A princesa das Areias
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HISTÓRIAS DE BURQUE
A. E . Guerreiro
Copyright © 2010 by A. E. GuerreiroCopyright desta edição © 2010 by Livros Ilimitados
LIVROS ILIMITADOS
Conselho Editorial:BERNARDO COSTA
JOHN LEE MURRAY
LEONARDO MODESTO
Copydesk: Luciana FigueiredoRevisão: Mariana OliveiraProjeto gráfico e diagramação: Jorge PaesCapa e ilustrações de miolo: Julio Carvalho
Direitos desta edição reservados àRed Pepper Consultoria Marketing e Assessoria Ltda Rua Joaquim Nabuco, 81 – 101Copacabana – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22080-030Tel.: (21) [email protected] www.livrosilimitados.com.br
PARCEIRO
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Dedico este livro à minha pequena filha, Giulia,e ao meu falecido avô, Evandro Guerreiro.
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ra uma vez, há muitos milhões de anos, num tempo
em que poucos seres habitavam a Terra, um povo
pacífico e privilegiado conhecido como Povo das Areias. Eles
habitavam uma terra branca e limpa que se misturava ao mar
imenso, verde e tranquilo. Por muitos anos este povo viveu em
paz, trabalhando em suas almas o exercício da tranquilidade.
Habitantes de terras distantes recorriam ao Povo das Areias
para alinhar suas almas, sentindo o calor das areias brancas e a
brisa fresca do mar. Assim, podiam retornar às suas estranhas
e menos privilegiadas realidades.
Numa bela noite sem luar e repleta de estrelas de diferentes
formas e tamanhos, aconteceu um estranho fenômeno: a noite
das constelações cadentes, que parecia uma festa nas estrelas.
A sacerdotisa do Povo das Areias, Iela, engravidou de Zoar,
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o artista. Certos fenômenos da natureza são os mesmos desde a
Criação: nove meses depois, Iela pariu duas filhas gêmeas.
O ritual do nascimento seguiu como de costume. Antes
de ser uma sacerdotisa, Iela era uma mulher. O que a diferen-
ciava das demais era sua capacidade de acalmar as pessoas que
lhe pediam ajuda. Para o nascimento das gêmeas, fez-se silên-
cio, deixando apenas o mar e o vento falarem. Ao meio-dia em
ponto, hora do sol mais intenso , nasceu Quiara, linda e
forte. A segunda criança, porém, ainda bem fraca, não corres-
pondeu aos esforços da mãe, ficando em seu ventre por mais
cinco horas. Horas de aflição e concentração. O bebê conse-
guiu ser retirado através dos cantos das mães que rodeavam a
sacerdotisa, dando-lhe força e paciência. Assim nasceu Amo-
dini, exatamente à hora do pôr do sol, linda e fraca. Segundo a
crença do Povo das Areias, Amodini foi entregue ao mar para
testar sua sorte, e na beira dele passou seu primeiro momento
de vida – era viver ou morrer. Enquanto isso, Quiara dormiu
alimentada e acarinhada no colo de sua mãe.
Amanheceu e, junto com os primeiro raios de sol, des-
pertaram as crianças do povoado, curiosas com o destino da
pequena Amodini. Ao chegarem à beira do mar, encontraram
o bebê rodeado de algas e brilhando com a mesma cor verde
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das águas. Cada criança segurou uma parte do corpo de Amo-
dini e levaram-na até a casa de Iela. Ao ver as crianças com sua
pequena Amodini, a sacerdotisa sentiu uma felicidade imensa.
Segurou sua filha no colo e amamentou-a pela primeira vez.
O bebê estava faminto. Quiara esperou sua vez. O brilho do
mar tomou conta da casa de Iela. Zoar, o pai, enfeitou todo o
povoado com algas. Fez um lindo dia de sol.
Quiara e Amodini cresciam saudáveis fortes e unidas.
Aos poucos, as diferenças entre as gêmeas foram aparecendo.
Seus cabelos castanhos e olhos claros da cor do mel eram iguais,
mas Quiara tinha a pele clara como as areias brancas e Amo-
dini, a pele dourada como o pôr do sol. Quiara adorava fazer
castelos de areia. Amodini gostava de pegar peixes no mar.
Quiara tinha o dom de estudar os segredos da Terra, como a
mãe. Amodini tinha o dom de embelezar tudo na Terra, como
o pai. Uma completava a outra.
A vida seguiu seu curso. As gêmeas encerraram seu primeiro
ciclo de vida aos sete anos de idade. O pai Zoar presenteou-as
com a festa mais linda já realizada. Eram conchas, frutas e flo-
res por todo o caminho de acesso à praia. A família recebeu a
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todos: das areias, mares, rios, montanhas, errantes da Terra e
de outras estrelas. A música e a dança uniram os povos em ale-
gria. Um jovem contador de histórias transformou em repente
suas profecias. Foi um festejo inesquecível.
Um ano depois, Iela adoeceu. Sua saúde vinha enfraque-
cendo ano após ano desde o nascimento das gêmeas. Até que
um dia Iela beijou suas filhas, seu marido e subiu ao céu com
toda a sua serenidade, recebendo de presente a estrela mais
brilhante. Apesar da tristeza que tomou conta de tudo, o dia
foi quente, o pôr do sol se fez lilás e a lua cheia invadiu a noite.
Todos os habitantes das areias dormiram à luz da lua em ho-
menagem à sua sacerdotisa, Iela. A notícia espalhou-se pelo
planeta. Todos os seres sentiram o poder da paz. Amodini
fez lindos enfeites para adornar a passagem da mãe. Quiara fez
uso de toda a sua sabedoria e até mesmo de magia para trazer
sua mãe de volta. Nada adiantou. Ao entregar Iela às areias do
mar, só se via quão bela ela estava com os enfeites feitos por
Amodini. Já os esforços de Quiara foram em vão. Isso separou
as gêmeas para sempre.
Os tempos seguintes à morte de Iela foram difíceis. Quiara
continuava a buscar a fórmula da vida após a morte. Amo-
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dini entregava lindos enfeites ao mar todas as noites. E Zoar
sentia-se sozinho. Os anos se passaram. As gêmeas contavam
agora treze anos de vida. As dificuldades só aumentaram.
Quiara repudiava qualquer atitude ou ideia vinda de Amodini,
sempre fazendo prevalecer sua palavra. Amodini se sentia cul-
pada pela fraqueza que levou à morte da mãe. As brigas entre
elas aumentavam. Discutiam por qualquer coisa, se estava sol
ou frio, ou se comeriam frutas ou verduras no jantar. Zoar,
sem saber como fazer as meninas pararem de brigar, decidiu
casar-se de novo. Uma mulher saberia restabelecer o equilí-
brio entre elas.
Certo dia, surgiu no vilarejo uma mulher de inigualável beleza.
Todos os olhares se voltaram para ela. Seus cabelos eram de
um vermelho encantador, os olhos azuis e a pele branca, bran-
quíssima. Andava como uma rainha pelas areias, sem medo de
ir contra o vento. Caminhou sob os olhares curiosos, até que
encontrou Quiara, às voltas com seus estudos sobre magia, e
perguntou-lhe:
– Linda menina, tão jovem e tão concentrada, o que es-
tuda tanto?
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– As magias que controlam as vidas – respondeu Quiara.
– Meu nome é Namia. Você sabe onde eu poderia descan-
sar por uma noite? Estou muito cansada da viagem.
– Sim, você pode dormir em nossa casa. Minha mãe fa-
leceu. Moro com minha irmã e meu pai. Você pode dormir na
cama de meus pais. – A menina estava encantada com tama-
nha beleza.
– Mas e o seu pai?
– Meu pai é um artista. Ele pode criar uma cama para ele.
Quiara, já imaginando a felicidade do pai ao ver a bela con-
vidada, caminhou orgulhosa até sua casa ao lado de Namia.
Falaram da vida, da morte e de Zoar. Amodini, assistindo a
tudo de longe, sentiu um calafrio na espinha. Era o vento que-
rendo dizer-lhe algo. E foi ao mar pescar, pensar e preparar o
enfeite que entregaria à sua mãe naquela noite.
Ao chegar em casa, Quiara encontrou o pai preparando
um instrumento de cordas. Ao ver Namia, Zoar ficou hipno-
tizado. Chegou a duvidar da existência daquele ser tão belo.
Namia contou-lhe sua desventura. Perdera-se de sua família
e estava há dias vagando, até que, seguindo o vento, seu amigo,
chegara ao povoado das Areias.