A Petr Echos Religiosos

53
O MEL É o alimento primeiro, alimento e bebida ao mesmo tempo, a exemplo do leite, ao qual é frequentemente associado, o mel é antes de tudo um símbolo vasto de riqueza, de coisa completa e sobretudo de doçura; ele se opõe ao amargor de fel, ele difere do açúcar, como difere aquilo que a natureza oferece ao homem, daquilo que ela esconde dele. O mel, em algumas culturas, é um dos agentes principais de fecundação, fonte de vida e de imortalidade. Essa doçura melosa pode ser perigosamente sedutora: é o caso das palavras do bajulador, dos engodos de todo tipo. Enquanto alimento único, o mel estende a sua aplicação simbólica ao conhecimento, ao saber, à sabedoria, e seu consumo exclusivo está reservado aos seres de exceção, neste mundo assim como no outro. Algumas tradições associam o mel ao elemento terra e à noção de centro, e é por isso que alguns pratos servidos aos deuses deviam ter sempre como elemento de ligação o mel. Os ensinamentos dos deuses podem ser comparados ao mel por suas propriedades de purificar e de conservar. O mel designará a cultura religiosa, o conhecimento místico, os bens espirituais, a revelação ao iniciado, designando a beatitude suprema do espírito e o estado de Nirvana: símbolo de todas as doçuras, ele realiza a abolição da dor. O mel do conhecimento funda a felicidade do homem e da sociedade. O mel é associado à doutrina: o início é doce, o meio é doce, o final é doce. A perfeição do mel faz dele com facilidade uma poderosa oferenda e objeto propiciatório, um símbolo de proteção e de pacificação. Não podemos esquecer que o mel toma parte nos ritos de medicina. O mel está ligado à imortalidade de sua cor - amarelo ouro - pelo ciclo eterno das mortes e dos renascimentos. Simboliza a sabedoria, a preservação. Fonte de consulta: Símbolos - Alain Gheerbrant.

Transcript of A Petr Echos Religiosos

Page 1: A Petr Echos Religiosos

O MEL

É o alimento primeiro, alimento e bebida ao mesmo tempo, a exemplo do leite, ao qual é frequentemente associado, o mel é antes de tudo um símbolo vasto de riqueza, de coisa completa e sobretudo de doçura; ele se opõe ao amargor de fel, ele difere do açúcar, como difere aquilo que a natureza oferece ao homem, daquilo que ela esconde dele. O mel, em algumas culturas, é um dos agentes principais de fecundação, fonte de vida e de imortalidade. Essa doçura melosa pode ser perigosamente sedutora: é o caso das palavras do bajulador, dos engodos de todo tipo. Enquanto alimento único, o mel estende a sua aplicação simbólica ao conhecimento, ao saber, à sabedoria, e seu consumo exclusivo está reservado aos seres de exceção, neste mundo assim como no outro. Algumas tradições associam o mel ao elemento terra e à noção de centro, e é por isso que alguns pratos servidos aos deuses deviam ter sempre como elemento de ligação o mel. Os ensinamentos dos deuses podem ser comparados ao mel por suas propriedades de purificar e de conservar. O mel designará a cultura religiosa, o conhecimento místico, os bens espirituais, a revelação ao iniciado, designando a beatitude suprema do espírito e o estado de Nirvana: símbolo de todas as doçuras, ele realiza a abolição da dor. O mel do conhecimento funda a felicidade do homem e da sociedade. O mel é associado à doutrina: o início é doce, o meio é doce, o final é doce. A perfeição do mel faz dele com facilidade uma poderosa oferenda e objeto propiciatório, um símbolo de proteção e de pacificação. Não podemos esquecer que o mel toma parte nos ritos de medicina. O mel está ligado à imortalidade de sua cor - amarelo ouro - pelo ciclo eterno das mortes e dos renascimentos. Simboliza a sabedoria, a preservação.

Fonte de consulta: Símbolos - Alain Gheerbrant.

Page 2: A Petr Echos Religiosos

MEL DA OXUM

O texto abaixo é tradução de um mito Africano, de uma lenda , é parte de um Odu oral do Oráculo de Ifá.

... e aconteceu que, quando o Criador, Olodumaré enviou as 16 abelhas trabalhadores, para a Terra, no início do tempo para a humanidade civilizada, incluídas entre elas uma chamada Oxum. Antes de vir para a Terra, foi a Ifá para fazer adivinhação, e o profeta do Senhor, Orunmila, instruiu-os que sempre honrassem Oxum, que ela por sua dor ou pela medicina era extremamente importante para ajudar a civilizar a humanidade e orientar na sua evolução. As 16 abelhas cada um tinha a sua dor, seus talentos e competências que foram usados para o benefício da humanidade. Mas elas não gostaram de Oxum, o orixá feminino, por ser diferente. Ela se comportou como uma diva, e ela sabia que ela era bonita e inteligente. Assim, foi excluída de tudo o que elas faziam, e fazia apenas as tarefas que lhe era trivial. Nada era compartilhado com ela e as vezes brutalizada. Sentia-se isolada, mas por causa de sua virtude, manteve a cabeça e não ficou furiosa. No entanto, ela lançava bênçãos, bênçãos como as outras deixavam de lançar Ache, porque ela sabia que se deve compartilhar a dor, a energia, com os que merecem isso. E assim, os trabalhadores começaram a perceber que nada que eles fizeram não rendeu frutos, a terra não era mais fértil e os seus métodos não foram mais úteis. Sua frustração levou-os para onde adivinhava Orunmila, para que o profeta visse o que aconteceu. Orunmila ao vê-los, disse de imediato: "Onde está Oxum? Por que não está a acompanhá-los? Por que não está sendo incluída em tudo que fazem, e honra, como eles foram instruídos antes de serem enviados para a Terra?" "É porque é a única mulher e tem toda a fertilidade", responderam eles. Orunmila então disse: "Eles tornaram-se consumidos pela inveja." Então ele aconselhou-os a oferecer sacrifícios a Oxum, a trabalhar com muito empenho e coletar néctar para alimentá-la, como fazem as abelhas para a sua rainha em todas as grades e aqui é que esta tradição tem origem no tipo de que a natureza alimenta a rainha com geléia real. Oxum é para todos os ninhos de abelhas que

Page 3: A Petr Echos Religiosos

têm uma rainha. Disse o profeta do Senhor, que se realizasse esses sacrifícios o seu trabalho renderia frutos novamente. Enquanto tudo isso acontecia, Olodumaré "Deus olhou com compaixão para Oxum enquanto rezava e recordou como ela tinha sido humilhada e obrigada a se sentir envergonhada, e como a haviam maltratado. Deus viu que ela estava carregando sua força e opressão, com dignidade, sem perder a cabeça e sem o uso de sua magia poderosa para o exercício da justiça, e que não recusou a sua bênção para aqueles que cometeram injustiças contra ela. Ela se comportava como uma rainha. Olodumaré, em seguida, decidiu conceder a ela a honra de ser a abelha rainha, e deu-lhe uma coroa de contas e declarou a maior parte das abelhas. Quando os 16 trabalhadores sobre anos voltaram, e viram a sua nova realeza, se sentiram envergonhados. Eles imediatamente começaram a oferecer os sacrifícios que tinham sido instruídos por Orunmila profeta. Eles recolheram nos jardins, néctar reais e colocavam em sua boca de modo servil, e fizeram todos os tipos de ofertas específicas a rainha, e, finalmente, perguntaram se ela aceitava seus sacrifícios. Bastante confortável em seu novo estatuto de rainha, ela respondeu: "Eu estou grávida. Se eu parir uma mulher, minha filha e eu vamos ser estéril, para mim e minha colônia como os trabalhadores, e a Terra será um lugar esquecido e sem vida. Se eu parir uma continuação do sexo masculino, em seguida, haverá vida, e só então vou compartilhar com vocês a minha dor de costas, e poderá continuar a humanidade civilizada. " Ela queria ensinar-lhes uma lição com isso. Como rainha, Oxum tinha o conhecimento secreto e o poder de escolher o sexo de sua criatura, mas eles não sabiam. Ainda hoje, as rainhas em colônias de abelhas têm esse poder e conhecimento. A cada dia as abelhas a alimentavam com o néctar real, e ela rezou e fez sacrifícios para sua barriga para ser um menino. Finalmente chegou o dia do nascimento, e a Rainha esperou cinco dias para ir e anunciar o nascimento de sua criatura. Para a sua conclusão, era um menino. Oche-ção foi chamado pelo profeta sábio Orunmila na cerimônia de nomeação. Finalmente as abelhas tinham de regressar a sua santa cidade Oxum Seixal, numa carruagem de ouro, enquanto se alimentava de néctar, mel real, e é assim que ela chegou à cidade santa medida e adorada como patrona. Oxum assim salvou o mundo, permitindo que a vida e a fecundidade continuasse, que as abelhas se multiplicassem e que poderiam continuar o desenvolvimento e civilização da humanidade. Desde então, cada abelha é cuidada para não insultar Oxum e tendo que perdoar a agressão, ainda sendo compassiva com aqueles que são maltratados pelos outros. Este mito também explica por que Oxum, apesar de ser a mãe de todos, não aumentando os seus filhos, têm funcionários para fazer todo o trabalho, e ela é a rainha. Sua única função é dar a fertilidade.

Postado por Hunso Sueli de Vodun Abe às 20:29 0 comentários

Marcadores: APETRECHOS E MATERIAIS

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

APETRECHOS RITUALISTICOS - PARTE IV - NAVALHA E CABELO

Page 4: A Petr Echos Religiosos

O ato de "usar" a navalha numa feitura de iyawô tem significados muito sutis e importantes.

Chamado de sacrifício (sagrado ofício), simboliza a passagem de um estado inferior para um superior. É o símbolo mais usado para exprimir a ruptura de níveis e a penetração no "outro mundo", no mundo supra-sensível (seja o dos mortos ou o dos deuses). É penoso passar pela lâmina afiada da navalha, pela "ponte apertada e perigosa" que exprime a necessidade de transcender os contrários, de abolir hábitos que caracterizam a condição humana a fim de conseguir alcançar um modelo de vida mais próximo à retidão do esforço espiritual, colocando-se no eixo de uma outra polaridade.

Os cabelos possuem o dom de conservar "relações íntimas" com o Vodum/Orixá/Inkice, mesmo depois de separados do corpo. Simbolizam suas propriedades ao concentrar espiritualmente suas virtudes: permanecem unidos a quem foi oferecido.

Page 5: A Petr Echos Religiosos

Na maior parte das vezes, os cabelos representam certas virtudes ou certos "poderes": a força e a virilidade, por exemplo, no mito de Sansão.

Os cabelos oferecidos ao Vodum/Orixá/Inkice tornam-se imantados e influem "magicamente" sobre o destino de seu proprietário, o iniciado. O ato de doar o cabelo à divindade corresponde não só a um sacrifício mas também a uma rendição: a renúncia às virtudes, às prerrogativas, enfim à própria "personalidade" para uma estreita relação ao arquétipo dessa divindade.

Ficar sem fazer uso do pente durante o período de resguardo e obrigações, simboliza a submissão, a concentração e a ligação com as dividades. Ficar com os "cabelos desgrenhados" já era um costume dos antigos feiticeiros em seu ofício e de seus aspirantes. De modo geral trata-se de uma renúncia às limitações e às convenções do destino individual, da vida comum, da ordem social.

Os cabelos são considerados como a morada da alma. A queda do cabelo (feitura) é uma importante cerimonia que requer inúmeros preceitos preparatórios e representa que aquele neófito deixa de ser pagão recebendo então, nessa ocasião, seu verdadeiro nome (digina). Considera-se que o abian esteja vunerável às forças negativas, a partir do momento em que é despojado com a perda de seus cabelos, liberta-se dessas energias.

O elo estabelecido entre o cabelo e a força vital primária de um abian se renova no ato da feitura, tornando-o, ao mesmo tempo em que perde seus cabelos ligados a sua vida profana, uma nova pessoa com um nova força vital. O conceito de força vital traz consigo, forçosamente, os de alma e de destino.

Por tudo que representa o fio da navalha e o cabelo, podemos avaliar o quanto de preceitos uma navalha tem que passar para poder ser usada em uma feitura.

texto adaptado e comentado por

Yatemi Jurema de Yansã (in memoriam)

Page 6: A Petr Echos Religiosos

Ekedi Rovena

Kwe Ceja Neji

fonte de consulta - Símbolos - Jean Chevalier

Postado por Hunso Sueli de Vodun Abe às 00:09 0 comentários

Marcadores: APETRECHOS E MATERIAIS

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

APETRECHOS RITUALISTICOS - PARTE III - PANO DA COSTA

Também conhecido como alaká, pano-de-alaká ou pano-de-cuia, o pano-da-costa é de origem africana e compõe a indumentária da roupa de baiana. Seu uso está intimamente ligado ao âmbito das religiões afro-brasileiras e obedece às cores simbólicas dos orixás. Sua denominação faz referência à costa africana, mais precisamente a ocidental, local de origem dos muitos produtos trazidos para o Brasil, especialmente para o recôncavo baiano.

De formato retangular – o tamanho padrão é de dois metros de comprimento por 60 centímetros de largura, é composto de faixas, tecidas em tear horizontal, depois,costuradas manualmente, formando padrões, em geral geométricos e bicolores, que seguem as texturas dos fios de algodão combinados com os de seda, caroá e outros materiais.

Seguindo esses padrões formais, o pano-da-costa – usado sobre um ombro, pendendo uma das pontas sobre o peito e a outra sobre as costas – adquire sua identidade de produto que integra a roupa tradicional de baiana e suas variações sociais e religiosas. Listrado, liso, estampado ou bordado em richelieu ou renda, é por meio dele que a mulher demonstra sua posição hierárquica na organização sócio-religiosa dos terreiros.

Page 7: A Petr Echos Religiosos

Em Salvador/BA, mais precisamente no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, a tecelagem tradicional do pano-da-costa está ligada ao uso e ao simbolismo sócio-religioso do tecido na composição das roupas rituais do candomblé.

Sendo este presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-brasileira, o pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária da mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como iniciada ou dirigente dos terreiros.

Observemos a profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido, que atua em tão diversificadas situações, desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a sobrevivencia dos rituais africano.

O pano-da costa é assim chamado por ter sido um tipo de tecido vindo da costa dos escravos, Costa Mina, Costa do Ouro.

O tecido original foi substituido por outros tipos de tecidos, o que não diminui em nada as funções do pano-da-costa.

O pano-da-costa identifica a mulher feita, mesmo que ela não esteja de roupa de santo completa.

A situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da mulher como símbolo do poder sócio religioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas características da mulher.

O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção. As iyawos, ao terminar o período de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa branco, que representa o prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo praticamente todo o seu corpo no grande pano-da-costa, procura manter

Page 8: A Petr Echos Religiosos

os valores religiosos de sua feitura quando em contato com os valores profanos encontrados extramuros dos terreiros

Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente mágica, aparece guardando as mulheres das presenças de egum.

O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos afro-brasileiro, porque uma das principais funções do mesmo é proteger os orgão reprodutores das mulheres, das Yamis, já que as energias emanadas das mesmas prejudicam muito todo o aparelho reprodutor da mulher.

Nos rituais de sirrum/axexe as mulheres usam dois panos-da-costas branco: um protegendo seus ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo e seios.

No Rio de Janeiro convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo com a idade de santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. Esta errado, pano-da-costa é para ser usado dessa forma mesmo independente da idade de feitura.

De alguns anos para cá os homem aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até agora explicou o porque de usa-lo e nem podem explicar pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino.

Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-da costa amarrados no ombro.

Em algumas casas encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento esta errado. As abians ainda não tiveram seus chakras abertos durante uma feitura, portanto as mesmas não necessitam dessa proteção ainda.

Texto: Yatemi Jurema de Oya (in memoriam)

Page 9: A Petr Echos Religiosos

No caso das Egbómis, o pano da Costa deve ser colocado na cintura elegantemente ou sobre o peito, jamais deve ser enrolado ou torcido, feito uma faixa ou Ojá, na cintura.

Uma iniciada deve saber usar o pano da Costa, pois este é uma peça do vestuário muito importante. Outro fato relevante é quanto à estampa e cor do tecido. São adequadas as estampas em listras e quadros que lembram as formas presentes na indumentária nigeriana. Quando feitos de tecido liso, devem ser de cores claras: branca, bege, rosa ou azul claro.

Nunca devem ser de cores quentes, berrantes, de seda ou estampados vivos, o que causaria “risos” entre as iniciadas mais antigas.

Pano da Costa na cintura ou no peito é demonstração de trabalho, assim usados no barracão, quando em função religiosa.Caso contrário, no dia-a-dia do terreiro pode ser “jogado” sobre o ombro direito e se mantém esticado ao longo do tronco. Não se “dança” sem esta peça da indumentária.

Mesmo fora do trabalho, para visita ou passeio o seu uso é indispensável. Em casas tradicionais, quando uma iniciada chega sem o pano da Costa é comum a proprietária do terreiro emprestar um à visitante, que, em sinal de educação ou respeito, coloca-o sobre o ombro direito ou, se entrar na roda, usa-o de maneira adequada à sua posição dentro da hierarquia do Candomblé;

O pano da Costa é a peça de maior significado histórico dentro do vestuário africano, em conjunto com o torso. O uso de saia, Camisu ou bata e pano da Costa são indispensáveis dentro do Axé... A maneira de amarrar, colocar ou “enrolar” o pano varia de acordo com a situação, o ritual desenvolvido ou a posição hierárquica;

Iyáwô não usa o pano na cintura, mas sim enrolado no peito.(Parte do livro Sobre o Signo de Omolu - Samuel Abrantes)

Page 10: A Petr Echos Religiosos

Pano da Costa é a redução do termo "Pano da Costa do Santo", e referia-se aos panos de adorno, espécie de xales longos, que integravam o traje típico das africanas e das crioulas da Bahia.Chamam-se panos da costa, aos tecidos artesanais de origem africana. Tais como os demais produtos importados da África,sabão da Costa, limo da Costa, búzio da Costa, e que tinham uso popular, são conhecidos pelo adjetivo "da Costa", muito embora a origem de alguns deles seja vária e ainda controversa.A princípio esta denominação estendia-se a todos os tecidos importados da África, qualquer que fosse a sua aplicação; o uso lhe foi restringindo o campo até a limitação ao xale. O pano da Costa é, portanto, uma peça de vestimenta tecida de algodão, lã, seda ou ráfia — às vezes em dupla associação desses elementos — que a crioula baiana deita sobre pontos diversos das suas vestes, às vezes, ajustando-o ao corpo em formas convencionais e relativas às diferentes funções que se apresta a desempenhar momentaneamente.

Page 11: A Petr Echos Religiosos

É, em suma, um xale retangular, cuja disposição informa ao que vai a sua portadora.É usado de várias formas: sobre as costas, jogados sobre os ombros, usados a tiracolo, cruzados na frente, amarrados sobreo o busto ou na cintura, sobre as saias.Tem uma variedade infinda, seja nas cores ou nas padronagens.A África negra tem uma longa tradição textil, onde a variedade de materiais é tão grande quanto os estilos encontrados. Utilizados como roupa, os tecidos serviram também de moeda, foram utilizados como mensageiros e objetos estéticos.Diz-se com frequência que os Africanos eram mais escultores que pintores : os tecidos podem ser considerados, na África, substitutos da pintura.Os primeiros "tecidos" foram realizados com casca de árvore batida; muito difundidos antigamente numa grande parte do continente, eles são encontrados atualmente sobretudo nas populações da África central, onde são, na maioria das vezes, decorados com tintas vegetais.A tecelagem só foi desenvolvida bem mais tarde, a partir do século 11, mesmo se tecidos ricamente trabalhados já eram importados dos países da África do norte, do Egito e da península arábica para vestir as populações das grandes cidades portuárias das costas orientais assim como os membros das classes nobres dos reinos do deserto do Sahel.Nesta mesma época, a expansão do islã, introduzindo novos códigos vestimentários, desempenhou um papel importante no desenvolvido que sofreram os tecidos, sobretudo na África ocidental.Os tecidos de fabricação local constituíram durante muito tempo bens raros e preciosos; marcas de poder e de riqueza, reservados a uma elite, eles foram integrados como moeda para troca, graças aos quais era possível estimar o preço de uma mercadoria e comprá-la.Desde sua chegada nas costas do continente, no século 15, os traficantes europeus exploraram as possibilidades comerciais que ofereciam esta nova "moeda" e encorajaram indiretamente a produção textil local devido à sua utilização.A quantidade de tecidos detidos por cada família foi considerada durante muito tempo uma marca de riqueza e de poder em muitas sociedades africanas.Nas regiões onde o islã se instalou, como em todas as outras regiões onde o tecido se transforma em hábito vestimentar, a metragem e o peso do produto são proporcionais à fortuna e ao poder daquele que os possui: se este faz parte das pessoas influentes da comunidade, chefe político ou grande comerciante, sua numerosa corte que o segue quando ele sai deve ser como ele, enrolada em abundantes tecidos.O poder se mede também na possibilidade de dispor de seus bens e de distribui-los e, entre eles, os tecidos constituem presentes excepcionais.Dar tecidos como presente possibilita a solução de inúmeros conflitos e libera as tensões. Esses presentes são feitos em momentos importantes da vida de cada um (maioridade, casamento, nascimento dos filhos).A ascensão social ou religiosa ou o pagamento de serviços não pode acontecer sem a distribuição de tecidos. Para manter boas relações com a família, os amigos, os vizinhos, para ser admitido numa seita, cada pessoa é incitada a dar tecidos e a recebê-los.A posse de uma grande quantidade de tecidos aumenta o prestígio do seu proprietário, o que lhe possibilita uma maior participação na vida comunitária, onde o princípio da dívida é a base de toda relação social e econômica.Mas o tecido não é somente moeda ou roupa: ele representa também, de acordo com seu

Page 12: A Petr Echos Religiosos

estampado, uma espécie de texto onde podem ser "lidas" a identidade social e religiosa daquele que o usa: a decoração, seja ela impressa, tingida, pintada, tecida ou costurada, representa os espaços, os objetos, os seres e as metamorfososes presentes na mitologia.Por este motivo, os tecidos têm um papel importante na vida ritual: os mortos, mesmo no seio de sociedades que não possuem tecelões, são vestidos ou envolvidos em tecidos, tornando-se assim protegidos pela palavra dos vivos.http://www.flogao.com.br/czeiger

Postado por Hunso Sueli de Vodun Abe às 00:01 2 comentários

Marcadores: APETRECHOS E MATERIAIS

sexta-feira, 22 de julho de 2011

APETRECHOS RITUALISTICOS - PARTE II - ASSENTAMENTO-IGBÁ

Significado de um Igbá

Na religião Yorùbá, Igbás (awọn igbá) são assentamentos de orixá (òrìṣà). Um assentamento é uma representação do orixá (òrìṣà) no espaço físico, no mundo, no aìyé. Sob o ponto de vista sacro não existem representações humanas de orixá (òrìṣà).

A religião Yorùbá não tem imagens para representar suas divindades, o que representa uma divindade é o seu Igbá, ao olharmos um Igbá é como se estivéssemos olhando para a divindade. Secularmente existem representações em forma de desenhos e esculturas mas que são frutos apenas de criatividade de artistas e não tem uso sacro.

Os orixá (awọn òrìṣà) são adequadamente representados por símbolos e grafismos próprios de cada um e por extensão por outros elementos como folhas, arvores, favas e contas. Mas o Igbá é a sua representação mais adequada.

Vale refazer a afirmação, já explicada em outro material, de que o orixá (òrìṣà) não são elementos da natureza, assim “olhar” o vento não significa olhar para oya, olhar uma pedra não significa olhar para Xango (ṣàngó), olhar para o mar não significa olhar para yemoja, etc..

Page 13: A Petr Echos Religiosos

O mesmo sentimento que um católico tem ao olhar para uma imagem de um santo em sua igreja e altar, o povo de santo tem ao olhar para um igbá. É muito comum as pessoas, nos seus quartos de santo, “vestirem” seus Igbá com suas roupas de orixá (òrìṣà) como se fosse o próprio orixá (òrìṣà). Contudo, igbá são de acesso muito restrito, de uso exclusivamente sacro e ritualístico, não tem visibilidade pública e ficam guardados dos olhos de todos.Dessa maneira, cada Igbá representa uma divindade através de um continente (Vaso, invólucro, recipiente) e seu conteúdo, e esse conjunto, continente e conteúdo é específico de cada divindade. Esses continentes podem ser de porcelana (substituindo cabaças), barro ou madeira e serão empregados distintamente para cada divindade que ele representa. São usados elementos físicos comuns, como tigelas, sopeiras, pratos, bacias e alguidares.O iniciado no seu processo de feitura (que é distinto de uma iniciação mas muitas vezes essas expressões se confundem) poderá receber um ou vários Igbá, dependendo do seu status na religião e da própria tradição da casa em conduzir este ritual.Mas o igbá não é o orixá (òrìṣà) no aìyé. Essa religião não coloca um orixá (òrìṣà) dentro de uma sopeira, não é uma religião animista. O igbá representa apenas a ligação entre os 2 espaços, o espaço físico aìyé e o espaço espiritual o Orun ( run). É uma “ponte” entre os 2 ọ̀�espaços. Sua função não é trazer o orixá (òrìṣà) para o aìyé porque os orixá (òrìṣà) já estão presentes em nossa vida o tempo todo, não existe secularismo na religião. Sua função é completamente ritualística.O igbá é, de fato, dentro de toda a religião Yorùbá uma dos elementos mais importantes e significativos por traduzir a contínua relação entre o Orun ( run) e o aìyé. Ele representa o ọ̀�reconhecimento da existência do espaço espiritual, o Orun ( run), e a ligação perene que ọ̀�existe entre os 2 espaços ( run-aìyé) na forma de um contínuo duplamente alimentado e da ọ̀�circulação, transformação e reposição de axé (àṣẹ). Dessa maneira o seu valor não esta somente na sua existência como instrumento ritualístico, como foi ressaltado no início, mas também no que ele representa.Toda religião tem símbolos e simbolismos. Uma cruz para os católicos representa muito também: todo o significado da paixão e do sacrifício de Jesus. Assim esse símbolo traduz em sí muito mais do que somente a lembrança da crucificação de Jesus e sim um todo da sua doutrina, poderíamos falar muito apenas olhando para uma cruz. O mesmo vale para um Igbá. Nada é mais sagrado por sí só pelo seu uso e nada pode traduzir tanto da doutrina que cobre a religião Yorùbá como o entendimento da sua função.O Igbá é uma manifestação de Fé, e por isso um reconhecimento de nossa Fé na religião. De acordo com a metafísica Yorùbá, para tudo que existe no aìyé existe um duplo no Orun ( run). O Igbá é um elemento de ligação entre essas 2 porções e um instrumento de ọ̀�concentração de energia. É usado para nos ligarmos às divindades, liga o físico à dimensão espiritual, a dimensão aìyé à dimensão Orun ( run).ọ̀�O objetivo de um Igbá é potencializar a ligação Orun-aìyé ( run-aìyé) sendo o instrumento ọ̀�que no aìyé representa o duplo do Orun ( run). O Igbá esta vinculado diretamente à uma ọ̀�pessoa no aìyé mas não a representa e sim ao duplo do Orun ( run). Como já foi dito ele nãoọ̀� armazena um orixá (òrìṣà), ele não é uma lâmpada mágica que esfregamos para dali sair um orixá (òrìṣà). Ele é a ponte de ligação direta entre o aìyé e o Orun ( run) entre o iniciado no ọ̀�aìyé e suas energias e divindades no Orun ( run).ọ̀�Um dos principais usos que se dá a ele é receber os Ebós (ẹbọ), que são sacrifícios de todo o tipo, entendendo que o sentido de sacrifício na religião não envolve o uso de sangue em sí.

Page 14: A Petr Echos Religiosos

Um sacrifício por ser qualquer oferenda que vai se converter em axé (àṣẹ). Um Obi é um sacrificio, um Acaça é um sacrifício e pode substituir um boi.Esse aspecto de participar ativamente de Ebós (ẹbọ) é uma finalidade muito importante, mas não imprescindível. Não se precisa de uma Igbá para fazer uma oferenda, mas, todo sacerdote tem e usa os seus para isso. Isso tem todo o sentido, sendo o Igbá um elemento de ligação ou de potencialização dessa ligação como esta sendo dito realizar isso junto a eles é fazer esse instrumento funcionar.Em outro material esta muito bem explicado essa questão do Ebós (ẹbọ) mas é importante lembrar que um Ebós (ẹbọ), uma oferenda é um parte de um processo de transmissão e reposição de axé (àṣẹ) e os elementos utilizados são transmutados em energia, em axé (àṣẹ).Dessa maneira ao se fazer isso através de um Igbá esta se fazendo chegar ao duplo do Orun ( run) referenciado por aquele Igbá a transmutação da energia dos elementos afins a ele ọ̀�que foram usados no sacrifício.O ponto que esta sendo ressaltado é que o Igbá em um Ebó (ẹbọ) é o instrumento que direciona, potencializa e agiliza a este ase chegar ao Orun ( run). O Igbá não é um ọ̀�instrumento para “alimentar” o iniciado no aìyé.O Igbá pode ser coletivo ou individual. Quando coletiva chama-se Ajobó (ajọbọ) e liga uma comunidade a sua comunidade espiritual, ao coletivo que ela representa e a divindade que a protege. Quando individual liga a pessoa ao seu reflexo no Orun ( run).ọ̀�

Do que é feito um Igbá?O Igbá é feito usando materiais que estão ligados à divindade que ele representa. Assim o material e o seu conteúdo ajudam a estabelecer a relação, devendo ser utilizados sempre elementos completamente afins com a divindade e que traduzem a matéria original do Orun ( run). Conhecer essas relações e afinidades é parte do aprendizado de um iniciado durante ọ̀�sua vida e somente aqueles que as conhecem terão verdadeiro sucesso no seu trabalho ritualístico.O principal elemento dentro de um Igbá é a pedra, o okuta. Acima de todos os demais componentes ela receberá todo o trabalho ritual de preparação e por essa razão muitos dizem que é a única coisa importante, todo o demais é apenas decorativo. O pedra para os Yorùbá significa a longevidade a existência perene.Os demais elementos fazem parte do enredo do orixá (òrìṣà) de maneira que não são apenas decorativos. Entretanto muitos itens que são colocados em um igbá pode ser meramente decorativos.Os demais elementos em um Igbá variam entre metais, favas, folhas e outros materiais que

Page 15: A Petr Echos Religiosos

remetem ao orixá (òrìṣà) original. O elemento escolhido para o continente do Igbá também terá relação direta com ele. Tudo dentro de um Igbá é feito para traduzir a matéria original do Orun ( run) que foi materializada no aìyé através do iniciado ou da comunidade que o ọ̀�Igbá representará.A escolha de cada elemento depende de para quem será feita a ligação. Cada orixá (òrìṣà) tem os seus elementos correspondentes no aìyé. Adornos e enfeites exteriores que apenas agradam ao ego de quem faz não ajudam nisso. O importante são as folhas, as favas, os metais e outros elementos genéricos como os búzios. Entendo que moedas, muito presentes, deveriam ser representadas apenas pelos búzios, que eram dinheiro, mas muita gente coloca mais como um desejo de prosperidade do que um elemento de ligação de fato. O material do recipiente externo é escolhido entre algumas opções. A cabaça é substituída pela porcelana branca para os orixá (òrìṣà) fun fun, o barro e excepecionalmente a madeira para um orixá (òrìṣà) específico. As cores desses materiais e elementos decorativos vão compor esse conjunto de forma harmoniosa. Para os caso das cores existe muita criativade. Os Yorùbá reconhecem apenas 3 cores, o branco, o vermelho e o preto. Todas as demais cores são elementos de uma dessas 2 famílias e as representam da mesma maneira. Assim o verde e o azul são elementos da cor preta. O amarelo do vermelho e por assim vai.Todo Igbá individualizado é composto de um recipiente com tampa (continente) contendo a pedra, okuta, o núcleo do Igbá e os demais elementos com água, óleos e outros elementos líquidos. O igbá sem tampa são usados em assentos coletivos, não individualizados, eventualmente casas e axé (àṣẹ) podem fazer variações disso.

O vínculo Ọrun-aìyé

Uma questão importante quando falamos de Igbá é o que ele traduz de fato e a questão de a quem pertence e o que ele traduz . Como explicado, já extensivamente, é um elemento de ligação e pode ser coletivo ou individualizado, mas, como explicado nunca é o orixá (òrìṣà) no aìyé.Os aspecto coletivo-indivíduo também é uma das características marcantes da ritualística da religião. Estamos todo o tempo lidando com essas 2 faces do divino que é coletivo como todo o divino, mas, para os iniciados, os sacerdotes totalmente individualizado em sua manifestação.O exemplo mais individualizado possível do divino é o doIgbá ori. Nada é mais próprio, pessoa e individualizado do que um Igbá Ori. Seguindo o que repetimos a exaustão, oIgbá é a representação no aìyé do duplo no Orun ( run), o ori no Orun ( run) a divindade pessoal, ọ̀� ọ̀�que esta no Orun ( run) e nos protege, guia nossos passos, abre e fecha nossos caminhos e ọ̀�esta acima de qualquer orixá (òrìṣà) em nossa vida. Não representa o Ori que está no aìyé uma vez que esta resida na própria pessoa. Usamos o Igbá ori para chegar ao Ori no Orun ( run) o duplo por excelência. No processo que chamamos de Bori a oferenda ao Ori, o ọ̀�processo de reposição de axé (àṣẹ), duas entidades serão alimentadas com axé (àṣẹ) o duplo do Orun ( run) e o Ori que esta no aìyé.ọ̀�O Igbá Ori nesse processo e durante o processo, é criado e é por excelência o elemento

Page 16: A Petr Echos Religiosos

fundamental na execução de um Bori mas pode não mais existir após a sua execução. Uma vez realizado o Bori ele pode ser desfeito, despachado junto com os demais elementos utilizados e oferecidos. Contudo nada impede, como provavelmente na maior parte das vezes, ele ser preservado, o tornando mais perene e forte o vínculo Orun-aìyé ( run-aìyé) .ọ̀�É claro que esse vínculo não se perde quando despachamos o Igbá, da mesma forma que nenhum vínculo de desfaz quando despachamos um Igbá ou não o temos. O Igbá é um instrumento de intensificação disso a ser criado e usado por que sabe o que esta fazendo.Na tradição do Candomblé onde o culto ao Ori se manteve sempre presente e importante não se faz um Bori sem que seja criada a representação no aìyé do Ori. Não me interessa tratar aqui da forma como outras tradições religiosas da mesma base fazem isso porque muitas delas não o faziam e adotaram tardiamente copiando o que viam ou ouviam falar e muito menos o que tradições africanas que perderam a sua origem no processo de cristianização e islamização tendo que buscar em literatura suas origens. No Candomblé sempre foi feito assim.Dessa maneira o Igbá Ori é um exemplo vivo, conhecido e forte do que foi dito aqui sobre o que é um Igbá, sua finalidade, seu uso e aplicação prática.Voltando ao ponto do coletivo individual, no caso dos orixá (òrìṣà), na feitura de um olorixá o processo de ritual é todo voltado para a individualização. Assim, se inicia com o genérico que é o orixá (òrìṣà) e se faz a individualização deste através da ligação Orun-aìyé ( run-aìyé) para a pessoa, e isso é ọ̀�realizado no momento em que se cria a ligação Orun-aìyé ( run-aìyé) através do Igbá. Os ọ̀�animais que serão usados, os elementos colocados e dispostos, a ritualística de elaboração. Uma determinada qualidade será feita com o okuta indo ao fogo, etc... A individualização nascerá nesse momento e oIgbá por excelência é a marcação desse caminho, distinguindo assim um assento coletivo de um assento individual através da ligação Ori-okuta. O processo de individualização passará pela ritualística e também por materiais, metais, favas e folhas, específicos daquele orixá (òrìṣà) para aquela pessoa.Já o orixá (òrìṣà) genérico será ligado através do Igbá genérico aquele que não passará pelo processo de individualização.Dito isso voltamos ao ponto de que um Igbá òrìṣà criado dentro do processo de feitura não é um Igbá genérico ou coletivo, ele foi individualizado através da ligação Ori-okuta e sempre estará ligado aquele Ori.Dentro da ritualística devemos lembrar que a pessoa é preparada para ser ele próprio o receptáculo do orixá (òrìṣà), o seu Igbá vivo. Um Ìyawó é um Igbá vivo do seu orixá (òrìṣà). O Igbá físico complementa isso ligando não mais o orixá (òrìṣà) genérico mas sim o orixá (òrìṣà) individualizado no Ìyawó ao orixá (òrìṣà) origem no Orun ( run) através de uma ọ̀�ligação individualizada, do Igbá individualizado.Esse aparato físico ritualizado na iniciação deixa de ser matéria ordinária, barro, metal, ou fava e passa a constituir o caminho metafísico para o orixá (òrìṣà). Mas também não é mais uma ponte para o axé (àṣẹ) genérico do orixá (òrìṣà) e sim a sua fisicalização individualida naquele Ìyawó. Assim temos 2 caminhos, o caminho coletivo e genérico e o caminho individualizado. Os Igbá são os instrumentos de amplificação dessa relação entre os 2 espaços e o acesso ao ase de cada orixá (òrìṣà). Todo o processo de equilíbrio e restituição de axé (àṣẹ) passara por eles para ir ao duplo no Orun ( run) e retornar no aìyé para quem ọ̀�necessita.Uma pessoa não será dependente de seus Igbá. Acima de tudo a relação desses espaços

Page 17: A Petr Echos Religiosos

sempre existirá e jamais estamos não assistidos. Podemos não ter o instrumento de amplificação mas sempre teremos nosso ori e todos os orixá (òrìṣà).A quem pertence um Igbá?Um Igbá ori é tão pessoal que jamais deveria ser mantido no Ile, longe de seu dono. Esse Igbá é completamente individualizado uma vez que não encontraremos no Orun ( run) um ọ̀�Ori coletivo mas sempre individual de forma que ele e só tem sentido e utilidade pelo seu próprio dono. Deveria assim estar junto da pessoa na sua casa. Nos casos em que essa pessoa não tem condições de mantê-lo em casa o Ilê Axé (Ilé àṣẹ) é o lugar natural.O problema sempre surge em relação aos Igbá de orixá (òrìṣà) que despertam grandes paixões. Esta é uma religião praticada em torno dos orixá (òrìṣà) e seu culto assume demais importância. Deveria ser um culto ao Ori, a família e a ancestralidade mas o culto ao orixá (òrìṣà) assume proporções muito grandes.Uma pessoa durante o seu processo de iniciação poderá receber um ou muitos Igbás, tudo depende da tradição da casa. Eu entendo que o mínimo que uma pessoa deve ter após sua iniciação seria, o seu igbá ori (que já deveria existir bem antes, muito antes da pessoa se iniciar), o Igbá do seu orixá (òrìṣà) e o Igbá ou assentamento do Exu bara (èṣù bara) do seu orixá (òrìṣà). Esta conjunto Igbá orixá + Exu bara é básico e imprescindível.A este conjunto básico outros elementos podem ser adicionados como o Igbá do seu juntó que é o seu segundo orixá (òrìṣà), e os Igbá do seu enredo de orixá (òrìṣà). Deve se entender por enredo o conjunto de orixá (òrìṣà) que formam sua energia no aìyé e isto esta diretamente ligado ao processo de individualização. Assim a quantidade e qualidade dos Igbá que uma pessoa terá como parte do seu “enredo” depende da sua qualidade de orixá (òrìṣà) e de seu próprio caminho na religião, coisa que só é determinado durante o processo de feitura e consultas ao Oráculo.Algumas casas fazem todos esses Igbá durante o processo de iniciação, outras vão adicionando isso ao longo das obrigações de 1, 3 e 7 anos. Se a pessoa terá Oye de babalorixá (babalórìṣà) ou dependendo o oye que essa pessoa venha a ter, o conjunto de Igbás (awọn igbá) será distinto de pessoas que não terão oye – cargo sacerdotal. Observe que nem todo mundo que é iniciado nessa religião será um babalorixá (babalórìṣà) ou iyalorixá (ìyalórìṣà). A maior parte sera formada de egbons, mais velhos.Um iniciado em uma casa terá então uma quantidade significativa de Igbás. Mas, a quem pertence isso, a quem pertencem esses Igbás? Digo isso porque todos devem ter conhecimento do problema envolvido na posse de Igbá orixá. Muitas casas não permitem que nunca a pessoa retire osIgbá de dentro dela, nem mesmo quando seria natural que é quando a pessoa completa seus 7 anos.O mais comum é que após desavenças durante o seu período de Ìyawó a pessoa quera deixar o Ilê Axé (Ilé àṣẹ) e naturalmente queira levar consigo os seus Igbás. Muitos as vezes nem conseguem mais entrar e ficam preocupados tendo deixado para trás seus Igbás devido a eles representarem um ponto de vulnerabilidade.De fato, todos tem razão. Um Igbá sempre será um ponto de vulnerabilidade, principalmente o igbá ori. Esse jamais deveria estar em um Ilê Axé (Ilé àṣẹ). Mas a primeira coisa que tenho a dizer é tome cuidado com o que faz da sua vida. Nunca entre em nada sem avaliar tudo antes. Tem que conhecer primeiro a casa, o dirigente e as pessoas que frequentam a casa. As pessoas se dão mal porque se precipitam, colocam a vaidade na frente. Assim se a decisão de iniciação for mais consciente os problema serão menores. Segundo não se sai de um Ilê Axé

Page 18: A Petr Echos Religiosos

(Ilé àṣẹ) por qualquer motivo fútil. Se foi seu orixá (òrìṣà) que escolheu aquela casa (essa é a tradição, é o orixá (òrìṣà) que escolhe onde quer ser iniciado e não a pessoa) então se submeta aos caprichos de outros. Mantenha o seu respeito e sua individualidade mas vaidade por vaidade a sua deve ser a menor.Durante uma feitura não existe apenas um processo de individualização existe também um processo de ligação com o axé (àṣẹ) da casa e do iniciador. Um Ìyawó está fortemente ligado a casa e a pessoa que o iniciou. O processo ritualístico leva componentes que criam essa ligação, assim o iniciador considera que aqueles igbá não são independentes, eles adicionaram axé casa e receberam axé da casa. Foram parte de um conjunto. É entendido que seu sentido de existir é dentro daquela casa.Se a pessoa sair, que faça seus Igbá na sua próxima casa. De maneira que não estamos discutindo a propriedade de louças e barro e sim de asé. Isso é verdade. Se você deixa para trás os seus Igbás, não se preocupe, faça outros no próximo lugar que vai, o orixá (òrìṣà) vai com você.Eu entendo que o ninguém segura ou fixa um orixá (òrìṣà) na sua casa mantendo o Igbá de um iniciado que se foi. OIgbá é uma individualização e só tem sentido, só tem função junto ao próprio iniciado. Se quiser manter um orixá (òrìṣà) em casa que trate melhor as pessoas.

O Igbá e a morte Com a morte do iniciado o Igbá deixa de ter sentido. A ligação não mais existe e se você não quer conviver com um egun atrás de você é recomendado que despache tudo junto. Existem pessoas que entendem que se deve consultar o Oráculo para saber se o orixá (òrìṣà) quer ir embora ou não, ou seja, se o Igbá vai ou não no carrego e em vitude dessa consulta muitos Igbá ficam no Ilê Axé (Ilé àṣẹ). Entendo que é um forma de ver isso. Acho mais natural que tudo se vá, não há motivo para se manter um vínculo Orun-aìyé ( run-aìyé) com um ori que ọ̀�não mais existe no aìyé isso vai contra o fundamento do axexe (aṣeṣe), mas, cada um siga sua consciência e o que aprendeu.

APETRECHOS RITUALISTICOS - PARTE I - CABAÇAS

Page 19: A Petr Echos Religiosos

IGBÁ — A UTILIZAÇÃO DA CABAÇA RITUALÍSTICA

A cabaça é um fruto vegetal com larga utilização no Candomblé. É o fruto da cabaceira. Inteira, é denominada cabaça; cortada, é cuia ou coité; e as maiorias são denominadas cumbucas.

Nos ritos do Candomblé, sua utilização é ampla, tomando nomes diferentes de acordo com o seu uso, ou pela forma como é cortada. Os yorubas, como todos os outros povos, aproveitavam as igbá [cabaças] como vasilhas para uso doméstico e ritualístico. As cabaças, dependendo do seu uso, recebiam nomes diferentes:

A cabaça inteira é denominada Àkèrègbè¹, a cortada em forma de cuia toma o nome de Ìgbá². A cortada em forma de prato é o Ìgbájé 3 , ou seja, o recipiente para a comida; a cortada acima do meio, forma uma vasilha com tampa, tomando o nome de Ìgbase 4 ou cuia do Àse, e é utilizada para colocar os símbolos do poder após a obrigação de sete anos de uma Ìyàwó como a tesoura, navalha, búzios, contas, folhas, etc. que permitirão à pessoa ter o seu próprio Candomblé. Ado5 - cabaças minúsculas são colocadas no Sàsàrà de Omolu, como depósito de seus remédios. No Ógó de Èsù, uma representação do falo masculino, as cabaças representam os testículos.

6 Usa-se uma das partes da cabaça cortada ao meio, e colocada na cabeça das pessoas a serem iniciadas e que não podem ser raspadas por serem Àbìkú, para nela serem feitas as obrigações necessárias.

Com o corte ao comprido, torna-se uma vasilha com um cabo, chamada de cuia do Ìpàdé 7 e serve para colher o material de oferecimento ou para colher as águas do banho de folhas maceradas.

Inteira e revestida de uma rede de malha será o Agbè8, instrumento musical usado pelos Ogans, durante os toques e cânticos.

Page 20: A Petr Echos Religiosos

Uma cabaça com o pescoço comprido em forma de chocalho é agitada com as suas sementes, fazendo assim o som do Séré9, forma reduzida de Sèkèrè, instrumento por excelência de Sàngó.

10 A cabaça inteira em tamanho grande substitui nos ritos de Àsèsè, a cabeça de uma pessoa que morreu e que por alguns fatores não é possível realizar as obrigações de tirar o Òsu.

Por fim, pode ser lembrado que a cabaça cortada em forma de vasilha com tampa é conhecida como Ìgbádu11, a cabaça da existência e contém os símbolos dos quatro principais Odù: Éjì, Ogbè, Òyekú Méjì, Ìwòri Méjì e Òdí Méjì.

1 - Akèrègbè - cabaça de bom tamanho [30 a 50 cm], servindo como vasilha para líquidos.

2 - Igbá - cabaça cortada em forma de cuia. ÌGBÀ = assentamento de Orixá; panela onde se guardam os objetos sagrados dos deuses e se faz o sacrifício

3 - Ibajé - cabaça cortada em forma de prato. Recipiente para a comida.

Page 23: A Petr Echos Religiosos

9 - Séré - cabaça com um longo e fino pescoço. Quando cortada ao meio, serve como uma concha. Quando inteira, serve como chocalho ritualístico para anunciar Xango, sendo chamada então de SÉRÉ Sángo.

10 - Cabaça Inteira -

11 - Igbadu

Page 24: A Petr Echos Religiosos

12 - Ahá - pequena cabaça servindo como copo ou xícara para tomar remédios e bebidas.

13 - Ató - cabaça pequena e comprida, utilizada para guardar remédios.

14 - Pòko - ou a metade superior ou a inferior de uma cabaça de forma oval.

Page 26: A Petr Echos Religiosos

Ipeté, é um dos pratos da culinária baiana e como o acarajé também faz parte da comida ritual do candomblé, oferecida especialmente ao orixa Oxun.

Inhame, azeite de dendê, cebola raladas, camarão sêco e defumado, gengibre ralado, camarões frescos inteiros e cozidos para enfeitar e sal.

Também oferecido ao Orixá Oxaguian, substituindo o dendê por azeite doce na festa do Pilão.

Preparo:

Tirar a casca do inhame e cortar em pedaços pequenos, cozinhar ao ponto de amassar com um garfo, colocar os temperos e um pouquinho de sal e bater com uma colher de pau até ficar no ponto de um purê. Colocar em uma tigela e enfeitar com os camarões inteiros.

Lelê iguaria africana, doce feito com quirela de milho vermelho, coco ralado, açúcar e leite de coco. Oferecido aos Orixás Oba e Ewa e Ode. Em uma panela coloque água e o pacote do milho quebradinho chamado de xerem, deixe de molho num periodo de meia hora. Escorra a água e coloque outra, (uma quantidade que cubra todo o milho) com o cravo, a canela em pau, açúcar, sal e leve ao fogo ate virar um mingau durinho, quando já estiver durinho, acrescente o leite do coco.

Mungunzá, mugunzá, ou mucunzá como é chamado pelo povo do santo é o nome da comida ritual votiva, pertinente aos orixás oxalá, oxaguian, oxalufan e o ikise lembarenganga, tanto no candomblé como na umbanda. (De mucunzá, do quimb. mu’kunza, ‘milho cozido’)

Page 27: A Petr Echos Religiosos

“Dicionário Aurélio”.

Alimento ritual feita de grãos de milho branco, cozidos em água sem sal e com açúcar, algumas vezes com leite de coco e de gado, com pequena quantidade de “água de flor de laranjeira”, servido aos adeptos com bastante caldo e aos orixás bem compactada em forma de ebô.

Aluá

Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos orixás nas festas populares de origem africana.

COMIDA RITUAL - PARTE III

Farofa ou mi-ami-ami é um nome comum a vários tipos de comidas rituais votivas, feita de uma mistura, que tem como base farinha de mandioca, “farinha de pau ou farinha de guerra”. Esta comida ritual sagrada, também é um alimento ritual e muito apreciada pela maioria do povo do santo da cultura Nago-Vodum.

COMIDA RITUAL - PARTE III

Farofa ou mi-ami-ami é um nome comum a vários tipos de comidas rituais votivas, feita de uma mistura, que tem como base farinha de mandioca, “farinha de pau ou farinha de guerra”. Esta comida ritual sagrada, também é um alimento ritual e muito apreciada pela maioria do povo do santo da cultura Nago-Vodum.

Tipos de Farofas

Page 28: A Petr Echos Religiosos

Farofa-de-dendê, farofa amarela, farofa vermelha, farofa de azeite ou farofa de bambá são nomes comumente chamado pelo povo do santo em sua variada apresentação a depender do ritual que esteja acontecendo. Normalmente é chamada de farofa de dendê a farofa servida aos adeptos e participantes do candomblé, feita com farinha, azeite de dendê, camarão seco, cebola e sal, vista sempre no ritual do olubajé.Os outros tipos são denominações para rituais pertinentes a limpeza de corpo, padê de exu, sasanha, afexu, axexê etc. Também oferecido para alguns orixas e preparadas só com azeite de dendê e sal.

Farofa branca, farofa de agua ou farofa de egum, são farofas preparadas só com água e sal. Determinados orixas funfuns apreciam esta iguaria e algus preferem sem sal.

Farofa de mel ou mi-ami-ami owin é uma farofa preparada com farinha e mel de abelha, muito utilizada nos rituais de erê, ibeji, osain e oxun, comumente visto nos carurus dos santos gêmeos e devoção a São Cosme e São Damião, Crispim e Crispiniano.

Farofa de cachaça ou mi-ami-ami otin é uma farofa preparada com farinha e cachaça, muito utilizada nos rituais de exu, padê e limpeza de corpo. O povo do santo também chamam de farofa de cachaça toda farofa feita com aguardentes, vinhos ou qualquer bebida alcoólica.

Page 29: A Petr Echos Religiosos

Furá, bolinhos, ou bola de: arroz, inhame, farinha de mandioca, farinha de milho… etc. é o nome da comida ritual votiva, pertinente á vários rituais e orixas da cultura afro brasileira denominado de candomblé.

Este alimento ritual é muito comum nos rituais de limpeza de corpo, bori, assentamento de cabeça, axexê, apanan, feitura de santo, sasanha etc.

Tipos

Bolas de arroz. O Arroz é cozido na água sem sal, até ficar pastoso, depois batido com uma colher de pau até soltar da panela, em seguida formar os bolos de forma arredondada com as mãos. Esta comida ritual é para os orixás funfuns e rituais de bori, assentamento de cabeça.

Page 30: A Petr Echos Religiosos

Bolas de farinha. Em um alguidá coloca-se a farinha, depois a água e modela os bolos de forma arredondada com as mãos. Esta comida ritual é para limpeza de corpo e axexê.

Bolas de inhame. O inhame deve ser bem cozido em água sem sal, depois pilado em pilão, ou com a ponta de um garfo, em seguida sovado para obter uma massa pastosa e modela os bolos de forma arredondada com as mãos. Esta comida ritual é muito apreciada pelos orixás oxaguian, oxalufan, oxalá, yemanja e entra em vários rituais como bori, assentamento de cabeça, axexê, apanan, feitura de santo, sasanha etc.

Bolinhos de dendê. Em um alguidár coloca-se a farinha, depois a água, azeite de dendê e modela os bolos de forma arredondada com as mãos. Esta comida ritual é para limpeza de corpo, axexê e oferenda ao orixá Exu.

Page 31: A Petr Echos Religiosos

Bolinhos de egun. Em um alguidá coloca-se a farinha, depois a água com aguardente e modela os bolos de forma arredondada com as mãos e acrescenta um pequeno pedaço de carvão vegetal. Esta comida ritual é para limpeza de corpo, axexê e Egum.

Bolinhos de iemanjá. O Arroz ou milho branco é cozido na água sem sal, até ficar pastoso, depois batido com uma colher de pau até soltar da panela, em seguida formar os bolos de forma arredondada com as mãos. Esta comida ritual é para os orixás funfuns e rituais de bori, assentamento de cabeça, em especial como o nome já diz é oferecido para o orixá Yemanjá.

Page 32: A Petr Echos Religiosos

Bolinho de tapioca. A tapioca e colocada em leite de coco e açúcar até ficar pastoso, depois batido com uma colher de pau até soltar da panela e depois sova, em seguida formar os bolos de forma arredondada ou alongada com as mãos. Esta comida ritual é para os orixás funfuns e rituais de bori, assentamento de cabeça.

Os de formas alongadas são fritos em azeite ou óleo, sendo carinhosamente oferendado aos ibejis e apreciados pelo povo do santo. Nota Este mesmo bolinho é vendido nos tabuleiros das baianas de acarajé com o nome de punheta ou bolinho de estudante.

continua.................

Postado por Hunso Sueli de Vodun Abe às 21:52 0 comentários

Marcadores: COMIDA DE SANTO

domingo, 26 de junho de 2011

COMIDA RITUAL - PARTE II

Axoxô ou Oxoxô é como é conhecida a comida ritual dos Orixás Oxóssi e Ogum no candomblé, que consiste em milho vermelho cozido. Quando oferendado para o orixa ogum é refogado com cebola ralada, camarão seco defumado, sal e azeite de dendê. Quando

Page 33: A Petr Echos Religiosos

oferendado para orixá oxóssi o milho cozido é misturado com melaço (Mel de cana de açúcar), não confundir com mel de abelha que é o grande ewo deste orixá, enfeitado com fatias de coco sem casca.

Nota. Esta mesma oferenda pode ser consagrado à Olokun.

CARURU: O caruru, servido no rigor dos terreiros, é acompanhado de preceitos que viram ações propiciatórias das divindades gêmeas que, são filhos de Xangô com Iansã ou de Xangô com Oxum. O caruru é colocado sobre a esteira. As crianças são convidadas a comer do caruru, e todos, ao mesmo tempo. Ritual que rememoriza fartura, ancestralidade e vida sagrada. Consiste de quiabos cortado bem miúdo, azeite de dendê, cebolas raladas, camarões secos (alguns moídos), castanhas e amendoins torrados e moídos, sal, gengibre ralada. No Dahome, segundo o Padre Vicente Ferreira Pires, é acrescentado frango desfiado.

Deburu - é a comida ritual dos Orixás Obaluaiyê e Omolu, é o milho de pipoca estourado em uma panela, em alguns lugares com óleo, em outros com areia. Nesse último caso, é preciso peneirar a areia dessa pipoca depois de pronta. Ao final, a pipoca colocada em um alguidar (vasilha de barro) e enfeitado com pedacinhos de coco

Page 34: A Petr Echos Religiosos

Ebô, palavra oriunda do iorubá, consiste num alimento religioso e votivo para os orixás funfun (branco) Oxalá, dentro das religiões afro-brasileiras. É o milho branco cozido sem tempero e sem sal.

Ebôya, eboia ou fava de iemanjá é uma comida ritual feito com fava cozido refogado com cebola, camarão, azeite de dendê ou azeite doce. A mesma oferenda pode ser preparada com o milho branco na falta da fava, todavia recebe o nome de Dibô, possuindo o mesmo

Page 35: A Petr Echos Religiosos

valor ritual. É uma comida oferecida especificamente ao orixá Iemanjá, podendo ser vista nos rituais de ori, bori e assentamento de cabeça, no sentido de dar equilíbrio espiritual.

Erã peterê, eran peterê ou simplesmente peteran como é comumente chamado pelo povo de santo é o nome da comida ritual votiva, pertinente á vários rituais e orixás da cultura afro brasileira. Preparado com carne fresca de preferência dos rituais de sacrifícios, sal e rapidamente frita no azeite de dendê, em caso do orixá ser funfun, deve-se substituir o sal pela cebola e o dendê por azeite doce e oferecido ao orixá regente da obrigação, independente do ixé.

A mesma comida ritual recheada de camarão defumado, chamado popularmente xinxin ou moqueca de carne é servida normalmente aos adeptos do candomblé nas festas de barracão, sendo uma comida votiva ao orixá Akueran (oxossi) por ter ligação ao eran (carne).

Ekuru é uma comida ritual. A massa é preparada da mesma forma que a massa do acarajé, feijão fradinho sem casca triturado, envolto em folhas de bananeira como o acaçá e cozido no vapor. A única diferença é que nesta comida substitue o azeite-de-dendê por azeite dôce (Oleo de oliva) ou banha do Ori.

continua.......

Postado por Hunso Sueli de Vodun Abe às 13:13 0 comentários

Page 36: A Petr Echos Religiosos

Marcadores: COMIDA DE SANTO

sábado, 25 de junho de 2011

COMIDA RITUAL - PARTE I

COMIDA RITUAL

ABARÁ: Bolinho de origem afro-brasileira feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Yànsán, Obá e Ibeji).

Page 37: A Petr Echos Religiosos

ABERÉM: Bolinho de origem afro-brasileira, feito de milho ou de arroz moído na pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas.(No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Omulu e Osùmàrè).

ABRAZO:Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de farinha de milho ou de mandioca, apimentado, frito em azeite-de-dendê.

Page 38: A Petr Echos Religiosos

ABALÁ é um nome comum a dois tipos de comidas rituais votivas, inerentes aos orixás obá, Xango e Yewá, quando feita de massa de milho verde, ou da massa de carimã votiva ao orixá nanã. Este alimento ritual é muito apreciado pelo povo do santo e pela maioria dos nordestinos e chamado popularmente de pamonha de milho verde e pamonha de carimã.

Abalá de milho O milho verde é ralado e à massa resultante é misturada ao leite de coco com parte do bagaço, sal e açúcar. Esta massa é colocada em "palha" da própria casca do milho, atados nas extremidades. As pamonhas são submetidas a cozimento submersas em água fervente por um período de 15 minutos.

Abalá de carimã O aipim previamente descascado é submergido por um período de quatro dias para obter uma massa chamada de carimã, misturada ao leite de coco com parte do bagaço, sal e açúcar. Esta massa é colocada em "palha de aguedé" (bananeira), atados nas extremidades. As pamonhas são submetidas a cozimento submersas em água fervente por um período de 25 minutos.

ACAÇÁ é uma comida ritual do candomblé e da cozinha da Bahia. Feito com milho branco ou vermelho, que fica de molho em água de um dia para o outro, e deve ser depois passado em um moinho para formar a massa que será cozida em uma panela com água, sem parar de mexer, até ficar no ponto. Este se adivinha quando a massa não dissolve, se pingada em um

Page 39: A Petr Echos Religiosos

copo com água. Ainda quente, pequenas porções da massa devem ser embrulhadas em folha de bananeira já limpa, passada no fogo e cortada em pedaços de igual tamanho, para ficar tudo harmonioso. Colocar a folha na palma da mão esquerda e colocar a massa. Com o polegar dobrar a primeira ponta da folha sobre a massa, dobrar a outra ponta cruzando por cima e virando para baixo, fazendo o mesmo do outro lado. O formato que resulta é o de uma pirâmide retangular.

Todos os orixás recebem o acaçá como oferenda.

Acaça Amarelo: feito com farinha de milho vermelho enrolado na folha de bananeira da mesma forma que o acaça branco. É servido a Exu e Logun-Ede.

ACARAJE: comida ritual da orixá Iansã. Na África, é chamado de àkàrà que significa bola de fogo, enquanto je possui o significado de comer. No Brasil foram reunidas as duas palavras numa só, acara-je, ou seja, “comer bola de fogo”.

O acarajé, o principal atrativo no tabuleiro, é um bolinho característico do candomblé. Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas, Oxum e Iansã.

Page 40: A Petr Echos Religiosos

O bolinho se tornou, assim, uma oferenda a esses orixás. Mesmo ao ser vendido num contexto profano, o acarajé ainda é considerado, pelas baianas, como uma comida sagrada. Por isso, a sua receita, embora não seja secreta, não pode ser modificada e deve ser preparada apenas pelos filhos-de-santo.

O acarajé é feito com feijão-fradinho, que deve ser quebrado em um moinho em pedaços grandes e colocado de molho na água para soltar a casca. Após retirar toda a casca, passar novamente no moinho, desta vez deverá ficar uma massa bem fina. A essa massa acrescenta-se cebola ralada e um pouco de sal.

O segredo para o acarajé ficar macio é o tempo que se bate a massa. Quando a massa está no ponto, fica com a aparência de espuma. Para fritar, use uma panela funda com bastante azeite-de-dendê ou azeite doce.

Normalmente usam-se duas colheres para fritar, uma colher para pegar a massa e uma colher de pau para moldar os bolinhos. O azeite deve estar bem quente antes de colocar o primeiro acarajé para fritar.

Esse primeiro acarajé sempre é oferecido a Exu pela primazia que tem no candomblé.

O acará Oferecido ao orixá Iansã diante do seu Igba orixá é feito num tamanho de um prato de sobremesa na forma arredondada e ornado com nove ou sete camarões defumados, cercado de nove pequenos acarás, simbolizando “mensan orum” nove Planetas. (Orum-Aye, José Benistes).

O acará de xango tem uma forma Ovalar imitando o cágado que é seu animal preferido e cercado com seis ou doze pequenos acarás de igual formato.

Os seguintes são fritos normalmente e ofertados aos orixás para os quais estão sendo feitos e seus adeptos.

Page 41: A Petr Echos Religiosos

ADO - é uma Comida ritual feita de milho vermelho torrado e moído em moinho e temperado com azeite de dendê e mel, é oferecido principalmente à Orixá Oxum.

AJABÓ é comida ritual do Orixá Xango Ayra

É feito com seis ou doze quiabos cortado em “lasca”, batido com três clara de ovos até formar um musse, regado com gotas de mel de abelha e azeite doce. Colocado em uma gamela forrada com massa de acaçá ou pirão de farinha de mandioca, ornado com doze quiabos inteiros, doze moedas circulante, doze bolos de milho branco e seis Orobôs.

A mesma oferenda pode ser oferecida a outras qualidades de Xangô, todavia acrescenta-se azeite de dendê e substitui os doze bolos de milho branco por doze acarajés ou corta-se o quiabo em pequenas rodelas, com seis ou doze quiabos, em algumas casas com oito quiabos, coloca-se em uma tigela e acrescenta-se água fresca, bate-se com os dedos até ele espumar e ficar digamos ligado, a diferença que ele é ofertado em uma tigela ou uma gamela redonda.

Page 42: A Petr Echos Religiosos

AMALÁ: é comida ritual votiva do Orixá Xangô, Iansã, Obá. é feito com quiabos frescos, cortados em jogo da velha (#) levar ao fogo com tempero de camarao,cebola, gengibre ralados fritos no dende, ao corar o tempero jogar o quiabo, que não poderá ter sido molhado antes. Ir misturando sem por agua. Vai pingando vagarosamente gotas de agua, e batendo o amalá como se estivesse batendo um bolo, para que este cresça. Quando estiver bem cozido, servir em gamela forrada com pirao de farinha com dende. Este amala serve apenas para Sango, no caso de Ayrá leva tudo acima, menos o dende e o pirao que forra a gamela é feito de farinha de acasá.Aos Amalás poderao ser adicionados o Peito de boi cortado em cubos grandes, a rabada, a costela e a garganta, tudo do boi, para cada caso usa-se uma destas carnes. Rabada: prosperidade, Peito: justiça, Costela: feitiçaria, Garganta: casos de saúde. Sempre que for servir o amala de Sango deverá por ao lado uma vasilha branca com ajabó

continua.........

Postado por Hunso Sueli de Vodun Abe às 19:59 0 comentários

Marcadores: COMIDA DE SANTO

domingo, 12 de junho de 2011

ORI - CIÊNCIA DE VIVER

Page 43: A Petr Echos Religiosos

ORI

I - Atitudes diante da necessidade

Estar vivo implica ter necessidades. As necessidades são impositivas, inescapáveis. Por isso, é fundamental aprender a lidar com elas. Aqui vão alguns fundamentos práticos para isso;

(1): É preciso cultivar a paciência, pois, se existem necessidades que conseguimos satisfazer rapidamente, muitas outras exigem que saibamos esperar.

(2): Saber esperar exige perseverança, capacidade de não desistir, de não desanimar. (3): Devemos compreender que certas necessidades exigem que acumulemos méritos por muito tempo.

(4): Outras cobram de nós que nos fortaleçamos.

(5): Outras ainda que nos transformemos.

(6): E não se esqueça de cultivar sempre a autoconfiança, a firmeza e a consciência. Seguindo este cardápio, cedo ou tarde a maioria de nossas necessidades será satisfeita e, para nosso alívio, algumas delas perderão completamente a importância. “Aprenda a lidar com as necessidades sem se deixar arrastar por elas”.

II - A atitude de educar-se e de educar os outros

Educar-se é ter permanentemente a sua disposição uma fonte de água pura e cristalina. A sede de conhecer, de saber, de compreender deveria ser sempre estimulada, apoiada, pois ela torna os homens verdadeiramente humanos. Na medida em que bebemos das águas do conhecimento, elas podem, por nosso intermédio, se alargar, crescer, tornar-se um grande rio fluente que irá nutrir um incontável número de seres humanos. Na verdade, quem se educa acaba educando os outros, pois é levado a beneficiar seus semelhantes de várias

Page 44: A Petr Echos Religiosos

maneiras. Por isso, educar-se é não apenas nobre, mas necessário, imprescindível mesmo. É também uma forma de retribuirmos à humanidade o que dela recebemos.

I - A felicidade “Lembre-se diariamente que não há caminho para a felicidade; pelo contrário, a felicidade é o caminho”. Acreditamos, equivocadamente, que a felicidade é um estado que alcançaremos um dia, caso aconteçam algumas coisas que desejamos. Com essa atitude, vivemos tensos todos os dias de nossa vida, lutando para obter o passaporte para a felicidade. E a experiência nos mostra que os que tiveram a chance de realizar aquilo com que sonhavam logo se desiludiram e recomeçaram a procurar a felicidade em alguma outra quimera. Na verdade, a felicidade é um estado de espírito, uma disposição interior. É uma atitude diante da vida, do imenso privilégio de estar vivo. É o agradecimento que se faz diariamente por poder participar da vida neste planeta que é tão belo, embora, muitas vezes, tão desafiador. Felicidade é gostar de sorrir, é ser grato por existir. É, pois, um estado interior que pode ser cultivado diariamente. Só depende de sua atitude!

II - Não pense negativamente

Não invista sua energia na idéia de crises e infortúnios. Em vez disso, perceba que há, neste planeta, inúmeras possibilidades de progresso, e que são praticamente inesgotáveis. Existe, ao nosso redor, um poço sem fundo de novas idéias, que estão a nossa espera. Por isso, pense “progresso”, “prosperidade”, “possibilidades”. Fazendo isso, você naturalmente acessará a criatividade que dormita no fundo do seu ser.

III - A autoimportância é um problema

Todos nós temos de procurar encontrar nosso valor específico como indivíduos que somos. Isso é humano e natural. Mas é errado confundir essa atitude com a auto- importância. A autoimportância é uma força insaciável, pois está sempre exigindo que tenhamos mais poder, mais prestígio, mais fama, mais dinheiro, mais afeto, ou seja, mais tudo. Além disso, a autoimportância nos isola dos demais sem percebê-lo, pois nos convence de que somos superiores a todos, fazendo-nos viver uma ficção dolorosa e estéril. Dessa forma, vivemos em conflito com tudo e com todos, pois vemos em tudo uma ameaça em potencial a nossa autoimportância. Se refletirmos sobre isso, estaremos preparando terreno para que ela se torne menos tirana em nossa vida. Se acrescentarmos a essa visão o fato de podermos fazer decrescer dentro de nós o medo de não termos valor, nosso processo de libertação avançará a passos largos. “Nade liberto e feliz entre os obstáculos da vida”.

I - Saber qual é a medida justa

Saber qual é a medida justa para cada coisa, para cada situação, para cada ato é uma qualidade importantíssima. Precisamos colocar limites no que precisa ser limitado, abrir o que precisa ser aberto, atravessar as dificuldades da vida sem ser derrotado ou seriamente machucado. A medida justa tem, portanto, duas faces: por um lado precisamos refrear os excessos e, por outro, abrir possibilidades. Nesse sentido, podemos nos comparar a um carro que precisa ter breque, mas precisa também ter acelerador. Se praticarmos essa atitude, poderemos atravessar melhor qualquer crise que se apresente.

II - Ser capaz de se por de acordo

Page 45: A Petr Echos Religiosos

O acordo entre pessoas é a base do sucesso para qualquer iniciativa. Estar de acordo é o segredo da empresa bem sucedida, do casamento estável, do empreendimento artístico de sucesso e de muitas outras coisas. Estar de acordo fará superar todas as dificuldades que um casal obrigatoriamente encontrará na vida ou que uma empresa, ou de qualquer outro tipo de sociedade terá de enfrentar. Por isso, se pudermos desenvolver essa atitude em nós mesmos, se pudermos ser aquele que sempre procura estar de acordo, seremos estimados e valorizados de forma extraordinária. “Colocar-se de acordo com as pessoas e com a natureza é ficar em harmonia com o Todo”.

III - A busca do progresso

“Nunca desencoraje quem faz progressos contínuos, não importando quão lentamente o faça”. A busca constante do progresso, do aperfeiçoamento, de uma melhor qualidade é o segredo para estarmos mais vivos a cada novo dia. Quando não temos essa atitude como força motora, estamos estagnados sem percebê-lo. Por sermos humanos, somos dotados de uma capacidade de desenvolvimento ilimitada, em múltiplas direções. Se ignorarmos esse fato, limitando-nos a uma repetição mecânica de velhos atos monótonos, se nos deixarmos acomodar na “mesmice”, perderemos o brilho do olhar, pois estaremos perdendo o sabor de estar vivo. Andaremos e nos moveremos, mas não estaremos vivos de fato.

IV - As três faces da vida

“As mentes pequenas são subjugadas e vencidas pelos infortúnios, mas as grandes mentes erguem-se acima deles”. O fluir da vida nos oferece, basicamente, três cenários: infortúnios, momentos de boa-sorte e fases neutras. Cada um de nós passa, necessariamente, por coisas desagradáveis, agradáveis ou neutras. Se compreendermos esse fato com clareza, ou seja, que a Grande Dama chamada Vida tem três faces, os momentos difíceis ─ as chamadas crises ─ terão um impacto muito menos doloroso sobre nós. É fundamental que isso fique bem claro em nossa inteligência, pois a inteligência é a principal arma do ser humano. Armados dessa compreensão, ou seja, de que os cenários da vida se alternam para TODOS os seres humanos, poderemos nos elevar acima dos acontecimentos e continuarmos nosso caminho, seja ele qual for.

I - A atitude do essencial

De tempo em tempo, é muito útil, para nosso bem-estar, nos examinarmos com cuidado, para podermos discernir o que é realmente essencial em nós do que nos veio por intermédio do processo de educação, ou seja, pelos condicionamentos a que fomos submetidos. Desse ponto de vista, podemos dizer que temos dois lados: um que nos é inerente, e, portanto, genuíno, e outro que nos foi implantado de fora. O processo de nos implantarem algo é normal e universal. A grande vantagem, porém, de nos tornarmos adultos é que adquirimos a capacidade de olhar para nós mesmos a fim de perceber o que nos foi imposto por esse processo e o que é genuinamente nosso. Se exercitarmos esse olhar, pouco a pouco iremos distinguindo melhor o que de fato desejamos do que nos foi ensinado que deveríamos desejar; o que de fato pensamos em contraposição ao que todos pensam ao nosso redor; começamos a distinguir o que de fato amamos do que nos foi ensinado a amar; o que de fato somos daquilo que dizem que somos. Se praticarmos a atitude de olhar para nós mesmos,

Page 46: A Petr Echos Religiosos

iremos, pouco a pouco, abandonando tudo o que não nos pertence. E isso nos tornará imensamente livres!

II - A atitude que pode nos levar à abundância

Se formos capazes de trabalhar com intensidade e, ao mesmo tempo, refinar nossa inteligência, cedo ou tarde a abundância e a riqueza virão até nós. Em outras palavras, precisamos cultivar, ao mesmo tempo, a nossa força e a nossa luz. Desenvolver a inteligência implica aprender a distinguir o verdadeiro do falso, o necessário do supérfluo, o certo do errado, o justo do injusto. Desenvolver a força significa não permitir que nossa energia de progresso degenere em avidez destemida; que nosso natural anseio por coisas boas não decaia em prazeres descontrolados; que nosso empenho em avançar não destrua nosso caráter. Se buscarmos essa atitude e a abundância vier nos beneficiar, poderemos dar o próximo passo que é manter a riqueza adquirida. Nessa etapa, é decisivo saber distinguir o que é real do que é apenas aparência.

III - A atitude não conflituosa

Podemos agir cotidianamente a partir de uma atitude belicosa, conflituosa, sem ao menos percebê-lo. Isso é muito comum entre as pessoas e é mais fácil notar essa atitude nos outros do que em nós mesmos. Vale, pois, a pena nos examinar para detectar esse tipo de disposição, escondida subterraneamente em nós mesmos. O fato é que uma atitude mais harmônica nos torna mais descontraídos, mais leves, mais agradáveis e o mundo ao nosso redor reage a isso de forma muito positiva. Estar em conflito é estar rígido. Estar em harmonia é estar relaxado. A disposição conflituosa é carrancuda enquanto a harmônica é sorridente. Podemos optar pela melhor disposição, mas, se não percebermos nossas atitudes subjacentes, como poderemos optar?

IV - A atitude de lidar com os obstáculos

Sempre existirão obstáculos em nosso caminho, por isso, é decisivo aprender a lidar com eles. Para isso, o primeiro passo consiste em sermos capazes de prevê-los, se não todos, pelo menos alguns deles. O fato de prevermos aumenta nossa força e diminui o impacto desagradável que uma oposição sempre nos causa. O segundo passo consiste em não batermos de frente contra as barreiras. É preciso respeitá-las e contorná-las. O terceiro passo consiste em sabermos quando agir contra aquilo que está opondo-se e quando devemos prudentemente nos retirar da situação. O último passo consiste em ficarmos preparados para jamais desistir totalmente de nosso intento, apoiados na convicção de que a perseverança faz milagres. “Se tivermos a força e a clareza necessárias, enfrentaremos com sabedoria os obstáculos que a vida nos impõe”.

I - A atitude de manter-se aberto

Estar fechado significa estar cheio de conceitos e rótulos de todo tipo, o que implica fazer julgamentos, sem parar. Esse fechamento tem como conseqüência direta uma contração afetiva, ou seja, gera barreiras emocionais que nos separam de tudo e de todos, tornando-nos verdadeiras ilhas humanas. Para que isso não aconteça, podemos nos inspirar na montanha que, por ser sólida e confiante, está aberta de todos os lados.

Page 47: A Petr Echos Religiosos

II - A atitude de nutrição

Todo ser humano tem necessidade de nutrir-se. Mas não necessitamos apenas do alimento físico: precisamos também alimentar nosso intelecto e nossa afetividade. Sabendo disso, devemos procurar nos alimentar bem em todos os sentidos. Para isso, precisamos aprender a ser cada vez mais inteligentes e a nos empenhar em desenvolver um coração cada vez mais afetivo. Para completar, vamos estimular os outros a fazerem o mesmo.

III - A atitude de clareza

É delicioso encontrar alguém que tenha clareza de espírito e de coração. Tudo que emana dessa pessoa faz bem para a nossa cabeça e o nosso coração. A receptividade dela nos acolhe e sua compreensão nos conforta. E o mais cativante é que ela nos mostra que podemos também ser totalmente claros.

IV - A atitude de saber manter-se à distância

Muitas vezes nos queixamos de alguém que nos fez algo desagradável. Geralmente essas coisas acontecem porque permitimos nos envolver com algumas pessoas de má qualidade ou com outras que são excelentes, mas confusas. Por isso, existe a arte de manter certo recuo, de manter certa distância em relação a algumas situações. Isso exige muita firmeza de nossa parte. Essa firmeza, porém, não pode descambar em má vontade e intolerância. Manter-se firme significa ter o controle interno dos nossos atos, enquanto, externamente, permanecemos tolerantes e generosos. “Mantenha-se firme em seu centro e o mundo à sua volta vai girar harmonicamente