A Primeira Só

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A PRIMEIRA SÓ Era linda, era filha, era única. Filha de rei. Mas de que adiantava ser princesa se não tinha com quem brincar? Sozinha no palácio chorava e chorava. Não queria saber de bonecas, não queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar. De noite o rei ouviu os soluços da filha. De que adianta a coroa se a filha da gente chora à noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silêncio mandou colocar o espelho ao pé da cama da filha que dormia. Quando a princesa acordou, já não estava sozinha. Uma menina linda e única olhava surpresa para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rápido, chegaram perto e ficaram se encontrando. Uma sorriu e deu bom-dia. A outra deu bom-dia sorrindo. -- Engraçado – pensou uma --, a outra é canhota. E riram as duas. Riram muito depois. Felizes juntas, felizes iguais. A brincadeira de uma era a graça da outra. O salto de uma era o pulo da outra. E quando uma estava cansada, a outra dormia. O rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos, que entregou à filha numa cesta. Bichos, bonecas, casinhas, e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porém tão brilhante que foi o primeiro brinquedo que escolheram. Rolaram com ela no tapete, lançaram na cama, a tiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu jogá-la nas mãos da amiga, a bola estilhaçou jogo e amizade. Uma moldura vazia, cacos de espelho no chão. Marina Colassanti. Uma idéia toda azul. Rio de Janeiro, Nórdica, 1979. pp. 47-8. INTERPRETAÇÃO: a) Por que a menina chorava? __________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ______ b) Quem o rei mandou chamar, quando descobriu que sua filha estava muito triste? ________________ _____________________________________________________________________________ ______

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texto para leitura e interpretação

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A PRIMEIRA S

Era linda, era filha, era nica. Filha de rei. Mas de que adiantava ser princesa se no tinha com quem brincar?

Sozinha no palcio chorava e chorava. No queria saber de bonecas, no queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.

De noite o rei ouviu os soluos da filha. De que adianta a coroa se a filha da gente chora noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silncio mandou colocar o espelho ao p da cama da filha que dormia.

Quando a princesa acordou, j no estava sozinha. Uma menina linda e nica olhava surpresa para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rpido, chegaram perto e ficaram se encontrando. Uma sorriu e deu bom-dia. A outra deu bom-dia sorrindo.

-- Engraado pensou uma --, a outra canhota.

E riram as duas.

Riram muito depois. Felizes juntas, felizes iguais. A brincadeira de uma era a graa da outra. O salto de uma era o pulo da outra. E quando uma estava cansada, a outra dormia.O rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos, que entregou filha numa cesta. Bichos, bonecas, casinhas, e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porm to brilhante que foi o primeiro brinquedo que escolheram.

Rolaram com ela no tapete, lanaram na cama, a tiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu jog-la nas mos da amiga, a bola estilhaou jogo e amizade.

Uma moldura vazia, cacos de espelho no cho.

Marina Colassanti. Uma idia toda azul. Rio

de Janeiro, Nrdica, 1979. pp. 47-8. INTERPRETAO:

a) Por que a menina chorava? __________________________________________________________

___________________________________________________________________________________b) Quem o rei mandou chamar, quando descobriu que sua filha estava muito triste? ___________________________________________________________________________________________________c) O que aconteceu quando a filha do rei acordou? _____________________________________________________________________________________________________________________________d) Qual foi a atitude do rei ao ver sua filha muito feliz? __________________________________________________________________________________________________________________________e) Que fato aconteceu para menina ficar novamente triste? ______________________________________________________________________________________________________________________f) Na sua opinio, qual deveria ser a atitude de qualquer pai na situao do rei? O que deveria fazer?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________g) Voc acha que o ttulo do texto est de acordo com a histria? _________________________________________________________________________________________________________________h) Que nome voc daria para o texto?____________________________________________________

A PRIMEIRA S

Era linda, era filha, era nica. Filha de rei. Mas de que adiantava ser princesa se no tinha com quem brincar?

Sozinha no palcio chorava e chorava. No queria saber de bonecas, no queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.

De noite o rei ouviu os soluos da filha. De que adianta a coroa se a filha da gente chora noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silncio mandou colocar o espelho ao p da cama da filha que dormia.

Quando a princesa acordou, j no estava sozinha. Uma menina linda e nica olhava surpresa para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rpido, chegaram perto e ficaram se encontrando. Uma sorriu e deu bom-dia. A outra deu bom-dia sorrindo.

-- Engraado pensou uma --, a outra canhota.

E riram as duas.

Riram muito depois. Felizes juntas, felizes iguais. A brincadeira de uma era a graa da outra. O salto de uma era o pulo da outra. E quando uma estava cansada, a outra dormia.

O rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos, que entregou filha numa cesta. Bichos, bonecas, casinhas, e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porm to brilhante que foi o primeiro brinquedo que escolheram.

Rolaram com ela no tapete, lanaram na cama, a tiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu jog-la nas mos da amiga, a bola estilhaou jogo e amizade.

Uma moldura vazia, cacos de espelho no cho.

Marina Colassanti. Uma idia toda azul. Rio

A PRIMEIRA S

Era linda, era filha, era nica. Filha de rei. Mas de que adiantava ser princesa se no tinha com quem brincar?

Sozinha no palcio chorava e chorava. No queria saber de bonecas, no queria saber de brinquedos. Queria uma amiga para gostar.

De noite o rei ouviu os soluos da filha. De que adianta a coroa se a filha da gente chora noite? Decidiu acabar com tanta tristeza. Chamou o vidraceiro, chamou o moldureiro. E em segredo mandou fazer o maior espelho do reino. E em silncio mandou colocar o espelho ao p da cama da filha que dormia.

Quando a princesa acordou, j no estava sozinha. Uma menina linda e nica olhava surpresa para ela, os cabelos ainda desfeitos do sono. Rpido, chegaram perto e ficaram se encontrando. Uma sorriu e deu bom-dia. A outra deu bom-dia sorrindo.

-- Engraado pensou uma -- , a outra canhota.

E riram as duas.

Riram muito depois. Felizes juntas, felizes iguais. A brincadeira de uma era a graa da outra. O salto de uma era o pulo da outra. E quando uma estava cansada, a outra dormia.

O rei, encantado com tanta alegria, mandou fazer brinquedos novos, que entregou filha numa cesta. Bichos, bonecas, casinhas, e uma bola de ouro. A bola no fundo da cesta. Porm to brilhante que foi o primeiro brinquedo que escolheram.

Rolaram com ela no tapete, lanaram na cama, a tiraram para o alto. Mas quando a princesa resolveu jog-la nas mos da amiga, a bola estilhaou jogo e amizade.

Uma moldura vazia, cacos de espelho no cho.

Marina Colassanti. Uma idia toda azul. .