A NARRATIVA DE CHAPEUZINHO VERMELHO EM BRUNO … Pedagogia Maria Acássia... · perfeita ao mundo...

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A NARRATIVA DE CHAPEUZINHO VERMELHO EM BRUNO BETTELHEIM Maria Acássia de Sousa Brito 1* Paulo PetronílioCorreia ** RESUMO: Este trabalho tem por principal objetivo, abrir um leque de reflexões acerca da importância dos Contos de Fadas bem como um estudo mais específico do conto Chapeuzinho Vermelho e sua moral deixada durante séculos por Charles Perrault, Irmãos Grimm e outros autores fantásticos que permitiram-nos uma viagem perfeita ao mundo da imaginação e também a oportunidade do encontro pessoal na ética e na moral, constituintes do indivíduo autêntico e capaz do discernimento do que lhe será influente como formação de personalidade boa ou má. E esta missão é de suma importância, pois promove o encontro com outros indivíduos em formação e assim lhes ajudarão à moral de Chapeuzinho Vermelho, optar pelo caminho correto e nunca incerto. Para percorrer tal travessia literária, o trabalho em questão versará sobre o olhar de Bruno Bettelheim (2008) em sua “Psicanálise dos Contos de Fadas”. PALAVRAS-CHAVE: Contos de fadas, imaginário, Chapeuzinho Vermelho, aprendizado, essência. INTRODUÇÃO Propõe-se nesse artigo fazer uma abordagem sobre o olhar de Bruno Bettelheim quanto aos Contos de fadas, especificamente Chapeuzinho Vermelho que pode-se dizer ter sido o seu grande prazer de pesquisa e encontro de si mesmo no curso deste clássico. Bruno Bettelheim foi um grande discípulo de Freud e isto é bem perceptível em sua obra “A Psicanálise dos Contos de Fadas” através do seu olhar direcionado à menina enquanto vítima dos seus próprios desejos e descobertas. Tornou-se Doutor em psicologia pela Universidade de Viena e fez grande sucesso como pesquisador de crianças com problemas mentais e mais especificamente aquelas autistas. Após o * Acadêmica do 8º período do Curso de Pedagogia da Faculdade Alfredo Nasser ** Doutor em Educação pela UFRGS e professor de Filosofia pela UNIFAN.

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A NARRATIVA DE CHAPEUZINHO VERMELHO EM BRUNO BETTELHEIM

Maria Acássia de Sousa Brito1*

Paulo PetronílioCorreia**

RESUMO: Este trabalho tem por principal objetivo, abrir um leque de reflexões acerca da importância dos Contos de Fadas bem como um estudo mais específico do conto Chapeuzinho Vermelho e sua moral deixada durante séculos por Charles Perrault, Irmãos Grimm e outros autores fantásticos que permitiram-nos uma viagem perfeita ao mundo da imaginação e também a oportunidade do encontro pessoal na ética e na moral, constituintes do indivíduo autêntico e capaz do discernimento do que lhe será influente como formação de personalidade boa ou má. E esta missão é de suma importância, pois promove o encontro com outros indivíduos em formação e assim lhes ajudarão à moral de Chapeuzinho Vermelho, optar pelo caminho correto e nunca incerto. Para percorrer tal travessia literária, o trabalho em questão versará sobre o olhar de Bruno Bettelheim (2008) em sua “Psicanálise dos Contos de Fadas”.

PALAVRAS-CHAVE: Contos de fadas, imaginário, Chapeuzinho Vermelho, aprendizado, essência.

INTRODUÇÃO

Propõe-se nesse artigo fazer uma abordagem sobre o olhar de Bruno Bettelheim quanto

aos Contos de fadas, especificamente Chapeuzinho Vermelho que pode-se dizer ter sido o seu

grande prazer de pesquisa e encontro de si mesmo no curso deste clássico. Bruno Bettelheim foi

um grande discípulo de Freud e isto é bem perceptível em sua obra “A Psicanálise dos Contos de

Fadas” através do seu olhar direcionado à menina enquanto vítima dos seus próprios desejos e

descobertas.

Tornou-se Doutor em psicologia pela Universidade de Viena e fez grande sucesso como

pesquisador de crianças com problemas mentais e mais especificamente aquelas autistas. Após o

*Acadêmica do 8º período do Curso de Pedagogia da Faculdade Alfredo Nasser **Doutor em Educação pela UFRGS e professor de Filosofia pela UNIFAN.

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seu retorno dos campos de concentração, continuou a escrever algumas obras e logo fora

nomeado professor assistente na Universidade de Chicago.

Este autor foi um dos escritores mais apaixonados pelo estudo dos Contos de Fadas

como importante influencia na vida do indivíduo, mas é uma pena que parece não ter sabido lidar

com suas frustrações interiores assim como argumenta em seus estudos sobre os contos para as

crianças na construção de suas personalidades, pois, provavelmente deprimido pela perda de sua

esposa falecida, suicidou-se em 1973.

Entre todas as suas obras, “A Psicanálise dos Contos de Fadas” será eterna, pois é

possível num processo de leitura desta, reconhecer a paixão que Bettelheim quis transmitir para

os leitores e especificamente as lições que ensinaram a vê-las não como meras histórias, mas

como um encontro do nosso verdadeiro “eu” superando os medos, as frustrações e ansiedades das

coisas novas que somente os Contos de Fadas ajudam a aceitar e a enfrentar demonstrando que

deve-se ser muito maior do que o mal que se faz presente neles e no cotidiano.

O processo de maturação psicológica do indivíduo passa por diversas fases, mas uma é a

base para este processo: a compreensão de que o significado da vida é ou deveria ser pertence a

cada fase vivida, e isto se dá numa conquista da sabedoria construída. E, por isso,

Bettelheim(2008) afirma que na educação de uma criança, a maior missão do indivíduo adulto é

ajudá-la a encontrar o seu sentido de caminhar, seus objetivos norteadores para a vida, pois se

esta oferece desafios, é preciso ultrapassar os limites, tornando-os a causa e o sentido motivador

para vencer a si mesmo. A verdade é que os contos de fadas nos ajudam a compreender melhor a

ação humana e o indivíduo em seu interior e, conseqüentemente, as estratégias de se lidar com

estas. Eles são cheios de significados e à medida que vão acontecendo, induzem às pressões do

id, buscando os caminhos que o satisfaçam, mas de acordo as permissibilidades de ego e

superego.

O Conto de Fadas apresentam diversas atrações para o mal, mas também apresentam

intimidações que induzem à compreensão de que o mal não vale a pena e, portanto, merece

punições tornando o conto ainda mais interessante na figura do herói pelo fato de este sofrer

tentações e atrações pelo mal, mas magicamente ser forte o suficiente para negar às sua próprias

vontades e optar pelo que mais lhe realizará: ser bom!

Para que a criança saiba o que lhe é significante, para que ela possa lidar com suas

dificuldades psicológicas e desperte para os valores morais, ela precisa conhecer-se bem,

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conhecer o lado obscuro do seu interior. Os contos de fadas, sem dúvida alguma, são aqui a chave

que abre a porta para o universo interior, pois eles permitem à criança a fantasia, a imaginação,

das quais aos poucos irá elaborando estratégias de sobrevivência e felicidade, pois um importante

e decisivo fator neste processo é o inconsciente que trará à tona os desejos ou mesmo frustrações

internalizadas que cada vez mais reprimidas, impedirão o amadurecimento e a autonomia. É

importante assim dizer, que Freud1 compreendeu na criação da Psicanálise que o indivíduo, por

esta, é levado ao enfrentamento de suas problemáticas sem se deixar dominar por elas ou mesmo

fugir à elas, extraindo assim o sucesso para a sua existência.

Importante é lembrar, segundo Bettelheim (2008), que as figuras dos Contos de Fadas

não possuem personalidades duplas, assim como a pessoa humana e, portanto, isto significa ter

que fazer uma escolha entre ser bom ou mal, e seguindo a sugestão dos contos, o dever do

indivíduo é o de ser sempre e independentemente às circunstâncias, muito bom.

Para penetrar nos labirintos da Narrativa de Chapeuzinho Vermelho, pretende-se abordar

“A Literatura Infantil”, bem como suas mágicas e marcos na relação entre Chapeuzinho

Vermelho e a Psicanálise, arrastando o leitor para a magia no mundo da criança, até ordenar o

caos.

LITERATURA INFANTIL: Marcos, magias e mágicas

Tratar de Literatura Infantil é, antes de tudo, reconhecer que pôr-se à pesquisá-la é

embriagar-se do prazer de ler e tomar como sentido de si a oportunidade de conhecer e viver

sempre novas personalidades, seja ao contá-las ou lê-las, imaginando um universo sempre novo

e diferente, mas com a capacidade máxima de nunca refugiar-se, e sim de assumir-se como

amante do encanto que ela traz e da força sobre-humana de ser bom(a) que ela ensina.2

Partindo da linha de pesquisa de Zilberman (2003), podemos compreender o que é de

fato a Literatura Infantil e seu contexto histórico, e ainda a sua importância quanto às práticas

1Segundo Sigmund Freud, o Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância e dá-se então conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. O conceito foi descrito por Freud e recebeu a designação de complexo por Carl Jung, que desenvolveu semelhantemente o conceito de complexo de Electra.

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educativas nas escolas e no cotidiano dos pequenos indivíduos em construção, caracterizando

assim a figuras infantis de séculos passados às personalidades atuais.

A autora nos esclarece que os primeiros livros para crianças foram feitos no século

XVII e durante o século XVIII. Até então, não havia escritos para a infância, pois elas não eram

consideradas como "personagens infantis" dignas e necessitadas da vivência de tal fase. Esta

concepção voltada aos interesses infantis só passou a existir à partir da Idade Moderna unificada

a uma nova ideia de família, o que podemos chamar de modelo familiar burguês.

Até aqui, a infância não tinha uma compreensão de espaço separado, como um tempo

diferente e especial, aberto às diversas aprendizagens e fantasias. Os mesmos direitos e deveres

traçavam-se entre crianças e adultos e nenhum laço de afeto era gerado entre estes.

O que de suma importância a autora destaca é que a valorização da infância gerou bons

vínculos familiares, mas também o controle do desenvolvimento intelectual da criança como

também a manipulação de suas emoções e é, então, papel da Literatura Infantil inventada e da

escola reformulada, o papel de cumprir esta missão.

Com base neste contexto, podemos analisar a imagem de Chapeuzinho, como a menina

indefesa destes períodos remotos, totalmente entregue às malícias do lobo, e nos prendemos à ela

fazendo alguns questionamentos quanto à exposição da sua inocência às malícias mundanas.

Esta percepção e análise pode se dá na comparação de várias versões de Chapeuzinho

Vermelho, mas de modo mais reflexivo e exigente, ao psicológico do indivíduo nos escritos de

Charles Perrault e Irmãos Grimm, mas de fato, com o primeiro autor, isto se faz ainda mais

desafiador quando este parece deixar pelo conto, uma forte admoestação que amedronta e causa

ansiedades, e isto põe em risco a “inocência” pelo simples fato de se ter que fazer a escolha de

andar pelo caminho sem se desviar para o que aparentemente é bom, e desviando-se há

conseqüência: a “morte do eu”. Isto é visível quando nos deparamos com a citação seguinte:

Chapeuzinho Vermelho aborda alguns problemas cruciais que a menina em idade escolar tem de solucionar quando as ligações edípicas persistem no inconsciente, o que pode levá-la a expor-se perigosamente a possíveis seduções. (BETTELHEIM, 2008, p. 06.)

A versão de Perrault é clara quando diz que o lobo não se disfarçou de avó, mas apenas

induzi-a a deitar-se com ele e após um diálogo de apreciação inocente de sua aparência, ele a

devora. Isto porque o seu disfarce de bonzinho é tão atraente que a confunde meio aos seus

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desejos aflorados da puberdade que se quer medem as conseqüências vindouras, pensa apenas no

prazer que poderá viver.

Toda a história de Chapeuzinho caminha em prol da ameaça de ser devorada e, portanto,

aborda alguns problemas próprios dos conflitos pré-púbere e conflitos internos que são aflorados

após colocar-se pelo caminho, pois sob a proteção dos pais tudo é explicado, é fácil de suportar e

enfrentar, mas exposta aos perigos da floresta a menina está também sensível e entregue ao

canibalismo sedutor do lobo que não faz nada a não ser o que lhe é natural, alimentar-se para

sobreviver.

A menina sai de seu lar e enfrenta a floresta espontaneamente e passa a observar a

beleza do mundo sem nenhuma crítica, ou seja, tudo é beleza, e aí se encontra o perigo, pois tudo

o que ela vê é bonito, é motivo de prazer e o resultado encontra-se num grande perigo à malícia

lobáltica. Diferentemente de João e Maria que são abandonados pela mãe na floresta escura e

amedrontadora, diz Bettelheim, fazendo uma comparação entre os contos:

A história de “João e Maria” dá corpo às ansiedades e tarefas de aprendizagem da criança pequena que precisa vencer e sublimar seus desejos incorporativos primários e, por conseguinte, destrutivos. A criança deve aprender que, se não se libertar destes, os pais ou a sociedade a forçarão a fazê-lo contra sua vontade, assim como a mãe para de amamentar o filho logo que se sente chegado o momento. (BETTELHEIM, 2008, p. 196).

A verdade é que a criança vive um conflito ambivalente entre a realidade e o

prazer provocado pelo id que a deixa inconsciente de suas obrigações, mas após usufruir da

beleza do caminho é despertada pelo ego e superego à assumir suas obrigações e convidada a

dominar seus problemas edípicos.

O lobo só atrai Chapeuzinho porque assim como qualquer um de nós, sensíveis e frágeis

às belezas mundanas há algo nele que nos prende, que para nós tem um poder de sedução.

Assim, é preciso despertar para a crítica, fugir à ingenuidade, pois permanecer nela é perigoso.

O malicioso lobo não representa aqui apenas a sedução, mas muito mais as nossas

tendências animalescas, deixando de lado as nossas virtudes de pureza, assim como a menina que

inocentemente colabora para a morte de sua avó, que na verdade não lhe negava nada, em

momento algum, possibilitando a ela a chance de traí-la em prol do prazer com o lobo, mesmo

não compreendendo a gravidade deste comportamento. Em razão disso Bettelheim (2008) diz que

tanto os animais perigosos como os prestativos representam nossa natureza animal, nossos

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impulsos instintivos que são naturais ao ser humano, assim como também é inconsciente e natural

a transferência dos desejos da mãe - avó à criança dando-lhe uma capa vermelha, simbologia fatal

de emoções violentas e sexuais.

Quando tratamos de sexualidade imatura, estamos falando de regressão, sendo que ela

desta forma nos ameaça ao despertar tudo o que dentro de nós está reprimido e de repente pode

aflorar de forma tão agressiva, a não podermos mais controlar ou mesmo superar. É por isso que

a menina indica o caminho da casa da vovó para o lobo como uma forma de dizer que não está

pronta para os aspectos sexuais, ao mesmo tempo, em que deixa claro que a avó, segundo a

versão dos Irmãos Grimm, é um empecilho para que se entregue ao lobo, que na representação

dos seus anseios edípicos, é caracterizada pela figura paterna.

A MAGIA NO MUNDO DA CRIANÇA

A princípio, os contos de fadas orientam as crianças para a descoberta de sua identidade

e proporcionam a chance da formação de seu caráter como também o discernimento do que é

bom ou ruim, bem ou mal. Ora, para bem afirmar isto, Bettelheim (2008) ainda complementa:

Não é o fato da virtude vencer no final que promove a moralidade, mas de o herói ser mais atraente para a criança, que se identifica com ele em todas as suas lutas. [...] Para dominar seus problemas psicológicos do crescimento – superar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis: obter um sentimento de individualidade e de autovalorização, e um sentido de obrigação moral – a criança necessita entender o que está se passando dentro de seu eu inconsciente. (BETTELHEIM, 2008, p. 16).

Uma lamentação deste século que pode exigir de nós uma reflexão, é que as crianças

estão muito envolvidas com as tecnologias do mundo moderno e, conseqüentemente, usufruem

das façanhas televisivas, dos desenhos violentos e o universo da mídia que as distanciam da

reflexão, pois tudo já é automático, prático, técnico e determinantemente tão avançado que o lobo

mal moderno é difícil de ser identificado, espelhando-se nas atrações mais caóticas e reprimentes

do mundo moderno. Isto porque os contos de fadas já não ocupam um lugar especial nas famílias,

no momento anterior ao soninho noturno e as escolas esqueceram a prática da contação de

histórias como um momento mágico e único para a construção das personalidades inocentes da

atualidade.

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Os contos possuem a magia especial de nos orientar a lidar com as adversidades e

conflitos da vida e assim à descoberta de uma vida compensadora. Os encontros com a

descoberta da personalidade e os meios de lidar com estes conflitos se dão, a partir de Freud, com

o complexo de Édipo, pelo qual compreendemos as dimensões dos problemas e complexidades

em relação aos nossos pais.

No Conto de Fadas, todos os mistérios internos tornam-se claros, revelados pelos

personagens apresentados nos contos assim como as suas ações. Portanto, Bettelheim (2008) diz

que os contos são terapêuticos, pois permitem ao indivíduo encontrar seus próprios caminhos, a

solução de todos os seus problemas, comparando as circunstâncias do conto com sua realidade,

reside aí o seu crescimento, dando-se como uma saga, jamais inferiorizando alguém, e sempre

motivando à esperança e à felicidade, e muito além, o potencial para vencer o gigante cotidiano

que se apresenta como ameaçador, os adultos que pouco valorizam a fantasia e se perdem na

busca de si, ao contrário das crianças que se transferem para dentro do conto e lá compreendem o

verdadeiro significado de ser bom.

Por incrível que pareça pelos contos as crianças vivem a fantasia e as transferem às

suas existências e prática humana. Neles, elas encontram o consolo ainda mais adequado que o

ponto de vista adulto. Mas o que diz Bettelheim (2008), é que a história só nos trará interesse se

tiver algo a ver com nossas emoções vividas, principalmente porque a criança possui

pensamentos animistas e ela pode então viver e argumentar com os personagens o que acredita

ser real. Com o intuito de enriquecer ainda mais a Literatura Infantil como também

desmistificá-la, alguns autores brasileiros como Monteiro 3Lobato, Ruth Rocha, Sylvia Orthof e

Ana Maria Machado, reaproveitam as antigas histórias de forma a dar-lhes um tom humorístico

lançando um olhar crítico que os permite reaproveitá-los de forma metafórica. Já em Piaget,

sabemos que a criança é animista até a sua puberdade e para não ser criticada e rejeitada, adequa

sua forma de ver e ouvir as vontades adultas e acaba assim negando ao seu mundo de fantasia

real e puramente verdadeiro. Em Bettelheim (2008), encontra-se em complemento à Piaget, a

seguinte afirmação:

Para a criança não há uma linha clara separando os objetos das coisas vivas; e o que quer que tenha vida tem vida muito parecida com a nossa. Para a criança que tenta entender o

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mundo parece razoável esperar respostas daqueles objetos que despertam sua curiosidade [...] No pensamento animista, não só os animais pensam e sentem como nós, mas mesmo as pedras estão vivas. (BETTELHEIM, 2008, p. 60).

A criança não consegue diferenciar seres vivos de objetos e faz-se muitos

questionamentos em constantes buscas de respostas, e elas se dão à medida que as histórias vão

acontecendo e nela as crianças vão se encontrando num sentimento de segurança, até porque até

os oito anos de idade ela só desenvolve conceitos do que pôde experimentar na imagem do

mundo representada pelos seus pais e o que se passa na família. O que diz o autor acerca disso, é

que se o indivíduo sente-se plenamente seguro no mundo, não precisará recorrer à projeções

infantis como solução para suas angústias.

ORDENANDO O CAOS EM CHAPEUZINHO VERMELHO

Em sua obra, “A Psicanálise do Conto de Fadas”, Bettelheim (2008) diz que as fases

mais complicadas e caóticas do processo edípico na vida da criança se dão dos três aos sete anos,

e se assim ela experimenta o mundo, com esta ideia ela vai amadurecer a não ser que aprenda a

lidar com seus complexos, já que confunde os sentimentos que vive como o amor e o ódio, e

torna-se ela mesma um caos por confundir-se entre o que é luz e escuridão, e pelo fato de ser

humano não pode ser contraditória. Ou opta pelo bem ou pelo mal, ou ama ou odeia. E, neste

aspecto, portam-se bem os contos, pois deixam claro que não se pode seguir dois caminhos, mas

apenas um e definitivo.

Para estes aspectos confusos e codificados do comportamento humano como suas

opções pela emoção ou pelo coração e que explicam nossos comportamentos impulsivos ou

maduros, Freud criou as simbologias de id, ego e superego classificando os aspectos da

personalidade. O id, segundo as explicações de Freud, representa o nosso lado animalesco que

nos contos ocupam o lugar de bons ou maus, mas de qualquer forma, qual seja a opção,

caracterizam nossa realidade interior e nossos impulsos instintivos como os perigos a eles

conseqüentes. Nossa energia natural caracterizada pelo id aparece equilibrada quando é pesada e

controlada em ego e superego equilibrando a personalidade total.

No Conto “Chapeuzinho Vermelho”, de Charles Perrault (2007), percorremos com a

menina todo o caminho à casa da vovó, e com ela podemos reviver a história e compreender

como reagem os nossos instintos à cada situação.

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Trata-se da história de uma menina que a pedido de sua mãe, vai até a casa de sua avó

que fica ao final de um caminho na floresta, para lhe levar alguns docinhos. A mãe lhe

recomenda que tome muito cuidado, não converse e nem mesmo dê atenção a estranhos.

Ainda muito inocente e na descoberta pubertal cheia de imaginação, a menina sai pelo

caminho a observar tudo à sua volta e distrai-se no percurso. Isto é motivo e prato cheio para o tal

lobo mau astuto consciente da inocência da menina indefesa e isto lhe será a estratégia para a sua

fria ação.

Cheio de malícia, o lobo coloca-se no caminho e provoca-a à um diálogo tão inusitado e

indubitável que a deixa confiante a ponto de ensinar ao maldoso, o caminho mais breve e certo

até a vovozinha. Sem pensar muito e deliciando em sua fértil imaginação como será devorar a

menina, apressa-se em chegar à casa da avó de Chapeuzinho fingindo ser ela e conseguindo,

então enganar a pobre e inocente velhinha engolindo-a logo em seguida.

Ao chegar a seu real destino, Chapeuzinho encontra a sua possível vovozinha deitada na

cama e é convidada pelo lobo disfarçado a deita-se com ele. A este convite, ela inicia um diálogo

questionando-o de como está tão estranho: nariz grande, corpo peludo, braços enormes e boca tão

grande... Para esta última resposta, em algumas versões como de Grimm, ela é devorada.

Para sua sorte e de sua pobre vovozinha, passava por aquele local, um caçador que

conhecendo as astúcias do lobo encontra-o cometendo a sua doce maldade – devorar. Este, corta-

o a barriga e retira as duas vítimas que como um sinal de parto, renascem.

Chapeuzinho assume, então, a partir deste momento, a missão de lhe dar um devido fim,

significando a sua maturação para uma nova vida de forma a compreender e por em prática a

lição dada por sua mãe.

Cada autor, com sua versão, mas o importante de todas elas é que este conto deixa claro

que no universo que cerca o ser humano, há malícias e truques que manipulam o indivíduo pela

beleza, mas que, muitas vezes, abraçam a conseqüência de não voltarem a viver para um novo

recomeço e assim poder amadurecer diante dos fatos como pessoas capazes de lidar com suas

próprias frustrações como meio de desenvolvimento pessoal.

A INTERPRETAÇÃO DE BETTELHEIM

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Bettelheim (2008) em, “A Psicanálise dos Contos de Fadas”, nos dá uma dimensão clara

e objetiva de quem seja Chapeuzinho Vermelho e as duras experiências a que teve que se

submeter para alcançar a maturidade.

Este afirma que a figura da menina apresentada neste Conto é a de uma menina

“inocente” e encantadora e, por isso, prende a atenção do lobo que não a devora imediatamente

por causa dos caçadores que andam pela floresta e manifesta isto no encontro com ela na cama de

sua avó quando esta lhe questiona por quê uma boca tão grande, e ele friamente afirma: “para te

comer melhor”, atirando-se sobre ela e devorando-a.

Este autor, analisando a versão de Perrault, diz que durante o discorrer da história, não

há ninguém para adverti-la dos perigos do caminho e mesmo a avó, inocente, termina destruída.

Bettelheim é obvio ao afirmar que Perrault não instiga a imaginação do ouvinte, mas apenas já

pré-determina tudo o que vai acontecer e esclarece que para a criança, um conto quanto mais

explícito, menos encanto ele tem. Em crítica ao conto contado e explicado, Silva (2008), enfatiza

Bettelheim dizendo:

Talvez o que há de mais característico no padrão construtivo dos contos de fadas são as fórmulas de abertura e de fechamento – “Era uma vez, num reino distante” e “eles viveram felizes para sempre”. (SILVA, 2008, p. 71)

Para ela, o que os contos trazem é a realidade de crianças que por iniciativa própria

ou obrigadas, saem de suas casas em busca de aventuras que trarão pelo caminho muitas

provações e situações de conflitos, e isso para quem lê, é a oportunidade única de contribuir para

um final feliz. Bettelheim (2008) ilustra ainda mais ao afirmar que, somente a criança pode dar

significado aos contos de acordo com as suas emoções momentâneas e compreender o seu

próprio amadurecimento ao crescer e dar novos sentidos a elas. Para ele, a criança só pode

descobrir o sentido das histórias quando ela mesma é capaz de descobrir e compreender os

significados ocultos. Comparando Chapeuzinho e conto de João e Maria, o autor diz que a

floresta contemplada pela menina e a casa paterna dos irmãos representam o mesmo contexto,

mas apenas vivenciado de outra forma e de acordo com a situação psicológica. João e Maria estão

sujeitos à fixação oral ou o que ele traduz por canibalismo, enquanto que para a menina, tudo na

floresta é prazer e a forma que usa para castigar o lobo não está além do que é normal no ser

humano.

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Chapeuzinho Vermelho vive num lar de fartura que ela, como já ultrapassou a ansiedade oral, compartilha com a avó alegremente, levando-lhe comida[...] enquanto João e Maria tiveram que ser empurrados para o mundo, Chapeuzinho deixa o Lar voluntariamente. (BETTELHEIM, 2008, p.206).

Os temas das histórias de fadas, sejam elas dos Irmãos Grimm, de Charles Perrault ou de

outros autores, costumam ser as passagens e enfrentamentos da criança rumo à emancipação e a

uma vida adulta o que pode ser denominado como “identidade”. Silva (2008) acentua bem as

percepções referentes à identidade - "eu" e identidade – "outro" , pois segundo ela, a identidade

só é percebida em contraste com o diferente. Esta afirma, ainda, que no que se refere à

identidade, o que aflige as crianças nas narrativas é o nome trabalhado sob diversos aspectos, pois

este, às vezes, é dotado de poderes mágicos e o que por ela é determinante como auto-imagem

que será construída pela auto-percepção como também de outrem que dirá respeito ao

crescimento físico, mental e, especificamente, o abandono do mundo infantil para os desafios do

mundo adulto. Mas é com intuito de causar questionamentos que Silva (2008) diz:

A insatisfação interna que move as pessoas a buscarem o outro, aquele que vai conceder-lhe o equilíbrio emocional de que necessitam e de restaurar o sentimento de unidade simbiótica perdida com o nascimento, afasta-se do modelo de afirmação da identidade, em que o indivíduo cria sua auto-imagem a partir de sua aparência, seu nome e sua identidade familiar. (SILVA, 2008, p. 61)

Uma importante afirmação dada pela autora, refere-se ao medo, que segundo ela,

apresenta-se de forma mais aguda nas crianças, pois suas mentes são plenamente ricas em

fantasias. Vencer os medos que os assolam com inocência, é oportunizarem-se o amadurecimento

que lhes possibilitarão a auto-descoberta e encontro consigo mesmas na descoberta de suas

identidades. Ilustrando esta superação, exemplifica os primeiros homens do universo tendo que

descobrir o fogo diante das suas necessidades de sobrevivência; ainda, as histórias A Bela e a

Fera, cuja figura da Fera recebe a caracterização que o identifica de acordo com o medo que é

sentido durante sua narrativa; e é claro, não se pode esquecer do Lobo mal, vilão que lembra um

medo aterrorizante e altamente periculoso, mas importante é nunca esquecer que várias versões

simplificam o desafio de encontrá-lo. Estas ensinam que enfrentar o Lobo é, antes de tudo,

superação dos próprios medos como forma de desafiá-lo e não se deixar dominar por suas

malícias.

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O PRINCÍPIO DO PRAZER VERSUS O PRINCÍPIO DA REALIDADE

Característico das fábulas, os animais parecem ter vida própria, comunica-se com o ser

humano, transmitindo uma instrução moral com sentimentos reais e não deixam espaço para a

imaginação da criança, enquanto que nos contos de fadas as decisões transcorrem meio aos

desejos do observador-leitor com a necessidade de uma resposta autêntica em querer ou não

tomar decisões em apenas ouvi-lo ou colocá-los unificados às nossas práticas cotidianas,

desenvolvendo a experiência do desenvolvimento pessoal.

Os personagens destes contos convidam a criança para uma viagem de ideias e

identificações e por elas enche-se de esperança e potencializa-se de inteligência e maturidade,

manipulando a maldade e sobressaindo-se vitoriosa e madura mesmo que diante de um inimigo

mais forte e tentador como o lobo.

Em “Os três porquinhos”, o irmão mais velho consegue diferenciar o que é comer e o

que é devorar, separando princípio do prazer e realidade e no conto de fadas isto se faz claro

quando o personagem é rejeitado, ignorado e pacientemente meio às suas buscas, torna-se

vitorioso no final. Esta história nos leva à compreensão de que os três irmãos constituem apenas

uma em fases de desenvolvimento diferentes, o que nos quer significar que mesmo passando por

diversas fases, ameaças, desafios e frustrações aprenderemos a construir nossa proteção segura de

modo que seremos capazes de realizar nossas próprias conclusões com tranqüilidade e

maturidade.

O tempo atual em que vivemos demonstra diversas formas de violência e motivações para

as angústias e barreiras entre as pessoas, pelo fato de se relacionarem apenas com desconfianças e

incertezas e quase sempre nossas relações estão alicerçadas em vínculos de confiabilidade que

nos são causa de decepção, algumas vezes, em observações do nosso ponto fraco para que este

seja o nosso motivo de queda ou até a razão para o nosso próprio julgamento. A questão é que o

mundo é sedutor, possui magias diversificadas que nos envenenam e embriagam e mesmo que

tenhamos uma personalidade baseada na razão e não só na emoção nos perdemos na busca do

nosso eu que se perde nas incertezas entre o que somos e o que os outros querem que sejamos.

Em diversos momentos da vida, nos perdemos na indecisão de reconhecer quem somos: a

vítima ou o lobo, pois é certo que na própria defesa importa expormos o nosso lado animalesco

conseqüente do id, para não nos tornarmos alvo das malícias mundanas tão belas que

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constantemente iludem o ego e o superego como sendo maravilhoso a entrega total aos prazeres

do caminho cotidiano. Para a Bettelheim :

O dilema entre o princípio da realidade e o princípio do prazer é afirmado explicitamente quando o lobo diz a Chapeuzinho: - Veja como são lindas as flores ao seu redor [...] Chapeuzinho lida com a ambivalência infantil entre viver pelo princípio do prazer ou pela realidade e é sustentada pelo fato dela só parar de colher flores quando já juntara tantas que não podia mais carregá-las. (BETTELHEIM, 2008, p.207).

O princípio do prazer dito por Bettelheim (2008), unido à análise da figura do lobo,

exige um olhar mais crítico, pois, é do encontro com ele que se analisará a imagem positiva da

menina. O primeiro momento de sedução do lobo ocorre no encontro com Chapeuzinho quando a

sugere seguir por caminhos diferentes na disputa de quem pode chegar primeiro à casa da vovó.

Este é um sujeito manipulador, astuto e, portanto, não devora à princípio a menina, mas

prefere seduzi-la, apreciá-la, conquistá-la. Pelo fato de ter que manter sua imagem positiva, a

menina segue as ordens da mãe de levar o bolo, rosquinhas e um pote de geléia a sua vovozinha,

mas não consegue desviar-se da atração fatal e astuciosa do lobo. Ao que se pode ver, durante

toda a narrativa a menina esta sujeita à manipulação, às armadilhas e belezas aparentes sugeridas

pelo lobo, enquanto que a menina, de olhos vendados à magia maldosa, termina na barriga deste

por ser todo o tempo enganada e levada pela sua falta de crítica a perder-se nos seus próprios

conceitos e recomendações dados pela mãe.

O que é possível perceber nesta narrativa é que a figura do lobo representa na realidade

contradições, já que este animal é tipicamente feroz e naturalmente mau por seu instinto,

enquanto que narrado por Perrault, nada mais é do que indefeso, mocinho e cheio de bondade.

No diálogo com sua mãe, Chapeuzinho mostra-se consciente dos perigos do caminho,

demonstra-se digna de confiança já que irá até a casa de sua avó e sabe que no percurso do

caminho não pode dar ouvidos a ninguém, nem mesmo ao lobo que é muito mau. Isto significa

que ela sabe o desafio que a espera e já deveria, portanto, estar pronta para negar-lhe atenção,

pois quando sua mãe a pede para levar as encomendas para sua avó, acredita que sua filha seja

capaz de discernir o certo do errado.

Enquanto o lobo se apressava para chegar primeiro à casa da vovozinha, Chapeuzinho

preocupava-se em apreciar a beleza das flores e das borboletas, esquecendo-se do compromisso

feito com sua mãe. O que Bettelheim (2008) nos quer fazer entender é que a malícia do lobo

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tramita durante o conto apenas com um objetivo: fazer a menina desviar-se do caminho virtuoso,

dos princípios que aprendera e que talvez por desejos recalcados, entrega-se às suas curiosidades

e ambivalências que a fazem saber o que deve fazer, mas prefere desviar-se pelo fato de sentir

prazer em satisfazer seus desejos escondidos. O autor nos diz que a menina, no encontro com o

lobo, ainda não está madura para lidar com sua sedução, mas ainda não compreende os seus

instintos animalescos definidos pelo id em busca apenas de satisfação, quebrando o trato de

confiabilidade com a mãe.

“A Psicanálise dos Contos de Fadas” apresenta em Bettelheim a perspectiva da figura

masculina durante todo o curso da história narrada, e isto quer dizer que Chapeuzinho vive os

seus complexos edípicos afloradamente, demonstrando os seus desejos pela figura paterna, o

desejo de seduzi-lo e de por ele ser seduzida, e diante disso nasce o sentimento de culpabilidade

em relação à sua mãe. Isto explica porque o lobo não a devora logo que a encontra, mas deseja

primeiro levá-la para a cama. Ela, por sua vez, ao tempo que se encontra com este na cama sente

repulsa, mas ao mesmo tempo desejo, ou até mesmo fascinação, o que a impede de se afastar

passando por um momento de estagnação, e é o próprio caçador na figura paterna quem a extrai

da barriga do lobo, o que para ele, significa um novo nascimento de Chapeuzinho para a

maturidade. Este está o tempo todo presente na história, mas de forma oculta, e é por ele que

Chapeuzinho espera para que a resgate do desejo que sente por ele de seduzi-lo e fazê-lo amá-la

mais do que aos outros.

Bettelheim (2008) diz, então, que o pai é apresentado de duas formas: de lobo, como

complexo edípico reprimido e como caçador que a salva. Mas é a própria menina quem planeja o

fim do lobo com a ideia de enchê-lo com pedras e isto dá a ela a chance de se auto-descobrir e

fazer-se forte o suficiente para perigos futuros, pois com o auxílio do caçador-pai, ela renasce

como uma pessoa diferente.

Cabe a Chapeuzinho planejar espontaneamente o que fazer com o lobo e executá-lo. Para que ela esteja a salvo no futuro, deve ser capaz de acabar com o sedutor, livrar-se dele. Se o pai-caçador o fizesse por ela, Chapeuzinho nunca sentiria que realmente vencera sua fraqueza, porque não teria se libertado dela. (BETTELHEIM, 2008, p. 214).

Pode-se então compreender que Chapeuzinho “morreu” de fato, mas renasceu como

aquela pessoa astuta a compreender as malícias à sua volta e pronta a compreender o momento

oportuno para cada fase da vida sem atropelá-la, mas apenas tornando-se sábia.

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AS VERSÕES DE PERRAULT E IRMÃOS GRIMM: O APRENDIZADO

A história de Chapeuzinho Vermelho possui muitas versões e cada uma delas com

uma forma específica de encanto. Mas é com Charles Perrault que nasce a primeira versão

escrita do Conto com o tema: “Capinha Vermelha” ou “La Petit Chaperon Rouge” e por

sinal, com um fim trágico e inclusive ilustrado com um poema após o devoramento da avó e

da menina pelo lobo, com um intuito moral de que meninas bonitinhas não devem conversar

com estranhos, pois se o fazem, podem se dar muito mal, ou como ele mesmo disse, serem

“devoradas”.

Todos os contos de Perrault eram carregados de moral, mas mesmo assim, observa-se

falhas quando esta não mostra advertência à menina sobre os perigos do caminho e quanto a

sua avó que fora devorada sem nenhuma direito à defesa, apenas uma vítima do maldoso lobo.

Contudo, Perrault não deixou espaço para a imaginação do leitor e expressou o conto apenas

de forma violenta e fria. O que fica como mensagem para nós do que ele escreveu, é que

Chapeuzinho realmente quis ser devorada.

Jacob Grimm, criou à sua versão no início do século XIX chamando-a de

“Chapeuzinho Vermelho”. E é importante lembrar que estas versões variam de acordo ao

contexto histórico de sua épocas como também uma moral adequada a determinado perfil

psicológico individual ou grupal. As versões dos contos dos irmãos Grimm eram baseadas na

tradição oral da sociedade alemã e a versão de Chapeuzinho contatada pelos irmãos é mais

delicada e leve e não usa de violência, deixando a ideia de que a vida deve ser vivida em

harmonia consigo e com os outros. Importante é esclarecer que as versões de ambos os

autores, Perrault e Grimm, estão alicerçadas às culturas a eles ligadas como a moral que se

desejava estabelecer por eles.

Ora, falar em aprendizado em Chapeuzinho Vermelho implica perguntar o que

significa aprender numa linha psicológica a desvendar as dúvidas que se acham no percurso do

caminho que fazemos com a inocente Chapeuzinho que ao tempo que vê-se encantada, iludida

e atraída pela beleza do mundo à sua volta, reconhece a necessidade de responder aos

desígnios de sua maturação, obedecendo às ordens de sua mãe e a consciência de continuar a

caminhar sem distrações, pois tem uma missão a cumprir: levar os docinhos para a sua avó

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doente, significando a chegada triunfal de sua maturidade e o desvendar do signo maior dentre

os mistérios que precisa compreender: o sabor doce e amargo de seus próprios desejos.

Em Deleuze (2003), na obra “Proust e os signos”, encontramos exatamente a

explicação codificada desta problemática, pois o que a obra nos faz refletir vai além de

simples explicações cotidianas, sendo que as experiências do aprendizado de Chapeuzinho no

caminhar pela floresta e no encontro fatal com o Lobo finalizado por seu devoramento, nada

mais é do que um processo cheio de signos dos quais nos apropriamos, para tratar de nossas

frustrações e percepções a cerca de nós mesmos com base nas experiências vividas pela do

doce menina que prefere entregar-se às fantasias que obrigar-se à maturação aparentemente

desnecessária.

O que deve ficar claro neste processo, é que no encantamento do caminho, também

sofremos decepções, e é exatamente a frustração que nos educa e nos oferece algo novo que

foi aprendido, mesmo que de forma surpreendente e dolorosa, mesmo que para isso

simbolicamente tenhamos que passar pelo signo do “parto Cesária” para que tenhamos a

chance de compreender o real sentido do objeto esperado.

Deleuze (2003) afirma que as figuras dos heróis se apresentam também em busca de

compensações que superem suas frustrações em relação ao seu objeto de desejo ao tempo que

meio a um aprendizado interpreta e remedia esta pela interpretação subjetiva.

O sentido do signo é mais profundo do que o sujeito o interpreta, mas se liga nesse sujeito se encarna pela metade em sua série de associações subjetivas. [...] É a essência que constitui a verdadeira unidade do signo como irredutível ao objeto que o emite, é ela que constitui o sentido como irredutível ao sujeito que o aprende. (DELEUZE, 2003, p.25 )

A isso Proust denomina de essência, pois é algo do próprio sujeito como sendo uma

qualidade do âmago que possibilita ao indivíduo sair de si mesmo para compreender o outro

em seu universo particular e em sua determinada visão de mundo o que é de fato a diferença e

a sua verdade própria e absoluta. Tão profunda é a visão deste autor acerca da essência

individual que afirma ser ela a prova possível da imortalidade da alma e, por isso, continua sua

reflexão ao deixar claro que esta não é apenas individual, mas individualizante não diversifica

e muito menos se diversifica, não se repete é jamais idêntica a si mesma.

Desta essência, então, constitui-se o Conto de Fadas e nele podemos dizer que

o processo de aprendizagem, pois aprender é, antes de tudo, poder dar a si a chance de

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conhecer o que é obscuro, o que ainda é um segredo para si, ou mesmo o que carrega um signo

ainda não decifrado. Seria, numa concretude de experiências, um despertar dos sonhos com

aptidões de enfrentamento da realidade e domínio da vida. O que de fato pode nos elevar a tal

compreensão do que seja o aprendizado foca-se na reflexão de Bettelheim ao refletir que a

menina encontra o lobo em uma bifurcação, ou seja, num lugar onde precisa tomar uma

decisão: a de que caminho tomar.

Seguindo as opções dadas pelo Lobo, a menina escolhe o caminho dos alfinetes, pois

correspondia escolher o que lhe era mais fácil atendendo o princípio do prazer, quando de fato

deveria escolher o que lhe era real.

Contextualizando assim o aprendizado da menina neste conto, os irmãos Grimm

apresentam uma nova variação de "Chapeuzinho" que afirma ter ocorrido de outro Lobo tentá-

la enganar, mas a mesma, atenta aos perigos do caminho e temendo um novo devoramento,

corre e avisa sua avó, e juntas tratam de se proteger contra o astuto.

O IMAGINÁRIO INFANTIL

Gilberto Durand (2002) em sua obra: “As Estruturas Antropológicas do Imaginário”,

resgata alguns conceitos dados no curso do tempo e do espaço na visão de vários autores em

relação à imaginação vista como “fomentadora de erros e falsidades” e até mesmo como

“pecado contra o espírito”.

Este autor apresenta algumas diferenças que devem ser levadas em consideração

como na diferenciação de memória, imaginação, pensamentos, recordações e outros meios que

usem a mente humana como retorno ao que se viveu ou àquilo que ele se propõe a viver como

uma viagem interior e unicamente sua.

Em Sartre esta ideia é clara, diz Durand (2002), quando trata da não coisificação do

imaginário presente como método fenomenológico que não permitirá aparecer neste mais do

que intenções purificadas do inconsciente, pois o inconsciente é transcendente. Por assim

dizer, a imaginação abrange algumas ideias conceituais e mesmo em senso comum, daqueles

que a vêem em modo degradante como: “sombra de um objeto”, “objeto fantasma”, “vida

fictícia”, ou “somente o que lhe resta”. Maior perigo é visto quando usa-se a afirmação de que

pode ser até uma possessão quase demoníaca.

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Durand (2002), é claro, ao criticar as incertezas de Sartre acerca da imaginação quando

este parece não deixar clara a sua ideia do que lhe signifique realmente este termo, mas ao fazer

sua defesa, o autor esclarece:

Para poder “viver diretamente as imagens" é ainda necessário que a imaginação seja suficientemente humilde para se dignar encher as imagens. Porque se se recusa essa primordial humildade, esse originário abandono ao fenômeno das imagens, nunca se produzirá – por falta de elementos indutor – essa “ressonância” que é o próprio princípio de todo o trabalho. (DURAND, 2002 p. 25).

Durand (2002), ainda afirma, baseando-se nos estudos de Sartre, que o papel da

imagem ou as figuras imaginárias infantis, sofre um grande desvalor e chega a classificá-los

como possessão demoníaca. O que não existe passa por ato de mágica infantil que torna tudo

consistente e imposto ao pensamento. Em complemento a Bachelard, alcança a ideia de

imaginação como eixos fundamentais dos trajetos e gestos do animal humano rumo ao meio

natural que lhe é próprio e dando significado ao símbolo como sendo o “lugar”, o lugar das

pulsões individuais e sociais.

A imaginação ao que é dito, é carregada de imagens, estas carregadas de signos ou

significados unificam significado e significante meio a uma dinâmica organizadora de sentidos

que doravante representam a liberdade.

Em Piaget, a imagem desempenha um papel de significante diferenciado do objeto

percebido, mas menos que o signo dado ou signo motivado. E então Bachelard diz que a

imaginação exerce o papel de organizador que induz a homogeneidade que resultam em

representação. A imaginação, portanto, não forma imagens, mas reserva-se num potencial

dinâmico que deforma as percepções, originando uma dialética reformadora de sensações.

Enriquecendo os aspectos do imaginário, Cortez (2006), na obra “Leitor formado,

leitor em formação”, afirma que a imaginação é base que reflete as criações humanas que se

manifestam em diversos momentos e culturas como sendo uma construção até mesmo

histórica. A mesma ainda enriquece esta afirmação baseando-se em Vygotsky que diz: “Tudo

o que nos rodeia e que foi criado pela mão do homem, todo o mundo da cultura ou a diferença

do mundo da natureza, são produtos da imaginação eda criação humana, com base na

imaginação”. (CORTEZ, 2006, p. 195).

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É possível fazer uma análise, a partir desta visão de Vygotsky, ilustrando ainda

melhor o que diz Bettelheim a cerca deste assunto, pois é certo que a criança é capaz de criar

seus próprios amigos imaginários, criar suas próprias brincadeiras e porque não dizer, suas

próprias defesas reagindo positivamente a algo que lhe atraia ou lhe cause repulsa. Na visão

deste autor, a fantasia é o preenchimento de lacunas incompreensíveis às crianças em

aparentes segredos que serão desvendados com a maturidade, mas que fazem parte da angústia

do mundo infantil como um processo de descoberta que deve fortificá-la pela descoberta na

fantasia do que lhe pode ser uma superação de si mesmo(a). O segredo a desvendar-se pela

contribuição dos Contos de Fadas baseia-se em analisar que assim como a mente infantil,

estes começam por aparentes realidades problemáticas e desafiadoras que induzem à busca de

soluções. Mas a racionalidade que lhe orienta ainda é sensível ao inconsciente, a imaginação,

conseqüência de seus medos e conflitos não compreendidos, causa de suas ansiedades e

dúvidas.

O que é importante citar diante desta perspectiva, é que a criança consciente da trama

e da fantasia dos Contos de Fadas consegue dar significado aos fatos reais como aprendizado

através do significado simbólico que ela lhes atribui. Pois de fato o papel do Conto de Fadas é

levar a criança numa viagem de encantos cheia de desafios a serem enfrentados, mas que, ao

mesmo tempo, tem como missão trazê-la à sua realidade nítida segura de que podemos, sim,

fantasiar, mas não podemos estar presos a ela durante todo o tempo, mas apenas armados de

recursos defensivos que nos façam viver seguros de que o medo existe e pode ser do tamanho

que lhe quisermos fazer, mas que, acima de tudo, somos capazes de vencê-lo pelo o que

aprendemos a exemplo de muitos heróis que por um momento foram tomados por nossa

personalidade momentânea em busca da sua própria figura de identificação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo objetivou um encontro prazeroso entre o leitor amante do Conto

“Chapeuzinho Vermelho” e seu aprendizado analisado pela psicanálise de Bruno Bettelheim

acerca de sua inocência no encontro fatal com o Lobo. A análise em questão nos leva a refletir

sobre a figura da menina como a revelação da nossa personalidade, às vezes, indefesa, aberta

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4ao prazer, ao que nos faz momentaneamente felizes, e é claro, a identificação também com o

Lobo, que nada mais é do que a insignificância de nosso “eu” animalesco, pronto a devorar a

inocência e a razão em busca do que levianamente queremos somente para nós aqui e agora.

Em Bettelheim (2008), encontramos a resposta juntamente com Chapeuzinho:

Não devemos ouvir os nossos instintos animalescos, nos entregar ao que aos nossos

olhos é perfeito, pois com ela chegamos à compreensão de que o prazer nos exalta,

nos leva ao alcance da extremidade de Eros, mas com ele, estamos frágeis e por ele

nos entregamos ao nosso próprio veneno e possivelmente a entrega desmedida e

imprudente pode não possibilitar um novo renascimento.

Amarilha (1997), fazendo uma análise dos Contos de Fadas a partir de Jung2,3 afirma

que a visão deste autor complementa o que Bettelheim explicita acerca do ser humano ter várias

faces, no entanto, não poder receptar a todas elas, quando diz que:

A vantagem do método de Jung para a análise dos contos de fadas é que, ao invés de

conceber cada personagem como figura representativa de diferentes seres humanos,

considera cada personagem um aspecto da mesma personalidade, porque cada

personalidade é múltipla. (AMARILHA, 199, p. 70)

Isto significa que as figuras dos Contos de Fadas são unas e, ao mesmo tempo,

diversificadas, capazes de adequarem-se à cada experiência e a cada indivíduo exatamente como

condiz a sua emoção momentânea. E já que somos plenamente humanos e múltiplos em

personalidades, nada melhor do que os contos de fadas para nos ajudarem na escolha de quem

queremos ser e como queremos ser, de modo a nos auto-realizarmos, e por exemplo de

Chapeuzinho Vermelho, sermos capazes de apreciar as belezas da vida, mas sempre atentarmos

ao que é o melhor e mais correto e não simplesmente o mais agradável, elevando nossas

consciências a partir de Bruno Bettelheim, para o encontro contínuo com a inocente menina,

buscando todos os dias reviver com prazer absoluto o que temos e o que somos sem precisar

percorrer caminhos obscuros para o encontro conosco, pois a escuridão que se faz em nós só

precisa de uma resposta que nos leva ao caminho certo: a razão.

2 Carl Gustav Jung (26 de julho de 1875 - 6 de junho de 1961) foi um psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.

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ABSTRACT: This work has the main goal, opening a range of considerations about the importance of Fairy Tales in the classroom as well as a more specific study of the Little Red Riding Hood tale and its moral left during centuries by Charles Perrault, Brothers Grimm and other great authors who allowed us a perfect trip to the world of imagination and also the opportunity of a personal encounter with ethics and morals of the individual constituents and capable of genuine insight of how influential it will be personality formation of good or bad. And this mission is extremely important because it promotes the encounter with others in education and it will help the morale of Little Red Riding Hood choose the right path and never uncertain. To traverse such crossings literary work in question will examine the eyes of Bruno Bettelheim (2008) in his psychoanalysis of Fairy Tales. Key-words: Fairy tales, imaginary, Little Red Riding Hood, learning, essence.

REFERÊNCIAS

AMARILHA, Marly. O ensino da literatura infantil da 1ª série à 5ª série do 1º grau nas escolas da rede estadual do Rio de Grande do Norte. Natal: CNPq/UFRN/ Departamento de Educação, 1997. BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. CORTEZ, Clarice Zamonaro. Arte e imaginação: o ensino da Arte na literatura infantil brasileira. In Leitor formado, leitor em formação: a leitura literária em questão. São Paulo: Cultura Acadêmica, Assis, SP: ANEP, 2006. DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. 3ed. São Paulo: Martins fontes, 2002. ID, EGO e SUPEREGO - Disponível em: http://pt.shvoong.com/social-sciences/psychology/1906303-id-ego-super-ego/#ixzz1N7vOBGVn. Acesso em 22.05.2011 às20hs.

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PERRAULT, Charles. Chapeuzinho Vermelho (La Petit Chaperon Rouge). 1ed. Rio de Janeiro: Companhia das Letrinhas, 2007. SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e promotores de leitura. Goiânia: Cânone Editorial, 2008. ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. 11 ed. São Paulo: Global, 2003.