A princesa das Areias

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Era uma vez, há muitos milhões de anos, uma princesa chamada Amodini. Ela vivia feliz ao lado do seu pai, Zoar e de sua irmã gêmea Quiara. A jovem princesa tinha o dom de fazer tudo ficar mais belo, enquanto Quiara estudava magia. Zoar vivia solitário cuidando de suas filhas até o dia que chegou neste pacífico povoado a mulher mais bonita de todas as terras, Namia. Em pouco tempoZoar apaixonou-se pela estrangeira e para a alegria de Quiara e a tristeza de Amodini, Zoar e Namia casaram-se. Tempos depois, com a visita de Burque, um famosos contador de histórias da antiguidade, Amodini descobre a verdadeira identidade de Namia: a rainha da Terra do Pulso, a poderosa Caspi, que cumpre a profecia do fim do mundo. Expulsa de casa pelo paiquando tenta contar a verdade sobre sua madrasta, Amodini é presa por sua irmã em um castelo de areia. E assim se faz o destino da Princesa das Areias. Somente a coragem e o amor poderiam libertá-la.

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HISTÓRIAS DE BURQUE

A. E . Guerreiro

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Copyright © 2010 by A. E. GuerreiroCopyright desta edição © 2010 by Livros Ilimitados

LIVROS ILIMITADOS

Conselho Editorial:BERNARDO COSTA

JOHN LEE MURRAY

LEONARDO MODESTO

Copydesk: Luciana FigueiredoRevisão: Mariana OliveiraProjeto gráfico e diagramação: Jorge PaesCapa e ilustrações de miolo: Julio Carvalho

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PARCEIRO

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

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Dedico este livro à minha pequena filha, Giulia,e ao meu falecido avô, Evandro Guerreiro.

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ra uma vez, há muitos milhões de anos, num tempo

em que poucos seres habitavam a Terra, um povo

pacífico e privilegiado conhecido como Povo das Areias. Eles

habitavam uma terra branca e limpa que se misturava ao mar

imenso, verde e tranquilo. Por muitos anos este povo viveu em

paz, trabalhando em suas almas o exercício da tranquilidade.

Habitantes de terras distantes recorriam ao Povo das Areias

para alinhar suas almas, sentindo o calor das areias brancas e a

brisa fresca do mar. Assim, podiam retornar às suas estranhas

e menos privilegiadas realidades.

Numa bela noite sem luar e repleta de estrelas de diferentes

formas e tamanhos, aconteceu um estranho fenômeno: a noite

das constelações cadentes, que parecia uma festa nas estrelas.

A sacerdotisa do Povo das Areias, Iela, engravidou de Zoar,

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o artista. Certos fenômenos da natureza são os mesmos desde a

Criação: nove meses depois, Iela pariu duas filhas gêmeas.

O ritual do nascimento seguiu como de costume. Antes

de ser uma sacerdotisa, Iela era uma mulher. O que a diferen-

ciava das demais era sua capacidade de acalmar as pessoas que

lhe pediam ajuda. Para o nascimento das gêmeas, fez-se silên-

cio, deixando apenas o mar e o vento falarem. Ao meio-dia em

ponto, hora do sol mais intenso , nasceu Quiara, linda e

forte. A segunda criança, porém, ainda bem fraca, não corres-

pondeu aos esforços da mãe, ficando em seu ventre por mais

cinco horas. Horas de aflição e concentração. O bebê conse-

guiu ser retirado através dos cantos das mães que rodeavam a

sacerdotisa, dando-lhe força e paciência. Assim nasceu Amo-

dini, exatamente à hora do pôr do sol, linda e fraca. Segundo a

crença do Povo das Areias, Amodini foi entregue ao mar para

testar sua sorte, e na beira dele passou seu primeiro momento

de vida – era viver ou morrer. Enquanto isso, Quiara dormiu

alimentada e acarinhada no colo de sua mãe.

Amanheceu e, junto com os primeiro raios de sol, des-

pertaram as crianças do povoado, curiosas com o destino da

pequena Amodini. Ao chegarem à beira do mar, encontraram

o bebê rodeado de algas e brilhando com a mesma cor verde

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das águas. Cada criança segurou uma parte do corpo de Amo-

dini e levaram-na até a casa de Iela. Ao ver as crianças com sua

pequena Amodini, a sacerdotisa sentiu uma felicidade imensa.

Segurou sua filha no colo e amamentou-a pela primeira vez.

O bebê estava faminto. Quiara esperou sua vez. O brilho do

mar tomou conta da casa de Iela. Zoar, o pai, enfeitou todo o

povoado com algas. Fez um lindo dia de sol.

Quiara e Amodini cresciam saudáveis fortes e unidas.

Aos poucos, as diferenças entre as gêmeas foram aparecendo.

Seus cabelos castanhos e olhos claros da cor do mel eram iguais,

mas Quiara tinha a pele clara como as areias brancas e Amo-

dini, a pele dourada como o pôr do sol. Quiara adorava fazer

castelos de areia. Amodini gostava de pegar peixes no mar.

Quiara tinha o dom de estudar os segredos da Terra, como a

mãe. Amodini tinha o dom de embelezar tudo na Terra, como

o pai. Uma completava a outra.

A vida seguiu seu curso. As gêmeas encerraram seu primeiro

ciclo de vida aos sete anos de idade. O pai Zoar presenteou-as

com a festa mais linda já realizada. Eram conchas, frutas e flo-

res por todo o caminho de acesso à praia. A família recebeu a

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todos: das areias, mares, rios, montanhas, errantes da Terra e

de outras estrelas. A música e a dança uniram os povos em ale-

gria. Um jovem contador de histórias transformou em repente

suas profecias. Foi um festejo inesquecível.

Um ano depois, Iela adoeceu. Sua saúde vinha enfraque-

cendo ano após ano desde o nascimento das gêmeas. Até que

um dia Iela beijou suas filhas, seu marido e subiu ao céu com

toda a sua serenidade, recebendo de presente a estrela mais

brilhante. Apesar da tristeza que tomou conta de tudo, o dia

foi quente, o pôr do sol se fez lilás e a lua cheia invadiu a noite.

Todos os habitantes das areias dormiram à luz da lua em ho-

menagem à sua sacerdotisa, Iela. A notícia espalhou-se pelo

planeta. Todos os seres sentiram o poder da paz. Amodini

fez lindos enfeites para adornar a passagem da mãe. Quiara fez

uso de toda a sua sabedoria e até mesmo de magia para trazer

sua mãe de volta. Nada adiantou. Ao entregar Iela às areias do

mar, só se via quão bela ela estava com os enfeites feitos por

Amodini. Já os esforços de Quiara foram em vão. Isso separou

as gêmeas para sempre.

Os tempos seguintes à morte de Iela foram difíceis. Quiara

continuava a buscar a fórmula da vida após a morte. Amo-

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dini entregava lindos enfeites ao mar todas as noites. E Zoar

sentia-se sozinho. Os anos se passaram. As gêmeas contavam

agora treze anos de vida. As dificuldades só aumentaram.

Quiara repudiava qualquer atitude ou ideia vinda de Amodini,

sempre fazendo prevalecer sua palavra. Amodini se sentia cul-

pada pela fraqueza que levou à morte da mãe. As brigas entre

elas aumentavam. Discutiam por qualquer coisa, se estava sol

ou frio, ou se comeriam frutas ou verduras no jantar. Zoar,

sem saber como fazer as meninas pararem de brigar, decidiu

casar-se de novo. Uma mulher saberia restabelecer o equilí-

brio entre elas.

Certo dia, surgiu no vilarejo uma mulher de inigualável beleza.

Todos os olhares se voltaram para ela. Seus cabelos eram de

um vermelho encantador, os olhos azuis e a pele branca, bran-

quíssima. Andava como uma rainha pelas areias, sem medo de

ir contra o vento. Caminhou sob os olhares curiosos, até que

encontrou Quiara, às voltas com seus estudos sobre magia, e

perguntou-lhe:

– Linda menina, tão jovem e tão concentrada, o que es-

tuda tanto?

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– As magias que controlam as vidas – respondeu Quiara.

– Meu nome é Namia. Você sabe onde eu poderia descan-

sar por uma noite? Estou muito cansada da viagem.

– Sim, você pode dormir em nossa casa. Minha mãe fa-

leceu. Moro com minha irmã e meu pai. Você pode dormir na

cama de meus pais. – A menina estava encantada com tama-

nha beleza.

– Mas e o seu pai?

– Meu pai é um artista. Ele pode criar uma cama para ele.

Quiara, já imaginando a felicidade do pai ao ver a bela con-

vidada, caminhou orgulhosa até sua casa ao lado de Namia.

Falaram da vida, da morte e de Zoar. Amodini, assistindo a

tudo de longe, sentiu um calafrio na espinha. Era o vento que-

rendo dizer-lhe algo. E foi ao mar pescar, pensar e preparar o

enfeite que entregaria à sua mãe naquela noite.

Ao chegar em casa, Quiara encontrou o pai preparando

um instrumento de cordas. Ao ver Namia, Zoar ficou hipno-

tizado. Chegou a duvidar da existência daquele ser tão belo.

Namia contou-lhe sua desventura. Perdera-se de sua família

e estava há dias vagando, até que, seguindo o vento, seu amigo,

chegara ao povoado das Areias.