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A MORTE E O MORRER NA COMUNIDADE LUTERANA EM NOVA FRIBURGO NO SÉCULO XIX: CONFLITO E ALTERIDADE Mateus Barradas Teixeira 1 Ronald Lopes de Oliveira 2 Resumo: Em 1824, proveniente do processo da política de imigração realizada pela Corte Imperial, se assentou na Vila de São João Batista de Nova Friburgo - localizada nos Sertões do Leste Fluminense - um grande número de imigrantes germânicos de origem luterana que, acompanhados pelo seu pastor Frederich Oswald Sauerbronn dão início a uma comunidade. Originalmente composta por portugueses e imigrantes suíços majoritariamente Católicos, a Vila de São João Batista de Nova Friburgo passou a conviver com elementos culturais não provenientes da estrutura cultural hegemônica baseada no catolicismo. O objetivo desta comunicação é analisar cinco enterramentos nos anos 20 do século XIX, permeados por conflitos religiosos entre católicos e luteranos, bem como relações de alteridade entre calvinistas de origem suíça e luteranos de origem germânica. Palavras-chave: enterramento, alteridade, conflito, religião, protestantes, Nova Friburgo. Abstract: In 1824, as a result of the process of immigration policy conducted by the Imperial Court, settled in the Vila São João Batista of Nova Friburgo, located in the Barrens East Fluminense, a huge number of German immigrants of Lutheran origin, accompanied by his pastor Frederich Oswald Sauerbronn started a community. Originally composed by Portuguese and Swiss immigrants, mostly Catholics, the Vila São João Batista of Nova Friburgo started experiencing cultural elements not from hegemonic cultural structure based on Catholicism. The objective of this work is analyze five burials in the 20s of XIX century, permeated by religious conflicts between 1 Graduado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. [email protected] 2 Graduado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. [email protected]

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A MORTE E O MORRER NA COMUNIDADE LUTERANA EM NOVA FRIBURGO NO SÉCULO XIX: CONFLITO E ALTERIDADE

Mateus Barradas Teixeira1 Ronald Lopes de Oliveira2

Resumo: Em 1824, proveniente do processo da política de imigração realizada pela

Corte Imperial, se assentou na Vila de São João Batista de Nova Friburgo - localizada

nos Sertões do Leste Fluminense - um grande número de imigrantes germânicos de

origem luterana que, acompanhados pelo seu pastor Frederich Oswald Sauerbronn dão

início a uma comunidade. Originalmente composta por portugueses e imigrantes suíços

majoritariamente Católicos, a Vila de São João Batista de Nova Friburgo passou a

conviver com elementos culturais não provenientes da estrutura cultural hegemônica

baseada no catolicismo. O objetivo desta comunicação é analisar cinco enterramentos

nos anos 20 do século XIX, permeados por conflitos religiosos entre católicos e

luteranos, bem como relações de alteridade entre calvinistas de origem suíça e luteranos

de origem germânica.

Palavras-chave: enterramento, alteridade, conflito, religião, protestantes, Nova

Friburgo.

Abstract: In 1824, as a result of the process of immigration policy conducted by the

Imperial Court, settled in the Vila São João Batista of Nova Friburgo, located in the

Barrens East Fluminense, a huge number of German immigrants of Lutheran origin,

accompanied by his pastor Frederich Oswald Sauerbronn started a community.

Originally composed by Portuguese and Swiss immigrants, mostly Catholics, the Vila

São João Batista of Nova Friburgo started experiencing cultural elements not from

hegemonic cultural structure based on Catholicism. The objective of this work is

analyze five burials in the 20s of XIX century, permeated by religious conflicts between

1 Graduado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. [email protected] 2 Graduado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

[email protected]

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Catholics and Lutherans, as well as relations of alterity between Calvinists of Swiss

origin and German Lutherans.

Key-words: burial, alterity, conflict, religion, protestant, Nova Friburgo.

O povoamento e interiorização dos Sertões do leste Fluminense

O que comumente se tem chamado por “Vale do Paraíba”, ou seja, o espaço em

que se localizam as terras banhadas pelo Rio do Paraíba do Sul e que compreende parte

do leste do estado do de São Paulo e o oeste do Rio de Janeiro, é considerado como uma

construção histórica, um espaço socialmente construído e que, portanto, varia no tempo.

Por essa razão, o seu espaço deve ser compreendido não somente por uma base

territorial, mas, sobretudo pensá-lo como fruto de relações que são estabelecidas e

vivenciadas pelos agentes que interagiam nesse espaço. 3

Até século XVIII, os “Sertões do Leste” ou “Sertões do Macacu”, como era

chamado uma parte do Vale do Paraíba, uma região que envolvia a zona da Mata

Mineira e o centro-norte do Estado do Rio de Janeiro, era considerada proibida, pois

assim, evitaria o contrabando de ouro por essas terras. 4 Composta pelas áreas que hoje

inclui os municípios atuais de Teresópolis, Sapucaia, Nova Friburgo, Sumidouro, Duas

Barras, Carmo, Bom Jardim, Cordeiro, Macuco, Cantagalo, Trajano de Morais, São

Sebastião do Alto, Itaocara, São Fidélis, Três Rios, Santa Maria Madalena, São José do

Vale do Rio Preto e parte de Petrópolis, era o lar dos chamados “índios brabos” 5 e de

alguns quilombos. 6

A partir de 1770, essa região foi penetrada e escassamente povoada pelas

incursões de um contrabandista de ouro alcunhado de “Mão de luva”, que teria fundado

um arraial, atraindo a vinda de diversos aventureiros e faiscadores mineiros pelo vale de

Macacu. A partir de 1786, com a prisão de “Mão de Luva”, a escassez de ouro, além do

3MUAZE, Mariana. O Vale do Paraíba Fluminense e a dinâmica Imperial p. 295. Disponível em

http://www.institutocidadeviva.org.br/inventarios/sistema/wp-content/uploads/2010/12/15_mariana_muaze.pdf

4 MAYER, J. M. Raízes e crise do mundo caipira: o caso de Nova Friburgo. 2003. 564 f. Tese (Doutorado em História Social) – Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2003. p 100.

5Idem, p. 107.

6Idem, p. 112.

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desinteresse do governo de Minas Gerais 7 pelas terras, foi ocupada a região do entorno

e distribuídas sesmarias a todos que possuíssem 12 ou mais escravos e quisessem

garimpar ou plantar. 8

Como parte da política de imigração de Dom João VI, voltada para a

interiorização e consolidação do território brasileiro, foi autorizada o estabelecimento de

uma colônia nessa região, por um decreto em 1818, comportando cerca de cem famílias

agrícolas e um número suficiente de carpinteiros, curtidores, tecelões, marceneiros e

pedreiros que vieram por uma companhia de Emigração dos cantões de Friburg, na

Suíça. Os gastos com a viagem seriam ressarcidos e os imigrantes teriam abrigo,

cuidados médicos, 160 réis diários no primeiro ano e 80 no segundo, sementes, animais,

ferramentas e lotes de terra. 9

Para esse projeto, foi comprada a fazenda do Morro Queimado, que pertencia ao

Distrito de Cantagalo. Era composta por quatro sesmarias, totalizando duas léguas de

testada por três fundos, e foi adquirida por vinte vezes o seu valor e a infertilidade do

solo foi omitida na transação. A partir daí, foram edificadas 100 casas provisórias,

pontes, ruas, estradas, a casa do inspetor, depósito de víveres e utensílios, moinhos,

fornos, enfermaria, botica e quartel de polícia. Com a primeira légua, foram demarcados

120 lotes. A metade da outra légua destinou-se à criação da vila de Nova Friburgo e na

outra metade foi construída a fazenda São João do Ribeirão, que permaneceu sob o

proveito da coroa. 10

A região escolhida para a montagem da colônia que viria a ser a Vila de Nova

Friburgo tinha características físicas consideradas dificultosas para erigir esse

empreendimento: o relevo montanhoso coberto pela realidade florestal, além do clima

frio que não favoreceria o cultivo de café e a sua localização em uma cadeia de serras

com vales fragmentados que integram a chamada “Serra do mar”, que viria a ser um

ponto importante para a transposição da serra rumo a Cantagalo e a Minas Gerais. 11

7Idem.

8 FRIDMAN, Fania. Cartografia fluminense no Brasil Imperial. In: I Simpósio de Cartografia Histórica,

2011.Paraty,p. 14. 9Idem.

10Idem.

11 MAYER, J. M. Raízes e crise do mundo caipira, p. 118.

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Além da morfologia, a região estava bem provida de águas que orientariam a

direção do povoamento, tais como a micro-bacia do rio Bengalas, formada pelo junção

dos rios Cônego e Santo Antônio; a bacia do Rio Grande que é um dos maiores

afluentes do Paraíba e nasce a oeste de Nova Friburgo, formando diversos riachos; além

da Bacia do Macaé, que nasce no atual distrito de Lumiar e recebe afluentes entre os

quais o Rio das Flores, o Boa Esperança e o Bonito que deságua no Oceano Atlântico. 12

Dessa forma, Nova Friburgo começa a ser edificada dentro de um contexto

maior, o Vale do Paraíba fluminense, em que a partir dos fins do século XVIII, segundo

Muaze, foi se transformando de uma região com grandes quantidades de matas virgens

ou parcamente povoadas, territórios de tribos diversas, em imensos e modernos cafezais,

passando de lugar pouco explorado a centro econômico do império. 13

A partir de 1814, Cantagalo passa de distrito para vila e, em 1820, é a vez de

Nova Friburgo. 14 Para Fridman, a vila é uma unidade administrativa que articula a

produção, a circulação e o consumo a partir de estradas que ligavam distantes

localidades a partir da integração das oligarquias. Dessa forma, as vilas seriam núcleos

urbanos baseados em rede de centros com uma unidade política e econômica que

influenciaria e controlaria assim o processo de urbanização. 15

Para a autora, a política e a administração eram voltadas para a relação entre

centro e periferia, ou seja, há uma articulação indizível entre as políticas administrativas

do centro e a maior ou menor autonomia das vilas no que tange a essas duas questões. A

constituição de 1824 dividiu o Brasil em províncias que eram administradas por um

presidente nomeado pelo Imperador, mas este não era a única autoridade, pois as

câmaras de vereadores foram mantidas e a elas era atribuídos o governo econômico e

político da determinada região, mas a hegemonia do campo político estava circunscrita

aos interesses dos grandes proprietários rurais. 16

A Lei 276 de 5 de fevereiro de 1826 ordenou o estabelecimento de um núcleo

colonial em cada município da província do Rio de Janeiro e a Lei Provincial 226 de 30

12

Idem, pag 120. 13 MUAZE, Mariana. Op.Cit., p. 297. 14 FRIDMAN, Fania. Op.Cit.,p. 14. 15

Idem, p. 9. 16

Idem, p. 10.

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de maio de 1840 discorria sobre a organização de colônias agrícolas e industriosas,

através de contrato com empresários ou companhias sob diversas condições, tais como:

a garantia de terras próximas as cidades, vilas ou povoados aos colonos, 4 anos de

isenção de foro e de pagamento de qualquer serviço publico, isenção de 10 anos de

impostos provinciais, não seriam admitidos escravos, entre outras disposições. 17

Com o Ato Adicional de 1834, os conselhos gerais das províncias se

transformaram em Assembleias Legislativas provinciais e assim conseguiram uma

maior autonomia mesmo que relativa, pois poderiam a partir daquele ano deliberar

sobre a divisão civil, eclesiástica e judiciária das províncias e mudar as suas capitais

sem consultar outras instâncias. 18 O processo de expansão territorial não se limitava a

algumas áreas nas terras fluminenses, mas cobria todo o território da província, uma vez

que se articulava em torno da produção cafeeira, mas tendo um ritmo próprio de

relações comerciais locais, ou seja, um mercado regional fundamentado através da

divisão de trabalho e das economias de escala. 19

A Vila de São João Batista de Nova Friburgo após a chegada dos imigrantes

alemães e o convívio com os imigrantes suíços.

Em 1824, os imigrantes alemães saem da Armação da Praia Grande em Niterói e

seguem rumo à Nova Friburgo em um número de aproximadamente 300. Para

conseguirem chegar até a Vila, foi necessária a reconstrução da estrada que dava acesso

ao local e a reforma das habitações semi destruídas com uma verba enviada para os

reparos imediatos e para dar subsídios de igual valor aos Suíços. Os imigrantes alemães

não conseguiram pousar em postos de registros da serra, pois estes estavam danificados,

então pousaram em fazendas particulares, como a do Coronel Ferreira, onde ficava o

17

Idem, p.13. 18

Idem, p. 11. 19

Idem.

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trecho mais íngreme de todo o trajeto chegando a Nova Friburgo, foram então, depois

que chegaram na sede da Vila, alojados nas casas da Praça da Justiça. 20

É importante lembrar que a vila de Nova Friburgo foi escolhida para ser ocupada

pelos imigrantes alemães devido à necessidade de expansão territorial, a proximidade da

região a coroa e também a necessidade de ocupação das terras abandonadas pelos

imigrantes suíços.

De acordo com o relatório enviado por Monsenhor Miranda a Quévrémont sobre

os lotes abandonados pelos suíços que deveriam agora passar para as mãos dos alemães,

a situação era a seguinte: dos trinta e cinco lotes, 13 eram inadequados para a produção

agrícola, 11 tinham como proprietários órfãos e soldados a serviço do Regimento

Estrangeiro, 8 eram de colonos que não haviam renunciado seu direito de posse e

apenas 3 estavam em condições para serem concedidos, embora tivessem sido

requisitados pelos colonos suíços. 21 As terras em posse dos órfãos e soldados poderiam

ser repassadas para os alemães, mas demorariam mais tempo para que isso acontecesse. 22

Para evitar que a mesma dispersão que ocorreu com os suíços se abatesse sobre

os alemães, no dia 28 de julho de 1824, Monsenhor Miranda relatou ao governo a

situação das casas na Vila de Nova Friburgo e sugeriu as seguintes providências, que

foram aprovadas: as casas se destinariam somente a moradia, os moradores pagariam

1$600 mensais para o Cofre da colônia (excetuando o médico, o vigário e do chefe de

polícia), os imigrantes seriam obrigados a observar as medidas da polícia para a

conservação das casas, o diretor da colônia examinaria mensalmente as casas, o Tesouro

Nacional adiantaria a quantidade necessária caso o Cofre da Vila não tivesse os

subsídios necessários para a manutenção das casas e era de responsabilidade do diretor

da Colônia a execução de todas essas medidas. 23

20 ARAÚJO, R. J.; MAYER, M. J. (Org.). Teia Serrana: Formação Histórica de Nova Friburgo. Rio de

Janeiro: Editora Ao Livro técnico, 1999. p. 56

21

Idem, 57. 22

Idem. 23 SOUZA, José Antônio Soares de. Os colonos de Schaeffer em Nova Friburgo. Revista do IHGB. Rio de Janeiro: 1976, vol 310. p. 168.

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As áreas que eram mais férteis, com uma localidade melhor, e não tivesse

impedimentos foram então demarcadas (com certa lentidão por conta das chuvas) por

Luís Francisco das Chagas, sargento de artilharia montada a serviço de Monsenhor

Miranda, pela portaria de 20 de setembro de 1824, e depois foram distribuídas, mas não

em número suficiente. 24 Segundo Souza, existiam terras devolutas no sul da Vila e nos

sertões de Macaé e muitas famílias foram, portanto, acomodadas também nessa região e

cada imigrante recebeu 62 braças de terra (cerca de 300 metros quadrados). 25 Logo

após a distribuição de terras, houve diversas reclamações sobre a coincidência das

posses dessas áreas. Isso aconteceu, por exemplo, com o lote 88, que mesmo não sendo

nada cultivado ali, não foi oficialmente renunciado e era de posse do helvético Lutolf,

que se queixou da entrega de suas terras ao alemão Guttermann. 26

Dessa forma, mesmo que existissem mais cuidados na preparação da Vila para a

chegada dos novos imigrantes, podemos perceber que a situação encontrada foi bem

distante daquela combinada com o Major Schaeffer e os muitos males que se abateram

aos imigrantes helvéticos também iriam se abater aos alemães, seja pelos problemas das

terras, seja por ter que pagar quantias aos cofres da colônia, ao invés de receber os

subsídios por completo, dentre outras questões.

Contudo, não existiam somente tensões entre os suíços e os alemães, mas

também relações de trocas comerciais, pois muitos dos primeiros achavam que fariam

bons negócios, pois poderiam trocar seus campos, produtos ou ferramentas em moeda

local e depois investir em atividades mais rentáveis e com maior segurança para além

das terras pouco férteis da região. Além disso, alguns colonos pagaram suas viagens no

intuito de empreender melhores condições de vida, o que significa que nem todos eles

eram de fato pobres e com isso poderiam fazer essas trocas comerciais com os suíços

que ali residiam. 27

Tanto no caso dos imigrantes suíços, como no caso dos imigrantes alemães, a

posse de meios monetários definiu o sucesso ou insucesso daqueles que ficaram na Vila.

Segundo Laforet, o suíço Jean Gauthieu com pouco dinheiro, conseguiu ampliar sua

24

Idem, 169. 25

Idem. 26 LAFORET, C. R. M. Op.Cit., p. 58. 27

Idem.

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lavoura de milho, feijão e café em um terreno arrendado no lote número 15 conseguindo

assim prosperar. Também nos indica o caso do moleiro alemão, Balthazar Grieb, que

arrendou parte do lote 4 do suíço Johanes Werner obtendo subsistência para sua mulher

e seus filhos, além de prosperar com a venda de produtos agrícolas e a criação de

animais. 28 A partir de 1840, a Vila de Nova Friburgo começou a expandir as fazendas

de café em suas áreas adjacentes, mas também na sede, devido à conjuntura da

economia fluminense que, a partir de 1821 se assentava na produção do café. Na

segunda metade do século XIX, Nova Friburgo se beneficiou com a área de trânsito das

tropas que transportavam o produto e definindo assim o seu papel econômico, ou seja,

de produzir outros gêneros em complemento à economia cafeeira alocando a produção

nas áreas adjacentes. 29

Nesse contexto, há uma dinâmica na economia e infraestrutura da Vila e, em

1840, o Barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, construiu uma casa na Vila e

os seus filhos: Bernardo Clemente Pinto Sobrinho (segundo Barão de Nova Friburgo) e

Antônio Clemente Pinto filho (Barão de São Clemente), construíram o chalé do Parque

São Clemente e um pavilhão de casa. O Barão de Duas Barras também construiu sua

casa na Vila. Seguindo o exemplo dos Barões; Manoel Antônio Jordão, próspero

cafeicultor, investiu também na Vila criando um teatro e com isso atraiu a chegada de

artistas e da elite que subiam a serra para participar dos concertos, o que Lisboa vai

conceituar como “esplendor do café”. 30 A partir da década de 70, a Vila de Nova

Friburgo passou a ter ampla diversidade profissional, com hospedarias, bares, bilhares e

outros serviços típicos de centros urbanos. Também foram construídos os hotéis como

Leuenroth, Engert, Central e Salusse. Tudo indica que essas construções foram feitas

devido à demanda de pessoas que subiam a serra para se tratar ao “evitar a canícula da

corte” e também foi criado um estabelecimento hidroterápico no centro da Vila. 31

Dessa forma, podemos levantar uma análise sobre a mudança da conjuntura da

Vila. Ou seja, passa de um projeto de imigração fracassado para a abundância

econômica e política, em profundo contato com a dinâmica Imperial. Partindo do

28

Idem, p. 61. 29 LISBOA, E. C. ARAÚJO. Op.Cit., p. 95. 30

Idem, p. 96. 31

Idem.

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pressuposto que a Vila de São João Batista de Nova Friburgo estava inserida em um

contexto maior e não compreendida, portanto, como um “projeto inovador”, podemos

pensar que três foram os fatores que contribuíram para essa expansão a partir de 1840: a

expansão do café no Vale do Paraíba, a rápida dispersão dos imigrantes pelas terras

mais produtivas adjacentes a Vila e a posição geográfica em que ela ficava como

“ponte” para a circulação do café.

A constituição de 1824 e os limites da liberdade religiosa no Brasil

Para entendermos a relação entre Igreja e estado no Brasil imperial, temos que

observar que essas duas dimensões estavam unidas sob o conceito de Cristandade. Por

Cristandade, entende-se um sistema de relações entre a Igreja e o Estado em uma

determinada cultura e sociedade, perpassando por diversas modalidades desde a sua

criação em 313 e que, a partir do século XIII, é chamada pela historiografia de

“Cristandade Constantiniana”32.

O Estado Imperial, herdeiro do padroado colonial, considerava o aparelho

eclesiástico indispensável para a sua legitimação e também manutenção de poder, além

de homogeneizar os padrões e comportamento da população. Dessa forma, podemos

dizer que o estado imperial manteve uma ambiguiade entre o projeto conservador e sua

ideologia com elementos liberais. Essa situação é demonstrada por Dom Pedro I ter

reinado pela “aclamação dos povos” (12 de outubro de 1822) e com uma sagração (1 de

dezembro de 1822), pela soberania popular e pela graça de Deus33.

A carta de 1824 que foi outorgada por Dom Pedro I incorporou o Padroado.

Nesse sentido, no artigo 5, por exemplo, estabelecia que a religião católica continuaria a

ser a religião do Estado e que os outros cultos só seriam exercidos de forma privada.

Sendo assim, no artigo 102 versava sobre a obrigação do imperador nomear os bispos e

conceder ou recusar placet aos documentos da cúria romana. Portanto, podemos

32 GOMES, F. J. S. Cristandade Medieval: entre mito e a utopia. In: Topoi, Rio de Janeiro, dezembro, 2002.p. 221. 33 GOMES, F. J. S. De súdito a cidadão: os católicos no império e na república. In: Anais do XIX

Simpósio Nacional de História – ANPUH. Belo Horizonte, junho 1997. p. 316.

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aprofundar essa ambiguiade dita acima, pois o império consideraria os brasileiros

simultaneamente súditos e cidadãos34. Assim o Estado imperial permaneceu tentando

conciliar autoritarismo e liberalismo, jurisdicionalismo confessional e tolerância

religiosa, esfera pública e privada, estatuto de súdito e de cidadão, gerando conflitos

nessas instâncias contraditórias, incluindo aí os eclesiásticos partidários do

Ultramontanismo e os partidários do Regalismo35.

A partir do Segundo Reinado, o Estado imperial começou a dissociar o

liberalismo do regalismo, na tentativa de ser ainda mais conservador e colocar a Igreja

como subserviente a seu poder. Sendo assim, ao governo cabia reconhecer que o poder

religioso estava nas mãos do clero, mas o poder eclesiástico estaria nas mãos do rei, da

mesma forma, respeitava-se o poder temporal do Imperador, mas a autoridade máxima

para os assuntos da fé e eclesiásticos era o Sumo Pontífice romano, fazendo então um

balanço entre as duas linhas eclesiásticas da época, Ultamontanismo e Regalismo36.

O panorama religioso católico e protestante nos Sertões do leste Fluminense

Desde o século XVIII mesmo assentados escassos contingentes humanos

espalhados por diversas fazendas nesse espaço, já se tem notícias sobre a presença de

líderes católicos nessa localidade, sobretudo jesuítas que, segundo Pedro, foram os

primeiros a retirarem ouro nos Sertões do leste e ter atividade missionária, mais

precisamente na região de Cantagalo, famosa por ser área de contrabando de ouro e ao

sul, na região de Cachoeiras de Macacu37.

Segundo Fridman, uma freguesia é a menor unidade administrativa, com cerca

de dez casas e algumas famílias, submetidas à administração espiritual e governamental

de um cura. É sustentado por dízimos da Ordem de Cristo ali arrecadados, seu espaço

34 Idem, p. 317. 35 Idem. 36 OLIVEIRA, A.J.M. Os Bispos e os Leigos: Reforma Católica e Irmandades no Rio de janeiro Imperial. In: Revista de História Regional 6(1), Verão 2001, p. 148. 37 PEDRO, J. C. A Igreja Católica: Fé e Poder na Freguesia de São João Batista de Nova Friburgo. In: ARAÚJO, R. J.; MAYER, M. J. (Org.). Teia Serrana: Formação Histórica de Nova Friburgo. Rio de Janeiro: Editora Ao Livro técnico, 1999. p. 113.

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delimitado a partir de um alvará e sua institucionalização é iniciada com a criação de

uma paróquia. Dessa forma, podemos situar seu povoamento e os caminhos que

ligavam a outras vilas e demais espaços de organização imperial38.

Com o advento da política Joanina de colonização para fins de integralização

territorial no início do século XIX e a crescente produção de café, houve a ampliação do

número de freguesias que, de 1801-1836, se estabeleceram 16 paróquias em diversas

áreas de produção e distribuição do café. De 1835 a meados do século XIX, 30

freguesias são edificadas e na segunda metade do século XIX, mais 54 delas foram

criadas nas regiões do médio Vale do rio Paraíba, na região serrana, no noroeste e norte

fluminense, ou seja, o mesmo número de paróquias erguidas nos três séculos anteriores

na mesma região.39

Nesse sentido, para cuidar dos serviços religiosos da Freguesia de São João

Batista de Nova Friburgo, dois foram os curas que vieram para a região com a

imigração Suíça, Monsenhor Joye e padre Abbey, mas o ultimo acabou morrendo

afogado quando foi banhar-se no rio Macacu40. De acordo com Fluck, Jacques Joye foi

ordenado padre em 14 de maio de 1812 e foi escolhido, em 1819, como sacerdote para

os suíços que imigrariam ao Brasil pelo Bispo de Lausanne e era do partido

Ultramontano41. A Freguesia de São João Batista foi criada anteriormente à chegada dos

imigrantes suíços como se pode observar nas “condições para a vinda dos Suíços”,

38FRIDMAN, F. Cartografia fluminense no Brasil Imperial, p. 6. 39 Idem, p.8. As freguesias até o início do século XIX são: S. Tiago de Inhaúma, N. Sra do Loretode Jacarepaguá, N. Sra d’Apresentação de Irajá, S. João Batista de Trairaponga (Meriti), N. Sra do Desterro de Campo Grande, S. Salvador do Mundo de Guaratiba, N. Sra da Guia do Mangaratiba, N. Sra dos Rmédios de Parati, N. Sra da Conceição da Ilha Grande, S. João Marcos, N. Sra da Conceição do Campo Alegre, S. Francisco Xavier de Itagoahy, N. Sra da Conceição do Marapicú, Santo Antônio de Jacutinga, N. Sra do Pilar de Iguaçú, N. Sra da Conceição do Alferes, Santa (sacra) família o Tinguá, N. Sra da Conceição de São Pedro e São Paulo, N. Sra da Piedade de Inhomirim, N. Sra d’Ajuda da Ilha do Governador, N. Sra da Guia do Pacobaíba, S. Nicolau de Suruhy, N. Sra da Piedade de Magé, N. Sra da Ajuda de Aguapehy-merim, Santo Antônio de Sá de Casarabú, Santíssima Trindade, N. Sra do Desterro de Itambhy, S. Gonçalo de Guaxandiba, S. Lourenço da Aldeia dos índios, S. João Batista de Carahy, N. Sra do Amparo de Maricá, N. Sra de Nazaré de Saquarema, S. Sebastião de Araruana, N. Sra da Conceição de Iguaba, S. Pedro da Aldeia, N. Sra da Assunção de Cabo Frio, Sacra Família de Ipuca, Santíssimo Sacramento do Cantagalo, Sto Antônio de Guarulhos, S. Salvador, S. Gonçalo de Campos e São João da Barra. 40 NICOULIN, Martin. A gênese de Nova Friburgo: Emigração e colonização suíça no Brasil (1817-1827). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1995. p.263 41 FLUCK, R, Marlon. A abertura dos portos brasileiros e a implantação do protestantismo permanente no Brasil: as versões contraditórias sobre o seu primeiro pastor. In Revista Brasileira de História das

Religiões. Maringá, V, n.15, jan/2013. p. 5.

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documento responsável por tal criação, em que a sua organização e funcionamento eram

regidas, conforme a política de Padroado Régio, pelo Estado Imperial42.

É importante ressaltar que Monsenhor Joye, pároco da Vila, recebeu do bispo de

Niterói, devido à enorme distância com a Corte, diversos “poderes extraordinários” pela

portaria de 17 de abril de 1820, tais como: absolver todos os casos reservados ao

bispado, fazer todas as bênçãos reservadas que não necessitassem do uso dos óleos

sagrados, aplicar a indulgência plenária na hora da morte, estender o amparo da

Desobriga da quaresma até o Espírito Santo, habilitar os cônjuges impedidos e atuar

como juiz de casamentos43.

Ou seja, a hierarquia católica na Freguesia estava munida de poderes

extraordinários somente concedidos em circunstancias normais ao bispo. Além disso,

havia uma interação entre a Corte e a Freguesia nas figuras de Monsenhor Miranda e de

Monsenhor Joye no que tange à organização eclesiástica e social dos imigrantes, na

tentativa de garantir que a constituição de 1824 fosse seguida e a hegemonia do campo

religioso ficasse sob a ótica Católica.

A religião protestante, desde a imigração realizada por Gachet, estava presente

em Nova Friburgo, pois, como dito anteriormente no capítulo 3, cerca de 190 Suíços,

contrariando o contrato de imigração, eram protestantes Calvinistas. De acordo com

Jaccourd, em 1819 houve uma parada em Dordretch, na Holanda, antes de os navios

embarcarem para o Rio de Janeiro, os Suíços entraram em contato com o pastor C.C

Merkus dessa cidade, que ficou responsável pelas tarefas religiosas desses imigrantes

até o embarque, deixando-os frequentar seu templo e, além disso, decidiu criar uma

comissão de nome “College de Survaillance”, composto por sete imigrantes e com uma

hierarquia definida: um presidente, quatro vice-presidentes e um secretário44.

Portanto, não podemos dizer que a religião protestante em Nova Friburgo existiu

somente após a chegada dos imigrantes alemães em 1824, ou seja, existia uma

organização que tinha hierarquia própria e também um objetivo: se organizar de modo

42 PEDRO, J. C. A Igreja Católica: Fé e Poder na Freguesia de São João Batista de Nova Friburgo. p.115. 43 Idem, p. 116. 44 JACCOURD, Rafael. História, contos e lendas de Nova Friburgo. Edição independente, 2007. p. 292.

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que o Estado Imperial concedesse maior liberdade de culto45. Dessa forma, o

protestantismo, antes da chegada dos alemães, estava organizado com uma estrutura não

representada por líderes oficiais como o clero Católico, mas isso não significa que não

houvesse alguma organização religiosa.

Contudo, coma chegada dos imigrantes alemães em 1824, uma comunidade

protestante de maioria luterana se instalou na Vila de Nova Friburgo sob a direção de

seu primeiro pastor, Friedrich Oswald Sauerbronn, que antes havia sido pároco em

Becherbach46. Ela se organizava na casa do pastor ou de algum fiel, de forma muito

precária, e não tinha, portanto, nenhum símbolo religioso que poderia indicara

existência de um culto ou um templo protestante.

Dessa forma, podemos perceber que existem duas esferas religiosas maiores no

que tange à organização religiosa na região uma disputa entre os católicos e

protestantes, de modo que o ultimo grupo é permeado por duas denominações religiosas

com doutrinas diferentes, os luteranos e os calvinistas. Sendo assim, depois de analisar

de forma ampla a formação dessas duas estruturas religiosas, é necessário investigar a

morte protestante como elemento de alteridade e tensão na Vila de São João Batista de

Nova Friburgo.

Alteridade e conflitos religiosos na Vila de São João Batista de Nova Friburgo a

partir de cinco enterramentos.

Sobre as questões relativas à morte protestante, Souza nos dá um importante

panorama desse acontecimento: ao desembarcar na Armação da Praia Grande a 14 de

janeiro de 1824, o Pastor Frederico Oswald Sauerbronn, estava acompanhado de sua

família constituída de 8 pessoas, e dentre elas, seu filho Peter que faleceu no dia 13 de

maio, quando na chegada a Freguesia de São João Batista de Nova Friburgo. De acordo

com os registros, em 20 de janeiro pediu autorização para o exercício de sua profissão e

no dia 22 foi concedida. Seus primeiros atos como pastor foi acompanhar 3

45 Idem. 46 MÜLLER, A. L. O começo do Protestantismo no Brasil: descrição da instalação da 1ª. Comunidade luterana no Brasil, p. 40.

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enterramentos de colonos ainda na Armação da Praia Grande. Em uma de suas cartas o

pastor disse “d´haranger les assistants em três courts termes” 47, ou seja, ajuntando

algumas pessoas ele pronunciou (discursou, falou alto) breves palavras (palavras

curtas).

Não sabemos ao certo se os três eram calvinistas ou luteranos, mesmo assim,

podemos analisar esse caso dentro da seguinte perspectiva: Sauerbronn legitima seu

poder enquanto líder protestante48, servindo como liderança tanto para luteranos, quanto

para calvinistas49.

Sobre o primeiro enterramento protestante na Vila, que gerou conflito entre o

pastor e Joyer, em uma carta enviada para a sua família no ano seguinte à sua chegada,

o pastor Sauerbronn afirmaria que, no dia 17 de novembro de 1823, sua mulher entrou

em trabalho de parto e morreu após dar a luz a seu filho, Peter Leopold, no navio Argos,

que lhes trouxe para o Rio de Janeiro. Um mês após a chegada à colônia de Nova

Friburgo, outro desastre aconteceu: a morte de Peter, por disenteria50. Neste sentido, a

primeira celebração com a presença oficial do pastor, na Vila de Nova Friburgo, foi o

enterro de seu próprio filho; numa ação que daria origem à base do futuro cemitério dos

luteranos na localidade, pois a autoridade local, monsenhor Joye, recusou o

sepultamento de Peter fazendo com que o pastor buscasse outro espaço para sepultar seu

filho51.

Nesse sentido, não podemos garantir a existência de um conflito aberto entre os

dois líderes religiosos, pois até o momento não existem fontes que comprovam tal

questão, mas só pelo fato de o pastor luterano ver um membro de sua comunidade –

principalmente sendo seu própio filho – sendo excluído do “campo santo” católico e ter

criado um cemitério para o uso de protestantes, podemos caracterizar em um primeiro

momento como uma tensão religiosa, relativa a um importante ritual, que era o

sepultamento.

47 Arquivo Nacional cx 991 22-7-1824 Carta. 48

Em diversas fontes analisadas, o pastor Sauerbronn é intitulado “pastor protestante da colônia alemã”, não fazendo referência diretamente a sua matriz religiosa luterana. 49 Muitos calvinistas que abjuraram, logo após a chegada de Sauerbronn, voltaram para as fileiras do protestantismo e provavelmente, os cultos eram participados por Luteranos e Calvinistas. 50MÜLLER, A. L. Op.Cit. p.48 51 Idem.

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Mas é na realização do quinto enterro e o segundo a ser sepultado no mesmo

lugar de sepultamento de Peter Leopold, que se verifica no livro de óbitos da Igreja

Luterana o nome de Nicolas Bourchat. Para elucidar esse fato, acessaremos a carta52 de

Sauerbronn datada de 22 de julho endereçada ao diretor da Colônia Francisco de Salles

Ferreira de Souza:

“O Senhor Vigário Católico diz mais em suas queixas, que eu transgredi o Art. 5º. Da Constituição, por ocasião do enterro do falecido Nicolas Bourchat, protestante. A verdade é esta: eu mesmo e outras pessoas de nossa crença fomos procurar o corpo do falecido em sua moradia e o transportamos, no maior silêncio, para o cemitério ordinário, destinado aos protestantes, e situado a quarto de légua da floresta. Ao chegar a cova, contentei-me em dizer aos assistentes algumas breves palavras. Procedi por três vezes, pelo mesmo modo, quando ainda estávamos na Armação”

Na carta, Sauerbronn diz que achou-o em sua moradia e transportou o corpo de

Nicolas Bourchat juntamente com outros da comunidade. Fizeram o transporte em

silencio para o cemitério ordinário situado a um quarto de légua da floresta e

pronunciou breves palavras. Como se verifica, Sauerbronn se defendeu de uma

acusação feita por padre Joyer que emitiu um documento ao diretor da colônia

acusando-o de ter feito o referido sepultamento com ostentação e infringido o art. 5º. da

Constituição e art 179 parágrafo 5º. Como se verifica nos documentos, a convivência

entre os dois religiosos fora mediada por tensões, porém sempre permeadas pela

tentativa de apaziguamento por parte do governo brasileiro.53

Mas é justamente neste enterro de Nicolas Bourchat54 que reside não só a

questão de conflitos entre os dois vigários, mas também a representação da morte para

Sauerbronn e as pessoas de sua crença. É preciso então, identificar quem era Nicolas

Bourchat já que esse nome não é encontrado na lista de passageiros dos navios Argus e

52 Arquivo Nacional cx 991 24-7-1824. 53 Biblioteca Nacional Seção de Manuscritos II-34, 22, 21 no. 7. Portaria 18-8-1824 Manuscrito 54 Há um erro de grafia no livro de óbito da Igreja Luterana, pois ao mencionar o nome Porchat em alemão o “po” em francês tem o som de “bou” em alemão.

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Caroline, fornecidos por Meyer55, mas é encontrado no livro de óbitos da Igreja

Luterana.56

Nesse sentido, o senhor Nicolas já se encontrava em terras friburguenses antes

da chegada da imigração luterana de 1824, investigando nessa linha de raciocínio

verificar-se-á que o mesmo encontra-se na imigração de 1819 de maioria suíça.

Henrique Bon nos fornece preciosas informações sobre ele, vejamos: antigo militar,

sem passaporte, natural de Vaud, protestante calvinista e vice-presidente do “College de

Surveillance”. O capitão-adjunto Jean Nicolas Porchat, vitimado por cólera, foi um dos

poucos colonos a viajar no Trajan57, talvez encarregado da vigilância das bagagens ou

das pessoas que se recuperam de moléstias contraídas no insalubre acampamento

holandês. Líder de sua família agrícola em Nova Friburgo, abandonou ele a gleba 21

em favor da 104, e que também deixaria esta última como a maioria dos colonos a ela

destinada. Nesta ultima, então, a partir de 1825 seriam instalados os germânicos

Heinrich Peter Nanz e Hanz Hennic. 58

Há de se notar que trata-se de um homem de renome, porém o que chama a

atenção é o “cargo de vice-presidente do College de Survillance”. Essa comissão fora

formada para representar a minoria calvinista durante a estada dos colonos em

Dordrechat, na Holanda como parada obrigatória durante as viagens de imigração de

1819. Mas como se deu essa comissão? Dois fatos irão estruturar o grupo calvinista

diluído em mais de 1800 católicos: ao fim desta estada na Holanda, Brémond lhes

anuncia que no Brasil, serão obrigados a educar os filhos na fé católica e o encontro do 55 Conrad Mayer, que veio no navio Argus, fazendo parte do primeiro grupamento de imigrantes alemães luteranos e que chegou ao Rio a 13/01/1824. Dizia ele:"O navio enfrentou longos temporais que inutilizaram seus mastros obrigando a um retorno ao porto de Texel, onde 26 colonos homens, mulheres e crianças fugiram a um novo embarque." O navio fizera também escalas. Foi o próprio Meyer quem descreve que a segunda partida foi pior que a primeira, eles cruzaram o Canal da Mancha e por causa dos ventos pararam em Cowes na Ilha Wiglot. Quando decidiram partir, já na terceira vez, furacões empurram o navio para a Baia de Biscaia e mais tarde nas Costas de Mandrágoras na África e só depois que chegaram a Tenerife (Santa Cruz). Meyer prestará informações personalizadas e agrupadas em três listas que foram feitas minuciosamente e que nos dão uma visão mais exata sobre esses colonos enviados por Schaeffer. Esta lista pode ser verificado em: SOUZA, José Antônio Soares de. Os colonos de Schaeffer em Nova Friburgo. Revista IHGB, 1976, Jan/mar, vol 310, p. 126 56 MÜLLER, Armindo L. O começo do Protestantismo no Brasil: descrição da instalação da 1ª. Comunidade. luterana no Brasil, Rio de Janeiro: Edições Estadunidense. p. 92 57 Um dos sete navios que vieram durante a chamada “Imigração Suiça” 58 BON, Henrique. Imigrantes - A saga do Primeiro Movimento Migratório Organizado rumo ao Brasil às portas da Independência. Ed. Imagem Virtual, 2004. pp. 292.

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grupo calvinista de um missionário chamado C. C. Merkus, ministro da igreja da

Valônia em Dordrechat.

O pastor Merkus preside cultos dos protestantes no seu templo, instrui também

as crianças na doutrina calvinista, lança a ideia de um agrupamento comunitário e lhes

propõem elaborar um estatuto. Em uma sexta-feira, 20 de outubro de 1819, às 5 horas

da tarde, os colonos suíços foram à igreja francesa onde o pastor apresenta seu projeto.

Os suíços discutiram e aceitaram por unanimidade. Depois, elegeu-se um colegiado de

Fiscalização com seis membros escolhidos pela pluralidade de votos. No domingo, 22

de agosto, houve uma nova assembleia dos protestantes no templo e Merkus pregou,

depois distribuiu a Eucaristia às crianças que ele instruiu e dá, a elas e aos pais, 35

bíblias e igual número de livros de orações e sermões. Mas foi nesse dia que os

protestantes registraram por escrito a forma que deram a sua comunidade. Foi por esse

documento que criaram o “College de Servillance”. Seus membros consistiam em:

Coronel de Luternau, presidente, de Berna, de 46 anos; capitão-adjunto Nicolas

Porchat, vice-presidente, de Vaud; major Amédée de Sinner, de Berna; Pierre Davoine,

de Neuchâtel; Jean-Pierre Régamay e Henry Moliez, professores, de Vaud; e

finalmente, Louis Duport, secretário, de Vaud. Segundo informações dados por Sinner,

essa comunidade contava com 190 pessoas. 59

Acontece que, logo que esses colonos chegaram à freguesia de Nova Friburgo o

movimento sofreu um arrefecimento após o falecimento de seu presidente, Jean de

Luternau. Em 18 de janeiro de 1820, tendo em vista também que o Pastor Merkus,

apesar de estar interessado em imigrar, não fora com eles. Após esse impacto, não

encontramos vestígios da atuação do “College” mesmo após a chegada da comissão

sem seu presidente. Além disso, Monsenhor Miranda reuniu o grupo calvinista no dia

28 de março de 1820 e avisou-os de não tolerar não “hereges” em seus domínios e disse

ainda que o compromisso assumido por eles, quando ainda na Holanda, diante do Pastor

Merkus deveria ser esquecido. Após esse discurso, 14 pessoas abjuraram de imediato

59 AEB: Auswanderung nach Brasilien. Carta de Sinnere de 5 de novembro de 1819, no. 405. In: NICOULIN, Martin. A Gênese de Nova Friburgo. Fundação Biblioteca Nacional, 1995

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assinando o termo previamente feito pelo padre Joyer e que consta “de livre e

espontânea vontade”. 60

No dia 23 de abril, ocorreram os sorteios dos lotes agrícolas e foi dado o

conhecimento a todos de que o bispo do Rio de Janeiro havia permitidos ao padre Joyer

aceitar a renuncia dos colonos ao Protestantismo e consequente adesão ao Catolicismo.

Na oportunidade, cerca de 30 calvinistas trocaram de religião. Mesmo sofrendo tão

grande pressão, a maior parte dos reformadores conservou-se fiel a seus princípios

religiosos, um deles é Nicolas Porchat.

Portanto, o pastor luterano Sauerbronn em 22 de junho de 1824 fez o

sepultamento do senhor capitão “Bourchat” calvinista no próximo do túmulo de seu

filho. Essa atitude do pastor Sauerbonn constitui em si alteridade 61, pois utilizou um

espaço luterano e acompanhou o ritual com prédicas próprias de sua matriz religiosa.

Ou seja, com base nessas considerações, podemos perceber que, por alguns

momentos, as diferenças religiosas que separavam esses dois grupos (luteranos e

calvinistas) podem ser anuladas mediante a morte, como sendo capaz de provocar

atitudes de identificação, diferentemente de outros momentos ocorridos na zona de

contato entre indivíduos de culturas diferentes.

Diante disso, com base nos estudos de Eric Seeman, acreditamos que a morte

pode se constituir um patamar interessante de reflexão sobre as relações entre culturas e

nacionalidades no século XIX.62 A morte é dotada de uma noção simbólica e ritualística

nas comunidades cristãs, e que extravasa o aspecto biológico da morte a um nível

cultural por meio de noções, práticas e representações. 63

60 JOCCOUD, Raphael Luiz de Siqueira. A Vez dos Alemães: As dificuldades na velha Europa. In: JOCCOUD, Raphael Luiz de Siqueira. História, Contos e Lendas da Velha Nova Friburgo. 3ª. Edição, Revisada e Ampliada, Rio de Janeiro: Editora Múltipla Cultural, 2008. 61 Alteridade aqui é usada a partir do conceito de Tzvetan Todorov, no que diz respeito à aproximação ou distanciamento daquilo que o outro presencia. Os outros em questão eram os germânicos/luteranos e os francês-alemão/calvinista. “adoto os valores do outro, identifico-me a ele; ou então assimilo o outro, impondo-lhe minha própria imagem” TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América. Lisboa: Litoral Edições, 1990. p. 223 62 SEEMAN, Erik R. Death in the New World: Cross Cultural encounters, 1492-1800. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. 2010. 63 CAMPOS, Adalgisa Arantes. Notas Sobre os rituais de morte na sociedade escravista. Revista do

Departamento de História da UFMG, n.6, p.109-22, 1988.

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Verifica-se, assim, que a morte se constitui em importante chave de

identificação dos contatos dos diferentes grupos, seja em termos das aproximações,

distâncias, negociações e/ou conflitos identificados no cotidiano das vivências

interculturais

Este caso do militar calvinista permite perceber como a natureza da alteridade

relacionada à morte poderia favorecer a aproximação de diferentes grupos cristãos, pela

natureza excepcional da morte e enterro cristãos como essenciais para a salvação da

alma64: o fim último para os cristãos de diferentes confissões, a se considerar suas

concepções escatológicas.

Por fim, a título de comparação, o sepultamento era um ritual tão importante

para um protestante quanto para um católico, ao ponto de, em Minas Gerais, na mesma

década, ter ocorrido o sepultamento de um minerador germânico que faleceu devido a

um acidente de trabalho no próprio terreno da empresa na qual trabalhava. O padre

negou o enterramento de um “herege” em solo sagrado e o reverendo Walsh, da Igreja

Anglicana que por ali passava, fez as prédicas, improvisou uma capela e saiu em

procissão até o túmulo, abri-o e abençoou o local, sendo visto e tendo atitude aprovada

por Luteranos, mas também de Católicos que chegaram depois65.

Fontes

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Arquivo Nacional cx 991 24-7-1824.

Arquivo Nacional cx 991 22-7-1824 - Carta.

Bibliografia

64

Há um caso semelhante na Freguesia de São João Del Rei/MG. Vide: RODRIGUES, C.; CORDEIRO, G. “E nós andamos em procissão até o túmulo”: sepultamentos estrangeiros e alteridade no Brasil do século XIX a partir dos relatos de Robert Walsh. In: Recôncavo: Revista de História da UNIABEU, v. 3, n5 , Julho-dezembro. 2013.

65RORIGUES, C.; CORDEIRO, G. “E nós andamos em procissão até o túmulo”: sepultamentos estrangeiros e alteridade no Brasil do século XIX a partir dos relatos de Robert Walsh. p. 17.

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