A Noção Mítica Do Valor

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  • A noo mtica do valor: Homero e o signo pr-monetrio

    Adriana Tabosa Doutoranda em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas

    [email protected]

    RESUMO

    Gernet indicou que o surgimento da noo de quantidade medida iria marcar a

    passagem das formas arcaicas de troca dominada pela noo concreta do

    valor e da qualidade com relao ao nvel de grupos e indivduos e no o valor

    das coisas em circulao. Nas transaes materiais, o dinheiro seria

    selecionado entre os objetos de luxo por excelncia, e essas transaes

    expressavam o prestgio das pessoas. Este artigo expe a anlise de Gernet

    sobre a transio da funo simblica do valor para o surgimento da moeda. 1

    Palavras-chave: Gernet; Grcia antiga; moeda; valor.

    RSUM

    Gernet avait soulign que l'apparition de la notion de quantit mesure

    marquerait la passage des formes archaques de change domine par la notion

    concrte de la valeur et de la qualit en ce qui concerne le niveau des groupes

    et des individus, et non la taille des choses en circulation. Dans la transition

    matriaux de l'argent seraient choisis parmi les objets de luxe par excellence,

    qui avait exprim le prestige des personnes. Cet article prsente l'analyse des 1 Para Einzig (1966, p. 370), entre os outros principais fatores no comerciais para o uso do dinheiro, o fator religioso merece ateno especial. Einzig considera que (1966, p. 370) os aspectos religiosos do dinheiro podem ser classificados da seguinte maneira: I) O dinheiro pode ter se originado em muitos exemplos por intermdio de necessidades regulares por objetos especficos padronizados com o propsito de sacrifcio aos deuses. II) Em muitas comunidades a criao do dinheiro atribuda a poderes sobrenaturais. III) Em outras comunidades os produtos humanos de dinheiro tm (ao observar certos ritos religiosos ou regras) cumprindo suas tarefas sagradas. IV) Qualidades mgicas atribudas a certos objetos tm sido o principal fator para o uso monetrio. V) O uso de certos objetos em conexo com o propsito religioso, exceto sacrifcios, como por exemplo, os ritos dos mortos, podem ter contribudo para com sua adoo para o uso monetrio. VI) A fixao de multas e das taxas para realizao de ritos religiosos causou a necessidade de uma unidade padronizada. Na Grcia havia o fator religioso da moeda isso pode ser percebido na prpria representao das figuras impressas nas moedas e nos locais de escavaes onde elas so encontradas: templos, fontes, pedras fundamentais, mas raramente em reas comerciais.

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    Gernet sur la transition de la fonction symbolique de la valeur pour l'apparition

    de la monnaie.

    Mots-cl: Gernet; Grce ancienne; monnaie; valeur.

    O problema da origem da moeda se inicia particularmente na Grcia

    antiga2 onde se estabelece, pela primeira vez, a distino entre moeda stricto

    sensu e moeda mltipla3. Segundo Gernet (1995, p. 123), para uma anlise da

    moeda, convm distinguir o smbolo e o signo no qual o primeiro situa-se o

    significado imediato e efetivo enquanto a realidade do segundo esgota ou

    parece esgotar em sua funo mesma. O que se define por origem da moeda

    a passagem do primeiro (smbolo) para o segundo (signo)4: no se deve

    ignorar, com efeito, que em muitas sociedades que no utilizavam a moeda

    propriamente dita, havia manifestaes tpicas do valor que preenchiam

    2 DESCAT, Raymond. Monnaie multiple et monnaie frappe en Grce archaque. In: revue numismatique, 6e srie Tome 157, anne 2001, pp. 69-81. 3 Para a economia ocidental moderna, o sentido imediato de moeda o de um signo, concretizado numa pea de metal ou em uma nota simblica de papel, possuindo dupla funo de instrumento de avaliao e de medida e de instrumento de circulao e de troca, tirando este duplo valor de uma deciso do estado e de um consenso tcito dos usurios. Este sentido imediato e prtico corresponde ao sentido do termo alemo Mnze. Mas, para a economia moderna h tambm uma definio mais ampla: a moeda toda coisa que, por conveno tcita ou expressa dos homens, se encontra investida da dupla funo de intermediria de trocas e de intermediria das avaliaes, ou desta segunda funo somente, a primeira no podendo ser imaginada todas s vezes isoladamente da segunda, que pode, ao contrrio, existir sem a primeira. Este sentido corresponde ao termo alemo Geld (WILL, douard. De laspect tique des origines grecques de la monnaie, pp. 209-210). O sentido atual de moeda prioriza o carter convencional, isto , do que emitido e controlado pelo governo de um determinado pas, englobando em sua definio, o dinheiro. Em alemo tudo isso Geld, entretanto, com a possibilidade de distinguir entre vormnzliches Geld (ou vormnzliches Geldform) e Mnzgeld. Mas, em portugus, no possumos os termos equivalentes aos termos em alemo. Teramos que definir moeda-moeda e moeda-dinheiro. Portanto, moeda stricto sensu a moeda propriamente dita, o objeto metlico circular, a pea de metal de peso e valor definido, com uma impresso oficial estampada. Moeda mltipla a moeda-dinheiro, isto , refere-se aos objetos de equivalncia geral que servem para medir o preo das coisas. (CARLAN, Claudio U.; FUNARI, Pedro Paulo A. Moedas: a numismtica e o estudo da Histria. So Paulo: Annablume, 2012. 100p.). 4 O que Gernet define por smbolo seria o que antecede a moeda; a noo de valor arcaica em que a estimao dos objetos de posse e de consumo era dominada por ideias e sentimentos mltiplos. A noo de valor arcaica compreende toda essa funo simblica. O que Gernet define por signo a moeda propriamente dita. Sua investigao consiste em saber como houve essa passagem de uma funo simblica, para uma funo concreta, o surgimento da moeda stricto sensu, que na viso de Gernet incorpora essa noo de valor arcaico.

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    funes mais ou menos anlogas, mas que, por comparao, aparecem

    essencialmente concretas.

    Para Gernet (1995, p.123), pode-se constatar que um desenvolvimento

    paralelo se esboa no direito, em que o rito precede e prepara a sua origem.

    Os comportamentos e as atitudes s quais do lugar apropriao individual

    das recompensas so manifestos nos jogos pblicos. A noo de propriedade

    que se adquire nos jogos pblicos inseparvel da do valor que os une; a

    representao destes objetos, a concepo do direito e sua aplicao, as

    condutas que comandam a aquisio ou a defesa deste direito, todos possuem

    uma relao recproca.5 Os objetos em questo, recompensas costumeiras,

    antecipam a moeda: pode-se dizer que todas essas relaes esto presentes

    nos jogos fnebres da Ilada. Com efeito, as coisas dadas em prmio

    notadamente taas, trpodes, bacias, armas etc., so os signos pr-monetrios

    identificados por Laum.6

    Estes objetos so com frequncia mencionados: as contrapartidas, os

    presentes de hospitalidade correspondentes aos cdigos que atestam as

    tradies, as normas. Em um costume como os jogos homricos onde todos os

    concorrentes so recompensados, uma hierarquia de valor existe por hiptese

    entre os prmios. Para Gernet (1995, p. 124), desse modo, muitos desses

    objetos esto em relao imediata com o surgimento da moeda. 7

    5 Devemos ressaltar o conceito de valor presente nesse contexto. Na Grcia antiga o conceito de valor indica tanto a utilidade ou o preo dos bens materiais, como a dignidade ou o mrito das pessoas. Consideravam-se os bens e suas relaes hierrquicas como objetos de escolha ou de preferncia. Entendiam os bens a que se deve dar preferncia, como talento, arte, progresso, entre as coisas do esprito; sade, fora beleza, entre as do corpo; riqueza, fama, nobreza, entre as coisas externas (DIG. L., VII, 105-106). 6 O fator mais importante das pesquisas de Bernhard Laum entre 1924 e 1930 a determinao do conceito de smbolo e da funo simblica da moeda. Para Laum, o histrico tem de liberar-se da definio abstrata, como no caso da subordinao da moeda funo de troca. Como tambm, para ele, a numismtica considera sempre e comumente a moeda como um valor real (Sachwert) de medir e pesar. Retm, portanto, como seu compito principal e necessrio aquilo de determinar com mais exatido possvel o percentual e miligrama de peso do metal contido na moeda, servindo-se de instrumento e mtodo da cincia da natureza. O mtodo da cincia da natureza em que se baseia a numismtica unilateral. Pois a essncia mesma da moeda algo que no se pode ver, pesar, nem medir. 7 Os objetos que Gernet se refere so os signos pr-monetrios, isto , os objetos de troca que serviam para medir o valor dos indivduos nos jogos fnebres.

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    Gernet afirma (1995, p. 125) que os objetos dados como prmio

    pertencem a uma categoria muito ampla, embora bem definida. Esses objetos

    encontram-se os mesmos e seus anlogos, em muitas sequncias paralelas

    presentes de hospitalidade, dom e contra dom, oferendas aos deuses, objetos

    que fazem substancialmente o comrcio nobre.

    Uma classificao implcita os ope a outra ordem de bens, inferior e

    funcionalmente distinta: comparando na medida do possvel e salvaguardando

    as devidas diferenas, comparando com a terminologia do direito romano,

    entretanto, o direito romano numa civilizao essencialmente rural, podemos

    dizer que so, por excelncia, res mancipi. Ainda segundo Gernet (1995, p.

    125), correlativamente, no regime da propriedade, elas formam um domnio

    especial: o domnio da propriedade individual no sentido denotativo do termo.

    Para uma certa classe, como por exemplo, a classe guerreira tal como

    descrita na epopeia homrica, necessrio definir em funo de seus modos e

    costumes, e em oposio aos de outros domnios jurdicos ou quase jurdicos

    (propriedade de terra). O direito de disposio que se aplica absoluto; ele se

    atesta eminentemente na instituio da parte do morto: os objetos em questo

    so proporcionais ao chefe em sua tumba. Esta noo especfica se traduz no

    vocabulrio onde a designao de ktmata se aplica de preferncia a esta

    categoria de bens. O termo acentua a ideia de aquisio, aquisio na guerra,

    nos jogos, por intermdio dos dons, embora jamais, em princpio, num

    comrcio mercantil.

    De acordo com Gernet (1995, p. 126), essa juno de preferncias,

    exclusivas e normativas, define um domnio particular do valor. Numa

    perspectiva histrica onde ele est relacionado aos objetos que so por

    excelncia pr-monetrios, possui uma dupla caracterstica: de ser valor

    circulante, em lugar da moeda, gado; e a de ser produto da indstria humana,

    da indstria de metal notadamente. Esta delimitao do valor intencional. As

    noes relativas ao gado, ao seu valor propriamente religioso, sua utilizao

    ritual, forneceram a Laum o tema e a base de uma teoria sobre a origem da

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    moeda sagrada e a base de uma teoria sobre a origem religiosa da moeda

    laica.8

    Segundo Gernet (1995, p. 126-127), num bom entendimento, trata-se do

    valor econmico ou ao menos de seus antecedentes. Mas diz-se comumente

    apenas valor. Desde ento, para tratar de valor econmico, tende-se a eliminar

    o valor em si mesmo substituindo a ideia de medida, alis, essencial, pela ideia

    da coisa medida. Ora no se trata do valor banal e abstrato, mas de um valor

    preferencial incorporado a certos objetos, que preexiste a outro.

    Para Gernet, necessrio tratar como uma realidade homognea os

    diferentes domnios do valor: podemos identificar uma inteno que lhe

    comum, supondo igualmente um processo de idealizao. Nesse caso,

    atestado sobre diversos planos da psicologia social.

    Gernet menciona (1995, p. 127) que no uso lingustico, h um termo

    que, em seu mais antigo emprego, implica a noo de valor, o termo agalma.

    Ele pode se reportar a todas as espcies de objetos, inclusive, a dos seres

    humanos. Ele exprime uma ideia de riqueza, mas especialmente de riqueza

    nobre. E inseparvel de outra ideia sugerida por uma etimologia que fica

    perceptvel: o verbo agall 9 que significa honrar, enaltecer, gloriar-se de algo.

    Ele se aplica particularmente categoria de objetos mveis. No indiferente

    acrescentar poca clssica, ele est fixado na significao de oferenda aos

    deuses, especialmente nesta forma de oferenda que representa a esttua da

    divindade.

    Para Gernet (1995, p. 127), na ordem tcnica e econmica, necessrio

    ressaltar que, se os objetos que se tem em vista so objetos industriais, trata-

    se de uma indstria que se qualificaria de luxo. Uma prova indireta do valor

    8 Segundo L. Gernet, no est em questo discutir a teoria de Laum, mas parece que est fora da zona cultual, e mesmo, em princpio, sacrificial, onde muito legitimamente ela reside, h toda srie de objetos que Laum pde integrar sem artifcio e que so justamente esses que convocam a natureza e as funes: numa busca da origem da moeda, uma classificao que tem seu lugar; num estudo dos julgamentos de valor, ele deve ser considerado parte (GERNET, L. La notion mythique de la valeur em Grce, 1968, p. 121-179). 9 Agalma, atos: tem o sentido de objeto de orgulho, de adorno, jia, oferta feita aos deuses, imagem, esttua dos deuses.

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    eminente que se encontra neles a imitao que se faz em srie, substituio

    de discusso vulgar cujo emprego tem o ttulo de anthema como um

    smbolo do smbolo.

    No plano religioso, as agalmata so particularmente designadas por

    esses objetos de oferenda: em Homero onde o termo no tem ainda o sentido

    prprio de oferenda, ele se aplica aos objetos preciosos que so utilizados

    com esta funo. H uma forma de comrcio religioso que de particular

    interesse: ao mesmo tempo em que a ideia de valor se encontra realada e

    aperfeioada10, esto associadas s de generosidade suntuosas e s de

    generosidade aristocrtica. Aristteles a atribui ainda a uma classe para quem

    a nobreza obriga.11

    Segundo Gernet (1995, p. 129), no se deve esquecer, por outro lado,

    que este gnero de riquezas, assim como a propriedade dos deuses,

    permanece uma categoria bem definida na poca clssica: no direito criminal, o

    sacrilgio (hierosilia) outra coisa que o furto ou desvio pertencente

    divindade, um delito especial; isto que consiste em tomar sobre uma

    espcie mais vulnervel de bens sagrados onde no se reconhece a classe

    mesmo das agalmata trips, vasos, joias.

    Entretanto, h ainda outro aspecto onde possvel observar a atividade

    mental pela qual o valor se constitui, ou seja, se objetiva: a da representao

    mtica.

    Para Gernet (1995, p. 129) constata-se que os objetos preciosos figuram

    nos mitos e mesmo que eles tenham, se possvel dizer, um papel central,

    eles no deixam de estar animados de um poder prprio. Contudo, ainda

    segundo Gernet, sabe-se que isso no uma particularidade da Grcia. Mas

    notvel que esse modo de imaginao seja particularmente atestado ao nvel 10 Segundo Laum, a prtica do anthema aparece num certo nvel da vida religiosa, relativamente recente (LAUM, Heiliges Geld, p.86 e s.). Laum o situa em relao com a noo de uma personalidade permanente nos deuses, por oposio concepo de Augenblicksgtter para as quais convm as oferendas consumveis, podemos perguntar se a relao no inversa: com efeito, h progresso de objetivao sobre os dois planos s vezes, os da prtica cultual e os da representao dos seres divinos. 11 ARISTTELES. Et. Nic., IV, 1123 a, 5. Em contrapartida, vale ressaltar que Plato, que limita ao extremo a riqueza na cidade nas Leis, restringe igualmente o uso das oferendas, privadas e pblicas.

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    mesmo onde se tem a noo, isto ao estado pr-monetrio que precede

    imediatamente um estado de pensamento abstrato.

    A ideia de valor especialmente relacionada aos objetos de metal

    preciosos est associada com a noo mais antiga de riqueza e, com ela, tem

    em vista um ideal central. Na representao mtica do direito, nos cenrios que

    a suscitam e a sustentam, o rei, responsvel pela vida do grupo e fator da

    prosperidade agrria e pastoral, tambm o detentor privilegiado dessa

    espcie de riqueza. A possesso do tesouro o testemunho e a condio de

    um poder benfico como so aqueles do campo sagrado, da rvore sagrada,

    da manada sagrada, com as quais ela permanece em contato. Esta

    representao de um centro onde o objeto talismnico mesmo num certo

    sentido objeto preciso aparece s vezes como expresso e como garantia de

    valor, ela persiste sua maneira na histria da Grcia. Um tesouro de deus

    que tambm um tesouro da cidade, reserva para a cidade, como o de Palas

    Atena para Atenas, no compreende somente as espcies titulares que esto

    disposio do Estado emprestar em caso de necessidade. (GERNET, 1995, p.

    170 175).

    Para Gernet (1995, p. 177) a expresso mtica deste pensamento no

    desaparece numa poca posterior. O hino Demeter de Calmaco termina com

    uma litania onde o poeta formula, seguindo uma simetria edificante, os

    simbolismos que ele atribui procisso litrgica que lhe servem de tema: os

    quatro cavalos que portam a cesta da deusa prometem as graas do ano e de

    suas quatro estaes; o costume dos oficiantes significa o voto da sade; e

    enfim, (hs dai liknophroi khrys pla lkna phronti, hs hams tn khrysn

    apheida pasamestha) assim como as canforas portam as cestas plenas de

    ouro, o ouro nos ser dado abundantemente (CALMACO, VI, A Demter, 126-

    127). A ostentao dos objetos de ouro mencionada pelo poeta o signo de

    uma eficcia cuja comunidade beneficia-se e que se exerce justamente no

    mesmo sentido que a virtude dos direitos mticos.

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    A memria social que funciona no mito das agalmata no funciona

    gratuitamente: numa noo de valor que est em via de tornar-se autnoma,

    uma imaginao tradicional assegura a continuidade com a ideia mgico-

    religiosa. (GERNET, 1995, p. 177).

    Na histria social, poca mais antiga onde nos atingiu diretamente o

    simbolismo deixa de ser polivalente. necessrio observar que, quando

    Homero descreve ou evoca esses objetos precisos, o valor est anexado aos

    objetos mesmos (Il. XI, 630 e s.).

    Segundo Gernet (1995, p. 178), esta orientao do pensamento supe

    condies sociais sobre as quais favoreciam certa difuso de signos exteriores

    riqueza, pois eles no so mais a possesso privilegiada de uma classe em

    que se prolonga a herana dos direitos mticos e da virtude de seus smbolos, o

    valor econmico tende a se impor, por is mesmo, representao; j para

    poca pr-monetria pode se aplicar o termo o dinheiro faz o homem, como

    por exemplo, na histria do trip dos Sete Sbios (DIG. L., I, 31). Assim se

    prepara a revoluo que determina, s vezes na vida social e no modo de

    pensar, o advento da moeda.

    CONCLUSO

    Gernet conclui que sem dvida, a partir da funo simblica do valor

    que houve a inveno da moeda. Ao estado novo corresponde o uso de um

    instrumento cuja matria, no sentido filosfico do termo, poderia parecer

    indiferente: ela aparece em Plato e Aristteles, que, alis, se opem

    economia mercantil, teoria da moeda-signo e da moeda-conveno. Teoria

    lgica, pois assim como a funo de troca e de circulao s retida pelos

    filsofos (que esquecem ou desconhecem o fato de que a moeda metlica

    havia encontrado um de seus mais antigos empregos num comrcio religiosos

    onde ela serve para obter as obrigaes da ao de graas, de oferendas ou

    de expiao). E certo que o instrumento uma vez criado se presta a esse

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    ofcio de circulao que generalizado, na Grcia mesma. Mas no meio

    histrico onde o signo aparece primeiramente, um certificado de origem dos

    smbolos religiosos, nobilirquicos ou agonsticos que retm suas primeiras

    amostras: at o ponto em que a criao havia sido possvel, um pensamento

    mtico sendo perpetuado. Isso pode deixar entender que, no valor e, pois, no

    signo mesmo que o representa, h um ncleo irredutvel que se denomina

    comumente de pensamento racional. (GERNET, 1995, p. 178 -179).

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