A nossa família e a todas as pessoas que nos cercam de...

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A nossa família e a todas as pessoas que nos cercam de amor, atenção e nos impulsionam para um

despertar diário de prosperidade.

Aos nossos mestres, professores e orientadora por ter nos dedicado tempo e

experiência de forma tão genuína, o que nos conduziu a reflexões incríveis.

Aos nossos colegas de profissão de Recursos Humanos, os quais temos a oportunidade

de sensibilizar neste desafio diário que nos faz transpirar, inspirar e transformar!

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SUMÁRIO

Apresentação

Profa. Ms. Heloisa Lucas ................................................................................................................ 3

Capítulo 1: Coaching: causas e efeitos

Mônica Reis Tomaz ......................................................................................................................... 4

Capítulo 2: Atrair e conectar – Recrutamento e Seleção

Dayana Mori Pereira .................................................................................................................... 22

Capítulo 3: Quanto nós valemos?

Thatiane Barbosa ......................................................................................................................... 47

Capítulo 4: Gestão do conhecimento – Por que desejamos sabedoria?

Patricia Holanda .......................................................................................................................... 66

Capítulo 5: Aceleração da aprendizagem – Como promover o aprendizado eficaz e eficiente

nas organizações

Pablo Pereira ............................................................................................................................... 83

Capítulo 6: A atuação do RH no varejo

Iara Santana ............................................................................................................................... 105

Capítulo 7: Gerenciamento de projetos em Recursos Humanos

Kevin Salvo ................................................................................................................................. 122

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APRESENTAÇÃO

A discussão em torno das competências do setor de Recursos Humanos está longe de

ser encerrada. Isso é bom porque demonstra que esta é uma área em constante evolução. Os

profissionais de RH não querem parar no tempo, querem se aproximar cada vez mais das outras

áreas de negócios das empresas.

Partindo do Departamento Pessoal, preocupado apenas em como fechar a folha de

pagamento no final do mês ou distribuir as folhas impressas de vale-refeição aos empregados,

hoje já não dá para não pensar no RH estratégico e alinhado a quem tem o poder de decisão.

Afinal, são os profissionais de Recursos Humanos que vivenciam nas organizações as

aspirações de ambas as partes – empregador e empregado.

Organizar este e-book foi gratificante. Foi conhecer a realidade atual, não só a

discutida e questionada, mas a aplicada pelos profissionais que acreditam que a atuação da área

de Recursos Humanos é ampla, independente do tamanho da organização, do número de

colaboradores, da sua cultura e valores, entre outras tantas atribuições.

São profissionais que saíram do mundo das ideias e ideais e definitivamente

transferiram o CHA (competência, habilidade e atitude) pessoal para os seus departamentos e

empresas.

Sugiro que você, leitor, também passe a ter esse novo olhar para Recursos Humanos,

que, além de ter Competência e Habilidade no trato com pessoas e processos, é a área que

precisa ter Atitude para cada vez mais chegar perto da estratégia da empresa e dos desafios da

atualidade.

Boa leitura.

Profa. Ms. Heloisa Lucas

Especialista em Educação Corporativa

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Capítulo 1

COACHING: CAUSAS E EFEITOS

MÔNICA REIS TOMAZ

Desmistificando o coaching

Dúvidas sempre são levantadas quando o tema é coaching, ainda que seja um recurso

altamente considerado para o cenário atual.

Essas dúvidas podem estar relacionadas com as possibilidades de desenvolvimento e o

alcance que o processo proporciona.

Para o coaching, não há limitações, nem para o processo em si, nem para o indivíduo,

desde que fatos e evidências proporcionem a guinada inicial. Através dele é possível trabalhar

metas, objetivos e desenvolvimento pessoal, ligados às mais diversas áreas.

O coaching propicia técnicas que podem ser utilizadas de imediato, que impulsionam a

busca pela mudança, a conquista dos mais variados desejos, mesmo os de âmbito pessoal, ou

aqueles que se julgam como pontos a ser trabalhados.

O ponto de partida desse habilidoso processo conta com o engajamento do indivíduo.

É imprescindível que esteja disposto a se envolver, comprometendo-se com seu alvo. O coaching é

para aqueles que querem colher os frutos de uma entrega anterior, causadora do alcance de seus

principais objetivos.

Quais ações causariam impacto naquilo que pretendo mudar em minha vida? O que

seria necessário desenvolver para o alcance de metas? Sou protagonista ou estou na plateia

quando o assunto é a busca por minhas conquistas? Sou líder de meus anseios e desejos?

Se você se faz esse tipo de pergunta, ao invés de tentar contornar e camuflar seus

pontos fracos, o que adia suas conquistas e mudanças, o coaching é para você!

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O resultado do desenvolvimento proporcionado pelo coaching é consideravelmente

positivo, produz eficiência e evolução ímpar, o que traz à tona as mais variadas capacidades, sejam

essas ligadas a um indivíduo, seja a uma equipe, time ou empresa, em um curto espaço de tempo.

Dentro do processo de coaching, é primordial que o profissional qualificado e

certificado para esse trabalho (coach), que assessora seu cliente (coachee) em direção às suas

metas e objetivos, leve-o a refletir, buscar alternativas, alavancar os passos em busca de seus

desejos.

Coach Coachee

Coaching

Coaching

Eu

comigo

Eu

e

os outros Carreira

Relações

interpessoais

Habilidades Talentos

Estratégias

Ações

e

reações

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O coaching é um processo extremamente sigiloso e sério, com foco no presente,

documentado através de contrato de trabalho, com cláusulas específicas, acordadas entre coach e

coachee. É composto geralmente por doze sessões, divididas semanalmente, com duração

aproximada de uma hora e trinta minutos e que, além de ferramentas e técnicas, também faz uso

de diversas ciências, como neurociência, psicologia, administração, dentre outras. Tem ponto de

partida no EA (estado atual) com foco no ED (estado desejado).

Algumas premissas desse poderoso processo são:

Sigilo total

Crença negativa x pensamento positivo

Ausência total de julgamento

Quebra de crenças limitantes

Ressignificação

Empoderamento

Desconstrução e construção

Levantamento de pontos positivos em toda situação

Foco em resultados.

Devido às mais diversas situações e objetivos das mais variadas áreas, o coaching

divide-se em diversos nichos de atuação. Alguns deles são:

Coaching de vida

Coaching de carreira

Coaching de negócios

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Coaching executivo

Coaching esportivo

Coaching financeiro.

Sendo assim, seja qual for seu objetivo, seu sonho, sua meta, desde que existam fatos

e evidências que comprovem que poderão ser alcançados, e se você acreditar de fato em si

mesmo e naquilo que deseja alcançar, o coaching é a ponte que liga você ao seu desejo.

José Luís de Medeiros Nogueira, um profissional da área financeira, acreditou no

processo e permitiu-se.

A seguir, através da sigla JL, nos revela como foi sua participação.

Descreva brevemente sua atuação profissional.

JL – Profissional com mais de 25 anos de experiência. Carreira desenvolvida na área

financeira (tesouraria, contabilidade geral e de custos, contabilidade fiscal e controladoria).

Atualmente como prestador de serviços (em parceria com profissionais de auditoria e consultoria).

Experiência em gestão de equipes multidisciplinares. De fácil relacionamento interpessoal,

aprendizado. Visão global do negócio (missão e valores) e maturidade para solução de conflitos e

situações diversas. Ético e com senso crítico.

Como definiria coaching?

JL – Como um processo de desenvolvimento pessoal e profissional. De

autoconhecimento e amadurecimento.

O que o motivou a buscar o processo? E o que acredita que motive outras pessoas a

realizar a mesma busca? Indicaria o coaching?

JL – Na época eu participava de processos de seleção e não obtinha sucesso nisso. Fui

buscar entender quais eram os motivos.

Acredito que de alguma forma todas as pessoas tenham que atingir objetivos e

busquem um algo a mais em suas vidas.

Sim, indicaria e incentivaria se soubesse de alguém que estivesse disposto a

experimentar esse processo.

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A partir de sua entrega no processo, quais benefícios pôde vivenciar? Quais outros

acredita que o processo pode trazer à tona? Você acredita de fato nos benefícios do coaching?

JL – Um dos principais benefícios que pude vivenciar foi a quebra de certas crenças que

eu tinha a respeito da situação que vivenciava, conforme resposta anterior.

Acredito que um dos principais benefícios que o processo traz à tona é a forma como

nossa percepção das coisas passa a ser mais apurada. Conseguimos entender que as coisas e as

pessoas são diferentes e agem de forma própria.

Sim, acredito totalmente, principalmente quando existe uma entrega total ao

processo, pois dessa forma conseguimos despertar qualidades até então adormecidas em nós.

Relate como foi a experiência em relação ao profissional contratado e as causas e

efeitos do processo como um todo.

JL – Tive a grata satisfação de passar por um processo de coaching com uma

profissional experiente que, ao mesmo tempo que aplicou as ferramentas técnicas, conduziu o

processo na essência das reflexões necessárias que eu deveria ter para aquele momento, fazendo

com que eu conseguisse enxergar que não havia um problema, mas sim um comportamento

inadequado em situações específicas. As causas e efeitos foram uma nova maneira de lidar com

determinadas situações, sem a necessidade de utilizar mecanismos de autodefesa ou de ação e

reação, passando a interagir melhor, dispensando o julgamento e analisando sob critérios

objetivos.

Como foi para você lidar com os conteúdos que estavam ocultos?

JL – No início com uma certa surpresa e até perplexidade. Mas no instante seguinte,

percebendo que tais conteúdos ocultos estavam na verdade me auxiliando a obter o

autoconhecimento, passei a lidar com mais tranquilidade e aceitação.

Em seu ponto de vista, conseguiu evoluir praticando o coaching?

JL – Sim, consegui evoluir de forma satisfatória e madura, a ponto de receber

feedbacks positivos das pessoas mais próximas, que relataram apreciar meu estado atual.

De acordo com sua vivência, o que seria primordial para alcançar sucesso nesta

tríade: Coachee – Meta – Coach?

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JL – Entendo que deva ser primordial que haja um compromisso e comprometimento

sincero e total de ambos. O coachee deve estar aberto ao processo e a todas as novas descobertas

e conquistas possíveis de serem alcançadas/descobertas; afinal, o processo é dele. O coach deve

portar-se como parceiro ético, comprometido e fiel à meta do coachee, utilizando as ferramentas

adequadas e as perguntas poderosas, e atuar como um parceiro, orientando, direcionando, mas

sem a pretensão de ser o dono da verdade, pois, novamente, a meta é do coachee. Em relação à

meta, faz-se necessário ser clara e tangível, capaz de ser obtida no seu todo ou muito próximo

dele, pois do contrário o processo será frustrante e arrastado.

Qual seu conhecimento e opinião em relação à programação neurolinguística

(PNL)? Já ouviu falar no uso da PNL como potencializadora do processo de coaching?

JL – Ainda não tive oportunidade de ter conhecimento ou experiência com a PNL e

todas as possibilidades que esse processo pode oferecer.

O que recomendaria para um melhor aproveitamento do coaching?

JL – Clareza da meta (estado desejado), comprometimento, disciplina e vontade de

desenvolvimento como ser humano.

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Permita-se o autoconhecimento

Recursos estratégicos

Clarificar comportamentos

Interação e feedback

Aderir a novos comportamentos

Interiorizar modificações

comportamentais

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Cada vez mais as pessoas têm feito do coaching uma ferramenta para potencializar

suas capacidades.

Érica Belon, neurocientista, nos conta a seguir, através da sigla EB, como foi sua

caminhada para se tornar coach e como emprega essa ferramenta valiosa em seus trabalhos.

Descreva sua trajetória profissional.

EB – Iniciei minha carreira profissional aos 14 anos, com carteira assinada, mas a

minha primeira experiência como funcionária foi aos 12 anos, como secretária num consultório

médico. Sempre trabalhei na área administrativa, entre autarquias, software house, hotelaria e

instituições de ensino. Com o passar do tempo fui conquistando meus títulos: Doutoranda em

Administração pela UNIMEP – Piracicaba; Mestre em Educação pela UNISAL – Universidade

Salesiana (Campus Maria Auxiliadora – Americana/SP); Professional Coach Certification –

Sociedade Latino-Americana de Coaching (SLAC); Professional DISC Certification – SLAC; Estudante

de Psicanálise pela UPLA; Pós-Graduanda em Neuroeducação pela Universidade Estácio de Sá;

Pós-Graduada MBA – Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas; Pós-Graduada

Especialista em Turismo com ênfase em Projetos Turísticos pela Universidade Gama Filho; Pós-

Graduada Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade Gama Filho; Pós-

Graduada em Gestão da Psicologia Organizacional pela Universidade Integrada Grande Fortaleza;

Bacharel em Análise de Sistemas pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP).

Atualmente sou professora especialista do CEUNSP, atuando principalmente nos seguintes temas:

Hotelaria, Gastronomia, Eventos, Turismo, Administração de Empresas, Sistemas de Informação,

Ciências Contábeis, Gestão Financeira, Gestão da Qualidade e Segurança do Trabalho. Desenvolvi

trabalhos de consultoria e treinamento voltados à área administrativa e financeira e de gestão de

pessoas. Atuei e atuo como palestrante e possuo fluência na língua inglesa. Gerenciei

empreendimentos hoteleiros, assim como desenvolvi e desenvolvo trabalhos de consultoria.

Poderia definir e explanar sobre a neurociência e seus principais objetivos?

EB – A neurociência, ciência que nos revela como o cérebro produz o nosso

comportamento, vem invadindo as organizações nos treinamentos corporativos para apresentar à

sua cúpula gestora os benefícios que ela – neurociência – pode trazer ao ambiente organizacional,

que vai desde a melhoria dos relacionamentos à tomada de decisões, eliminando os conflitos

negativos desnecessários e contribuindo até no aumento da produtividade.

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O que a motivou a iniciar o trabalho como coach? Qual seu olhar neurocientífico a

respeito das causas e efeitos do coaching? Como alia a neurociência ao coaching?

EB – Considerando a minha experiência na área de RH, assim como o trabalho que

desenvolvo nas organizações com treinamentos corporativos, ficava evidente que os

colaboradores perdiam o foco com frequência durante a sua carreira profissional, além da falta de

competência com habilidades socioemocionais, o que os levava quase sempre para atendimentos

com psicólogo, mas que nem sempre obtinham sucesso com a rapidez desejada. Após conhecer a

metodologia do processo de coaching e identificar a necessidade do mercado, pode-se dizer que

estas foram a principal motivação para iniciar o trabalho como coach.

Como efeito, o processo de coaching auxilia o sujeito a atingir uma meta, lembrando

que para atingir a meta não é o que você tem de fazer, mas o que você deve deixar de fazer. Abrir

mão de velhos hábitos e costumes é muito difícil. Portanto, é nesse momento que o coaching

entra em ação.

A neurociência vem para agregar nesse processo de transformação, ou seja, nessa

mudança drástica de comportamento que ocorre com o coachee (cliente), haja vista que se

desperta nele uma nova forma de ver o mundo para, assim, revolucionar os relacionamentos

interpessoais. Dessa forma, o conhecimento em neurociência interage com o processo de

coaching.

Na sua opinião, qual o fator predominante desse processo?

EB – O fator fundamental num processo de coaching é o comprometimento por parte

do coachee (cliente) em realizar todas as metas traçadas.

Como definiria os papéis e responsabilidades do coach e coachee acerca do objetivo

proposto?

EB – O coach é um profissional que irá auxiliar o coachee a atingir suas metas, haja

vista que o coach não é amigo do cliente, e sim “amigo” da meta do cliente. Com esse olhar, a

responsabilidade do coach é auxiliar o coachee na mudança de comportamento necessária para

que isso seja realizado com sucesso.

Quanto ao coachee, sua responsabilidade está em realmente querer mudar de vida.

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Quando lançamos uma flecha, ou seja, quando “miramos o alvo” em busca de

resultados e conquistas, geralmente esperamos que contextos externos sejam mais

influenciadores e relevantes que os internos. E quando o eu, o consigo mesmo, é na realidade esse

alvo?

EB – Durante todo o processo, o “eu” sempre será o alvo, pois o que precisa ser

mudado não é a situação externa, mas a interna.

Para você, quais os principais motivadores e sabotadores do processo de coaching?

EB – O principal motivador é quando o coachee percebe que, se ele continuar no

caminho que está, será um fracasso. Quanto aos sabotadores, é tudo aquilo (pessoas, eventos,

situações) que faz com que o cliente desvie a sua atenção do foco e passe a dar maior

importância, em detrimento da meta pré-estabelecida.

Você acredita que realmente é possível trabalhar a busca por qualquer meta, seja

ela de qualquer área da vida? Existe algum tipo de restrição para o estabelecimento da mesma?

EB – Desde que o cliente prove que a meta pode ser atingida, qualquer meta pode ser

trabalhada num processo de coaching. Por exemplo, um cliente que recebe em torno de R$ 3 mil

por mês e busca um processo de coaching querendo em seis meses ter em sua conta bancária R$

1 milhão, há a necessidade de apresentar “fatos e argumentos” que provem que isso será possível.

Se sim, então estamos prontos para iniciar o processo. A meta sempre deve ser realista.

Baseada em sua experiência profissional, descreva o case que julga como principal

em que atuou como coach?

EB – Tive a oportunidade de trabalhar com vários casos de sucesso, mas o que mais

levo como experiência foi o de uma cliente que estava com sobrepeso. Ela lidava com a obesidade

desde a infância, o que resultou em sua baixa autoestima. Atualmente, tendo emagrecido mais de

20 kg, faz parte de uma equipe de lutadoras de Muay Thai e disputa campeonatos. Com a

autoestima alta, assumiu cargo de gestão, finalizou uma pós-graduação e passou a ter uma vida

extremamente saudável. O sucesso disso tudo ela mesma atribui ao processo de coaching.

Defina coaching e PNL. Qual o principal objetivo de ambos? É realmente possível

equilibrar as emoções, empregando a união entre coaching e PNL? Quais suas considerações?

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EB – Temos que ser muito cautelosos com o “modismo”. Coaching é um processo

sério, que exige conhecimento do ser humano, visto que o coachee entrega nas mãos do coach

aquilo que ele tem de mais precioso: a sua vida, seja profissional, seja pessoal. Hoje em dia temos

muito marketing em cima da PNL, mas esta é apenas uma das linhas da neurociência. Assim como

a PNL, temos a neuroliderança, a neuroarquitetura, o neuromarketing – enfim, são disciplinas que

se aportam à neurociência. Dentro do processo de coaching pode-se trabalhar com a PNL, mas

apenas se “aventurar” em PNL e não conhecer “ser humano” (comportamento, emoções etc.)

dificilmente trará sucesso às sessões de coaching. Não basta fazer um único “curso” de PNL, é

preciso “estudar” neurociência, ou seja, ser um eterno estudante na área de humanas.

Devido a situações intensas de pressão, estresse e necessidade de alta performance

vivenciadas na atualidade, muitas pessoas tendem a iniciar uma busca por desenvolvimento

pessoal. Nessa busca, muitas vezes, dúvidas surgem em relação a que tipo de ajuda realmente

será eficaz, e algumas pessoas tendem a confundir coaching com terapia. Como descreveria a

diferença entre essas duas vertentes? O que julga importante, para quem busca ajuda, saber para

identificar qual sua necessidade no momento: coaching ou terapia?

EB – A terapia lida com o passado, ou seja, “com o que fizeram com você”. O processo

de coaching lida com o presente e futuro, ou seja, “o que vamos fazer com o que fizeram com

você”. Cabe ao coach essa competência em avaliar se o cliente precisa de terapia ou de coaching,

por isso não podemos nos aventurar com qualquer “coach”, é extremamente necessário conhecer

quem é o profissional, quais são as suas experiências, não apenas profissionais, mas também

“intelectuais”, ou seja, formação acadêmica, instituição em que se especializou como coach, para

então ter o know-how necessário no primeiro diagnóstico.

Quais suas dicas para o alcance do sucesso no processo de coaching?

EB – De um lado, o cliente deve conhecer o profissional, investigar a sua formação e

competência para a aplicabilidade do método. De outro, o coach deve ter uma aliança com o

cliente quanto à conquista das metas.

Algo mais que eu deveria ter perguntado para uma neurocientista e coach?

EB – É muito importante dizer que, quando um coach é contratado pela empresa, todo

o trabalho a ser desenvolvido deve alicerçar-se na missão, visão e valores da organização; caso

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contrário, o cliente será preparado para o mercado, correndo o risco de sair da organização. Hoje

em dia os profissionais de RH não têm esse conhecimento, desconhecem o processo e o que é

necessário para contratar o profissional. Outro erro que o RH comete é apenas visualizar a

experiência de trabalhos anteriores que o coach tem, por exemplo, pois isso não quer dizer que

uma pessoa com 30 anos de experiência como gestor poderá aplicar um processo de coaching.

Aliás, temos muitos desses profissionais no mercado intitulando-se coaches e trabalhando com

aconselhamento. O coach não aconselha o cliente, quem aconselha é o mentor. Então, é preciso

tomar muito cuidado com quem se está contratando e o que a empresa realmente está

precisando.

A partir do resultado obtido com as entrevistas realizadas com dois profissionais de

áreas diferentes, com objetivos e propósitos também distintos, concluímos que o coaching é um

agente causador de efeitos positivos, independente da profissão, busca ou posição hierárquica.

Coaching e RH

Cada vez mais os profissionais de RH ocupam papel fundamental nas organizações.

Eles são responsáveis por áreas de extrema importância em se tratando de capital humano, além

de outras, pois o RH da atualidade ocupa-se e preocupa-se com o negócio como um todo; no

entanto, o prisma é a gestão de pessoas.

Gerir pessoas não é uma tarefa simples, seja qual for o segmento ou porte da

organização, principalmente considerando-se o cenário atual, onde a valorização das

competências comportamentais tem tomado força consideravelmente, pois estas levam um

tempo maior para se lapidar, uma vez que são conquistadas com o autodesenvolvimento; já as

competências técnicas são treináveis e, de certa forma, conquistadas com maior naturalidade,

pois os conhecimentos podem ser adquiridos em treinamentos, palestras, cursos ou através de

livros.

Ao citarmos competências comportamentais, automaticamente deduzimos que a

aposta do RH faz referência ao desejo de alcançar um ambiente corporativo de positividade nos

relacionamentos.

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Essa busca por relacionamentos saudáveis e ambientes de trabalho favoráveis tem

ligação direta com a qualidade de vida em um ambiente corporativo, que influencia diretamente

nos resultados gerados pelas equipes, mesmo porque projetos multíplices e rentáveis necessitam

de equipes engajadas que interajam na busca por um objetivo comum. É por esse e outros

inúmeros motivos que o RH tem utilizado o coaching como uma das ferramentas primordiais no

processo de gestão de pessoas.

As técnicas e metodologias desse processo fortalecem o desenvolvimento do potencial

humano, levando-se em consideração diversas variáveis; podem ser utilizadas como apoio em

treinamentos, para moldar e intensificar capacidades de liderança, correção de determinados

comportamentos, desenvolvimento de competências, reduzir GAPs, focar no alcance de objetivos

de executivos de alto nível, onde heads são treinados através do coaching executivo, e outra série

de possibilidades.

O coaching é um recurso multidisciplinar sem restrições e deve ser utilizado sempre

que se busca o êxito, o aprimoramento de alguma característica, como objetividade,

adaptabilidade, persuasão, oratória, flexibilidade, relacionamento interpessoal, tolerância.

O alinhamento entre o coach e o profissional de RH promove crescimento profissional

e consequentemente resulta no desenvolvimento da organização. De acordo com a revista

Recursos Humanos para Executivos, há 90% de aceitação pelos colaboradores que passam pelo

processo, sendo que estes recebem promoção com maior regularidade quando comparados com

os que não apostaram no processo.

O processo de coaching possui grande importância na gestão de pessoas e impacta

diretamente na estratégia e nos componentes de busca por resultados, sejam qualitativos, sejam

quantitativos, o que afeta todos os setores ao longo do processo. Sendo assim, a tomada de

decisão pela meta a ser trabalhada deve ser analisada com cautela, de forma que se assegurem

tão somente impactos positivos para o coachee, o RH, os demais setores e a organização como um

todo.

Analogia do arbusto

Há aproximadamente um ano eu e minha família nos mudamos para um novo

endereço. Em toda a extensão da rua havia arbustos nas calçadas que limitavam uma residência

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da outra e, desde a primeira vez que os avistei, a primeira reação que tive foi me perguntar se eles

não atrapalhariam a entrada dos veículos na garagem...

O pensamento de meu esposo não foi diferente, chegou a verbalizar que tomaria

providências para retirar o arbusto dali, uma vez que não se tratava de uma árvore e não entendia

a necessidade da plantinha, que só atrapalhava.

O arbusto de poucos galhos, alguns deles ressecados, não possuía flores, e a impressão

que sempre tive ao olhar para ele foi de o quanto era frágil, miudinho... Qual seria sua verdadeira

finalidade, utilidade?

O tempo foi passando, e o pequeno arbusto caiu no esquecimento até que, certo dia,

notei que seus frágeis galhos haviam escurecido consideravelmente e de certa forma aparentavam

mais grossos. Resolvi chegar mais perto para entender o que ocorria e me deparei com um

enxame de abelhas. Eram milhares de abelhas pretas em busca de novas instalações.

Imediatamente liguei para o síndico e expliquei o que estava acontecendo. Pensei em

meus filhos, no perigo que eles corriam, caso aquelas abelhas, por algum motivo, invadissem a

casa. Mal desliguei o telefone, os jardineiros tocaram a campainha da residência para explicar

como seria a execução do serviço. Disseram que a única maneira de solucionar o problema seria

colocar fogo no arbusto, pois, nesse caso, somente a fumaça não ajudaria, pois não possuíam

ferramentas específicas para retirar as abelhas e transportá-las para outro local, e que realmente

corríamos perigo. Cheguei a pensar nas abelhas, na maneira como o serviço seria executado, mas

o instinto materno falou mais alto e aceitei as instruções; deveríamos entrar, fechar todas as

janelas e portas e aguardar a liberação deles para sair do imóvel. Colocaram roupas especiais e

iniciaram o serviço.

Alguns minutos depois, estávamos livres do perigo, mas, ao mesmo tempo, senti certa

culpa quando me deparei com o arbusto todo carbonizado, estava ainda mais miudinho, as poucas

folhas se transformaram em cinzas, e os pequenos galhos, em carvão. Logo deduzi que, se até

aquele momento o pequenino não havia ainda produzido flores, agora então seria impossível. Fui

mais além e tive certeza de que morreria, que não resistiria ao tão sofrido e doloroso

procedimento.

Realmente fiquei penalizada, pensei por mais alguns dias no que havia acontecido e,

depois, o assunto caiu no esquecimento.

As atividades diárias são inúmeras, nem sei quanto tempo passei sem ao menos olhar

para aquele arbusto, que sempre esteve ali, em frente à minha casa.

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Certo dia, em uma das saídas diárias, algo me chamou atenção, olhei na direção da tão

frágil plantinha e mal pude acreditar... flores? Sim, eram flores, flores na cor rosa, com alguns

pontinhos vermelhos. Os galhos não eram mais carvão, as folhas não eram mais cinza... Os galhos

estavam saudáveis, as folhas estavam verdinhas e as flores eram vistosas, muitas flores no

arbusto, que ainda era pequenino, mas que para mim nada mais tinha de frágil...

Iniciei minhas reflexões sobre o que havia acontecido, o processo por que ele havia

passado, galhos em carvão, folhas em cinza... e agora flores? O pequenino nunca havia produzido

flores antes... e agora flores? De onde veio tanta resistência? Superação?

Realmente iniciei alguns questionamentos em meu pensamento. Não entendia como

aquilo era possível, até que comecei a comparar o que havia acontecido com a plantinha com o

que de fato acontece em nossas vidas. Tudo tem um propósito!

O que houve com a plantinha é que o acontece muitas vezes em nossas vidas, temos

tudo para produzir flores: raiz, galhos fortes, folhas verdinhas, e ainda assim nos sabotamos por

um motivo ou por outro, por uma situação, por uma tentativa que não deu certo – enfim,

fechamo-nos para as possibilidades e imaginamos que não somos capazes de produzir o que de

fato podemos produzir.

Passamos a maior parte de nossas vidas nos deixando levar por crenças limitantes e

pensamentos negativos que impedem o sucesso, o crescimento. Passamos a maior parte do

tempo julgando comportamentos alheios, preocupando-nos com pormenores. Mergulhamos em

uma imensidão egocêntrica desequilibrada e esquecemos que devemos nos amar e corrigir nossos

GAPs, antes que “alguém, ou alguma situação, em algum momento da vida, nos coloque fogo”,

para que, enfim, possamos nos dar conta de que somos capazes de produzir flores.

Em nenhum momento fui em busca de saber que tipo de planta era aquela, levantava

apenas julgamentos a respeito dela. Somente depois do episódio doloroso pelo qual ela passou

resolvi pesquisar a seu respeito e foi aí que descobri que se tratava de uma caliandra, muito

utilizada como cerca viva, que tem a função de limitar os terrenos, as residências, e ao mesmo

tempo embelezar e compor o paisagismo da rua. E assim somos, na maior parte do tempo,

indiferentes ao que acontece dentro de nós mesmos, indiferentes às nossas capacidades; na

maioria das vezes, somente buscamos ajuda, alternativas, depois de passar por situações

dolorosas.

De todas as reflexões que pude levantar com esse fato, o que mais impactou foi que

muitas vezes precisamos literalmente “queimar” tudo aquilo que nos impede de ser felizes, que

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existem procedimentos dolorosos pelo qual passamos em nossas vidas, sejam eles inesperados,

sejam provocados, momentos em que chegamos a imaginar que não iremos resistir, da mesma

maneira que tive a certeza de que a plantinha não resistiria, mas que muitas vezes são necessários

para que a transformação positiva seja possível: de um arbusto que passa despercebido para um

que produz flores!!!

Ao mesmo tempo que certas situações nos fazem sentir dor, elas também nos levam a

buscar novos caminhos, alternativas, que talvez não buscássemos se estivéssemos em nossa zona

de conforto.

Somos capazes de vencer obstáculos, superar dificuldades, vencer a dor, começar de

novo, resgatar aquilo que nos faz feliz!

E assim é o processo de coaching, um forte aliado que nos proporciona descobertas e

nos impulsiona rumo a novas conquistas, desde que estejamos dispostos a nos “molhar”

verdadeiramente na chuva de possibilidades que ele proporciona.

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“O primeiro passo para a mudança é a aceitação interior de que ela só será possível

quando se estiver inteiro, aberto e disposto a vivenciar um conjunto de possibilidades e

transformações” (Mônica dos Reis Tomaz).

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Sobre a autora

Psicóloga, profissional de Recursos Humanos, Life e Executive Coach, aprovada e

reconhecida internacionalmente pela SLAC Hereby and IAC, Analista Assessment DISC, com quinze

anos de vivência em desenvolvimento do potencial humano, políticas de Recrutamento e Seleção,

talentos, consultoria em RH. MBA Internacional em Gestão de RH com ênfase em DO, pós-

graduada em Gestão Empresarial, extensão em Psicologia do Trânsito, cursando atualmente

especialização em Psicologia do Esporte.

Contato: [email protected]

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Capítulo 2

ATRAIR E CONECTAR

Recrutamento e Seleção

DAYANA MORI PEREIRA

O trabalho de recrutar e selecionar é bem antigo, remota à época do exército romano,

que procuravam recrutar os melhores guerreiros para suas batalhas. Desde então, ao longo da

história, ter os melhores talentos ao lado tornou-se uma das questões mais importantes para as

empresas e para o mundo coorporativo, mas e o candidato?

Ao contrário dos anos anteriores, as duas últimas décadas mudaram a maneira de

entendimento entre empresas e colaboradores. Atualmente os candidatos não acreditam mais nas

promessas das companhias de recompensar e reconhecer o seu trabalho ao longo do tempo. Ou

seja, o colaborador pode até amar a empresa em que se encontra, mas mantém o seu currículo

atualizado através de ferramentas online e sempre está com “um olho no peixe e o outro no gato”.

Sendo assim, as empresas não estão mais no comando, o candidato passou a ser um

cliente e, como tal, exige respeito pelo seu tempo, transparência nas informações concedidas,

atenção em todo o seu processo de contratação, entrevistadores preparados, anúncios de vagas

que o inspirem a trabalhar nelas, feedback em todo o processo e benefícios justos que respeitem

seus esforços e seus talentos.

Pensando nisso, o que o futuro aponta para as novas técnicas e ferramentas dessa

missão tão importante de Recursos Humanos, que de fato é a porta de conexão entre empresa e

colaborador, além de visar muito mais que apenas os melhores talentos?

Em 2014 e 2015, a Deloitte conduziu uma pesquisa que foi considerada uma das

investigações mais amplas sobre as tendências e desafios globais de Recursos Humanos, da qual

participaram mais de 2.500 respondentes (entre líderes de negócios e executivos de Recursos

23

Humanos) de mais de 90 países. Foram seis meses de trabalho com uma equipe global, com o que

foi possível cobrir todas as geografias e a maioria das indústrias.

No quesito Recrutamento e Seleção eles apontam como principais tendências os

seguintes pontos:

Necessidade de revisitar os processos de aquisição de talentos;

adoção de ferramentas analíticas (megadados e big data);

em diversidade, ir além do cumprimento da exigência;

ir além da retenção.

Vamos falar um pouco sobre cada um deles e entender como os profissionais de

Recursos Humanos podem contribuir com essas mudanças e se preparar para elas, além de

abordar também o perfil do recrutador moderno.

Necessidade de revisitar os processos de aquisição de talentos

Os processos de recrutamento e aquisição de talentos estão passando por uma rápida

interrupção em decorrência das ações das mídias sociais, marca dos empregadores e uma nova

visão de carreira. Com essa guerra por talentos cada dia ganhando mais força, as empresas estão

muito preocupadas em cuidar de sua reputação e do marketing da empresa e em seguida fazer o

marketing das vagas.

Redes e mídias sociais – As mídias sociais estão cada vez mais interativas e a cada ano

somos apresentados a novos aplicativos e novas ferramentas.

Na pesquisa da consultoria Michael Page em abril de 2011, as mídias sociais são a

preferência dos jovens executivos, mas também são usadas por 48% dos profissionais com mais de

40 anos para procurar um novo emprego. Segundo o levantamento, 65% dos profissionais com

idade entre 26 e 30 anos preferem as redes sociais e os sites para procurar informações sobre

oportunidades de carreira. Como podemos ver a seguir:

24

Observamos neste estudo que grande parte dos indivíduos que estão em busca de

oportunidades se encontram presentes nas redes sociais (Twitter, Facebook etc.). Em segundo

lugar, ainda dentro do universo online, as buscas acontecem através dos sites de emprego

(LinkedIn, Vagas.com, Monster, InfoJobs, sites da empresa e outros).

Esses sites de empregos precisam ser fáceis e simples, envolvendo novas tecnologias e

dispositivos móveis. O candidato não precisa ter computador ou ir a uma lan house; ele pode

fazer o cadastro do seu currículo ou a pesquisa de vagas em seu tablet ou smartphone. Se o site de

carreira da empresa não for otimizado, poderá perder talentos.

É o que comprovamos neste estudo da Cisco Internet Business Solutions Group (2012),

que mostra que as pessoas estão cada vez mais conectadas através de seus aparelhos eletrônicos

e os utilizam para interagir:

A caminho de um mundo cada vez mais conectado

Fonte: Cisco Internet Business Solutions Group e PNAD, 2012.

25

Aqui notamos que as pessoas buscam por recursos que atendam à demanda no

mundo online e, como candidatos, necessitam de sites de empregos e de busca que estejam

preparados e disponíveis em seus aparelhos eletrônicos. Além disso, não basta estar disponível, é

necessário ser otimizado, simples e interativo para que o profissional coloque todas as suas

informações sem desistir de completá-las.

E se falamos de agilidade e interatividade não podemos deixar de falar dos grupos

sociais que a cada dia estão ganhando mais força e são uma ótima maneira de pulverizar a vaga e

atrair rapidamente o perfil do candidato buscado. Atualmente existem grupos específicos de todas

as áreas e segmentos, e a postagem de uma vaga leva minutos para ser compartilhada.

Estar conectado/antenado com as oportunidades que o mercado oferece faz com que

os profissionais que estão em busca de oportunidades (ativos) e aqueles que não estão (passivos)

tenham conhecimento daquilo que cada empresa oferece, tornando-se atrativa ou não. Para isso

precisamos entender como as empresas vão fazer para atrair.

Marca dos empregadores e nova visão de carreira – Em 2007 foi feita uma pesquisa

nos Estados Unidos que mostrou que os empregadores gastam mais de 250 bilhões de dólares por

ano para localizar, contratar e manter profissionais qualificados, porém apenas uma parte do

processo (anúncio de ofertas de emprego) custou 20 bilhões de dólares, em nível global. Ou seja,

até então a visão ainda era muito focada em contratar e manter, mas não em vender a imagem e a

oportunidade para os candidatos.

O employer branding, difundido na Europa e EUA desde os anos 1990, é um conceito

de marketing que foi incorporado pelos Recursos Humanos. É o processo de promoção da

empresa que tem como objetivo posicioná-la de forma atrativa como empregadora.

Para que uma marca empregadora seja sólida, ela precisa estar pautada em algumas

dimensões como:

Benefícios funcionais: recompensas concretas de trabalho na empresa, como plano

de saúde, local de trabalho limpo e seguro, salário.

Benefícios emocionais: recompensas que não são concretas: status, orgulho,

missão, satisfação no emprego, pertencer a uma “equipe vitoriosa”, colegas.

26

Razões para acreditar: são as validações das afirmações dos colaboradores, como,

por exemplo: “Disseram-me que a empresa XY é uma empresa maravilhosa para se trabalhar, pois

eles sabem como investir nos empregados e valorizá-los”.

Além disso, ela conta com os seguintes passos:

Entender que o conceito da marca é muito mais que um logotipo e, sim, um

conjunto de atributos e sentimentos que diferem o negócio ou sistema dos outros.

Entendimento do DNA da marca: conferir as garantias, distinguir atributos ou

congregar pessoas. Aqui é importante alinhar o planejamento da marca com o planejamento

estratégico, além de contar com a figura do presidente da empresa como embaixador da marca e

dos valores.

Definir o Employment Value Proposition (EVP – proposta de valor aos empregados):

é uma proposta de valor com os atributos que distinguem o emprego da sua empresa em relação

às outras no mercado nacional e/ou mundial.

Validar o EVP e comunicá-lo de forma eficaz entre os devidos públicos,

customizando sempre que necessário o EVP global.

Monitoramento de métricas que comprovem se a estratégia foi bem-sucedida.

O branding da empresa não é uma questão de a empresa ser grande ou pequena;

todas as empresas já o possuem, querendo ou não. Ele está presente desde o dia em que o

candidato entra na empresa até o seu desligamento. Ou seja, é a sua reputação, dentro e fora da

organização. Aqui, neste caso, a área de Recursos Humanos junto ao board e a gestão decide se

gerencia ou a omite. É o ponto fundamental para encontrar, contratar e manter os profissionais

em sua empresa.

A marca do empregador descreve legivelmente a experiência, muito parecido com

uma marca de consumidor. Da mesma forma que os profissionais de marketing atraem os

consumidores para uma marca de produto atraente, as empresas atraem candidatos com uma

marca que os fascine. O que se manifesta no inconsciente do candidato é algo maior do que

qualquer propaganda de recrutamento pode conquistar: é uma experiência.

Atualmente, os profissionais comparam uma empresa com a outra, e essa comparação

está fortemente influenciada pela marca da empresa.

27

Em 2013 a Universum realizou uma pesquisa para identificar as empresas mais

atraentes para se trabalhar. Foram entrevistados 200 mil estudantes universitários das doze

maiores economias globais: Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França,

Índia, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia. Abaixo o ranking segundo a opinião de estudantes de

cursos de Engenharia e da área de negócios até a décima posição:

A empresa Google está em primeiro lugar entre as empresas mais atrativas para se

trabalhar e também faz parte das marcas mais valiosas (2° lugar), segundo pesquisa feita pela WPP

e Millward Brown em maio de 2015.

O Google é uma empresa que representa muito bem no Brasil e no mundo o poder

que o employer branding fez e continua fazendo para seus colaboradores. A empresa oferece

cursos gratuitos, mobilidade de trabalhar em casa, comida à vontade, horário flexível e outros

benefícios. Ela busca a base de talentos do Vale do Silício em todos os outros lugares em que

atuam (os melhores). A marca empregadora vai mudando conforme a empresa cresce, mas o

encantamento de trabalhar com os melhores é um dos principais pontos para a sua marca

empregadora desde o início.

Quando pensamos em marca empregadora, vemos que ela será a tendência de como

manter os talentos da empresa e como atrair os melhores do mercado. Segundo o relatório

Employer Branding Global Trends, uma boa estratégia de employer branding reduz em 33% o

28

custo de recrutamento; melhora a qualidade dos candidatos em 33%; aumenta o engajamento em

47% e a retenção em 41%. Ou seja, a implementação da metodologia da marca empregadora

mostra sempre retornos positivos para o investimento realizado.

Desta forma, investir na marca como atrativa é uma forma de agregar valor

competitivo para a empresa e lutar da melhor forma pelos melhores talentos que há no mercado

e no mundo. Aliás, todas as empresas querem ter seus melhores guerreiros e ganhar suas batalhas

diárias, não é mesmo?

Bom, agora que entendemos melhor a importância da marca e como as empresas

podem contribuir e posicionar-se, precisamos entender como as empresas sabem se estão bem

posicionadas e se estão atuando de forma eficaz no mercado.

Resposta: através de dados (megadados e big data).

Adoção de ferramentas analíticas (megadados e big data)

A parte analítica é uma nova área de atuação para os Recursos Humanos, com a

emissão de relatórios de dados que sejam mais focados no entendimento do mercado de talentos

e no público-alvo.

O mais importante aqui é tentar entender como e o que faz com que os profissionais

busquem as empresas. Assim, a ferramenta analítica é fundamental, pois falará para

Recrutamento e Seleção como a marca empregadora (employer branding) está se saindo. Quanto

mais informações melhor, garantindo que a mensagem está sendo efetiva e gere os resultados

esperados.

Precisamos, porém, entender que ferramenta é essa e como ela pode ajudar as

empresas a entender melhor o que está acontecendo e antecipar o que vem por aí no futuro de

Recursos Humanos, principalmente em Recrutamento e Seleção.

O big data é o conjunto de softwares que fazem análises complexas a partir de grandes

bases eletrônicas de dados. É um termo relativamente novo e ao mesmo tempo velho, teve

origem em 2005 com o Google, mas foi em 2008, com a equipe do Yahoo!, que a plataforma ficou

mais conhecida.

29

Quando pensamos em big data pensamos na tradução ao pé da letra da palavra, ou

seja, “grandes dados”, uma grande quantidade para ser analisada. O termo, no entanto, é muito

mais abrangente e tem como base os três Vs que são:

Volume: está relacionado a uma grande quantidade de dados que temos dentro e

fora da empresa.

Velocidade: a cada segundo muitos dados e informações são criados na intranet e

muitos deles podem ser interessantes para a empresa.

Variedade: o dado (informação) pode ser o compartilhamento de um texto em uma

rede social, um post num blog, um review em um site de e-commerce.

Com a junção desses três pontos, é possível analisar praticamente tudo que é público,

envolvendo dados estruturados, no caso estruturas de armazenamento daquele contexto, e

também dados não estruturados, como imagens, vídeos, áudios e documentos.

O analítico, até chegar ao big data que conhecemos atualmente, sofreu muitas

alterações, como podemos observar neste quadro de evolução da Delloite (2012) que define as

ondas da análise de negócios:

Desta forma, notamos que de 1970 a 1980 as empresas começaram a aderir ao

marketing dos seus consumidores em suas análises. Isto levou a uma tremenda explosão no CRM

30

e nos sistemas de análises de vendas, que hoje se transformou em uma enorme indústria de

segmentação de clientes e análise de marketing. Atualmente, devido à recessão global e aos

desequilíbrios de talentos no mundo, as empresas estão focando em trocar seus sistemas antigos

para ajudar a aplicar raciocínios analíticos em Recursos Humanos e em talentos. Portanto, o big

data se transformou em uma das ferramentas principais dentro do RH estratégico.

A melhor maneira de aproveitar o big data é ter ferramentas especialmente

preparadas para lidar com grandes volumes de dados, de forma que toda e qualquer informação

possa ser encontrada, combinada e aproveitada de maneira rápida e simples. O big data é o

melhor aliado para aumentar a produtividade e a assertividade na área de Atração e Seleção,

utilizando tecnologias que permitam realizar pesquisas das informações de milhões de candidatos,

como se faz em plataformas inteligentes como Google, Yahoo!, Bing, Baidu e outros.

Algumas ferramentas como Vagas.com e Elancers.net permitem aos recrutadores

aproveitar o poder do big data sem precisar ter conhecimentos especializados de TI e extração de

dados, já que buscam candidatos a partir de suas informações curriculares combinando palavras

de maneira simples e fácil para identificar os candidatos que devem passar para a fase de análise

mais detalhada.

Ao criar bancos de currículos exclusivos e de seus funcionários, as empresas podem

agregar informações aos currículos e aperfeiçoar os processos virtuais de seleção, algo impensável

de se fazer quando lidamos com informação em e-mails, em papel, em sites de empregos ou em

redes sociais. Além disso, quando um candidato coloca ali seu currículo, ele já está fazendo uma

opção pela marca, daí a importância dessas bases exclusivas de currículos.

Aqui também a importância dos dados sobre os candidatos fará com que a empresa

tenha sempre um pipeline de candidatos, adiantando assim as contratações e antecipando

tendências de como eles estão se movimentando e que perfil eles possuem.

Desde 2012 a empresa Votorantim vem fazendo um trabalho com a ferramenta de big

data. Para acelerar o processo resolveu introduzir um software capaz de processar de uma só vez

o perfil de 12 milhões de profissionais existentes na rede social do LinkedIn. A triagem permite

escolher perfis específicos por meio de trinta filtros, como trajetória acadêmica, áreas de

interesse, idiomas fluentes e habilidades. Além disso, o sistema permite obter informações

demográficas da própria base de funcionários do grupo, de quais empresas vieram e para onde

vão os que deixam a companhia.

31

Outra empresa pioneira é o Google. Em 2010, depois de alguns levantamentos e

análises, ao cruzar informações sobre as contratações mais bem-sucedidas, a empresa verificou

que o número ideal de entrevistas a fazer antes de contratar um funcionário é quatro, dentro de

sua cultura.

Sendo assim, munidos de informações e preparados com as ferramentas adequadas, o

departamento de Recursos Humanos estará pronto para tomar decisões mais assertivas e

garantirá o sucesso da marca da empresa em longo prazo.

Esse não é, porém, o único desafio de Recrutamento e Seleção no futuro. Não bastará

procurar mais rápido, identificar os talentos e seus comportamentos. O desafio será também

incluir, ou seja, incluir diversidade no dia a dia.

Em diversidade, ir além do cumprimento da exigência

Apesar da contratação de diversidade ser um direito, ainda existem muitas empresas

que, por falta de conhecimento e resistência, não contratam esse tipo de mão de obra.

A Lei da Cota, a Lei 8.213, de 1991, foi criada para obrigar as empresas com cem ou

mais funcionários a reservar de 2% a 5% dos seus cargos para pessoas com deficiência: até 200

empregados, 2%; de 201 a 500, 3%; de 501 a 1.000, 4%; acima de 1.000, 5%. Ou seja, faz 23 anos

que as empresas deveriam contratar, mas relutam, relatando vários argumentos.

O Caged (Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados), que antes controlava os

dados da empresa pelo sistema, nos dias de hoje envia fiscais nas empresas para pessoalmente

conferir se as cotas estão preenchidas e se o profissional está de fato atuando na função para que

foi contratado. Se algum dado não conferir, a empresa é multada na hora. As multas variam de R$

1.812,87 a R$ 181 mil.

A questão de ir além do cumprimento da cota ainda é pouco praticada na maior parte

das companhias. Ser e ter a diversidade como um dos pilares da empresa deve se tornar parte da

sua estratégia.

Quando se fala em inclusão e diversidade, uma das grandes discussões em RH é como

incluir os portadores com deficiência (PCDs). Em 2015, a consultora na área de inclusão de pessoas

com deficiência e socióloga Marta Gil elaborou um plano, passo a passo, de como as empresas

devem agir para incluir de forma eficaz, suave e eficiente. É o que observamos a seguir:

32

Anúncios claros, diretos e objetivos: em geral, as empresas anunciam no jornal que

querem contratar um deficiente, não um profissional. Este é o primeiro erro. Como o mercado de

trabalho para pessoas com deficiência (PCD) está aquecido e as ferramentas de fiscalização

eletrônica estão de olho no cumprimento das cotas, uma PCD com currículo para exercer um

cargo, como qualquer outro profissional, não vai aceitar um posto que nada tenha a ver com sua

formação. Para a empresa também não compensa um funcionário em cargo errado, porque isso

gera rotatividade e custa caro. Portanto, mudar os canais tradicionais para buscar profissionais

pode ser uma boa saída. Cursinhos pré-universitários, cursos do EJA, escolas do Senai, Sesi, Senac

ou Sesc e ETECs podem ser boas opções. Paralelamente, construir rampas e fazer benfeitorias nas

calçadas internas da empresa são providências boas para todos os funcionários – com ou sem

deficiência.

Atenção ao exame admissional: o candidato com deficiência passa por todos os

processos seletivos até ganhar a vaga, mas pode ser reprovado no exame médico. Para evitar esse

constrangimento, o RH precisa conversar com o médico do trabalho e explicar que vai contratar

uma pessoa com deficiência. Além disso, é recomendável chamar o pessoal da Segurança do

Trabalho para que toda a equipe – RH, médico do trabalho e segurança – seja treinada para lidar

com a PCD. Em caso de emergência, cada funcionário da equipe precisa saber o que e como fazer

para ajudar a pessoa.

Atividades de integração: o momento de apresentação da empresa é comum a

todos os novos quadros. Nessa hora, o RH precisa estar atento a cada uma das pessoas com

deficiência para que seja atendida em suas necessidades. Um intérprete de Libras deve estar

presente, se houver algum surdo. Da mesma forma deve haver descrição minuciosa sobre o

cenário para o cego se situar; se houver algum vídeo, fones de ouvido devem descrever o que

passa na tela. A ideia é que a inclusão permeie as atividades da empresa desde o primeiro

momento para que todas as PCDs se sintam confortáveis e familiarizadas com o ambiente de

trabalho.

Gestão, retenção e promoção do pessoal: o RH precisa ficar atento à avaliação do

desempenho funcional dos colaboradores. A produtividade de cada PCD pode ou não ter avaliação

específica. Mas, se o RH perceber que é importante, deve conversar com o supervisor ou com o

gestor, em caso de retenção ou promoção do quadro. Muitas empresas preferem selecionar o

pessoal interno quando há possibilidade de promoção. Nesse caso, a comunicação deve ser clara e

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acessível para que todas as PCDs tomem conhecimento e se qualifiquem, se puderem e quiserem.

O RH precisa estar atento para que o plano de carreira seja igual para todos. Em caso de demissão,

deve aproveitar a oportunidade para pesquisar se o funcionário pode ser realocado em outro

departamento. Se não se adaptou em uma seção, a PCD poderá ser aproveitada em outra?

Atividades de sensibilização e orientação para as chefias e colegas de trabalho também são

importantes. Se o deficiente se sente bem tratado, a tendência é permanecer.

O recrutamento e a seleção de diversidade esperados para o futuro é que, além de a

empresa se posicionar como uma marca “diversa e inclusa”, proporcione um ambiente mais

colaborativo e motivador, uma vez que a companhia que realiza esse tipo de trabalho permite que

seus colaboradores sejam reconhecidos, mesmo com as suas limitações. O reconhecimento da

diversidade aqui seria uma questão da aceitação da democracia, que é um dos fatores mais

importantes para o aprimoramento da sociedade, com novos padrões de convivência e relações

mais justas.

Além do fortalecimento da marca, o RH que consegue discernir e se preocupa com o

bem-estar da diversidade traz um ótimo beneficio para a empresa: a redução do turnover. O

absenteísmo também diminui significativamente quando o RH cuida das informações de

aprendizagem e da reciclagem pessoal. Desta forma, o investimento que as empresas fazem

inicialmente com programas de inclusão acaba se dissipando, uma vez que aumentam as

retenções. Isso tudo resulta na boa qualidade do clima empresarial, que tem como resultado a

atração de candidatos da diversidade para a empresa.

Outra forma de fortalecer a diversidade é apoiar a parceria com instituições

comunitárias, entidades que apoiem causas (PCD, negros, mulheres nas lideranças, entre outros),

o que cria um vínculo fortalecedor da marca através da aliança com as parcerias.

A empresa Great Place to Work anualmente pesquisa mais de seis mil empresas que

empregam mais de doze milhões de funcionários espalhados por 53 países, e a pesquisa dá um

índice muito importante: as melhores empresas para se trabalhar possuem índice de afirmativas

de concordância superior a 96%, como: “as pessoas são bem tratadas independentemente de sua

cor ou raça, sexo ou opção sexual”. Isso demonstra que companhias que possuem práticas e

condutas que estimulam a inclusão e respeitam a diversidade geram sentimento de confiança.

Aqui é importante ressaltar também que as diversas gerações que temos hoje no

mercado de trabalho: Baby Boomers (1946-1964), Geração X (1965-1979), Geração Y (1980-2000)

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e agora Millenium (2000-atual), devem ser vistas como um dos vários aspectos da diversidade. Ou

seja, na verdade, a multiplicidade deve ser aproveitada para de fato estimular a diversidade.

Trabalhar junto e oferecer a oportunidade de alavancar as melhores qualidades de

cada geração ajudam a construir um ambiente de trabalho que aproveita completamente os

talentos disponíveis.

Além disso, as empresas que têm como premissa a diversidade como chave para a

criatividade, a inovação e o aprendizado constante com os erros apresentam maiores indicadores

que seus concorrentes.

Depois de ter mais informações sobre a diversidade e como de fato incluir, o que

faremos para engajar?

É o que veremos a seguir.

Ir além da retenção

De acordo com a pesquisa, a questão de buscar por maior retenção e engajamento é

considerada a segunda maior prioridade em gestão de pessoas. Os futuros talentos buscam

autonomia, propósito, desenvolvimento e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Sendo

assim, para ser um ímã de atração de talentos, as companhias precisarão mudar o sistema de gerir

pessoas e oferecer isso como pacote de benefícios e marca empregadora.

Aqui gostaria de apresentar uma nova ferramenta de retenção na área de Atração de

Talentos: a stay interview, sem tradução ainda para o português, mas que seria algo como

“entrevista de permanência”.

Muitas empresas acreditam que a melhor maneira de descobrir o que podem fazer

para que os colaboradores fiquem na organização é a “entrevista de desligamento”. Porém esta

pode ser tarde demais. Sendo assim, a stay interview ocorre antes que haja qualquer indício de

que o empregado está prestes a sair da empresa. Ela ajuda a entender por que os funcionários

querem ficar e como podemos (RH e gestão) contribuir para reforçá-las.

Aqui precisamos entender por que ela é julgada como uma ferramenta eficaz de

retenção ao longo dos anos e quais são seus benefícios:

35

Estimula os colaboradores: a maioria dos funcionários fica animada simplesmente

pelo fato de que a organização está preocupada com o seu futuro e que o seu gerente teve tempo

para consultá-los.

Personalizado: ao contrário das pesquisas de engajamento e outras ferramentas de

retenção e clima, geralmente focadas em um grande número de funcionários, esta abordagem é

personalizada para um único indivíduo, identificando os seus desejos.

Limitados aos funcionários-chave: eles se preocupam somente com seus

funcionários-chave, pois acreditam que somente eles têm o risco de sair; aqui concentramos o

trabalho do gestor e o tempo que ele tem que se dedicar à retenção.

Elaboração de ações: nas stay interviews as partes são encorajadas a identificar

ações que podem melhorar a experiência dos funcionários e ajudar a eliminar quaisquer gatilhos

que possam frustrar e impactar negativamente os negócios da empresa.

Baixar as emoções do empregado: ocorre antes que o empregado tenha tomado a

decisão de deixar a empresa. Desta forma, as emoções do empregado (e do gerente) são mais

baixas.

Menos pressão do tempo sobre o gerente: porque o empregado não está fazendo

uma entrevista de emprego, há menos pressão sobre o gerente para resolver imediatamente os

problemas de retenção identificados.

Foco no positivo: a maior parte da entrevista é focada em identificar e, em seguida,

reforçar os fatores positivos que o trabalhador vê em seu trabalho. Embora alguns fatores

negativos possam ser identificados, eles não são o foco primário da entrevista.

Não necessita uma formação específica: a maioria dos gestores pode realizar com

sucesso uma stay interview sem nenhum treinamento formal. Um simples “como fazer”

geralmente é tudo o que um gerente precisa para realizar com sucesso suas entrevistas.

Custo baixo: essa ferramenta não necessita de um orçamento. Na maioria dos

casos, uma hora do gerente e o tempo do funcionário são os únicos principais custos.

Dessa forma, para influenciar a atração de novos colaboradores e reduzir a

rotatividade de seus funcionários, seus gestores devem medir a sua satisfação e engajamento

continuamente. As stay interviews são uma entrevista em que os colaboradores têm a

possibilidade de falar da sua posição atual, o que ajuda, e muito, no índice de rotatividade de

funcionários.

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Mas para isso precisamos entender qual seria o melhor momento para se fazer uma

stay interview.

Os especialistas recomendam fazê-las pelo menos uma vez por ano em frente à

avaliação de desempenho do empregado, e duas vezes no período crítico durante o qual a

empresa experimenta atrito com novos contratados (por exemplo, os primeiros 40-50 dias para

cargos operacionais, ou 90-180 dias para cargos específicos).

Em termos de métricas, esse tipo de entrevista pode complementar métricas

secundárias e terciárias, tais como pesquisas de satisfação dos funcionários e entrevistas de saída.

Como tal, podem ser parte essencial de sua estratégia de recrutamento centrada na retenção de

funcionários.

Quando pensamos nas perguntas que devemos considerar, não existe um conjunto

padrão para ser usado nas stay interview. No entanto, é importante limitar o número de

perguntas para terminar a entrevista dentro de uma hora. Aqui apresentamos alguns exemplos de

perguntas que podem ser utilizadas em uma conversa de stay interview:

Qual fator do seu trabalho faz você sair da cama e trabalhar todos os dias?

Qual fator do seu trabalho faz você apertar o botão de soneca?

Qual é sua paixão?

Qual é o emprego dos seus sonhos?

Se você mudasse o seu papel completamente, o que você sentiria mais?

Se você ganhasse na loteria e não tivesse mais que trabalhar, o que você sentiria

mais?

O que você amava em sua última posição e que não está fazendo agora?

O que faz um grande dia no trabalho?

Se tivesse uma varinha mágica, o que seria a única coisa que você mudaria sobre

seu trabalho, seu papel e suas responsabilidades?

O que você acha sobre a sua maneira de trabalhar?

O que está mais incomodando sobre o seu trabalho?

É importante que o RH elabore um guia de como fazer a stay interview, a fim de

desenvolver uma abordagem eficaz que todos os gestores possam seguir. O formato de guia de

uso dá aos gerentes a possibilidade de poder personalizar a abordagem conforme sua própria

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situação. Nele devem estar incluídos os prós e contras, perguntas mais frequentes e respostas, um

diretório de serviços de ajuda, uma lista de possíveis questões e mais importante: uma lista de

ações de retenção aceitáveis deverão estar disponíveis para qualquer gerente para melhorar o

trabalho de um colaborador e minimizar possíveis desencadeadores de retenção.

As empresas que começarem a praticar as stay interviews como parte de sua

estratégia de recrutamento têm que pensar que ela é uma avaliação de relacionamento, pois

permite saber qual é o relacionamento do colaborador com a empresa, a equipe do projeto e seu

gerente e o que está ao alcance (da empresa) fazer para torná-lo melhor.

Desta forma, se as entrevistas de saída e pesquisas de engajamento não estão

contribuindo, o fato de querer adicionar a stay interview à sua lista de estratégias de

recrutamento é uma ótima forma de entender o que está acontecendo na empresa e com seus

colaboradores.

Essa nova ferramenta é importante, porém não podemos deixar de fazer as entrevistas

de desligamento, pois a informação destas nos fala sobre coisas de três ou quatro anos de estadia.

Ou seja, dessa forma, ela seria uma ferramenta complementar.

O conceito de stay interview é simples. Você deve trabalhar periodicamente com os

funcionários-chave para aumentar o número de razões pelas quais eles ficam e para minimizar

qualquer coisa que os frustra e que pode provocar sua saída.

Desta forma, adicionar as stay interviews como ferramenta de atração de talentos

poderá ajudar a empresa a reter funcionários críticos. Além de ser fácil e altamente eficaz, quase

qualquer gestor pode reduzir a sua taxa de rotatividade e salvar o orçamento com a

implementação de um instrumento simples e barato. Ou seja, é uma combinação de

gerenciamento de relacionamento com o cliente e abordagem de pesquisa de mercado. Ao usá-lo,

os Recursos Humanos serão capazes de reter melhor através dos dados mais orientados e

analisados que essa ferramenta proporciona.

Agora que entendemos quais serão os nossos desafios em recrutamento e seleção no

futuro próximo, precisamos entender qual será o perfil esperado pelos recrutadores.

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O perfil do recrutador moderno

Até aqui entendemos como as mídias sociais e as ferramentas analíticas impactam no

dia a dia do Recrutamento e Seleção. Esses profissionais terão que transitar em áreas que até

então não havia necessidade. Cada vez mais serão exigidos a ter conhecimentos sobre áreas que

antes não consideravam.

Em 2014 o LinkedIn (maior rede de negócios utilizada por profissionais), em um dos

seus artigos, apresentou o perfil do recrutador moderno: metade artista e outra metade cientista.

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Como artistas, os recrutadores modernos devem ser:

Promotores de encontros: eles têm um instinto inato para conexões mútuas.

Sabem como estabelecer networking e navegam pelo conjunto de habilidades, contratando

gerente de personalidade, times e cultura coorporativa, fazendo uma combinação perfeita.

Marketeiros: eles pensam sobre trabalho da mesma maneira que os marketeiros

pensam sobre o produto. Pensam sobre seu perfil através da promoção da marca dos

empregadores. Sabem como contar uma ótima história.

Vendedores: eles sabem como construir um bom pipeline, nutrir líderes e fechar

negócios. Possuem habilidades com pessoas e perspicácia em negociação de ambos os lados.

Orientadores de talentos: eles são orientadores confiáveis de seus negócios,

informam a liderança de um item decisivo quanto à tendência de talentos e asseguram a posição

quando as decisões são feitas.

Agora, como cientistas, eles devem ser:

Nerds de dados: eles vivem e morrem pelo seu mantra: “Se você consegue medir,

você pode gerir”. Sabem que números e dados não só vão ajudar a fazer a melhor escolha, como

também a ganhar a confiança dos outros na organização.

Pesquisadores: eles não agem cegamente. Frequentemente tentam explorar

através de suas pesquisas de levantamentos de candidatos, empregos e tendências de habilidades

que os mantenham na competição.

Tecnologistas: eles amam inovações no recrutamento, sabem que ferramentas

trabalham melhor e são mestres quando têm que utilizá-las.

Psicólogos: eles podem ler o candidato e influenciar positivamente suas emoções e

inspirar para que digam “sim!”.

O perfil do recrutador moderno é aquele que, além de entender e gostar de pessoas,

também gosta de pesquisar, ser analítico e muito mais estratégico do que vemos atualmente.

Não bastará ter somente as ferramentas de pessoas, atuar em atração e seleção; terá

que desenvolver habilidades mais parecidas com o marketing, que pesquisa, levanta dados e

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estabelece estratégias para que cada vez mais possamos ganhar espaço e caminhar com as

novidades tecnológicas.

Entrevista com Cecília Pinaffi – Diretora de RH para América Latina do Yahoo!

A pesquisa da Deloitte aponta que as tendências de atração de talentos do futuro

serão: necessidade de revisitar os processos de aquisição de talentos, adoção de ferramentas

analíticas (megadados e big data), diversidade (ir além do cumprimento da exigência), atração (ir

além da retenção). Você atua em uma empresa que fornece serviços de internet (Yahoo!) de

forma Latam e com grande contato com o Vale do Silício. Você já consegue enxergar essas

tendências fazendo parte do dia a dia? Como?

CP – Em parte. A diversidade é um fator importante e temos metas sobre isso, mas a

competência e experiência anterior acabam sendo fator prioritário para a contratação de um

profissional.

Aqui não distinguimos fatores como sexo e idade. Temos profissionais com mais de 50

anos e esse é um fator que nem é analisado na hora da contratação. No entanto, ainda nos

valemos muito do network dos funcionários para recrutar.

Você, além de ser psicóloga, possui MBA em Marketing. Qual é a relação que vê

entre as áreas e como essa visão a ajuda no dia a dia?

CP – A psicologia me ajuda a entender pessoas e o marketing me ajuda a entender

negócios. A faculdade de Psicologia provê uma formação extremamente técnica e deixa de lado

conhecimentos como administração, conhecimento este que mesmo um psicólogo clínico que

queira abrir um consultório precisa ter.

O currículo do MEC ainda é muito defasado em relação aos conhecimentos que

qualquer profissional deve ter, e estudar Marketing aplicado a RH me ajudou a estabelecer canais

mais eficazes de comunicação com os funcionários, alavancando o processo de disseminação de

cultura.

Em seu ponto de vista, qual será o perfil do recrutador moderno e do profissional

de RH no futuro?

41

CP – Olhar para a diversidade, fazer perguntas relevantes e ir além do currículo. Muitas

vezes, por trás de uma história curta em uma empresa, está um processo de venda ou

encerramento da operação no país, o que não necessariamente tem a ver com a competência do

profissional em questão.

Entender as expectativas do profissional e seus interesses vai além de uma entrevista

de 45 minutos, e basear a entrevista em perguntas que atenderão ao que está descrito no perfil da

vaga, sem entender estilo de liderança, cultura e interesses, contribui para contratações

malsucedidas. O recrutador também deve estar mais preparado para respostas sinceras. Aceitar

um “sou ansioso” quando pergunta pontos fracos é perda de tempo para os dois lados. Tachar o

candidato como inadequado porque respondeu “sou desorganizado” também não vai agregar

valor ao processo. É preciso fazer perguntas genuínas e buscar informações relevantes ao

trabalho.

Você acredita que o trabalho de um recrutador é atrair e conectar o profissional

com os valores (EVP) e a marca (employer branding)? Por quê?

CP – Sim, o recrutador é muitas vezes o primeiro contato que o profissional tem com a

empresa. No momento do recrutamento esse profissional é o embaixador da cultura, e não

conhecê-la profundamente pode fazer com que profissionais que não sejam adequados à cultura

passem pelo processo, o que acarreta perda de tempo para ambos os lados.

Qual a mensagem que você gostaria de deixar para o RH daqui a cinco anos?

CP – Repense o que você acredita sobre o que é fazer RH. O mundo é outro, as pessoas

estão diferentes e as empresas querem mais. Em um mundo onde reclamamos de falta de

transparência, esteja preparado para quando alguém o for, faça perguntas pertinentes e busque

respostas em referências diferentes das que sempre buscou. Entenda de marketing, finanças,

processos, estratégia, mas, mais do que tudo, entenda realmente o que é trabalhar com gente.

Não aceite ir fantasiado ao trabalho, não aceite preconceito, não aceite respostas pré-montadas.

As pessoas precisam ter espaço para ser espontâneas, e nós como RH devemos estar preparados

para vivenciar isso.

42

Conclusão

Neste capítulo trouxemos as tendências de Recrutamento e Seleção e as informações

que julgamos de extrema importância nos próximos cinco anos. Passamos por todas as tendências

apontadas para a área e pela mudança do perfil do recrutador moderno.

Aqui é importante ressaltar que, se refletirmos bem, o novo papel e a nova

nomenclatura de Recrutamento e Seleção serão: Atrair (referindo-se à empresa, que deverá

“chamar”, “trazer a atenção para a empresa como um ótimo lugar para se trabalhar”) e Conectar

(neste caso, referindo-se ao candidato, seus valores, aspirações, objetivos e competências, ou

fazer a ligação com o que de fato faz sentido para a pessoa/profissional).

Como profissionais de Recursos Humanos e como recrutadores, não podemos mais

pensar que nossas atitudes e as ferramentas que utilizamos fornecerão resultados simplistas, mas,

sim, que todas as escolhas terão “ação e reação”. Desta forma, fornecerão argumentos para uma

escolha profissional e para a escolha de novos colaboradores dentro das empresas.

Por fim, precisamos pensar como poderemos agregar e como precisamos fortalecer as

nossas bases: networking, grupos de RH, estudos de outras áreas de negócio, participação em

palestras e trocas que farão toda a diferença para estarmos preparados para o que ainda está por

vir.

Porque não basta só atrair pessoas e profissionais, não é?

Tem que conectar!

Referências

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46

Sobre a autora

Experiência de doze anos na área de Recursos Humanos, atuando em empresas

nacionais e multinacionais. Experiência nas áreas de Recursos Humanos Generalista,

Recrutamento e Seleção, Business Partner Latam e Startups. Formada em Psicologia pelas

Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), MBA em Recursos Humanos com ênfase em

Desenvolvimento Organizacional pelo BI Internacional e especialização em Empreendedorismo

pelo Babson College. Atualmente trabalha como Coordenadora de Atração de Talentos da

Riachuelo, coordenando equipes da matriz e Lojas.

Contato: [email protected]

47

Capítulo 3

QUANTO NÓS VALEMOS?

THATIANE BARBOSA

Introdução

Um dos maiores problemas que as organizações de hoje enfrentam é a falta de uma

estrutura adequada de salários. Até porque, se de um lado existe a preocupação em motivar os

empregados com salários compensadores, de outro lado existe a preocupação de situar, num nível

razoável, os custos com o pessoal.

As organizações esperam de seus colaboradores resultados constantes enquanto os

colaboradores esperam das organizações crescimento profissional e financeiro de acordo com

seus resultados. Para isso as empresas precisam ter bons planos de remuneração. Os funcionários

devem cumprir com sua parte de que forma? Capacitando-se, buscando melhoria contínua,

investindo em formações acadêmicas e especializações, deixando de achar que a responsabilidade

de seu conhecimento seja da empresa.

Precisamos entender quais são os itens que compõem a remuneração, conhecer os

critérios do plano para adquirir o conhecimento necessário e aplicar corretamente o pacote desta

remuneração, lembrando que, uma vez que temos um programa de remuneração variável dentro

da empresa, o mesmo deverá apresentar benefícios não só para a empresa, mas principalmente

para o grupo de colaboradores nele envolvido, porque quando mal desenhado ou com metas mal

estabelecidas a falta de interesse em atingir é imediata.

Afinal, para Rigaud (2009) pagar salários é obrigação de qualquer empresário que

mantém em sua organização pessoal trabalhando, mas remunerá-los de forma adequada é

reconhecer os talentos individuais.

48

Desenho do sistema de remuneração

Para construir um plano de remuneração os cuidados devem ser imensos, pois o

impacto que causa nas pessoas e na organização poderá ser muito forte, tanto positivo quanto

negativo. Em um sistema de remuneração podemos oferecer dois grandes desafios: de um lado,

deve-se capacitar a organização para alcançar seus desafios estratégicos; de outro lado, deve ser

moldado e ajustado às características únicas da organização e do ambiente externo que a envolve.

Podemos definir alguns critérios na construção de um plano de remuneração:

Equilíbrio interno x equilíbrio externo: a equidade interna obedece ao princípio da

justiça distributiva, que fixa os salários de acordo com as contribuições ou insumos que os

funcionários intercambiam com a organização. O modelo de justiça distributiva salienta que as

pessoas estarão satisfeitas quando percebem que são pagas equitativamente em relação aos

colegas com trabalho similar. Por outro lado, a equidade externa obedece ao modelo do mercado

de trabalho, que fixa os salários conforme as ocupações similares de outras organizações do

mesmo ramo de atividade.

Remuneração fixa ou remuneração variável: a remuneração pode ser paga em uma

base fixa – através de salários mensais ou por hora – ou pode variar conforme critérios

previamente definidos, como metas e lucros da organização.

Desempenho ou tempo de casa: a remuneração pode enfatizar o desempenho e

remunerá-lo de acordo com as contribuições individuais ou grupais ou pode enfatizar o tempo de

casa do funcionário na organização.

Remuneração do cargo ou remuneração da pessoa: a compensação pode focalizar

como um cargo contribui para os valores da organização ou como os conhecimentos e habilidades

da pessoa contribuem para o cargo ou para a organização. O sistema tradicional privilegia o salário

pela contribuição do cargo e não pelo desempenho do funcionário.

Igualitarismo ou elitismo: a remuneração pode incluir o maior número possível de

funcionários sob o mesmo sistema de remuneração (igualitarismo) ou pode estabelecer diferentes

planos conforme os níveis hierárquicos ou grupos de funcionários (elitismo).

49

Remuneração abaixo do mercado ou acima do mercado: os funcionários podem

ser remunerados em um nível porcentual abaixo ou acima do mercado. Esta escolha afeta os

custos da organização e a satisfação dos funcionários.

Prêmios monetários ou prêmios não monetários: o plano de remuneração pode

enfatizar funcionários motivados através de recompensas monetárias, como salários e prêmios

salariais, ou pode enfatizar recompensas não monetárias, como cargos mais interessantes ou

segurança no emprego. Os prêmios monetários são dados em dinheiro e reforçam a

responsabilidade e o alcance individual de objetivos, enquanto os não monetários reforçam o

comprometimento com a organização.

Remuneração aberta ou remuneração confidencial: os funcionários podem ter

acesso aberto à informação sobre a remuneração de outros funcionários e sobre como as decisões

salariais são tomadas (remuneração aberta), ou esse conhecimento é evitado entre os

funcionários (remuneração confidencial).

Centralização ou descentralização das decisões salariais: as decisões sobre

remuneração podem ser controladas em um órgão central ou podem ser delegadas aos gerentes

das unidades organizacionais. No sistema centralizado, as decisões são tomadas e controladas em

um órgão central, normalmente o Departamento de Recursos Humanos. No sistema

descentralizado, as decisões são delegadas aos gerentes de linha.

Vamos entender a remuneração

Se há algo que ninguém faz é trabalhar de graça; logo, podemos ter como parceiros da

organização funcionários interessados em investir com trabalho, dedicação e esforço pessoal,

aplicar conhecimentos e habilidades, experiências de casas anteriores, desde que recebam uma

retribuição adequada e benefícios que os atendam pelo menos com o mínimo.

Dentre as diversas organizações, temos como principal item da remuneração total a

remuneração básica, que é o pagamento fixo que o funcionário recebe em forma de salário

mensal ou na forma de salário por hora. O segundo item da remuneração total são os incentivos

salariais, que são programas desenhados para recompensar funcionários que ao longo dos meses

ou durante o ano possuem bom desempenho dentro de suas atividades. Os incentivos são

concedidos sob diversas formas, como bônus e participação nos resultados a título de recompensa

50

por resultados alcançados. O terceiro item da remuneração total são os benefícios, quase sempre

denominados remuneração indireta. Esses benefícios são concedidos através de vários programas

(como férias, seguro de vida, transporte subsidiado, refeições subsidiadas etc.).

O programa de recompensas pode ser classificado em: recompensas financeiras e

recompensas não financeiras, que podem ser diretas ou indiretas como segue.

A recompensa financeira direta consiste no pagamento que cada empregado recebe

na forma de salários, bônus, prêmios e comissões; por sua vez, a recompensa financeira indireta é

o salário indireto decorrente de cláusulas da convenção coletiva do trabalho e do plano de

benefícios e serviços sociais oferecido pela organização.

No salário indireto estão incluídos: férias, gratificações, gorjetas, adicionais (que

podem ser de periculosidade, insalubridade, adicional noturno, adicional de tempo de serviço

etc.), participação nos lucros e resultados, horas extraordinárias etc., além dos benefícios

oferecidos pela organização (como alimentação paga pela empresa, transporte, seguro de vida em

grupo etc.).

Já as recompensas não financeiras são compostas pelo orgulho, sentimento de

pertencer, autoestima, reconhecimento, segurança no posto de trabalho etc., e estão ligadas à

satisfação dos funcionários com o sistema de remuneração.

Estamos em um período que as abordagens tradicionais sobre o tema remuneração

têm sido cada vez mais discutidas, os executivos têm enfrentado pressões econômicas para

melhorar a produtividade, aumentar a qualidade dos produtos e serviços e controlar os custos

trabalhistas, e com isso as pessoas estão cada vez mais deixando de ser importantes, mas um

plano de remuneração não tem que ter gente?

Como a remuneração é a principal ferramenta para atrair, reter e motivar os

colaboradores, em contrapartida é o principal custo empresarial e precisa ser administrada com

cuidado. É necessária uma avaliação de vários fatores, antes da divulgação, por exemplo, das

metas que serão contratadas, qual será o ponto a ser atacado, quais os ganhos x despesas, público

que será envolvido, métricas estabelecidas, período de vigência, dentre outros, para que no final o

plano implantado não seja uma piada e um custo para empresa.

A remuneração pode ser influenciada por condições externas ou organizacionais e

pelos próprios empregados, mas os executivos precisam examinar cada um desses fatores antes

de tomar suas decisões sobre remuneração, até porque muitas empresas divulgam um plano sem

51

ter as principais métricas analisadas e depois percebem que de nada valeu todo o esforço, nem

para o colaborador, muito menos para empresa.

Todos os sistemas de remuneração têm um propósito certo? Para responder esta

questão precisamos saber: pelo que queremos pagar? Inicia-se a definição dos objetivos do

sistema de remuneração.

Alguns objetivos são claramente identificados; outros são implícitos, porém ambos

devem dar apoio às estratégias organizacionais.

Alguns dos objetivos dos sistemas de remuneração são motivar comportamentos

produtivos e controlar os custos trabalhistas, ao mesmo tempo que buscam a satisfação das

necessidades e do sentimento de justiça dos empregados e, claro, o impacto financeiro.

Benefícios

A área de benefícios de uma empresa deve destinar-se ao bem-estar dos

colaboradores e na política salarial deve ficar muito claro o que será fornecido a cada categoria de

cargo, a qual pacote terá acesso ou direito.

Benefícios são certas regalias e vantagens concedidas pelas organizações, a título de

pagamento adicional dos salários, à totalidade ou a parte de seus funcionários.

Constituem geralmente um pacote de benefícios e serviços que é parte integrante da

remuneração do pessoal. [...] além do seu aspecto pecuniário ou financeiro, servem para

livrar os funcionários de uma série de transtornos (CHIAVENATO, 1999, p. 271).

Temos alguns benefícios que são exigidos por lei, como, por exemplo: seguro-

desemprego, previdência social e salário mínimo. Muitas empresas oferecem benefícios

adicionais, como planos especiais de seguro (assistência médica, seguro de vida e de invalidez),

previdência privada e outros serviços, como assistência jurídica, títulos de clubes ou creches,

transportes sem descontos ao empregado, benefícios para cuidados com a mulher etc.

Enquanto que os efeitos dos benefícios sobre os custos da empresa são facilmente

calculáveis, sua influência sobre o comportamento dos empregados e equidade é mais difícil de

ser documentada.

52

Os benefícios podem até mesmo ser disfuncionais, porque poucos deles estão

associados ao desempenho. Na verdade, são direitos naturais – são dados aos empregados como

parte das condições do contrato de trabalho (MILKOVICH, 2006).

Os benefícios são socialmente benéficos, mas, se continuarem crescendo, sobrarão

poucos recursos para remunerar os comportamentos de risco e melhorias de desempenho,

necessários para que a organização se mantenha competitiva.

Um objetivo importante das decisões sobre benefícios é influenciar positivamente as

atitudes dos empregados em relação ao senso de justiça deles.

A remuneração não tem apenas como principal objetivo recompensar as pessoas, mas

também tornar sua vida mais fácil.

Principais tendências da área de remuneração para executivos

Para atender aos novos modelos de profissionais, cargos e carreiras, as empresas de

grande, médio e pequeno porte precisam adotar meios de remuneração adequados que não

fragilizem as metas, os projetos e os próprios profissionais.

Olhando todas as definições que temos em artigos, livros e dentro das empresas, está

mais do que provado que o salário atende as necessidades básicas num primeiro instante, mas à

medida que os meses vão passando o valor que o salário antes representava já não é o mesmo.

De nada adianta dar aumentos e mais aumentos e inventar benefícios para os

empregados no intuito de retê-los e motivá-los, pois isso agrega somente no início e logo cai na

vala comum. Quanto mais aumento e benefícios, mais e mais eles vão pleitear, e mais vão achar

que é pouco.

As convenções coletivas de trabalho apenas repõem as perdas inflacionárias, mas não

garantem aumento real. Mesmo se garantissem, o trabalhador nem iria perceber, pois se trata de

um percentual muito abaixo do esperado. Na verdade, o salário deve ser apenas um referencial de

ganho e não um meio de sobrevivência nos dias atuais.

Será que o trabalhador brasileiro não vai cair na real e atinar para um novo mundo que

está surgindo? Até quando a quantidade de zeros em uma carteira de trabalho vai ser sinônimo de

status?

53

O salário pré-determinado pelas empresas está com os dias contados, pois os

colaboradores estão interessados em saber como podem contribuir para melhorar o desempenho

da empresa, mas querem fazer parte desses resultados.

Práticas de remuneração no mercado

Analisando as empresas com padrões de governança corporativa bem desenvolvidos

no mercado brasileiro, em uma pesquisa da revista RI – Relações com Investidores, gostaria de

apresentar uma amostra de algumas empresas e organizações não financeiras listadas no Novo

Mercado da Bovespa. A maioria delas são empresas de grande porte, com um faturamento médio

de R$ 3 bilhões.

Entre os principais tópicos, gostaria de destacar as seguintes informações:

O modelo de remuneração executiva no Brasil apresenta os mesmos componentes

de modelos internacionais, mas com grande ênfase nos componentes fixos da remuneração e na

remuneração variável de curto prazo (ICP).

A remuneração variável premiou, na maioria das empresas, fatores diferentes do

desempenho econômico, consumindo parte relevante do resultado apresentado.

Poucas empresas criaram valor no período, entretanto, nessas empresas, a

remuneração paga aos executivos foi maior que a média.

A remuneração dos executivos não está orientada para o crescimento, preservação

do patrimônio do acionista e aumento da criação de valor.

Análise do modelo de remuneração executiva

O modelo de remuneração executiva nas empresas de capital aberto no Brasil avançou

nos últimos quinze anos, alinhando-se a padrões internacionais. Mesmo assim, o modelo brasileiro

apresenta peculiaridades, entre elas o peso da remuneração fixa e benefícios – que em 2013

alcançou 44% da remuneração total – e a relevante ênfase na remuneração variável de curto

prazo.

54

De certa maneira, existe uma tendência de aumento do peso da remuneração fixa

internacionalmente, sobretudo após a crise financeira de 2008. Modelos muito alavancados em

remuneração variável têm sido ajustados por força de regulamentação ou por iniciativa das

empresas, que buscam adotar modelos de gestão de risco mais consistentes.

Vale lembrar que a remuneração variável é o principal estímulo para vincular

remuneração a desempenho e que, quando bem desenhada, combinando o curto e longo prazo,

além de critérios e indicadores consistentes economicamente, ela pode contribuir para um melhor

alinhamento estratégico entre o modelo de remuneração e a geração de valor da companhia a

longo prazo.

Nesse sentido, a esmagadora maioria das empresas analisadas adota mecanismos de

remuneração variável vinculados a resultados. Analisamos a seguir algumas características das

políticas de remuneração fixa e variável adotadas.

Empresas utilizam mecanismos tradicionais para gerenciar a remuneração fixa dos executivos

As informações publicadas pela administração das empresas revelam que a maioria

usa as funções atribuídas ao cargo como critério fundamental para definir a remuneração fixa dos

executivos, seja por meio de uma pesquisa de mercado, seja por meio de uma metodologia de

avaliação de cargos própria ou elaborada por uma consultoria. Quanto ao reajuste da

remuneração fixa, os critérios de avaliação de desempenho aparecem em primeiro, mas

praticamente empatados com a pesquisa de mercado.

Outro aspecto a se destacar é a quantidade de fatores importantes mencionados nos

critérios de reajuste da remuneração fixa, o que pode explicar o elevado peso desse componente

na remuneração total, num período em que os resultados das empresas não foram favoráveis.

A remuneração variável de curto prazo tem forte peso na recompensa por resultados

A remuneração variável de curto prazo é o principal mecanismo de recompensa por

resultados dos executivos nas empresas de capital aberto. Já a participação nos lucros e os bônus

por resultados é o formato mais usado para a remuneração variável de curto prazo, mas ainda há

outras formas, como a premiação por mérito ao longo do ano.

55

Fonte: Pesquisas Executivas PwC.

Podemos perceber que a participação nos lucros e os incentivos de curto prazo ainda

são os mais utilizados pelas empresas na remuneração variável dos executivos

A remuneração variável de Longo Prazo (ILP)

Quando falamos de incentivo de longo prazo (ILP), o que temos de mais comum entre

as empresas são as stock options. Fica claro que as empresas brasileiras veem a remuneração de

longo prazo como um mecanismo de retenção dos executivos, mas a maior atenção que começam

a dar aos incentivos de longo prazo não se justifica apenas por este aspecto. Estes incentivos

podem trazer diversas melhorias à estratégia de remuneração, como, por exemplo:

Maior alinhamento dos interesses dos executivos com o dos acionistas;

comprometimento dos executivos com resultados sustentáveis da empresa;

garantia de uma remuneração atrativa sem onerar o caixa da empresa no curto

prazo;

retenção de talentos pela promessa de retornos maiores no futuro.

Contudo, nem sempre esses benefícios se materializam. Uma pesquisa global

conduzida pela PwC e pela London School of Economics and Political Science, com mais de 1.100

executivos de 43 países, mostrou que algumas condições precisam estar presentes para que os

incentivos de longo prazo realmente funcionem (PwC, 2012). A complexidade do modelo também

tende a afetar o seu impacto. Aqueles muito complexos, nos quais é difícil entender a

probabilidade de ganho, tendem a ser menos atrativos.

O estudo também demonstrou que há diferenças geográficas nas preferências dos

executivos em relação aos tipos de remuneração variável de longo prazo. Por exemplo, os

56

executivos nos países emergentes e nos EUA apontaram uma preferência maior por pagamentos

em ações, enquanto executivos de países europeus e da Austrália indicaram preferir os incentivos

de longo prazo pagos em dinheiro.

Esses resultados sugerem que a criação do modelo de remuneração de longo prazo

deve levar em conta as características específicas da empresa e do mercado onde ela atua.

As medidas de desempenho que servem de base para a remuneração variável contemplam

aspectos financeiros e estratégicos, com destaque para os conceitos tradicionais de

lucratividade

Um aspecto fundamental para garantir a eficácia dos modelos de remuneração

variável, tanto de curto como de longo prazo, são as medidas usadas para mensurar o

desempenho.

Um sistema de indicadores de desempenho bem alinhado com a estratégia da

empresa e que enfatize a melhoria do desempenho econômico de maneira sustentável é fator

crítico de sucesso para que o modelo de remuneração variável produza os benefícios esperados

aos acionistas e stakeholders.

Nos indicadores de natureza econômica e financeira foi possível notar uma preferência

das empresas pelo uso de indicadores simples vinculados à lucratividade, como o lucro líquido,

vendas, custos e em especial o EBITDA.

Essa preferência pelo EBITDA preocupa, pois trata-se de um indicador que, tomado

isoladamente, não demonstra de maneira adequada os resultados econômicos de uma empresa,

nem a preservação financeira do patrimônio do acionista. Seu uso apresenta vantagens e

desvantagens.

Entre as vantagens de se usar o EBITDA como indicador para avaliar a gestão e o

pagamento da remuneração variável, podemos destacar:

É um indicador simples e rápido de ser calculado;

permite a análise entre empresas comparáveis, especialmente nas operações de

fusão e aquisição;

é um indicador usado pelas instituições financeiras para definir crédito.

Já entre as desvantagens do uso do EBITDA, destacam-se as seguintes:

57

Desconsidera a importância do valor dos ativos da operação e os recursos para o

capital de giro;

considera somente uma parte da demonstração de resultados;

não avalia o custo do capital investido nem leva em consideração no cálculo a taxa

de retorno mínima ao acionista e ao investidor;

não considera encargos de imposto de renda e não oferece instrumentos para a

disciplina financeira;

não proporciona o alinhamento esperado de interesses de acionistas e gestores.

Em função das desvantagens listadas acima, apesar de muito citado, não consideramos

o EBITDA um indicador apropriado para definir incentivos e remuneração variável para executivos.

Ele deve ser sempre utilizado em conjunto com outros indicadores e parâmetros.

Abaixo, podemos apresentar alguns indicadores que são mais utilizados para definir a

remuneração variável de curto e longo prazo, os preferidos pelas empresas.

Fonte: Pesquisas Executivas PWC.

58

Os indicadores adotados pelas empresas para efeito de remuneração variável de longo

prazo praticamente são os mesmos aplicados a curto prazo. A diferença principal está na forma de

usá-los.

Remuneração variável e desempenho econômico

Quando focalizamos a análise na remuneração variável, verifica-se um desalinhamento

entre os valores totais pagos neste componente da remuneração e os indicadores de resultado

econômico das empresas. Isso revela a influência de outros fatores que não o desempenho

econômico no pagamento de recompensas.

Novamente, na análise detalhada dos dados das empresas, não foi possível perceber

uma correlação estatística significativa entre essas variáveis, o que indica que o desalinhamento

apontado para os dados gerais da amostra se manifesta na maioria das empresas.

Crescimento da remuneração variável como percentual do LOLIR

Fonte: Pesquisas Executivas PWC.

O descasamento entre a evolução do LOLIR versus a da remuneração variável leva ao

aumento da parcela do lucro destinado a pagar a remuneração variável nas empresas, conforme é

possível constatar na figura acima.

Entretanto, embora a remuneração variável possa ser definida por outros indicadores

que não o desempenho econômico, a manutenção desse desalinhamento pode representar um

59

risco financeiro para a saúde econômica da empresa e para a sustentabilidade do modelo de

remuneração executiva no longo prazo.

Adicionalmente, isto pode gerar um enfraquecimento dos princípios meritocráticos

que devem nortear os modelos de remuneração variável. É importante lembrar que tais

mecanismos de remuneração existem com o objetivo principal de remunerar a qualidade do

desempenho.

Se, como visto na maioria das empresas, a remuneração variável cresceu mesmo

diante de um cenário de piora de resultados, é necessário que os outros componentes na

avaliação do desempenho dos executivos, refletidos na realização de objetivos estratégicos da

empresa, tenham sido muito melhores para que os princípios meritocráticos do modelo sejam

mantidos.

Neste sentido, é muito importante que a comparação da remuneração executiva e do

desempenho seja estruturada de maneira mais consistente economicamente. Menos focalizada

apenas no lucro e mais na geração de valor a longo prazo. Este é justamente o foco dos próximos

itens.

Remuneração e governança corporativa

Entre os diversos aspectos que constituem o modelo de governança corporativa das

grandes empresas, a remuneração de executivos tem recebido atenção especial nos últimos anos

graças à percepção de que esse aspecto da gestão tem impacto significativo no desempenho da

empresa.

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), existem quatro

princípios fundamentais da boa governança – transparência, accountability, equidade e

responsabilidade corporativa – que podem ser desenvolvidos por meio de diversos mecanismos,

como a definição de regras claras sobre a transferência de propriedade da companhia, o uso de

auditores independentes, a estruturação e a operação do conselho de administração e seus

comitês, entre outros.

No que se refere à remuneração executiva, o IBGC recomenda os seguintes

mecanismos entre as boas práticas:

Criar um comitê de remuneração, de preferência com conselheiros independentes

que detenham conhecimentos específicos sobre Recursos Humanos e Remuneração. O conflito de

60

interesses inerente às atribuições desse comitê reforça a necessidade desses conselheiros

independentes.

Vincular a remuneração dos executivos a resultados, com metas de curto e longo

prazos, a fim de gerar valor econômico para a empresa.

Tornar a remuneração uma ferramenta efetiva de alinhamento dos interesses dos

executivos com os acionistas.

Obter um procedimento formal e transparente de aprovação de suas políticas de

remuneração e benefícios aos executivos.

Levar em conta os custos e os riscos envolvidos nesses programas e a eventual

diluição da participação acionária dos sócios.

Encaminhar para aprovação da assembleia os valores e a política de remuneração

dos executivos propostos pelo conselho.

Os mecanismos de governança corporativa para tratar a remuneração executiva evoluíram, mas

ainda precisam ser aprimorados

A partir dos dados da pesquisa é possível perceber que os mecanismos de governança

para tratar a remuneração executiva evoluíram no Brasil, mas ainda precisam ser aprimorados.

No caso do uso de comitês de remuneração vinculados ao conselho, por exemplo,

identificamos que 53% das empresas ainda não têm um comitê de remuneração estabelecido. Nas

empresas que possuem comitês de remuneração, eles são compostos em sua maioria (52%) por

membros do conselho de administração. A presença de membros independentes é rara, embora

seja de extrema importância estratégica para a organização. Quando se considera a atuação dos

conselheiros independentes, as decisões ficam ainda consistentes e ricas.

61

Composição dos comitês de remuneração – Base: 29 empresas

Fonte: Pesquisas Executivas PWC.

A transparência é outro aspecto importante para garantir a aplicação de boas práticas

de governança corporativa na gestão da remuneração dos executivos. Ao analisar as informações

fornecidas pelas organizações em seus formulários de referência, identificamos certa dificuldade

em localizar informações e entender claramente a composição e os mecanismos de remuneração

dos executivos.

Embora o formulário de referência disponha de um item que detalha a remuneração,

informações importantes, como os mecanismos de compensação variável, os indicadores de

performance e os padrões de recompensa para metas, não são divulgados por todas as empresas.

Vale lembrar que o formulário de referência foi criado pela Comissão de Valores

Mobiliários (CVM) com o objetivo de proporcionar transparência e o maior número de

informações relevantes para os acionistas e o público em geral sobre os resultados e a gestão da

empresa. Nesse sentido, identificamos oportunidades de melhoria na forma de reporte e na

possível ampliação do disclosure de dados.

Uma conclusão a que podemos chegar é, que embora as empresas brasileiras tenham

avançado muito na aplicação de boas práticas de governança nos últimos anos, a gestão da

remuneração executiva é um ponto a ser aprimorado.

62

Caminhos para repensar a remuneração executiva no Brasil

A remuneração dos executivos tem papel muito importante no processo de geração de

valor para as empresas e, portanto, no crescimento, preservação e ampliação do patrimônio dos

acionistas. A análise dessa amostra indica a necessidade de ajustes importantes.

Mesmo que pesem os efeitos do mercado de trabalho, que naturalmente influenciam

o valor da remuneração, é fundamental tomar medidas internas para melhorar o alinhamento da

remuneração com a geração de valor. É um requisito relevante para o fortalecimento das

empresas de capital aberto no Brasil.

A performance de um modelo de remuneração pode ser afetada tanto por problemas

no design do modelo, como por problemas de implementação e gerenciamento.

Afinal, como fica o pacote de remuneração dos executivos?

Quanto mais autonomia para tomada de decisão o executivo tem, maior tem sido o

seu salário fixo médio anual, diz a consultoria Page Executive, que colheu informações sobre

salário e benefícios em processos de contratação de mais de mil executivos da sua base de dados.

A vantagem salarial para quem comanda uma companhia nacional pode chegar a 25%

em comparação aos salários pagos pelas multinacionais estrangeiras, como é o caso das empresas

com faturamento anual de até 100 milhões de reais. Veja na tabela:

Faturamento anual da

empresa

Salário fixo anual de presidentes de

companhias nacionais

Salário fixo anual de presidentes de

multinacionais

até R$ 100 milhões R$ 935 mil R$ 773 mil

entre R$ 1 bilhão e

R$ 2 bilhões R$ 1,9 milhão R$ 1,8 milhão

Em relação aos benefícios de longo prazo, as empresas nacionais também saem na

frente com pacotes mais vantajosos para seus executivos do topo da hierarquia.

Dentre os entrevistados, 68% executivos das empresas brasileiras afirmaram ter

benefícios de longo prazo dentro do pacote de remuneração. Nas multinacionais, o índice foi de

52%.

63

As stock options lideram o ranking de incentivos de longo prazo. Com elas, o executivo

de empresas listadas na bolsa recebe o direito de comprar ações em uma data e preço

determinados.

Além de bônus de retenção, o segundo benefício mais frequente, as restricted stock

units (RSUs) também aparecem como opção aos executivos. Com este benefício, o executivo

ganha efetivamente as ações, e não apenas a opção de compra.

Veja o percentual de executivos que recebem cada uma das três opções de incentivo

de longo prazo:

Incentivo de longo

prazo

Percentual de executivos

que recebem o benefício

em companhias nacionais

Percentual de executivos que recebem

o benefício em multinacionais

Stock Options 38% 38%

Restricted Stock Units

(RSUs) 26% 30%

Bônus de retenção 36% 32%

Além de salário fixo e incentivos de longo prazo, a consultoria também lista outros

tipos de benefícios que os executivos de empresas brasileiras e de multinacionais recebem.

Confira os mais frequentes, segundo a Page Executive:

Benefícios Percentual de entrevistados que têm o benefício

Plano de saúde 95%

Seguro de vida 82%

Carro 69%

Previdência Privada 39%

Pagamento de aluguel residencial 10%

Blindagem de automóvel 7%

Pagamento de escola para filhos 4%

Concluindo

Saber remunerar corretamente os funcionários nos dias de hoje nem sempre é algo

simples. Há diversos métodos e critérios, mas é necessário conhecê-los, saber do que realmente

se trata e verificar se a empresa tem o perfil exigido para implantar o método escolhido. Cautela é

64

a palavra mais exata quando necessitamos olhar a remuneração para cada grupo de

colaboradores.

Define-se remuneração como um processo que envolve todas as formas de pagamento

ou de recompensas dadas aos funcionários e decorrentes do seu emprego (CHIAVENATO, 1999).

Na realidade, trata-se de uma troca, uma parceria entre empregado e empregador, em que

empregado entra com a mão de obra, seus conhecimentos e habilidades, e o empregador retribui

através da remuneração.

A palavra remuneração lembra a muitos apenas dinheiro, mas existem também as

recompensas não financeiras, que são aquelas que de alguma maneira influenciam na satisfação

dos empregados com o sistema de remuneração, como orgulho, autoestima, reconhecimento,

segurança no emprego etc.

Com o objetivo de facilitar a vida dos funcionários, muitas empresas oferecem

benefícios aos seus empregados. Os benefícios são como vantagens concedidas pelas

organizações, o que acaba evitando a perda de tempo na procura dos serviços que a empresa já

disponibiliza. Estão aí incluídos os serviços de saúde, segurança, educação, descontos etc.

É necessário manter o equilíbrio dentro das organizações, com empregado e

empregador satisfeitos. Para isso, exigem-se boas remunerações, mas de maneira que não tornem

os custos da empresa demasiados altos.

O pacote de remuneração é considerado um dos mecanismos mais eficientes para

induzir o executivo, maximizador da própria utilidade e avesso ao risco, a agir com a finalidade de

aumentar o desempenho da empresa.

Referências

Pesquisa de Remuneração Executiva – PwC / FGV

Revista digital Exame.com

65

Sobre a autora

Formada em TI, com pós-graduação em Recursos Humanos, desenvolveu sua carreira

de mais de 15 anos em diversas áreas de RH. Atualmente com foco na área de Remuneração,

desenvolveu programas de bônus e incentivos para varejo, instituição financeira e indústria.

Responsável pela área de Remuneração e Benefícios e Business Partner das empresas do grupo

para o qual trabalha com grande desafio em processos de reestruturação organizacional.

Contato: [email protected]

66

Capítulo 4

GESTÃO DO CONHECIMENTO

Por que desejamos sabedoria?

PATRICIA HOLANDA

A maioria das pessoas não possui dificuldade em imaginar os motivos daqueles que

recorrem a um sábio. Afinal, sua sabedoria lhe atribui segurança para compartilhar

conhecimentos, para traduzir significados muitas vezes ocultos, para antecipar consequências,

além de uma grande disposição e capacidade de aprender. Demonstra evolução contínua!

Sabedoria, no mundo corporativo, traduz preparação e vem junto com prestígio,

torna-se referência, geradora de resultados, traz valorização, reconhecimento e melhores

oportunidades profissionais.

Mas como alcançar tanto conhecimento?

A base educacional oferecida através da educação fundamental e de formação deve

ser de grande qualidade para subsidiar avanços profissionais. Os estudantes menos favorecidos

com ensino de não qualidade já tiveram momentos ainda piores, em época com grande restrição à

informação. Hoje o acesso à informação se generalizou por meio da internet e de outras

tecnologias de compartilhamento (redes sociais). Agora basta ter foco na busca desejada, separar

as informações boas, descartar as ruins e saciar a sede pelo conhecimento.

O avanço em tecnologia também proporcionou grande apoio para as organizações que

visam melhores resultados através da preparação dos seus colaboradores no início das atividades,

na sua formação e especialização e também no desenvolvimento e preparação de funcionários

que assumirão cargos de maior complexidade.

Um dos grandes desafios nas organizações sempre foi manter a comunicação eficaz,

garantir informações alinhadas nos seus extremos e ter agilidade para não comprometer o

67

desempenho dos seus colaboradores na geração de resultados. Ocorre que é necessário organizar

as informações e transformá-las em conhecimento. Todo o repertório pode ser útil se for possível

acessá-lo com a mesma rapidez e lógica em que as respostas devem aparecer. Assim, este

também é um elemento importante de estratégia.

Mas como aprender com os desafios do passado? Como gerenciar todo esse

conhecimento?

Os colaboradores recorrem à organização visando apoio e soluções para os seus

desafios diários, que são muitos. Esperam que o responsável pela educação da organização esteja

atento às informações relevantes no contexto atual e, mais do que isso, leve em consideração

experiências do passado. Isso significa que todo o repertório produzido hoje agregará no contexto

futuro, com fatos e dados do que funcionou ou deixou a desejar e capacitação coerente disponível

para suportar tais desafios.

Os responsáveis pela educação na organização possuem desafios ainda mais

complexos, pois analisam o contexto interno e externo da organização, dos colaboradores, da

liderança, da cultura organizacional, dos desafios da área (metas e objetivos do dia a dia – colocam

como estratégia o acompanhamento de perto, dividindo a mesma emoção, realizando visitas de

campo). Consideram linguagem, recursos e tecnologia para a diversidade do público. Realizam

gestão mantendo a atualização necessária do conhecimento que está sendo produzido e de seus

recursos multidisciplinares. A gestão acompanha os desejos, necessidades e dificuldades de quem

está do outro lado.

Colaboradores

A interação entre gerações (baby boomers, X, Y...) certamente trouxe um ingrediente a

mais para as relações e comportamentos produzidos dentro das organizações. Além disso,

atualmente vive-se a era do trabalhador do conhecimento. Possuímos conectividade universal,

buscamos a democratização das informações e expectativas, e é nítida a transferência da criação

de riqueza do capital financeiro para o capital intelectual e social.

“O trabalho é cada vez mais realizado por pessoas com educação superior, que

contribuem com seus conhecimentos e que trabalham com suas mentes” (DRUCKER, Fator

humano e desempenho, p. 29-30).

68

Diante de tanto aprendizado e necessidade de adaptação das empresas, a pesquisa

sobre gestão do conhecimento traz elementos de direção ou aprimoramento da gestão do

conhecimento nas organizações através do olhar do colaborador numa pesquisa com 47

colaboradores que já participaram de treinamentos corporativos presenciais ou a distância.

A coleta de dados foi realizada com formulário online em outubro de 2015 divulgado

em redes sociais e por e-mail. Os dados quantitativos foram levantados em quatro perguntas e a

opção oferecida para comentários proporcionou dados qualitativos.

Objetivo da pesquisa

Elementos investigados:

Desenvolvimento de habilidades após treinamentos corporativos;

conexão entre o conhecimento adquirido nos treinamentos e a prática;

clareza aos participantes da necessidade do treinamento e apoio no processo de

desenvolvimento do colaborador com o incentivo da liderança;

cultura de colaboração entre funcionários de vários níveis.

Desenvolvimento de habilidade após treinamentos corporativos

P1: Geralmente você consegue aplicar no trabalho os conhecimentos adquiridos nos

treinamentos corporativos?

69

Comentários

C1: Há alguns mais direcionados do que outros.

C2: Falta conhecimento dos pares e aceitação para aplicar novas informações.

C3: Nem tudo é possível aplicar, pois depende do ritmo já desenvolvido pela empresa,

e para qualquer mudança é preciso conscientizar quem está ao redor de que é necessário.

C4: Nem sempre os processos das outras áreas estão prontos para receber novas

ações.

C5: Utilizo como ferramenta para ampliar o conhecimento dos clientes.

C6: É difícil aplicar totalmente.

C7: Também depende de a organização disponibilizar ferramentas.

C8: Aplico parcialmente por compartilhar opiniões.

C9: Nem sempre é possível, muitos não aceitam.

C10: Na prática nem sempre dá certo.

C11: Alguns conhecimentos não estão no padrão da minha realidade.

C12: Teoria nem sempre reflete a prática.

C13: Os treinamentos nem sempre estão alinhados com a prática do trabalho, o que

dificulta a aplicabilidade.

C14: Nem todos os treinamentos são aplicáveis no meu dia a dia. Se você faz um

treinamento e não tem a exposição necessária para colocar os conhecimentos em prática, o

conhecimento se perde.

14,89%

82,98%

2,13%

Aplico totalmente Aplico parcialmente Não aplico

70

Dados

14,89% dos respondentes aplicam totalmente o conteúdo apresentado pela

empresa.

82,98% dos respondentes aplicam parcialmente.

2,13% não aplicam.

O que é percebido x oportunidades

Os treinamentos corporativos são uma das ações que traduzem a estratégia da

organização para o alcance de seus resultados.

Observamos que a maioria dos colaboradores realiza o esforço necessário e oferece a

sua contribuição. Todavia, através dos comentários é possível perceber algumas barreiras

encontradas pelo caminho:

Falta de direcionamento do “como” aplicar o conhecimento;

resistência de colaboradores em testar ou aplicar novos conteúdos;

conscientização de toda a hierarquia da necessidade dos treinamentos;

necessidade de mais esclarecimentos e transparência no processo de gestão de

mudança;

disponibilização de ferramentas;

distorções na realidade da área onde poderia ser aplicado;

falta de acompanhamento, orientação e exposição do colaborador.

Conexão entre o conhecimento adquirido nos treinamentos e a prática

P2: Nos treinamentos corporativos em que participou, você obteve orientação de

como aplicar no seu dia a dia o conhecimento adquirido?

71

Comentários

C1: Acho que alguns instrutores fazem esse link com mais qualidade.

C2: Como o grupo geralmente não é do mesmo setor, não tem um foco na rotina. Os

exemplos que você recebe acabam dando apenas uma visão de como poderiam ser usados.

C3: Ensinam a identificar oportunidades a serem exploradas.

C4: Alguns exemplos nem sempre são possíveis de usar no dia a dia.

C5: Há gestores que não aceitam.

C6: Alguns não foram tão claros.

C7: Em alguns casos, sim.

C8: Em alguns casos foi dada a orientação, inclusive com exercícios simulando a

prática.

Dados

25,53% dos colaboradores receberam toda a orientação necessária para aplicar o

conhecimento adquirido.

65,96% não tiveram orientação necessária.

8,51% relataram não ter havido orientação alguma.

O que é percebido x oportunidades

Melhorar o planejamento de atividades em que seja possível aplicar exemplos e

simulações direcionadas para cada equipe presente;

25,53%

65,96%

8,51%

Orientaram totalmente Orientaram parcialmente Não orientaram

72

as orientações podem ocorrer dentro da sala de aula através do instrutor;

o comentário que sugere a não aceitação do líder é um grande ponto de atenção. O

líder é a ponte entre a empresa e o colaborador; se aquele não está de acordo com uma das ações

da organização, está colocando forças contrárias aos objetivos empresariais.

Clareza aos participantes da necessidade do treinamento e apoio no processo de

desenvolvimento do colaborador com o incentivo da liderança

P3: O seu líder reforça a sua participação nos treinamentos corporativos e o incentiva

a colocar os conhecimentos adquiridos em prática?

Comentários

C1: Depende do curso.

C2: Hoje a minha liderança não dá nenhum incentivo para os treinamentos.

C3: Não são todos os líderes que têm consciência da importância de que os

subordinados também podem compartilhar conhecimento.

C4: Não que seja obrigatório, mas sempre pedem a adesão de todos da empresa.

C5: Sempre há incentivo para ir aos treinamentos.

C6: Reforça sempre, para que possamos estar com o conhecimento alinhado com as

melhores práticas.

38,30%

38,30%

23,40%

Reforça e incentiva totalmente Reforça e incentiva parcialmente Não reforça e não incentiva

73

C5: Geralmente fala da necessidade, mas não mostra muito interesse.

C6: Poucas foram as vezes que o meu líder incentivou.

Dados

38,30% dos líderes reforçam e incentivam totalmente a necessidade do

treinamento.

38,30% reforçam e incentivam parcialmente.

23,40% não reforçam e não incentivam.

O que é percebido x oportunidades

Os líderes estão sempre inseridos em programas de desenvolvimento, mas os

comentários acima sugerem que muitas empresas estão na frente de outras;

é necessário trabalhar com a liderança o tema cultura e o tema estratégias

organizacionais para esclarecer o papel dos líderes;

além disso, os comentários também nos oferecem uma ideia da necessidade de

melhorar o alinhamento entre os líderes e o RH antes do lançamento de ações de treinamento.

Assim, é possível dividir a responsabilidade: o líder compra a ideia e a vende para a sua equipe.

Cultura de colaboração entre funcionários de vários níveis

P4: Consegue compartilhar os conhecimentos adquiridos nos treinamentos

corporativos com a sua área, pares e colegas de trabalho?

74

Comentários:

C1: Acredito que poderia fazer mais.

C2: Sempre estou aberta, mas o interesse às vezes dos demais da equipe não aparece.

C3: Sempre que posso ajudo os demais com tudo que aprendi.

C4: Nem todos aceitam parar um momento para ouvir.

C5: Compartilhar demanda fazer um minitreinamento com a equipe.

C6: Da minha parte sempre me disponho a transmitir as informações.

C7: Parcialmente, pois depende muito do interesse.

C8: Quando se tem a oportunidade é muito válido, acredito que aprendemos mais.

C9: Tudo que agrega conhecimento eu sempre compartilho.

C10: Acho que quanto mais distribuímos conhecimentos mais aprendemos.

C11: Normalmente eu tenho a iniciativa e compartilho com meus pares ou equipe,

porém sem uma ação específica da empresa que estimule tal prática.

Dados

31,91% compartilham totalmente o conhecimento adquirido.

65,96% compartilham parcialmente.

2,13% não compartilham.

O que é percebido x oportunidades

O compartilhamento das informações ocorre de forma independente;

31,91%

65,96%

2,13%

Compartilho totalmente Compartilho parcialmente Não compartilho

75

os comentários sugerem que, se houvesse apoio, orientação ou incentivo da

empresa, os conhecimentos seriam disseminados com maior frequência;

existe uma consciência individual de que, ao compartilhar conhecimentos, ambos

aprendem com a troca de experiências.

Análise dos indicadores com maior percentual

82,98% dos respondentes aplicam parcialmente o conteúdo apresentado pela

empresa.

65,96% dos colaboradores não tiveram a orientação necessária para aplicar o

conhecimento adquirido.

38,30% dos líderes reforçam e incentivam totalmente a necessidade do

treinamento.

65,96% compartilham parcialmente o conhecimento adquirido.

Grande parte dos colaboradores não possui clareza de como aplicar o conhecimento

adquirido. Ainda assim, estão conscientes do seu papel individual na entrega dos resultados e por

isso geram grande energia para colocar em prática parte do que aprenderam. O resultado poderia

ser melhor se os líderes estivessem conscientes das estratégias da empresa, assim seria possível

apoiar o colaborador, identificando junto os GAPs e buscando soluções na organização.

Mesmo nas organizações em que os líderes reforçam e incentivam totalmente os

colaboradores para colocar em prática os conhecimentos, estes aplicam e compartilham

parcialmente o que aprenderam.

Percebemos o quanto se faz necessário esclarecer as ações individuais e coletivas para

aumentar resultados. Além disso, a cultura de colaboração deve ser entendida para existir

incentivo na troca do conhecimento.

76

Gestor de educação

O gestor de educação funciona como um grande radar. Precisa estar atento a sinais

internos e externos para se manter atual e eficaz. Precisa buscar informações relevantes das

gestões anteriores e registrar as suas próprias informações de forma que seus sucessores

compreendam o estado atual (sem necessidade de alguém que lhe repita toda a história de

satisfações e insatisfações geradas) e enxergue o futuro desejado.

Para realizar a gestão do conhecimento é necessário buscar o passado e desafiar-se

para encontrar um equilíbrio entre o presente e o futuro.

Um dificultador para a organização é administrar todo esse conhecimento,

considerando a diversidade de experiências, energia, motivação e maturidade de cada

colaborador para realizar a sua contribuição no registro da realidade vivenciada e percebida.

A sabedoria para realizar a gestão do conhecimento está na facilidade em lidar e

conectar elementos tão diferentes e complexos.

Internamente precisa garantir o alinhamento das ações com o direcionamento

estratégico da empresa. Cada ação precisa considerar uma múltipla entrega customizada aos

multicolaboradores. Um único tema pode ser customizado para atender um núcleo, uma área, um

segmento, ou seja, quanto mais profundo, mais específica a necessidade.

Todo esse alinhamento vem em conjunto com a clareza e o entendimento da cultura

organizacional, através dos seguintes itens:

Missão

Visão

Valores

Políticas, normas e padrões

Negócio empresarial

Objetivos e metas

Estilos de liderança.

Gerir conhecimento é, além de tudo o que vimos, ter sensibilidade para compreender

as pessoas.

77

Ao estar atento para os sinais externos, deve-se incluir, além do mercado econômico e

tendências, também o olhar para a vida das pessoas, ou seja, a transformação humana. O mundo

moderno e a geração atual estão sinalizando o interesse pela qualidade de vida, muito está se

falando no work life balance – equilíbrio entre o pessoal e o profissional. Outro elemento

fortíssimo é a responsabilidade social e a diversidade humana.

A contribuição individual nas organizações é elevada por diversos fatores. Para

promover o aumento do desempenho individual é preciso escutar ativamente o que cada grupo

ou núcleo de colaboradores solicita.

Os colaboradores se manifestam através de canais de pesquisas nacionais ou mundiais

promovidas por grandes consultorias ou mesmo pelo canal corporativo da empresa em que

trabalham através de ações como avaliação de desempenho, fóruns, entrevista direcionada,

pesquisa de clima e outras.

Os líderes possuem papel fundamental na identificação e tradução das necessidades

de suas equipes.

Toda ação de treinamento é o desdobramento de uma meta do planejamento

estratégico da organização. O gestor de educação deve estar atento para atingir a profundidade

exigida em cada necessidade.

Se a identificação do problema foi feita de forma correta existirá adequação da solução

com a realidade do colaborador. Pode ser oferecida apenas uma solução padrão e de forma

genérica ou soluções customizadas e desenhadas. Estas últimas costumam alcançar resultados

com maior eficiência.

Todas as informações vistas até o momento aumentam a garantia do gestor de

educação em oferecer mecanismos em que os colaboradores atuem de forma congruente e

convergente, aumentando o seu desempenho para o alcance dos seus objetivos e metas.

O líder e o gestor de educação são parceiros de trabalho, pois, além de oferecer

ilimitadas possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento, o líder colabora ao incentivar e/ou

influenciar pessoas a desvendar e experimentar no seu contexto atual um algo a mais ou algo

novo.

É importante considerar também que grande parte da organização ainda é financista,

ou seja, busca medir retorno sobre o investimento e relações de custo. Devido à complexidade

encontrada em separar os benefícios financeiros decorrentes do treinamento ou de outras

atividades envolvidas durante o processo de aprendizagem, demonstrar que os investimentos

78

realizados traduzem os objetivos do planejamento estratégico da organização é algo cotidiano

para o gestor de educação.

Universidade corporativa

Considerando as necessidades dos colaboradores e o papel do gestor de educação,

este texto traz como uma das soluções para o gerenciamento do conhecimento (dentre tantas

outras) a universidade corporativa.

A universidade coorporativa é um sistema de planejamento e também de gestão de

Recursos Humanos adequado a cada organização.

O negócio, sua cultura e sua maturidade darão o “tom” que precisará ser

desenvolvido.

Através dela é possível falar em desenvolvimento profissional e organizacional. O

conhecimento e a sabedoria são discutidos e compartilhados tanto pelo indivíduo quanto pela

organização. Isso porque são apresentadas e desenvolvidas as competências individuais

(colaborador) e coletivas (organização). Permite utilizar recursos multidisciplinares (fóruns,

pesquisas, discussões direcionadas) para interagir em situações específicas, principalmente

quando é necessário levantar conhecimentos aprendidos pelos colaboradores na prática. Essa

troca de conhecimento e benchmarking interno é riquíssimo para o desenvolvimento de times. A

troca de ideias e o compartilhamento de experiências geram conhecimento. Assim como é feito

informalmente com colegas de trabalho dentro de um escritório, também é possível realizar de

forma virtual pela web. Logo, é importante provocar a realimentação do conteúdo.

A valorização da experiência é fundamental pois, ao identificar os colaboradores que

sabem fazer, temos um time de multiplicadores e influenciadores na organização. O conhecimento

é base de formação da riqueza!

O conhecimento explorado na universidade corporativa não é só teórico, mas também

prático, pois a informação é constantemente oferecida e validada por quem sabe fazer.

A interatividade permite a atualização e o acesso rápido às informações solicitadas e

disponibilizadas.

A universidade corporativa traduz a sinergia e a inteligência dos colaboradores, da

liderança e da organização. Também traduz a estratégia organizacional, já que gerencia e mantém

79

o equilíbrio entre as ações de curto e longo prazo, mantendo o desenvolvimento dos

colaboradores e da organização.

Analisando algumas das lacunas discutidas nos itens acima (colaboração e gestor de

educação) percebemos que a universidade corporativa complementa ambas as necessidades, pois

considera:

Alinhamento estratégico entre a identidade organizacional (visão, missão, valores) e

o modelo da universidade corporativa;

transparência e comunicação;

definição das competências globais (da organização) alinhadas a sua identidade;

esclarecimentos e importância da responsabilidade compartilhada entre

colaboradores, líderes e do responsável pela gestão da educação;

diretrizes, fatores de sucesso e de risco num modelo que traduz a estratégia

organizacional;

definição do propósito de produtos, programas e ações como um conjunto de

soluções de aprendizagem e desenvolvimento dos colaboradores e da organização;

mapeamento das competências dos colaboradores (técnicas e comportamentais),

áreas e núcleos;

proximidade com núcleos e áreas através do levantamento das necessidades

específicas para a criação de conteúdos e escolas de negócios;

definição do ambiente educacional (presencial, a distância e blended);

criação de ambiente web que permita localizar o conhecimento específico;

criação de mecanismos de troca de conhecimentos;

alinhamento das ações com cultura de autodesenvolvimento e colaboração;

revisita do propósito dos programas e da estratégia da organização;

compreensão e definição dos indicadores necessários para monitorar os resultados

esperados;

governança corporativa;

incentivo e sustentabilidade das ações;

homologação de fornecedores.

80

Portanto, temos na universidade um constante alinhamento estratégico para

promover soluções organizacionais e melhorar a performance do trabalho, caminhando por

conhecimentos da própria empresa, da cultura organizacional, dos negócios, dos líderes e dos

colaboradores.

“Conhecimento não é literatura e sim conexão” (Thomas Stewart).

Conclusão

Ao tomar uma decisão, estas devem estar alinhadas aos objetivos organizacionais.

Os gestores de educação precisam conhecer os objetivos da organização e das

pessoas, compreender o mercado profissional e conectar as suas estratégias educacionais.

Todos os gestores necessitam de um sistema de referências e de informações para

orientar a sua tomada de decisão.

O planejamento educacional é parte integrante do planejamento global, pois retrata o

que é necessário para atingir os objetivos da organização. Os líderes devem reconhecer as

iniciativas de treinamento e atuar como líderes educadores, não só compartilhando seus

conhecimentos e apoiando suas equipes a se desenvolver, mas também dando suporte à área de

educação, oferecendo inputs no desenvolvimento dos treinamentos, opinando nas atividades em

que os colaboradores devem praticar com o intuito de desenvolver as habilidades necessárias para

aumentar o desempenho. Essa responsabilidade compartilhada faz com que os líderes incentivem

suas equipes e busquem as ferramentas adequadas para acompanhá-los após os treinamentos, de

forma a subsidiar os elementos necessários para desenvolver habilidades, ou seja, coloquem em

prática os conhecimentos que adquiriram.

Produzimos conhecimento e informações valiosas a cada instante. Todavia, muitas

delas ficam escondidas ou camufladas dentro da própria organização, isso porque para agrupar

informações relevantes é necessário cultivar dentro das organizações a alimentação e

retroalimentação de informações, ter transparência e clareza na comunicação. Além disso, há

dificuldade em promover a cooperação das equipes no compartilhamento do conhecimento. A

abordagem utilizada é fundamental para que haja comprometimento coletivo dos colaboradores.

81

Todos da organização precisam de bons conhecimentos do negócio para compreender

quais informações são ou serão valiosas hoje ou num futuro próximo. É necessário dar significado

às ações dos colaboradores e valorizar a colaboração. Os colaboradores precisam reconhecer que

a troca de informações gera aprendizado.

A universidade corporativa é um dos canais que possibilita a gestão do conhecimento

produzido diariamente pela organização. Com esse canal, é possível comunicar a identidade e

estratégia organizacional, implementar a cultura de colaboração e troca de aprendizado, integrar a

gestão de educação com a liderança das áreas e proporcionar maior sinergia com suas equipes.

Elementos estes imprescindíveis para registrar e distribuir informações relevantes ao negócio!

82

Sobre a autora

Formada em Direito, dedicou a sua carreira nos últimos dez anos a soluções de

Educação, Treinamento e Desenvolvimento. Atuou com cultura organizacional, programas de

liderança, gestão de equipe e universidade corporativa. Possui vivência no desenvolvimento de

programas com foco em estratégias de Recursos Humanos. Coordenou área de treinamento em

indústrias no segmento de eletrodomésticos, consumo e farmacêutico. Atualmente, atua em

empresa especialista em soluções de aprendizagem e em consultoria estratégica voltada a

educação corporativa.

Contato: [email protected]

83

Capítulo 5

ACELERAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Como promover o aprendizado eficaz e eficiente nas organizações

PABLO PEREIRA

Na trilha da aprendizagem

Sabemos que o mercado corporativo cada vez mais investe em gestão do

conhecimento e dá importância à disseminação da cultura e dos valores organizacionais,

modelados para atender a competitividade. É necessário inovar sempre, uma vez que a cada dia

são disponibilizadas novas tecnologias, novas formas de interação e de acesso às coisas.

Acompanhar este mercado é, antes de qualquer coisa, manter a informação circulante dentro da

organização como diferencial corporativo e também na retenção de seu capital humano.

Se fizer parte da cultura e visão da empresa utilizar estrategicamente os recursos,

investindo em conhecimento, isso demonstra o quanto a organização está conectada com a Era da

Informação, em que o aprendizado contínuo se torna imprescindível e que a vantagem hoje está

na boa aplicação do conhecimento. O poder está na mão das pessoas com conhecimento.

Percebemos hoje que as pessoas atuam como criadoras de conteúdo, de ideias das

próprias inovações. Se a empresa não usa esse comportamento como estratégia de negócio está

fadada ao fracasso. Se a organização possui talentos com diferencial nos resultados e não

multiplica essa potencialidade, pode sofrer impactos na qualidade do serviço ou produto, nos

resultados e na retenção de funcionários.

Segundo o renomado autor Peter Senge, o aprendizado é uma vantagem competitiva:

“As organizações que aprendem são aquelas nas quais as pessoas aprimoram continuamente suas

capacidades para criar o futuro que realmente gostariam de ver surgir”.

84

Senge defende que as organizações devem desenvolver cinco disciplinas para

continuamente estar em processo de aprendizagem. São elas:

1. Domínio pessoal:

Aprender a expandir as capacidades pessoais;

criar um ambiente empresarial que estimule todos os participantes, alcançando

assim as metas escolhidas;

estimular os trabalhadores a buscar e alcançar seus objetivos sem medo de

errar.

2. Modelos mentais:

Refletir, esclarecer continuamente;

melhorar a imagem que cada um tem do mundo;

verificar como moldar atos e decisões;

rever modelos mentais e ajustá-los à realidade.

3. Visão compartilhada:

Estimular o engajamento do grupo em relação ao futuro;

elaborar princípios e diretrizes que permitirão alcançar esse futuro.

4. Aprendizado em equipe:

Desenvolver o pensamento e a comunicação coletiva a fim de superar a soma

dos talentos individuais.

5. Pensamento sistêmico:

Analisar e compreender a organização como um sistema integrado;

criar uma forma de analisar e uma linguagem para descrever e compreender as

forças e inter-relações que modelam o comportamento dos sistemas.

Partindo das disciplinas propostas por Senge, podemos identificar os desafios que

todas as organizações enfrentam para promover e estimular a aprendizagem que visa o

85

desenvolvimento humano e organizacional. As empresas estão utilizando várias ferramentas para

a disseminação do conhecimento interno e externo entre colaboradores, parceiros, e clientes.

Dentro do contexto da Era da Informação, gerir e disseminar o conhecimento se faz

necessário para que todos os colaboradores e stakeholders tenham acesso à real situação da

empresa onde trabalham ou de quem compram, seus valores, suas culturas, sua missão e os

produtos e serviços oferecidos, entre outros. É a partir desse conhecimento que se formarão as

bases de sustentação do relacionamento com o público e se proporcionarão melhorias na

qualidade dos produtos e serviços. Nas organizações isso está cada vez mais claro. Um exemplo é

a explosão de universidades corporativas para a manutenção do conhecimento e a criação de

novos profissionais com comprometimento junto à empresa, aumentando consequentemente o

acervo de conhecimento organizacional.

No cenário criativo e colaborativo, todas as áreas de uma empresa são responsáveis

pela gestão do conhecimento como um todo. Porém é desafiador conseguir mobilizar os recursos

internos da empresa para facilitar e patrocinar o ambiente de aprendizado contínuo. Fatores como

tempo, orçamento e rotina de trabalho exigem versatilidade nas soluções de aprendizagem. Então

as ações devem:

Desenvolver as competências críticas do negócio em vez de habilidades

individuais;

privilegiar o aprendizado organizacional, fortalecendo a cultura corporativa e o

conhecimento coletivo, e não apenas o conhecimento individual;

concentrar-se nas necessidades dos negócios, tornando o escopo estratégico, e

não focando exclusivamente nas necessidades individuais;

conceber e desenhar ações e programas educacionais a partir das estratégias de

negócios, ou seja, da identificação das competências críticas individuais;

adotar o conceito de educação inclusiva, desenvolvendo competências críticas no

público interno e externo (familiares, clientes, fornecedores, distribuidores, parceiros comercias e

comunidade), e não somente funcionários;

contemplar a possibilidade de ser um projeto virtual, e não necessariamente

presencial;

aumentar a competitividade empresarial, e não apenas as habilidades individuais;

86

utilizar diversos modelos, métodos e formatos como forma de acelerar a

aprendizagem.

Não podemos esquecer que todas essas ações devem estar aliadas aos fatores tempo

e dinheiro. É cada vez mais comum ouvirmos das lideranças o “fazer mais com menos”. Isso é

realmente possível para acelerar a aprendizagem? Talvez a resposta esteja na utilização de

diversos modelos, métodos e formatos, ou seja, na capacidade de inovar, de se atualizar, de

perceber o cenário e atuar com versatilidade.

A inteligência humana

A inteligência humana, conforme estudou o psicólogo Howard Gardner (Harvard,

1980), é composta por múltiplas dimensões, que vão desde a visual-espacial até a existencial.

Gardner afirma que “uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar

produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade social. A capacidade

de resolver problemas permite à pessoa abordar a situação em que um objetivo deve ser atingido

e localizar a rota adequada a este objetivo”. Com isso, as dimensões envolvem emoção,

sentimentos, memória de aprendizado anterior, influência do meio, educação, atos instintivos e,

em determinadas situações, percepções extrassensoriais, como intuição e inspiração.

Fonte: http://aprenderespecial.blogspot.com.br/2015/07/howard-gardner-inteligencias-multiplas.html

87

O adulto aprende quando algo faz sentido, tem significado e é aplicável no cotidiano,

vida familiar, trabalho, relacionamento, lazer, saúde, finanças, etc. Para que ocorra o aprendizado,

o tema então precisa se conectar a algum aspecto social, emocional e afetivo. Por isso é

fundamental que o processo de aprendizagem seja composto por emoção, cooperação e

experiências.

A teoria do cérebro trino do neurocientista Paul MacLean (1970) sugere que o cérebro

humano é formado por três cérebros em um: o neocórtex, o sistema límbico e reptiliano. Nenhum

deles trabalha só e um depende do outro para funcionar.

Fonte: http://image.slidesharecdn.com/20141115interconpdf-141115082607-conversion-gate01/95/criando-emoes-

9-638.jpg?cb=1416046885

No processo de aprendizagem, para ele ser mais interessante e eficaz, é necessário

envolver o cérebro em sua totalidade: o límbico e o reptiliano trabalham com as emoções,

sentimentos, instintos, e o neocórtex promove a conexão das informações e cria significado.

88

A aceleração da aprendizagem

É fundamental recorrer às múltiplas formas de aprendizagem que caminham na

direção da convergência e da integração. Podemos aprender em vários lugares, ao mesmo tempo,

juntos e separados. Tudo isso se combina com a possibilidade da comunicação instantânea de

criar grupos de aprendizagem, integrando a aprendizagem pessoal com a grupal.

Algumas premissas são necessárias para facilitar o aprendizado atualmente. São elas:

O diferencial está nas pessoas;

o conhecimento é construído por meio de redes de relacionamento, tanto no

ambiente interno quanto no externo, tanto no virtual como no real;

o aprendizado pode acontecer a qualquer hora e em qualquer lugar;

os líderes e gestores são responsáveis pela formação de suas equipes e criam

ambiente propício à aprendizagem;

o conhecimento e o aprendizado estão alinhados com as estratégias do negócio,

portanto contribuem para o atingimento dos objetivos;

através da educação também se promove a cultura de autodesenvolvimento;

é importante compartilhar conhecimentos, promovendo educação pela colaboração

e troca de melhores práticas.

Então, o aprendizado é um fenômeno que não pode ser limitado a apenas um

instrumento de transmissão de conhecimento ou apenas à sala de aula. Deve ter agilidade, uma

capacitação eficaz e rápida (sem comprometer a aprendizagem e oportunidade) e abrangência

para atender a todos que contribuem para os resultados do negócio (cadeia de valor).

Treinamentos presenciais e não presenciais, formais ou informais, precisam ser

utilizados na medida exata para assegurar a efetividade dos esforços de capacitação, garantindo

também a melhor relação custo/benefício. Na modalidade formal temos os cursos presenciais

como workshops, team buildings, pílulas de conhecimento e palestras, e os cursos on-line, como

videoaulas, games, salas virtuais e simuladores. Na modalidade informal temos treinamentos on

the job, fóruns, blogs, clippings, comunidades, guias, manuais, bibliotecas virtuais e redes sociais.

Mas quais ferramentas podem ser utilizadas?

89

Definição do método

No ambiente corporativo o aprendizado precisa estar ligado e ser transferido ao

trabalho e, principalmente, trazer resultados ao negócio. Por isso, é extremamente importante

utilizar formas criativas e inovadoras de ensinar e aprender, já que as pessoas precisam refletir,

mudar comportamentos e implementar de fato o conhecimento adquirido. Para definir uma ação

de treinamento, começar pelo fim é a melhor maneira, ou seja, começar pelos resultados que irão

impactar no negócio, depois definir as competências e temas que serão trabalhados e, por último,

qual o formato do treinamento.

O treinamento é um meio para sair de um lugar e chegar a outro melhor, e esse

avanço pode ser conseguido usando técnicas distintas que facilitam e aceleram o aprendizado. E

para se chegar ao resultado desejado é importante observar que as pessoas são distintas, por isso

considerar os estilos de aprendizagem nos treinamentos é fundamental para o sucesso. Cada

indivíduo tem um estilo, seja visual, auditivo ou cinestésico, podendo carregar ou

preferencialmente usar apenas um ou então uma mescla de estilos, que define a maneira como

ele percebe e interage com o mundo.

Fonte: http://fbcriativo.org.br/media/images/raw/2013/02/08/img-170-coragem-4.png

90

Os visuais aprendem melhor ao ver, como, por exemplo, assistindo a um vídeo, vendo

uma imagem, etc.

Os auditivos aprendem melhor ouvindo, como, por exemplo, uma aula teórica de um

professor em uma sala de aula e, por que não, com uma música.

Os cinestésicos aprendem melhor quando, por exemplo, assistem a uma palestra,

manipulam uma caneta, escrevem aquilo que escutam e principalmente quando executam algo

prático.

Nos treinamentos corporativos atuais são utilizados muitos modelos e metodologias

de transferência de conhecimento. Dentre eles destaco o método das 6Ds, as seis disciplinas que

transformam a educação em resultados para o negócio, desenvolvida pelos coaches e líderes Cal

Wick, Roy Pollock e Andy Jefferson, após um grande estudo sobre treinamentos eficientes e

eficazes que trazem resultados para as empresas.

6Ds – Wick, Pollock e Jefferson

Fonte: http://adrianaferrareto.com.br/wp-content/uploads/2013/10/6dsB-site.png

91

As seis disciplinas contribuem para planejar, definir, desenvolver e documentar

programas de treinamento e desenvolvimento visando impactos nos negócios:

D1 – Determinar os resultados para o negócio: como o treinamento irá contribuir para

a missão e a produtividade da empresa? Como os participantes serão diferentes ou melhores para

trazer mais resultados para o negócio?

D2 – Desenhar uma experiência completa: todas as etapas do treinamento devem ser

previstas: a preparação, a estrutura e também o que será feito depois, fazendo do treinamento

uma completa experiência de ensino-aprendizagem.

D3 – Direcionar a aplicação: para que os treinamentos gerem aumento da

performance na empresa, as atividades devem relacionar o que os participantes estão aprendendo

com as tarefas ou ações práticas do seu dia a dia.

D4 – Definir a transferência do aprendizado: após o aprendizado de algo novo existem

grandes oportunidades para praticar novas habilidades e criar novos hábitos, que podem ser

aproveitadas com o correto acompanhamento, transferência e prática do aprendizado.

D5 – Dar apoio à performance: após a etapa de transferência de aprendizado, os

participantes precisam ser acompanhados e apoiados sobre as novas habilidades e conhecimentos

que aprenderam.

D6 – Documentar o resultado: o treinamento se torna um investimento quando o

valor obtido é maior do que o seu custo. Documentar os resultados é fundamental para garantir a

mensuração dos resultados obtidos nos programas de desenvolvimento.

De acordo com Peter Drucker, o gerenciamento precisa sempre, em toda decisão e

ação, colocar o desempenho econômico em primeiro lugar. Ele só pode justificar sua existência e

sua autoridade por meio de resultados não econômicos: a felicidade dos membros do

empreendimento, a contribuição para o bem-estar ou cultura da comunidade etc. Contudo, o

gerenciamento terá falhado caso não consiga produzir resultados econômicos. Ele terá falhado

caso não melhore, ou ao menos mantenha, a capacidade de produção de riqueza dos recursos

econômicos que lhe foram confiados.

Cada vez mais as empresas investem e os líderes apoiam ações de treinamento e

desenvolvimento que, além de qualificar, promover o aprendizado e o conhecimento dos

funcionários, melhoram a performance do negócio. E para isso é preciso partir de um método,

92

como as 6Ds, que organize, deixe claras as ideias e possibilite fazer a gestão e acompanhamento

de todas as etapas, desde o levantamento de expectativas e necessidades até a mensuração de

resultados. Tudo isso aliado à mudança de comportamento que levará ao impacto positivo no

negócio da empresa. Com a definição do método é possível ser muito mais produtivo e o

treinamento ser mais efetivo.

Em todas as disciplinas é possível ser criativo e inovador. Treinamento de sucesso é

aquele que inspira, provoca mudança e transforma o participante. É uma tarefa fácil? Depende de

vários fatores, dentre eles a disposição do participante em mudar, se terá espaço para

implementar o novo, e também das ferramentas utilizadas no treinamento, que poderão acelerar,

contribuir ou não para a mudança.

Superferramentas para aceleração da aprendizagem

Para a aceleração da aprendizagem em treinamentos corporativos, é fundamental a

aplicação de ferramentas que provoquem os estímulos necessários que deverão engajar e

envolver os participantes. Além de tornarem o treinamento uma experiência agradável, as

ferramentas adequadas possibilitam o alcance dos resultados esperados pela empresa. Algumas

ferramentas cumprem esse papel, como apresentações em PowerPoint, mapas de aprendizagem e

facilitação gráfica, storytelling, design thinking, jogos, simulações, vivências, filmes e músicas, além

de conteúdos por meio de materiais complementares, como guias, folhetos, livretos, leituras de

artigos e livros, apostilas, mídias sociais e mobile learning. Todas as ferramentas não devem deixar

de lado a experiência dos participantes e a usabilidade do conteúdo.

De acordo com Dave Meier, autor do Manual de aceleração da aprendizagem, é

possível aumentar a eficácia da aprendizagem, poupando tempo e dinheiro no processo. Ele

definiu sete princípios fundamentais da aceleração da aprendizagem:

1. Aprender envolve o corpo e a mente. A aprendizagem não é apenas usar a

“cabeça”, mas envolve todo o corpo e a mente, com todas as suas emoções e sentidos.

2. Aprender é criação, não consumo. O conhecimento não é algo que absorvemos,

mas algo que criamos. Aprender é criar novos significados.

93

3. Colaboração contribui para a aprendizagem. Geralmente aprendemos mais através

da interação com os outros do que por qualquer outro meio. A competição retarda o aprendizado

enquanto a cooperação o acelera.

4. O aprendizado ocorre simultaneamente em diversos níveis. A aprendizagem não é

uma questão de absorver um pouco de cada vez de forma linear, mas absorver muitas coisas ao

mesmo tempo. O cérebro, afinal, não é um processador sequencial, e sim paralelo, e prospera

quando é desafiado a fazer muitas coisas ao mesmo tempo.

5. Aprender vem do fazer o trabalho em si. As pessoas aprendem melhor em um

contexto. Coisas aprendidas de forma isolada são difíceis de lembrar e rapidamente são

esquecidas. Aprendemos a nadar nadando, cantar cantando e vender vendendo, ou seja, a melhor

maneira de aprender é praticando.

6. Emoções positivas melhoram bastante a aprendizagem. Os sentimentos

determinam tanto a qualidade e quantidade da aprendizagem. Sentimentos negativos inibem a

aprendizagem, enquanto que sentimentos positivos aceleram e tornam a aprendizagem alegre,

descontraída e envolvente.

7. O cérebro absorve informações instantânea e automaticamente. O sistema

nervoso humano é mais do que um processador de imagens e textos. Imagens concretas são

muito mais fáceis de entender e reter do que abstrações verbais.

Nessa abordagem, os resultados esperados das ações de treinamento e

desenvolvimento envolvem a redução do GAP entre aprender e aplicar, melhorando a percepção

por parte dos participantes quanto à aplicabilidade do novo conhecimento no trabalho e por fim

tornando o aprendizado memorável. Utilizando o método das 6Ds, é possível destacar duas

disciplinas em que o modelo de aceleração de aprendizagem deve atuar mais fortemente:

D3 – Direcionar a aplicação

D4 – Definir a transferência do aprendizado.

Superferramentas na disciplina D3 – Direcionar a aplicação

Adultos são práticos e dão muito valor à relevância, ou seja, precisamos ver motivo

para aprender algo e ter motivação para aplicar o conhecimento. Para isso, é importante ter em

94

mente que o resultado do treinamento começa com o convite, portanto, faz-se necessária a

preocupação com ações pré-treinamento para estimular o participante.

Antes do treinamento

Um convite diferenciado e criativo envolve o grupo e reforça a importância da

presença de cada participante. Se o público-alvo permitir, utilize bom humor para dar leveza e

sensação de acolhimento. Enviar um teaser antes do convite, com frases curtas, sem muitas

informações do que irá acontecer, desperta a curiosidade e cria um clima positivo. O teaser pode

ser por e-mail, bilhetes na estação de trabalho, algum brinde. Também é possível despertar o

interesse enviando ao participante uma atividade pré-treinamento, como uma leitura sobre o

tema, uma pesquisa ou quiz, um curso a distância ou uma videoaula. Dessa forma o engajamento

começa antes mesmo do treinamento.

Exemplos de teaser

Fonte: https://carolinacezari.files.wordpress.com/2010/06/out_teaser1.jpg

Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-Z3aTNsFFP0w/UREwhbXu6gI/AAAAAAAAAqg/bCfKv1Vsj7Y/

s1600/MAIO_SEBRAE_7%C2%AA_EXPOMOV_ANUNCIO_JORNAL_TEASER_195mmx29cm_260712-01.jpg

95

Durante o treinamento

A ambientação física também é um fator que influencia a aprendizagem. O ambiente

positivo, organizado e funcional proporciona maior proximidade e interação entre os

participantes. A escolha certa das cores dos objetos dentro ou fora da sala, o formato e disposição

de mesas e cadeiras, a utilização de móbiles, banners, cartazes, painéis e uso de música ambiente

e videoclipes são recursos que influenciam o estado de espírito e deixam o treinamento divertido

e envolvente. Nas mesas pode haver kits com lápis, canetinhas coloridas, post-its e outros

materiais estimulantes.

Modelos de kit de mesa

https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/b1/45/1f/b1451f9156b67730f5be516f602127f8.jpg

96

Ambientes de treinamento

Fonte: http://www.isvor.com.br/site/trilhas-de-desenvolvimento.php

Fonte: http://www.grupouniversogo.com.br/arquivos/noticia/zooms-414-15.jpg

A experiência sensorial pode ser usada ao longo do treinamento baseando-se nos

cinco sentidos. O participante tem a privação momentânea de um deles, o que estimula a

criatividade, e a expectativa e potencializa os demais sentidos.

97

Fonte: http://i1.r7.com/data/files/2C95/948F/32A6/1CCD/0132/AB70/AB6B/511E/Vidas%20em%20Jogo%20-

%20Benjamin%20Constant%20-%20Michel%20(5).jpg

Apresentações, sejam em PowerPoint, sejam em outro programa, precisam ser

dinâmicas e alinhadas com o tema do treinamento. Devem ter um assunto por slide e imagens de

qualidade, que contem uma história e exemplifiquem as situações trazidas para o treinamento.

Um mapa de aprendizagem é uma representação visual de uma situação vivida dentro

da empresa para que as pessoas em contato com ele produzam novas ideias. É produzido antes do

início do treinamento para ser usado durante o encontro.

Fonte: https://www.mexidodeideias.com.br/wp-content/uploads//2013/08/infografico-2-da-fazenda-a-xicara.jpg

98

A facilitação gráfica é uma ferramenta que organiza ideias por meio do desenho de

uma informação, transformando processos invisíveis do que foi dito e vivido no encontro em uma

composição visual.

Fonte: http://www.catuete.com.br/assets/uploads/Fg-Louise-620x469.jpg

Usar trechos de filme é ideal para ilustrar e reforçar conteúdos de forma lúdica, além

de provocar reflexões nos participantes.

Com o storytelling é possível tornar o conteúdo em enredos atrativos e emocionantes

por meio de narrativas, ou seja, histórias para entender melhor o tema do treinamento.

Fonte: http://advancedcfo.com/wp-content/uploads/2014/07/storyteller.jpg

A gameficação através de jogos, cooperativos ou não, é muito indicada para acelerar a

aprendizagem dos participantes e sensibilizá-los a respeito do conteúdo e da mudança de

99

comportamento. Pode ser um jogo mais técnico, para fixação do conteúdo, mas também pode ser

metafórico, momento em que o lado comportamental é trabalhado para gerar as reflexões e

mudanças esperadas. Existem jogos virtuais, com a utilização de computador, tablet e

smartphone, e também existem os presenciais, com tabuleiros e peças, usados pelos participantes

durante o treinamento.

Fonte: http://www.impacta.com.br/blog/wp-content/uploads/2015/09/Gamificacao-a-evolucao-do-mercado.jpg

Fonte: https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQSRBxNxOu

EbgaogoY991LohGOD7ZO7KA9zRMYbI1JZVhwOwvAc-Q

100

As pílulas de conteúdo são ferramentas que devem ser usadas quando uma

informação, não muito extensa, precisa ser passada de forma prática, ágil e curta. Podem ser em

formato de vídeo, de panfleto, folder, livreto, jogo, mensagem de celular e principalmente por

meio das redes sociais, como Facebook, Twitter, YouTube e WhatsApp. Utilizar redes sociais para

difusão de conteúdos e conhecimento permite que usuário se sinta colaborador, cocriador e

compartilhador, vantagens muito valorizadas atualmente.

A improvisação com intervenção artística é utilizada como recurso para promover a

integração dos participantes, vitalizar o grupo ao longo do encontro e conscientizar sobre o tema

do encontro. Artistas, em momentos combinados, interrompem o treinamento para interagir com

os participantes através de dilemas que vão sendo solucionados de forma descontraída.

Fonte: https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQPk0pXv384ATzz7REl-

AqwEBq4ik0p0jfmS_T3HnYbbXtW-Fst

Após participar de um treinamento, o participante deve estar apto a utilizar o novo

conhecimento no seu dia a dia, transformando seu modo de pensar e agir. É o momento de

colocar em prática e que deve ser sempre estimulado pela organização e liderança.

Superferramentas na disciplina D4 – Definir a transferência do aprendizado

Ações de treinamento se valorizam quando os novos conhecimentos, habilidades e

atitudes são colocados em prática no dia a dia do participante. Um conhecimento não utilizado,

não praticado, é esquecido. Com isso o treinamento pode ser visto pelos patrocinadores como

perda de tempo e de dinheiro. Empresas com as melhores práticas em treinamento e

101

desenvolvimento gerenciam o processo de mudança e recompensam o progresso dos

participantes.

Pós-treinamento

Atividades de pós-treinamento mantêm a curva de aprendizagem em alta pois

reforçam os conhecimentos adquiridos e complementam o que foi discutido no treinamento. A

utilização de videoaulas, cursos e-learning, fóruns virtuais (por WhatsApp, Facebook, blogs) ou

presenciais para troca de informações e melhores práticas, manuais e guias de aplicação,

indicação de livros, filmes e leitura de artigos são exemplos de ferramentas para manter os

participantes sempre em contato com o conhecimento e motivados a aplicá-lo no trabalho.

Conclusão: Big learning data – Os megadados da aprendizagem

Vivemos a velocidade das transformações tecnológicas, o crescimento da virtualidade

dos contatos e das relações sociais, a valorização da criação e da inovação, mas tudo isso exige um

ambiente cada vez mais sustentável. O grande desafio é criar, acessar, armazenar e compartilhar o

conhecimento, o big data da aprendizagem. Em Tecnologia da Informação o big data se baseia em

5Vs: velocidade, volume, variedade, veracidade e valor. Nesse contexto, é perceptível a influência

do big data no processo de aceleração da aprendizagem, em que os “Vs” fazem total sentido, pois

as organizações querem cada vez mais que os colaboradores aprendam melhor, mais rápido, com

menor custo, e atuem de forma mais estratégica e persuasiva.

O indivíduo hoje aprende melhor em um ambiente de conexão e colaboração. O big

data oferece a possibilidade de agregar, analisar e tirar conclusões a partir de dados até então

esparsos. Para quem aprende e ensina, tudo precisa ter significado, fazer sentido e correlações.

Considerando que a aprendizagem tradicional enfatiza a competição entre indivíduos isolados, a

aceleração da aprendizagem, no cenário do big data, enfatiza a colaboração entre as pessoas em

uma comunidade.

Estamos avançando em grande velocidade, já que o big data não é mais tendência, é

uma realidade que afeta a maneira como as pessoas tratam as informações, armazenam e

mensuram a aprendizagem no local de trabalho. Muito além de saber quantos participantes,

quantos cursos e quão bem os participantes fazem, com o big data já é possível rastrear as

102

informações que as pessoas estão consumindo, bem como os tópicos que estão postando. Mas o

uso e a disseminação das informações devem estar no contexto do negócio e gerar confiabilidade

para ser eficaz. Esse cenário tem alguns desafios para a área de aprendizagem das organizações:

O RH está preparado para transformar enormes conjuntos de dados em insights?

Saberá usar dados estatísticos, análises de tendências e comparações?

Quais conjuntos de dados são necessários para demonstrar o benefício do

treinamento para o negócio? O RH deverá saber limpar dados desnecessários, irrelevantes e

identificar os dados corretos, indicadores-chave, necessários e úteis que gerem ideias e que

demonstrem os resultados.

É um caminho sem volta, por isso há muito trabalho a fazer com profissionais de

aprendizagem e liderança. Por isso o RH não deve nem pode trabalhar sozinho para enfrentar este

mundo com grandes potenciais e novos desafios que vão sendo descobertos a cada dia. As

organizações devem se preocupar em oferecer uma melhor experiência de aprendizagem para os

colaboradores, que se transformarão em pessoas capazes de atingir metas mais difíceis e

enfrentar um mercado mais competitivo. O mar não está pra peixe, e sim pra tubarão.

Referências

Cursos

Creative minds, com Leon Tsao (New York, USA, 2015)

Design thinking for understanding clients & communities, com Kristina Drury (Centre for Social

Innovation, New York, USA, 2015)

Inside the art of visual storytelling, com Carl Potts (New York, USA, 2015)

Sites

www.alcenter.com/index.php

www.academiadaestrategia.com.br

103

Livros

BINGHAM, T.; CONNER, M. O novo social learning: como transformar as empresas com

aprendizagem em rede. São Paulo: Évora, 2011.

MORENO, G. Supertraning: aceleração da aprendizagem. São Paulo: ACAD Books, 2014.

RUBIO, A. Universidades corporativas. Madrid: Lid, 2011.

SENGE, P. The fifth discipline: the art and practice of the learning organization. Doubleday:

Paperbach, 1990.

WICK, C.; POLLOCK, R.; JEFFERSON, A. 6Ds: As seis disciplinas que transformam educação em

resultados para o negócio. São Paulo: Évora, 2011.

104

Sobre o autor

Comunicólogo, jornalista e apaixonado há mais de treze anos por treinamento e

desenvolvimento de pessoas, conhecimento e aplicação de metodologias e modelos educacionais

mistos para aceleração da aprendizagem, seja experiencial, formal, informal, a distância,

colaborativa, entre outros. Atualmente é Key Account de Negócios Estratégicos na ACAD –

Academia da Estratégia, consultoria especializada em soluções educacionais voltadas ao mercado

de Educação Corporativa.

Contato: [email protected]

105

Capítulo 6

A ATUAÇÃO DO RH NO VAREJO

IARA SANTANA

O que antes era a premissa do RH, foco no departamento de pessoal, com a evolução o

cenário mudou e surgiram vários subsistemas. O recrutamento é a divulgação da vaga e a triagem

de possíveis candidatos com base nos pré-requisitos do cargo (experiência profissional,

escolaridade e outros). Pode acontecer de duas formas: interno e externo. Após a triagem feita

por meio do recrutamento, a seleção é a oportunidade de conhecer com mais detalhes o

candidato e escolher o perfil mais adequado para a vaga. O treinamento é o processo de mudança

no comportamento dos colaboradores e visa a aquisição de habilidades relacionadas às tarefas do

cargo – atendendo a padrões e aumentando a produtividade, aperfeiçoando desempenhos e

relações interpessoais. Já o desenvolvimento é um processo de crescimento do indivíduo e visa

explorar o seu potencial de aprendizagem. Oferece-lhe condições e amparo a fim de utilizar suas

capacidades e aplicar seus conhecimentos e experiências na prevenção e solução de novas e

diferentes situações; é como se preparássemos a pessoa para adquirir uma visão holística sobre a

empresa, uma maneira de conduzi-la a um comportamento ativo diante de uma futura tarefa ou

adversidade. A remuneração é um dos subsistemas mais importantes da área de Recursos

Humanos, pois, se a organização se preocupa em bem recompensar seus colaboradores, estes se

sentirão valorizados e permanecerão por muito mais tempo na mesma. Quando falamos em

remuneração, ela vai além do salário, pois inclui a soma do salário total e outros benefícios

agregados. Os subsistemas citados são os mais comuns encontrados nas empresas e que podem

gerar resultados significativos.

Nos últimos anos temos ouvido falar muito a respeito de RH estratégico. O que seria

este modelo de atuação? Ouvimos dizer que é um RH diferenciando que contribui com a empresa

106

como todo, fornecendo ideias no planejamento estratégico que as organizações fazem no início do

ano e principalmente na ponta do negócio, ou seja, nos pontos de vendas, que atendem o

consumidor final e o varejo no geral.

Mas como despertou este interesse do RH em sair do escritório (isso vinha dando

resultado...) e passar a visitar o campo, o coração da empresa? Sabe como? Quando a área

passou a medir o seu resultado através de indicadores – os profissionais começaram a mensurar

a entrega de suas demandas, por exemplo, rotatividade no período de experiência. Criaram

relatório de vagas, entrevista de desligamento, controle de treinamentos e custos, entre outros,

voltados para área de RH. Estes sempre impactaram no negócio de maneira positiva, porém não

havia o hábito de mensurar a grandeza do quanto contribuíam para o crescimento pessoal e

profissional dos funcionários. Foi preciso mudar o olhar, criar novas ações para a valorização dos

profissionais de RH.

Hoje, no varejo, o alvo é a melhoria das equipes. É claro que baixar custos e aumentar

a rentabilidade são fatores essenciais para a permanência das lojas no mercado e o futuro da

gerência de lojas passa pelo aprendizado da facilitação do conhecimento. Todo e qualquer

treinamento poderia ser ministrado pelo próprio gerente da unidade, que para isso precisaria

estar apto. A grande maioria dos gerentes tem baixíssimo nível de leitura e pouca predisposição

para aumentar seu cabedal de conhecimento em treinamentos, seminários e palestras e, por isso,

estará terminantemente fora do mercado em pouco tempo. Para se tornar um gerente facilitador

é imprescindível o conhecimento das técnicas de vendas e atendimento ao público. Precisará

conhecer cada detalhe de uma venda, desde a abordagem até o encantamento e a fidelização dos

clientes. Deverá conhecer cada detalhe da psicologia de sua equipe e ter o poder de falar, de ser

mestre e corrigir os erros sem desafinar a orquestra.

Podemos constatar que grande parte do mau atendimento dentro do varejo se deve

ao fato de o próprio gerente não saber o que é mau atendimento. Duvida? Então por que no Brasil

o nível de bom atendimento ainda é tão baixo? Sabe por quê? Porque exige-se do gerente que se

torne simplesmente administrativo. Gerente de vendas administrativo, mais preocupado com os

fins e não com os meios. Aí, quando os clientes somem e as vendas caem, ele se volta para o

mercado e culpa a crise. Fácil, não? Passa mais tempo cuidando da papelada.

Isso gera uma grande oportunidade para os profissionais de recursos humanos que

fazem o trabalho de campo para atuar de maneira eficaz, levantando demandas nas unidades de

107

negócios que irão proporcionar melhoria de processos, criação de fluxo de trabalho e atividades,

procedimentos de áreas e soluções para tarefas que humanamente podem ser impossíveis.

A liderança é um dos alvos que a equipe da ponta ataca, porque o trabalho tem vários

direcionamentos e o foco deve ser voltado para todas as lojas e pontos comerciais. Uma vez os

líderes treinados, desenvolvidos e engajados na cultura e na visão da empresa, isto facilita, e

muito, o sucesso do trabalho. Passa credibilidade para que os CEOs e diretores vejam o quanto

uma equipe diferenciada de recursos humanos pode gerar resultados fantásticos e marcantes na

história das empresas.

Será preciso repensar sobre a posição e postura que os empresários desejam que o RH

tenha dentro da empresa.

Cases de sucesso no varejo

Entrevista com Adnan Leandro do Rosário, Gerente de Recursos Humanos Business

Partner (RH BP) na fábrica de Sorocaba da Pepsico.

Em qual empresa já atuou no varejo e como era sua rotina?

ALR – Atuei como RH BP na Pepsico. Atendia aos CDVs (centros de distribuição de

vendas) das regiões Sudeste e Centro-Oeste, totalizado 22 unidades. Tinha um contato muito

próximo com a equipe e estabeleci uma agenda para visitar sempre as unidades. Mensalmente

passava um treinamento de desenvolvimento de liderança, aplicava uma ferramenta chamada

diagnóstico organizacional e fazia reuniões com a equipe de vendas em rotas e em lojas.

Existia integração com as áreas da matriz?

ALR – Sim, a matriz era responsável por prover novos modelos, ajudar no PDCA

levantado por mim e dar suporte na divulgação de novos programas e demandas do negócio.

Com quais subsistemas de RH você trabalha atualmente ou já trabalhou?

ALR – Como Business Partner, atuo fortemente em todos os subsistemas de RH, com

muita ênfase em desenvolvimento organizacional.

108

Você conseguiu impactar nos resultados da empresa e das pessoas?

ALR – Sim, através dos business plan de RH colhemos resultados diretos em custo

de pessoas e design organizacional, novas formas de trabalho e treinamentos com resultados

comprovados (ROI).

Com quais indicadores você já trabalhou? Como media o resultado?

ALR – People cost (custo de pessoas), turnover, absenteísmo, hora extra, gestão de

clima, retorno sobre treinamentos, produtividade em serviços compartilhados de facilities.

Entrevista com Ana Paula Apolonio da Silva, Coordenadora de T&D. Psicóloga formada

pela Universidade São Marcos (CRP 06/92239), pós-graduada em Psicologia Cognitivo-

Comportamental pela UNIP com especialização em Coaching (Personal Professional Coaching) pela

Sociedade Brasileira de Coaching (SBC). Experiência em atuar no RH estratégico. Responsável pela

gestão de RH de unidades de redes e franquias, gestão de clima organizacional, diagnóstico

empresarial. Levantamento de necessidades com base em indicadores, análise pontual de cada

unidade e franquia, elaboração e implantação de planos de ação e planos motivacionais para

melhores resultados da equipe e aumento de faturamento e quantidade de clientes.

Desenvolvimento de liderança com utilização de determinados métodos como coaching, PDL,

acompanhamento de líderes e equipe para motivação e maior desempenho.

Em qual empresa já atuou no varejo e como era sua rotina?

APAS – Atuei no Habib’s e Atacadista Roldão. Toda semana organizava o meu

cronograma para atender as empresas em recrutamento e seleção, inaugurações de lojas, gestão

de clima organizacional, desenvolvimento de liderança e treinamentos. Em especial, em 2009, na

empresa Habib’s iniciamos um projeto grandioso: a empresa atenderia todas as lojas com visão de

cliente externo, com o RH atuando próximo, eu e as demais psicólogas éramos responsáveis por

um grupo de lojas de uma região, porém no começo estávamos sem ferramenta inicial e no ano

seguinte a empresa mudou o escopo do trabalho. Partimos das premissas de usar pesquisas de

clima das lojas para aumentar o nível de satisfação dos colaboradores de loja. Visitávamos as lojas,

fazíamos reuniões com os gestores e montávamos plano de ação para melhoria das práticas de

RH. O desafio maior era persuadir os líderes a mudar suas antigas práticas e quebrar os

paradigmas, aceitando o RH como parceiro. Como era empresa familiar, o poder do

109

relacionamento era muito forte, então tínhamos que provar todos os dias o quanto o RH queria

ajudar, compartilhar novas ideias, inovar nos processos e procedimentos da empresa. Todos os

anos, a cada seis meses, aplicávamos a pesquisa de clima nas lojas e medíamos os resultados.

Participei da realização do workshop para lançamento do Guia Prático de RH, aplicação de

checklist nas franquias para elaborar o ranking das melhores lojas para se trabalhar na rede

Habib’s, nível São Paulo e Brasil.

Existia integração com as áreas da matriz?

APAS – Sim, era fundamental para o sucesso do trabalho esta integração e

comunicação com as áreas para garantir a melhor execução e a satisfação da diretoria de RH,

presidente e vice-presidente da empresa. Usávamos sempre o discurso de pessoa certa no lugar

certo e os resultados através de pessoas.

Com quais subsistemas de RH você trabalha atualmente ou já trabalhou?

APAS – Recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, gestão de clima

organizacional e consultoria interna de RH.

Você conseguiu impactar nos resultados da empresa e das pessoas?

APAS – Sim, no Habib’s tive a experiência de atuar junto às lojas com bons indicadores

de gestão de pessoas. Dentre as que trabalhei, houve uma que se destacou em primeiro lugar em

sua performance em gestão de clima organizacional. E não tem nada melhor para um profissional

que atua com pessoas acompanhar seu crescimento e desenvolvimento dentro da empresa e

saber que você contribui e que parte do que está acontecendo com aquela pessoa só aconteceu

por sua “culpa”. Você sente que o RH está ganhando espaço na empresa, e outras áreas, como o

Comercial, enxergam a capacidade de entrega e resultado do RH.

Com quais indicadores você já trabalhou? Como media o resultado?

APAS – Checklist, relatórios gerenciais e pesquisa de clima organizacional. Os

resultados eram medidos através de acompanhamento e visitas, mensurados e comparados entre

lojas.

110

Nós não somos um número...

Cobrança diária, pressão contínua, competição acelerada, nervos à flor da pele e um

misto de outros fatores que, juntos, com o passar do tempo, são capazes de abalar as estruturas

psicoemocionais de qualquer cidadão, até mesmo aqueles considerados mais fortes e capazes de

superar inúmeras situações de stress contínuo. Tudo isso com um único objetivo: alcançar e

superar metas que são identificadas através de números. Quando estes são positivos, é só alegria,

comemoração, aquela sensação de dever cumprido, pelo menos até o último dia do mês, já que

no primeiro dia do mês seguinte começa tudo de novo. Porém, quando os números não refletem

os resultados esperados pela empresa, “ah, meu Deus!”. A coisa se complica... Insegurança, medo,

tensão, aquele clima insuportável que envolve todo o ambiente de trabalho, ou que afeta aquele

funcionário que não conseguiu corresponder às expectativas, mesmo que o resultado final da

empresa tenha sido positivo. A verdade é que no mundo dos negócios o inconformismo é um fator

predominante; afinal de contas, ele é o alicerce da autossuperação. Diante desse cenário podemos

constatar a existência da pressão contínua por produtividade, palavra-chave de qualquer negócio,

não importa o segmento de mercado. Em resumo, a sobrevivência profissional de qualquer

indivíduo no competitivo mercado de trabalho está diretamente ligada ao fato de alcançar êxito

na tal produtividade. Isso parece algo desumano, pois consegue levar algumas pessoas à loucura.

Muitos apresentam sérios problemas de saúde e acabam “encostados” pelo INSS ou aposentados

precocemente em consequência de doenças oriundas desse ambiente cada vez mais “anormal”

aos olhos das pessoas consideradas “normais”. Não obstante, a produtividade se faz presente

também na nossa vida pessoal. Você já parou para pensar em quantos casamentos já foram

desfeitos porque, depois de algum tempo, um ou outro deixou de produzir a contento para o

parceiro? Algum tempo atrás, ao acompanhar uma reunião com profissionais de vendas em uma

loja, presenciei um vendedor indagar ao gerente sobre a frieza desse sistema corporativo,

deixando registrado para os demais colegas que, diante de tantas metas a ser alcançadas e em

face de tanta cobrança e pressão, ele estava se sentindo como um número e que, a partir do

momento que se tornasse um número insignificante, qualquer que fosse o motivo, seria

descartado. Não achava essa dinâmica justa, pois trata-se de seres humanos com vida própria,

sentimentos e sonhos que precisam ser respeitados a fim de manter intacta sua dignidade. O

gerente em questão não hesitou, respondendo que seria hipocrisia “florear” e dizer que a

empresa não os via como um número, inclusive ao próprio gerente, e que se esse número não

111

correspondesse às expectativas dos superiores hierárquicos não haveria tolerância. O gerente

enfatizou que as metas e as cobranças tendem sempre a aumentar e que, se alguém não se

sentisse capaz de produzir à altura do esperado, realmente o melhor a fazer seria pedir as contas,

pois, do contrário, seria demitido por improdutividade em curto prazo de tempo. Sem dúvida, foi

difícil para o vendedor ouvir essa verdade de forma tão objetiva, ou até impiedosa, segundo os

mais sentimentais. Bom, como bem dizem alguns famosos executivos, “o universo business é uma

selva onde, para sobreviver, o indivíduo precisa ser uma fera”. Sim, essa expressão sintetiza bem

como o mundo corporativo é visto por alguns. Porém, vale salientar que existem também outros

indivíduos que veem as coisas com outros olhos. Profissionais que entendem que as empresas são

engrenagens, não tão complexas assim, que funcionam através das competências e habilidades –

entre outras coisas – de pessoas comuns, seres humanos como eu e você. E quanto aos números?

De fato eles são muito importantes ou, por que não dizer, fundamentais, porém são apenas

indicadores que nos permitem entender, analisar e interagir com esse macrossistema. Sendo

assim, realmente é desumano sermos considerados apenas um número. No entanto, cabe

compreendermos que, embora NÓS NÃO SEJAMOS UM NÚMERO, SÃO OS NÚMEROS QUE

REFLETEM QUEM NÓS SOMOS, pois seu histórico compõe uma foto do profissionalismo de um

indivíduo a ser exibida para seus superiores, pessoas que muitas vezes nem o conhecem

pessoalmente. Portanto, para ter boas oportunidades de crescimento ou para, no mínimo, manter

o emprego, “é preciso estar bem na foto”, como diz o ditado popular.

Artigo: Mas como ser um profissional de Recursos Humanos da ponta, eficaz?

Escrito pelo consultor empresarial Ricardo Gouveia, da Consultoria DNA de Vendas,

que realiza diagnósticos, análises de estatísticas de vendas, desenvolve e acompanha planos de

ação de cada projeto, cria todas as metodologias necessárias para o ganho de produtividade

(métodos de vendas, manual de operações de vendas e métodos de treinamento) e

sistematicamente acompanha os KPIs do projeto e do cliente a fim de propor ações de melhoria

contínua na operação de vendas.

112

Entenda da cultura e valores desta empresa

Os valores correspondem ao que é importante para a organização e devem ser

considerados guias para o comportamento no dia a dia. A atribuição principal dos líderes é

divulgá-los e encontrar mecanismos eficientes para internalizar os valores junto à equipe. Em

termos práticos, os valores devem estar alinhados à visão e à missão da organização e, quando

internalizados e compartilhados, gerar sentimentos de sucesso pessoal, criar comprometimento e

aumentar a autoconfiança.

A cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários da

organização e reflete a mentalidade que predomina na organização. Por esta razão, ela condiciona

a administração das pessoas.

A maneira pela qual a área de Recursos Humanos mais pode colaborar com a

preservação da cultura da empresa é contratando pessoas que estejam em sinergia com essa

cultura. Para um indivíduo que já compartilha dos valores de uma companhia é muito fácil

integrar-se à equipe e ao estilo de trabalho. Agora, para alguém que tem valores conflitantes, a

integração é difícil e muitas vezes isso acaba prejudicando o ambiente de trabalho como um todo.

Contratar pessoas que transbordem os valores que a companhia preza e tenham empatia por sua

missão é garantir um ambiente de trabalho saudável e de alto rendimento.

Quer um exemplo prático? Você não contrataria alguém com um perfil introspectivo

para liderar o marketing da Red Bull, certo? Já reparou que os atendentes da Chilli Beans têm um

visual tão “descolado” quanto os óculos que a marca vende? Isso é manter a cultura e a

identidade da empresa (e da marca).

Os Recursos Humanos na ponta contribuem assertivamente para que haja este

alinhamento com os valores e a cultura da empresa, reduzindo a rotatividade e contribuindo para

que a empresa tenha pessoas que internalizem a marca e valorizem o seu local de trabalho, além

de ter o desejo de fazer carreira e continuar trabalhando por muitos anos.

Procure integrar-se com todas as áreas da empresa

Cada setor precisa estar interligado e funcionando em harmonia com os demais, pois

desse perfeito entrosamento surgirão os resultados que alavancarão o negócio. Contudo, para

este entrosamento acontecer é necessário que a organização estimule, no mínimo, uma boa linha

de comunicação e, consequentemente, a integração entre cada área e os próprios funcionários

que formam o time.

113

Não importa o nível hierárquico do profissional, mesmo que ele traga consigo uma rica

bagagem técnica e comportamental, quando se faz a integração, a empresa mostra o valor que ele

tem para o contexto do negócio. Ou seja, ele não está ali apenas para preencher uma vaga, mas

sim para agregar valor, fazer o diferencial na sua nova função e por isso é fundamental que ele se

sinta parte integrante da organização. Uma vez que o profissional constata que tem valor para a

empresa, existe uma probabilidade positiva de que o contato inicial sirva de estímulo motivacional

para que mostre o quanto tem a agregar. Estará ambientado e muito mais livre para dar o melhor

de si, ou seja, será o primeiro passo para que o comprometimento na relação funcionário-empresa

seja solidificado.

Se o ambiente mostra-se propício para aceitá-lo, para ajudá-lo a se ambientar à sua

nova realidade, as chances de que esse profissional permaneça na organização aumentam

substancialmente. E quem atua com gestão de pessoas sabe que uma das grandes dificuldades

corporativas é não apenas atrair, mas reter os talentos. E nesse momento o processo de

integração pode ser considerado um fator decisivo para a permanência do profissional.

Há empresas que aproveitam a integração para apresentar os programas de

crescimento interno, de desenvolvimento de talentos, por exemplo. Outras acrescentam à

integração os benefícios, os direitos e os deveres que os funcionários terão a partir do momento

em que ingressam na empresa.

O momento da integração também se torna estratégico porque oferece a

oportunidade para que o recém-chegado faça questionamentos, apresente suas dúvidas em

relação a algum processo interno ou mesmo a temas relacionados ao segmento de atuação do

negócio. Quando a comunicação interna torna-se rica logo no momento da integração, isso pode

evitar que possíveis problemas surjam no decorrer do processo de adaptação dos funcionários.

Já que falamos sobre comunicação no processo em que o profissional está sendo

integrado à organização, não poderíamos deixar de mencionar um personagem importante nesse

contexto: a liderança. Não dá para conceber a integração apenas com a presença do profissional

da área de Recursos Humanos. Em algum momento o líder deve fazer-se presente e atuante, pois

é uma oportunidade para ele apresentar-se de fato ao novo membro da sua equipe. Lembremos

aqui que a primeira impressão que o liderado tem do líder e vice-versa vale “ouro”, pois tanto

pode estimular quanto afastar a futura relação entre os dois.

E os pares, quem são? Essa é outra parte fundamental no processo de integração. Não

basta apenas apresentar a empresa e os processos e colocar o profissional diante de um

114

computador de última geração. Ele precisará trabalhar em equipe e para isso necessitará conhecer

as pessoas que estão ao seu redor. E como sabemos que “trabalhar em equipe” é fator que faz

total diferença para o desempenho do profissional, cabe aqui que a liderança abra espaço e

apresente o recém-chegado aos demais membros da empresa. Logicamente, isso não fará com

que o novato faça grandes amigos na primeira semana, mas ajudará a deixar o clima bem mais

agradável e conseguirá ambientar estrategicamente o novo funcionário.

Falamos sobre a importância da integração ao ingressar na empresa, porque não há

como atuar como RH na ponta sem ser integrado à empresa e à sua equipe.

Faça autogestão e administre seu tempo da melhor maneira

A demanda cada vez maior por produtividade e eficiência exige que o profissional de

Recursos Humanos tenha uma visão de negócios sobre o seu papel. Ter visão sobre os custos da

operação faz toda a diferença e traz facilidade para negociar e lidar com pessoas. Dominar todas

as formas de comunicação e saber dialogar são pontos imprescindíveis.

Quando falamos em autogestão, nada mais é do que gerir a si mesmo, o seu tempo e a

sua vida. É colocar firmemente as mãos no volante, tomando as rédeas da sua vida e, em seguida,

ir para onde quiser. No trabalho de campo, existe uma relação de confiança entre o gestor e o

profissional que irá atuar externamente. Porém há alguns que acabam conduzindo esta liberdade

de atuação de maneira errada, usam o tempo para resolver questões pessoais, fora das lojas ou

das unidades. Quando estão internos, ficam ociosos, perdem-se nas atividades e acabam não

gerando resultados positivos.

Em contrapartida, o modelo ideal seria organizar o cronograma semanal e diário, ter

atividades planejadas para executar na visita, parceria com os líderes de maneira que as visitas

sejam bem aproveitadas, produtivas e eficazes, e sempre reportar ao seu gestor diariamente o

que fez, vai fazer e as recomendações que deixou para o líder dar continuidade nas atividades.

Administrar o tempo consiste em realizar atividades de planejamento, organização,

direção e controle para alcançar os objetivos utilizando o potencial humano que temos disponível.

Tendo administração do tempo, com autogestão e foco, que é o maior aliado para a conquista dos

resultados, você concentra toda a sua atenção e energia nas atividades, evitando os

desperdiçadores de tempo. Temos que focar uma tarefa por vez, mesmo que tenhamos muitas

demandas.

115

Troque experiências e boas práticas de RH realizadas

Na maioria das empresas, quando se inicia este trabalho de RH no campo (ou varejo,

comercial, estratégico – para cada negócio é usado um tipo de nomenclatura, mas no final o

objetivo é o mesmo), busca-se aproximar a área que cuida das pessoas, que integra, treina,

desenvolve e promove os funcionários, da equipe operacional, que diariamente representa a

empresa e gera o maior faturamento. Nem sempre existe algo estruturado para começar a “pôr a

mão na massa”, muitas práticas são pilotos e só depois se tornam padronizadas.

A rede de negócio pode ser a mesma, mas há diferença de região, estado e até mesmo

de bairro. Então os Recursos Humanos, em sua primeira visita, devem procurar conhecer o líder e

seu estilo de gerenciar, os funcionários e sua forma de trabalhar, técnicas de atendimento e seu

nível de motivação e capacidade de entrega. Feito isto, vamos partir para a utilização de algumas

práticas que serão exigidas pela empresa e outras que serão implantadas pelos profissionais

responsáveis por uma loja ou grupos de lojas. É como se os Recursos Humanos fossem o gerente

comercial, mas existe a diferença das competências técnicas. Com o passar do tempo, tornam-se

parceiros de negócio. Sua forma de contribuir passa a evoluir e gera rentabilidade, melhorias dos

indicadores negativos e faturamento da empresa em vários aspectos.

Em algumas práticas de Recursos Humanos, as empresas contribuem financeiramente

para ações motivacionais; em outras a área de Recursos Humanos influencia as lideranças para

que façam investimento na equipe; em outras ainda o profissional deve usar sua criatividade em

práticas como:

Calendário social: em toda data comemorativa (Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das

Crianças etc.) é colocada no mural das lojas uma frase lembrando a ocasião, ou a empresa fornece

um brinde.

Todos os meses comemorar os aniversariantes do mês com bolo e refrigerante.

Caixas de sugestões para ouvir a opinião da equipe e sugestões de melhoria da

empresa e da equipe.

Cardápio variado e saudável para as empresas que oferecem alimentação no local e

vale-refeição para aquelas que não têm.

Cumprimento das folgas dos domingos conforme CLT e pagamento das horas extras

ou compensação.

Assistência médica sem desconto.

116

Destaque do mês, com foto e prêmio da loja.

Vale-desconto para os funcionários poderem fazer compras no local de trabalho ou

desconto em folha de pagamento.

Cesta de Natal e premiações simbólicas de final do ano.

Uniformes e armários disponíveis para todos os funcionários.

Integração adequada em todas as unidades de negócio e treinamento das

atividades técnicas, além de acompanhamento no período de experiência.

Partindo dessas práticas básicas, mas que ainda são precárias no varejo e no comércio

em geral, os Recursos Humanos passam atuar com treinamentos pontuais e acompanhamentos

diários em suas visitas e plano de ação, visando resultados fundamentais para o crescimento das

empresas.

Tenha um olhar voltado para as estratégias e indicadores do negócio

Para termos os Recursos Humanos desenvolvendo as competências necessárias para a

execução da estratégia, é fundamental ter um modelo de gestão por competências que parta dos

desafios estratégicos, do posicionamento de mercado, da cadeia de valor, e extraia as

competências que são fundamentais para essa estratégia ser implementada.

Depois, analise a lacuna entre as atuais competências e essas que são requeridas

pela estratégia. Trace ações que viabilizem o desenvolvimento dessas competências e, por fim,

que acompanhem se elas realmente estão inseridas na organização, fazendo assim um ciclo

virtuoso de desenvolvimento de competências orientadas pela estratégia. Isso fará com que os

Recursos Humanos sejam realmente estratégicos do ponto de vista de desenvolvimento das

competências. O mesmo se aplica a vários outros elementos que os Recursos Humanos

gerenciam, como remuneração estratégica, clima organizacional para execução da estratégia,

seleção de talentos etc.

Tomada a decisão de implementar essas ações, elas precisam ser efetivamente

acompanhadas e geridas de forma contínua na organização, como um processo. Caso contrário, os

Recursos Humanos voltam a ser o que não queremos, focados apenas na rotina. Nesta nova

atuação vamos auxiliar a organização a implementar a estratégia. Precisamos participar das

decisões da empresa desde o planejamento estratégico, para que tenhamos, juntamente com as

outras áreas da empresa, a indispensável vantagem competitiva.

117

Hoje os Recursos Humanos precisam ter concentração no core business (parte principal

de determinado negócio) e ênfase nos objetivos e resultados da empresa, e gerenciar vários

processos relacionados à gestão das pessoas. Sem foco na estratégia, não há como alinhar a

gestão de pessoas com os objetivos organizacionais. E, para conseguir foco, precisa delegar e, no

caso da área de Recursos Humanos tradicional, há muitas atividades, principalmente operacionais,

que podem ser delegadas, terceirizadas ou simplesmente eliminadas. Tomar essa decisão significa

liberar tempo para que os profissionais de Recursos Humanos o invistam no seu foco principal,

tornando-se necessário reinventar a área, pois só conseguirão ser autores das estratégias

corporativas quando tiverem domínio dos diferentes negócios das empresas: visão estratégica,

mente empreendedora e clara percepção das competências essenciais que fazem as empresas ter

lucro ou prejuízo.

Além dos caminhos para sermos estratégicos, é preciso ter o olhar voltado para os

indicadores de Recursos Humanos e do negócio como todo, como, por exemplo, relatórios de RH,

diagnóstico organizacional, turnover, acompanhamento do período de experiência, treinamentos

técnicos e comportamentais. Não é só executar. Mas como vou medir o resultado de um

treinamento, saber qual o efeito e o resultado que ele trouxe para a empresa? É preciso repensar,

nossas ações neste contexto. E o negócio? Você conversa com outras áreas? Sabe os indicadores

com que trabalham e qual sua contribuição? Onde você pode ajudar e onde a outra área pode

ajudar você?

Costume medir seus resultados, entregar relatórios mensais para seus gestores sobre a

evolução de um ano para o outro, de um mês para o outro, de uma semana para outra. Nunca

deixe de fazer isto, mesmo que não lhe peçam, pois poderá voltar para as origens antigas, que não

irão funcionar neste modelo atual.

Valorize sua capacidade de desenvolver pessoas e conseguir resultados positivos através delas

O capital intelectual é cada vez mais valorizado nas organizações, seja em

microempresas, seja em pequenas ou grandes, sendo o profissional-chave para conseguir este

sucesso, o analista em Recursos Humanos, hoje mais conhecido como gestor de pessoas.

A responsabilidade do gestor de pessoas é de uma grandeza imensurável dentro das

empresas. Ele é o responsável pelo bem-estar dos funcionários no ambiente de trabalho, seja

realizando um excelente processo seletivo, em que o mesmo deve ter muito bem definido o perfil

118

do candidato, para que esteja em consonância com a visão e a missão das organizações, como

também é responsável por gerenciar a área de RH estratégico.

Quando as empresas aliam as habilidades do profissional de Recursos Humanos com a

estratégia de manter, desenvolver e principalmente cuidar das pessoas, elas, além de passarem a

ser admiradas pelos funcionários, também começam a despertar a admiração da comunidade

externa, tornando-se assim “sonho de consumo” dos futuros funcionários.

Isso nunca será possível sem a figura do gestor de Recursos Humanos, que deve em

primeiro lugar gostar, relacionar-se e vivenciar as conquistas das pessoas. Depois, acreditar

que seu papel é de suma importância para que índices como os de turnover (rotatividade)

sejam os menores possíveis, pois seu departamento deve contribuir para a lucratividade das

empresas.

A busca constante por melhorias para os funcionários, a formatação de um excelente

plano de carreira, a construção de uma cesta de benefícios, o desenvolvimento contínuo e

principalmente a construção da identidade do funcionário junto à empresa irão fazer com que

este acredite fazer parte da organização e que ela o reconhece como peça fundamental do

processo. E por que isso é importante? Simples: em um contexto onde estamos tendo um apagão

da mão de obra especializada, o mais importante hoje é conseguir manter seus talentos e não

perder seu capital intelectual para o concorrente.

Em uma empresa onde nos sentimos em “casa” isso irá pesar muito numa possível

troca. Aí mais uma vez o profissional de Recursos Humanos tem a sua importância colocada à

prova, pois é por meio do sucesso de seu departamento que será possível construir nos

funcionários este sentimento de lealdade e de bem-estar. Em suma, as empresas que estão

perdendo os seus talentos devem olhar para dentro do setor de Recursos Humanos e verificar que

práticas estão sendo usadas.

Houve um tempo em que dinheiro era tudo, mas este tempo já passou. Também

houve um tempo onde tudo era Departamento Pessoal, que também já passou. Hoje o RH

estratégico é a base para a construção do sucesso de qualquer empresa.

Uma dica aos executivos com poder de decisão: não sigam a regra do mercado; ao

invés disso, invistam na construção de uma área de Recursos Humanos forte que o retorno no

longo prazo é garantido (lembre-se de que superar a concorrência de forma duradoura é sempre

um esforço de longo prazo). E com a área fazendo a diferença em indicadores, práticas adequadas,

119

estratégias para as pessoas visando crescimento e faturamento da empresa, não tem outro

caminho ao não ser contar com estes profissionais.

Fica a dica para os profissionais de Recursos Humanos que querem ser diferenciados

no mercado com eficácia.

(Artigo escrito em 9 out. 2015.)

Conclusão

Ao falarmos de Recursos Humanos na ponta e sua atuação no varejo, estamos

diante de um cenário diferente do habitual nas empresas: um processo de evolução dentro de

muitas organizações visionárias com foco no crescimento da empresa e uma equipe de RH que

poderá contribuir com visão global, inteligência de mercado, estratégias e alavancagem dos

resultados.

Para sermos profissionais diferenciados neste tipo de atuação, precisamos conhecer de

fato a cultura e os valores da empresa, o que é anterior ao processo de contratação e integração

dos novos funcionários. Isto é fundamental para a permanência e sucesso do novo integrante da

equipe, bem como para o profissional de Recursos Humanos, responsável pelo índice de

rotatividade.

No que diz respeito à autogestão e administração do tempo, isto irá contribuir com a

produtividade das lideranças, liderados e profissionais da ponta do negócio, para criar visibilidade

dos trabalhos executados e estratégias de soluções com rapidez e assertividade.

Para as trocas de experiências e boas práticas realizadas por Recursos Humanos, é

preciso ter o elemento “humildade”, entendendo que todo o conhecimento deve ser

compartilhado, porque o intuito é para a melhoria do processo, para garantir a satisfação, clima

organizacional agradável, inclusive fortalecer o trabalho da equipe atuante.

O olhar voltado para as estratégias e os indicadores do negócio, já citados várias vezes,

o profissional tem ou não, mas é preferível que sim. E para aqueles que já incluem isto na sua

rotina, darão passos para frente, porque é superimportante este olhar. Praticá-lo em todas as suas

ações dentro da empresa, mesmo que tenham consequências negativas, se faz necessário.

120

A capacidade de desenvolver pessoas e conseguir resultados através delas é fantástica.

Já é comprovado que precisamos do potencial humano para crescimento e evolução em todos os

aspectos. E certamente quem valoriza mesmo ações simples e procura ensiná-las, desenvolvê-las,

terá sua empresa no topo do sucesso, porque os próprios funcionários sentirão felicidade e

orgulho de fazer parte dessa empresa.

121

Sobre a autora

Formada em Psicologia pela Universidade Ibirapuera e com MBA em Recursos

Humanos com ênfase em Desenvolvimento Organizacional pelo BI International, atua na área

desde 2007, tendo iniciado como estagiária. Hoje é Analista de Recursos Humano Sênior com

amplo conhecimento no processo de recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento,

clima organizacional e RH comercial, voltado para o negócio.

Contato: [email protected]

122

Capítulo 7

GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM RECURSOS HUMANOS

KEVIN SALVO

Introdução

Pode-se dizer que um dos temas mais evidenciados e estudados nos últimos anos foi o

gerenciamento de projetos, isso porque as empresas, com o passar do tempo, começaram a

perceber que muito do que é desenvolvido internamente, no que se refere a inovações, melhorias

de processos/produtos, otimizações, campanhas, programas, ações de treinamento etc., pode ser

classificado como um projeto, e tendo em vista que o principal desafio das empresas é alcançar o

resultado esperado da melhor forma possível, gerenciar projetos e o conhecimento das boas

práticas é cada vez mais bem-vindo nas empresas do mundo todo.

A pesquisa 2015 Pulse of the Profession, feita pelo Project Management Institute (PMI)

com aproximadamente 2.800 gerentes de projetos do mundo todo, indica que as organizações de

alta performance (que têm uma taxa de sucesso nos projetos a partir de 80%) enxergam que um

apropriado gerenciamento de projetos é responsável por reduzir riscos e custo e alcançar uma

melhor taxa de sucesso nos projetos. Essas organizações demonstraram uma taxa de sucesso em

suas iniciativas até 2,5 vezes maior do que as outras empresas, além de economizarem até treze

vezes mais.

A mesma pesquisa indica que a taxa de sucesso dos projetos nos últimos quatro anos

está estabilizada em apenas 64%, um resultado impressionante, visto que quase metade não está

atingindo o resultado esperado. Não é muito difícil acreditar nesses números, visto que

diariamente presenciamos desde microiniciativas até megaprojetos bilionários falhando em algum

ponto.

123

Projetos frequentemente falham e muitas são as causas. O desafio é justamente

alcançar o objetivo esperado, dentro do escopo, cronograma, orçamento e qualidade esperados.

No entanto, o que devemos fazer para mitigar o risco de falharmos? Além disso, qual é

a relação entre gerenciamento de projetos e a área de Recursos Humanos?

Para falharmos menos, precisamos primeiramente entender que devemos gerenciar o

projeto, ou seja, devemos planejar, gerenciar a execução, controlar e monitorar todas as etapas e

o trabalho do projeto, pois ele não será gerenciado sozinho, por mais que isso pareça acontecer

com frequência. No decorrer deste texto, pretendo abordar mais detalhadamente sobre os grupos

de processos (iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle e encerramento),

reconhecidamente necessários para um adequado gerenciamento de projetos de qualquer

natureza.

Em relação à área de Recursos Humanos, podemos afirmar que é uma área repleta de

projetos e que, portanto, pode e deve tirar grande proveito deste tema. De fato, projetos são

desenvolvidos em todos os subsistemas de RH, projetos que, comparados a projetos de outras

áreas, contam com grandes obstáculos de orçamento, tempo, pouco apoio da alta diretoria e com

grande impacto na organização como um todo, e que, portanto, devem falhar menos e exceder as

expectativas cada vez mais para que esse status quo mude com o passar do tempo.

Talvez a área de Recursos Humanos seja a mais carente deste tipo de informação e por

inúmeros motivos o assunto é um pouco nebuloso para os profissionais da área como um todo.

Por isso, o objetivo aqui é desmistificar o tema e tentar trazer informações pertinentes para um

melhor atingimento de resultados e sucesso em suas iniciativas.

Sobre o gerenciamento de projetos

De acordo com o PMI, projeto é um esforço temporário empreendido para atingir um

resultado, produto ou serviço exclusivo. Dito isso, podemos concluir que projetos são realizados

desde o início da história do homem, pois podemos considerar que todo produto ou serviço que

temos disponíveis hoje foram no início, nada mais, nada menos, que um projeto. Entretanto, o

que não podemos afirmar é que todos esses produtos ou serviços tenham sido gerenciados, no

sentido mais estrito da palavra.

124

Gerenciar é o ato de administrar/direcionar todas as atividades, pessoas e recursos

disponíveis visando atingir algum fim específico. O ato de gerenciar envolve os processos de

planejamento, execução, monitoramento e controle das atividades. Portanto, podemos concluir

que um projeto só foi gerenciado se houve um trabalho de gestão envolvendo todas as atividades

pertinentes à concepção do objetivo daquele projeto.

Conceitualmente, da mesma forma que os projetos, o gerenciamento destes também

sempre existiu, porém só veio a ser efetivamente definido e estudado como tal nos EUA no final

da década de 50, nos campos da Engenharia e Tecnologia da Informação.

Na época, durante a Guerra Fria, havia um grande interesse dos EUA em eficiência de

processos e produtos, principalmente nos campos mencionados acima. O período foi marcado por

projetos críticos e por um grande avanço tecnológico. A NASA, por exemplo, foi criada no final de

50 e toda a década de 60 foi marcada pela corrida espacial entre EUA e URSS.

A década de 60 também foi marcada pela fundação das principais associações de

profissionais de gestão de projetos, a IPMA (International Project Association) e o PMI (Project

Management Institute). A primeira foi criada na Suíça e a segunda nos EUA, ambas com objetivos

bem semelhantes, relacionados ao estudo e compartilhamento de informações, técnicas e

experiências entre profissionais que trabalhavam com gestão de projetos.

Hoje ambas as associações organizam os principais eventos, congressos e pesquisas da

área e também fornecem as principais certificações em gerenciamento de projetos.

Devido aos grandes resultados alcançados por meio dessa atenção dada ao

gerenciamento de projetos, a área foi ganhando cada vez mais interesse, tanto por parte das

universidades, quanto por parte das empresas do mundo todo.

Ainda hoje, pesquisas apontam que as empresas que mais investem na prática de

gerenciamento de projetos são as empresas dos segmentos de Tecnologia e Engenharia, devido

obviamente à sua natureza projetizada, porém o que podemos observar no mercado é que cada

vez mais essa área vem ganhando destaque em empresas de outros segmentos, como o mercado

financeiro e de saúde, por exemplo.

Atualmente há milhares de profissionais em gerenciamento de projetos pelo mundo,

em empresas de todos os portes. Muitas empresas já contam inclusive com um escritório de

projetos (PMO) responsável pela gestão macro das iniciativas na empresa e pela multiplicação de

conhecimento e melhores práticas da área para os outros departamentos.

125

Boas práticas

O objetivo da gestão de projetos sempre foi simples e claro: basicamente atingir o

objetivo determinado no escopo, dentro do menor tempo, com o menor custo e dentro da

qualidade esperada.

Para isso, conforme a área foi evoluindo e se expandindo, foi se criando cada vez mais

a necessidade da formalização de boas práticas em gerenciamento de projetos, práticas nas quais

os profissionais pudessem se basear para atingir os seus objetivos.

Em 1996 foi lançado o livro Project management body of knowledge guide (PMBOK

Guide) pelo PMI, que se tornou a base mais famosa de boas práticas em gerenciamento de

projetos no mundo todo. Atualmente o PMBOK está na quinta edição e é livro de cabeceira de

qualquer profissional da área.

O livro divide o gerenciamento de projetos em cinco grandes grupos de processos que

são: iniciação, planejamento, execução, monitoramento/controle e encerramento.

Adiante falarei detalhadamente sobre esses cinco grandes grupos de processos

fazendo um paralelo com a área de Recursos Humanos.

Mas antes devemos saber qual é a importância das boas práticas.

Não só em gerenciamento de projetos, mas em qualquer outra área de conhecimento,

as boas práticas são de extrema importância. Agir com base em algo fundamentado por teoria e

prática de uma gama de outros profissionais, além de prudente, é também sábio.

Dentro do gerenciamento de projetos as boas práticas e as metodologias são

extremamente valorizadas. Pesquisas indicam uma taxa consideravelmente maior de sucesso nas

iniciativas que seguem as boas práticas ou metodologias, como já foi apontado na introdução.

Atualmente, quase sempre enfrentamos um cenário de alta competitividade e redução

de custos, e dentro de um cenário como esse o “erro” torna-se algo cada vez mais inaceitável,

obviamente em alguns lugares mais e em outros menos, porém mesmo em empresas marcadas

pela inovação constante o erro nunca é algo perseguido.

Por isso é muito importante que áreas como a de Recursos Humanos, em que o

desenvolvimento de projetos é constante e faz parte de sua essência, tenham conhecimento da

teoria e boas práticas de gerenciamento de projetos.

126

A área de Recursos Humanos é considerada uma área que gera mais custos do que

retorno, muitas empresas inclusive sequer enxergam algum retorno nas iniciativas desenvolvidas.

É de suma importância então que os profissionais de RH utilizem-se das metodologias e das boas

práticas disponíveis no mercado para o desenvolvimento de seus projetos, pois muitas vezes

acabamos fazendo caminhos muito mais longos do que precisávamos ou reinventando a roda em

algumas ocasiões, o que gera um aumento desnecessário do custo e tempo, nem sempre

atingindo a qualidade esperada.

Estruturas organizacionais

Um fator de grande influência na forma como os projetos são gerenciados nas

organizações é a maneira como a organização está estruturada.

A estrutura organizacional pode facilitar ou dificultar o desenvolvimento e a gestão de

um projeto; além disso, ela evidencia a maturidade da organização no que se refere ao

gerenciamento de projetos. Por isso é de suma importância entender sobre a estrutura da sua

organização antes de tentar desenvolver algo.

Entendendo como a organização está estruturada, todos os processos que envolvem a

alocação de recursos, definição do cronograma, estimativa de custos e assim por diante são mais

coesos e realistas, garantindo uma maior probabilidade de sucesso.

Explicarei brevemente sobre as principais estruturas organizacionais que encontramos

no mercado e como, na maioria das vezes, a gestão de projetos acontece em cada estrutura.

Estrutura funcional

Esta é a estrutura por departamentos clássica, presente na maioria das empresas,

onde existe uma clara divisão por departamentos especializados por área de atuação, cada

departamento sendo gerido por um diretor ou gerente funcional.

127

Dentro dessa estrutura a gestão de projetos é realizada por departamentos, com as

suas equipes disponíveis, não havendo a figura de um gerente de projetos ou de uma área

especializada, ficando a cargo do gerente ou diretor a tomadas de decisão.

Matricial fraca

Estrutura departamental como a de cima, porém com o diferencial de que existe a

possibilidade de um desenvolvimento de projetos envolvendo uma interação entre

departamentos diferentes, em que existe um profissional que coordena o projeto, atuando como

gestor temporário daquela equipe, porém ainda assim com pouca autonomia e tomada de decisão

para com o projeto/equipe, quando comparada à dos gestores funcionais.

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Matricial balanceada

Estrutura departamental assim como a anterior, porém nesta o líder do projeto tem

autonomia e tomada de decisão compartilhada com os gestores funcionais.

Matricial forte

Estrutura departamental em que já existe uma área específica de gestão de projetos

na empresa, com profissionais especializados e um escritório de projetos (PMO) que cuida da

administração macro dos projetos e da multiplicação de conhecimento para os outros

departamentos. Nessa estrutura o gerente de projeto tem autonomia total sobre o projeto,

dependendo dos gerentes funcionais apenas no que se refere à disponibilização dos recursos

humanos.

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Projetizada

Equipes organizadas por projetos e não por departamentos. As equipes são agrupadas

por projetos de atuação e podem ser redirecionadas para outros projetos dependendo da

situação. Além disso, as equipes são normalmente multidisciplinares. Dentro dessa estrutura as

equipes são geridas pelo gerente de projetos responsável por um ou mais projetos.

Essas são as estruturas mais comuns encontradas nas empresas, porém nada impede

que algumas empresas trabalhem de uma forma bem diferente das mencionadas acima.

O importante é entender como a estrutura influencia a gestão dos projetos nas

organizações e como gerir o projeto da melhor forma possível, independentemente da estrutura.

Grupo de processos

Um projeto é composto por diversos processos, que nada mais são do que um

conjunto de ações e atividades inter-relacionadas executadas com o objetivo de alcançar um

serviço, produto ou resultado.

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O PMI divide os processos em duas categorias: processos orientados ao produto e

processos orientados ao gerenciamento do projeto em si.

Os processos orientados ao produto são aqueles necessários para o desenvolvimento

do produto, ou seja, todos os processos relacionados à pesquisa e produção, por exemplo.

Já os processos orientados ao gerenciamento do projeto (foco deste texto) são os

processos que servem para auxiliar o gerenciamento do projeto, como, por exemplo, o

desenvolvimento do cronograma ou a identificação dos riscos – ambos são processos comuns a

todos os tipos de projetos e não necessariamente ao desenvolvimento de algum produto ou

categoria de produto específico.

Seguindo ainda o conceito das boas práticas, podemos dividir um projeto em cinco

grandes grupos de processos: processos de iniciação, processos de planejamento, processos de

execução, processos de monitoramento e controle e processos de encerramento.

Por mais que pareça óbvio, a simples segmentação dos processos dentro desses

grupos já torna o projeto muito mais fácil de ser gerenciado.

Além disso, esses grupos não acontecem em uma ordem necessariamente linear, na

maioria das vezes os processos acontecem de forma interativa, como mostrado na imagem

abaixo.

Como mostra a imagem, os processos de planejamento, por exemplo, são a base para

que os processos de execução aconteçam, porém, durante a execução, talvez surja a necessidade

de alterar algo no planejamento novamente, tornando os processos de execução também fonte

131

dos processos de planejamento; além disso, os processos de monitoramento e controle

acontecem desde o início do planejamento até o fim da execução, quebrando um paradigma de

que o projeto só deve ser monitorado e controlado durante a execução das atividades.

Os processos de iniciação, como o nome já diz, são os processos necessários para que

o projeto efetivamente seja iniciado e as atividades comecem a ser planejadas. Fazem parte desse

grupo a escolha do responsável ou gerente do projeto, a identificação dos stakeholders (partes

interessadas), que são aqueles que serão influenciados pelo projeto de alguma forma, e o

desenvolvimento do termo de abertura do projeto, que nada mais é do que um documento com

as principais características macro do projeto.

Os processos de planejamento são aqueles realizados para definir o escopo, refinar os

objetivos e desenvolver os cursos de ação necessários para alcançar os objetivos do projeto.

As principais atividades dentro desse grupo são:

Determinar como será feito o planejamento do projeto;

criar estratégias para o engajamento dos stakeholders;

completar os requisitos do produto e do projeto;

criar declaração do escopo do projeto;

estimar recursos para a realização do trabalho;

desenvolver o cronograma;

desenvolver o orçamento;

definir padrões, processos e métricas de qualidade;

determinar papéis e responsabilidades no projeto;

planejar as comunicações pertinentes ao projeto;

realizar a análise de riscos e elaborar a resposta a eles;

planejar compras de matéria-prima e fornecedores (se necessário);

desenvolver e finalizar o plano de GP (documento contendo todos os detalhes sobre

o planejamento do projeto);

realizar reunião de kick-off marcando o início da execução (pode ser feita no final

dos processos de iniciação também).

Os processos de execução são aqueles realizados para concluir o trabalho definido no

plano de GP de forma a cumprir as especificações do projeto. As informações necessárias aos

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processos de execução têm como base os processos de planejamento. Um princípio básico do

gerenciamento de projetos é o de planejar primeiro para depois executar. Vale lembrar também

que esse grupo é o que demanda mais tempo do projeto.

As principais atividades dentro desse grupo são:

Executar o trabalho conforme o plano de GP;

solicitar mudanças necessárias e depois de aprovadas implementá-las;

mobilizar a equipe;

treinar e motivar a equipe;

avaliar o desempenho da equipe;

facilitar a resolução de conflitos internos da equipe;

engajar os stakeholders;

garantir a qualidade das entregas (relativa aos processos e não ao produto);

distribuir informações conforme o plano de comunicações;

realizar reuniões de acompanhamento (status meetings);

tratar questões levantadas pelas partes interessadas;

selecionar os fornecedores ou serviços mais adequados (se necessário).

Os processos de monitoramento e controle são aqueles necessários para acompanhar,

revisar, medir, comparar e reportar o desempenho do projeto, identificar todas as áreas nas quais

serão necessárias mudanças nos planos e iniciar as mudanças correspondentes.

As principais atividades dentro desse grupo são:

Monitorar e controlar o trabalho que está sendo executado;

medir o desempenho em relação ao esperado;

identificar variações e solicitar mudanças se necessário (integração);

realizar controle integrado de mudanças (aprovação de mudanças);

solicitar e aprovar mudanças (corretivas ou preventivas);

informar os stakeholders sobre as mudanças aprovadas;

gerenciar a documentação do projeto;

realizar controle da qualidade;

elaborar os relatórios de desempenho;

133

auditar e controlar os riscos;

gerenciar as reservas financeiras;

administrar contratos com terceiros;

controlar o engajamento dos stakeholders.

Os processos de encerramento são executados para finalizar todas as atividades de

todos os grupos de processos, visando completar formalmente o projeto. As principais atividades

dentro desse grupo são:

Conduzir a revisão de final de fase ou projeto;

encerrar contratos e assegurar que todos os acordos foram encerrados;

obter aceitação do cliente ou patrocinador para o produto do projeto;

transferir para o cliente o produto completado;

completar relatórios finais de desempenho;

documentar lições aprendidas;

arquivar informações do projeto;

liberar os recursos (equipe, fornecedores etc.).

É boa prática executar todos esses processos, mesmo que o projeto tenha sido

porventura cancelado antes de ter sido finalizado.

Áreas de conhecimento

Além da divisão dos processos dentro dos cinco grupos mencionados no capítulo

anterior, o PMI ainda divide esses processos em dez áreas que considera como gerenciamento

essencial. São as chamadas “áreas de conhecimento”:

Integração

Escopo

Custo

Tempo

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Qualidade

Recursos humanos (Equipes)

Comunicação

Riscos

Aquisições

Partes interessadas (stakeholders).

Cada área de conhecimento contempla processos relativos a um ou mais grupos de

processos. A área de tempo, por exemplo, contempla processos relacionados ao cronograma do

projeto nos grupos de planejamento e monitoramento e controle. Abaixo estão os processos

comuns à área de tempo (sete ao todo) e ao lado a que grupo eles pertencem:

Planejar o gerenciamento do cronograma – Planejamento;

definir as atividades – Planejamento;

sequenciar atividades – Planejamento;

estimar os recursos das atividades – Planejamento;

estimar as durações das atividades – Planejamento;

desenvolver o cronograma – Planejamento;

controlar o cronograma – Monitoramento e controle.

135

O Gerente de Projetos de RH

Tendo em vista que a área de Recursos Humanos sempre está desenvolvendo e

atuando em projetos, por que será que talvez ainda seja uma das áreas com o menor

conhecimento em teoria e boas práticas de projetos?

Analisando a história do RH, pode-se perceber que a área sofreu diversas mudanças

em um espaço curto de tempo e nem sempre trabalhou efetivamente com projetos. Um dos

subsistemas que talvez mais trabalhe focado em projetos é o de desenvolvimento organizacional,

por exemplo, porém, se formos analisar, a área de DO como conhecemos hoje é de certa forma

recente, ou seja, talvez o RH no Brasil ainda não tenha atingido grau de maturidade suficiente a

ponto de estar atento a esse tipo de conhecimento.

Ainda assim, um dos principais debates dentro da área de Recursos Humanos é sobre o

papel estratégico do RH e por que a área ainda encontra dificuldades em ser considerada como tal

pelas outras áreas da empresa.

Obviamente o RH encontra mais dificuldades que outras áreas para provar um retorno

sobre investimento, por exemplo, pois é da natureza da área que os resultados apareçam mais a

longo prazo e de forma mais indireta, porém, como profissionais de RH, devemos concordar que

ainda precisamos evoluir muito em diversos temas que, de certa forma, estão intimamente ligados

com a nossa área, como administração financeira, gerenciamento de projetos, estatística e assim

por diante.

Se queremos nos tornar estratégicos, devemos então agregar à área de RH

conhecimentos que até então não priorizávamos, como os citados no parágrafo acima, pois dessa

forma conseguiremos aumentar em muito o sucesso de nossas iniciativas e poderemos ter uma

visão mais holística e integrada de como nossos esforços estão contribuindo com o negócio como

um todo.

Hoje em dia a área de RH está sendo cobrada cada vez mais nesse sentido, pois é uma

área indiscutivelmente essencial para empresa e de grande impacto no resultado geral. Dessa

forma nossos resultados serão cobrados cada vez mais, e não poderia ser diferente, mas devemos

ter em mente que temos pouco risco de perder espaço nas empresas, porém temos uma grande

oportunidade de ganhar mais espaço – basta sairmos um pouco da zona de conforto e buscarmos

novos horizontes.

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A partir do momento que, dentro da área de RH, conseguirmos absorver esses

conhecimentos e dessa forma gerir um projeto olhando para os custos, cronograma, riscos,

escopo e todas as outras “áreas de conhecimento” da forma adequada, seguindo as boas práticas,

utilizando a informação a nosso favor e não perdendo a atenção que já temos para com as

pessoas, aí sim entraremos em outro patamar e poderemos reivindicar o nosso espaço como área

estratégica.

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Sobre o autor

Cursa atualmente Pós-Graduação em Gestão Estratégica de Pessoas pela FIA/USP e

MBA em Desenvolvimento Organizacional pelo BI International. Formado em Recursos Humanos

pela Universidade Anhembi Morumbi, com certificado em Gestão de Projetos pelo PMI e em

Change Management pela APMG-UK, tem vivência nas áreas de educação corporativa e

recrutamento e seleção e atua em consultorias.

Contato: [email protected]