A nova ciência das organizações
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ALBERTO GUERREIRO RAMOS
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A NOVA CIÊNCIADAS ORGANIZAÇÕES
Uma reconceituação dariqueza das nações
Tradução deMARY CARDOSO
Jill^üii CsauarSõ Jfiorcno fOiioaESTATÍSTICO
FGV-Instituto de DocumentaçãoEditora da Fundação Getulio Vargas
Rio de Janeiro, RJ — 1981
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„ dar ao rascunho deste livro sua forma presente. Beverly Harwick da-^íôVetíe texto esou reconhecido àsua alerta diligencia. Gostaria2X£ df«iSn£ aqui omeu carinho por duas adoráveis cnaturas,
Í^Ttudí aue se foi para sempre, eCochese, alegres efiéis^ZZZ£^o^ companheiros das minhas solitáriash0n,S Finalmente! minha permanência na Wesleyan University enaYale University, como professor visitante econfrade visitante, respectivamente por ocasião da licença especial para estudos que me foiconcedida pela USC no ano acadêmico de 1972/73, representou umaauspiciosa oportunidade para que eu clarificasse aforma deste livro. Oprocesso de revisão da Editora da Universidade de Toronto, sob adireção de R. I- K. Davidson, foi de inestimável valor para aarticulação demeu trabalho. As críticas ao esboço original, que recebi dos leitores daEditora daUniversidade deToronto, contribuíram decisiva e generosamente para aconfiguração easubstância finais do livro.
Aresponsabilidade pelo que no livro se contém, é claro, cabea mim.
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PREFACIO
Neste livro, apresento o arcabouço conceituai deiwm novaciência das organizações. Meu objetivo écontrapor um modjlo jejuiá-
SãfifiSmpàmSSj aadrnuu>Uaçãoj>ubbçajioi_ult^pjJP^:_LtSõTTmPten^rais,que uma_ teoria da «P°"^**£dTnolnlfciaò-liloTipUcável atodos mas apenas aum ripe e^cialde atividade. Aa-pücação de seus princípios atodas ^íormfJ^vidade está dificultando aatualização de possíveis novos sistemas^so-S, necessários àsuperação de dilemas básicos de «"*££Argumento ainda, que omodelo de alocação de mao-de-obra ede re-ÍSTmSí na teoria dominante de organização, nãojeva ern
"•con^ as exigências ecológicas , não_se_vincula,.portanto, k. estígiQconlen^p^anVlaTcip-acidades de ^S^^f^Tlque amaneira pela qual éensinado omodelo JM^**"»*desastrosa, porque não admite explicitamente sua limitada utüidade******* usando aexpressão nova ciência das organizações em sentido amplo, eamesma inclui assuntos não apenas pertinentes asetorespresentemente rotulados como administração pública eadministraçãoé!w£m privadas, mas também temas especificamente pertencentes ao campo da economia, da ciência política da ciência da fonnul.ção de políticas eda ciência social em geral. Assim sendo, damaneuacomo está concebida neste livro, anova ciência das orgaruzações édm-SE aproblemas de ordenação dos negócios sociais epessoais numamicroperspectiva, tanto quanto numa perspectiva mi"°-
De um modo geral, o enriao e otiemajnento oferecidos aosestudantes, não apenas nas escolas de administração publica edejuta*rüsFaçfcTde empresas, mas igualmente nos departamentos de ciênciasocial ainda são baseados nos pressupostos da sociedade centrada nomercado. Hoje é necessário um modelo alternativo de pensamento,ainda não articulado em termos sistemáticos, porque asociedade centrada em mercado, mais de 200 anos depois de seu aparecimento, está
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arando agora suas limitações esua influência desfiguradora da vida lr^ como um todo. Eéapenas tal forma de pensamento que esteUVK> NtocWÍtulo 1, tnto do conceito básico de toda ciência social -. razfo Amoderna ciência social não pode ser completamente explicada senão àluz da compreensão peculiar da razão que nela esta implícita Neste século, acrítica da razão moderna foi iniciada por MaxWeber e Karl Mannheim, que falharam, não obstante, quanto aencararconsistentemente a complexidade dessa razão. Mais recentemente,Eric Voegelin tentou avaliar a razão moderna do ponto de vista do legado clássico do pensamento e, por mais significativa que sua grandecontribuição possa ser considerada, pressupõe ela, contudo, um caráter restaurador que não está suficientemente qualificado. Mais ainda,deixa de prover anova ciência das organizações eda sociedade da perícia operacional e analítica exigida pelas condições históricas de nossotempo. Outra significativa linha de crítica é representada pela chamada Escola de Frankfurt que, mostrarei, ainda está carregada de modernas ilusões de cunho historicista.
Ocapítulo 2é uma crítica do modelo contemporâneo de ciênciasocial, do ponto de vista de um modelo alternativo que chamo deteoria substantiva da vidahumana associada, e queé calcado na distinção feita por Max Weber entre Wertrationaliíaí (valor ou racionalidadesubstantiva) e Zweckrationalitàt (racionalidade funcional) e naanálise,de Karl Polanyi, da sociedade centradano mercado.
Ocapítulo 3 conceitualiza asíndrome psicológica inerente àsociedade centrada no mercado e especifica seus traços principais, a saber: afluidez da individualidade, operspectivismo, oformalismo eo^>operacionalismo. Esclarece que enquanto oscidadãos, em geral, continuarem sucumbindo à persuasão organizada, às pressões e às influências que mantém tal síndrome em operação, haverá, na melhor dashipóteses, pouca oportunidade para uma transformação social revita-lizadora.
Nocapítulo4. sustento quea teoria da organização, como campo disciplinar, está perdendo o senso de seus objetivos específicos,pela tentativa de assimilar modelos e conceitos estranhos a seu domínio próprio. Em apoio desse argumento, examino exemplos de "colocação desapropriada" - misplacement —de conceitos demonstradospor tópicos em voga no campo da teoria da organização. Concluo ocapítulo 4 fazendo a articulação de alguns tópicos básicospermanentes do estudo científico de organizações formais.
O capítulo 5 apresenta o conceito da política cognitiva, e demonstra que a mesma constitui a mais importante dimensão oculta dapsicologia da sociedade centrada no mercado. A teoria da organizaçãonunca atingiu o stahis de uma disciplina científica porque seus pro-
XII
ponentes não têm apercepção de semelhante dimensão. A> eonadaorganização dominante épré-analítica, no sentido de quente0£*do dos negócios humanos na sociedade centrada no mercado^comouma premissa, sem se aperceber da extensão das^.d^sob^vas 0 capítulo trata, com minúcia, de três pressupostos nao articulados da presente teoria da organização, isto é, aM-W*"»»za humana com asíndrome comportamental.sta inerentej"°**«centrada no mercado, adefinição da pessoa como um detentor de emprego eaidentíficação da comunicação humana com acomunicaçãoinstrumental.
Ocapítulo 6expõe mj™'™ <*gos epistemològicos^ajeona
X^Tnr"elucidam que a presente teona organizacional, dejx^jiste
laJn and Socie.y, bem como no livro 0*^X^980)
para usar os referidos artigos.No capítulo 7, apresento um modelp multicéntrico dejmájise
dos sistemas sociais edo desenho_organizaçional que denomino- deli-mítação dos sistemas-lioaairTarmod^^Z^Zlrio peto ü=55a, 3áTOsa5^eo«^^gcr^vTo^núitiplõsl^dale". 0 capítulrJTc^nsUtui uma apresentação preliminar daquilo quecHãmõde paradigma paraeconòmico.• Alei d^^uifes^de^os3>presentada no capitulo 8como unTtópico fundamental da nova ciência das organizações. E*aLdoomL*^^çao^sencial de qualqueT sociedade, que_deve_ter respostas para as ne:
capítulo sustento que^a um desses sistemasjoc.aiTletermma osprfe^uisitoT^^^n.T^gr^rnTWlise da tecnologia, do tamanho, dlpercepçao, doespaço e do tempo dossistemasjociais^
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No capítulo 9, tento mostrar as impücaçõesjolítjc^iio^-Higrn, paraeconômico. Aessa altura, àtmno que adjlirnjt^o^
orgarn^õn^na^deElclaTe^titp^dr^^d™braVdeIeçuisõI^^-l^e^iin^TIvnrconrum sumário oorFru^rn^un^amentmda nova ciência das organizações e indicando o rumo geral de sua
^endOseifTclpi3tulos deste livro constituem uma unidade orgânica edevem ser lidos na seqüência em que estão apresentados; de outra maneira, oleitor perderá aspectos fundamentais de seu desenvolvunentoteTrico Isso é particularmente verdadeiro em relação ao ultimoSSSo, mquePse tornam evidentes as minhas diretrizes política, efilosóficas. Ocapítulo não pode ser compreendido, se for lido comouma peça autônoma. _ , .
Aprocura da nova ciência das organizações vem ocorrendo desde algum tempo, constituindo um esforço gradativo, empreendido.porgrande número de estudiosos. Este livro aprove, amuito da atividadecriadora de tais especialistas, mas começa amoldâja num corpo abran-gentede conhecimentos.
XIV
PREFÁCIO DA EDIÇÃO BRASILEIRA
Oleitor brasüeiro deste livro deve sempre levar em conta que= ele
sú^bstitujçãojõTumaji^^ verificará quels^
SSSSSRSSSwSnSSfera sociedade,
SssssSSsrSSSSaSNo mundo contemporâneo, os EUA sao a mais •asociedade centrada no mercado. Por conseguinte éa, ^«™»™vai-se tomando mais consciente do efeito deculturativo do mercaao Eve*to?aue não vem ao caso relatar aqui levaram-me aresidir nosEUA desde ^66 Nos últimos três lustros, aproblemática norte-americana tanto nosseus aspectos acadêmicos como naqueles pertinentes
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Mdomínio dos afazeres cotidianos, tem sido parte central de minharife Este livro destüa essa intensa experiência. Em vanas de suas pas-noens éevidente que minhas elaborações conceituais sao largamenteafetadas por incidentes típicos da vida norte-americana. M^s^pjnodelodc sociedade que Ajwva_çiên£ÍíL^^^ Í* constitui,o desenhoeJ^tf^Hal decjescente"número de mdryiduos^mjodp o.mundo. NosEÜXTmmãrérde pessoas estão sistematicamente vivendo como se omercado fosse apenas um lugar delimitado em seu espaço vital. EstaJ.*uma revolução silenciosa que embora nfo_faç_amançhetesnaimpren-^^^^^^^^^^r^x^jo^ij^^^iojuturo, isto é, apráxis de emergente modelo de relações entre os indivíduos, e entreestes e a natureza. Em outras palavras, este modelo restaura o que asorié&ídecentiãai no mercado deformou ou, em parte, destruiu: oselementos permanentes da vida humana^
A categorização desse modelo emergente na práxis de minoriasem todo o mundo tem importância universal, pois constitui a referência magna da crítica da sociedade moderna, ede sua ideologia que, sobo disfarce de ciência, devários modos comanda o processo configurati-vo da vida dos povos, tanto nos países chamados capitalistas como noschamados socialistas.
Nos estudos que realizei no Brasil antes de radicar-me nos EUAjá eram perceptíveis as linhas mestras do pensamento sistematicamente articulado neste livro. Ao leitor interessado em verificar a progressão desse pensamento dirijo as considerações finais aseguir.
Nos meus estudos publicados noBrasil desde 1951 encontram-seanálises da ciência social européia e da norte-americana, bem como domarxismo edo paramarxismo [veja Introdução critica àsociologia brasileira (1957), OProblema nacional do Brasil (1960), ACrise do poderno Brasil (1961), Mito e verdade da revolução brasileira (1963)]. Particularmente significante na minha trajetória intelectual é AReduçãosociológica, cuja primeira edição é datada de 1958. No prefácio da segunda edição deste livro (1965) sublinhei otríplicejentido da reduçãoso^ológjca.jjaber: a) atitude imprescindível àassjmilação_ciítica_daciência e da cultura importadas; l-j adestramento cultural sistemáticonecessário para habilitar o individuçLaje^tir_àjnassificaçãojie suaconduta e às pressões sociais organizadas; c) superação da ciência so-ciáTnos moldes institucionais é universitários emqueseencontra.
Na edição de 1958, ARedução sociológica tratou principalmente da mesma em seu primeiro sentido. Posteriormente, afim de ressaltar o segundo sentido da redução sociológica, sugeri a categoria dehomem parentético, em Homem-organizaçãoe homem-parentético, capítulo de Mito e verdade da revolução brasileira, eem Models of manand administrative theory, artigo publicado no número demaio/junhode 1972 da Public Administration Review.
XVI
Este livro éresultado de minhas pesquisas sobre aredução***>lneica no terceiro sentido. Otema já tinha sido esboçado em meu esto°o8d MM! >tual da sociologia, que constituiog^.
vZJn?o(\966) minhas anájiswjtoç^ncrit^^
oJeitoLencontrará neste livro. nrnAuin a- cerca deANova ciência das organizações é, ^gf^JZ?"30 anos de pesquisa ereflexão. Mas ele não articula tudo aquilo emção da proposta de trabalho teónco eoperacional, que esperomar durante o resto deminha vida.
Alberto Guerreiro RamosLosAngeles, 1980
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SUMARIO
Agradecimentos IXPrefácio XIPrefácio daedição brasileira XV
1. Crítica da razão moderna e sua influência sobre a teoria daorganização 11.1 A razão como cálculo utilitário de conseqüências 21.2 Aresignação eos pontos de vista de Max Weber sobre a
racionalidade 41.3 Avisão limitada de racionalidade de Karl Mannheim 61.4 A teoria críticada escola de Frankfurt 81.5 Otrabalho derestauração deEric Voegelin 751.6 Alguns comentários críticos 191.7 Conclusão 22Bibliografia 23
2^Norumo de uma teoria substantiva da vida humanaassociada 252.1 Amoderna transavaliação do social 282.2 Ordenamento político e sociedade 332.3 A dicotomia entrevalores e fatos 372.4 Aciência social como uma ideologia serialista 392.5 Da ciência social cientística 422.6 Conclusão 45Bibliografia 46
3l A síndrome comportamentalista 503.1 A fluidez da individualidade 533.2 Perspectivismo 573.3 Formalismo 593.4 Operacionalismo 623.5 Conclusão 67
Bibliografia 67
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4 Colocação desapropriada de conceitos eteoria da organização 6941 Traços fundamentais da formulação teórica 69
Adeslocação transforma-se em colocação inapropnada 71Ailusão da autenticidade corporativa 72Aalienação mal compreendida 72Sanidade organizacional, uma denominação incorreta /oPessoas e modelos desistemas 79Conclusão 82
Bibliografia 83
Política cognitiva - apsicologia da sociedade centrada nomercado 865.1 Política cognitiva, uma digressão histórica 87
Apolítica cognitiva easociedade centrada no mercado 90Uma visão paroquial da natureza humana 930 alegre detentor de emprego, vítima patológica dasociedade centrada no mercado 98
5.5 Apsicologia da comunicação instrumental 1085.6 Conclusão 114Bibliografia 115
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5.2
5.3
5.4
6. Uma abordagem substantiva da organização 1186.1 Tarefa 1- aorganização como sistema epistemológico 1186.2 Tarefa 2- pontos cegos da teoria organizacional
corrente 120Reexame danoção de racionalidade 121Peculiaridade histórica das organizações econômicas 123Interação simbólica e humanidade 126Trabalhoe ocupação 129Conceptualização de uma abordagem substantiva daorganização 134
6.8 Conclusão 136Bibliografia 138
7. Teoria dadelimitação dos sistemas sociais: apresentação de umparadigma 1407.1 Orientação individual e comunitária 1407.2 Prescrição contraausência de normas 1437.3 Conceituação das categorias delimitadoras 146Bibliografia 153
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8. Alei dos requisitos adequados eodesenho de sistemassociais 155Bibliografia 173
9. Paraeconomia: paradigma emodelo multicêntrico dealocação 177Bibliografia 191
10. Visão geral eperspectivas da nova ciência 19410.1 Aciência social convencional 19410.2 Aorganização resistente 198Bibliografia 201
índice analítico 203
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^ assim, aojd^rsu^i^^ Mais ainda^vldadantítona psique^KulnãhTéTa-êTiciridTíon^^a realidade que resistia asuanrÓDria redução aum fenômeno histórico ou social.P PNos trabalhos deVHobbe> a"razão moderna" e. pela primeiravez clara esistematicamentearticulada, eaté hoje sua influencia naodesap receu. Definindo arazão como uma capacidade que oindivíduoadqíi "pelo esforço" (Hobbes. 1974, p^ 45) eque ohabd.tjj^/fcj?mais do que fazer o"cálculo utilitário de conseqüências TttobbesT1974 o 41) Hobbes pretendeu despojar a razão de qualquer papelnormativo no domínio da construção teórica eda vida humana associada. Numa obra em que tenta levar acabo oseu propósito diz ele:"A filosofia civil" é "não mais velha... do que meu livro De Ove(Hobbes, 1839, p. IX).
De acordo com Hobbes. parece que o termo racionalidade eagora geralmente empregado por leigos, tanto quanto pelos c.ent.stas sociais segundo uma feição enganadora, que, todavia, não ma.s reflete otipo'de indagação consciente empreendido por Hobbes. esim profunda desorientação. As enganosas implicações de que ora se reveste o termo precisam ser identificadas pelo que realmente são. Ja que. em nossos dias a racionalidade assume com freqüência conotações antiteticasrelativamente aos propósitos fundamentais da existência humana aanti-racionalidade sem qualjficação transformou-se numa_dasjeses de_àTgmTS-TnTTlè-eTicãrar^^ No entanto,quando se examinam suas intenções, percebe-se que a deles e umacausa errada Suas intenções podem ser boas, mas seu objetivo esta enganosamente mal colocado. Aracionalidade por que se batem e, narealidade, a distorção de um conceito-chave da vida individual eassociada.
A transavaliação da razão - levando à conversão doconcreto noabstrafõTã^ bom no funcional, e mesmo do ético no não-ético - caracteriza o perfil intelectual de escritores que tém tentado legitimar asociedade moderna exclusivamente em bases utilitárias. Uma das tesesprincipais deste livro consistirá em assinalar que, quando comparadacom outras sociedades, a sociedade moderna tem demonstrado umaalta capacidade de absorver, distorcendo-os, palavras e conceitos cujosignificado original se chocaria com o processo de auto-sustentaçaodessa sociedade. Uma vez que a palavra razão dificilmente poderia serposta de lado, por força de seu caráter central na vida humana, asociedade moderna tornou-a compatível com sua estrutura normativa.Assim na moderna sociedade centrada no mercado, a linguagem distorcida tornou-se normal, e uma das formas de criticar essa sociedadeconsiste na descrição de sua astúcia na utilização inapropriada do vocabulário teórico que prevalecia antes de seu aparecimento.
Com o intento de preparar o caminho que levará a uma novaciência das organizações e da sociedade como um todo, livre de desfi-
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^««Amico das sociedades industriais desenvolvidas tem sido uma con-SSSTuíInS-v. aplicação das ciências naturais. No entanto, aSSade manipuladora de tais ciências não constitui necessanamen-Z uma indicação de sua sofisticação teórica. Assim, de acordo comHÚsserl na medida em que essas ciências admitem como evidente porsi mesmo otipo pré-refletivo da vida cotidiana ficam elas "no mesmonível de racionalidade das pirâmides do Egito (Husserl, 1965, p. 186).
Em outras palavras, as ciências naturais do Ocidente nao se fundamentam numa forma analítica de pensamento, já que se viram apanhadas numa trama de interesses práticos imediatos. É isso, talvez, oque Husserl quis dizer com a afirmação: "Toda ciência natural éingênua, relativamente a seu ponto de partida. Anatureza, que irá investigar,'está simplesmente à disposição dela para isso" (Husserl, 1965,p. 85). No fim de contas, as ciências naturais podem ser perdoadas porsua ingênua objetividade, em razão de sua produtividade. Mas essa tolerância não pode tervez nodomínio social, onde premissas epistemo-lógicas errôneas passam a ser um fenômeno cripto-político - quer dizer, uma dimensão normativa disfarçada imposta pela configuração depoder estabelecida.
O presente capítulo é uma tentativa de identificação da episte-mologia inerente na ciência social estabelecida, de que a atual teoriaorganizacional é um derivativo. Meu principal argumento é que aciência social estabelecida também se fundamenta numa racionalidade instrumental, particularmente característica do sistema de mercado. Concluirei o capítulo indicando o assunto principal do capítulo 2: umconceito de racionalidade mais teoricamente sadio, quer dizer, uma racionalidade substantiva, que ofereça a base para uma ciência social alternativa, em geral, e para uma nova ciência das organizações, emparticular.
1.1 A razão como cálculo utilitário de conseqüências
No período moderno) da história intelectual do Ocidente, quecomeçou noléciiIõ"XVII e continua até os nossos dias, o significadopreviamente estabelecido daquelas pilavras que constituem uma linguagem teórica fundamental mudou drasticamente, numa direção determinada. Nos trabalhos de homens como Bacon e Hobbes, escrevendo no clima cultural do século XVII, é evidente que o significado dotermo razão (assim como de outros termos tais que ciência e natureza)já era peculiar, enquanto refletia um universo semântico sem precedente.
No sentido antigo, como será mostrado, a razão era entendidacomo força ativa na psique humana que habilita o indivíduo a distinguir entre o beme o mal,entre o conhecimento falso e o verdadeiro e,
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«mradá linguagem teórica, examino rapidamente, nos parágrafos seguintes, aavaliação crítica da razão moderna, empreendida por algunsdos mais eminentes estudiosos contemporâneos.
1.2 Aresignação eos pontos de vista de Max Weber sobre aracionalidade
Quando Max Weber iniciou seu trabalho acadêmico, avelha noção de razão já tinha perdido a/€õnòt^çapjiojTnauy>> que sempre tivera, como referência para a ordenação dos negócios pessoais e sociais.Por um lado, de Hobbes a Adam Smith e aos modernos cientistas sociais em geral, instintos, paixões, interesses ea simples motivação substituíram a razão, como referência para a compreensão e a ordenaçãoda vida humana associada. Por outro lado, sob a influência do Ilumi-nismo, de Turgot a Marx, a história substituiu o homem, comoportador da razão. Contra tal situação, Max Weber permanece como umafigura solitária. Rejeitou tanto o rude empirismo britânico e o naturalismo dos cientistas sociais, quanto o determinismo histórico,principalcaracterística de influentes pensadores alemães. Uma clara indicaçãoda conotação polêmica da obraacadêmica de Weber estáemsua tentativa de qualificar a noçãode racionalidade.
Max Weber é descrito, freqüentemente, como verdadeiro crentena insuficientemente qualificada excelência da lógica inerente à sociedade centrada no mercado. No entanto, uma leitura cuidadosa desua obra justifica diferente avaliação de seu pensamento, a propósitodo assunto. Ele escreveu muito sobre o mercado como a mais eficienteconfiguração para o fomento da capacidade produtiva de uma nação epara a escalada de seu processo de formação de capital. Mas, aovoltar-se para o mercado e para sua lógica específica, é evidente quenenhum fundamentalismo mancha sua investigação. Em outras palavras, não era um fundamentalista, no sentido de que explicava omercado e sua lógica específica como constituindo a síndrome de umaépoca singular: a história, segundoele, não iria encerrar seu curso como advento dessa época. Focaliza esses assuntos do ponto de vista daanálise funcional e, na realidade, merece ser considerado o fundadorda análise funcional. Autores modernos, como, por exemplo, AdamSmith, negligenciam o caráter precário da lógica de mercado, enquanto Max Weber a interpreta como um requisito funcional de um determinado sistemasocial episódico. AdamSmith procedeucomo um fundamentalista, visto como exaltou a lógica do mercado como um ethosda existência humana em geral. MaxWeber, porém, descreve essa lógica (da qual a burocracia é umadasmanifestações) comoum complexoeurístic^ em afinidade com uma forma peculiar de sociedade - oca-1
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V"Os defensores extremados dó livre-comércioi.. concebiam (a economia pura) como um retrato adequado da realidade natural. istoé darealidade nãoperturbada pela estupidez humana - e prosseguiamvisando a estabelecê-la como um imperativo moral, como um válidoideal normativo - enquanto que ela é apenas um tipoconveniente, aser usado naanálise empírica" (Weber, 1969, p.44).
Ojulgamento que Max Weber fez do capitalismo e da modernasociedade de massa foi essencialmente crítico, apesar de parecer lauda-tório. Chocava-se ante a maneira pela qual tal sociedade fazia a reavaliação do significado tradicioriaUaracionalidade, processo que intimamente lamentávãrèmbõrãrfenha deixado dedíretamente confrontá-lo.Muito embora Weber se tenha recusado a basear sua análise sobre a indignação moral, como fizeram outros teóricos, de forma notável, éumerro atribuir-lhe qualquer compromisso dogmático com a racionalidade gerada pelo sistejrja^rjLtalista, Adistinção que fez, entre Zwckra-rionalitàt e Wertrationalitat - e que. é verdade, algumas vezes minimiza - constitui, possivelmente, uma manifestação do conflito moral emque se sentia com as tendências dominantes da moderna sociedade demassa. Cqmo-4-amplamente sabido, ele salientou que a racionalidadeformal)e fastrumentiu) (Zwcekrationalitat) é determinada por uma expectativa de resultados, ou "fins calculados" (Weber. 1968, p. 24). Aracionalidade substantiva, ou de(tàor^WertrationaIitàt). édeterminada "independentemente de suas expectativas de sucesso" e não caracteriza nenhuma ação humana interessada na "consecução de um resultado ulterior a ela" (Weber, 1968, p. 24-5). Nessa conformidade, Weber descreve a burocracia como ejn^enhad^jnijunções racionais^ nocontexto peculiar de uma sociedade capitalista centrada no mercado, ecuja racionalidade é funcional e não substantiva, esta última constituindo um componente intrínseco do ator humano.
Sob fundamento algum é possível considerar-se Max Webercomo um representante dafracionalidade burgueji^tima vez que eleencarava esse tipo de racionalidade com evidentédesinteresse pessoal.Aqueles que afirmam o contrário identificam inadvertidamente suasobservações ad hoc com sua posição pessoal, em termos gerais, damesma forma que deixam de perceber a tensão_espiritual que sublinhou seus esforços para investigar,«ne ira ac studkyz temática de suaépoca. Na verdade, ele foi incapaz dTrèlolveTCfsãtensão empreendendo uma análise social do ponto de vista da racionalidade substantiva.
De fato, a Wertrationalitat é apenas, por assim dizer, uma nota de
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rodapé em sua obra; não desempenha papel sistemático em seus estudos. Se o fizesse, a pesquisa de(Weber\teria tomado um rumo completamente diferente. Escolheu ele íresignação (isto é. a neutralidade emface dos valores, não aconfrontação^como posição metodológica, emseu estudo da vida social. Contudo, essa resignação nunca o desorientou, transformando-o em um historicista radical. De modo significativo, considerava "auto-enganadora" qualquer posição que "afirmeque através da síntese de vários pontos de vista partidários, ouseguindo uma linha intermediária aos mesmos, seja possível chegar-se a normas práticas de validade cientifica" (o grifo é do original) (Weber.1969, p. 58). Seu historicismo foi mantido cmequilíbrio pelo forte sentimento pessoaldefinitude dos conceitos científicos, emcomparação
^çom a "corrente infinitamente multiforme" (Weber. 1968. p. 92) darealidade.
O funcionalismo qualificado de Max Weber tem sido mal compreendido por alguns de seus intérpretes, e mesmo pelos que se auto-proclamam seus seguidores. Um caso a assinalar é Talcott Parsons. cujaobra, ao que parece, sofreu a influência de Max Weber. Parsons mostrapouca ou nenhuma ambigüidade moral em relação à racionalidadeimanente ao sistema de mercado. À luz de seu modelo dogmático deanálise estrutural e funcional, do qual extrai sua noção de "variáveis-padrão" e "universais-evolutivos"! os requisitos específicosda sociedade capitalista avançada tornam-se padrões dogmáticos para a ciênciasocial comparativa, e mesmo para a própria história.
1.3 A visão limitada de racionalidade de Karl Mannheim
Éóbvio que Karl Mannheim se apoia em Max Weber para estabelecer uma distinção entre racionalidade substanciai ejuncional. Defineracionalidade substancial como "um ato de pensamento que revelapercepções inteligentes das inter-relações de acontecimentos, numasituação determinada" (Mannheim. 1940, p. 53) e sugere que atosdessa natureza tomam possível uma vida pessoal orientada por "julgamentos independentes" (Mannheim, 1940. p. 58). Essa racionalidadeconstitui a base da vida humana ética, responsável. A racionalidadefuncional diz respeito a qualquer conduta, acontecimento ou objeto,na medida em que este é reconhecido como sendo apenas um meio deatingir uma determinada meta. A influência ilimitada da racionalidadefuncional sobre a vida humana solapa suas qualificações éticas.
Tal distinção, portanto, é estabelecida para propósitos éticos e,na verdade, Mannheim sublinha o fato de que a racionalidade funcional "tendea despojar o indivíduo médio" (Mannheim. 1940, p. 58)desua capacidade de sadio julgamento. Ele vê um declínio das faculdades
1 Veja Parsons, Talcott (1962 1964).
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>de crítica do indivíduo, na proporção do desenvolvimento davindus- (
cSatefe) Sugere, também, que embora a racionalidade funcionalteflhTeStído em sociedades anteriores, estava nelas restrita aesferaslimitadas Na sociedade moderna, porém, tende a abranger atotalidade da vida humana, não deixando ao indivíduo médio outra escolhaalém da desistência da própria autonomia e"de sua própria interpretação dos eventos, em favor daquilo que os outros lhe dão" (Mannheim,1940, p. 59)- Seu livro Man and society in an age ofreconstruetion éuma indagação sobre a maneira de proteger a vida humana contra acrescente expansão da racionalidade funcional. Mannheim alega quetodo aquele que deseje ser coerente com adistinção entre os dois tiposde racionalidade precisa compreender que umjltograu de desenvolvi- ^mento técnicoxecoriômico_riQdíçpjnisp^ridjr^^paixodesenvolvi-mento ético. Vale a pena salientar esse ponto, porque há autores deorientação positivista que parecem admitir a validade da distinção,sem se aperceberem, aparentemente, das conseqüências éticas dessadistinção.
Adistinção que Mannheim faz não sugere que aracionalidadefuncional deva ser abolida do domínio social. Estipula, antes, que umaordem social verdadeira e sadia não pode ser obtida quando ohomemmédio perde a força psicológica que lhe permite suportar a tensãoentre aracionalidade funcional e a substancial e por completo se rendeàs exigências da primeira. Tal situação éagravada quando aqueles queestudam oprocesso formativo de decisões descuram da tensão existenteentre as duas racionalidades. Através da abordagem do processo formativo de decisões de um ponto de vista puramente técnico e pragmático, aceitam a racionalidadejuncional comoo padrão fundamentalda vida humana.
Aparentemente, aanálise empreendida por Karl Mannheim adotou uma posição confrontativa, no sentido de que reflete aânsia libertária do autor para encontrar meios de modificar o estado atual dassociedades industriais. Na realidade, ele não tirou, inteiramente, asconseqüências da distinção que fez. Seu ecletismo relacionahsta, peloqual pretendeu integrar todas as principais correntes da ciência socialcontemporânea, acabou por deixá-lo desnorteado. Nem apreocupaçãode Mannheim com a liberdade humana o salvou da perplexidade intelectual O esforço classificatório que desenvolveu, na avaliação ecomentário de descobertas feitas no campo da ciência social convencional nunca lhe permitiu, realmente, chegar aum conjunto coerentede diretrizes teóricas. Por exemplo, nolivro Man and society inan ageofreconstruetion, são apresentadas uma análise aguda e observaçõesprecisas, mas no fim de contas ele não conseguiu desenvolver umconceito de ciência social em consonância com sua noção de racionalidade substancial.
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14 Ateoria critica da Escola de Frankfurt
Aracionalidade tem sido uma das preocupações centrais da chamada Escola de Frankfurt.2 Seus principais representantes, essencialmente, afirmam que, na sociedade moderna, a racionalidade se transformou num instrumento disfarçado de perpetuação da repressãosocial, em vez de ser sinônimo de razão verdadeira. Esses autores pre- \tendem restabelecer o papel da razão como uma categoria ética e,portanto, como elemento de referência para uma teoria critica dasociedade. Recusam, ao que parece, o pressuposto de Marx de que aracionalidade é inerente à história, e que o processo da sociedade moderna, através da crítica dialética de si mesma, conduzirá à Idade darazão. Salientam que Marx não percebeu que, na sociedade moderna,as forças produtoras haviam conquistado seu próprio impulso institucional independente, assim subordinando toda avida humana a metasque nada têma ver com a emancipação humana.
O questionamento a que Horkheimer e Adorno submetem oconceito dejazãode Marx é uma conseqüência lógica de sua análise datradiçãoÇüurrn^ista) Encaram eles o Iluminismo como o momento emque o conhecimento daj^zãojoijeparado de sua herança clássjca^Deacordo comBõfRRêímer, há uma teoria de razão objetiva^oriunda dePlatão e Aristóteles e passando através dos êscolásticos e mesmo através do Idealismo alemão (Horkheimer, 1947, p. 41), que enfatiza osfins de preferência aos meios e as implicações éticas davida de razãopara a existênciahumana. Essateoria
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"... não focaliza a coordenação de comportamento e propósito, masconceitos - não importa o quanto nos pareçam hoje mitológicos- sobre a idéia do bem maior, sobre o problema do destino humanoe sobre a maneira de serem atingidos os objetivos últimos"(Horkheimer, 1946, p. 5).
Horkheimerconsidera implícitos nesse entendimento da razão os preceitos de ordenação da vida do homem.
No entanto, o Iluminismo transforma pensamento em matemática, qualidades ernfunçoes, conceitos em fórmulas, e a verdade emfreqüências estatísticas de médias. Em outras palavfasy-com o Iluminismo, "o pensamento se transforma em merátautologiay (Horkhei-
2 Sobrea históriada Escolade Frankfurt, vejaJay, M. (1973).
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mer 1947 P 97)3 Na perspectiva do Iluminismo, omundo 6escritoTfólíaímatlmática: ePo desconhecido perde seu »-cen *significado clássico, tomando-se alguma coisa relativa as capacidadesde cálculo disponíveis. Assim, Horkheimer eAdorno escrevem.
"A redução do pensamento a um aparelho matemático esconde asanção do mundo como seu próprio instrumento de mensuraçao. Oque parece ser otriunfo da ... racionalidade, asujeição da realidadetoda ao formalismo lógico, é pago pela obediente submissão da razãoao que é dado duetamente.^iejjib^^ção e aborda^enula_coim<xin^^-g~Hg^^ni^ yenha odia ..." ffloridietaet eAdorno.
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Apesar das proclamações "dialéticas" de Karl Marx, que pretendeu ter despojado oracionalismo do século XVIII de seus traços meca-nicistas seu conceito de razão está profundamente enraizado na tradição do'iluminismo, na medida em que ele acreditava que o processohistórico das forças de produção é racional em si mesmo e,portanto,emancipatório. Isso é uma üusão, afirma a Escola de Frankfurt, eHabermas, em especial, ocupa-se sistematicamente dessa questão.
A"liquidação" da razão "como um fator de compreensão ética,moral e religiosa" (Horkheimer, 1947, p. 18) não teria sido consumada no decurso dos últimos séculos, sem a concomitante desnaturaçaoda linguagem filosófica e da linguagem usada nos negócios humanoscomuns. Divorciando palavras e conceitos de seu respectivo conteúdo
"G"^meTe,eoCThoVrnem tornou-se menos dependente de padrões absolutos deconduta, de idéias vinculadoras em termos universais. Considera-se tao completamente livre que não precisa de nenhum padrão, exceto oseu propno. No entanto paradoxalmente, esse aumento de independência conduziu aum aumento paralelo de passividade. Sagazes como se tornaram as estimativas individuais noque se refere aos meios ao alcance do homem, aescolha que ele fez de seus fins,que anteriormente se correlacionavam à crença numa verdade objetiva, passou aser desprovida de argúcia: o indivíduo, expurgado de todos os resquícios de mitologias, incluindo a mitologia da razão objetiva, reage automaticamente, deacordo com os padrões gerais de adaptação. Forças econômicas esooaisjomam^o caráter dos CeWLttndgM naturais oue o homem, para_a_HejejyjCjg_dj.sj_mes^
-mc-TjTRísTaorninãr, ajustando-se a elas. Como resultado final do processo, te-mòhle-TiTinaTlcrrpèssoa, oegó abstrato despojado de toda asubstancia, excetode sua tentativa de transformar tudo que existe no céu e na terra em meios deautopreservação e,de outro lado, uma natureza vazia, degradada acondição demero material, mera matéria-prima a ser dominada, sem outro propósito que oda sua pura dominação pelo ser humano" (Horkheimer, 1947, p.97).
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(Horkheim
er,1947,p.22).
Horkheim
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Horkheim
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(Horkheim
er,1947,
p.22)._OJndjyiduojnoderno
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Emconseqüência,recusa-se
Horkheimer
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orkheimer,1947,p.47),na
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significadode
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indignaçãom
oraldianteda
modernização,ele
termina
y:^
olivroEclipsedarazãocom
aseguinteafirmativa:"Adenúnciadaqui-^
Ioque
éhoje
chamado
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maiorserviço
quea
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prestar"(Horkheim
er,1947,p.187).
—A
noçãode
racionalidadeé
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soberananos
trabalhosde(ííabêrm
aàSeu
interesseprim
ordialéa
construçãode
uma
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íTsociedade,como
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contráriode
Weber,
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sociedadesm
odernas.N
ocontexto
destecapítulo,parece
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asse
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nam
edidaemque
tratados
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ejaespecialm
ente,H
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(1947,p.141-2).
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conceitodeum
interesseracional,queembora
LrifSInolensamentopolíticogrego,passouasertemacentraldos
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daracionalidadeinstrumentalsobreassociedadesmodernas.4
^padronizaçãodacomunicaçãocomopontocentraldeumateonasoc^lintegrativa
crítica.Inclina-seele
porumaespécie
decrítica
"te^femi)m
ergulhanacorrenteprincipaldoIdealismoalemãooaraexanunaTaracionalidadedeunuponto
devistaenrico.Salen£C
nafiCfia
transcendentalde@)"já
apareceoconceitodeumJtereseTrazão"(Habermas,196Kp.198).A
razãopuranaobra
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tftem
ointeressepráticodeviraencarnar-senavidasoe«d.
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de^anamreza,podeiinduziranoçãodeum
bemaserprocurado
noTomTnioda'vidapessoal,tantoquanto
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deverexclusivamenteaosseresracionai?
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re^pen^eritõWs^tiirõ
temainteirodesuaCriticadarazãopZa?Contém
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dasociedade.Alémdisso,Kantéaraizdopensamentosoc.oló-
JcoSemio,deumaformaoudeoutra.Habermasapo.a-senaherança
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fica aracionalidade como oatributo essencial da consciência humanaesdarecida isto é, de uma consciência liberada do dogmatismo que deotário mfecciona todas as formasconhecidas de vida cotidiana.
Anoção de interesse <íogrittvo)tiansforma-se num instrumentocentral oara adistinção entie^àriõTtipos de ciência. Habermas os diferencia de acordo com os interesses orientadores de suas pesquisas, asaber- a) "ciências (ciências naturais) cujo interesse cognitivo e ocontrole técnico sobre processos objetificados"; b) ciências cujo interesse cognitivo é uma "preservação eexpansão da intersubjetividadeda possível compreensão mútua orientada para a ação"; c) ciênciassubordinadas ao interesse cognitivo emancipatório, isto é, que devemser consideradas como instrumentais na estimulação da capacidadehumana para a auto-reflexão e a autonomia ética (Habermas, 1968,p. 309-10).
O interesse orientador da pesquisa de uma teoria crítica dasociedade é aemancipaçjo_dojiomem. através do desenvolvimento desuas potencialidades de^to^rellexlfr. No entanto, no modelo da ciência social estabelecida, o controle técnico darealidade constitui o interesse básico, como orientador da pesquisa. Isso eqüivale a dizer que aciência social estabelecida tomou-se cientística. mediante a assimilação do método das ciências naturais (a este respeito, há mais no capítulo seguinte). Além disso, transformou-se ela num meio de legitimação do controle institucionalizado sobre omundo natural eacondutahumana. A eficiência no controle da realidade_ toma-se o critériocomum de validade, tanto nas ciências naturaisTquanto nas sociais, eHabermas preconiza uma ciência social conceituada em bases diferentes. Salienta que a"ciência do homem ... estende, de modo metódico,o conhecimento refletivo" e "reivindica ser um auto-reflexo doobjetointeligente" e "da história da espécie" em si mesma (Habermas, 1968,p.61-3).
Habermas vê-se como um continuador da teona marxista eadmite a possibilidade de uma teoria social crítica incorporadora decontribuição de Marx e liberada dos seus erros. Na realidade, ateoriamarxista é inspirada pelojnteresse emancipatório, partilhado pelo )^Vconceito da teoria social critica de HabermasTnõ~entanto, é precisoque seja introduzida uma correção fundamental na opinião de Marxsobre racionalidade e liberdade. Marx presumia que a liberdade e aracionalidade seriam resultados inevitáveis do desenvolvimento dasforças de produção. Habermas observa que tal pressuposto não foivalidado pela história e diz: "o crescimento das forças de produçãonão significa o mesmo que a intenção da boa vida" (Habermas, 1969,p. 119). Ofato é que, nas sociedades industriais,jjógica da racionali-dade mstrumental, que amplia tr~CõnIrole da nãtiíreza, ou seja, odesenvolvimento das forças produtora^ je_tornou a lógica da-vida-
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hunmaem^ral. Mesmo asubjetividade pnvada do ^^gpn^on^aaSacionalidade instrumental. Odesenvolvim nto cap.taEsta impõe limites à livre e genuína comunicação entre os sereshUmTPremissa de Marx provou ser insustentável, pelo simples fatode que, na "sociedade industrial de larga escala, apesquisa, aciência atecnologia eautilização industrial fundiram-se num sistema (Habermas 1969 p 104), levando assim auma forma repressiva de estruturainstitucional, em que as normas de mútuo entendimento dos indivi-duos estão absorvidas, num "sistema comportamental de ação racionaide propósito determinado" (Habermas, 1969, p. 106). Em outras palavras num ambiente desse tipo a diferença entre a racionalidade substantiva e a pragmática toma-se irrelevante e chega adesaparecer. Defato, a sociedade tecno-industrial legitima-se através da escamoteaçaoobjetivadessa diferença.
Idêntico a esta posição diante de Marx e o enfoque retormula-tivo que Habermas adota quanto aMax Weber. Ele explica oconceitoweberiano de racionalização como se segue:
"A superioridade da forma capitalista de produção sobre as que aprecederam tem estas duas raízes: o estabelecimento de um mecanis-mo econômico que torna permanente aexpansão dos subsistemas deação racional de propósito determinado, ea criação de uma legitimação econômica, através da qual o sistema político pode ser adaptadoaos novos requisitos de racionalidade trazidos à luz pelo desenvolvimento desses subsistemas. Ê esse processo de adaptação que Weberentende como "racionalização" (Habermas, 1970, p. 97-8).
Todavia, Habermas considera necessário desenvolver mais aanálise da racionalidade, uma vez que as^dedad^jnjuitrial, em seu atualestágio émuito diferente daquela que Weber conheceu. Weber podiavoltar-se para o tema como um funcionalista, mas hoje a questãoacarreta impressionantes conotações éticas, que oesforço teónco deHabermas realça consideravelmente.
Num comentário sobre Marcuse,. Habermas assinala que, na tasepresente, "aquilo que Weber chamou de 'racionalização' realiza nao aracionalidade como tal. mas antes, em nome da racionalidade, umaforma específica de associação política não reconhecida" (Habermas,1969 p 82) Mais ainda, tal "racionalização^e^ujyaje^
c^polpiético:, (Habermas, 1969, p. 83), no qual as normas de relaçõesinterpessoais na esfera privada eas regras sistemáticas de ação racionaide propósito determinado tomam-se idênticas, ou perdem sua diferenciação e, em conseqüência, conduzem a um estado de comunicaçãosistematicamente distorcida, entre os seres humanos.
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O fenômeno da comunicação distorcida tornou-se uma preocupação fundamental de Habermas. Propõe ele uma distinção entre aacãoVacional com propósito, ou ação instrumental eaação de comunicação ou de interação simbólica. Aprimeira, subordinada aregrastécnicas^ pode ser demonstrada como sendo correta ou incorreta. Asegunda, isto é, ainteração simbólica, ou ação de comunicação, define
fl relações interpessoais como sendo livres de compulsão externa etendosuas normas legitimadas "apenas através da intersubjetividade damútua compreensão das intenções" (Habermas, 1969, p. 92). Umatese central de Habermas éade que, na moderna sociedade industrial,as antigas bases de interação simbólica foram solapadas pelos sistemasde conduta de ação racional com propósito. Nessas sociedades, ainteração simbólica só é possível em enclaves extremamente residuais oumarginais.
O que mantém uma sociedade em funcionamento como importante ordem coesiva é a aceitação, pelos seus membros, dossímbolosatravés dos quais ela faz sua própria interpretação. A interação simbólica é a essência da vida social significativa e. portanto, parausar umaexpressão de Kenneth Burke,7 a"simbolicidade" constitui um atributo essencial da ação humana. Significado, na vida humana e social, éobtido através da prática da interação simbólica. Mas. na sociedadeindustrial, o significado foi subordinado ao imperativo do controletécnico da natureza e da acumulaçãode capital.
Uma conseqüência do domínio exercido pela racionalidadeinstrumental sobre as sociedades modernasé que a comunicação sistematicamente distorcida prevalece entre aspessoas. Esse tipo de comunicação toma-se normal, de outra maneira ficaria evidente o caráterrepressivo das relações sociais. Habermas sublinha o efeito dos fatorespolíticos e emriõrnteos sobre os padrões de comunicação, e o estudo(To eãrater repressivo desses padrões, que prevalecem nas sociedadesmodemasTreqüer uma temia datioiiipetêrTClãcÕrnunicativa. E possíveladmitir-se que "cada palavra dita, mesmo aquela de engano intencional, oriente-se no sentido da idéia de verdade". Se é assim, quais sãoos padrões adequados a semelhante linguagem? Essa especulaçãoconduz aoconceito da"situação ideal de discurso" e àidéia dooradorcompetente. De fato, a "competência na comunicação significa odomínio de uma situaçãojdeal de discurso".» Nas situações em que os
"'relacionamentos intersubjetivos são concretizados em razão do choquede compulsões sociais agindo sobre eles, é muito difícil conseguir-secompetência comunicativa. Num tal ambiente, o orador competenteexpõe-se a malentendidos, para nãomencionar também que pode ser
7 Veja Burke. K.Í1W3/1964).
8 VejaHabermas (1970. p. 116-46).
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considerado excêntrico. Habermas salienta que "à ^J ™Pj£cia comunicativa não podemos, de maneira alguma, produzir asituação S de discurso independentemente das estaturas empincas doLema social a que pertencemos; podemos apenas antecipar essaSaTfoTHabermas, 1970, p. 144). Asituação ideal de discurso nãosi pod^matenS «não dentro de adequado contexto social.7.5 Otrabalho de restauração de Eric Voegelin
Do ponto de vista dos padrões contemporâneos da ciência política e sodal, aobra de Eric Voegelin parece heterodoxa, obscura emesmo^rturbadora. Em sua opinião, aciência política, na formaZ acMiceberamiktão eAristóteles., nunca perdeu sua valide* EleSTclTum £dfiT«hlHSenlutica, não como umxromste, d.déias. Do ânguloTrrnçrà^
'^^rmpimiStmrn^vSr^^ emsua^que^^e^eriências dásdcaVnao-lh^s^õ^ê^apreTnder osignificado.$£3%o do conteúdo desses textos que se reflete sobre avidahumana, constitui mais do que um exemplo de ma informação éumsintoma da deformação da psique humana e represente aquilo queVoegelin denomina descarrilamento. Ele considera os últimos cincoséculos da história ocidental como um período de descarrdamento ede deculturação da espécie humana, ao ponto de a exporem aumprocesso de "sistemática corifujâíiJlaiazae"(Voegehn, 1961, p. 284).
Pode-se^TaW^õTrHInwnte da razão como uma realidade independente de nossa palavra. Qualquer tentativa de abordar arazãocomo se ela fosse apenas um produto convencional da tamn reflete um estado deformado da psique. Arazão foi descoberta pelos filósofos místicos da Grécia, mas esse episódio histónco émais do que umincidente bastante interessante para ser registrado na crônica das idémantes, dá ele início aum período de formação da alma humana. Comessa descoberta, a alma do homem teve acesso aum nível de auto-compieensâo no qual rompeu os limites da visão compacta da realidade articulada no mito. Na verdade, oevento não mudou aestrutura daalma humana: representa, antes, um momento cubmnante, ein que aconsciência do homem quanto àprópria alma ganha em luminosidadee diferenciação. „ .. ,, „ ,M#„
Comparadas com a interpretação que Voegelin dá aos textosclássicos, as afirmações de Weber e de Mannheim sobre arazão transmitem tênues indícios quanto àsua natureza e em consequenaa, ostrabalhos desses autores exemplificam uma contida avaliação da sociedade moderna. Sem uma inflexível fidelidade àrazão, como aexplicam Platão e Aristóteles, Voegelin mostra que não há possibdidade de
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Voegelin atribui grande valor àopinião déJThomas Reid^ne quenosenso comum já existe um certo grau deracionalidade. Afirma eleqUe "o sgnso comum constitui um tipo compacto de raçjQnaJjdade'1?e qué^portanto, são possíveis transações sociais baseadas numa percepção não distorcida da realidade. Se a razão é uma partff d" Mtahtura da existência humana, então o entendimento e a conversação
"e7iTfe~õThoTTlSns sao possíveis na base de sua participação comum narealidade. Contudo, o debate verdadeiro e racional está-se tomandouma possibilidade muito pouco provável de efetivar-se nas sociedadesmodernas. Nessas sociedades, a psique do indivíduo médio foi assimilada no modelo de uma personalidade fechada, inteiramente incluída ÍH-vam limttap miinrlinnc Hr^i*» orr* Aífk OC f**ir»a/*tf4af1ac numonoc ria Hí»Knt.-«em limites mundanos. Hoje em dia, as capacidades humanas de debateracional estão danificadas pelos__padrões de linguagem predominantese juntamente pela assimilação do homem no contexto da estruturasocial existente, em que a racionalidade instrumeníal se transformouem racionalidade_enLgeiaJ. Nas sociedades modernas, o debate racional só é possível em muito poucos e restritos enclaves. Mesmo oschamados meios intelectuais são, em geral, incapazes de manter umaconversação racional. Voegelin afirma que o declínio do debateracional é fenômeno recente na história ocidental, e vê no passado um"período em que o universo da discussão racional ainda estava intacto,porquejjjnimeira realidade da existência permanecia não questionada"(Voegelin, 1967, p. 144).
É significativo que ao tempo de Santo Tomás de Aquino o"debate racional com o oponente ainda fosse possível" (Voegelin,1967, p. 144). Com base nessa presunção, Santo Tomás acreditava-secapaz de convencer pagãos, e especialmente muçulmanos, da validezda verdade cristã, apenas com argumentos racionais. Assim é que, naSulnnwVontrã~GentiIes?Santo Tomás afirma:
"... contra os judeus, podemos argumentar usando o Velho Testamento, enquanto contra os hereges podemos argumentar usando oNovo Testamento. Mas os muçulmanose os pagãos não aceitam nemum, nem o outro. Temos, portanto, que recorrer à razão natural, coma qual todos os homenssão forçados3 concordar."10
É possível que hoje tenhamos dificuldade em compreenderSanto Tomás. Não apenas a razão, mas igualmente palavras-chavessofreram a obliteração de sentido salientada nesta análise. A próprialinguagem foi capturada por padrões operacionais de eficiência, fatoque influi sobre todo o domínio da existência humana. Quando a via-
9 Apud Sandoz, Ellis (1971, p.59).
1° Apud Voegelin (1967, p. 151).
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bilidade e a experiência substituem a verdade como o critério delinguagem dominante, há pouca, se é que há alguma, oportunidadepara apersuasão das pessoas através do debate racional. Aracionalidade desaparece, num mundo em que o cálculo utilitário de conseqüências passa ajgraúnica referência para_as_ações humanas. (^^ {Ijj^JWfA,
1.6 Algunscomentários críticos
Todos esses estudiosos parecem concordar em que, nasociedademoderna, a racionalidade se transformou numa categoria sociomórfica,
1 isto é, é interpretada como um atributo_do^processos históricos esociais, e não como força ativa na^sjquèTvulnanà) Todos eles reconhe-
J 'J Jrs cem que o conceito de racionalidade^ determinativo da abordagem^ dos assuntos pertinentes ao desenho social. No entanto, todos eles são
menos do que suficientemente sistemáticos na apresentação de suasopiniões sobre tais assuntos. Em sua crítica da razão moderna, tomamdiversas posições: resignação (Max Weber), "relacionalismo" (Mannheim), indignação moral (Horkheimer). crítica integrativa (Habermas) e restauração(Voegelin).
Uma vez que foi anteriormente apresentada uma avaliação deMax Weber e de Karl Mannheim, cabe agora fazer um rápido julga-memo da Escola de Frankfurt e de Voegelin.
Há mérito tanto nos trabalhos de Horkheimer, quanto nos deHabermas, na medida em que se esforçam por demonstrar o errobásico do ponto de vista de Marx sobre a razão como um atributo doprocesso histórico. Ambos questionariam o pressuposto de que oa^dobramentõdás forças produtoras, por si só, conduziria ao adventode uma sociedade racional. Horkheimer parecedemonstrar que, desde
, o momento em que arazão é deslocada da-psique humana^onde deveestar, e é transformada num atributo da sociedade, fica perdida apossibilidade da ciência social. Habermas enfatiza a circunstância deque, nas sociedades industriais avançadas, as próprias forças produtoras, em última análise, são compulsões políticas modeladoras de toda avida humana. Para superar tal condição, sugere eleoueseabraespaçopara a política e o debate racional, em sua função de orientadores doprocesso social. Esses pontos constituem traços positivos das análisesde Horkheimer e de Habermas.
Por outro lado, a obra de Horkheimer nãoé muito maisdo queuma acusação da sociedade moderna que, conquanto iluminadora,deixa de dizer como * em que direção caminhar, para que se encontrem alternativas para os males atuais, teóricos e sociais. Parece queHabermas se preocupa com tais alternativas, mas apresenta-as emtermos incipientes, ecléticos e bastante spciqnlSrfícojC1 RearmerTteTãnoção dos "interesses do conhecimento", por ele exposta (que é me-
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I. Deve ser enfatizado, também, o desprezo de Voegelin pela definição sistemática do significado de alguns termos básicos de seu vocabulário, tais como descarrilamento, kinesis, gnosticismo, texto, teoria,orientação e psicologia motivacional, compacidade e diferenciação.Até aqui, termos como estes estão insuficientemente elaborados nosescritos de Voegelin.
Finalmente, os pontos de vista de Voegelin quanto àciência política precisam de maior clarificação do que as que ele em geral sepreocupa em oferecer, uma vez que, da maneira como até aqui está articulada a matéria, algumas vezes aparece prejudicada por um caráterexcessivamente restaurador. Nenhum retomo a qualquer forma histórica de vida humana pode estar contido na idéia de uma restauraçãoverdadeiramente criadora dos ensinamentos clássicos. Tal restauração •cpimac em tranfifAnmr ™pensadores clássicos, através da apropria-?ãõ dãq"!1'» q"p puderam compreender, em parceiros atives dos estíi-ftiívtns cnntémporãneos. emmia hHHf81 Hp "™haeimpnif, A restauraçãodaherança conceptual clássica, nesse caso, visa apenas superar o esquecimento dela. Os pensadores clássicos não devem ser considerados autoridades canõnicas infalíveis. Afinal de contas, não se tem muito aaprender do Aristóteles que justificava a escravidão, mas do Aristóteles compatível com adefinição doser humano como ozoon politikon.
1.7 Conclusão
Deve ser dito que, a fim de salvar o quenamoderna ciência social é correto, é necessário compreender o caráter precário de seusprincipais pressupostos, a saber, «pie n ser humano não é senão uma --,criatura capaz do cálculo utilitário de conseqüências e o mercado omodelo de acordo com o qual sua vida associadadeveria organizar^Na verdade, a ciência social moderna foi articulada como propósitode liberar o mercado das peias que, através da história da humanidadee atéo advento darevolução comercial e industrial, o mantiveram dentro de limites definidos. 0 que agora debilita avalidade teórica damoderna cjgBcja wrial è. yia f^nr^i!HBipreéns>[o sistemáticada natureza-
^específica de sua missão. Por mais de dois séculos, o restrito alcanceteórico da moderna ciência social tem sido a causa de seu notávelsucesso operacional e prático. No entanto, hoje emdia aexpansão domercado atingiu um ponto de rendimentos decrescentes, emtermos debem-estar humano. A moderna ciência social deveria, portanto, ser reconhecida peloque é:um credo,e nãoverdadeira ciência.
Os resultados atuais da modernização, tais como a insegurançapsicológica, a degradação daqualidade davida, a poluição, o desperdício à exaustão doslimitados recursos do planeta, e assim pordiante,mal disfarçam o caráter enganador das sociedades contemporâneas. A
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autodefinição das. sociedades industriais avançadas do Ocportadoras da razão está sendo diariamente solapada eétão laigamente desacreditada que se fica aimaginar se atais sociedades, exclusivamente àbase da racionalidadetinuará, dentro em pouco, encontrando neste mune"nela. Esse clima de perplexidade pode viabilizar un^.teórica de enorme magnitude.
A presente crítica da razão modernaji§D_é_empjeeiidida çou^um exercício acadêmico sem^nseqüfençial Seu propósito éprepararocaminho parTõ desenvolvimento de uma nova. ciência das organizações Àrazão éoconceito básico de qualquer ciência da sociedade edas organizações. Ela prescreve como os seres, humanos deveriamordenar sua vida pessoal e social. No decurso dos últimos 300 anos aracionalidade funcional tem escorado o esforço das populações doOcidente central para dominar anatureza, eaumentar aprópria capacidade de produção. Écerto que essa é uma grande realização. Masagora há indícios de que semelhante sucesso está aponto de se transformar numa vitória de Pirro. Apercepção dessa situação está abnndonovos caminhosde buscaintelectual.
A teoria corrente da organização dá um cunho normativo geralao desenho implícito na racionalidade funcional. Admitindo comolegítima ailimitada intrusão do sistema de mercado na vida humana, ateoria de organização atual é, portanto, teoricamente incapaz de oferecer diretrizes para acriação de espaços sociais em que os indivíduospossam participai de relações interpessoais verdadeiramente autograti-ficantes. A racionalidade substantiva sustentaj3u.fi o. lugar gdgquadoj^razão érpa^jS^ Nessa ronfornüdade, apsique humana deve^érc5nriderada"o^ontode referência para aordenajãojda^asgsial,tanto quanto para aconceitiiação djdêndasocialemg^raida qual oestudo sistemático da on^izaj^^nTtmn QomirnTparticular. 0papel da racionalidade substantiva na estruturação da vida humanaassociada é o assunto docapítulo seguinte.
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2. NO RUMO DE UMA TEORIA SUBSTANTIVADA VIDA HUMANA ASSOCIADA
Embora aciência social moderna em geral ea teoria da organização em particular deixem de distinguir suficientemente entre a racionalidade funcional e a substantiva, ambas constituem, não obstante,categorias fundamentais de duas concepções distintas da vida humanaassociada. É propósito deste capítulo diferençar, analiticamente, essasduas concepções, e tal exploração toma-se agora imperativa, porque asteorias da organização e do desenho de sistemas sociais, exclusivamente baseadas na concepção moderna de razão, são desprovidas âzQ~
tsSã^váaaãe científica. Tal como na_crítica dajazãg_jnodernj, oferecida no capítulo 1, é também necessário começar esta analise comMax Weber. , .,, ,
Poder-se-á afirmar que quando Max Weber decidiu caracterizar arazão moderna estava agindo como um historiador. Em lugar de adotar uma posição substitutiva em relação à razão clássica, como tezHobbes Max Weber implicitamente advertiu que, nos tempos modernos uni novo significado estava sendo atribuído à palavra razão. Naoafastou, como um anacronismo, o significado anterior de razão. Narealidade, Weber, como Hobbes, desejava um tipo de ciência socialinteiramente comprometido com uma tarefa peculiar a uma determinada época. Mas, ao fazer adistinção entre Zweckrationalitãt (racionalidade formal) eWertrationalitat (racionalidade substantiva) sugeria ejeque ou uma, ou aoutra, poderia servir de referência para aelaboraçãoteórica. No entanto, escolheu desenvolver um tipo de teona baseado,sobretudo, na noção de racionalidade funcional. Embora o respaldobiográfico ehistórico da escolha de Weber pudesse constituir interessante e importante matéria para investigação, isso estana além do propósito deste capítulo. Não obstante, ofereço àespeculação a idéia deque uma teoria substantiva poderia ser formulada com base naquiloque Weber não disse, mas que provavelmente diria se tivesse vividonas presentes circunstâncias históricas.
Argumenta MaxWeber que, Mnbora açigncjajQCial seja neutiA.do ponto devista dciM os valores adotados por uma sociedade são,eTéTpropnõs, critériõsindicadores daqueles pontos que são importan-
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t« «ara aquela forma particular de vida humana associada, durante«rto wríodo histórico. Admitiria ele, então, que quando as premissasSe valor de um certo tipo de vida associada se transformam, elas pró-orias em fatores de um mal coletivo, ocientista social não pode. legitimamente desprezar tais premissas como estranhas àsua disciplina.Ao contrário, do ponto de vista de Weber. o cientista social devefocalizar esses valores, embora apenas para mostrar as conseqüênciaspraticas que acarretam, ncientista social, como tal não deveria emitirjulgamentos de valor, imm_w» q"» va!™efi *** subjetivos^- ou têm
~~ãjicêrces demoníacos.A posição de Weber não deixa de ser contraditória. Se os valores
são simplesmente demoníacos e não têm fundamentos objetivos,então a análise das conseqüências de sua adoção pelos indivíduos nãoé mais do que um fútil exercício de abstração. Tal análise só teriasentido se fosse empreendida na esperança de que o indivíduo pudesseser persuadido a fazer um julgamento de valor objetivo, racional.Essa contradição na posição de Webeí_Kflejeje_ejnsuaobrae em suavida. Pretendeu ele ter estudado,[sinejra^acjtud^i^^ome^dsracionalidade formal, mas apesar disso manitesfóúseu pesar ante aculminação de tal síndrome - um mundo de "especialistas sem espírito, desensualistas sem coração" (Weber, 1958, p. 182).
Max Weber viveu num contexto histórico em que aracionalidade formal, ou funcional, substituía amplamente a racionalidade substantiva, como o principal critério para aordenação dos negócios políticos e sociais. Tomou como certa essa substituição e recusou-se aerigir aciência social sobre anoção da racionalidade substantiva. Hoje,porém, é mais difícil do que nos tempos de Hobbes ede Weber pôr delado a viabilidade de uma teoria substantiva da associação humana,porque agora é evidente que orelativismo no tocante avalores conduziu a vida associada a um becosem saída, intelectual e espiritual. Emconseqüência, aquestão de que tratará este capítulo consiste em saber \J tse a razão substantivadeveria ser a categoria essencial para a cogitaçãodos assuntos políticos e sociais e,sendo esse o caso, que tipo de teoriairia corresponder a essa ordem de pensamento. Constituirá propósitodos capítulos subseqüentes adiscussão das estruturas sociais emergentes e das implicações de política que daí resultam.
Há três qualificações gerais, que realçam as distinções entre ateoriasubstantivae a teoria formal davidahumanaassociada.
Primeiro, uma teoria da vida humana associada é substantivaquando a razão, no sentido substantivo, é sua principal categoria deanálise. Tal teoria é formal quando a razão, no sentido funcional, é sua
1 Eric Voegelin e Leo Strauss também frisaram as contradições da noção deneutralidade de valor na ciência social, de Weber. Veja obras de Voegelin, E.(1952, p. 13-22)e Strauss, L. (19S3. P- 35-80).
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principal categoria de análise. Na medida em que arazão substantiva éentendida como uma categoria ordenativa, a teoria substantiva passa aser uma teoria normativa de tipo específico. Na medida em que arazão funcional é apenas uma definição, ouuma elaboração lógica, ateoria formal é umateoria nominalista de tipo específico. Os conceitos da teoria substantiva são conhecimentos derivados doe no processo de realidade, enquanto os conceitos da teoria formal são apenasinstrumentos convencionais dé linguagem, quedescrevem procedimen- ,tos operacionais. A pergunta: Que é a racionalidade? que requer atenção direta no domínio da teoria substantiva, não tem papel a desempenhar nodomínio da teoria formal. Aqui a pergunta é, de preferência: Que é quechamaremos deracionalidade? A pergunta seria respondida, no último caso, por uma afirmação emqueuma combinação depalavras1 constitui, essencialmente, a referência para os objetivos daanálise.I Segundo, uma teoria substantiva da vida humana associada é'algo que existe há muito tempo e seus elementos sistemáticos podem
' ser encontrados nos trabalhos dos pensadores de todos ostempos, passados e presentes, harmonizados ao significado que o senso comumatribui á razãOj^rrn^qranenhum deles tenha jamais empregado aexpressão razão substantivada* verdade, é graças às peculiaridades daépoca moderna, através das quais oconceito de razão foi escamoteadopelos funcionalistas de várias convicções, que temos presentementeque qualificar o conceito como substantivo. Uma descoberta fundamental, resultante da herança de ensinamentos dos pensadores clássicos, é ade que é o debate racional, nosentido substantivo, que constituiaessência da forma política de vida, e também o requisito essencialpara o suporte de qualquer bem regulada vida humana associada, emseu conjunto.
A propósito, aquilo que o campo da economia e, mais especificamente, o campo da antropologia econômica referem presentementecomo sendo teoria substantiva,3 é apenas subsidiário aestaanálise. Oatual debate entre economistas que professam de um lado a teoriaformal, de outro ateoria substantiva, diz respeito ànatureza do Jenç^menrxeconõmico, ao mercado e a suas implicações teóricas.(jíarl_
/^olairíí) fundador da teoria^egonôniica substantiva, assinala que oTSõiiíêilos formais, extrãíHÕTda dinâmica específica do mercado, na
melhor das hipóteses são válidos como instrumentos gerais de análisee formulação dos sistemas sociais apenas numa sociedade capitalista,durante um período em que o mercado esteja relativamente livre da
2 Sobreo caráter essencialisia e nominalista dos conceitos, veja Popper(1971,p. 32; 1965, p. 13-4).
1 Sobre a complexa controvérsia em tomo da teoria econômica substantivaversasa teoria econômica formal, veja Kaplan (1968) e Cook (1966).
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Quadro 1Teoria da vida humana associada
II.
Formal
Os critérios para ordenação das assodacões humanas sãodados socialmente
Uma condição fundamental da ordem sodal é que a economia se transforme num sistema auto-regulado
III. O estudo científico das assodaçôes humanas c" livre doconceito de valor: há uma dicolomia entre valores c fatos
IV. O sentido da história pode ser captado pelo conhedmento,que se revela através de uma série de determinados estadosempírico-temporais
V. A dênda natural fornece o paradigma teórico para a corretafocalizacão de todos os assuntos e questões susd lados pelarealidade
Substantiva
I. Os critérios para a ordenação das assodaçôes humanas sãoracionais, isto í, evidentes por si mesmos ao senso comumindividual, independentemente de qualquer processo particular de socialização
II. Uma condição fundamental da ordem sodal é a regulaçãopolítica da economia
III. O estudo científico das assodaçôes humanas ê normativo:a dicolomia entre valores c fatos tf falsa, na prática, c, emteoria, tende a produzir uma análise defectiva
IV. A história torna-se significante para o homem através dormítodo paradigmático dç auto-fntcrpretaçao da comunidade organizada. Seu sentido não pode ser captado porcategorias scrialistns de pensamento
V. O estudo científico adequado das associações humanas é*um tipo de investigação cm si mesmo, distinto da dêndados fenômenos naturais, c mais abrangente que esta
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homem como um "animal político" (zoon politikon) só écompreensível à luz desse entendimento.
Aristóteles e os pensadores clássicos, em geral, concebiam asocialídade como uma qualidade do bando, indigna do homem político No domínio político, o homem é destinado aagir por simesmo,como um portador da razão no sentido substantivo. No domíniosocial, ao contrário, a preocupação "apenas com avida" prevalece, eele age como uma criatura "que calcula", isto é, como um agente econômico. A razão, no sentido de uma habilidade "calculadora",também é inferida por Aristóteles na Política e na Ética aNicômaco.É exigida para aadministração do lar (oikos), onde obem-estar econômico do grupo determina qual o curso de ações que devem ou nãodevem ser tomados. Esse tipo de conduta social é limitado a seu próprio enclave. Não faz parte do domínio político, em que oindivíduopossa manifestar seu interesse pela expansão do bom caráter doconjunto, e não simplesmente pela sobrevivência.
É claro que Aristóteles tinha a percepção de que o modelo damelhor forma política de vida, aberto ao comando integral da razãosubstantiva, só poderia ser conseguido historicamente, por acaso.Sabia que nenhuma comunidade política está, eternamente, a salvoda influência solapadora dos interesses sociais. Mas, onde querjque,esses interesses práticos constituam o único critério para as açõeshumanas, não existe nenhuma vida política.
Para muitos, a ciência social é, no moderno período histórico,resultado de crescente sofisticação da racionalidade e de sua aplicaçãoa fenômenos cada vez mais diversos. O preconceito histórico dessemodo de ver será examinado mais extensamente no item 2.4 destecapítulo. Por ora, é suficiente assinalar que a própria idéia de umaciência social afirmada com basena presunção de que o indivídup_é—fundamentalmente um ser social, e quesuas virtudes devem seravaliadas segundò~c7íteriõs socialmente estabelecidos, era inconcebiyêTggraAristóteles_e panfõsTeóricos clássicos em geral. Aciência social moderna pressupõe que a sociedade, ao desdobrar-se como uma associação puramente natural, gera os padrões da existência humana emseuconjunto. Essa_tia^nsa^iação_JÍO-^açÍalt__de que a modema_cjéncia-social é resultado, ocorreu nos três últimos séculos da história doõadentiT É Hobbes quem, sistematicamente, prepara o caminho paraessa transavaliação, ao atacar o conceito de razão emtermos de sensocomum e ao propor alternativas para esse conceito. No momento emque o ser humano é reduzido^a-uma criatura que calcula, é para eleimpossível distinguir entre (WçioJ e virtude,) A sociedade toma-se,então, o seu único mentor e, não surpreendentemente, padecimento éequiparado ao mal, e o prazer ao benu_
Uma das mais notáveis documentações da confusão do homemocidental, no momento culminante da transavaliação do social,é The
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Fable of the bees, de Bernard MandevÜle (1714), publicada primeirosob a denominação de The Grumbling hive (1705). Em 1723, elepublicou A Search into the nature ofsociety, um ensaio que éumajustificação teórica de sua fábula. J^andeyüjTc^mparou asociedade -em particular a sociedade britânica de seu tempo - com uma colmeia.Pode-se resumir o argumento básico de seu trabalho da maneira-ifçuintf• • o BgS&JB fr!fflsfnrma nn critério que abrange tudo_ja-ordenação_dAAXistênciaJiumana, então os vícios, o orgulho, o egoiVfflõ, a çornípcão, a fraude, aganância, ahipocrisia e ainjustiça passama ser virtudes. Embora sugira que a virtude está além da capacidadehumana, Mandeville pode ser considerado um moralista malgré lui, sesua fábula for interpretada como retratando as conseqüências, para aexistência humana em seu conjunto, da isenção da sociedade da regulação política. Aambigüidade do pensamento de Mandeville em grande parte explica por que, por vias sutis e contraditórias, exerceu eleinfluência sobreeminentes escritores e filósofos de seu tempo, incluindo Adam Smith, que, porém, repudiou ainfluência de Mandeville.7
Não é por acaso que a idéia de uma ciência social obcecou osfilósofos escoceses na Inglaterra, durante o século XVIII. A noção deciência social permeia as especulações sobre a natureza humana e ofenômeno institucional, empreendidas por Adam Ferguson, DavidHume, Francis Hutcheson, Lorde Kames (Henry Home), LordeMonboddo (James Burnet), Adam Smith e Dugald Stewart.8 Por maisque esses homens fossem diferentes em idéias e talento, apesar dissoeram. leais a uma certa comunhão de premissas e uma delas era a deque a ciência social poderia ser r^ojsíyeiiamio_o_estiido^a razão da__sociedVde7ParrrrnãioTpãrtê~déles, a razão era urna çaiaçteristiçajia_
"sõclêdãdé^mais do que dojiidividuo. Consumaram a sublimação darazão, no sentido de que esta já não mais precisava ser concebidaatravés da mediação do indivíduo, mas como algo cognato àsociedadee à natureza. Todos eles concebiam leis racionais governando a sociedade e a natureza, apesar dofato deconcordarem emque as paixões, enão a razão, é que conduziam o ser humano à ação. Atribui-se, geralmente, a idéia da mão invisível a Adam Smith, mas na verdade foi elasugerida nõslrabalhos desses homens. Aatividade dessa "mão" manifesta-se na sociedade e na natureza e o papel da ciência é descobrir eordenar a maneira como isso acontece. Por exemplo, Hutcheson,amigo e professor de Adam Smith, escreveu em 1728 sobre uma "mãosuperior", como uma força providencial, que afeta tanto os sereshumanos quanto osanimais, através de seus instintos.
7 Sobre a influênda de Mandeville sobre Adam Smith, veja Marx (1974, p.355), CoUetti (1972) e Macfie(1967).
" VejaBryson (1945)e Stephen (1927).9 Veja Bryson (1945, p. 118).
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ParacréditodeMandeville,nãoháambigüidadeemDavdHumeAH^Smilhquandoambosjustificamaabrangênciaintegralda
CZePa7aHumeeSmith,asocialidadesubstituiarazão,aof?t'rcomoÍSviverohomem.Humeconsideravaoserhuma-«rnZumaTriati^completamenteincluídanasociedade.0"méri-
ZTíTlte"nlodecorre...deumaconformidadeàrazão,nem1cíbadoSodecontrariá-la"(Hume,1973p.458).Éo*nti-mentoqueohomemJejnjL^e^er^sociedad^juec^SgCo--LdamemonIé~suT^^^ TmiryTdWTmTrêl^^àcensuradosoutros-desempenhaumpapelfundamentalnodesenvolvimentodeseusensomoral.Padrõesdeordenaçãodavidahumanasão,elespróprios,^sociaise,emúltimaanálise,compõem-sede"interessesdasociedade,queHumeafirmaseremasreferênciasprincipaisparadistinguirentreavirtudeeovício(Hume,1973,p.579).ParaHume.aordemnavidahumanaassociadaéumresultadodeprocessosanônimos,envolvendoforçaseatividadesindependentesdasdeliberaçõesracionaisdoindivíduo,nosentidosubstantivo.Maispropriamente,aquüoqueésocialé,forçosamentemoral.Comoocorrecomoutrosfilósofosescoceses,HumepretendeelaboraroalicercefilosóficodaciênciasocialformaldoOcidente.
Ascorrentesdepensamentoquehojeprevalecememmatériadeciênciasocialformal,sejaemseustermosestabelecidosusuais,sejasobosdisfarcesmarxistaseneomarxistas,apóiam-senumavisãosociomor-ficadohomem,visãoquereduzoserjiumanoanadamaisque_umsersocialDaíqueálIeTiaTtQ-áliraçâo^olHdivíduosejaentendidacomoa
^sualítalsocialização,quersobascondiçõespresentementeoferecidas,quernumfuturoestágiosocialesclarecido.Poj^xjm^h^ajnojrv^çao,econômicaéconsjdjrada^_t^^teona^co^jcT^rjaLafirmaqueomarcadoéa^OTtrfimdaTmental,paraT^pajaclo^i^^"nsSistemassociais.Assunçãoéporacidentequeoscientistassociaisestabeleci-d~o7-nScomendamaospaísesdoTerceiroMundoapraticamaciçadecertotipodeesclarecimentoorganizado,quesedestinaaensinaramotivaçãodosucesso",buseuequivalente,aospovosqueyrvemnessaáreaEssaperspectivaconceptualsugerequeospaísesdoTercenoMundosópoderãoresolverseusproblemassesetransformarememsociedadescentradasnomercado.Osteoristasmarxistaseneomarxistaspercebemaingenuidadedessepontodevistaparticular.Salientam,emvezdisso,oimperativodamudançadanaturezahumanadeacordov8 emvezaisso,ounpciaiiruua!••—-.»-~nV,-.
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Umavez^queTTaraambasascorrentesdepensamentoanaturezahumananãotempadrõesadequadosasiprópna,o.^mentodemedidaparaavaliaçãoedesenhodossistemassociaisnofundecontas,éelemesmosocial.Emconseqüência,aciênciaocaiformalnuncapoderáserumateoriacrítica,talcomohojealeganalgunescritores,amenosqueoteóricocriticoacredite,discretamente,quesTeleécapazdeseesquivaraoprocessodesocializaçãoeenunciarjulgamentossobreoestágioatualdanaturezahumana.AdecepçãoJpeL>aldoteóricocríticocomoestadodecoisasqueoraP^ece^£deinduzi-loaentregar-seaumtipodeaçãooracuaredemiunp^AfinalnãohapontosimportantesdedisputaentreoscientistassodaTs'ocidentaisestabelecidoseosteóricoscríticosmarxistaseneo-Sstasporqueambososgruposexemplificamamodernatransava-SS,dosociale,nessaconformidade,estãodeacordoemqueumdiscursoteóricoestáinerejriemenjejnçç^^dasociedade.SatualdW^adefao^alitefe^^0».àPrax!S**?teCinx^^é^yzíqueéinútil^^^Z^S^ tivaVsu^Ta?Tlusõ'esideológicasdaciênciasocialdoOcidentee,aomesmotempo,preservarseucaráterformal.
2.2Ordenamentopolíticoesociedade
Oparadigmacompletamentedesenvolvidodavisãoescocesadeciênciasocialsurgiu,primeiro,«mio^^^gg^nos^hosdeAdamSmith.Propostacomoumaciênciasocialverdadeiramentegei,á^conomiapolíticaconcebeaordemnavidahumanaassociadacomoumresultadodalivreinteraçãodosinteressesdeseusmembros^D^emodo,oenclavedelimitadoqueAristótelesdescrevecomoaoVdemdosnegóciosdomésticostoma-seexpücitamenteequiparadoa?dahumanaiodadaemseuconjunto,graças^sJundadoresbrUâm-cosdaciênciasocial.Aeconomiapolíticaeaciênciasocialformallegitimam,conceptualmente,aisençãodaeconomiadomésticadeeXãoPolítica,0Poiessarazão,o^^f^3^^-^- sociedadeeana^tã^^J^^í^^^td^^-ficacgermjeTim^riõmemtemcomojojn^rriante^-Carnalmente,porém,hTTimlra^oWmentreosteóncossubstantivoseosteóricos"formaisdoOcidente:ambosinterem^quereduziroindivíduoaumserpuramentesocaieqüivaleaafirmarque.oSobreesteponto,vejaMyrdal(1954).Declarac.e^*£%*»£Z miacomoumtiposodaldeadministraçãodomcst.cainspiranaoapenasateoriadoívre^om^cio.masUmbémtodasasoutrasdoutrinasdeeconomiapolítica"(Myrdal,1954,p.140).
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umadinâmica
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decoletividade;dinâmica
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dosinteressesindividuaisnosentido
deuma
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juntodaqualninguém
estáindividualmenteconsciente.Dgssemodo,
„paraOitenros
formais.apolíticaémeraarticula^oe_ajgreia,çÍQ.de-interesses.(liberalism
o),oua
expressãoda
sociedadeagindo
como
um"conjunto,
deacordo
comsuas
leis(socialismo).Poder-se-ia
dizer,assim
queaexpressão^nomw
poj^tontémumacontradição
determ
os''Situa
malum
atributo(o
poUticqV
2que
sóo
serhumano
podeexercer,ao
consideraraeconomiacomo
umagentecorporativo
políticoem
si,istoé.como
umtodo
animadode
umpropósito
seu,propósito
que,afinal,coincidecom
obem
detodososhomens.Por
tantoa
idéiade
ciênciasocial
envolveum
aredução,
porbaixo,da
vidahum
anaassociada,visto
como
asocialidade.perse,é
uma
dimen
sãoim
perfeitadaexistência
humana.
Poder-se-iaindagar
dascircunstâncias
históricasque
constituemo
backgroundde
taltransformação.Desdeoséculo
XVIqueumasérie
deacontecim
entos,tais
como
adescoberta
denovas
partesdo
globoe
aexpansão
daárea
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marítim
o-
graçasàiniciativa
dosnavegadores
europeus-
assimcomo
am
ultiplicaçãodas
iniciativascom
erciaise
industriais,precipitouo
aparecimento
deum
anova
atitude
emrelação
àprosperidade
materialda
Europa.Comerciando
comoutras
partesdo
mundo,algunspaíseseuropeus
acharamum
meiode
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assuas
riquezasnum
aproporção
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última,
análise.^g^nnpjftjiharnade
revoluçãocomercial_eJndustnalfoj_
uma.sçrie_de
acontecimentoslevando
àconclusãode
queTprospen^riadE
m^n^ej^^^poàexm
r^Tcriadasouestimuladãsyorunw
deliberaçãosistem
aTlH^õTíõm
em.Nõsséculosprém
odernos,apros-'pendadTm
ãterialeàriquezTêram
resultadosdefeitos
humanos,mas
taisfeitos
representavamtransações
inteligentescom
anatureza
como
elaera
dada.As
necessidadesdo
homem
eramconsideradas
limitadas
ea
produçãode
bensdeveria
serobtida
atravésda
colaboraçãodo
homem
comos
processosque
aprópria
naturezagerava,e
nãopela
escaladasistem
áticadesses
processos,mediante
implem
entostecnoló
gicosesem
consideraçãodos
imperativos
termodinâm
icosda
natureza.Um
aposição
exploradoraem
faceda
naturezaseria
eticamente
viciosa,paraa
mentalidade
pré-modem
aenão-m
oderna.Ajeçnojogia---
científicaexistiu
muito
antesda^cham
adarevolução
indjistriaL^semM
Veja
Barker,E
mest
(1959,p.
357).
HSobre
oconceito
dopolítico,veja
aP
olítica,deA
ristóteles.
34
wr*
*-*
que,necessariamente,dominasseanatureza.Na^Gréçja^ojLexejriplo,invenções
atribuídasa
Heroe
aA
rqjiüneJÍffiLdâo_rj^^^-aVesT5gm"aetipologia.MasaaplicaçãoJatecnologiaà_pjroduçaoeralim
itadapo"r7aiõerpolítiçaie
éticas^Tecnologia,paraosgregos,nemdeveriTco^stituir"preocupaçãodeum
homemlivre,nem
deveriaviolaros
processosautogerados
danatureza.'3
Eracomo
seos
gregos,eoutros
povosantigos,tivessem
apercepção
deseraeconom
iaparte
integrantedo
sistema
biofísico....
r*
,0
consumo
dentrodos
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denecessidades
humanas
Imitas,
aprodução
limitada,constituíamameta
daeconomia
instituídanas
sociedadespré-modemas.
Npséculo
XIII,Santojomás
deA
quino_reiteravaessaopinião.Segm
ndrxÃlTstóWsTãa^ertlacontra
aproliferação
dasneçes»deTsocÍ3lmenteinduzidas,estabelecendo
umadistinção
entreÚQüezXmraU
artificial?Aprimeira"serveparaafastardo
homem
suasnaturais
deficiências,tais
como
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ebebida,vestuá
rioveículos,
abrigoe
coisasque
tais".A"riqueza
artificial,com
o,porexem
plo,dinheiro,tinhasido
inventadapor"arte
dohomem
paraservirdemedidadecoisaspermutáveis".14Maistarde,noséculo
XVIIessa
orientaçãoainda
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ciênciasocial
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desseprocesso.
13Veja
Dijksterhuis(1969,p.72-5).
.4ApudFlynn,F.E.(1942,p.23).AtraduçãoqueFlynnfezdeSantoTomás
foiligeiramente
modificada
peloautor.
isveja
SewaU.H.R.(1901,p.3843).3
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Houve um momento em que a novidade da "sociedade", naEuropa, foi sentida evividamente discutida. Que nos seja permitido,nos poucos parágrafos que se seguem, escrever ''sociedade", entreaspas, de Bradesa podermos sublinhar seu significado peculiarmentemodemoCHe^adrrürador eleitor cuidadoso de Adam^ndÜL. focalizou a "sociedade" como um acontecimento históriçoj.6 Ele saúda oacontecimento como uma progressão da überaaaeTuma vez que, emsua opinião, a "sociedade" é a arena em que o universal terá, finalmente,queseconsumar a si mesmo.
Embora influenciado por Hegel, Lorenz von Stein encara a"sociedade", mas propriamente, como um historiador. Seu livro,publicado em 1850, Geschichte der Sozialen Bewegung in Frankreichvon 1789 bis auf unsere Tage (traduzido para o inglês sob o títuloA História do movimento social na França, 1789/1850), começa,significativamente, com um capítulo sobre o conceito de sociedade esuas leis dinâmicas, e nele o autor frisa que, em suageração, a "sociedade" evidencia uma ordem de "fenômenos que, anteriormente,haviam permanecido sem registro na vida decada dia, tanto quanto naciência" (von Stein, 1964, p. 43). Lorenz von Stein lança-se à sua-análise histórica para legitimar anova ciência, ou seja, aciência social.Na concretização desse esforço, manifesta a percepção daquilo queanova ciência fundamentalmente envolve, e assim escreve:
"Há alguma coisa no interior do Estado trabalhando contra ele. Essaalguma coisa é a sociedade (os grifos são dooriginal). Será que a sociedade se conforma a um princípio de existência diferente do Estado?Seé assim, qual é o princípio?Durante séculos, muitos e grandes homens tentaram formular o princípio que rege o Estado, mas ninguém pensou na possibilidade de quepudesse existir também um princípio para asociedade. E,noentanto,existe... O interesse, queè o centro... de todaaação social, é o principio da sociedade" (os grifos são do original) (von Stein, 1964, p.45-55).
Tal como Adam Smith no caso da economia, Lorenz von Steindá bom acolhimento à isenção da •'sociedade*' daregulação política.
16 "Quando os homens são assim dependentes uns dos outros e reciprocamentemter-idacionados em seu trabalho e na satisfação de suas necessidades, a au-1to-teaiização subjetiva transforma-se numa contribuição para asatisfação das necessidades de todos. Querisio dizer, numa antecipação dialética, que a auto-rea-tização subjetiva passa asermediação do particular para o universal, com o resultado de que cada homem, aoganhar, produzir e desfrutar, porõ mesmo, está<oipso,produzindo e ganhando para que disso desfrutem todosos demais"(Hegel,1973, p. 129-30).
36
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Mas sua posição não foi partilhada por todos os pensadores alemãesde seu tempo, eum deles, Heinrich von Treitschke, cuja participaçãonos negócios públicos da Alemanha pode ser justamente criticada, apesar disso poderá ser invocado para ilustrar atensão entre anova ciência eateoria política. Na opinião de von Treitschke, asconnmidadeshumanasse podem subsistir quando dispon|^n_deJfefflnaigiTna^,rõrganSãs|òÍtaiaL- Em outras palavras, uma vez que a"sociedade éincapaz de espontaneamente dar forma asi mesma, essa tarefa ordena-dora pertence ao Estado. Assim, lamentava Treitschke, "tudo aqufloque nosso século chama de liberalismo tendepara avisão social do Es^jado? (von Treitschke, 19oJ, p. 29). DessrpMtò de vista, aculniína-ção de tais tendências conduziria àdesintegração eao colapso da vidaassociada. Aquilo que ele denomina "visão social", as "atitudes exclusivamente sociais da mente", a "perspectiva puramente social (vonTreitschke, 1963, p. 29-30) envolve uma referência à tese de umaciência social independente da ciência política. Adotando uma posição até certo ponto polêmica em relação aessa tese, afirma ele que"quando o nosso século alega que o estudo das condições sociais éuma coisa nova... exibe um estranho conceito de si mesmo" (vonTreitschke, 1963, p. 32). Nega ele, explicitamente, apossibilidade daciência social, visto como a teoria política (em sentido substantivo)tem sempre tratado, com propriedade, da ordem de fenômenos que anova disciplina pretende definir como de seu domínio exclusivo.
Hoje em dia, mal se tem apercepção do problema fundamentalenvolvido no surgimento do social e da ciência social. Em seusjnode-los liberal e socialista, aciência social fonnalítejna_çoncepção da vidahumana associada como sendo ordenada pelofciteressej oque éomesmo que admitir que oprincípio da "sociedade* éopadrão normativoessencial da existência humana em seu conjunto. Em outras palavras,ao tomar difuso oelemento político na vida humana associada, aciência social formal deixa de considerar qualquer espécie de regulaçãosubstantiva influindo sobre o processo econômico.
2.3 A dicotomiaentrevak%ss.e fatos
Ao pôr emfoco_ajÜHú*miiaentre valores e fatos, quero aquiexaminar as gtfcWtâncIásTustónç^que aoriginaram, mais do que osalicerces filosóficos em que se rundamenta.
Quando oindivíduo édefinido como um ser puramente social, asuposição é de que aordem de sua vida lhe seja concedida como algoextrínseco. O mundo, de onde provém essa ordem, é uma arena, emque ele se esforça para elevar ao máximo os seus ganhos. Aordem dasociedade é possível na medida em que seus membros, com base numcalculo utilitário de conseqüências, regulam e limitam as próprias pai-
37
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xões, de modo a não ameaçarem seus interesses práticos. A sociedadeé o próprio mercado amplificado. Os valores humanos tornam-sevalores econômicos, no sentido moderno, e todos os fins têm a mesmacategoria. Em última análise, como veremos, adicotomia entre valorese fatos só é válida quandoa total inclusão do homem na sociedade étida como coisa natural.
Além doso, numa sociedade de mercado, a preocupação com amatériacomo o estofo de que são feitas ascoisas tem prevalência, ouchega mesmo a excluir o interesse pela natureza delas, ou pelos seusfins intrínsecos. O mercado é cego paraos fins intrínsecos das coisaseas considera, tanto quanto os própriosindivíduos, convertidosem forca do trabalho, como "dados", ou seja,como fatores de produção. Emconseqüência, as disciplinas contemporâneas, como a economia, queaceitam como indiscutível a sociedade centrada no mercado, têm queser isentas de conceitos de valor e exclusivamente interessadas em fatos. Nessas disciplinas está inferida a asserçãode que valoressão, simplesmente, aspectos da subjetividade humana. Devem ser considerados, na melhor das hipóteses, como qualidades exógenas ou secundárias das coisas, nãocomo propriedades delas. Assim sendo, não podemser objeto de avaliação cognitiva. Do ponto de vista analítico, afirmações çognitijtas e normativas tomam-se então mutuamente excluden-tes.É interessante notar que tal dicotomização sereflete nosinteressesda pesquisa, mesmo no contexto dos principais departamentos deciência socialneste país, em nossos dias.
O poder de previsão da ciência social formal isenta de conceitosde valor precisa, realmente, ser reconhecido, mas devemoscompreender que esse poder só existe na medida em que o círculo de causalidade, ligando o mercado e a conformidade de comportamento doindivfduo a esse mercado, permanece sem perturbação. No entanto,no momento em que tal conformidade, por motivos que escapam aoâmbito desta análise, é passível de questionamento, como acontece emnossos dias, surge uma resistência psicológica, dirigida contra a dinâmica desordenada de uma sociedade centrada no mercado. Essa resistência enfraqueceo poder de previsão da ciência social formal isenta deconceitos de valor, porque a pessoa tende a se transformar num seimais do que totalmente socializado. Tal resistência desencadeia umatendência normativa de pensamento, do qual a teoria substantiva devidahumana associada é porassim dizer umaarticulação inicial.
Deixado à sua própria dinâmica, o sistema de mercado trabalhacontra a COnstiratç^onfa-WdjJUJgiana associada, entendida mmoumacomunidade dejmmensVmulheres.. Esse fato temmesmo sido admitido pelos própiír^economistasrPor exemplo, em 1913, Phfllip H.Wicksteed descreveu o "inundo industrial" como uma "organizaçãodestinada a transmudar aquilo que cada homem tem naquilo que ele38
§&>YV
deseja, sem qualquer consideração ao que seus desejos possam ser(Wicksteed, 1913, p. 258). Para neutralizar essa conseqüência, imaginou ele um tipo de economia subordinada a"wnsideraçôes éticas(Wicksteed, 1913, p. 260), porque "a.sanidade dos desejos dos homens é mais importante do que aabundância de seus meios de concretizá-los" (Wicksteed, 1913, p. 260). 6 opinião dele, também, que"o mercado não nosdiz, de nenhuma forma fecunda, quais são as necessidades nacionais, sociais ou coletivas, ou os meios de satisfação deuma comunidade, porque ele só nos pode dar somas** (Wicksteed,1913, p. 260). Em conseqüência, afirma ele que "as leis eamômicasnão devem ser procuradas enão podem ser encontradas nocampo propriamente econômico" (Wicksteed, 1913. p. 260). Olamentável équeuma compreensão tão criteriosa da natureza do mercado não tenha,até agora, se constituído num conjunto conceptual coerente, bastanteconvincente para substituir omodelo formal de pensamento ainda dominante nomüieu convencional da profissão econômica em particular.e da ciência social em geral.
2.4 A ciência socialcomo uma ideologia serialista
Anoção de que ahistória revela seu significado através de umaserie de estágios empírico-temporais é comum ao acadêmico liberalde tipo padrão, tanto quanto aos teóricos marxistas e neomarxistas.Contido nessa noção comum, está um.conceitode tempo peculiar ao
; Iluminismo, e que continua a prevalecer nas fõmns-DCltfentais con-"J temporáneas de pensamento. Nos escritos dos epígonos do Uurninis-
mo otempo em que supostamente anatureza humana se atualiza éessencialmente serializado. Através de distintos graus qualitativos deatualização que correspondem adiferentes degraus existentes numa espécie ascendente e seriada de tempo, anatureza humana muda suaestrutura. Além disso, nessa perspectiva Üuminista, existe ummomento histórico culminante, em que anatureza humana alcança seu estágio final e perfeito. .
Sem dúvida, a visão serialista daexistência humana na bistõnatem implicações comparativas^djacrôniças esmcranjcas. Quando avaliada em comparação com aestrutura que supostamente deve alcançar em sua fase culminante, aexistência humana, em períodos históricos anteriores, éconsideradaJnperteua^ii, namedida em que nem todas as sociedades contemporâneas tenham atingido simultaneamente omesmo grau de progresso, aexistência humana nessas sociedades menos desenvolvidas, que caminham atrás das mais avançadaá ou mesmohistoricamente em fase terminal, é também, necessariamente, imperfeita. Por exemplo, anoção dejrerçejroJJunjp reflete avisão seriabs-
laliãhistôria de hoje, já que pressupõe o segundo e o primeiro.39
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Sob a influência do critério serialista do Iluminismo, vários autores imaginaram ter compreendido os padrões de acordo com os quais ahistória se desenrola. Por exemplo. Condorcet, Turgot e Saint-Simonsentiram-se compelidos a desvendar os estágios necessários da história.Aciência social contemporânea é um rebento do clima intelectual deque esses autores são representantes. Na Riqueza das nações, porexemplo, onde é apresentado encorpo çonceptual da economia polftk-
_ca*,Adam Smith reinterpreta a história, descrevendo a sociedade comercial comosuafase culminante. Auguste Comte e Karl Marx empreenderam esforços semelhantes. Vêem em suas próprias épocas a iminente culminação da história, definida, respectivamente, como a idadepositiva e a sociedade socialista.
Hoje, a disposição serialista continua a ser característica daciência social, e toma-se evidente na maneira segundo a qual os cientistas sociais focalizam temas como mudança social, estágios sociais,modernização, desenvolvimento, pós-industrialismo, sociedade industrial desenvolvida e socialismo.
Esses termos têm sido solapados pelos acontecimentos contemporâneos, tais como o desencanto com o industrialismo, o mal socialcaracterístico das sociedades avançadas, e a exaustão de recursos limitados e poluição do meio-ambiente. Em conseqüência, tomaram-seobjeto de crescente literatura revisionista. Por exemplo, reagindo aessas circunstâncias, alguns teóricos empreenderam um desajeitado esforço para libertar as noções de modernização e desenvolvimento deseu engaste histórico. Na vejjade. a noção dejnojdernização dá origema tantes^rguntasjteiconcejrarite^-íiue está a-ponto^ser-abolida_da_linguagem dos cientistas,sociais formais. Numerosos escritores estãoàgÕrãTéntando reconceitua7desenvolvimento, não como significandoo aumento irrestrito do PNBjnas. essencialmente, corno uma indicação da"gíeíhoria quàí\t^v2~^\mbien^Jmnm^. sobretudo, comoprocessorLTèqualização sociaTTeconômica. Impressionados com o fato de que sucessivos programas de modernização e desenvolvimento,implementados no Terceiro Mundo, não lhe alteraram a situação dedependência, no arcabouço atual dadivisão internacional de trabalho,alguns neomarxistas alegam post hoc que tais programas foram semprearquitetados para servir apropósitos imperialistas.
Por significativas que essas opiniões certamente sejam, comosinais do colapso da modernidade e do desenvolvimento, contudo nãoapreendem a questão, quer dizer, os representantes dessa correntenão encararam, com agudeza, a atitude serialista da mentalidadeadventista e os alicerces pseudoteóricos do tipo padrão de teoria socialformal. Continuam ainda enredados na metaideologia desse tipo, dementalidade disfarçada como funcionalismo 'estrutural, dialéticahege-
40
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liana, marxismo eneomarxismo, ecomo as **»**»**dessas tendências com fenomenologia e- ou -^^^^Do ponto de vista dos critérios comparativos dessas%****»de pensamento, tais como, por exemplo, vanáveis de prtooe^gios de desenvolvimento, as diferentes sociedades do:mundocontem,porâneo estão classificadas em fila indiana, apontando na dtaçtt»£chamada sociedade avançada, ou esclarecida. Na realidade, tais cnte-rios são armadilhas epistemológicas e ideologias disfarçadas que fomentam uma errada compreensão dessas sociedades e que as desviamde seu imperativo crítico de auto-reconstrução. As políticas emanadasdesses critérios funcionam, na prática, no sentido da escalada da od-dentaüzação do mundo todo._Um.Jlos resultados desse P™çesso, ^mque estão presas as chamadas nações do Terceiro Mundo, éTaègfãdíção de sua! SlülllIiJ^^contamina de mnrtfi W™«M"™» WW***#**^2gS^um dos fatores primoriiais-aJhei dificultar aauto-jeçqnslruçao. Asolução do problema criado por tal sentimento éconceituada por via dacategoria serializada do desenvolvimentismo, em ^terpreteçto pa-droncada, ou na interpretação marxista. Essa mentalidade adventistamais do que aescassez de recursos, constitui oobstáculo fundamentalà auto-articulação cultural, política e econômica dessas nações. Parapoderem superar essa cilada, toma-se imperativa UMPtimiTnmakten-logiasocial do Ocidente.
Pode-se concluir que tal ruptura é imperativa, se devem as chamadas nações subdesenvolvidas encontrar uma saída do processo aqueforam conduzidas. Mas o ponto que desejo salientar aqui éque os termos dessa ruptura não podem ser encontrados através de nenhuma remodelação da ideologia serialista do Ocidente. Eesse rompimento provavelmente não ocorrerá amenos que os povos sejam ativados paraconstruir imediatamente, partindo daquilo que já tem, uma piedaderacional, entendida em termos substantivos e despojada das atuaisconotações serialistas efuturistas. Ocomeço eofim da histona nao seconstituem de categorias serialistas. ^BJ^l^J^^^apreendidoatiavésJeciOjTir^^ ««£demo período oridental, folanTelas experimentadas como imediatamente presentes a qualquer sociedade, mediante apropna autocom-preensão como um microcosmo - eordenaram com freqüência avidadas pessoas. No passado, como presentemente, porém apenas sob dominação hegemônica sucumbem, afinal, as sociedades adisposição serialista constitutiva da privação relativa, e essa condição episódica danatureza humana não deve ser entendida como aprópna natureza humana (Outras considerações sobre oconceito de tempo esuas implicações relativamente aos sistemas sociais serão apresentadas no capitulo 8.)
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dosa
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ciênciacientística.Einstein,porexemplo,parece
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eisenberg(1975,p.56).
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mascom
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(Heisenberg,1975,p.55).Umatonalidadeplatônica
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19ApudMfller,EugeneF.DavidEaston'spoüticaltheory.77,*PoliticalScien-
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n,1971.
43
"^^-«SS^tom tipo de primazia, imediata, deum ou outio ^ ,CTso^roXno?^ LÍ^t?^£ÍLL^nW outra asp^ <£S l^todTseletivo, por motivos especiakMas édrfk0 ^ <Sn^midei ser encarado como 'formativo', em algum sentidoimportante" (Easton, 1973, p. 294).
Aafirmação de Easton érepresentativa da confusão reinante entre os teóricos políticos formais. Partilhando de sua idéia de que oelemento político pertence ao mesmo nível do econômico edo social, es-seTteôricos equiparam aordem política ao controle da vida gregána,independentemente da natureza de seus princípios normativos. Paraeles aordggjgjítica existe numa sociedade enquanto^mesmajema^^nàadaaT^stitedonal de mdrár os cidadãos aacatálêm^respecti-^g-piar5el ou de axticujaj^agregarjnteresses ny^^fingrasti^numã^oSaÓMtável. Coerentecom essa visão puramentéoperacio-nardrõHenT-pòimcaTím autor sente-se seguro para dizer que nao"considera... regimes autoritários que começaram acaminhar na direção do progresso e do bem-estar... normativamente infenores aos de-mocráticos e desenvolvidos" (Almond, 1973, p. 268). Assim, os símbolos representativos de um precário período histórico, tais como"progresso", "desenvolvimento", "bem-estar" e entidades mstitucio-nais fpisódicas, são eles próprios transformados em criténos de avaliação da realidade política em seu conjunto." Nessa disposição, umanova área de estudo, ajormação de instituições (insrítution butídtng),destinada ao^ercfi^ojâunHglpelo quartel-general dos acadêmicos ocidentais, foi recentemente concebida, no pressuposto de que tal esforço requer apenas perícia operacional.
Não constitui surpresa perceber que ateona política formal sevê minada pelos acontecimentos contemporâneos, que revelam ajnre-cariedade histórica de seus critérios. Seus conceitos de ordem política e de desenvolvimento político, despojados de dimensões explicitas substantivas eéticas, provaram ser tão teoricamente mconastentesque ocaráter ideológico dessa disciplina mal pode escapar àatenção.Essa situação crítica não é, de forma alguma, peculiar apenas àciênciapolíticaTi característica de todo ocampo da ciência social formal, en-» Sob opredomínio de tal orientação, nao í siirpie^ente enconttarastes afcmaçfenum importante tratado de teoria i»tftica:"^ebomFJ» aGhSmSots ébom para opaís* contém, pelo menos, uma«^?"**£.?qTéTomZaa presidência /bom para opaís* contém, no entanto, «£~**rmai^.^erdVpiesidêncU i identificado com obem da comunidade política" (Huntington, 1968, p. 26).
44
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quanto esta persistir em ser uma faceta da ideologia adventista se-rialista. ^_ ,
Aparentemente, aciência política formal descartou a> "J» «um bom sistema de governo como uma legítima preocupaçSojr?Ka-Todavia, e precisamente quando são considerados >" c™01comparativos, ateoria formal envolve, disfarçadamente. aidéia de queo bom e o melhor são representados por jujnjhfdos como progresso,benvêstor, industrialização e pelo aparejhamento institeçjpnal que ha-bãitiTas sociedades aalcançarem essas metas. Por exemplo, na tingua-gem ribemitiea atualmente em voga, osistema de governo êdefinidoc^otrasisitema mecanomórfico, e o estadista como seu operador(Deutsch, 1966, p. 182-5). Sob esse aspecto, é*e levado aadmitir que._f***Mfft An «mriectmpntn nnlíticn.depende, sobretudo, dajuaKd*de e da quantidade da informação dfeprâtível. Ese, como foi estimado" o mõfàSte^iiifonnação atualmente necessário para o acuradoconhecimento político iria requerer milhões de cartões padronizadosda IBM,31 falando em termos práticos, temos que aos computadores,e não aseres humanos, deveria ser atribuído o papel decisivo de dirigir osgovernos contemporâneos.
Pode ser bastante verdadeiro que a direção dos governos industriais desenvolvidos possa de fato repousar em critérios quantitativos(Deutsch, 1966), de preferência acritérios normativos éticos. No entanto, atribuir um caráter paradigmático àcondição desses sistemas degoverno eqüivale alegitimar amarcha cega da história da humanidade.Semelhante abordagem em termos de mformaçjo (Deutsch, 1966,p 145-62) congela grosseiramente o atual poder de configuração domundo e, finalmente, interpreta a dicotomia entre desenvolvido esubdesenvolvido como umjulgamento ético, histórico, quando naverdade amesma existe no sentimento que as pessoas têmde relativa satisfação e de privação relativas, mais do que nas possibilidades concretas de seus contextos.
2.6 Conclusão
Toda teoria da organização existente pressupõe uma ciência social da mesma natureza epistemológica. A contrapartida da atual teoria da oreanizaçãb éaciência social formal. Acontrapartida da novaciência da organização éaciência social substantiva. Neste capítulo foiapresentada uma breve caracterização desses dois tipos de ciência soai Emafnmaçfef«extiattadeSartoria970).Esiieveele: ^"HáX^nSatrfs. Kari Deutsch predisse que por volta de i975as ex*enctosde intacta da ciência política seriam atendidas pelo 'equivalente auns 50milhões [dVcartôes IBM] ..*aum crescimento anua) broto de: taheruns 5milhões.' Considero aestimativa assustadora..." (Sartori, 1970,p. 1.035-0j.
45
ciai Eu deveria salientar, porém, que embora em diferentes passagensdo capítulo ateoria clássica tenha sido utilizada para ilustrar adistinção os «Êmffe^ê^^m^^^^^^-^^^^l^.humanT^slo^dalão^erivãdos do exercício de um senso da realidadecomum atodos os indivíduos, em todos os tempos eem todos os luga-res~Há uma herança de pensamento humano que transcendej teonaclássica em seu mais estrito Senso, rqde estXãfiva e operante nas mentes ^évHõTeYmdiosos contemporâneos, sensíveis ao caráter precánodfidade moderna. Tal sensitividade, porém,Jalta, oué latente, nosrepresentantes das ciê"ncias sociais formais. A_ disposição característicada idade moderna reflete uma premissa não articulada sobre anatureza humana, a de que a própria natureza humana éum dado histórico.Éevidente,' portanto, que aciência social formal nunca poderá alcançar onível de uma teoria verdadeiramente crítica. Na realidade, nem ahistória, nem a sociedade, pode criticar a si mesma, porque ojnstru-mento de medida para essa crítica não se contém em nenhuma de suas.episódicas configurações. Ao contrário, oinstrumento de medida éumcomponente das estruturas básicas da natureza humana, que se atualiza diferentemente em diferentes culturas e períodos. A história é umsimpósio permanente, inteligível, no qual todas as gerações se compreendem umas às outras. Mas não éa própria história que nos permite sermos inteligíveis e inteligentes. Antes, é a razão, em sentido substantivo, que capacita os seres humanos acompreenderem as variedadeshistóricas da condição humana.
Há um círculo vicioso ligando_a ciência social formal à disposi-ção moderna, cu^sêdúção continuai ser tão eficaz que_amaioriadaspessoas loma; de fato, decisõeTsobre si mesmas espbreos problemass~o^iãis~aTacõ73õ, acima de tudo.jom_os pressupostos característicos.,dessa disposição. Aofuscação do senso comum pela disposição mo-_aériiá constitui aessência daquilo que me proponho chamar dé síndro-riíé-comportamentalista, cuja discussão analítica seráerripreeridida no.capítulo 3. Aidentificação" dessa síndrome comõ"uma deformação,mãiTdo que como súmula da natureza humana, é essencial para quecompreendamos os alicerces psicológicos da antiga e^da nova teoria daorganização.
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f& ASI1MDR0ME COMPORTAMENTALISTA^
Ateoria organizacional em voga não consegue proporcionar umacompreensão exata da complexidade da análise edesenho dos sistemassociais eessa falha resulta, em grande parte, de seus alicerces psicológicos Portanto, o desenvolvimento de uma nova ciência das organizações exige uma explicação analítica dessa base psicológica. Antes dedar início a essa tarefa, diversas considerações preliminares fazem-se
°P° Primeiro as organizações são sistemas cognitivos; os membrosde uma organização em geral assimilam, interiormente, tais sistemas eassim, sem saberem, tomam-se pensadores inconscientes. Mas opensamento organizacional pode mesmo passar aser consciente esistemati- ,.co, quando articulado de maneira fundjmejuahsta. Es*^tipo depensa-mènto écaracterístico de teóricos, que artlcíIanTo sistemaoogdtivoinerente aum tipo particular de organização como sendo um sistemanormativo e cognitivogeral." Ã~maio7íarte daquilo que é usualmente denominado eona daorganização édesprovida de rigor científico^ é, antes, tautologia dis- -^ --farçada ou, quando muito, disfarçadopensaniento organizacional, pen- \~*samento que aceita, por seu valoraríamos critérios merentes aor-gankação% éT^e hfesInõTsu^proSn^ó próprio processo organizacional. Considera como normais e naturais os requisitos organizacionais tal como, por acaso, são encontrados sobrepondo-se acondutahumana como um todo. Em contraposição, uma teona da organizaçãoverdadeira e científica tem seus próprios criténosristeAcnténos quenão são necessariamente, idênticos aos dalejjciêncjajoçiâl>e oigaruz*cionaLUma teoria científica da orgariizaçãohaõlèbaseia em sistemascognitivos inerentes a qualquer tipo de organização existente, mas antes faz a avaliação das organizações em termos da compreensão daconduta geralmente adequada aseres humanos, levando em consideraçãotanto requisitos substantivos como funcionais.
Segundo, propõe-se aqui uma distinção entre comportamento eação, para esclarecer o reducionismo psicológico da atual teoria de organização. Ocomportamento é uma forma de conduta que se baseia
50
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na racionalidade funcional ou na estimativa utilitária das con*qüên-cias, uma capacidade - como assinalou corretamente Hobbe-^queo ser humano tem enu^inumxom os outros animais. Sua categonamais importante éaCconve^ciajEm conseqüência ocomportamento édesprovido de conteúdoftico* validade geral. Éum tipo de conduta mecanomórfica, ditada por imperativos extenores Pode«et afanado como funcional ou efetivo e inclui-se, completamente, nummundo determinado apenas porcausas eficientes.
Em contraposição, aação éprópria de um agente que deliberasobre coisas porque está consciente de suas finalidades intrínsecas. Pe-Io reconhecimento dessas finalidades, aação constitui uma forma ética de conduta. Aeficiência social eorganizacional éuma dimensão in-cidental enão fundamental da ação humana. Os seres humanos sao le-vados aagi atomar decisões eafazer escolhas, porque causas finais- enão acenas causas eficientes - influem no mundo em ^
ação baseia-se na estimativa utilitária das conseqüências, quando,UÍt°Ar"ePpa^a identificação eao exame dos alicerces psicoló
gicos da teoria de organização existente, são oportunas nia» dguma*fonsiderações preliminares. 0ponto seguinte a ^^^gem lingüística do termo comportamento esua relação com atenden-capenetrante da síndrome comportamentalista. Em seguida, será sa-uSo^a-^iromicomportamentalista surgiu como consequ n-cia de um esforçolu^> sem precedentes para modelar uma ordemociaí de acordVconT-cííTérios de economicidade. Fmaknente£rfdada certa consideração aos conceitos de bom homem ede boa soc.e-dade, na medida em que ambos influem na compreensão do conceitoda síndromecomportamentalista.
Não é por acidente que, no mundo ocidental, comportamentosó recentemente passou aser vocábulo de uma língua franca, indicadora do pavões FZ*Mm^*^^em± Ag™nunca foi usada na ImguagemWe^aTenla^^acordo cornos dicionaristas, começou a ter aceitação lingüística povoUa de f49^e significava conformidade aordens ecostumes ditadosvuiia wi< , o- „„„~c Ait<t i na avra nao
-A
volta de 1490Ae significava contormiaaoc a uiucu» c "i —^5> pelas conveTüinciat exteriores. Mesmo em nossos dias, apalavra nao<í4^oL perdeu seu sigroificadíLori^^ send.° ™£ egoria de^co^±r*nlo^^^ que égeralmente
neghgenciadõrp^uTTconTonnidlld^mente estabelecidos foi transformada em padrões de moralidade humana em geral. Homens emulheres já não vivem mais em comumda-oTonTe um senso comum substantivo determina ocurso de suasações Pertencem, em vez disso^juwciaia^^ poucoS além de responder .ry^^or^^^ indivíduo tor-nou-se umacriatura quesecomporta.
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Asíndrome comportamentalista é uma disposição socialmentecondicionada, que afeta avida das pessoas quando estas confundem asregras enormas de operação pecubares asistemas sociais episódicoscom regras enormas de sua conduta como um todo
Asíndrome conaportamentalista, isto é, a ofuscação do sensopessoal drcntérios adequados de modo geral àconduta humana, tor-O,nou-se uma característica básica das sociedades industnais contempo- XJrâneas.
Essas sociedades constituem a culminação de uma experiênciahistórica, a esta altura jávelha de três séculos, que tenta criar um tiponunca visto de vida humana associada, ordenada e sancionada pelosprocessos auto-reguladores do mercado. Aexperiência foi bem-sucedi-da certamente que bem demais. Não apenas omercado e seu caráterutilitário tomaram-se forças históricas e sociais inteiramente abrangentes, em suas formas institucionalizadas em larga escala, mas tambémdemonstraram ser altamente convenientes para a escalada e a exploração dos processos da natureza epara amaximização da inventiva edas capacidades humanas de produção. No entanto, através de todoesse experimento, o indivíduo ilusoriamente ganhou melhora materialem sua vida e pagou por ela com a perda do senso pessoal deauto-orientação. Aisenção do mercado da regulação política deu origem aum tipo de vida humana associada ordenada apenas pela interação dos interesses individuais (para a autopreservação), ou seja, umasociedade em que o puro cálculo das conseqüências substitui o sensocomum do ser humano.
Como expliquei no capítulo 2, é impróprio considerar comociência social formal aquela que se baseia nanoção comportamentaldo ser humano. Essa chamada ciência equipara a natureza humana àscaracterísticas de um certo tipo de sociedade que é, ela própria, ummero acidente na história. Essa ciência trata de socialização, de aculturação e de motivação como se os padrões do bem fossem inerentesa uma tal sociedade.1 Em vezdisso, deve sercompreendido que todasas sociedades são menos do que boas; apenas o serhumano, eventualmente, merece ser caracterizado como bom. O bom homem, por suavez, nunca é um ser inteiramente socializado; é, antes, um ator sobtensão, cedendo ou resistindo aos estímulos sociais, com base em seusenso ético. Na verdade, osprocessos não regulados domercado jamaispodem gerar uma boa sociedade. Tal sociedade só pode resultar dasdeliberações de seus membros em busca da configuração ética, substantiva, de suavidaassociada.
J Assim, como diz Reichenbach, a ética serviria apenas para "informar-nossobre matéria de fato. Esse é o tipo de umaéticadescritiva, que nosinformasobre oshábitos morais de vários povos e classes sociais; essa éticaé umaparteda sociologia, mas não é de natureza normativa" (Reichenbach, 1959, p.276-7).
Concluindo estas considerações preümmares,volo-me Wra uma discussão analítica de V^>^^^nt^^comportamentalista: a) afluidez da indmduahdade, b) «Perspecti^s-mo; c) oformalismo; d) ooperacionalismo. Serão mdicadas as conexões entre esses traços eamentalidade imposta pelo mercado.
3.1 Afluidez da individualidade —^ fC' -s 'A"individualidade fluida" é uma expressão usadai por Axnold
Hauser em seu estudo do maneirismo, estágio inicia^ da arte modernaAssinala Hauser que aindividualidade fluida e^J"**™" ^Jdos artistas maneiristas anteciparam atendência que, séculos^mau ar- Vde, se transformou numa síndrome psicológica das sociedades cap.ta-üs as. Hauser destaca Montaigne como um e^01^0™^™™*rista ecomo um dos melhores exemplos da indmduahdade flu da_In-"erpreta ofilósofo francês como afirmando que aavaliação das coisasnâ?tem base permanente eque "nada ébom ou maue^«(Hauser 1965, p. 49). Criados pelo homem, os valores nao sao perpétuos,'imutáveis einequívocos... anatureza humanaé fraca em-instante, num estado de eterno fluxo, suspensa entre d erentes estivdos, inclinações, disposições, porque está em continua transiçãotsua verdadeira natureza não está na permanência, mas « ™^H(Hauser, 1955, p. 49). Assim escreve Montaigne, significativamente,em seu Ensaios:
"Não retrato oser; retrato aquilo que passa... Se minha mente pudes- xse encontrar uma base firme, eu não escreveria ensaios, tornaria de-cbteÜ mas ela está sempre aprendendo eexperimentando (Mon-/taigne, 1975, p.611).
Sustento que afluidez da individualidade não pode ser inteiramente explicada sem que se vincule esse fenômeno àforma de repre-Tteão a^vés da qual as sociedades capitalistas teÇtunj^J» •mesmas. Implícito nas variadas formas de representação característica! de sociedades medievais, bem como de antigas sociedades ede numero Sociedades contemporâneas não-ocidentais, está opropostoJeque ouniverso, em seu conjunto, constitui uma ordem coerenteeque aprópria comunidade humana éparte dessa ordem. Cada umadessas sociedades se imagina como contínua, porém precária, represen-tação da ordem cósmica, num mundo de histona ede mudança. Aquilo que oproblema da representação acarreta para tais sociedadesêoque há de verdade na existência delas. Afonte de sua auto-mterpreta.ção éoparadigma meta-histórico que oferece adequado ponto de referência como uma estrutura normativa para aconduta humana em
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antes,um
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sociedadem
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que,aseuturno,estim
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averdade,
ohom
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odernoé
uma
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porta,essencialm
ente,de
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Nãoé
poracidente
queHobbes,que
éa
fontedem
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emrelação
aom
odernoconceito
derepresentação,concebeo
indivíduo
como
umseguidor
deregras.Para
ele,bomem
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simples
denominações,
cujossignificados
estabelecem-se
convencionalmente.
Noconceito
derepresentação
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esseponto
devista,a
O^
O^
X^
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substituia
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^A
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ento.0
fenômeno
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Hauser
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dualidadeé
peculiaràsociedadem
odernae
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moderna,
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mundo
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segundoum
paradigmadeordem
cósmica.Em
talsituaçãode
2Sobre
representaçãoe
seusfundam
entosm
eta-históricos,veja
Voegelin(1952)
eEliad
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3Hirschm
an(1977)
tratada
questãodos
interesses,na
forma
pelaqual
serelacionam
como
surgimento
docapitalism
o.
4L
.vonStein
assinala,corretamente,que
asociedade
moderna
éconstituída
quandoa
"organizaçãodavida
econômica
setransform
anaordem
dacom
unidade
humana"
(vonStein,
1964,p.47).Conseqüentem
ente,"apercepção
dos[interesses]
regulatodas
asatividadesextrínsecas
...estásempre
presentee
vivaem
cadaindivíduo,determ
inandosuaposição
social"(von
Stein,1964,p.55).
54
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vácuometa-histórico,não
dispõeotoàiríéaoàoplÊofinm^ç^ào
paraquesuaidentidadesedesenvolva.Eleé.:antes.compelidoaenfirmaiprocessosemudançasqueconstituem
denvativosdeummovi
mentoamo-induzido
eindefinidodo
agregadoiriiO
Wdemoéotoloenganadoporumafég
^^
^g
g^
ag
Bíblia;parã-õTcnTntesalèéaesperariçâ^ãTcõisas,que>™*°*J™
vistasVeW^ntinüa^enteafetandoouniversoec&ndc,iscado
aõcurso-dõsacontecimentos.Mas,sem
disporderaízesm
eta-històncaie
rriltaslóciais,amente
leigamoderna
transpôs,maisdoque
eü-minou,seus
artigosde
fé:agoraela
acreditana
mão=mjüSiyel_dj^^=fõde
serdeduzidauma
certaepistemoíogiadessacondição,deacordo
comaqualosprocessoseasmudançastêm
queserexphcadoscomo
ativadosexclusivamente
porcausas
eficientes.Essa,aliasa
epistemoíogiaemque
seapoiaaciênciasocaiconvencional.Nalinguagem
queprevalece
nessaciência,expressõescomo
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processotorientação
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naabXita
transitoriedadedascoisas.Talcompreensão
deprocesose
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hiteheadUm
dosmuitosm
éritosda
filosofiadeorganismo
deWhitehead
éaelucidaçãodoconceito^e^ròcèsSo,Reconhece
elecomovalidaa
mtuãodeÇHeráclito~ée^lõdãsãscoisasfluem,fs
consideramaisadequadofalardofluxodascoisas,umavezquetodofluxoéfluxodealgumacoisa(W
hitehead,1969.p.240).Ofluxo
dascoisaséaconcre-tizacão
deseuspadrõesimanentese,portanto,resultainteiramentedecausaseficientesefinais.O
fluxodascoisaséobjetivamentecondicu,
nadopelosdadosconstitutivosdomundodeterminadoetambém
pelaexperiênciaparticulardesuasfinalidades.Nãoexistefluxoindefinidodo
nadaparaonada.Paraserexato,ascoisastomam-sealgoseletivamente,finitamente.Um
tomar-sealgo
não-seletivo,mdefinido,éinconcebível.Ascoisassãoprocessosfinitose"epocais'.Perecem
comoprocessos,
emborasejam
perpétuascomo
padrões.Numa
síntese,W
hiteheadapresenta
suaidéia
defluxo,com
ose
segue:
"Hádoisprincípiosinerentesàpróprianatureza
dáscoisas,que.aparecem
sempreemalgumascorporificaçõesparticulares,sejaqualfor,
ocan\poqueexplorarmos-o^m
útoM^m
^oejp^oje
conservação.Nadapodeserrealsemambos.A
meramudançasemcon-|
emção^éumapaLgemdonadaparaonadaA-eraconservação
semmudançanãopodeconservar.Porque,afinaldecontas,haum
flu-xo
decircunstânciaeafrescuradeserseevaporasob
amera>repetição.O
caráterdarealidade
existenteécompostode
organismosperdurando
atravésdofluxo
dascoisas"(Whitehead,1967,p.201).
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Whitehead esclarece, em essência, que dissociada da categoria ser(• imnossível conceber acategoria de passar ou mudar.
Wkwe perguntar o que foi que, na histona moderna, gerou osenJanto geneSzado da permanente transitoriedade de todas asST tãcbem articulado por Montaigne. Uma parte da resposta édada Õdo conceito de natureza característico da ciência moderna, apartir do século XVÜ. Em última análise, aciência moderna ve anaturezacomo partículas de matéria em movimento, erepresenta os valores como adventícios, em relação ànatureza. No domínio da vida cotidiana,essa visão filtra-se como um sentimento de uma permanente e sempropósito transitoriedade das coisas. Reduzidas apartículas de matena_em movjrrjenio^âo-elas^jacebidas^o
TnHnri^rTaiTi^ancI Se valores epropósitos não podem ser consi-^éráaoT^oTneWteTàs próprias coisas, estas estão fadadas ase encadearem num mundo em infinita progressão. Nesse mundo nao háum tomar-se algo, visto como o processo das coisas não pode ser avaliado independentemente do pressuposto de que as mesmas sao dotadas de experiências privadas de realidade, ou de finalidades próprias.
Aquestão admite, também, outra resposta parcial. Ciientimento_de transitoriedade das coisas, permanente e sem propósito, é uma con-seqüêncnHh^&nSrtZa^áõacrítica, pelo indivíduo, da auto-represen-tacão da sdCToe moderna, que se define como um precário contratoentre indivíduos que maximizam a utilidade, na busca da felicidadepessoal entendida como uma busca de satisfação de uma interminávelsucessão de desejos. Para além das fronteiras sociais, não há significação para esse esforço. Uma vez que, em conseqüência de seu carátercompetitivo, omundosocial como_um_lfldn se toma estranho aojio-mem este terTteãipeTSr sua alienarão, seja anulando-se através da pas-slvT conformidade a papéis que prevalecem aqui e ali, ou recolhen-do-se dentro de simesmo, afirmando assim uma identidade demasiadamente consçienteJe_iuriesjnâ1 Mas já que ocentro ordenador desua vida não está em parte alguma, sua jdenlidadfi é de sua propnacriação. Essa forma de cultivo da individualidade acaba em narçisis-Trio~*~Ã psicologia, ela própria esquecida de tudo que possa transcendeias persuasões sociais que agem sobre arisjau^Jiumariii^e^xílio do indivíduo. Anossa é uma era d<rgmçndagem psicológica? Nasclínicas psicológicas, o indivíduo que se isolou da realidade éencorajado alancar-se àprocuraja_pjópria individualidade, mas édiscutívelque essa procura possa jamais ter sucesso, num mundo ordenado deacordo com regras contratuais de agregação, social de interesses competitivos. Quando a condição humana é presumida como apenas social, a fluidez daindividualidade é inevitável.
s Sobre esteponto,veja Hauser (1965) e Lowenthal (1968).
56
3.2 Perspectivvmo
Em conseqüência, numa visão fluídica, com a^terpretação dasociedade como um sistema de regras contratadas, o mdividuo e eva-do acompreender que tanto asua conduta quanto^çpn^ute dos outros éafetada por uma perspectiva. Toma-se um^spectivist> Ecerto que aperspectiva ésempre um ingrediente da conduta humana, emqualquer sociedade. Mas somente na sociedade moderna éque oindivíduo adquire a consciência desse fato. Essa sociedade gera um tipopeculiar de conduta, que merece ser referida como comportamento, epara comportar-se bem, então, ohomem só tem que levar em conta ascWe^iaS^riw^ os pontos de vista alheios eos propósitos emjogo.
Ao discutir ocrescente destaque do perspectivismo como um aspecto fundamental do alicerce psicológico da teoria de organizaçãoque ora prevalece, será útil fornecer alguns antecedentes históricos dotermo. Aperspectiva, como djmensão da exrnejsão humana,Ltranjfo-_mou.se nuVteímTtécnico, primeiro no domínio da pmtura, Na reah-dade todos os estilos de" pintura se caracterizaram por uma certa perspectiva. Mas somente na fase final da Idade **V"^f\|^tiva aconstituir objeto da atenção do pintor. Q'* ^? fl^tadmite aue aquilo que o artista oferecejiumjejajiaojjirna copiada
Petrarca (1304-74) repetiria Giotto em sua máxima: Cada um deveria e" nVver «u próprio estilo." Foi, porém, Uon Battista Alberti(1404-72) quem teve a percepção das leis da perspectiva como umobjeto de investigação científica formal. Subseqüentemente na este,ra da revolução comercial e industrial, aperspectiva deveria tornar-se,cada vez mi, uma categoria sistemática de trabalho artístico, assimcomo uma característica da conduta humana em geral.
No século XVI, florescia na Itália um mercado de arte. 0 que aspessoas de gosto compram, num tal mercado, é, preferentemente avx-síL pessoal dos artistas. Oelemento pessoal toma-se amarca regradadobras de arte eaapreciação dessas obras requer uma certa inicia-c7o na? mLiras peculiares aos artistas. Os historiadores destecamonv"enmtemente,Po maneirismo como a%£*£*"£$£
naquele século, quando oconnoisseur encontra P*la P™^"2£"oportunidade de ganhar sua vida nos centros artísticos da Itáta. E.deum comerciante eum corretor entre os artistas e«£^jjj•«artistas iá percebem que trabalham para um mercado. 0 conceito daoropriedade intelectual, desconhecido na Idade Média, é agora reco-SfoaSa éum empresário, habilitado areclamar direitos de
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No entanto, nessa época, o perspectivismo não está confinadoaos meios artísticos. Constitui uma feição davida diária deumnúmero crescente de pessoas, envolvidas em atividades propiciadas peloemergente sistema de mercado. Na realidade, o mercado é a forçasubjacente, geradora da visão perspectivista da vida humana associada. Poder-se-ia dizer que Maquiavel encontranascondições que prevalecem em seu tempo a inspiração para elaborar sua teoria política.7
0 perspectivismo permeia o pensamento de Maquiavel e umexemplo disso é aanalogia usada porele na dedicatória â'0Príncipe aLourenço de Mediei. A dedicatória em si é um recurso de conveniência, servindo à sua intenção de obtervantagens pessoais com suaadula-ção do príncipe. Mas o que deve sersalientado é a caracterização, queMaquiavel faz, da forma correta de estudar a arte de governar. Elecompara os estudiosos da políticacom "aqueles que desenham osmapas dos países". E explica: eles "secolocam bem embaixo, naplanície,para observar a natureza das montanhas e doslugares elevados, e paraobservar a dos lugares baixos colocam-se bem no alto das montanhas.Da mesma forma, para poder discernir claramente a naturezado povo,o observador precisa ser um príncipe e para discernir a dospríncipes,tem que fazer parte da populaça" (Maquiavel, 1965, p. 10-1). Maquiavel recorre a essa metáfora perspectivista a fim de declarar que oestudo da política requeruma integração dospontosde vista tanto dopríncipe quanto do povo. Para usar a terminologia deMannheim, Maquiavel já é um "relacionalista" completo e acabado. Seu relacionalis-mo, porém, não se preocupa coma verdade, mesmo emsentido relativo. Preocupa-se, essencialmente, com a conveniência. O príncipe precisa ser instruído sobre a perspectiva do governante para preservar eaumentar os seus bens. Precisa compreender a perspectiva do cidadãocomum paraenganá-lo. O príncipe precisa ter sensibilidade paraos imperativos cênicos, isto é, ser virtuoso por fingimento e capazde induzir os cidadãos a serens bons através do sábio exercício da crueldade.
Maquiavel distorce sistematicamente a linguagem teórica pordespojá-la de qualquer substância ética, prática em que Hobbes maistarde seria soberbo. Por exemplo, com Maquiavel a prudência ganhauma conotação desconhecida. Sua idéia de prudência é vazia de conteúdo ético. A prudência é mero cálculo de conseqüências, uma habilidade a serviço dos interesses. É eleo fundador de uma "teoria política de interesse" (Wolin, 1960, p. 233), na qual "crueldade", "embuste", "logro", "usura", "guerra", "assassínio em massa" são sancio-
6 Sobre o mercado artístico na Itália e o surgimento da arte moderna, veja vonMartin (1944).
7 Sobre o "momento maquiavélico",vejaPocock (1975).
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nados como expressões legítimas da conduta humana. Dessa forma,louva atos deploráveis para o senso comum. O príncipe não deveriaconsiderar seu dever a prática dequalidades "consideradas boas", porque elas podem resultar na sua "destruição". Há qualidades "quê parecem vícios mas que, se ele as pratica, lhe poderão trazer segurançae bem-estar" (Maquiavel, 1965, p. 59). É certo que "todo mundo",diz ele, "admitirá que seria muito louvável que um príncipe exibisse[as] qualidades... consideradas boas... Mas nenhum governante pode possuí-las, ou praticá-las inteiramente, por causa de condições humanas que tal não permitem" (Maquiavel, 1965, p. 58). Os ensinamentos de Maquiavel significam que não apenas os príncipes, masigualmente os homens comuns, têm o direito de pôr de lado os padrões morais das boas ações, na perseguição dos interesses pessoais.Ele é, na verdade, um dos primeiros pensadores modernos que compreenderam os padrões motivadores imanentes a uma sociedade centrada no mercado. Tais padrões em geral e o perspectivismo^em particular tomaram-se os padrões normativos da condutahumana.
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03.3 Formalismo
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O formalismo é um terceiro aspectodosfundamentos psicológicos que inspiram aatual teoria de organização. Éuma característica daconduta humanaque se tomou externamente orientada. 0 termo é geralmente empregado pelos historiadores da arte, incluindo ArnoldHauser, para descrever uma característica psicológica particular da sociedade ocidental, no início de seu período capitalista. O formalismoainda é útil, hoje em dia, como uma categoria explicativa da condutahumana. Na realidade, tomou-se um traço normal da vida cotidiana, inas sociedades centradas no mercado, onde aQJjgjgjnria das renTas M^^jubstitui a preocupação pelos padrões éticos substantivos. Exposto a J 'um"mundo infiltrado de- relativismo-moTaCõTmTvTduo egocêntrico Ç._vsente-se alienado da realidade e, para superar essa alienação, entrega-sea tipos formalistas de comportamento, isto é, sujeita-se aos imperativos externos segundo os,quais-£|»íoduzida a vida social. Toma-se ummaneirista. De fato, oCa^neirismo' é} disposição psicológica exigida
/ porum tipo de política divoTciada-dó interesse pelo bem comum, por" um tipo de economia unicamente interessada em valores de troca, e
por uma ciência, em geral, essencialmente definida por método e porpraxes operacionais.
P O comportamento é uma manifestação domaneirismo e é inteiramente capturado pelos critérios incidentais da arena pública. Seusignificado exaure-se em sua aparência perante osoutros. Sua recompensa está nopróprio reconhecimento como adequado, correto, justa
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^-m «r nhieto da razão, mas de imediato senso e sentimento... A^t Toent não pode tomar qualquer objeto particular, por sir^oXaSvel ou 'desagradável àmente" (Smith, 1976, p. 506).
Na opinião de Adam Smith, assim como na de todos aqueles queafirmam que amoralidade écompatível com aprópria sociahdade, oindivíduo é deixado sem um piso firme, metassocial, para aresponsável determinação do caráter ético de sua conduta. Ohomem nao age,propriamente, mas comporta-se, isto é, é inclinado a conformar-secom as regras eventuais da aprovação social. Em conseqüência, aeducação não visa desenvolver opotencial do indivíduo para tomar-se umhnm homem nosentido aristotélico. "Ogrande segredo da educação,declara Smith, "é dirigir avaidade aobjetos adequados (Smith, 19/õ,p 417). Acorreção da conduta humana está em sua mera forma, nãoem seu conteúdo intrínseco. Oindivíduo deveria colocar-se diante deum "espelho, através do qual [elej possa ... com os olhos das outraspessoas, examinar a propriedade da [sua] própria conduta" (Smith,1976, p. 206). Não há, assim, discordância essencial entre Castiglionee Adam Smith, no que se refere ao método adequado àdeterminaçãode normas de conduta humana em geral. Aúnica diferença entre eles éde natureza episódica. Para Castiglione, oespelho do homem éacorte.Para Adam Smith, é a "sociedade". Portanto, Teoria dos sentimentosmorais de Adam Smith, é equivalente ao livro de Castiglione, enquanto ambos sucumbem ao fascínio do episódico, cujo modelo étransformado em um padrão de conduta humana em geral.
Alegitimação de formas episódicas de conduta humana, de acordo com seus precários princípios imanentes continua, até hoje, a serum postulado básico da ciência do comportamento, "objetiva", "livrede valores". É, pois, compreensível que os que contemporaneamentepraticam a ciência do comportamento se vejam, a si própnos, como,estudiosos de processos, cuja forma, enão asubstância, éoque importa. Para essas pessoas, a síndrome comportamentalista éuma premissa,e questioná-la não temsentido.
3.4 Operacionalismo
Ooperacionalismo, como éentendido atualmente, tenta respon-der àseguinte pergunta: Como avaliar ocaráter cognitivo de uma afir- Imação? Há duas respostas básicas para esta pergunta, euma delas admi- «te a existência de diversos tipos de conhecimento (tal como o metafísico, o ético, o físico), cada um dos quais requerendo normas específicas deverificação. Todavia, há aqueles que alegam que apenas asnormas inerentes ao método de uma ciência natural de característicasmatemáticas são adequadas para a validação e averificação do conhe-
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cimento. Este ultima resposta constitui a essência daquilo que aqui érotulado de operacionalismo.
Parece prudente, no entanto, qualificar o operacionalismoentendido dessa forma como operacionalismo positivista, para queninguém interprete este item como insinuando que os critérios de rigoroso raciocínio são irrelevantes emtodososcampos de estudo,excetoa física. Aocontrário, onde quer que a articulação do pensamento nãoencontre critérios de exatidão, não existe sabedoria. É por isso quenãoé fácil para uma pessoa empenhar-se numa conversação no terrenodametafísica, daética, da estética, sem dominar osrespectivos padrõesespecífico» de pensamento e de esclarecimento das matérias. Porexemplo, aquilo que é conceituado como forma na metafísica, comovirtude na moral, como beleza na estética, não é dado à percepçãohumana da mesma forma que tamanho, forma, extensão e número deobjetos. Não obstante, pode-se argumentar, legitimamente, que imaginar as coisas como formas objetivas é um requisito para a apreensão desua natureza concreta. Justamente por isso, osjulgamentos que dizemque um indivíduo é bom eque uma obra de arte ébela significam quevirtude e beleza são objetos reais de uma espécie determinada, nãoapreendida diretamente pela percepção sensorial imediata.
Poder-se-ia considerar como representativo do operacionalismopositivista o argumento de P. W. Bridgman de que "um conceito nadamais é que um conjunto de operações".8 G. Lundberg exprime suaidéia de operacionalismo afirmando que a"receita de um bolo defineo bolo".9 É possível que nem todos os operacionalistas positivistasconcordem literalmente com Bridgman e Lundberg, mas em geraltodos eles partilham da doutrina esposada por ambos, de que apenasaquilo que pode ser fisicamente medido ou avaliado merece ser considerado como conhecimento. Esta é uma das razões pelas quais, nosmeios operacionalistas, a palavra metafísica écarregada de conotaçõespejorativas. Dizer que uma afirmação émetafísica eqüivale adescartá-lapor não ter sentido.
O operacionalismo positivista pode ser considerado um traço dasíndrome comportamentalista. Em outras palavras, quem quer queadira ~o operacionalismo positivista, fica preso aos limites de umapeculiar tendência psicológica. Na análise da psicologia do operacionalismo, é forçoso enfatizar duas de suas características principais.
Primeiro, o operacionalismo positivista é permeado de umaorientação controladora do mundo e,desse modo, induz o pesquisador a enfocar seus aspectos suscetíveis de controle. Tal característicadecorre de pontos de referência filosóficos e psicológicos.
" Apud Sjoberg(1959, p. 605).
9 Apud Sjoberg(1959, p. 606).
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Füosoficamente e, na realidade, metafisicamente ooperaciona-««« nSsta reflete avisão do universo inerente afísica clássica.PoT xemPr^Soiique aquüo que éreal no mundo só pode„Srado como extensão, espaço, massa, movunento esolidez.Conseqüentemente, oaparelho conceptualpara abordairi.realidade«e ser derivado, por força, da matemática. Na realidade, amate-m^crmodema leva em conta, na natureza, apenas aqueles aspectos1 podem ter expressão quantitativa. Em geral, os físicos clássicosZàtoZ esses aspectoscomo as únicas qualidades edeclaram secun- raaria. (isto é, invenções da imaginação) quaisquer outras qualidades ^que amente conceba. Dessa forma, conceitos de alta ordem comoaqueles que constituem amatemática moderna, determinam quais ascoisas do mundo que devem ser entendidas como reais ou irreais^ Essubstituição do abstrato pelo concreto é precisamente aquüoqueWhitehèíd identifica, com exatidão, como a"falácia da concretidademal colocada" (Whitehead, 1967, p.51).
Hobbes aceitou a doutrina de Galileu e, de acordo com ela.desenvolveu sua noção de "filosofia civil". *W*f>9* J"ngeaquüo que é hoje conhecido como ciência política esocial. Assim eque afinna ele que sentimentos como amor, benevolência esperança,aversão™ imptes movimentos da mente, induzidos por Influênciasexternas) da mesma forma que aconduta humana em geral devemser considerados do ponto de vista da física (Hobbes, 1859, p. 72).Hobbes afirmaria que aciência social é, necessariamente, física socialde determinado tipo, e que o problema da ordem nos negócios huma-nos só admite uma solução mecânica. Uma vez que as noções de bem ede mal e todas as virtudes e sentimentos pertencentes ao domínio daética, assumem ocaráter de qualidades secundárias, oplanejamento deuma boa sociedade eqüivale ao planejamento de um sistema mecânico,em que os indivíduos são engrenados, por instigações extenores, parasuportar as regras de conduta necessárias para manutenção da estabilidade desse sistema.
A ciência do homem e da sociedade, de Hobbes, modeladasegundo a física clássica, embora sob formas atenuadas, ainda teminfluência, hoje em dia, entre estudiosos e praticantes da ciência docomportamento, da pesquisa operacional ede determinados tipos deanálise de sistemas e planejamento. Na realidade, tais correntes estãosobrevivendo ao declínio do tipo de ciência física de que são denva-das. De fato, a física de hoje tende a trabalhar com conceitos semrepresentação visível, que não podem ser articulados como receitas, jáque ela nega àpercepção sensorial um papel importante na formulaçãoda teoria. Tendo «instaurado o conceito dovir a ser como realidade
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física, a formulação teórica, na física de hoje, é antes uma arte eobedece a regras estéticas.1 , ..
Psicologicamente, aorientação controladora do' "tundo tem*»inerente ao operacionalismo positivista desde seu ™«o tatónc^noséculo XVD. Na física, seus fundadores foram personalidades, comoGalileu, que reagiam contra aorientação contemplativa dominante edogmática, dos pensadores medievais. Os pensadores modernos desejavam que omundo prático fosse oobjeto mesmo da indagação científica Arefinação que Galileu fez da doutrina de Aristóteles sobre aqueda dos corpos, mediante aexperiência aque procedeu na Torre dePisa, éexemplo de um caso em que avalidação do conhecimento exigemais do que raciocínio süogístico. C(Jt\.)
Na raiz do operacionalismo está o interesse em lidar com problemas práticos do mundo eesse interesse foi tomado explícito porFrancis Bacon em seu Novo órgão, onde afirma que "conhecimento époder" Coerente com essa orientação éa assertiva de Bacon, de que"aquüo que éomais útil na operação, éomais verdadeiro no conhe- \) f\. ftcimento" (Bacon, 1968, p. 122). Énesse sentido que oque deturpa ooperacionalismo é sua identificação do útil com o verdadeiro. Utilidade é uma noção cheia dejmbigjn^adejtiça, Em si mesmo, aquiloque é útü pode servir para ser tanto eticamente sadio quanto eticamente errado nodomínio social e, desse modo, o papel dooperacionalismo em ciência social deveria ser eticamente qualificado. Isso e precisamente o que Hobbes e os cientistas sociais convencionais, de modogeral deixam de fazer. Despojaram a utilidade de seu caráter eticamente ambíguo, legitimando como normas gerais aquüo que éútil aosistema social para o controle dos seres humanos que dele participam.Ainda uma vez, é evidente aafinidade entre ooperacionalismo easin-drome comportamentalista.._
Outra característica do operacionalismo positivista influi na síndrome do comportamento: a recusa em reconhecer às causas finaisqualquer papel na explicação do mundo físico esocial. Sua inferenciaéade que as coisas são, simplesmente, resultados de causas eficientes,sendo o mundo inteiro um encadeamento mecânico de antecedentes econseqüentes. Essa conjectura éum componente sistemático da doutrina de Galileu, Newton, Laplace, ede todos aqueles que concebem aciência social como uma extensão da ciência física clássica. Uma vezque causa final éuma expressão que raramente aparece na linguagemtécnica atual, ninguém, no contexto da presente análise, pode servircomo exemplo melhor do que Hobbes, para sensibilizar o leitorquanto às questões aqui em jogo.
io Mais amplo desenvolvimento deste ponto ultrapassa os limites deste capítulo.Veja, não obstante, Capek (1961) e Leclerc (1972).
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Hobbes exprime aidéia de causalidade inferida pelo operacionalismo positivista como se segue:
n—i „5n tem luear senão naquelas coisas que têm senso
mrvsssss^ -«—"••(Hobbes'1839, p. 132).
Não é de admirar que, para ser coerente com tal doutrinaHniJ« terma sido levado adefinir arazão como nada mais do que225? S Ponseqülncias, no sentido mecânico. A******tntido mecânico énecessária aqui porque, no processo de atuahza-cão » coisas ficam, realmente, se acham sob ainfluencia de algumtino de antecedentes econseqüentes. Em seu processo de atualização,Tcotr nutram dados que são suas causas eficientes, mas taisoadosTão constituem oúnico agente determinante do processo dascoS como alegam Hobbes eos operacionalistas posinvistas em geralPoHxemplo Hobbes afirma, corajosamente, que "nada começa porZ^lyúo, mas por força da ação de algum outro agenteSrior" (HoWs, 1840, p. 274). Ele concebe ouniverso como umaoS mecânica, cuja compreensão requer »» «^*J^matemática um cálculo que consiste, essencialmente, em soma ou2S& descobertas da ciência contemporânea mostram que essaroncepção de causalidade éinsustentável. Por exemplo, acerteza napredTçao do processo das coisas éadmitida como teoncamente pos -vel na idéia mecanicista de causalidade, enquanto oprincipio da incerteza de Heisenberg, empiricamente provado, significa que as coisastêm seus fins próprios, que as dotam de certa capacidade de autodeter-mrna^São^merlte, afetadas por antecedentes no sentido de^nãoTxistindo abstratamente, têm que se apropriar dos dados fornecedos X mundo, mas tal apropriação não deve ser explicada^ comoumaVcomodação passiva acircunstancias externas; éum processo, «de-To, de exclusão einclusão de dados, de acordo com os objetivospar-ticu ares das coisas. Na linguagem de Whitehead, as co^o^nuamente fazendo a preensão de dados, na conçretizaç c dseuspadrões intrínsecos. Assim, a ciência contemporânea restabelece acausa final nodomínio físico e social.
Hobbes compreendeu, corretamente, que não se podia aceitar ooperacionalismo positivista sem reduzir ohomem auma espécie^meca-nomórfica de entidade. Assim, conscientemente, ele equipara aliberdade à necessidade. Em conseqüência, aquela não deveria ser apenasatribuída aos humanos, mas atodos os corpos. Aliberdade , diz ete"é aausência de tudo que constitua impedimento aação ....como porexemplo, se diz que aágua desce livremente, ou tem aliberdade dedescer pelo canal do rio, porque dessa forma não há impedimento,
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mas não pode correr atravessado, porque as margens são impedimentos" (Hobbes, 1840, p. 273-4). Portanto, o homem nuncai age propriamente, mas cede sempre às instigações f^nores porque su'Vontade ... e cada uma das inclinações do homem, enquanto etedelibera, são igualmente necessárias, edependem *jmg• "Jciente [o que, em Hobbes, éo£»£•«•»* ^]' 55?quanto qualquer outra coisa, seja ela qual for' (Hobbes, 184^ p. 2AI.Mesmo Deus não escapa ao peso da necessidade mecânica. Deus , dizele "não faz todas as coisas que pode fazer, se quiser; nf^ue possaTuerer aquüo que não tenha querido por toda aeternidade, isso euneg7 (Hobbes' 1841, p. 246). Na terminologia da presente rtto.isso eqüivale a dizer que Deus eos seres humanos não agem. Podem
T^nnrtaTse 0 mundo vai-se desdobrando de acordo com umS553B2£ .£• -da aeternidade. Não existe criativida-de no universo mecanomórfico de Hobbes.
3.5 Conclusão
Por imgegmaatHJuejeafjffltem **>££%££%
££«££»**** d, instimiça?seorg?íiIJç5eLque.func.o,
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tormaiismo e ou y focalizarão duas conseqüênciasZZSSL sírvid^disciplina administrativa dominante, oulocação inapropriada de conceitos eapolítica cognitiva.
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4 COLOCAÇÃO INAPROPRIADA DE CONCEITOSETEORIA DAORGANIZAÇÃO
Ocampo da teoria da organização tem sido tâo mdiscrmiinada-mente receptivo a influências vindas de tantas áreas diferentes deconhecimento que parece agora ter perdido a consciência de suamissão específica. Embora um relacionamento cnizado entre as disci-plinas seja, de modo geral, positivoemesmo necessário àcnatmdade,é hora de uma séria avaliação da condição desse campo, para que elenão se transforme numa mera confusão de divagaçôes abstratas,desprovidas de força ede direção. Toda disciplina deve ter um mínimode mtolerãncia em suas transações com as outras, ou perderá sua razãode ser Ter identidade ecaráter é,num certo sentido, ser intolerante.
Sustento, neste capítulo, que o processo de extrapolação, quechamo de colocação inapropriada - misplacement - de conceitos, estádescaracterizando ateoria da organização, e esta acabara mutuada, secontinuar se permitindo aprática de tomar emprestados aoutras dia*plinas, incompetentemente, teorias, modelos econceitos estranhos ásuatarefa específica.
4.1 Traços fundamentais da formulação teórica
Aformulação teórica, no campo organizacional, tem-se verificado mais freqüentemente como resultado: a) da criação original direto;b) do acaso de uma feliz descoberta (serendipity); c) da colocaçãoapropriada deconceitos. .»•.««-
NSo é minha intenção investigar as complexidades da cnatmaa-de conceptual. Basta dizer que um conceito resulta de um ato diretode criação quando nenhum antecedente dele é aparente, quando nãofoi derivado senão da transação pessoal edireta entre amente do pensador e os traços peculiares do tópico ou problema objeto de atenção.Assim, aacreditarmos em Cassirer, Montesquieu "é oprimeiro pensa,dor aapreender eaexprimir, claramente, oconceito dos tipos ideais(Cassirer 1951 p. 210). Com as características sistemáticas que maistarde lhe foram* atribuídas por Max Weber, esse conceito trouxe umacompreensão sem precedentes da natureza edo significado da própna
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formulação teórica. Aformação do conceito, porém, resiüta geralmen-teTe uma feliz descoberta casual eda colocação apropriada de conceitos sendo averdadeira eoriginal criação conceptual mais rara do queé ordinariamente admitido.
Como explicou Robert Merton, ocorre serendipity quando 'umachado inesperado eanômalo estimula acuriosidade do investigador eo (conduz] através de um atalho não premeditado, que [leva] aumampôtese nova" (Merton, 1967, p. 108). Afeliz descoberta casual nocampo da organização ébem exemplificada pelos chamados EstudosHawthorne. O propósito original dessa pesquisa era a avaliação doefeito da claridade na produção do trabalhador. Numa primeira tentativa nenhuma relação importante foi encontrada entre as duas vana-veis' Esse resultado inesperado levou os pesquisadores aprocederem auma completa investigação dos fatores da eficiência, e o resultadodisso foi a descoberta de que os sentimentos e as relações informaisentre os empregados, da mesma forma que suas necessidades pessoaisecondições sociais externas àorganização, têm influência sistemáticasobre aprodutividade. Épossível dizer-se que os esforços despendidosna avaliação e na discussão dos passos e dos resultados dos EstudosHawthorne conduziram Fritz Roetiüisberger e William J. Dickson auma incipiente formulação daquüo que éhoje conhecido como aanálise de sistemas. (Essa raiz da análise de sistemas tem sido negligenciada pelos que fazem acrônica desse campo.)
A colocação apropriada de conceitos pode proporcionar ummeio fecundo de obtenção de insight e pode mesmo levar à formulação de uma lógica da descoberta. Por isso se esforça Donald Schon, emseu livro Displacement of concepts.1 "A emergência de conceitos ,afirma Schon, pode "decorrer da deslocação de velhos conceitos paranovas situações" (Schon, 1963, p. 53). Ao deslocar um conceito,tenta-se compreender oinusitado em termos do familiar, ou odesconhecido em termos do conhecido. Vários exemplos podem ser citados,no estudo da política e da administração. Um exemplo de deslocaçãodeconceitos é encontrado no livro 77ie Principies oforganuation, deJames D. Mooney e Alan C. Reiley, autores que fizeram, explicitamente, o que outros, como Henri Fayol, Frederick Taylor, LutherGulick, fizeram implicitamente: deduziram_dos modelos histongosexistentes dnetrizesstoemitooaja^^ Mooney eReiley,
"^ianlõlê~sistênlãTÍcalnente numa lógica ãedeslocação, formularamprincípios como oprincípio escalar, oprincípio funcional, oprincipiocoordenativo e o princípio da equipe, tomando como paradigma deeficiência organizada (Mooney e Reiley, 1939, p. 47) a Igreja e oExército.
• Veja Donald A. Schon (1963). Sobre deslocação de conceitos como instrumento de inovação tecnológica, veja Gordon, W.J.J. (1973).
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Em ciência política, outra ilustração de deslocação.decone tosérepresentada pela obra The Nerves ofgovemment de Kar Deut cnAforça principal desse livro está na conceiteação de topicos^iticosdo "ponte de vista de comunicações" (Deutsch, 1966, p. XXVDJ -isto é pelo recurso aos modelos cibernéticos. No campo da teona ciaorgarüzação, oequivalente ao trabalho de DeutschVj«Tenente.Social pvchologyoforganizations. de DanielfteeI*bert LKahnno qual os principais temas eproblemas de administração se entrelaçam numa trama cibernética.
4.2 Adeslocação transforma-se em colocação inapropriada
Embora a deslocação de conceitos possa constituir um meio valioso profícuo e legítimo de formulação teórica, pode muito acil-men^edeVenerar numa colocação inapropriada de conceitos. Acolocação inapropriada de conceitos contamina, presentemente, ocampo dateoria organizacional, e ocorre quando aextensão de um modelo deteoria ou conceito do fenômeno a ao fenômeno b nao se justiiica,após minuciosa análise, porque ofenômeno bpertence aumcontextopeculiar cujas características específicas so limitadamente correspondem ao contexto do fenômeno a. Apessoa expõe-se, com freqüênciaa colocar inapropriadamente conceitos, quando empreende oesforçoda formulação teórica, earazão pela qual muitas vezes sucedem essas"injustificadas extensões de conceitos" édada por Kaplan:'Não há duas coisas no mundo completamente iguais, de modo quetoda analogia, por mais estreita que seja, pode ser levada aume,tremo exagerado; por outro lado, não há duas coisas que sejam com-plamente dessemelhantes, de modo que sempre épossível estabelecer mna analogia, se nos decidirmos afazer isso. Aquestão aser considerada, em todos os casos, é se há ou não alguma co.amaisaaprer,der nessa analogia, se nos decidirmos aestabelece-la (Kaplan, 1964,p. 266).
Assim, na tentativa de deslocar um conceito, pode-se estar entrando "numa possível cüada intelectual" (Nagel 1961, p. 11),' emque atentativa resulta na colocação inapropn^da de um conceito.a Veia Nagel, Ernest (1961, p. 108). Nagel escreve: "O que existe d££•*£»;ue onovo* ovelho é, muitas vezes, apenas vagamente apreend.d, sem er eu
assadas, graves erros podem ser facilmente cometidos (Nagc., 1965, p. 108).3Sobre os enganos que Giovanni Sartori chama de "estiramento conceptual".vejaSartori (1970).
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4.5 /4 i/usõo dfl autenticidade corporativa
Muitas tentativas para deslocar conceitos de outros campos paraocampo da teoria organizacional produziram resultados diferentes dospretendidos. De modo geral, os conceitos são inapropriadamente colocados na teoria da organização porque aqueles que praticam essa colocação inapropriada não percebem que as organizações formais saoafetadas por vários tipos de socialidade, que possuem, por sua vez, diferentes graus de intensidade. Por exemplo, tomando ograu de intensidade do contato entre os indivíduos como um ponto de referência,Gurvitch (1958, p. 176) estabelece a diferença entre massa, comunidade ecomunhão^ como formas de socialidade. Muitos autores são levados a extrapolações injustificadas, exatamente na medida em que nãotomam conhecimento do fato de que o terceiro tipo desocialidade -comunhão - tema menor das funções estruturais no contexto das organizações formais. Exemplo típico desse erro é aquilo que tem sidochamado de organizações autênticas.4
No entanto, autenticidade corporativa é, em seus próprios termos, uma contradição, jáque aautenticidade é um atributo intrínsecodo indivíduo: não pode, jamais, ser conquistada definitivamente. Aexistência social corporativa constitui, normalmente, o alvo contra oqual se lança a autenticidade. Os momentos autênticos da vida individual são precisamente aqueles em que os comportamentos corporativos estão em suspenso. E por essa razão que a autenticidade é perigosa. Viesse ela a se transformar num estado social corporativo firme,como querem alguns, então não haveria mérito para os indivíduos emserem autênticos, e o ser humano perderia o caráter deumverdadeiroeu, responsável por suas próprias ações. De fato, essa posição deixa detomar em consideração a inextricável tensão entre as dimensões substantivas das pessoas e os requisitos funcionais da sociedade. Pressupõeque a atualização pessoal pode ser equivalente à execução de atividades funcionais. É verdade que, ondeprevalece a comunhão, existe umaexpressiva tolerância para a autenticidade, mas a comunhão dificilmente é possível, dentro dos limites das organizações formais. Em razão de sua natureza, uma organização formal tem, normalmente, baixo grau detolerância em relação à autenticidade individual, para aqueles tipos derelacionamentos definidos por Martin Buber como Eu-Tu.
4.4 A alienação mal compreendida
A idílica vibração que prevalece em muitas das atuais teorias nocampo da organização confirma aasserção de Saul Alinsky de que "oscientistas sociais muitas vezes parecem simplórios, quanto aosusos e4 Veja, porexemplo, Beatrice &Rome, Sydney (1967, p. 181).
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propósitos das organizações".5 Essa observação éde particular pertinência em relação àqueles que afirmam que é possível minimizar emesmo eliminar aalienação, no contexto das organizações formais.
A literatura contemporânea sobre alienação representa, em grande parte, um exemplo de colocação conceptual inapropriado, ou ' esti-ramento conceptual", para usar a linguagem de Sarton. Antes deHegel eMarx, oassunto da alienação tinha um caráter meta-históncoe religioso fundamental. Para superar seu infortúnio histórico, ou suaproscrição no mundo, esperava-se dos humanos que enfrentassem asdimensões de sua condição, que eram essencialmente meta-históricase metassociais.6 Hegel e Marx reduziam essa proscrição, conceituadacomo alienação, a uma condição puramente social, de forma aconceberem a desalienação, a redenção ou emancipação do homem não como um acontecimento na vida individual, independentemente dedeterminadas circunstâncias do mundo, mas como o resultado de umcerto estágio do processo histórico-social. Hegel eMarx colocaram inapropriadamente, eles próprios, ovelho tema e idéia de alienação e-ou - de proscrição.
Todavia, pelo menos ambos tinham familiaridade com amilenarherança de pensamento e de insights sobre alienação. Sabiam que, deacordo com essa herança, a proscrição ou a alienação deveria ser considerada como uma questão essencialmente metafísica e religiosa. Ointuito deles era deliberadamente polêmico: mostrar que a proscnçaoou a alienação do homem poderia ser superada nos limites do domínio da história secular. Queriam dizer que, antes deles, os pensadoresencaravam a alienação num nível em que ela não se situava. Assim, sugeriam que esses pensadores do passado eram culpados de colocaçãoerrada do conceito de alienação.
É difícil, porém, encontrar desculpas para a atual literaturabehaviorista sobre alienação. De modo geral, a maioria de seus representantes parece esquecer os antecedentes históricos da questão. Maisainda embora alguns desses representantes contemporâneos se refirama Marx (e raramente aHegel) como fonte, seus estritos estão realmente carregados de erradas interpretações do pensamento de Marx, paranão mencionar seus antecedentes. Ao que parece, a intenção deles éaoperacionalização do pensamento de Marx, mas ao prosseguirem emseus esforços não tomam conhecimento do arcabouço macrossocial5 Apud Means, Richard (1970, p. 173).6 O conceito de distanciamento (ou alienação), como afirma Paul Tillich, corresponde "àquilo que no simbolismo religioso é denominado queda". VejaTillich (1968, p. 419).
' Marx, por exemplo, diz: "a teologia explica aorigem do mal através da quedado homem; quer dizer, afirma como fato histórico aquilo que deveria explicar(Marx, 1964, p. 121).
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em que apenas oconceito de alienação de Marx faz sentido. Por exemplo, num artigo amplamente citado, Mehrin Seeman procura tornar osignificado de alienação "mais pesquisável" e"acessível auma precisaenunciação empírica" (Seeman, 1972, p. 46). Descreve aalienação como provida de traços behavioristas, tais como fraqueza, falta de significado, falta de normas, isolamento, auto-alheamento e justifica suaanalise mediante uma interpretação fora de contexto de autores comoMarx, Max Weber, Durkheim, Mannheim (cavalheiros que, certamente,hurlentde se trouverensemble), nenhum deles aceitando jamais umadiscussão behaviorista do tema. Seemandiz, por exemplo, que rebeliãomuito se aproxima de isolamento. Se, naverdade, esse fosse o caso,Marx seria umapessoa alienada, o queeqüivale ainterpretar Marx contra o próprio Marx. Uma personalidade tão visivelmente voltada paraseu próprio ego, como por certo era Marx, repeliria com indignaçãoesse tipo de sugestão. Ele achava que sua rebelião contra asociedadeburguesa e seu isolamento dentro dela eram sinais de que antecipava,no decurso de suavida, a fase histórica futura definida pelodesaparecimento daalienação. Atinai de contas, Marx era dealgum modo bege-liano e, tal como Hegel, estava convencido de que havia decifrado oenigma dahistória. É sabido também que Marx tinha problemas comseus intérpretes e que disse, umavez: "moi, jenesuis pas marxiste."
Narealidade, Seeman tem consciência de que suaidéia dealienação"diverge datradição marxista", mas considera quetal"divergêncianão é radical". Reconhece que Marx produziu um "julgamento sobreum estado de coisas*'. "A minha versão", declara, "diz respeito â contrapartida desse estado de coisas, nas expectativas do indivíduo"(Seeman, 1972, p. 47). A questão é que essa divergência conduz aconseqüências ridículas, e isso é particularmente evidente no livroAhenation andfreedom, de Robert Blauner.
Blauner alega basear-se na teoria da alienação, de Marx. Contudo, apesar de suas interessantes conclusões empíricas sobre ambientesde trabalho em vários setores daindústria americana, a pesquisa deleéprecária, do ponto de vista conceptual, mesmo em bases marxistas,porque o contexto emque sedispõe'a avaliar aalienação não seajustaao contexto global de sociedade que Marx tinha em mira. Blaunerparece considerar alienação como equivalente a descontentamentocomas condições dotrabalho e essa equivalência corresponde àdeturpação do conceito marxista de alienação. Como assinalou corretamente Richard Schacht, Marx não"hesitaria em falar sobre 'trabalho alienado', mesmo com relação a indivíduosque não estivessem descontentes com seu trabalho" (Schacht, 1970, p. 164). Para Marx, nunca sepoderia eliminar a alienação noslimitesdamicrorganizaçSo. A desatie-nação, para ele,exige a total transformação do próprio sistema socialdo mundo inteiro. O que toma a alienação inevitável, no presente
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sistema industrial, de acordo com Marx, é a propriedade privada dosmeios de produção, aspecto sistematicamente negligenciado porBlauner. Da perspectiva de Marx não faz sentido dizer que "o impres-sor é quase o protótipo do trabalhador não alienado, na indústriamoderna" (Blauner, 1964, p. 56-7), ou que "osistema industrial (contemporâneo) distribui desigualmente aalienação entre a força de trabalho do operariado, da mesma forma que nosso sistema econômicodistribui desigualmente a renda" (Blauner, 1964, p. 5). Para Marx,diante das características intrínsecas das sociedades industriais contemporâneas, aalienação éum traço inevitável da vida de cada dia, umfenômeno social total, que resiste a qualquer solução compartimenta-lizada. A pesquisa de Blauner estriba-se numa colocação errada dateoria de Marx sobre alienação, e representa, narealidade, acolocaçãoinapropriada de um conceito, isto é, primeiro despoja a questão daalienação de seu caráter meta-histórico: segundo, admite que ela possaser resolvida pormeiosmteronpnizacionajSj,
Quando esse tipo de literatura, representativo da convicçãobehaviorista, é aceito por autores e especialistas em administração eorganização por seu valor aparente, estimula uma distorcida e atémesmo bizarra compreensão das relações entre as organizações formaise os seus membros. Por exemplo, refletindo os pontos oe vista deSeeman e de Blauner sobre alienação, Richard E.Walton sustenta que"as raízes da alienação do trabalhador" podem ser "extirpadas" através da "remodelação do local de trabalho" (Walton, 1972, p.70). Paracorroborar essa afirmação, informa ele osresultados de uma modificação implementada numa fábrica de alimentos para animais de estimação. Alguns desses resultados são assim enumerados:
"Depois de 18 meses, ataxa de despesas gerais estimadas foi inferior em 33%, na nova fábrica, ao que era na antiga. As reduçõesem custos variáveis de fabricação (por exemplo, 92% a menos nasrejeições por questão de qualidade e uma taxa de absenteísmo 9%abaixo da norma da indústria) resultaram numa economia anual deUSS 600 mfl. O índice de segurança era um dos melhores dacompanhia e a rotatividade ficou muito abaixo damédia.Novosequipamentos são responsáveis por alguns desses resultados, mas acredito quemais da metade deles deriva da inovação operada na organização
OiumanslíWalton, 1972,p. 77).
Constitui tarefa dos especialistas em administração pública eprivada aremodelação dos ambientes de trabalho, eoartigo de Waltoné,certamente, umainteressante pesquisa paraesse fim. Mas aidentificação do processo de desalienação com asatisfação notrabalho, eatentativa de avaliá-lo em termos deresultados tais comotaxas de despesas
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«rais custos operacionais, economia anual e índices de segurança saocxemòlos de completa ingenuidade. Além disso, os manuais contribuem para difundir essa ingenuidade entre os estudantes enum dessesmanuais geralmente utilizados está dito, por exemplo, que "certostipos de tecnologia podem reduzir a alienação (Luthans, 1977,p 9i)» Em outras palavras a alienaçjo pode ser tratada como se •f^ç^jn^^çjntã^ecmomòtiicCÊste éum tipoJs-r,onhRCimentn^superficial, (niejteyeria ser considsiafin inripsnupávol nao esoolas-de—gradúl^rirãdnu^tração pública edejmpresjfi».—
4.5 Sanidade organizacional, uma denominação incorreta
Outro exemplo de conceito errôneo éanoção de sanidade orga-nizacional. Warren Bennis afirma que é necessário um conceito desãrudádrÕrganizacional para superar as inadequações da noção decapacidade da organização. Podemos aceitar aobservação de Bennis de'queTiâI formas tradicionais" (Bennis, 1966, p. 44) de avaliação da eficácia da organização parecem muito primárias, uma vez que deixam delado diversos traços da questão que agora se mostram salientes. Realmente, os autores tradicionais preocuparam-se sobremaneira com odesempenho, medido de acordo com padrões maisj^ menojjjgidps-e-com limitadas "características de proauçaõ^H^êrmlsT 1966, p. 41). Ecerto que Bennis levanta um importante problema na teoria organizacional contemporânea: o conceito tradicional da capacidade da organização reflete uma visão muito estreita das "determinantes" (Bennis,1966, p. 44) dessa organização. No entanto, o pressuposto de que oconceito dasanidade organizacional pode trazer algum esclarecimentoou ampliar os limites da teoria organizacional é algo questionável.Além de ser estranha ao estudo científico de organizações formais(por motivos que serão explicados posteriormente), anoção de sanidade organizacional não só deixa de solucionar os problemas teóricos eoperacionais gerados pelo antigo conceito de eficácia organizacionalcomo cria outros.
A esse respeito, meus argumentos principais podem ser resumidos como se segue:
1. A sanidade organizacional, como a conceitua Bennis, é estranhaao campo da teoria organizacional, sendo uma extrapolação mecânica de um atributo que pode ser pertinente àvida individual, mas nãoà natureza da organização formal. Oconceito de sanidade organizacional de Bennis pressupõe a existência concreta de uma mente coletivaou organizacional, cujas implicações organicistas dificilmente se harmonizam com a estrutura da ciência social contemporânea. Fica-se a
* Veja Shepard (1972), Kirsch &Lengermann (1972) e Miller (1975).
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imaginar se não significará uma reconência de ilusões antropomórficascomo a "alma coletiva", de Gustave LeBon, e a "mente grupai deMcDougall.2. Ahipótese de autores clássicos, de Taylor a Chester I. Bamard,de que não existe teoria de organização sem padrões objetivos para avaliação de atividades específicas da organização formal, continua válida, em nossos dias. Em outras palavras, uma vez que aorganização formal éessencialmente definida por um tipoespecificode racionalidade ^racionalidade mstmmerriafou funcioriãT)- que serelaciona à otimização dos méiósTpãnrqúe se possa chegar a metasespecificadas, os critérios de avaliação da eficácia organizacional constituem um sério tópico teórico. Podemos hoje rejeitar, como primáriae inadequada, a abordagem da capacidade organizacional proposta porTaylor e pelos administradores científicos. No entanto, em qualquertentativa para lidar com esse problema, suas especulações e as conclusões a que chegaram merecem cuidadosa consideração. Aeficácia daorganização tem aspectos que Taylor e outros autores mais antigosnegligenciaram, mas a tarefa dos teóricos edos que praticam aciênciada organização não está em evitar o problema, nem em recomendarpaliativos. Consiste, em vez disso, na direta confrontação do problemada eficácia, em todaa sua atual complexidade. Em minha opinião, oconceito da sanidade organizacional falseia o assunto.
Na tentativa de substanciar a noção de sanidade organizacional,Bennis identifica a organização com um quem ("é preciso que se saibaquem ela é"), que se consj^i^de^exsas_"pessoaSLM^sendo_ aJaieia_do_executivo "esforçar-se para coriseguir coerência" ou"harmonia" entreessas "péMÕaTT^Wínlídldíém^^ 1966,p. 52~4):^Tinbssoas~õrganizacionais, como as sugere Bennis, representam uma reclassificação, em jermos behavioristas, das diferentesestruturas que Wüfred Brown vê em qualquer organização complexa:a estjntanjnanifêSta, que tem sua expressão num gráfico organizacio-naTTã estrutura presumida, como se apresenta às percepções fenome-nológicas dos indivíduos; a estrutura existente, que éaquela objetivamente percebida pelo analista de organização; eaestrutura nfressárianos termos ótimos que conviriam à organização, dentro desuas limitadas circunstâncias. A classificação deBrown évalida e temforça esclarecedora, mas ao aplicar a tais estruturas critérios psicológicos e aoconsidera-las correspondentes a pessoas, Bennis coloca mal o conceitode pessoa e traz confusão aos termos da análise organizacional. Pode-se, realmente, avaliar e descrever tais estruturas, mas perde-se aprecisaperspectiva na compreensão das complexidades organizacionais, se serecorre a uma categorização de pessoa, tal como propõe Bennis. Éjus-9 Repetindo Bennis, HMF. Rush escreve: "Supõe-se que aorganização tenha...todas asqualidades deum indivíduo" (Rush, 1969, p.8).
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interdependência no contexto »^> mostram-se muito
X2^53L*— pau probas o^acona*e é assim queafirmam:
ü-s-ssasrar/S»nrobíema de motivação para aorganização inteira, comportando uma
Kahn, 1966, p. 336).
Ébem-vinda aparticipação dos psicólogos no campo da teoria e
uS Uma demonstração clássica de que os psicólogos podemcVnTribuir notavelmente para odesenvolvimento da teona da organização édada pela obra The Social psychology of orgamzations, de^ ^étdisso, pode-se afirmar que todas as imprecisões do conceito de sanidade organizacional derivam de uma ™^^™tcão inapropriada do conceito de sanidade mental. Realmente, se aLúdTmentalé um conceito válido (e há quem questione que ose,.),Sus padres só são apücáveis aindivíduos, jamais podendo ser aplicados aorganizações, ou deduzidos das situações organizacionais
Oconceito de sanidade .organizacional relacona-se diretamentecom ,Xdo ajustamento enão reconhece aautonomia.ndivi-duai Não éuma categoria científica, mas um instrumento ideológicottçado: éum recuL pseudocientífico, dirigido atotal inclusãodo indivíduono contexto da organização.
Quando usado por praticantes e^gSXSSÍaZcia para intervir nas organizações, opseudoconcei o,* l"**"»nizacional pode levar àsufocação da energia P^^fto ™*^Em suas intervenções, esses especialistas pretendem, confessadamente,«o Sobre as noções de inclusão parcial e inclusão total, veja Allport, F.H.(1933).
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integrar oindivíduo eaorganização. Isso constitui, na verdade, umesforço sinistro, que só pode ser levado acabo às expensas da dimensão substantiva das pessoas. 0 tipo de psicologia que fundamenta aprática de tais consultores integracionistas é apoiado numa erradacompreensão da natureza da socialização edo próprio fenômeno organizacional. É um tipo de psicologia motivacional, que pressuoõe-qiie asíndrome behaviorista,1' inerente àsociedade centrada nojnerçadoj é^aTHvaTénirrriãtiireza huimna em seu conjunto. A motivação entendida dessa maneira toma-se equivalente ao controle e a repressão daenergia psíquica do indivíduo. Todavia, essa espécie de psicologiaforma o arcabouço conceptual de alguns especialistas, educados emnossas escolas de administração pública e de empresas, os quais afirmam possuir habilidades para administrar atensão humana.Somenteo fato de que são vítimas de uma formação falsa e simplória podelivrá-los da acusação de agirem como peculatários de seus crédulosclientes. , . mm±Uma psicologia científica não concorda, necessariamente, comsignificados que derivam de definições institucionalizadas da realidadeReconhece uma dimensão profunda de realidade psíquica individualque resiste ao fato de ser totalmente capturada por definições sociais eorganizacionais.12 As relações entre os indivíduos e as organizaçõesimplicam sempre em tensão enunca podem ser integradas sem custospsíquicos deformantes. As orgaimaçjesjormais não sao senão mstru^mentos Os indivíduos sã^seus senhores. Se apsicologia deve ser umc^poTTente da estrutura conceptual de especialistas e consultores -como precisa ser - é necessário que haja maior sofisticação em seuensino em nossas escolas de administração pública ede empresa^ Eencorajador que tal «orientação já esteja sendo sugerida em trabalhosrecentes, que estão aparecendo nas publicações técnicas.
4.6 Pessoase modelosde sistemas
Lamentavelmente, e sem uma admissão explícita desse fato aideologia integracionista infiltra-se numa grande proporção daquüoque os planejadores eanalistas de sistemas fazem, como consultores^especialistas. Émuito comum que percam de vista anecejsânajensaopntrfr-nessrm e os sistemas projetados, apoiindo-se jUHnã^gngpçac^de^sterri7de"masiadTTiõnltiça>De modo geral, reificam o sistemaorganizacional, isto é, dão èlífase à dependência das partes sobre oli Veja o capítulo 3deste livro,n Veja Glass (1972-1974) eLaing (1967-1969)..3 Veja, por exemplo, Gross, Bertiam (1973); Scott. WiUiarn G(1974); Glass,James (1975); Perrow, C. (1972); Singer, E. &Wooton, M. (1976), Dunn, W.N.& Fozouni, B. (1976).
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todo em vez de tratar, com precisão, da interdependência das partesinternas eexternas que constituem otodo. Robert Boguslaw refere-seaesse ponto, em seu livro The New utopians. Os planejadores de sistemas de orientação mecanicista e organísmica não questionam asregras operativas inerentes aos sistemas institucionalizados e"a luz do ^9^status quo ... tratam de explicar como os grupos humanos se podem H>adaptar, ou de fato se adaptam ao mundo em que se encontram"(Boguslaw, 1965, p. 3). Na prática, isso eqüivale a permitir que asregras operativas das organizações formais condicionem as necessidades dos cidadãos quanto a alimentação, proteção, vestuário, transporte, educação e lazer. Esse preconceito é agravado quando se combinacom o mau emprego da cibernética, que como explica Sheldon Wolin"consiste em equiparar a natureza do pensamento humano a da açãointencional à operação de um sistema de comunicações, ou seja 'oproblema do valor eqüivale' a um 'problema de painel de ligações', oua 'consciência' é análoga ao processo da realimentação" (Wolin. 1969.p. 1.076). Mesmo um especialista em cibernética alerta para as faláciascontidas nas analogias mecanicistas eorgan ísmicas. como, porexemplo,Karl Deutsch, pode ser apanhado na prática da colocação inapropriadade conceitos. Assim é que ele emprega uma imagem mecanomórfica,ao definir a comunidade organizada como um "sistema de direção"ea habilidade do estadista como sendo a "arte de dirigir um automóvelnuma estrada coberta de gelo" (Deutsch. 1966, p. 182-5). Da mesmaforma, o analista de sistemas está apenas interessado na capacidadeque a comunidade tem de atingir suas metas; a dimensão ética de taismetas não é de seu interesse. Osameaçadores resultadosde semelhanteposição cibernética têm sido apontados por Giovanni Sartori (Sartori,1970, p. 1.035-6), e preocupações idênticas às de Wolin e Sartoriinspiram a discussão da análise de sistemas feita por Habermas (Habermas, 1970, p. 106-7).'4
Minha intenção aqui não é rejeitar os modelos de sistemas, massim argumentar contra sua inadequada utilização para análise e planejamento administrativos. Em princípio, os modelos de sistemas têmutilidade, no campo administrativo, principalmente quando asfunçõesde manutenção estrutural dos sistemas devem ser, de forma legítima,controladas e estimuladas. Mas quando se detêm sobre as funções dearticulação e modificação estrutural dos sistemas, os analistas deveriam estar preparados para lidar com averdadeira natureza da dinâmica dos sistemas,da qual é parte constitutiva a tensão entre as pessoas eas estruturas sociais.
Importante tentativa de aperfeiçoamento da análise dossistemastem sido feita por autores contemporâneos e Arthur Koestler, porexemplo, propõe esse refinamento quando apresenta o conceito de
14 Veja Voegelin,F.ric (1956).
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holon, como um instrumento para aanálise de sistemas que vai "alémdo atomismo e doholismo" (Koestler, 1969,1977). Ele vê os organismos e as organizações não como totalidades absolutas, mas comosendo constituídos de subconjuntos de organelas, de órgãos, de sistemas de órgãos - cada um deles provido de notável grau de autonomiae autogoverno. Cada um desses subconjuntos é um holon, "que temduas faces, olhando para direções opostas - a face voltada para osníveis inferiores é a de uma totalidade autônoma, a que se volta paracima é a de uma parte dependente" (Koestler, 1969, p. 197). Noentanto, pode-se argumentar quea incorporação doconceito de holonà análise de sistemas não parece eliminar a tendência da mesma nosentido reducionista e holístico. Pode-se dizer que esse conceito pressupõe tima_avahacão_fiindona]_d^^das "partes que se relacionam com superestmtujras"^eja_conig toJLalJrdáde "relacionada a subestroturas", e que essa ótica não exprime, é
"evidente, aquilo que, tradicionalmente, se supõe queuma pessoa seja.Em essência, uma pessoa não é uma parte funcional constitutiva deum sistema. Acredito que a definição de Kant parapessoa, em últimaanálise, ainda é verdadeira: "Uma pessoa não está sujeita a nenhumaoutra lei senão àquelas que (is"õTãdamemj2^j^lojrienos^em conjuntocom outras pessoas) estabeleceTpSãji própria" (Kant, 1965, p. 24).Dessa forma, pode acontecer que uma pessõa"se encontre num sistemasem ser, necessariamente, parte funcional dele. Uma pessoa, num sistema planejado, pode bem ser um cavalo de Tróia, isto é, um agente,deliberadamente disfarçado, de destruição de superestruturas, tantoquanto de subestruturas.
As tentativas de integração do indivíduo e da organizaçãobaseiam-se numa compreensão errônea da natureza da pessoa. Meuponto de vista é o de que somente uma visão delimitativa do planoorganizacional pode contrapor-se à inadequada prática da análise desistemas.
A colocação inapropriada de conceitos impregna a literaturacontemporânea sobre tópicos e problemas organizacionais, e, em resultado, a cidadela do conhecimento organizacional de nossos dias ésemelhante a uma torre de Babel. A confusão de línguas é quase ensur-decedora. Afonte de boa parte dessa contusão é a linguagem deforma-dóra que surgiu como uma conseqüência do predomínio doscritérioseconômicos na tessitura social em seu conjunto, e a diluição do político no contexto sociaj. O impacto dessas manifestações sob~rè~a
linguagem será considerado mais longamente no capítulo 5. O dilemaorganizacional não pode ser superado senão recusando-se a teoriaadministrativa que supõe seremcritériosinerentes às organizações for-
15 Veja excelente discussão deste assunto em Esposito, J. L. (1976).Veja também Wcizenbaum. J. (1976).
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mais os critérios dominantes de toda aexistência humana. Contraria-mnte a"oria organizacional deveria transformar-se numa invest.ga-çTo sobre múltiplas tipos de sistemas sociais, dos quais ocontextoeconômico formal é um caso particular.
4.7 Conclusão
Paradoxalmente, o campo de estudo da teoria da organizaçãotinha um senso muito mais claro de seu objetivo antes do surgimento^na década de 30, da chamadaJsçpJa_de_RejacõeiJ^ DavidRiesman eWH Whyte deveriam ser lidos de novo. porque explicam,de maneira convincente, como a Escola de Relações Humanas fo.desencadeada pelos imperativos de uma estrutura econômica queP^, aênfase no consumo eJjãiuia_pQu^anci:'fe De Taylor aLutherGulick os adminislradoTeTpTofissionais preocuparam-se muito com adescoberta daquilo que deveria constituir o estudo sistemático dotrabalho e da produtividade, egraças aeles foram identificados algunspontos básicos permanentes da ciência administrativa, que podem serarticulados-como sejegue: __^1 O fabalhò> *produtividad>constituem objetos sistemáticos deestudo' científico. PeteT-Dracicér corretamente considera FrederickTaylor um pioneiro da "economia do conhecimento de hoje. deacordo com o qual "a chave para aprodutividade [é] o conhecimento,não o suor" (Drucker. 1969. p. 71). E isso pode ser dito de toda achamada escola clássica.2. Não existe ciência daorganização formal sem normas técnicas paramensuração eavaliação dos produtos do trabalho.
* 3 As funções ou tarefas deveriam ser tecnicamente planejadas eseusplanejadores deveriam levar em consideração a condição fisiológicae psicológica do homem. Não éverdade que Taylor eaescola clássica tenham negligenciado o fator humano nas organizações. Oquedeve ser acentuado éque aconcepção que tinham do homem era redu-cionista e demasiado limitada.4 As potencialidades humanas não são "intuitivamente obvias, seja para o trabalhadoi, seja para aquele que o observa";18 devem sertécnica e experimentalmente detectadas.5 Odesempenho, na execução da tarefa, não pode ser melhoradoe eficientemente organizado sem um treinamento sistemático dos.6 Sobre a "ilusâ-o da participação mal colocada", ^acrística da Escola deRelações Humanas, veja Riesman (1971, p. 270-1). Veja Whyte (1957. p. 38-12),para a crítica da experiência Hawthorne.
II Veja Ramos (1972).
«» Veja Caplow (1964, p 234). Oitem que se segue c.cm grande parte, derivado do livrode Caplow,mesma páginaaqui indicada.
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trabalhadores. Em outras palavras, o treinamento técnico não eliminanem sufoca, necessariamente, as diferenças individuais, mas antes as
aCentlEstes são alguns dos tópicos permanentes da teoria da organização formal. Aabordagem desses tópicos pelos classicistas pode ser cn .-cada em termos legítimos, por ser teoricamente superficial. Mas^pelo_menos, perceberam eles que as organizações formais não constltuem °
TnmaTto-apTòpnado para a desalienaçao epara a auto-atuanzaçau uaspessoas"TihTíãm maTsYõnscíêncíã~dé~suas limitações do que os mtegra-cionista's e humanistas de hoje. que afirmam saber como planejar organizações autênticas. pró«tivas e sadias. Como precursores da industria da ciência-, os classicistas assumiram uma mjssãohistorica^qual ade prover a economiae_a_s^dea^jmí^njis, de modo geral, de
.-1511!n5i3ii—^ Desincumb.ram-se.com elegância, dessa missão. Sua capacidade inventiva esua engenhosi-dade contribuíram, numa importante medida, para tornar os EUA aprimeira economia terciária ede serviço, na história da humamdade -uma economia em que as organizações formais, por assim dizer,podem cuidar de si mesmas com ajuda comparativamente limitada daspessoas Hoje em dia. amissão fundamental dos especialistas em teonada organização não consiste em legitimar a total inclusão das pessoasnos limites das organizações econômicas formais, mas sim em def.n.r oescopTdé Tais organizações na existência humanílem geral. Ahora èazada para a prática de un. tipo'sem precedentes de cienc.a organizacional sensível aos diversos aspectos da vida humana, e que seja capazde lidar com esses aspectos nos contextos a que adequadamente pertencem Este capítulo, da mesma forma que oseguinte, sobre apolítica cognitiva, um fenômeno relacionado com acolocação inapropr.a-da de conceitos e de tópicos, prepara ocaminho para adiscussão analítica dos alicerces epistemológicos da nova ciência das organizações.
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5. POLÍTICA COGNITIVA - A PSICOLOGIADA SOCIEDADE CENTRADA NO MERCADO
A chamada çjénjãâ_da_oj^anizacão. como hoje a conhecemos,está enredada numa trama de pressupostos não questionados, quederivam da sociedade centrada no mercado e dela são reflexos.Enquanto permanecer alheia à crítica desi mesma, a colocação inapropriada"de conceitos e a política cognitiva afetarão de modo adverso aprática e o ensino da disciplina administrativa, por sufocarem qualqueresforço no sentido de uma verdadeira articulação teórica nesse terreno.Já expliquei a noção de colocação inapropriada de conceitos. Meu propósito, neste capítulo, éestabelecer a natureza da política cognitiva.
Conviria assinalar-se que pouca - se é que alguma - atençãotem sido dada, pelos teóricos da organização, à dimensão política dacognição. Política e conhecimento, tradicionalmente, vém sendo tratados como áreas separadas e distintas de estudo, situação que traz àmemória um período histórico anterior, emqueos teóricos da organização reivindicavam uma nítida separação entre a política e a administração. Naquela época, os teóricos e ospraticantes não dispunham dosinstrumentos conceptuais de identificação de processos políticos nocontexto da organização. Essa condição do conhecimentoadministrativo modificou-se, quando novas circunstâncias sociais tornaram intolerável tal deficiência. Posteriormentea esseestágio,quando a políticaveio a ser reconhecida como uma dimensão inerente às atividadesdesenvolvidas nasorganizações, a atividade política foi incorporada àelaboração da teoria organizacional, mas mesmo nesse caso a políticaera entendida apenas como uma luta pelo poder, através de processosde alocação de recompensas.
Entendo que, em nossos dias, os desenvolvimentos atingidostomam indesculpável o estudo separado e distinto da cognição e dapolítica, e isso porque a influência da política cognitiva, que esteveum dia restrita a enclaves marginais no contexto mais amplo da tessitura social, agora passou a permear tudo. Os padrõescognitivos, exigidos pelos requisitos das transações típicas do mercado, limitado noespaço, trasformaram-se em política de cognição, induzida do modoparticular das estruturas e estratégias das organizações formais, esten-
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dendo-se agora à sociedade como um todo. Mesmo no pietenterno-mento, uma apreciação sistemática da política come.umad mensaocognitiva ainda éignorada pelos teonstas da J***^ "££política cognitiva continua situada fora do interesse mesmo daquelesque, já há muito tempo, abandonaram avelha dicotomia entre admi-mStra PolítiM comitiva, para oferecer uma definição preliminar, con-siste no uso consciente ou inconsciente de uma linguagem gorada, .,cuja finalidade é levar as pessoas a interpretarem a "«"»•"termos adequados aos interesses dos agentes diretos e/ou mdiretos detal distorção.
5.1 Política cognitiva, uma digressão histórica
Apolítica cognitiva é um fenômeno histórico perene. Éumaauestão exposta por Platão, em muitos de seus diálogos sobre a2tu za ePo uso^a retórica. Ébem sabido que Platão man, es ouaversão pela retórica, tal como apraticavam os sofistas, pela simplesLão de que ela visava produzir apenas crenças, não conhecimento*
Snmdo. tentou ele salvar ofenômeno da retórica ou da persuasãopolítica reclamando, em diversos diálogos, mais especificamenteporém no Fedro. uma retórica dialética, uma retórica a serviço dafilo ofiaE no Górgias, um dos seus primeiros diálogos, Platão mostraÉralés de Sócrates, que oretórico típico "não tem necessidade dconhecer a verdade das coisas, mas de descobrir uma técnica depemiasão" (p. 459c). Esse tipo de retórica, diz Sócrates em suii famosa comparação, "está para ajustiça como aculinária para a^medicina(p 456c isto é, aretórica constitui uma técnica para adular amulti-dão easer usada perante aqueles que não têm ohábito de pensar, umavez que oíetóriío sofistico não pode ser convincente entre os quepossLi sabedoria. Num ponto de seu diálogo, Sócrates refere-se aretórica como "a semelhança de uma parte da política (p. 40Q,relação sobre a qual Aristóteles elabora em sua Retórica. Admite,contudo, a possibilidade de uma retórica emanada do conhecimentoque se preocupe em "tomar os cidadãos os melhores possíveisío 513c) ou seja', formar uma cidadania esclarecida, não constituídade indiv duos que, politicamente, ou são simplórios ou unpostores.Desse modo, o%p5o uso que Sócrates faz da «Ms^gigN»é demonstração de que ela pode estar a serviço do rdade.r».te*político, isto é, da arte da política. Como foi já menc onadb Piatfotembém sugere que amaneira de salvar a retónca está em toma-laparte da dialética, tal como ele aentendia. fc|-.ilBAj
iP Conviria salientar que Platão, no fim de conlas, nao trai pn5-pria condenação do retórico sofistico, porque nas Leis sugere ele que
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uma teologia civil deveria acompanhar a legislação, protegendo o sadiosistema político dos agentes edas ações de destruição. Platão concebeesse credo como uma destilação das normas mínimas comuns a todasas religiões, normas cuja validade se toma evidente através do debateracional. Uma palavra sobre a natureza da teologia civil pode ajudar aesclarecer o funcionamento da política cognitiva.
Através de toda a história, as teologias civis têm sido instrumentos legítimos para aumentar a resistência de sistemas políticos. Comescrúpulos racionais menos exigentes que Platão, por exemplo, encontramos Políbio (1972) louvando o estadista romano porintroduzir namente das pessoas, em nome da coesão do Estado, "noções relativasaos deuses e crenças no tenordo inferno", expediente que não serianecessário se o "Estado [fosse] composto dehomens sábios" (Políbio,1972; VI, 56, 6-11). Hoje em dia, ademocracia constitucional, emboracontendo um elemento racional insignificante, aproxima-se mais deuma variedade da teologia civil na maior parte dos países anglo-saxões.1 Não obstante, teologia civil não deveria ser erroneamenteidentificada como política cognitiva. Uma teologia civil é expressamente formulada não paraenganar aspessoas, mas antespara legitimarum tipo de ordem social em termos e imagens acessíveis à compreensão e ao nível educacional do conjunto de cidadãos. A distinçãoimportante gira em tomo da noção de debate racional. Alguém pode,legitimamente, se envolver num debate racional com a finalidade devalidar as teologias civis, mas a doutrinação, ou a inculcação subliminar de definições distorcidas da realidade, estimulada pela políticacognitiva, nãoconstitui jamais objeto de debate entre suas vítimas.
Em seus diálogos, Platão empreende a tarefa de desenvolver umaarte de debate racional, que é mais além refinada e codificada porAristóteles, em suaRetórica. Aristóteles considera a retórica, emrelaçãoa outras disciplinas, como um "ramo de estudos dialéticos e também éticos". Elabora ele, ainda, sobre essa relação quando adverte oleitor de que "estudos éticos podem bem ser chamados de políticos"e, por essa razão, a retórica às vezes "disfarça-se como ciência política" (Aristóteles, 1954; I, 1.356a, 2/25). Portanto, Aristóteles tem
1 Veja Voegelin (1963, p.36). Anoção deteologia civil tem uma longa tradiçãono campo da teoria política. Para uma excelente visão deconjunto desta noção,veja Sandoz, EUis (1972). Veja também Germino, Dantc (1967, p. 29). Umitentativa de formulação de umateologia civil para a sociedade industrial desenvolvida é representada pelos trabalhos de Rawls, J. (1971). Apesar do saborcompassivo da noção que Rawls tem da eqüidade social, coisa queestáficandoinfluente entre alguns teoristas daadministração, sua teoria da justiça, em últimaanálise, reflete uma avaliação míopedo estadoatual da sociedade industrial desenvolvida, na medida em que a racionalidade inerente ao sistema de preço demercadoc explicitamenteaceita por Rawls como premissa básicade suafilosofiamoral.
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aguda percepção da relação entre o poder da palavra e as muitasmascarar usadas em'nome da legitimação política. 0 assunto daretórica écompatível com oprojeto de Platão de purificar aretóncada distorção sofistica, assinalando que oque distingue o retónco dosofista éo propósito moral do indivíduo no uso da retórica.
O retórico é um orador treinado na prática da arte dapersuasão.A moralidade substantiva é uma qualidade das pessoas e reside noorador. Ao violar essa orientação o indivíduo incorre numa espécie deconduta que se desvia da tensão constitutiva da razão substantiva eque reduz as considerações éticas acritérios instrumentais de avaliação.Daí que apenas imperativos de expediência (o que, afinal, eqüivale adizer nenhum imperativo) são os únicos freios capazes de controlar ahabüidade dos oradores para usarem seu poder de enganar, de induziros outros a emitirem julgamentos errados, ou de se permitirem comportamentos imorais. Oreconhecimento do caráter ambíguo da linguagem é, pelo menos, tão antigo quanto os gregos. Oorador responsável pode esforçar-se por usar a habüidade que adquiriu de superarambigüidades de motivo ou propósito. Embora Aristóteles cedesse, devez em quando, àtentação sofistica de compüar receitas lingüísticas, ointuito geral de sua Retórica é subordinar a arte da persuasão apadrões éticos, eexplicar seus numerosos usos políticos legítimos.
Platão e Aristóteles não foram os únicos sábios gregos conscientes do fenômeno da política cognitiva. Mas na Grécia o alcance e oimpacto sociais dessa política puderam ser mantidos sob ocontroledos usos e costumes predominantes, e do processo educativo ocorridonos grupos formais e informais, em que os gregos aprendiam os deve-res dacidadania. A filosofia e a educação sistemática também serviramcomo forças de compensação, contra a proliferação da política cognitiva. Em outras sociedades antigas, em que nãoexistiu propriamentefilosofia, a política cognitiva nunca se transformou em ponto de debate, uma vez que o indivíduo estava evidentemente prevenido contratal armadilha por sua compacta emítica experiência da realidade.
No contexto de suas bases culturais específicas, os indivíduospuderam desenvolver um sentido de vida comunitária livre da influência da política cognitiva. No repositório de tradições da maioria dassociedades da era pré-industrial, podemos encontrar exposta naterminologia dos provérbios apercepção comum do mercado como olocalde prática da política cognitiva eda linguagem enganadora. Em muitassociedades arcaicas e antigas, o mercado tinha uma função determinada dentro de rigorosos limites geográficos, longe da corrente maior davida social, para que não solapasse as bases da comunidade e distorcesse a natureza da comunicação. Esse ordenamento histórico foiconscientemente elevado à condição de um princípio diferenciado deplanejamento social pelos pensadores políticos clássicos, tais como
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5.2ApolíticacognitivaeasociedadecentradanomercadoA
políticacognitivaéamoedacorrentepsicológicadasociedadecentrada
nomercado.Não
constituimeroincidenteofato
deque,emtoda
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políticodassociedadeshegemônicascentradasno
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Inkeles,1960;Deutsch,1953),aidentificação
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adifusãodosrequisitosinstitucionaisepsicológicosdo
mercado(Parsons,1964;M
cClelland,1961)2-
tudoisso
éinterpretado
comsentido
normativo
peloscientistas
sociaisconvencionais.
Talcircunstância
mostrao
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cogniçãocom
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dapolítica
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melhor,apolítica
como
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-não
setransform
ouem
assuntoacadêm
ico.Pode-se
compreender
facilmente
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expressõescomopolítica
dopetróleo,políticade
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políticada
poluição,sem
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asosignificado
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expressãocom
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cognitiva"não
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aiorclarificação.Talvezuma
razãoque,logo
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predom
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qualquerumpercebaqueapolíticadecogniçãoéum
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com suas regras de recompensa ecastigo, eseus critérios gerais de alocação de mão-de-obra e recursos, o indivíduo tem que se programarcomo um ser econômico.
As políticas dos governos tornam-se agora inoperantes, já quesão cada vez mais obstruídas por dificuldades biofísicas de produção ede alocação de recursos, que aeconomia típica sistematicamente negligencia, ou alega levar em conta no contexto de sua estrutura convencional' como variáveis exógenas. Por exemplo, fenômenos como ainflação eo desemprego já não reagem às diretrizes convencionais dosgovernos, principalmente porque o cenário econômico normativo queessas düetrizes pressupõem não combina com as circunstâncias concretas do mundo. Não é de admirar que os economistas tradicionais rea-jam atal situação com espanto.5 Infelizmente, embora um modelo deformulação de diretrizes, sensível às limitações biofísicas de produçãoe de alocação de recursos, tenha recentemente atingido alto grau decoerência teórica e viabüidade prática, ainda é a economia convencional que constitui o ensinamento ministrado nas instituições acadêmicas e que fornece as principais diretrizes para a modelagem das sociedades ocidentais.
Desde o advento da chamada escola de relações humanas, nosúltimos anos da década de 20, e mesmo em nossos dias, um númerocada vez maior de teóricos e praticantes da ciência da organizaçãoafirma adotar enfoques humanistas no planejamento organizacional.No entanto, quando se examina cuidadosamente esse humanismo,descobre-se que é falso, visto como seus representantes, de modogeral, são desprovidos de uma compreensão sistemática do espectro derequisitos contextuais que a prática do humanismo deveria levar emconta. Em outras palavras e generalizando, esses chamados humanistaspermitem-se a prática da colocação inapropriada de conceitos, tópicoque foi discutido analiticamente no capítulo 4 deste livro.
Ésignificativo e, afirmo eu, não éacidental que adifundida vogadas abordagens humanistas da administração tenha coincidido com afase em que este país se transformou numa sociedade organizacional.
-Vamos fazer uma pausa para entender esta,expressão. Ecerto dizerque, nas décadas em que foi aclamada aadministração científica, estepaís não constituía ainda uma sociedade organizacional. As pessoasprocuravam as organizações formais, para trabalhar e receber seus ren-s "Nós economistas" - diz Linton Friedman, em 1972 -, "temos reclamadomais do'que podemos dar." Na realidade, ele estava repetindo Arthur F.Burns,antigo presidente do Conselho da Reserva Federal (Federal Reserve Board), quedisse, em 1971: "As regras da economia não estão funcionando exatamente comocostumavam funcionar." ApudHenderson (1978,p. 63-4).
6 Veja, por exemplo, o capítulo 3,No rumo da sociedade organizacional, emPresthus (1965).
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dimentos, mas a sociedade assegurava a trabalhadores e a outraspessoas - mulheres, gente jovem abaixo da idade de trabalhar', assimcomo alguns poucos cidadãos - que não queriam ser empregados,muitos campos em que os mesmos podiam perseguü objetivos existenciais independentes das pressões organizacionais. Por assim dizer, umafronteira imaginária e, contudo, existencialmente real, separava claramente a arena das organizações econômicas formais de outros sírios,em que variados tipos de esforço humano podiam seguú livrementeseu curso lógico de desenvolvimento. Significativamente, no decorrerdesse período, a poupança foi acentuada de modo enfático na vidaamericana. Por si só, essacircunstância impeliuos cidadãosa se ocuparem de atividades autogratificantes que envolviam a aplicação de seupotencial como seres humanos, sem o desenfreado consumo de mercadorias e, por conseguinte, o gasto irrefreado. Quando se queria economizar, ficava-se em casa e cuidava-se de exercer atividades dentro decasae ao ar livre,e descobria-se a alegria de fazer direta e livremente ascoisas. As organizações formais eram discretas e conscientes de seuslimites, mantendo-se dentro de um contexto delimitado do conjuntodo espaço vital dos cidadãos. Poder-se-ia dizer que, durante esse período, o consumidor neste país ainda gozava de alto grau de soberania nosistema de mercado. Existia na família importante reservatório de"competência artesanal" (Leiss, 1976), que habüitava o cidadão aproduzir considerável quantidade de bens que ele não encontravadisponíveis ou vantajosos para comprar. Sendo assim, o mercadoprecisava ter sensibilidade, relativamente àcapacidade artesanal substitutiva do cidadão, de maneira a poder planejar sua linha de produção.
O surgimento da chamada escola de relações humanas, nos últimos anos dadécada de 20 e suarápida expansão nasdécadas seguintes,reflete uma transição naeconomia americana. Emproporção exponen-cial, as atividades das organizações econômicas formais aumentaram ese foram diferenciando, passando dessa maneira, cada vez mais, aocupar todo ocampo do espaço vital dos cidadãos. Aênfase da economia americana de hoje já não se faz sobre poupar, mas sim sobregastar.7 Amídia, dirigida cada dia mais pelas organizações econômicas1 Projetos de pesquisa de motivação foram largamente encorajados, nesse período. Whyte cita um "pesquisador de motivação" dessa época, Ernest Dichter:"Estamos agora diante do problema depermitir que o americano médio sesintavirtuoso quando está namorando, mesmo quando está gastando, mesmo quandonão estáeconomizando, mesmo quando tira férias duas vezes poranoe quandocompra um segundo ou terceiro carro. Um dos problemas fundamentais dessaprosperidade, portanto, consiste em dar às pessoas a sanção eajustificação paragozá-la c para demonstrar que a abordagem hedonista de suas vidas é moral, enão imoral" (Wfiytc, 1954, p. 19). O Triumph ofmassidols, de Leo Lowenthal,oferece interessante estudo sobre a maneira pela qual a transição de uma economia de produção para uma economia de consumo se refletiu nacultura popularamericana (1968). Jl
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formais intromete-se no espaço vital particular dos cidadãos e ostaduz a'diversificarem suas necessidades eaexprimi-las em termos taoesoecíficos que, somente através da aquisição de mercadorias especi- ,fSs, podem as mesmas ser satisfeitas. Através desse processo, o ^cidadão está fadado aperder sua competência artesanal, aforça de que £, .<dispunha para afetar as linhas de produção do mercado. Anação transformou-se numa sociedade organizacional e a pessoa humana numhomem de organização. Oprodutor iornou-se soberano no mercado eoator principal no processo de alocação de mão-de-obra ede recursos
Oregistro dessa transformação tem sido feito por vários analistas e há notável concordância quanto ao fato de que oenredamentoexistencial do cidadão americano processa-se através de um ambientesocial excessivamente projetado, no qual quase nenhum segmento deseu espaço vital é deixado livre para objetivos pessoais autônomos.Naturalmente é absurdo afirmar que os estudiosos pertinentes aocampo da disciplina administrativa ignoram ou negligenciam tis contribuições desses analistas, mas a verdade é que esses estudiosos naoparecem ter uma compreensão teoricamente refinada esistemat.ca dasimplicações organizacionais do ambiente social contemporâneo, todoele demasiadamente projetado. Os teóricos e os praticantes de nossos adias tendem, na realidade, a legitimar a expansão das organizações decaráter econômico para além de seus limites contextuais específicos,pondo em prática um humanismo errôneo emal colocado. Através de
"-^estratégias integracionistas, isto é, mediante estratégias que visam aintegração de metas individuais e organizacionais, esforçam-se elespara transformar as organizações econômicas em sistemas sociais detipo doméstico.9 Dessa maneira, entregam-se à pratica da políticacognitiva pela qual temas como o amor, a auto-atualizaçao, a confiança básica, afranqueza, a desalienação ea autenticidade sao trazidos para oâmbito da organização convencional, ao qual tais temas soincidentalmente pertencem. POTtosJundamentais da vida intersubje-trva sãn em conseqüência, conceptualizados erradamente eatentativa >/ y ~)de situá-los no terreno das organizações economícaTé, teoricamente, A^indefensável. . .-^ T\ ( /
Somente uma visão açrítica das metas organizacionais eda moti- «yièk^-^^cpjvação humana pode explicar porque os intervencionistas humanistas O f]se sentem àvontade em suas tentativas, por exemplo, de minimizar a fí^*** í*a>*>~«-alienação em fábricas de alimentos para bichos de estimação; de me- U^ * &*&.lhorar acultura humana em complexos industriais poluentes edestrui- ^ ^dores dos recursos naturais; de aumentar aeficiência de corporações ^ ç^ "^^^MOmmJtmm Bm fnmprpr ao DÚblico mercadorias desnecessárias e ^«^cO/ .r.prespecializadas em fornecer ao público mercadorias desnecessárias e
« Veja Galbraith (1970).
9 Veja. por exemplo. Argyris, Chris (1973, 1973* c 1973&).
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serviços que apenas servem para destruir gradativamente o senso quetêm os cidadãos de suas necessidades genuínas, pessoais. Nao questio-nam eles, explicitamente, o caráter geral desumanizador e enganosoda estrutura de emprego da sociedade centrada no mercado, que em simesma não permite uma coerente prática do verdadeiro humanismo.Os esforços que fazem tendem aser fragmentários, eproporcionadoresde "remendos" e, assim, não vêem a floresta porque se preocupamapenas com as árvores. Há indícios de que nem todos os intervencionistas são totalmente insensíveis à síndrome psicológica inerente asociedade organizacional. Por exemplo, num livro de sucesso, significativamente intitulado Up the organization. how to stop the corporationfrom stiffling people and strangling profits, Robert Townsend propõeuma estratégia administrativa "tipo guerra de guerrüha nao-violenta ,visando "desmantelar nossas organizações na parte em que nos estamos servindo a elas, edeixando apenas as partes em que elas estão servindo a nós" (Townsend, 1970, p. XII). Considera ele os 80 mühoesde cidadãos que estão realmente exercendo empregos como casospsiquiátricos" (Townsend, 1970, p. 121), eexplica.
"Tornamo-nos uma nação de office-boys. Corporações gigantescas...e agências gigantescas... cresceram como câncer, até ocuparem quase todo o espaço vivo de trabalho. Como os clérigos do tempo deAnthony Trollope, não somos senão mortais treinados para servir ainstituições imortais ... Esse não éonosso estado natural (Townsend,1970, p. XII).
O fato de que o livro de Townsend se transformou no best-seller número um, quando foi publicado em 1970, epermaneceu setemeses nalista de livros mais vendidos àoNew York Times, mostra quemilhões de cidadãos têm consciência da armadilha existencial em quese encontram na sociedade industrial contemporânea e estão abertos aalternativas. Sua inclinação psicológica aachar alternativas para aprópria situação pode significar que o momento agora éoportuno para osurgimento de um novo paradigma de ciência organizacional. Uma dastarefas essenciais dessa nova ciência consiste na conceptualizaçao davariedade de objetivos básicos ede seus correspondentes sistemas específicos de que as organizações econômicas formais são um caso aumlimite.'Quer dizer, é essencial libertar a concepção de natureza huma-
-na e dos objetivos àmesma relacionados das prescrições impostas pelasíndrome comportamentalista, edesenvolver os enfoques operacionaisnecessários ao planejamento, à implementação e ao estimulo deempreendimentos diversos e na conformidade das metas peculiares acada um deles.
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5.4 Oalegre detentor de emprego, vitima patológica da sociedadecentrada no mercado
Uma dimensão básica a demonstrar o caráter da disciplina organizacional contemporânea como exemplo de política cognitiva é seuinadequado pressuposto de que os ambientes formais de trabalho sãoapropriados para a atualização humana. Essa noção é claramentedesautorizada por qualquer um que esteja em dia com a .literaturacompetente sobre anatureza da sociedade de mercado. Pode-se dificilmente admitir que um responsável especialista em organização sepermita ignorar aquilo que Max Weber escreveu sobre as peculiaridadeshistóricas da sociedade de mercado e suarepercussão sobre a estruturade emprego. De fato, Max Weber salientou que, comparada às sociedades aque sucedeu, asociedade de mercado constitui uma configuraçãohistórica particular precisamente porque não pode funcionar demaneira eficaz a menos que o desempenho do indivíduo, como membro dos ambientes de trabalho, tenha caráter impessoal. Os sistemassociais adequados ao desempenho pessoal nos ambientes profissionais,tanto quanto ao tratamento personalizado de seus clientes, retardamo advento e o desenvolvimento do sistema de mercado. Weber insinuou, por exemplo, que uma das razões pelas quais a Alemanha deseu tempo estava atrasada, em relação à Grã-Bretenha e a outrasnações da Europa ocidental, era a de que sua estrutura administrativaainda estava contida dentrodo tipopatrimonialista de trabalho característico dos sistemas sociais feudais do passado. Modernizar aAlemanha - queria ele dizer - eqüivaleria a acelerar a formação deum mercado nacional alemão e, portanto, a desmantelar o tipo feudalde estrutura administrativa. As afirmações de Weber têm sido objetode um grande número de restrições, mas a essência de sua análise damodernização como sinônimo de desenvolvimento da sociedade demercado ainda é verdadeira, sem restrição alguma.
Numa sociedade de mercado, o empregado eficiente deve ser um \ator despersonalizado. Espera-se dele que acate as determinações UJWimpostas, de cima para baixo, eque definem opapel que tem que JS-"desempenhar. Um traço de sua patologia normal éaquüo que Dewey^/ ^chamou de "psicose ocupacional", resultante de uma aceitação acri- '- rtica das determinações referentes a seu papel profissional (Merton, 7-<~0O <?-1967, p. 198). Como assinalou Robert Merton, o empregado está ^. A %^destinado a conformar-se a um "comportamento esteriotipado", que"não se adapta às exigências dos problemas individuais" (Merton,.1967, p. 202).
Vamos fazer uma pausa, a esta altura, e prestar atenção a umanarração autobiográfica do executivo de uma corporação. O livro,Life in the Chrystal Palace, contrapõe o desempenho do membro da
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corporação em seu trabalho ao papel representado por um artista numpalco Enquanto o bom ator se projeta em seu papel, o executivoeficiente esconde-se, em situações idênticas. Esse contraste, entrerevelação e ocultação, é instrutivo:
«O ator deve interpretar o papel em termos de sua própria personalidade Éle se introduz no personagem, em vez de simplesmente,Representar' o papel. Ao contrário, as normas Ç0 protocolo (nacompanhia) nos ensinam a representar nossos papéis com Vma desonestidade intrínseca. Assim como o ator se derrama no papel quedesempenha, o executivo (da pmpresai extrai rir sen papel aprópr»individualidade" (Harrington. 1959.P. 144).
Os atos que oindivíduo pratica em sua qualidade de detentor deum emprego são de importância secundária, relativamente àsua verdadeira atualização pessoal. Se uma pessoa permite que a organização setome a referência primordial de sua existência, perde o contato comsuajíeidadeira individualidade e, em vez disso, adapta-se a.unn realidade fabricada. Os sistemas planejados, como as organizações formais,têm metas que, só acidental esecundariamente, consideram aatualização pessoal. Verdadeiros atualizadores são os agentes capazes de manobrar, no mundo organizacionalmente planejado, de modo aserviremaos objetivos desse mundo com reservas e restrições mentais, sempredeixando algum espaço para a satisfação de seu projeto especial devida Há, portanto, uma tensão contínua entre os sistemas organizacionais planejados eos atualizadores, e afirmar que oindivíduo deveria esforçar-se para eliminar essa tensão, Chegando assim auma condição de equUíbrio orgânico com aempresa (exemplo de política cognitiva que uma psicologia motivacional defende, em bases supostamentecientíficas), corresponde a recomendar adeformação da pessoa humana. Somente um ser deformado pode encontrar em sistemas planejados o meio adequado à própria atualização.
O atual humanismo integracionista das organizações toma porbase uma concepção sociomórfica da atualização humana, e, pois,opõe resistência ao reconhecimento do fato de que apsique humanacontenha qualquer elemento substantivo ^ue não seja interiorizadomediante o processo de socialização. Essa concepção do integracionista humanista é indefensável, diante daconseqüente patologia dos próprios sistemas sociais. Uma concepção oposta, isto é, uma perspectivareal centrada no indivíduo, toma-se necessária para que se adote umenfoque clínico de tais sistemas. Do ponto de vista de uma psicologiadesse tipo, centrada no indivíduo, "ohomem édoente - não apenas oneurótico ou psicótico, mas igualmente aquele que é chamado dehomem 'normal' - porque esconde o seu eu real natransação com osoutros, (e) equipara os papéis que desempenha nos sistemas sociais à
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dos por uma região tão deserta quanto os altiplanos da Escócia,cada granjeiro tem que ser açougueiro, padeiro e cervejeiro de suaprópria família. Nessas situações mal podemos esperar que haja umferreiro, um carpinteiro ou um pedreiro distante menos de trinta quilômetros de outro irmão de ofício. As famílias dispersas, que vivem auma distância de 10 ou 15 quüômetros umas das outras, precisamaprender a executar, elas mesmas, um grande número de pequenostrabalhos, para os quais, em regiões mais populosas, poderiam pedir acolaboração desses trabalhadores. Os homens que trabalham nointerior são, em quase toda parte, obrigados ase dedicarem a todos osdiferentes tipos de atividades que tenham suficiente afinidade umascom as outras para poderem ser executadas com o mesmo tipo dematerial. Um carpinteiro de roça faz todo tipo de trabalho que sejaexecutado com madeira; um ferreirode roça, toda espécie de trabalhofeito com ferro. 0 primeiro não é apenas um carpinteiro, mas tambémum montador, um marceneiro e até um entalhador, do mesmo modoque um fabricante derodas, dearados, ouum construtor de canoças ecarruagens. As ocupações do segundo são ainda mais variadas. fcimpossível a existência de um ofícioaté mesmo como o de fabricantede pregos, nas zonas remotas e interioranas dos altiplanos daEscócia.Um operário desses, produziria 1.000 pregos por dia e, nos 300diasúteis do ano, faria 300 mil pregos por ano. Mas, em tal situação, seriaimpossível utilizar 1.000 deles, quer dizer, o resultado de um dia detrabalho porano"(Smith, 1965, p. 17-8).
Portanto, a economia clássica foi concebida por seus criadorescomo uma disciplina que encara o emprego formal como o critérioprimordial para a alocação de recursos e de mão-de-obra. Smith via fjj&essas regiões da Inglaterra como um obstáculo àcivüização. Estar-se-iaservindo à civilização se se permitisse a expansão do mercado, naInglaterra, eliminando-se qualquer possibüidade de permanência detipos como o carpinteiro de roça eoferreiro de roça, que ele descrevecom nuanças pejorativas. Não havia razão para preocupações com ochoque da expansão do mercado sobre avida do carpinteiro de roça edo ferreiro de roça, que não estavam treinados para agir como detentores de emprego. Com o tempo, aprenderiam osofícios necessáriospara se tomarem parte do tipo de força de trabalho que estava emergindo, e a lei da oferta e da procura proporcionaria emprego paratodos os indivíduos que estivessem dispostos a trabalhar. Smith, domesmo modo que os economistas clássicos em geral, não concebia odesemprego involuntário. E, em regra, esse pressuposto foi confirmadopelos fatos, durante, mais ou menos, os primeiros 150 anos da sociedade de mercado.
Contudo, no presente sistema econômico do Ocidente, há realidades que Smith e os economistas clássicos não poderiam prever e,
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Em retrospecto, pode ser justificada a visão que Smith tinha dodesenvolvimento da sociedade de mercado como um processo civüiza-tório Enquanto omercado permaneceu confinado (tal como em todasas sociedades pré-industriais), o fornecimento de bens e serviços primaciais constituiu a meta essencial do sistema de produção. Em taissociedades a produtividade da força de trabalho era baixa e apenasuma minoria dominante era capaz de se ocupar de atividades de natureza civUizatória. Odesenvolvimento do sistema de mercado traria, emúltima análise, a abundância e, portanto, uma estrutura social maisjusta pelo fato de libertar a força do trabalho do peso de atividadesenfadonhas. Semelhante justificação post hoc do desenvolvimento dasociedade de mercado foi articulada sistematicamente porJohn StuartMUI- "O efeito legítimo" da sociedade de mercado - infere ele - éa"diminuição do trabalho". Em algum estágio, no desenvolvimento dasociedade de mercado, qualquer "aumento de riqueza" sena um"adiamento" de uma "melhor distribuição" de bense serviços e, nessaconformidade, afirmou:
"Confesso que não estou encantado com o ideal de vida defendidopelos que acham que o estado normal dos seres humanos é o delutarem par» ganhar a vida; que eipezjiüiai_o_ próximo, esmagá-lo,acotovelá-lo e caminhar umgrudado nos calcanhares dooutro- comose constitui hoje o tipo de vida social, seja oque mais se pode desejarpara ahumanidade, ou que seja algo mais que sintomas desagradáveisde uma das fases doprogresso industrial."13
Essa explicação retrospectiva do desenvolvimento da sociedadede mercado traz nova luzà interpretação de acontecimentos caracte-
12 Dever-se-ia compreender que tal distinção pretende evitar ouso da classificação das atividades de produção como primárias, secundárias e teicianas, coisacorrente nos manuais de economia. Anoção que tenho de bens e serviços demonstrativos reflete o conceito de Duesemberry sobre efeitos dedemonstração,embora seassemelhe aoqueFred Hirsch (1976) chama bens "de posição .
13 Esta eoutras citações de J.S. Mill foram tiradas de Daly (1973, p. 12-3).103
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Com
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emprego
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emque
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constituem, ainda mesmo em nossos dias, grande parte da sabedoriaconvencional do economista. Aparentemente, os formuladores de taispolíticas econômicas não puderam compreender que, num estágio emque a abundância de bens e serviços primaciais pode ser produzida auma taxa inferior de envolvimento dos indivíduos na estrutura formalde emprego, passa a ser necessáriauma reinterpretação do papel histórico do mercado - isto é, uma reinterpretação pressupondo sua delimitação,atravésde novasnormaspolíticas, como um enclave incumbido das atividades de natureza econômica, por excelência. Ao invésdisso, as políticas de Keynes e de outros economistas com orientaçãosemelhante retardaram a delimitação do mercado, mediante a expansão de suas linhas de produção e de suas atiyidades_tJevando-o dessa .jl ]/V/0(/wV~^maneira a apossar-se da direção da própria^ruturajocial?
A política cognitiva é uma dimensãoinevitável dessahipertrofiado mercado, e a teoria administrativa, aceitando a presente estruturade emprego como um traço permanente da economia, falha emcompreender a difícil situação organizacional dos cidadãos americanos.
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5.5 A psicologia da comunicaçãoinstrumental
A disciplina administrativa dominante deixade perceber quenocontexto das organizações econômicas a comunicaçãoé essencialmente instrumental, no sentido de que é planejada, de modo sistemático,para maximizar a capacidade produtiva. Em tais organizações, o próprio indivíduo é um recurso que deve ser empregado eficientemente.
r,U'V^A psicologia transforma-se numa tecnologia de persuasão para aumen- Vy-C'tar a produtividade. Culparas organizações de natureza econômicapor \serem incapazes de atender às necessidadesdo indivíduo como um sersingular é tão fütü quanto culpar o leão por ser carnívoro. Elas nãopodem agir de outra maneira e, já que sem as organizações econômicasa sociedade não poderia funcionar adequadamente, é preciso que asmesmas sejam realisticamente compreendidas conforme são. A comunicação substantiva, istoé, aquela que visa desvendar a subjetividadede pessoas engajadas em permutas autogratificantes, é pouco tolerávelem organizações econômicas. Nessa conformidade, admitirque a auto- _£-atualização pode ser estimulada nos contextos econômicos, como ofazem os humanistas organizacionais, é incorrer em política cognitiva.
De fato, semelhante pressuposto conduz à prática de técnicasüusóriasde aperfeiçoamento de pessoal, destinadas a facilitar a exposição completa da subjetividade das pessoas, forade contexto, isto é, no desempenho de papéis de natureza instrumental.
No domínio da teoria organizacional, uma das raras tentativaspara enfrentar o conceito da comunicação foi feita por Herbert
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Simon, em seu livro Administrative behavior, publicado em 1947.Afirma Simon:
"A comunicação pode ser formalmente definida como qualquer processo pelo qualas premissas decisórias são transmitidas de um membroda organização paraoutro" (Simon, 1965, p. 154).
Considerando-se que Simon está sobretudo interessadonas organizações econômicas, tal afirmação é realmente correta. Nasorganizações econômicas, a comunicação entre as pessoas ocorre independentemente daquüo que são como pessoas, e delasextrai informaçãoquesó é compreensível sob premissas decisórias impostas. Em outras palavras, essaespécie de comunicação não é livre de imperativos externos e •não serve como um veículo para a exposição autogratificante, pessoale subjetiva do indivíduo. Simon esclarece suas definições como sesegue:
"Através de sua submissão a metas organizacionalmente estabelecidas e através da absorção gradual dessas metas em suas próprias atitudes, aquele que participa da organização adquire uma personalidade de organização, bastante diferente de sua personalidade como indivíduo. A organização destina-lhe um papel: especifica os valores particulares, os fatos, as alternativas, segundo os quais devem ser tomadassuas decisões na organização" (Simon, 1965, p. 198).
É clara a razão pela qual Simonnega, compropriedade, a possibilidade de auto-atualização no contexto das organizações formais.""Contudo, embora sua descrição das realidades organizacionais sejamais realista do que a que fazem seus oponentes humanistas, tal descrição tende a justificar a prática da política cognitiva. Até certoponto, çfiiyro de Simoryreflete oambiente social deste país no período subseqüente à IÍGuerra Mundial, quando uma visão otimista eacrítica das funções da organização predominava. Assim, ao enfocar osrelacionamentos entre o indivíduo e a organização, sua abordageminclina-se a favor da organização. Por exemplo, admite ele que "oempregado assina um cheque em branco, ao entrar na organização"(Simon, 1965, p. 116). E certo, adverte, que "a área na qual seráaceita a autoridade da organização não é ilimitada" (Simon, 1965,p. 117). Mas sua compreensão de tais limitesé deficiente.ApoiadoemBarnard, ele vê o detentor do emprego como uma personalidade dividiria, simultaneamente portador de uma "personalidade de organização" e uma "personalidadeparticular" (Simon, 1965, p. 204). Dizele:"Quando as exigências organizacionais ultrapassam [seus limites], os
«5 Veja a discussão entre Simon (1973) e Argyris (1973).
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motivos pessoais se reafirmam e a organização, nessa medida, deixade existir" (Simon, 1965, p. 204).
Contudo, a concepção de Barnard e de Simon, relativamente àdupla personalidade do detentor de emprego, está insuficientementecaracterizada, apresentada em termos exageradamente mecanicistas epressupõe uma lealdade à organização que conduz, sejamos francos,a terríveis conseqüências sociais. Por exemplo, Barnard conta a história de uma telefonista, tão preocupada com a mãe doente que aceitou,contra as próprias inclinações, um emprego num lugar solitário,porque dali podia ver a casa em que estava a mãe, em seu leito deenferma. Não obstante, quando chegou o dia em que a casa seincendiou, ela observou o fato sem abandonar a mesa de ligações telefônicas. Barnard elogia a telefonista: "mostrou extraordinária 'coragemmoral', poderíamos dizer, ao agir segundo o código de suaorganização- a necessidade moral de serviço ininterrupto" (Barnard, 1948,p. 269). É precisamente esse tipo de injustificada lealdade do empregado às organizações que, finalmente, as transforma em agências decorrupção moral, induzindo os indivíduos, por exempro, a aceitaremos horrores nazistas como fatos normais da vida do Estado, ou a sepermitirem violações da lei, tais como aquelas em que o presidenteNixon e seus auxüiares foram apanhados, durante o caso Watergate.
Além disso, é evidente que a submissão passiva do indivíduo à
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organização, em sua qualidade de detentor de emprego, tem um vprofundo efeito sobre sua personalidade, efeito que não desapareceem seu espaço vital particular. Se, como sustenta Simon, se espera doempregado que "deixe em repouso suas faculdades críticas", a fim de"permitir que as decisões que lhe forem transmitidas" possam "guiarsua própria opção" (Simon, 1966, p. 151), essa disposição podecondená-lo a fazer de sua psicose ocupacional uma segunda natureza,como assinalamalguns analistas (Merton, 1967; Mannheim, 1940). Emoutras palavras, estaráeleenfraquecendo suacapacidade de fazer, forada organização, julgamentos éticos e críticos de natureza pessoal. Ainjustificada legitimação dessa pressão, exercida sobre o indivíduo pelaorganização, deve serreconhecida como exemplode política cognitiva.y
É duvidoso, na verdade, que em seu tempo fora do trabalhopossa o indivíduo dispor de áreas suficientes, livres da penetração depressões sociais organizadas. O ambiente social desta nação é altamente planejado, se se leva em conta a maneira pela qual normalmente ainformação chega aos cidadãos. Tem sido corretamente afirmado pormuitas autoridades que, altamente controlados por gigantescos complexos empresariais, os meios de comunicação de massa promovem s ^*amplamente aqui uma "irrefletida lealdade" (Lazarsfeld e. Merton,1974, p. 567) ao status quo. Estes autores interpretam essa formainstitucional de prestar informação como o meio utilizado "em lugar
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de intimidação e coerção" (Uzarsfeld e Merton, 1974, p. 556). Presoao contexto dessa forma, o ambiente sociaL como um todo, tornou-se,ele próprio, um ambiente ^mecanomórficoye, pela interiorização desuas normas e exigências, o indivíduo é induzido a se transformar, a simesmo, num sistema rnecanomórfico. Substituipor um jargãoprojetado o senso comum e, inevitavelmente, perde a habilidade verbal defalar sobre níveis profundos de sua psique, que resistem à expressãomediante signosmecanomórficos.
Herbert Simon não veria nada de extraordinário na presentesubmissão passiva do indivíduo ao ambiente social. Argumentandoque existe apenas uma diferença de grau entre uma formiga e umhomem, diria ele que, quanto ao indivíduo, seu "ambiente interiorpode ser muito irrelevante para (seu) comportamento, relativamenteao ambiente exterior" (Simon, 1969, p. 25). Na realidade, afirma ele:
"Uma formiga, encarada como um sistemade comportamento, é bemsimples. A aparente complexidade de seu comportamento, ... é emgrande parte um reflexo da complexidade do ambiente em que ela seencontra...
cj^tM*^ <*-^ £u gOStaria de explorar esta hipótese, mas com a palavra 'homem'^ o5£> .aawjaX substituindo 'formiga'...
Q^Um homem, encarado como um sistema de comportamento, é bem•^"simples. A aparente complexidade de seu comportamento, ... é em
_grande parte um reflexo da complexidade do ambiente em que ele seencontra.
tA/v' Pessoalmente, acredito que a hipótese vale mesmo em relação ao homem como um todo ... Um ser humano raciocinante é um sistemaadaptativo; suas metas são definidas pela área comum entre seusambientes interior e exterior. Na medida em que ele é de fato adaptável, seu comportamento refletirá características situadas, em grandeparte, no ambiente exterior (em face das metas individuais) e revelaráapenas umas poucas propriedades limitativas de seu ambiente interior"(Simon, 1969, p. 24-6).
Essa afirmação é altamente representativa da concepção de!homem infiltrada na psicologia behaviorista, sendo formulada em dois]passos nãoarticulados. Primeiro, define o homem como umsistema de)comportamento e, segundo, pressupõe que um sistema de comporta-',mento é equivalente a um sistema de processamento de informação. |Os oponentes humanistas de Simon, no domínio da teoria organizacional típica, reconhecem, de fato, no indivíduo, umagama de necessidades, que se funda em suasubjetividade pessoal. Contudo, paradoxalmente, na prática não há uma polêmica essencial entre Simon eaqueles que concordam com ele,por um lado, e os colegas que a eles
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seopõem,deoutrolado,pelasimplesrazãodequeosúltimosdeixamdecompreenderqueasreferidasnecessidadesnaopodemseratendidasdentrodeambientesmecanomorficoposjrujissesentemàvontadeparaexercersuaperíciaclínica.Ofímmanis^otexemplo,acreditamqueaconfiança,aautenticida^eTõamoJ.afianque-zasópodemserestimuladosnaculturainterpessoaldasorganiza-^^,çõesdenaturezaeconômicapeloengajamentodeseusmembrosem,^^sessõesderealimentação-feedback-,emquesãoencorajadosnaoNJapenasaproduzirinformaçõessobreseussentimentos,masaprocessar^^0informaçõessobresimesmosvindastambémdasoutraspessoas.Essepbtipodedinâmicadegrupoqueinclui,porexemplo,técnicascomoadognjpoTeadotreinamentodasensitividade.émecanomorticae,auspiciadapelasorganizaçõesdenaturezaeconômica,iraprópnaparatratardetópicosdedesenvolvimentopessoal.
Narealidade,odesenvolvimentopessoaleasolidãopessoalsaoinseparáveis0desenvolvimentopessoaldesdobra-sevindodapsiqueindividuale.comtodaaprobabÜidade,édificultadoporprocessossociaisouderealimentaçãogrupai.Todasocializaçãoéalienação.Ésignificativoqueoshumanistasnãohesitememabraçarapsicologiabehavioristaedesnecessárioreafirmarminhacríticadessetipodepsicologia,queéapresentadanocapítulo3destelivro.Bastadizeraquiqueocomportamentoé,essencialmente,umacategonadavidaexteriordoindivíduo.Énaturalqueumapsicologiaqueencaraohomemcomoumanimalquesóécapazdecomportamentoseincline1^^-^asercentradanogrupo,ougireemtomodeprocessosderealimentaçãoMasessaéumavisãomuitoparcialdavidapsíquicadohomem.Ocomportamentoéumadimensãosuperficialdesuavida.Ohomem,essencialmente,nãosecomporta-comoumportadordarazão,essencialmenteage.Masapsicologiabehavioristaestáfadadaanegligenciaraaçãocomoumacategoriadavidainteriordohomem,porqueéumapsicologiasemrazão,istoé,umapsicologianaqualarazãoéinterpretadaerroneamentecomosinônimodameraavaliaçãodeconseqüências.Essaerradacompreensão,baseadanumateoriapretensiosa,explicaporqueéqueoshumanistasalegamumchoqueentreohomememauto-atualizaçãoeohomemracional.16Sólidoconhecimentodepsicologiadeveriajustificarestaafirmação.NãosedeveriaesquecerqueopróprioFreudafirmou,noüvro^CMttu**,eStUSdt>^sabores,que"naseveridadedeseuscomandosedesuasf"*^1°"P^J incomoda-semuitopoucocomafelicidadedoego(Freud,1962,p;90).MasomenosquesepodedizeréqueFreudfoiambíguosobreairreduübilidadedoeuàsocialidade.Melhoresfontesparafundamentaçãodo,auefoii*™*do*™»encontradasnosescritosdeCarlJung,AlfredAdlerOttoRank,FranzAJexan-derH.Hartmann,W.Stekel,L.Binswangcr,ErichFromm,M.Boas,ViktorFrankl,R.D.Laing,IraProgoff,R.May,eoutros.Ajustificaçãodaassertivanaopodeserfeitanotextodopresentecapítulo,paraqueomesmonaoseafastedeseuobjetivoprincipal.
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Oprojetodehumanizaçãodasorganizaçõesformaistemtambémsuasraízesnessacompreensãoerrada.Defato,aceitandoalimitadarazãodasorganizaçõesformaiscomoconstituindoarazãoemgeral,oshumanistasesforçam-sepormitigarapreocupaçãointrínsecaquetêmcomosrequisitosfuncionaisdeeficácia,propondoestratégias-^£s+destinadasaintegrarmetasorganizacionaiseindividuaise,assim,oprojetadoeoemocionaleespontâneo.Deixamdeperceber,evidentemente,quequandoengajadoemsistemasinstrumentaisdecomunicação,oindivíduoestáfadadoarejeitar,sistematicamente,suaexperiênciadiretadarealidade.EstaobservaçãofoiarticuladacomlucidezporJosephWeizenbaum,emseulivroTheComputerandhumanreason,ondeelecorretamenteacentuaqueapresenterejeiçãodaexperiênciadiretaéumahabüidadequeoindivíduoaprendeatravésdesuasocialização,um"novosentido"paraque"encontreseucaminho",nummundoprojetadodeacordocomrequisitosfuncionaisdeeficácia(Weizenbaum,1976,p.25).Nessetipodemundo,ohomemaprendeareprimirespontaneamentesentimentosemaneirasdeverquedesviariamseucomportamentodosrespectivospropósitosinstrumentais.Assim,elecomequandoorelógiodizqueéhora,nãoquandoestácomfome,esatisfazsuasoutrasnecessidadesdamesmamaneira.Nodomíniodadisciplinaorganizacional,oelogiodeBarnardàtelefonistaquepermaneceemsuamesadeligações,emvezdetentarsocorreramãedoentedentrodeumacasaqueseincendeia.éumexemplonotávelderejeiçãodaexperiênciadiretadarealidade.
Atentativahumanistadeintegraçãodemetasindividuaiseorganizacionaissópodeserempreendidaàbasedeumapsicologiabehaviorista(queépoucomaisqueumaformacrípticadepolíticacognitiva),apoiadanumacompreensãopré-analíticadasrealidadesoperacionaisdaorganização,naqualasfunçõescríticasdoconhecimentoadministrativoconvencionalsãosistematicamentedeixadasdelado.Amodadateoriadesistemaséumcasoaassinalar.ComofrisaSheldonWolin,naabordagemdesistemas,deorientaçãobehaviorista,nacategoriadeinsumo—input—reduzem-setópicosheterogêneosaumitemhomogêneocomum.Porexemplo,otermoinsumovale"igualmente,paraumprotestopelosdireitoscivis,umadelegaçãodaAssociaçãoNacionaldoRifle(NationalRifleAssociation)eumagrevedaUAW(UniãoAmericanadeTrabalhadores)"(Wolin,1969,p.1.078).
Nomesmosentido,argumentaWolinqueessaorientaçãomeca-nomórfica,quedenominademetodismo,temalicerceséticoseteóricos/que,finalmente,conduzema"grotescosresultadoseducacionais"(Wolin,1969,p.1.078).Constitui"emúltimaanálise,umapropostaparaamoldagemdamente"(Wolin,1969,p.1.064)eseus"prêT.supostossãodenaturezatalquerevigoramavisãoacríticadasatuaisftstniriiraspolíticasedetudoqueeiasenvolvem'"(Wolin,iy69r
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sociedadealgumadopassado.,amasosTeeódosforam
alógicacentraldavidadacomunidade.SomentenasSSd
massociedadesdehojeomercadodesempenhaopapeldeforca
centralmodeladora
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reformada
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nãoconstituitarefasimples,poisnaoapenas
oscitdãosemTeuconjunto,setomaram
ajustadosaessamentalidade
mLtembfaipoucossãooscanaisdisponíveis,pelosquaisinfluen-
ías^b^doras.destinadasadesfazeressainclinação,possam«Tastematicamenteexercidas.Escravosdeum
sistemadecomuntca-fio
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6. UMA ABORDAGEM SUBSTANTIVA
DA ORGANIZAÇÃO
A disciplina organizacional contemporânea não desenvolveu acapacidade analítica necessária à crítica de seus alicerces teóricos e,em vez disso, em grande parte toma emprestadas capacidades exteriores. Por essa razão, condenou-se a si mesma a permanecer pré-analítica e, para sempre, na periferia da ciência social. Dificilmente umcampo disciplinar atingirá o nível sofisticado de conhecimento requerido para o ensino em grau superior, se não for capaz de desenvolverem caráter crítico e de si mesmo extraídas suas bases epistemológicas.Ao concentrar-se nessas bases, este capítulo tentará apresentar umaabordagem sistemática da teoria organizacional, fundada na racionalidade substantiva.
A formulação de uma abordagem substantiva para a organizaçãoinclui duas tarefas distintas: a) o desenvolvimento de um tipo de análise capaz de detectar os ingredientes epistemológicos dos vários cenários organizacionais; b) o desenvolvimentode um tipo de análise organizacional expurgado de padrões distorcidos de linguagem e concep-tualização.
Embora o capítulo trate, sobretudo, da segunda tarefa, são cabíveisalgumasconsideraçõessobre a primeira.
6.1 Tarefa 1 - a organização como sistema epistemológico
Os cientistas sociais afirmam, comumente, que as definições darealidade são aprendidas pelos indivíduos no processo rfesocializaçãoj,"Como salienta Karl Mannheim, quando novas situações emergemnuma sociedade, seus membros normalmente tendem a interpretá-lasdo acordo com categorias já estabelecidas. É como se "se recusassem aadmitir-lhes o caráter de novidade", ou preferissem "ignorar-lhes asingularidade" (Mannheim, 1940, p. 302). Ao nível da microrganiza-ção, March e Simon (1958, p. 165) chamam esse padrão de reação de"absorção de incerteza". Quando exposto a uma situação nunca vista,o indivíduo tenta normalmente interpretá-la de acordo com o vocabulário conceptual familiar à organização, para que não venha a pôr em
118
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risco sua segurança psicológica. "Daí", dizem March e Simon (1958,p. 165) "tender o mundo a serpercebido pelos membros da organização em termos dos conceitos particulares refletidos novocabulário daorganização. As categorias e osesquemas especiais de classificação queaquele emprega são materializados e tornam-se, para os membros ete
\-'\: :/.organização, atributos do mundo, em vez de meras convenções^
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XPerrow afirma que as organizações controlam a ação de seus membros;
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desenvolvendo "vocabulários que escondenTãlKumas partes da realidíTdé~e magnificam outras partes"' (Perrow, 1972, p. 152). Dada a cir-cunstància de que as atuais organizações têm "protéica habilidade demoldar a sociedade" (Perrow, 1972, p. 199), reclama Perrow umreexame da noçãode ambiente, tal comoé correntemente apresentadana literatura especializada. Emlugar do ambiente afetar a organização,parece que o contrário fica mais perto daverdade. Aorganização deveser vista, hoje em dia, "como definindo, criando e moldando seu ambiente" (Perrow, 1972, p. 199). Opinião semelhante sobre o ambiente
Sustentada por J. K. Galbraith (1973) e B. Gross (1973) - opiniãoque sustentam ser característica de todo o sistema social dos EUA.
Embora sejam freqüentes declarações comoessas, um exame sistemático de suas implicações só recentemente está sendotentado poralguns poucos autores, preocupados com a dimensão epistemólógtca -dos sistemas sociais.
Robert Boguslaw defronta-se com este problema no livro TheNew utop'ians. Declara ele- que o desenho de sistemas não é assuntopuramente técnico, mas deveria envolver uma sistemática preocupaçãocom asconseqüências, avaliadas do ponto devista de valores humanos.No entanto,os atuais planejadores de sistemas enfocam esses problemas organizacionais usando instrumentos conceptuais e operacionais ^_que só têm coerência em termos do status quo tecnológico (Boguslawr:1965, p. 4). .Trabalham com o conjunto de hardware dos computadores —equipamento pesado - com normas de sistemas, com análisesfuncionais e com heurística que especifica comportamentos e atitudeshumanas. Boguslaw tenta desvendar as regras de cognição que dominam a arte e a teoria do planejamento convencional de sistemas, queconsidera sob a influência das conveniências políticas, e emite a opinião de que os planejadores se apoiam, em larga proporção, "numateoria de tipo subseqüente ao fato físico" (Boguslaw, 1965, p. 2).Assim sendo, questiona ele a validade dos"métodos, técnicas e funda- * vmentos intelectuais das várias abordagens do planejamento de siste-jmas" (Boguslaw, 1965, p. 2-3).
Alguns estudiosos de sistemas e comunicação estão,igualmente,atentos às questões epistemológicas pertinentes à teoria da organização. Por exemplo, C. W. Churchman (1971) e W. Buckley (1972) de-
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Exceção nessa tendência é Donald Schon (1971). Em sua análisede sistemas sociais, conforme apresentada emBeyond the stable state,a dimensão epistemológica é um tópico sistemático de interesse. Deacordo com Schon, qualquer sistema social consiste, basicamente,de umaestnitura, uma tecnologia e uma teoria. Aestrutura é o "conjunto de papéis e de relações entre os membros, individualmente"(Schon, 1971, p. 33). A tecnologia é o conjunto vigente denormas epraxes consolidadas, através do qual as coisas são feitas eosresultadosconseguidos. A teoria é o conjunto deregras epistemológicas segundoo qual a realidade interna e externa é interpretada e tratada, em termos práticos. Em qualquer sistema essas dimensões são interdependentes, de modo que a modificação numa delas conduz a modificaçõescorrespondentes nas outras e, portanto, em todo osistema. Épossívelvisualizarem-se essas dimensões como círculos, ou como constituindouma "estrutura circular" (Schon, 1971, p. 38). A dimensão epistemológica dos sistemas sociais, usualmente, nãorecebe adequada atenção.No entanto,"quando uma pessoa passa a fazer parte de umsistema social encontra um corpo de teoria que, de maneira mais ou menos explícita estabelece não apenas 'como o mundo é\ mas também 'quemsomos nós', 'que estamos nós fazendo' e 'que é que deveríamos estarfazendo'" (Schon, 1971,p.34). Conseqüentemente, a teoria é uma dimensão nuclear e quando essencialmente alterada expõe a organização a grave fratura, na medida em que amudança possa afetar: a) suaauto-interpretação; b) a definição de suas metas; c) a natureza eo alcance desuas operações; d) suas transações como mundo exterior.
6.2 Tarefa 2 - pontos cegos dateoria organizacional corrente
Constitui argumento básico deste livro a noção de que os sistemas sociais cujo desenho evita considerações substantivas deformam,caracteristicamente, a linguageme os conceitos atravésdos quais a realidade é apreendida. Nessa conformidade, nossa atenção deve voltar-se,agora, para uma abordagem substantiva da organização.
Nenhuma mudança significativa ocorreu nos pressupostos episte-mológicos daanálise organizacional, desde Taylor. Em outras palavras,
120
a teoria da organização nunca examinou, em termos de crítica, aepistemoíogia inerente ao sistema de mercado. Eos pontosvçejo^a_aUial^teoria da organização podem ser caracterizados da forma seguinte:
1 O conceito de racionalidade predominante na vigente teoria organizacional parece afetado por fortes implicações ideológicas. Conduz àidentificação do comportamento econômico como constituindoa totalidade danatureza humana. Embora anocãodejinmpnrtamentoeconômico pareça evidente por si mesma, refen^sejla, aqui, aqualquer tipo~ae açãojmgreendida rxilojigjnejn^çaiaido ele emovido,apenas, pelo interesse de elevaraomáximo seus ganhos econômicos.r Apresente teona da organização não distingue, sistematicamente entre o significado substantivo e o significado formal da organização. Essa confusão toma obscuro o fato de que a organização econômica formal é uma inovação institucional recente, exigida pelo imperativo da acumulação de capital epela expansão das capacidades deprocessamento características do sistema de mercado-.A organizaçãoeconômica formal não pode ser considerada um paradigma, segundo oqual devam ser estudadas todas as formas de organizações, passadas,presentes e emergentes.3 Apresente teona da organização não tem clara compreensão dopapel da interação simbólica, no conjunto dos relacionamentos interpessoais. . _ .,„-.4 A presente teoria da organização apoia-se numa visão mecano-mórfica da atividade produtiva do homem, e isso fica patente atravésde sua incapacidade de distinguir entre trabalho e ocupação.
Na medida em que os teoristas da organização continuem aneglicenciar esses pontos, estarão cedendo auma abordagem reducionis-ta do desenho dos sistemas sociais. Tal reducionismo exige que vejamdiferentes tipos de sistemas sociais sob aótica de um conjunto de pressupostos pertinentes apenas a um desses tipos.
Cada um desses tópicos será agora considerado mais detalhadamente.
6.3 Reexame danoção deracionalidade
A situação em que se encontra a noção de racionalidade, nocampo da teoria da organização, ilustra sua insuficiente qualificaçãoteórica. Os pontos de vista de Herbert Simon sobre racionalidade,apresentados em Administrative behavior e outros trabalhos, constituem ainda parte do conhecimento convencional desse campo. Ara-
\ cionalidade - consoante aversão de Simon (1965) - éoconhecimen-j -yJ' || to absoluto de conseqüências. Assim, mil pode ohomem ser conside-
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6.5 Interação simbólica ehumanidade
Em toda sociedade, ohomem se defronta com dois problemas:oproblema do significado de sua existência eoproblejmdejuasobre-^vivida gtòajcHUsocMàdié lollllatg^naorcP"™££« &àhiem"bro7uma expressão da ordem do universo. Toda «c. dadeparece natural aseus membros na medida em que, pela adesão aseussímbolos epela confiança em seus padrões, sintam eles aprópria exis-tência como alguma coisa que se harmoniza com aquela ordem. Na ^palavras de Voegelin, "toda sociedade tem que enfrentar os problemasde sua existência prática e,ao mesmo tempo se preocupar com averacidade de sua ordem" (Voegelin, 1964, p. 2). Em outras palavras emtoda sociedade existe, de um lado, uma série de ações simbohcas emsua natureza, ações condicionadas, sobretudo, pela experiência dounificado e de outro lado, atividades de natureza econômica, queJo\cima de tudo condicionadas pelo imperativo da sobrevivência dacalculada maximização de recursos. Os critérios de cada tipo.d^conduta são distintos e não devem ser confundidos. Uma atividade de natureza econômica, ou um sistema social econômico, eavaliado em termos das vantagens práticas aque conduz, está engrenado para aconse-cução de tais vantagens, enão para oconhecimento da verdade. As a -^vidades de natureza econômica são cjmxn&dQS*?^razão de seus/lfresultados extrínsecos, enquanto a4ueja^sh^hca)e intnnseca-mente compensadora. Oprimeiro tipo de ativididTe~me.o para conseguir um fim; osegundo, constitui um fim em si mesmo.
Em todas as sociedades primitivas earcaicas, avida simbólica foipredominante e .™ntPve "* nadrõ^s de economicidade em condiçãortftfrH »...hnrdinada. Nas sociedades primitivas, as atividades eco-s Anatureza simbólica da existência social csublinhada por Voegeiin, em seu
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Sdei até diír que ésua parte essencial, porque mediante tal s.mbohzaçao osum acidente ouuma conveniência: expenmcntam-na como algo que taz parisuaessência humana" (Voegelin, 1969, p. 27).
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nômicas são ocasionais, quase sempre restritas a situações em que oshomens se defrontam com o problema da utUização de recursos na u-rais, reclamados por sua existência prática e, assim as Caçoes entreeles nunca são determinadas apenas por critérios de economicidade.De fato, antropólogos de várias correntes teóricas ofereceram provasde que nas sociedades pré-capitalistas édifícü identificar comercio entre indivíduos causado pormotivação puramente econômica.
Antes da sociedade de mercado, nunca existiu uma sociedadeem que ocritério .mnômico se torna^ " p^ão da existência huma-na. Apresente teoria da organização é, sobretudo, uma exprejsao_da-^o^JTrn^^^ ideolog" negligenciar os^nloiln^olvldoT^ela interação simbólica. Êpor essa razão que osteoristas convencionais da organização se sentem avontade aotratarde assuntos como confiança, virtude, valia, amor, auto-atualizaçao. autenticidade, no campo da organização econômica, aque, por sua natureza, dificilmente os mesmos pertencem.
São numerosos os esforços para explicar a natureza da interaçãosimbólica e, neste país, associa-se geralmente o tema com os trabalhosda chamada Escola de Chicago, fundada por George Herbert Mead. Noentanto o tópico tem constituído também interesse primordial de autores cuja orientação teórica nem sempre coincide e entre estesincluem-se Carl Jung, Ernest Cassirer, Georges Gurvitch, Ene Voegelin Jürgen Habermas, Kenneth Byrke, H. D. Duncan. Herbert Blúmere muitos outros. De seus trabalhos parece possível extrairem-se algumas proposições que caracterizam aconvicção das teonas da interaçãosimbólica:
1 O enfoque da interação simbólica repousa no princípio de quehá múltiplas maneiras de se chegar ao conhecimento, e, entre outrascoisas, questiona fundamentalmente o pressuposto de que a ciência,no sentido que lhe dá o cientismo, seja a única forma correta deconhecimento: Cassirer é explícito ao afirmar que a ciência, em s,constitui uma de várias formas simbólicas eque nao ha razão para lhereconhecer uma posição privUegiada em relação as outras^ Arte, mitoreligião ehistória são formas de conhecimento, legando diferentes tipos de experiência, cada um deles válido nc-s limites da realidade aquecorresponde.7 , . .2 Os estudiosos da interação simbólica partem do principio de quea'sociedade é, essencialmente, a existência social. Aênfase aqui éem existência, que não pode ser explicada através da objetivaçao decategorias como forças, estruturas, classes. Averdadeira existência, individual tanto quanto social, nunca éum fato - uma simples manifes-6 Veja Polanyi (1971&). Veja também Bücher (1968).7 Para um resumo da teoria de Cassirer, veja Cassirer (1970).
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Dizele,caracterizandoaabordagemdainteraçãosimbólica."Reconhece(ela)apresençadeorganizaçõesnasociedadehumanaerespeita-lhesaimportância.Contudo,encaraetrataasorganizaçõesdemaneiradiferente,eadiferençatraduz-seconsoanteduaslinhaspnna-pais-primeiro,dopontodevistadainteraçãosunbólica,aorganizaçãodasociedadehumanaéoarcabouço,nointeriordoqualseverificaaaçãosocial,enãoconstituioestímulodeterminantedetalação.Segundo,essaorganizaçãoeasmudançasquenelaseoperamsac,oprodutodaatividadedasunidadesemaçãoenãodeforçasquedeixamessasunidadesforadeconsideração"(Blumer,1962,p.189).
Emoutraspalavras,oindivíduoparticipadafeituradarealidadesocial,eocaráterdessaparticipaçãopodediferirdeumindivíduoparaoutroPodeser.umcaráterativo,casoemqueoindivíduoéumexistentereal(istoé,umego,umapessoa),oupodesermeramentereativo.Nesteúltimocaso,oindivíduoperdeocaráterdeserrealetransforma-senumsimplessistemadeprocessamentodeinformação,comoareúemalgunscientistasdacomputação.Podeacontecerque,emcertascircunstancias,asestruturassociaisinfluenciemtãopesadamenteosindivíduosqueelespassemaagircomoseestivessemcompletamen-j{temoldadospeloprocessosocial.Asproposiçõesdaciênciasocialcon-.vencionaiseriamcorretassetalespéciedereaçãopassivadevesseestarjequiparadaàpróprianaturezahumana.Apremissadequedenvaéa)/dequeoindivíduoéumsercompletamentesocializado.9*EstaexpressãoétomadaemprestadoaVoegelin.Aodesovoatensioimanenteàeístêndahumana,acentuaelesuaestruturamttnnediána-M******^TSlSo*"**>estabelecidodeçM.«aal.:P°i"£ tivosóbvios,einadequadoàconceituac&.desteterna.Na">Ua^aitaqoderecuperaçãodTvoegelinenvolvecritériosdecogmçfoe,«ffl^teme*- tedTEgSm,queparecemchocantesaosqueestãoexageradamentecon-foimadSaoSoddopredwmnantedeciênciasodal.^m«atenção*modelodeciênciapolíticadeVoegelin,vejaSandoz.Ellis(1972).Sobreanoçãodein-berween,vejaVoegelin(1970e1974).9Apropósito,vejaWiong,D.H.a961).
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3.Amteraçâosnnr^capresume^ngívelaoindrvíduoatravésdeexperiênciaslivresderepressões^ope-E*formais.SímbolossãoveículosP»•«—*£"£ riências,istoé,paraareciprocidadedeperspectivas.EmoutiaspalaiS,t*experiênciasdarealidadesãosocialmentetrocadasouoomu-Sdasmedianteainteraçãosimbólica,querequernec«sanamente,£*•íntimasentreosindivíduos,quenãoseefetivam™drante*a-Souregrasimpostas,decarátereconômico.Ainteração«mU»»éumtipo!comunicaçãonío-projetadaequeseopõeascomunicaçõesprojetadas.Nossistemasracionaisefuncionais,t^comoodaor-Staçfeconvencional,ascorrninicaçôesentreoswl^"*» EditamnolivrefluxodaexperiênciadiretadaCidademasclassificam-sesobumconjuntoderegrastécmcasedeI««*"™*-Aorganizaçãoconvencionalperderiasuaratsondetresefos*perrm-tíraüvreinteraçíosimbólica,eascomunicaçõesjocontexto,*:t»organizaçõessãooperacionaisenãoexpressivas.Nodomíniodainteraçãosimbólica,nãohácomportamentosfuncionaisquedevamserjulgadosdopontodevistadeestratégiasinstrumentaisoüde«glaucasmasantesaçõesouatitudesinteligíveisouininteligíveis,definidas,partirdeumplanodereciprocidadedeperspectivas.Hapoucatolerânciaparaaambigüidadenainteraçãosocialinstrumental,enquantoTtolerânciaégrandeparaaambigüidade,na*^£**~ "Umadascaracterísticasdossímbolos",dizGumtch(1971,p.40),"équeelesrevelamenquantoencobremeencobremenquantorevelam,eproporcionamparticipação,enquantoaimpedem°urestringem,masencorajando,apesardisso,essaparticipação.Asatividadesfenaturezaeconômicaestãopresas,essencialmentearegrasoperacionaisformaise,portanto,limitamoalcancejessetipodejnjinnd*,denastransaçõeshumanas.-^x^;MRM-a\
^4^enteJp^ã^,^M^»tBS~como©{amor;<confiançyahonertSaS,a.veXpaíj^o-atualizaçã^ãodevertórn^tar^auf-donS^podT^âodaorBSnrzaçtoTiconômica^equetaisorganizaçõesdeveriamserdistintasdeoutrostiposdesistemassociais,aqueosPontosreferidosefetivamentepertencem.Asorganizaçõeseconômicasiazem-seinteligíveis,antes,atravésdenormasfuncionaiseracionaisdeconTuteecomunicação.Existem,contudo,outrossistemassociaisemqueainteraçãosimbólicaéconsideradacomoconstituindooprincipalfundamentopararelacionamentosinterpessoaisinteligíveis.
6.6Trabalhoeocupação
Emtodasassociedadespré-mercadodotadasdealgumgraudediferenciaçãosocial,existiusempreumaclaradistinçãoentre^ajmdjt.
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classificação existencial. Embora as atividades classificadas numa ounoutra categoria variem de sociedade para sociedade, duas premissasparecem permear essa distinção. Primeira, as atividades de categoriza-ção existencial superior são, de preferência, exercidas autonomamentepelo indivíduo, de acordo com seu desejo de atualização pessoal. Aoexercer tais atividades, o homem realiza alguma coisa que, aos olhosdos outros indivíduos, é desejável como um fim em si mesma. Segunda, as atividades que não alcançam esse nível superior são, de preferência, determinadas externamente por necessidades objetivas e não pelalivre deliberação pessoal. Éesse segundo tipo de atividade que força oindivíduo a se empenhar em esforços penosos. As atividades de nívelsuperior não deixam de exigir esforços, noentanto são, intrinsecamen-te, gratificantes.
Parece evidente que uma distinção sistemática entre trabalho eocupação pode ser conceptualizada, de acordo com esses pressupostos.Otrabalho éaprática de um esforço subordinada às necessidades objetivas inerentes ao processo de produção em si. Aocupação éa práticade esforços livremente produzidos pelo indivíduo em busca de suaatualização pessoal.
Semelhante distinção constitui a base da teoria de Veblen sobreclasse ociosa. 0 trabalho, como foi definido, tem sido tão universalmente desprezado, que aqueles que não precisam trabalhar para viver, ^^«-vifig"se empenham em enfatizar essa condição através da prática do consu- ^ÇV jV Ç<v^mo conspícuo. No entanto, a noção que Veblen tem de consumo ^ Qsy^kj^^ ' VJconspícuo pode dificultar a plena compreensão do lazer. /
Nasociedade de mercado, a noção delazer tem sido degradada,porque se tomou sinônimo de ociosidade, passatempo, diversão -conotações que o lazer nunca teve antes. Esse fato é sintomático daspremissas de valor do sistema de preços de mercado, em que o trabalho foi transformado no critério par excellence de valia e merecimento. Num mundo de "trabalho total" (Pieper, 1963,p. 20), tal comooque pressupõe osistema de mercado, o lazer naturalmente perde ocaráter que anteriormente teve, de_.çojTespondência a uma condiçãoapropriada para os mais sérios esforços em que um homem se podeempenhar Tentando reconstituir o significado original de lazer, JosefPieper escreve:
"A ociosidade, no velho sentido da palavra, longe de ser sinônimo delazer é,mais aproximadamente, o requisito indispensável esecreto quetoma o lazer impossível: poderia ser descrita como a total ausência delazer, ou o exato oposto do lazer. Olazer só é possível quando ohomem sesente unido a si próprio. Aociosidade e a incapacidade de lazer entre si se correspondem. Lazer é o contrário de ambas" (Pieper,1963, p. 40).
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Ainversão do significado original de lazer, como foi gradualmente conseguida através do processo de autojustificaçao ética do sistema de mercado, é um exemplo da desorientação da civilização ocidental em seu estágio moderno. "Grandes mudanças subterrâneas emnossa escala de valores" (Pieper, 1963, p. 23) ocorreram nos últimostrês séculos, e por meio delas o lazer perdeu seu caráter como umadas bases da cultura ocidental" (Pieper, 1963, p. 20). Essa distorçãofoi ditada pelas premissas de valor do sistema de mercado, no qual ohomem sente que está social e mesmo religiosamente justificado a
QujJesfrutar, com aconsciência tranqüila", apenas "aquilo que adquiriu^"^com esforço esacrifício" (Pieper, 1963, p. 33).
Veblen salienta, corretamente, que a existência de uma classe*" ociosa é impossível sem aexistência da propriedade privada, fato que
foi bem compreendido por Aristóteles, que especificou tambémque somente aqueles que dispunham de propriedades individuais podiam ser livres. Para ele. a posse da propriedade era uma condição parauma vida plena, racional, livre. Desse modo. considerava ele oescravocomo um ser não inteiramente racional, e embora tal opinião seja repugnante aos nossos sentimentos atuais, nela Aristóteles éapenas culpado por considerar uma imposição das circunstancias como indicação
n de uma dicotomia essencial entre duas categorias de seres humanos.,®y^Como assinala Leo Strauss:
"Aristóteles considerou como coisa certa alguma coisa que ja nao podemos considerar como certa. Tomou como certo o fato de que todaeconomia teria que ser uma economia de escassez, em que amaior parte dos homens não disporia de lazer. Descobrimos uma economia deabundância. E, numa economia de abundância, jánão everdade que amaior parte das pessoas tenha que ser não educada. Esse fato constituiuma resposta perfeita aAristóteles, nesse particular. Mas épreciso quevejamos aquilo que mudou, exatamente. Não os princípios de justiça,que são os mesmos. Oque mudou foram as circunstancias (Strauss,1972, p. 231).
De fato na medida em que a exeqüibUidade de uma economiade abundância é inconcebível, é correto admitir que, em todo sistemapolítico diferenciado, apenas uma minoria podia ser livre da condiçãode trabalhadora, o que constitui o requisito indispensável de Anstote-les para um tipo de vida racional e livre. Portanto, se pusermos nossaindignação moral contra ajustificação da escravatura sob adequadaperspectiva, não há como fazer objeção a Aristóteles.
Como acentua Arendt, "a instituição da escravatura, na antigüidade foi um recurso para excluir o trabalho da condição da vida do
Ihomem" (Arendt, 1958, p. 74). Essa exclusão só podia ser viável atra-131
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vés da institucionalização da escravatura, dadas as capacidades de produção daquele período histórico. Ponderando bem ateoria de Aristóteles em sua apropriada perspectiva histórica, Arendt escreve:"Aristóteles, que defendeu essa teoria tão explicitamente edepois, emseu leito de morte, libertou os escravos que possuía, talvez não tenhasido tão incoerente como os homens modernos estão inclinados a pensar. Ele não negava ac escravo a capacidade de ser humano, mas apenas o uso da palavra 'homens' para membros da espécie humana, enquanto os mesmos estivessem inteiramente sob o domínio da necessidade. E é verdade que o uso dapalavra 'animal', nosentido de animallaborans, de maneira distinta do muito discutível uso da mesma palavra na expressão animal rationale, é inteiramente justificado. Oanimallaborans é, realmente, apenas uma e na melhor das hipóteses a maiselevada das espécies animais que povoam a terra" (Arendt, 1958, p.74-5).
Üfato de que palavras como razão, racionalidade e lazer adquirem, no sistema de mercado, significados que originalmente não exprimiam não é acidental. O processo daconsolidação institucional do sistema de mercado é inseparável de um processo de desculturação damentalidade ocidental, por meio do qual é eliminado o sentido original dessas palavras. De modo particular, o lazer ea distinção qualitativa nele contida entre trabalho e ocupação foram transformados, demaneira a enquadrar o termo noarcabouço epistemológico do sistemade mercado. Nesse sistema, o trabalho transformou-se na fonte de todos os valores e o animal laborans foi elevado "à posição tradicionalmente ocupada pelo animal rationale" (Arendt. 1958. p. 75).
a'maneira pela qual ocorreu essa transformação constitui umaquestão muito complexa e que, aliás, foi amplamente discutida porW. A. Weisskopf (1957; 1971). Tal discussão aborda apenas asrazõespácoculturais para a "súbita, espetacular ascensão do trabalho, damais baixa, mais desdenhada posição ao nível mais elevado, comoamais prezada de todas as atividades humanas" (Arendt, 1958. p. 88).
Segue-se umsumário de razões:Primeiro, o sistema de mercado^encontrou condições excepcio
nais para estabelecer seu comando sobre avida social durante a chamada revolução industrial. Aindústria tomou-se, agora, uma peça fundamental, um componente do sistema de mercado. A produção industrial apóia-se antes nas leis da mecânica do que em qualquer destrezapessoal particular, condicionando ohomem, eficazmente, aconcordarcom suas exigências operacionais. No processo de fabricação, o traba-lho é dividido e, assim, quanto mais o indivíduo se adapta às determPnações mecânicas ao lazer as coisasTmelhores sao osresultados geraisesperados. No contexto dê tais circunstancias, e para cnegar a conse-oíçaVaos resultados finais previstos, as habilidades pessoais passam a
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ser subsidiárias de objetivos mecânicos. Em outras palavras em taiscircunstâncias espera-se do homem não que se ocupe »J^?"™"'nem que se exprima livremente, em relação àtarefa que lhe loi designada; espera-se dele que trabalhe. Ohomem é, portanto, essencialmenteconsiderado apenas como um componente de uma força de trabalho.1°3 transformação do indivíduo num trabalhador éumjemjisito.,doplano merânjçojiaj£OjliiçIo.
"Segundo, o sistema de mercado^ujnjisjema^preços eprecisade padrões objètívõT^ãrã determinar aequivalência de bens eserviços.Além disso, na medida em que os relacionamentos entre produtores econsumidores, no mercado, são destacados e simultaneamente classiii-cados sob um processo competitivo, os lucros ecustos precisam ser n-gorosamente calculados. Desse modo^o indrvíduo particir^pmces-,so de produção, mas unjçamenje^cjnojirrUtejn^ °s ™to,resde produção são avaliados^enTteTmos de preço e, assim, o indivíduotorna-se aperm um ganhador de salário. Np mercado, como observouBlake "as almas das pessoas são compradas e vendidas .' Atranstor-maçãò do indivíduo num trabalhador éum requisito da contabüidadede produção. . ,
Terceiro, osistema de mercado não pode funcionar em bases puramente técnicas e econômicas. Só se poderia transformar no mais importante setor social na medida em que o processo geral de socialização induzisse os indivíduos a aceitarem seus requisitos psicológicos.Diversos estudiosos têm examinado as conotações religiosas da ideologia inerente ao sistema de mercado, esalientam que tal ideologia naorepresenta acontribuição de uma única pessoa, mas resultou de esforços confluentes de filósofos como Hobbes eLocke, de reformadoresreligiosos como Lutero eCalvino, de moralistas como Bentham, eoutros que elaboraram oantecedente teórico do éthos utditano^çon-seqüência final dos esforços desses homens éaética do trabalho baseada no postulado de que o trabalho éo critério cardmal de valor,nm domínios da existência individual e social. AqliiUTque em econo-mia é conhecido como a teoria de valor do trabalho é apenas um aspecto particular da ideologia que legitima a sociedade centrada nomercado.12>° Sobre este ponto, veja Weisskopf (1957 e 1971).11 Apud Hicks, John (1969. p.123)." Sir John Hicks escreve: "Trabalho ... nio é ... 'OCupaçto'. Ca*>••»da»classes de pessoas cujas atividades estivemos examinando tem sua oo»P"Ç"o. £camponês tem sua ocupação, oadministrador tem sua "«PW0**^*,tem sua ocupação, mesmo opropnetano, na medida em que ~n«2Sr „0ção positivarem sua ocupação. Oque caracteriza ooperário, o«tn*Jhadog nosentido mais estreito ... é que ele trabalha para uma outra pessoa. Ele e (nao ten^os meoo de dizer) uníservidor.» EHicks^crescenta. "A^nomiajn»^til nuncalolcapazde jassaLSja^^ 1969, p.1W
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A escolha do trabalho como instrumento de medição do valor eda dignidade humana deum modo geral foi condicionada pela necessidade de aliviar a dissonância cognitiva gerada pelo surgimento do sistema de mercado. A velha distinção entre ocupação e trabalho precisava ser solapada,de outro modo os conflitos interiores da psiquehumana tomariam o sistema de mercado impraticável. O trabalho como instrumento de medição do valor e da dignidade humana é um expediente psicocultural, usado para minimizar a dissonância cognitiva e oconflito interior.
O rudimento de uma distinção entre as duas palavras é encontrado no livro Principies ofeconomics, de Alfred Marshall. O trabalhoé nele definido como "qualquer esforço de mente ou de corpo, promovido parcial ou totalmente com vistas a algumacoisaboa, além doprazer diretamente derivado do trabalho(work)".13 Embora estaafirmação esclareça de modo satisfatório a natureza do trabalho, o fazerradamente no final, quando usa a palavra work. Depois de citar a definição de Marshall, Galbraith observa corretamente, na obra TheAffluent society (1958, p. 264). que a distinção formal entre trabalhoe ocupação não teve papel na teoria econômica. Galbraith parece acreditar que as condições peculiares da sociedade afluente exigiriam a distinção, para a clarificação de seus problemas. Não há dúvida, porém,de que tal distinção é teoricamente importante, do ponto de vista deuma abordagem substantiva da organização.
6. 7 Conceptualização de uma abordagem substantiva da organização
Temos que começar, a esta altura, o confronto com a noção dedelimitação organizacional. A expressão pressupõe, não apenas que hámúltiplos tipos de organização, mas também, e mais importante ainda,que cada um deles pertence a enclaves distintos, no contexto da tessitura geral da sociedade. Asorganizações formais convencionais cons-.titufram. ate ago^ojrrien^sse^^ orpanizaçjomdjxm-terripórânea. o que tem inibido os teoristas da organização, quanto asistemática e acuradamente.,se dedicarem à variedade de sistemas so-ciais que constitui o espaço macrossocial Para qnpseja possível superaresse paroquialismo teórico, é necessário um enfoque substantivo da organização, e esseenfoque se caracteriza pelas seguintes considerações:1. Os limites da organização deveriam coincidir com seus objetivos.Nessa conformidade, a delimitação organizacional está, primordialmente, interessada na delimitação das fronteiras específicas da organização econômica. É possível tentar definir a organização econômica como um sistema microssocial que produz mercadorias segundonormas contratuais objetivas, dispõe de meios operacionais paraa ma-13 Apud Galbraith, J.K. (1958, p. 264).
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ximização de recursos limitados e utiliza critérios quantitativos paraavaliar aequivalência de bens eserviços. Isso quer dizer que as organizações econômicas, tendo exigências próprias que não coincidem, necessariamente, com aquilo que é requerido pela boaqualidade daexis
tência humana em geral, devem ser consideradas como pertencentes aum enclave conceptual e pragmaticamente limitado, dentro doespaçovital humano.2. A conduta individual, no contexto das organizações econômicas, está, fatalmente, subordinada a compulsões operacionais, formais e impostas. Assim sendo, o comportamento administrativo é in-_trinsecamente vexatório e jncompajjvel com o plenodesenvolvimentodas potencialidades humanas. "
"3. A organização econômica é apenas um caso particular de diversos tipos de sistemas microssociais, em que as funções econômicassão desempenhadas de acordo com diferentes escalas de prioridades.Aimportância do comportamento administrativo diminui, quando separte de sistemas sociais planejados para a obtenção de lucro e se ca- ^minha no sentido de sistemas sociais mais adequados à atualização ,-humana.4. Uma abordagem substantiva da teoria organizacional preocupa-se,sistematicamente, com os meios de eliminação de compulsões desnecessárias agindo sobre as atividades humanas nas organizaçõeseconômicas e nos sistemas sociais em geral. Em outras palavras,tal abordagem reconhece que, por sua própria natureza, o comportamentoadministrativo constituiatividade humana submetidaa compulsões operacionais. Todavia, essa abordagem está interessada em meiosviáveis de redução, e mesmo de eliminação, de descontentamentos ecom o aumento da satisfação pessoal dos membros das organizaçõeseconômicas.
5. As situações em que os seres humanos se defrontam com tópicos relativos à própria atualização adequadamente entendidas, têmexigências sistêmicas diferentes daquelas que atendem aos contextoseconômicos. Essa diferenciação social sistêmica foi corretamenteapreendida por H. Arendt como uma condição que habilita os indivíduos a se avantajarem, naconsecução das diferentes obras de suas vidas. Dizela:"Nenhumaatividade podevira serexcelente, se o mundonão proporcionar um lugar adequado para seu exercício" (Arendt,1958, p. 49). Para proporcionar esses lugares adequados, precisamoscomeçar formulando uma tipologia de interesses humanos e dos correspondentes sistemas sociais onde tais interesses possam ser propriamenteconsiderados comotópicosdo desenho organizacional.
Como indicam estas cinco considerações, uma abordagem substantiva da organização resiste a tomar-se, sob qualquer disfarce, uminstrumento de política cognitiva.
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j ' 6.8 Conclusão'• (! Ante a análise até aqui apresentada, toma-se claro quea teonai ( da organização precisa ser reforroulada sobre novos fundamentos epis-
( temológicos. Dos dias de Taylor até hoje, ateoria da organização -I graças à persistente falta de exame de suas dimensões epistemológi-•> ( cas- tem sido, em grande parte, uma ideologia do sistema de preço de
f mercado. Só sobreviverá se for transformada numa teoria realmente* viável, fazendo-se sensível aos pontos cegos de sua conceptualização e-! redefinindo-se sobre bases substantivas.g As afirmações que se seguem são oferecidas como um conjunto
• de possíveis diretrizes, necessárias à reformulação da teoria da orga-^(} nizaçSo:
1.0 homem tem diferentes tipos de necessidades, cuja satisfação'*• requer múltiplos tipos de cenários sociais. É possível não apenas•i categorizar tais tipos de sistemas sociais, mas lambem formular as con
dições operacionais peculiares acada um deles.í 2. O sistema de mercado só atende a limitadas necessidades huma- ^i nas, e determina um tipo particular de cenário social em que se es-*
pera do indivíduo umdesempenho consistente com regras de comum-^ cação operacional, ou critérios intencionais einstrumentais, agindo co-Í"' moum ser trabalhador. Ojomportamento adrmnjsteatiyo, portanto. 4L-
conduta humana condidmíãaa^orjniperaTfffw^ãwnnii««C X^Dfereritgs~caTegorias de tempo e espaço vital correspondem a
'- ê • tipos diferentes de cenários ojgamzaaonais. A categoria de tempo ef espaço vital exigida por um<gjnjnõ" sodaT^de natureza econômica éí O apenas um caso particular entre outros, aser discernido na ecologia| f\ global da existência humana.| 4. Diferentes sistemas cognitivos pertencem a diferentes cenáriosI 0 organizacionais. As regras de cognição inerentes ao comportamentof g* administrativo constituem caso particular de uma epistemoíogia multi-I *' dimensional do planejamento de cenários organizacionais.f O 5- Diferentes cenários sociais requerem enclaves distintos, no con-* f> texto geral da tessitura da sociedade, havendo, contudo, vínculos
^ que os tornam inter-relacionados. Tais vínculos constituem ponto cen-Q trai do interesse de uma abordagem substantiva do planejamento der, sistemas sociais.14U o estudo científico das organizações econômicas trata de estru-[) turas que conduzem àefetiva utilização de recursos físicos ede mão-
de-obra. Esse estudocientíficodaprodução, é verdade, focaliza seuin-•-•' teresse sobre personalidades, mas apenas namedida em que as aptidõesQ e habilidades individuais podem ser melhoradas através do treinamen-
w As redes e ospapéis a serem desempenhados nas redes, na concepção de1 Schon, austram especificamente tal abordagem. Veja Schon (1971).
~1' 136
to e eficazmente combinadas doponto de vista dos rendimentos desejados. A mescla que hoje se faz da teoria da organização econômicacom a teoria da personalidade é uma união espúria, que esconde umpropósito sinistJO^AJàiíiÊâ-dfisíadpxrM^hipótejc^ua^q^qçada^Dfrféí.,
De fato, os proponentes da administração científica, como'Taylor, eosoperacionalistas positivos, como Herbert Simon, estão mais
próximos de uma teoria de organização válida do que os teoristas humanistas, que colocam erradamente anoção de auto-atualização.
Para o aperfeiçoamento da teoria da organização, precisar-se-iareformular Taylor e Simon. Foi cheio de sentido oesforço desses homens, tentando descobrir estruturas eficazes que deveriam caracterizaras organizações econômicas, para que as mesmas pudessem atingir seusobjetivos. Interessaram-se eles, essencialmente, pelas questões técnicasea maior parte daquilo que disseram ainda constitui, pelo menos, umfundamento parcial, sobre o qual se pode continuar a promover aconstrução teórica. Há muita coisa aser considerada válida no esforçode Taylor para formular os fundamentos de uma ciência da produção.Simon, também, estava basicamente correto, em sua tentativa de esclarecimento do processo datomada de decisões; jáqueo mesmo, comoé característico, se desenrola dentro dos limites da organização econômica. No entanto, quando eles negligenciaram as fronteiras das regrasde cognição inerentes às organizacôjs^ejaaíôjmsas, sua psicologia tor-nrnF3eTTra-ponto~de vista objêtivoTuma psicologia de má-fé, porqueinconscientemente, transformaram as mesmas em regras de cogniçãosupostamente válidas para anatureza humana em geral.
Taylor e Simon ainda merecem ser reexaminados, do ponto devista de uma teoria de organização econômica, mas de uma teoriacontida entre suas adequadas fronteiras. A teoria da organização queimaginaram trata de atividades humanas opcionalmente úteis parapoupar recursos. Oerro de Taylor consistiu em expandir exagerada-mente alógica dessas atividades específicas. Para ele, cada ato da vidahumana deveria ser focalizado do ponto de vista da adnunistraçãocientífica. Parece nâõ ter interesse nopapel da interação social primária (simbólica), umcampo da associação que nada tem aver com possibilidade de calculo emaximização. Emúltima análise, Simon equipara aracionalidade com aestimativa deconseqüências e, por conseguinte, identifica as exigências psicológicas do sistema de mercado com anaturezahumana em geral.
0 problema de pontos de vista doutrinários dessa espécie não está apenas em que são teoricamente alienados, mas também em que,mediante a prática da política de cognição, são eles utilizados paraconstruir a realidade social do cidadão comum.
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Não há sentido em se descartar o estudo científico dos cenáriossociais de natureza econômica. A sociedade, como um todo, não podesubsistir sem eles. 0 planejamento e a operação dessescenáriosconstituem um problema técnico de caráter peculiar. No entanto, esse temaé apenas parte daquilo que,no capítuloseguinte, será conceptualizadocomo uma teoria de delimitação de sistemas sociais.
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7. TEORIA DA DELIMITAÇÃO DOSSISTEMAS SOCIAIS:APRESENTAÇÃO DE UM PARADIGMA
O modelo de análise e planejamento de sistemas sociais que orapredomina, nos campos da administração, da ciência política, da economia e da ciência social em geral, é unidimensional, porque reflete omoderno paradigma que, em grande parte, considera o mercado comoa principal categoria para a ordenação dos negócios pessoais e sociais.Neste capítulo, começarei a delinear um modelo multidimensional,para a análise e a formulação dos sistemassociais, no qual o mercadoéconsiderado um enclave social legítimo e necessário, mas limitado e regulado, modelo que reflete aquilo que chamo de paradigma paraeco-nômico.
O ponto central desse modelo multidimensional é a noção dedelimitação orgãnizTciõnãl;~que envolve: a) uma visão düociedade como sendo constituída de uma variedade de enclaves (dos quais o mercadoé apenas um), onde o homem se empenha em tiposnitidamentediferentes, embora verdadeiramente integrativos, de atividades substantivas; b) um sistema de governo social capaz de formular e implementar aspolíticas e decisões distributivas requeridas paraa promoçãodo tipo ótimo de transações entre tais enclaves sociais. A teoria dadehj|itação dos sistemas sociais aqui apresentada enfoca, sobretudo, ajp^ira implicação. Asegunda éexaminada nos capítulos 8e9.
A figura 1 mostra as dimensões principais do paradigma para-econômico. As categorias do paradigma (em grifo)devem serconsideradas como elaborações heurísticas, no sentido weberiano. Não seespera de nenhuma situação existente na vida social quecoincida comesses tipos ideais. No mundo concreto, só existem sistemas sociais mistos.
Uma explicação de alguns detalhes específicos do paradigmatoma-se agora oportuna.
7.1 Orientação individuale comunitária
No mundo social visualizado pelo paradigma, há lugares paraaatualização individual livre de prescrições impostas, e essa atualização140
gE8
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Figura 1O paradigma paraeconômico
PrescriçãofEconomia Isolado
MotimAusência de
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Anomia
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tanto pode ocorrer em pequenos ambientes exclusivos, quanto emcomunidades de regular tamanho. Nesses lugares alternativos, é possível uma verdadeira escolha pessoal, mas é preciso que se tenha emmente que, no arcabouço epistemológico do paradigma, a escolhapessoal não tem a mesma conotação da palavra escolha no campo dasciências políticas atuais e, especialmente, aquela em que é usada pelosteoristas da escolha pública,' os quais seriam capazes de ver escolhapessoal onde, do ponto de vista do paradigma,não há nenhuma. Reduzem oindivíduo, ou o cidadão, a umagente damaximização dautilidade, permanentemente ocupado em atividades de comércio. A escolhaexercida por esse agente não envolve uma confrontação do mercado, mas pressupõe que o indivíduo neste se inclui completamente,tendo sua natureza definida pelas exigências do mercado. A teoria daescolha pública, da mesma forma que a teoria administrativa, épregada em termos de um modelo humano unidimensional, que visualiza oespaço social como horizontal e plano: nele, onde quer que ohomemvá, nunca sai do mercado. I•'
Ao contrário, primeiro e acima de tudo, opadrão paraeconômi- I'co parte do pressuposto de que o mercado constitui um enclave den- !i|tro de uma realidade social' multicêntrica, onde há descontinuidades "* M^'^ 3de diversos tipos, múltiplos critérios substantivos de vida pessoal euma variedade de padrões de relações interpessoais. Segundo, nesse iaJ[iuÍJi/oespaço social, só incidentalmente o indivíduo é um maximizador dautilidade e seu esforço básico é no sentido da ordenação de suaexistência de acordo com as próprias necessidades de atualizaçãopessoal. Terceiro, nesse espaço social, o indivíduo não é forçado aconformar-se inteiramente ao sistema de valores de mercado. São-lhe '* ^°& Co]dadas oportunidades de ocupar-se, ou mesmo de levar amelhor sobre1 Veja, por exemplo, Monsen, RJ. &Downs, A. (1971) e Tullock, G. (1972).
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o sistema de mercado, criando uma porção de ambientes sociais quediferem uns dos outros, em sua natureza, e deles participando. Emsuma, oespaço retratado pelo padrão éum espaço em que oindivíduopode ter ação adequada, em vez de comportar-se apenas de maneiraque venha acorresponder às expectativas de uma realidade social dominada pelomercado.
Raramente sepodem integrar atualização pessoal e maximizaçãoda utilidade, no sentido estritamente econômico. Onde quer queambas sejam seriamente consideradas como imperativos fundamentais davida individual e social, é preciso quesedelimitem enclaves emquecada uma delas possa ser convincentemente atendida. Amaximização dautilidade é incidental, nos sistemas quevisam a atualização pessoal e,conversamente, aatualização pessoal é incidental naauele^auejrisam amaximização da utilidade. Assim, aÇormulaçáo dos sisternasjpcjaiyé,tanto quanto uaaiaíncM uma arte multidimensional.
A delimitação organizacional i, portanto, uma tentativa sistemática de superar o processo continuo de unidimensionalização da vidaindividual e coletiva. A umdimensionanzação é um tipo específicodesocialização, através do qual o indivíduo intemaliza profundamente ocaráter - o ethos - do mercado, e age como se tal caráter fosse o supremo padrão normativo de todo o espectro de suas relações interpessoais.3 Esse processo é característico da sociedade centrada nomercada na forma institucional pecuharque a mesma assumiu nospaTsesTndustriais desenvolvidos.3
0 processo de umdimenáonalizacão tem sido examinado pornumerosos autores de diferentes convicções filosóficas. Não tenho aintenção de elaborar esse ponto, mas merece atenção um Uvro dePhilip Slater, intitulado ThePursuitoflonelmess: American cultureatthe breaking point. Slater investiga as conseqüências psicológicas e sociais da unidimensionalização. No mundo social que descreve, "relações públicas, o drama da televisão eavida tomam-se indistinguíveis"(Skter, 1971, p. 19), e o indivíduo é sistematicamente ensinado aexprimir mal suas emoções. Esse tipo de mundo engendra aquilo queSlater define como a "perversão da emorionalidade humana" (Slater,1971, p. 3), e ele vê o processo de unidbronsionahzação da sociedadeamericana aproximando-se do ponto de ruptura. No passado, osamericanos tinham condições de formular contextos existenciais mais ajustados asuas próprias escolhas, e é assim queSlater afirma:
"No passado, como tantos jásalientaram, houve em nossa sociedade
1 Pais nina visão mais complexa da «nlifr"""rfftlinli*ftçgni veja Marco», Herbert (1966). Sobre esse processo de perspectiva histórica, veja Hahnos, Paul(1953).
3 Sobreeste ponto, vejaPolanyi,Karl (1971).
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muitos casos emque uma pessoa podia fugir da emulação frenética denosso sistema econômico - instituições como a família numerosa e a , ,- //vizinhança estável, nas quais se podia encontrar umprazer diferentedaquele que se experimenta ao conquistar uma vitória simbólica sobre .- \^um companheiro. Mas desapareceram, esses casos, um aum, deixando \A ,oindivíduo, mais emais, numa situação em que precisa tentar satisfa- ,qyfuzer suas necessidades gregárias e hostisno mesmo lugar —o apelo davida cooperativa fez-se mais sedutor e a necessidade desuprimir o desejo quetemos dela sefezmais aguda" (Slater, 1971, p.6).
Uma arte de formulação de sistemas sociais preocupada comaatualização humana, por direito próprio, assim como com aeficiênciana produção de bens ena prestação de serviços, tem que defender umavariedade deambientes organizacionais, emqueesses diferentes objetivos possam ser mais ou menos atendidos. Aafirmação inadequada de [que o interesse pejas pessoas pode ser harmonizado com o interesse-!pela produção de mercadorias só se justifica àbase de uma abordagem \unidimensional da organização. E esse é, precisamente, o erro caracte-'rístico das atuais tendências do pensamento e da prática, no campoadministrativo. Osexemplos incluem designações como a teoriax contra a teoria y, escala gerencial (managenal grid) e desenvolvimentoorganizacional.
Em vez de proclamar a possibilidade de umatotal integração dasmetas individuais e organizacionais, o paradigma aqui apresentadomostra quea atualização humana é um esforço complexo. Jamais poderá ser empreendido num tipo único de organização. Comodetentorde um emprego, o indivíduo é, geralmente, obrigado a agir segundoregras impostas. Contudo, em diferentes graus, tem ele variadas necessidades. Por exemplo, precisa participar da comunidade, da mesmaforma que tomar parte emespeculações que dêem expressão àsingularidade de seucaráter. Oscenários adequados âsatisfação de tais necessidades, emboraem grande partenaoestruturados, sãoaté certo pontomodelados por prescrições ou a que se chegou por consenso, ou queforam livremente auto-impostas. Oexamedostermosdegovernojnte-jn^jMçuliarejLajiiferenles espaços sociais SÃráfeHÔnuma fase ulteriordesta analise. É importante, agora, prosseguir nodelmeamenio doparadigma geral queestamosexaminando.
7.2 Prescrição contraausência de normas
Para que se consiga a execução de qualquer trabalho, é precisoquehaja aobservância denormas operacionais. Quanto maior é o caráter econômico do trabalho, menos oportunidade de atualização pessoal é oferecida aos que o executam pelas respectivas prescrições operacionais. E isso ocorre porque há uma oportunidade mínima de esco-
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lhapessoal,nosentidoemqueamesmafoidiscutidaanteriormente.Essacontradiçãoentreasnecessidadesindividuaiseasexigênciasdaorganizaçãoeconômicanãopodeserresolvidaatravésdenenhumapráticabehaviorista,ouditeííumãnMçãr^Aproduçãodebensea/prestaçãodeserviços,soboimperativodemaximizaçãodosaldolíquidoentrecustosebenefícios,reclamamtiposdeorganizaçõesemque,obviamente,hánoucatolerânciaparaaatualizaçãopessoa!.Narealidade,apdxrn^xmgortamenlo^nessecontexto,significaaquiloqueseesperaqueaspessoasfaçam,emsuaqualidadededetentorasdeemprego-Assim,comofoiditoanteriormente,ocomportamentoadministrativoconsistenaatividadehumanasobprescriçõesoperacionaisformaiseimpostas.O'usoinadequadodaexpressãocomportamentoadministrativoé,elepróprio,umaindicaçãodocaráterunidimensionaldateoriaedapráticaorganizacionaisdomomento.Essateoriaignora,sistematicamente,ofatodequeocomportamentoadministrativoéumacategoriadeconformidadeaprescriçõesformaiseimpostas.Quantomaisaatividadehumanaéconsideradaadministrativa,menoséelaumaexpressãodeatualizaçãopessoal.
Umavezqueaseconomiasfuncionam,caracteristicamente.nasociedadecentradanomercado,sãoelas,atécertoponto,sistemasameaçadoresquedispõemdemeiosparacompelirseusmembrosaaceitarasprescriçõesoperacionaisestabelecidas.Dizemaoindivíduo:aceiteasnormasdedesempenho,ousaia,j)comportamentoadminis-trativoéumasíndromepsicológicainerenfaTáeconomiaeaossistemasameaçadoresemgeral!.Noentanto,oproblemarelativoaomodelo
"atuaTdateonaunidimensionaldeorganizaçãoeàsuapráticaestáemqueomesmopressupõequeocomportamentoadministrativoéidênticoànaturezahumana.Essaerrôneasuposiçãoé,àsvezes,expressaemtermosrudes.Porexemplo,nummanualdecomportamentotípico,lê-seque"aorganização,aoqueseacredita,tememlargaescalatodasasqualidadesdoindivíduo"(Rush,1969,p.8).Sobaspressõesdosistemademercado,nãoédesurpreenderqueoindivíduomédiosesintaconfuso,tantosobreanaturezadacondiçãohumana,quantosobreatualizaçãopessoal.Atecria^nwüj|rariya^corrmiedálegitimi-dgdeaocrescenteprocessodefiupSõrjgruzação^da^despenion_
(cãojjrmarvnlúõ^iocontextodosistemademercadoaTúmtipoindustrialdesenvolvido.
Esseduploprocessodesuperorganizaçãoededespersonalizaçãopoderiasercaracterizadocomosesegue:ofenômenodasuperorganizaçãonasociedadeamericanatemsidoestudadopornumerososespecialistas.Asuperorganizaçãoocorrecomatransformaçãodetodaasociedadenumuniversooperacionalizado,emqueseesperasemprequeoindivíduovivacomoumator,aquemcabeumpapeldeterminado.
Numsistemasocialsuperorganizado,oindivíduonãodispõedelugaretempoverdadeiramenteprivados,duascondiçõesparaumavi-
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dapessoalcriativa.ÇAsohdaVVdlzMarcuse(1966,p.70),"aprópnacondiçãoquefoiosusteirtídflodoindivíduocontraealémdasociedadeemquevive,tomou-setecnicamenteimpossível."Pode-sefacilmentecomprovartalafirmação.Numensaiocheiodediscernimento,MordecaiRoshwaldofereceumaporçãodeexemplossignificativos,aludindoà(padronizaçãodaemodonahdadgjqueresultadolargousodecartõesdispcmiveisnaslojas,paraqueosfreguesesmanifestemseussentimentos,emocasiõescomonatalídos,aniversários,casamentos,mortes,doenças,situaçõesdesolidariedade;àutUizaçãodoschefesdetorcida,paraaromaropúblicopresenteaosjogosdefutebol;aousodas"deixas"paraorisoeoaplauso,orientandoosqueassistemaprogramasdeaudiência.Aeducação,também,nãoescapouaoprocessodesuperorganização;seuCbjeflVtt,demodogerai,6sobretiiao^fignSaspessoascapazesdesetransformarememdetentorasaeemprego,no
"sistemademercado.Osestudantesdosginásioseaoscursoscolegiais"sabsubmetidosapraxesuniformesdeensinoeavaliação,quedificilmentelhesestimulamacriatividadeeodesenvolvimentodasensitivi-dade,emrelaçãoaocarátercomplexodostópicosparaosquaissedeterminaqueorientemsuaatenção.4Presocontinuamenteaumatramadeexigênciassobremétodoeorganização,oindivíduoacabaporaceitarumavisãopredeterminadadarealidade.
Éóbvioqueasuperorganizaçãoaumentaadespersonalizaçãodoindivíduo.NostrabalhosdeErvingGoffman,porexemplo,encontra-seabundantematerialclínicosobreaspressõesinstitucionalizadasdedespersonalização.UmadasconclusõesdeGoffmanéadequejümmodelopredominantedainter-relaçãopessoal,nasociedade,consistenagerênciadeimpressão{impressionmanagement),ouseja,apráticadoenganosistemáticoentreaspessoas.AsconclusõesdeGoffmandãoapoioempíricoàafirmaçãodeque,numasociedadesuperorganizada,oindivíduoperdeaidentidadepessoal,namedidaemqueéinduzidoainteriorizarumadeterminadaidentidade,exigidapelospapéisqueseesperaquedesempenhe.5
Umaartemuldimensionaldedesenhodesistemassociaisnãopodedesprezarosefeitospsicológicosdasprescriçõesoperacionais.Nãoprocuraeliminaressasprescriçõesdomundosocial,porqueasmesmassãoindispensáveisàmanutençãoeaodesenvolvimentodosistemadeapoiodequalquercoletividade.Noentanto,interessa-sepeladelimitaçãodosenclavesemquecabemtaisprescrições,enosquaispodematéserlegitimamenteimpostasaoindivíduo.Nossistemassociaisquevisammaximizaraatualizaçãopessoal,asprescriçõesnãosãoeliminadas.Sãomínimas,porém,enuncasãoestabelecidassemoplenoconsentimentodosindivíduosinteressados.Taissistemassãobastantefle-
*VejaRoshwald,M.(1973).
5Veja,especialmente,Goffman(1961).VejatambémGoodman,Paul(1960).
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xíveis para estimular osenso pessoal de ordem ede compromisso comos objetivos fixados, sem transformar os indivíduos em agentes passivos A total eliminação das prescrições e das normas é incompatívelcom uma significativa atualização humana, no contexto do mundo social Nessa conformidade, os fatos classificados nas categonas de motim (mob) eanomia (anomy) põem em risco, essencialmente, aviabilidade de toda a tessitura social.
No contexto deste capítulo, o formulador de um sistema socialnão é encarado como uma espécie de benfeitor ou de Pigmalião, quemodela um ambiente e diz aseus membros como nele devem viver. E,antes, imaginado como um agente, capaz de facilitar odesenvolvimento de iniciativas livremente geradas pelos indivíduos, passíveis de seamalgamarem, sob a forma de configurações reais. Nessa qualidade,pode ele desempenhar alguns dos papéis que caracterizam a rede gerencial de Donald Schon,6 tais como o de facüitador. de negociadorde sistemas, de gerente de underground, de manobrador, ou de corretor. Outros títulos podem-se acrescentar aestes, como o de construtorde equipe, o de especialista em dinâmica de grupo, terapeutas de grupo como representado, por exemplo, por Ira Progoff, eopapel de planejador de espaço, como foi descrito por Fred Steele.
Deve ser salientado, finalmente, que da forma como estão conceituados noparadigma, não se espera que osenclaves existam em partes segregadas do espaço físico. Economias, isonomias, fenonomias esuas formas mistas caracterizam-se por seus estüos específicos devidae,eventualmente, podem ser encontradas cm vizinhança física
7.3 Conceituação das categorias delimitadoras
É oportuna, agora, uma conceituação de cada uma das categorias representadas no paradigma.
7.3.1 Anomia e motim
Apresença das categorias anomia emotim no paradigma é exigida pela lógica de suas dimensões. Aanomia éconceituada como umasituação estanque, em que avida pessoal esocial desaparece. 0 termoanomia (anomie, em francês), originariamente inventado pelo sociólogo francês Êmile Durkheim, detinejunu condição em que os mdiví-duos subsistem naoria do sistémTsocjaTTÊles são desprovidos de normas e de raízes! sem compromisso com prescrições operacionais, massão incapazes de modelar suas vidas de acordo com um projeto pes-
« Veja Schon(1971).
1 Veja Steele (1973).
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soai. São os beats, os marginais, os excluídos, que vez por outra assumem acondição do jovem errante, ou do adulto não-convencional embusca da própria identidade ou de novas experiências; sao alguns cn-minosos, viciados em drogas, ébrios e mendigos, os indigentes e osmentalmente defeituosos.
Oindivíduo anômico é incapaz de enar um ambiente social para si próprio e, simultaneamente, obedecer às prescrições operacionaisde organizações importantes para sua subsistência. Tem que ser assistido protegido ou controlado por instituições como oExército de salvação, os hospícios, os reformatóribs, os hospitais eas prisões. No entanto oplanejamento dos ambientes destinados aos indivíduos anomi-cos precisa atender arequisitos específicos/Os articuladores eos responsáveis por esses sistemas deveriam compreender que atarefa quelhes cabe emrolve meios ehabilidades adequados aos objetivos imediatos Nesse sentido, a anomia encaixa-se no quadro da-delimitaçao euma das razões pelas quais as instituições referidas geralmente agravama condição anômica das pessoas de que cuidam é que seu esquema eadministração não são sistematicamente encarados como pertencendoa um enclave social específico. Os clientes dessas instituições, queconstituem, de fato, um testemunho vivo do desconforto que prevalece na sociedade, são definidos em termos dos pressupostos operacionais do conjunto social, que penetram em todos os campos. Essa circunstância, por si própria, inibe a compreensão dos que agem em nome desses órgãos, quanto ànatureza de syas funções equanto as qualificações que se supõe que tenham. Estão sendo hoje em dia amplamente experimentados numerosos ambientes destinados ao trato comindivíduos anômicos. Aformulação e implementação de tais ambientes tal como referem, por exemplo, J. M. N. Query (1973), S. B. Saran-son (1974) e outros, envolvem uma perícia específica - expertise -que agora ainda está em estágio muito incipiente. Se vier aser possíveluma delimitação do mercado, então aestrutura, as funções eos pressupostos de tais instituições serão radicalmente diferentes daquelesque atualmente prevalecem. Assim sendo, aanomia faz jus aser consi-derada uma categoria de delimitação organizacional.
No paradigma, anomia refere-se aindivíduos desprovidos de normas orientadoras, que não têm osenso de relacionamento com outrosindivíduos. Motim éareferência de coletividades desprovidas de normas a cujos membros falta osenso de ordem social. Pode acontecerque'uma sociedade se tome passível de perturbação pelos motins,quando perder, para seus membros, arepresentatividade eosignificado.
7.3.2 Economia
Em termos gerais, uma economia é um contexto organizacionalaltamente ordenado, estabelecido para aprodução de bens e/ou para a
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prestaçãodeserviços,possuindoasseguintescaracterísticas:1Prestaseusserviçosafreguesese/ouaclientesque,namelhordashipóteses,têminfluênciaindiretanoplanejamentoenaexecuçãodesuasatividades.1Suasobrevivênciaéumafunçãodaeficiênciacomqueproduzosbenseprestaserviçosaosfregueseseclientes.Assimsendo,aeficiênciadeumaeconomiapodeserobjetivamenteavaliadaemtermosdelucrose/oudarelaçãocusto/benefício,envolvendomaisqueasimplesconsideraçãodelucrosdiretos.3.Podeegeralmenteprecisaassumirgrandesdimensõesemtamanho(queseexprimepeloconjuntodepessoal,escritórios,instalaçõesmateriais,eassimpordiante)ecomplexidade(queseexprimeatravésdadiversidadedeoperações,deveres,relacionamentoscomoambiente,eassimpordiante).4.Seusmembrossãodetentoresdeempregosesãoavaliados,sobretudo,nessaqualidade.Asqualificaçõesprofissionaisparaodesempenhodoscargosdeterminamacontratação,adispensa,amanutençãonoemprego,apromoçãoeasdecisõessobreoprogressonacarreira.
5.Ainformaçãocirculademaneirairregularentreosseusmembros,bemcomoentreaprópriaeconomia,comoentidade,eopúblico.Issoquerdizerqueaspessoassituadasnosváriosníveisdaestruturacondicionamaprestaçãodeinformaçãoaosinteressespessoaisouempresariais.Essadifundidacondiçãodaseconomiasemgeraléoprincipalfatordaleideferrodaoligarquia,daleideParkinson,doprincípiodePedro,daerrônealocalizaçãodemetas,eassimpordiante.
Presume-sequeascincocaracterísticasmencionadassãocomunsatodasaseconomias:amonopólios,firmascompetidoras,organizaçõesdefinsnão-lucrativoseagências.Êóbvioquecadaumdessesquatrotiposdeeconomiaspodeserexaminadoemtermosdesuaspeculiaridades,tantoquantodeseustraçoscomuns.Masumaanálisedetalhadadaseconomiasnãoéessencialaosobjetivosdesteestudo,sendosuficientedizerque,enquantoosmonopólios,asfirmasdenaturezacompetitivaemesmoosempreendimentossemfinslucrativosobtêmsuareceitadaproduçãounitária,asagênciasoperamàbasedeumorçamento,derivandopelomenosparcialmentesuarendadeauxílios,donativos,financiamentodiretoeverbasespeciais.
Omercadotendeatransformar-senumacategoriadeabrangênciatotal,quantoàordenaçãodavidaindividualesocial.Nasociedadecentradanomercado,aseconomiassãolivresparamodelaramentedeseusmembroseavidadeseuscidadãos,demodogeral.Assim,umateoriapolíticaeadministrativacentradanomercado,comoécaracterísticodaqueatualmenteprevaleceeélargamenteensinada,pressupõequeocritériododesempenhoeficiente,nasmútuasrelaçõesentre
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osindivíduoseaseconomias,resumecompletamenteanaturezahumana.Apredominânciadaseconomiasedocomportamentoadministrativoéconsideradaaxiomáticapelosteoristaspolíticos,econômicoseaclministrativoscentradosnomercado.Dustrandoesseponto,toportunocomentarumapassagemdeVictorThompson,emseulivroModemorganization.
AfirmaThompson(1966,p.21)que"osucesso,nocontextodenossasociedade,significa,paraamaioria,aascensãonumahierarquiaorganizacional".ParecequeeleenfocaessetópicopartindodeumpontodevistasemelhanteaodasupersocializadaconceituaçãodenormalidadehumanadeÉmileDurkheim.Paraeste,eminstânciafinale,aparentemente,tambémpaiaThompson,oscritériosdenormalidadeemoralidade,navidahumana,sãoinerentesaosistemasocial.Essaorientaçãojustificaaimplicaçãodeneutralidadedevalor,contidanaafirmaçãodeThompson(1966,p.20-1),quefiguraaseguir:
"Umavezqueumainstituiçãomonocráticanãopodeadmitiralegitimidadedeconflitos,alegitimidadedemetaseinteressesdivergentes,gasta-semuitoesforçoparagarantiraaparênciadeconsensoedeacordogarantindouma'organizaçãoquecaminhasuavemente'.Aorganizaçãomodernadesejatantoconvertidosquantodesejatrabalhadores.Preocupa-secomoquepensamseusmembrostantoquantocomsuasaçõesecomoquepensaopúblicosobreospensamentoseaçõesdeseusmembros.Emconseqüência,preocupa-secomtodaavidadeseusmembros,comaquüoquepensamefazemforadotrabalho,tantoquantonele."
ÉprecisoquesedigaqueModemorganization,deThompson,ofereceumadescriçãomuitoacuradadocomportamentoeconômico.Noentanto,acompletafaltadeinteressedoseuautorpeladelimitaçãoorganizacionaldáumcaráteriinidimensionalaalgumasdesuasopiniões.Porexemplo,aoexplicarseuconceitodeburose(bureausis),estabeleceeleospadrõespsicológicosexigidospelasagenciascornopadrõesdesaúdehumana.Afaltadeconformidadeataispadrões(burose)éparaThompson(1966,p.24),reflexodeumapersonal-dadeimatura.Essaopiniãolegitimizadefinitivamenteoprocessodeunidimensionalização,comofoidescritoanteriormente.
Nosúltimostempos,diversosautoreseespecialistasdesenvolveramopiniõesemoposiçãoaparentementediretaaospontosdevistadeThompson.Advogam,semjustificação,umaorganizaçãonão-hierár-quica,umagerênciapartícipee,algumasvezes,atotaleüininaçãodaburocracia.Umdelespredisseodesaparecimentodaburocracianospróximos20ou50anos.Demodogeral,asopiniõesdessesautoressãoexpressasemtermosavassaladores.Oquefundamentalmentelhes
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falta éuma visão coerente esistemática da delimitação organizacional.Para finalizar este item, caberia assinalar que uma gerencia parti
cipante, envolvendo relacionamentos interpessoais não-hierarquicos, ématéria bastante estranha aos ambientes econômicos centrados nomercado. Uma vez que no presente estágio histórico é inconcebívelque qualquer sociedade venha jamais a ser capaz de descartar completamente as atividades de natureza econômica, certo grau de hierarquiaecoerção será sempre necessário para aordenação dos negócios humanos como um todo. No âmbito de seus respectivos enclaves, as economias burocratizadas podem-se tomar mais produtivas para seus membros e para oscidadãos em geral.
7.3.3 Isonomia
De modo geral, isonomia pode ser definida como um contextoem que todos os membros são iguais. Apolis, tal como aconcebeuAristóteles, era uma isonomia - uma associação de iguais, constituída"por amor auma boa vida" (A Política, I, ü. 125b, §8) Ouso de talpalavra, porém, não significa nenhum nostálgico anseio de uma voltaao passado, mas serve apenas para chamar aatenção para formas possíveis de ambientes sociais atuais igualitários. As principais características da isonomia são as seguintes:1 Seu objetivo essencial é permitir a atualização de seus membros,independentemente de prescrições impostas. Desse modo, as prescrições são mínimas e, quando inevitáveis, mesmo então se estabe-lêCTnfpÕT^Sh-so. Espera-se dos indivíduos que se empenhem em re-lacionamenWmterpessoais, desde que estes contribuam para aboa vida do conjunto. . , .. M
"2' E amplamente autogratificante, no sentido de que nela indivíduos livremente associados desempenham atividades compensadorasem ã mesmas. As pessoas não ganham a vida numa isonomia; antes,participam de um tipo generoso de relacionamento social, no qual daoe recebem. , _ _3 Suas atividades são sobretudo promovidas comojrocacões, nãocomo empregos. Nas isonomias, as pessoas se ocupam, não labutam.Em outras palavras, sua recompensa básica está na realização__dosobjetivos intrínsecos daquilo que fazem, não na renda "eventualmenteaulenda por sua atividade. Dessa ioima, a maximização da utilidadenão tem importância para os interesses fundamentais do indivíduo.4 Seu sistema de tomada de decisões e de fixação de diretrizespolíticas 6 totalmente abrangente. Não há diferenciação entre aliderança ou a gerência e os subordinados. Assim, uma isonomia perderia
~ò seu caráter,sêsêus membros se dicotomizassem entre nós eeles, en-tendendo-se os últimos como aqueles que tomam decisões ouestabe-
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lecem políticas. Aisonomia éconcebida ^^^ZIaI-nidade onde aautoridade éatribuída por deliberação de todos. Awtoridade passa, continuamente, de pessoa para pessoa, c^acordamanatureza dos assuntos, com os problemas em foco ecom a^uahhcação dos indivíduos para lidar com eles. Osufixo nomo éparricuh*mente indicativo do fato de que, nesse tipo de •"**£>"£;agência diretora determinada eexclusiva - ^^f^^laveia em monarquia, oligarquia edemocracia podenam sugerir. Urna^nonTnao éunia demorada, eisto nos leva àsua quinta caracte-
aVpWtt relacionamentos secundários ou categoncos, aisonomu ne-S^riaTente declinará e, afinal, se transformará numa democracia,numa oligarquia ounuma burocracia.
Aisonomia está, cada vez mais, passando aconstituir urra parte
ní'as ZS de propriedade dos trabalhadores, algumas as oeu-^."lÍjÍL-TiiIMt- associações locais de consurrudores grupos
\ «^â*«Mm^«*» dominam *sode<iade com0 T ,„ Z^tTov-o de «ae-g^LgSSSFSZ
STSl M**»*. "«**r.constituem •» «» *"^Smátíca de assunto, de crescente interesse para,«teenólogose refor-"Tsociais Qui já existe uma tecnologia de instrumentos comi-
Victor Papanek, e outras.
« Sobre Alinsky, veja Norton (1972). Veja também Koüer (1969).151
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73.4 Fenonomia
Este éum sistema social, de caráter esporádico ou mais ou menos estável, iniciado e dirigido por umindivíduo, ou poxumpemwiogrupo, eque i*mute aseus immbros omáximo de opçã* i>e*soaUum mínimo dTsubordmaçao aprescrições operacionais formais.Umafenonomia temas seguintes características prmapais: .1 Coristituta, como um ambiente necessário às pessoas para aliberação de sua criatividade, sob formas e segundo inaneiras escrita-das com plena autonomia. Éparte do esforço* «f^<^£*°*phaineim significa mostrar), que mobiliza aatmdade criadora de umpequeno grupo, ou de um indivíduo isolado.2. Seus membros empenham-se apenas em obras automonvadas, oque significa que, de modo geral, se mantêm capados ao extremo eseriamente comprometidos com aconsecução daquilo que, em termospessoais, coruâderam relevante. Êimportante ressaltar que as tarefasautomotivadas são, com muita freqüência, as que demandam maioresesforços. Para desempenhá-las com sucesso, os indivíduos precisam desenvolver programas eregras operacionais próprios, jamais permitindoasimesmo agir caprichosamente. &—--.3 Embora o resultado das atividades empreendidas em fenonomias possa vir aser considerado em termos de mercado, os cnténoseconômicos são acidentais, em relação àmotivação de seus membros.As fenonomias são cenários sociais protegidos contra apenetração domercado, e esse aspecto não deve ser desprezado, se se deseja compreender anatureza de uma fenononua. Na realidade, as fenonomiasdesafiam, ou "batem", o sistema de mercado. Oescritóno que oempregado em franca ascensão, ou ogerente muito ocupado, mantém emcasa para poder dar cumprimento de noite ou durante os fins de semana às laboriosas atividades que seu emprego exige, não é umafenonomia. , ., . lmfc ,a4 Embora interessado em sua própna smguíandade, o membro dafenonomia tem consciência social Na verdade, sua opção não significa o abandono da sociedade como umtodo, mas visa tomar outrosindivíduos sensíveis quanto a possíveis experiências que são capazesde partilhar oudeapreciar.
Há muitas pessoas normalmente envolvidas em atividades que sequalificam como fenonomias eeste é, por exemplo, ocaso da rnulhere do marido habffidosos, que reservam sistematicamente um canto dacasa para planejar e produzir tapeies, cerâriiica,rnntimB,bemcomoodas oficinas dos artistas, escritores, jornalistas, artesãos, inventores eassim por diante, que trabalham nc^conta própria. Um exemplo de te-nonomias particularmente bem-sucedidas éaquele que Wffl eAriel Du-rant vêm conseguindo realizar, com asérie de ensaios históricos e filosóficos projetados para toda avida, e também aaventura artística de
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Simon Rodia, oladrflheiro econsertador que construiu em Los Angeles as justamente famosas torres Watts.
73.5 O isolado
Enquanto oindivíduo anômico e os membros do motim nãotêm normas, oator isolado, tal como representado no paradigma^estáexcessivamente comprometido com uma norma que para ele é única.Por uma série de razões, o isolado considera omundo social, como umtodo inteiramente incontrolável e sem remédio. Mas, a despeito desua total oposição interior ao sistema social em conjunto, encontra eleum canto em que, de forma consistente, pode viver de acordo com seupeculiar e rígido sistema de crença. Este não é ocaso do indivíduoanômico que falha no desenvolvimento de um sistema pessoal de crença, bem como em seu ajustamento ao conjunto de padrões sociais. Usisolados podem, afinal, ser considerados casos clínicos de paranóia,mas não énecessariamente assim. Na verdade, muitos deles sao empregados não-participantes e cidadãos que, sistematicamente, escondemdos outrossuas convicções pessoais.
Tal como foi aqui conceituado, o paradigma paraeconomico seconstitui na referência para uma nova abordagem do planejamento desistemas sociais e da nova ciência das organizações, matérias que serãoexaminadas nosdoiscapítulos seguintes.
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8. A LEI DOS REQUISITOS ADEQUADOS EODESENHO DE SISTEMAS SOCIAIS
Muito daquilo que constitui oparadigma paraeconômico representa uma categorização de tendências básicas da emergente sociedadepós-industrial. Isto não quer dizer que o paradigma paraeconômicopressupõe uma concepção evolutiva do processo histórico e social Ce-nános eexplicações atuais da sociedade pÓs-industrial estão ainda presos, em larga medida, a padrões de pensamento baseados em teoriassenalistas do século XK. Em contraposição, oparadigma paiaeconô-micojiao encara ^sociedade pós-industrial como o desdobramento necessário dejima sociedade' centrada no mercado. Éclaro que não hágarantia alguma de que aextrapolação literal das tendências intrínsecas deste tipo de sociedade vá conduzir àsociedade multicêntrica talcomo esta categorizada no paradigma paraeconômico. Antes é maisprovável que essa extrapolação contribua para agravar o desconfortoque aflige os homens de hoje, salientado neste livro em alguns de seusaspectos. Por conseguinte, a sociedade pós-industrial visualizada noparadigma paraeconômico só poderá. w_a_existir como resultado devigorosa oposição por parte aos agentes cujo projetoliMsoal consisteem resistir às tendências intrínsecas da sociedade centrada nomercado. Contudo, oobjetivo do paradigma paraeconômico não éasupressão do mecanismo de mercado, mas apreservação somente das capacidades sem precedentes que o mesmo criou, ainda que pelas razões erradas. De&sajorma, pode ele atender às metas de um modelo multidi-menJpnaUe_exfatêncià humana, huma sociedade multicêntrica "
AwciedadeLjnMcéptrica^ um empreendimento intencionaleiHMSUtfmejame^^ um novo tipo dè~es£3o'com o poder de formular e pôr em prática diretrizes distributivas deapoio nao apenas de objetivos orientados para o mercado, mas também de cenános sociais adequados àatualização pessoal, arelacionamentos de convivência e aatividades comunitárias dos cidadãos. Umasociedade assim requer também iniciativas partidas dos cidadãos queestarão saindo da sociedade de mercado sob sua própria responsabiJi-dadee a seupróprio risco.
O paradigma paraeconômico pressupõe que planos de vidapós-industrial são imediatamente possíveis, tanto nos países cêntricos
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quanto nos países periféricos. Ê uma abordagem do tipo faça vocêmèmòTem relação àsociedade pós-industrial. Para muitos indivíduos,a "sociedade pós-industrial não significa um estágio futuro mas, emgrau significativo, uma possibilidade objetiva que têm aseu alcance.0 modelo delimitativo encerra, hoje, sob forma conceptual, o tipo devida procurado por muita gente, em muitos lugares. Infelizmente, ossistemas sociais incompletos, que esses indivíduos estão criandoatravés do processo do ensaio e erro, ainda não se transformaram naforça impulsionadora de um esforço sistemático e disciplinado deconstrução teórica, nomeio acadêmico.
Jáestá disponível a perícia técnica para o desenho econtrole desistemas sociais econômicos. É menos do que suficiente a períciatécnica para o desenho e controle de sistemas sociais em que as atividades econômicas sejam, na melhor hipótese, de caráter incidental.Como resultado disso, o conhecimento organizacional dominante malpode proporcionar os ensinamentos necessários à superação da condição social do homem contemporâneo. Um dos^objetivos do paradigmaparaeconômico èj_ formulação de diretrizes de uma nova ciência orga-mzãdónaí, em sintonVcom as realidades operativas deuma sociedademulticêntrica.
Um tópico fundamental da nova ciência da organização éaqueleque chamo de lei dos requisitos adequados. Na realidade, preferiria denominá-lo lei da variedade de requisitos. Mas esta expressão tem sidousada por W. Ross Ashby (1968), para analisar sistemas físicos ebiológicos. Aquestão da delimitação dos sistemas sociais éestranha àconcepção que Ashby tem da lei da variedade de requisitos. Essa delimitação advoga uma variedade de cenários diferenciados como imperativo vital de sadia vida humana associada, isto é, envolve o conceito deque aatualização dos indivíduos ébloqueada quando eles são coagidosa se ajustar^ajijma^sociedade^antecipadamente dominada pejojnerca-do, ou porQualquer outro tipo de enclave social. De modo específico,a lei dos requisitos adequados estabelece_que a variedade dejistemassociais é qualificaçãoessenciaToé^ualquer sociedade sensível àsneces-ádades básicas de atualização de seus membros, e que cada um dessessistemas sociais determina seusprópriosrequisitos de pjanejamento.
Mary Parker Follet mostrou-se sensível aum aspecto parcial desse tópico, quando chamou aatenção dos administradores para alei dasituação. Sua preocupação era libertarji gerência da arbitrariedade edo "mandonismo" (bossism), encarando-ã como umprocesso_desper:sonalizado de dar e de recebercedem. Na opinião de Folletsobreor-
1 Sobre o conceito da"possibilidade objetiva", veja Ramos (1970).
2 Sobre a noção de planejamento, em sentido amplo, veja Pye (1968-9) eThompson (1961).
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ganização, autoridade e consentimento são "partes de uma situaçãoabrangente" (Follet, 1973, p. 33), na qual os aciministradores cedemdiante de normas induzidas por circunstâncias concretas. Ela focaliza,sobretudo, o processo de dar ordens. A_lei dos requisitos adequadostem um alcancejnais amplo, pois sugere, tambémL que embora os re-quisitosjios sistemas possam, em geral,"sér generalizados, para o planejador de sistemas constituem, antes, um ponto de ordem prática, istoé^consèqüencáas de concreta, e participante observação, que envolve oplanejadoFê seus clientes. Ilustrarei o significado dessa lei por meio deum rápido exame de algumas dimensões principais dos sistemas sociais, a saber: tecnologia, tamanho,espaço, cognição e tempo. No estágio atual da minha pesquisa, só posso formular afirmações hipotéticase impressionistas desses tópicos.1. Tecnologia. Só parececabível, aqui, um brevecomentáriosobreesta dimensão dos sistemassociais,já que a mesma tem sido amplamenteestudada pelos especialistas daorganização convencional. Há vasta literatura sobre esse tópico, na qual os planejadores de sistemas sociais deconfronto podem encontrar úteis e importantes conhecimentos. Reconhece-se, de modo geral, que a tecnologia é uma parte essenciall_da estrutura de apoio de qualquersistema social, e existe no conjunto denormas operacionais e de instrumentos através dos quais se consegueque as coisas sejam feitas. Assim, não existe sistema social sem umatecnologia, sejaele, por exemplo, uma igreja, uma prisão,umafamília,uma vizinhança, uma escola ou uma fábrica. Quandosolicitado, o planejador deveria incluir, como aspecto central de sua análise, o exameda tecnologia, para verificar se aquela que é usada pelosistema socialpropicia ou dificulta a consecução de suameta. Asatisfação desse imperativo envolve complexo trabalho de análise, queo planejador deveempreender em estreita colaboração com seus clientes. Grande partedo sucesso daquilo que no domínio da teoria convencional sobre organização é conhecido comosistemas sócio-técnicos, resulta da atençãosistemática que seus representantes têm dado à harmonia entre atecnologia de um sistema social e os objetivos específicos dosistema.Essa habüidade está bem desenvolvida e, além disso, tem um alcancegeral e deveria ser assimilada e ampliada pelos planejadores desistemassociais de confronto.32. Tamanho. Ao contrário, existe relativamente pouca teoria contemporânea dando sistemática atenção à questão do tamanho. Isto nãosignifica a afirmação de que o tópico tenha sidoignorado. Pelocontrário, há uma herança de conhecimentos sobre a influência do tamanho
3 Sobre a dimensão tecnológica dos sistemas sociais e suas" implicações, em termos deplanejamento, veja, por exemplo, Woodward (1965), Lawrence ÁLorsch(1969), Perrow (1965-72), Burns & Stalker (1961), Thompson (1967), DavisA Engelstad (1966), Von Beinum (1968), Miller & Rice (1967), Emery (1969),Davis & Taylor (1972) e Davis & Cherns (1973).
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(isto é, o número de pessoas) dos cenários sociais, relativamente à suaeficácia e ao caráter das relações interpessoais de seus membros, queestá a merecer reelaboração e sistematização. No entanto, atéagora, otamanho dos sistemas sociais dificilmente pode ser considerado umdos interesses centrais dos organizadores e dos planejadores de sistemas sociais. A resistência da organização ou dos sistemas sociais é maisimportante do que aquüo que hoje é correntemente denominado desenvolvimento organizacional, e que, com muita freqüência, considerao tamanho das organizações ou como um dado ou como tópico de so-menos importância.
Num ambiente cultural como o nosso, em que se infiltra a premissa de que quanto maior, melhor, há necessidade desalientar-se, enfaticamente, que aeficácia de um cenário social na consecução de suasmetas e na ótima utilização de seus recursos não acarreta, fatalmente,um aumento de tamanho. O princípio do quanto maior, melhor conduz, com freqüência, a falsas relações interpessoais, àsíndrome daleide Parkinson, à desnecessária redundância e, finalmente, a sistemas sociais de desperdício, de limitada capacidade de auto-sustentação. Precisamos aprender a arte do planejamento de cenários sociais capazesde perdurar.
0 tamanho dos cenários sociais tem sido um tema investigadopor reformadores e teoristas políticos. Platão, de maneúa meticulosa,afirmou que a boa comunidade deveria ter 5.040 cidadãos (chefes defamüia). Aristóteles evitou a precisão aritmética de seu mestre, mas,de forma idêntica, tinha consciência de que deveriam ser impostos limites ao tamanho do grupo de cidadãos, como uma das condições para uma boa comunidade. Comentários sobre oassunto são igualmenteencontrados nas obras de Montesquieu e de Rousseau. Nos documentos federalistas (n9 14), James Madison trata da questão do tamanhocomo um fator potencialmente proibitório da aplicação dos princípios de representação na União. E, em vasto arcabouço sociológico, osociólogo alemão Georg Simmel (1950) focaliza os aspectos quantitativos das relações sociais. Éele figura pioneüa naquüo que se conhececomo dinâmica de grupo.
Um estudioso contemporâneo, Robert Dahl, tem frisado a importância do componente tamanho dos sistemas políticos, e em seulivro After the revolution? o tema é tratado com realce. Ê mais amplamente investigado ainda em Size and democracy, que Dahl escreveu em colaboração com Edward R. Tufte. De extrema importânciasão também 77ie Breakdown of nations (1957) e Overdevelopednations, dois fecundos volumes, em que Leopold Kohr apresenta suateoria do tamanho em termos de desenvolvimento sociale econômico.Conclusões significativas, apresentadas nesses livros, merecem consideração de qualquer pessoa que se envolva num esforço de pesquisa visando ao desenvolvimento de habüidades para o trato de questões de158
escala, em cenários sociais. Haurindo dessas e de outras fontes, arris-car-me-ei a propor três possíveis enunciações.
Primeira, a capacidade de um cenário socialparafazerface e pa-ra_correspander, eficazmente, àsjiecessidádesji_e_seus membros exigelimites mínimos ou máximos a seu tamanho.4 Em outras palavras,cada cenário social tem um limite concreto de tamanho, abaixo ou acima do qual perde á capacidade de atingireficazmente.suas metas(porexèmpjo7a~e~x"traçao e__oprocessamento derecursos)e deconseguir deseus membros o mínimo de consenso de que necessita para a própriapreservação.
Segunda, nenhuma norma geral pode ser formulada para determinar, tom precisão, antecipadamente, o limite de tamanho de umcenário social; a questão do tamanho constitui sempre um problemaconcreto, a ser resolvido mediante investigação ad hoc, no própriocontexto. Em outras palavras, é possíveldeterminar com exatidão o limite de tamanho de um cenário social. Essa tarefa constitui, porém,uma questão que envolve não apenas competência técnica, mas também educada sensitividade para as mútuas implicações de contexto eforma.
Terceüa^fl intensidadedas relações diretas entreos membros de_umcenáriç\_sacial. tende a declinarna proporção direta do aumento deseu tamanho. Corolário deste postulado (Tquê7 "quando a_ intensidadedas relações, interpessoais diretas é considerada fundamental para aconsecução de um objetivo, sãoapropriados oscenáriòTpequenos, emlugar dos mais amplos.5
Não há uma regra geral para a determinação do tamanho daseconomias. Por exemplo, as economias de caráter isonômico, isto é,certos tipos de cooperativas e de empresas em que a administração e apropriedade são coletivas, preceituam tamanhos bastante moderados.No entanto, quando a divisão do trabalho, a impessoalidade eaespe- -cialização se fazem indispensáveis para que as economias entrem embem-sucedida competição no mercado, são elas compelidas a assumirlargas proporções. Desse modo, acontece que o grande tamanho, commuita freqüência, passa a ser um requisito para a viável operação daseconomias convencionais. Pode haver um sabor romântico na afirma-
Estou deliberadaments evitando o uso da controvertida noção de tamanhoótimo. Sobre essa questão, veja AJonso (1971)e Richardson (1973).SougratoaHélio Viana, por chamara minhaatenção para essacontrovérsia.
5 Sobre o tamanho das organizações, veja Schumacher (1973, p.59-70). Estaafirmação enfoca a intensidade dosrelacionamentos interpessoais diretos. Certamente que a presente tecnologia de comunicações podeintegrar as pessoas numacomunidade de interesses, independentemente das grandes distâncias físicas queas separem. Levando essa circunstância em consideração, Melvin M. Webber propõe o conceito de "comunidades não localizadas - nonplace communities"(Webber. 1967).
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cão de que opequeno ébelo. Na realidade, çorim^ande tambémremenda; por seus próprios méritos. A^orng tipicamente,So cenários sociais de proporções moderadas, com rigida^ojerànoapa^a desvios de tamanho além de determinado limite. As^fenono^do omenor tipo concebível de cenário social euma fenonomia podemesmo se compor de uma só pessoa, como éocaso do atehe do mn,tor ou escultor Parece, contudo, duvidoso, que uma fenonomia tendaamanter sua capacidade de sobrerivênda^ojiando onumero de seus .membros excedei cinco. Uma vez que a^ga>ão constitui um s.s- ftfVMJtema social, só indiretamente apresenta ela questões de tamanho; naoobstante o tratamento de pessoas anômicas tem mais sucesso em pequenos sistemas sociais, onde lhes possa ser dispensada atenção pes- V ,soai Na verdade, otamanho dos sistemas sociais, em geral, influi sobre ^.q^oalcance da anomia, numa determinada sociedade Adimensão tama-^ ^>nho das sociedades de massa, é em si mesma um fator de estimulo àinclinação àanomia, uma vez que, dentro dessa dimensão, as relaçõesinterpVssoais tendem a se tomar predominantemente funcionais, emlugar de afetivas. Nas módêmâs sociedades uidustriais, como salientouÊmüe Durkheim, tiposjnôrnjcps de condulajão conseqüências neces- / 4
ciai do trabalho/Contudo, nao se deve- r\ ^
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ontudo, não se deve- rO-Jin uma mndenacão
sanas ao procc»u uc-^»»»y *"-" **~ ~-^--
rá procurar nas conclulõeTdlDuTIffiémTapSío para uma condenaçãoinjustificada da industrialização. Aprática da delimitação dos sistemassociais pode muito bem constituü o corretivo para aanomia, que portoda parte se tomou uma conseqüência normal da industrialização.3 Cognição. Trabalho pioneiro sobre as dimensões cognitivas dos sistemas sociais tem sido desenvolvido pelo sociólogo Georges Gurvitch(1955 1971) Sustenta ele que há uma variedade de tipos eformas deconhecimento, os quais se posicionam numa seqüência de prioridadeque difere consoante anatureza dos sistemas-sociais. Assim as socie-Lesjircaicas^daisl^it^ ser diferencia-das conforme seus predominantes e especfficc^^emas-coan^oi,..isto é, segundo aordem de prioridade crescente ou decrescente detipos eformas de conhecimento que prevaleçam em cada uma delas.
Embora eu considere as abrangentes tipologias de Gurvitch muito úteis para aanálise macrossocial, usarei um processo mais simples ead hoc que acredito seja importante para rapidamente caracterizar asdimensões cognitivas dos ambientes retratados pelo^adjg^jarj:econômico. , ... ......
Habermas restabeleceu a idéia de que ossistemas cognitivos podem ser classificados de acordo com seus interesses dominantes. Para os propósitos deste^çapitiü^Lbastante salientar que um sistemacognitivo é^éaSiciaTméHte^do^apquando seu interesse dominante« Sobre HabermasTos interesses do conhecimento, veja ocapítulo 1desteUvro.
160
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é aTproa^içãíou ocontrole;do ambiente; éèssendahnen^pdíri^quando~*u mteressè^óminante é o estínuü^aoTpadrões debem-estar social, em seu conjunto; é essencialmente personj^ticg(personalogic), quando ointeresse dominante éoJ-^KRwnhecimento pessoal. Um sistema cognitivo deformado éaquele desprovido de um único interesse central. . .
Misturados de variadas maneiras, esses sistemas podem exisür simultaneamente num único cenário social, mas osistema cognitivo tun-cionaTpredomina nas economias, osistema cognitivo político, nas iso-nõnnasTõsIstêmal^trv^^ e> finalmente osistema cognitivo deformado ébem característico dos indivíduose/ôu grupos anômicos. Há, concretamente, sistemas sociais em quemais de um tipo de sistema cognitivo assume, paralelamente, ocaráterdominante. Esse é, por exemplo, o caso das economias de naturezaisonômica e de muitas instituições edjicacjonais_em.quejjnfojTnaçao
*e o fomento do bem, nasociedade, se revestem de fundamen-
^ ÍmApEeta conclusãqa ti^a^sosjnunciados exr*rüwntaisléjdejnjea, abrangência totaí doristae que a aDrangciiow iuuu uu^ivü-^^^r^s^— _mõ a nossa, envolvendo continuamente os indivíduos em seus padrõescognitivos intrínsecos, pode invalidá-los para a ação como membroseficientes de fenonomias ou isonomias. Nessa conformidade, no planejamento de tais sistemas ede suas formas mistas, devena ser feito umesforço para proporcionar aos indivíduos condições adequadas a seusespecíficos e dominantes interesses cognitivos. -—4 Espacó. Em sua expansão, através dos dois últimos séculos, ojiste-.nialleS^^pass011 cada vez mais a ocupar os c?Pac0S reservadosaos "sistemas sociais, constituindo-se na força impulsionadora da vidapessoal ecomunitária. Aarquitetura das cidades contemporâneas atende par excellence, às exigências do mercado. Seria possível recordarque em seus estágios iniciais, o sistema de mercado estimulou na Inglaterra aprática de locais confinados, oque acarretou aexpulsão degrandes massas de gente dos espaços que costumava ocupar. Arevolu-So industrial obrigou populações a se mudarem de amplas residências e chalés para apartamentos epavimentos exíguos, epara ediiícioseguetos entupidos de gente, perto dos centros urbanos. Nesse processo as pessoas perderam tempo, dinheiro e seu relacionamento diretocom os verdadeiros contextos naturais.7 Em outras palavras, adeteno-1 Uma vigorosa avaliação da levotaçfc Mustria! na **£**•*SíSHZ
ComSS tipo de importante avaliação da revolução U***""entoe"na.-conseqüências sociais, culturais epsicológicas do largo uso de dinheiro é o de Simmel (1978).
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simesmo,produznocivosefeitossobreavidacomunitária
Não
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admirar
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manifestem
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tempos.Com
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razia,"o'...espaço
dequeosinglesesdispunham,quandosurgiu
aindustria,(está)perdido.Ingleseseamericanospagam
porissotodososdias.Noentanto,em
todolugarem
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jardimpúblicoéinaugurado,ofa
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entesaudado
como
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deumbom
governo
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filantropiae,de
qualquerforma,do
progresso.Arecupera-
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aconstituir
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para,ividapessoallef
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deserviços.Tem,po
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arquitetose
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preendê-lasemsua
plenitude.Oespaço
afetae,em
certam
edida,chegaamoldaravidadaspessoas.
Nãoé
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indivíduosde
grandesensitividade
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suaexperiênciapessoalsingulartenham
,entres^flalçado
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descreve,emsua
autobiografia,acasaem
queviveu
quandocriança,
atribuindo-lheuma
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processode
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Reconheceuque
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"umsentim
entode
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anseiovago,que
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refere-seauma
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isso"(Hesse,1973,p.246)e
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queapessoaconfiasseemseu
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noolhodosoutros"(Munthe,1956,p.436).Nao
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indivíduoscomoAxelM
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deextrema
clareza
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aginarum
aexpressão
maisvivida
desentido
espacialdo
queaquela
queéoferecidaporCarlJung,numcapítulo(A
Torre)de
suasLembranças,sonhosereflexões.Como
AxelMunthe
emfase
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vidaJung
decidiu"pôr
embase
firme
suasfantasiase
oconteúdo
dosubconsciente"
(Jung,1963,p.223).M
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tratodeterra
comprado
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BoUinger(Zun-que)
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construiunesselugar,em
diversosestágios,com
osua
"confissãode
féna
pedra"(Jung,1963,p.223),a
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do"lar
materno"
(Jung,1963,p.224).Não
seprecisa,porém
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etão
ricamente
prendadocom
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homens,
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quenosédadoyiverpodem
nutnroudificul
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que o mesmo aajude a conseguir seus objetivos, sem erradamente destruir esse ambiente, ou reduzir o próprio senso de eficiência, ou o daqueles que tememjedor dea" (Steele, 1973, p. 113). Steele concebea competência ambiental comoumacapacidade obtida através de treinamento, já que a mesma tem fatores operacionais correlativos quepodemser aprendidossistematicamente.
Em seus livros 77ie Silent language e 77ie Hidden dimension,Edward T. Hall focalizou importantes aspectos do espaço vital humano, do ponto de vista antropológico. Chama ele a atenção para a distinção que H.Osmond fezentreespaços sócio-afastadores (sociofugal)e sócio-aproximadores (sociopetal) (Hall, 1966, p. 101), isto é, aquelesque mantêm as pessoas separadas e aqueles que facilitam e encorajama convivalidade. Nenhum desses tipos de espaço é, intrinsecamente,bom ou mau. São necessários por diferentes razõese Hall afirma: "Oque é necessário é flexibilidade e coerência entre o plano e a função,de_modo que haja umaj^ariedadejle espaços,e^quea^j>essoaspossamser ou não envolvidas, conforme o exijama ocasiãoe o estado de espírito" (Hall, 1966, p. 1034). O que deveria ser evitado é o descuidado agravamento das dimensões sócio-afastadoras do espaço nos sistemas sociais, onde as mesmas devem ser sócio-aproximadoras. ou cen-trípetas. Assinala Hall: '4aa^ lalmente, tudo nas cidades americanas.
As ... revoltante! UCaülUSS'STrTqTlê pessoas têm sido espancadas e até mortas, enquanto seus vizinhos ficam olhando, semmesmo pegarem num telefone, mostram até que ponto progrediu essatendência para a alienação" (Hall, 1966, p. 163). A predominância dosespaços sócio-afastadorès nas cidadesamericanas, como, por exemplo,Los Angeles, Nova Iorque, Boston, as qualifica como verdadeirasfossas behavioristas, expressão^ que Hall toma emprestada a JohnvCalhoun
es-
Arquitetos e planejadores vêm há longo tempo assinalando queo espaço pode sei fator de deformação humana. Diz-se, por exemplo,que
"ínowski, 1976, p. 84).' Num estudo emque Henryk Skolimowski analisa os projetos urbanos empreendidos por Paolo Soleri no Arizona,declara ele, embora não em referência a Soleri, que "muitos arquitetosestão projetando exatamente esse tipo de casa, sem conhecer afórmula de Frank L. Wright" (Skolimowski, 1976, p. 84). Descreve
9 Esta é, no entanto, uma afirmaçãoexageradamente determinística.O homeme mesmo os animais podem, finalmente, transcender o caráter deformante do espaço. Sobre este assunto, veja, por exemplo, Frank] (1968) e Bettelheim (1958).
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Ascosanti, uma comuna experimental localizada no Arizona Central eprojetada por Soleri, como um conjunto habitacional em que a nature^.za humana e o ambiente estão adequadamente combinados., Os defeitos do cenário urbano americano têm sido amplamente focalizadospor muitos críticos sociais, entre os quais Paul e Percival Goodmanmerecem atenção especial. Em sua obra Communitas, vão além dacrítica social, articulando modelos de" planejamento urbano que representam a expressão de sadios princípios,
Nos trabalhos de analistas de espaço como Hall (1959, 1966),Sommer (1969, 1972) e Steele (1973), há uma riqueza de sugestõesque os planejadores de sistemas sociais paraeconómicos podemconsiderar construtiva. Nesse sentido, é particularmente importante a classificação de aspectos físicos conceituada tanto por Hall quanto porSteele. Os planejadores deveriam aprender a utüizar o aspecto de espaço determinado, o aspecto de espaço semideterminado e o aspecto deespaço falsamente determinado, isto é, onde e quando um ambientefísico exige aspectos imóveis ou relativamente imóveis (paredes quesuportarão cargas, monumentos, edifícios, ruas, pisos), aspectos flexíveise móveis como cadeiras, quadros, escrivaninhas, tapetes e cortinas,e aspectos aparentemente imóveis. No livro deSteele Physiéájf/ffffand organization development há um repositório de instruções práticas sobre a tarefa de tratamento espacial dos sistemas sociais.
Os planejadores de sistemas sociais do tipo de isonomias e fenonomias, e de suas possíveis formas mistas, deveriam compreender quea adequada consideração do espaço é uma condição essencial para obem-sucedido funcionamento desses sistemas,
guagem süencioJ^õnETse que num debate sobre oreparo dos danos
cãusadospela guerra ao edifício da Câmara dos Comuns, Churchül manifestou o desejo de que fosse preservado o local tradicional da Câmara, em que os representantes do povo não podiam deixar de ficar defrente uns para os outros, enquanto usavam da palavra, parajiugjinovo traçado desse local não viesse alM ^Wio.'^ntinMHMVBHBP'' disse ele.^^awBWBHHHP^Hall,1966, p. 100). Uma senhora observou para o marido: "Se algum dos
.[-/homens que desenharam esta cozinha tivesse trabalhado nela, não ateria feito assim" (Hall, 1966, p. 98). Portanto, mesmo o sexo dosprojetistas pode, semo saber, influenciar o tratamento espacial dos
reinterpretação das funções dagancha, que se tornou agora menos umTugarpara preparar comidado que um sítio de intensas e ínti-
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mas relações sociais entre as pessoas, independentemente de sexo eidade. Mais ainda, mulherese homens partilham de seu funcionamento, cada vez mais,em termos de igualdade.
Finalmente, na medida em que um dos objetivos fundamentaisda delimitação dos sistemas sociais está em conter a influência do sisjtema de mercadcTsbbre o espaço vital humano^os que praticam a deli-
]ue Qualquer oufrapessoa, precisam ter consciência da'arece evidente que o sistema de mer
cado condiciona, nos cidadãos americanos, a percepção e o uso do espaço. Por exemplo, como foi observado por Hall, "os americanos sãoatentos para alMU|num s^^g^^^y^). mas formal e informalmente não têm preferencias. Uma vez que nosso espaço é, em grandeparte, definido por pessoal de formação técnica, casas, cidades e artérias principais são geralmente orientadas de acordo com um dospontos indicados pela bússola... Um padrãotécnico que pode ter derivadode uma base informal é o do valor da posição em quase todos os aspectos de nossas vidas, de tal maneira que mesmo crianças de quatroanos de idade têm plena consciência de suas implicações e estão prontas a brigar umas com as outras, quanto à questão de quem será a primeira" (Hall, 1959, p. 158-9). Em seu estudo sobre a afluência material e seus efeitos sobre a formação do caráter americano, denominado People ofplenty, David M. Potter observou que "o espaço doméstico proporcionado pela economia da abundância tem sido usado par:salientar a separação, o distanciamento, senão o isolamento, da criança americana" (Potter, 1954, p. 197). Nos EUA de hoje, quando a otimização e a conservação de recursos se tomaram matériade interessepúbUco e item da agenda governamental, a influência de nossa culturasobre a percepção individual do espaço e o uso dele deveria ser mantida sob sistemática atenção dos formuladores de políticas e dos planejadores. Os americanos deveriam aprender a transcender a tendênciaque o mercado tem, quanto a explorar o uso do espaço, se estão seriamente empenhados em jHBi leterioração ecológica de s rie-
•B °#WBBBBfl WBBUtÊÊÊÊÊBÊtSm. na for-ma demonstrada por Yi-Fu Tuan (1974), em seu livroTopophilia, podem ser objeto dé investigação científica. Podem ser identificadosecategorizados em cada cultura, assim como apreciados como uma variável que influi sobre a eficácia ecológica de planejamentos de espaçosvitais.
9m oHffKm relação aos sistemas sociais constitui, certamente, um dos meios de estimular a atmosfera psicológica apropriada a seus objetivos específicos. Tópicos como solidão, privacidade, reserva, intimidade, anonimidade, território pessoal,órbita individual e outros são pontos a levarem conta, na definiçãodoespaço dos sistemas sociais, particularmente isonomias e fenonomias.
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A arte de projetar esses ambientes tem muito a ganhar, se incorporaras contribuições que antropólogos e psicólogos de ambiente têm a oferecer.10 Aparentemente, espaços sócio-aproximadores, de preferênciaaos sócio-afastadores, deveriam prevalecer nas isonomias e fenonomias,da mesma forma que em cenários projetados para ressocializar indivíduos anómicos. Em razão da natureza de suas atividades, as economiassão sistemas em que os espaços sócio-afastadores devem prevalecer,embora com alcance limitado espaços sócio-aproximadores sejam também funcionalmente necessários em tais cenários.5. Tempo. Volto-me, agora, à consideração do tempo como uma dimensão dos sistemas sociais. Devo salientar: o fato de que trato tempo_e espaço em seções separadas não significa a minha aceitação de umadicotomia newtoniana de espaço e tempo. Apenas por um imperativode ordenada exposição é que um tema se segue ao outro.eaa^a^ e
WÊÊ/fS estão 9BHR?nte WBKÊÊÉ& A orientação temporal dosmembros de um sistema social tem correlativos espaciais intrínsecos.O espaço, nos sistemas sociais, por outro lado, envolve orientaçõestemporais específicas-
oKpT, como uma categoria do .tem sido tema da teoria convencional de organização. Contudo, nessedomínio, somente o tempoinerente aossistemas econômicos tem constituído objeto de estudo. Assim, Hjiur ealguns de seus associados foram os pioneúos do estudo de tempo emovimento como aspecto da administração científica,mas o tempo que focalizaram representa um caso limitado, constituindo umaspecto doespectro temporal da experiência humana. Nessa tradição, a maior parte dos estudos de tempo oradisponível, no campo da teoria organizacional, não transcende aconcepção taylonana.1' Trata og ^f> apenas como uma^^Bfia, ouum aspecto da linearidade do comportamento organizacional, impor-tante como seja essa faceta da experiência humana de tempo, nãoconstitui o impulso fundamental de uma variedade de sistemas sociais,tais como as isonomias, as fenonomias e as diferentes formas pelasquais se mesclam às economias. Conseqj^temenje^o^paradigma para-,econômico prescreve uma abordagem multidimensional do tempo,^moçategoria do planejamento dos sistemas sociais^
No domínio dasociologia, Georges Gurvitch (1964) desenvolveuuma tipologia de dimensões temporais dos sistemas sociais.12 Sustentaele, por exemplo, que o tempo das organizações formais não éidêntico ao tempo característico dos sistemas sociais em que prevalecem aintimidade euma intensa reciprocidade interpessoal. Adem.ls, estabele-
10 Veja H.M. Proshansky et alii (1970)." Há umas poucas exceções. Veja Lee (1968) e Waldo (1970).12 Sobre a abordagem filosófica do tempo, veja Fraser et alii (1972).
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ce o conceito de uma variedadejlejde orientação humana nasAs dimensões temporais do sistema social, do ponto de vista paraeconômico, só podem ser apresentadas tentativamente e. nesse caráter,poderia ser proposta uma tipologia constituída das seguintes categorias: tempo serial, linear ou seqüencial; tempo convivial; tempo de salto —leaptime —; tempo errante.
As economias são cenários em que prevalece o tempo serial e,desse modo, são incapazes de atender às necessidades humanas cuja satisfação envolva uma experiência de tempo que não possa ser estabelecida em termos de séries.
iibros de acordo.com sua orj?i nessátarefa, dessa forma desenvolve-
icapacidade parasej-ngajãrem em esforços que re-j•ntãção temporal "Os americanos", diz
Hall, "pensam que é natural quantificar ò terhrSjj£ inconcebível deixar de fazer isso, e o americanoesDeciTica a quantidade de tempo queé necessária para fazer qualquer coisa" (Hall^^59^^34)^efim^doo monocronisrrJo como a tendência a "faze»- uma coisa de cada ver,fHall afirma que "a cultura americana é caracteristicamente monocrô-nica" (Hall, 1959, p. 138), e compara esse traço cultural americano aopolicronismo de outras culturas:
"Na Siient language, descrevo duas maneiras contrastantes de considerar o tempo, a monocrônica e a policrônica. Amonocrônica é característica de pessoasde baixo grau de envolvimento,que compartimentalizamo tempo. .Planejam uma coisa para cada hora. e ficam desorientadas setiverem que lidar com muitas coisas ao mesmo tempo. As pessoas poli-crónicas, possivelmente pelo fato de estarem profundamente envolvidas umas com as outras, tendem a manter várias coisas em operação aomesmo tempo, como os prestidigitadores. Portanto, a pessoa monocrônica muitas vezes acha mais fácü funcionar se lhe_é_possível separaras atividades em termos deespaço,fHqVHIIPVpHmi HBV
VBHHranHQ^I Hs. No entanto, se esses dois tipos estiverem interagindo reciprocamente, grande parte da dificuldade que experimen-tam pode ser superada peia adequadaM WÊ~ (Hall,1966, p. 162). Jmniilll^Bli^iiw
Na verdade, a avaliação que se faz no Ocidente da orientação,temporal das pessoas que vivem em sociedades periféricas e primitivascomo uma indicação dé preguiça, ou de falta de motivação para realizar coisas, não é senão uma expressão de paroquialismo cultural.
A participação em cenários sociais que não sejam economias exige propensões psicológicasque, muito freqüentemente, muitos indivíduos deixam de desenvolver. Exemplo extremamente expressivo disso
168
é a massa deaposentados, emnossa sociedade, quenão sabe o que fazerconsigo mesmo, quando perde a condição de detentora de emprego."Os americanos são confusosem relação ao trabalho", diz A.K. Bier-man, e acrescenta: "a menos que nos seja possível aprender a ir para acama com a máquina, no Éden, ela será fator de nossa desumanização,em vez de ser nossa benfeitora" (Bierman, 1973, p. 15). É possívelque a orientação temporal dominante em relação à maior parte dosamericanos seja o fator principal a dificultar-lhes o engajamento emprocessos isonômicos de aculturação.
A isonomia é sítio para o exercício da convivência, e seu principal requisito temporal é uma experiência de tempo em que aquilo queo indivíduo ganha emseus relacionamentos comasoutraspessoas nãoémedido quantitativamente, mas representa uma gratificação profundapor se ver liberado de pressões que lhe impedem a atualização pessoal.
^-£0 tempo convivial écatártico enele aexperiência individual encoraja-o""" a interagir com os outros sem fachadas, e vice-versa. Quando um grupo
de pessoas partilha esse tipo de experiência temporal, seus membrosrelaxam, tendem a confiar uns nos outros e a expressar, com autenticidade, seus sentimentos profundos. Aqueles que participam dessa interação social não vêem osoutros, nem os tratam como objetos, mas como pessoas. Aceitam-se e estimam-se pelo que são. independentemente de suas posições empresariais, ou seu status no ambiente competitivo do mercado. O tempo,emseu sentido serial, é esquecido, quando apessoa se envolve naexperiência do tempo convivial.
O tempode saltoé um tipo muito pessoal de experiência temporal, cuja qualidade e ritmo refletem a intensidade doanseio do indivíduo pela criatividade e o auto-esclarecimento. É um momento muitoimportante na vida de uma pessoa criativa e perscrutadora, isoladamente ou na companhia de outras pessoas igualmente sintonizadas com omesmo tipo de indagação. Éo impulso temporal das fenonomias.
O tempo de salto não se enquadra no domínio do Chronos. Amente grega concebia o Chronos como uma dimensão da parte docosmos restrita e regulada pelo tempo, e além daqual estava o que Anaxi-mandro denominava o apeiron, istoé, o infinito, o Uimitado, de onde.em última instância, provêm todas as coisas.13 Parece-me que é desteúltimo conceito que emerge o tempo desalto, para tornar-se parte doterreno do Kairos, palavra grega que antes designa um tempo nãoquantificável e que é constitutivo das percepções humanas doprocessoque conduz aeventos cntiçosjhj gA^o^^^^m^}^peSBgr^fiilWtffrWW WpwHI tÊmfmSSmmiÊSí
afB||^||P^flBfrlfl(H!Pp^rflTrrp^flPRBíWB!Wâ^Os psicólogos reconhecem que esse tipo de tempo é um dactum, em certas circunstâncias daexperiência humana. Tem alguma semelhança com aquilo que Laing
13 Sobre a noção deapeiron, veja Kahn (1960) e Seligman (1962).
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do com os caprichos do tempo errante pode ser, temporariamente, capaz deamduzirao desenvolvimento pessoal. Supõe-se que muito doque Ge^fPnfc conta em ^ÊI^fÊÊÊÊÊSUMjáJ^ndonautobiográfico, e certamente que suaex^nêTOaTomTTWcTitor semvintém nessas cidades, durante amocidadejhe enjn^^çonweendermelhor a si mesmo eàsua vocação| ^e fBH^^^K|arecemostrar um tipo sernelbj^^^wnjnçjaiuv|n^Mi^õ'. Deidêntico significado c£fl W, deB t Hemi^^panarração de seus dias de busca de identidade, quando era moço evivia emParis. As agências de turismo e viagens parecem saber como organizarexcursões destinadas a revigorar pessoas que procuram um meio de seüvrar, por algum tempo, da obrigação de se preocupar com aquüo quefarão em seguida. Na verdade, um know-how visando recuperar para acorrente mestra da sociedade os cidadãos sistematicamente atacadosda síndrome do tempo errante deveria constituir ponto importantepara osplanejadores de sistemas sociais alternativos.
Um dos objetivos desta tipologia é pôr a nu o processo de unidimensionalização de tempo, que vitima a maior parte das pessoas vivendo na sociedade de mercado. As teorias econômica e organizacionaltípicas focalizam o tempo numa estreita perspectiva unidimensional.Consideram apenas o tempo serial, negligenciando sistematicamente osobjetivos humanos que não são funcionalmente prescritos pelo sistemade mercado. Aceitam o tempo social inerente ao mercado como deter-minativo da natureza da temporalidade social em seu conjunto. Éprecisamente essa situação que as dúetrizes paraeconômicas e seus planejamentos procuram superar. Os indivíduos excessivamente acomodados à orientação temporal imanente ao mercado mal podem compreender a extensão eanatureza de sua deformação psíquica. Uma terapia destinada a curar essa deformação pode, talvez, ser desenvolvidacomo um conjunto de procedimentos capazes de ajudá-los ase dedica-rem a experiências não-seriais de tempo
"*ívc j que
imeronização15 da vida humana às exigências do sistema demercado, dominante nas sociedades industriais contemporâneas, é fator crônico de uma patologia normal muito bemjdentificada^ isto é,j^HT MBaficia de^_lpv>4 W>'m •*» I B0, rfMHMI ' QjtoünfO,jMf/p
tfmmas cSÃ gP Deveríamos tentar entender a mensagem dessa pa-toloSnoBaLNa realidade, a sociedade centrada no mercado temprivado o indivíduo da variedade de experiências de tempo que elesempre encontrou à sua disposição, até osurgimento dessa sociedade.
15 Sobreeste assunto,veja Linder(1970).
172
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ires aelqualquèr relaçAo proporcionar a seus membros essas"õportunidades, as socie
dades antigas interpretavam-se como réplicas do cosmos, e assim seconformavam a prescrições de caráter sagrado, ou quase-sagrado. Emtaissociedades, as pessoas dispunham de muito tempo não relacionadoà sua condição detrabalhadoras, noqual se poderiam engajar em objetivos auto-gratificantes. Em seu calendário, o caráter das horas, dosdias, dos meses e dos anos refletia o interesse_que tinham pelas iriúltiwpias impUcações da£| o sagrada <jflV Na IdadeMédia.JHRdias em cada ano eram dias de nãotrabalhar. mdumdoj^Momingos.
to. Em Roma,
mais^uTnenõTnTTmKmo período, 65 dias eram reservados para osjogos. Na Roma da segunda metade do segundo século da eracristã, osjogos ocupavam 135 dias e, mais tarde, no quarto século, 175 dias."Agora, mal se pode captar o sentimento de festividade e de celebraçãoque animava aquelas datas calendárias.17 Ao contrário, é fundamentalnas sociedades contemporâneas o fato de que não há dia,no calendário, livre da penetração das prescrições temporais inerentes ao mercado, que se apoderou das funções das agências sagradas e se transformou no árbitro da temporalidade como um todo.
Semelhante sincronização deveria ser ao reverso, ajustando omercado para funcionar em consonância com as exigências dos sistemas sociais que elevam a qualidade da vida comunitária em geral, daconvivência e da atualização pessoal dos indivíduos. Essa tarefa tem sido empreendida, neste país, por muitos cidadãos, engajados numa série multifacetada de experiências sociais alternativas. Oestudodas impUcações de política que isso encerra e das tendências afins será feitono capítulo seguinte.
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9. PARAECONOMI A: PARADIGMA E MODELOMULTICÉNTRICO DE ALOCAÇÃO
Por diversas razões, o paradigma aqui apresentado é chamadoparaeconômico. Até agora, usei esta palavra para definir uma abordagem de análise e planejamento de sistemas sociais em que as economias são consideradas apenas como uma parte do conjunto da tessitura social. Contudo, a paraeconomia podeserentendidatambémcomoproporcionadora da estrutura de uma teoria política substantiva dealocação de recursos e de relacionamentos funcionais entre enclavessociais, necessários à estimularão qualitativa da vida social dos cidadãos. Não foi desenvolvida ainda uma enunciação sistemática dessateoria, embora já se encontrem disponíveis contribuições fragmentárias parasua elaboração. Ademais, em palavras e atos, há muitas pessoas cujas atividades as qualificam como paraeconomistas, isto é, indivíduos que estão tentando implementar cenários que representam alternativas dos sistemas centrados no mercado.1
1 Há, por exemplo, uma coloração paraeconômica nos trabalhos e no pensamento de indivíduos como Kenneth Boulding, Barry Commoner, René Dubos,Gunnar Myrdal, C.B. MacPherson, John Gardner, Ralph Nadcr e Hazel e CarterHenderson. O que é mais característico dessas pessoas é seucompromisso devalor, sua posição de confronto, relativamente aos tipos de disposições organizacionais predominantes. Do ponto devista normativo doparadigma, o consultor
/paraeconômico deveria ser seletivo, ao aceitar incumbências, porque está disposto a pôr sua perícia a serviço apenas das promoções que visem criar e implementar planos de vida pessoal e coletiva sem características demercado, oude economias existentes em que perceba umainclinação paramudanças quemelhor ascapacitem aatender a necessidades genuínas, do indivíduo e do público.
O paraeconomista, portanto, não deveria serconfundido com o queTc I chama de Odocrata. Toffler define a adocracia como uma força-tarefaque ajuda as organizações a atingirem suas metas, sem questionar, sistemaüca-mente. a natureza delas. A adocracia de Toffler é uma conseqüência de um tipode JÈ ^^^MBtto que considera o aluai e abrangente sistema de mercadocorr^^m^^rPi He, portanto, procura legitimar as mudanças decorrentes desua dinâmica intrínseca. Concebe-a ele, especificamente, como um instrumentopara aumentar a "capacidade deenfrentar - cope-ability" das economias existentes (Toffler, 1970, p. 257).
Nesse sentido, não há, na atividade profissional do adocrata^ ou doconsultor comum,intenção delimitativa. Contrariamente a essaorientação, a pa-
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Em oposição ao enfoque centrado no mercado que ora prevaleceem relação àanálise ejüanejamento de sistemas sociais, o paradigmaparaeconòmicõ^ãdvbga üma sociedade suficientemente diversificadapara permitir que seus membros cuidem de tópicos substantivos de vida, na conformidade de seus respectivos critérios intrínsecos, e nocontexto dos cenários específicos a que esses tópicos pertencem. Doponto de vista da política paracconômica. não apenas as economiasque já constituem oenclave do mercado, mas também as isonomias cfenonomias e suas diversas formas mistas, devem ser consideradasagências, através das quais se deve efetivar aalocação de mão-de-obrae de recursos. É neste último sentidoque a delimitação dos sistemassociais é aphcável tanto no nível da sociedade, quanto a nível macror-ganizacional. Em outras-palavras, da mesma forma que as ecoriorru^as isonomia^e fenononüas^devem também ser consideradas agênciaslegítimas, necessárias a viabüidade da sociedade em seu conjunto.
Há duas maneiras básicas para implementação de diretrizes e decisões alocativas na sociedade: transferências nos dois sentidos -two-way -, características da economia de troca, e transferências em
raeconomic c concebida como uma categoria depensamento confrontativo c de-limitativo. Assim, o consultor paraeconômico está decidido a trabalhar apenaspara as mudanças que tenham significado, do ponto de vista de seu paradigma
rssoal sobrea boa ordem dos negócios humanos e sociais.No momento, há poucas pessoas quepoderiam serclassificadas como ati
vistas paracconômicas. Contudo, uma posição paracconômica tem. cada vezmais. passado a constituir dimensão saliente de consultores de primeira classe,neste país. Por exemplo. A. K. Bicrman aproxima-se muito daquilo que pode serencarado como um agente de uansformações paracconômicas. Tem ele participado de alguns programas de vizinhança, cm São Francisco, de acordo com oque merece ser definido como uma csUatcgia paracconômica. Acima de tudo, aação de Bicrman reflete suas opiniões sobre aquilo que uma cidade devena ser,comoestá enunciado cmseulivro 77/e Philosophy ofurban exisience. Da mesmaforma que Milton Kotlcr cm suas propostas de govcmo de vizinhança. Bicrmanpercebe também que as políticas seguidas pelas autoridades locais para desenvolver asartes reforçam, de modo geral, o imperialismo do centro da cidade cm relação à comunidade como um todo. Salienta ele que "a mentalidade de museude centro artístico, que parece hipnotizar Nova Iorque, Los Angeles c Washington", na realidade ajuda "a preservar o valor imobiliário do centro dacidade" ca "promover a encantação dos suburbanos, fazendo-os voltar à condição de urbanos, nem que seja numas poucas noites do ano. por ofera de uma folia de in-gressos" (Bicrman, 1973, p. 183). Oprograma artístico de vizinhança, que Bier-TnãTãjudou a estabelecer, resistiu a esse tipo de política centralizadora. Adue-çãodo programa conseguiu persuadir as fundações locais, o prefeito e os supervisores a contribuir para a organização defundos que chegaram a vários milhõesde dólares. O sucesso desse programa levou Bicrman à convicção deque a idéiade programas artísticos de vizinhança é bastante forte, em São Francisco, paraservir comoalternativa exeqüível parao modelo tradicional de arte centralizada.
Os pressupostos sistemáticos aqui associados com a categoria paraeconô-micapodem, também, estar permeando os esforços de Donald Schon. No Iívto
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sentido único - one way -, características daquüoque Kenneth Boul-ding e seus associados chamam de economia de subvenções (grants).2Pòf exemplo,existem sistemas sociais, sobretudoaqueles que utilizamum mecanismo alocativo de troca para distribuição de bens e serviçostípicos ao público, cuja eficácia é avaliada através da contabüidadeconvencional de preço/lucro. Mas a qualidade e o desenvolvimento deuma sociedade não resultam apenas das atividades desses sistemas centrados no mercado.Qualidade e desenvolvimento resultam também deuma variedade de produtosLdisirjJiuJüos a^ra^_dejjrocessos alpcafFvos que não representam troca. A avaliação da eficácia desses processos alternativos e de seus ambientes sociais envolve mais do que umacontabilidade direta de fatores de produção. Sua contribuição para aviabüidade do conjunto social não pode ser determinada numa estrutura convencional de custo/benefício. Esses sistemas, normalmente,não podem funcionar, a menos que sejam financiados por subvenções.A complexa questão de saber quais as atividades que. numa sociedade,deveriam ser financiadas por subvenções, ou organizadas segundo umcritério de troca, e o tipo de apoio político de que um Estado necessita para atender às funções desse último tipo delimitativo. estão alémdo objetivo desta análise.3
Beyond the siable State, Schon (az a suposição de que. atualmente, o governodos EUA não dispõe de capacidades institucionais para atender às necessidadesde nossa complexa sociedade. Uma das razões principais dessa deficiência institucional é o sistema centralizado de formulação de política, à base do qual o governo trata as agências administrativas, a nível estadual e local, como se fossepreceptor delas. As inovações, nesses níveis, são sufocadas por esse modelo su-pcrccntraüzado de formulação de política. Schon reconhece a necessidade desuperar o "conservadorismo dinâmico" dos centros de formulação política dogovcmo c considera que c necessário deixar mais espaço para iniciativae implementação descentralizada de políticas públicas e, para transformar o govcmoatual num sistema público de aprendizagem, sugere ele o "planejamento, o de-
nvolvimcnto e a administração de redes" (Schon, 1971, p. 190), que habilita-ão o govcmo central "a funcionar como facüitador da aprendizagem social, e
não como treinador da sociedade" (Schon, 1971, p. 178). A administração dasredes, tal como ele a concebe, é obviamente uma abordagem de oposição ao modelo de sistemas sociais e, ao que se supõe, a Organização de Inovação Social eTecnológica (Organization for Social and Tcchnological Innovation - OSTI),presidida por Schon cm Cambridge, Massachusetts, é, ate certoponto,exemplode agencia paraeconômica. Além disso,cm outros livrosSchondesenvolveu também uma metodologia para inovação em geral c em termos tecnológicos. Essespodem ser importantes elementos subsidiários para a criaçãoc a implementaçãode modelos "convivais" c assemelhados, similaresaos que são propostos por IvanIUich, E.F. Schumachcr c Victor Papanek, defendidos comoopositores necessários à completa abrangência do presente sistema industrial de mercado.2 Veja, sobre isto, K.E. Boulding (1973), K.E. Boulding & M. Pfaff (1972) eK.E. Boulding,M. Pfaff& A. PfafT (1973).3 Expandindo o arcabouço teórico apresentado neste livro, George K. Najjarfocalizou o processo de elaboração orçamentária como instrumento de desenvolvimento econômico (Najjar, 1978).
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Os modelos alocativos que predominam são baseados numa concepção muito estreitade lecmiotede produção. Nesses modelos, recursos ejirqdução são entendidos apenas como insumos e produtos deatividades de natureza econômica. Em outras palavras, é o mercadoque, em última análise, determina õ~qlie deve ser considerado comorecursos e como produção. Assim sendo, não se considerafolrnalmêiP"te como fatores contributivos da riqueza nacional aquüo que resultada iniciativa de membros de uma unidade doméstica que, sem perce-berenLum salário, se ocupam de atividades como coziima^Jimpar.cojrturar^cultivaTverd^uaí, preparar conservas) cuidar de jardkw, decorar a^casa, tratarmos doentes, promover consertos e instalações, educar
^êTcríanças e exercer a stipervisãojlelas. Da mesma forma, o cidadãoque, sem ser pago põrisso, participa das reuniões da igreja local, deconjuntos artísticos e educacionais de vizinhança e de esforços de auxilio próprio de todo tipo, não é considerado como recurso. Nos países periféricos, uma grande parte da população que trabalha comocamponesa do ponto de vista convencional não é considerada comoprodutiva, na medida em que o produto de suas atividadesjião é comercializado. Não obstante, osmembros da família, o'cidadão participante e õs""camponeses que provêem o próprio sustento produzem,efetivamente. Tem sido estimado, por exemplo, que o valor do trabalho doméstico, nos EUA, representa cerca de um terço do produto nacional bruto e a metade da renda disponível do consumidor (Burns,1975, p. 14). No entanto, pelo fato de não ser o produto do trabalhodoméstico diretamente transferível para o mercado, é ele ignoradopelo sistema oficial de estatística. Semelhante sistema pressupõe que aprodução é equivalente à venda, e que o consumo seequipara à compra.~~
duo produtivo não é, necessariamente, um detentor üe emprego.-"Aidentificação de um com o outro constitui uma das principais üusõese um dos pontos cegos mais importantes dos modelos alocativospredominantes. Outra ilusão e outro ponto cego éapressuposição deque o montante eaqualidade do consumo do cidadão estão expressosnaquilo que ele compra. Na realidade, o mercado não considera, emlarga medida, aquilo de que as pessoas necessitam e apenas "sabe oque é que as pessoas são levadas a comprar" (de Grazia. 1!Ernoutras palavras, ~~^•Cde Grazia, 196"47p. 215). Presas entre essas ilusões eentre esses180
pontos cegos, as políticas alocativas dogoverno têm sido incapazes deultrapassar o círculo vicioso do sistema de mercado, para tirar vantagem das possibüidades existentes de construção de uma variedade deambientes produtivos, que não dispõem de dinheiro, como parte deuma sociedade multicêntrica.
Há hoje em dia uma difundida preocupação com o problema dosrecursos finitos. Na realidade, é fato que numerosos recursos físicosde crucial importância, de que o sistema de mercado necessita paraque possa continuar operando, são de caráter não-renovável e podemexaurir-se a longo prazo. Mas a compreensão predominante desse problema é deformada. Tem sido interpretada, por exemplo, como con-ducente a limites ao crescimento. Isso é uma qualificação errônea. Naverdade, como sugerido anteriormente, flHM HBBHflB Qbsinclui mais do que aquüo que o mercado se inclina a definir como recurso. Inclui £mp)es^aJ4Pcas ejajg^Ds. para as quais a epistemoíogia mecanística inerente à lei clássica da oferta e da procura nãotem sensibilidade. No mesmo sentido, o argumento em favor das estratégias de crescimento zero é, em grande parte, uma admissão da ban-
stema de mercado. Entendo,do4Bi Ki nãorepresentam,
o. i*.^HiMMPwmM§renanecem ociosas, graça
organização ^^pBRi-o ponto de vista paraeconômico, os recursos são infinitos e
não há limites ao crescimento. Ironicamente, a tese dos limites ao cres
cimento pode muito bem representar a oportunidade para revelaçãode um vasto horizonte de possibüidades para uma explosão de crescimento, tanto em termos de produção quanto de consumo. Para tomarem reais essas possibüidades, os indivíduos, as instituições e os governos precisam livrar-se dos antolhos conceptuais inerentes aos modelosalocativos centrados no mercado. De um modo geral, os principaispressupostos desses modelos podem ser articulados como se segue:
1. Os critérios para avaliação do desenvolvimento de uma nação sãoessencialmente os mesmos que dizem respeito às atividades que constituem a dinâmica do mercado. Nessa conformidade, o volume doPNB, emsu^conmtuação convencional, a^| Bas. a percentagem da;"'lürilí""tia-*—*»° tudo isso é tomado como indicadores importantesdo desenvolvimento.
2. Há uma presunção de que a natureza humana se deline como oconjunto de qualificações e de disposições que caracterizam o indivíduo como um detentor de emprego e como um comprador insaciável. Assim, o processode socialização, em especial, precisaser engrenado para desenvolver o potencial dos cidadãos para serem bem-sucedi-
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3. A eficácia da organizaçáU l! llüü lHS.lllU!ÇUeü"em geral é mensurada do ponto de vista de sua contribuição direta ou indireta para amaximização das atividades do mercado, o que levaa tipos unidimen-sionais de teoria e prática organizacionais, e a modelos de ciência política de que são exemplos a teoria convencional da escolha públicae a atual teoria econômica.
O descontentamento com tais modelos tem sido manifestado em
muitos pontos do mundo acadêmico, valendo a pena salientar queciência política e análise política, como são convencionalmente entendidas estas expressões, consistem, sobretudo, numa tentativa de enfoque do processo de formulação política, de sua implementação e avaliação,do ponto de vistada racionalidade instrumental inerenteao cálculo econômico clássico. Não é de admirar que autores que adotamesses modelos políticos se esforcem para acentuar o caráter científicoda teoria política, tomando emprestados conceitos pertinentes aoscampos da pesquisa operacional, da análise de sistemas, da análise decusto/benefício, da tecnologia de computação, e presumindo queabordagens e métodos quantitativos são realmente os melhores, senãoos únicos, instrumentos para aperfeiçoar o estudo da formulação política.4 O caráter limitado de tal orientação tem sido muito bem assinalado por diversos especialistas.5 Noentanto, esse esforço críticoaindanão resultou numa alternativa para o modelo de ciência política convencional.. Acho que o paradigma paraeconômico é, pelo menos, umamplo e incipiente arcabouço teórico dessa alternativa.
ü fBHWPWpBBBHBBB acrescenta duas qualificações essen-ciais ao exame do tema ciência política/análise política.^| Badmite que os métodosquantitativos têm a maisalta probabüidade de"ser úteis no estudo de políticas ecologicamente sadias e/ou satisfatórias de maximização de lucro; contudo, esse aspecto é visto como umaárea restrita de interesse, no domínio da ciência política. HHafirma que há políticas normativas e substantivas de alocação que sãoindispensáveis, se desejamos elevar o st-:tus qualitativo do sistema social em dimensão macro. Em outras palavras, a utUizaçãode modelosconvencionais de política tem que ser compatível com a lei da adequação de requisitos. Precisamos reconhecer que esses modelos assumemuma conotação ideológica, quando vão além do contexto específicodo enclave do mercado e pretendem agrupar sob seuscritériostodo oprocesso social da alocação de recursos.
4 Sobre isto, veja Tribe(1972).
s Veja Churchman (1971);Tribe (1971, 1973,1976); Dolbeare (1975);Kramer(1975).
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Para propósitos Uustrativos, seráconveniente uma reavaliação dotrabalho de Robert Dahl e Charles Lindblom, cujoelegante e significativo livro Politics, economics andwelfare, pubhcado em 1953, contémmais do que aquüo que os próprios autoressepropuserama explorar.Apresentam eles, sob forma conceptual, quatro modelos de escolha ealocação: a) o sistema de preço (controle de líderes e porlíderes); b)hierarquia (controle por líderes); c) poliarquia (controle de líderes);d) barganha (controle entre líderes). Minha argumentação é a de que,desembaraçados de sua abrangente intencionalidade econômica, essesmodelos poderiam muito bem proporcionar os alicerces teóricos doprocesso alocativo, e servir como instrumentos de um sistemajjplíri*-co multicéntrico. Em particular, jflMp eggtÊÊfÊtpõdêúam serencaradas como modelos alocativosdecategorização de funções governamentais, necessárias para estímulo deenclaves isonômicos e feno-nômicos e para proteção desses enclaves contra apenetração do sistema de mercado. Uma leitura cuidadosa do livro desses autores indicaque os mesmos demonstram uma alta sensitividade a tópicos substantivos da alocação de recursos. No entanto, sendo o caráter econômicoa- preocupação global de seu Üvro, deixa de ser claramente definidoo aspecto paraeconômico dos modelos apresentados. Tivessem os autores desenvolvido uma distinção sistemática entre racionalidade substantivae funcional e suasimpücações políticas, e é provável que tivessem chegado perto da articulação de muito daquüo que constitui oparadigma paraeconômico.
Por exemplo, Dahl e Lindblom usam as expressões 41•' e 'afBÉÍHflrte" como cambiáveis, isto é, como ações "que visam maxjai aMttttfBMttta", na medida em que "a satisfação daiT^H^^^^^Wameta" (Dahl eLindblom, 1963, P^^Ao mesmo tempo, desejariam que oleitor compreenda que há 'MB*da meta" e "sgffjSHM da meta", tais como lazer e convivência, quenão podem ser avaliados segundo "símbolos quantitativos como •eficientes' " (Dahl e Lindblom, 1963, p. 40). Reconhecem eles, indiretamente, a realidade dos enclaves isonômicos e fenonômicos, quandofrisam'que "é nos grupos pequenos que a maior parte das pessoas seapoia para conseguir amor, afeição, amizade, 'o senso de beleza' erespeito" e assinalam que os mesmos "suportam acarga principal dadoutrinação e da formação de hábito em identificações e normas,transmitindo os hábitos e atitudes apropriados à poliarquia" (Dahl eLindblom, 1963, p. 520). Mais especificamente, afirmam:
"Na medida em que é de qualquer modo possível, grande parte da'boa vida* éencontrada, parajjnaoria_das pessoas, nospequencsgu^
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mente são possíveis exceto em pequenos grupos. Se, de alguma forma,fosse possível destruir os grandes grupos e deixar tais coisas de pé, aperda da grandeza seria bem suportável (grifo nosso). Mas se se mantivessem as grandes dimensões dos grupos e se destruíssem esses valores, o empobrecimento e a esterilidade da vida seriam incalculáveis"(Dahl e Lindblom, 1963, p. 520).
A abordagem de Dahl e Lindblom da alocação de recursos é emgrande parte correta na medida em que se mantém dentro dos justoslimites do enclave econômico. No entanto, como se apresenta, seuenunciado de escolha e alocação de recursos tem um caráter confinado, porque nele as isonomias e as fenonomias, sob a designação depequenos grupos, apenas incidente e não sistematicamente são reconhecidas como categorias para a ordenação do processo deformulaçãodepolítica.6
Contrariamente aos modelos centrados no mercado, o paradigma paraeconômico fornece um arcabouço sistemático para desenvolvimento de um impulso multidimensional e deümitativo, em relação aoprocesso de formulação de política. Esse paradigma, dando ênfase àsalocações de recurso e de mão-de-obra nossistemas sociais, em dimensões micro e macro, parte do pressuposto de que:iflPK) mercado deve ser politicamente regulado e delimitado, comoum enclave entre outros enclaves que constituem o conjunto datessitura social. Em outras palavras, o mercado tem critérios próprios,que não sãoos mesmos dos outros enclaves, nem da sociedade comoum todo. Ainda, a quaüdade da vida social de uma nação resulta dasatividades produtivas que elevam o sentido de comunidadede seus cidadãos. Nessa conformidade, tais atividades não devem, necessariamente, ser avaliadas do ponto devista inerente ao mercado. Sendo assim, a delimitação dos sistemas sociais conduz a estratégias de alocação de recursos e de mão-de-obra, a nível nacional, que refletem umaintegração funcional de transferências de sentido único ou nos doissentidos. É preciso quevenha a ser desenvolvida uma perícia especializada —expertise —destinada à formulação de políticas públicas, aoplanejamento econômico e à elaboração orçamentária, que seja ade-
Íuada à delimitação dos sistemassociais.\ A natureza do homem atualiza-se através de várias atividades,ítre as quais estão aquelas requeridas pela suacondição incidental de
detentor de emprego. A atualização humana é inversamente proporcional ao consumo individual de produtos e artigos do mercado e,
6 Em seu notável livro Politics and markets, Lindblom assinala várias conseqüências sociais e políticas deformadoras, dossistemas demercado contemporâneos, masaté 1953ele nunca tratou sistematicamente dasquestões implícitasnadelimitação (Lindblom, 1977).
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mais particularmente, ao tempo exigido por esse tipo de consumo. Talconcepção significa que um indivíduo completamente socializado é,necessariamente, menos do que aquüo que uma pessoa deveria ser epode ser. Significa, também, que osistema educacional deveria, sobretudo, estar interessado no crescimento dosindivíduos como pessoas e,só secundariamente, como detentores de emprego. Além disso, na medida em que o consumo Uimitado de produtos do mercado époluidorecondu^pjs|ot|mentodo^ecursos naturais, em última análise deve seifll wF
Bi O desenvolvimento de adequadas organizações e instituições,em geral, éavaliado do ponto de vista de sua contribuição direta ou indireta para o fortalecimento do senso de comunidade do indivíduo.Isso conduz ao tipo multidimensional de teoria política eorganizacional (e de sua prática) conceptual e operacionalmente qualificada parao encorajamento, tanto das atividades produtivas dos cidadãosquanto de seu senso de significativa atualização pessoal esocial.
É evidente que existe, hoje em dia, no meio acadêmico, um generalizado mal-estar em relação às abordagens convencionais do desenvolvimento,7 que são desorientadoras precisamente porque permitemque o mercado seja a referência principal do processo de alocação derecursos. Assim, por exemplo, elas pressupõem que um aumento novolume das atividades de troca e a expansão especial do mercado seequiparam ao desenvolvimento. Esse ponto de vista preconcebido ficaparticularmente claro na forma padronizada de avaliação do fenômenoda economia dual, nos países periféricos. Éassim que se diz que umpaís onde existe uma economia dual, ou populações vivendo em áreasnão incluídas no mercado, é, por definição, subdesenvolvido, ou mesmo atrasado. Oconselho que os formuladores de política desses paísesrecebem, geralmente, dos espedalistas ocidentais, éo de que, uma vezque aeconomia dual constitui um obstáculo ao desenvolvimento, deveriam empreender esforços no sentido de incorporar apopulação inteira do país ao sistema de mercado. Oresultado geral dessa orientação política, não apenas nos países periféricos, mas também nas na-ções cêntnças^iigiyon^^são aMÜÍD2SÃO,urbana ouaexagerada concentração^deporjulaçao .
'des oaumeotô da taxa de anomia, o agravamento da;;-iorista' cc4H.'iodas aS^uaã-deiQfmadoras,conoraçof'
psicológicas, WiliicTo d M
formadora^ gônoracõr:é cuItü73Efl?cidac^«;Cfln»ciraya'ri i
! Mais ainda, o sentidoconômico e quantitativo de semelhante orientação política leva os
i Veja, por exemplo, Mishan (1977); Ul Haq (1976); Seers (1977); Frank(1972); Holsti (1975); Streeten (1977); Morison (1974).
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que a subscrevem a legitimar a primazia do aumento do PNB sobre ajustiça social e a distribuição da renda.
A interpretação convencional do fenômeno da economia dual éde extrema estreiteza, sendo o fenòrneno entendido, geralj
;xisténcia, nunjajafiãtt»_dej_e de HflC BBBP^SPH BrNo entanto, esse tipo de dicoto-mia constitui uma forma particular de dualidadeeconômica, que é umtraço normal de todas asnações contemporâneas. Najealidade. em todas elas, incluindo os EUA, há M W^c' •K"- -^^BB8BBBBaçJctt Hró e os,ÍJJj l^Além disso, nem sempre são eles relacionados de maneiraantagônica, e pensar assim eqüivale a incidú numa compreensão muitomíope do fenômeno. Podem-se considerar, por exemplo, osEUA. Doponto de vista paraeconômico, os formuladores da políticaeconômicado governodeste país deixam,em grande parte, de atualizarcompletamente o potencial de sua estrutura de produção graças à sua subjuga-ção pela mentalidade de mercado. Embora negligenciados pelos formuladores de política, os sistemas de produção orientados para a mu-tualidade constituem parte importante da estrutura econômica ameri-na. No presente, o setor mutuário está vivo e em expansão,através denumerosas iniciativas particulares que rapidamente se multiplicam.8Concentram elas grande parte da energia criadora de que este país necessita para superar a fase de rendimentos decrescentesem que ora seencontra a própria economia de mercado, em razão das pressões ecológicasque sobre ela pesam. Os formuladores da política do governo nãoparecem perceber, na medida suficiente, que a sociedade americanaestá gerando construtivos esquemas de alocação de recursos que, seapoiados por adequadas e sistemáticas políticas, significariam antídotos para os vícios da economia, em seu estado atual de d^^f^. Talcomo o médico que trata um paciente com um remédio qüe lhe agravaa moléstia, tentam eles corrigir as distorções da vida social causadaspelo sistema de mercado, como, por exemplo, as m JBJF
e a inflação em grande parte resultante deEcológicas, com os corretivos tradicionais do mercado.
Não tomam conhecimento das energias autocurativas da sociedade, armazenadas no setor de produção de orientação mutuária.
O caráter obstrutivo do sistema a que se filia a política oficialamericana reflete-se, também, emseu desprezopor aquüo que KennethBoulding chama de tllllllHHPIHMQjM'. Como salienta ele, assubvenções constituem agora uma parte substancial dosfundosdispo-.níveis para o financiamento das atividades produtivas do país, esti-
8 Sobre a variedade dessas iniciativas,veja Henderson, Carter (1977/8); Hender-son, Hazel (1978); Stravianos (1976) e o número especialdo JournalofAppliedBehavioralScience, 9(1973); Berger & Neuhaus (1977).
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mando que de lua quase 50% da producãcsna América, sejam financiados p°rB ^s- em lugar de^lpfeoulding, 1973, p. 1-2).Ninguém se^ev^mpressionar com aaparente imprecisão da estimativa. As subvenções assumem múltiplas formas, algumas delas bem difíceis de definúe, assim, seu exato valor estatístico nunca será suscetível de apuração. Por exemplo, há subvenções de natureza muito visível,como aquelas que são fornecidas por fundações particulares e públicase por muitos tipos de doadores. São elas as menos difíceis de registrare é possível que representem o limite inferior da estimativa de Boulding. Olimite mais alto dessa estimativa refere-se, plausivelmente, auma variedade de subvenções implícitas, isto é, de"redistribuições derenda e riqueza, que oconem como resultado de mudanças estruturaisou de manipulações de preços e salários, autorizações, proibições,oportunidade ou acesso" (Boulding, 1973, p. 49), assim como aumasérie multifacetada de auxílios que ativam os sistemas de produção deorientação mutuária, que podem incluú isonomias, fenonomias esuasformas mistas. ^^^^^m»
Existe, nos EUA, uma forma de MHPP< quc e constituída pelo setor de subvenções e pelo setor de troca. Essa dualidade naorepresenta uma anormalidade, e um setor não deveria ser classificadosegundo os imperativos de meta do outro. Ambos os setores deveriamser visualizados em sua distinta e específica natureza e como executores de funções complementares e socialmente integrativas. Contudo,as subvenções são, em grande parte, mal administradas pelos que asconcedem, sejam de natureza pública ou particular, prisioneiros damentalidade de mercado, e são utÜizadas adequadamente sobretudoatravés de técnicas de ensaio e erro, desenvolvidas por cidadãos interessados. Por exemplo, por motivos de ordem estrutural, o setor detroca da economia americana está-se tomando incapaz de gerar oportunidades convencionais de emprego em número suficiente para absorver a força de trabalho disponível.9 Éem grande parte como uma reação aessa tendência que se deveria interpretar acircunstância de que,
i no decorrer do ano fiscal 1977/8, 10% do aumento de empregos ficaram em mãos de cidadãos que trabalhavam por conta própria, em empresas de pequeno porte, e que 50 milhões de americanos sao, agora,membros de empresas de natureza cooperativa.10 Acho que aincapacidade do sistema de mercado predominante de absorver totalmenteapopulação de indivíduos em idade ativa é interpretada de modo incorreto, pelos formuladores convencionais de políticas, públicos eprivados, como uma vicissitude temporária da economia. Uma conseqüência é que as pessoas forçadas ase juntarem àmassa dos beneficiários da previdência eda assistência social são degradadas socialmente,» Veja Yankelovich (1978).
«o Veja Henderson, H. (1978, p. 390, e 1978b).187
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em razão de sua condição de desempregadas, ^^f^S^Í^'.SKw-Mconduzindo àplena ocupação da força de üaba-mo escapam àatenção dos formuladores convenaonais de política,precisai por causa de sua subjugaçâo pela mentaUdade de merca-do. Um ato de imaginação poderia permitir que an»»*^;de ociosa, representada pelas pessoas sem empregos formais, fosse mobilizada para acorrente principal do sistema de Pnduçtoumcno.através dTalocação desses fundos de assistência eprevidência social,não como um simples auxílio benevolente, mas como subvenções paiafinanciamento das atividades e da criatividade dos cidadãos, em empreendimentos de orientação mutuária ecomumtána, socialmente reconhecidos.
Um dos objetivos das políticas paraeconômicas éuma equilibra-,-, \rda alocação de recursos. Por exemplo, do ponto de*st^™^\co awStência de economia dual num país pode, afinal, ser antesuma vantagem, em lugar de um inconveniente. Isto não quer drzer quenão se devam fazer esforços para desenvolver omercado num determinado país. Mas oparadigma paraeconômico pressupõe que odesenvolvimento do mercado deva ser politicamente regulado, de modo quenão venha asolapar a base dos enclaves isonômicos e fenonomicos.Mais ainda, reconhece ele que amelhora das condições econômicas ge- ,rais de uma nação é compatível com aquüo que é considerado comoeconomia dual, isto é, acoexistência de sistemas de orientação mutuária nos quais os respectivos membros produzem para si mesmos umagrande parte dos bens eserviços que diretamente consomem, ede sistemas orientados para olucro, em que os membros são, essencialmente, detentores de empregos, que tiram de seus salários opoder aquisi- j n n~> ^tivo aue lhes proporcionará todos os bens e serviços de que necesa- >. ^W^tam Os sistemas de orientação mutuária eosetor de troca nao sao, ^ fyv^ Jpor conseguinte, reciprocamente excludentes. Devem ambos ser aste- - »mática e simultaneamente estimulados, através de uma eficiente utUização de transferências num só sentido ou em duplo sentido, para benefício da sociedade em geral. Uma das implicações desta observaçãoéade que, nos países periféricos, as condições da vida rural devem serconsideradas em seus próprios termos e protegidas contra aindiscriminada e destrutiva penetração do mercado, se se tem em vista oaumento de suas potencialidades de autoconfiança. Em suma, oberrwstargeral dos indivíduos que vivem num sistema dual só pode ser melhorado mediante uma equilibrada alocação de recursos, tanto como transferências num só sentido, quanto através de transferências em sentidoduplo.
Obenwstar dos cidadãos éuma categoria cultural peculiara cada país, enão émedido por critérios comuns atodas as nações. Sendo
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uma ástematizaçâo dos padrões de pensamento inerentes ao sistemade mercado, a economia convencional admite que os critérios paraavaliação do bem-estar social sejam os mesmos para todos os países e,nessa conformidade, vemos as autoridades governamentais de uma nação periférica formulando e implementando políticas alocativas quesão expressões da síndrome da privação relativa e do efeito dedemonstração. Opadrão mental dessas autoridades edo setor intermediário dessas nações periféricas são, assim, fator significativo de um sistema alocativo deformado.
É nesse sentido que a economia convencional é o componenteideológico da revolução industrial clássica. Na melhor hipótese, vale amesma como uminstrumento conceptual para explicar processos característicos da sociedade centrada nomercado. Não proporciona, porém, areferência conceptual para acompreensão eotrato dos pontosfundamentais da alocação, comuns a todas as sociedades. Emboraincorporando contribuições de pensadores oriundos da França e deoutros países europeus, em seus termos dominantes e essencialmenteuniai-a^íoaaanglo-saxõnica.>tava fadada, desde seus começos, ase^o^íi^f^^nó^mpmo^dotti*I^"?".*£através da qual as nações industriais hegemônicas do Ocidente induziram oresto do mundo ase ajustar àsua inclinação expansiomsta.
Nas duas iiltimasdécadas. as conseqüências poluidoras eexauri-doras da prática datíoeoTogia anglo-saxônicjporiginaram, em certos se-tam de pensamento teórico, uVrea^iação crítica da economiaclássica, assim como tentativas de elaboração de uma ciência de alocação de recursos como disciplina ecológica. Até agora, ornais eleganteepenetrante dos enunciados que refletem essa orientaçãoi pode ser encontrado nos trabalhos de Nicholas Georgescu-Roegen. Na verdade, ocaráter enganador da economia convencional tornou-se cada MUno, na proporção em que alguns traços exteriores de sua^aplicaçãosistemátioi atingiam asensibilidade de estudiosos preocupados com aSíton^MtomdUrtM»* e«m aexaustão das reservas de fon-tiTdVeneTgia, renováveis enão-renováveis. Por mais importantes que«estudosdessesespeciaüstas devarnjwconside^rtoMeria necessárioSido que uma análise atual d^^çeej^^Presultantes daprática da economia clássica, para «orientar oprocesso de?<™W>™recursos em escala muníal. Em resposta aessa necessidade, Georges-cu-Roegen estabelece os pressupostos fundamentais da nova ciência daalocação. . ,
Em resumo, Georgescu-Roegen assinala que an^"^?baixa entropia disponível eacessível, eque em última análise éomm-mo de tudo aquuTque ohomem produz, «tt^jgfigglimitado. Uma vez que amatéria-energia tem uma tendência irreversi
-"veTTa^nir estados de alta entropia, aprodução de bens eserviços,189
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em nome da necessidade de prolongar a existênciadahumanidade como espécie, não deveria acelerar essa tendência. Osrecursos acessíveise disponíveis são de dois tipos, asaber: a)renováveis, istoé, aqueles denatureza biológica que podem ser reproduzidos dentro de ciclos naturais relativamente curtos, assim como a energia recebida do sol e aenergia cínética do vento e da queda d*água; b) recursos não-renováveis, como o petróleo,o chumbo, o estanho,o zinco, o mercúrioe outros minerais cuja reprodução, se possível, demandaria longos ciclosecológicos, o que os torna praticamente indisponíveis nos limitesde tempo da existência da humanidade. A produção de bens e serviços deveria ser promovida mediante o máximo uso de recursosrenováveis e o mínimo uso razoável dos não-renováveis. A escassez dos re
cursos não-renováveis não é de natureza temporária e tratar sua utilização e alocação em termos de mecanismos de mercado, isto é, comose devessem ser apreçados de acordo com a lei clássica da nferfo tt da _procura, é uma ilustração da regra utihtário-hedonísta do aprèsmoi ledéluge. Na realidade, qualquer parcela de recursonão-renovável usadano processo de produção estará acabada para sempre, fato que dizalguma coisa sobre o caráter exauridordos macrossistemas contemporâneos. Nos últimos 10anos, metadede todo o óleo crujamais produzido foi obtida;e, nos últimos 30 anos, foi extraída metade daquantidade total de carvãojamaisminerado. Insubstituíveis como são esseseoutros minerais, seus preços de mercado, portanto, não são senãofictícios. Se a utilização desses materiais continuar nas proporçõesatuais, logo a humanidade estará privada de seu uso.11 Em conseqüência dos padrões de produção e consumo que prevalecem, o mundocontemporâneo vê-se diante de uma taxa sem precedentes de absolutaescassez ecológica, cujo aumento exponencial poderá acelerar ocolapso termodinâmico do planeta, que,efetivamente, é afinal inevitável, num determinado pontodo tempo.
O paradigma paraeconômico leva em consideração nãoapenas atermodinâmica da produção, mas também seusaspectos externos sociaise ecológicos. Como tal, representa uma alternativa para os modelos alocativos clássicos (quer derivados de Smith, quer de Marx), aqual oferece,também, o arcabouço abrangente para uma novaciênciadasorganizações. Nada menos queuma revolução organizacional dealcance mundial faz-se necessária, para superar a deterioração física doplaneta e das condições da vida humana, emtodaparte.
A institucionalização de uma sociedade multicêntrica estáagoraem processo, em termos dispersose incompletos. Talvez venha a malograr; ou, poroutrolado,podeganhar impulso,com anossa compreensão cada vezmaior dos deformadores traços externos gerados pela sociedade centrada no maçado. Em qualquer caso, o futuro será molda-
11 Veja Georgescu-Roegen (1976, p.20).
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do ouatravés da mera aceitação passiva das circunstâncias pelos agentes históricos, ouatravés de uma criativa exploração, por esses agentes,das inigualáveis oportunidades contemporâneas. Muito provavelmenteatravés de ambas as formas, terão eles influência.
Embora ninguém possa afirmar que tem a visão precisa das coisas que estão por vir, é essencial que delimitemos a influênciadasorganizações econômicas sobre a existência-humana como um todo, sedevemos capitalizar as possibilidades contemporâneas. Porseremasorganizações econômicas precisamente aquelasque maisretiraminsumosdo limitado orçamento da matéria-energia de baixa entropia disponível, deveriam elas ser rigorosamente replanejadas, tendo-se em menteum interesse ecológico. Deveriam tais organizações ficar circunscritas aum enclave, como parte de uma sociedade multicêntrica provida demuitos cenários para propósitos autocompensadores, envolvendo consumo mínimo de insumos de baixa entropia.
O mundo industria] em que vivemos também começou comouma possibilidade objetiva.13 Foi modelado no decorrer de todo umprocesso acumulativo de inovação institucional, deliberadamente empreendido por muitos indivíduos.Podemosestar agora num similar estágio incipiente de institucionalização, de que pode emergir uma alternativa para a sociedade centrada no mercado —a sociedade multicêntrica, ou reticular.
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10.VISÃOGERALEPERSPECTIVASDANOVACIÊNCIA
Expusnestelivro,deumaperspectivateórica,osdefeitosdateoriaorganizacionalexistente,eapresenteioarcabouçoparaumanovaciênciageraldeplanejamentodesistemassociais.Estaanáliseexpôs,também,asdeficiênciasdaciênciasocialcontemporânea,dequeateoriaorganizacionalcorrenteéumaparte.Apresento,noitem1destecapítulooresumodospontos-chavedaminhaavaliaçãocriticadaciênciasocialconvencional.Noitem2,definoanovaciênciadaorganizaçãocomosendocentradanaperduração-endurance-centered.
10.1Aciênciasocialconvencional
Araizdocaráterenganosodaciênciasocialconvenciona]estánoconceitoderacionalidadequeapermeia.Estelivroenfocaumadistinçãoentreracionalidadesubstantivaeracionalidadeformal,distinçãoquetemsidopropostaporalgunsgrandespensadorescontemporâneos,masquenuncafoicompletamenteexploradaporelescomoumdadoreferencialparaestabeleceradiferençaentredoistiposdeciênciasocial.Adistinçãonãodeveriaserconsideradaumexercíciodidático:propõeumdilemaexistencialaquemquerqueescolhaserumcientistasocial.Naverdade,emgeral,aopçãoporumaououtradaspontasdodilemanãoéconsciente,maséfeitaparaosindivíduosatravésdesuasocializaçãoemmeiosacadêmicos,queporsuavezoperamnocontextodosparâmetrosinstitucionaisqueprevalecemnoOcidente.Oqueteoricamentearruinaaciênciasocialconvencionalnãoéseucaráterformal;é,antes,odesconhecimentodeseucaráterparamétri-co,istoé,deseupenchantparaapoiar-senumavisãodomundoinerenteaumprecárioclimahistóricodeopinião.Emconseqüência,estáfadadaadesmoronar,quandoesseclimadeopiniãoperdeacredibilidade.Diversamentedaracionalldad£..formal.i
Jmmmmmm\\.i\>\\\wm\mmmm+mmm*rmmmma**-.Nemsepodemesmoesperarcompreendê-laatravésdasim-
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piesaquisiçãodeumpacotedeinformações.Segundo,aciênciasocialbaseadanaracionahdadesubstantivatranscendeclimasepisódicosdeopinião.Emperíodoshistóricosespeciaispodesereclipsada,masnuncadestruída,oquenãoquerdizerqueaciênciasocialsubstantivaexistacomoumcorpoconceptualdefinitivo,quetenhasidoformuladoumavezeparasempre.Aocontrário,estásempreemelaboração,cadaépocaacrescendoeexpandindoolegadomilenardepercepçõesdanaturezahumanaedavidahumanaassociada.Aanálisecríticaqueapresenteinãotemumaintençãoliteralderestauração.Antes,advogaaapropriaçãodetallegadoeseudesenvolvimento,emtermosquenoscapacitariamaentenderedominaroprocessodahistóriacontemporânea.
aevistadêstelivro,compreendemosagoraqueessaransformaçãonãopodeserconsideradacomooúnicocaminhoque
taispaísespoderiamtertomado,nodecorrerdosúltimos300anos.Presaàilusóriainterpretaçãodessefatoconsumadocomoconstituindoaconseqüência—dc_umnecessáriodesdobramentodahistória,aciênciasoei»!corrvpnCTonafdefendeasociedadecentradanomercadoeocarátersocialdelaresultantecomooinstrumentohábilparaavaliaçãodahistóriapassadaepresentedahumanidade.Assim,adespeitodesuasreivindicaçõesisentasdeconceitosdevalor,aciênciasocialcontemporâneaénormativa,namedidaemque,nateoriaenaprática,nadamaisédoqueumcorpodecritériosdeanáliseeplanejamentodecictPma»enriaieinduzidos2nprtirA»..m.rnnficmn.rimhistóricaparti
cular.^.X-limitaçõesqueexigemumadelimitaçãodosistemademerca
do—osalicercesideológicosdaciênciasocialconvencionalficamcadavezmaisadescoberto.oJJHfalternativodeciênciasocialesboçadonestelivro*9Êéa^H|dft.Alémdisso,minhacríticadasociedadecontemporâneacentradanomercadonãodeveserinterpretadacomoumadefesadaeliminaçãodomercadocomoumsistemasocialfuncional.Antes,reconhececomoumaéditoparatodosostemposfuturosagrandeconseqüênciaacidentaldahistóriadosistemademercado,ouseja,acriaçãodecapacidadesdeprocessamentosemprecedentesque,seiisadascorretamenteM>o<temda
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^TreTaçaoaosistemademercado,minhaanálisechegaaterumatinturaconservadora,poissugereque,expurgadodesuasinjustificadasinclinaçõesexpansionistas,edeseusexagerospolíticosesociais,omercadomodernopodemuitobemconstituiramaisviáveleeficientedasformasatéaquiplanejadasparaaconsecuçãodaprodu-
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cão em massa, para adistribuição de bens eserviços epara 101^ST*r^eríninados tipos de sistemas sociais de natureza eco-nômica.
Qualquer futuro que se visualize como um desenvolvimento linear da sociedade centrada no mercado será. necessariamente, pior do«To presente. Aciência social deveria libertar-se de sua obsessão comodesenvolvimento, ecomeçar acompreender que cada sociedade> contemporânea está potencialmente apta ase transformar numa boa sociedade, se escolher se despojar da visão hnear.sta da histona. Este livro aventa aexistência de muitas possibüidades para as nações do chamado mundo subdesenvolvido, de imediata recuperação quanto acondição periférica em que se colocam, se ao menos encontrassem seupróprio arbítrio político eassim se libertassem da síndrome da privação relativa que intemalizaram ao tomarem asociedade avançada demercado como o paradigma de seu futuro.
Adelimitação do sistema de mercado, tal como edefendida pelanova ciência, envolve a formulação e aimplementação de novos critérios epolíticas alocat.vos. no contexto das nações eentre elas. ^jWiade desses critérios resulta, sobretude^de sua sensitividade as«M
•fcias fjjÊÊMcas e gfiHgicas, produzidas pelas nao.ladasatmdades doastema de mercado. Aadministração de freios ^
ao funcionamento do sistema visaa preservação,^otMflPiPprneta, ájianto d*saúde psicológica daj^manjiple.ses fre.os devem ser desSbertos e inventados através de um complexoprocesso de pesquisa, que não se classifique sob interesses hegemônicos nem sob ortodoxias doutrinárias de espécie alguma. Por exemplo.«fljfl fe éestranho ao modelo paraeconômico apresentado neste?HPÍH?a]idade. a iniciativa privada e a propriedade privada saocondições fundamentais para qualquer bem-sucedida delimitação domercado. Mas, numa sociedade delimitada, a iniciativa privada ea propriedade privada são defendidas do poder disfarçado dos agentes corporativos privilegiados, tanto quanto do Estado onipotente. Na verdade o Estado já recebeu essa incumbência que, numa sociedade delimitada poderia exercer de maneira mais vigorosa e sistemática, no interesse de uma revitalizante diversificação da vida social e comunitária.Mais especificamente, no domínio econômico adelimitação do mercado acarretaria não a eliminação dosinvestidores privados, mas a vigen-
^i&tám*^mMBmsmm^;IS ítnd:!^--:>^d| !pM!açao^aj^nsumu)un-psico]ÒKi'.^Esse tipo
alismo, isto e, a propriedade estatal dosinstrumentos da produção. Exige, porém, uma redefinição das metase prioridades, de acordo com as quais os atuais controles centrais doEstado deveriam ser exercidos.
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Minha análise oferece a sugestão de que, dada a possibilidadepresente da abundante produção de bens e serviços primordiais^
_/A produção flafl f^íecessanamente, um resultado de atividades desenvolvidas dentro dos limites do mercado. Econstituída, antes, pelos resultados que contribuem para aumentar ogozo da vida e que, como tal, podem representar os resultados de atividades desenvolvidas no contexto de sistemas sociais não orientadospara o mercado. Nesse sentido, os recursos são infinitos enão há limites à produção. A obsessão do emprego como o único critério paramedir a capacidade humana de produção é um ponto cego básico, dosformuladores de política do governo e da teoriaeconômica típica queutilizam. Refo/mas institucionais, como, por exemplo, a implementação de imaginativos sistemas de subvenções, podem ser planejadas pararecompensar múltiplas formas da produtiva contribuição do indivíduoàvida social, de que oemprego constitui apenas um caso particular.
Na estrutura econômica institucional que prevalece, o aumentodas oportunidades de empreRO_exigirá aescalada da produção de bensde natureza demonstrativa, rrss.as limitações biofísicas à p.
...ratégia. Como acontecia antes do surgimento da so-raedaaWentraaanomercado, também agora, em seu declínio histón-
j, o total emprego da mão-de-obra é de novo possível, sem que se-nponha atodos os indivíduos que desejam trabalhar aexigência de se
Jornarem detentores de um emprego. Aignorância desse fato é parti-Icularmente lamentável numa hora em que a economia está, cada vez'mais. perdendo sua capacidade de proporcionar empregos para todasaspessoas quedesejam trabalhar.
Este livro nada mais éque uma enunciação teórica preliminar danova ciência das organizações. Como tal, estabelece uma agenda depesquisa. Muito resta ainda aser feito, para transformar anova ciêncianum instrumento de reconstrução social. Em seuspresentes termos,aminha análise não discutiu, por exemplo, como poderia o Estado, sistematicamente, implementar eadministrar os sistemas sociais delimitados. Um Estado apto a controlar o tipo de sociedade visualizado pelanova ciência, embora exibindo características regulatórias^não^eraum interventor socialista.
"penhar esse papel insiiluúukria para investigação ulterior. Alémdisso, nenhuma VMfMMal para o^ajBJÉDcnlu. aimplementação e amanutenção earticulação dos variados ecomplementares sistemas sociais foi apresentada neste livro. Parti do pressuposto de que aapresentação de diretrizes desse tipo, antes da articulação, em termosteóricos, da condição do indivíduo na sociedade contemporânea centrada no mercado, seria uma coisa sem sentido. Entendi, também, que
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m primeiro o homem deveria ser libertado df sua escravização psicológi- iea a mentalidade de mercado. Antes de serem atingidos essesobjetivos,qualquer conjunto de prescrições operacionais não teria, para ele, nenhuma utilidade. Estou, certamente, consciente dessa e de outrasomissões do livro, mas estou já empenhado num ulterior desenvolvimento desta análise, e que é uma análise baseada naquilo que estouaprendendo com as experiências de pessoas interessadas que atualmente, de muitas maneiras e ein muitos lugares, estão lutando paraacharalternativas viáveis para o atual estado de coisas que prevalece nomundo.
10.2 A organização resistente
Este livro põe a nu as falsas concepções da presente teoria da organização, cujo passamento não é de ser lamentado; é,'ao contrário,um acontecimento auspicioso.
A teoria organizacional existente já não pode mais esconder seuparoquialismo e ela é paroquial porque focaliza os temas organizacionais do ponto de vista de critérios inerentes a um tipo de sociedade emque o mercado desempenha o papel de padrão e força abrangentes eintegrativos. Torna-se muda. quando desafiada por temas organizacionais comuns a iodas as sociedades. Além disso, é paroquial porque sealimenta da fantasia da localização simples, isto é, da ignorância da interligação e da interdependência das coisas, no universo; lida com ascoisas como se as mesmas estivessem confinadas em seções mecânicasde espaço e tempo.
É justo admitir que há muita coisa, na presente teoriada organização, que qualquer teoria alternativa deveria incorporar e desenvolver. Mais do que nunca, temos agora razões para admitir que uma promessa fundamental da velha teoria pode ser cumprida: o problema dapobreza, como uma condição material, pode ser tecnicamente resolvido. Afinal de contas, essa teoria nos ensinou que o conhecimento pode ser sistematicamente utilizado para produzir mais, para produzirmelhor, para produzir o bastante, ao mesmo tempo liberando os homens das atividades do trabalho. Ensinou-nos que, em. última análL-sp fVCial"1 c a capacidade de processar; é um verbo/ não umsubs-
Mas, enganaa^porumTonauolinútado de produção e de"capital, a presente teoria da organização vê-se num beco sem saída.Aprendemos que o aumento indefinido da produção de mercadoriase o progresso tecnológico indiscriminado não conduzem, necessariamente, à atualização do potencial do homem. Nos limites dos interesses dominantes que prevaleceram no decurso dos três últimos séculos,a atual teoria da organização já cumpriu a missão que lhe cabia. Acompreensão desse fato abre o caminho para a elaboração de umaciência multidimensional da organização.
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A velha teoria pressupõe que a produção é apenas um assuntotécnico. No entanto, o pressuposto fundamental da nova ciência dasorganizações é o de que a produçãoé, ao mesmotempo, uma questãotécnica e uma questão moral. A produção nãoé apenas umaatividademecanomórfica, é também um resultado da criativa satisfação que oshomens encontram emsi mesmos. Num sentido,os homens produzema si mesmos, enquanto produzem coisas. Emoutras palavras, a produção deveria ser empreendida não só para proporcionar a quantidadebastante dos bens de que o homem necessita para viver uma vida sadia,mas também para provê-lo das condições que lhe permitam atualizarsua natureza e apreciar o que faz para isso. Desse modo, a produçãodas mercadorias deve sergerida eticamente, porque,como consumidorilimitado, o homem não torna resistente, mas exaure seu próprio ser.Mais ainda, a produção é igualmentejjnja^miesJãOJnQral, em razão óeseu impacto subre a iiatúTêzaTffflJoTrmroaoT Ia'realidade, a natup. .anao e um material inerte; e um sistema vivo. que so pode perdurar namedida em que não se violem os freios biofísicosimpostos a seus processos de recuperação.
0 uso do verbo perdurar, no parágrafo precedente, é intencional. A perduraçao é, ao mesmo tempo, uma categoria da existência fí'sicaj humana e social.'Sem a consideração da perduraçao. nãosepodeentender o processo através do qual as coisas, os seres humanos e associedades realizam suas individualidades imanentes. Contudo, perduraçao não envolve manutenção. É retenção de caráter, em meioa mudança; é a vitória sobre a fluidez. É uma categoria de processo mentalque reconhece que todas as coisas são interligadas e continuamente seempenham para conseguir um equilíbrio ótimo entre conservação emudança, no processo que leva a uma concretização modelar de seuspropósitos intrínsecos.1 Numa caracterização do significado geral daperduraçao, escreve Whitehead:
"A perduraçao é a retenção, através do tempo, de uma realização devalor. O que persiste é a identidade de padrão*, autolegada. A perduraçao requer ambiente favorável. Toda a ciência gira em torno da questão de organismos que perduram" (Whitehead, 1967, p. 194).
Esta citaçãoestabelece o cenáriopara a elucidaçãodos paroquia-lismos característicos da teoria organizacional existente.
1 Será óbvio, para aqueles que estão familiarizados com a teoria de Whitehead,que esta análise é, de modo geral, influenciada por seu pensamento. Devo, contudo, preveniro leitor de que o uso que faço da palavraresistência - enduran-ce —talvez não corresponda inteiramente ao de Whitehead. Minha justificativade uma noção ampliada de resistência não pode ser desenvolvida nos limites destas observações finais.
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A teoria de organização convencional e a ciência social em geralnão se inclinam ao reconhecimento da viabüidade das sociedades nãoocidentais, com base em seus próprios valores. Em sua perspectivaconceptual, a ocidentalização de tais sociedades é equiparada ao progresso qualitativo dasmesmas. Porexemplo, esse preconceitoideológico ê claramente enunciado por Likert (1963). Os conceitos e princípios daquüo que denomina "uma teoria de administração de âmbitomundial" são todos deduzidos da prática da experiência industrial doOcidente e Likert justifica explicitamente a universalidade dessesconceitos e princípios, não exatamente em termos teóricos, uma vez quesua visão da doutrina não se ajusta á gerência de recursos em contextoalgum, mas apenas no âmbito dos setores industriais ocidentalizados. /Considera ele que essa doutrina é universal porque é baseada noexpansionismo do Ocidente, queestáestreitando"as diferenças culturais ... entre as nações" e tornando-as "muito mais parecidas, em suaexistência organizacional (e industrial)". Essa teorização é completamente insensível a fatos dramáticos, que demonstram que o modeloocidental de industrialização perturba a base organizacional das sociedades periféricas, em lugar de lhes aumentar as possibüidades de perduraçao como sistemas autodeterminativos. Uma teoria de organização verdadeiramente universal não se pode permitir semelhante paro-quialismo histórico. Ao contrário, deveria admitir que a busca de requisitos organizacionais constitui assunto concreto em cada sociedade,desafiando conceitos e princípios, tal como Likert os concebe. Chris-topher Alexander tem a visão correta dessa busca como um processoanalítico, que leva à descoberta e à implementação deum bom ajustamento, permitindo a satisfação das mútuas exigências que contexto' efoTfnàTazem um ao outro (Alexander, 1974, p. 19). Está ele sugerindoum processo de planejamento orientado para a perduraçao e, portanto,reconhecendo que "à sua maneira, as culturas simples fazem seu trabalho melhor do que nós fazemos onosso" (Alexander, 1974, p. 32).
A destruição de sistemas perdurantes de vida constitui, também,um traçoatual das sociedades industrializadas do Ocidente.2 A práticade planejamento organizacional que predomina em tais países é, emgrande parte, afetada pela üusão dalocalização simples. Muito daanálise termodinâmica que Georgescu-Roegen faz da teoria econômicaconvencional revela a üusão dalocalização simples. As organizações, eo processo econômico que põem em vigor, são concebidos como senão tivessem vinculações àesfera biofísica. Semelhante concepção deixa de lado ofato de que oprocesso econômico, eespecialmente otipode organização planejada de acordo com critérios puramente econômi-
•cfíle^,etiram continuamente do ambiente matéria-energia de baixa en-Veja meu artigo Endurance and fluidity: a reply (Resistência e fluidez: uma
resposta). Administration and Society, Feb. 1977.
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tropia e a restituem emestado dealtaentropia. Fazendo isso, necessariamente esgotam e poluem o ambiente, perturbando desse modo ascondições exigidas para uma resistente existência física, humana esocial. Postulada com base na üusão da localização simples, a teoria deorganização existente está, antes, fadada aagravar o crescente desequilíbrio termodinâmico que perturba as sociedades ocidentais. Chegou ahora de substituí-la por uma ciência da organização centrada naperduraçao.
Aesta altura deveria estar claro, para oleitor, ofato de que numsentido anova ciência das organizações não érealmente nova,3 porqueé tão velha quanto osenso comum. Olllfl (.flQMifffl fflj fr^TMllÂ"-cias, nas quais precisamos, mais uma vez, começar a dar ouvidos aonosso eu mais íntimo.
BIBLIOGRAFIA "
Alexander, C. Notes on the synthesis ofform. Cambridge, Massachusetts, Harvard University Press, 1974.Georgescu-Roegen, N. The Entropy law and the economic problem.In: Daly, H.E. Toward a steady stateeconomy. San Francisco, Califórnia, W. H. Freeman, 1973.Likert, R. Trends toward a world-wide theory of management. CIOS,XIII, 1963.Sibley, M.Q. The Relevance of classical political theory of economy,technology & ecology. Alternatives, 2(2), 1973.Whitehead, A.N. Science and the modem world. New York, The FreePress, 1967.
3 Paraverificação do grauemque o velhc pensamento clássico é importante para as tentativas contemporâneas de reformulação da ciência social, veja Sibley(1973).
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