A PONTE CAÍDA

download A PONTE CAÍDA

of 19

description

Em nossos corações estão gravados os momentos felizes; os tristes não guardamos, ou não queremos recordar.

Transcript of A PONTE CAÍDA

Qwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwer O ba das minhas lembranas LEMBRANAS tyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopa sdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjkl zxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbn mqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwert yuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopas dfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklz xcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnm qwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwerty uiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasd fghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzx cvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmq wertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyui opasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfg hjklzxcvbnmrtyuiopasdfghjklzxcvbn mqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwert yuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopas dfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklz xcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmBEN[Digite texto] Pgina 1

A PONTE CADA

A PONTE CADA Contos e Poemas

2a. EDIO ELETRNICA Copyright Outubro de 2011 Benvinda Ana Baan

Autorizada a reproduo e distribuio da obra desde que preservadas as caractersticas originais. Editor: L P Baanwww.acasadomagodasletras.net

BENVINDA ANA BAAN 2

A PONTE CADA

O Espantalho

Jos comprou um stio e nele ia plantar arroz. Tudo estava pronto e a terra j estava preparada. Comearam o plantio. Foram dias de muito trabalho, mas uma coisa no estava certa. Conforme iam plantando, as pombas iam comendo as sementes. Quando o arroz comeou a crescer, as pombas no perderam tempo, continuaram comendo o que viam pela frente. Pouco restou da plantao. As aves chegavam em bando, famintas, procurando os gros de arroz cados na terra ou nos cachos das plantas. Jos, tentando espantar as aves, soltava rojes, mas no adiantava. Elas se espalhavam, voavam de um lado para o outro, e em pouco tempo estavam de volta. Era at bonito ver a forma como as pombas devoravam os gros de arroz e as plantas que comeavam a se formar. Assim, no primeiro ano, no houve colheita: as pombas fizeram um banquete no arrozal de Jos. No ano seguinte, os vizinhos deram conselhos e as mais diferentes sugestes para Jos, mas nada dava certo. As pombas sempre voltavam e o bando era cada vez maior. Jos saiu decidiu sair procura de ajuda, de novos conselhos e de novas sugestes para pr fim ao ataque das aves. Dona Chica, uma vizinha, explicou que na regio nunca existiu uma plantao de arroz, e o que Jos estava fazendo era simplesmente alimentar as pombas. Disse que ele teria que tomar uma providncia urgente para no ter mais prejuzos. Do contrrio, teria que mudar para outro tipo de lavoura. Jos queria lidar somente com arroz. Dona Chica teve, ento, uma idia: mandou Jos fazer um espantalho. Foi a que tudo comeou. Dona Chica providenciou as roupas para o espantalho: camisa xadrez vermelha, leno

BENVINDA ANA BAAN 3

A PONTE CADA

vermelho, cala velha, palha de milho, etc... Alguns garotos ajudaram e, em pouco tempo, o espantalho estava pronto. O boneco to parecido com um homem que resolveram batiz-lo com o nome de Custdio. E l foi Custdio para o meio do arrozal, cuidar da roa de Jos. Para ajudar, penduraram vrias latinhas para fazer barulho com o vento. No comeo, at que deu certo, mas um espantalho s era pouco. Seria preciso vrios deles para manter as pombas afastadas do arrozal de Jos. Dona Chica e os garotos, com muita vontade de ajudar o agricultor, resolveram fazer mais espantalhos. Com palha de milho e roupas velhas que conseguiram, comearam os trabalhos. Decidiram fazer vrios deles, com as cabeas de palha bem presas com arame, os braos abertos, mos e ps de palha do milho. Suas roupas eram vestidas em uma armao de madeira. Quando o primeiro ficou pronto, os garotos disseram: Este se parece mais com fantasma e no com um espantalho. Continuaram o trabalho e a providncia deu certo. Penduraram muitas latinhas vazias, amarradas com cordinhas, para fazer barulho com o vento. As pombas voavam sem rumo. Para todos os lados que iam, l estavam um espantalho fazendo barulho. Os garotos se divertiam com a confuso dos pssaros, tentando pousar na plantao para comer o arroz. Os garotos, ento, tiveram uma idia. Pediram a Dona Chica que fizesse uma mulher para Custdio. A idia foi aceita e imediatamente comearam os preparativos. Custdio ia ganhar uma companheira e juntos cuidariam do arrozal de Jos. Foi quando comeou uma discusso. Eles no sabiam com qual nome batizar a mulher de Custdio.

BENVINDA ANA BAAN 4

A PONTE CADA

Finalmente, depois de muito bl-bl-bl, ficou decidido, o nome dela seria Difcil. Perguntaram aos garotos porque deram esse nome para um espantalho e os eles responderam simplesmente que fora muito "difcil" encontrar um nome para ela. Difcil tinha vestido vermelho, cabelo de corda tranada, olhos e bocas pintadas com tinta vermelha e um monte de latinhas penduradas nos braos abertos. Os garotos queriam que ela ficasse ao lado de Custdio, tomando conta do arrozal. Jos disse: Junto dele, no. Ela vai ficar bem longe do Custdio. Como os garotos discordassem e no houve acordo entre eles e Jos, decidiram fazer um sorteio. Pegaram vinte pedacinhos de papel em branco, dobraram e juntaram a estes dois outros: em um estava escrito "sim" e no outro estava escrito "no". Comearam a abrir os papis um a um. O primeiro que contivesse alguma coisa escrita indicaria a deciso. Saiu o "sim". E l foi Difcil viver com Custodio no meio do arrozal. Quando ela foi colocada ao lado dele, ela olhou para ele, piscou e sorriu. Os garotos viram aquela cena e fizeram vrios comentrios sobre o acontecido, mas acharam que era impossvel ter acontecido aquilo. Disseram: Estamos ficando malucos! Estamos vendo coisas Com os novos espantalhos, os pombos ficaram malucos, voando para todos os lados por causa do barulho. E foi assim que o arrozal de Jos nasceu todinho. Quando o tempo fechava e a chuva ameaava cair, os garotos corriam para ajudar a guardar os espantalhos no rancho. O arrozal cresceu e apareceram os primeiros cachos. Novamente os espantalhos voltaram para cuidar da roa de Jos, com mais latinhas penduradas para

BENVINDA ANA BAAN 5

A PONTE CADA

fazer muito barulho. Para os garotos isso era uma festa. Quando o vento estava forte, as latinhas batiam umas nas outras e faziam um barulho infernal. Coitado dos pombos: voavam de um lado a outro, assustados, uma dana sincronizada, um verdadeiro bal no cu. Quando o arroz foi colhido, os espantalhos foram retirados e a roa foi liberada para os pombos comerem o arroz que ficou no cho. Os garotos sempre iam ao rancho brincar com os espantalhos, pendurando mais latinhas para fazer mais barulho no arrozal de Jos. Certo dia, quando os garotos chegaram ao rancho para brincar com os espantalhos, encontraram os dois deitados no cho, abraados. Ficaram confusos, perguntando-se quem poderia ter feito isso, j que no dia anterior os garotos deixaram os espantalhos encostados na parede. Jos no seria capaz de fazer isso! concluram. Essa brincadeira no estava cheirando bem. Tinha alguma coisa errada nessa histria. Cada um dos garotos tinha uma pontinha de dvida. Quem teria feito isso? Os garotos se lembraram do dia em que colocaram Difcil ao lado de Custdio, quando a viram sorrir e piscar para Custdio. Teria sido fruto da imaginao deles? Ser? Naquele dia, no brincaram com os espantalhos. Saram, fecharam a porta do rancho e foram para casa intrigados. No outro dia, ao chegarem ao rancho, encontraram a porta aberta. Custdio e Difcil no estavam l. No lugar onde eles ficavam, s restara um monte de latinhas. Foi uma grande confuso entre os garotos. Quem abriu a porta do rancho? Quem retirou as latinhas?

BENVINDA ANA BAAN 6

A PONTE CADA

Quem levou o casal de espantalhos? Foram muitas as perguntas, mas eles no tinham respostas para elas. Saram correndo, apavorados. Perguntaram a Jos se ele havia retirado os espantalhos, mas ele garantiu que no fora ele. Quem teria feito isso? Saram pela vizinhana perguntando, e a resposta era sempre a mesma. Dona Chica, mulher vivida e conhecedora de coisas sem explicaes, deu um conselho para os garotos: Procure nos stios vizinhos! Perguntem por duas pessoas, no por dois espantalhos. Os garotos estavam com a pulga atrs da orelha. Ser que os espantalhos se transformaram em gente? Ser que aquilo que vimos no dia em que a colocamos ao lado de Custdio aconteceu de verdade? Sem respostas para suas indagaes, os garotos percorreram a vizinhana. Mais tarde, desanimados de tanto procurar, foram falar com Dona Chica. Todos diziam que ela era uma feiticeira, que falava com os mortos e encontrava pessoas e coisas desaparecidas. Mas encontrar os dois espantalhos estava sendo uma coisa difcil. Dona Chica prometeu pedir ajuda para seus guias e disse aos garotos: H um grande mistrio sobre os dois espantalhos, mas garanto que vou descobrir o que aconteceu. Os dias foram se passando. Os vizinhos, igualmente intrigados com aquele acontecimento, passaram a ajudar. Por indicao de Dona Chica, procuravam por um casal de meia idade: ele, de camisa vermelha com um

BENVINDA ANA BAAN 7

A PONTE CADA

leno no pescoo, cala velha e rasgada; ela, de vestido vermelho e duas tranas no cabelo. Os dois deveriam estar descalos. A notcia correu de boca em boca at chegar cidade e, por fim, delegacia. O delegado, com sua equipe, resolveu procurar Jos. O agricultor no sabia como explicar ao delegado que as pessoas desaparecidas, na verdade, eram um casal de espantalhos. Falou, explicou, mas o delegado riu na cara dele. Jos disse que fora por esse motivo que no procurara ajuda na delegacia. A histria toda havia sido inventada pelos garotos que queriam de volta o casal de espantalhos. E ningum tirava essa idia da cabea deles. E tem mais, disse Jos ns vamos continuar procurando, pode ter certeza disso, Dr. Delegado. Duas semanas se passaram. A cidade toda acabou se envolvendo e todos procuravam juntos. Ningum desistia da idia de encontrar o casal de espantalhos. Nas escolas, a tarefa era a mesma depois das aulas. As crianas garantiam que iriam parar quando encontrassem o casal desaparecido. A notcia chegou, finalmente, igreja. O padre queria saber da histria completa e no faltaram informantes. Todos contavam a mesma histria. Ns queremos Custodio e sua mulher de volta no rancho. Dona Chica foi consultada novamente e deu novas esperanas aos garotos. Ela disse: Os dois no esto longe. Esto procurando servio nos stios vizinhos, l para as bandas do assentamento dos sem-terra. Para l foram os garotos. De fato, ali havia passado um casal mal vestido, procurando trabalho. Eles disseram que trabalharam em um stio eBENVINDA ANA BAAN 8

A PONTE CADA

nunca ganharam um centavo. Foi por esse motivo que os dois fugiram de l. Como ali no tinha nenhum servio, os dois comeram arroz com feijo, dormiram no paiol e foram embora de madrugada, levando duas garrafas com gua. Essa descrio batia com o casal de espantalhos. Finalmente os garotos tinham uma pista quente do paradeiro dos dois e ficaram cheios de esperana de voltar a encontrar Custdio e Difcil. At uma novena foi encomendada ao padre para ajudar nisso. Passaram-se trs semanas e os garotos e a populao continuavam procurando pelos espantalhos. Certa noite, caiu um temporal e amanheceu chovendo muito forte. Os garotos no tiveram como sair para procurar o casal, mas foram todos paro rancho, sem saber da surpresa que os aguardava. Quando abriram a porta do rancho, l estavam os dois espantalhos, dormindo abraadinhos. Foi uma correria danada. Alguns ficaram vigiando os dois e os outros saram para contar a novidade para Jos e para os vizinhos. A chuva no foi obstculo para conter a alegria deles. Em pouco tempo, o stio ficou cheio de gente. Vieram at o padre e o delegado com um aparato policial. O comrcio da cidade parou. Todos foram para o stio de Jos em busca de uma explicao. Como? Por qu? O que teria acontecido? Foi uma confuso dos diabos! O povo queria tudo ao mesmo tempo, mas ningum tinha uma resposta. Os garotos reunidos tomaram uma deciso: Ns no vamos contar a ningum o que aconteceu no dia em que colocamos Difcil ao lado de Custdio. Ningum vai acreditar na gente, ento melhor ningum ficar sabendo disso. Vamos guardar isso s pra ns.

BENVINDA ANA BAAN 9

A PONTE CADA

O povo, impaciente, esperava debaixo de chuva, sem arredar o p da porta do rancho. Depois de muito tempo, os dois espantalhos acordaram e se assustaram ao ver tanta gente em volta do rancho. Custdio decidiu logo: Vamos embora daqui mulher! Esse povo vai acabar com gente. Mas, na verdade, no era isso que todos queriam. Estavam ali espera de uma explicao. Os dois eram espantalhos, como explicar que agora eles eram pessoas normais? O padre resolveu conversar com eles. Chamou-os porta e indagou: Vocs tm uma explicao para essa transformao impossvel? Custdio abraou Difcil e disse, encarando o padre e o povo ao redor: Foi o amor. Por ele, milagres acontecem... O que ningum sabia era que uma fada os havia tocado como sua varinha mgica, transformando-os em pessoas normais, para que pudessem viver seu grande amor. Precisa dizer o nome dessa fada?

BENVINDA ANA BAAN 10

A PONTE CADA

A Ponte Cada

H muitos anos, eu estudava na escola da ponte. Parece que os anos no passaram: o tempo parou. Em nossos coraes esto gravados os momentos felizes; os tristes no guardamos, ou no queremos recordar. A ponte sobre o rio, que atravessvamos para irmos escola... era gostoso e divertido jogar pedrinhas na gua, jogar flores s para v-las danarem sobre a gua antes da correnteza lev-las. Foi assim que descobrimos que a ponte era nossa fantasia. Passamos a enviar mensagens, escrevendo palavras doces, romnticas, cheias de amor, desejos, sonhos e fantasias. Ao voltar da escola, a ponte ficava cheia de meninas com suas mensagens. A gua forte destrua os pedaos de papel, mas no destrua nossas fantasias. Nossos comentrios eram sempre renovados pela nossa imaginao. Fomos crescendo, e a cada ano nossos desejos mudavam. Os pedidos em pequenos pedaos de papel agora eram cartas de amor. Nelas pedamos um namorado, um algum especial que viesse ao nosso encontro. O lugar marcado era na ponte aos domingos. Mas nunca apareceu ningum. Mesmo assim ns nunca deixamos de sonhar e ter esperana de que um dia nossos desejos se realizassem. Somente as meninas enviavam mensagens de amor e os garotos no sabiam desse segredo. Um dia descobrimos que era mais seguro colocar as mensagens dentro de uma garrafa, assim a gua no destruiria as mensagens. Assim foi feito. Entre tantas mensagens, uma dizia: "Eu sou Rita, estudo na escola da ponte e procuro algum para ser meu namorado e meu marido. No demore, eu tenho quinze anos e quero

BENVINDA ANA BAAN 11

A PONTE CADA

viver uma linda e longa histria de amor. Que o tempo seja breve. Estarei esperando na ponte todos os domingos. Usarei uma rosa vermelha no cabelo, assim serei reconhecida por quem pegar minha mensagem". Outra mensagem dizia; "Meu nome Regina e procuro um pai para mim. O meu pai partiu, foi morar com Deus no dia em que nasci. Minha me chora de saudades at hoje. Eu no quero um pai velho, ele deve ter menos de quarenta anos e mais de trinta. Que seja bonito, trabalhador, honesto e sincero. Ele dever gostar muito de mim e amar minha me. Ela muito bonita e tem trinta anos. Eu tenho doze anos procuro urgente um pai". Os sonhos das meninas iam alm da imaginao. A nica coisa em comum era a vontade de terem seus desejos realizados. O que elas no sabiam era que a ponte dos desejos estava com os dias contados. Por uma deciso poltica o rio seria represado e a ponte seria destruda. Junto, tambm seriam destrudos seus desejos de encontrar algum especial. As garrafas foram jogadas no rio e levadas pelas guas. Para onde? No sabiam. S ficou a esperana nos coraes das meninas. Esperana de que um dia suas mensagens fossem encontradas e seus sonhos realizados, antes do rio ser represado. Rita e Regina iam todos os domingos at a ponte esperar o algum especial. Comeou a construo da represa. Foram contratados muitos homens, velhos, feios, gordos, baixos, magros, altos, barrigudos, bonitos, pobres, ricos... Dois engenheiros e vrios auxiliares. Uma equipe de trezentos operrios. O trabalho comeou. Tempos depois as garrafas foram encontradas e lidas. As garrafas de Rita e Regina chamaram a ateno e foram entregues aos dois engenheiros. A distncia entre a barragem e a ponte era grande. Os operrios trabalhavam dia e noite para que o servio

BENVINDA ANA BAAN 12

A PONTE CADA

fosse entregue no prazo certo. Ningum saa do local de trabalho, eles no tinham folga nem feriados. Os fiscais eram severos, estavam sempre vigiando os trabalhadores e os alojamentos. O ano letivo tinha acabado, mas as garotas iam todos os domingos at a ponte. Agora, elas escreviam mensagens na ponte, com tinta preta, um sinal de luto sobre a construo da represa e porque a ponte seria engolida pelas guas. Foram construdas duas escolas, uma longe da represa e outra depois da ponte, isso porque no ano seguinte nenhum aluno passaria por ela para ir at a escola. Mas ali era o ponto de espera, elas jamais deixariam de ir at esse lugar e nunca perderiam a esperana. Um dia anunciaram a data em que a ponte seria fechada. As meninas estavam de frias, ento foram todas at a ponte escrever suas mensagens de protesto. Os meninos da escola no sabiam o que as meninas escreviam, mas tambm comearam a escrever suas mensagens de protesto e tristeza pelo desaparecimento da ponte. Para as guas chegarem at a ponte levaria alguns meses. Seria uma longa espera. Certo dia, ao olharem para longe, viram as guas subindo lentamente. Resolveram preparar uma festa de despedida. Contrataram um carro de som para anunciar a festa. "Quem pegou alguma mensagem em uma garrafa, por favor, comparea a esta grandiosa festa". Essa era a propaganda da festividade. Ningum estava entendendo nada sobre essas mensagens. A populao, curiosa, queria saber mais detalhes sobre essa festa, mas o homem que estava fazendo o convite no sabia explicar o significado disso tudo. Por todas as cidades em que ele passava era a mesma mensagem:

BENVINDA ANA BAAN 13

A PONTE CADA

"Venham festa de despedida, voc ficar sabendo sobre o mistrio dessas mensagens. Quem pegou alguma garrafa com uma mensagem comparea a grandiosa festa de despedida da ponte. Tragam fogos de artifcio, rosas vermelhas e brancas". Quando faltavam apenas vinte metros para as guas cobrirem a ponte, foi marcada a data da festa. Tudo foi preparado muito rpido. Muitas bandeirolas coloridas e barracas. Todos estavam curiosos para descobrir quem havia escrito aquelas mensagens. Chegou o triste dia. Rita, com a rosa no cabelo, e Regina estavam aflitas, esperando por algum que tivesse encontrado suas mensagens. Muitas meninas tinham encontrado seus pretendentes e ganharam lindos ramalhetes de rosas. A gua estava chegando na ponte. Foi um triste foguetrio. As rosas foram jogadas na gua. Muitas palmas e lgrimas. As guas cobriram quase toda a ponte, deixando apenas uns dez metros fora. Todos diziam: "Agora ela a Ponte Cada". J era madrugada quando o carro de som pediu silncio. Ateno, tem duas pessoas aqui que desejam falar? Eu sou o engenheiro Marcos, tenho vinte e cinco anos e estou procurando Rita. Eu sou o engenheiro Paulo, tenho trinta e cinco anos e estou procurando Regina. Ns estamos com suas mensagens. Por favor, venham at o carro de som. Todos aplaudiram. Os fogos iluminaram o cu, as guas e a ponte cada. Todos disseram: "Agora sabemos o verdadeiro motivo desta festa".

BENVINDA ANA BAAN 14

A PONTE CADA

As duas timidamente se aproximaram do carro de som. Todos queriam que eles se beijassem. Marcos e Rita se beijaram, Paulo e Regina deram um longo abrao de pai e filha. A ponte cada est l at hoje como um ponto turstico.

BENVINDA ANA BAAN 15

A PONTE CADA

Ponte dos Sonhos

Oh ponte... Se tu pudesses falar Com certeza contaria as vezes em que me viu chorar e as minhas queixas que em silncio ouvias

Oh ponte dos meus sonhos ali recebi meu primeiro beijo...

Ouviste os meus desejos E guardaste os segredos das minhas tristezas

Quando ele partiu certamente sentiste a mesma solido de quando o rio secou

Oh ponte solitria! Como eu, vive a lamentar... os doces momentos vividos.

BENVINDA ANA BAAN 16

A PONTE CADA

Ponte dos Desejos

Tentei ultrapassar o abismo Que me separava de ti A ponte invisvel no resistiu Eu ca em seus braos Recebi as carcias desejadas Meu corpo sentia seu calor me sufocando De sua boca eu colhia o doce mel da fruta proibida

ponte que me levou a ti Para ultrapass-la, eu no senti a distncia... O impossvel aconteceu Um amor sem fronteiras Rompeu barreiras

A ponte que nos separava Era to somente O medo de estar em seus braos.

BENVINDA ANA BAAN 17

A PONTE CADA

Terceira Idade

Ah... Esta lgrima Que tenta rolar do meu rosto Marcado pelo desgosto Aloja-se nas rugas De minha pele envelhecida

O espelho no me reconhece A menina cresceu e envelheceu Onde est sua mocidade? Sua alegria? A felicidade que sonhou? Por que guardou a tristeza em seu corao?

Olha a vida Abra essa porta Vem viver, junte-se a ns. Vamos fazer de conta Que o tempo no passou

Temos o direito de ser feliz A nossa mocidade est tambm na terceira idade.

BENVINDA ANA BAAN 18

A PONTE CADA

BENVINDA ANA BAAN Nasceu em 21/03/19... Viva, aposentada, criou 5 filhos e 2 netos. Escreve desde 1962, quando fez seu primeiro poema, dedicado ao pai. Reside em Ura, Paran, Brasil. J publicou os seguintes livros irtuais: "Os Sonhos de Pedro", "O Ba de Minhas Lembranas", "O ontador de Histrias" e "A Ponte Cada". Participou da I Antologia do Portal CEN, em 2004.

BENVINDA ANA BAAN 19