A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE BALSAS – CESBA Departamento de Enfermagem Curso de Enfermagem RICARDO CARVALHO NEVES A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

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RESUMO O processo de morte é inerente à vida e inevitável precisando ser discutido para se desanuviar os mitos que rondam esse assunto. A profissão de Enfermagem lida diretamente com essa questão quando é relacionada aos pacientes, e os acadêmicos necessitam de preparo eficiente para enfrentá-lo da forma mais saudável possível. Este estudo objetivou analisar a visão de morte dos acadêmicos do Cesba/Uema e verificar a eficiência do preparo dos mesmos pela Instituição. O trabalho teve característica descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa, realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas com 10 acadêmicos do Centro de Estudos Superiores de Balsas da Universidade Estadual do Maranhão. O roteiro continha questões sobre o conceito de morte para os estudantes, preparo para a morte dos pacientes, o que eles sentiam perante a morte e sugestões para a implementação do estudo da morte na grade curricular. As análises mostraram que os alunos vêem a morte como algo inevitável; ou como uma passagem, baseando-se na religião; e ainda, utilizando conceitos científicos, como algo natural. Diante da morte os alunos sentem, em sua maioria, medo; seguido de tristeza e indignação. A maior parte dos estudantes declarou-se preparado para assistir à morte alegando experiências prévias ou caracteres de personalidade, havendo os que não se consideraram por acharem que esse preparo é impossível de ser feito. Todos os pesquisados concordaram que é importante e necessária a inclusão da disciplina de Tanatologia no curso a fim de prepará-los de forma efetiva para a morte e torná-los profissionais mais humanizados. PALAVRAS-CHAVE: Morte; Acadêmicos; Enfermagem.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE BALSAS – CESBA

Departamento de Enfermagem

Curso de Enfermagem

RICARDO CARVALHO NEVES

A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO

CESBA/ UEMA

Balsas-MA

2012

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RICARDO CARVALHO NEVES

A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO

CESBA/ UEMA

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de Enfermagem do Centro de Estudos Superiores de Balsas, da Universidade Estadual do Maranhão como exigência para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem.

Orientador:

Balsas – MA

2012

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RICARDO CARVALHO NEVES

A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/

UEMA

Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do grau de Bacharel em Enfermagem e aprovada em sua forma final pela coordenação do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Maranhão.

Aprovada em _____ de _____________ de ______

Nota:________

Banca Examinadora

Prof.º Jairo Ribeiro Sousa

Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

Enf.ª Gley Simone Ribeiro da Costa

Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

Enf.ª Patricia Almeida Laurindo

Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

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Dedico este trabalho ao meu querido alterego,

Adamantiun, que nunca me abandonou e sempre

me mostrou que eu tinha todas as armas para

vencer esta batalha, dentro de mim mesmo.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu infalível Jesus Cristo que soube me mostrar aos poucos que eu

realmente tinha tomado o caminho certo naquele dia. Você é a maior certeza que tenho

na vida!

À minha mãe (Paixão de Maria) e meu pai (Francisco) que além de me

educaram de uma forma admirável, nunca se opuseram ao meu sonho de me tornar um

profissional com nível superior, e abdicaram dos seus sonhos para que este meu fosse

concretizado. Hoje, meus queridos, eu vejo onde vocês queriam que eu chegasse e o que

queriam que eu fosse, e agora só posso agradecê-los infinitamente por tudo,

procurando palavras que expressem isso e não as encontrando! Amo vocês!

Aos meus irmãos (Marcella e Rennan), tias, tios, avós (Vó Rita) e primos,

por sempre me confiarem esta missão, como se estivessem certos que eu, de alguma

forma, a cumpriria!

À minha tia Antônia, com quem cresci e que me ensinou muito do que sei

hoje, foi vendo seu exemplo de vida e luta tia, que eu perdi o medo de enfrentar o

mundo e de vencer os obstáculos que sempre me apareceram! Te Amo!

Aos amigos de Mangabeiras (Ada, Angeline, Aylana Mara, Carla Ribeiro,

Daiane Carolina, Júnior, Luzivan, Raiany, Raiza, Richele e Thaisa) por verem algo

notável, (e amarem isso!) naquele garoto estranho que estudou com vocês!

Inesquecíveis serão nossos momentos, e ainda mais, vós mesmos!

Ao meu primeiro e eterno amor: Laianna Coelho. “Em ti eu me acho, em ti

eu me defino. Em ti, eu sou quem sou!” Por mais que estejamos sempre distantes, nosso

amor puro e lindo, só aumentará! Te Amo!

Aos caxienses: Aléssio Leal, Bené, Alzimar Souza, Paula Oliveira, Thessia

Andrade, André Gustavo, Diego Alexsander, Patrícia, Teresinha e Vicente Beleza. Eu

fui muito feliz ao lado de vocês, nesses 10 meses! Que a distância não apague o que

sentimos mutuamente! Muito Obrigado!

Ao balsense, Raylon Araújo, que se mostrou alguém muito especial e que

marcou minha vida.

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Aos meus professores, Milena Bárbara, Eryna Sousa, Leonardo Aragão,

Erika, Tereza Machado, Jhonny Herberthy, Leonardo Bezerra, Landim, Vanessa Nunes,

Elaine Cristina, Gley Simone, Marcia Meurer, Laíra, Irmã Rosa Maria, Mayara

Caland, Ana Maria, Irmã Maria Luiza, e em especial aos meus orientadores Jairo

Ribeiro e Nivia Cristiane.

Aos meu colegas de classe! Todos vocês! Os que estão concluindo comigo, e

os que não continuaram na turma! Com vocês, eu vivi os anos mais loucos, felizes,

inesquecíveis, sofridos e dourados da minha vida! Despeço-me, triste por estar

acabando, mas feliz e realizado por tê-los conhecido e feito parte de suas vidas! Em

especial à: Tayron Carneiro, Jorlandia Ferreira, Ramon Tiego, Fernanda Arruda,

Marizete Marcos, Phablo Venicio, Jardiana Farias, Talita de Paula, Milena Martins,

Tagella Sá, Valdilene Guida, Samuel Dourado, Cristiani Magalhaes, Laerth Araujo,

Arlete Carvalho, Fabiany Melo, D’lany Lopes, Lucas José, Herbelchior Gomes,

Lucyjane Amorim, Lucas Natanael, Maria Rita, Deylane Melo, Joerberth Ramos,

Dallyanna Leão, Renato Silva, Gil Wagner, Elisangela Manara e Juliana da Silva. Foi

uma honra!

E, finalmente, a Ricardito, o arqueiro, Ricky Ardo, Holy Hands, T.R.,

Arqueiro Branco (in memorian) e Adamantiun! Várias faces de um mesmo eu, que

juntos formam esse que agradece a vós.

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Tão simples, também, é a morte!

Por ser morte, por não morrer!

Ao contrário da vida, que sempre acaba...

Sempre morre!

(Éder Thiago)

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RESUMO

O processo de morte é inerente à vida e inevitável precisando ser discutido para se desanuviar os mitos que rondam esse assunto. A profissão de Enfermagem lida diretamente com essa questão quando é relacionada aos pacientes, e os acadêmicos necessitam de preparo eficiente para enfrentá-lo da forma mais saudável possível. Este estudo objetivou analisar a visão de morte dos acadêmicos do Cesba/Uema e verificar a eficiência do preparo dos mesmos pela Instituição. O trabalho teve característica descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa, realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas com 10 acadêmicos do Centro de Estudos Superiores de Balsas da Universidade Estadual do Maranhão. O roteiro continha questões sobre o conceito de morte para os estudantes, preparo para a morte dos pacientes, o que eles sentiam perante a morte e sugestões para a implementação do estudo da morte na grade curricular. As análises mostraram que os alunos vêem a morte como algo inevitável; ou como uma passagem, baseando-se na religião; e ainda, utilizando conceitos científicos, como algo natural. Diante da morte os alunos sentem, em sua maioria, medo; seguido de tristeza e indignação. A maior parte dos estudantes declarou-se preparado para assistir à morte alegando experiências prévias ou caracteres de personalidade, havendo os que não se consideraram por acharem que esse preparo é impossível de ser feito. Todos os pesquisados concordaram que é importante e necessária a inclusão da disciplina de Tanatologia no curso a fim de prepará-los de forma efetiva para a morte e torná-los profissionais mais humanizados.

PALAVRAS-CHAVE: Morte; Acadêmicos; Enfermagem.

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ABSTRACT

The process of death to life is inherent and inevitable needs to be discussed unwind the myths that surround this subject. The profession of nursing deals directly with this issue when it is related to patients and academics needs to be prepared to address it effectively as healthy as possible. This study aimed to analyze the vision of the death of academic Cesba / Uema and verify the efficiency of the preparation of the same institution. The study was descriptive and exploratory character, with a qualitative approach, carried out through semi-structured interviews with 10 students from the Centro de Estudos Superiores de Balsas in Maranhão State University. The script contained questions about the concept of death for students preparing for the death of the patients; they felt before the death, and suggestions for implementing the study of death in the curriculum. Analysis showed that students see death as inevitable, or as a passage, based on religion, and yet, using scientific concepts, as something natural. Before death the students feel, mostly, fear, sadness and outrage followed. Most students said he was prepared to watch the death claiming previous experience or characters personality, with those who were not considered because they think that preparation is impossible to be done. All respondents agreed that is important and necessary to include the discipline of Thanatology in the course to prepare them effectively for the death and make them more humane professionals.

KEYWORDS: Death, Academic; Nursing.

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LISTA DE SIGLAS

Cesba: Centro de Estudos Superiores de Balsas

CNS: Conselho Nacional de Saúde

Uema: Universidade Estadual do Maranhão

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................12

2. REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................14

2.1 A Tanatologia e a compreensão da morte através da História.......................14

2.2 A compreensão da morte na atualidade.........................................................18

2.3 O profissional de Enfermagem perante a morte dos pacientes......................22

2.4 A preparação do acadêmico para o processo morte morrer...........................25

3. METODOLOGIA..............................................................................................32

3.1 Tipo de pesquisa............................................................................................32

3.2 Cenário de estudo..........................................................................................32

3.3 População e Amostra.....................................................................................33

3.4 Técnicas e instrumentos de pesquisa.............................................................33

3.5 Análise dos dados..........................................................................................34

3.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa..............................................................34

4. RESULTADOS E ANÁLISES.........................................................................35

4.1 Categoria 1: Os diferentes conceitos de morte para os acadêmicos..............36

4.2 Categoria 2: Os acadêmicos e o que eles sentem perante a morte.................40

4.3 Categoria 3: A preparação dos acadêmicos para a morte..............................44

4.4 Categoria 4: O que os alunos sugerem para que o problema seja resolvido..49

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................55

APÊNDICES......................................................................................................58

ANEXOS.............................................................................................................60

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1. INTRODUÇÃO

A Morte é um fato incontestável. Certamente em algum momento será

necessário lidar com as conseqüências e dificuldades que esse processo acarreta, seja de

uma pessoa próxima, ou de um paciente sob nossa assistência (SILVA, 2009).

Os cursos da área da saúde apresentam, dentre muitos outros, um ponto que lhes

é bastante peculiar: todos têm seu foco no bem estar do ser humano. Seja

diagnosticando as enfermidades, adequando a alimentação, recuperando os movimentos

e a comunicação, ouvindo os problemas e buscando soluções ou cuidando da pessoa

clinicamente doente, a vida é prioridade para nós e queremos sempre que ela transcorra

sem intercorrências graves. A Enfermagem por se pautar na filosofia do cuidar da

pessoa é, em meio às outras, a que mais aproxima do indivíduo e as situações de Morte

estão intimamente ligadas, diria até inerentes, a todas as profissões de saúde,

principalmente à de Enfermagem.

Oliveira e Amorim (2008), diz que nesta profissão uma das características é a

de que o profissional permanece mais tempo em contato com o paciente, podendo

acompanhar todo o processo da Morte e morrer.

Porém um ponto notável é o de que mesmo sendo praticamente pertinente a essa

profissão o processo de Morte, quase não é discutido na graduação dos futuros

enfermeiros, sendo debatido apenas em raros momentos, onde o conhecimento

repassado não é tão abrangente a ponto de preparar os acadêmicos para as experiências

que a profissão traz, e verificou-se na grade curricular do Centro de Estudos Superiores

de Balsas a inexistência de disciplinas ou atividades voltadas para este âmbito, fato este

que causou no autor do trabalho uma preocupação quanto a ter que vivenciar essa

experiência na carreira e estar preparado para enfrentá-las de maneira saudável.

Este trabalho objetiva conhecer a visão que acadêmicos de Enfermagem do

Cesba têm da Morte, através da análise das opiniões que eles deram acerca desse

evento. Conhecendo se os mesmos consideram-se preparados para lidar com a Morte

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dos pacientes, o que sentem perante este processo e se concordam com a adoção de

medidas que visem solucionar esse problema.

Analisando o problema dado formulou-se uma hipotética resolução aplicável ao

mesmo, prática e que resolveria a possível inexperiência dos acadêmicos acerca do tema

e que consiste no seguinte: a inclusão de uma disciplina específica durante a graduação,

bem como de grupos de discussão e troca de experiências vividas sobre o tema.

Proposição que foi avaliada como uma solução prática e eficiente para preparar os

acadêmicos para a Morte e seus processos.

O trabalho se justifica pelo fato de que o profissional enfermeiro irá deparar-se

com uma diversidade de pessoas e situações durante sua carreira, e o processo de morrer

sendo natural a todos os seres vivos, precisa ser compreendido de forma correta pelos

mesmos que de certa forma no exercício de sua profissão objetivarão em evitá-la, ou em

outros casos, promovê-la da forma mais digna e aceitável possível. E a faculdade

deveria prover meios do acadêmico preparar-se em todos os âmbitos para essa

experiência, visto que o autor do trabalho concorda com essa afirmação e sentiu falta, ao

término da graduação, desse preparo voltado para a assistência aos pacientes na hora da

Morte, assim como para poder se preparar da melhor forma para vivenciar este

momento no exercício da profissão. Além disso, foi verificado que o tema não é muito

discutido no meio científico, e que também não existem muitos trabalhos publicados

acerca da temática. A confecção desta monografia contribuiria de forma imensa para

mudar esta situação e trazer a pauta da Morte para as discussões na profissão de

Enfermagem

Em Lana e Passos (2008), pois se não for feito o acadêmico irá lembrar-se

brutalmente da própria finitude quando encarar estas situações.

Portanto uma análise desse nível de preparo dos estudantes, vem a ser

imprescindível para qualificá-lo e detectar erros de compreensão, a fim de evitar

equívocos futuros, e também para sugerir ideias e soluções que melhorem ou corrijam o

modo como este ensinamento deva ser repassado aos acadêmicos assim como para

mudar o seu imaginário sobre este ponto.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A Tanatologia e a compreensão da Morte através da História

A Morte é compreendida por todos como o fim natural da vida, e que após ela

deixamos de existir assim como nossos pensamentos, sonhos e sentimentos. O processo

de morrer também é a única certeza absoluta aceita por todos os humanos, não sendo

negada em nenhuma civilização ou ideologia da Terra (AGRA e ALBUQUERQUE,

2008).

Para Lana e Passos (2008): A Morte é considerada como parte constituída da

existência humana. É sem dúvida, um dos poucos fatos que se tem certeza de seu

acontecimento.

A Tanatologia é a ciência dedicada ao estudo da Morte e de seus processos. O

termo Tanatologia vem do grego e significa thanatos, o deus da Morte; e logos, estudo

(AGRA e ALBURQUERQUE, 2008).

Nós, humanos, como todos os seres vivos marcados pela passagem da vida e que

buscam soluções possíveis para nossos problemas, erroneamente, lutamos contra a idéia

de nosso fim, e temos buscado, ao máximo, um alívio possível para o paradoxo

existencial que se apresenta frente à dicotomia viver e morrer. Esta situação tem sido

notável na cultura ocidental e aumenta de certa forma, essa angústia, tornando mais

difícil a lida com a situação (BELLATO e CARVALHO, 2005).

Para Santos e Bueno (2010), assistimos com freqüência, a vinculação da Morte

com o sobrenatural, o terror, o castigo, a dor, entre tantos outros significados

considerados negativos pelas nações ocidentais.

Compreende-se então que o estudo dessa ciência faz-se importantíssimo, no

sentido de compreender o que é a Morte, deixando para trás pré-conceitos e derrubando

mitos que rondam essa etapa natural da vivência, além do que proporciona uma

oportunidade de reflexão sobre a vida e a nossa finitude.

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E nos dias atuais, verifica-se que a Morte não representa um consenso no

imaginário do ser humano, tomando em cada mente uma concepção muito distinta que

vai de simplesmente o fim, até fenômenos mais complexos e únicos (CANTÍDIO et al.,

2011; AGRA e ALBUQUERQUE, 2008).

O conceito tradicional de Morte biológica definida como o instante que o

coração para de pulsar está ultrapassado. Hoje, ela é vista como um processo, como um

fenômeno progressivo e não mais como um momento, ou evento (JÚNIOR e ELTINK,

2011).

Conforme Moreira e Lisboa (2006), há vários significados para a Morte: o fim

da vida animal ou vegetal; termo; fim; destruição; ruína; e tipos de morrer: Morte

agônica; Morte civil; Morte moral.

Toda essa conjuntura, que ultrapassa as gerações e nunca se define, pois apenas

temos a certeza de que existe e que nos acontecerá, acabou por criar uma situação

interessante: como poderemos entender e\ou explicar algo que não conhecemos que

nunca tivemos uma real experiência? E quem já teve, não pode compartilhá-la? Para

isso as pessoas buscam saídas nas mais diversas possibilidades, como reforça Cantídio

et al., (2011):

“A Morte é um tema visto sob diferentes dimensões, sem permitir afirmar verdades absolutas, pois, quando abordada, desperta curiosidade, provoca desconforto e vem sempre acompanhada de mui-tas perguntas para as quais se encontra a incontestável resposta de que o morrer é inevitável, intrínseco à vida e representa a certeza de que a todo nascimento associa-se um momento de fim. Trata-se de um tema circundado pela incerteza e pelo medo daquilo que não se pode prever ou conhecer, no conceito dos que enfrentaram a Morte como limite da vida. Todos os atributos da Morte desafiam as mais distintas culturas, as quais buscam respostas nos mitos, na filosofia, na arte e nas religiões e na ciência para compreender o desconhecido e remediar a dor gerada pelo evento.”

Uma das características do ser humano é a atribuição de significados e valores

que ele imprime às coisas além da incessante busca por respostas e explicações para as

questões que rodeiam nossa experiência de vida. Isso fez com que conceito de Morte

fosse mudando e em cada era histórica fosse visto pelas pessoas de uma forma

diferenciada o que incluía influências vindas de sua cultura, credo e estilo de vida

(AGRA e ALBURQUERQUE, 2008; COMBINATO e QUEIROZ, 2006).

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O homem, através da História, com destaque para os filósofos antigos, sempre

buscou desvendar os mistérios que envolvem o antes e o depois da sua existência

(MOREIRA e LISBOA, 2006).

Carvalho et al., (2006), defende que ao longo da história da humanidade, a

compreensão do processo de Morte e de morrer sofreu mutações atendendo às

necessidades das sociedades em todo o mundo.

Segundo Shimizu, (2007), ao se analisar historicamente as representações da

Morte percebe-se que houve uma importante alteração na trajetória da Morte, que, de

familiar e conhecida, passou a ser completamente negada e relegada.

Por isso, o significado da Morte varia necessariamente no decorrer da história e

entre as diferentes culturas humanas. A importância e o sentido dados à Morte sofria

influência das mudanças que ocorriam em cada civilização, o que fez que em cada uma

dessas sociedades o morrer tomasse um caráter distinto (AGRA e ALBUQUERQUE,

2008).

Segundo Agra e Albuquerque (2008):

“Para os antigos gregos, a incineração determinava dois tipos de mortos: o cadáver do homem comum e o cadáver dos grandes heróis. Ao anônimo cabia o crematório coletivo e o depósito de suas cinzas em vala comum. Os corpos falecidos dos heróis eram cremados na cerimônia da bela Morte, onde os seus feitos no campo de batalha eram enaltecidos. A própria Morte seria a prova de sua virtude, tornando-o um indivíduo cuja vida é digna de ser lembrada.”

Na Mesopotâmia antiga o sepultamento de um falecido era carregado de hábitos

e significados, onde o corpo da pessoa era enterrado com todas as marcas de sua vida

pessoal o que incluía vestimentas, pertences, insígnias e comidas preferidas. Para os

hindus a cremação tinha o objetivo de apagar todos os traços existenciais do morto, pois

o cadáver era totalmente queimado e as cinzas lançadas à água ou ao vento. Como se o

fato de ter vivido fosse um erro e a Morte, uma penitência por tal transgressão (AGRA e

ALBUQUERQUE, 2008; GIACCOIA JÚNIOR, 2005).

No Egito Antigo havia a crença na vida após a Morte, e isso levou ao tão

conhecido costume de mumificar os corpos e guardá-los em tumbas suntuosas, cercados

por seus pertences, a fim de que pudesse usufruir da segunda vida com toda a regalia

que tivesse antes de morrer (MOREIRA e LISBOA, 2006).

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Hábito também observado nas civilizações pré-colombianas1. A Morte nessa

época era um evento muito respeitado e as cerimônias fúnebres, envolviam muito

trabalho e tempo.

Remotamente na História, cita-se o papel marcante que a Igreja sempre

representou na hora da Morte em Carvalho et al., (2006), os ritos mortuários eram, até

o século XIII, simplesmente aceitos de modo cerimonial, sem dramaticidade ou gestos

de emoção excessivos. Com a intervenção da Igreja, passam a ser clericalizados e

começam a esboçar um sentido dramático que persiste na atualidade.

Essa visão clericarizada do processo Morte-morrer é afirmado por Bellato e

Carvalho (2004), quando diz que o padre passou a ocupar a cena principal, e não mais

o morto. Após o último suspiro, o morto não pertence mais nem aos seus pares ou

companheiros, nem à família, mas à Igreja.

Nessa época a Morte “ideal” era aquela na qual a pessoa preparava-se para o seu

momento final, resolvendo pendências antigas, saldando dívidas, despedindo-se de

familiares e amigos e exigindo a presença de um sacerdote que lhe proferia a extrema

unção elevando, desta forma sua alma a Deus, o que Pinho (2008), corrobora: a Morte

“súbita feia e desonrosa” era temida. Quem assim morria, havia recebido um castigo

divino que privava o homem de preparar-se para a finitude.

O ato de morrer tornou-se algo mais familiar nessa época como relata Takahashi

et al., (2008), era, portanto, um acontecimento público; os corpos eram enterrados nos

pátios das igrejas, que também serviam de palco para as festas; nesse contexto, mortos

e vivos podiam coexistir no mesmo espaço.

Na segunda fase da Idade Média as poucas mudanças que ocorreram,

consistiram apenas na preocupação humana com eventos pós-Morte, sendo eles o Juízo

Final, a vida eterna no céu, ou o castigo por seus pecados no inferno (PINHO, 2008).

As pessoas que acompanhavam quem morria, tinham um maior contato com o

processo Morte-morrer, pois a vivenciavam continuamente e toda a comunidade

participava desse acontecimento e por estar ocorrendo com alguém tão próximo, era

possível que fizessem uma identificação com o outro. O conhecimento da Morte era

1 Povos que habitaram o continente americano, antes da chegada dos colonizadores. Os principais são os, astecas, maias e os incas.

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uma rotina e nenhuma criança crescia sem ter tido a experiência de ver, pelo menos,

uma cena de Morte (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008).

Em meados do século XVIII a Morte passa a ter uma conotação mais dramática

“Em que predomina o culto ao cemitério e o luto exagerado, no qual o protagonista passa a ser a família e não mais o morto. Tal situação perdurou pelo século XIX, sendo que os parentes omitiam ao doente a gravidade do seu estado na tentativa de poupá-lo, transformando a Morte em tabu, rigorosamente afastada, principalmente das crianças. (Takahashi et al., 2008)

Percebe-se então que nessa época as pessoas se ocupavam menos de sua Morte e

preocupavam-se mais com a do outro, pois esse é o que deixará saudades e lembranças,

atitude esta que é percebida até dias atuais, contudo, no século XIX não existia a

negação da Morte, pois continuava ocorrendo em no âmbito domiciliar (OLIVEIRA,

QUINTANAL e BERTOLINO et al., 2010).

2.2 A compreensão da Morte na atualidade

Atualmente, a Morte é tratada como tabu e com o passar das eras foi sendo

deslocada da casa para o hospital. Deixando assim de constituir um fenômeno natural,

para transformar-se num evento frio, escondido e profundamente indesejado. Algo que

era tão presente, conhecido e familiar no passado, se apaga e desaparece, tornando-se

vergonhosa e com isso incogitada; vira um inconveniente e, portanto, a sua

demonstração pública não é mais bem vista (BELLATO e CARVALHO, 2005).

Em Santos e Bueno, (2011), uma nova imagem da Morte vai se formando: a

Morte feia e escondida, e escondida porque é feia e suja.

Com a Revolução Industrial, o mundo passou a ser regido sob um novo modelo

econômico, no qual a figura humana era vista mais como mão-de-obra, importante e

imprescindível para manter e alavancar o desenvolvimento das nações (AGRA e

ALBUQUERQUE, 2008).

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E com tal crescimento, em seu início desordenado, o homem despreparado,

vindo principalmente do meio rural, tornou-se vulnerável às doenças, principalmente as

infecciosas e parasitárias, uma vez que as cidades não tinham infraestrutura que

comportasse essa migração repentina de pessoas, segundo Moreira e Lisboa (2006):

“As cidades não estavam preparadas para o grande fluxo de pessoas, não existia um planejamento sanitário, a água e os dejetos não tinham um tratamento adequado, com valas conduzindo materiais sem nenhuma estruturação prévia, contaminando os lençóis freáticos e proporcionando um aumento no número de roedores, mosquitos, etc., o que conseqüentemente, acarretou um aumento das doenças infecto-parasitárias.”

Foi nesse ínterim, que a Morte passou a ser institucionalizada, ou seja, havia um

local próprio onde os doentes ficariam, pois se temia que eles contaminassem os sadios

e atrapalhasse o impulso da economia que crescia vertiginosamente. De acordo com

Moreira e Lisboa, (2006), as famílias tinham necessidade de produzir e por isso não

dispunham de tempo para cuidar do moribundo.

A política de saúde da época era baseada em normas de higiene, sendo a Morte e

o moribundo inseridos nesse contexto. Desse modo os doentes foram transferidos para o

hospital, um lugar onde ficariam sob cuidados especiais para que se recuperassem logo

e pudessem voltar a contribuir para o progresso industrial (MOREIRA e LISBOA,

2006).

Em uma sociedade que valoriza seus cidadãos pelo potencial de trabalho, pela

capacidade de produção destes, as doenças e a Morte aparecem como uma força

contrária e incômoda ao processo de acumulação e produção de riqueza (OLIVEIRA e

AMORIM, 2008).

A partir da segunda metade do século XX, passa a ocorrer uma mudança brusca,

na qual a Morte deixa de ser familiar e passa a ser um objeto interdito, o que Caputo

(2008), comprova afirmando que um fator material importante que impulsionou esta

transformação foi a transferência do local da Morte. Pois a Morte não ocorre mais no

domicílio, no meio dos familiares, mas solitário no hospital.

Assim, nas últimas décadas com o aprimoramento e o desenvolvimento das

tecnologias e da ciência médica, a Morte vem ocorrendo preferencialmente no ambiente

hospitalar, cercada de aparelhos, monitores e recursos humanos especializados, capazes

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de assegurar um processo de Morte assistida e em sua maioria, sem dor (SILVA, 2009;

SHIMIZU, 2007).

Ideia que é reforçada por Takahashi et al., (2008), quando fala que:

“A medicina, subsidiada pelos avanços tecnológicos, proporcionou uma mudança na representação social da Morte. Hoje em dia dificilmente se morre em casa, rodeado por familiares e amigos, com serenidade para despedir-se da vida e, sim, às escondidas, trancafiado em um ambiente hospitalar, considerado neutro, e na maioria dos casos sozinho ou acompanhado de pessoas estranhas. “

Este quadro instalado fez com que as pessoas se distanciassem do processo

mortífero ficando cada vez mais ausentes e arredios quanto a ela. Caputo (2008),

defende:

“que os psicanalistas existenciais apontam que se no início do século XX o grande tabu se dava em relação ao sexo, no final do referido século o grande tabu é ligado à Morte. Na atualidade é comum as crianças receberem informações sobre sexualidade, porém quando se trata da Morte esta é mascarada relacionando-a com uma ‘viagem’, ‘descanso’.”

O medo é atualmente o sentimento mais presente nas pessoas, em relação à

Morte. Seja condicionada pelo fator oculto que ela representa ou pela questão

sobrenatural. O homem atual tende a temer aquilo que não conhece e não tem como

experenciar, como é o caso da Morte. Com base em Júnior e Eltink, (2011), o homem

sabe que vai morrer embora não se pode experimentá-la diretamente, por isso sente

medo do que possa vir, medo do desconhecido e mais, evita o assunto como se negasse

a sua existência.

Atualmente, vive-se nas sociedades ocidentais uma crise contemporânea da

Morte. Movidos pelo progresso tecnológico vertiginoso, onde se encontra solução para

tudo e o que ontem era novo, amanhã já é ultrapassado, o homem frustra-se por não

conseguir solucionar a Morte e o tão sonhado “Elixir da Juventude” nunca ser

alcançado. Diante de tamanha evolução técnico-científica, o homem sente-se

envergonhado diante de uma realidade que não consegue ultrapassar e a Morte é

considerada um tabu individual, estendendo-se até a coletividade (TAKAKASHI et al.,

2008).

As características do sistema econômico capitalista fizeram com que a Morte

fosse vista não como uma certeza, mas como um obstáculo, ou uma adversária na vida

da pessoa, e que podia ser vencida, individual ou coletivamente. A partir do momento

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que o corpo não possui valor como instrumento de trabalho, este não atende ao sistema,

sendo as questões que remetem ao fenômeno Morte relegadas a um segundo plano, não

sendo pensadas pela sociedade e muito menos valorizadas (MOREIRA e LISBOA,

2006).

A Morte ficou esquecida e muito menos conhecida em sua forma real. Percebe-

se isso mais no mundo ocidental. Segundo Bernieri e Hirdes (2007), o mundo ocidental

transformou a Morte em tabu, ela costuma ser ocultada das crianças e banida das

conversas cotidianas. Os sentimentos que a Morte faz aflorar são tão intensos, que seu

nome não deve nem ser pronunciado. Por si só ela causa medo, fuga e espanto.

Outra característica desse modo de agir do homem contemporâneo acerca do

processo de morrer, se mostra pela eufemização ou indiferença a esse processo, de

acordo com Bellato e Carvalho (2006):

“A presença da Morte é dissimulada pela equipe de saúde que rapidamente prepara o corpo e legaliza o novo status do morto por meio do atestado de óbito. Até as palavras denunciam essa ocultação, ao invés de simplesmente dizer que alguém morreu,usam a expressão, impessoal e menos angustiante, “foi a óbito.”

A negação da Morte é perceptível em todos os setores da sociedade, até mesmo

entre os profissionais de saúde, que evitam falar sobre ela, seja por questões pessoais ou

hábito de vida. Em sua linguagem do dia a dia, referem-se à mesma como “óbito”,

dando a impressão de ser uma palavra mais sutil e menos agressiva, mas que não muda

em nada os sentimentos da equipe, muito menos das pessoas que ouvem esse termo

(JÚNIOR e ELTINK, 2011; BERNIERI e HIRDES, 2007).

As pessoas de hoje não aceitam a Morte como algo natural, e inevitável e

tentam enganá-la ou mesmo adiá-la, concentrando esforços para manterem-se

eternamente jovens, recorrendo ao que a medicina oferece, não se importando com

custos ou sacrifícios aderentes. Pois o que importa é evitar o envelhecimento,

permanecerem jovens, querem encontrar a fórmula da juventude e vida eterna

independentemente de tudo (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Atualmente o critério de Morte comumente utilizado pela medicina é a avaliação

da função cerebral, ou seja, se houve parada das funções vitais a pessoa pode até ser

mantida “viva” por meio de aparelhos, pois com os avanços da ciência e da tecnologia,

tornou-se possível manter as funções cardíacas e respiratórias através de aparelhos,

Page 22: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

enquanto nada se pode fazer para manter funções cerebrais responsivas (BERNIERI e

HIRDES, 2007).

Toda essa composição que se deu para a Morte é nada mais que uma saída para a

árdua aceitação da mesma. Segundo Agra e Albuquerque, 2008:

“Mesmo sabendo que a Morte é a única certeza absoluta da existência humana, é angustiante e de difícil aceitação pelas pessoas, expressando-se pela dificuldade de lidar com o limite da vida. Ainda assim, sabendo que a Morte é um fenômeno natural recusamos como sendo pessoal e inevitável, sendo comum, as pessoas morrerem isoladas, encerradas nos hospitais, longe dos seus. Assim, adiamos o confronto em lidarmos com a nossa própria Morte.”

Característica esta, verificada principalmente na cultura ocidental, que ao longo

do tempo acabou por dar menos atenção e importância à Morte, talvez numa medida de

confrontá-la ou tentar superá-la. A essência da angústia humana é a extinção: o medo

da Morte, da destruição do eu e do próprio corpo. O homem é o único ser vivo que é

consciente de sua Morte e finitude, o que acarreta, então, a angústia de sua limitação,

de nada poder fazer contra ela (BRETAS, OLIVEIRA e YAMAGUTI, 2007).

Aliado a este pensamento vimos que o homem também utiliza-se de outro meio

para enfrentar a Morte, que se baseia na

“ausência da reflexão sobre a Morte, ou até mesmo o não falar sobre ela, representa o não pensar na perda dos que ficam e também na dor da solidão. No entanto, ao utilizar esse mecanismo de defesa, pode-se criar uma armadura protetora, que se manifesta pela insensibilidade e frieza prejudicando, assim, o desenvolvimento do profissional, impedindo-o de crescer humana e profissionalmente.( TAKAHASHI et al., 2008)

Porém com isso enfermeiro corre o risco de tornar-se apenas uma máquina de

cuidados, direcionados apenas ao paciente vivo, prejudicando a sua face humana, pois

uma hora ele sairá do ambiente de trabalho e inevitavelmente levará o seu novo jeito de

ser, para o convívio social, o que lhe trará problemas de enfrentamento, quando essa

situação suceder-se com um dos seus. (JÚNIOR e ELTINK, 2011; CANTÍDIO et al.,

2011)

De acordo com Júnior e Eltink (2011), e Bernieri e Hirdes (2007), uma solução

aparece

“a partir do momento em que nos descobrimos finitos, passa-se então a compreender o processo de finitude dos outros. Desse momento em diante a Morte pode deixar de ser vista como um fracasso e passar a ser vista como algo natural e destinado a todos sem distinção de classe, cor, nível social ou

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mesmo intelectual. A única coisa que pode-se saber é que um dia todos irão estar diante dela e se preparar para que se possa passar esse momento com tranquilidade, independente de estar acontecendo conosco, com pessoas próximas, ou com pessoas que necessitam de nossos cuidados.”

Tentamos não pensar nisso, pois de certa forma, esperamos que aconteça, pois

somos cientes que talvez nunca tenhamos como evitá-la e por isso ainda a tememos, por

sua implacabilidade e invencibilidade.

2.3 O profissional de Enfermagem perante a Morte dos pacientes

Assim, apesar da Morte fazer parte do cotidiano da Enfermagem, observa-se que

esses profissionais apresentavam dificuldades para prestar cuidados ao paciente e

interagir com seus familiares frente à possibilidade da Morte, sendo esta geradora de

reações e sentimentos causadores, muitas vezes, de sofrimento nesses trabalhadores.

Deste modo, esses profissionais, vivenciam o conflito de ter a responsabilidade pelo

cuidado ao paciente em processo de Morte e a vontade de curar e restabelecer a saúde

daquele a quem se cuida como algo impossível (MOTA et al. 2011).

Essa situação cria um paradoxo na mente do profissional de Enfermagem, pois

concomitantemente ele luta para oferecer aquilo que sua formação o instruiu que é

concentrar esforços para manter a vida do paciente a todo custo, com o fato de ter que

propiciar um fim aceitável e digno, no caso dos pacientes terminais (CUSTÓDIO, 2010;

BELLATO et al., 2007).

O morrer nunca é totalmente aceito por todos. O que ameniza, na maioria das

vezes, é saber que o doente já tinha idade avançada, ou um quadro já terminal, onde

apenas cuidados paliativos seriam eficazes, mas não para evitar o fim, somente em

proporcioná-lo de uma maneira tranquila, indolor e, acima de tudo, humanamente digna.

Todavia, quando este paciente é jovem, principalmente criança ou adolescente, essa

conformidade não suaviza o impacto, e o fator idade, torna-se um peso a mais, para

família e ainda mais para o profissional que o acompanhava (CANTÍDIO et al., 2011;

JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Page 24: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Como assente, Costa e Lima (2005), ao dizer que

“No hospital encontramos um grande número de pacientes, entre eles crianças e adolescentes, com prognóstico grave e doença em fase avançada, sendo a problemática da Morte uma constante. [...] A Morte da criança e do adolescente é interpretada como interrupção no seu ciclo biológico e isso provoca na equipe de Enfermagem sentimentos de impotência, frustração, tristeza, dor, sofrimento e angústia durante o processo de terminalidade.”

Em Mota et al., (2011), verificaram-se diversas reações e sentimentos dos

membros das equipes de Enfermagem dos setores do hospital no qual atuamos frente à

Morte. A maioria fica em silêncio, uns choram, outros se fazem indiferentes, mas todos

sempre se questionam atrás de uma justificativa que explique a finitude do homem, e o

porquê de termos, todos, um fim comum.

Outros sentimentos também são citados em Júnior e Eltink (2011), ao dizer que

assistir o paciente neste momento é difícil, pois suscita sensação de tristeza, frustração,

impotência e até mesmo culpa por falhas na assistência prestada, dando a sensação de

que tudo que foi feito não foi o bastante, que poderia ter sido feito sempre mais e

melhor.

O mesmo autor acrescenta que ao estar presente com o paciente nesse momento,

o enfermeiro tende a compartilhar das mesmas emoções do paciente e da família,

trazendo a experiência pra si e seus parentes e chegando a uma conclusão que para ele

não é de fácil aceitação: por mais que eu lute, a Morte é parte da integrante da vida.

Esta é uma fase que com certeza todos os estudantes e profissionais da saúde

passarão (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Os profissionais de Enfermagem experimentam de maneira potencializada esses

sentimentos conflitantes, embora faça parte do cotidiano de trabalho, muitos

profissionais encontram dificuldade em encarar a Morte como um processo natural,

considerando-a como fracasso profissional (SILVA, 2009).

Para Cantídio et al., (2011) e Carvalho et al., (2006):

Desde tempos remotos, os profissionais da saúde, durante sua formação, eram estimulados a demonstrar imparcialidade sentimental e atitude neutra na relação com os pacientes e seus familiares, com o objetivo de se resguardarem quanto aos seus temores e preservar sua autonomia na prática do cuidado. Atualmente, os profissionais distanciam-se dos sentimentos por meio da negação e assumem uma postura defensiva diante dos processos intersubjetivos, especialmente durante o evento pouco bem-quisto pela sociedade: o fenecer.

Page 25: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Os maiores problemas que enfrentam consistem, primeiro na falta de instrução

científica para o dado o momento; as condições de trabalho que, na maioria das vezes,

são precárias e falhas com enfermarias superlotadas e desorganizadas; jornadas de

trabalho que também são, por vezes, longas e cansativas. Todos estes fatores

contribuem para o estresse físico e mental do profissional, que se utiliza da indiferença

perante este momento, para se manter o mais saudável possível (SANTOS e BUENO,

2011).

A imparcialidade citada anteriormente tem sido a principal estratégia de

enfrentamento verificada na Enfermagem atualmente, o que se observa em Santos e

Bueno (2010), a Morte, tratada com indiferença, é conseqüência de um mecanismo de

defesa dos enfermeiros.

Assim, o cuidar do paciente grave pode se tornar impessoal, fato este às vezes

necessário para se manter a saúde mental, pois não estamos, culturalmente, preparados

para isto, e vemos na indiferença a melhor forma de nos precavermos dos impactos que

o processo da Morte causa. Conforme observa Silva e Ruiz (2003), negar e banalizar a

Morte é saída efêmera ao profissional de saúde, fazendo-lhe agir isento de

envolvimento emocional algum. Essa estratégia errônea confronta-o com as falhas de

suas defesas, perpetuando a sua angústia não expressa.

E como desenvolvemos um mecanismo de defesa e proteção contra o

sofrimento, o processo de morrer e Morte vai se tornando gradativamente trivial, isto é,

o distanciamento e endurecimento das relações frente à Morte e ao paciente terminal

vira algo, estranhamente, natural e considerado comum e rotineiro (MOREIRA e

LISBOA, 2006).

Estudos mostram que esse quadro de apresentado causa um problema de ordem

pública para o país, pois:

Essa dificuldade em se lidar com a Morte tem ocasionado uma gama de problemas que atinge diretamente o sistema de saúde público e privado do país, especialmente em virtude do adoecimento de seus profissionais. Adoecimento este, decorrente do desgaste emocional, que favorece o desenvolvimento da Síndrome de Burnout2, descrita como a reação final do indivíduo face às experiências estressantes acumuladas ao longo do tempo de

2 Reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho, essa doença faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer inútil.

Page 26: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

determinada atividade laboral, obtendo uma modificação do cuidar, produzindo na saúde, enfermeiros frios e indiferentes. (SANTOS E BUENO, 2011)

Se considerarmos que os profissionais de saúde e, entre eles, os enfermeiros,

têm sua formação acadêmica concentrada na preservação da vida, particularmente na

cura das doenças, tirando daí sua maior fonte de gratificação quando em seu cotidiano

de trabalho necessitam lidar com situações que envolvam o morrer e a Morte, é

compreensível que se sintam despreparados e tendam a se afastar delas (BELLATO et

al., 2007).

O sentimento de fracasso também se faz presente, por que a Morte lhes aparece

como algo que vem desmanchar tudo aquilo que se fez em prol do bem estar do

paciente. Muitas vezes estudantes e profissionais sentem-se impotentes diante da perda

do paciente que está sendo assistido ou reanimado. Esse fracasso não se traduz somente

como um fracasso nos cuidados prestados, mas como uma derrota diante da Morte e de

sua missão por ser um profissional da área da saúde, que é salvar o paciente, minimizar

sua dor e sofrimento, ou seja, trazer-lhe a vida. (JÚNIOR e ELTINK, 2011; SILVA e

RUIZ, 2003)

2.4 A preparação do acadêmico para o processo de Morte morrer

Nos últimos anos, vários estudos sobre as concepções, reflexões, sentimentos, e

o preparo de estudantes de Enfermagem frente a situações que envolvem a Morte e o

morrer têm sido publicados, havendo consenso entre os pesquisadores de que pouca

atenção vem sendo dada à temática na formação do enfermeiro, acarretando

dificuldades e inadequações no enfrentamento dessas situações em seu cotidiano de

trabalho (VARGAS, 2010).

As publicações científicas acerca desta temática denunciam esse problema e

Vargas (2010), associa essas dificuldades à carência de preparo oferecida aos mesmos

no decorrer de sua formação, como também em suas práticas curriculares e

considerando o pouco preparo desses sujeitos para atuar frente a tais situações.

Page 27: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Genericamente, todo profissional enfermeiro trabalha com o intuito de evitar a

Morte em seus pacientes. Desdobramo-nos em cuidados e técnicas específicas de

cuidado e assistência para manter a vida dos clientes, posta em risco pela presença de

doenças ou também pela realização de procedimentos terapêuticos, pois o profissional

da saúde que convive mais de perto e freqüentemente com a Morte é o enfermeiro, pois

nós é que passamos a maior parte do tempo com o indivíduo hospitalizado (OLIVEIRA

et al., 2006).

Para Oliveira e Amorim, (2008):

Vivemos em uma sociedade que nega a Morte e apesar dos enfermeiros serem formados para salvar vidas, não se pode anular a necessidade de saber lidar com a Morte. Neste caso, a Morte, apresenta-se como um fracasso ao profissional, visto que este é treinado para salvar vidas e não para perdê-la.

Aliando a isso uma certa regra existente no mundo dos profissionais de saúde

que enuncia que o bom profissional é aquele que não se envolve emocionalmente com

seu pacientes, cria uma situação arriscada para estes profissionais: como lidar com a

Morte de um paciente e ainda por cima ajudar a família do mesmo na aceitação do

falecimento de um ente querido mantendo-nos distantes e indiferentes, sendo que nós

também somos mortais e os homens costumam refletir seu próprio fim nos outros?

(AGUIAR et al., 2006)

Carvalho et al., (2006), diz que:

“O profissional de saúde é finito como todo e qualquer outro ser humano, e também passa por profundos dilemas existenciais quanto ao enfrentamento e vivência da Morte em seu cotidiano de trabalho. Na maioria das vezes, esse profissional, ainda como acadêmico, não foi estimulado ou preparado à refletir sobre a Morte e o morrer, podendo ser pego de surpresa pelo pesar, e mais, não oferecer uma assistência de qualidade, não conseguindo assistir a pessoa que está morrendo e/ou sua família, em razão da Morte se configurar como momento de grande sofrimento e fracasso da ação principal em manter a vida.”

Segundo Lana e Passos (2008), aliviar o sofrimento ou ajudar uma pessoa a

morrer é um dos ofícios mais difíceis para o profissional.

Percebe-se então a suma importância que tem a preparação do acadêmico para a

Morte do paciente. Pois o cuidado humanizado e as relações humanas que necessitamos

implementar e desenvolver com nossos pacientes não é algo que pode ser improvisado,

ou feito de qualquer maneira. Por que é nessa hora que nos deparamos com o problema

lançado anteriormente: como ser humana e emocionalmente participativo na última fase

Page 28: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

da vida de um paciente sem criar nenhum tipo de relação sentimental com o mesmo?

(LANA e PASSOS, 2008)

As escolas de Enfermagem têm por dever preparar os profissionais para o

processo de Morte morrer, para que, além de serem tecnicamente competentes em

realizar as técnicas necessárias, sejam capazes de lidar com seus próprios sentimentos,

perante o falecimento dos pacientes, e usá-los de modo deliberado e humanamente

sofisticados (BERNIERI e HIRDES, 2007).

Para Bretas et al., (2006):

A Morte incomoda e desafia a onipotência humana e profissional, pois os profissionais de saúde são ensinados a cuidar da vida e não da Morte. Prova deste fato é que na maior parte dos cursos de formação de profissionais, não existe uma disciplina curricular que trate do assunto de forma não defensiva e biologicista.

Por não ser um tema fácil, visto que muitas vezes, causa sensações de frustração,

tristeza, perda, impotência, estresse e culpa, é notório que a universidade , na posição de

instituição formadora, tem a obrigação de se preocupar e ter profissionais com

sensibilidade para que possam expressar seus sentimentos e aprofundar esta temática no

processo de ensino e aprendizagem.Nota-se que durante, é difícil o estudante ter

oportunidade para vivenciar um evento tão complexo (OLIVEIRA e AMORIM, 2008).

O profissional de Enfermagem é educado para a vida e constata-se que o ensino

acadêmico preza e prioriza apenas o viver, esquecendo desse tema tão inerente à

condição humana, e que os enfermeiros sofrem sozinhos diante da batalha entre vida e

Morte, vendo-se muitas vezes impotentes, por não terem tido preparo suficiente para

intervir nessa hora (PINHO, 2008).

Tomamos como exemplo os pacientes portadores de câncer, uma doença que por

si só já é debilitante e traz muito sofrimento à pessoa deixando-a muito dependente dos

outros. Aqui se discute se um profissional recém-formado vem preparado para estar

junto desse paciente prestando-lhe o cuidado pertinente e resguardando-se do impacto e

das conseqüências psicológicas da possível Morte do mesmo (PINHO, 2008).

Pautados nesse ponto Oliveira e Amorim (2008), questionam-se: como está

sendo a preparação emocional desses discentes, ao enfrentarem esse processo. Será

que os estudantes aprenderão a trabalhar seus sentimentos de insegurança,

incapacidade, constrangimento, culpa, angústia, sofrimento e dor?

Page 29: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

De acordo com Moreira e Lisboa (2006), o ensino de Enfermagem é baseado,

principalmente, na aprendizagem das técnicas de cuidado, no saber fazer. Técnicas de

prevenção, promoção, cura e reabilitação que possuem protocolos fixos, que orientam

passo a passo. Todos os procedimentos são ensinados e o aluno sai preparado para a

ação e geralmente a parte reflexiva da profissão fica a desejar.

Ideia que é reforçada por Júnior e Eltink (2011), ao dizer que no curso de

Enfermagem também são mais enfatizados os aspectos técnicos e práticos da função de

enfermeiro. Há pouca ênfase em questões ligadas à emoção e na preparação para lidar

com o assunto Morte.

Os estudantes de Enfermagem são treinados para desenvolver uma relação com

o paciente segundo os modelos descritos nos livros de Enfermagem que põem o hábito

de cuidar com algo essencial e puramente bom e que só trará benefícios para o paciente

e o profissional, pois:

“o cuidar ajuda a evitar doenças, a promover a saúde, curar ou ajudar os vulneráveis, educar a população e elevar as relações humanas a experiências gratificantes de prazer, segurança, confiança, crescimento e atividade produtiva. Amor, ódio, medo, felicidade, raiva, prazer, ou qualquer outra emoção humana podem receber os efeitos produtores de crescimento, geradores de energia, motivadores e, consistentemente, positivos do cuidar. Todos os demais sentimentos humanos possuem efeitos potencialmente negativos, bem como positivos, mas o cuidar, por sua natureza e definição, é somente e sempre positivo. (OLIVEIRA, BRETAS e YAMAGUTI, 2007)

Assim como em Cantídio et al., (2011), que registrou que ainda na graduação,

os estudantes são preparados para salvar vidas, aprendem que a Morte deve se afastar

de todas suas vivências e que o finamento não representa o enfoque da vida acadêmica.

E reforçou essa premissa, ao afirmar que...

“apesar de lidar com pessoas, os estudantes vivem como se manipulassem objetos ou coisas, separam completamente o corpo biológico do indivíduo e sacrificam suas emoções ao não se permitirem o envolvimento com os pacientes assistidos e seus familiares, deixando a sensação de trabalho frustrante e incompleto, frente aos experimentos inúteis de evitar o término da vida.(CANTÍDIO, et al., 2011)”

Os aspectos psicossociais da Morte não estão incluídos na matriz curricular dos

cursos de Enfermagem e, quando abordados, ocorrem de maneira superficial e

assistemática. Além disso, as disciplinas, como Enfermagem Médico-Cirúrgica,

Fundamentos de Enfermagem e Psicologia tratam da temática de forma incipiente,

Page 30: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

prevalecendo à abordagem tecnicista em detrimento da humanização do cuidado em

todas suas dimensões (CANTÍDIO, et al., 2011).

Estudos já comprovaram que realmente há uma deficiência na grade curricular

das instituições superiores, quando o assunto é ligado à temática do fim da vida. Na área

da Enfermagem, pouca atenção é dada à questão pelas instituições formadoras que pode

ser constatada quando se considera o resultado de pesquisa realizada com estudantes de

escolas de Enfermagem brasileiras que constatou que mais de 40% da população do

estudo revelaram não ter aulas sobre o tema Morte e morrer em suas escolas, e os que

informaram a existência de tais conteúdos, relataram que o assunto é abordado, como

um subtema de uma disciplina ou matéria principal e varia entre 30 minutos e 10 horas

(VARGAS, 2010; CARVALHO et al., 2006).

Cantídio et al., (2011), revela em seu trabalho que alguns acadêmicos apenas

recordam que o tema foi discutido em algumas disciplinas, porém de forma insuficiente

para tal abordagem, declarando terem sido simplistas as discussões e os conteúdos

curriculares sobre a Morte, durante a formação.

Em consequência disso, o preparo do estudante ainda enfatiza o lidar com a vida

no que tange aos aspectos técnicos e práticos da função profissional, com pouca ênfase

em questões emocionais e na instrumentalização para o duelo constante entre vida e

Morte e mesmo diante do enfrentamento de situações de Morte durante as práticas

curriculares, não tem sido oportunizado ao aluno sequer a discussão dessas situações.

(VARGAS, 2010; BELLATO et al., 2007; BERNIERI e HIRDES, 2007)

Com essa falha o acadêmico, digamos que seja preparado apenas para o lado

bom do exercício da profissão, para as situações em que tudo vai dar certo, e o paciente

se recuperará perfeitamente e voltará para casa, sadio, e é esquecida a outra

possibilidade em que todos os esforços, literalmente serão em vão, pois o cliente

faleceu. Então, essa falta de reflexão leva à frustração do estudante e reforça o

sentimento de fracasso frente à ação principal em manter a vida (VARGAS, 2010;

BRÊTAS et al., 2007).

No cotidiano da vida acadêmica, emergem sentimentos de frustração e culpa que

fazem com que o estudante sinta-se despreparado e afaste-se do enfermo com Morte

iminente, quando se depara com essa situação no cumprimento das práticas curriculares.

Page 31: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Os sentimentos de frustração e culpa caracterizam-se pela impotência, tristeza, medo e

indiferença, sendo o distanciamento desse tipo de paciente uma estratégia utilizada

pelos estudantes para amenizar a situação (VARGAS, 2010).

Cantídio et al., (2011), defende que...

“Para os futuros profissionais atuarem durante a finitude, desenvolvendo suas ações com competência, eficácia e sensibilidade, necessita-se de preparo no decorrer do processo de formação. Para isso, as instituições de ensino devem ter o compromisso com essa formação, ensinando a cuidar e lidar com pacientes terminais e seus familiares, não só enfocando o conhecimento teóri-co-prático visível, mas também o subjetivo vivido, fornecendo informações importantes para melhor se enfrentar o encontro e a vivência da Morte, a fim de proporcionar cuidado de qualidade aos envolvidos. Não bastam novas disciplinas ou incorporações de conteúdos sobre o tema da Morte para ensiná-la na formação. É necessário, sobretudo, reflexões sobre o sentido da vida e do cuidar, para que se abra espaço à construção do processo ensino/aprendizado.

Autores como Cantídio et al., (2011); Silva (2009), e Costa e Lima (2006),

apontam para a necessidade da formação de grupos de estudos e discussões como

estratégia para minimizar a ansiedade da equipe em relação ao confronto com a Morte e

suas dificuldades.

O acadêmico, muitas vezes, não é estimulado a refletir sobre o extinguir da

vida, podendo ser tomado de forma abrupta pelo pesar, e mais, não conseguir prestar

assistência de qualidade e com a abordagem da integralidade (CANTÍDIO et al.,

2011).

No hospital, na hora do exercício profissional são à hora e lugar que exigirão do

estudante uma postura livre de tabus, conceitos ou religião, e participativa numa relação

de ajuda e cuidado, pois se não há um preparo emocional e psicológico para os

profissionais lidarem com esse assunto, dificilmente eles terão uma postura adequada

diante da Morte. (AGUIAR et al., 2006)

É importante a reformulação dos currículos dos cursos de Enfermagem para que

sejam inseridos momentos de vivência e reflexão acerca da perda e do luto, para que os

profissionais não se sintam despreparados e desamparados ao lidarem com a realidade

hospitalar (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

O estágio supervisionado é um momento ideal, onde essas discussões podem ser

abordadas, pois é nesse momento que acadêmico tem os primeiros contatos com os

casos reais e a possibilidade de se deparar com a Morte, é maior. Bernieri e Hirdes

Page 32: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

(2007), destacam a importância dessa discussão sobre a Morte, também no campo de

estágio:

“como forma de confrontar a teoria com a prática onde os alunos presenciariam e/ou vivenciariam as experiências trocadas nos debates, e daí tirariam suas conclusões, onde cada um formularia sua opinião, estando mais preparado para o enfrentamento da situação fora da faculdade, seja no exercício da profissão, seja na vida pessoal.”

Pinho (2008), relata que a inclusão de uma “educação para a Morte” em cursos

de Enfermagem mostrou resultados relevantes e sugeriu que essa educação permeie

todo o curso em seus períodos teóricos e práticos, além do que, projetos dessa natureza

fossem incluídos no currículo de enfermeiros assistenciais.

Recomenda-se que sejam incentivados estudos sobre essa temática nas

instituições de ensino superior, como estratégia para que a prática do assistir no

processo de morrer seja humanizada e a fim de que se desvele o fenômeno da Morte em

todo o ciclo de vida. Pois caso contrário, corre-se o risco de perpetuar a inadequação do

enfermeiro frente ao indivíduo com Morte iminente, negando não só a Morte, mas,

desrespeitando a dignidade da pessoa que está morrendo e descumprindo o juramento de

respeitar a vida desde a concepção até a Morte (VARGAS, 2010).

3. METODOLOGIA

Page 33: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

3.1 Tipo de pesquisa

Este trabalho trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem

qualitativa. A pesquisa descritiva tem como foco a descrição das características de

certas populações ou fenômenos, como também o estabelecimento de interações entre as

variáveis. Já no caráter exploratório, a pesquisa tem como finalidade, desenvolver,

esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas

mais preciosos ou hipóteses pesquisáveis para novos estudos (GIL, 1999).

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo

das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis e justifica-se por ser um meio adequado para atender a

natureza de um fenômeno social (OLIVEIRA e AMORIM 2008).

3.2 Cenário do estudo

A coleta de dados realizou-se na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,

no primeiro semestre de 2012, no mês de julho.

Segundo o Estatuto da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, criada

pela Lei nº 4.400, de 30 de dezembro de 1981, com sede e foro na cidade de São Luís,

Estado do Maranhão, reorganizada conforme Leis nº 5.921, de 15 de março de 1994 e

5.931, de 22 de abril de 1994, alterada pela Lei nº 6.663, de 04 de junho de 1996, é uma

Autarquia de regime especial, pessoa jurídica de direito público, inscrita no Ministério

da Fazenda sob o CGC nº 06.352.421/0001-68 (UEMA, 2012).

Doravante denominada UEMA, rege-se pela Legislação de Ensino Superior, que

lhe for aplicável, por este Estatuto, pelo Regimento Interno e demais Resoluções dos

Órgãos Colegiados da Universidade. A UEMA goza de autonomia didático-científica,

Page 34: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

administrativa, disciplinar e de gestão financeira e patrimonial, dentro dos limites que

lhe são fixados pela legislação em vigor (UEMA, 2012).

A autonomia didático-científica consiste no exercício de competência privativa

para estabelecer a sua política e os seus programas de ensino, pesquisa e extensão, criar,

modificar, fundir ou extinguir cursos e currículos plenos, conferir graus, expedir

diplomas e certificados, assim como outorgar bolsas, prêmios, títulos e outras

dignidades universitárias (UEMA, 2012).

3.3 População e Amostra

O público pesquisado compreendeu, ao todo, dez acadêmicos do Centro de

Estudos Superiores de Balsas, matriculados no primeiro semestre de 2012, uma amostra

escolhida aleatoriamente de acordo com a saturação de dados.

O Centro de Estudos Superiores de Balsas conta no primeiro semestre de 2012,

com 348 alunos matriculados nos cursos de graduação. Dentre estes, 98 estão

devidamente matriculados no curso de Bacharelado em Enfermagem (UEMA, 2012).

O critério de exclusão foi: não estar devidamente matriculado na disciplina, no

primeiro semestre de 2012.

Não houve benefícios imediatos, muito menos riscos para os participantes, que

foram informados que poderiam desistir do trabalho a qualquer momento. Entre

benefícios, pode-se citar a contribuição do trabalho em explorar este tem que se

percebeu não ser muito discutido na literatura.

3.4 Técnicas e instrumentos de pesquisa

Para a coleta de dados, foi necessária a aplicação de uma entrevista semi-

estruturada (Apêndice A) contendo quatro questões abertas e cinco questões que

caracterizaram os sujeitos. Após a análise dos dados, verificou-se a necessidade de

subcategorizar os resultados, para melhor dispor e estudar os resultados e com isso as

quatro questões abertas, acabaram sendo desmembradas em mais cinco subcategorias.

Page 35: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Os depoimentos foram gravados com o aplicativo “gravador de voz” de um

aparelho celular, por efeito de praticidade, a fim de garantir a integridade das falas dos

acadêmicos de Enfermagem. Posteriormente, as respostas obtidas foram transcritas na

íntegra. A coleta de dados priorizou as falas dos entrevistados.

3.5 Análise dos dados

A coleta de dados da pesquisa de campo realizou-se por sistema de amostragem

e por meio de auto-relato, através da gravação dos depoimentos dos entrevistados.

A análise dos resultados obtidos foi codificada, selecionada e categorizada

qualitativamente com base nos depoimentos colhidos. De acordo com Santos e Bueno

( 2011):

“a palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série. As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa”

3.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa

Para a efetivação desse estudo, inicialmente foi elaborado um projeto intitulado

por: A Morte sob a ótica do estudante de Enfermagem do CESBA/UEMA, o qual foi

julgado por uma banca examinadora, formada por professores da Universidade Estadual

do Maranhão – UEMA, que validou a execução desta pesquisa.

Cada participante foi esclarecido sobre os objetivos da pesquisa, forma de

coleta dos dados e de apresentação no relatório, garantindo o anonimato das

informações e a liberdade para integrar o grupo de participantes bem como de deixar o

estudo em qualquer momento; sua concordância foi formalizada pela assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). Foram seguidas as normas

regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, contidas na Resolução

196/96 do CNS (Conselho Nacional de Saúde).

Page 36: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

4. RESULTADOS E ANÁLISES

Os sujeitos do estudo constituíram-se de 10 acadêmicos do Centro de Estudos

Superiores de Balsas, matriculados no curso de Bacharelado em Enfermagem no

primeiro semestre de 2012. Estes tiveram seus nomes substituídos por países do

continente europeu -Alemanha, Espanha, Grécia, Inglaterra, Noruega, Polônia,

Portugal, Rússia, Suécia e Suíça - por preferência do pesquisador.

Para Silva (2009), a expansão do conteúdo tanático em âmbito acadêmico e

profissional é de extrema relevância como meio de subsidiar e preparar o profissional

para assistência ao paciente em processo de morrer e permitir o autoconhecimento

para facilitar a aceitação da finitude da vida.

Sabendo de tal importância, os acadêmicos foram perguntados acerca de seu

ponto de vista sobre a Morte e sua relação com a Enfermagem. Alguns pontos como

sexo, idade, estado civil, ocupação e experiência com o processo de Morte, foram

utilizados para a caracterização dos sujeitos.

Quanto ao sexo, cinco entrevistadas eram mulheres o que correspondeu a 50%

do total de acadêmicos, e cinco eram homens que equivaleu aos 50% restantes.

A idade dos entrevistados predominou na faixa etária dos 20 aos 29 anos, na

qual nove sujeitos se encontravam (90%), nenhum tinha idade entre 30 e 39 anos (0%)

ou entre 40 e 49 anos (0%), o sujeito restante tinha dezoito anos e correspondeu a 10%

da amostra pesquisada.

Quanto ao estado civil, verificou-se que 90% dos alunos eram solteiros (a), ou

seja, nove alunos; e 10% eram casados, isto é, um aluno apenas.

Do total da amostra selecionada para o trabalho oito referiram quando

perguntados sobre sua ocupação, apenas estudarem (80%) e dois assinalaram que

estudavam e trabalhavam (20%).

Quanto ao perfil dos graduandos de Enfermagem, conclui-se a maioria encontra-

se na faixa etária entre 20 a 25 anos, do sexo feminino, solteiros, o que é congruente

com o perfil de estudantes de Enfermagem de outras instituições de ensino e amostras

utilizadas em outros tantos estudos (TAKAHASHI et al., 2008).

Page 37: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Na última questão para caracterização, questionou-se se os estudantes já tinham

presenciado ou não a Morte. Os resultados mostraram que a maioria dos acadêmicos já

tinha uma prévia experiência com a Morte (80%), ou seja, oito alunos; os dois restantes

(20%) declararam não terem a experiência de presenciar a Morte de uma pessoa.

Estudos como o Oliveira e Amorim (2008), que entrevistou sete acadêmicos

concludentes do curso de Enfermagem; e Júnior e Eltink (2011), que utilizou trinta e

dois acadêmicos dos 6º, 7º e 8º períodos do curso de Enfermagem, também

demonstraram que a maioria dos alunos de Enfermagem já presenciou ao menos uma

Morte, seja na família, na comunidade ou mesmo durante as práticas do curso.

4.1 Categoria 1: Os diferentes conceitos de Morte para os acadêmicos

Falar de Morte requer uma dedicação especial, pois é característica do ser

humano atual renegar essa discussão seja por motivos pessoais, falta de conhecimento,

questões de cunho sentimental ou influências externas que todos sofrem, porém faz-se

importante que esse obstáculo seja enfrentado porque mesmo remetendo à ideia de fim,

de desconhecido é um ponto que não há como simplesmente evitar, dar as costas. Como

tudo ele tem um explicação e falar de Morte, não significa necessariamente andar em

círculos, ou intrometer-se em questões que não sejam de nossa alçada. É melhor

contemplarmos-o como um obscuro que pode esconder coisas muito interessantes.

A Morte é um tema visto sob diferentes dimensões, sem permitir afirmar

verdades absolutas, pois, quando abordada, pode despertar curiosidade, provocar

desconforto e vem sempre acompanhada de muitas perguntas para as quais se encontra a

incontestável resposta de que o morrer é inevitável, intrínseco à vida e representa a

certeza de que a todo nascimento associa-se um momento de fim (CANTÍDIO et al. ,

2011).

Page 38: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Além do que as influências sofridas pela pessoa, cumprem um importante papel

nessa hora: servem de base para as definições que cada um formula acerca da Morte. A

percepção que as pessoas terão dela (a Morte) dependerá do tipo da educação recebida,

experiências vividas e o contexto sociocultural onde cresceram, religiosidade , crenças e

conceitos de educação familiar (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Conceituar a Morte, não é tarefa fácil. Quando tocamos no assunto, vêm à tona

uma suma de opiniões e dúvidas, que olhadas a grosso modo parecem não levar a lugar

algum. E termina por induzir as pessoas a evitar o assunto, e apenas criar seu próprio

conceito, acreditá-lo e defendê-lo. Nessa categoria, identificamos três subcategorias:

Conceitos baseados na questão da finitude, Conceitos baseados na religião e

Conceitos baseados na ciência.

Subcategoria 1: Conceitos baseados na questão da finitude

Suécia: Pra mim a Morte, é o fim da vida né? É a última, é o estágio final da vida do ser humano, que é a Morte!

Grécia: Natural da pessoa! Tipo, é a questão: a gente nasce, vive, acaba sendo uma fase natural de cada ser humano.

Inglaterra: [... ]É natural do ser humano,uma hora ou outra pode acontecer.

Portugal: Eu simplesmente acho que as pessoas vivem até que chega o momento em que você vai parar de sentir... Enfim, um processo natural!

Observou-se que estes vêem a Morte como o fim, seja da vida, seja de um ciclo

dela, ou até mesmo de tudo e como um processo natural, que inevitavelmente acontece

e que uma definição para a Morte resume-se apenas no fato de que ela seria o fim dos

fins e após este “último fim” nada mais aconteceria ou até mesmo existiria. É a questão

antropológica já citada antes, na qual todo nascimento exigiria um finamento e a

questão estaria resolvida, não dando espaço para outros pensamentos que fugissem a

esse viés.

Page 39: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Para Júnior e Eltink (2011), a Morte vista como ‘etapa da vida’ revela uma

compreensão da Morte enquanto um processo natural, relacionado ao desenvolvimento

humano.

Rússia: É, pra mim a Morte é única certeza que a gente tem. Um dia a

gente vai ter que partir dessa, é... do que...de onde a gente ta hoje. Sendo que se

resume nisso!

A fala de Rússia reforça esse conceito associando o fim com o elemento certeza,

gerando uma definição simples e digamos também direta com a intenção de dar uma

aceitação mais fácil, uma vez que não exigiria muita reflexão e confronto de idéias,

vindo a entrar em consenso com a ideia mais presente na cabeça das pessoas, a de que a

Morte é a única certeza que temos. Para Pinho e Barbosa (2008), esse ponto acaba por

se tornar uma conscientização de nossa própria finitude e limitado período de vida.

Para Oliveira e Amorim (2008), e Moreira e Lisboa (2006), não há possibilidade

de se qualificar uma existência sem se conscientizar de sua finitude. A Morte, como um

processo natural, não pode ser desvinculada da vida, mas integrada a ela de forma a

valorizá-la.

Subcategoria 2: Conceitos baseados na religião

Para lidar com o fim da vida, algumas pessoas utilizam a crença como elemento

interveniente, revelando a interferência da variável espiritual na capacidade de

enfrentamento de situações envolvendo o fenecer (CANTÍDIO et al., 2011; BRÊTAS et

al., 2007).

A religiosidade foi presente em algumas respostas. Os acadêmicos basearam-se

em preceitos colocados por sua crença para dar seu conceito de Morte, o termo

“passagem”, como de um plano a outro, foi utilizado para significar a Morte.

Compreender a Morte com uma passagem demonstra uma concepção espiritual

do tema, em que a pessoa tem a Morte como transição entre o mundo material e o

espiritual, conceito tradicional do mundo religioso, amplamente presente no imaginário

das pessoas. Nesse sentido, a Morte aparece como transição, desvelando um sistema

representacional associado a crenças e convicções espirituais do ser humano, sendo

Page 40: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

vista como um evento que ocorre com todos, supostamente desconhecido por ocorrer no

futuro (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Noruega: Que como a religião diz, seria a passagem da vida, daqui da

Terra, no caso para o céu, para o paraíso, não sei! Ou então, pode ser também um

alívio de um sofrimento, de uma pessoa.

Espanha: A Morte significa uma passagem! De uma vida pra uma outra vida que a gente não conhece!

Grécia: Pra mim Morte, significa apenas uma passagem, né?

Depreende-se dessas respostas que os estudantes, procuraram conceituar a Morte

como algo que acontece com todos mas que não é tão severo, apavorante ou definitivo,

podendo vir até a melhorar a situação ou torná-la mais favorável ao ser humano, como

um alívio, uma mudança para algo mais feliz e recompensador, ou o contrário. Esse

pensamento é típico dos adeptos do cristianismo.

Para a civilização cristã e para boa parte dos judeus (aqueles que acreditam na

ressurreição) a Morte era vista como passagem para outra dimensão, a transposição ao

eterno sofrimento e expiação (inferno), ou o acesso ao eterno gozo, reservado aos bem-

aventurados (o paraíso). A Morte para os cristãos era um estágio intermediário, um sono

profundo do qual acordariam no dia da ressurreição, quando as almas voltariam a

habitar os corpos (CAPUTO, 2008).

Subcategoria 3: Conceitos baseados na ciência

Alemanha: Assim, no meu ponto de vista, eu acho que a Morte ela

significa quando a tua vida definitivamente acabou, ou seja, seu corpo

parou de funcionar, todos os seus órgãos pararam. Querendo ou não, eu

acabo pensando dessa maneira mais científica.

Polônia: A Morte significa, não... não ter mais sinais vitais!

Page 41: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Vários estudos concluíram que os acadêmicos ao utilizarem premissas científicas

para delimitar a Morte, demonstram serem espectadores do processo. Percebeu-se que

eles buscaram na exatidão da ciência e nos conceitos médicos comprovados uma

justificativa incontestável e prática para o evento, não se atendo apenas à cessação da

função cardíaca, mas de todos os órgãos, quando não se teria mais a menor dúvida da

consumação do processo. Acredita-se que a já adiantada preparação acadêmica possa ter

condicionado estas opiniões.

Nessa representação, a Morte é decorrência e faz parte da vida,

despersonalizada, não é de ninguém, é de toda humanidade. Associar a visão de Morte

como um evento biológico, referindo-a a partir de conceitos médicos como a cessação

de todas as funções vitais e não apenas de uma parada cardíaca, leva o processo a ser

entendido como natural; e as pessoas, a serem observadoras do seu processo de morrer

(JÚNIOR e ELTINK, 2011; BRÊTAS et al., 2007).

4.2 Categoria 2: Os acadêmicos e os que eles sentem perante a Morte

Essa categoria trata de um ponto muito discutido nas literaturas referentes, que é

o dos diversos sentimentos expressos pelos estudantes perante um processo de Morte.

Sentimentos estes que, na maioria das pesquisas, são condicionados principalmente pelo

nível de ligação do acadêmico com a pessoa que morre, seguido das condições da

pessoa, onde podemos considerar a idade, por exemplo.

O estudo de Júnior e Eltink (2011), aborda isso claramente quando afirma que os

acadêmicos associam a experiência da Morte a vários sentimentos tais como ansiedade,

medo, apego, culpa, e até mesmo uma postura de indiferença, como se estivesse

indiferente à situação, ou seja, o profissional não sentiria nada com a perda do paciente.

As respostas dessa unidade foram divididas em três subcategorias: Os que

sentem medo da Morte e as conseqüências desse sentimento, Os que sentem

tristeza associada à proximidade com a pessoa e, A indignação perante o evento da

Morte.

Page 42: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Subcategoria 1: Os que sentem medo da Morte e as consequências desse sentimento

O medo é a resposta psicológica mais comum diante da Morte. O medo de

morrer é universal e atinge a todos, independente da idade, sexo, nível socioeconômico

e da religiosidade (JÚNIOR e ELTINK, 2011; OLIVEIRA et al., 2007).

Suíça: Medo! Medo porque eu acho que o ser humano ele tem medo do

que não conhece né? Eu acho que o sentimento que eu tenho a respeito da

Morte, é medo!

Suécia: Assim, todos nós temos medo da Morte né? Principalmente da

Morte daquelas pessoas que a gente gosta. Assim eu sinto angústia, quando

eu penso em Morte eu sinto angústia.

Alemanha: É... Assim, em relação à Morte eu acho que... Às vezes eu

tenho medo![...] Eu tenho medo da Morte, no meu ponto de vista!

Noruega: Eu sinto pavor (risos), sinto pavor, eu não gosto assim da

Morte, acho que é uma coisa assim que traz muito sofrimento.

As respostas comprovam o dito pelo autor anterior. O medo constitui-se no

principal sentimento apresentado pelos acadêmicos perante a Morte e analisando mais a

fundo percebe-se que este sentimento está aliado a uma condição imposta pelo próprio

processo, que pode ser ou o desconhecimento acerca do pós-Morte, ou o sofrimento que

ele causa e suas conseqüências ao acadêmico.

Em Cantídio et al., (2011), distante e, por vezes, alheia às vidas humanas, a

Morte ausenta-se do quotidiano, sendo relacionada a elementos de “fascínio” e

“mistério” ou afastada, repudiada e até escondida.

O temer a Morte por ela ser de fato uma incógnita, é uma reação muito freqüente

e a fala de Suíça mostra isso, quando o acadêmico relata que seu medo é baseado na

parte desconhecida da Morte. Brêtas et al., (2007), e Júnior e Eltink (2011), dizem que

Page 43: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

ver a Morte como algo desconhecido traz a tona um medo emotivo, que ao mesmo

tempo amedronta e provoca um certo fascínio, pois o desconhecido dá, à pessoa, a

possibilidade de descobrir algo novo, que pode vir a ser mais instigante até que a

própria vida.

O sentimento de angústia, provocado pelo medo da Morte, dito por Suécia

reflete uma preocupação do aluno consigo mesmo, com a sua finitude. Essa angústia

pode ser condicionada por uma preocupação que surge quando o aluno reflete sobre seu

próprio fim, ao presenciar a Morte de outrem, na qual surgem perguntas sobre: Quando

morrerei?; Como será a minha Morte?; Morrerei jovem?; A minha Morte vai fazer com

que os que amo sofrerem?

Reagir dessa forma a uma experiência de Morte leva a pessoa, gradativamente a

negar a Morte, como um meio de se defender das reações que ela causa. A pessoa sente-

se controladora de seus sentimentos, porém por outro lado há conseqüências bem mais

graves, como refere Brêtas et al., (2008), entretanto, uma perda seguida de precária ou

má elaboração do luto – não se permitindo a expressão da tristeza e da dor – tem

trazido graves conseqüências como a maior possibilidade de adoecimento.

Custódio (2010), também reforça essa opinião, pois para ele o uso repetido e

prolongado da negação, pode trazer problemas como dificuldades emocionais, e assim

como patologias de ordem psicológica.

Noruega afirmou que a Morte está sempre atrelada ao sofrimento e que por isso

tem pavor e não gosta definitivamente dela. A Morte constitui ainda um acontecimento

medonho, que traz muito sofrimento e que choca (OLIVEIRA e AMORIM, 2008).

Estudos comprovam que esse repúdio (notado na fala de Noruega) da Morte é

inerente ao fato de que ao perder entes queridos a aluna sofre, devido ao rompimento

dos laços afetivos e de convivência e esse acontecimento é que acaba por causar tal

reação da pessoa. Ela costuma sofrer muito durante o momento e acaba por rejeitar o

processo.

A perda de uma pessoa amada é uma das experiências mais intensamente

dolorosas que o ser humano pode sofrer. É penosa não só para quem experencia, como

também para quem a observa, ainda pelo fato de sermos tão impotentes para ajudar

(JÚNIOR e ELTINK, 2011; BRÊTAS et al., 2007).

Page 44: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Bernieri e Hirdes (2007), reforça a conclusão afirmando que a experiência da

perda é dolorosa, ameaçadora e solitária, podendo gerar nos indivíduos diversas

reações emocionais, como negação, raiva, choque, inércia, ansiedade, depressão e

angústia espiritual.

Subcategoria 2: Os que sentem tristeza associada à proximidade com a pessoa

A tristeza, junto com o medo também é uma reação muito comum em quem

vivencia uma Morte, só que diferindo deste, ela muda de acordo com a característica da

pessoa que se vê morrer, podendo ser intensa (no caso de entes queridos), ou leve e por

vezes até inexistente (no caso de desconhecidos). Esse último ponto toca no assunto

muito discutido dentro da Enfermagem, o não envolvimento emocional intenso com os

pacientes (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Ao estar presente no momento da Morte de um paciente, o aluno se envolve

emocionalmente, não interessando o grau deste envolvimento e a intensidade da emoção

gerada, respondendo de maneira particular à estrutura de cada um (BERNIERI e

HIRDES, 2007).

Espanha: É relativo! Depende da pessoa que morre! Mas em geral, sente uma tristeza, mas isso não influencia no atendimento ao paciente, aos demais, e a continuação do trabalho.

Grécia: Questão de sentimentos, o principal é tristeza, né? E aí, isso vai depender muito até da proximidade que a pessoa tem comigo.

Notou-se, a partir das representações desses estudantes, que eles têm em mente a

regra que pondera no mundo profissional da saúde, que enuncia que o bom profissional

não se envolve emocionalmente com os pacientes. Esse pensamento de que a

proximidade condiciona o nível de tristeza que eles declararam sentir perante a Morte

dos pacientes dá a impressão de que o acadêmico já desenvolveu certa frieza, diante do

processo, mas na verdade é que essa reação esconde um escudo que tem como objetivo

a autopreservação do graduando, justificada quando Espanha confessou que apesar de

Page 45: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

sentirem um pouco de tristeza o trabalho não chega a ser comprometido, e logo aquela

perda é, digamos, superada e o trabalho continuado.

A mesma conclusão é encontrada no trabalho de Júnior e Eltink (2011), quando

citou que essa atitude do graduando aparece como um mecanismo de defesa, adotado

por muitos profissionais de Enfermagem também, que o utilizam, para buscar uma

autopreservação, ou seja, para evitar sentimentos indesejáveis diante do sofrimento

provocado pela Morte de um paciente sob seus cuidados.

Subcategoria 3: A indignação perante o evento da Morte

A fala de Portugal chamou atenção por revelar um pensamento pouco comum

em relação ao morrer. O estudante revela sentir-se indignado pela implacabilidade do

evento, e por estar sujeito a ter seus sonhos, planos e oportunidades interrompidos, se

vir a morrer jovem, e perder a chance de realizar seus sonhos e alcançar suas metas, ou

seja, aproveitar a vida.

Portugal: Olha, falar em Morte você de certa forma, você tem planos pra

uma vida e você vai ter que interromper eles. Então não é medo da Morte, eu

diria que é o sentimento de você não poder concretizar sonhos futuros...

Na verdade, o pesquisado tem medo de morrer jovem e essa visão relaciona-se

com uma ideia já discutida anteriormente no trabalho. A Morte hoje em dia é vista como

um fracasso, uma derrota. Pois o homem sente que precisa crescer, produzir, contribuir

para o progresso, atender às expectativas que lhe são esperadas e para isso teria que

viver muito, para ter tempo de realizar tudo isso. E a Morte seria como um obstáculo,

que simplesmente poria fim a todo esse projeto maravilhoso de vida, daí entende-se essa

revolta com ela, dando a impressão, com isso, de que a Morte seria então injusta.

Page 46: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

O medo de morrer cedo está relacionado à interrupção prematura da existência

humana, ou seja, deixar de viver antes da concretização de um determinado projeto de

vida (OLIVEIRA et al., 2007).

Reforçando isso, acredita-se que a Morte vinculada à ideia de finitude pode vir

acompanhada de tristeza e revolta e/ ou indignação, pois ela interrompe a vida e reflete

o ato de pensar na Morte fora de hora (JÚNIOR et al., 2011; GUTIERREZ e

CIAMPONE, 2007).

4.3 Categoria 3: A preparação dos acadêmicos para a Morte

Estar ou não, preparado para a Morte é uma questão muito subjetiva, e que não

permite um julgamento definido, pois como já foi citado anteriormente, as visões de

Morte são muito influenciáveis e dependentes demais do tipo de pessoa, da maneira

como ela viveu e das experiências que teve. Porém a ideologia do curso, por se focar na

pessoa em todos os seus aspectos, termina por exigir que a pessoa inserida nessa área,

pense e tome um partido, porque se pauta na filosofia do cuidar e acaba por sujeitar o

indivíduo a confrontar com este momento certo (AGRA e ALBUQUERQUE, 2008;

LANA e PASSOS, 2008).

Essa característica, inerente da Enfermagem, de estar mais próximo do

paciente, é o que obriga o acadêmico a preocupar-se com o Morte-morrer, pois somos

nós que temos mais chances de presenciar o finamento dele, uma vez que passamos

bem mais tempo com eles e temos bem mais chances de estarmos presentes no dito

momento (OLIVEIRA e AMORIM, 2008).

Verificou-se em Oliveira et al. (2006)

“Se tratando de Morte, hoje em dia, pode se dizer que as pessoas morrem mais nos hospitais do que em casa, e nenhum outro profissional da saúde convive tão de perto e tão freqüentemente com a Morte do que o Enfermeiro, pois é ele quem passa a maior parte do tempo com o indivíduo hospitalizado”

Page 47: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Esta unidade foi dividida em duas subcategorias: Os que se consideram

preparados e, Os que não se consideram preparados. Por conseguinte, discutir-se-

irá as justificativas dadas pelos acadêmicos.

Subcategoria 1: Os que se consideram preparados

Polônia: Hoje sim, eu me sinto! Por que eu já passei por Mortes de pacientes, já tive desde o início depois eu tive o estágio, mas na faculdade não tive preparação nenhuma pelo menos na prática.

Grécia: Preparado, eu acredito que sim! É, a gente na formação acadêmica realmente a gente não recebe um preparo psicológico pra lidar com a Morte, mas o pouco tempo que eu tenho de estágio foi o tempo que eu tive de viver isso no hospital me ajudou muita a me preparar psicologicamente pra lidar com a Morte do paciente

Alemanha: Sim! Eu acho... Eu me sinto preparado! Eu acho que, infelizmente, a gente não teve uma preparação durante nossa vida acadêmica, mas pelas vivências de estágio, até pelo perfil do profissional da área da saúde, você meio que acaba entendendo a Morte como um processo natural.

Inglaterra: Sim, acredito que sim, porque eu me considero assim uma pessoa fria.

Quando questionados se sentiam-se preparados para o Morte morrer,a maioria

dos alunos respondeu claramente: Sim! E as justificativas mostraram que estes

acadêmicos não vêem a Morte dos pacientes como algo tão arrasador assim, mas que é

esperado. Isso deixa transparecer que eles já possuem meios que utilizarão para se

comportar e superar esses momentos. Tais meios podem compreender: experiências

pessoais ou a própria personalidade de cada um.

Custódio (2010), defende que para que o profissional consiga se preparar para

a Morte dos pacientes, ele precisa compreender e aceitar a Morte como algo inevitável.

Inglaterra quando relatou [...] acredito que sim, porque eu me considero assim

uma pessoa fria, confessou que utiliza essa característica de sua personalidade para de

alguma forma se esquivar dos sentimentos que poderiam advir da experiência e de certa

Page 48: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

forma reluta em pensar na situação, criando um mecanismo que o protege das

conseqüências emocionais que ele poderia ter naquela hora.

Takahashi et al., (2008), e Costa e Lima (2005), afirmam que “eles” (os

profissionais de Enfermagem) acreditam que sua postura deva ser firme e que

reconhecer o seu sofrimento significa ferir sua índole. Ainda há a visão de que o

profissional deva ser “frio” ou indiferente na situação de Morte.

Já, Polônia, Alemanha e Grécia justificaram que o campo de estágio e as

experiências vividas durante ele, foi o que lhes proporcionou adquirir preparo

necessário para assistir à Morte dos pacientes. Ao mesmo tempo, acusavam que a

academia não havia proporcionado até então nenhuma oportunidade de preparo para o

evento, o que leva a crer que o fator sorte, foi o que lhes propiciou atingir este preparo,

pois tiveram a oportunidade de ver pacientes morrerem durante o estágio

supervisionado.

Essa denúncia de que a faculdade não prepara os alunos é vista nos trabalhos

sobre o assunto. Um exemplo é a conclusão encontrada em Takahashi et al., (2008): Os

graduandos esperam que o curso de graduação em Enfermagem ofereça subsídios

básicos para o enfrentamento de situações como a Morte, sendo verificada essa

necessidade em todos os anos.

Também em Bernieri e Hirdes (2007), estudos sobre Morte-morrer demonstram

que a justificativa do despreparo em lidar com tal fenômeno é atribuída muitas vezes à

formação acadêmica, e salientam ainda que a graduação continua a não preparar os

profissionais para vivenciarem o processo.

Aguiar et al., (2006), acrescenta mais a essa conclusão quando relata que essa

lacuna deixada pela faculdade, que se preocupa apenas com o tecnicismo pertencente ao

momento, deixando de lado a parte psicológica a fim de que a vivência prática se

encarregue de instruí-los quanto a isso, acaba por fazer com que os alunos sintam-se

despreparados.

Subcategoria 2: Os que não se consideram preparados

Page 49: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

A ideia de que cada caso é único e não depende apenas de preparo universitário,

e até mesmo uma postura de desistência, preferindo acreditar que nunca se estará

preparado para tal e que a Morte é inevitável foi marcante nas falas dos que se

consideraram não-preparados para presenciar a Morte.

Tudo isso nos leva a crer que é indissociável a formação profissional da

formação pessoal. O despreparo já se faz sentir na própria bagagem de vida,

percorrendo os caminhos da educação, perpetuando se através do curso de formação

em Enfermagem que ora fazem (OLIVEIRA et al., 2007).

Rússia: A gente nunca tá preparado, mas de certa forma a gente tem que

tá psicologicamente bem, pra aceitar isso na hora que chegar.

Suíça: Eu vou ta preparado pra quando acontecer, pra quando o

paciente morrer na minha frente? Eu acho que não vou ta! Porque depende de

como eu vou estar no momento!

Essa impossibilidade de se haver um preparo para que os alunos presenciem a

Morte dita pelos estudantes é citada em Custódio (2010), que afirma que, entretanto,

apesar da implementação por modificações, ainda existem estudantes que ao final do

curso, declaram-se ainda incapazes e imaturos para abordar a Morte dentro da

profissão.

A fala de Rússia tem uma justificativa que nos leva a crer que a acadêmica não

vê a Morte como um insucesso e demonstra já estar convencida da inevitabilidade do

processo, como foi discutido na subcategoria antecedente, e sugere que só é preciso se

estar psicologicamente bem na hora que conseguimos aceitar mais facilmente o

acontecimento, e consequentemente prestar uma assistência mais completa e

humanizada.

O fato de os estudantes de Enfermagem não perceberem o a Morte como um

fracasso se faz importante, pois se afere que eles a consideram como um processo

natural, e isso contribui para que prestem uma assistência mais efetiva e humanizada ao

indivíduo naquele momento (CUSTÓDIO, 2010).

Page 50: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Suíça disse que não se considera preparado, por que esse fato dependeria do

estado emocional que ele estivesse na hora. Pode acreditar que este estado emocional

possa estar submetido então à ligação que o acadêmico possa ter desenvolvido com o

paciente, no caso se o aluno se apegou ao paciente, o que é muito comum.

Para Júnior e Eltink (2011):

“Quando nos relacionamos e gostamos de alguém sempre vamos deixar algo

a essa pessoa e, consequentemente vamos guardar um pouco dela também,

pois sempre haverá sentimento, e o cuidar é fazer parte da vida de uma

pessoa que precisa da gente, assim de um jeito ou de outro começa a fazer

parte de nossas vidas e assim é difícil não ter algum sentimento por essa

pessoa e quando se depara com a Morte há uma descarga de emoções, afetos

e sentimentos, mesmo que seja dor, saudade, ou mesmo alívio por ver que

aquela pessoa estava sofrendo muito.”

Ou então, relacionada ao quadro ou às características do paciente, estudos

mostram que os alunos têm mais facilidade para lidar com a Morte de pacientes idosos

do que com a de pacientes jovens.

A percepção dos acadêmicos está diretamente relacionada às vivências pessoais

de cada um deles, sendo necessário levar em consideração a idade daquele que padeceu,

se era jovem ou velho (CANTÍDIO et al., 2011; BERNIERI e HIRDES 2007).

É mais fácil a aceitação da Morte quando se trata de um adulto ou idoso, a

maioria dos entrevistados usaram a idade como um dos itens que mais dificulta ou

facilita a aceitação (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Para eles a Morte de uma criança ou jovem traz sentimentos de revolta, pois uma

tenra vida cheia de felicidade, vivacidade e possibilidades, foi interrompida de maneira

cruel e injusta. Já quanto à Morte na velhice sobressai-se a tendência humana de

considerar uma Morte já esperada e aceita, pois após muitos anos de vivência seria

como se a pessoa já estivesse pronta para o falecimento. Nesse caso, a terminalidade é

vista como descanso, após a pessoa ter percorrido toda uma trajetória e vivenciado

múltiplas sensações (Cantídio et al., 2011).

Page 51: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

4.4 Categoria 4: O que os alunos sugerem para que o problema seja resolvido

Nesta categoria objetiva-se, principalmente, discutir sobre a inclusão de ações

que pretendessem preparar os alunos, ainda durante o período acadêmico para as

questões e situações que envolvam a Morte. A análise das falas dos entrevistados

buscará saber o que os alunos opinam acerca desse ponto e se eles acham importante, ou

não, a inclusão de uma disciplina específica para o estudo da Tanatologia.

Vários estudos analisados , acerca dessa temática, realçam que a faculdade tem

um papel imprescindível como preparadora dos alunos para a Morte. Os conhecimentos

teóricos-técnicos e as práticas, ou seja, todo o estudo focado nessa área é muito

importante para preparar o estudante de Enfermagem para a prestação da assistência

necessária ao paciente em processo de fenecimento (CANTÍDIO 2011; CUSTÓDIO,

2011; SILVA, 2009; BERNIERI e HIRDES, 2007).

Acrescenta-se também que este preparo universitário deva abranger também

conteúdo que possibilitem ao aluno preparar-se psicologicamente para a experiência,

minimizando seus medos e diminuindo a tensão (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Os pesquisados, em suma, concordaram que inclusão de uma disciplina se faria

de grande importância a fim de prepará-los para a assistência à Morte. Esse fato

converge com o encontrado nas literaturas, onde é expresso que os alunos sentem falta

de um preparo maior e mais eficaz, por parte da academia, para as questões que

envolvem o fim da vida.

Para Custódio et al., (2011), alguns recordam que o tema foi discutido em

algumas disciplinas, porém consideram insuficiente tal abordagem, declarando ser

simplistas as discussões e conteúdos curriculares sobre a Morte durante a formação.

Bernieri e Hirdes (2007), concluíram que os acadêmicos de Enfermagem

percebem uma carência no que diz respeito ao preparo deles para vivenciar o processo

Morte-morrer, sendo esta carência relacionada principalmente à questão emocional.

Apesar de algumas universidades oferecerem disciplinas que abordam a temática

da Morte, todos os estudos demonstraram que os alunos carecem de reflexão e

Page 52: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

discussão, a fim de se desnudarem dos pré-conceitos socioculturais ocidentais

vivenciados desde a infância (SANTOS e BUENO, 2011).

Esta categoria apresentou uma concordância entre as respostas dos alunos,

excetuando-se uma que não apresentou requisitos básicos de lógica para ser analisada e

foi descartada. Não houve subcategorias definidas e as respostas foram todas

convergentes em concordar com a premissa proposta.

Alemanha: Sim! [...]Eu acho que seria interessante pra ver como é que fica a etapa psicológica também, pra gente, principalmente o enfermeiro que tem esse lado psicólogo pra ele poder entender melhor esse processo e trabalhar de maneira mais holística.

Rússia: Com certeza! É, tendo uma disciplina nessa área, de certa forma vai preparar bastante os acadêmicos pra quando vivenciarem isso. É, como eu disse, principalmente trabalhando o psicológico deles.

Alemanha e Rússia concordam com o proposto pelo trabalho que incluir uma

matéria que abordasse o preparo para a Morte é importante e suas falas são justificadas

pela preocupação que os acadêmicos têm com a parte psicológica exigida do

profissional enfermeiro para o momento, pois para eles esse profissional tem uma faceta

que trabalha com o lado mental dos pacientes, seja apoiando-o e fornecendo

conscientizações acerca do seu quadro e prognóstico. Ainda, para Alemanha, esse

preparo voltado para o lado psíquico, proporcionaria um cuidar, nas palavras do

estudante, mais holístico.

A preocupação de Alemanha pode ser verificada em Cantídio et al., (2011), as

instituições de ensino devem ter o compromisso com essa formação, ensinando a cuidar

e lidar com pacientes terminais e seus familiares, não só enfocando o conhecimento

teórico-prático visível, mas também o subjetivo vivido, fornecendo informações

importantes para melhor se enfrentar o encontro e a vivência da Morte, a fim de

proporcionar cuidado de qualidade aos envolvidos

Assim como em Júnior e Eltink (2011), ao afirmar que é importante a

reformulação dos currículos dos cursos de Enfermagem para que os profissionais se

sintam preparados emocionalmente e psicologicamente para lidar com esse assunto.

Page 53: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

O diálogo com os familiares do paciente terminal, bem como o acolhimento, o

conforto, o suporte, e até mesmo a própria preparação para comunicar aos familiares a

Morte de seu ente querido, torna-se um processo difícil, com o qual alguns acadêmicos

referem não saber como lidar. (BERNIERI e HIRDES, 2007).

Inglaterra: Eu acredito que sim, acredito que seria importante uma

matéria pra estar pra tá preparando mais, nós como acadêmicos situações

como essa [...] principalmente envolvendo familiares, pra abordar os

familiares que acredito que seja a parte mais complicada. Seria essa

“abordação” dos familiares.

Noruega: Eu acho que teria que ter, até... É tanto pelo fato de ter mesmo

uma preparação do acadêmico, quanto também pra ter uma assistência à

família.

Inglaterra e Noruega acreditam que essa disciplina deveria ser implantada, pois

eles se preocupam com, como irão tratar a família do paciente que foi a óbito e

salientam que isto é o que mais lhe faz falta, posta a falta desse aprendizado, por falha

da Universidade.

A família do paciente se constitui numa preocupação enorme para os acadêmicos

de Enfermagem, que se preocupam muito em dar um suporte emocional aos parentes no

caso de um paciente vir a morrer.

Inglaterra mostra-se preocupado com a abordagem da família na hora de

anunciar e apoiar à família. Tal interação só é viável se o profissional desenvolver uma

aproximação e empatia com os entes do paciente, usando de sua competência, para se

comunicar de forma humilde com eles (BERNIERI e HIRDES, 2007).

Pois são o enfermeiro e sua equipe, na maioria das instituições de saúde, os

responsáveis por confortar e auxiliar e sua família a viver esse momento da forma

menos agressiva e com o menor sofrimento possível (SILVA, 2009).

Na fala de Espanha se verifica uma preocupação mais direcionada com a

personalidade, onde ela mesma apela que essa disciplina atuasse como uma auxiliadora

para os alunos mais sensíveis, que tivessem mais dificuldades em lidar com o processo.

Page 54: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Espanha: Sim , porque a gente assim.... Tem alunos que conseguem lidar

numa boa, mas tem alunos mais fracos que, se sensibilizam mais, às vezes.

O fato de alguns alunos se sentirem de certa forma menos aptos a lidar com a

Morte, pode ser associada com a falta de experiências prévias deste tipo, diferentemente

de outros colegas que podem ser mais habituados, devido a acontecimentos da vida ou

por, em muitos casos, já atuarem na área. Por isso, ao se falar em Morte, deve levar-se

em conta o passado e as vivências anteriores de cada um (JÚNIOR e ELTINK, 2011).

Grécia salientou que uma alternativa seria a de abordar o assunto de forma mais

efetiva, dentro de outra disciplina que já trata, superficialmente da temática.

Grécia: Abordar o assunto dentro de uma disciplina já existente na

grade. Tipo, Psicologia, não é? Que a gente já estuda.

A sugestão do discente surge com uma estratégia inicial para promover a

preparação dos alunos para o “lidar com a Morte”. Início esse que poderia ser

incrementado e evoluído gradativamente a fim de promover e assegurar a mudança da

grade curricular com o acréscimo de uma disciplina que abordasse o conteúdo tanático,

relacionado com a prática de Enfermagem.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização das entrevistas e análises das respostas dadas, considera-se

que o objetivo desse trabalho, de analisar o conhecimento dos acadêmicos do Cesba

acerca da Morte e sua relação com o trabalho de Enfermagem e com isso, utilizando-se

as opiniões dos discentes, incentivar uma maior discussão sobre o tema na formação

curricular dos futuros enfermeiros, foi atingido.

Elencou-se a variedade de conceitos dados ao morrer e viu-se que as

características pessoais, as vivências dos alunos e o estilo de vida, é o que mais

fundamenta cada definição. A questão antropológica de que todo começo tem,

Page 55: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

necessariamente, um final, predominou dentre as respostas e demonstrou que muitos

dos pesquisados preferem apenas acreditar no essencial e não se dedicam a procurar

outras possíveis explicações à questão. Outro conceito bastante presente, foi o baseado

no tocante à religiosidade, onde a Morte foi expressa como um processo transitório e

passageiro, que iniciaria uma nova etapa, boa ou ruim, a depender de cada pessoa em

particular. Por último, os conceitos científicos da Morte também foram citados,

revelando a postura observadora dos alunos perante o evento mortífero.

Os sentimentos mais comuns frente ao Morte-morrer que foram declarados

consistiram no medo, na tristeza e na indignação, relacionados com: o desconhecimento

acerca do processo real de Morte e do pós-Morte; reflexão sobre a própria finitude e

perda de pessoas amadas e interrupção precoce da vida, respectivamente. Destacou-se o

sentimento de temor à Morte, onde se percebeu uma convergência com o senso comum

que é notado, em referência a essa questão.

A Morte dos pacientes foi um ponto muito comentado pelos acadêmicos, e as

conclusões mostraram que contrariando ao que se pensava, a maioria se considera sim,

preparado para o evento Morte do paciente, e esclareceram que essa condição

fundamenta-se nas experiências prévias dos mesmos e nos caracteres de personalidade,

táticas estas, utilizadas como forma de se resguardarem do momento e do que ele pode

causar. Os estágios e as vivências neles também foram justificativas apresentadas por

alguns. Dentre os que não se consideraram preparados, foi consenso a idéia de que seria

impossível preparar-se para a Morte, e as justificativas oscilaram de conformidade com

a inevitabilidade do processo a estado emocional da pessoa naquela hora. Notou-se uma

preocupação desses acadêmicos com os sentimentos que o profissional pode

desenvolver em mutualismo com o paciente, induzindo-nos a acreditar que esse seja um

fator que venha a dificultar o confronto com a Morte do paciente.

Ficou evidente o quanto os alunos anseiam por uma reformulação da maneira

como a temática da Morte é abordada pela Instituição. Esse tema por ter tomado uma

característica mais ocultada dos diálogos e da mente das pessoas, acabou por se

transformar numa preocupação aos estudantes de Enfermagem pesquisados, uma vez

que eles reconhecem a ligação que o falecer tem com o trabalho da Enfermagem, e

perceberam o quanto esse conhecimento tem sido renegado em sua formação. A

preocupação maior dos estudantes consiste na assistência que é requerida nesse

momento, não só ao paciente, mas à família dele e no preparo psicológico próprio, para

que não venham a ser, de certa uma forma, uma vítima passiva do processo.

Page 56: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Fica aqui um apelo afim de que se fomente a busca de conhecimento sobre a

Morte, seja por meio da produção de trabalhos direcionados ao tema, buscando

conhecer e analisar as opiniões dos alunos e, por que não, de docentes, seja pelo

aprofundamento da discussão sobre o Morte-morrer em oficinas, grupos de debate e

troca de experiências.

São incontestáveis os benefícios que essas ações trariam para a formação, e a

construção de um perfil de cuidador mais humanizado, dos profissionais enfermeiros

produzidos pela Universidade Estadual do Maranhão.

Page 57: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

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Page 60: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

APÊNDICES

Page 61: A MORTE SOB A ÓTICA DO ACADÊMICO DE ENFERMAGEM DO CESBA/ UEMA

Apêndice A

Universidade Estadual do Maranhão

Centro de Estudos Superiores de Balsas

Curso de Enfermagem

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Dados de caracterização1.1 SEXO

( ) masculino ( ) feminino

1.2 IDADE

( ) 20 a 29 anos ( ) 30 a 39 anos ( ) 40 a 49 anos

1.3 ESTADO CIVIL

( ) Casado ( ) Solteiro ( )Divorciado

( )Estável

1.4OCUPAÇÃO

( )Estuda e trabalha ( )Só estuda

1.5 VOCÊ JÁ PRESENCIOU A MORTE DE ALGUMA PESSOA?

( )Sim ( ) não

2. Para você, o que significa a Morte?

3. O que você sente em relação à Morte?

4. Você se considerada preparado (a) para assistir a Morte de um paciente? Justifique.

5. Você considera importante a existência de uma disciplina específica que preparasse o acadêmico para a assistência à Morte, por quê?

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ANEXOS

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Anexo A

Universidade Estadual do Maranhão

Centro de Estudos Superiores de Balsas

Curso de Enfermagem

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,____________________________________________________________,RG____

____________, idade______,residente no município de Balsas-MA, declaro para os

devidos fins que aceito responder às perguntas constantes do questionário da pesquisa

intitulada “A MORTE SOB A ÓTICA DO ESTUDANTE DE ENFERMAGEM DO

CESBA/UEMA”, realizada pelo acadêmico Ricardo Carvalho Neves. Fui informado (a)

por este documento que:

1. Justificativa da pesquisa: O presente estudo mostra-se importante, uma vez que o profissional enfermeiro irá deparar-se com uma diversidade de pessoas e situações durante sua carreira, e o processo de morrer sendo natural a todos os seres vivos, precisa ser compreendido de forma correta pelos mesmos que de certa forma no exercício de sua profissão objetivarão em evitá-la, ou em outros casos, promovê-la da forma mais digna e aceitável possível.

2. Objetivo da pesquisa: analisar o conhecimento que os acadêmicos do curso de Enfermagem do CESBA/UEMA têm da Morte e se os mesmos sentem-se preparados para lidar com tal acontecimento em seus pacientes.

3. Riscos e benefícios: não há risco físico e/ou biológico envolvido na participação da pesquisa, assim como não implica qualquer ressarcimento aos participantes.

4. Relevância social e caráter ético da pesquisa: produzir um estudo sobre a temática da Morte para alunos de Enfermagem segundo a análise das opiniões dadas por uma amostra dos mesmos.

5. Desistência: o entrevistado pode se recusar a participar a qualquer momento.

OBSERVAÇÃO: A confidencialidade, o sigilo e a privacidade das respostas serão

assegurados a todos os participantes, bem como o livre acesso, a qualquer momento,

às informações constantes da pesquisa.

Balsas-MA, ______ de _______________ de 2012

_________________________________________________

Assinatura do (a) Participante

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