A pérola

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EBI de Mourão Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola” Professora Vanda Barreto Ao longo desta ficha, encontrarás diversas atividades que te ajudarão a compreender esta novela. Contudo, não as deves fazer sem primeiro leres com atenção todos os textos que escrevi para ti e que têm por objetivo ajudar-te a analisá-la. No final, compreenderás que esta obra é muito mais do que a história de uma pobre família de pescadores mexicanos. A. O Autor. John Steinbeck Nasceu em Salinas, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, em 1902. De uma família de classe baixa, embora não pobre, Steinbeck presenciava a vida dos trabalhadores da cidade de Salinas e do fértil Vale de Salinas, centros agrícolas a cerca de 20 quilômetros do oceano Pacífico (tanto o vale quanto a costa marítima californiana seriam pano de fundo de grande parte da sua ficção). Em 1919, ingressou na Universidade de Stanford, onde assistiu a aulas de vários cursos, entre eles Inglês e Literatura, até abandonar a universidade, em 1925, antes da obtenção de um diploma. Resolveu, então, lançar-se em uma carreira de escritor free-lancer em Nova Iorque. Neste período inicial da sua carreira, trabalhou em uma série de bicos, como zelador de uma propriedade no lago Tahoe, técnico de laboratório, pedreiro na construção de Madison Square Garden e repórter diário de um periódico nova-iorquino. Durante a estadia em Nova Iorque, escreveu seu primeiro Página 1

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Ficha de Leitura Orientada da obra “A Pérola”

Professora Vanda Barreto

Ao longo desta ficha, encontrarás diversas atividades que te ajudarão

a compreender esta novela. Contudo, não as deves fazer sem primeiro leres

com atenção todos os textos que escrevi para ti e que têm por objetivo

ajudar-te a analisá-la. No final, compreenderás que esta obra é muito mais

do que a história de uma pobre família de pescadores mexicanos.

A. O Autor. John Steinbeck

Nasceu em Salinas, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos,

em 1902. De uma família de classe baixa, embora não pobre,

Steinbeck presenciava a vida dos trabalhadores da cidade de Salinas

e do fértil Vale de Salinas, centros agrícolas a cerca de 20 quilômetros

do oceano Pacífico (tanto o vale quanto a costa marítima californiana

seriam pano de fundo de grande parte da sua ficção).

Em 1919, ingressou na Universidade de Stanford, onde assistiu

a aulas de vários cursos, entre eles Inglês e Literatura, até abandonar

a universidade, em 1925, antes da obtenção de um diploma.

Resolveu, então, lançar-se em uma carreira de escritor free-lancer em

Nova Iorque. Neste período inicial da sua carreira, trabalhou em uma

série de bicos, como zelador de uma propriedade no lago Tahoe,

técnico de laboratório, pedreiro na construção de Madison Square

Garden e repórter diário de um periódico nova-iorquino. Durante a

estadia em Nova Iorque, escreveu seu primeiro romance, Cup of gold

(publicado no Brasil como Tempos passados), de 1929.

Voltou à Califórnia no final da década de 1930, continuando

sempre a escrever. Casou-se com Carol Henning, mudou-se para a

cidade de Pacific Grove, na área de Monterey, onde a família

Steinbeck possuía uma propriedade, depois para Los Angeles e

novamente para a área de Monterey. No início da conturbada década

de 30, publicou ainda dois trabalhos de ficção passados na Califórnia,

The pastures of heaven (Pastagens do céu), de 1932, e To a god

unknown (Ao deus desconhecido), de 1933, além de trabalhar nos

contos mais tarde recolhidos no volume The long valley (O vale sem

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fim), de 1938. Os seus três primeiros romances foram publicados por

três editores diferentes, e não se beneficiaram nem um pouco da

depressão económica disparada nos Estados Unidos pelo crash da

Bolsa de Nova York, que aconteceu apenas dois meses depois da

publicação de Cup of gold. Os três editores faliram e Steinbeck viu-se

sem editor.

O sucesso e a segurança financeira vieram apenas em 1935,

com a publicação do romance Tortilla Flat (Boêmios errantes),

publicado pela firma Covici-Friede. As histórias bem-humoradas sobre

a vida de paisanos (descendentes de espanhóis misturados, muitas

vezes, com mexicanos, índios e caucasianos) que viviam na chamada

Planície Tortilla de Monterey, próximo à fronteira mexicana,

mostraram-se um alento para os americanos oprimidos pela crise.

Durante a depressão, literatura e cinema serviam de escape para

muitos. Escape da pobreza, da preocupação sobre como pagar a

renda, da procura de emprego ou mesmo da preocupação sobre onde

conseguir dinheiro para pagar a conta da mercearia.

Experimentador incansável, Steinbeck mudou os rumos da sua

literatura várias vezes. Entretanto, já nessas suas primeiras obras via-

se o fio condutor que permearia toda a sua literatura: observação

social, de cunho realista, das camadas de trabalhadores de classe

baixa, às vezes miseráveis, mantidos no limbo do sistema económico.

Mas, se a preocupação literária de Steinbeck voltava-se

especificamente para grupos de trabalhadores de algumas regiões

norte-americanas, faz-se necessário dizer que seus personagens

recebiam tratamento tal que, mais do que as agruras de um tipo de

homem localizado especificamente no tempo e no espaço, Steinbeck

fazia tais personagens exemplares dos mais universais sentimentos

humanos: a luta pela dignidade humana, a dificuldade das relações

de afeto frente à crueldade do mundo e da vida, e a solidão, na sua

aceção mais ampla e passível de ser compartilhada por todos os

homens.

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Ainda na década de 30, sendo Steinbeck já um autor famoso,

seguiram-se outros livros, que confirmaram a promessa literária

(assim foi ele encarado quando da publicação de Tortilla Flat): In

dubious battle (Luta incerta), publicado em 1936, sobre colhedores de

frutas na Califórnia, Of mice and men, publicado em 1937, e aquele

que é considerado seu melhor romance, The grapes of wrath (As

vinhas da ira), de 1939, sobre agricultores do estado americano de

Oklahoma que, por não conseguirem sobreviver da terra, mudam-se

para a Califórnia, onde passam a trabalhar sazonalmente em

fazendas alheias. O romance foi premiado com o importante Prêmio

Pulitzer de Literatura.

Na década de 1940, Steinbeck, como tantos outros autores

americanos de sucesso, fez uma incursão por Hollywood, com o

roteiro The forgotten village (1941). Publicou, ainda, Sea of Cortez

(1941), Bombs away (1942), sobre a guerra, a controversa peça The

ornal down (1942), os romances Cannery row (A rua das ilusões

perdidas), de 1945, The wayward bus (1947) e The pearl (A pérola),

de 1947, o relato de viagem A russian ornal (Um diário russo), de

1948, e mais uma peça, Burning bright (1950). No início da década de

50, Steinbeck apresentou ao público o monumental romance East of

Eden (1952) – traduzido no Brasil como Vidas amargas –, uma saga

sobre uma família do Vale de Salinas com toques autobiográficos.

As últimas décadas da sua vida foram passadas em Nova Iorque

e Sag Harbour com a sua terceira esposa, com quem viajou muito.

Outros livros seus são: Sweet thursday (1954), The short reign of

Pippin IV: a fabrication (O breve reinado de Pepino IV), de 1957, Once

there was a war (1958), The winter of our discontent (O inverno da

nossa desesperança), de 1961,e Travels with Charley in search of

America (Viajando com Charley), de 1962 – este último sobre uma

viagem que Steinbeck fez pelos Estados Unidos –, America and

americans (A América e os americanos), de 1966, e os póstumos

Journal of a novel: The East of Eden letters (1969), Viva Zapata!

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(1975), The acts of King Arthur and his noble knights (1976) e

Working days: the journals of The grapes of wrath (1989). Ele recebeu

o prêmio Nobel de Literatura em 1962, com a seguinte declaração da

Academia de Letras sueca: “[Steinbeck] não era talhado para fazer

meramente entretenimento. Ao contrário, os assuntos por ele

escolhidos são sérios e denunciativos, como as experiências amargas

nas plantações de frutas e algodão da Califórnia.”

Vários dos seus livros foram levados às telas de cinema, como

As vinhas da Ira, em produção de 1940, de John Houston, e Ratos e

homens, filmado em 1939 por Lewis Milestone e em 1992 por Gary

Sinise.

A preocupação social de Steinbeck ia além da escolha dos

assuntos de suas ficções: ele registou literariamente, nos diálogos dos

seus personagens, também a peculiaridade da linguagem dos

diversos grupos de trabalhadores por ele retratados. Faleceu no dia

20 de dezembro de 1968 em Nova Iorque.

Fonte: biografia do autor inserida em Ratos e homens

1.Faz o levantamento dos lugares onde Steinbeck viveu.

2.Quais são os temas centrais da obra de Steinbeck?

3. Faz uma pesquisa sobre “A Grande Depressão Americana” e

relaciona-a com os temas subjacentes à obra de Steinbeck.

4. Elabora uma lista cronológica das obras de Steinbeck.

B. A PérolaQuando lemos um livro, podemos fazê-lo de várias maneiras e sob

diferentes perspetivas. A Pérola permite-nos isso mesmo, uma vez que nos

possibilita várias abordagens.

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Em primeiro lugar, a característica mais marcante desta obra é a sua

autenticidade. Steinbeck escrevia sobre aquilo que conhecia e, assim, esta

novela transmite-nos “uma sensação da própria essência da vida primitiva

com todas as suas dificuldades e compensações”.

Em segundo lugar, há quem veja a obra como um “tratado em defesa

da ecologia”. De facto, imediatamente antes de a escrever, Steinbeck

explorou a costa marítima do Golfo da Baixa Califórnia, no âmbito de um

estudo sobre as funções ecológicas dos vários organismos ali existentes.

Este interesse de Steinbeck pela ecologia levou vários críticos literários a

considerar a novela como uma declaração sobre a necessidade da ecologia

ser perturbada o menos possível. “Quando o homem retira uma grande

pérola do seu ambiente natural, está a destruir uma parte da ordem natural

das coisas, o que pode originar um desastre de algum tipo.”

Em terceiro lugar, a obra pode ser lida sob uma perspetiva

sociológica. Ao longo da novela, assistimos a um conflito entre os

pescadores de pérolas, simples e ingénuos, e os compradores de pérolas,

que utilizam a sua posição para explorarem os indígenas indefesos;

observamos ainda os comportamentos do médico e do padre. O primeiro, no

início recusa-se a tratar Coyotito porque Kino não tinha dinheiro para lhe

pagar; o segundo que utiliza a autoridade da Igreja para ensinar aos

indígenas que devem estar satisfeitos com a sua posição social, embora

comece a pensar nas reparações à igreja que poderiam ser feitas com o

dinheiro da pérola de Kino.

Em quarto lugar, podemos fazer uma interpretação alegórica 1 ou

simbólica da obra. A pérola é um objeto de grande valor e representa a

vaidade dos desejos humanos. Desde a Idade Média, a pérola tem sido

utilizada para representar a pureza e a castidade espiritual. Deste modo,

possuir uma pérola de grandes dimensões simboliza bondade. Contudo,

Steinbeck inverte este símbolo, uma vez que a sua pérola simboliza o mal e,

apenas, quando a deita fora, recupera a sensação de bem-estar espiritual.

1 ALEGORIA - Sucessão de metáforas e/ou comparações através das quais realidades abstractas são concretizadas. Por meio desta figura, uma realidade abstracta, e por isso de mais difícil apreensão, é substituída por, ou comparada com, uma realidade mais concreta e, portanto, mais compreensível.Por esse motivo, a alegoria é uma figura de estilo com uma dimensão textual invulgarmente extensa; por vezes abrange a totalidade de uma obra literária: é o que acontece, por exemplo, no Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.

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Por último, podemos analisar esta obra sob um ponto de vista

filosófico. A novela trata da vida e da morte e do significado de ambas. No

decorrer da ação, uma família simples tem um trágico destino, sem que lhe

possamos atribuir qualquer culpa. A pérola que encontraram devia servir

para tirar o filho das trevas e levá-lo para a luz (o conhecimento):

aprenderia a ler e a escrever e poderia ajudar todos os indígenas. Porém, a

pérola é a responsável pela morte da criança.

C. As Personagens

1. KINOKino é um jovem pescador de pérolas índio que vive em estreita

harmonia com o mundo natural. Não é influenciado pela hipocrisia, nem

pelo artificialismo do “mundo civilizado”.

Comprova esta afirmação com exemplos do quotidiano de Kino.

A profissão de Kino obriga-o a manter um contacto estreito com a

natureza e é profundamente afetado por ela. Por exemplo, Kino não pode

trabalhar quando o mar está agitado.

Embora pertencendo à classe mais baixa da sociedade, Kino tem um

profundo sentido de dignidade humana; tem plena consciência do quanto o

seu povo é explorado e desprezado pela gente da cidade.

Comenta a atitude das pessoas da cidade face aos indígenas.

A relação de Kino com a mulher, com o filho e com o irmão denota

também a harmonia existente na vida do jovem pescador: o amor ao filho, a

preocupação pela segurança da mulher, a relação fraternal com o irmão e o

respeito pelas tradições da aldeia, são exemplos disso.

Encontra no capítulo VI um exemplo que ilustre a preocupação de Kino

com a segurança da sua família.

Coyotito é a razão de ser de Kino e o “motor” de toda a sua vida. Assim,

deveria ser com todos os pais do mundo! Não te parece?

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Infelizmente, a construção de toda a sua vida à volta do filho é também

parte da sua tragédia. De facto, Kino não anseia nada para ele. A

espingarda que sonha comprar só lhe possibilitará sustentar melhor a sua

família. Com a descoberta da pérola, ele pensa imediatamente em todas as

coisas boas que irá proporcionar ao filho.

A sua relação com o irmão, João Tomás, é também harmoniosa. Não há

disputas entre eles.

Que faz João Tomás quando a cabana de Kino arde?

Por outro lado, Kino nutre um profundo respeito pelas tradições da

aldeia, homenageando, assim, os seus antepassados. Quando a sua canoa é

destruída, ele não pensa levar a canoa de outra pessoa; para ele, a canoa

faz parte da herança de uma família e, como tal, é sagrada. A destruição da

sua canoa só poderia ter sido levada a cabo por alguém que não era

membro da aldeia.

O respeito pelos antepassados está também patente na forma como Kino

expressa as suas emoções. Incapaz de as verbalizar, ele “ouve” diversas

canções, compostas e criadas pelos seus antepassados, que exprimem as

emoções possíveis e adequadas a todas as ocasiões.

Que canções ouve Kino e que simboliza cada uma delas?

No final da obra, ficamos com a sensação de termos experimentado,

através de Kino, todas as emoções que são comuns à humanidade: a

felicidade que vem da família, a alegria de ter descoberto um tesouro, a

esperança numa vida melhor, o medo quando a vida de um membro da

família está em perigo, a ansiedade de ser perseguido e a tragédia de

perder um ente querido.

2. JOANAJoana é o protótipo da mulher indígena primitiva: forte, leal,

obediente e, ao mesmo tempo, independente e corajosa quando a situação

lho exige.

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Como membro de uma raça primitiva, a principal função de Joana é

ser mulher de Kino: ela ocupa-se da casa e toma conta do filho de ambos.

Aparenta ser subserviente, sem vida própria. Contudo, se o seu mundo é

ameaçado, ela torna-se determinada, segura e feroz. Por exemplo, quando

um lacrau pica Coyotito, uma nova Joana surge: prática e eficiente, ela

chupa o veneno e exige um médico. Quando lhe dizem que o médico não

virá à aldeia, ela decide ir à cidade. Mais tarde, revolta-se contra a

autoridade do marido e tenta deitar fora a pérola, porque percebe que

aquele objeto é mau e atrai a desgraça ao seio familiar.

Por outro lado, em Joana podemos apreciar uma mulher produto de

duas culturas: ela reza aos seus deuses, mas também ao Deus cristão; ela

aplica uma cataplasma de algas na picada de Coyotito – o que efetivamente

o cura – e exige que ele seja visto por um médico; nela podemos verificar a

existência de um lado prático e real e, ao mesmo tempo, diversas

superstições: quando Kino apanha a pérola, ela evita demonstrar grandes

alegrias, pois acredita que essas emoções lhe podem trazes azar; sente um

medo instintivo de muitas coisas como a escuridão e a pérola, entre outros.

Depois da morte do filho, Joana caminha ao lado do marido. Esta

situação significa que ela adquiriu um estatuto de igualdade face ao marido.

Esta igualdade foi-lhe conferida pelo sofrimento por que passou.

Procura na obra exemplos: da Joana subserviente, da Joana feroz, da

Joana prática e decidida e da Joana supersticiosa.

3. COYOTITOCoyotito é o filho pequeno de Kino e de Joana; é picado por um

lacrau e recupera miraculosamente, sendo mais tarde morto por uma

bala destinada ao pai, Kino.

4. JOÃO TOMÁSIrmão conselheiro de Kino e seu único protetor quando Kino é

perseguido por assassínio.

5. APOLÓNIAMulher gorda de João. Tem pouco significado na história.

6. O MÉDICO e O PADRE

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Personagens que ao longo da novela são tratadas com pouca

simpatia e que funcionam apenas ao nível simbólico. O médico

representa outro tipo de vida, ligada aos compradores de pérolas e

àquilo que é estrangeiro. Não possui qualquer tipo de qualidades. Os

seus atos demonstram que é o individuo mais vil e desprezível que se

pode encontrar. A mera referência ao seu nome cria, entre os

aldeões, um clima de medo e intimidação. Ele nunca foi à aldeia, por

isso, quando vai visitar Coyotito, Kino recebe-o com muita

desconfiança.

Conhecemos o médico num ambiente decadente, que contrasta

com a autenticidade e o realismo cruel da vida da aldeia. O médico

está deitado, vestido com um roupão de seda, a tomar chocolate num

serviço de prata, no meio de flores luxuriantes e a sonhar com uma

mulher com quem tinha vivido em Paris. Tudo sugere que é uma

pessoa que comete excessos e não se preocupa com o bem-estar dos

outros.

Compara o pequeno-almoço do médico, com o de Kino.

Embora não seja explicitamente afirmado, na novela sugere-se

que o médico dá algo a Coyotito, quando o visita, que o faz ficar

muito doente, para que possa voltar mais tarde e parecer que o

curara. Para esta conclusão, contribui o facto de sabermos que Joana

tinha já curado o filho com a cataplasma de algas. Esta atitude do

médico contraria totalmente a ética da sua profissão e, juntamente

com a tentativa de tentar que Kino lhe dê a pérola – para ele a

guardar -, revela toda a sua maldade e ganância e representa todas

as forças do mal que estão contra Kino. Conhecemo-lo também

através das falas dos mendigos.

O que é que pensam os mendigos do médico?

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O padre, embora não tão mau quanto o médico, é apresentado

como alguém a quem o bem-estar dos seus paroquianos não

interessa demasiado. Pelo contrário, ele é um representante dos ricos

e dos seus interesses e não da igreja. No sermão que todos os anos

prega, diz que aqueles que tentam melhorar de vida estão a pecar

contra Deus, porque se recusam a aceitar a posição que o mesmo

Deus lhes destinou.

Quando ouve falar na pérola, o padre nem sabe se casou Kino e

Joana e pensa imediatamente em todas as reparações que pode fazer

com o dinheiro desta família. As suas visitas à aldeia são tão raras

que todos sabem porque é que ele vem visitar Kino.

Dadas as características do padre, é irónico que Kino queira

casar-se com Joana na igreja e ali batizar Coyotito.

7. OS COMPRADORES DE PÉROLASNão têm nome e, como grupo, representam a exploração e a

hipocrisia a que os índios estão sujeitos.

D. A fonte de “A Pérola” e a “Lenda da Pérola do Mundo”

Steinbeck baseou os enredos e as histórias que conta nas suas

obras a diversas fontes. “A Pérola” teve por base uma história que

ouviu na Península da Baixa Califórnia e que lhe foi contada como

uma história verdadeira ocorrida em La Paz. Esta história foi contada

por Steinbeck numa outra obra, “The Sea of Cortez”.

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Lenda da Pérola do Mundo

Um rapaz índio encontrou, por acidente, uma pérola muito

grande, uma pérola inacreditável. Ele sabia que ela era tão valiosa

que ele não precisaria de voltar a trabalhar. Com esta única pérola,

ele poderia embriagar-se tanto quanto quisesse, casar com qualquer

uma das raparigas e fazer felizes muitas mais. Nesta pérola residia a

salvação, porque ele poderia encomendar missas suficientes para o

fazer saltar do Purgatório para o Paraíso, além de poder, também,

encaminhar muitos dos seus familiares mortos para lá.

Contudo, depois de inúmeras tentativas para vender a pérola,

percebeu que todos os compradores lhe ofereciam pouco dinheiro e

recusou vendê-la, escondendo-a de baixo de uma pedra. Durante

duas noites seguidas, o jovem foi atacado e espancado; na terceira

noite, foi vítima de uma emboscada e torturado. Porém, nunca

revelou o local onde tinha escondido a pérola.

Por fim, depois de fazer cuidadosos planos, esquivou-se para a

praia, desenterrou a pérola e lançou-a de novo ao Golfo.

Após uma leitura cuidadosa da lenda, preenche a tabela da

página seguinte.

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Características do

jovem da lendaCaracterísticas de Kino

Sonhos do jovem

índioSonhos de Kino

Personagens da

lenda

Personagens d’A

Pérola

Grupo de

personagens comuns

aos dois textos

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A personagem Kino está baseada num missionário do século

XVII, considerado um grande homem.

Eusébio Francisco Kino (10 de agosto de 1645 - 15 de Março de

1711) foi um padre jesuíta oriundo de uma cidade do norte da

Itália. Durante os últimos 24 anos da sua vida, trabalhou na região

então conhecida como a Alta Pimeria , atualmente Sonora, no México.

Explorou a região, trabalhando com a população indígena e provou

que a Baixa Califórnia não é uma ilha, instalando ali uma expedição

por terra. Quando morreu, tinha estabelecido 24 missões.

Kino opôs-se à escravidão e ao trabalho duro e obrigatório

nas  minas de prata, trabalho que os espanhóis forçavam os povos

nativos a realizar, chegando a ter problemas com outros missioneiros

que agiam de acordo com as leis impostas por Espanha. 

Kino escreveu também livros sobre religião, astronomia e

cartografia. As suas missões estenderam-se desde a região

mexicana de Sonora, até à atual Arizona. Kino construiu ainda 19

“rancherias” (aldeias), que forneciam gado para novos

assentamentos.

Como cartógrafo desenhou os primeiros mapas precisos da

região de Pimeria Alta, do Golfo da Califórnia e da Baixa Califórnia.

Que te parece haver em comum entre o padre Kino e o Kino d’A

Pérola?

E. Questionário

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Responde às seguintes questões de forma completa e bem estruturada:

1) Descreve em pormenor a vida simples de Kino e Joana antes e depois da descoberta da pérola.

2) Como é que o padre funciona como adulteração da religião?3) Porque é que a “gente malvada” e os perseguidores de Kino

nunca são identificados?4) Um símbolo pode alterar o seu significado ao longo de uma

novela. De que forma é que a pérola altera o seu significado?5) Kino acredita que é preferível matar uma pessoa a destruir uma

canoa. Que tipo de valores motiva esta posição?6) Kino e joana funcionam a um nível bastante primitivo. Porém,

desejam um casamento na igreja e o batismo de Coyotito. Como explicas esta aparente contradição?

7) Qual a função das muitas canções que Kino ouve ao longo da obra?

F. Bibliografia

Fitwater, Eva, John Steinbeck, A Pérola, Europa-América

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