A presença de deus
Transcript of A presença de deus
FACULDADE VICENTINA
CURSO DE BACHARELADO DE TEOLOGIA
FERNANDA OLIVETTE DOS SANTOS
A PRESENÇA DE DEUS NO SER HUMANO E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL
CURITIBA
2012
FERNANDA OLIVETTE DOS SANTOS
A PRESENÇA DE DEUS NO SER HUMANO E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL
Monografia apresentada ao curso de Bacharelado de Teologia da Faculdade Vicentina de Filosofia e Teologia, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharelado em Teologia. Orientador: Prof. Ms. Agenor Sbaraini.
CURITIBA
2012
AVALIAÇÃO
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos, familiares e amigos que sempre me
apoiaram, acreditaram em minhas capacidades. Ao Instituto das Apóstolas do
Sagrado Coração de Jesus, pelas oportunidades que me foram oferecidas no
decorrer deste curso. E sem dúvida a Viktor Emil Frankl, autor estimável, o qual
tenho grande apreço e gratidão pela coragem de acreditar no ser humano, acreditar
que o homem é capaz sobre quaisquer condições, quando encontra em si um
espaço de liberdade no qual Deus se revela.
Dedico enfim a todas as pessoas que buscam um sentido mais profundo em sua
existência, e que são sensíveis à presença constante, ao Permanecer de Deus no
peregrinar desta jornada.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a minha gratidão a Deus, fonte da vida a qual um dia me concedeu,
e que a cada passo na minha caminhada se deixa encontrar, por um dia conceder a
graça da vocação a vida consagrada, e me chamou a ser Apóstola do seu Coração,
pelo Carisma deixado a minha querida Mãe e Mestra Clélia Merloni. E a certeza de
que “sem Ti nada posso fazer, e me dizes: „Permanecei em Mim‟ ”(JOÃO 15:5)
A meus pais, Sebastião Lara dos Santos e Zilda Olivette dos Santos, que um dia
com coragem constituíram uma família fundamentada no amor e na ousadia de
sonhar com um futuro próspero, educando seus filhos na verdade, honestidade e na
Fé, ensinando-me o valor de uma família, a beleza da gratuidade e o amor que se
doa sem medidas;
Aos meus irmãos: Nicléia, João, Maria Isabel e Francisca, que estão sempre
presente em minha vida, acreditando em minhas capacidades e mostrando-me o
valor da perseverança, da presença e da partilha, com eles todos os meus familiares
que sempre estiveram muito presente em minha vida;
Ao Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, na pessoa da Ir. Maria de
Lourdes Castanha, por não medir esforços na nossa formação de Apóstola,
agradeço por esta maravilhosa oportunidade de fazer o Curso de Teologia;
À Ir. Maria Vilma Ravazzoli, e demais superioras que me acompanharam no decorrer
do curso, Ir. Joceli Zanin, e Ir. Maria Adélia Cella, e a minha comunidade religiosa do
Colégio Imaculada Conceição, que com a presença única de cada uma, me ensinam
a me exercitar na generosidade ao chamado de Deus e a me empenhar sempre
mais na vida comunitária;
Ao orientador deste trabalho, Pe. Agenor Sbaraini, pelas conversas e trocas de
idéias ao longo do trabalho, pela disponibilidade de tempo e pela paciência e
sabedoria orientando-me com calma e seriedade.
As preciosidades da minha vida, amigos e amigas que no decorrer dessa jornada
sempre estiveram ao meu lado, me encorajando, apoiando, mostrando novas
possibilidades, acreditando nas minhas capacidades e, com a singularidade de cada
um, me mostrando o valor das amizades sinceras, partilhando comigo a vida, Dom
único que Deus os confiou e que expressam de forma tão singular me auxiliando na
busca de Deus, busca constante que faz parte fundamental da minha existência.
A Ir. Ilza Ravazzoli e as minhas coirmãs de Juniorato de perto ou de longe, que
estiveram ao meu lado, dando-me apoio, e que me mostraram que é possível, sim,
uma vivência fraterna em comunidade, com decisão e empenho pessoal diário;
Aos colegas, que juntos compartilharam muitos momentos ao longo dos anos de
Curso, agradeço a confiança depositada em mim.
Ao corpo administrativo e docente, aos funcionários e amigos acadêmicos da FAVI,
que conosco partilharam suas vidas e dividiram seus dons e conhecimentos.
EPÍGRAFE
“quem busca sempre encontra Deus, porque se dá conta de que sempre estava nele
antes mesmo de buscá-lo [...] o mistério de Deus é a raiz de nossa própria vida”.
(Leonardo Boff)
―Ele (Deus) é a realidade primeira, fundamental, onipresente e onicompreensiva, que
nos tira do nada com um puríssimo ato de amor, e com igual amor nos mantém no
ser. Para Deus, pois, que corre espontâneo e insistente o nosso pensamento; para
ele corre insaciavelmente, como a “corça para a nascente da água”, porque dele
pouco sabemos, apesar de a história das religiões e da humanidade ter colecionado
tantas mensagens a seu respeito.”
(Mondin)
“Rompeu Deus o silêncio: saiu de seu mistério, dirigiu-se ao homem e desvendou-
lhe os segredos de sua vida pessoal; comunicou-lhe seu desígnio inaudito de uma
aliança que levasse a uma participação de vida.”
(Latourelle)
“Naquele momento eu sabia pouco de mim ou do mundo, só tinha na cabeça uma
frase, sempre a mesma: desde minha estreita prisão chamei o meu Senhor e ele me
respondeu desde o espaço na liberdade.”
(Frankl)
“O homem não é capaz de viver por mecanismos de defesa e dar a vida por
formações reativas, mas o homem é capaz sim de viver por valores e ideais e dar a
vida por eles se for preciso.”
(Frankl)
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a presença de Deus e a busca de sentido a partir de uma reflexão filosófica, teológica e psicológica da compreensão da presença de Deus no ser humano, identificada na dimensão transcendente ou espiritual. Abordarei o tema baseada na concepção filosófica e teológica de: Rudolf Otto, Descartes, Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho, busco compreender que a presença de Deus na existência humana é a busca de afirmar a essência do homem como ser que se realiza plenamente na relação com Deus, há no homem um intuito de realização que vai além de sua realidade imanente. Através da Revelação, Deus se autocomunica ao ser humano e o ser humano busca responder a este anseio presente em seu ser. Posteriormente, refletirei sobre a teoria da Logoterapia do autor e fundador Viktor Emil Frankl e sobre a busca de sentido e a presença ignorada de Deus. Frankl na sua teoria tem uma visão mais antropológica, mais completa do homem, busca complementar as dimensões psicofisiológicas com a dimensão espiritual, reconhecendo ser fundamental, com uma percepção aberta do mistério transcendente do ser e a sua dimensão humana profunda. O Deus apresentado por Frankl ou apresentado pela Teologia, é um Deus que vem em resposta aos anseios humanos, que toca o ser na sua essência e assim o leva a perceber que sua vida não tem somente a dimensão imanente, mas também transcendente. Finalizarei, considerando que a presença de Deus vem a responder os anseios presentes no ser humano que pela liberdade, busca responder de forma responsável a sua própria vida pautada na sua experiência de fé. PALAVRAS CHAVES: Presença de Deus; Viktor Frankl; busca de sentido.
ABSTRACT
This present project aims to reflect on God's presence and search for meaning from a philosophical, theological and psychological understanding of God's presence in man, identified in the transcendent or spiritual dimension. Discuss the issue based on the philosophical and theological: Rudolf Otto, Descartes, St. Tomás de Aquino and St. Agostinho, I seek to understand God's presence in human existence is the pursuit of affirming the essence of man as a being who is fully realized in relationship with God is in man a purpose that goes beyond the completion of its immanent reality. Through revelation, God comunicate to human and human being seeks to respond to this yearning present in your being. Later, I will reflect on the theory of the author and founder of Logotherapy Viktor Emil Frankl and the search for meaning and ignored the presence of God. Frankl in his theory has a more anthropological, more complete man, seeking complementary psychophysiological dimensions with the spiritual dimension, recognizing the fundamental´s man with an open awareness of the transcendent mystery of being and its profound human dimension. The God presented by presented by Frankl or theology is a God who comes in response to the yearnings human being touching and so in essence makes him realize that his life has not only the dimension immanent but also transcendent. Finalized, whereas the presence of God comes to meet the desires present in human freedom that seeks to respond responsibly to your own life guided in their faith experience.
Keywords: Presence of God; Viktor Frankl; search for meaning.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 A felicidade na perspectiva de Viktor Frankl......................................................... 49
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1 A PRESENÇA DE DEUS E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL ... 14
1.1 A busca do ser humano pelo transcendente e pela presença de Deus em
sua existência .......................................................................................................... 14
1.2 A condição humana e a busca por realização ............................................ 16
1.3 A dimensão transcendente do ser humano e a busca de sua unidade
primeira .................................................................................................................... 19
1.4 Deus no pensamento teológico filosófico e teológico dogmático ............ 22
1.5 Revelação de Deus ao homem ..................................................................... 25
1.6 Deus no inconsciente humano ..................................................................... 29
1.6.1 Síntese Biográfica de Viktor Frankl e o Deus no inconsciente ..................... 32
2 A BUSCA DE SENTIDO ..................................................................................... 35
2.1 A presença ignorada de Deus no ser humano ............................................ 35
2.2 O homem espiritual, dimensão noética segundo Frankl ........................... 39
2.2.1 Autotranscendência...................................................................................... 41
2.2.2 O inconsciente transcendente e a consciência ............................................ 43
2.3 Vazio existencial e a busca de sentido em Viktor Frank ............................ 46
2.4 Logoterapia, religião e Teologia ................................................................... 50
3 A EXPERIÊNCIA COM DEUS COMO RESPOSTA À BUSCA DE SENTIDO ... 52
3.1 O pensamento teológico e o pensamento Frankliano ............................... 54
3.2 Presença de Deus como sentido da existência humana. .......................... 57
3.3 O anseio humano por autotranscender, de encontrar-se em Deus .......... 61
3.4 Sentido espiritual da existência humana .................................................... 64
3.5 Deus e um sentido frente ao sofrimento humano ...................................... 67
3.6 A liberdade e a resposta do homem a Deus ............................................... 70
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 73
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 76
11
INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa abordaremos a questão sobre a presença de Deus e a busca
de sentido da vida em Viktor Frankl. Através de uma análise teológica, psicológica e
filosófica buscará subsídios para compreender que a busca do ser humano pelo
transcendente o auxilia a responder ao seu anseio por um sentido à sua vida, de que
forma a experiência da presença Deus vem significar situações existenciais do ser
humano.
Abordaremos a reflexão de alguns pensadores sobre a presença de Deus no
mais profundo do ser humano, e a condição própria do ser humano de buscar a
Deus, dado que a dimensão espiritual, transcendente é algo que diferencia
determinantemente o ser humano dos demais seres.
Percebendo a complexidade do ser humano e de sua busca de realização
como um ser integral, notamos que mesmo diante de tantas propostas de felicidade
e facilidade de meios que prometem garantia de uma vida plena, cômoda e
prazerosa, surge a dúvida. ―Como pode diante de tudo isto o ser humano se sentir
tão distante de si e muitas vezes com um profundo vazio existencial?‖ Qual é a
dimensão de Deus nesta resposta que venha descobrir uma adequada verdade
orientadora a toda a sua vida?
Sem dúvida, a percepção da realidade em que estamos inseridos nos leva a
refletir que, diante de tantas propostas e facilidades que os avanços tecnológicos, os
meios de comunicação e métodos diversos de auto-ajuda proporcionam, o ser
humano ainda se encontra tão distante de si, sentindo-se só e diante de algumas
situações difíceis que não consegue superar deseja encontrar no seu interior algo
que dê sentido às suas experiências e que o faça superar suas perspectivas. O ser
humano precisa e tende a perceber-se como um ser limitado, porém, com uma
essência que o leva a superar e almejar sempre algo a mais.
Quando buscamos compreender o ser humano não devemos deixar de
considerá-lo como um ser que se realiza de uma forma pessoal, mas também como
um ser Transcendente, onde busca sua unidade e a realização da sua totalidade.
Percebendo-se limitado, busca sua dimensão sobre-humana, como afirma o autor
Viktor Frankl, assim, a nossa própria vida carrega em si um sentido, a de restaurar a
nossa unidade primeira; por isso, buscar ampliar a nossa percepção da Presença de
12
Deus na interioridade do ser humano para compreendermos a realização do mesmo
através de sua dimensão espiritual.
Pensando nesta perspectiva, refletiremos sobre a presença de Deus no ser
humano, como um Deus presente mesmo quando o homem não se dá conta da
busca inata por Ele, e como a experiência do ser humano, nesta ânsia de encontrar
uma resposta vigente à sua existência, o auxilia a encontrar um por quê, como
afirma Frankl, com a frase de Nietzsche ―Quem tem um 'por que' enfrenta qualquer
'como'‖ 1.
É com grande apreciação ao autor Viktor Emil Frankl que se buscará discorrer
sobre os anseios humanos do Transcendente e a busca de sentido, o autor mesmo
afirma: ―a vida tem um sentido potencial sob quaisquer circunstâncias, mesmo as
mais miseráveis‖.
Analisar a realidade humana, perceber a dimensão transcendente, nos
remete, sem dúvida, a sempre mais compreender o ser humano como de fato
limitado na sua condição humana. Porém, com um impulso ao transcendente que o
impulsiona, a ponto de em certos momentos da vida, se apoiar a esta experiência
para fazer com que supere e encare a vida de frente, busque viver com sua
totalidade.
Com o intuito de refletir sobre este tema, e também com o anseio de perceber
a riqueza e a preciosidade com que Deus se revela ao ser humano e a busca deste
na relação com Deus, é que se procurará uma resposta para esta relação
indispensável com o transcendente.
No contato com a realidade constata-se que existem pessoas que se sentem
plenamente realizadas, mesmo em meio às dificuldades e experiências da vida, e
outras que não conseguem se sentir plenas, mesmo diante de boas condições,
caindo em depressões, suicídios, não conseguindo se relacionar de forma saudável
e positiva.
Algumas pessoas, aparentemente, são participantes de alguma denominação
religiosa, de algum grupo mais específico para o aprofundamento da fé, e mesmo
assim demonstram que esta experiência não traz resposta vigente aos seus anseios,
não conseguindo ter esta relação com Deus que vai além de uma crença herdada.
Em contraste, encontramos pessoas simples que, com pouco conhecimento e
1 Viktor Frankl. Em Busca de Sentido Um Psicólogo no Campo de Concentração. p.08
13
aprofundamento da fé, podem ter tanta clareza e encontrar força para superar as
dificuldade e serem inteiras.
Partiremos do pressuposto que o ser humano é um ser que por si só se
percebe incompleto e neste sentir-se incompleto busca um ser fora de si ao qual
dará de certa forma uma resposta, será o ponto de esperança frente a suas
limitações próprias de sua condição humana.
Após buscaremos alguns elementos na teoria do autor Viktor Frankl para
compreender a busca de sentido presente no homem, segundo a Logoterapia,
principalmente quando se faz referência à presença ignorada de Deus no ser
humano e a busca de sentido, finalizando assim o que compreendemos da busca do
ser humano pelo transcendente, esta experiência do homem com Deus, e como a
mesma pode auxiliar o ser humano na busca de sentido e de realização.
Para findar a pesquisa buscaremos compreender o que de fato a presença de
Deus, e a sua revelação ao Homem pode responder ao sentido da vida humana, nos
referindo que Este perpassa pelo sofrimento humano, pela liberdade para fazer que
o próprio sentido da vida humana seja compreendida e aderida pelo homem, sendo
Deus o centro de toda a existência, e o anseio de todo coração humano.
14
1 A PRESENÇA DE DEUS E A BUSCA DE SENTIDO EM VIKTOR FRANKL
Através de alguns autores, buscaremos compreender a presença de Deus,
partindo de algumas percepções filosóficas, teológicas e psicológicas de Deus e da
experiência humana com o Transcendente, buscando assim compreender a
presença de Deus na existência humana e a busca do homem pelo Transcendente.
Dando continuidade posteriormente abordaremos alguns elementos na teoria
de Viktor Frankl para compreender a busca de sentido presente no homem e à
presença ignorada de Deus no ser humano e a sua relação de Deus como este ser
presente no mais intimo do ser humano.
1.1 A busca do ser humano pelo transcendente e pela presença de Deus em
sua existência
A presença de Deus na existência humana é a busca de afirmar a essência
do homem como ser que se realiza plenamente na relação com Deus. E esta
relação dá sentido às demais experiências que o ser humano possa vivenciar neste
mundo, pois percebemos no homem um intuito de realização que vai além de sua
realidade imanente.
Sendo um ser que busca significar sua existência, há presente no homem de
todas as épocas e tempos da história, o anseio por algo que vale a pena, algo que o
leve a se sentir realizado em sua totalidade. Percebendo a harmonia presente no
universo e em tudo o que há em sua volta, e que não pode ser empiricamente
analisada e compreendida como um todo, por instigações e estudos científicos, o ser
humano percebe-se parte de um todo que não depende de sua interferência direta
ou indireta para manter-se, há uma força onipotente e onisciente que faz tudo
funcionar na sua devida harmonia, há uma fonte geradora de toda a vida imanente.
O anseio presente no ser humano tanto como resposta à vida e como
realização de seu ser como um todo, se realiza na relação que estabelece com
Deus, presença indagada por grandes pensadores, teólogos e filósofos. No fundo se
compreende, porém, que jamais será abrangida a grandeza e a totalidade de seu
mistério. Sobre isto Mondin (1997, p. 07) afirma
15
Ele (Deus) é a realidade primeira, fundamental, onipresente e onicompreensiva, que nos tira do nada com um puríssimo ato de amor, e com igual amor nos mantém no ser. Para Deus, pois, que corre espontâneo e insistente o nosso pensamento; para ele corre insaciavelmente, como a ―corça pra a nascente da água‖, porque dele pouco sabemos, apesar de a historia das religiões e da humanidade ter colecionado tantas mensagens a seu respeito.
A presença de Deus no ser humano, o faz transcender de suas condições
humanas percebendo que a fonte primeira de onde provém uma resposta vigente
para o sentido de sua vida, não é de dimensão meramente humana mas transcende,
vai além, ultrapassa as realidades existentes e dá esperança à realidade futura,
dando as experiências desta vida sempre a possibilidade de se apoiar em Deus, a
fonte de perfeição que acolhe e dá o sentido verdadeiro às experiências humanas.
Deus se auto-comunica ao ser humano pela revelação, e o ser humano que
por Ele é atraído, busca responder a este anseio presente em seu ser, pois a
experiência religiosa, mais do que ser uma experiência a respeito de Deus é
sobretudo algo que parte de Deus.
De fato, desde o início dos tempos, na criação e nos relatos bíblicos, Deus
usa toda a sua ação criadora no ato de criar o homem à sua imagem e semelhança
e esta iniciativa primeira, e gratuita vem da parte de Deus, sendo que Deus não
precisava criar o homem, mas se sente impelido a partilhar o seu Dom de ser,
criando a obra prima da criação, o homem.
No decorrer da história da salvação, desde o Antigo Testamento até os
nossos dias, a intervenção Divina decorre em todos os aspectos da história. Deus
afirma constantemente a sua atividade criadora recriando o homem e todo o
universo, portanto há uma experiência criadora atuante e contínua na história do ser
humano, a qual precede a existência dele, dado que Deus existe desde toda a
eternidade.
A auto-revelação de Deus, manifestada a Moisés: ―Eu sou o Senhor teu
Deus‖ (EXÔDO, 20:2), expressa a presença de Deus e mais do que entender o
homem como mera criatura dependente do criador, percebemos com que zelo o
próprio Deus o cria à sua imagem e semelhança e quer ―ser o seu Deus‖, fazer parte
da relação deste ser criado, e esta relação é pautada na liberdade inscrita em todo
coração humano. Sobre isto Gomes (1987, p. 55) cita uma frase de Pascal bem
propícia para reafirmar a idéia: ―Consola-te, não me procurarias se já não me
houvesses achado.‖
16
O ser humano é uma oscilação da realização e da busca profunda de ser.
Com esta expectativa, serão abordados temas que auxiliarão na compreensão da
dimensão humana e espiritual transcendente do ser humano e da presença de Deus
na sua essência, para buscarmos compreender como a presença de Deus pode dar
resposta à busca de sentido presente no homem.
Esta iniciativa de busca parte de Deus, pois antes de o homem procurar,
Deus se deixa encontrar pelo homem e já está à porta de seu coração para entrar:
―Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei
em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.‖ (APOCALIPSE, 3:20).
Sobre isto Leonardo Boff (1974, p. 9) afirma que ―quem busca sempre
encontra Deus, porque se dá conta de que sempre estava nele antes mesmo de
buscá-lo [...] o mistério de Deus é a raiz de nossa própria vida‖, ficando assim
presente que é suscitado por Deus no homem esta busca pelo infinito que é Ele
próprio e de certo modo poderíamos afirmar que, existe no coração humano a eterna
saudade do criador que o formou e o sustenta, mesmo quando por liberdade o
homem não quer entrar em relação com Deus, mas Deus continua buscando o
homem, pois ―Deus não pode negar-se a si mesmo‖ (II TIMOTEO, 2:13).
1.2 A condição humana e a busca por realização
Cada vez mais o homem moderno envolvido nas possibilidades existentes no
mundo tecnológico, massificante e utilitarista, busca fora de si a realização de seu
ser, ansiando por algo externo, que também não sacia a sua busca. Lança-se
novamente a outra busca muitas vezes material e individualista, fechando-se em seu
egoísmo e perdendo cada vez mais as relações saudáveis e necessárias de seu
vínculo afetivo e existencial.
O ser humano distancia-se de sua crença religiosa ou a busca como
realização meramente sensível e emotiva, onde por certo, diante das dificuldades e
diferentes situações da vida, estas poderão não dar o suporte necessário para que
transcenda e supere tais situações. O auxiliando a fazer um caminho de fé sem
perder de foco que sua vida vai além destes fatos, e se deixando cair assim em
17
depressões, suicídios, drogas, vícios e demais situações presentes na humanidade
atual.
A realidade e a condição própria do ser humano caracterizam-no como um
ser que por liberdade tem a capacidade de realizar-se, sendo o protagonista de sua
vida, pautando-a em valores morais, éticos e buscando ser sensível à lei natural
como: não matar, não roubar, enfim, procurando uma vida harmoniosa socialmente;
com isto poder-se-ia afirmar que de fato deveria se sentir realizado. Porém, sabemos
que, nem sempre vivendo todos estes pressupostos, o ser humano se sente pleno
em sua totalidade de ser.
No decorrer da história muitos pensadores buscaram compreender o Homem,
como ser diferente dos demais seres. Como se percebe, este ser, que é capaz de se
tornar protagonista de sua existência, diferencia-se dos demais seres, pois faz
indagações a si mesmo e a respeito da realidade que o cerca, na busca de fazer
com que sua existência se torne significativa e venha a dar respostas vigentes para
toda a sua existência, à questões essenciais como: quem sou? De onde vim e para
onde vou?
Um aspecto determinante que caracteriza o ser humano como diferente dos
demais seres é a capacidade de perceber e dispor-se com o uso da razão a
empreender na relação com o transcendente, perceber que sua vida tem uma
dimensão além do aqui e do agora.
O homem é constituído de duas dimensões: a material ou imanente, e a
espiritual ou transcendente, sendo que ambas influenciam determinantemente em
sua vivência, porém ele é constantemente um buscador da verdade e visa que esta
venha a significar as experiências concretas de sua vida como relacionamentos,
dinâmicas internas como fases da vida e do amadurecimento humano e também de
dinâmica espiritual (JULIATO, 2012, p. 33).
A busca desta verdade pode ser direcionada tanto pela dimensão imanente
como pela transcendente, porém é claro que mesmo sendo caminhos diferentes
estes caminhos não são autoexcludentes, mas sim complementares, pois todo e
qualquer caminho que seja traçado pelo homem visa a sua realização como um ser
em sua totalidade, de natureza imanente e sua busca inata pela relação com o
transcendente, ou seja, sua natureza transcendente.
Para Descartes na modernidade, ele como representante do racionalismo,
afirma, em sua terceira Meditação sobre o Homem, que ―o homem é uma coisa que
18
pensa‖ (DESCARTES, 1973, p. 99). Assim é caracterizado o homem para
Descartes, como uma coisa capaz de conhecer toda a natureza, pois ele não tem a
mesma natureza que as outras coisas.
Sendo distinguido assim dos demais seres, pela sua capacidade do uso da
razão utiliza de suas capacidades para intervir no meio em que se encontra,
podendo conhecer a natureza, avaliar diferentes elementos e transformar o meio e
os objetos segundo as suas necessidades, aperfeiçoando-se e ampliando seu
campo de percepção sobre sua existência e tudo o que existe, afirmando assim que
o homem se envolve com tudo o que o cerca tendo um amplo e variado campo de
relações.
Na perspectiva de um ser, que diante dos demais seres tem esta capacidade,
surgem-nos alguns questionamentos, diante de uma realização financeira, moral e
ética, e o homem usufruindo de suas capacidades mentais, racionais para
desenvolver-se tecnológica, psicológica, e cognitivamente, perguntamo-nos: O que
falta para o ser humano alcançar a felicidade tão almejada? Qual é a dimensão que
o leva a perceber-se incompleto na natureza mais profunda de seu ser? Podemos
chamá-la de unidade primeira? Realidade transcendental? E dentro desta realidade
qual seria a dimensão da presença e revelação de Deus no ser humano?
O homem percebendo-se limitado, busca sua dimensão sobre-humana, como
afirma Viktor Frankl2; assim, a nossa própria vida carrega em si um sentido, a de
restaurar a nossa unidade primeira; por isso, buscar ampliar a nossa percepção da
presença de Deus na interioridade do ser humano, leva-nos a refletir como afirma
Gomes (1987, p. 37) que:
[...] nas pessoas, há uma instância que jamais poderá ser contaminada por qualquer enfermidade, por mais grave que seja; a crença que a pessoa é chamada à vida para ser responsável e muito mais para dar de si do que para tirar da vida qualquer coisa.
O ser humano precisa e tende a perceber-se como um ser limitado, porém,
com uma essência em si mesmo que nada e nem ninguém diminui em sua
dignidade, que o leva a ultrapassar e almejar sempre algo que o faça superar-se, há
no ser humano busca de algo além do que meramente buscar-se em si mesmo,
2 Viktor Emil Frankl (Viena, 26 de março de 1905 — 2 de setembro de 1997) foi um médico e psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Disponível em: < http: // www. logoterapiaonline. com. br/ pages/ normal/ viktor.php>. Acesso em: 14/02/2012. Serão feitos relatos biográficos do autor posteriormente.
19
leva-o a projetar-se com ênfase, acreditando nas suas possibilidades, uma crença
na qual vale a pena investir a sua existência.
Quando não busca possibilitar-se a um futuro mais próspero, a uma realidade
que vai além de todas as decepções presentes no mundo, sendo estas no âmbito de
relações, trabalho ou de nível pessoal, tende a se frustrar. O ser humano
desenvolve-se com novas qualidades, possibilidades diante dos desafios presentes
e percebendo algo que, segundo a sua percepção, é de suma importância e
resignifica todas as suas expectativas sem perder a esperança no mundo presente.
Esta percepção de que há em si alguma coisa é que o leva a projetar-se e
compreender-se em Deus, e perceber que somos intrinsecamente um em Deus, ou
seja, somos de tal forma envolvidos com o Transcendente que nos encontramos
Nele. Este mesmo Deus que habita em nós leva a buscá-lo, e de fato compreendê-lo
dentro de nossos limites da razão, quando se dá a revelar-se, e isto acontece, na
realidade humana, através de grandes enfoques teológicos ou no cotidiano de nosso
existir.
O ser humano então é intrinsecamente atraído por Deus, e encontra em Deus
sua essência, e a resposta para as experiências de sua vida. Para refletirmos sobre
este tema aprofundaremos os seguintes conceitos: A dimensão transcendente do
ser humano, através de um breve enfoque no pensamento teológico filosófico sobre
Deus, a unidade primeira do ser humano e Revelação de Deus ao Homem.
1.3 A dimensão transcendente do ser humano e a busca de sua unidade
primeira
Compreender o ser humano é levar em consideração a sua dimensão
subjetiva, social, psíquica, mas também, considerar que há nele algo que o leva a
perceber que sua vida vai além de sua realidade humana, algo ―sobre-humano‖ que
envolve a si próprio e as demais realidades que o cercam.
Podemos afirmar que somente o ser humano tem a capacidade de
transcender, e comumente compreende-se transcender como ir além do ordinário;
em Filosofia é algo fora do alcance da ação ou do conhecimento. Segundo certos
filósofos, o real é transcendente ao pensamento (AURÉLIO, 2012), mesmo que
20
alguns venham afirmar que esta realidade é criação humana, não há como negar
que há uma força vital que move o universo, uma força primeira que gera todas as
demais coisas criadas.
O homem pode conhecer a existência de Deus por dois caminhos: um, natural, e o outro sobrenatural. O caminho natural para conhecer a Deus tem como ponto de partida a criação, quer dizer, as coisas que nos rodeiam. Somente com a luz da razão, o homem sabe que nem as coisas nem ele tem em si mesmos a razão de ser, porque tiveram princípio e terão fim: são seres contingentes, seres criados e dependentes. Por isso, através do que foi criado, o homem pode chegar ao conhecimento da existência de Deus, Criador, Ser necessário e eterno, causa primeira e fim último de tudo. (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1993)
O homem não é marcado simplesmente pela finitude, pela contingência, e
pelos instintos como os demais seres. Ele se distingue pela auto-transcendência. O
homem é um ser profundamente excêntrico (encontra-se fora de seu centro); está
submetido a um profundo estímulo para superar-se, ir adiante, para avançar em
direção ao infinito e ao eterno. Aspira uma realização de si mesmo que seja plena,
total e definitiva, mas não tanto na ordem do ter, do prazer e do poder, quanto na
ordem do ser.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) escreveu: ―o homem sente o ardente
desejo de viver para sempre, de jamais morrer‖. Ao mesmo tempo que o homem se
compreende como um ser que visa algo a mais, se apega às coisas temporais, dado
que a busca de segurança faz parte da condição humana, e isto não só como
realização de suas condições limites da humanidade mas também, como plenitude
do ser Homem; não encontra sua realização em conceitos expressos por grandes
filósofos ou teorias, mas pode atingi-la na dimensão espiritual, isto é no mundo de
Deus.
Este ―Algo Além‖ do humano, pode ser designado como transcendente, desde
o pensamento aristotélico, vem se afirmando, que há no ser humano um ―elemento
divino‖, na mesma medida em que ultrapassa no todo que constitui o homem, torna-
o virtuoso e bem-aventurado. Spinosa (1636-1677) dizia que a essência do homem
é constituída por certas modificações dos atributos de Deus. Fichte aponta como
tarefa do homem adequar-se à unidade e à imutabilidade do Eu absoluto de Deus.
Para Hegel (1807, p. 427) o homem é essencialmente Espírito e o Espírito é
Deus: ―[...] conquanto considerado finito por si mesmo, o homem é também imagem
de Deus e fonte da infinidade em si mesmo, pois é o fim de si mesmo e tem em si o
valor infinito e a destinação à eternidade.‖
21
Se o homem possui uma compreensão pré-ontológica do ser de Deus, ela
não lhe foi conferida pelos grandes conceitos e especulação científica ou do
conhecimento humano, mas vem de Deus, e tem nele valor e objetivo supremo da
transcendência, pois o conhecimento humano por mais que amplie-se a cerca de
diferentes áreas do conhecimento jamais conseguirá compreender o mistério de
Deus e da existência humana em sua totalidade. A razão humana representa o limite
permanente a partir do qual o homem se anuncia àquilo que ele compreende ser,
mas jamais compreenderá o seu Ser homem, que é tender para Deus, e encontrar-
se em Deus, ou, se preferirem, o homem é desejo fundamental de ser Deus
(HEIDEGGER)
Sobre a relação humana com o sagrado Rudolf Otto (1917) afirma que há no
ser humano uma atração pelo ser Numinoso (este fazendo referência a Deus) que
ao mesmo tempo em que o homem o percebe inatingível pela razão, dando-se conta
de sua nulidade frente ao sagrado o homem é tomado pelo medo a primeiro
momento o homem se desorienta, mas o homem sente uma atração pelo sagrado.
Afirma o seguinte:
Sob o aspecto, o numinoso é mysterium fascinans; enquanto sob o aspecto da força e da transcendência, que incutem terror, é mysterium tremendum. Diante do numinoso, percebido como ―santo‖, como ―totalmente outro‖, nasce o sentimento de infinito respeito por um objeto dotado de valor absoluto. (OTTO, 1917)
Na busca de encontrar-se nesta tendência de ir além dos seus limites como
um impulso para o infinito, só tem um sentido porque vai em direção a Deus. Só
então esta tendência ilimitada para o autotranscender é satisfeita, a nossa
orientação para o mistério do amor e do temor reverencial é efetivada.
Podemos então, perceber que no ser humano em sua totalidade há um
resquício de ser transcendente. Afirmar então que de fato o ser humano percebe
dentro de si este impulso ao transcendente como um apelo intrínseco de sua
realidade, é perceber que mesmo sendo um ser com limites e variantes no decorrer
de sua vida, ele encontra sua essência e o centro de sua vida quando busca
relacionar-se com Deus, dado que em Deus encontra-se o centro da pessoa
humana.
No decorrer da história, principalmente quando se trata de Filosofia, muitos
filósofos de renome dialogaram sobre Deus, alguns até afirmaram que Deus morreu
como, por exemplo, Nietzsche (1985), mas percebemos que com o intuito de negá-lo
22
se acaba afirmando a sua existência, pois não precisamos dialogar sobre algo que
não existe e se o tentamos é por que de fato isto ainda causa em nós dúvida de sua
não existência.
O ser humano só pode ser compreendido, quando contemplado como um ser
que se realiza de forma pessoal, e também como um ser transcendente, onde
constantemente busca sua unidade e realidade transcendental. Para Santo
Agostinho (citado por NODARI, 2011, p. 151),
O homem é um ser que busca compreender-se. O homem é o único ser vivo que pergunta por sua própria natureza e se coloca a si mesmo como problema. Ele tem consciência de sua grandeza e de sua fragilidade. Talvez se possa afirmar que a grandeza do homem esteja justamente em reconhecer sua fraqueza.
Por este motivo o ser humano de forma mais notória se diferencia dos demais
seres também pela sua sensibilidade de captar experiências e torná-las sensíveis e
significativa estabelecendo relações com as mesmas quando passa por situações
semelhantes, propondo-se problemas e formulando perguntas sobre as estruturas,
sobre as origens e procurando respostas vigentes.
1.4 Deus no pensamento teológico filosófico e teológico dogmático
Pensar em Deus na verdade é um intuito de compreendemos Deus como um
problema, pois todo o conhecimento sobre Deus é limitado pelo conhecimento
humano, podemos afirmar que o problema de Deus é o próprio problema do homem
e do sentido de sua vida, pois neste ser o homem busca se compreender e busca
argumentos que o auxiliem a responder o seu ser e a sua existência na sua
totalidade, e encontrar uma resposta que perpasse toda sua existência. (MONDIN,
1997, p. 05)
Para abordarmos este tema refletiremos o ponto de vista da Teologia
filosófica3 e da Teologia dogmática, pois iremos acercarmos tanto da questão da
3 Embora a teologia filosófica tendo em comum com a Filosofia da Religião, com a História das
Religiões, com a Teologia Dogmática e com a Metafísica o mesmo objeto material (Deus), a Teologia Filosófica distingue-se delas pelo objeto formal. Enquanto a Teologia Dogmática (ou sobrenatural, revelada) estuda Deus partindo de Deus mesmo, da sua auto-revelação e, portanto, mediante a luz da fé, a Teologia Filosófica estuda Deus partindo das criaturas, da realidade humana e de tudo o que acontece neste mundo, e o seu único instrumento cognitivo para se aproximar de Deus, o faz somente de uma maneira (MONDIN, 1997, p. 11-12).
23
Revelação (Teologia Dogmática), como da realidade humana. Para estudarmos, ou
melhor, buscarmos aprofundar a questão de Deus, devemos de forma muito sincera
afirmar como Mondin (1997, p. 25): ―A ele (Deus) se chega mais facilmente com o
coração do que com a mente. Para chegar a Deus com a mente o homem deve
cultivar sobretudo três disposições: pureza de visão, senso de admiração e virtude
da humildade.‖
Para os pensadores filósofos, Deus é o princípio que torna possível o mundo
ou o ser em geral, fonte ou garantia de tudo o que há de excelente no mundo,
sobretudo na realidade humana. Pela Metafísica busca-se mostrar que Deus é o ser
que se auto-sustenta e é também o último fundamento dos entes.
Para começar a pensar em Deus temos que compreender a afirmação de
Xavier Zubiri, para quem pensar em Deus é pensar no problema teologal do ser
humano e este tema não diz respeito somente ao conteúdo do saber sobre Deus,
mas sim que é o problema radical de Deus para o homem de hoje (ZUBIRI, 2002, p.
13)4. E este problema cabe de certa forma aos crentes em Deus, pois se fosse falar
de Deus para um ateu não seria um problema dado que não crê na existência dele.
O problema de Deus é problema essencial do homem que dá clareza a todos
os demais aspectos da sua existência: à Ética, ao Direito, à Economia. Deus, como
disse Pascal, ―é uma aposta que precisamos encarar‖. Segundo Kant, o conceito de
Deus é o mais difícil de compreender, mas também o mais inevitável para a razão
especulativa humana. A mesma convicção já havia sido expressa, muitos séculos
antes. Mondin (1997, p. 05) relata que Platão já afirmava que: ―é de capital
importância um pensamento correto sobre os deuses, se quiser conduzir bem a
própria vida.‖
Para os filósofos, Deus é ato puro. Santo Tomás de Aquino (1980, p. 17)5
introduz a distinção entre o ser e a essência dividindo a Metafísica em duas partes: a
do ser em geral e a do ser pleno, que é Deus. De acordo com essa distinção, o
único ser realmente pleno, no qual o ser e a essência se identificam, é Deus. Deus
então é o Ser que existe como fundamento da realidade das outras essências que,
uma vez existentes, participam de seu Ser. Isso equivale afirmar que são criaturas, e
nelas o ser é diferente da essência, pois pelo fato de serem criaturas são seres não
5Cfr. Suma teológica. Vol.I. Questão II- Artigo II, p. 17.
24
necessários. É Deus que permite às essências realizarem-se em entes, em seres
existentes.
Outros aspectos importantes da Filosofia tomista são as provas da existência
de Deus. Em um de seus mais famosos livros, a ―Suma Teológica,‖ de 1225, São
Tomás de Aquino propõe cinco provas da existência de Deus:
1. O primeiro motor: tudo aquilo que se move é movido por outro ser. Se não
houvesse um primeiro ser movente, cairíamos num processo indefinido, logo
é necessário chegar a um primeiro ser movente que não seja movido por
nenhum outro e este ser é Deus.
2. A causa eficiente: todas as coisas existentes no mundo não possuem em si
próprias a causa eficiente de suas existências. Devem ser considerados
efeitos de alguma causa. São Tomás afirma ser impossível remontar
indefinidamente à procura das causas eficientes. Logo, é necessário admitir a
existência de uma primeira causa eficiente, responsável pela sucessão de
efeitos. Essa causa primeira é Deus.
3. Ser necessário e ser contingente: este argumento é variante do segundo.
Afirma que todo ser contingente, do mesmo modo que existe, pode deixar de
existir. Mas, se assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não
existe somente começa a existir em função do que já existia. É preciso
admitir, então que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente
necessário, que não tenha fora de si à causa da sua existência, mas ao
contrário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes.
Esse ser necessário é Deus.
4. Os graus de perfeição: em relação a qualidade de todas as coisas existentes,
pode-se afirmar a existência de graus diversos de perfeição. Assim,
afirmamos que tal coisa é melhor que outras, ou mais bela, ou mais poderosa,
ou mais verdadeira etc. Ora, se uma coisa possui mais ou menos
determinada qualidade positiva, isso supõem que deve existir um ser com o
máximo dessa qualidade, no nível da perfeição. Devemos admitir, então, que
existe um ser com o Máximo de bondade, de beleza, de poder, de verdade,
sendo, portanto, um ser Máximo e pleno, e este é Deus.
5. A finalidade do ser: todas as coisas brutas, que não possuem inteligência
própria, existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo, uma
finalidade, semelhante à flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir,
25
então, que existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas da natureza
para que cumpram seu objetivo e este ser é Deus.
1.5 Revelação de deus ao homem
A autorevelação de Deus ao homem pode ser direta ou indireta, pessoal, ou
impessoal, através da natureza ou através da História. Deus está sempre presente
na realidade humana. Como afirma Latourelle (1981, p. 5):
Rompeu Deus o silêncio: saiu de seu mistério, dirigiu-se ao homem e desvendou-lhe os segredos de sua vida pessoal; comunicou-lhe seu desígnio inaudito de uma aliança que levasse a uma participação de vida.
O encontro dado pela revelação vem da autoridade divina e sua revelação
exige o homem voltado para esta relação, deixando ao homem a liberdade de abrir-
se ou não.
A revelação é o mistério primordial, o que nos comunica todos os outros, pois é a manifestação do desígnio salvífico de Deus, premeditado desde toda eternidade que ele realizou em Jesus Cristo. (LATOURELLE, 1981, p. 05)
A revelação de Deus ao homem é o acontecimento decisivo, pois leva o
homem a perceber-se na sua dimensão transcendente, e para que isto aconteça é
indispensável a opção da fé feita pelo homem. Esta opção de fé não será um
caminho que se faz às escuras mas sim na capacidade de aderir a esta revelação
divina com a resposta da fé dada por sua capacidade racional e de forma livre sendo
que a liberdade identifica o homem como um ser capaz de relacionar-se e participar
ativamente nesta relação de revelação e resposta de fé.
Na Teologia nada se explica que não seja pautada à luz da Revelação divina;
tudo a ela se refere. Por este fato parece ser algo tão paradoxalmente implícita, tão
evidente como verdade e certa que precisam ser explicitadas, como auxílio à
resposta mais consciente e responsável.
Assim se parte da fé, para uma inteligência da fé. No cristianismo se apoia a
Sagrada Escritura como fonte inspirada e na Igreja como instituição divina. “Fides
quaerens intellectum: é uma busca do espírito, uma prospecção do mistério já aceito
na fé.‖ (LATOURELLE,1981, p. 07)
O importante escreve Baillie (1956), citado por Latourelle (1981, p. 8):
26
[...] é que haja correspondência total entre a inteligência da revelação e a inteligência da fé que a recebe.‖ Fé e revelação, sendo noções corelativas, como palavra e resposta, uma reflexão sobre a revelação necessária haverá de fecundar e vivificar uma teologia da fé.
Dado que a revelação é mais do que um fato é um mistério divino, onde Deus
fala, e intervém, Jesus Cristo foi a sua forma mais densa de intervenção na história
humana, revelando-nos que a revelação sempre existiu no decorrer da história mas
que como seres humanos ela não se revela e se realiza em nós em sua plenitude,
ou seja, ela existe mas ainda não podemos descobrir tudo o que ela é, pois parte do
Mistério que é Deus. O homem se dispõe a fazer caminhada de fé frente ao mistério
de Deus, usando suas capacidades de conhecimento, e de experiências para buscar
ampliar sua relação com Deus, mas ciente que esta será de sua parte sempre
limitada.
A resposta do homem na sua essência, porém, é a fé e esta é fundamental ao
homem diante de Deus: ―Crer em Deus não é somente crer na existência, mas
repousar nele como um sustentáculo inabalável, é refugiar-se nele como num asilo
seguro, é tender a Ele como ao próprio fim último.‖ (TORINO, 1964, p. 233)
O ato de crer em Deus leva o ser humano, colocar suas expectativas neste
Deus que segundo a sua crença mesmo que não interfira da forma da qual o homem
espera mesmo assim continua a dar resposta frente às situações da vida. E
Denzingher (1789) confirma isto dizendo que a fé é:
[...] uma virtude sobrenatural, graças à qual, sob a inspiração e o auxílio da graça de Deus, acreditamos como verdadeiro aquilo que Deus nos revelou, não apoiando sobre a verdade íntima colhida com a luz da razão natural, mas sobre a autoridade de Deus mesmo que o revela, o qual não pode enganar-se nem enganar.
Para tanto se faz necessário refletir sobre o papel da fé na revelação de Deus
dado que esta é a resposta do homem a Deus. A fé é uma das noções mais
profundaS da Sagrada Escritura, pois esta fé se traduz na obediência, confiança,
fidelidade e perseverança. Já no Novo Testamento a fé aparece como resposta
adequada do homem à revelação de Deus que manifesta seu plano de salvação em
Jesus.
Esta revelação apresentada por Cristo é um convite a todos os homens para
estar em comunhão de vida com as Pessoas Divinas. O homem aceita o convite de
Cristo por meio da fé. Nos Evangelhos sinóticos ter fé significa reconhecer em Jesus
o salvador messiânico (MATEUS, 27: 42; MARCOS, 1: 5-32), que age com o poder
27
de Deus para salvar os homens. Sendo assim, a fé é uma resposta do homem ao
kerigma e ao testemunho dos Apóstolos. Neste sentido crer significa aceitar a
mensagem evangélica e aderir inteiramente a Cristo e ao seu projeto.
Crer é um ato de submissão da inteligência e da vontade do homem todo, a
Deus que salva e às exigências da salvação. É uma conformidade da mente e do
coração. A fé, portanto, é uma obediência ao Evangelho:
O Evangelho que eu anuncio é a mensagem de Jesus Cristo revelação de um mistério envolvido em silêncio desde os séculos eternos, agora, porém manifestado [...] dado a conhecer a todos os gentios para elevá-los a obediência da fé [...] ( ROMANOS, 16: 25)
Há um aspecto de confiança e doação na fé, mas também um aspecto
intelectual, pois crendo deve-se reconhecer a verdade de Cristo6 e a sua
ressurreição7 Porém, a fé permanece sempre um dom de Deus: para crer é preciso
a iluminação divina8 por conseguinte, a fé na Sagrada Escritura encerra os seguintes
aspectos: (1) Um aspecto intelectual: admite como verdadeiro tudo o que o Pai
revela no seu Filho através dos Apóstolos; (2) Um aspecto afetivo: confiança e
adesão total a Cristo. (3) Um aspecto efetivo: orientar a própria conduta segundo as
exigências da salvação: a obediência da fé.
Para tanto, é preciso a obediência da fé a Deus que se revela, pela qual:
A Deus que revela é devida a ―obediência da fé‖ 9 pela fé, o homem
entrega-se total e livremente a Deus oferecendo ―a Deus revelador o
obséquio pleno da inteligência e da vontade‖10
e prestando voluntário
assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá ―a todos a suavidade em aceitar e crer a
verdade‖11
. Para que a compreensão da revelação seja sempre mais
profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons (JOÃO PAULO II, 1967, DEI VERBUM. n° 05)
O ser humano é chamado a dar de forma voluntária o assentimento à
revelação feita por Ele, e correspondê-la pela ação da graça. Para que se
comunique esta fé, exige-se a graça prévia de Deus e os auxílios internos do
6 (1ª CARTA A TIMÓTEO, 2:4)
7 (ROMANOS, 10: 9-10).
8 (2° CARTAS AOS CORINTIOS, 4:5-6).
9 (ROMANOS. 16:26; ROMANOS. 1:5; II CORINTIOS. 10: 5-6).
10 Cfr. II Concílio Niceno, Denzingher. 303 (602); IV Concilio Constantinopolitano, sess. X, can. 1:
Denz. 336 (650-652). 11
Cfr. Concílio Vat. I, Const. dogm. De fide catholica, Dei Filius, cap. 4: Denzingher.1800 (3020).
28
Espírito Santo, tornando sempre mais profunda a compreensão da revelação e
aperfeiçoando continuamente a fé por meio de seus dons.
Desde o período patrístico, ao se visualizar a teologia que se encontrava
envolvida no contexto helênico, vemos a sua busca de aperfeiçoamento. A Patrística
conta com dois princípios: “Intellige ut credas, crede ut intelligas” – crer para
entender, entender para crer, ideal amplamente desenvolvido por Santo Agostinho.
Não há separação entre fé e razão. Para esse fim foi desenvolvida uma linguagem
simbólica (evocativa). Desde então sempre houve iniciativas, discussões e preleções
com o objetivo de harmonizar fé e razão, para dar ao homem contemporâneo as
condições de responder aos apelos mais profundos de sua existência, sobre a fé e
razão é afirmado pela Igreja católica através de seu representante Papa, João Paulo
II, na Carta Encíclica Fides et Ratio, de João Paulo II (1998, p. 5)
A razão e a fé constituem como duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecera verdade e, em última análise, de conhecer a ele, pra que, conhecendo-o e amando-o, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio.
É pelo uso correto da razão que o homem se descobre e se realiza, encontra
o sentido para existir. O conhecimento é inerente ao homem, único ser criado que
possui a capacidade intelectiva. A razão lhe confere grande potencial de conduzir a
si e aos outros. A procura pela verdade, que somente pode ser obtida com o auxilio
da razão, faz do homem um ser que não se satisfaz facilmente e procura sempre
mais abarcar os mais recônditos mistérios da verdade. Mondin (1987, p.03) afirma
isso citando São Tomás de Aquino:
A razão é uma ajuda propícia para conhecer mais facilmente determinado objeto e com maior certeza aquelas verdades que, por si, estão agrupadas, e para tornar-lhe acessíveis aquelas verdades sobrenaturais que superam toda a sua capacidade.
Santo Tomás de Aquino reconhece a autonomia da razão, mas não admite o
fato de que ela sozinha seja capaz de penetrar nos mistérios de Deus, apesar de ser
Ele a sua finalidade. Ele enxerga a razão como uma luz concedida por Deus ao
homem, para que este alcance a ―ciência do bem e do mal.‖ (MONDIN, 1987, p.21)
De fato, o ser humano foi criado por Deus com uma grande capacidade
reflexiva que o permite elaborar, metodicamente, pensamentos com os quais conduz
a humanidade para onde quer, levando-a a um progresso profícuo ou a um retorno
ao caos.
29
A fé é o ato de aceitar algo que não é evidente, que não está explícito,
contudo torna-se racionalmente aceita se fundamentada com premissas coerentes.
A fé proporciona a razão obter com maior agilidade e credibilidade o seu objetivo, a
verdade. Por mais que a razão se esforce para provar determinadas proposições,
somente a fé é capaz de lhe conceder a aceitação de que não pode obter tudo o que
quer.
A razão orienta a ciência para a tentativa de descobertas de questões
emergentes que se afloram ao longo do desenvolver da humanidade. A fé é para os
que creem uma luz que os ilumina em momentos difíceis, fazendo-os aceitar muitas
questões que o homem não é capaz de solucionar.
1.6 Deus no inconsciente humano
Como anteriormente comentamos, para compreender o ser humano temos
que contemplá-lo em sua totalidade. Não se poderia deixar de lado a dimensão
psicológica do Homem e assim, de Deus no inconsciente do ser humano. A
Psicologia da Religião dar-nos-á um fio norte para que reflitamos posteriormente
sobre a presença de Deus.
Deus se revela na dimensão inconsciente do homem. O encontro de Deus
com o homem, apresentado pela Psicologia, se refere a uma idéia que a psique tem
de Deus, este Deus como algo conhecido, experimentado, sentido, intuído,
representado ou formulado por uma pessoa.
Esta experiência ou percepção de Deus sofre alterações ao longo da vida do
indivíduo, devido à própria etapa da vida em que o indivíduo se encontra, e de certa
forma sofre diferentes percepções muitas vezes sendo de âmbito subjetivo, levando-
nos a questionar quanto a sua autenticidade ou até mesmo as possíveis distorções,
dado as suas abstrações pautadas em experiências e percepções conceituais
subjetivas.
Esta experiência foge de qualquer aspecto dogmático, teológico ou doutrinal,
pois não apresenta limitações conceituais pré-estabelecidas e previamente
comprovadas. A experiência, ou percepção da imagem de Deus aparece aos
psicólogos como um continuado a revelar-se dentro e através da psique ou
30
entendido com uma linguagem mais cristã através da alma, como afirma Hillman
(1985, p.39).
A primeira coisa que o paciente procura no analista, é fazê-lo consciente de tudo o que o faz sofrer, levando-o a seu mundo de experiências. Experiência e sofrimento são palavras de há muito associadas à alma. ―Alma‖, entretanto, não é um termo científico, sendo hoje em dia raramente utilizado em psicologia [...] Os termos ―alma‖ e ―psique‖ podem ser utilizados alternadamente, embora a tendência seja escapar à ambiguidade do termo ―alma‖, recorrendo-se à ―psique‖ por ser mais moderno e biológico. ―Psique‖ é empregado como fato natural concomitante à vista física, sendo talvez redutível. Alma, por outro lado, apresenta sobre tons românticos e metafísicos, compartilhando suas fronteiras com a religião [...]
Poderíamos com o mesmo autor, afirmar que a alma teria um atributo mais
simbólico, por amparar um fator humano desconhecido que faz possível a existência
de significados, que transforma fatos em experiências e que se comunica através do
amor.
Sobre isto afirma:
[...] de que forma a análise profunda conduz a alma, e como esta por sua vez, envolve inevitavelmente a análise com a religião mesmo com a Teologia, visto que a religião vivida como experiência nasce da psique humana, sendo por causa disso um fenômeno psicológico.
(HILLMAN,
1985. p.42)
Poderíamos afirmar que o inconsciente guarda na memória como um
programa interno que possui uma linguagem própria, utilizando-se de metáforas, e
não usa dados da razão reais ou não para avaliá-las. Para que esta venha a
desenvolver-se basta uma emoção, associá-la a outra situação vivida, ou muitas
vezes pensamentos, úteis, reais ou não.
O inconsciente, que está diretamente relacionado com todas as nossas
experiências ou fatos que no momento no que veio ocorrer, nem sempre o
percebemos. Todos os nossos atos de certa forma, guardam em si uma dimensão
da inconsciência, pois mesmo que seja um ato comum do nosso dia a dia, o
realizamos sem estar com plena consciência. Por exemplo, o ato de escovar os
dentes, dirigir um carro, cortar um alimento fazemos de forma ―automática‖, este ato
vem consciente quando acontece um acidente ou devemos ter uma reação rápida e
começamos a prestar mais atenção no ato realizado.
O inconsciente tem uma importância por nos defender dos perigos e guardar
informações do passado. Tem uma capacidade infinita, pois o cérebro recebe
diariamente milhares de estímulos e mensagens, constantemente, sendo que estes
na maioria das vezes ficam armazenados na memória inconsciente.
31
Este aspecto se realiza na dimensão dos nossos sentimentos nos quais
muitas vezes não temos plena consciência de como o mesmo interfere na nossa
percepção da realidade, reações e influências nos nossos relacionamentos.
Sobre o inconsciente Jung (1991, p. 123) escreveu:
Assim definido, o inconsciente descreve um estado de coisas extremamente fluido: tudo o que sei, mas que no momento não estou pensando; tudo aquilo de que antes eu tinha consciência, mas de que agora me esqueci; tudo o que é percebido pelos meus sentidos, mas que não foi notado pela minha mente consciente; tudo aquilo que, involuntariamente e sem prestar a atenção, sinto, penso, recordo, quero e faço; todas as coisas futuras que estão tomando forma em mim e que em algum momento chegarão à consciência: tudo isto é o conteúdo do inconsciente.‖ Jung dizia também que ―a consciência não se cria a si mesma; emana de profundezas desconhecidas‖.
O consciente é o que nos leva a discernir, organizar funções apropriadas para
determinadas situações, raciocinar as devidas reações, ações e percepções a serem
consideradas. Ao contrário do inconsciente, ele é tudo a que temos acesso pelo
cérebro, em perfeito estado de raciocínio. Quanto mais a nossa consciência for
segura de dados, mais estaremos conscientes e assim daremos menos
possibilidades de atos inconscientes.
Jung faz referência ao consciente, ao inconsciente, e também se refere ao
subconsciente e este seria como um canal que busca ligar ao mundo espiritual,
conectando-o a tudo e a todos, sendo assim, como que um poder infinito, que cria
crenças boas ou más, e este conjunto como um mapa mental o qual influenciará e
guiará as experiências humanas. Levando assim a compreensão que está presente
na psique humana um espaço que o leva à busca do espiritual.
Então, esta dimensão que leva o homem a perceber-se incompleto é a própria
presença de Deus que o leva a transcender e questionar o que não está adequada à
dignidade existente no homem desde sua concepção com e na realidade primeira.
Deus no inconsciente é levar em consideração tudo o que faz o indivíduo questionar-
se, sofrer psiquicamente, além de princípios morais e princípios humanos, e
perceber que sua vida tem uma dimensão mais profunda e divina.
Pois, na percepção de qualquer área de conhecimento ou de percepção que
busque compreender o ser humano, e incluindo aqui a religião e a psicologia, onde
ambas se referindo à alma ou a psique, precisa compreender de fato o ser humano
em sua totalidade, buscando compreender sem descartar uma de suas dimensões,
pois ambas partem da mente humana para buscar subsídios que fundamentem a
32
sua razão de ser, buscando auxiliar o homem a ter uma visão maior da dignidade de
seres humanos.
Hillman (1984, p.41) se refere à alma da seguinte forma: ―A alma confere, dá
sentido, transforma acontecimentos em experiências, comunica-se pelo amor e tem
uma explicação religiosa‖ realçando assim a importância da alma para compreensão
da teologia e da psicologia.
Como se daria esta experiência psicológica de Deus então numa dimensão
inconsciente? Viktor Frankl aborda o tema do Transcendente em perspectiva
psicológica a Logoterapia12, conhecida como terapia do sentido. O autor e fundador
da escola, Viktor Frankl, afirma:
Não se trata de um simples inconsciente instintivo, mas também de um inconsciente espiritual. O inconsciente não se compõe unicamente de elementos instintivos, mas também espirituais. Desta forma, o conteúdo do inconsciente fica consideravelmente inconsciente e espiritualidade inconsciente. (FRANKL, 2010, p.19)
Para melhor compreender a dinâmica da presença de Deus e a experiência
do homem na busca de responder a sua própria existência e como a presença de
Deus vem contribuir para a resposta de sentido da vida, daremos continuidade no
próximo capítulo, abordando a teoria do autor Viktor Frankl que nos auxiliará nesta
temática, abordaremos brevemente a história de vida do autor.
1.6.1 Síntese Biográfica de Viktor Frankl e o Deus no Inconsciente
A importância de refletir sobre a busca de sentido no qual o homem está
constantemente inserido numa dimensão mais que meramente sociológica e
psicológica ou em qualquer outra dimensão, poderíamos afirmar que essencialmente
que este questionamento visaria uma dimensão existencial. Para este tema nos
referiremos ao autor Viktor Emil Frankl.
Ele era médico psiquiatra, neurologista austríaco, fundador da terceira Escola
Vienence de Psicologia, a Logoterapia. Esta propõe uma visão diferenciada das
12
O termo "logos" é uma palavra grega que significa também "sentido". Assim, a "Logoterapia concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por este sentido" (Frankl)."Para a Logoterapia, a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano... A Logoterapia é considerada e desenhada como terapia centrada no sentido. Vê o homem como um ser orientado para o sentido". Disponivel em: (Frankl). http: // pt. wikipedia.org /wiki/Logoterapia. Acesso em 15/08/2012.
33
concepções psicológicas de sua época, buscando abordagens fenomenológicas
existencialistas13, humanista e teísta. Busca compreender a existência através dos
fenômenos especificamente humanos.
Mais do que relatar experiências observadas em consultório o autor descreve
através de sua teoria o que sentiu e observou em si mesmo e nas demais pessoas e
seu comportamento na situação limite do campo de extermínio nazista durante a
segunda guerra mundial, pois o autor vem da descendência judia, por isso a
observação psicológica realizada por ele mais que uma observação, é um
testemunho.
Abordando assim mais que relatos conceituais ou meramente teóricos,
partiremos da experiência de quem dentro de um campo de concentração,
juntamente com sua família e sua esposa, sentiu o que de fato a presença de Deus
auxiliaria a superar as situações adversas de sua vida. Viktor Frankl foi preso
juntamente com sua esposa no mesmo ano em que se casaram, no ano de 1942,
nos campos de concentração perde sua esposa e seus pais.
Frankl passa por quatro campos nazista entre 1942 a 1945 o mais conhecido
deles é o ―famoso‖ Auschwitz (1944). Sendo uma pessoa em meio a todos os
horrores existentes nos campos de concentração o autor começa a ser mais que
mero pesquisador o que já era anteriormente, começa a aplicar sua teoria, a
Logoterapia (terapia da busca de sentido). Frankl percebe e relata em seus livros
alguns momentos marcantes de sua vida, e sua observação nos campos de
concentração, pois percebia que as pessoas que buscavam um sentido para a vida
eram mais resistentes; as que tinham como certa missão a ser realizada após todas
as torturas impostas sobreviviam e encontravam força para passar por tais
humilhações.
Frankl foi discípulo de Freud e Adler, porém sua teoria diferenciou-se muito
dos conceitos propostos pelos dois pesquisadores anteriores, pois Frankl não
acreditava que a pessoa humana caminhasse pelo mundo sob a força dos impulsos,
e começa a desenvolver alguns pontos que tornaram diferenciais de sua teoria
psicológica. Afirma: ―[...] o ser humano é livre e responsável e tem consciência de
13
A palavra Fenomenologia origina-se do grego, composta por duas partes: FENÔMENO: Aquilo que se mostra para nós, primeiramente pelos sentidos; e LOGIA: Capacidade de refletir, um discurso esclarecedor. Então a fenomenologia é uma atitude de reflexão do fenômeno que se mostra para nós, na relação que estabelecemos com os outros, e com o mundo no decorrer de nossa existência. Disponível no site: http://www. psicoethos. com. Br / si / site / 0402 /p / O % 20 que % 20 % C3 % A 9 %20Fenomenologia. Acesso em 16/07/2012.
34
sua responsabilidade; que é incondicionado, busca um sentido para sua vida e traz
dentro de si um Deus inconsciente.‖ (GOMES, 1987, p. 11)
Para o autor a experiência humana, essencialmente, se orienta para além de
si mesma, para algo além, pois o leva a usar sua capacidade de transcender uma
situação extremamente desumanizadora, manter a liberdade interior e desta
maneira, não renunciar ao sentido da vida, apesar destas situações. Diante de suas
experiências, o homem perceber-se responsável perante um Outro, que o faz
autotranscender .
A Logoterapia, como aponta Frankl não viera negar as duas teorias existentes
em Viena, a de Freud e a de Adler, mas afirmar que o sentido da existência, seu
verdadeiro significado, é descobrir que cada ser humano tem sua missão única
nesta terra. A teoria de Frankl aponta o ser humano como um ser livre e responsável
com consciência de sua responsabilidade. Ele traz dentro de si inconscientemente
Deus e é incondicionado a uma busca de sentido, refletindo sobre a presença de
Deus no ser humano a sua busca de sentido. No capítulo seguinte, abordaremos o
pensamento de Frankl, para tentar compreender a presença ignorada e a busca de
sentido.
35
2 A BUSCA DE SENTIDO
A busca de sentido presente no homem é como um anseio de o fazer
perceber-se capaz de Ser mais que o mero existir imanente. Partiremos de
pressupostos da teoria de Viktor Frankl para buscarmos compreender ao que
queremos nos referir quando colocamos a busca de sentido presente no homem.
Abordaremos também sobre a presença ignorada de Deus, e a dimensão
noética apresentada pela Logoterapia, pois Frankl considera que somente será
compreendido o homem em sua totalidade quando for acolhido também na sua
dimensão espiritual. Seguiremos abordando alguns aspectos da teoria frankliana.
2.1 A presença ignorada de Deus no ser humano
Viktor Frankl na sua teoria tinha uma visão mais antropológica, mais completa
do homem, buscando complementar as dimensões psicofisiológicas com a
dimensão espiritual, reconhecendo ela ser fundamental, com uma percepção aberta
do mistério transcendente do ser e a sua dimensão humana profunda, busca integrar
o ser humano considerando-o esta dimensão e levando-os a perceberem-se dignos
de sua singularidade e comprometidos de forma responsável frente à vida e seus
desafios.
A presença ignorada de Deus no ser humano apresentada pelo autor é como
a pessoa profunda em seu ser, e nesta profundidade encontra-se a manifestação de
Deus, como uma parte mais sadia presente no ser humano a qual não sofre
interferência condicionante de âmbito externo. Nestas situações o meio somente
terá interferência se a pessoa conscientemente e livremente optar por se deixar
condicionar, deixando assim claro que sobre qualquer situação, o único responsável
pela decadência ou superação é o indivíduo, reforçando a responsabilidade do ser
humano. Sobre isto Xausa (2005, p. 39) relata sobre Frankl:
Na prisão Frankl observou que muitos dos seus colegas, tendo-lhes sido extraídos até o último grau os recursos físicos, acabavam perdendo os seus princípios morais e também os sentimentos da própria individualidade, considerando-se só parte de uma massa da gente, rebaixando assim sua existência ao nível da vida animal. Entre as reações generalizadas dos prisioneiros estava também a dos homens que iam de barracão em barracão consolando os demais, dando o último pedaço de pão que possuíam [...] Ficava patente que o tipo de pessoa em que se convertia o prisioneiro era resultado de uma decisão íntima. Muitos se submetendo à
36
força das circunstancias tornavam-se prisioneiros também em seu íntimo e pereceram até antes da condenação à morte; alguns, porém, caminhavam para o forno de cabeça erguida, ao que Frankl chamou de poder de resistência do espírito com a última das liberdades humanas [...]
O ser humano é um ser por excelência por esta capacidade de opção sobre
quaisquer situações, e diante disto podemos ao mesmo tempo comprendê-lo e
auxiliar o mesmo a perceber-se consciente da responsabilidade diante da realidade,
mas não para que se frustre, mas se perceba capaz de responder com segurança
esta realidade, não se condicionando frente a ela e podemos compreender que na
medida em que o ser busca resposta numa dimensão transcendente, encontra uma
força que o faz superar com muito mais facilidade.
Nas suas análises psicológicas Viktor Frankl descobriu que a religiosidade é
um estado latente no interior do homem. Esta, muitas vezes, só é revelada através
do inconsciente por meio de sonhos. Esta tendência inconsciente para Deus é que
Frankl chamou de estado inconsciente de relação com Deus ou ―presença ignorada
de Deus‖.
Afirmando Frankl à presença ignorada de Deus no inconsciente ele não quer
instituir uma divinização do inconsciente, nem pode ser considerada uma afirmação
panteísta14, Deus não está plenamente em nós, ou ocultista, como afirmar a
onisciência do inconsciente, como uma afirmação teológica de que Deus vive no
inconsciente. 15
Referindo-se a esta presença de Deus no ser humano podemos cair no erro
de constituir uma relação inconsciente com Deus, não se pode querer considerar
que está presente no ser humano esta relação inconsciente, tirando então a
responsabilidade do eu consciente, a responsabilidade do ser religioso da pessoa,
ressarcindo do homem a possibilidade de decisão e de livre arbítrio, e distanciando
da relação que conhecemos deste Deus que sobre quaisquer condições considera a
liberdade humana.
14
O panteísmo é a crença de que o Universo ou a natureza e Deus são idênticos. Sendo assim, os adeptos dessa posição, os panteístas, não acreditam num deus pessoal, antropomórfico ou criador. A palavra é derivada do grego pan (que significa "tudo") e theos (que significa "Deus"). Embora existam divergências dentro do panteísmo, as ideias centrais dizem que deus é encontrado em todo o Cosmos como uma unidade abrangente. O panteísmo tende a divinizar os elementos da natureza, referindo-se à própria natureza por Deus. Disponivel em: http://pt.wikipedia.org /wiki / Pante%C3% ADsmo. Acesso em 15/08/2012. 15
Cfr. FRANKL, 2010, p. 56 e 60.
37
Para Frankl, o ser humano encontra um sentido nas situações quando é
consciente de sua responsabilidade e se torna responsável pelas mesmas. Relata
sobre uma espécie de fé inconsciente, um inconsciente transcendental que inclui a
dimensão religiosa, pois é por meio dela que estabelecemos relação com este
Transcendente presente em nós.
Essa fé inconsciente da pessoa, que se nos revela e está englobada e incluída no conceito de seu ―inconsciente transcendente‖, significaria então que sempre houve em nós uma tendência inconsciente em direção a Deus, que sempre tivermos uma ligação intencional, embora inconsciente, com Deus. E é justamente este Deus que denominamos inconsciente. Nossa formulação de um Deus inconsciente não significa, porém, que Deus, em si mesmo e por si mesmo, seja inconsciente; ao contrario, quer dizer que, às vezes, Deus permanece inconsciente para nós, que nossa relação com ele pode ser inconsciente, ou reprimida, e, assim, oculta para nós mesmos.‖ (FRANKL 2010, p.58-59)
A Logoterapia parte do pressuposto fenomenológico que a própria condição
humana possibilita sermos seres com consciência e com responsabilidade, ou seja,
está presente em todo e qualquer ser humano, sobre quaisquer condições a
―potenciação da consciência da responsabilidade, no estar consciente de ter
responsabilidade‖ (FRANKL, 2010, p. 57) o autor também afirma sobre a
responsabilidade:
Com essa espiritualidade inconsciente no ser humano, que qualificamos como inteiramente ciente onde são tomadas as grandes decisões existencialmente autênticas; a partir disso deduzimos, nem mais, nem menos, que além da consciência da responsabilidade, ou a responsabilidade consciente, deve existir algo como uma responsabilidade inconsciente. (FRANKL, 2010.p. 57)
Refletindo então sobre a importância da consciência e da responsabilidade
consciente é que se pode notar que o homem é chamado desde sua parte mais
profunda a sempre mais ser protagonista de sua existência. Gera assim, por meio da
responsabilidade um ser que se relaciona com liberdade, e é chamado a tornar-se
significativo, não tanto pela parte centrada em si, mas na medida em que se lança
ao altruísmo, percebendo-se útil e agente ativo no mundo por meio de suas
características subjetivas e não mera massa em meio a uma multidão de pessoas,
respeitando assim sua singularidade e a dos demais.
Fazendo referência ao termo ―Deus‖ ou o termo Transcendente muito utilizado
pelo autor, e entendido como a capacidade humana de transcender, ir além e
perceber que há um Outro a quem se busca compreender e responder, com
liberdade e responsabilidade.
38
A compreensão de Frankl sobre o transcendente vem diretamente
influenciada pela concepção da fenomenologia e redução transcendental de
Husserl16 que transcender era compreendido como a capacidade de entender o
mundo na sua transparência, isto significa conhecer o sujeito como situado no seu
nível de intencionalidade noética e de seus correlatos noemáticos,17 para isto se
pressupõem a certeza do mundo e pela redução fenomenológica, o mundo é visto
como correlatos da consciência.
Estes correlatos são entendidos como vivência objetiva, como objeto
significativo, diante do qual o homem vê suas ações conscientes, com
intencionalidade, com seu elemento real da vivência subjetiva. Sendo assim, a
relação que se estabelece com o objeto não meramente como relação externa
independente, mas visto como dois pólos que entre si são correlativos da relação
intencional da consciência.
Para Frankl, para a Fenomenologia e consequentemente para a Logoterapia,
o ego transcendental, o sentido, é compreendido como uma potencialidade oculta
em cada situação e que deve ser descoberta pela consciência. Esta necessidade
independe de outras necessidades, pois está presente em todas as situações.
O significado da vida muda constantemente em qualquer circunstância, por
dados que mudam no decorrer da vida das pessoas este significado pode ser
apresentado em três vias: praticando uma ação ou criando uma obra (uma causa);
lendo a experiência de algo ou alguém além de si mesmo, experimentando outra
pessoa em sua singularidade (uma pessoa); e uma experiência dolorosa (uma
situação). ―A vida continua a ser significativa sob quaisquer condições ou
circunstâncias.‖
Frankl afirmando e reconhecendo o inconsciente espiritual, descarta de certa
forma um homem pensado simplesmente no âmbito da racionalização e
intelectualidade, buscando assim respeitar a sua essência, o mesmo não se pode
16
Edmund Gustav Albrecht Husserl (Proßnitz, 8 de Abril de 1859 — Friburgo, 26 de Abril de 1938) foi um matemático e filósofo alemão, conhecido como o fundador da Fenomenologia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Husserl#Biografia.Aceso em 15/08/12. 17
Noémático vem de Noema: Uma frase, estória, raciocínio ou história que serve para fazer entender algo diferente do que é dito. O emprego de um noema é feito quando não encontramos palavras para explicar a coisa de que temos uma ideia. É uma tentativa (muitas vezes falha) de aproximação do entendimento de quem ouve da ideia de quem fala. O conto do pintassilgo ou alegoria da caverna de Platão para fazer entender que a realidade pode não ser tal, como a que nos é dada. Disponível em: http://www.dicionarioinformal. com. br / noema /. Acesso 15/08/2012.
39
ser pensado exclusivamente por sua racionalização ou por meio de teorias práticas,
mas buscar compreendê-lo como um ser em sua totalidade.
Esta totalidade compreendida como a presença de Deus que o lança a um
anseio interno de perceber-se além das expectativas meramente humanas, pois em
certos momentos de sua vida, deve compreender que de certa forma veio ao mundo
sozinho e parte deste sozinho, mas a sua vida carrega em si um valor inestimável e
único, um sentido do qual vale a pena passar da melhor forma pela existência
humana, e que pode dar de si muito mais que receber deste mundo algo que o faça
sentir-se realizado em sua essência de ser mesmo diante das desilusões existentes.
2.2 O homem espiritual, dimensão noética segundo Frankl
O que difere o homem dos outros animais é a sua dimensão noética,
entendida esta por Frankl, como um estado noodinâmico, ou seja, um estado de
tensão entre o que o ser humano é e o que deveria ser, a sua capacidade de
projetar-se ao futuro, perceber que as situações da vida permanecem somente por
um período e assim com esperança projetar-se a um futuro mais próspero.
A dimensão noética é parte essencial da existência humana, sendo esta
chamada pelo autor também de dimensão espiritual, assim propriamente dito a
existência humana é espiritual. Esta dimensão é considerada superior às demais. A
Logoterapia chama dimensão noética a capacidade humana de autodistanciamento
e de auto- transcendência.
Nesta dimensão, o autor apresenta como possibilidade da espiritualidade se
manifestar no inconsciente, reconhecendo que a pessoa profunda, ou espiritual-
existencial é sempre inconsciente. Referindo-se a isto, o autor não busca afirmar
que a espiritualidade é facultativa ou obrigatória, porém é latente.
O que ele busca afirmar é que a dimensão espiritual é fundamentalmente
inconsciente, por estar presente mesmo quando o ser humano não se dispõe, porém
homem algum pode e consegue afirmar com subsídios racionais que está
plenamente no controle de sua vida, do universo, e que não há uma força geradora
de vida, algo ou alguém de onde partiu tudo o que temos ao nosso redor, mesmo
que alguns a identifique com outra denominação, cosmo, deuses, enfim o ser
40
humano nunca sabe em sua totalidade o que é chamado a ser em sua plenitude. Ele
afirma:
[...] a pessoa profunda, a saber, a pessoa profunda espiritual, aquela e somente ela que merece ser chamada assim, no verdadeiro sentido da palavra, é irreflexível por ser passível de reflexão e, neste sentido, pode ser chamada também de inconsciente. Desta forma, enquanto a pessoa espiritual pode, basicamente, ser tanto consciente quanto inconsciente, podemos dizer que a pessoa profunda espiritual é obrigatoriamente inconsciente, não apenas facultativamente. Em outras palavras, na sua profundeza, ―no fundo‖, o espiritual é necessário por ser essencialmente inconsciente. (FRANKL, 2010, p. 27)
Esta dimensão espiritual, chamada pelo autor também de dimensão noética, é
identificada pela vivência da liberdade e da responsabilidade e caracterizada pela
capacidade humana de responder pela liberdade de como o ser humano venha a
atuar no momento que responde às situações ou se posiciona diante das diferentes
circunstâncias presentes de sua existência.
Esta liberdade afirmada pelo Frankl pressupõe uma liberdade para efetivar
seu posicionamento no mundo, e este manifesta a ―irrepetibilidade e caráter de algo
único‖ constituinte de cada ser humano. Abordar este tema como existência humana
na sua dimensão espiritual, é afirmar, com o autor, que o ser humano é um ser
responsável e deve ser consciente de sua responsabilidade, e na medida que busca
responder a esta força que o move entra em relação com o transcendente e acredita
responder a sua vida de uma forma mais total, ainda que sempre limitada.
Sobre a liberdade Frankl afirma:
A experiência da vida no campo de concentração mostrou-nos que a pessoa pode muito bem agir ―fora dos esquemas‖. Há suficientes exemplos, muitos deles heróicos, que demonstraram ser possível superar a apatia e reprimir a irritação; e que continua existindo, portanto, um resquício de liberdade do espírito humano, de atitude livre do eu frente ao meio ambiente, mesmo nessa situação de coação aparentemente absoluta, tanto exterior como interior [...] No campo de concentração se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas. E havia alternativa! A cada dia, a cada hora no campo de concentração, havia milhares de oportunidades de concretizar essa decisão interior, uma decisão da pessoa contra ou favor da sujeição aos poderes do ambiente que ameaçavam privá-la daquilo que é sua característica mais intrínseca- sua liberdade- e que a induzem, com a renúncia à liberdade e à dignidade, a virar mero joguete e objeto das condições externas, deixando-se por eles cunhar um prisioneiro ―típico‖ do campo de concentração. (FRANKL, 2011, p. 88)
O ser humano, visto que está sempre exposto a estímulos e determinações
de diversas formas no âmbito externo, requer uma responsabilidade de maneira
sempre mais ativa, criativa e própria de forma a expressar o seu jeito de ser, a forma
41
particular e única de cada indivíduo, pois é esta forma de responder que lhe dará
suporte frente aos variados estímulos, leva-o a perceber-se responsável frente à
situação.
Fazendo referência a esta resposta livre e responsável, Viktor Frankl cita
diferentes maneiras de enfrentar a mesma circunstância, pois na sua experiência no
campo de concentração, entre seus companheiros havia uns que pelo desespero
frente à pressão nazista se jogavam nas cercas elétricas tirando assim a vida de
forma voluntária e outros que sofriam, tinham duras penas mas resistiam, pois
tinham a esperança de que algo os esperava ao sair dali: uma pessoa a amar, uma
obra a realizar, um Deus a quem servir. Nesta liberdade de resposta, aqueles
prisioneiros colocavam-se diante das situações conferindo sempre a elas um
sentido, um motivo ou razão pela qual valesse a pena superar e continuar vivos.
A parte mais saudável existente no ser humano é identificada como espiritual
ou transcendente e esta não é determinada, mas sim determinante da pessoa frente
a sua responsabilidade de responder com liberdade e consciência as diversas
situações da vida, sendo que esta responsabilidade e a liberdade não são
consideradas somente frente a grandes situações e decisões da vida mas sim,
frente a todas as situações do cotidiano, encontrando assim um sentido na vida
humana, um motivo o qual vale a pena empreender todas as energias.
Após darmos alguns enfoques necessários sobre a dimensão noética do
homem, abordaremos a questão da autotranscendência, algo de grande importância
na teoria da Logoterapia e de diferencial notório e consequentemente para o
encontro com Deus no inconsciente.
2.2.1 Autotranscendência
Como já afirmamos, o que diferencia determinadamente a Logoterapia das
demais teorias é o reconhecimento da possibilidade humana de transcender e de
distanciar-se de uma forma meramente científica e empírica de seu tempo, que
considerava o homem meramente no âmbito do poder e do prazer e se deixava de
lado o espiritual, o que a Logoterapia veio considerar com grande estima. Foi por
este motivo que Frankl se distanciou tanto de Freud quanto de Adler.
42
O autor reconhece que a vida humana é constantemente envolvida por
experiências de transcendência, devido a fatos simples do cotidiano, nas realidades
que fogem de seu conhecimento cognitivo. Pois mesmo que se amplie a nível
empírico as coisas, não se esgota o todo dos objetos e das coisas existentes.
Por este motivo o ser humano é envolto muitas vezes percebendo-se
encantado com a beleza que o cerca, o gerar de uma nova vida no seio materno, o
maravilhar-se por uma flor a desabrochar no jardim com tanta vivacidade, os
sentimentos mais sinceros e duradouros por pessoas que nos são queridas, como
em situações de sofrimento, onde se percebe a força da vida que não se deixa
suprimir. O homem tem a capacidade para ir além de si mesmo, para alguém ou
alguma coisa fora de si, que o lança à esperança.
Como afirmamos na dimensão noética citado anteriormente, existe no ser
humano uma tensão entre o ser e o que deveria ser; este conflito é compreendido
como algo que não pode vir diretamente do ser humano se não tivesse a
transcendência este Algo mais que o leva a projetar-se, a desejar ser sempre mais,
perceber-se limitado porém com possibilidade de superar-se e acreditar em suas
capacidades e desenvolvê-las no máximo de suas possibilidades em busca de sua
realização, de crença num mundo mais próspero e do sentido da vida
Frankl define a religião: é a consciência que o homem tem de sua dimensão sobre-humana, e nesta dimensão se apoia a fé básica no sentido último da vida. O fato de se ver como um ser no mundo, mas com lastros além, no infinito, faz de nós pessoas cheias de esperança na vida. (GOMES 1987 p. 55.)
Há neste ente que de certa forma busca ser responsável, a necessidade de
responder à transcendência, usando de sua liberdade, consciência e capacidade de
conhecimento, estabelecendo relação com Deus, sendo que é a própria
Transcendência que o provoca a sair de si. Para a Logoterapia a pessoa não é
prioridade para si, mas à medida que se doa por uma causa ou alguém se
autorrealiza, a leva a sair de si e projetar-se em algo que a leva a perceber-se
participante ativa no meio em que se encontra.
Todo sentimento humano busca uma relação com um outro. A Logoterapia
tenta induzir o individuo a uma escolha responsável e livre para uma relação de um
EU com um TU. Este tu entendido como transcendência. Este Tu não é percebido
pelos sentidos, mas sim experienciado, e esta experiência nunca se dá por completa
43
e encerrada imanentemente, dado que este Tu é um ser Absoluto, e o eu humano
limitado nas suas condições próprias.
O Absoluto procurado pelo homem é considerado como um anseio inerente
ao homem, e isto é reconhecido como a Presença ignorada de Deus, uma fé
inconsciente. Esta capacidade humana é considerada como característica
ontológica.
A auto-transcendência assinala o fato antropológico fundamental de que a existência do homem sempre se refere a alguma coisa que não ela mesma - a algo ou a alguém, isto é, a um objetivo a ser alcançado ou à existência de outra pessoa que ele encontre. Na verdade, o homem só se torna homem e só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando se esquece de si mesmo no serviço a uma causa, ou no amor a outra pessoa. É como o olho, que só pode cumprir sua função de ver o mundo enquanto não vê a si próprio (FRANKL, 1991, p. 18).
Compreende-se assim que esta dimensão humana presente no ser humano é
o que de certa forma o desafia e impulsiona à superação de seus limites e ao
desenvolvimento de suas potencialidades, buscando responder às questões
impostas pela própria vida, dado que para Frankl ―não é o homem que se indaga
sobre a vida; a própria vida é que pede respostas ao homem‖, e realizando suas
atividades, se é que podemos afirmar como mera atividade, dado a singularidade de
cada ser humano, tornando-se assim significativa a sua vida e compreendendo-se
como realizada em seu sentido profundo.
2.2.2 O Inconsciente Transcendente e a Consciência
Viktor Frankl se refere ao inconsciente espiritual, sua compreensão que a
dimensão noética é também inconsciente, e manifesta através da intuição. Esta
intuição é entendida como a voz da consciência, algo que não vem de si próprio, a
consciência é identificado por Frankl como a presença de Deus. É entendida então
como algo de transcendente, algo que venha de certa forma orientá-lo, como uma
autoridade que o leva, e o incita ao dever ser; que de certa forma o orienta de forma
mais eficaz o seu querer, a sua busca de sentido e sua realização; faz compreender
o seu ser responsável e assim a buscar responder esta voz que o motiva a algo a
mais, que o leva a uma decisão, a um eu ativo e decisivo.
O ser humano pode assim ser ―verdadeiramente ele próprio‖ também nos seus aspectos inconscientes. Por outro lado, ele é ―verdadeiramente ele
44
próprio‖ somente quando não é impulsionado, mas responsável. O ser humano propriamente dito começa onde deixa de ser impelido e cessa quando cessa de ser responsável. O ser humano propriamente dito manifesta-se onde não houver um id a impulsioná-lo, mas onde houver um eu que decide. (FRANKL, 2010, p. 21)
Como já citamos anteriormente, o relacionamento com o Tu transcendente
pode estar oculto, inconsciente; mas como se refere a uma possibilidade humana
todo homem é instigado a relacionar-se com este Transcendente e poderá
intensificar a sua relação com o mesmo, na medida em que o busca, e se dedica
através da fé nesta experiência com Deus.
A consciência é entendida como algo distinto de mim, considerada como a
voz da Transcendência, pois é algo que não vem do próprio ser humano; tem caráter
transcendente que nos leva a compreender o ser humano e sua personalidade num
sentido mais profundo, e que diferencia de forma determinante dos demais animais.
A pessoa humana através de sua consciência adquire um novo significado,
uma instancia extra-humana, pela sua origem e seu vínculo transcendente. Esta
instancia extra-humana deve no entanto ser de caráter pessoal, ontológico, leva a
imagem fiel da pessoa. ―A consciência só pode ser entendida em seu sentido pleno
quando a concebermos à luz de uma origem transcendente.‖ (FRANKL, 2010, p. 50.)
A consciência não poderá ser compreendida em sua totalidade como
ontológica do ser humano. Sobre a consciência Frankl ainda afirma:
A consciência só será inteligível a partir de uma região extra-humana. Na verdade, em última instância, somente será compreensível se entendermos o ser humano na sua condição de criatura, para que possamos dizer: como senhor da minha vontade sou criador, como servo da minha consciência, porém, sou criatura. Em outras palavras, para explicar a condição humana de ser livre é suficiente basear-nos na sua existencialidade; porém, para explicar a condição humana de ser responsável, precisamos recorrer à transcendentalidade de ter consciência. (FRANKL, 2010, p. 50)
Sendo a consciência a voz da Transcendência e por isso ela mesma é
transcendente, o ser humano que se diz irreligioso ignora essa transcendência da
consciência, não tenha que este não tem consciência e responsabilidade diante
dela, porém não questiona pelo que é responsável nem de onde provém a sua
consciência, não vai além; este aceita a consciência como facticidade psicológica,
como meramente imanente.
A pessoa religiosa assume o risco de perguntar além. A responsabilidade de
ignorar esta presença transcendente da consciência é uma possibilidade básica da
pessoa. Sobre isto Frankl (2010, p. 57) afirma.
45
Com efeito, justamente a pessoa religiosa deveria saber que a liberdade para tal decisão (ignorar a transcendência da consciência) é uma liberdade desejada e criada por Deus; a pessoa é a tal ponto livre, feita livre por seu Criador, que essa liberdade é uma liberdade até para o não, que vai tão longe que a criatura também pode se decidir contra seu próprio Criador, que pode inclusive renegar Deus.
O ser humano é chamado a ser responsável e para ser responsável precisa
ser para alguém, ou algo fora de si, pois para si próprio não pode responsabilizar-se,
pois não se pode ter um imperativo categórico autônomo, pois ele só será válido
exclusivamente pela transcendência e não pela imanência; se o id é impulsionado, o
eu é fundamentalmente responsável, ou seja, para:
[...] ser livre é pouco, ou nada, se não houver um ―para quê‖. Porém, ser responsável também não é tudo, se não soubermos perante que somos responsáveis. Por conseguinte, da mesma forma que não podemos derivar do ―querer‖ o ―dever‖, ―já que‖, recordando as belas palavras de Goehte, ― todo querer é apenas um querer, precisamente porque deveríamos fazê-lo‖, ou seja, todo ato da vontade pressupõe uma noção do que se deve fazer. (FRANKL, 2010, p. 54)
De uma pessoa livre exige-se que faça escolhas, que se construa a si
mesma através de suas escolhas, e para projetar-se precisa de um referencial
seguro que lhe dê suporte necessário para se aperfeiçoar e continuar rumo a seu
desenvolvimento e realização, por isso busca na sua consciência transcendente, e
assume a vida e as situações com responsabilidade. Reconhecendo no homem a
singularidade se compreende que é chamado a responder no decorrer de sua
existência a significar a sua vida, e quanto mais livre e responsável mais realizado
tende a se sentir.
A consciência humana é onde o homem busca aparatos para relacionar-se de
forma real e sadia, expressando seus sentimentos e afetos, e estes são importantes
para a sobrevivência e uma vida humana com sentido, mais bem sabemos que
existe uma formação de consciência errônea, se percebe isto frente ao
indiferentismo implantados em nossa sociedade atual.
Poderíamos afirmar, que há certa insensibilidade coletiva frente a princípios
fundamentais da vida, as pessoas preferem não se colocar de forma a promover,
incentivar sentimentos nobres próprios dos seres humanos, relações duradouras e
bem estabelecidas, pois o comodismo e o individualismo torna em parte inerte
qualquer motivação que necessite maior envolvimento, empreendimento pessoal,
renúncias em prol de um valor que talvez não venha a trazer resultados imediatos,
relações que se estabeleçam num dar um passo em direção ao outro por gratuidade,
46
na sinceridade, tudo isto vem gerando um vazio existencial presente no nosso dia a
dia Frankl se refere a formação da consciência da seguinte maneira
Numa época em que as tradições e os valores universais que elas encerram se vão esboroando, educar significa, portanto, no fundo e em última estância - e até diria, mais do que nunca - formar a consciência pessoal. E graças à minha consciência, à minha consciência atenta e bem formada, que eu me torno capaz de compreender o apelo ao sentido que cada situação me propõe; é graças a ela que me torno capaz de ouvir as questões que o dia-a-dia me formula, e é graças a ela que sou capaz de responder a essas questões empenhando a minha própria existência, assumindo uma responsabilidade (1998, p. 30-31)
Percebemos que é fundamental o papel da consciência para que haja de fato
uma resposta vigente e coerente quando se refere aos contra valores presentes em
todas as épocas, e é frente a ela que podemos ser responsáveis diante dos nossos
próprios valores.
2.3 Vazio existencial e a busca de sentido em Viktor Frank
Quando se refere ao vazio existencial, Frankl compreendia isto como uma
falta de sentido para a vida e que isto deixa no interior humano um profundo conflito.
Esta sensação de vazio desde sua época era como ele detectava uma neurose
coletiva, uma angustia por não conseguir perceber algo bom o suficiente para
empregar toda a sua vida em prol desta causa, e sem dúvida esta é uma angústia
de seu tempo e de todos os temos da história.
O ser humano utiliza de diferentes disfarces frente à sociedade e frente a
suas relações sobre as quais disfarça o vazio existencial e de repente frente a uma
frustração, sofrimento ou perda de alguém querido se depara frente ao mundo no
qual pode se perceber insignificante e se render a este sentimento de vazio
existencial. Também pode perceber a sua singularidade imparcial, os seres
humanos não são objetos que podem ser colocados todos dentro da mesma
categoria, resultantes de impulsos e paixões.
Freud afirmava que se um grupo de pessoas diferentes fossem colocadas
frente a uma situação limite, todas as diferenças individuais ficariam, e em seu lugar
47
apareceria a expressão uniforme da mesma necessidade básica,18 e sobre isto
Frankl contesta:
―Graças a Deus, Sigmund Freud não precisou conhecer os campos de concentração do lado de dentro. Seus objetos de estudo deitavam sobre divas de pelúcias desenhados no estilo da cultura vitoriana e não na imundície de Auschwitz. Lá as ―diferenças‖ não se ― apagavam‖, mas ao contrario, as pessoas ficavam mais diferenciadas; os indivíduos retiraram suas máscaras, tanto os porcos como os ―santos‖. E hoje não se precisam mais hesitar no uso da palavra santos. Basta pensar no padre Maxililian Kolbe, que foi deixado passar fome e finalmente assassinado através de uma injeção de ácido carbólico em Auschwitz e que, em 1983, foi canonizado‖
O homem é carregado de liberdade, autenticidade plena e mesmo frente a
situações das quais todos esperam uma resposta, ainda assim este pode responder
de forma contraria. A própria vida de Frankl é um exemplo disto, pois poderia se
posicionar contra seus valores primordiais dado à sua religiosidade, pois era judeu e
de uma família afetuosa de respeito e de valores espirituais, teve a possibilidade de
fugir sobre a opção de realização profissional em outro país protegendo assim a
sua vida e a de sua esposa, mas para isto deixaria para trás seus pais já em idade
avançada, e estes o instigavam para que protegesse a sua vida. Poderia abandonar
a seus companheiros judeus e ele com coragem estimável prefere ficar e correr o
risco de perder seus pais, sua esposa, os quais perdeu.
Em outra situação arriscou sua vida contra o conselho de seus companheiros
dispondo-se a prestação de serviços médicos a doentes infecciosos, sabendo que
em si mesmo sua morte teria sentido, pois percebia que valia mais uma vida nutrida
de valores que uma mesquinhez pautada em covardia.
Quando o ser humano se vê livre para refletir situações onde se percebe
tediado, e se encontra sem interferências de suas tradições e valores herdados, é
instigado a posicionar-se. Para isto lhe resta o que de fato ele é envolvendo isto o
que realmente lhe importa enquanto valores e crenças. Mostra-se livre de
condionamentos e assume seus próprios valores.
Os valores não podem de forma alguma ser herdado sem a livre consciência
de reconhecê-los como próprios, e assumi-los com responsabilidade frente às
consequências que esta escolha possa trazer, ou numa situação de posicionamento
pessoal a pessoa tende a fechar-se em si, sem perceber uma causa positiva no qual
dedicar e empreendender sua vida.
18
Cf. Xausa, 2005, p.43.
48
A busca de fugir do que lhe causa sofrimento é uma tendência forte na
realidade humana e pode escravizá-lo a um mundo que o tedia sem sair de si, mas
também, frente a esta mesma problemática o homem é incitado a sobrepor suas
concepções e responder por si só com determinação e confiança suas convicções, o
que seria o caminho mais viável para realizar-se. Estas posturas diferentes é o que
diferencia de forma central aqueles que conseguem superar, daqueles que preferem
se prostrar diante dos fatos da vida, mesmo que esta opção nem sempre seja feita
de forma consciente e expressa ou não, pois o ambiente não o determina na sua
liberdade mais plena.
Esta realidade de vazio existencial tem ligação não tanto com o
desenvolvimento tecnológico, e o desenrolar de uma sociedade consumista, mas
sim com a opressão dos povos e a da liberdade humana no mundo, como afirma
Gomes (1987). Esta neurose está na observação constante de algo que oprime
sobre os oprimidos e isto leva a uma ―Hiperreflexão‖, que não é considerada por
Frankl, uma enfermidade mental, mas pode ser o ponto de partida para as neuroses
obsessivas, pois o faz estar cada vez mais distante do que realmente pode dar
sentido a sua existência.
Sobre isto Gomes (1987 p. 44.) afirma:
Com a hiperreflexão, a pessoa se torna muito auto-observadora e perde a espontaneidade. E a atenção voltada sobre si mesma cria um mal-estar intenso, ponto de partida de enfermidades noogênicas, ou espirituais, ou ainda éticas, configurando um conflito de valores. É a base das obsessões e pode ser curada pela técnica Logoterapêutica da derreflexão [...] Podemos compreender que a auto-observação funciona como agravante dos sintomas e faz com que pessoa se perca em si mesma, voltando-se para dentro de si e esquecendo o mundo externo. Presa egoisticamente em si mesma, ela perde sua orientação no mundo, o sentido da vida, e mergulha num grande vazio, o vazio da existência.
Para Frankl todas as necessidades humanas podem ser supridas numa
sociedade industrializada, menos uma, a mais humana de todas as necessidades de
sentido, esta é frustrada, pois diante de uma sociedade industrializada este se
envolve na urbanização e a correria sem controle, e tende a se afastar e alienar de
suas origens, suas tradições, seus valores, levando-o a viver de forma muitas vezes
mecânica.
Esta busca de sentido a que o autor se refere não parte de algo abstrato,
mais sim do concreto de uma opção pessoal com a qual a pessoa se confronta,
podemos dizer que a própria existência de Deus nos leva a um confronto, com o que
49
buscamos como realização meramente imanente ou o que consideramos como
valores supra humanos e que leva o homem para fora de si, de suas necessidades
meramente fisiológicas e extintivas, como já nos referimos anteriormente, através de
uma das três vias: uma causa, uma pessoa ou uma situação.
Esta razão que leva o ser humano a sair de si, mostra que a realização
humana não está em se auto-centrar. Deste na medida em que houver uma razão
para a felicidade ela decorrerá espontaneamente, pois a felicidade não é a busca em
si, é consequência; o homem mais que querer ser feliz, quer um motivo para ser
feliz. Frankl apresenta o seguinte esquema
Figura 1 – A felicidade na perspectiva de Viktor Frankl
Se o homem se fixa na ideia de autorealização e felicidade, ele tende a se
frustrar da vontade de sentido, pois esta não é a busca última do ser humano, pois
contradiz a característica primária do homem, a autotranscendência. Tanto a
felicidade como a autorealização é apresentada por Frankl como efeito da realização
do sentido.
O ser humano então pode viver angustiado por não conseguir perceber qual é
o papel que ocupa frente à humanidade, por não buscar perceber que existe em si
um Ser supremo sobre o qual ele jamais perderá a sua identidade única, este ser é
Deus. Esta atração pelo transcendente não é porém algo que anula a adesão do
homem, mas sim que com liberdade busca respondê-la não mais centrado em si.
Para Frankl cada indivíduo tem sua missão neste mundo e somente ele é
responsável por descobrir qual é esta missão e, responsabilizando-se por ela com
50
liberdade, irá realizá-la com todas as suas possibilidades, e potencialidade. É
essencialmente importante à existência humana o anseio por encontrar algo a que
se dedicar. Cada pessoa tem seu ser único, assumindo a responsabilidade de sua
vida contribui de fato com o mundo e já não se percebe como alguém a mais no
meio de uma massa coletiva.
Este mais que um anseio de algo que se possa ser experimentado pelos
sentidos busca um significado, um motivo que já existe especialmente expresso
pelas emoções e este significado só pode ser compreendido e encontrado pelo
próprio individuo. Frankl acredita que a consciência é um órgão de sentido e tem
como capacidade procurar e descobrir o sentido único e exclusivo oculto em cada
situação.
O sentido da vida já está inscrito no coração humano em nosso ser, e este
enfrenta qualquer como, com uma energia incalculável. Tem em si a presença vital,
a qual acreditamos vir de Deus, e o homem à medida que se responsabiliza pela
vida percebe-se inteiro no aqui e no agora.
2.4 Logoterapia, religião e Teologia
Em qualquer concepção se que busque a compreensão do homem na
intenção de integrá-lo não o verá como um ser fragmentado, como a considerar e
supervalorizar somente uma parte, mais se empenhará nas diferentes dimensões de
sua existência, pois reconhece que em ambas são essenciais para a construção de
um homem como um todo, não há uma dimensão mais importante que a outra.
Para Frankl, o médico terapeuta não pode estar desinteressado pela
religiosidade de seus pacientes. Mesmo que este se diga ateu, o médico deve ter
interesse que esta religiosidade apareça espontaneamente no seu paciente, e
aguardando pacientemente que isto ocorra, pois o médico Logoterapeuta tem
presente que a religiosidade é algo latente no ser humano e em si próprio, porém
não se deve interferir nos ensinamentos daqueles que dizem serem ateus, ou induzi-
los a uma concepção religiosa. E sobre isto Frankl afirma:
O médico que tem fé não acredita somente em seu Deus, mas também na fé inconsciente do paciente; assim, não crê apenas conscientemente no seu próprio Deus, mas, ao mesmo tempo, crê nele como ―Deus inconsciente‖
51
em seu enfermo; crê neste ―Deus consciente‖ como um Deus que ―ainda não‖ se tornou consciente para seu paciente. (2010, p. 68)
A religiosidade deve ser aceita, e é aceita por Frankl pelo seu lado genuíno,
que flui naturalmente, que não pode ser imposta e nisto está a sua existencialidade,
a pessoa livre e espontaneamente decide por ela, e para isto deve-se dar o tempo
necessário para que surja, e que não seja imposta, deixando claro que o médico
terapeuta nunca deve forjar a pessoa neste caminho, e nem desviar deste caminho,
caso a pessoa parta deste véis.
A religião não é uma segurança de vida tranquila, para guardar a ausência de
conflitos. Afirma Frankl sobre a religião: ―A religião dá à pessoa mais do que
psicoterapia, mas também exige mais dela‖ (2010, p. 70), porém deixa claro o autor
que ―deve ser evitada com todo rigor qualquer contaminação entre estes dois
campos (psicoterapia e religião) que pode até coincidir quanto a seus efeitos no
auxílio ao ser humano, mas são diferentes quanto à sua intencionalidade.
Quando se refere à Logoterapia e à Teologia, o autor afirma que a religião é
um fenômeno humano que ocorre no paciente, entre outros fenômenos que a terapia
deve considerar, mas para a Logoterapia a religião só pode ser objeto, não posição.
A Logoterapia tem como ponto alvo a cura da alma, já a Teologia a salvação da
mesma, ou seja pode ser que a terapia auxilie o paciente na salvação da alma,
porém não como fim. Assim a religião pode auxiliar as questões psicológicas
levando a uma cura da alma mas não como meta, pois esta visa à salvação das
almas.
Frankl citando Paul Tilich (1961, p. 234) oferece a seguinte definição do ser
religioso e o sentido: ―Ser religioso significa fazer a pergunta apaixonada pelo
sentido da existência‖, ou seja, toda pessoa que busca viver sua religiosidade mais
que uma questão imposta por uma tradição religiosa, consegue perceber o fluxo de
vida que gira com abundância ao seu redor, sinal da generosa bondade de Deus
que se revela, e o ser busca responder o sentido de sua existência.
No capítulo seguinte elaboraremos um pensamento sobre como a presença
de Deus auxilia o ser humano na busca de realização de um sentido para sua vida,
colocando alguns pontos importantes da teologia e do pensamento frankliano.
52
3 A EXPERIÊNCIA COM DEUS COMO RESPOSTA À BUSCA DE SENTIDO
Após um apanhado teórico sobre a presença de Deus, e a teoria de Frankl,
levaremos sempre em consideração que a própria condição humana faz o homem
perceber-se limitado e fora do estado de culminância de seu ser, partiremos dos
pressupostos colocados nos capítulos anteriores para melhor compreendermos a
busca do ser humano pela presença de Deus e como isto pode dar respostas aos
seus anseios, como o sentido da vida.
O ser humano é compreendido como alguém que tem em si uma dimensão
que o leva a transcender, pois percebe-se diferenciado dos demais seres existentes,
por capacidade de dialogar, indagar, investigar, questionar e procurar responder as
situações próprias de sua condição humana, no intuito de ampliar as suas
capacidades, e realizar-se, ainda que esta realização não venha a dar-se de forma
plena.
A capacidade de transcender, entrar em relação com Deus através da razão,
é uma característica bem própria do ser humano, como afirma Frankl, sua
capacidade de autotranscender, de ir além das expectativas humanas, de perceber
a presença de Deus na sua existência, o homem pode e é chamado a fundamentar
em Deus uma base sólida diante da vida, e das questões próprias da existência,
percebendo uma realidade que o transcende.
Esta capacidade, não pode ser compreendida somente como a busca do
conhecimento humano sobre a presença de Deus na existência e na harmonia
constante de tudo o que é criado. Esta compreensão se dá a partir da iniciativa de
Deus, à qual a Teologia se refere por Revelação, sobre isto Papa João Paulo II
afirma
Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col 1, 15; 1 Tim 1, 17), na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15, 14-15) e convive com eles (cf. Bar 3, 38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta economia da Revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens manifesta-se-nos, por esta Revelação, em Cristo, que é simultaneamente o mediador e a plenitude de toda a revelação.( Fides et Ratio, 2006, p. 17, § 10)
53
A autocomunicação de Deus ao Homem, pela Revelação, é que o incita a
buscar seu ser mais profundo, a plenitude de sua totalidade. O homem busca a
Deus através do conhecimento da razão, seja ela através de um conhecimento
fundamentado ou por um conhecimento perceptivo, ou seja, pessoas as quais não
tem nenhuma formação acadêmica organizada, teórica, filosófica ou doutrinária
sobre o conhecimento de Deus, porém em nível experiencial e existencial se
encontram profundamente envolvidas com o mistério da Revelação Divina,por meio
da fé, demonstram-se sensíveis de tal forma, que nos levam a questionar e a
confirmar que a percepção desta presença divina supera qualquer conhecimento e
capacidade humana, sobre isto nos é afirmado pela Carta Encíclica Fides et Ratio
da seguinte forma:
[...] o Concílio (Vaticano II) a reafirmar vigorosamente que, além do conhecimento da razão humana, por sua natureza, capaz de chegar ao Criador, existe um conhecimento que é peculiar da fé. Este conhecimento exprime uma verdade que se funda precisamente no fato de Deus que Se revela, e é uma verdade certíssima porque Deus não Se engana nem quer enganar. (JOÃO PAULO II, 2006, p. 16, § 8)
Deus se revela através de grandes concepções Teológicas, ou de forma
muito simples e acessível a todo o homem que o busca de coração sincero como a
Sagrada Escritura já se referia no Antigo Testamento pelo profeta Jeremias
Eis o que diz o Senhor: Quando setenta anos tiverem corrido para Babilônia, eu vos visitarei a fim de realizar a promessa que vos fiz de aqui vos reduzir. Bem conheço os desígnios que mantenho para convosco- oráculo do Senhor-, desígnios de prosperidade e não de calamidade, de vos garantir um futuro e uma esperança. Invocar-me-eis e vireis suplicar-me, e eu vos atenderei. Procurar-me-eis e me haveis de encontrar, porque de todo coração me fostes buscar. Permitirei que me encontreis –oráculo do Senhor; e vos trarei do cativeiro e vos irei buscar em todas as nações e em todos os lugares por onde vos dispersei- oráculo do Senhor- para reintegrar-vos no lugar de onde vos exilei. (JEREMIAS 29:10-14)
Deus se dá a conhecer através da natureza e da história humana. O homem
adere a este encontrar-se com Deus por meio da abertura à graça e pela sua
resposta de fé, seja ela com base teórica ou existencial, e diante deste Ser que
constantemente se deixa encontrar como uma forma de permanência na existência
humana, encontra Nele as forças necessárias para superar as dificuldades e
sobrepor-se sobre qualquer realidade, consciente de sua grandeza em quanto
dignidade de ser criado à imagem e semelhança de Deus, não como autosuficiência
mas como suportado por um Ser sobre o qual nada e ninguém pode intervir, uma
realidade existente dentro si da qual ninguém e nada exterior pode interferir ou
54
abalar, a presença de Deus em seu ser, sendo esta a presença mais sadia e íntima
de seu próprio ser.
A relação com Deus, como realização e fundamento do sentido da vida, se dá
na medida em que diante de situações difíceis o homem pautado em sua fé
consegue dar a volta por cima e viver de cabeça erguida mesmo frente a situações
humanamente falando, não teria sentido algum; para isto consideraremos a
dignidade intrínseca do homem como presença de Deus, e sua capacidade de
superar-se, autotranscender em situações limites.
[...] a realização da nossa (do ser humano) totalidade, por meio da psicologia moderna, não pode chegar a plenitude, a não ser que se volte de novo para sua relação original e primeira, ou seja, para o Deus imanente na alma, bem como para o totalmente Outro ( WINCKEL, 1985, p. 10)
O homem somente encontrará a sua totalidade numa esfera além de sua vida
imanente, ou seja, além da morte, porém, no aqui e no agora, à medida que busca
responder a sua vida com anseios mais profundo, consegue sentir como uma
espaço de paz interior sobre o qual, mesmo em situações limites, consegue
encontrar força para superar e manter-se tranquilo, não como alienado da realidade,
mas sentindo-se capaz de responder à vida também frente ao sofrimento.
3.1 O pensamento teológico e o pensamento Frankliano
Compreender a presença de Deus no ser humano e a realização do homem
na sua totalidade, reconhecendo que esta essência é divina, porém não em si
mesmo, mas partindo Daquele que o criou, e considerando a busca do sentido da
existência humana, somente poderá ser compreendida e vivida em plenitude quando
o homem reconhece que se encontra em Deus, que é atraído por Deus, tocado por
Deus no ponto mais íntimo de seu ser, que o homem é capaz de encontrar Deus, e
que se sentirá realizado considerando esta parte profunda de seu ser, da qual parte
a sua essência intrínseca.
O homem reconhece em Deus as bases para fundamentar a sua existência e
o que existe ao seu redor, como este Ser do qual parte todos os demais seres
criados, pois não encontram em si a forma vivificante que os mantém na existência,
55
como nos afirma a Teologia através do pensamento tomista citado no primeiro
capítulo deste trabalho. CAMPOS (2011, p.18) cita Mondin na seguinte afirmação:
Não há aqui como prescindir, não há lugar para atitudes neutras incompatíveis com a própria natureza das coisas. Ou Deus existe para o Qual devemos tender – e a luz desta verdade necessariamente deve projetar os seus reflexos sobre toda a nossa peregrinação terrestre. Ou Deus não existe, a imortalidade é um sono – e então o problema da vida deve resolver-se todo entre o berço e o túmulo. Qualquer das alternativas repercute sobre todas as particularidades como sobre o sentido geral da existência [...] Em Deus, portanto, está suspensa a nossa vida moral, na determinação dos seus valores: d’Ele depende o caráter absoluto ou relativo dos fins da nossa atividade presente. Nele, ainda o estímulo indispensável ao bem-fazer. Os destinos do homem não são apenas um farol que ilumina os roteiros da vida, são ainda uma força motriz que lhe impulsiona todos os movimentos bons.
O desejo de Deus presente no coração humano, faz parte da busca mais
profunda do homem, não partindo do pensando somente como um Deus
inconsciente, como nos apresenta Frank, mais sim este Deus que constantemente
atrai o homem a si e se encontra na parte mais própria do homem que o leva a
perceber incompleto. Sobre isto a Gaudium est spes nos coloca:
O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com Ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é só porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao Criador. (PAPA PAULO VI. 1965, p.19,§1)
Compreende-se como vocação concedida ao homem por Deus a sua
condição de comunhão com Ele, dado que a iniciativa é sempre da parte de Deus e
o homem sendo capacitado pela graça divina se dispõe a esta comunhão com Deus
através de seu ser e de sua forma de adesão expressa pela sua vivência de sua fé
de forma coerente, conciliando a sua vida conforme o que a fé professa.
Porém a capacidade humana de conhecimento de Deus parte do
conhecimento, dado este por um aprofundamento teórico, ou pela própria
experiência humana de transcender e sobre isto São Tomás Aquino (1225- 1274) já
se referia ―a razão humana é muito deficiente no conhecimento das realidades
divinas‖, pois bem, sabemos que esta é limitada e Deus é mistério, o homem
somente pode conhecê-lo à medida que Ele se dá a revelar ao homem e esta
revelação é sempre limitada, sendo que esta limitação não parte da parte de Deus,
mas sim do conhecimento humano sobre Deus.
56
Está inscrito no interior humano que à medida que o mesmo busca
compreender Deus, deixa-se guiar por Ele, busca nele a razão para suas limitações
e situações difíceis da sua existência humana. Campos (2011, p. 17) refere-se a isto
da seguinte forma:
Se Deus existe, a vida pode não se acabar com a morte, o conceito de justiça alarga-se e a imortalidade da alma deixa de ser apenas uma quimera, já que irrompe a perspectiva da eternidade. Um destino no além-túmulo se nos espera e somos interpelados a agir, aqui e agora- hic et nunc- de acordo com as suas exigências irrefragáveis. Além disso os valores supremos que norteiam nossa existência também passam a ser outros, porquanto o fim para o qual tendemos muda. Eis o transcendente como fim último do homem, e o que o move não podem ser mais valores tão somente temporais e pragmáticos, outrora absolutos e invioláveis.
Ou seja, na medida em que o homem se dá conta de sua limitação e que sua
parte mais profunda se fundamenta num Ser transcendente, que é Deus, seus
valores e sua forma de perceber a vida e suas próprias limitações são numa esfera
mais profunda e elevada onde nenhuma limitação ou situação limite tem a
interferência, se torna como uma causa a qual vale a pena investir a própria vida,
mesmo através dos sofrimentos, pois Deus também está presente e se revela no
sofrimento.
Deus feito homem, passou pelas limitações humanas e enfrentou em sua vida
a dor e o sofrimento até as últimas consequências a morte, mas sabia no seu mais
íntimo que tudo isto não era em vão. Somente a parte mais central, íntima e
profunda do homem pode dar os subsídios para que de fato isto aconteça, e esta é a
liberdade humana, a parte na qual o ser humano faz a sua adesão a Deus.
À medida que o homem percebe a realidade de Deus, um ser supremo, mas
que vem ao encontro do homem, e fundamenta Nele a sua esperança de superação
e determinação, pela fé, fica a certeza que este Deus mesmo que não dê a resposta
esperada pelas expectativas humanas, está presente e não fica indiferente ao
sofrimento humano.
O ser humano fundamentado somente em coisas imanentes corre o grande
risco de uma existência vazia, frustrada, condicionada por uma coisa a possuir, se
perde em valores supérfluos, como nos referia Frankl, um vazio existencial, onde a
falta de sentido a vida deixa no homem um conflito, uma angustia interior por não
conseguir perceber algo bom o suficiente para empregar toda a sua vida, onde
devido a uma pressão psicológica de âmbito interno ou externo, faz condicionar a
sua própria busca de realização e felicidade.
57
Sobre esta presença de Deus e a felicidade humana CAMPOS (2011, p, 17)
cita o autor França que diz:
Deus existe? Está resolvido o problema da felicidade. Todo o homem pode atingi-lo através de uma vida moral sincera e fiel. [...] Deus não existe? Então a felicidade, cada qual colocará num bem terreno escolhido segundo o seu temperamento ou as suas preferências subjetivas [...]
Partindo da Teologia e do pensamento Frankliano queremos afirmar que tanto
a perspectiva Teológica da presença de Deus, como o pensamento da Logoterapia
apresentada por Frankl, percebem que na busca do sentido da vida, o homem tende
a dar-se conta de que existe nele uma dimensão profunda que o lança a perceber
em Deus a sua realização mais profunda de ser, ao qual se refere Frankl como
dimensão noética ou espiritual, e que à medida que o homem lança-se a esta
realidade profunda, transcendente, tende a realizar-se mesmo em condições limites
de sua existência.
O homem encontra em Deus o sentido mais profundo de sua existência,
sobre o qual fundamenta sua vida na certeza que Deus jamais falha e acolhe todas
as suas limitações dando a cada uma delas um sentido profundo mesmo que no
decorrer de sua vida o ser humano não venha a entender o porquê de tudo o que se
passou na sua existência terrestre, mas reconhece no mais profundo de si um para
quê fundamentado em valores transcendentes.
3.2 Presença de Deus como sentido da existência humana.
A presença de Deus apresentada pelos filósofos e teólogos, como a presença
ignorada de Deus apresentado por Frankl, vem ressaltar a presença de um Deus
próximo, que não atrai o homem a si como um ser tirano que busca sufocá-lo. Fica
claro que sem Ele o homem não se realiza plenamente, mas sim como um Deus que
busca o homem e o criou para ser um ser altruísta e solidário, um ser de relações
numa busca constante de lançar-se a outro fora de si, dado então a relações do dia
a dia ou na relação como transcendente, um Deus amor, que transborda
generosamente em seu amor criando o Homem, e revelando ao mesmo a plenitude
de sua bondade quando nos enviou seu Filho Primogênito podemos afirmar como o
Papa João Paulo II na Carta Encíclica Fides et Ratio.
58
Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1, 9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina.Trata-se de uma iniciativa completamente gratuita, que parte de Deus e vem ao encontro da humanidade para a salvar. Enquanto fonte de amor, Deus deseja dar-Se a conhecer, e o conhecimento que o homem adquire d'Ele leva à plenitude qualquer outro conhecimento verdadeiro que a sua mente seja capaz de alcançar sobre o sentido da própria existência. (2006, p.15, § 7)
A revelação de Deus vem em resposta aos anseios humanos de realização e
de busca por uma vida mais plena e digna. Podemos perceber isto no decorrer da
história da salvação, onde Deus intervém, por meio de catástrofes naturais ou por
intermédios de pessoas como os Patriarcas, os Profetas e de maneira única e plena
na pessoa de Cristo.
No ser humano mais que a realização das coisas imanentes, ele tende a
perceber-se que a vida carrega um sentido em si, que há em tudo o quanto possa
acontecer, algo de humano e autêntico, e de singularidade frente às situações que o
levam a realizar-se fora de si e este sentido visa responder o seu ser, pois tem uma
dimensão fora de si, uma dimensão transcendente.
Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente », afirma a constituição Gaudium et spes.Fora desta perspectiva, o mistério da existência pessoal permanece um enigma insolúvel. Onde poderia o homem procurar resposta para questões tão dramáticas como a dor, o sofrimento do inocente e a morte, a não ser na luz que dimana do mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo? (JOÃO PAULO II, 2006, p. 20, §12)
A dimensão transcendente é a busca de relação com Deus, é ver os fatos
numa dimensão mais que imanente, com um sentido pautado na fé, esta relação
que no decorrer de toda a vida humana Deus se revela ao homem e o instiga a ir
além, se doar, buscar a plena realização de sua vida humana, buscar dar razões a
sua fé mesmo que de forma limitada, porém este conhecer a Deus se dá na medida
em que a pessoa busca compreender sua fé, pois Deus vem em auxilio do homem
na sua busca mais profunda de ser em profundidade. O Catecismo da Igreja
Católica se refere a isto da seguinte forma: ―Deus, além disso, por amor, revelou-se
ao homem, vindo ao seu encontro; desta forma, lhe oferece uma resposta definitiva
às perguntas que se faz sobre o sentido e o fim da vida humana.‖ (1993, § 50 -141)
Podemos dizer que somente o ser que reconhece a sua limitação, percebe-se
fora do centro, e busca em Deus a plenitude de sua dignidade, pode de fato
59
encontrar a felicidade, pois reconhecemos em Deus a inspiração perfeita da
realidade humana, pois partimos de Deus e não de um mero querer humano.
Compreender-se em Deus e em meio às dificuldades ou situações das quais
aparentemente não tem sentido ou uma resposta em si mesmo, Nele se fundamenta
a esperança humana, pois se percebe que a própria vida, as situações na vida, o
universo, o cosmos, enfim, tudo o que rodeia a vida humana, há uma força primeira
que o move, e independe de qualquer ação ou intenção humana. Esta força
onipresente, é Deus e o ser humano o buscará de todo o coração, percebendo que
Ele mesmo é que o incita a buscá-lo, pois de forma contrária seriamos limitados.
Deus se dá a revelar e por isso o homem o busca.
É interessante perceber que cada vida carrega em si perguntas fundamentais
as quais após ser indagadas no coração humano passará no decorrer de toda
existência, para que vise dar respostas profundas às sua forma única de ser. Para
Frankl a pergunta fundamental foi ―qual é sentido da vida?‖ Para São Tomás Aquino
era ―quem é Deus?‖ O homem carrega em si uma indagação que à medida que a
responde descobre em si uma realidade única que o leva a sair de si e se doar, e
encontrar um porquê de sua existência.
Como dom único, de singularidade imparcial, Deus vem revelar ao homem o
que o homem em si é de fato, sua preciosidade única, e a partir desta descoberta
que deve ser realizada por cada indivíduo o homem se realiza, pois sabe que em
Deus colocou sua confiança a este está acima de todas as coisas e situações.
Nesta perspectiva poderíamos nos referir a Escatologia que nos leva a
perceber que a vida humana vai além da vida imanente, como que uma vocação
pessoal única. Podemos perceber nitidamente isto na vida de Jesus Cristo, o
Humano por excelência, onde mesmo, apesar de todas as injustiças apontadas a ele
pela oposição dos líderes religiosos de seu tempo, permaneceu em pé, confiante,
seguro de si e crente que não era em vão seu sofrimento, ciente da vontade do Pai e
que sua missão era compreendida em outra dimensão, não meramente o
reconhecimento neste mundo.
Ele soube se posicionar de forma livre e responsável frente à missão que o
Pai lhe confiou e nisso deixa a cada um, não só a certeza que mesmo diante de
perseguições e das cruzes da vida, sejam elas pequenas ou grandes, há no ser
humano algo de tão precioso, um quê de liberdade, na qual nenhuma estrutura por
mais opressora que seja pode interferir. Em todas as situações que se
60
apresentavam, Jesus separava o ato da pessoa restituindo a sua dignidade, mas
também responsabilizando o homem sobre sua capacidade de não mais pecar.
Toda realidade que promove o ser humano busca de fato, fazer com que a
própria pessoa se responsabilize por sua situação, e livre de qualquer tipo de
exploração, buscará com que o ser humano seja protagonista de sua vida,
consciente de suas responsabilidades e ativo na sua forma de atuação, contribuinte
do desenvolvimento humano, justamente por sua forma única de percepção da
realidade, de seus valores, enfim partilhando com os outros o que de mais precioso
tem a sua singularidade ímpar que transparece em si e que revela a beleza do rosto
de Deus.
Diante de situações que humanamente não se compreende, sejam elas
pequenas como grandes angústias e sofrimentos humanos, busca forças além de si,
em Deus, pois na convicção mais profunda de seu ser sabe que estas não são em
vão, que lhes foram apresentadas, e que terão sentido na medida em que em Deus
se busca força para superá-las, e há em si mesmo a capacidade de superá-las. Na
verdade, diante delas podemos ter uma postura que leva a própria realidade a ser
interpelada, Frankl afirma que a realidade no ser humano em que o sofrimento em si
não pode ter poder algum sobre a liberdade interior.
O ser humano é uma oscilação de realização e de busca profunda de ser, e
compreendendo a plena revelação de Deus em Cristo, Cristo nos ensina claramente
que toda vida investida em prol da vida não está isenta de sofrimentos e
contrariedades.
Em um último e violento protesto contra o inexorável de minha morte iminente, senti como se meu... senti-me transcender àquele mundo desesperado, insensato, e de alguma parte escutei o vitorioso ―sim‖ como contestação á minha pergunta sobre a existência de uma intencionalidade última. E naquele momento, em uma franja longínqua ascendeu uma luz, que ficou ali fixa no horizonte como alguém a houvera pintado, em meio do gris miserável daquele amanhecer na Baviera. Et lux in tenebris lucet, e a luz brilhou em meio à obscuridade. (FRANKL, 1982, p.48)
O Deus apresentado por Frankl ou apresentado pela Teologia, é um Deus
que vem em resposta aos anseios humanos, que toca o ser na sua parte mais
própria, na sua essência e assim o leva a perceber que sua vida não tem somente a
dimensão imanente, mas também transcende.
61
3.3 O anseio humano por autotranscender, de encontrar-se em Deus
Em sua busca de sentido nos fatos ocorrentes em sua existência o homem
visa mais realizações que lhe dêem resultados meramente passageiros, busca a
resposta ao seu ser e compreendendo este com o mais profundo ser em essência e
esta essência compreendida em sua dignidade que o leva a transcender, pois
reconhece que no decorrer de sua vida está presente uma força maior que vai além
de suas possibilidades.
O sentido na vida está presente em reconhecer que a vida carrega em si um
sentido, e que frente a sua existência o ser humano é chamado a estar consciente
de sua responsabilidade, de sua singularidade e importância e estando desta forma
já não se pergunta se a vida tem um sentido, pois a percebe plena de sentido.
Tu és grande, Senhor, e muito digno de louvor: grande é o teu poder, e tua sabedoria não tem medida. E o homem, pequena parte da tua criação, quer louvar-Te. Tu mesmo o incitas a isso, fazendo que encontre suas delícias em seu louvor, porque nos fizestes, Senhor, para ti e nosso coração está inquieto até que descanse em ti".(SANTO AGOSTINHO, 354-430)
Esta pergunta muitas vezes, neste caso, não é indagada pois sua resposta já
é evidente ao ser que busca ser o protagonista de sua existência, dado assim que
entra aqui a afirmação de Frankl já citada, que o sentido da vida é buscar que o
homem seja responsável e consciente de sua responsabilidade.
A presença de Deus, podemos compreendê-la como parte fundamental nesta
busca, levando o homem a relacionar-se com Ele de uma forma mais existencial que
ideológica, pois sendo de importância singular o conhecimento intelectual e teórico
do que cremos, pode em algumas situações não dar sentido convincente para
superar estas situações fundamentadas nesta relação com Deus.
O homem busca em si mais que uma ideologia filosófica para fundamentar
sua vida. Busca em si uma resposta que vise além do imanente, e superficial, e na
medida em que percebe a necessidade de relacionar-se com este ser que vai além
de si, mas que carrega em si certo ponto de equilíbrio e segurança, se
responsabiliza por sua vida e existência, buscando respondê-la de forma livre e
consciente, confiante que este Deus não se baseia em seus limites e dificuldades,
mas sim vai além e por pura gratuidade, fazendo o homem perceber que não há
nada que o separe deste Deus.
O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, que foi criado por Deus e para Deus. Deus não deixa de atrair o homem para si, e só em
62
Deus encontra a paz, a verdade e a alegria, que não cessa de buscar. O homem é um ser religioso. Como dizia São Paulo na cidade de Atenas, "em
Deus vivemos, nos movemos e existimos" 19
(CATECISMO DA IGREJA
CATÓLICA. Atg. 27, 1993, p.23)
Como já nos referimos nos capítulos anteriores, somente podemos nos referir
ao homem se for contemplado em sua totalidade, considerando também que há no
ser humano uma busca de realização e essa vai além do natural e humano. O ser
humano carrega em si esta busca de relação com o transcendente, com Deus, e
podemos notar que ela está vinculada com a parte mais profunda; ―o ser humano no
seu íntimo mais íntimo, se confunde com o divino‖ (WINCKEL, 1985, p. 08).
O homem, na medida que busca relacionar-se com Deus, pauta sua vida em
sua convicção de fé, suas opções tanto no âmbito das ações, sejam elas de nível
pessoal, social, familiar ou religiosa, serão baseadas e conforme a sua crença, esta
lhe assegura a paz interior na qual situação alguma poderá inquietar, pois esta força
não há nenhuma outra que a supere em grandeza, onipotência e onipresença, que
é Deus e fundamentado Nele seguirá de cabeça erguida frente aos desafios, e o que
há de mais belo no homem é a sua integridade interior. Poderíamos fazer uma
alusão ao texto apresentado pelo evangelista.
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha.E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa; contudo não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras, e não as põe em prática, será comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia.E desceu a chuva, correram as torrentes, sopraram os ventos, e bateram com ímpeto contra aquela casa, e ela caiu; e grande foi a sua queda.Ao concluir Jesus este discurso, as multidões se maravilhavam da sua doutrina;porque as ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas. (MATEUS 7:24-29)
À medida que esta relação de fé com Deus é aprofundada por meio de
fundamentações teóricas ou pela prática comunitária e pessoal, esta vem a significar
as realidades mesmo que mais obscura da realidade humana, pois toca na liberdade
mais profunda do homem como aponta Frankl, trazendo uma paz interior que é
transmitida por um semblante, que mesmo em situações difíceis põem em Deus a
sua segurança.
Partindo da Teologia da revelação percebemos um constante cuidar do
homem por parte de Deus, o homem foi criado do nada, Deus o criou e Deus
19
ATOS DOS APÓSTOLOS, 17:28. b
63
poderia esquecê-lo nesta situação de dor, ―pode uma mulher esquecer-se de seu
filho de colo, de maneira que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda
que esta se esquecesse, eu, todavia, não me esqueceria de ti.‖20 Deus é amor e não
pode negar a si mesmo, sendo Ele bondade e amor, não ficaria passivo diante do
sofrimento. Ele suscita no coração humano, na consciência humana esta busca por
um sentido além do imanente.
A busca de sentido é uma instancia do ser humano que cedo ou tarde vem a
indagá-lo e na medida em que o homem fundamenta a sua vida contemplando a
dimensão espiritual, consegue perceber que sua vida não tem um fim em si mesmo,
aqui neste mundo, mas que vai além e que carrega por si mesmo.
Ao nos referirmos à teoria frankliana não queremos de fato abordar de uma
forma meramente psicológica, mas com o intuito de perceber no âmago da pessoa
humana esta presença de Deus, esta busca espiritual que o leva a buscar se realizar
mais que meramente imanente, mas que o leve a construir uma vida presente, aqui
e agora, buscando responder a Deus, e que esta decisão envolve coragem de viver
a vida em sua unicidade e singularidade própria, como o testemunhou Cristo aos
homens.
O conhecimento de Deus é um dom divino e o máximo que o ser humano
pode fazer em resposta a este dom é dispor-se a recebê-lo ou não, e mesmo
quando se ―dispõem‖21 os sofrimentos físicos, não fica isento de dificuldades
próprias de sua condição humana, mas percebe nelas a possibilidade de aproximar-
se de Deus através de seu interior, olhando assim também com respeito,
sensibilidade e acolhimento os sofrimentos e as limitações do próximo.
Deus parte da realidade humana, da própria condição limitada do ser humano
para levar o homem ao sentido exato e real das coisas e ao mesmo tempo a
dimensão espiritual que toca no mais profundo de sua existência, levando-o a
posicionar-se, desenvolver-se como um ser que não é meramente passivo frente à
realidade mas que de certa forma interfere de forma determinante, de forma a ser
um protagonista de tudo o que o cerca, para realizar o que de mais belo pode o ser
humano ser por sua própria condição diferente dos demais seres sua esperança e
sua sensibilidade frente à vida.
20
ISAÍAS, 49:15. 21
No sentido em que aceita o sofrimento ou as próprias condições da vida.
64
Esta compreensão dá ao homem uma perspectiva mais divina dos fatos
levando-o a ver a realidade que o cerca de uma forma mais transcendente,
percebendo a sua realidade com os olhos da fé e assim vivendo de forma mais
serena o que lhe cerca, levando a sair de si e superar as situações adversas de sua
existência. A liberdade humana é o que de mais precioso há no ser humano, tanto
que frente à liberdade do homem Deus permanece em silencio mesmo que ela
tenha vindo de Deus mesmo.
3.4 Sentido espiritual da existência humana
O ser humano é um ser que não se realiza dando ênfase somente a uma de
suas dimensões, pois quando isto acontece o homem ainda no mais profundo de
seu ser se sente vazio, quando está consciente de sua totalidade e busca cultivar o
ser Humano profundo, próprio de sua dignidade de criatura feitas a imagem e
semelhança de Deus, contempla a totalidade de seu ser, e suas dimensões não se
excluem mas são partes integrantes umas das outras, favorecendo assim uma maior
liberdade interior sobre a qual o ambiente externo não tem interferência,
[...] este período, de mudanças rápidas e complexas, deixa, sobretudo os jovens, a quem pertence e de quem depende o futuro, na sensação de estarem privados de pontos de referência autênticos. A necessidade de um alicerce sobre o qual construir a existência pessoal e social faz-se sentir de maneira premente, principalmente quando se é obrigado a constatar o caráter fragmentário de propostas que elevam o efêmero ao nível de valor, iludindo assim a possibilidade de se alcançar o verdadeiro sentido da existência. Deste modo, muitos arrastam a sua vida quase até à borda do precipício, sem saber o que os espera. Isto depende também do fato de, às vezes, quem era chamado por vocação a exprimir em formas culturais o fruto da sua reflexão, ter desviado o olhar da verdade, preferindo o sucesso imediato ao esforço duma paciente investigação sobre aquilo que merece ser vivido. (JOÃO PAULO II, 2006, p. 13, § 6)
Esta sensação de totalidade não está vinculada a um egoísmo, mas na
medida em que é real amplia-se a todas as relações estabelecidas pelo homem,
sendo elas de nível pessoal, relacionamentos interpessoais, com a natureza, enfim
com tudo o que lhe cerca, pois percebe a sua riqueza interior e sua pequenez frente
a tudo criado, dado que a fonte de tudo é Deus e é Deus a sua essência mais
profunda, coerente e plena.
65
Quando nos referimos à vida espiritual, não estamos desconsiderando a
realidade imanente do homem, mas sim partindo desta, a elevando para destacar o
que a vida carrega em si como divino, como autotranscendente. Para que o homem
tenha uma postura, ou seja, mais que uma postura, uma opção, uma decisão frente
à vida, uma adesão a Deus, adesão que o leva a uma atenção e uma busca de
sintonia com a sua presença na humanidade, e na existência, faz com que se viva
de forma mais otimista, esperançosa a nossa própria condição humana, leva o ser
humano a viver de forma consciente centrado e realizado em sua totalidade, que
não depende de uma vida estável, mais que em meio as tribulações próprias da vida
mantém a sua estabilidade interior.
Para que o homem busque viver na presença de Deus de modo algum
subtraímos o nosso ser humano, no entanto o conhecimento deste Ser que supera
de tal forma a nossa condição humana que só é compreendida como ação Dele em
nosso favor, a revelação dele através de nossa fé, que ultrapassa a nossa própria
linguagem de expressão.
O ser humano é convidado a aprender a contemplar a vida mais que vivê-la e
deixá-la passar sem sentido ou significado em profundidade, viver deve-se ser
compreendido mais que um mero respirar, que mais um a existir, viver em plenitude
é participar de forma diferenciada nas coisas concretas, simples ou difíceis da vida,
um ser pessoa em profundidade, em sua totalidade.
A realização de sermos humanos que vai se tornando humano em sua
dimensão mais sincera e real, e na medida em que o homem contempla a beleza de
seu ser em plenitude, responde a Deus, por que se reconhece Nele, na relação com
Ele, com sua percepção, sua atenção, por meio de sua intuição que o faz aderir a
uma crença religiosa, faz perceber que sua vivência crítica, carrega em si mais que
um valor familiar, herdado pelos pais, carrega em si uma convicção pessoal, uma
adesão à qual dá suporte em toda e diferente situações da vida, até mesmo o além
da vida, a morte.
Leva o homem a amar sem medidas e na gratuidade, não para que o outro
tenha a mesma percepção, mas como doação de seu próprio ser para realização da
plenitude da vida do outro, do próximo, da vida contemplada em tudo, pois
contempla com os olhos da fé, consegue ler os fatos da vida por uma ótica que
supera os fatos, e encontra em Deus a plenitude de sua vida e de sua essência, o
66
ser que se dá independentemente do acolhimento humano, se dá por amor. O Papa
João Paulo II na sua Carta Encíclica Fides et Ratio afirma:
A revelação cristã é a verdadeira estrela de orientação para o homem, que avança por entre os condicionalismos da mentalidade imanentista e os reducionismos duma lógica tecnocrática; é a última possibilidade oferecida por Deus, para reencontrar em plenitude aquele projeto primordial de amor que teve início com a criação. Ao homem ansioso de conhecer a verdade — se ainda é capaz de ver para além de si mesmo e levantar os olhos acima dos seus próprios projetos — é-lhe concedida a possibilidade de recuperar a genuína relação com a sua vida, seguindo a estrada da verdade. Podem-se aplicar a esta situação as seguintes palavras do Deuteronómio: ―A lei que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu alcance. Não está no céu, para que digas: "Quem subirá por nós ao céu e no-la irá buscar?"Não está tão pouco do outro lado do mar, para que digas: "Quem atravessará o mar para no-la buscar e no-la fazer ouvir para que a observemos?"Não, ela está muito perto de ti: está na tua boca e no teu coração; e tu podes cumpri-la‖ (30, 11-14). Temos um eco deste texto no famoso pensamento do filósofo e teólogo Santo Agostinho: ―Noli foras ire, in te ipsum redi. In interiore homine habitat veritas‖ (2006, p.25, §15)
À medida que busca a relação com Deus e na coerência com seus próprios
valores, vive uma convicção interna de estar fazendo a coisa certa, mesmo que não
encontre sentido aparente, ou apoio externo, ou resposta vigente, racional explícita
de afirmação sobre a postura tomada, sabe que em si a vida carrega um sentido
próprio, existente sobre quaisquer aspectos e aparências, a crença de saber estar
fazendo a coisa certa pelo encontro daquilo que o realiza em plenitude, Deus.
Frente a isto, o ser humano lança-se de tal forma que não precisa de apoio ou
aprovação, de teorias, abordagens filosóficas, enfim, algum suporte, pois reconhece
em si próprio o apoio de estar fazendo a coisa certa, de promover a vida mesmo
frente à cultura da morte tanto incutida na nossa sociedade atual, num profetismo
que denuncia a alienação mascarada de nossos dias atuais, que não nos leva a
perceber que a vida em si só, e por si só já é digna de ser preservada, encarada de
frente não para desprezá-la, ou se mostra prepotente e orgulhoso, e fazer dela mero
produto a ser exposto como a mais nova griff de cirurgias plásticas e adereços
corporais, mas, a certeza de que termos em nós a resposta de que a vida nos
questiona, e não porque nos autocentramos, somos autossuficientes, mas porque
nos autotranscendemos, percebemos que ávida carrega algo a mais que o aqui.
A verdade da revelação cristã, que se encontra em Jesus de Nazaré, permite a quem quer que seja perceber o ― mistério‖ da própria vida. Enquanto verdade suprema, ao mesmo tempo que respeita a autonomia da criatura e a sua liberdade, obriga-a a abrir-se à transcendência. Aqui, a relação entre liberdade e verdade atinge o seu máximo grau, podendo-se compreender plenamente esta palavra do Senhor: ―Conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á‖ (JOÃO PAULO II, 2006, p. 24-25, §15)
67
Buscamos nos elevar a Deus, não só pela razão, mas por sermos humanos,
criaturas Dele. Carregamos em nós a liberdade, encontrando em nós a Voz de Deus
que clama em nós e por nós, para que de fato aprendamos e saibamos escolher a
vida, e promovê-la com responsabilidade, pois Deus não nos criou meros
espectadores, mas sim protagonista, nos chama a consciência, a crítica se for
necessário, mas que seja por uma existência profunda, que se fundamenta em
Deus, e encontra Nele a plenitude de seu próprio existir, e reconhece Nele que
fazemos parte de uma só família, e assim reconhecemos no outros traços nossos
que nos identifica com o nosso Criador, e nos corresponsabilizamos com a
humanidade.
Na experiência de Deus, na existência humana definições teóricas e
fundamentadas e estruturadas não dizem nada, somente a experiência em si de
Deus, e esta somente poderá ser cultivada pelo indivíduo, poderá responder algo à
sua vida e à realidade que o cerca. Especulações intelectuais sem desmerecer a fé
fundamentada não garantem uma fé sólida e robustecida. Como foi afirmado no
primeiro capítulo ―é mais fácil chegar a Deus pela humildade do que pela razão.‖
Dar-se conta da dimensão espiritual presente no homem não parte de
exercícios, mas de uma atenção, poderíamos dizer, dada com todo o ser, quando se
é tomado pela presença de Deus; a nossa atenção se concentra na realidade
transcendente, fazendo o homem perceber as suas limitações, mas não se focando
nelas, se autotranscendendo, como que se precipitando para fora de si para
encontrar a si mesmo em plenitude, reconhecendo que o seu centro não se encontra
nele próprio, reconhecendo em si mesmo muito Daquele que nos criou à sua
Imagem e semelhança, que nos atrai a si, que nos dá de si mesmo.
Atraídos por Deus e respondendo a esta atração o homem não se prende às
coisas da mera natureza humana, mas sim se lança em Deus para encontrar-se
inteiramente homem na parte mais real de sua vida e ser nesta existência, nos
levando a uma percepção mais elevada de Deus e da nossa própria vida.
3.5 Deus e um sentido frente ao sofrimento humano
Quando se faz referência à busca de sentido e de forma muito particular em
situações de sofrimentos sendo eles, físicos, psíquicos ou morais, podemos sempre
68
nos referir que Deus jamais quer o sofrimento humano, pois criou o homem para ser
feliz, no entanto por sua própria condição humana agrega a si o sofrimento.
No testemunho de Jesus, mesmo sendo Deus feito homem, não se isentou do
sofrimento, dado que o sofrimento não é frente algo querido por Deus, mas algo
próprio da condição humana. Jesus passou pela dor, pela morte e pela cruz, para
que a humanidade pudesse entender que Deus ama seu povo a ponto de entregar
seu próprio Filho. Através de como se vive o sofrimento pode-se compreender que
através dele também podemos encontrar Deus. Jesus se fez homem, encarnou-se
para fazer parte da nossa condição humana, sofreu a paixão e a morte de cruz, para
que se compreendesse a grandeza do homem, não só de seu tempo, mas de todos
os tempos.
Quando nos referimos ao sofrimento como próprio da condição humana,
queremos dizer que muitas das doenças e sofrimentos humanos são de forma direta
ou indiretas causas de consequências, do individuo quando não sabe fazer opções
dignas de seu ser, ou de uma sociedade, egoísta e centrada no capitalismo, onde
muitas vezes prefere usar do seu próximo de forma utilitarista do que realmente
pautar a sua vivência em valores universais que visem promover a família humana.
Sendo algo próprio da sua condição fisiológica, há algumas doenças
biológicas e também algumas psíquicas causadas pela ansiedade em massa que
leva o ser humano a perder a sua parte mais íntima e sadia, afastando-se de suas
emoções e sentimentos, de sua espiritualidade e relação com Deus, e levando uma
vida envolta a condicionamentos internos ou externos, esquecendo que a doença
faz parte do ser vivo e podemos perceber que esta realidade é também dos demais
seres vivos e não somente do homem.
Devido à percepção da sociedade moderna, muitas vezes a parte sensível,
emocional, espiritual mais profunda do ser humano, não é considerada, e até muitas
vezes é ridicularizada, mostrando que a ética vigente muitas vezes são mais
―valores‖ pessoais nos quais nem mesmo a próprias pessoas que a vivem refletem
sobre os mesmos e se tornam relativos e poucos convincentes, porém nisto tudo o
homem se frustra e fica mais distante do que é chamado a ser.
Frente a tudo o que é apresentado e questionado pelo homem, frente à esta
realidade, o homem também se questiona, se abatendo profundamente também na
sua dimensão espiritual, na sua relação com Deus, e se faz necessário um grande
69
passo na fé para que venha a fundamentar a sua esperança em Deus sobre
quaisquer condições humanas.
Deus não abandona o homem, mesmo nas tribulações humanas, como
alguns nos afirmam frente ao sofrimento. Deus não está provando o ser humano,
mas está ao nosso lado diante dos sofrimentos. Porém é frente aos sofrimentos que
tiramos da vida grandes lições, para amarmos mais gratuitamente, para que o
homem possa ser mais generoso na suas relações e na forma de encarar a vida, na
forma de valorizar as coisas que não passam e considerar menos as coisas
imanentes.
O sofrimento causa no ser humano mudanças profundas e essenciais,
fazendo-o mais humano e o leva a considerar o valor de nossas vidas e sua
fragilidade, e reconhecer que a vida é um dom de Deus. Dom que nos cabe cuidá-lo
mas muitas coisas não dependem de nós, como por exemplo, a morte. Esta
realidade, porém não nos coloca como meros espectadores, mas sim participantes
ativos na criação de Deus, através de nossas vidas, mesmo sabendo que a matéria
prima sempre vem das mãos divinas; somos responsáveis diante de Deus por nossa
vida, por nossa abertura à sua graça que sempre nos acompanha, pois a vida é um
dom dado por Deus. O que fazemos com ela é nossa resposta à iniciativa divina.
Nas dificuldades, Deus desperta a capacidade de aceitar as situações e as
transpor, superá-las e tirar delas grandes lições de humildade, de reconhecer que o
ser humano é um sopro de vida e que não depende de nós nem se quer o minuto
seguinte de nossa existência, libertando-nos da prepotência, do orgulho, da vaidade,
fazendo-nos reconhecer que é a ação de Deus que age em nós, na medida que nos
dispomos e Ele, como afirma Borriello, ( 2003, p. 252).
Na experiência cristã: É cristão, pois, aquele que tem a graça, dada pelo Espírito Santo, de ―crer‖, isto é, de entregar-se ―todo inteiro‖ (cf.DV 5) ao ―Deus da esperança‖ (Rm 15, 13), em qualquer circunstância na qual venha a se encontrar; qualquer acontecimento que lhe sobrevier poderá fazê-lo sofrer, mas não perturbará profundamente por muito tempo, porque teve a graça do Espírito Santo de entrar em comunhão afetivo-filial ( cf. II Tm 2,12). Por isso, em face das vicissitudes, provações, aborrecimentos, aflições (cf. At 5,41; 14,22;I Pd 4, 12-16), sabe ―muito bem contemplar-me em qualquer situação. Sei passar provações e sei viver em abundancia. Para tudo e por tudo estou iniciado...‖ Fl 4,11-12).
22
22
Dicionário de Mística, dirigido por L. BORRIELLO- E. CARUANA-M. R. DEL GENIO- N.SUFFI.
70
Este caminho se dá pela fé, e está inspirado em Deus por meio da ação do
Espírito Santo, o qual dá ao homem a capacidade de responder a Deus frente a
suas limitações.
3.6 A liberdade e a resposta do homem a Deus
Ao referirmo-nos à presença de Deus no homem e pensarmos que a essência
do homem é entrar em relação com Ele, não podemos deixar de considerar que está
sempre presente no ser humano o livre arbítrio no qual Deus o convida a comunhão
com Ele e com os outros, e diante disto o homem pode se negar a se dispor a esta
relação.
Como já nos referimos, Deus ao criar o homem, o fez à sua imagem e
semelhança e sem dúvida deixou inscrito no coração humano a liberdade, mesmo
sabendo que o homem poderia através dela negar sua relação com Deus ou vivê-la
de forma meramente calculista reduzindo esta relação como alguém ao qual me
refiro nos momentos de dor e sofrimento, mas não faz parte do meu dia a dia, um
Deus distante que o melhor não é negá-lo, mas deixá-lo lá, distante.
A religiosidade presente em cada ser humano não deveria ser imposta, e
deve ser algo que parta do ser humano. Sobre a liberdade da fé, o Catecismo da
Igreja Católica afirma: ―O homem deve responder a Deus, crendo por livre vontade.
Por conseguinte, ninguém deve ser forçado contra sua vontade a abraçar a fé. Pois
o ato de fé é por sua natureza voluntário‖ (§ 160), Viktor Frankl na percepção da
Logoterapia visava a importância de não se impor frente a religiosidade mas de
respeitá-la e considerá-la no decorrer do processo psicológico de seus pacientes.
Ou seja, mesmo estando inscrito no coração humano a busca da relação com
Deus e compreendendo que esta busca faz parte de sua indagação mais profunda,
Deus criou o homem para ser livre, e pelo mesmo motivo, na liberdade o homem é
capaz de negá-lo; mesmo assim Deus continua a se revelar.
Deus, ao criar o homem capaz de percebê-lo, quer uma resposta do homem
de forma a considerar a sua responsabilidade, seus motivos, suas alternativas para
atingir o relacionamento com Deus, e assim de fato ter uma experiência com Deus
71
de forma que esta fundamente e resignifique toda sua vida. Para afirmar esta
verdade, na Fides et Ratio, o Papa João Paulo escreve:
[...] o conhecimento da fé não anula o mistério; torna-o apenas mais evidente e apresenta-o como um fato essencial para a vida do homem: Cristo Senhor, ‖na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime‖,que é participar no mistério da vida trinitária de Deus. A Revelação coloca dentro da história um ponto de referência de que o homem não pode prescindir, se quiser chegar a compreender o mistério da sua existência; mas, por outro lado, este conhecimento apela constantemente para o mistério de Deus que a mente não consegue abarcar, mas apenas receber e acolher na fé. Entre estes dois momentos, a razão possui o seu espaço peculiar que lhe permite investigar e compreender, sem ser limitada por nada mais que a sua finitude ante o mistério infinito de Deus. (2006, p. 23, § 14 )
O ser humano, em todas as suas experiências, precisa de fato ir ao encontro
do outro, para que dê um relacionamento fundamental a sua vida e existência. O
homem estabelece diferentes relações; estas se estabelecem frente a este espaço
que o leva a considerar que não foi criado para a solidão mas para a comunhão
levando-o ao encontro da outra pessoa livremente e na sua alteridade e
singularidade responder de forma a deixar-se encontrar, isto é de fato, um
estabelecer de relações quando ambas as partes dão de si para que haja um
encontro e uma relação significativa.Isto se dá também na relação com Deus: Deus
se revela, o homem o busca e entra em relação com Deus.
A resposta do homem a Deus não é condicionada por suas limitações,
próprias de sua condição, mas sim uma resposta livre, para responder ao apelo de
Deus no seu íntimo; é ai que podemos entrar em conflito quando nos referimos a um
Deus inconsciente, ou como uma transcendência latente no interior do homem. Deus
não é inconsciente mas está presente no inconsciente humano.
[...] a fé é uma resposta de obediência a Deus. Isto implica que Ele seja reconhecido na sua divindade, transcendência e liberdade suprema. Deus que Se dá a conhecer na autoridade da sua transcendência absoluta, traz consigo também a credibilidade dos conteúdos que revela. Pela fé, o homem presta assentimento a esse testemunho divino. Isto significa que reconhece plena e integralmente a verdade de tudo o que foi revelado, porque é o próprio Deus que o garante. Esta verdade, oferecida ao homem sem que ele a possa exigir, insere-se no horizonte da comunicação interpessoal e impele a razão a abrir-se a esta e a acolher o seu sentido profundo. É por isso que o ato pelo qual nos entregamos a Deus sempre foi considerado pela Igreja como um momento de opção fundamental, que envolve a pessoa inteira. Inteligência e vontade põem em ação o melhor da sua natureza espiritual, para consentir que o sujeito realize um ato no pleno exercício da sua liberdade pessoal. Na fé, portanto, não basta a liberdade estar presente, exige-se que entre em ação. Mais, é a fé que permite a cada um exprimir, do melhor modo, a sua própria liberdade. Por outras palavras, a liberdade não se realiza nas opções contra Deus. Na verdade, como poderia ser considerado um uso autêntico da liberdade, a recusa de se abrir
72
àquilo que permite a realização de si mesmo? No acreditar é que a pessoa realiza o ato mais significativo da sua existência; de fato, nele a liberdade alcança a certeza da verdade e decide viver nela. (JOÂO PAULO II, 2006, p. 21, § 13)
A liberdade de Deus ao criar o ser humano é considerada uma verdade
revelada, e nos referindo a ela, não podemos negar a liberdade humana, pois é em
nós uma força divina. Deus não é um Deus que prefere ficar na arquibancada da
vida sem intervir aos clamores humanos, mas quer que o homem frente à sua
liberdade opte por fazer a sua vontade e assim encontre Nele o sentido e o motivo
para fundamentar sua vida e encontrar um sentido para vida; este sentido
compreendido como a contemplação da presença de Deus na existência humana.
Como conclusão pessoal teológica compreendemos que Deus ao criar o
homem à sua imagem e semelhança suscitou em seu ser o desejo de busca-lo Deus
para descobrir Nele a plenitude de sua existência humana. Na medida em que se
relaciona e busca aprofundar-se nesta relação com Deus encontra em si o sentido
da vida e a contempla em sua totalidade considerando as demais dimensões de sua
existência, pois o homem não é um ser fragmentado.
Esta busca de Deus o leva a relacionar-se de forma satisfatória consigo
mesmo, capaz de transcender as situações de sua vida sendo responsável e
proativo frente aos demais seres humanos, considerando assim que independente
da opção feita pelo homem ele tende a realizar-se à medida que busca Deus na sua
parte mais íntima e encontra Nele o foco de todo o seu existir.
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término deste trabalho, não buscamos um pensamento fechado sobre o
tema, pois é mais que prudente perceber a riqueza dos pensadores ímpares que
refletem sobre a presença de Deus e a busca de sentido a Logoterapia, sendo tanto
a primeira problemática como a segunda de ampla explanação. O objetivo de
referirmos à presença de Deus e a Logoterapia neste trabalho é a de buscar
subsídios para compreender um pouco mais sobre a presença de Deus no ser
humano e como esta presença o leva a encontrar um sentido para a vida.
O tema sobre a presença de Deus nos levou a refletir sobre a condição
própria do ser humano em suas diferentes dimensões, percebendo-o na sua
complexidade e na sua busca de realização como um ser integral. Notamos que está
presente no ser humano de todas as épocas uma inquietação que o leva a perceber-
se que mesmo diante de tantas propostas de felicidade e facilidade e de meios que
prometem garantia de uma vida plena, cômoda e prazerosa, surgem na existência
humana questionamentos que lhe são próprios. Isto deixa perceber que a vida
carrega em si um sentido que vai além das expectativas meramente imantes.
O homem não pode ser compreendido somente quando é considerado na sua
dimensão subjetiva, social, psíquica, mas deve-se levar em consideração que há
nele algo que o leva a perceber que sua vida vai além de sua realidade humana,
algo ―sobre-humano‖ que envolve a si próprio e as demais realidades que o cercam.
Analisando a condição própria do ser humano o diferenciamos dos demais
seres, por sua capacidade de fazer indagações a si próprio e a respeito da realidade
que o cerca, dispondo do uso da razão para empreender uma relação com o
transcendente, percebendo que sua vida tem uma dimensão além do aqui e do
agora, pois o homem é constituído de duas dimensões: a material ou imanente, e a
espiritual ou transcendente, ambas o auxiliarão na busca de fazer com que sua
existência se torne significativa e venha a dar respostas vigentes para as diferentes
situações de sua existência.
Todo o estudo desenvolvido busca compreender o ser humano como um ser
limitado mim, mas com uma essência em si mesmo que nada e nem ninguém
diminui sua dignidade, que o leva a ultrapassar e almejar sempre algo que o faça
superar-se. Há no ser humano uma busca de algo além do que meramente buscar-
74
se em si mesmo, levando-o a projetar-se com ênfase, acreditando nas suas
possibilidades, uma crença no qual vale a pena investir a sua existência.
De fato, constatamos na reflexão abordada neste trabalho que há presente no
homem a busca de encontrar-se, de ir além dos seus limites, que o lança como num
impulso para o infinito, e sua vida só terá um sentido quando vai em direção a Deus,
pois vem de Deus a essência do homem. Só então esta tendência limitada para o
autotranscender é satisfeita, a nossa orientação para o mistério do amor e do temor
reverencial é efetivada.
Afirmar então que, de fato, o ser humano percebe dentro de si este impulso
ao transcendente como um apelo intrínseco de sua realidade, é perceber que
mesmo sendo um ser com limites e variantes no decorrer de sua vida, ele encontra
sua essência, o centro de sua vida quando busca relacionar-se com Deus, dado que
em Deus encontra-se o centro da pessoa humana. Para os pensadores filósofos,
Deus é o princípio que torna possível o mundo ou o ser em geral, fonte ou garantia
de tudo o que há de excelente no mundo, sobretudo na realidade humana.
Este Deus se dá a conhecer através da Revelação ao homem, e esta é um o
acontecimento decisivo, pois leva o homem a perceber-se na sua dimensão
transcendente, e para que isto aconteça é indispensável a opção da fé feita pelo
homem. Esta opção de fé não será um caminho que se faz às escuras mais sim na
capacidade de aderir a esta revelação divina com a resposta da fé dada por sua
capacidade racional e de forma livre sendo que a liberdade identifica o homem como
um ser capaz de relacionar-se e participar ativamente nesta relação de revelação e
resposta de fé.
Em relação à temática apresentado por Viktor Frankl na Logoterapia com
sua visão antropológica, completa do homem, visando a dimensão espiritual busca
integrar o ser humano considerando-o esta dimensão e levando-os a perceberem-se
dignos de sua singularidade e comprometidos de forma responsável frente à vida e
seus desafios.
A presença ignorada de Deus no ser humano apresentada pelo autor é como
a pessoa se profunda em seu ser, e nesta profundidade encontra a manifestação de
Deus, como uma parte mais sadia presente no ser humano a qual não sofre
interferência condicionante de âmbito externo. Nestas situações o meio somente
terá interferência se a pessoa consciente e livremente optar por se deixar
condicionar, deixando assim claro que sobre qualquer situação, o único responsável
75
pela decadência ou superação é o individuo, reforçando a responsabilidade do ser
humano.
O que difere o homem dos outros animais é a sua dimensão noética,
entendida por Frankl, como um estado noodinâmico, ou seja, um estado de tensão
entre o que o ser humano é e o que deveria ser, a sua capacidade de projetar-se ao
futuro, perceber que as situações da vida permanecem somente por um período e
assim com esperança projetar-se a um futuro mais próspero
Após um apanhado teórico sobre a presença de Deus e a teoria de Frankl,
concluímos que a própria condição humana faz o homem perceber-se limitado e fora
do estado de culminância de seu ser; compreendemos que este próprio incômodo
presente no homem se faz presente por sua dimensão mais profunda a qual é
chamado a ser. Partindo disto compreendemos que a busca do ser humano pela
presença de Deus pode dar respostas aos seus anseios, como o sentido da vida,
pois Nele, pela fé, o homem estabelece uma relação que vai além do sofrimento,
das angústias e anseios humanos.
Todavia, ao término deste trabalho como já foi afirmado anteriormente, as
temáticas aqui consideradas são muito ricas e deixam em cada um de nós a clara
visão que o assunto em si é relevante à Teologia, à Psicologia como à Filosofia, pois
vem a refletir sobre uma questão fundamental da existência humana, o sentido da
vida. Há muitos aspectos a serem analisados com mais precisão e de um ponto de
vista mais minucioso como por exemplo a questão da autotranscendência, o sentido
do sofrimento na busca de sentido, a alteridade humana frente a presença de Deus
e a busca de sentido apresentada por Frankl, enfim assuntos que poderão ser
analisados frente aos pressupostos aqui considerados.
Por fim, concluímos que a presença de Deus no ser humano continua
envolvido num mistério dada a nossa limitação humano que de conhecimento, pois
a relação do homem com Deus, que parte primeiramente Dele, o homem é
chamado, mesmo diante de situações limites da vida, a dar uma resposta livre e
responsável frente à vida e frente a Deus, e esta resposta dará significados às
situações vividas.
76
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ALMEIDA, C.; OLIVEIRA, M. (Orgs.). O Deus dos filósofos Modernos. Petrópolis: Vozes, 2002.
AQUINO, T. de. Suma teológica. Volume. I. Porto Alegre: Est Sulina UCS, 1980.
BETTO, F. Experimentar Deus hoje: Petrópolis: Vozes, 1974.
BOEHNER, P.; GILSON, E. História da filosofia cristã. Petrópolis: Vozes, 2007.
BORRIELLO, L. E. Dicionário de mística. São Paulo: Paulus, 2003.
CAMPOS, S. L. de B. A existência do Deus criador em Tomás de Aquino, 66 folhas. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Filosofia). UFMT, Mato Grosso, 2011. Disponível em <http: // www.filosofante. Org /filosofante / not _ arquivos / pdf / Existência _ Deus _ Criador _ Tomas_ Aquino. pdf>. Acesso em: 07/06/2012.
FIZZOTTI, E. Conquista da liberdade: proposta da logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas, 1997.
FRANKL, V. E. A presença ignorada de Deus. São José de Moares: Sinodal e Vozes, 2010.
______. A questão do sentido em psicoterapia. Campinas: Papirus, 1990.
______. Bibliografia. Associação de Logoterapia Viktor Emil Frankl, Curitiba. Disponível em: < http: // www. logoterapiaonline. com. br/ pages/ normal/ viktor.php>. Acesso em: 14/02/2012.
______. Em busca de sentido. São José de Moares: Sinodal e Vozes, 2011.
______. Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
______. La idea psicológica del hombre. Madrid: Rialp, 1984.
77
______. Psicoterapia e sentido da vida. São Paulo: Quadrante, 1989.
______. Psicoterapia na prática. Campinas: Papirus,1991.
______. Um psicólogo no campo de concentração: São José de Moraes: Sinodal e Vozes, 2006. ______. Um sentido para a vida. São Paulo: Santuário, 1989. GOMES, J. C. V. Logoterapia: a psicologia existencial humanista de Viktor Emil Frankl. São Paulo: Loyola, 1987. HEIDEGGER, M. Conferências e escritos filosóficos. São Paulo: Nova cultural, 1999. HILLMAN, J. Uma busca interior em psicologia e religião. São Paulo: Paulinas, 1985. JESUS, L. M. de. Centenário de nascimento de Viktor Frankl. Revista Cultura e fé, n. 110, Porto Alegre, 2005, p. 09 -11. JULIATTO, C. I. Ciência e transcendência: duas lições a aprender. Curitiba: PUC-PR, 2011. JUNG, C. G. A natureza da psique. Obras completas. Volume VII. Petrópolis: Vozes, 1991. KRETSCHMER, W. Valor do eu e sentido da vida: dar sentido à vida.Petrópolis: Vozes; São Leopoldo: Sinodal, 1992. LÄNGLE, A. Viver com sentido. Petrópolis: Vozes; Sinodal.1992. LONERGAN, B. Método em teologia. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1994. LATOURELLE, R. Teologia da revelação. São Paulo: Paulinas, 1981. MAFRA, J. Vazo vazio: sofrimento humano, espiritualidade e pós modernidade. 48 folhas. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Psicologia). UNIVALI, Itajaí, 2007. Disponível em <http://siaibib01.univali.br/pdf/Janaina%20Mafra.pdf>. Acesso em: 10/03/2012. MONDIN, B. Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica. São Paulo: Paulus, 1997. NODARI, P. C. A busca de Deus nos solilóquios de Agostinho God in st. Augustine’s soliloquies. Porto Alegre, v. 41, n. 1 p. 150-168, jan./jun. 2011. PASCAL, Bleise. Pensamentos. São Paulo: Nova cultural, 1999.
78
PAPA PAULO VI. Gaudiun Et Spes: constituição pastoral sobre a Igreja no mundo atual. In: Paulo VI. Compêndio do Vaticano II. Roma: Loyola, 1965. PAPA JOÃO PAULO II. Dei Verbum: Sobre a Revelação Divina. Roma, In: Papa João Paulo II. Compêndio do Vaticano II. Roma: Loyola, 1965. Novembro de 1965. ______. Fides et Ratio: Sobre a Relação entre fé e razão. Roma, In: Papa João Paulo II, Roma, Loyola, 1998. SANTOS, M. M. H. Espiritualidade e sentido de vida: perspectiva logoterapeutica. 45 folhas. Trabalho de conclusão de curso (Gradação em Psicologia). UNIVALI, Itajaí. 2009. Disponível em: < HTTP: // siaibib 01. univali. Br / pdf / Manoela%20Maria%20Heil%20Santos.pdf > Acesso em: 19/05/2012. XAUSA, I. A. de M. A psicologia do sentido da vida: a primeira obra publicada no Brasil sobre a logoterapia. Petrópolis: Vozes, 1988. ______. Revista Cultura e fé. Porto Alegre, n. 108, p. 39-47, 2005. JESUS, L. M. de. Centenário de nascimento de Viktor Frankl. Revista Cultura e fé. Porto Alegre, n. 110, p. 09 -11, 2005. OTTO, R. O sagrado. Sinodal: São Leopoldo, 2011. PENNA, A. G. Em busca de Deus: introdução à filosofia da religião. Rio de Janeiro: Imago, 1999. WEIL, P. Rumo ao infinito. Petrópolis: Vozes. 2005. ZUBIRI, X. (atg) In: O Deus dos filósofos modernos, Petrópolis: Vozes, 2003.