A PIRANHA TEM NOME!

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A PIRANHA TEM NOME Por Danka Maia

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Um livro Hilário!

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A PIRANHA TEM

NOME

Por

Danka Maia

A PIRANHA TEM NOME

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OFERECIMENTOS

Este livro é uma pequena homenagem aos meus filhos

postiços, que durante esta jornada de quinze anos me

deram tantas coisas, tantos sentimentos, tantas

experiências.

Tentei narrar e exagerar, algumas dessas vividas por nós.

Espero que gostem. Acredito que era o mínimo que poderia

devolver a todos, que tanto me fizeram feliz e sorrir.

Quero apenas que este singelo livro devolva em dobro cada

sorriso de cada um de vocês.

No fim desta obra estão algumas das cartinhas "amorosas"

que eles me deram.

AMO MUITO VOCÊS!

Professora Danka Maia

Danka Maia

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Está obra é mera ilusão e exagero. Nenhum fato se deu ou

se quer aconteceu como aqui narrado.

São apenas histórias de uma professora que aprendeu amar

demais seus alunos.

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"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.

Um aluno dorme,

Cansado das canseiras desta vida.

O professor vai sacudi-lo?

Vai repreendê-lo?

Não.

O Professor baixa a voz,

Com medo de acordá-lo.

Não quer destruir seus sonhos."

Carlos Drummond de Andrade

Danka Maia

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Pertencer

Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o

berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o

ser humano, no berço mesmo, já começou.

Tenho certeza de que no berço a minha primeira

vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não

importam, eu de algum modo devia estar sentindo que

não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.

Se no berço experimentei esta fome humana, ela

continua a me acompanhar pela vida afora, como se

fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de

inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a

Deus.

Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar

a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca:

tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou

pobre. Sou sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma

alma. E preciso de mais do que isso.

Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de

ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda

nova de "solidão de não pertencer" começou a me

invadir como heras num muro.

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Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que

então nunca fiz parte de clubes ou de associações?

Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu

queria, e não posso, é, por exemplo, que tudo o que me

viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo

que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são

solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se

tornar patética. É como ficar com um presente todo

embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e

não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo

me ver em situações patéticas e, por uma espécie de

contenção, evitando o tom de tragédia, raramente

embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-

se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade

intensa de pertencer vem em mim de minha própria

força - eu quero pertencer para que minha força não

seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.

Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo

reproduzir em mim a vaga e, no entanto premente

sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem

minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e

fiquei apenas: nascida.

No entanto fui preparada para ser dada à luz de um

modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por

uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que

ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então

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fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só

que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de

culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu

falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de

uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me

perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na

grande esperança.

Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente

se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha

mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a

minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie

de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu

tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser

conhecido.

A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse

para me dar a medida do que eu perco não pertencendo.

E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com

a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos

goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no

deserto mesmo que caminho!

Clarice Lispector

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MERAS APRESENTAÇÕES

O sol já ia se despedindo de mais um dia de

verão na Capital Internacional do Surf,quando Guga

chegou esbaforido tentando contar algo para Nanu e

Lana, que em posição de mantra pediam a Shiva que

desentocasse a insuportável da Bia Caniço da vida do

Matheus Souza ou como as duas se referiam ao garoto,

"Matheus Gatinho" tradução para: "Mia fraco, mas é

lindo!".

_Eita Guga, encontrou "o Mister Daddy" pelo caminho

foi? - indagou Lana, se limpando da tempestade de areia

que o amigo trouxe consigo.

_Pior!- respondeu Guga jogando-se literalmente entre as

duas senhoritas.

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_Na boa, tem algo pior que topar com teu pai, cara?-

questionou Nanu batendo as mãos uma na outra,

enquanto franzia a testa em reprovação a atitude

desmedida e suarenta do carinha.

_Tem sim. Bater com a Professora Doravantes com

aquela cara de enterro e seu uniforme bélico de urubu no

topo do cemitério.

_Tá de sacanagem?- gritou a Nanu.

_ Parada sinistra!- retrucou o amigo.

_Sérinho Guga. Para com esses vacilos, na última vez,

fez eu e a Nanu sair correndo do shopping falando que a

Doravantes tinha enfartado. Até hoje, mamãe me quer na

solitária por conta das cinquenta pratas que tirei do cofre

dela para dar aquela festinha: "Partiu Doravantes!"-

Replicou Lana em ponto de revolta.

_Cara, tô falando na moral. Dei de cara com ela saindo

do correio. Aí, neguinha me "zoiô" com uma tromba,

cabuloza aquela mulher. Até me benzi, fiquei todo

arrepiado!

_Guga e seus exageros são a hipérbole em pessoa!-

exclamou Nanu.

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De certa maneira, tinha razão, Guga era mesmo

exorbitante por natureza. Bastava um dia de sol e um

pobre urubu plainar sobre sua casa, para que entrasse em

colapso berrando aos quatro cantos que havia visto um

mau presságio. Passar em frente ao bambuzal que existia

na esquina da sua rua depois das cinco, era certeza de

que algum espírito zombeteiro o atacaria levando para a

"cidade do pé junto".

Por outro lado, Guga tinha também lá seus motivos. A

professora Doravantes era conhecida na cidade devido a

duas características básicas: Primeiro, era uma excelente

docente. Segundo, era a imagem cuspida do cúmulo do

bizarro. Logo após ter ficado viúva do Seu Olegário, um

senhorzinho gente fina que passou vinte anos da vida

fazendo sua "fezinha" na tentativa de ficar milionário, e,

no entanto, tudo que conseguiu, foi uma bela úlcera e

uma morte precoce devido ao vício na "rabugenta",

como se referia para não falar, cachaça, e de presente

deu a Doravantes pretexto duradouro para só usar o preto

como cor para elucidar seus costumes lusitanos, do

mesmo modo, suas práticas religiosas, uma autêntica

Católica Apostólica Romana, como gostava de se gabar.

Agora, igualmente era fato, que ela e Nanu não se

bicavam de jeito nenhum. Do lado da mestra, a questão

se dava em meio à implicância da garota ser filha de dois

ripongas autênticos e "assumidérrimos", que acabaram se

fixando em Saquá depois do nascimento de sua única

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filha, Nanucha Brilho de Sol Andrada, ou como todos a

conhecia: Nanu.

A consorte cismava que Nanucha não precisaria ser

misturada aos demais devido, segundo em sua opinião,o

que julgava ser uma educação libertina e intolerável. Ao

que competia à alcunha da mocinha, não gostava da

professora porque a considerava um verdadeiro pé no

saco com indigestão eterna e mais seis meses de

garantia, como costumava proferir, sempre que arguida

sobre o assunto. Porque nisto existia sentido, a

professora Doravantes perturbava a vida da adolescente

o máximo possível.

_Acho que vou me juntar a comunidade de "repetentes

anônimos" por causa dela. - confessou Nanu.

_Caraca, tá mal assim?- questionou Guga cruzando as

pernas e pondo os braços atrás da nuca.

_Pior que estou.

_Ih amiga, levanta a barriga e murcha a cabeça e dá a

volta por cima!

Nanu e Guga se entreolharam, sim, está era a

fraquezazinha da Lana, vivia confundindo e trocando

tudo, mas, não gostava nem um pouquinho de ser

corrigida nas entrelinhas.

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_Perái, não seria "Murcha a barriga e levanta a cabeça?"

_A Cabeça e a barriga são minhas, enfio, murcho,

levanto e abaixo como bem entender, senhor Luis

Gustavo!- dando as costas para os dois, e em seguida

concluindo seu competente raciocínio.

_Cada um no seu triângulo!

Foi quando o garoto sussurrou no ouvido de Nanu:

_Mas não é "Cada um no seu QUADRADO?".

Enquanto se refazia dos bombardeios ortográficos

equivocados de Lana, a menina devolve a resposta no

mesmo vento sussurrante:

_Deleta Guga , deleta!

_Bem, e agora senhoritas, o que faremos? Estou cheio de

fome. Aí Nanu, não tem aqueles grudes estranhos dos

teus pais no teu moquifo, não? Na moral, encarava de

boa, veí! Está solitária na minha pança está me deixando

doido demais, prestes a disputar o capim do "Boladão", o

cavalo do meu avô lá no Tinguí.

A comida esquisita que Gustavo se referia, eram os

pratos naturais que Maria Lua, mãe de Nanu, preparava

já que era uma adepta da culinária vegetariana. Era

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comum encontrar broto de bambu com pasta de geleia de

abacaxi ou sanduiche natural de cenoura com vagem, e,

diga-se de passagem, embora excêntricos, eram

deliciosos, desde que, o convidado não soubesse sua

origem. Afinal, quem toparia comer uma omelete (sem

ovos) de larva do bicho-da-seda?

Os três decidiram ir para joça da garota, afinal, a farofa

de broto de bambu era um delicia.

Chegaram a casa mais pilhérica da cidade, já que não

tinha muros, tetos, portas ou divisórias, um verdadeiro

caixote construído ao ar livre no final de Itaúna de frente

para mar, com direito a luz eólica, saneamento

inteiramente reciclável e redes feitas à base de tabua, ou

seja, uma habitação ecologicamente perfeita, e digna de

conviver em plena harmonia com o meio ambiente.

Guga saltou da bicicleta ainda em movimento berrando

como de costume:

_Salve, salve Galera!

Maria lua estava terminando sua porção de arroz integral

com granola e abobrinha d'água, quando sorriu estridente

ao ouvir e ver o "coleguinha" da filha aproximar-se .

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_Hare Krishina, Guga!- vindo abraçar-lhe com os braços

abertos deixando a mostra os sovacos imensamente

cabeludos dignos de dar inveja até na Rapunzel.

_Hare, Hare para senhora também dona Lua!-replicou o

rapaz.

Lana não escondeu o olhar desapontado da amiga, ao ter

que enfrentar outra vez, as dilatadas madeixas da mãe de

Nanu e desejar no seu íntimo que ela a pedisse um

barbeador a fim de exterminar aquela cabeleira absurda

das axilas, que em sua opinião, era repugnante, embora

Maria Lua fosse uma mulher muito perfumada.

_E você gatinha?- Indagou a matriarca, abrindo ainda

mais os braços arfantes sobre a cabeça de Lana para

beijar-lhe o centro de sua cachola permitindo que alguns

dos fios longos, dos tais sovacos, roçassem a ponta do

nariz da adolescente, que quase deixou uma lágrima rolar

por sua face diante do tamanho desgosto.

_Tudo bem, tia. -rebateu a moçinha louca para se ver

livre daquele abarcamento de amor do cosmos.Porém,

salva mesmo , só foi quando a cadelinha da família, uma

vira-lata encontrada no lixão do Comum e adotada pelos

Andradas, entrou no recinto rebolante para o desespero

enlouquecedor de Nanu.

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_Ah não, essa cachorra de novo não! Ô mãe, ela está

indo para cima da minha cama mais uma vez, que saco!

_Filhota, deixa a "libera geral" curtir o lance da casa. E a

parada da casa para ela é a tua cama, maior curtição,

sacou?

_ "Libera Geral" é "os cambal"! Essa cachorra anda com

tudo que é vira-lata da vizinhança até os comprometidos,

até o John Peter,está mais rodada que nota de dois reais

na cantina da escola, o nome dela tem que ser por

unanimidade "Piranha", isto sim, é um nome justo!

_Então criança, elazinha sabe o que é bom, e libera

felicidade geral para galera canina. Dou maior apoio.

Salve, salve "Libera"!

_Santo Deus, eu moro com dois malucos que tenho que

chamar de pais e cadela mais safada do planeta. O que

vai ser de mim?- Proferiu Nanu desabando em cima do

sofá velho e rasgado.

_Filhota, reflete, relaxa e goza a paz que emana de

dentro de ti. Respira comigo, e descarrega o trauma no

cosmo.

Nanu gostava de bichos, mas ficavam evidenciados seus

ciúmes do coitadinho animal, para ela, a "libera Geral"

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representava uma ameaça ao seu trono de princesinha da

casa.

_Um dia desses, me vingo dela!- saindo pisando duro até

a cama e berrando: - "Piranha", saia daí agora sua

quenga!

_Por Shiva, quanta energia baixo astral filhota!Vou já

acender um incenso de jasmim para purificar o ar.

Enquanto Guga revirava as panelas do fogão á lenha da

mãe de Nanu, Lana foi até a amiga que insistia em

colocar a "Piranha" para fora de sua cama.

_Saí da minha cama agora, "Piranha"!

_Para de falar com ela assim, Nanu! Tadinha!- Apiedou-

se Lana passando a frente da amiga e pegando a vira-lata

no colo em meio a um cafuné.

_Caraca Lana, até tu Brutus?-Falou Nanu jogando a

almofada de retalhos no canto.

_Só acho que pega pesado com ela. - justificou-se

_Gosto dela, Lana. Na boa, gosto mesmo, só não suporto

esse "lêlêlê" que a minha fica quando está por

perto.Babaquice!

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Foi quando o Guga chegou com um pedaço de pão

integral pendurado no canto da boca, tentando proferir

algo do qual pelos grãos do alimento, era impedido.

_Eita, que engasgou!- Pulou Nanu, pondo-se a bater nas

costas do amigo.

_Guga, tem que parar com essa mania de ficar comendo

tudo que vê pela frente, parece um tubarão descontrolado

na maré!-objetou Lana- Tá "enfiando o pé na manga"

legal!

Mesmo senso socorrido por Nanu, Guga caiu ao chão

protestando como sempre:

_Manga? E o que aconteceu com a "Jaca", sua anta!

_Ah vai-te catar "Zé Pimenta"!

E um arranca-rabo acalorado iniciou-se.

O Guga levava bem na esportiva todos os tipos de

apelidos, exceto, "Zé Pimenta", rezava a lenda que no

sétimo ano, ele com o Maico "Bigoduda" e o Pietro

"Bocão", teriam se juntado para visitar certo terreno

baldio perto do bairro da Raia, para um ato digamos,

meio libidinoso. O fato teria se dado da seguinte

maneira:

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O Guga andava meio cabisbaixo pelo mero motivo de

ainda não ter feito seu teste drive sexual, então, seus

nobres amigos, Bigoduda e Bocão, lhe proporá ir até um

terreno baldio para visitar certa goiabeira, já batizada

pelos dois.A princípio relutou, como morava com os tios

maternos, e a sua tia era filha de militar roxo, tinha

receio de que se Dona Abigail descobrisse e o colocasse

num daqueles castigos cabeludos que o garoto tinha

verdadeiro pavor.

Porém, quem é que pode resistir as duas pragas soando e

ressoando em seus ouvidos como o Bigoduda e o Bocão?

Resultado: Fizeram a cabeça do Guga!

Chegaram ao tal terreno abandonado com um matagal

acima de suas cabeças, e os dois explicaram como era o

lance.

_Aí Guga, vai até o fim do terreno, bem nessa direção do

muro, sacou?- explanou Bigoduda.

_É, - Se meteu o Bocão. - Quando chegar lá repara do

lado esquerdo e verá a "Buraquinho fogoso" (nome

relacionado a tal goiabeira) tudo que precisa fazer é

relaxar, fechar "lós ojitos" e deixar a natureza seguir seu

curso.

_É para ficar pelado?- perguntou ingenuamente o Guga.

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_Mané... - revoltou Bigoduda. - Como é que tu pretendes

dar conta da parada vestido?

Bocão bateu nas costas do amigo, respirou fundo e foi

enfático:

_Arria as calças com tudo, moleque!

O pobre infeliz até chegou pensar na hipótese de desistir,

entretanto, pensou: "Como ficará minha reputação se

geral souber disto?", e lá foi o indigente.

Já era quase inicio de noite, tinha sem passado cinco,

dez, vinte minutos e nada do carinha voltar, Bocão e

Bigoduda começaram a olhar um para cara do outro, sem

saber quem iria mencionar a pergunta que não queria

calar: "Cadê o Guga?". Foi quando começaram a ouvir

uns gemidos muito esquisitos.

_Tá ouvindo, moleque?- falou Bocão fazendo uma

careta.

_Que parada é essa "véi"?- Tentou Bigoduda correr para

dentro do matagal. - Será que o doido está bem?

E os gemidos, viraram grunhidos, que viraram lamentos

e por fim gritos ensandecidos:

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_TÁ ARDENDO! TÁ ARDENDO, TÁ ARDENDO!

Os dois amigos não sabiam o que fazer ou falar, então

resolveram tentar acalmar o garoto.

_Aguenta firme, véi! Aguenta que o barato é maluco!

_Pensa que é a Camila "Cavalona"! Aí que potranca!

Agora deu vontade em mim de visitar a "Buraquinho

Fogoso"!- contorceu Bigoduda.

Mas nada das tentativas apaziguavam o desespero do

Guga, que berrava inda mais alto:

_TÁ ARDENDO, TÁ ARDENDO! MINHA TIA VAI

ME MATAR!!! EU VOU MORRER!!! TÁ ARDENDO!

Sem pestanejar nem mais por um segundo, Bocão e

Bigoduda desatinaram capoeira adentro em busca de

socorrer o Guga que chorava copiosamente. Devido à

escuridão, levaram aproximadamente uns quinze

minutos para conseguir localizar o carinha. O Bocão

dizia:

_Fala algo cara, para nós te acharmos!

E o tudo que o guri conseguia pronunciar eram as

sonoras frases:

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_TÁ ARDENDO! TÁ ARDENTO! TÁ ARDENDO!

Quase meia hora depois, saíram do matagal os três

cavalheiros do apocalipse. O Bocão de um lado e o

Bigoduda do outro, e no meio, sendo devidamente

amparado, o Guga com a cara inchada de tanto chorar e a

bermuda entre os pés andando feito um chinesinho.

O susto foi tamanho, e a experiência tão trágica, que o

Bocão teve que pedir um copo d'água com açúcar na

casa de uma tiazinha na esquina para tentar tranquilizar o

amigo.

Passado assombro, depois de um período se prestaram a

rir, e foi quando nasceu: "Zé Pimenta" por só conseguir

berrar: "Tá ardendo! Tá ardendo!", e daí a revolta do

Guga, que odiava lembrar que um dia vivenciou tal

história.

Logo depois de arrumar apaziguar os ânimos de Guga e

Lana, Nanu lembrou-se de um pequeno detalhe:

_Ih, a primeira aula de amanhã não é da Doravantes?

_A primeira, a segunda, a terceira... Cinco aulas daquela

mulher é uma overdose de xarope "Chatonildes"!-

finalizou Lana enquanto se espreguiçava.

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_Caraca, começar a semana com a Professora

Doravantes ninguém merece!- proferiu Nanu.

_Eu tô na galera do tanto fez, tanto faz. Já passei nela

mesmo. - ostentou Guga, que apesar suas loucas

aventuras como"Zé Pimenta", era um bom aluno.

_E o despertador da mamãe está quebrado. - admitiu

Nanu com certa tristeza.

A família de menina não era só ripe por convicção ou

natureza, também era gente muito simples e desprovida.

O único sustento deles vinha do que vendiam na feirinha

de artesanatos na Vila, e as pequenas encomendas que

seus pais conseguiam vez por outra com alguns turistas

interessados em seus trabalhos manuais, que embora

fossem belíssimos e prestigiados, não os ofereciam quase

nenhuma segurança econômica. Nanu não tinha nem

celular, para atualizar o Facebook precisava ralar

auxiliando a mãe, para então ir a Lan House no centro,

em frente à Prefeitura, onde já era figurinha tarimbada.

Seu maior sonho era poder ganhar nos seus quinze anos,

pelo menos um celular que lhe desse acesso às redes

sociais, baixar e escutar músicas como todo adolescente

normal que se preze. E não pensem que o "Paulinho

Virtude", pai da garota, ainda senhor de seu estilo

natureba não tinha vontade de proporcioná-la este dengo,

tinha, só não podia infelizmente.

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_Poxa amiga, se quiser deixo meu celular contigo,

porque na boa Nanu, se você bobear de novo e chegar

atrasada na aula da Doravantes, vai rolar barraco sério!-

concluiu Lana.

E era verdade.

Na semana anterior, a mocinha perdeu o horário, e

entrou atrasadíssima na escola, e somente entrou, graças

ao afeto sincero que rolava entre ela e tiozinho do portão,

que gostava da Nanu de como uma filha e vice-versa.

Entretanto, mesmo assim, quando esperou a professora

sair para buscar algo na secretária como de costume,para

então embrenhar-se na sala, a docente parece até que

sentiu o cheiro da armação e voltou feito uma bala:

_NANUCHAAAAAAAAAA!- Protestou. - Mas você se

julga mesmo muito esperta, não? Um puro exemplo do

que uma pessoa não deve ser!Pensou que ia me enrolar,

foi?

_Poxa tia...

E foi subitamente interpelada:

_TIAAAA? Sou irmã do teu pai? Que Deus me livre!

Sou irmã da desnaturada da tua mãe? Que Deus me

defenda!

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_Não senhora. - respondeu cabisbaixa ajeitando a

mochila de crochê nas costas.

_Então, tenha a educação e a gentileza de me chamar

como manda o protocolo de pedagogia e...

Desta vez foi Nanu quem a interrompeu:

_ "Bruxa do 71, modelo 2.0 com capota"?

_O QUE???- Doravantes levou as mãos na cintura. E a

turma inteira se calou encarando subitamente a colega,

ressaltando o descuido que acabara de cometer.

_Ih deu ruim!-sussurrou a garota.

_Do que foi que se atreveu me apelidar, Nanucha?

_Pô professora, foi mal aê, é que geral explana a senhora

assim... Aí... Enfim, imagino que minha próxima parada

seja na sala da Direção.

_Até que enfim uma resposta certa, senhorita

Andrada!Andando!

Nanu se invocou com o tom de Professora, e decidiu

revidar erroneamente:

Danka Maia

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_Aqui, a senhora quer saber de uma coisa, já estou

ferrada, a senhora é uma bruxa mesmo, se veste como

uma, anda feito tal, fala e fede com uma, ou seja, um

urubu em carniça e osso!Pronto Falei!

E foi o que bastou para a turma inteira começar a

algazarra, e o bate-boca se estendeu além das fronteiras

do colégio indo parar na Delegacia local. De um lado a

Professora Doravantes querendo registrar um boletim

contra a aluna por desacato de autoridade, do outro,

Nanu, contra a docente, por abuso de mesma.

Resultado final? Virou o assunto da cidade naquela

semana.

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QUEM CONTA UM CONTO, AUMENTA UM

PONTO!

Nanu começou a se espreguiçar na cama

lentamente, indo e vindo naquele soninho infernal que

todo mundo tem quando precisa acordar com as

galinhas. Resistiu bravamente umas cinco vezes para não

levantar, foi quando a "Libera Geral" tomou a iniciativa

de começar a lamber sua cara a fim de querer mais

espaço na cama.

_Para aí Edward, não faça isso pelo amor de Deus! Eu

sei que a Bella te traiu virando a Branca de Neve, mas...

Aí não! Para! Assim não vou aguentar!

Danka Maia

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E quando a "Libera Geral" arrematou passando a língua

praticamente dentro da boca da Nanu, ela gritou:

_Então vem que eu viro a Garota da Capa Vermelha

para... Ué? Cadê o Edward?- batendo sentada na cama

barulhenta. E quando tudo que viu foi à cadelinha

balançando o rabo com a lingueta para fora, constatou o

que acabara de vivenciar.

_Sua cretina! Além de vagabunda é sapatão também?

Era o que faltava na minha vida, uma cachorra bissexual,

alias," bidogsexual"! Desce agora da minha

cama"Piranha"!

Foi neste exato momento que Maria Lua chegava do seu

"Bom dia Sol!" como costumava praticar.

_Ih filhota, que rotação é essa? Desacelera com a mami,

vem!

_Vou fugir desta casa, desta cidade, do mundo, vou

morar noutra galáxia!

_Gatinha...

_Mãe, para de me chamar de gatinha! Que coisa!

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_Está bem, Nanucha. - Provocou Maria Lua sorrindo,

porque sabia que a menina odiava o nome por ela

escolhido.

E por falar em hábito, lá vinha chegando Paulinho

Virtude com seu anzol abarrotado de tainhotas que

pescara enquanto sua esposa fofocava com o astro rei.

_As mulheres de minha vida! Que minha saudosa mãe

não ouça isto. - Pronunciou já ajeitando os peixinhos em

cima da pia, cardápio certo do almoço. -_Então Nanu,

galera da educação te deu folga hoje?

E foi então que a senhorita se deu conta.

_Que horas são?- assombrada.

Maria Lua saiu olhando para o sol com veemência e

tentou elucidar:

_A julgar pela posição do Sol na vibração da casa...

O pai arrematou a questão:

_07h56min, brotinho do pai!

E de repente todo o brilho do dia ofuscou a cabeça de

Nanu que soltou um sonoro:

Danka Maia

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_NÃOOOOOOOOOOO!-Desatinando a correr por toda

casa, achando um pé do tênis de um lado, agachando

debaixo da cômoda para apanhar o outro, enquanto

vestia a blusa escolar por cima da camiseta de dormir e

penteava os cabelos longos e cacheados cor de mel com

os dedos.

_O que deu nela?- questionou o pai para a esposa.

_Essa menina está precisando de uns banhos purificantes

e tensiolíticos para ontem "mamucho". Olha o carma

dela!

_É "papusca", agiliza o processo. Agora da uma

bitoquinha aqui dá!

Enquanto os dois pombinhos ficavam lá a trocar ósculos

enamorados, Nanu saiu correndo pela rua em sua

bicicleta e rogando aos céus:

_Por favor, Deus, sabe que ando meio sem tempo para

trocar uma ideia contigo, mas alivia esta para o meu

lado, o que custa? A professora Doravantes pode quebrar

uma perninha, dar um desvio na coluna básico, quem

sabe uma gripe com uma febrezinha de 40º? Só não

permita que coloque aqueles dois olhos esbugalhados em

mim hoje, please!

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Durante sua tentativa em convencer a Força Divina de

dar um tranco na professora, ia esbarrando com as

pessoas pela rua, inda que vaporosa na Galopante, como

apelidou sua bike.

_Bom dia, flor do dia!- gritou Tia Teka.

_Bom dia tia!

_Fala aí Nanu, vai passar ou não de ano?

_Estou tentando chegar à escola a tempo, só então

poderei responder sua pergunta Zuca, Valeu!

Nanu era muito querida no seu bairro. Isto se dava por

ser muito solicita, educada e feliz, mesmo com tão

pouco. Ela sempre queria ajudar, se empenhava nas

causas sociais por conta própria, visitava o asilo e o

orfanato, passava tardes e tardes jogando dominó com

idosos ou batendo queimada com as crianças da Irmã

Gorete. Sentia prazer em poder auxiliar o outro, inda que

significasse apenas um mero sorriso.

Num trajeto que fazia em vinte minutos, naquele dia,

bateu seu próprio recorde fazendo em sete minutos.

Esbaforida, passou por trás do colégio na intenção de

encontrar o tiozinho do portão, o tio Gaspar, que a julgar

Danka Maia

31

pelo horário deveria estar na sua cadeira olhando a lagoa

nos fundos da escola.

Nanu tinha razão, o tiozinho estava lá.

A garota se aproximou de mansinho, e na fresta do muro

começou a emitir um módico:

_Psiu!

Gaspar a princípio não deu bola, e continuou

apreciando uma gaivota tentando abocanhar o café da

manhã num pequeno cardume de carapicus desavisados

que passavam por ali. Nanu insistiu mais duas vezes, e

somente na quarta tentativa conseguiu atrair atenção do

moço.

_Nanu?- indagou espantado.

_Tio, tio me socorre! Deixa-me entrar pelo amor de

Deus!

_Mas minha querida, já acabou sua primeira aula, porque

se atrasou tanto?- quis saber o tio.

_Juro que se o senhor me consentir entrar e eu

sobreviver, explicarei em minuciosos detalhes da minha

saga. Agora, quebra essa tio, senão vou levar fumo com

a Professora Doravantes,estou mal pacas na matéria dela,

A PIRANHA TEM NOME

32

e só hoje tenho cinco aulas com a surucucu do brejo.E o

senhor sabe que virei o prato predileto dela!

Rapidamente Seu Gaspar levantou da cadeira, indo ao

portão dos fundos, só para funcionários, e ajudou a

mocinha lerdeada ingressar na instituição.

_Olha, vai por aqui, porque vi sua turma indo direto para

sala de informática.

_Informática, tem certeza tio?- duvidou a adolescente.

_Certeza, certeza, na minha idade, minha filha, não se

tem de mais nada. Entretanto, julgo que foi o fato. Vá se

embora! E bico fechado, hein!

_Valeu tio Gaspar, o senhor é o melhor porteiro do

mundo! Altas vibrações em sua vida, eu creio!

_Vê se toma jeito e arruma um despertador. -advertiu o

homem voltando a sua cadeira a procura da tal gaivota.

Nanu se embrenhou pelos cantos do colégio, e ligeira

deixou a Galopante num lugarzinho bem acomodada,

rodou por trás da cantina que a faria sair do lado da

biblioteca em frente da sala de informática, ou seja, o

golpe perfeito. Feito uma ninja, se esquivou por baixo da

mureta, e quando a Tia Sandra deu bobeira, enfiou sua

caderneta no meio das outras, como chegar atrasada já

Danka Maia

33

havia virado uma tradição em sua vida, Nanu tinha

decorado em ordem crescente e decrescente a pilha

correspondente a de sua turma 901. O primeiro passo

estava finalizado.

Ao desembocar ao lado da biblioteca fez sinal para o

Fabinho CDF, que como o próprio nome sugere o

inteligente da sua turma, que sentava na primeira carteira

da porta, porque além de CDF , era o maior fofoqueiro

da escola. Não havia nada que o Fabinho não soubesse, o

único probleminha dele, era que além de mexeriqueiro,

era metido a entender tudo e não sacava patavina de

nada.

Reza a lenda, que uma vez o Fabinho estava em sala de

aula junto com a Duda Figueiredo e a Letícia Campos

papeando sem grandes expectativas, quando de supetão

Julia Abrantes entrou no recinto com uma jaqueta tão

fluorescente que doía os olhos até se estivessem

fechados.

Instaurou-se a gozação. Bota pilha daqui, bota pilha de

lá, e de repente a Duda solta para a Julia:

_Esse casaco está parecendo aquilo do comercial, como

é o nome, ah! Lembrei! Naturela!

Todo mundo caiu na gargalhada, principalmente o

Fabinho. No entanto, riu tanto que soou

A PIRANHA TEM NOME

34

desnecessariamente, o que chamou atenção das três

meninas. Uma olhou para cada outra, e o iniciou-se o

inquérito:

_Fabinho, realmente sabe do que estamos falando?

E ele se acabando de rir.

A Duda insistiu:

_Cara, na boa, sabe mesmo?

_Claro que sei!- esticando a o dedo na cara da Julia, e

rolando de lado para o outro.

As três senhoritas se entreolharam, e a Letícia foi

adiante:

_Então o que é Naturela?

Logicamente, as garotas se referiam que a cor do casaco

da colega era semelhante à de um absorvente que estava

em alta na dada ocasião. Ou seja, era engraçado, porém,

não para aquele alvoroço que o Fabinho estava fazendo.

_Peraí!- gritou ele. - Me deixa respirar, minha barriga

está doendo!

Duda persistiu:

Danka Maia

35

_O que é Naturela, Fabinho?

Mas recobrado, ele parou e começou a mexer a boca de

um lado para o outro.

_Ah, - sacudiu um dos ombros. - Eu sei meninas, qual

é?Estou cansado de ver esse treco.

_Então diz o que é?- intimou Julia.

O moleque começou a coçar a cabeça, e elas perceberam

que por dedução óbvia, ele havia confundido com outra

coisa, de menos com o absorvente.

Duda decidiu pegar o Iphode, e mostrou ao moleque a

foto do produto em questão. E fez a pergunta sinistra:

_O que é isto?

O Fabinho olhou, olhou e olhou, e então largou esta:

_Ah, isso... Isto é... É uma camisinha feminina, oras?

E aí foi a vez das três senhoritas se descabelarem de

zombar, e riram tanto que o Fabinho começou a ficar

preocupado.

_Do que estão rindo?

A PIRANHA TEM NOME

36

_Uma camisinha feminina?- gargalhou Julia.

_E sabe onde se vende pelo menos?- quis saber Duda.

Pomposo e arfante, o jovem do alto de sua elegância

explanou com classe.

_Claro que sei, fica do lado do açougue no

supermercado!

E aí é que as três despencaram a gargalhar

desesperadamente. E o Fabinho coitado, lá com sua cara

de Professor Pardal de quinta, segurando para não chorar

e ir correndo para casa gritando:

_Eu quero a minha mãe!

Resultado final? Fabinho nunca mais conseguiu entrar

nem no açougue, nem em alguma farmácia que se preste.

Dizem até que a mãe dele está pagando psicólogo para o

menino superar o trauma. Ô dó!

Nanu parecia uma gata miando:

_Fabinho... Fabinho...

Danka Maia

37

Entre uma risada e outra, o fanfarrão deu uma rápida

olhada para o lado de fora. Foi à ocasião perfeita para

outro ensejo da garota:

_Fabinho!- agora de modo enfático.

O metediço fitou um pouco mais a vista, forçando com

os óculos e exclamou em alto e bom som:

_ NANU!

_Fecha esta boca, abestalhado!- Acenando desesperada

para não levantar alvoroço.

Ele disfarçou e agora mais cuidadoso:

_ O que está fazendo aí?

_Quero entrar na aula!- segredou. - A barra tá limpa ou

Miss Urubu de Araque está em sala?

_Não, entra. Ela foi à secretária. Vem, vem, entra de uma

vez!

Acontece que apesar de Nanu ser bem quista, todo

mortal sabe que em toda sala de aula sempre há um ente

indigesto da família dos "FUXIQUIEROSSAUROS

BISBILHOTEIROS", carícia para: X 9!

A PIRANHA TEM NOME

38

Na sala 901, o ente em questão era Aninha "Conta tudo",

cujo codinome já fala por si só. Ela era a prova de

quanto uma criatura pode sentir prazer delatando o outro.

_Ah vou contar para a professora, viu Nanu!- berrou

Aninha mesmo diante da tentativa de Lana e Pedrão

sufocarem no canto contra a parede.

_Vacila não Aninha, deixa a Nanu na dela, na moral!-

Pediu Pedrão com sua baita educação de sempre.

_Vou contar e pronto! Quero ver quem me vai me

impedir!- gabando-se. E foi o bastante para Lana tomar

as dores da amiga e partir para cima da dedo-duro.

_Vou acabar com a tua raça, sua naja dos infernos!

E o fuzuê estava instaurado na 901. A Lana montou em

cima das costas da "Conta Tudo", que por sua vez rodava

feito uma perua bêbada em véspera de natal. A galera do

tira-tira bem que tentou, entretanto, a Professora

Doravantes foi mais eficiente:

_Mas o que está acontecendo aqui? Deixei uma classe e

encontro a Torre de Babel?

Galera calou total. Podia se ouvir um mosquito

explanando a fofoca do dia para o outro.

Danka Maia

39

_Podem explicar o porquê a Alana Assis está escalando

as costas da Ana Roberta? Desça imediatamente daí!

Enquanto isso, Nanu rastejou-se feito uma píton do

deserto até chegar a sua carteira e muda abancou-se.

Doravantes deu o maior sarrafo na turma, ressuscitou

até mortos dos tempos dos faraós, e numa minuciosa

piscadela pela classe, constatou o estopim de tudo, e não

prestou:

_Nanucha Brilho de Sol Andrada! A erva daninha tinha

que estar no meio do furdunço!

Desta vez a mocinha apenas respondeu um acanhado e

angustiante:

_Oi.

E lá foi a 901 outra vez ouvir as lamentações da docente

nos ouvidos da aluna. A Doravantes gritava mais que o

Florestão zangado. Passaram quase vinte minutos do

interminável sermão entediante quando a mestra

arrematou:

_Quero sua produção textual em dez minutos. E já

comecei a contar!

No cagaço, Nanu cutucou o Enrique que estava ao seu

lado e indagou:

A PIRANHA TEM NOME

40

_Que redação é está?

_Ela disse para INVENTAR um segredo, digitar sem por

o nome. Vai valer da nota do bimestre.

E foi aí que a menina foi iluminada pelo cosmo, e teve o

grande inside. De tanto ameaçar se vingar a "libera

Geral" de uma vida de pecados da carne, Nanu viu que

tinha a possibilidade de se vingar da cachorrinha que

tanto lhe arreliava as ideias. O, porém, é que devido ao

seu atraso e o arranca-rabo que havia causado na aula,

não teve como ter acesso ao que realmente Doravantes

intitulou como sendo a nota do Bimestre que poderia

salvá-la da recuperação e provavelmente da reprovação

anual.

A produção textual consistia na ideia dos alunos

CONTAREM um segredo seu, sem se identificar, daí a

sala de informática. Doravantes queria ter a certeza que

todos haviam feito ali, em sua presença. No entanto,

tinha que ser um segredo verdadeiro, contudo, o Enrique

no calor da hora, acabou explicando a dinâmica errada

para colega.

Dona de uma criatividade ímpar e munida do intuito de

represália, Nanu não pensou duas vezes e digitou a

seguinte história:

Danka Maia

41

Senhores eu vi. Guardo este segredo a sete chaves,

pois temo pelo que ele possa me causar, entretanto,

quero desabafar nesta rica oportunidade dada.

Há uma mulher casada e muito bem casada na cidade,

que trabalha nesta escola e anda traindo seu devotado

marido, uma pessoa boníssima com um homem, que foi

atraído para as garras desta libertina rapariga de uma

figa! O pobre homem que se diz casado com Deus, sim,

ela tem um tórrido caso de amor com o Padre Pinóquio.

Digo isto porque vi os dois se pegando diversas vezes,

ora na biblioteca do colégio, que se diga passagem, é de

família, ora, na sacristia da Igreja, um lugar que deveria

apenas abrigar orações e festejos de seus paroquianos.

Decidi dividir isto porque esta informação tornou-se um

fardo muito pesado em meus ombros estudantis, afinal,

sou tão somente uma adolescente que deveria saber de

tudo, menos ver o Padre atracado com esta senhora

praticando atos tão ilícitos.

Que todos saibam: A PARANHA TEM NOME!

Salva, imprimi e pronto!

Orgulhosa, a senhorita não se fez de rogada quando

incluiu sua pequena e precisa produção textual junto às

de seus colegas de classe. Nanu estava aliviada, tinha

acertado dois coelhos com uma cajadada só, ou seja,

A PIRANHA TEM NOME

42

garantido uma boa nota o que lhe tiraria o pescoço da

forca, como por outro lado, se vingado de sua inocente

cadelinha, que insistia em chamá-la pela alcunha de

"Piranha". O que a contentada menina jamais poderia ter

adivinhado é que o tal segredo inventado fosse produzir

a maior confusão de sua vida.

O resto do dia discorreu tranquilamente.

QUE ABSUUUURDO!

Doravantes chegou a sua casa respeitando sua

metódica rotina. Saiu do carro, uma variante verde que

pertenceu ao marido em excelente estado de

conservação, abriu o portão da garagem, fez graça aos

seus incontáveis gatos de estimação, voltou ao veículo e

o colocou como sempre de ré. Entrou na residência,

Danka Maia

43

apanhando os recados deixados pelos vizinhos e amigos

mais próximos debaixo da porta ao mesmo instante que

ouvia a caixa postal de seu celular tijolão.

Foi até o quarto, escolheu um vestido mais fresco,

contudo preto, tomou seu banho, e foi ajeitar algo para

comer. Pensou em preparar um bom almoço, mas logo

desistiu ao ver o tamanho das pilhas de textos que

tinham para serem corrigidos. Acabou no velho e bom

pão com mortadela e uma mega caneca de café com leite

e se questionando em voz alta:

_Não sei onde estava co a cabeça de inventar esta ideia

de produção textual para salvar os pescoços dessas

crianças, daqui uns anos se quer vão se lembrar do meu

nome, e se lembrar, será da Bruxa do 71, versão 2.0 com

capota! Nanucha Andrada, que menina petulante

essazinha!

Logo após de detonar mais de meia bisnaga com a

mortadela, Doravantes sentou-se serenamente em sua

cadeira de balanços herdada de sua tataravó, e se pôs a

corrigir as tais redações.

Duas horas depois, já com a vista cansada, pela idade e

pela hipermetropia, deu início à correção da turma 901,

sem ao menos imaginar o baita susto que a esperava.

A PIRANHA TEM NOME

44

_Estes adolescentes, um acha que beijar no espelho para

dar pegada seja segredo que se conte. Como se já não

nascessem sabendo, pensam que engana quem?

De repente os olhos da professora esbugalharam como

de uma coruja no toco. Imediatamente cessou o vai e

vem da cadeira flexionando os joelhos. Tirou e limpou

os olhos umas cinco vezes, leu, releu e treleu a tal folha

sempre acompanhada de:

_QUE ABSUUUUDO!

Em seguida disparou:

_NÃO PODE SER!

Depois de um:

_SANTA MARIA MÃE DE DEUS!

E por fim:

_SANGUE DE JESUS TEM PODER!

O choque foi tão grande que Doravantes chegou a ficar

tonta e com esforço chegou ao filtro de onde

imediatamente tirou um copo d'água com quase meio

quilo de açúcar despejados, bebendo numa talagada só e

Danka Maia

45

voltando a sentar-se no sofá com almofadinhas de

retalhos feitas por ela mesma:

_ È uma aberração! Sacrilégio!

A mulher ficou tão doida, que resolveu na mesma hora,

pegar sua bolsa e as chaves de sua aboleta

automobilística e zunir direto para a direção do colégio

com a tal folha em mãos.

Naquela tarde Nanu, Lana, Guga e Batatinha, não foram

para casa quando o sinal bateu,tinham que esperar o

Professor Antunes para auxiliá-los num projeto para a

feira de ciência. Porém, o professor estava um pouco

atrasado, uma vez que vinha de Jaconé e tinha mandado

prevenir que demoraria a chegar porque de novo o

ônibus tinha quebrado.

Os quatro estavam abancados na mureta da cantina

quando a Professora Doravantes passou feito uma flecha.

Lana logo estranhou:

_Nossa! O que será que aconteceu?- especulou.

_Doravantes a está hora na escola é como um urubu num

dia de sol, mau presságio! Aí, já tô arrepiado!

A PIRANHA TEM NOME

46

_Deixa de ser frouxo Guga. - alertou Batatinha. - Vamos

lá dar um espiada, de repente descobrimos qual é o

lance.

_Me incluam fora dessa!- manifestou Nanu.

_Por que Nanu?- indagou Lana.

_Por quê? Ainda pergunta? Minha querida, minha banda

com a Doravantes toca nesta sintonia, se ela vai para lá-

indicando com o dedo. - então, eu vou para cá!-

apontando com o outro indicador. - Na mesma direção,

jamais!

_Ah, mais eu irei saber qual é a parada, vamos galera?-

chamou Batatinha.

Lana e Guga seguiram Batatinha, enquanto Nanu ficou

admirando a paisagem. Menos de cinco minutos depois,

lá vinham os três cavalheiros do apocalipse num

cochicho de fazer gosto. Nanu ficou os observando com

a mochila sobre os joelhos. Batatinha logo tratou de

explanar:

_Aí, maior burburinho, notícia da hora Nanu!

_O que tá rolando?- perguntou a menina.

Lana sentou na frente da amiga e deu o relatório:

Danka Maia

47

_A "Dora" está soltando fogo pelas ventas, amiga!

_Mas por quê?- indagou outra vez.

_Desta vez vai rolar a festinha "PARTIU

DORAVANTE!"-falou Guga esfregando as mãos uma

na outra todo animadinho.

_Gente, pelo amor de Deus, o que tá rolando?

Batatinha resolveu minudenciar o fato.

_Não tem aquela parada que ela passou hoje para geral

no colégio, onde tínhamos que contar um segredo?

Nanu olhou desconfiada, e repetiu:

_Contar um segredo?

_Desencana amiga,você fez, relaxa! - disse Lana.

_Então, - prosseguiu Batatinha. - Parece que alguma

pessoa explanou um mistério cabeludaço!

_Que segredo?- Indagou Nanu.

_Alguém escreveu que uma mulher casada do colégio

tem um rolo ardente com o Padre Pinóquio! Com o

A PIRANHA TEM NOME

48

Padre Pinóquio, valeu! Falou até que A PIRANHA TEM

NOME! Bafão!

Nanu ficou paralisada.

A conversa continuou sem que seus amigos percebessem

sua primeira reação. Alguns minutos depois, ainda

perplexa, a garota tentou entender o fato.

_Não tô entendendo uma coisa... Não era para inventar

um segredo, o fulano inventou o que tem demais?

Os três caíram na gargalhada.

_De onde tirou isto, Nanu?- quis saber Batatinha.

_Fumou peido, filha?- zombou Guga.

_Surtou é?- inquiriu Lana com as mãos na cintura.

_Gente... Estou com a ligeira impressão que perdi parte

desta história.

Lana tratou de elucidar as dúvidas da amiga.

_Nanu, era para gente CONTAR um segredo nosso sem

revelar o nome, esqueceu é? De onde tirou essa de

INVENTAR?

Danka Maia

49

E foi aí que a Nanu percebeu o tamanho da merda que

havia cometido por conta da informação errada do

Fabinho.

_Caraca, quem será a piranha que tem nome?-proferiu

Guga entusiasmado, logo pegando o Iphone para postar

para geral no facebook o seguinte relato:

"AÍ GERAL, SAQUÁ TEM UMA PIRANHA QUE

TEM NOME E É DO MEU COLÉGIO, A FULANA

ANDA COM O PADRECO FILHO DO GEPETO"

QUEM SABE CURTE, QUEM NÃO SABE

COMPATILHAAAAA!!!!!!!!!!!!!

Assim que o amigo leu, o que havia postado, Nanu voou

como uma águia em cima dele advertindo-o:

_Está maluco, Guga?- tentando apanhar o aparelho de

qualquer jeito das mãos do garoto. - Por que fez isto?

_Qual é Nanu, geral precisa saber, fofoca em Saquarema

é igual sirene de rabecão, basta soar uma vez que todo

mundo vem correndo para saber quem é o defunto da

vez!

_Mas nós nem sabemos se é verdade ou não. - reforçou.

_E desde quando precisa ser?- estranhou Lana acariciada

por Batatinha que não tirava os olhos dela.

A PIRANHA TEM NOME

50

A Lana e o Batatinha tinham um lance, eles não eram

namorados na real, eram ficantes contínuos. Entretanto,

ele era apaixonado por ela. Um sentimento capaz de

ultrapassar pequenas diferenças, como por exemplo, ela

ter 1.75cm de altura e ele 1.54cm, ter 14 anos e gostar

de garotos mais velhos e ele apenas 12 e não suportar

meninas mais novas.

O rolo entre eles começou na explicadora mais pirada da

cidade, a Dani, Que ora eles a adoravam ora quase

tramavam um meio de exterminá-la da face da Terra.

Todo mundo do grupinho da Nanu quando em sérios

problemas matemáticos, químicos, físicos e linguísticos

desatinavam para a casa da professorinha. A parada na

Dani era tão séria, que até Manual de Sobrevivência a

galera que frequentava o local desenvolveu para os

novatos, quer saber quais eram as leis?

Segue abaixo algumas das leis:

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA DANI

Danka Maia

51

Por: Lucas Lindinho Gatão Micro-ondas

Pedro Peladão

Nunca desrespeite a Dani. (na boa, isto pode custar a sua

vida.).

Nunca se esquecer de fazer o dever de casa e o da Dani.

Nunca esquecer o material escolar. Ex: lápis, caderno,

borracha. (É sério, vai se meter numa VOTAÇÃO infernal!).

Nunca Desrespeite, fale mal ou de foras nos seus coleguinhas.

Nunca se atrase, ou vai parar na sala dos excluídos.

Jamais fale palavrinhas feias ou chulas.

Em tempo algum, pense em copiar as 100 vezes. Na boa, é

sinistro!

Nunca deixe a Dani passar do "1" na contagem, largue

imediatamente o que estiver fazendo (fofocando, facebook,

celular), a consequência será drástica!

Nunca, jamais, em momento algum duvide da Dani! (Pelo

menos não na frente dela.).

Nunca usar calculadora.

Nunca use o celular sem permissão.

A PIRANHA TEM NOME

52

Sempre ame os três garotos mais lindos da sala: Gatão,

Lindinho e Peladão. (Isto não é bem uma regra, mas poxa, na

moral, fomos nós quem fizemos este manual, ou seja, te

livramos de sérios problemas!)

Nunca falte a aula sem uma boa justificativa. Tirando o aviso

de seus pais, isto só será aceito em caso da morte (sua), porque

se for à morte da Dani vai haver aula, como? Não faço

ideia!Mas, lembre-se da regra 09: "Nunca duvide da Dani!".

Nunca contar os finais dos desenhos. (O Peladão fica

deprimido com isso).

Nunca tente ser a Dani. (O Lindinho vive tentando fazer isso, e

sempre se dá mal.).

Jamais vá para a quarentena. (Na moral, vai desejar mil vezes

a Tropa de Elite).

Nunca deixe a Dani levantar a sobrancelha. O ambiente vai

ficar tenso!

Jamais provoque a Dani. (Pode ser a última coisa que faça em

vida.)

Observe o papel de parede do PC da Dani, ele traduz seu

estado de espírito. (Se rolar o fuzil, corra!).

Nunca se esqueça de assinar o livro negro de chamadas.

O que a Dani fala aqui, É LEI!

Danka Maia

53

O QUE SE FALA NA DANI, FICA NA DANI. ( Não seja

fofoqueiro.)

Cuidado com as redes sociais. A Dani vigia tudo.

Nunca fale mal do Sherlock Holmes. É o super-herói preferido

da Dani.

Nunca ficar em cima do muro. A Dani exige que você se

posicione diante de tudo. (Abaixo a covardia!).

Saber cantar a música inteira "AUI MAUÊ" do Rei Leão.

Nunca tire notas abaixo que "Oito". Se tirar, na moral, eu

não queria ser você!

Jamais solte sons desconhecidos. (arrotos, puns e adjacentes)

Não é a só a Dani que odeia, e sim, todo mundo. Seu

porquinho!

Se tirar "100", beleza. Não fez mais que sua obrigação!

Nunca tente fugir pela privada. Outros tentaram e deu uma

M...

Procure ser feliz, e por incrível que pareça, aqui é um bom

lugar para isso!

Agora voltando ao assunto Lana e Batatinha, a parada foi

se deu quando a mocinha entrou pela primeira na Dani.

Ela sempre chamou atenção da galera, morena clara,

cabelos pretos e lindos, corpão, quando aquele mulherão

A PIRANHA TEM NOME

54

entrou no recinto o Batatinha que estava acompanhado

do Igor Meloso ficou petrificado. Foi paixão à primeira

vista, o único problema até então, era que embora fosse

um carinha de bem com a vida, no que se tratava de

meninas era tímido que dava dó. Diferente do

companheiro Meloso, que era assanhado que só.

O Batatinha tinha sido acertado em cheio pelo cupido.

Mas a questão era: Como chegar à Lana? E foi aí que o

Igor Meloso teve um plano tão genial que se achou no

direito de pedir propina para o infeliz, que lá foi esvaziar

seu cofrinho em trinta pratas pelo feito histórico que se

resumia em pedir o apontador emprestado, não, você não

leu errado, PEDIR O APONTADOR EMPRESTADO,

ou seja, o moleque teve que responder uns bons "Não, o

seu não serve!", até chegar à guria.

E o Batata chegou, virando tomate de tão vermelho. E o

Igor, aquele cretino safado, se achando o fanfarrão do

amor. Que vacilão!

Naquele dia o pai da Lana trocou os horários e veio

apanha-la mais cedo, e a Dani sentada em sua mesa

estava de butuca ligada em toda situação, sim porque

aquela mulher tem visão 360º. Logo que a senhorita

despediu-se do recinto, ela tratou de esclarecer com os

dois mequetrefes:

Danka Maia

55

_Os dois podem por gentileza- levantando uma das

sobrancelhas, que era significado de: DÁ O SERVIÇO

OU MORRE!- explanar que palhaçada foi esta!

O Batata entorpeceu. Mal ouvia se ouvia sua respiração,

no desespero o moleque olhou para o amigo na intenção

de conseguir um pouco de apoio moral, no entanto, o

Igor foi logo se retratando:

_Aí, não vi nada! Não sei de nada!

Bastou. Batatinha enlouqueceu:

_Pô Meloso, trairagem tua comigo! Dani, este sem

vergonha me cobrou 30 contos para explanar a ideia com

a mina, agora tá tirando o dele da reta! Vacilo teu, cara!

Vacilo teu!

A Dani não acreditando no que estava vendo, encarou o

Batatinha que ao se deparar com o olhar petrificante dela

fitou imediatamente o papel de parede para ver se rolava

fuzil e já se imaginou fugindo pela privada.

_E você pagou para o Igor, para te mandar PEGAR O

APONTADOR EMPRESTADO? Onde está meu AR15,

quando mais preciso dele! Batatinha fumou peido? Está

chapado? Surto, garoto? Pagar para pedir apontador

emprestado?

A PIRANHA TEM NOME

56

O carente Batatinha somente se limitou a responder:

_O que posso fazer Dani? Não tenho jeito com as

mulheres!- cruzando os braços, cabisbaixo.

A Dani tentou ser sensata:

_Não quero ser chata, mas na boa cara, olha o teu

tamanho? Você bate na cintura da menina!

E foi a maior pérola de Batatinha entrou para os anais da

história:

_Poxa Dani, gosto de mulheres mais experientes e além

do mais, NOS MENORES FRASCOS ESTÃO OS

MELHORES PERFUMES!

Resultado final: A música do Batata passou a ser:

PANELA VELHA È QUE FAZ COMIDA BOA!

Danka Maia

57

EXPLANAÇÃO DE INEXATIDÃO

TERMINOLÓGICA.

Ao chegar em sua casa naquele entardecer,

tensa, Nanu não quis saber de nada nem ninguém,

atravessou feito um foguete o lar deixando a mochila na

cama e vazou para as pedras atrás da Igreja.

O seu ambiente preferido da cidade.

Adorava ficar vendo a força de como as ondas

quebravam contra as pedras. Ali era o único local do

mundo que se permitia chorar, entristecer e sonhar.

Muitas foram às vezes em que desejou ter nascido em

outra genealogia, onde não tivesse que ser vítima de

nenhum tipo de preconceito por causa do estilo de vida

de sua família, das suas necessidades como uma

adolescente normal. Ali sonhara que era a princesa,

dama, rainha, heroína, lá Nanu sabia que podia

simplesmente ser tudo, inclusive, ela mesmo.

Foi entre um respiro ofegante e um rasante de uma

gaivota abiscoitando uma anchova, que ouviu uma voz

muito familiar se aproximar dela mangando:

_Ô de casa, posso entrar?

A PIRANHA TEM NOME

58

Sim, era seu pai, Paulinho Virtude, uma das pessoas

mais amadas da cidade. Um cara gente fina, generoso,

feliz e apaixonado por sua única herdeira.

Ela correu saltando no colo de Paulinho como sempre

fez desde criancinha.

_ Nanu, acredita que inda tem apenas 80 cm e cerca de

10 quilos para se jogar em mim desse modo?- sorriu

enquanto a agarrava balançando.

_Ah pai, só agora!

_Foi exatamente o que falou da última vez, lembra?-

ainda gracejando.

Nanu sempre teve sem grandes explicações mais ligação

com o pai do que com a mãe. Não era uma questão de

mais ou menos amor pelos dois, ou até identificação.

Apenas era, e todos respeitavam isso.

_ Que tal aquele sucozinho de erva doce com abacaxi

que você adora, se me narrar o que está rolando nesta

cachola?- colocando-a de volta no chão.

_Nada não pai. Estou bem.

_Minha filha? Bem? Ah, impossível! Tu vives em crise

garota, isto é adolescência. E se veio aqui, é porque

Danka Maia

59

alguma coisa no mundo fantástico de Nanu deu muito

errado. - riu.

_Você é demais, coroa! Já te falei que te amo hoje?-

passando a mão pelos longos cabelos dourados de seu

progenitor.

_Pois é... - ele brincou. - Sabia que estava faltando algo

para o meu dia ser feliz. Mas, não conseguia me recordar

do que!

_Te amo véi. Sérinho!- beijando-lhe a face.

_Garotos?- ele indagou enquanto jogava uma pedra

sobre a água.

_De boa.

_O cara é gay?- continuou. - Por que se for normal. Sua

mãe namorou um carinha que era gay por dois anos...

Ela o interpelou severamente:

_Por favor, não me diga que ela se casou com ele e teve

uma filha chamada Nanucha Brilho de sol!

Paulinho caiu na gargalhada.

A PIRANHA TEM NOME

60

_Filhota, nada contra, mas não levo jeito para o negócio.

- abraçando-a.

E eles permaneceram ali enquanto o sol se despedia da

Capital Internacional do Surf outra vez.

E amanheceu.

Nanu desta vez acordou cedo, se arrumou, tomou café e

até dividiu o pão integral feito por sua mãe com a

"Libera Geral". Quando Paulinho adentrou animadíssimo

o recinto familiar:

_Boas novas Andradas! Acabei de ganhar uma

encomenda de 1000, citei 1000 pulseirinhas de barbante,

daremos uma festa de arromba, arroz integral com

chuchu e passas para os primeiros 100 que chegarem o

que acham?

_Perfeito!- bradou Maria Lua beijando o marido.

_Primeiros 100? Na boa, nem para os primeiros 100.000

com este cardápio você arruma convidado pai!- enfatizou

Nanu.

Danka Maia

61

_ Filha, explana uma situação que fiquei sabei agorinha

lá na Ponte do Giraú. Que babado é este que no teu

recinto estudantil tem tal senhora que atende pela

alcunha de A PIRANHA TEM NOME?

_Hã?- indagou Maria Lua pondo as mãos nas cadeiras e

olhando para a filha ainda mais neutralizada.

_Como foi que soube disso, pai?- questionou a menina

com uma voz quase inaudível.

_Não se fala em outra coisa na cidade! Soube pelo

padrinho do filho de um amigo dele, cujo filho estuda lá

também, que comentou geral. Parece até que vai rolar

bolão para ver quem acerta!

_O QUE?- Nanu esbugalhou os olhos. - Este povo é

muito pirado mesmo. Surfa na maionese fazendo batata

frita de prancha, só pode!

Maria Lua estranhou a reação da filha.

_Que vibração é essa, gatinha?

Nanu segurou a onda e a língua.

_Nada. Preciso ir para escola, tchau!

A PIRANHA TEM NOME

62

No caminho, aquela frase martelava com toda em sua

cabeça: "A PIRANHA TEM NOME!"

_Meu Deus, o que foi que fiz? Que vacilo do Fabinho

me dar informação errada, também, burra fui eu em

acreditar de cara no que falou. E agora? Sinto ventos

uivantes sobre minha áurea!

Recitando consigo mesmo tais pensamentos, logo foi

abordada por Dona Feinha, uma das maiores

mexeriqueiras da cidade, que com a vassoura na mão

atravessou a rua gritando a garota:

_Filhinha, filhinha! Pare aí um minutinho!

Nanucha não teve outro dito que não fosse: "_Que ela

não saiba que ela não saiba!"

_Bom dia Dona Feinha, tudo bem com a senhora e seu

Amaral?- mostrando um cativante sorriso.

_Vai ficar melhor se puder me esclarecer uma coisinha

que fiquei sabendo ontem à noite quando saí da novena

na casa do seu Nicolau, e passando na frente da casa

minha comadre Adelaide, ouvi um casal comentar que

uma professora lá da sua escola tá de caso com o Padre

Pinóquio, disseram até que foram vistos saindo do Motel

"Balança, Mas Não Caí!", parece que a piranha tem

nome. É isto mesmo, florzinha?

Danka Maia

63

A senhora proferiu tão salivante que Nanu

imediatamente permitiu-se entender como foi que a

Chapeuzinho Vermelho ficou diante do Lobo Mal.

_O Dona Feinha, não sei dessa parada de motel não!-

negando terminantemente enquanto tenta se esquivar de

outros ataques metediços.

_Ah, mas sabe da piranha?- sorriu a consorte eufórica.

_A senhora não dê ouvidos a estes assuntos que este

povo fala demais. Tenho que ir!

_Ouvidos? Eu? Imagine criança! Para que dar ouvidos se

a noticia já possui cabeça, tronco e membros?

Nanu congelou, e se atreveu a indagar:

_Por que a senhora diz isto?

_Ora, - elucidou Dona Feinha agarrando a mocinha pelo

braço e crendo que estava cochichando. - Parece até que

a Doravantes, aquela Santa mulher, vai fazer uma

reunião na casa episcopal e pedir o Padre Pinóquio que

explique seu envolvimento na questão! Que exemplo de

senhora, não?- batendo de leve no ombro de Nanu.

A PIRANHA TEM NOME

64

_A Professora Doravantes vai fazer o que? Que

absurdo!Perdoe-me, mas realmente preciso ir Dona

Feinha, abraço para o seu Amaral viu!

E mais uma vez a guria voou até chegar ao colégio,

Nanu estava apavorada com a repercussão que a tal

redação havia recebido. E o que mais a preocupava era

que o tamanho fosse tal, que se tornara um caminho sem

volta.

Esbaforida, ingressou na sala a procura de Lana:

_Amiga!

_Nanu, aí, a história da piranha tá rendendo mais que

dinheiro na mão de judeu! Geral está sabendo! Facebook

bombando, até que fizeram um blog,

apiranhatemnome.contatudo.com

_Mas como foi que este assunto saiu do colégio e foi

parar na boca do povo deste jeito? Até blog fizeram?-

mencionou irritada.

_Hello! Está em Saquarema, filha! EXPLANAÇÃO DE

INEXATIDÃO TERMINOLÓGICA, aqui não voa, vive

na velocidade da luz!

_Explanação de inexatidão terminológica?- Nanu

estranhou o termo.

Danka Maia

65

_Um jeito bonitinho para não expor fofoca. Vi num

filme adorei! Não é o máximo?

_Nem todo saquaremense é fofoqueiro, Lana!-advertiu a

menina ajeitando as coisas em sua carteira.

_Sei disso. Assim como nem todo brasileiro é corrupto,

no entanto, a fama é quem proclama docinho!

De repente entra o Guga, seguido por Batatinha e Bocão.

_Tá rolando maior barraco na 1001, chegou no ouvido

da Professora Kelly "Kigostosa" que ela é a tal piranha

que tem nome, e agora foi tirar satisfação com a Bruna

Santana, que espalhou geral o boato para todo mundo!

_O que?- Nanu colocou as mãos na cabeça. E em

seguida tomou uma decisão. - Guga e Bocão venham

comigo, temos que impedir isto!

_Eu quero mais é ver o mar pegar fogo para eu comer

peixe frito!- gracejou Guga, que sumariamente foi

arrastado pelas orelhas pela amiga.

_Você vai, e agora!- ordenou.

_Pedindo com jeito faço qualquer coisa!- fazendo caretas

devido o puxão nos ouvidos.

A PIRANHA TEM NOME

66

Correram em direção à sala, porém, o caos já estava

instalado em pleno pátio.

Uma visão estapafúrdia.

Galera gritando:

_Pega! Pega!

E outros:

_Manda um cruzado, "fessora"!

E no canto esquerdo um bolão de aposta mais em alta

que bolsa de valores.

Acontece que a Professora Kelly era conhecida pelos

seus avantajados dotes, digamos anatômicos. E não seria

exagero narrar que ela fazia a linha "fêmea fatal".

Abusava demais nos decotes e do mesmo modo

encurtava as microssaias, a consequência não podia ser

diferente, todos os pertencentes do clã masculino se

davam ao luxo de cobiçá-la além de se gabar em cima da

figura dela que não se fazia de rogada.

_Você vai desmentir para todo mundo o que andou

falando de mim, sua crente do rabo quente!

Danka Maia

67

_E quem vai me obrigar? Com este sinto que insiste

chamar de saia? A senhora vai é arder nos quintos dos

infernos!

A docente partiu para cima da Bruna, que também era

conhecida como "Santarrona de Bicuiba", porque para

ela tudo e todos só viviam para cometer pecados

enquanto os dela eram todos devidamente apagados de

sua conta bancária celestial.

O Tiozinho do portão entrou no meio e clamou:

_Pelo amor de Deus, Dona Kelly, não cometa uma

atrocidade dessas! Pense um pouco!

_Gaspar, esta garota, inventou para todo mundo que eu

sou a tal piranha que tem nome! E como fica minha

reputação, hein?

_Do tamanho da calcinha que a senhora não usa senão ia

ficar maior que o cinto saia!- berrou a guria.

E lá foram todos para o segundo rodada.

Puxa daqui, estica de lá, Nanu no meio tentando arrancar

a Bruna pela cintura de cima da professora Kelly, e o

Guga e o Bocão, ao invés de ajudá-la pararam no jeito

para ficar conferindo se o boato da falta de calcinha era

de fato verdadeiro. Verdadeiro vexame!

A PIRANHA TEM NOME

68

Eis que de repente uma voz bradou nos quatro cantos do

pátio que havia virado um ringue.

_Parem com isto imediatamente!

Era a Dona Heloisa, a diretora da escola. Mulher firme,

muito educada, pedagoga por formação, generosa, mas

com punhos de ferro quando se tratava de balbúrdia em

sua instituição.

Até o silêncio voltou a fazer barulho.

Hugo descuidado espirrou sem querer. O bastante para

ser objeto da observação severa de Heloisa, que

imediatamente se retratou:

_Desculpe diretora, foi mal.

O suficiente também para Guga, o medroso de sempre

cutucar Bocão pela blusa e sussurrar:

_Partiu moleque!

_Cara, aguenta aí. -aconselhou Bocão.

_E na minha testa está escrito besta, né?

Guga já estava na ponta dos pés quando Heloisa proferiu

em alto e bom som:

Danka Maia

69

_Sugiro que escute seu colega senhor Luís Gustavo

Arantes!

Guga dera três passos a frente, e os retrocedeu numa

marcha ré biônica. Heloisa deu um rasante 360º na

galera, e mandou logo a que veio:

_Alguém pode, de maneira contundente, explicar que

palhaçada é esta?

A Bruna e a Professora Kelly trataram de logo se

recompor como duas moçinhas castas e puras que nunca

foram.

_Senhorita Kelly, até onde recordo sua presença nesta

instituição educacional se dá pelo fato de ser ou nos

fazer acreditar que é uma docente, ou estou enganada?

_Sim senhora, mas essazinha...

Dona Heloisa a interpelou no ato.

_Alto lá! Na minha escola, professores chamam os

alunos pelos nomes, e até onde sei a senhorita a qual se

refere atende pelo nome de Bruna, ou estou errada?

_Não senhora. A Bruna andou espalhando um boato

sobre a tal redação da 901, a que cita a piranha tem

nome, relacionado a minha pessoa! E isto é um ultraje!

A PIRANHA TEM NOME

70

_Entendo. - caminhou Heloisa em volta da professora. -

Sabe, professora Kelly, fico aqui pensando, por que será

que uma aluna faria tal alusão a sua imagem e não a

minha, por exemplo? Ah, talvez esteja aí à resposta,

exemplo!

_Só porque me visto assim ninguém tenho o direito... -A

diretora interrompeu outra vez.

_Cuidado com o que irá pronunciar professora Kelly,

porque quem está mencionando sobre seu vestuário é a

senhorita, ou alguém aqui ouviu da minha boca alguma

colocação sobre sua maneira de vestir-se?

E tome silêncio.

_Agora, se me permiti um breve conselho pedagógico

logicamente, se ao tocar no assunto, a primeira coisa que

lhe ocorreu foram seus trajes é porque lá dentro da sua

psique, ele realmente não esteja bem apropriado para um

ambiente escolar. Pense nisto!

Virou-se para Bruna, cujos joelhos mesmos tortos batiam

desesperados um no outro.

_Quanto a senhorita, o que a fez acreditar que poderia

tratar um professor de tal forma?

A Santarrona engoliu seco e respondeu.

Danka Maia

71

_Desculpe diretora Heloisa.

_Desculpe? A mim? Não me fez nada. Suas desculpas

devem ser direcionadas prontamente a professora Kelly,

Bruna!

_Desculpe Professora Kelly. - podia ver que a

Santarrona estava se roendo por dentro.

_Não cometa mais o deslize de achar que suas crenças

religiosas lhe dão o direito de julgar quem quer que seja

mocinha,quando se aponta um dedo para alguém,há mais

três virados para você. Voltem as suas salas, todos

dispensados!

E lá foi a Diretora Heloisa Dumbledore, descendente

direto de Alvo Dumbledore, no entanto aquele

educandário estava longe de Hogwarts e de ter um Harry

Potter.

Ao voltar para sua sala, Nanu ouviu uma conversa de

lampejo da diretora e sua secretária anunciando que

Doravantes já estava a sua espera em sua sala para

esclarecer os fatos. Feito uma flecha ela cortou caminho

por trás do bebedouro, passou entre uma apertada brecha

entre a secretária e a sala de Heloisa, e se pôs numa

fresta onde nem um faquir poderia respirar.

Segundos depois as três adentraram.

A PIRANHA TEM NOME

72

Doravantes foi a primeira a abancar-se na cadeira de

frente a mesa de madeira maciças da sala, acompanhada

de Heloisa e sua secretária, que acabou mesmo ficando

de pé.

_Professora Doravantes, afinal de contas, como foi que

deixou que este assunto tomasse tamanha proporção?

Achei que havia sido muito enfática onde quando me

procurou e falei que trataríamos o tema internamente e

de maneira discreta. O colégio está um pandemônio e na

cidade não se fala de outra coisa!

_Dona Heloisa, como bem sabe sou uma pessoa muito

discreta e odeio estar no centro de furacões que possam

atingir ou denegrir a imagem da família como um todo,

porém, a meu ver o assunto em questão vai muito mais

além que as fronteiras de sua escola, portanto de fora do

seu controle.

A diretora Heloisa olhou surpresa para o docente e sua

presunção e a inquiriu:

_Como é que é?

_Sinto muito diretora, mas o que tem de ser feito foi

feito. Como membro assíduo da Comunidade Beneditino

das Viúvas Católicas de Saquarema, tomei a liberdade

que intimar o Padre Pinóquio nesta tarde, numa conversa

a sós, a fim de que se explique sobre este lamentável

Danka Maia

73

episódio. Afinal de contas, é a nossa sociedade cristã que

está em jogo também!- enfatizou pondo a bolsa sobre os

joelhos.

Heloisa se levantou parecendo não acreditar.

_Doravantes, a redação foi feita por um aluno. Não

passou pela sua cabeça que possa se tratar de uma

traquinagem de criança?

_Pouco provável, dadas a circunstâncias em que

desenvolvi o trabalho dentro de sala de aula. Fui enfática

ao esclarecer que tinha que ser um segredo, ainda que

ridículo e descabido, como os que eles sempre contam

que se tratava da nota do bimestre, que uma invenção

estaria fora de questão. E bem como lhe mostrei, todos,

exceto esta produção textual, seguiram a risca o que

propus. O pobrezinho ou pobrezinha que redigiu esta

confissão aproveitou o momento para um desabafo a

nação saquaremense. Pobre criança!

_Não acredito que tenha feito isto!- pondo as mãos sobre

a cintura. - Sua atitude intempestiva pode ter

desencadeado um grande embaraço para todos nós ou

não considerou isso em seus cálculos religiosos? Expor o

Padre Pinóquio a uma situação vexatória como esta?

A PIRANHA TEM NOME

74

_Trata-se da moral e dos bons costumes de uma

coletividade, diretora Heloisa. Sinto muito, se isto a

incomoda!- Sendo determinante.

Heloisa sentou-se novamente em sua cadeira, descansou

os braços sobre a mesa, inclinou o corpo para frente, e

foi firme:

_Pois então Doravantes, a partir deste instante é você

quem responderá a qualquer pai, mãe, papagaio ou

periquito que vier até a escola porque teve uma filha,

irmã, ou seja, lá o que for envolvida nesta história

esdrúxula e estapafúrdia. Fui clara?

_Como a neve senhora.

Doravantes saiu da sala cheia de si e se

autopromovendo internamente por ter alcançado tal

posto que em sua mente, era quase a Presidência da

República.

Nanu sofreu um bocado para se livrar do tal buraco em

que se metera para ouvir a conversa. Depois de minutos

incessantes e uns aranhões nos cotovelos e na barriga

pensou consigo mesma:

_Preciso contar isto a alguém, não posso resolver isto

sozinha. Já posso imaginar a página dos Jornais da

capital: "MENINA SERVIDA COMO PRATO

Danka Maia

75

PRINCIPAL NA MESA DA PROFESSORA EM

SAQUAREMA" E o pior é que meus pais são

vegetarianos, o destino e suas ironias!

Mas tarde,quando já estava indo no caminho em

pleno escaldante empurrando a galopante que havia

furado o pneu ao passar em cima de um prego, Nanu

estava mais para baixo que calcanhar de anão, e ainda

faltava um belo pedaço até chegar em casa. Foi quando

avistou Guga se pegando com uma garota da 801.O

lance era um bafão porque os dois tinham uma

engalfinhada cama de gatos. Guga e Nanu se gostavam

desde o terceiro ano, namoraram por um tempo no sexto

ano, todavia, ela não sabia lidar com a imaturidade dele,

comum nos meninos de sua idade.Todavia, o sentimento

havia ficado de ambas as partes, o que significava que

devidos os últimos acontecimentos ainda ter que ver o

seu gatinho entrelaçado feito um polvo a outra menina,

não era nada agradável.Nanu observou friamente o

fogoso encontro dos dois, coçou a boca,estralou os dedos

das mãos um por um, e não titubeou.

_Nossa! Que cena de cinema! Que lindo não, seu

cretino!

Guga empurrou a acompanhante para longe porque

sabia que viria chumbo grosso pela frente. A questão era

que eles tinham um acordo, de um não ficar com alguém

A PIRANHA TEM NOME

76

na frente do outro, e na cabeça de Nanu, e ela tinha

razão, o Guga só topou se esfregando ali coma guria

porque sabia que era o caminho dela.

_Segura à onda aí, florzinha!

_Segura à onda, seu cafajeste! O que foi que

combinamos?

_Mas florzinha, não sabia que você iria passar aqui a

esta hora!- se esquivando dos solavancos que recebia da

mochila de crochê em sua cachola.

_Ah, não sabia? Moro na mesma casa desde que nasci o

que significa 14 anos, no mesmo endereço, no mesmo

lugar, e você, safado, sabe todos os meus horários.

Guga tentava se safar usando a galopante para driblar a

mocinha enfurecida. Quanto à outra garota, não havia

nem mais sombra dela no ambiente, parecia evaporado.

_Como é que pode fazer uma parada dessas comigo,

cara? Cachorro! Volta aqui que eu vou-te budoar até

minha mão inchar!- partindo cada vez mais colérica para

cima do Guga.

_Apazigua aí Nanuchinha!- implorou o carinha.

Danka Maia

77

_Nanuchinha? Vou te mostrar a Nanuchinha quando

partir a sua cara em mil pedaçinhos Luís Gustavo!

_Meu nome completo? Ih... Ferrou!

Guga desandou correr pela rua, enquanto Nanu obstinada

vinha em seu encalço como um caçador atrás da lebre.

De vez em quando ele virava mesmo correndo de costas

e tentava controlá-la:

_Para um pouco, deixa te explicar a parada!

_Para você um pouco que eu vou te explicar a parada na

base da pancada!

_Eu tentei!- gritava Guga olhando para Deus.

Entretanto, a senhorita vendaval logo cansou,estava

cansada, sem pique e angustiada. Guga parou na esquina

e ficou espreitando ela sentar no meio fio debaixo de

uma amendoeira. Preocupado, encheu o peito de

coragem, e veio acudir a sua florzinha.

50 metros de distância.

_Nanu... Tá mais calma?

30 metros de distância.

A PIRANHA TEM NOME

78

_Nanu, só voltei porque te amo!

20 metros de distância;

_Nanu, sou eu, Guga, será que pode jogar esta bela

mochila um pouquinho para longe?

10 metros de distância.

_Florzinha, quero te ajudar, mas estou com um medo

danado!- coçando a cabeça diante da inércia da menina.

5 metros de distância.

_Florzinha... Fala algo pelo amor de Deus!Que não seja

vou te matar, valeu?

Enfim, a senhorita se deixou levar pelos nervos a flor da

pele e começou a chorar copiosamente.

Guga enlouqueceu.

_Ai meu Senhor Shiva! Não faz isto que eu... Também

choro!

E abriu a cara a chorar ao lado dela.

_Desculpa, não achei que fosse ficar tão mal, florzinha.

Danka Maia

79

_E você acha que estou assim por sua causa?- ensaiando

um novo ataque. - O mundo está desabando sobre minha

cabeça com esta história da Doravantes e você se

achando! Faça-me o favor!

Foi quando percebeu que havia falado demais diante do

olhar e o silêncio colossal do menino.

_Foste tu! Não creio!

_Não sei do que está falando... - fazendo-se de

desentendida.

_A parada da Piranha, foste tu quem mandou esse caô

para Doravantes, não foi? Caraca, como não saquei isto

antes! Era óbvio!

Nanu tratou de se explicar.

_Alto lá, que não foi por este motivo não!

_Ah Nanu, para cima de "moí"?- abrindo os braços.

_Não sabia Guga, cheguei atrasada, entrei escondida, e

acabei levando maior esporo, então perguntei para o

besta do Fabinho, que disse para inventar um segredo, e

inventei um para sacanear a "libera geral",quantas vezes

ouviu falar que ia me vingar dela?

A PIRANHA TEM NOME

80

E foi aí que o garoto ponderou os fatos.

_A PIRANHA TEM NOME! Estava falando da sua

"Piranha"? Sacanagem! Coitada da cachorra!

_Coitada de mim! Estou me sentindo péssima por causa

dessa fábula. As pessoas estão se digladiando, fazendo

apostas, Saquarema virou de ponta a cabeça por conta

disto!

_Virou mesmo!- confessou Guga.

_Como você é animador!

_Soube até que a TV de Cabo Frio vem fazer matéria

sobre a parada lá na escola.

_Muito obrigado por me consolar, Guga, suas palavras

são revigorantes!

Houve silêncio. No entanto não por muito tempo...

_Olha só, - pronunciou Guga se aproximando lentamente

dela. - Foi mal aí o negócio da menina. Eu mandei na

real, mas não sabia que ia te machucar tanto e nem que

estava assim precisando de uma força. Desculpa. Foi de

uma babaquice só, sabe o quanto sou troll às vezes.

_Às vezes?- Nanu envergou a cabeça fitando-o de lado.

Danka Maia

81

_Não precisa esculhambar. Já confessei que pisei na

bola!

_Não sei o que fazer. Pensei em contar a verdade, mas se

fizer isto, a professora Doravantes vai levar para o

pessoal, achar que fiz de sacanagem com ela, aí sim

repito o ano!

_Conta para os teus pais. Te ajudo, explico a tudo

contigo.-aproximando um pouco mais e pondo a mão no

ombro de Nanu.

_Sei que posso contar para eles, Guga. Entretanto, vou

permitir que fossem ridicularizados outra vez, e logo por

minha causa? Um dos motivos que a Doravantes não me

engole é por causa deles, do estilo riponga de ser. Não

quero vê-los passando vexame por mim, já basta o

preconceito que a maioria tem com a gente.

_Então, vamos contar para Lana. Três cabeças pensam

melhor que uma!- dando um sorriso convincente e

arrancando outro meio amarelado da menina.

_Fechou!- cerraram as mãos batendo uma contra a outra.

Ele a ajudou levantar-se, colocou a temida mochila em

suas costas para não deixá-la carregar peso, e foi

empurrando a galopante até a casa de Lana.

A PIRANHA TEM NOME

82

_ Caraca Nanu, você enlouqueceu?- Berrou Lana assim

que soube do caso.

_Não fazia ideia que ia dar esta m...!- confessou a

menina toda chorosa.

_A professora Doravantes vai te botar num muro e te

fuzilar tanto que vai ficar igual à peneira da minha avó!

_Precisamos fazer alguma coisa. - lembrou Guga.

_É, mas o que?- Questionou Nanu.

Foi quando Lana teve uma ideia.

_Temos que ir a tal reunião que a Doravantes fará com o

Padre Pinóquio na casa episcopal e abrir o verbo!

_Contar tudo?- indagou Guga pasmado. - Já estou todo

arrepiado!

_Se a Nanu contar na frente de todo mundo, Doravantes

não vai poder fazer nada drástico com ela.

_Sabe que a Lana tem razão. - recobrou o ânimo Nanu. -

Na frente da galera santa, fico mais protegida, inclusive

pelo Padre Pinóquio que é um amor de pessoa.

_"Borá lá"! - Bradou Guga animado.

Danka Maia

83

E foram os três a casa episcopal com o puro intuito de

desfazer todo equívoco em torno da "PIRANHA TEM

NOME!".Estavam convictos de que a atitude correta

havia sido encontrada, que logo tudo não passaria de um

ledo engano e que tudo voltaria ao normal.

Ao entrarem na rua da casa, perceberam que a

movimentação semelhava a festa de setembro, carros

para todos os lados e cantos, barraquinhas sortidas de

todos os tipos de aperitivos e pratos. Doces de toda sorte,

e até artesanato. Lembram a encomenda que o pai da

Nanu recebeu de 1000 pulseirinhas de barbantes? Pois é,

era para tal ocasião, vendida por módicos R$ 5,00, Seu

Luizinho está com um sorriso de um canto ao outro.

Guga não se conteve, passou na frente e foi comprar um

exemplar a fim de descobrir o que de tão especial

reservava a tal pulseira. Boquiaberto, voltou e mostrou a

Lana e Nanu que surtaram:

_Não acredito nisto!- exclamou Lana.

_Meu pai fez isto! Meu pai!- clamou Nanu.

Na pulseira estava a seguinte frase:

"A PIRANHA TEM NOME" - LEMBRANÇA DE

SAQUAREMA

A PIRANHA TEM NOME

84

Foi o bastante para desolação total da adolescente que

recostou nos ombros da amiga.

_Estou literalmente ferrada.

_Temos que contar Nanu, se não, as coisas podem piorar

ainda mais. - Lana foi incisiva.

Resolveram adentrar o recinto entupido de gente, rádio

local e televisão da região. A PIRANHA TEM NOME

tinha virado o capítulo para o próximo século na cidade.

No centro do pátio, estava o Padre Pinóquio com um

semblante apreensivo, mão tremula e suando baldes pela

testa lendo a tal redação de Nanu.

Um silêncio assombrador e sufocante tomou conta do

ambiente. Afinal, todos queriam saber, quais seriam as

palavras do sacerdote sobre a questão. O senhor

começou a tremelicar de cima a baixo, e lendo e relendo

o texto se deteve a berrar em alto e bom som:

_A PIRANHA TEM NOME!

Claramente abatido, tiveram que acudi-lo e o

assentaram em uma cadeira. Rola um copo d'água,lenços

de papel, abana o padre de lá e de cá, em minutos se

recompõe e retorna ao centro do pátio apanhando o

microfone que um rapaz lhe dera anteriormente.

Danka Maia

85

Todos estavam apiedados do homem. Qualquer palavra

que saísse de seus lábios daria a toda aquela multidão

plena paz e persuasão de sua índole irrefutável. Ele

olhou para todos de cabeça erguida, fitou a Professora

Doravantes de rabo de olho, e arrematou o assunto:

_SIM, EU TENHO UM CASO HÁ ANOS COM UMA

MULHER DESTA ESCOLA!

Ao revelar tal façanha, todos se entreolharam sem saber

o que pensar, falar ou fazer. Doravantes endureceu tanto,

que caiu feito um cabo de vassoura em cima do rapaz do

som. Completamente estática. Padre Pinóquio se limitou

a narrar;

_Amanhã, nesta mesma hora estejam aqui, irei revelar

quem é ela, e acabar com esta balbúrdia de uma vez por

todas!Agora vão para suas casas, o show acabou. -

descendo do palco improvisado e sendo invadido por

uma avalanche de repórteres tanto da rádio quanto da

televisão que tentavam o melhor ângulo para sugar mais

uma frase do pobre sacerdote.

"Estamos aqui diretamente da casa episcopal de

Saquarema, onde o Padre Frederico Pinóquio acaba de

confirmar para posteridade local seu envolvimento

amoroso com uma mulher do Colégio Cícero Antônio

Bispo, evidenciando que o que parecia um boato

relatado por um dos alunos da instituição escolar, é um

A PIRANHA TEM NOME

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fato verídico. A sociedade saquaremense está atônita, é

possível ver pessoas chorando, e algumas ambulâncias

do corpo de bombeiros já foram chamadas. É com

vocês, no estúdio!

Nanu, Lana e Guga saíram cabisbaixo do evento, e

foram direto para Praia da Vila ver se Netuno e Cia

poderia ampará-los de alguma forma diante de suas caras

bestificadas.

Os três se jogaram na areia de maneira sincronizada.

_O padre é pegador. - expôs Guga.

_Safadinho!- comentou Lana.

_Minha vida acabou!- concluiu Nanu. - sentando-se e

olhando para mar enquanto gesticula. - Com tanta coisa

para arquitetar, fui logo inventar um segredo que é de

verdade?

_Na moral Nanu, você deveria se dedicar a clarividência,

isto é um dom. Já posso até ver: Mãe Nanu...

Enfurecida, ela se levanta e trata de completar a frase em

atitude inapropriada.

_Mãe Nanu? Vai tomar no seu... - Guga agarrou a sua

boca, e balançou a cabeça.

Danka Maia

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_Calma! È a Lana lembra? Dali não tem como sair nada

melhor que isto!

_E agora?- perguntou a mocinha angustiada. Esta cidade

vai pegar fogo!

_Virar a matriz do inferno, né? Porque estou me sentindo

no próprio Poseidon, nega!- comentou Lana arrumando o

vestido.

_Poseidon? Não seria Hades, Lana?- corrigiu Guga.

_Que seja!- deu-lhe os ombros. - São todos irmãos de

Deus mesmo!- gafando-se.

_Não seria Zeus?- Guga outra vez.

_Escuta aqui "Zé Pimenta", vai ver se eu estou no forró

da feira, valeu!- retrucou Lana embraveada.

_E se procurássemos a Heloisa? Ela é a Diretora da

escola. Pode ser que o apoio dela ajude.

_Ajudar como Guga? -desesperou-se Nanu. -Não

entendeu ainda?Antes a história da PIRANHA TEM

NOME estava dentro de uma esfera, de um boato, fofoca,

agora, tudo mudou. O padre confessou para todo mundo

que verdadeiramente tem um lance com uma mulher da

escola! E a culpa disso é exclusivamente minha, o que

A PIRANHA TEM NOME

88

me faz sentir péssima. E tudo por causa daquela

"Piranha" da minha cachorra!

_Temos que pensar, afogar em culpa não vai adiantar

nada, amiga. - elucidou Lana aproximando-se de Nanu.

_Creio que eu deva conversar com o Padre Pinóquio. -

disse Nanu. -Acho que isto a ele, explicar como tudo

aconteceu e porque chegou nessa encrenca toda. È o

mais sensato que posso fazer. - concluiu.

Lana e Guga se entreolharam, e concordaram com a

amiga.

Trataram que no dia na manhã do dia seguinte, antes de

ir para a escola, passariam na casa de Padre Pinóquio, e

Nanu esclareceria como tudo ocorreu. Os costumes

matutinos do padre eram conhecidos de todos em

Saquarema, sempre as seis ele dava uma bela caminhada

pela orla, passava para comprar um peixe fresco, de

preferência anchova, conversava um pouco, e ia para

casa cuidar de seus afazeres pessoais e sacerdotais.

Seria fácil localizá-lo, cabeludo mesmo, era explanar os

fatos.

Passava pouco das 06h15minhs quando os três se

encontraram no local combinado. Entretanto, deu

Danka Maia

89

06h20minhs, 06h30minhs, 07h00minhs, e nada do Padre

Pinóquio dar as caras.

_Será que rolou mais parada sinistra no lance?- indagou

Guga.

_Isto está muito esquisito... - sussurrou Nanu.

_Padre Pinóquio nunca deixa de caminhar e comprar

peixe. É mais sagrado do que missa aos domingos!

_Não exagera Lana. - advertiu Nanu.

_Vamos a casa dele. Vai ver devido o acontecido ele

tenha ficado com stress pós-traumático, já li sobre essa

doideira, vai ver ficou bolado. Eu ficaria!

Pareceu considerável o que o menino descreveu. Tanto

que foram direto a casa episcopal.

Nenhum movimento aparente. Tudo quieto, calado,

apenas os garis da Prefeitura varrendo a cena do dia

anterior que deixou rastros no chão de guardanapos,

copos e latinhas de refrigerantes.

_Está parada tá ficando cada vez mais sinistra, veí. -

argumentou Guga.

A PIRANHA TEM NOME

90

Lana recordou que Dona Zefinha, estaria lá dentro, era

ela quem arrumava as coisas pessoais de Padre Pinóquio.

Quando pensaram em tocar a campainha para tentar falar

com a consorte, um grito estarrecedor ecoou de dentro

do recinto:

_PELOS CÉUS!!!!!

Correram todos para dentro da casa do vigário.

Lana, Guga e Nanu.

Os garis.

Os pescadores.

E dizem que até algumas anchovas que estavam dentro

do barco.

O cenário era de lamento. Amparada Dona Zefinha

chorava a ponto de encher as cisternas da rede de

abastecimento de água de Jurtunaíba. Lana como sempre

soltou suas pérolas:

_Onde é que está o corpo?

_Que corpo?- pulou Guga sobressaltado. - Que lance de

corpo é este? Aí, para com o vacilo, que vocês sabem

como fico com essas coisas!

Danka Maia

91

_Cala a boca, Lana!- segredou Nanu.

_Ué, a senhorinha não para de chorar, achei que...

Dona Zefinha se manifestou:

_O padre... O nosso santo padre... O pobrezinho do

padre...

_O tia, na moral, economiza o padre e conta o que

aconteceu de uma vez por todas!- suplicou Guga já

empalidecido.

_O padre Pinóquio desapareceu!

Geral virou um para cara um do outro, e isto inclui claro,

as anchovas, e bradaram:

_Sumiu???

Sim o Padre Pinóquio havia desaparecido sem deixar

nenhuma sombra de rastro.

Instantes depois o notícia se espalhou por todos os

cantos da Capital Internacional do Surf. Reza a lenda que

até os camarões contaram para a pequena sereia que

vivia atrás da igreja.

A PIRANHA TEM NOME

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Facebook bombando.

Blog congestionou!

E a Nanu, a coitada da Nanu, se resumiu a citar:

_Eu acabei com um homem de Deus!

Lana e Guga trataram de dar força à amiga. E retomaram

a ideia anterior de procurar a Diretora Heloisa. Partiram

para o colégio obstinado pela ideia de esclarecer todo

absurdo que o tonto do Fabinho colocara a infeliz

Nanucha.

Imediatamente romperam todo trajeto direto a sala da

diretoria e foram firmes:

_Queremos falar com a Diretora Heloisa!- Posicionou

Nanu.

A secretária olhou por cima dos óculos ensaiando um

sorriso.

_Sinto muito, isto não será possível dada às

circunstancias. - com sua voz fina e estridente.

Nanu olhou para Lana e logo imaginou que o

desaparecimento do Padre Pinóquio já teria alcançado os

muros e o complexo inteiro da escola.

Danka Maia

93

_Que circunstâncias?- investigou Nanu.

A secretária sentou-se cruzando as belas pernas e

tonteando o Guga, que em virtude do pequeno deslize

levou um soco na boca do estômago, caindo sentado na

cadeira sem poder gritar.

_Ué, não souberam?Não acredito!- mordiscando uma

torrada.

_A senhora pode nos contar?- pediu Lana quase

suplicando.

A mulher levantou-se indo até as duas, e foi enfática:

_A Professora Doravantes desapareceu!

_O que?

_Como?

_Quando?

_Parece que hoje pela manhã a diarista chegou e não

encontrou, mas nem um vestígio de roupas, objetos

pessoais tão pouco dela. Vupt! Sumiu! Como se jamais

tivesse aparecido. - acabando de morder toda torrada.

A PIRANHA TEM NOME

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Nanu puxou Lana pela mão e o Guga pela orelha e

retirou-se da sala da diretoria mais atônita do que

entrara.

Caminharam em direção aos fundos da escola, as

meninas permaneciam caladas. O Guga tinha que estar

devido o golpe que recebera na secretária.

_O que fiz? Acabei com a vida do homem da batina com

a beata da cidade! Eu vou para o inferno gente!

_Agora o negócio estreitou. - admitiu Lana.

Recuperado do golpe, o garoto elucidou todo caso de

maneira prática e incisiva:

_Suas tontas, não sacaram não? A Doravantes é a mulher

do Padre! Ela era a tal que tinha um caso com o

Pinóquio.

_Não pode ser!- arregalou os olhos Lana.

_Mas será possível?

_Pensa comigo, Doravantes certamente jamais

considerou por um instante a possibilidade de alguém

saber que rolava a treta entre ela e o padre. Surgiu o

texto: A PAIRANHA TEM NOME, ameaçada de uma de

uma de zeladora da moral e dos bons costumes para

Danka Maia

95

neguinho não suspeitar dela,armou o circo todo,até cair

dura caiu, e essa historinha de que hoje o Padre Pinóquio

contaria a verdade foi só balela,eles tiveram tempo

suficiente para meter o pé na estrada.

_Sabe que ele tem razão. - refletiu Lana.

_É bem provável. - ponderou Nanu. - Isto explicaria

muita coisa!

O dia passou.

Os dias passaram.

Um mês.

A PIRANHA TEM NOME

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Alguns meses.

E nunca mais se ouviu falar em Doravantes e o Padre

Pinóquio. Semanas depois do acontecido, descobriram

no armário dela na sala dos professores inúmeras cartas

de amor e fotos comprometedoras dos dois em vários

lugares da cidade: Tinguí, Bicuiba, Rio das Tábuas, Rio

Seco, Jaconé, Sampaio Corrêa, Vilatur, Palmital. Todos

os lugares foram devidamente batizados pelo tórrido

caso de amor da professora e do padre, que também veio

a ser apurado, e constatou-se que já duravam pelo menos

uns três a quatro anos.

Danka Maia

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Com o passar do tempo, as coisas foram voltando ao

normal em Saquarema. Quer dizer, algumas, porque

certas atitudes jamais mudam.

Naquele ano todos passaram, e isto beneficiou Nanu.

Ninguém além dela, Lana e Guga, e seus pais

comunicados após o ocorrido, nunca souberam que

Nanucha Brilho de Sol Andrada foi à autora da fatídica

produção textual: A PIRANHA TEM NOME. Maria Lua

e Paulinho Virtude acharam por bem não castigar,mas

dar uma lição já que a filha provocou toda confusão inda

que sem querer, devido a vontade de vingança a pobre

cachorrinha "Libera Geral", adotaram um novo

cãozinho, uma pinche muito endiabrado porém que não

gostava muito de andar com outras cadelinhas.

Maria Lua, então o intitulou carinhosamente de:

"Botãozinho do Amor", e é claro, Nanu que agora estava

acostumada a "Libera Geral", ficou colérica com o nome

do novo integrante da família, uma vez que os boatos

dado ao cãozinho não eram dos melhores.

_ "Botãozinho do Amor"? Este animal anda com tudo

que é CAHORRO, mãe! Ele tem que andar com as

CADELAS! Tá todo mundo na rua me sacaneando

dizendo que meu botãozinho é de Amor! Isto é bullying!

Este cachorro é muito biba, nada contra, mas é verdade o

nome dele tinha que ser: "Veado sim, sozinho nunca!".

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E novamente a menina foi para escola aperreada com o

que segundo ela, o encosto que sua mãe lhe dera.

Atrasada como sempre, entrou soltando pelas ventas na

aula da Professora de Sociologia, Gina, um amor de

pessoa e muito tolerante ao contrário da então

Doravantes.

Na correria a docente falou para a garota:

_Vamos Nanu, faça a sua parte do trabalho logo!

Para não cometer o erro de antes, Nanu precavida desta

vez, perguntou a sua amiga Lana:

_O que é para fazer?

_Nada demais, apenas crie uma frase sobre um assunto

que você odeia ponto.

_Tem certeza Lana, pelo amor de Deus!

_Vai escreve qualquer coisa, tá bom! Nem nota vale.

Detalhe, em letra de forma, e sem identificação.

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A garota abriu os cadernos correndo e a primeira coisa

que lhe veio à cabeça.

E ligeira enfiou no bolo com as outras na mesa da

professora. Que apagando o quadro, e limpando as mãos

com álcool em gel, apanhou as folhas e proferiu:

_O tema mais impactante, será abordado na próxima

sexta-feira, ou seja, daqui a dois dias na câmara de

vereadores de nosso Município com nossos

representantes políticos.

Passados alguns minutos. Gina põe os óculos, olha para

a turma e fala:

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_Parece que temos um tema e tanto aqui. O que acham

de "VEADO SIM, SOZINHO NUNCA!"

A turma foi ao delírio.

Lana olhou imediatamente para a amiga.

E Nanu restou pronunciar:

_De novo não!

FIM?

Declarações de Alguns de Meus Filhos Postiços

DANKA,

"Então, Danka é uma pessoa super agradável e simpática. Ela ajuda vários alunos com as dificuldades da escola. È superinteligente e sabe sobre tudo. Além de muito extrovertida. A gente se sente bem nas aulas dela e muitas vezes preferimos estudar com ela do que com os professores da escola."

Danka Maia

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"Danka é uma maravilhosa explicadora. è legal, feliz, implicante que adora colocar ordem na casa e adora corrigir. Tem muitos alunos, uma delas sou eu, as vezes é um pouco chata mas deixa todos felizes ,é como sempre diz:FALE AGORA OU CALE-SE PARA SEMPRE! KKKK Danka te amo!"

"Dan é uma pessoa muito intensa, quando ama, ama demais, se tiver que ser dura, será demais. No entanto, se a conhece, a ama, como eu. Não suportava explicadoras e todas eram estranhas, frias, malucas, mas a Dan veio para ficar na minha vida e no meu coração."

"Danka Maia é uma pessoa maravilhosa e divertida. Ela é um exemplo de pessoa. Aprendi muitas coisas com ela, besteiras, só que a mais importante é dar valor a vida, sempre me deu forças para os momentos bons e ruins.Danka é brincalhona, uma pessoa muito legal.E eu te amo muiiito!

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"Danka é uma das melhores professoras que existe. Ela super amiga, inteligente, gente fina, mas se pisar no calo dela, você vai copiar 100 vezes! E se levantar uma das sobrancelhas... xiiii! Ferrou! Mas mesmo assim, gosto muito dela."

"Você é chata pra "Cacildis", eu não te curto nem um pouco. KKK, Brincadeira do seu melhor aluninho. Você é legal e eu te curto de montão, Na moral, imagina o que eu estaria estudando se não te conhecesse? Enfim, muito obrigado pela força que você me deu nos estudos e, por favor, não morra quando eu sair daqui. Beijos! Fui!"

"Para mim a Danka é assim: Meiga, apesar de ser austera às vezes, consegue conquistar todo mundo com o seu jeito especial. Muito sincera, fala tudo que pensa, sem se importar com o que vão dizer. Ela é linda por dentro e por fora. Muito humilde, gosta de ajudar as pessoas. Brinca mais quando é para falar sério... (saí de baixo!) Sensível demais, intensa demais, odeia ou ama demais. Enfim, mesmo com seus defeitos, ela

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não consegue deixar de ser especial para ninguém. Você é especial para mim, Dan Linda!

"Tudo bem, imagine uma pessoa ridiculamente inteligente, terrivelmente maldosa e absurdamente louca? Exagerei na "maldosa", enfim... Pensando bem, não exagerei não. Sorry Danka. Então ela é assim. Louca, dramática, muito inteligente, brincalhona, mas sempre sabe a hora de parar. Temperamento difícil e riso fácil. Percebe Tudo de longe, nada, repito, nada passa despercebido aos seus olhos. Porque ela é dessas que só se faz de desatenta, só se faz.Amo essa mulher! Mas, cuidado com ela!"

"Sabe quando você conhece uma pessoa inteligente, linda por dentro e por fora, engraçada e logo sabe que pode confiar nela? E sabe que poderá levar para o resto da sua vida? Então, é a Danka. Com ela me divirto e aprendo. Você é muito especial, continue sendo essa pessoa maravilhosa que é. Te adoro!"

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"Você é uma mulher que tem um coração maior do que o corpo. Nossa, como você é generosa e doce, como o bolo que trouxe para você outro dia.É a minha explicadora preferida e também a primeira.Nós te amamos!"

"Danka é doida, maneira, chata, show, inteligente, me faz sofrer e me faz rir. Para mim a Dan sempre será a Dan. Me ajuda, me auxilia e transforma as vezes minha vida em desespero misturado com alegria."

"O que mais amo na Danka é que tudo que ela faz, é com amor. É uma pessoa muito importante para mim. Ela briga, brinca, ama, maltrata (um pouco) e implica. Mas eu a amo de tão maravilhosa. O que ela escreve no fundo, é o que ela é,fantástica!Meu mundo de imaginação mudou por causa da inspiração dela! Te amo Danka Maia!"

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"Eu sei que te perturbo, mas gosto muito de você. É uma pessoa inteligente e explica como poucos. Por favor, não nos abandone. Continue escrevendo, mas continue a existir em nossas vidas eternamente!"

FIM

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