a Intelbras. Além das gigantes multinacionais que entram no
países, a empresa ainda precisa lidar com os produtos vindos da China com preços
bastante competitivos.
4.5 Produto Estudado
Com o intuito de preservar dados estratégicos da empresa, o produto
analisado será denominado Telefone X. O mesmo encontra-se dentro do seguimento de
telefones com fio da Empresa, e trata-se de um dos produtos com maior
representatividade nas vendas. A seguir serão apresentadas características do produto,
assim como de seu segmento.
O seguimento com fio, como é denominado, é o segmento responsável pelo
desenvolvimento, produção e comercialização de terminais para comunicação de voz
(analógicos e digitais) com fio e de equipamentos de áudio conferencia para uso em
ambientes residenciais e coorporativos. Dentro da empresa, esse segmento representa o
4º maior segmento em termos de faturamento e lucro.
A produção deste segmento, assim como dos demais, esta fortemente vinculada
as variações do dólar, já que a maior parte da matéria prima utilizada na linha de
produção, vem de outros países.
No gráfico a seguir é possível verificar as variações do dólar no ano passado e os
impactos da mesma no custo das matérias primas utilizadas para o segmento.
50
Figura 10 - Variação do Dólar 2012 - Real X Orçado
Fonte: Intelbras
Mesmo tendo que contar com as variações cambiais e as altas do dólar, a opção
por importar a matéria prima, sobretudo dos produtos vindos da China, ainda parece ser
a melhor opção, se não a única, para manter a competitividade dos produtos da empresa
frente aos concorrentes que entram no país com preços bastante atraentes.
Atualmente a linha de telefomes com fio da empresa produz uma média de 56
produtos / hora por colaborador totalizando em médias 11.000 / 11.500 telefones por
dia. O Telefone X representa boa parte das vendas da empresa, e no ultimo ano chegou
a marca de 8 milhões de unidades vendidas.
O Telefone X Trata-se de um telefone de mesa convencional com funções de 3
níveis de volume de campainha, 2 tipos de campainha, funções flash, rediscar, e mudo.
Seu diferencial frente a alguns concorrentes, alem da boa qualidade que a empresa
oferece, ele ainda possui a opção de chave de bloqueio, e a posição de mesa ou parede.
O objetivo principal da presente pesquisa é analisar os impactos do grande
número de produtos importados de países asiáticos, sobretudo da China para a Indústria
Brasileira. Para tanto, foi escolhido um produto simples produzido pela empresa
Intelbras, para que pudesse ser feita uma comparação dos preços dos componentes
utilizados na montagem do mesmo quando comprados de fornecedor chineses, e o
preços dos mesmos componentes comprados no mercado nacional, seja via produtores
ou distribuidores.
Os componentes que abastecem as linhas de produção da empresa nem sempre
foram adquiridos de países como a China. Na realidade a mudança no fornecimento
dessas peças teve início no ano de 2.000, contribuindo para o grande crescimento da
empresa. Antes do início do processo de mudança no fornecimento de matérias primas,
51
a empresa comprava os componentes de fornecedores Brasileiros, que produziam ou
apenas distribuíam os componentes.
Com a abertura do mercado Brasileiro, ficou difícil manter a competitividade
produzindo com insumos comprados dentro do país. A concorrência tornou-se muito
acirrada e foi preciso buscar novas possibilidades para dar continuidade ao crescimento
da Empresa.
Dos 85 componentes utilizados na fabricação do telefone X, por exemplo,
somente 7 são adquiridos de empresas brasileiras. Os itens adquiridos no país,
representam de maneira geral a parte de embalagens e manuais. Dessa forma, somente
para a produção do Telefone X, 9,98% dos insumos são brasileiros, contra 90,02% de
insumos vindos principalmente da China, ou seja, de 85 componentes, 78 são
importados.
Atualmente a empresa, compra cerca de 1.811 componentes para abastecer suas
linhas de produção. Desse total somente cerca de 460 itens são comprados de
fornecedor nacionais que produzem no próprio país ou compram e revendem.
A grande dificuldade em se manter fornecedores nacionais no fornecimento para
a Empresa são os preços nada competitivos quando comparados aos preços Chineses.
Outra dificuldade é a própria falta de oferta no país. Alguns dos componentes não são
nem mesmo disponibilizados no Brasil. Por conta disso, na hora de comparar os preços
para os casos em que não foi possível encontrar fornecedor no país, o preço foi
calculado com base na diferença de componentes similares.
Na tabela a seguir é possível verificar a lista de componentes utilizados na
fabricação do Telefone X, e a diferença em porcentagem do preço Chinês em relação ao
Preço nacional. Observa-se também o numero de itens nacionais VS importados.
Por questões estratégicas, o nome dos componentes foram simplificados e os
preços dos mesmos não serão divulgados, somente a diferença em porcentagem entre
nacional/Importado.
Tabela 4 - Comparação preços Importados X Nacionais
Componentes Origem
Diferença entre
Nacional/Importado
Embalagem Nacional
Embalagem Nacional -
Embalagem Nacional -
52
Microcontrolador Importado 728%
Microcontrolador Importado 535%
Chave Importado 1337%
Chave Importado 874%
Chave Importado 1237%
Buzzer Importado 321%
TOMADA Importado 668%
TOMADA Importado 756%
Resistor/capacitor / transistor Importado 1219%
Resistor/capacitor / transistor Importado 348%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2128%
Resistor/capacitor / transistor Importado 242%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2128%
Resistor/capacitor / transistor Importado 148%
Resistor/capacitor / transistor Importado 696%
Resistor/capacitor / transistor Importado 193%
Resistor/capacitor / transistor Importado 385%
Resistor/capacitor / transistor Importado 677%
Resistor/capacitor / transistor Importado 3868%
Resistor/capacitor / transistor Importado 3868%
Resistor/capacitor / transistor Importado 3868%
Resistor/capacitor / transistor Importado 3868%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2418%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2418%
Resistor/capacitor / transistor Importado 193%
Resistor/capacitor / transistor Importado 242%
Resistor/capacitor / transistor Importado 251%
Resistor/capacitor / transistor Importado 1934%
Resistor/capacitor / transistor Importado 193%
Resistor/capacitor / transistor Importado 166%
Resistor/capacitor / transistor Importado 677%
Resistor/capacitor / transistor Importado 4598%
Resistor/capacitor / transistor Importado 697%
Resistor/capacitor / transistor Importado 662%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2273%
Resistor/capacitor / transistor Importado 20548%
Resistor/capacitor / transistor Importado 635%
Resistor/capacitor / transistor Importado 1732%
Resistor/capacitor / transistor Importado 18369%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2082%
Resistor/capacitor / transistor Importado 473%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2882%
Resistor/capacitor / transistor Importado 994%
Resistor/capacitor / transistor Importado 1095%
Resistor/capacitor / transistor Importado 3044%
53
Resistor/capacitor / transistor Importado 372%
Resistor/capacitor / transistor Importado 2445%
Resistor/capacitor / transistor Importado 1515%
Resistor/capacitor / transistor Importado 387%
Varistor Importado 5051%
Varistor Importado 16414%
Placa Importado 198%
Diodo Importado 5979%
Diodo Importado 929%
Diodo Importado 627%
Diodo Importado 1542%
Resistor/capacitor / transistor Importado 1220%
Resistor/capacitor / transistor Importado 96%
Resistor/capacitor / transistor Importado 425%
Resistor/capacitor / transistor Importado 375%
Resistor/capacitor / transistor Importado 798%
Resistor/capacitor / transistor Importado 50890%
RESSONADOR Importado 1872%
Cordão Importado 327%
TECLADO Importado 191%
Resina Importado 700%
Resina Importado -
Resina Importado 624%
Resina Nacional -
Etiqueta Nacional 100%
KIT MONO Importado 100%
Anel de Borracha Nacional -
Cordão Importado 308%
Cápsula Importado 327%
Microfone Importado 327%
TOMADA Importado 226%
Resistor/capacitor / transistor Importado 242%
Resistor/capacitor / transistor Importado 344%
Placa Nacional -
Resistor/capacitor / transistor Importado 3935%
Resina Importado 1499%
Resina Importado 1151%
541%
Fonte: Intelbras
Elaboração: Autora
Através da análise da diferença no preço dos componentes importados, é
possível entender a importância do intercâmbio entre Brasil e China, no caso da
Indústria estudada. Com uma diferença de 541% no preço final dos insumos utilizados à
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produção, certamente o preço final deste produto caso fossem adquiridos os
componentes no Brasil, não seria competitivo e nem mesmo viável. A competição dos
produtos ofertados pela empresa no mercado, se da através do acesso a insumos com
menores preços.
É importante notar que a comparação se fez com dados de preços de produtos
importados já internados (FI), ou seja, o preço final do produto importado leva em
consideração os custos com desembaraço aduaneiro, transporte, impostos,
nacionalização, transporte dentro do país e demais taxas inclusas em processos de
importação. Mesmo com todas as despesas que um processo de importação acarreta os
preços dos produtos importados ainda são muito competitivos frente aos produtos
nacionais.
A diferença em reais entre os custos com matéria prima vinda da China versus
matéria prima adquirida no Brasil chega a quase RS 25,00, o que tornaria o produto
final inviável frente aos concorrentes que da mesma forma, têm acesso à insumos
chineses, quando não são produzidos na Ásia.
Como é possível observar, para alguns casos, a diferença chega a marca de
50890%, demonstrando a dificuldade que a indústria brasileira enfrenta com relação aos
preços chineses. Dessa forma, a empresa somente consegue produzir e tornar-se
competitiva porque pode contar com o acesso às importações de países asiáticos. A
disputa de mercado e a liderança que a empresa conquistou esta estreitamente ligada ao
acesso a matérias primas importadas.
A principal proposta da presente pesquisa é demonstrar um ponto de vista
diferente em relação aos produtos importados da China. Desde que a China se tornou o
principal parceiro comercial do Brasil muito tem se falado sobre a preocupação da
Indústria nacional em relação aos Chineses, no sentido de uma competição desigual. A
pesquisa não é contrária a ideia de que a entrada dos produtos chineses trouxe grandes
dificuldades à Industria Brasileira. Não há duvidas em relação a isso, inclusive esse
ponto de vista fica bastante claro quando observamos a mudança no fornecimento de
insumos para a produção do Telefone X. O objetivo é levantar pontos para um debate
favorável à entrada destes produtos no mercado Brasileiro, ou pelo menos, demonstrar
alguns pontos positivos.
A China, além de comprar as commodities brasileiras em maior número,
também aumentou consideravelmente suas vendas ao Brasil, e nesse sentido existe uma
grande preocupação em relação ao futuro das indústrias brasileiras. De fato, com a
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entrada de produtos chineses no mercado nacional, muitas industriais tiveram que fechar
suas portas por não conseguirem se manter frente a pesada concorrência. Inclusive
existem casos de empresas que forneciam insumos para a Intelbras, e que hoje já não
existem mais.
O Brasil é um país com um custo de produção muito alto. A enorme carga
tributária e demais fatores como a infraestrutura logística deficitária dificultam a vida
dos empresários brasileiros, como mostrado no item 1.1 deste trabalho. Fica muito
difícil concorrer com um país que possui baixo custo de produção tributário além do
baixo nível de barreiras comerciais, como é o caso da China. De acordo com a
Comissão de Defesa da Indústria Brasileira, no ano de 2000 diversas empresas
brasileiras fecharam as portas por conta da entrada de produtos chineses no mercado.
A intenção aqui é levantar pontos para novos debates acerca da entrada massiva
de produtos chineses nos mercados do mundo inteiro. No caso estudado, o acesso aos
produtos Chineses não só trouxe benefícios e crescimento, mas também pode ser visto
até mesmo como fator determinante à sobrevivência e a manutenção da competitividade
dos produtos da Empresa.
Hoje a Intelbras dispõe e tecnologia própria, e é bastante forte no
Desenvolvimento de novos produtos. A empresa destina todo ano 4% de sua receita
operacional liquida no desenvolvimento de processos e produtos. Seus produtos são
reconhecidos no mercado por sua boa qualidade e a empresa tem conseguido se manter
na liderança de alguns segmentos, mesmo frente a pesada concorrência. No entanto, a
Intelbras é um caso de sucesso que conseguiu inovar e encontrar formas de sobreviver
frente as mudanças ocorridas no mercado. Muitas empresas não conseguiram o mesmo
êxito que a empresa estudada e vieram à falência.
O processo de importação dos insumos que abastecem as fábricas teve início no
ano de 2000. Como foi mencionado anteriormente, os insumos eram adquiridos, em sua
grande maioria, de fornecedores nacionais, antes da mudança para fornecedores
Chineses. Com a mudança no quadro de fornecimento, a empresa como um todo teve
também um enorme crescimento e a partir daí começou a conquistar liderança em
determinados segmentos. Com as margens de lucros melhores, devido a queda nos
preços dos insumos, os produtos da empresa puderam ir para o mercado com preços
mais competitivos e as vendas, consequentemente aumentaram.
O objetivo da presente pesquisa foi demonstrar um caso em que a entrada de
produtos Chineses trouxe melhorias e crescimento. Além de tornar os produtos da
56
empresa mais viável, em relação aos custos, a própria concorrência que a abertura
acarretou, obrigou a empresa a se tornar mais exigente com seus produtos, assim como
de estimular a inovação, para preservar seu lugar nos mercados onde atuava.
Atualmente a empresa emprega quase 2000 funcionários, gerando empregos e
contribuindo para o crescimento do país. Boa parte do sucesso da empresa esta atrelado
as possibilidades que a abertura do mercado trouxe consigo e que a empresa soube
administrar.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na análise anterior foram expostos argumentos a respeito das consequências que o
aumento do comércio entre Brasil e China pode acarretar para a indústria nacional. A
China é hoje a segunda potência econômica mundial e o seu crescimento continua de
maneira praticamente ininterrupta. A emergência deste país é uma realidade com as
quais economias do mundo inteiro estão tendo de lidar e se adaptar as novas
características que esse crescimento trouxe. O mundo vive, e pelo menos por um tempo,
não poderá deixar de conviver com a China.
O crescimento chinês desempenha um papel de grande importância para países
emergentes, inclusive tem grande importância para a economia Brasileira. Muito tem se
debatido a respeito deste crescimento e principalmente a respeito das consequências que
o mesmo pode acarretar para a indústria de países em desenvolvimento. Existe certo
medo com relação ao acelerado incremento nas relações sino-brasileiras, e inclusive há
quem defenda ações protecionistas. A criação de barreiras para o comercio bilateral, no
entanto, muito provavelmente não atenderia ao interesse nacional brasileiro. O centro
mais dinâmico da economia mundial, atualmente se encontra na China, e a criação de
barreiras ou protecionismo certamente não traria benefícios à economia nacional.
O receio que se tem em relação ao comércio entre os dois países é bastante
compreensível, visto que em inúmero casos a entrada da concorrência chinesa no Brasil,
levou muitas indústrias a encontrarem dificuldade quanto a concorrência e até mesmo
quanto a sobrevivência frente a tamanha diversidade de novas tecnologias a preços
bastante diferente dos preços praticados no Brasil. Em certos casos específicos e
pontuais, o protecionismo talvez seja necessário, visto que é preciso preservar
determinados setores e a concorrência fica impraticável, quando o empresariado
brasileiro, por exemplo, se depara com os elevados custos de produção do país.
Os chineses têm feito conquistas notáveis. As inovações aparecem em diferentes
áreas como tecnologia espacial, supercomputadores, nanotecnologia, indústria mecânica
e medicina. Com tamanho avanços científicos e tecnológicos, as exportações chinesas
estão se movendo na cadeia de valor e já competem com países desenvolvidos. Basta
notarmos a quantidade de produtos de alto valor agregado que as marcas chinesas
oferecem no mundo inteiro. A China, que em um passado recente era conhecida por
58
vender produtos de baixa qualidade e pouca tecnologia, conhecidos como
quinquilharias, hoje vende automóveis mundo afora. O rápido crescimento e
desenvolvimento podem ser percebidos com muita facilidade.
A interdependência econômica entre os países é bastante notável, especialmente em
momentos de crise. Existe hoje uma noção de que não é mais possível um país ou uma
economia crescer sozinho. Nesse sentido, o Brasil precisa se preparar para o
crescimento chinês, e encontrar estratégias frente ao gigante asiático, até porque nas
últimas décadas, esse país tem sido o grande consumidor das commodities brasileiras.
Somente no ano de 2011, o superávit de comércio entre os países alcançou US$ 5
bilhões. No âmbito das exportações brasileiras, a China é bastante reconhecida como
um parceiro estratégico e importante para o crescimento do Brasil.
No entanto, para a presente pesquisa, são as importações chinesas para o Brasil que
alimentam o debate. Se por um lado a entrada de produtos chineses no mercado
Brasileiro preocupa e provoca debates no sentido de proteção à industria nacional, por
outro, para determinados setores eles serão determinantes e contribuirão para o
crescimento e desenvolvimento da indústria no país.
A ideia de levantar as diferenças nos preços dos insumos utilizados na produção de
um dos telefones da Empresa Intelbras, foi colocar em evidencia que, para essa
indústria, que apesar de muitas dificuldades conseguiu alcançar taxas de crescimento
bastante satisfatórias, a possibilidade de acesso a matérias primas vindas da China
contribuiu par seu desenvolvimento e crescimento e para se tornar a empresa de sucesso
que é hoje.
Se por um lado determinados setores industriais no Brasil enfrentam dificuldades
com as importações Chinesas e asiáticas em geral, outros segmentos ganham, pois
conseguem produzir produtos mais sofisticados e competitivos, visto que têm acesso a
tecnologias vindas da China com preços bastante baixos, conseguindo com isso manter
seus produtos competitivos frente à acirrada competição que a abertura de mercado
trouxe ao país.
No caso da indústria e o produto estudado, o acesso ao mercado chinês trouxe
vantagens bastante significativas e maiores possibilidades de crescimento. Com uma
diferença de 541% entre os preços nacionais VS os preços chineses na soma dos preços
dos insumos utilizados para a produção do Telefone, fica bastante claro a inviabilidade
de concorrência, caso a empresa decidisse optar por adquirir seus insumos dentro do
59
próprio país. Graças ao acesso a tais preços, a empresa consegue competir com gigantes
como Siemens e Panasonic, e inclusive consegue se manter líder de mercado.
O crescimento da empresa, após o início do processo de homologação de
fornecedores chineses, visando a troca dos fornecedores nacionais, foi bastante
acentuado.
Em entrevista informal realizada com um dos compradores mais antigos da Empresa
a respeito da entrada de insumos chineses nas linhas de produção, pontos positivos
como custo médio mais competitivo, eliminação de atravessadores, redução brusca nos
impostos, qualidade assegurada na fonte além de melhores negociações entre as partes
foram apontados por ele. Quando questionado a respeito das mudanças que ocorreram
na empresa após o início do processo de mudança no fornecimento, pontos como maior
especialização em logística, plano mestre para médio prazo, mais critérios na analise das
necessidades e menos flexibilidade na mudança de plano de produção foram apontados.
Em relação aos fornecedores nacionais que forneciam à empresa antes da mudança, ele
afirma que alguns fecharam, por não acompanhar a evolução do mercado, e outros
encaram o fato como oportunidade de mercado, e abriram novos clientes e novos
segmentos, e hoje competem também com o mercado internacional. Ele acredita que o
crescimento da empresa esta vinculado a possibilidade de acesso aos insumos vindos da
China, já que os mesmos são mais competitivos e de acordo com ele, essa nova
possibilidade fez com que a empresa enxergasse o mercados com novas oportunidades.
Ele acredita ainda que o sucesso da empresa e o fato da mesma ser conhecida em toda
América Latina com produtos com custos acessíveis e qualidade garantida também esta
de certa forma ligada a mudança no fornecimento da Empresa.
Ao avaliar a situação da empresa e as mudanças que ocorreram nos últimos anos, a
presente pesquisa propõe novos debates no sentido de se enxergar uma nova visão a
respeito da entrada de produtos chineses no país. A concorrência certamente dificulta o
desenvolvimento de determinados segmentos, no entanto da mesma forma que ela
dificulta, ela pode ser um determinante para melhorias. A ascensão da China é uma
realidade com a qual as economias no mundo inteiro terão de aprender a lidar e não
terão como fugir. Vislumbrar novas oportunidades a partir dessa nova realidade é uma
forma de encarar o cenário que a ascensão Chinesa trouxe para as economias de todo
mundo.
Neste sentido, foi de interesse fundamental desta pesquisa levantar pontos do
aumento no intercâmbio comercial entre Brasil e China e a relação de dependência do
60
Brasil em relação a esse país. A intenção principal foi incentivar novos debates e
reflexões que permeiem a problemática das importações do Brasil de produtos chineses,
e as consequências para a indústria nacional.
61
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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