A Perspectiva Interseccional de Lelia Gonzalez
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A Perspectiva Interseccional de Llia Gonzalez
Flavia Rios e Alex Ratts
Apesar
De travarmos
Grande embate
E nesta arte
Sermos
Para leigos
Segmento annimo
Apesar
De constituirmos
Uma fora
E h quem tora
Para que
do racismo
No sejamos
Antnimo
Apesar de tudo
Continuaremos
Enfrentando os males
A exemplo
De Llia Gonzalez
Nosso sinnimo
Nthio Benguelai
1. Trajetria, ascenso educacional e experincia de racismo
Llia de Almeida Gonzalez (1935-1994) nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais e
migrou com a extensa famlia para o Rio de Janeiro, ento capital do pas, sob a proteo
financeira do irmo mais velho, jogador de futebol no Flamengo. Com a ajuda familiar e
incentivos financeiros de uma famlia de classe mdia branca para quem trabalhava na
adolescncia, ela tornou-se a nica entre os seus irmos a atingir um elevado grau de
escolaridade. Diplomou-se em Histria, Geografia e Filosofia na Universidade da Guanabara,
atual Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Tornou-se professora secundria e
posteriormente seguiu a carreira docente de terceiro grau, ocupando cadeiras em importantes
estabelecimentos de ensino superior fluminenses, a exemplo da Pontifcia Universidade
Catlica e Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Gonzalez experimentou ascenso social via formas expressas de embranquecimento,
isto , realizou um casamento inter-racial, estudou em boas escolas onde aprendeu os gostos
das classes mdias e seu estilo de vida. Fez amigos no seio do estrato mdio carioca e adotou
sua forma de viver e sentir a vida, como o gosto pela bossa nova, a preferncia por roupas e
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cortes de cabelo moda dos anos dourados, incluindo o alisamento capilar e o uso de
perucas. Era uma forte candidata ao ingresso no mundo dos brancos ilustrados
parafraseando Florestan Fernandes, tendo para isso todos os artifcios econmicos e sociais
aprendidos no convvio com seus colegas no-negros.
Defrontada com a recusa e a rejeio ao seu matrimnio com uma pessoa de tez clara
e ascendncia europeia, sua experincia pessoal com o preconceito e a discriminao pode ser
entendida como parte das motivaes que a levaram a ingressar na luta poltica contra o
racismo no Brasil. Em que pesem essas dimenses subjetivas para o seu engajamento poltico,
o pensamento de Gonzalez devedor, sobretudo, da rede de movimentos sociais em que se
engajou em meados dos anos de 1970, poca em que Llia Gonzalez iniciou seus primeiros
escritos ensasticos acerca das relaes de poder e de opresso do negro e da mulher no Brasil.
O racismo foi, pois, uma experincia que a enegreceu, ou, como ela gostava de dizer
acerca das relaes raciais em seu pas natal: no se nasce negro, torna-se. Para ser fiel aos
seus dizeres bem ao jeito brasileiro: a gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha
dentre outras, mas tornar-se negra uma conquistaii . Ao parafrasear a sentena de Simone
de Beauvoir, uma de suas pensadoras diletas, Gonzalez a um s tempo nos prope uma verso
no essencialista das raas mostrando a possibilidade de reclassificao social e revela a
dificuldade de se tornar negro(a) num pas que apregoa a democracia entre os grupos raciais,
ao mesmo tempo em que propaga o branqueamento social e estabelece lugares sociais com
base em atributos adscritos por cor e sexo.
Sua biografia bem ilustrativa disso. No raras vezes Llia foi confundida como
empregada domstica em sua prpria casa. A famosa pergunta que usou diversas vezes em
discursos para plateias feministas expressa isso: a patroa est?. Com este exemplo
corriqueiro, ela conseguia explorar os significados sociais, ocupacionais e culturais relativos
naturalizao das relaes entre classe, raa e gnero, bem como a maneira como essas
categorias se articulavam na experincia social da mulher negra. A experincia de ascenso
social, longe de ser uma estratgia de superao de racismo , na verdade, a confrontao
cabal de que, no Brasil, a naturalizao dos lugares sociais se representa mediante a
hierarquizao por sexo e raa, defenderia Llia Gonzalez durante todo seu percurso
intelectual. Foi justamente essa postura de desnaturalizao que tornou seu discurso e suas
prticas irreverentes at mesmo para os crculos polticos mais progressistas que frequentava.
Nesse sentido, sua trajetria e seu pensamento tm muito a dizer tanto sobre nossas ideologias
nacionais com suas formas no to sutis de racismo, assim como sobre o pensamento contra-
hegemnico que ela ajudou a construir no Brasil do final do sculo XX.
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Com um trnsito fluente entre o movimento negro e o movimento feminista, Gonzalez
foi crtica de ambos, mas tambm antecipou algumas abordagens que posteriormente se
denominaram de interseccionaisiii
. Observamos isto quando ela associa o racismo, o sexismo e
a explorao capitalista e quando articula as identidades de raa, gnero (este tratado poca
como sexo) e classe. Essa talvez seja uma das principais motivaes para o crescimento dos
interesses acadmicos e polticos na produo intelectual de Llia Gonzaleziv
.
Em linhas gerais, a produo intelectual da autora se deslocou dos ensaios polticos em
direo abordagem cultural, destacando-se seus trabalhos que relacionam as categorias
mencionadas. Suas principais contribuies intelectuais foram, por um lado, a crtica radical
ao pensamento social brasileiro e cultura nacionalv, e, por outro, a construo original de
uma categoria transnacional capaz de abarcar a dispora negra nas Amricas, qual seja:
Amefricanidadevi. Seus escritos so mais bem entendidos luz da sua trajetria pessoal e
profissional, alm de seu pertencimento a uma rede ativista formadora de uma
intelectualidade negra e feminista no processo de democratizao, a qual estava fortemente
influenciada pelas mobilizaes coletivas nacionais e internacionais que animaram aquele
perodo, culminando na dcada de ouro dos movimentos sociais brasileiros, entre 1978 e
1988.
2. Intelectualidade negra na democratizao brasileira
No perodo em foco ampliou-se o campo intelectual brasileiro, a partir do qual
floresceram pensadores fortemente enraizados em movimentos sociais e diretamente
envolvidos no processo de democratizao. As instituies tradicionais de formao e
consagrao intelectual, tais como as academias de letras e os institutos de cincia, bem como
as universidades passaram a coexistir com outra forma de organizao, produo e
legitimao de conhecimento, desenvolvida na sociedade civil, particularmente nas reas em
que foram gestadas ideias crticas em forte consonncia com a prxis poltica.
Foi assim que emergiram novas expresses de intelectuais orgnicos para tomar de
emprstimo a formulao de Antonio Gramsci (1979)vii
dos movimentos sociais brasileiros,
que com suas lutas alargavam pouco a pouco o restrito espao pblico no estatal. Tais
mobilizaes questionavam o regime de Estado, afirmando-se, muitos deles, como
vanguardas contra-hegemnicasviii. O movimento negro que ganha amplitude nacional
naquele perodo guarda para si muitas dessas caractersticas, at mesmo mantendo uma
intelectualidade prpria.
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Um trao comum a essa intelectualidade negra a origem em famlias de classes
baixas e mdias urbanas, a formao acadmica nas principais instituies de ensino superior,
nas quais se envolvem no ambiente poltico de contestao Ditadura Militarix
. Nesses
espaos buscam inserir a problemtica do negro no Brasil, valendo-se da formao de
coletivos polticos e eventos pblicos nos quais buscavam debater o problema do
colonialismo intelectual e polticox, do preconceito e, sobretudo, da discriminao racial no
pasxi
. Trata-se da gerao que tomou para si o grande desafio de traduzir as ideias polticas
do seu tempo, bem como o sentimento de injustia social e o desejo de transformao vindos
da populao negra em geral e de seus grupos articulados, vendo no ativismo as bases para a
elaborao de uma crtica radical quela autoimagem do pas espelhada pelo discurso de
harmonia das raas nos trpicos.
No plano domstico, o consenso normativo que unia os intelectuais negros tais
como Eduardo de Oliveira e Oliveira (1924-1980), Llia Gonzalez (1935-1994), Beatriz
Nascimento (1942-1995), Hamilton Cardoso (1954-1999), Abdias do Nascimento (1914-
2011), Clvis Moura (1925-2003), Joel Rufino (1941-), entre outros exatamente a
necessidade de desconstruo do mito da democracia racial, seja por meio da denncia das
formas de preconceito e discriminao, seja pela construo de uma identidade coletiva
circunscrita na categoria negro. Nesse sentido, a busca de uma identidade passava pela
ressignificao da histria brasileira, particularmente a experincia dos africanos e sua
descendncia durante o regime de escravido, reelaborada no apenas pela retrica da
vitimizao, pautada pelo sofrimento e a expropriao, mas tambm pela afirmao de formas
e smbolos de resistncia dominao escravista. Assim, eram retomadas figuras importantes
para a construo de um repertrio poltico, das quais Zumbi ganha centralidade.
Nesse acerto de contas com a historiografia predominante no pas, os intelectuais
negros buscaram confrontar e at negar o lugar e o papel da abolio da escravatura no
processo de emancipao dos negros. No s figuras monrquicas foram duramente
rejeitadas, a exemplo da Princesa Isabel, como tambm alguns dos mais ilustres articuladores
da campanha abolicionista tiveram seus papis repensados. Nessa histria contestada,
lideranas brancas do contexto emancipatrio perdem centralidade para as formas de
organizao e lutas polticas de negros e libertos. Nesse sentido, o republicanismo de Jos do
Patrocnio, bem como as diversas investidas judiciais de Luiz Gama em defesa da liberdade
negra, passaram a ser temas recorrentes no discurso da intelectualidade negra dos anos 1970 e
1980. As lutas dos escravizados, as aes rebeldes e no institucionais passam a ganhar mais
proeminncia, contrastadas s formas organizativas no interior do sistema poltico, a exemplo
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das obras de estudiosos como Clvis Moura (1981) e Dcio Freitas (1978), referncias
importantes para essa gerao, particularmente no que toca ao modo como pensam a agncia
escrava e suas formas de resistncia armada no perodo escravistaxii
. Desse arsenal simblico,
coube aos ativistas e intelectuais selecionar e ressignificar representantes legtimos da causa
negra. So, pois, esses smbolos que marcam a nova guinada poltica negra durante o
processo de redemocratizao do Brasilxiii
.
Situada nesse espectro poltico, a trajetria intelectual de Llia Gonzalez espelha
nuanas dessa crtica social que valem a pena ser trabalhadas em contraste com os
interlocutores explcitos e implcitos na conversa conflituosa travada naquele perodo. Uma
figura emblemtica na produo dessa autora a Mulher Negra. A necessidade imperiosa de
reavaliar o papel das mulheres negras no processo de formao nacional brasileira flagrante
nos seus escritos. Cabe destacar a figura da me preta, imagem ambivalente em diferentes
momentos da histria poltica xiv
, que assume contornos significativos nos textos e reflexes
da autora:
Ao nosso ver, a Me Preta e o Pai Joo, com suas estrias, criaram uma espcie de romance familiar que teve papel importante na formao dos
valores e crenas do povo, o nosso volksgeist. Consciente ou no, passaram
para o brasileiro branco as categorias das culturas africanas de que eram representantes. Mais precisamente coube a me preta, sujeito do suposto-
saber, a africanizao do portugus falado no Brasil (o pretugus como dizem
os africanos lusfonos) e, consequentemente, a prpria africanizao da
cultura brasileiraxv
.
Localizadas no seio de um pensamento que quer compreender e ao mesmo tempo
transformar a realidade, poder-se-ia sugerir uma verdadeira revoluo silenciosa
metaforicamente apresentada por Gonzalez: o subalterno como sujeito que promovia
alteraes na linguagem e na cultura daquilo que veio a se chamar Brasil. Para Gonzalez, no
h o lugar de simples vtima para esse grupo social. Uma compreenso poderia ser extrada: a
grande transformao poderia ser feita no mbito cultural. Em artigo escrito para a Folha de
So Paulo, ela tambm fez meno a esse ponto explicitando sua perspectiva em relao
figura da me de leite no perodo escravista:
De acordo com opinies meio apressadas, a me preta representaria o tipo
acabado da negra acomodada, que passivamente aceitou a escravido e a ela
respondeu de maneira mais crist, oferecendo a face ao inimigo. Acho que
no d para aceitar isso como verdadeiro. Sobretudo quando se leva em
conta que sua vida foi levada com muita dor e humilhao. E justamente
por isso que no se pode desconsiderar que a me preta desenvolveu suas
formas de resistnciaxvi
.
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Crtica s heranas escravistas ainda persistentes nas estruturas sociais e culturais
brasileiras, Llia Gonzalez se recusa a pensar que as mulheres negras restringiram-se
acomodao social durante o perodo colonial e imperial. Embora tenham sido figuras
altamente oprimidas pelas estruturas sociais, as margens para agenciar formas de
interpretao da realidade foram usadas, de tal modo que a posio social dessa mulher foi
fundamental para a transmisso de significados culturais no dominantes. O mesmo potencial
de resistir no fazer do cotidiano era visto pela autora, na atualidade, em mulheres annimas,
donas de casas, trabalhadoras manuais, com baixa escolaridade, alicerces da pirmide social
do Brasil. Por se tratar de contexto de grande mobilizao social, coube a intelectuais como
Llia Gonzalez a difcil tarefa de compreender as possibilidades de ao e o papel social das
mulheres negras no curso transformador da histria. Longe de pens-las no eixo da alienao
ou da acomodao, ela preferia ver nessas mulheres possibilidades silenciosas de
transformao histrica, apreendidas aqui pela lgica do cotidiano.
No vo entre esse emaranhado de ideias e a ao coletiva surge um pensamento
poltico comprometido com a prxis. At mesmo porque, como j disse Faoro (1997), o
pensamento poltico uma atividade: a atividade territrio da prticaxvii. No sendo
propriamente ideologia, filosofia ou cincia poltica, o pensamento poltico se constitui pelo
intervalo entre o ser e o dever ser. nessa chave interpretativa que se encontram os
intelectuais do movimento negro. O perfil dessa intelectualidade se fez expressar luz do que
bell hooks sugeriu: o trabalho intelectual uma parte necessria na luta pela libertao,
fundamental para os esforos de todas as pessoas oprimidas e ou exploradas, que passariam
de objeto a sujeito, que descolonizariam e libertariam suas mentesxviii. Esses intelectuais so
autores de numerosos trabalhos feitos geralmente em forma de ensaios. Trata-se de um
conjunto de escritos encontrados na imprensa dos movimentos sociais (a exemplo de
Mulherioxix
e Jornal do MNU) e das organizaes partidrias, alm das revistas de cincias
humanas dirigidas por grupos de esquerda que apostaram nestes grupos como instrumento que
permitiria a formao de uma cultura democrtica (casos de Versus, Teoria e Debate, Lua
Nova).
nesse sentido que a trajetria de Llia Gonzalez marcada pela insero em
movimentos sociais e populares contestatrios ao regime autoritrio. Ademais, a relativa
estabilidade profissional, financeira e, especialmente, a sua bagagem educacional pesaram a
seu favor e da posio social que ela ocuparia no ativismo. Soma-se a isso o fato de ela ter
pelo menos uma dcada a mais de idade que a maior parte dos militantes que se engajaram
nos primrdios da luta negra contempornea. Intimados a fundamentar uma identidade para o
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movimento social, ela e sua gerao de ativismo tiveram que apresentar uma definio
identitria que simultaneamente rebatesse as crticas externas ao movimento e apaziguasse as
idiossincrasias de algumas prticas e discursos dos militantes. Na formulao de Gonzalez:
O nosso movimento no um movimento epidrmico; o nosso movimento um movimento
polticoxx
Os crculos nos quais Llia Gonzalez esteve presente levaram-na a pensar em
processos amplos e decisrios de nosso pas, como o estabelecimento da democracia e o
desenvolvimento do capitalismo. Conclamava todos os negros a um esprito de solidariedade
e fraternidade a fim de promover uma luta contra processos de opresso, como o imperialismo
e o colonialismo, este ltimo pelo advento do racismo. Em sua concepo, o processo
democrtico em curso ainda guardava lugar para a utopia: caso a democracia se efetivasse,
certamente haveria igualdade entre negros e brancos; em suas palavras: Irmos negros,
lutemos para transformar efetivamente este pas numa sociedade igualitria, numa efetiva
democracia, porque no dia que esse pas for uma democracia, lgico que ele ser uma
democracia racialxxi .
Llia Gonzalez engajou-se no movimento negro, na formao de seus quadros, de suas
organizaes e da produo de discursos contestatrios ao nacionalismo brasileiro. Do mesmo
modo, o fez no movimento de mulheres, atuando na formao de coletivos femininos negros
em morros cariocas, a exemplo dos movimentos de mulheres de reas populares, das favelas,
onde se via a frequente presena de Benedita da Silvaxxii
, participando de eventos do
movimento feminista, de estrato mdio e com formao acadmica. Mariza Correia, ao
apresentar uma reflexo sobre a experincia do feminismo no eixo Rio-So Paulo, fala de
uma cegueira estrutural na sociedade brasileira para pensar a questo racialxxiii. Somente
com a recepo da produo intelectual do feminismo negro norte-americanoxxiv
e com a
insero dela nesses crculos intelectuais e ativistas, o tema da raa pde ser problematizado.
3. Raa, sexo e classe: o pensamento interseccional de Llia Gonzalez
A relao entre raa e classe tem certa tradio no interior das intepretaes
sociolgicas realizadas no Brasilxxv
. Mas dos estudos de relaes raciais do chamado Projeto
UNESCOxxvi
e, sobretudo, da escola sociolgica paulista, que Llia Gonzalez e sua gerao
se nutrem para suas reflexes sobre a articulao dessas duas categorias sociais,
especialmente do livro A integrao do negro na sociedade de classes, de Florestan
Fernandesxxvii
. Esta obra teve tanto impacto sobre a intelectualidade negra da
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redemocratizao, a exemplo da prpria militncia poltica de Florestan, que esteve muito
prximo das lideranas negras durante a formao do Partido dos Trabalhadores, como
durante a mobilizao social pela constituinte e pelo centenrio da abolio contestadaxxviii
.
Da mencionada obra de Fernandes, Gonzalez rejeitou todas as interpretaes
funcionalistas sobre a populao negra no processo de transio para a sociedade de mercado.
Em contrapartida, ela se interessava tanto pela ideia de que a democracia racial era um mito
autoritrio da sociedade brasileira quanto pela constatao do autor de que os negros no Brasil
foram absorvidos precariamente na sociedade de classes, isto , em suas franjas, s margens
do sistema capitalista. Embora Florestan Fernandes, quando escreveu sua tese, estivesse se
referindo ao incio da modernizao brasileira, estabelecendo So Paulo como o centro
irradiador do capitalismo no pas, Gonzalez reflete sobre perodo posterior o contexto de
transio democrtica fortemente influenciada pelo ambiente de crise econmica, em que o
modelo desenvolvimentista militar entrava em falncia.
Na dcada de 1980, havia uma grande mobilizao para a redemocratizao do pas,
indicando transformaes no regime poltico. No plano econmico, havia grande frustrao
social, alimentada pela inflao galopante, pelas altas taxas de desemprego, forte
informalizao do mercado de trabalho, aumento da violncia e crescente precarizao das
condies de moradia. Era nessa conjuntura econmica que Llia Gonzalez via a situao da
populao negra, particularmente o segmento feminino.
Outra influncia vinha do socilogo argentino Carlos Hasenbalg, com sua tese sobre
Discriminao e desigualdades raciais no Brasilxxix
. Essas perspectivas estruturalistas, sejam
as vindas de Fernandes ou as de Hasenbalg, auxiliaram Gonzalez a pensar o lugar social e
simblico do negro na estrutura social brasileira. Assim ela expressa o seu entendimento
acerca da articulao entre o fenmeno do racismo e as transformaes da sociedade
capitalista, particularmente quanto aos processos discriminatrios na conformao das classes
no Brasil:
Nesse momento, poder-se-ia colocar a questo tpica do economicismo:
tanto brancos quanto negros pobres sofrem os efeitos da explorao
capitalista. Mas na verdade, a opresso racial faz-nos constatar que mesmo
os brancos sem propriedade dos meios de produo so beneficirios do seu
exerccio. Claro est que, enquanto o capitalista branco se beneficia
diretamente da explorao ou superexplorao do negro, a maioria dos
brancos recebe seus dividendos do racismo a partir de sua vantagem
competitiva no preenchimento das posies que, na estrutura de classes,
implicam nas recompensas materiais e simblicas mais desejadas. Isso
significa, em outros termos, que se pessoas possuidoras dos mesmos
recursos (origem de classe e educao, por exemplo), excetuando sua
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filiao racial, entram no campo da competio o resultado desta ltima ser
desfavorvel aos no-brancosxxx
Llia Gonzalez entendia o racismo como uma construo ideolgica, tomando de
emprestado a interpretao de Althusser, para quem a ideologia seria uma forma de
representao da realidade necessariamente falseadasxxxi. Como discurso ideolgico, o
racismo era absolutamente eficiente, no sendo restrito classe dominante, mas tambm s
classes dominadas. O ponto central na argumentao dela no era convencer os marxistas
acerca da explorao do negro pelo sistema capitalista, mas dar inteligibilidade para a
diferenciao no processo de recrutamento e alocao de pessoas em postos de trabalho.
Essa realidade se tornava mais aguda quando se tratava da mulher negra, que o tema
sobre o qual a autora se debruar durante quase toda sua vida intelectual. No seria
despropositado afirmar que Llia Gonzalez fez a recepo do feminismo no movimento
negro, ao mesmo tempo em que no interior do movimento de mulheres insere o tema das
relaes raciais, atentando para o caso da subordinao das mulheres negras na representao
cultural, social e na fora de trabalho. Nesse sentido, Gonzalez se vale dos estudos
monogrficos do final da dcada de setenta que retratavam os esteretipos femininos negros
no repertrio literrio brasileiroxxxii
, os estudos de desigualdades realizados no Rio de Janeiro,
alm da nascente produo sociolgica sobre a condio da mulher e sua insero no sistema
de classesxxxiii
.
De fato, a autora figura como uma das antecessoras do conceito de interseccionalidade
enquanto uma questo terica e poltica. Podemos dizer que Llia Gonzalez trabalhava esta
proposio em trs planos: entre as categorias de anlise (raa, sexo e classe, entre outras), os
fenmenos sociais de opresso e discriminao (racismo, sexismo e segregao, entre outros)
e na articulao entre movimentos sociais (negro, feminista e homossexual, por exemplo).
Llia Gonzalez esteve frente da reorganizao da luta poltica antirracista ainda na
ditadura militar (1964-1985), particularmente da formao do Movimento Negro Unificado
(MNU), sobretudo em So Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia, que tem como marco o ano de
1978. Alguns anos antes ela participara de reunies no Rio de Janeiro e ministrara um curso
sobre Cultura Negra no Brasil, na Escola de Artes Visuais no Parque Lage.
A partir dessa poca, ela passa a escrever artigos em peridicos negros, feministas e
homossexuais, sobre o tema da mulher negra, fazendo correlaes profcuas entre raa, sexo e
classe. Na leitura dos ensaios ou artigos de opinio, fica evidente a ampliao, o
aprofundamento e a persistncia de Llia Gonzalez em imbricar e delinear esses temas em
conjunto, preservando as suas dinmicas prprias. De um lado, como dissemos, a autora parte
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de uma leitura marxista da sociedade dirigindo-se para um pblico identificado com esta
vertente, seja o que est nos quadros do movimento negro e de mulheres, seja o que compe
outros segmentos da denominada esquerda poltica. Neste sentido, ela aponta:
Ora, na medida em que existe uma diviso racial e sexual do trabalho, no
difcil concluir sobre o processo de trplice discriminao sofrido pela
mulher negra (enquanto raa, classe e sexo), assim como seu lugar na fora
de trabalho.xxxiv
De outro lado, a intelectual ativista busca escrever para pblicos mais amplos, como o
fez nos jornais Mulherio e Lampio da Esquina, vinculados respectivamente aos movimentos
feminista e homossexual. Em um dos artigos publicados no primeiro peridico referido, ela
traz a mesma ideia da trplice discriminao que atinge as mulheres negras:
a gente constata que, em virtude dos mecanismos da discriminao racial, a
trabalhadora negra trabalha mais e ganha menos que a trabalhadora branca
que, por sua vez, tambm discriminada enquanto mulher.[...] Por essas e
outras que a mulher negra permanece como o setor mais explorado e
oprimido da sociedade brasileira, uma vez que sofre uma trplice
discriminao (social, racial e sexual)xxxv
.
Nesses escritos para a imprensa negra ou feminista, destacamos a preocupao de
Llia em apontar para o fato de que o feminismo deveria atentar para as mltiplas formas de
opresso da mulher, entre elas a de raa e de classe social. Na opinio de Gonzalez, o
feminismo no Brasil era formado por mulheres brancas e de classe mdia que pregavam a
emancipao e a insero feminina no mercado de trabalho, contudo no atentavam para a
situao das mulheres negras e pobres, exemplificada nos baixssimos salrios para as
trabalhadoras negras domsticas, estas sem qualquer seguridade social e sequer contempladas
nas garantias da legislao trabalhista brasileira. Alm disso, a autora observava no discurso
feminista a no correlao entre a condio social de explorao do trabalho domstico e a
explorao sexual da mulher negra. A autora expressa sua relao tensa com o feminismo:
A explorao da mulher negra enquanto objeto sexual algo que est muito
alm do que pensam ou dizem os movimentos feministas brasileiros,
geralmente liderados por mulheres da classe mdia branca. Por exemplo,
ainda existem senhoras que procuram contratar negras jovens belas para trabalharem em suas casas como domsticas; mas o objetivo principal o de
que seus jovens filhos possam iniciar-se sexualmente com elasxxxvi
.
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nesse sentido que a articulao entre raa, classe e gnero est no centro do
pensamento de Llia Gonzalez. Um passo interessante para saber o modo pelo qual ela
trabalhava essas categorias e identificar o que h de novo em suas reflexes conhecer um
pouco mais sobre a tradio intelectual qual ela se voltava para tratar da temtica da raa e
classe, de um lado, e observar a forma como ela relaciona essa tradio com as abordagens
feministas que colocavam a questo da dominao e da explorao sexual no centro de suas
anlises. Em outras palavras, o desafio dela foi o de articular duas linhagens distintas do
pensamento social, o de raa e classe com o de sexo e classe. nessa correlao analtica que
Llia Gonzalez consegue antecipar no Brasil a recepo do que viria a ser chamado, uma
dcada depois, de abordagem interseccional.
Nos seus escritos encontramos inmeras referncias s mulheres negras de vrias
classes sociais e de distintas reas geogrficas, seja o morro, a favela, o subrbio ou os
espaos de ascenso social. Notamos a necessidade que a autora tem de inserir esta discusso
na pauta acadmica e poltica dos crculos em que frequentava. semelhana de outras
autoras negras que lhe so contemporneas, a pesquisadora traz para o centro de suas
reflexes a questo da imagem e do corpo feminino negro. Em determinados momentos ela se
centra no tema da boa aparncia, exigida explicitamente nos anos 1970 e 1980 em inmeras
solicitaes de trabalho.
Dedicada a refletir acerca de esteretipos, a autora traz uma argumentao a respeito
das imagens que fixam as mulheres em determinados lugares sociais, com foco no perodo
mencionado, mas que, devidamente contextualizadas, podem ser abordadas em outras
situaes, como as figuras da mulata e da domstica:
constatamos que o engendramento da mulata e da domstica se fez a partir
da figura da mucama. E, pelo visto, no por acaso que, no [dicionrio]
Aurlio, a outra funo da mucama est entre parnteses. Deve ser ocultada,
recalcada, tirada de cena. Mas isso no significa que no esteja a, com sua
malemolncia perturbadora. E o momento privilegiado em que sua presena
se torna manifesta justamente o da exaltao mtica da mulata nesse entre
parnteses que o carnavalxxxvii
.
Precisamente neste artigo, mas igualmente em outros trabalhos, Llia Gonzalez traz a
dimenso espacial das relaes raciais, de gnero e sociais. Podemos apreender que a
mulata seria no espao pblico uma expresso correspondente que atribuda domstica
no mbito privado. No nos parece que Gonzalez queira afirmar que no houve alteraes
neste quadro desde o perodo escravista. O que identificamos que ela reconhece aspectos
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remotos que so retomados e se atualizam para manter o corpo negro feminino como alvo de
imagens pblicas fixas, repetitivas, quase sempre de inferiorizao, negativas. Mais de uma
vez, a prpria autora aponta que passa por cenas similares. Nos textos de Llia Gonzalez h a
anlise combinada com a exposio de problemas prementes e permeada por um discurso de
profunda solidariedade com as mulheres negras das classes trabalhadoras. Ela tambm
participa da formao de grupos especficos, a exemplo do Nzinga Coletivo de Mulheres
Negras.
Entre as imagens e a situao social, a mulher negra discutida por ela em espaos
habituais e nos locais de ausncia ou discriminao. Notamos nos ensaios e artigos uma
viso contextual que amplia a observao para os aspectos da subjetividade e da vida em
famlia:
Enquanto seu homem objeto da perseguio, represso e violncia policiais
(para o cidado negro brasileiro, desemprego sinnimo de vadiagem;
assim que pensa e age a polcia brasileira), ela se volta para a prestao de
servios domsticos junto s famlias das classes mdia e alta da formao
social brasileira xxxviii
.
Tendo em mente que, desde os anos 1970, o movimento negro indica que h um
problema visvel no tratamento do Estado para com a populao negra, pois que
diferenciado e desigual, Llia Gonzalez distingue os efeitos disso para cada um dos sexos,
destacando a ao intimidadora e violenta da polcia para com os homens negros. Devemos
ressaltar que seu pensamento, em grande parte, pode ser relido com atualidade, em tempos de
denncias e anlises acerca do alto ndice de homicdios de jovens negros em reas urbanas,
particularmente as metropolitanas. Ademais, importante salientar a pertinncia do
argumento da autora ao atentar para experincias diferenciadas de racismo por sexo. As
mulheres negras vivenciam um tipo de experincia por conta de sua condio de gnero na
representao nacional e na forma como se inserem no mercado de trabalho. Por sua vez, o
homem negro apreendido por outras lgicas de controle e dominao social, que envolve a
violenta represso policial e o extermnio fsico.
4. Percursos na dispora: o pensamento em movimento de Llia Gonzalez
A primeira fase do pensamento de Llia Gonzalez tributria do grande
empreendimento com que o movimento negro desafiou seus intelectuais, qual seja: desfazer-
se das narrativas hegemnicas sobre as relaes raciais no Brasil e restabelecer o negro
discursivamente enquanto um sujeito poltico na histria do pas.
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Dos anos que vo de 1978 a 1988, Gonzalez possui um forte engajamento poltico no
interior de organizaes do movimento negro, particularmente o carioca. Esse foi um perodo
em que os intelectuais negros mais proeminentes eram recrutados para o processo formativo
do movimento no mbito nacional. O desafio daquele contexto era nacionalizar o discurso do
movimento social e estabelecer uma crtica que tivesse respaldo em todas as regies do
territrio brasileiro.
Por conta disso, os temas e abordagens de Gonzalez so quase sempre circunscritos
ao mbito nacional. H que se notar que os autores mobilizados por ela, bem como a tradio
dos estudos de relaes raciais centravam na compreenso do padro das relaes entre
negros e brancos no Brasil. Somente a partir de meados da dcada de 1980, Llia passou a
investir em reflexes para alm das fronteiras nacionais, bastante despida do arsenal marxista
de intepretao da realidade e interessada em construir uma categoria poltica transacional,
comportando os negros da dispora e os povos originrios das Amricas: a Amefricanidade.
Como salientou Luiza Bairros, o conceito de Amefricanidade, apesar de estar em
franco dilogo com o pan-africanismo, diferencia-se deste porque se trata de uma unidade
que, sem apagar as matrizes africanas, reconhece a experincia fora da frica como
centralxxxix. Assim Llia Gonzalez imprime maior densidade sua negritude e ao seu
feminismo com um horizonte transnacional, alm de formular a categoria poltico-cultural
que se aproxima mais das discusses contemporneas acerca da Dispora que do Pan-
Africanismo. Ademais, Gonzalez adverte que esse conceito rebate concepes imperialistas
norte-americanas. Para ela, amefricanidade conceito que recoloca as identidades negras e
indgenas de todo o continente americano. Assim, o termo assumiria contornos geogrficos,
polticos, antropolgicos e histricos, na medida em que incorporaria culturas de resistncia
em diferentes partes das Amricas, oferecendo-lhes um significado coletivo e comum. Nos
termos da autora:
As implicaes polticas culturais da categoria de Amefricanidade
(Amefricanity) so, de fato, democrticas; exatamente porque o prprio
termo nos permite ultrapassar as limitaes de carter territorial, lingustico e
ideolgico, abrindo novas perspectivas para um entendimento mais profundo
dessa parte do mundo onde ela se manifesta: A AMRICA como um todo
(SUL, Central e Insular) xl.
Nessa nova categoria, Llia Gonzalez incorporava todo o aprendizado que teve nas
leituras e nas viagens por Amrica Latina, Caribe e frica, com a riqueza de imagens de
resistncia das lutas negras nas Amricas, bem como a mobilizao contempornea das
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mulheres negras e indgenas de nosso continente. nesse sentido que ela props um
feminismo transnacional, portanto, afrolatinoamericano. Isto , uma proposta que buscava a
aproximao das diversas contribuies culturais e polticas das mulheres de ascendncia
indgena e africana nas prticas e no pensamento feminista de matriz ocidental, ao mesmo
tempo em que defendia a autonomia das organizaes de mulheres populares, negras e
indgenas. Gonzalez acreditava que ningum era melhor do que essas mulheres para vocalizar
seus prprios interesses e suas formas de simbolizar o mundo social.
Como dissemos, ela dialoga e se diferencia em relao a parte significativa da
intelectualidade brasileira de sua poca pela determinao em articular raa e classe nos seus
discursos, artigos e ensaios, com uma abordagem prpria, agregando a questo sexual, com
foco na mulher negra, na sua condio social, nas imagens, na subjetividade, incluindo, por
vezes, seu percurso pessoal como exemplo. Neste sentido, a semelhana de outras intelectuais
ativistas negras brasileiras e estadunidenses, ela pode ser considerada uma das matrizes para a
ideia de interseccionalidade, antes de o termo ter sido cunhado.
com essa contribuio intelectual que Llia Gonzalez, mulher, negra, brasileira,
amefricana, oriunda das classes populares, acadmica e militante, se torna referncia
obrigatria para a produo acadmica e para as lutas negra e feminista no Brasil e nas
Amricas.
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i Pseudnimo de Nelson Inocncio. Poema inscrito no cartaz em homenagem a Llia Gonzalez feita pelo
Movimento Negro Unificado, seo do Distrito Federal, em 1994, por ocasio de sua morte.
ii Ver: GONZALEZ, Llia.A importncia da organizao da mulher negra no processo de transformao social.
Raa e Classe. Ano 2, n. 5, nov./dez. 1988, p. 2.
iii
Desde a virada do sculo XXI, o conceito de interseccionalidade tem sido colocado no centro dos estudos
feministas e das polticas pblicas para as mulheres, a partir de vrias abordagens, tendo como referncia
particular um artigo de Kimberl Crenshaw que aponta a inter-relao entre eixos de opresso. No entanto, Cardoso (2012) indica que autoras negras brasileiras trabalham com este princpio desde os anos 1980,as
reflexes de Llia Gonzalez tm sido evocadas neste campo. Sobre o conceito de interseccionalidade, ver
CRENSHAW, Kimberl (2002). Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminao racial relativos ao gnero. In: Rev. Estud. Fem. [online]. vol.10, n.1, pp. 171-188.
iv Os principais estudos e reflexes sobre o pensamento e trajetria de Llia Gonzalez so: BAIRROS, Luiza (1996).
Lembrando Llia Gonzalez (1935-1994). Revista Afro - sia. Salvador, p. 347-368. BARRETO, Raquel.
Enegrecendo o feminismo ou feminizando a raa: narrativas de libertao em ngela Davis e Llia Gonzalez.
Rio de Janeiro: PUC - Rio, 2005; VIANA, Elizabeth. Relaes raciais, gnero e movimentos sociais: o
pensamento de Llia Gonzalez (1970 1990). Rio de Janeiro, IFCS-UFRJ, 2006; BARRETO, Raquel de Andrade. Aquela neguinha atrevida: Llia Gonzalez e o movimento negro brasileiro. In: FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aaro (Org.) Revoluo e democracia. Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 2007, p. 453-478.
RATTS, Alex. Encruzilhadas por todo percurso: individualidade e coletividade no movimento negro de base
acadmica. In: PEREIRA, Amauri M. & SILVA, Joselina (Org.) Movimento negro brasileiro: escritos sobre os
sentidos de democracia e justia social no Brasil. Belo Horizonte: Nandyala, 2009, p. 81-108. RATTS, Alex;
RIOS, Flavia. Llia Gonzalez. So Paulo. Selo Negro/Summus, 2010; CARDOSO, Cludia Pons. Outras
falas: feminismos na perspectiva de mulheres negras brasileiras. Tese de doutorado em Estudos
Interdisciplinares sobre Mulheres, Gnero e Feminismo. Salvador, UFBA, 2012.
v GONZALEZ, Llia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. So Paulo, ANPOCS, Cincias Sociais Hoje, 2.
ANPOCS, 1983, p. 223-244.
vi GONZALEZ, Llia. Por un feminismo afrolatinoamericano. Revista Isis International. Santiago, Vol. IX,
junio, 1988a, p. 133-141; Gonzalez, Llia. A categoria poltico-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro.
Rio de Janeiro, N. 92/93 (jan./jun.). 1988b, p. 69-82.
vii
GRAMSCI, Antonio. Intelectuais e a Organizao da Cultura. Civilizao Brasileira, Rio de Janeiro,
Civilizao Brasileira, 1979.
viii
HANCHARD, Michael. Orfeu negro e o poder: movimento negro no Rio e So Paulo (1945-1988). Rio de
Janeiro: EdUERJ, 2001.
ix
RIOS, Flavia. O protesto negro contemporneo. Lua Nova. No. 85 So Paulo, 2012, p. 13-40.
x A leitura anticolonial mais influente para essa gerao vem de Franz Fanon, especialmente Peles Negras
Mscaras Brancas (1982) e Os condenados da Terra (1968). Para mais detalhes sobre a recepo de Fanon no
Brasil, ver GUIMARES, Antnio Srgio A. A recepo de Fanon no Brasil e a Identidade Negra. Novos
Estudos CEBRAP, 81, julho de 2008, p. 99-114. Alm de Fanon, outra influncia intelectual importante para
essa gerao Amlcar Cabral, referncia obrigatria de intelectuais negros que acompanhavam os processos
revolucionrios dos pases africanos. Informaes mais detalhadas sobre a relevncia dos escritores e
revolucionrios africanos e a mobilizao brasileira anticolonialista, ver SANTOS, Jos Francisco. Movimento
Afro-Brasileiro pr-libertao de Angola (MABLA). Dissertao de mestrado em Histria. So Paulo, PUC,
2010. e SANTOS, Thereza. Malunga Thereza Santos. So Carlos. EDUFSCAR, 2008.
xi
Para citar alguns exemplos dessas experincias: o coletivo negro da Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo (Alberti e Pereira, 2007, p. 165), a quinzena do Negro na Universidade de So Paulo ou o Grupo de
Trabalho Andr Rebouas, da Universidade Federal Fluminense.RATTS, Alex. Eu sou Atlntica: sobre a
trajetria de vida de Beatriz Nascimento. So Paulo, Imprensa Oficial/Instituto Kuanza, 2007.
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xii Cabe notar que a historiografia brasileira sobre a escravido passava por grandes transformaes nesse
perodo, alterando significativamente o olhar sobre as aes de escravizados e libertos; para mais detalhes ver
SCHWARTZ, Stuart. A historiografia recente da escravido brasileira, em Escravos, roceiros e rebeldes.
Bauru, Edusc, 2001, p.21-88. As referncias da intelectualidade negra sobre a mobilizao social no perodo
escravista eram MOURA, Clvis. Rebelies da senzala: quilombos, insurreies, guerrilhas. So Paulo, Livraria
Editora Cincias Humanas, 1981. 3 Ed [1. Ed. 1959] e FREITAS, Dcio. Palmares: a guerra dos escravos.
Edies Graal, Rio de Janeiro, 1978.
xiii
RIOS, Flavia. Mobilizao negra na Constituinte. Comunicao apresentada no Seminrio de Sociologia,
Histria e Poltica na Universidade de So Paulo. So Paulo, USP, 2013. (mimeo).
xiv
Uma anlise da forma pela qual a me preta se tornou um smbolo importante na tradio do pensamento e do
ativismo negro brasileiro encontra-se em SIEGEL, Micol. Mes Pretas, filhos cidados. In: CUNHA, Olvia M.G; GOMES, Flavio (Org.) Quase-cidado. Rio de Janeiro, FGV Editora. 2007, p 315-376.H que se notar
que, embora Llia Gonzalez dialogue diretamente com essa tradio, o sentido que ela atribui a essa figura
completamente particular, especialmente no que tange atualizao estrutural dessa figura nas formas
contemporneas de dominao no Brasil.
xv
GONZALEZ, Llia. A mulher negra na sociedade brasileira. In: LUZ, Madel (Org.) O lugar da mulher:
estudos sobre a condio feminina na sociedade atual. Rio de Janeiro: Graal, 1982, p. 94.
xvi
Ver Folha de So Paulo, 22/11/1981, p.4.
xvii FAORO, Raymundo. Existe um pensamento poltico brasileiro? Estudos Avanados. Vol. 1. No. 1 So
Paulo Out/Dez, 1987,p. 40.
xviii HOOKS, Bell. Intelectuais Negras. Estudos Feministas. Florianpolis, Vol. 3, No. 2, . p.466
xix
Para acessar a coleo digital Mulherio, ver http://www.fcc.org.br/conteudosespeciais/mulherio/
xx GONZALEZ, Llia. 1985, p.43.
xxi GONZALEZ, 1984, p.45.
xxii Note-se que nesse perodo Benedita da Silva era vereadora no Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores,
entre 1983-1986; logo depois se elegeu deputada constituinte. Durante essa dcada, notria a relao entre
Benedita e Llia Gonzalez, particularmente o trnsito poltico delas nos movimentos sociais, partidos polticos,
parlamento e conselhos participativos.
xxiii
CORREIA, Mariza. Do feminismo aos estudos de gnero no Brasil: um exemplo pessoal. Cadernos
Pagu No.16, 2001, Campinas, p. 13-30.
xxiv
Dentre as principais autoras negras norte-americanas, podemos destacar Toni Morrison, Alice Walker,
ngela Davis, dentre outras.
xxv
GUIMARES, Antonio Srgio. Racismo e anti-racismo no Brasil. So Paulo, Editora 34, 1999.
xxvi
MAIO, Marcos Chor. O projeto Unesco e a agenda das cincias sociais no Brasil dos anos 40 e 50. Revista
Brasileira de Cincias Sociais. Vol.14 n.41 So Paulo, Out., 1999, p. 141-158.
xxvii FERNANDES, Florestan. A integrao do negro na sociedade de classes. Vol.I e II.So Paulo, Editora
Anhembi, 1964.
xxviii FERNANDES, Florestan. O significado do protesto negro. So Paulo, Cortez Editora, 1989.
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xxix
HASENBALG, Carlos. Discriminao e desigualdades raciais no Brasil. 2 edio, Belo Horizonte:
Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2005. [1. Ed. 1979]
xxx GONZALEZ, Llia. A questo negra no Brasil. In: Cadernos Trabalhistas. So Paulo, Global Editora,
1981, p.62.
xxxi
apud GONZALEZ, 1981.
xxxii QUEIROZ Jr, Tefilo de. Preconceito de cor e a mulata na literatura brasileira. So Paulo, tica, 1975.
xxxiii
O trabalho de referncia para Llia Gonzalez : SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes:
mito e realidade. Petrpolis, Vozes, 1976.
xxxiv GONZALEZ, Llia, 1982a, p. 96.
xxxv
GONZALEZ, Llia. E a trabalhadora negra, cume que fica? Jornal Mulherio. So Paulo, Ano 2, No. 7,
mai.-jun. 1982b, p. 9
xxxvi GONZALEZ, Llia, 1982a, p.100.
xxxvii GONZALEZ, Llia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. So Paulo, ANPOCS, Cincias Sociais Hoje,
2. ANPOCS, 1983, p.230
xxxviii GONZALEZ, Llia. 1982a, p. 97-98.
xxxix BAIRROS, Luiza. 2000, p. 355.
xl GONZALEZ, Llia. 1988b, p. 76.