A oficina de cantarias de Ernesto Korrodi - Francisco Queiroz · Ernesto Korrodi nasceu em Zurique...
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Cadernos de Estudos Leirienses - 3
A oficina de cantariasde Ernesto Korrodl '
José Francisco Ferreira Queiroz ·
Introdução
o arquitecte Ernesto Korrodi tem sido objecto de alguns estudos, nas últi
mas duas décadas, muito se sabendo já sobre a importância da sua obra. Po
rém, algumas facetas não mereceram, até hoje, uma análise detalhada. Duas
delas são: a sua actividade como desenhador de túmulos, e a sua oficina de
cantarias - onde estes túmulos foram todos, ou quase todos, executados.
Especificamente sobre a obra tumular de Ernesto Korrodi, será breve
mente publicado um trabalho nosso, em cc-autoria com Renata Alves . O pre
sente artigo centra-se apenas na história da oficina de canta rias de Ernesto
Korrodi - a história passivei, e bastante incompleta, visto que nos baseámos
quase somente na tradição oral. Trata-se de uma primei ra análise; um repto
para que surjam mais trabalhos sobre o tema das cantarias na região.
A ofic ina de Ernesto Korrodi
Ernesto Korrodi nasceu em Zurique no ano de 1870, cidade onde se
formou como esculto r decorador, com apenas 19 anos . Paralelamente, fre
quentou as disciplinas necessárias para poder leccionar, o que viria a fazer
• Doutor em Históriada Arte pela Universidade do Porto. Investigador PrinCipal da linha"Hemeqe.
Culture and Tourtsm" do CEPESE - Centro de Estudos da População. Economiae Sociedade.
O autor não segueas normasdo novo Acordo Ortográfico.
, Este irabarho basela-se num capitulo doestudo ~O Cemitério de SantoAntooiodo Carrascal: Arte,
História e Socieda de de Leiria no Século XIX . elaborado entre 1998 e 2000 por Ana Margartda
Portela Domingues e porJosé Francisco Ferreira Queiroz, e aindapor publicar.
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Fig.1 - Korrodi & Theriaga (retratos publicados no periódico "Leiria IIlustrada",
Ernesto Korrodi encontra-se a direita, e José Theriaga a esquerda)
no ano seguinte, quando foi chamado a Portugal. Da Escola Industrial
Bartolomeu dos Mártires, em Braga, Ernesto Korrodi passou, em 1894, para
a Escola Industrial Domingos Sequeira, em Leiria, instituição da qual viria a
ser, mais tarde, o director'.
Ernesto Korrodi desenvolveu actividade paralela ao ensino, especial
mente como arquitecto, e ainda como empreiteiro. Aliás, desde 1900 e até,
pelo menos, 1909, Ernesto Korrodi teve sociedade com o engenheiro militar
de Leiria, José Diogo Lopes da Costa Theriaga, a qual designava-se "Korrodi
& Theriaga, construtores".
A obra mais emblemática de Ernesto Korrodi em Leiria, construída pela
sociedade Korrodi & Theriaga, foi o edifício dos Paços do Concelho, cujo projecto
inicial (de Korrodi) remonta a 1899 e que demorou vários anos a concluir. Aquando
desta obra, Ernesto Korrodi terá encontrado dificuldades para adquirir matéria
prima, bem como para recrutar canteiros especializados. Chegou mesmo a CQ-
2 Sobre a obra de Ernesto Korrodi, em geral, veja-se: COSTA, Lucília Verdelho da - Ernesto Korrodi,
1889-1944: arquitedura, ensino e restauro do património, Lisboa, Editorial Estampa, 1997; OLIVEI
RA, Genoveva - Rota de Arquitectura Korrodi. contributo para o conhecimento da vida e obra do
arquitecto (1870-1944), Tese de Mestrado apresentada a Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa em 2006; e SANTOS, Regina Margarida - Ernesto Korrodi, Dissertação de Mestrado Integra
do em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2012.
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A oficina de cantarias de Ernesto Korrodi
locar anúncios para contratação de homens que trabalhassem em lioz e alvena
ria aparelhada, e para o fornecimento de pedra branca dos Carvalhos e do
Reguengo. Efectivamente, vieram artífices de fora de Leiria para realizar a obra
da nova Câmara, alguns dos quais abordar-se-ão seguidamente.
Foi em finais de 1905, perante as mesmas dificuldades, que Ernesto
Korrodi estabeleceu uma oficina de cantarias, de modo a executar mais facil
mente os trabalhos por ele concebidos e a satisfazer prontamente as, cada
vez mais frequentes, encomendas provenientes de fora de Leiria, nomeada
mente de Lisboa.
No "Leiria IlIustrada", n.? 51, de 28 de Dezembro de 1905, refere-se que
esta "vasta" oficina, então ainda em montagem, era pertença de Ernesto
Korrodi e do Capitão José Theriaga. Porque eram de grande qualidade os
seus projectos e desinteressadamente empreendia obras pelo progresso de
Leiria, a sociedade Korrodi & Theriaga foi localmente bastante elogiada na
época'. No caso do edifício dos Paços do Concelho, a demorada obra ficou
Fig. 2 - Interior da oficina Korrodi: um telheiro extenso e aberto, apoiado em pilares de tijolo.
Ao centro, vemos Emesto Korrodi com chapéu , segurando uma planta. Está provavelmente
acompanhado de seu filho Emesto Camilo Korrodi. Vêem-se alguns operários, e um carro de bois
que transporta um bloco de pedra. Várias pedras estão espalhadas, algumas já lavradas. Diversas
ferramentas também se podem ver, nomeadamente serras. Note-se o conjunto monumental do
castelo, antes das intervenções de restauro. Esta fotografia foi gentilmente cedida pela
D. Maria de Lourdes Bouhon Korrodi.
3 Leiria /Ilustrada, ano 1, n.v 13, 6 de Abril de 1905.
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até mais cara que o orçamentado, devido à subida dos preços da mão-de
-ob ra, não tendo exig ido Korrodi qualq uer compensação.
Os monumentos ao Marquês de Pombal (em Pombal) e ao Bispo D.
Manuel de Aguiar (Sé de Leiria) te rão sido executados na sua ofic ina de can
tarias, respectivamente em 1906 e 1907. Certamente, vários jazigos do Ce
mitério de San to Antón io do Carrasca l, em Leiria, fora m construidos nesta
sua oficina , ass im como outras ed ificações tumulares conceb idas por Ernesto
Korrodi para os cemit érios de Aveiro, Pombal, Mar inha Grande , Coimbrão,
Vil a Nova de Ourém, Bombarral e Lisboa, as quais são abordadas nu m outro
trabalho, do qual somos co-autores' .
A o ficina de ca ntarias e escultura de Ernesto Korrod i situa va-se na Rua
Mou zinho de Albuquerque, tend o sido fotografada por Soares Pinto em 1909' .
Julgamos que as duas fotografias que aqu i se publicam sobre esta oficina
são precisamente de 1909, talvez do refer ido fotógrafo.
Na oficina , eram executados trabalhos de ornato, modelados pelo pró
prio Ernesto Korrodi, respondendo a encomendas, não só de clientes da re
gião de Leiria, como de outras partes do pais. Porém, as dificuldades foram
muitas, sobretudo aquando da l' Grande Guerra. Numa interessante carta
ao seu amigo escultor, António Te ixeira Lopes, datada de 3 de Julho de 1919,
Ernesto Korrodi escreve':
«Me u mui illustre amigo. Por ter estado ausente, só hoje me é passivei
responder à sua estimada carta de 11 de Junho passado.
• QUEIROZ , Francisco / ALVES, Renata - A obra tumular de Ernesto KorrOdi (a publicar em 2015).
~ Leirie fIIustrede,n .o226.
6 ARQUIVO DA CASA-MUSEU TEIXEIRA LO PES, Cene e evu/ses de António Teixeira Lopes, n .o
1715. Note-se que a ligação de amizade de Ernesto Korrodi a António Teixeira Lopes era anterior amontagem da ofiCina de cantarias. Em carta de 16 de Janeiro de 1906, Ernesto Korrodi convidava
António Teixeira Lopes a executa r o busto de Frei Cae tano Brandão, destinado a um colégio de
Braga, obra de escatcra que havia sido encomendada ao próprio Korrodi por ~um amigo (. ..) eantigo
discipulo afeiçoada· . Porém, Ernesto Korrodi entendia que deveria ser um escultor aca démico a
executar a obra, justifican do-se deste modo a António Teixeira Lopes: "corno vé, (o encomen dador]
leva a sua admiração pelo meu talento ao ponto de me julga r competente de executar um trabalho de
estatuário pelo facto de saber mecher alguma coisa no barro-. Esta e outras cartas trocadas entre
Ernesto Korroot e António Teixeira Lopes foram já publicadas (Vd. PORTELA, Ana Marg arida - Al
guns aspecto s das relações entre Gaia e Leiria no século XIX, "Boletim da Ass ociação Cultural Ami
gos de Gaia ", n ,o53, Dezemb ro de 2001, p. 8-12). De uma delas , escma por Ernesto Korrodi em 25
de Nov embro de 1912, realçamos este lamento lapidar. · vivo aqui [em Leiria] sem recursos e rodea
do por uma sueiade saloios· .
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A oficina de cantarias de Ernesto Korrodi
As colunas que são do modelo das que antigamente lhe fornecia, ficam
hoje por um preço muito elevado, talvez mais caras que em granito, devido
aos excessivos jornaes e elevado custo da matéria prima, que aqui no sul
triplicou de há 6 anos para cá.
Preço de otticine de cada coluna - 11$50
Acondicionamento e frete á estação - 2$50
Total posto sobre vagon - 14$00
O acondicionamento, devido ao barbarismo como é tratada toda a mer
cadoria hoje em dia, é imprescindivel.
Como vê, o preço deve sorpriendel-o e naturalmente não lhe convirá. Sou
porém a diser-Ihe a titulo de informação que breve a minha ofticina vae soffrer
uma radical transformação, contando produzir este arligo e outros mecanica
mente e por preços sem competência. Será então ocasião de reatarmos as
nossas relações comerciaes há tanto ano interrompiaes. Aguardo entretanto as
suas estimadas ordens e com os meus amistosos cumprimentos sou
Amigo grato
Ernesto Korrodi».
Pode-se concluir, pois, que Korrodi era , além de arquitecto , modelador e
empreiteiro, também fornecedor de materiais de construção. Aliás, em 1912,
num cabeçalho, podíamos ler: «Ernesto Korrodi - Architecto. Fomecedor de
Cantarias em Calcário Brando e Lioz da Região de Leiria. Decoração,
Architectura civil e tunererieo', Em 1914, o seu papel timbrado já é ligeira
mente diferente: «Ernesto Korroai. Architecto e fornecedor de cantarias. Leiria».
Note-se que António Teixeira Lopes tinha o irmão, José Teixeira Lopes,
como dono de uma oficina de cantarias no Porto, sendo também arquitecto.
Portanto, o facto de António Teixeira Lopes ter recorrido a Ernesto Korrodi
para o fornecimento de cantarias indicia que um dos pontos fortes da oficina
de Ernesto Korrodi era o tipo de pedra que explorava e trabalhava, ou seja, o
calcário e o lioz da região de Leiria. Ernesto Korrodi não competia, pois,
directamente com outras oficinas, do Porto e, sobretudo, de Lisboa. Aliás, o
facto do mausoléu da família Burnay, em Lisboa, não ter sido feito com pedra
dos arredores de Lisboa, sugere a intenção de uma diferenciação, não só
pela monumentalidade, mas também pelo uso de materiais diversos daque
les que se viam nos outros jazigos dos cemitérios de Lisboa.
7 ARQUIVO MUNICIPAL DE LEIRIA, Processos de ObrasParliculares, 1912.
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Concretamente, sabemos que o aparatoso mausoléu da família Burnay,
no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, terá sido construído com mármore da
região de Leiria (lioz amarelo, rosa e mesclado), à excepção da cúpu la e abóba
das interiores (que se previa em tijolo com argamassa hidráulica e decorado
com estuques) e algumas partes estruturais em alvenaria hidráulica. Segundo a
respe ctiva memória descritiva, o apare lho seria de escoda e bujarda fina, con
trastando com as molduras, pilastras e capitéis, os quais seriam brunidos.
Korro di não terá chegado a operar a tal rad ica l transform ação na sua
oficin a, com a meca nização dos processos de trabalho. A liás, a oficina fecha
ria poucos anos depois da mencio nada carta de 1919. Porém, com este en
cerramento, não se sucedeu um vazio. Antigos trabalhadores da oficina Korrodi
terão continuado a trad ição das cantarias de om ato em Leiria por mais algum
tempo.
A lguns canteiros que estiveram lig ados à ofic ina de Ernesto Korrodi
Por volta de 1908, foram edi ficadas no Cemitér io de Santo Antóni o do
Carrascal, em Leiria, duas capel as tumulares desenhadas por Ernesto Korrodi :
a da famíl ia Serpa e a da famíl ia Tavares Alçada. Uma vez que Korrodi já
tinha então a sua oficina de cantarias, seria lógico que as ped ras para tais
capelas saís sem da dita oficina. Contudo, associado à construção destas
capelas funerárias, surge o nome do canteiro António Ferre ira. Por conse
guinte, supomos que A ntónio Ferreira (que já era canteiro antes de Ernesto
Korrodi ter chegado a Leiria, e cujos dados biográficos contamos publicar
oportunamente) trabalhasse então como mestre da of icina de cantaria de
Korrodi. De qualquer modo, a confirmar-se esta hipótese, tem os indícios de
que António Ferreira não esteve muito tempo ligado a Ernesto Korrodi'. Ainda
assim. podemos apontar o nome de vários canteiros que efectivamente tra
balharam na oficina de Emesto Korrodi .
Comecemos por Joaquim Maria da Costa (nascido por volta de finai s da
década de 1860 e falecido em Lisboa no início da década de 1940). Sabemos
que chegou a ter ofici na própria, como o comprova um jazigo-capela ainda do
século X IX existen te no Ce mitério de Soure (de Bernard o Carrete dos San-
• Aliás , é passiveiquetenha falecido poucos anosdepois. Antóni o Ferreira teveum filho quetambém
foi canteiro, com oficina própria pelo menos a partirde 1912-1913: José Ferreira da Assunção. É
pcssrvetque também tenha trabalhado anteriormente na oficina de ErnestoKorrodi.
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A oficina de cantarias de Ernesto Korrodi
na Figueira da Foz
em 1899 pela oficina Joaquim Maria da Costa & C.",
Fig. 3 - Cemitério de Soure: jazigo-capela executado
tos). Porém, constando
-lhe que se ia iniciara gran
de obra dos Paços do
Concelho de Leiria, para a
qual existia falta de mão
-de-obra especializada,
Joaquim Maria da Costa
abandonou o local onde
vivia (Buarcos - Figueira
da Foz) e veio para Leiria.
Isto terá sucedido por vol
ta de 1902, tendo Joaquim
Maria da Costa trazido o
seu irmão António e o fi
lho mais velho, também
canteiro, chamado José
Maria da Costa (nascido
por volta de 1892)'. A res
tante família ficou na terra
natal , só tendo ido para
Leiria quando Joaquim
Maria da Costa entendeu
que já estava bem estabe
lecido na cidade do Lis.
José Maria da Costa,
por sua vez, teve um filho
também canteiro:José Mo
reira da Costa, o qual gen
tilmente nos prestou escla
recimentos sobre os canteiros da geração do seu pai, e nos cedeu algumas
fotografias antigas, que aqui publicamos.
Numa primeira fase, José Maria da Costa trabalhou na obra dos Paços
do Concelho, juntamente com o seu pai. Depois, foram ambos trabalhar como
9 Joaquim Maria da Costa teve outro filho canteiro, Joaquim Maria da Costa Júnior, que foi residir
para Pêro Pinheiro, tendo trabalhado ao serviço da família de exploradores de pedreiras Pardal
Monteiro, onde se distinguiu como ornatista. Baseamo-nos no relato de José Moreira da Costa, neto
de Joaquim Maria da Costa.
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Cadernos de Estudos Leirienses - 3
Fig. 4 - José Maria da Costa casou primeiramente com uma senhora de nome Júlia, de quem teve
geração (embora tivessem falecido novos, tal como a mãe). Depois casou com Lavtnia do
Patrocínio Moreira (da Jardoeira - Batalha), da conhecida família de canteiros Patrocínio. Vemos
nesta fotografia o casal, juntamente com José Moreira da Costa, então com três anos
(fotografia tirada em 1925, cedida por José Moreira da Costa)
canteiros ao serviço da oficina de Ernesto Korrodi. Paralelamente, José Ma
ria da Costa foi estudar para a Escola Domingos Sequeira, onde terá sido
forçosamente aluno de Korrodi.
Segundo José Moreira da Costa, outros canteiros que então trabalha-
vam na oficina de Korrodi eram:
José Ferreira dos Santos e seus filhos: Jacinto Ferreira dos Santos
(que deixou de trabalhar como canteiro relativamente cedo), Manuel
Ferreira dos Santos (conhecido por Vinagre, pois era muito habilidoso,
embora inconstante, ao que parece tendo até sido preso por alegada
falsificação de moeda), David Ferreira dos Santos, e António Ferreira
dos Santos (conhecido por Teque, pois era um canteiro moldureiro).
Ainda segundo José Moreira da Costa, José Ferreira dos Santos já
era filho de canteiro, cujo nome não apurámos em tempo útil, e tinha
dois irmãos (Manuel e Júlio) que também o eram. Os Ferreira dos
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A oficina de cantarias de Ernesto Korrodi
Santos, em geral , eram conhecidos por Pitorros e bastante divertidos 10.
Francisco Rito e seu filho, André Rito dos Santos".
João de Oliveira.
Joaquim Nogueira (a quem os colegas chamavam "a canteira", por
verem nele um canteiro de menor capacidade).
É claro que terão trabalhado outros canteiros na oficina de Ernesto
Korrodi, até porque havia alguma circulação de canteiros entre oficinas. Tam
bém colaborou com a oficina Korrodi o desenhador Fernando de Barros San
ta-Rita, que, mais tarde, foi para a Bélgica estudar Arquitectura, tendo deixa
do em Leiria várias obras",Refira-se que, quando Korrodi se ausentava, a sua mulher, Quitéria Maia,
ficava a vigiar o trabalho dos canteiros a partir da janela da casa, pois a ofici
na era parcialmente a céu aberto e ficava muito próxima da casa de korroc!".
Segundo José Moreira da Costa, o seu avô Joaquim Maria da Costa não
colaborou especificamente em obras do Cemitério de Santo António do
Carrascal, até porque foi mais tarde trabalhar como canteiro em Lisboa14. Ao
contrário, seu pai, conhecido como o José Maria canteiro, deixou no Cemité
rio de Leiria alguns monumentos de oficina própria, já no segundo quartel do
século XX (como a capela n.? 97 e a sepultura perpétua n.? P742, que até
possuem a sua epigrafe de canteiro). De facto, quando a oficina de Ernesto
Korrodi fechou, José Maria da Costa abriu oficina própria (primeiramente na
Rua Direita e, mais tarde, no Arrabalde de Além). Ele próprio desenhava os
projectos para os jazigos que ia construir, conforme as indicações dos
encomendadores15. Curiosamente, já sem a sua oficina, Ernesto Korrodi con-
10 Segundo José Moreira da Costa.
11 André Rito dos Santos foi sócio da Associação dos Artistas. Pertenceu a Tuna União Lis e também
ao Orfeão Leiriense, estando retratado em duas fotografias conjuntas, dos inicios de 1920, publicadas
em CABRAL, J. -A música em Leiria, Leiria, Câmara Municipal de Leiria, 1986, p. 62, 148 e 283.
12 Femando Leitão de Barros Santa-Rita nasceu em Leiria em 1891. Era filho de António Augusto de
Barros Santa-Rita e de Amélia Adelaide da Silva Leitão. Faleceu em Lisboa em 1976.
13 Segundo José Moreira da Costa.
14 Porém , se trabalhou com Korrodi , Joaquim Maria da Costa terá provavelmente colaborado em
alguma obra de arquitectura funeràrta para o Cemitério de Santo António do Carrascal.
15 Agradecemos a José Moreira da Costa, por todas estas informações. José Maria da Costa era
sócio da Associação dos Artistas e pertencia a Tuna União Lis, formada precisamente por membros
dessa associação, em 1921. José Maria da Costa esta representado numa fotografia conjunta da
Tuna, publicada em CABRAL , J. -A música em Leiria, p. 148 (fotografia anexa) e 283 (legenda).
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Fig. 5 - Nesta fotografia de 1909 vê-se uma das entradas da oficina de Ernesto Korrodi,
engalanada com faixas, lendo-se "Officina" e "Korrodi", em duas delas. No portão, vê-se também
um compasso e outros símbolos profissionais (colocados para a fotografia). Afrente do portal,
vários operários da oficina apresentam-se com macetas e escopros. O mais à esquerda segura
um macaco (para levantar os blocos de pedra e os colocar na posição desejada, a fim de serem
lavrados). O mais à direita segura uma serra braçal. Podemos ver também dois pináculos
neogóticos e umas colunas. Aqui fica a identificação de alguns dos retratados: no extremo
esquerdo, sentado, está José Maria da Costa, logo ao seu lado, também sentado, temos André
Rito dos Santos. A maioria dos restantes retratados serão os canteiros que neste artigo
referenciamos como tendo estado ao serviço de Korrodi (nomeadamente, Joaquim Maria da
Costa, João de Oliveira e Francisco Rito). A oficina situava-se ao fundo da Rua Mouzinho de
Albuquerque, onde ainda existem vestígios deste e de um outro portal de entrada. Esta fotografia
foi gentilmente cedida pela O. Maria de Lourdes Bouhon Korrodi.
tinuou a recorrer aos serviços de José Maria da Costa, como no caso da
Igreja do Santíssimo Sacramento (situada na Rua Guerra Junqueiro, no Por
to), um dos últimos projectos de Ernesto Korrodi, em que várias oficinas exis
tentes então em Leiria foram contratadas para executar as cantarias, por se
tratar de uma obra de grande dimensão.
Muito fica por referir sobre a oficina de Ernesto Korrodi , até porque muito
ficou também por apurar sobre este assunto. Apenas a título de exemplo,
houve um outro canteiro com ligação a Ernesto Korrodi , o qual, ao invés de
Korrodi, começou a sua actividade profissional pelas cantarias e ficou depois
conhecido como arquitecto. Referimo-nos a Augusto Romão (filho do emprei-
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A oficina de cantarias de Ernesto Korrodi
teiro José Pereira Romão e aluno de Ernesto Korrodi na Escola Industrial
Domingos Sequeira), que tanto nos surge como colaborador de Ernesto Korrodi
- embora não propriamente em ambiente de concórdia 16 - como seu concor
rente. Aliás , a oficina de Augusto Romão é anterior à de Ernesto Korrodi. Por
volta de 1910, as duas principais oficinas de cantaria em Leiria seriam preci
samente a de Augusto Romão e a de Ernesto Korrodi. Porém, a primeira vez
que José Maria da Costa nos surge referenciado num projecto de obras apre
sentado à Câmara de Leiria , é em 1911, sendo entâo dado como mestre de
uma obra cujo projecto é atribuível a Augusto Romão. Ora, nesse mesmo
ano, José Maria da Costa talvez trabalhasse na oficina de Ernesto Korrodi.
Fig. 6 - Retrato tirado durante uma excursão dos alunos da Escola Industrial Domingos Sequeira,
a Alcobaça, em Junho de 1909. Para além de Ernesto Korrodi, facilmente identificável no centro do
grupo (de bigode e pêra, casaca clara e gravata escura), podemos identificar mais algumas
pessoas, graças à ajuda de José Moreira da Costa, a quem também devemos a publicação desta
interessante fotografia. Assim, no último plano, temos o canteiro José Maria da Costa (o segundo a
contar da esquerda) e, imediatamente à direita, o canteiro João de Oliveira, estando logo a seguir
o sapateiro Felizardo. No penúltimo plano, logo abaixo de João de Oliveira e quase escondido por
um chapéu, temos o canteiro André Rito dos Santos. No mesmo plano, mas do lado oposto , tendo
logo atrás um rapaz de casaca clara e logo à frente (mas um pouco mais à esquerda) uma
rapariga com pomposo chapéu, encontramos o desenhador Fernando de Barros Santa-Rita. Nesta
fotografia podemos identificar também o continuo da escola, Guiomar (a figura mais à direita)
e o guarda da escola (a figura mais à esquerda).
16 Segundo José Moreira da Costa.
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Cadernosde Estudos Leirienses - 3
De facto, em 1912, no projecto de Korrodi para a casa de José Gaudêncio
Barreto (que inclui o famoso arco) surge a seguinte anotação a lápis: «José
Maria , Rua Mouzinho d'Albuquerque». Por outro lado, também nesse ano de
1912, Ernesto Korrodi fez o projecto para a casa de habitação do próprio
José Maria da Costa, a situar-se num terreno de Ernesto Korrodi na Rua
Mouzinho de Albuquerque . A confusão entre as oficinas de Augusto Romão e
de Ernesto Korrodi também deriva do facto de aque la, em 1900, se situar na
Rua Mouzinho de Albuquerque , provavelmente ao fundo da rua, pois sabe-se
que, em 1902, a oficina de Augusto Romão pontuava junto à vivenda da famí
lia Korrodi" . Por conseguinte, a oficina de Ernesto Korrodi viria a ficar locali
zada junto à de Augusto Romão.
17 CABRAL, J. - Anais do Municipiode Leiria, Leiria, Câmara Municipal de Leiria , 1993, vot. I, p. 95.
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