A Modernidade Das Cinco Leis de Ranganathan FIGUEIREDO

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ARTIGOS Nice Menezes de Figu eire do A modernidade das cinco leis de Ranganathan Resumo Relata-se o desenvolvimento dos conceitos filosófi cos/práticos embutidos nas cinco leis de Ranganathan, desde a sua enunciação até os dias de hoje, de acordo com um estudo comparativo da interpretação de vários autores na literatura internaci onal. Comprova-se a modernidade das leis, que até hoje ainda podem servir de fonte para o estabelecimento de uma filosofia para a Bibliotecono mia, de base para uma atuação eficiente do bibliotecário e corno elemento essencial para o processo de planejamento e avaliação de serviços e sistemas de informação de qualquer nível. Palavras-chave Ranganathan; Cinco leis da Biblioteconomia/Ranganathan. INTRODUÇÃO Na nossa carreira, 40 anos de exercício profissional, tivemos oport unida de de "ou- vir falar" de Shiyali Ramamritam Rangana- than desd e qua ndocursamo s agraduação em Biblioteconomia, nos idos da década de 50; este "ouvir falar" estendeu-se po r duas décadas, aproximadamente. O perío- do áureo do reconhecimento da importân- cia de Rangana than no Bra sil coinc idiu com a época em que trab alha mos como bibliotecária e docente na Universidade de Brasília, em nossa primeira temporada na Capital Federal, de 1964-68. Depois da- quele período, houve em "certo silêncio" em torno do pensador indiano, a literatura  o fa zia ta nt as me õe s aotrabalho de Ranganathan. Este "silêncio" se prolongou por uma década e meia. Entretanto, há uns 10 anos começou a surgir como que um renascimento do per- sonagem na literatura inglesa e americana. Na literatura indiana, porém, o nome, o pensam ento e ai nfluênciade Ra nga natha n sempre se mantiv eram presente s, através do tempo . Aq ui, vamo s tratar das cinco leis de Ra n- ganath an como são vistas e discutidas tanto na visão conceitual, quanto e princi- palmente nas questões de aplicações prá- ticas pela interpretação destas leis por vá- rios autor es da l iteratura i ntern acio nal. Recordando as cinco leis: 1. livros são para o uso ; 2. a cada leito r seu liv ro; 3. a cada livro seu l eitor , 4. economize o tem po do leitor ; 5. uma biblioteca é um organismo em crescimento. ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITU AIS DAS LEIS Segundo relata Mangla, professor indiano de New De lhi, Ra ngan athan teve oport uni- dade de visitar, em 192 5, mais de 100 b i- bliotecas inglesas em estágio diferenciado de desenvolvimento. Durante essas visi- tas, Ranganathan observou que o trabalho nessas bibliotecas era realizado como "um agregado de diversas práticas sem uma relação integral" 1 . Essas atividades exer- cidas na bas e da tentativa/erro, ou a adoção de regras costumeiras profunda- mente empíricas o levaram a buscar um fio condutor para as várias práticas, e o resul- tado foi a formulação das cinco leis. Es- sas leis forneceram-lhe a moldura concei- tuai para desenvolver diversos princípios normativos, cânones, técnicas, práticas etc., essenciais para a organização de bi- bliotecas e serviços, segundo linhas cien- tíficas 1 . Mangla conta ainda que Sayers, especia- lista inglê s em cl assificação, havia as sina- lado que "as cinco leis são um trabalho de grande simp licid ade qu e esconde profun- didade e, no entanto, revelam o que pode ser chamado de fontes espirituais, mas, ao mesmo tempo, práticas da atividade de Ranganathan" 1 . De acordo com Palmer, outro inglês espe- cialista em classif icação, am igo e segu i- dor, Ranga nath an considerava as cinco leis, cuja primeira edição saiu em 1931 , sua obra sem inal; quer dizer, com o se- mente dela se originaram outras obras: 60 livros, nas áreas de seleção, classificação, catalogação, referência, administração, documentação, legislação bibliotecária, além de ensino e diversas biografias 2 . As cinco leis, na verdade, são apenas de- clarações simples, ou enganosamente simples, como alerta Garfield 3 , ou ingê- nuas, como as classificam Rajagopolan e Rajan 4 , ainda são consideradas como princípios por Sebastião de Souza 5 . Se- gundo esta colocação, Souza acrescenta que , embo ra a Bibliotec onomia não possua até hoje um corpo definido de teorias e de leis, como as demais ciência s sociais, possui, contudo, princípios e teorias que fazem dela um a quase ciênc ia. Mas, pata ter um corpo d efin ido de teorias e leis –  como física, quím ica ou matemática –, a Biblioteconomia teria de se consolidar, e as leis de Ranganathan poderiam propiciar esta abordagem 5 . Esta mesma posição é tomada por Gar- field 3 , quando afirma que estas leis for- 186 Ci. Inf., Brasília, 21 (3): 186-19 1, set/dez. 19 92 .

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ARTIGOS

Nice Menezes de Figueiredo

A modernidadedas cinco leis deRanganathan

Resumo

Relata-se o desenvolvimento dos conceitos filosóficos/práticos embutidos nas cinco leis de Ranganathan, desde a sua enunciação até os dias de hoje, de acordo com um estudo comparativo da interpretação de vários autores na literatura internacional. Comprova-se a modernidade das leis, que até hoje ainda podem servir de fonte para o estabelecimento de uma filosofia para a Biblioteconomia, de base para uma atuação eficiente do bibliotecário e corno elemento essencial para o processo de planejamento e avaliação de serviços e sistemas de informação de qualquer nível.

Palavras-chave

Ranganathan; Cinco leis da 

Biblioteconomia/Ranganathan.

INTRODUÇÃO

Na nossa carreira, 40 anos de exercícioprofissional, tivemos oportunidade de "ou-vir falar" de Shiyali Ramamritam Rangana-than desde quando cursamos a graduação

em Biblioteconomia, nos idos da décadade 50; este "ouvir falar" estendeu-se porduas décadas, aproximadamente. O perío-do áureo do reconhecimento da importân-cia de Ranganathan no Brasil coincidiucom a época em que trabalhamos como

bibliotecária e docente na Universidade deBrasília, em nossa primeira temporada naCapital Federal, de 1964-68. Depois da-quele período, houve em "certo silêncio"em torno do pensador indiano, a literatura

 já não fazia tantas menções ao trabalho deRanganathan. Este "silêncio" se prolongoupor uma década e meia.

Entretanto, há uns 10 anos começou asurgir como que um renascimento do per-sonagem na literatura inglesa e americana.Na literatura indiana, porém, o nome, opensamento e a influência de Ranganathan

sempre se mantiveram presentes, atravésdo tempo.

Aqui, vamos tratar das cinco leis de Ran-

ganathan como são vistas e discutidastanto na visão conceitual, quanto e princi-palmente nas questões de aplicações prá-ticas pela interpretação destas leis por vá-rios autores da literatura internacional.

Recordando as cinco leis:

1. livros são para o uso;

2. a cada leitor seu livro;

3. a cada livro seu leitor,

4. economize o tempo do leitor;

5. uma biblioteca é um organismo emcrescimento.

ASPECTOS HISTÓRICOS ECONCEITUAIS DAS LEIS

Segundo relata Mangla, professor indianode New Delhi, Ranganathan teve oportuni-

dade de visitar, em 1925, mais de 100 bi-

bliotecas inglesas em estágio diferenciado

de desenvolvimento. Durante essas visi-tas, Ranganathan observou que o trabalhonessas bibliotecas era realizado como "umagregado de diversas práticas sem umarelação integral"1. Essas atividades exer-cidas na base da tentativa/erro, ou aadoção de regras costumeiras profunda-mente empíricas o levaram a buscar um fiocondutor para as várias práticas, e o resul-tado foi a formulação das cinco leis. Es-sas leis forneceram-lhe a moldura concei-tuai para desenvolver diversos princípiosnormativos, cânones, técnicas, práticas

etc., essenciais para a organização de bi-bliotecas e serviços, segundo linhas cien-tíficas

1.

Mangla conta ainda que Sayers, especia-lista inglês em classificação, havia assina-lado que "as cinco leis são um trabalho degrande simplicidade que esconde profun-didade e, no entanto, revelam o que podeser chamado de fontes espirituais, mas, aomesmo tempo, práticas da atividade deRanganathan"1.

De acordo com Palmer, outro inglês espe-cialista em classificação, amigo e segui-

dor, Ranganathan considerava as cincoleis, cuja primeira edição saiu em 1931,sua obra seminal; quer dizer, como se-

mente dela se originaram outras obras: 60livros, nas áreas de seleção, classificação,catalogação, referência, administração,documentação, legislação bibliotecária,além de ensino e diversas biografias2.

As cinco leis, na verdade, são apenas de-clarações simples, ou enganosamentesimples, como alerta Garfield3, ou ingê-nuas, como as classificam Rajagopolan eRajan4, ainda são consideradas como

princípios por Sebastião de Souza5. Se-gundo esta colocação, Souza acrescentaque, embora a Biblioteconomia não possuaaté hoje um corpo definido de teorias e deleis, como as demais ciências sociais, jápossui, contudo, princípios e teorias quefazem dela uma quase ciência. Mas, pata

ter um corpo definido de teorias e leis – 

como física, química ou matemática –, aBiblioteconomia teria de se consolidar, eas leis de Ranganathan poderiam propiciaresta abordagem5.

Esta mesma posição é tomada por Gar-

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, quando afirma que estas leis for-

186 Ci. Inf., Brasília, 21 (3): 186-191, set/dez. 1992.

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A modernidade das cinco leis do Ranganathan

necem princípios gerais dos quais todaprática bibliotecária pode ser deduzida erepresentam o primeiro passo para colocaro trabalho bibliotecário em base científica.Palmer confirma esta interpretação, afir-mando que as leis são declarações sim-ples, mas tão cheias de significado, quedelas se pode deduzir tudo o que se cha-ma de Biblioteconomia. Conclui dizendo

que foi o primeiro livro a tratar das razões

fundamentais para a Biblioteconomia;atraiu 21 recensões no período de doisanos e na segunda edição registrou maisnove2.

Rajagopolan e Rajan, autores indianos,acrescentam ao aspecto conceituai avisão prática, quando dizem, que as leis,embora simples e ingênuas têm profundi-dade de significado e conteúdo; nelas éproposta uma completa filosofia para a Bi-blioteconomia e são colocados objetivosdefinidos para o serviço bibliotecário4.Lancaster, por sua vez, agrega a este as-

pecto prático a observação de que as leissão declarações fundamentais para asmeias que os serviços de informação deveriam perseguir6.

VISÃO EVOLUTIVA ECOMPARATIVA DAS CINCO LEIS

Nas palavras de Palmer, as declaraçõesque se constituem nas cinco leis de Ran-

ganathan levam às mais variadas atitudese providências por parte das bibliotecas, afim de se modernizarem, ou seja, acessolivre, arranjo classificado nas estantes,catálogos, orientação interna, publicidadedas bibliotecas, disseminação da infor-mação, armazenamento e recuperação pormáquina e provisão de material não livro,

boa administração de bibliotecas e méto-dos para fazer frente ao que ele chama de"livros demais", através de esquemas decooperação, aquisição, provisão e arma-zenamento2.

Palmer apresenta a interpretação práticadas cinco leis, o que é também feito por

Garfield ao traduzi-las como "orientadaspara o serviço" (service oriented laws).

Garfield comenta que hoje em dia estas

leis parecem evidentes, mas certamentenão o eram quando da sua enunciação.Particularmente na índia, ele explica, entãouma colônia durante a vida de Rangana-than, as bibliotecas não eram das maisavançadas, não existindo ainda sistema debibliotecas públicas; as bibliotecas eramgeralmente ligadas a universidades e insti-tuições de pesquisa. Com as leis, na ver-

dade, Ranganathan proporcionou à índia edemais países em desenvolvimento aabertura para a tradição democrática dasbibliotecas, então privilégio dos EstadosUnidos e da Inglaterra, desde a última par-

te do século XIX.

Assim, na interpretação de Garfield, presi-dente do Institute of Scientific Informationde Filadélfia (ISl), a primeira lei – Livrossão para o uso – conduz naturalmente aum sistema de bibliotecas no qual elas selocalizam em pontos centrais, abrem porlongos horários, são mobiliadas de manei-ra hospitaleira e com corpo de pessoaltreinado, orientado à prestação de serviçoe adequadamente assalariado.

A segunda lei – A cada leitor seu livro – determina que as bibliotecas sirvam a to-dos os leitores, não importa a classe so-

cial, sexo, idade, ou qualquer outro fator.

A terceira lei – A cada livro seu leitor – es-tipula que para cada livro existe um leitor e

que os livros devem estar descritos nocatálogo, expostos de maneira a atrair osleitores e prontamente disponíveis. Esta leileva a práticas, tais como acesso livre, ar-ranjo coerente na estante, catálogo ade-quado e serviço de referência.

A quarta lei - Economize o tempo do leitor – enfatiza serviço eficiente, o que implicarápido sistema de empréstimo e guias defácil entendimento nas estantes. Esta leitem como corolário – Economize o tempodo bibliotecário –, o que requer o uso detécnicas e tecnologias que permitam aopessoal atuar de maneira eficiente.

A quinta lei – Uma biblioteca é um orga-nismo em crescimento – reconhece que ocrescimento que indubitavelmente ocorrerádeve ser planejado sistematicamente. As-sim, das acomodações físicas às práticasadministrativas, a biblioteca deve ser aber-ta, sempre pronta a se expandir3.

Para Lancaster6, as cinco leis são tão re-levantes hoje, como o foram há 60 anos;eis como ele as comenta:

A primeira, embora óbvia, nem sempre éseguida pelas bibliotecas, e o próprio Ran-ganathan deplorava o fato de que muitosbibliotecários pareciam mais preocupadoscom a preservação do que com o uso, as-sim perpetuando a imagem do bibliotecáriocomo um curador, mais do que a de al-

guém treinado na exploração dos recursosbibliográficos. A implicação clara desta lei,segundo Lancaster, é que se deve avaliarcoleções e serviços em termos das ne-cessidades dos usuários. Mais ainda, su-

gere que investigação objetiva, empírica,deve substituir abordagens subjetivas oupuramente impressionistas. (Conhecen-do-se a obra de Lancaster, sabe-se queele está se referindo a métodos, comoconsulta a fontes e coleções bibliográficase a especialistas, quando se refere à ava-liação de coleções com abordagens im-pressionistas; estes métodos devem ser

utilizados juntamente com os quantitativos

e também levar em consideração o usodas coleções).

Levada à sua conclusão lógica, a segundalei implica considerações de custo-eficá-cia. Assim, US$ 30 gastos em livros compouco ou nenhum uso são US$ 30 a me-nos para aquisição de item em demanda(possivelmente uma cópia duplicada).Lancaster insiste que, na operação de

serviços de informação, o "custo por uso"deve ser vital na decisão de quais itensacrescentar a uma coleção.

A implicação direta desse conceito é que"propriedade" ou posse de um item biblio-gráfico está se tornando cada vez menosimportante na avaliação dos recursos deum serviço de informação; o critério deavaliação é a "acessibilidade", de acordocom a pergunta: pode um serviço tornarum item acessível ao usuário no tempoadequado, de qualquer fonte e em qualquerformato aceitável?

Na visão de Lancaster, a segunda lei éuma expansão lógica da primeira. Assim,dados sobre os livros emprestados ouusados em uma biblioteca têm limitaçõesóbvias: refletem apenas sucesso e nadadizem sobre falhas, no sentido de que umlivro utilizado representa, de alguma ma-neira, um sucesso. Mas o grau de uso érelativamente sem sentido, a menos quese possa convertê-lo em "nível de satis-fação". Para isto, é necessário determinara probabilidade de que um usuário, nabusca de um item particular, ou de mate-riais sobre um certo assunto, encontre es-te item ou materiais disponíveis, no temponecessário. Isto resultaria em identificar,para tudo que for procurado, quanto resul-tou em sucesso e quanto não foi encontra-do (falha). Esta segunda lei então, confor-me Lancaster, vai além da avaliação dacoleção para a determinação da disponibi-lidade, pois não é bastante saber que umitem procurado por um usuário existe nacoleção: deve estar disponível quandoconveniente.

Lancaster se alonga esclarecendo que es-ta lei pode ser considerada como um rótulogenérico que na realidade significa "A cadaleitor o necessário". Acrescenta que esterótulo pode ser estendido a outros tipos denecessidades dos usuários, por exemplo,qual a probabilidade de o usuário terquestões fatuais de referência respondidasde maneira completa e correta.

A terceira lei é, então, um complemento dasegunda, já que, com relação a ela, o pa-pel da biblioteca é. relativamente passivo,mas as bibliotecas precisam ser insti-tuições dinâmicas. Para isto, uma funçãoimportante, salienta Lancaster, deve ser a

de tornar as pessoas cientes das novas

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A m odernidade das cinco leis de Ranganathan

publicações de possível interesse paraelas. Neste ponto, é introduzido o conceitode "exposição" como paralelo ao de aces-sibilidade, partindo do princípio de que opapel da biblioteca é servir de mediadoraentre os recursos informacionais univer-

sais e a sua comunidade particular. Seuobjetivo básico é expor aos usuários estesrecursos. Quanto maior a exposição, me-lhor a atuação da biblioteca; novamente,

enquanto acessibilidade denota uma atitu-de passiva, a exposição sugere algumacoisa mais dinâmica, como o fornecimentode serviço de disseminação seletiva da in-formação. Da mesma maneira, fazendoanalogia com as leis de Ranganathan, asegunda lei denota noção passiva – forne-ce serviços sob demanda – e a terceira,noção mais ativa, torna os recursos infor-macionais conhecidos dos usuários em

potencial. Em conseqüência, a quarta leiproporciona os recursos acessíveis damaneira mais conveniente aos usuários,enquanto a primeira implica o conceito dabiblioteca como a interface entre os usuá-rios e os recursos informacionais, deacordo com a interpretação de Lancaster.

Portanto, o significado desta terceira lei êque os livros precisam encontrar seususuários potenciais, da mesma maneiraque os usuários precisam encontrar os li-vros de que necessitam. Pode-se dizer,então, que para cada item adquirido (ou,logicamente, para cada item publicado)existem leitores em potencial na comuni-dade. Assim, conclui Lancaster, pode-seavaliar uma biblioteca do ponto de vista dosucesso em informar aos usuários sobre

os materiais novos adquiridos; se for pro-duzindo listas bibliográficas, quão dissemi-

nada é esta lista? É generalizada ou dirigi-da a grupos especializados de assuntos,ou com interesses particulares? É distri-buída a audiências que mais se benefi-ciarão com as bibliografias? No caso dedisseminação seletiva da informação, ba-seia-se a avaliação do sucesso nos se-guintes critérios:

1. Quanto do que foi levado ao conheci-mento do usuário é realmente relevanteaos seus interesses?

2. Quanto do que é relevante era previa-mente desconhecido pelos usuários?

3. Qual a proporção de itens levados aoseu conhecimento que o usuário pedepara consultar?

A quarta lei permeia as outras, pois servi-ços de informação devem se preocuparnão somente em satisfazer as necessida-des dos usuários, mas em satisfazê-los damaneira mais eficiente. Essa lei, esclareceLancaster, tem ligação direta com o con-ceito de acessibilidade, segundo o qual, a

acessibilidade do serviço de informação éa maior determinante do seu uso: muitagente pode julgar o serviço como "ina-cessível", se requer muito esforço parauso. É a conhecida "lei de Mooers", formu-lada há mais de 30 anos e aceita inteira-

mente até hoje.

Nesta quarta lei, Lancaster argumenta queé um erro dos serviços de informação

considerar o tempo do usuário como sefosse livre ou sem ônus, porém o tempodispendido para usar material da bibliotecapoderia ser utilizado de outras maneiras,talvez até mais produtivas. Segundo ele, ocusto de se fazer uso de publicações (ler)excede grandemente o de produzi-las;analogamente, o custo de usar a bibliotecaexcede grandemente o custo da coleção,do pessoal, das instalações. Esta ava-

liação, finaliza Lancaster, é particularmenteimportante em análises de custo-eficácia,custo-benefício; não incluir o custo dotempo do usuário em avaliações de servi-ços de informação pode levar a con-clusões bastante errôneas.

A quinta lei indica, segundo Lancaster, quea biblioteca deve estar preparada para seadaptar a novas condições, inclusiveadaptação a desenvolvimentos sociais etecnológicos. Do ponto de vista da ava-liação do serviço de informação, isto impli-ca examinar quanto tempo a biblioteca levapara adotar inovação, inclusive de novosformatos de publicação e novas formas dedistribuição da informação. As modernastecnologias da telecomunicação têm in-fluência direta neste aspecto, renovando a

importância do acesso, em contraposiçãoà posse da informação. Outros aspectossalientados por Lancaster no que diz res-peito esta lei de Ranganathan, são con-cernentes à habilidade da biblioteca emcapitalizar a tecnologia, para melhorar oprocesso da administração; também, a ha-bilidade de explorar tecnologia para proverserviços não anteriormente possíveis etc.Finalmente, de acordo com a interpretaçãode Lancaster desta quinta lei, a bibliotecadeve mostrar habilidade para se adaptaràs necessidades mutáveis da clientela deusuários e às necessidades potenciaisdos ainda não usuários. Somente assim, abiblioteca pode ser caracterizada como umorganismo em crescimento, e esta quintalei fornece a justificativa para atividades deavaliação6.

No seu texto, Lancaster cita um artigo deLine, de 1979, que expressa as cinco leisde forma bastante pessoal, "mais ou me-nos diametricamente oposta como enun-ciadas por Ranganathan". Fazendo plenouso de seu humor britânico, irônico e

sarcástico, Line assim formula as leis:

1. livros são para colecionar;

2. a alguns leitores seus livros;

3. a alguns livros seus leitores;

4. desperdice o tempo do leitor;

5. a biblioteca é um mausoléu em cresci-mento.

Lancaster não deixa de concordar com Li-ne em alguns aspectos, dizendo que du-rante muitos anos as bibliotecas operaramem um meio ambiente sem avaliação obje-tiva onde se supunha que o serviço seriasatisfatório, se reclamações sérias nãofossem recebidas. Tal suposição erafreqüentemente errada, mas os bibliotecá-rios, sem medidas objetivas da atuaçãoprofissional, tornaram-se complacentes arespeito dos seus serviços.

McCarthy, bibliotecário inglês radicado háanos no Brasil, atualmente no Recife, con-forme citado por Sebastião Souza, assimanalisou as leis:

No princípio expresso pela primeira lei,está implícito "o conceito da universalidade

da informação e, conseqüentemente, aobrigatoriedade de o bibliotecário levar a

informação a todas as camadas sociais",do pesquisador ao analfabeto. Outroprincípio aqui inserido é que "a bibliotecadeve ser o reduto de cultura e liberdade".Assim, deve ter horário de funcionamentocondizente e evitar normas restritivas eburocráticas que possam limitar o acessoà informação.

Na segunda lei, está o princípio de for-necer informação correta e fazer uso dadisseminação seletiva da informação,o requisito de o bibliotecário ter cultura

geral sólida para saber dar a cada usuárioa informação desejada, atender a todoscom imparcialidade, respeitando a pessoahumana.

A terceira lei faz restrição ao princípio an-terior, ressaltando que "nem tudo é paratodos". Ressalvados os direitos do usuárioà vida, à liberdade e à informação, o biblio-tecário deve atuar como um filtro entre ainformação e o usuário7. Deve, assim,respeitar os diferentes tipos de usuário, asdiferenças de idades e culturas, psicológi-cas, educacionais etc.

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A modernidade das cinco leis de Ranganathan

A quarta lei, segundo McCarthy, é típica deum pesquisador como o foi Ranganathan,pois ninguém gosta de esperar. Quantosleitores as bibliotecas já perderam porcausa de atitudes burocráticas e incompe-tentes de funcionários? É necessário des-burocratizar a biblioteca, tornando-a efi-ciente, eficaz e democrática.

A quinta lei, finalmente, confere à Bibliote-

conomia o seu caráter científico, "pois, sea ciência é a soma de tudo, a acumulação

do conhecimento e se a biblioteca, no seusentido mais geral, é algo que cresce, pro-gride, algo dinâmico, então temos aqui aprimeira lei da Biblioteconomia"5.

Rajagopalan e Rajan fizeram uma interpre-tação, em 1984, das leis de Ranganathanpara a Biblioteconomia, deduzindo, a partirdelas, o que chamam de "cinco leis daCiência da Informação", atualizando, alar-gando e aprofundando os conceitos ante-riores. Mas o ponto de maior importância erelevância desta reinterpretação é que ascinco leis são centralizadas no uso e nousuário da informação. Observam os auto-res que esta reestruturação das leis seenquadra perfeitamente no pensamentoatual do desenvolvimento de modernosserviços e sistemas de informação, e paraisto reescreveram as leis como segue:

1. a informação é para o uso;

2. a cada usuário sua informação;

3. cada informação a seu usuário;

4. economize o tempo do usuário – e oseu corolário: economize o tempo doscientistas da informação;

5. um sistema de informação é um orga-nismo em crescimento.

Os autores analisam detalhadamente cadauma das leis; assim a primeira lei compre-ende toda uma série de processos detransferência de informação, partindo doreconhecimento de que informação é umrecurso básico e que transforma outrosrecursos naturais em produtos úteis. Sen-

do um recurso de tal importância, deve seracoplado, explorado e utilizado a fim de darorigem a benefícios plenos. O papel da in-formação no desenvolvimento nacional épercebido nesta lei4. Envolve toda uma sé-rie de atividade? dos padrões físicos dosmateriais às mais complexas e sofistica-das operações e serviços, cobrindo a apli-cação de comunicação por satélites e re-des de computador4.

A segunda lei sugere que as necessidadesde informação dos usuários devem ser sa-tisfeitas em seus requisitos específicos.

Para isso, é necessária a organização de

serviços e sistemas de informação, emque haja revocação e precisão na provisãode informação, e em que os usuários se-

 jam considerados como o foco do plane- jamento e da operação dos serviços/sis-temas de informação. Os estudos deusuários têm atraído grande atenção doscientistas da informação de especialistasem administração de psicólogos e outros etrouxeram luz sobre necessidades de in-

formação de usuários, e de quais serviçossão requeridos para atendê-los. Muitos re-sultados úteis foram extraídos desses es-tudos e estão sendo aplicados nos proje-tos de serviços/sistemas de informação.Mas, concluem os autores indianos, aindasão necessárias investigações numerosassobre uso da informação e o comporta-mento de pessoas que atuam em contex-tos variados, pois a maioria dos estudosrealizados até agora foi no meio ambienteacadêmico e de pesquisa4.

A terceira lei conduz à idéia de que infor-

mação criada/gerada deve ser dirigida pa-ra os usuários, ou a recapitulação da frasefamiliar: informação certa para o usuáriocerto. Cada elo, na cadeia de transferênciada informação, do nível de geração ao deutilização deve ser envolvido; a implicaçãoé que marketing  e promoção do uso da in-formação são atividades afinadas com me-tas e ética profissional4. Segundo os auto-res, o dinamismo da informação colocarádesafios para que sejam inventados novosprodutos e serviços. A organização deserviços de informação para fazer frentea requisitos específicos é, na verdade,o ponto crucial do manejo da informação,e é da responsabilidade básica dos espe-cialistas da informação constantementeinovar produtos e serviços, concluem osautores4.

A quarta lei traz o imperativo de desenvol-ver mecanismos para que o fluxo da infor-mação assegure a maior rapidez e eficá-cia. Neste contexto, a moderna tecnologiada informação, que ajuda a eliminar a de-mora e aumenta a eficácia, assume im-portância4. Esta lei insiste na rapidez,acuidade, atualidade e qualidade no forne-cimento da informação. Informação não

fornecida a tempo perde o valor; serviçosem linha, interativos, ligados através deuma variedade de redes de comunicação eestações de distribuição de documentosatendem os usuários instantaneamente,onde quer que eles estejam. Em todos es-tes desenvolvimentos, o esforço tem sidoassegurar rápida transmissão de infor-mação. Segundo os autores, esta lei temimplicação visivelmente direta com a quali-dade da mão-de-obra para o serviço de in-formação, que deve ser capacitada para li-dar com situações desafiadoras suscita-das pelo avanço da tecnologia. Também

importante, finalizam, é desenvolver pro-

gramas regulares de treinamento de usuá-rios para que a informação seja utilizadade maneira competente e na ocasião cer-ta4.

A quinta lei prescreve uma abordagemsistêmica para o desenvolvimento de insti-tuições de informação, com um mecanis-mo auto-adaptador para a natureza dinâ-mica do universo da informação. Estudos

futurísticos apontam para uma nova socie-dade da informação, em que instituiçõesque manejam informação determinarão opadrão de pesquisa e do progresso dahumanidade4. Os autores declaram que adinâmica da informação está totalmente re-fletida nesta quinta lei. O sempre crescen-te e mutante universo do conhecimento é ofator maior no planejamento e desenvolvi-mento de sistemas de informação. Assim,são visualizados nesta lei crescimento edesenvolvimento do universo do conheci-mento, impacto do volume e variedade dasfontes de informação, implicações paraos sistemas de recuperação, diversida-de crescente das necessidades de infor-mação e nos tipos de instituições de in-formação que surgem. Nos países avan-çados, concluem, a indústria da infor-mação começa a dar mais atenção aosserviços de informação especializada, di-recionados especificamente aos requisitosdos usuários4.

CONSIDERAÇÕESE OBSERVAÇÕES FINAIS

Observou-se, no desenvolvimento deste

trabalho, a afirmação feita no artigo dos au-tores indianos de que as cinco leis de Ran-ganathan "têm modernidade e são bastan-te flexíveis para envolver diretrizes de no-vos padrões de crescimento e desenvol-vimento da informação"4. Foi, portanto,exatamente o que se pôde registrar nosdemais textos da revisão realizada.

Verifica-se, a partir do artigo de Palmer, de1969, que a interpretação feita por ele dascinco leis é ainda bastante modesta e limi-tada, mas corresponde à situação das bi-

bliotecas como eram em geral, há mais de

20 anos. Embora afirmando que as "cincoleis levam às mais variadas atitudes e pro-vidências por parte das bibliotecas, a fimde se modernizarem", propõe como medi-das mais avançadas: disseminação da in-formação, utilização de máquina para ar-mazenamento e recuperação e esquemascooperativos, que representavam, semdúvida, os avanços possíveis naqueleperíodo.

Já o texto de Garfield, publicado em 1985na Herald of Library Science, mas ori-

ginalmente publicado noCurrent Contents,

n-  6, de 1984, como resultado de via-

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A m odern idade das cinco leis de Ranganathan

gem do presidente do ISI pela índia, expli-ca o porquê das recomendações aparen-temente obsoletas, pois que as cinco leisforam dirigidas à situação das bibliotecasnaquele país e, por extensão, aos demaispaíses em desenvolvimento. Assim sendo,Garfield não aprofundou também a sua in-terpretação das cinco leis embora a tenhafeito 15 anos após Palmer. Garfield regis-tra somente as recomendações diferen-

ciadas das de Palmer, quais sejam, a quesalienta como sendo importante um corpode pessoal orientado à prestação de servi-ço, bem treinado, e a existência de umserviço de referência. É o primeiro, por suavez, a se referir a um corolário para aquarta lei – Economize o tempo do corpodo pessoal – e, para isto, recomenda aadoção de "técnicas e tecnologias quepermitam atuação eficiente": uma interpre-tação mais atualizada.

A interpretação da quinta lei, conformeGarfield, ao reconhecer que "o crescimen-

to inevitável deve ser planejado sistemati-camente", abre margem à discussão, jáque modernamente existem os princípiosde crescimento zero, e de coleções está-veis, podendo chocar-se, de certa manei-ra, com esta interpretação. Contudo, comonão houve maior explicação por parte deGarfield, pode-se também supor que "estecrescimento planejado sistematicamente"se refira a estes preceitos modernos deadministração de coleções.

A interpretação de McCarthy é uma visãosintética, bem colocada das cinco leis,apresentando para cada uma delas reco-mendações adequadas.

Na verdade, somente quando nos defron-tamos com os textos de Lancaster e deRajagopalan e Rajan é que encontramosinterpretação atualizada e de acordo comos padrões modernos da organização dainformação. Assim, os autores indianosprescrevem uma abordagem sistêmica pa-ra esta quinta lei, prevendo o "semprecrescente e mutante universo do conheci-mento", para o que é necessário o estabe-lecimento de "serviços de informação es-pecializada para atender requisitos especí-

ficos dos usuários"; introduzem, assim,uma diretriz corrente para interpretar "or-ganismo em crescimento" como enunciadopor Ranganathan.

Quanto a Lancaster, paralelamente com osindianos, apresentou também uma inter-pretação ampla e atual desta quinta lei, li-gando-a a "necessidades mutáveis declientela de usuários" cujo estudo e con-seqüente adaptação aos resultados obti-dos caracteriza a biblioteca-sistema de in-formação como o organismo em cresci-mento preconizado por Ranganathan.

E interessante observar que, enquantoLancaster adotou as cinco leis como crité-rios básicos para a avaliação de serviçosde informação, desde o seu texto clássicode 1977: Measurement and evaluation of 

library services, e seguiu nesta linha empublicações mais recentes6, 8, os indianosas utilizaram como arcabouço de estudosconceituais sobre uso e usuários da infor-mação. Esses estudos, por sua vez, e deacordo com Rajagopalan e Rajan, servemcomo elemento essencial para o processode planejamento de sistemas e serviçosde informação de qualquer nível. Já o pro-fessor Mangla interpretou as cinco leiscomo uma contribuição ao ensino e pes-quisa na área da Biblioteconomia e Ciênciada Informação.

Lancaster, então, inspirou-se nas leis paraa colocação dos conceitos modernos dedisponibilidade, acessibilidade e exposiçãodos recursos informacionais, entrelaçan-do-os com as quatro primeiras leis, de ma-

neira adequada e brilhante. Já a interpre-tação de Rajagopalan e Rajan tem o as-pecto peculiar e oposto à de Lancaster,que manteve a enunciação original comoproposta por Ranganathan, enquanto osautores indianos, além de terem reescritoas cinco leis, fizeram adaptação à linhamoderna da Ciência da Informação, dizen-do que "estas cinco leis se adequam admi-ravelmente ao pensamento atual do de-senvolvimento de modernos sistemas eserviços de informação"4. Com esta abor-dagem também concorda Mangla, quandodiz que "uma moldura mais generalizada

da Ciência da Informação pode ser facil-mente derivada das cinco leis com a mu-dança de dois parâmetros básicos: "livros"por informação e "leitor" por usuário"1.

O artigo dos autores indianos tambémapoia a abordagem filosófica das cinco leiscomo pretendida por Souza na sua disser-tação de mestrado e expressa no artigo ci-tado, discutindo os "fundamentos filosófi-cos da Biblioteconomia", conforme foi de-

monstrado na parte inicial deste trabalho.

Assim também Garfield, quando diz que"estas leis fornecem ps princípios geraisdos quais toda a prática bibliotecária podeser deduzida", e Palmer, quando assinalouque "foi o primeiro livro a tratar das razõesfundamentais para a Biblioteconomia".

Finalmente, os autores indianos salientama importância da qualidade dos recursoshumanos necessários para os serviços deinformação "com capacidade para lidarcom situações desafiadoras trazidas peloavanço da tecnologia". De certa maneira,atualizaram a visão de Garfield, que faloude "corpo de pessoal bem treinado, orien-tado à prestação de serviço". Pode-semencionar também o dito por McCarthy

quanto ao bibliotecário "ter cultura sólida

para saber dar a cada usuário a infor-mação desejada". Foram os únicos aapontar o requisito de treinamento deusuários, tendência modernamente aceitacomo necessária para o uso competenteda informação disponível.

Resta comentar a versão de Line às cincoleis como citadas por Lancaster6 e que dizrespeito aos resultados de um estudo deuso realizado na Biblioteca da Universida-

de de Pittsburgh, em 1979, o qual revelouum alto nível de falhas. É um estudo con-trovertido, cujos resultados foram poste-riormente rebatidos pelos órgãos res-ponsáveis da universidade, contudo resul-tados semelhantes apareceram e conti-nuam surgindo na literatura. O que se sabehoje em dia é que, ha verdade, existe umaenorme subutilização das bibliotecas emgeral, particularmente nos países em de-senvolvimento.

Embora irônicas, como ditadas por Line,

as leis têm muito da realidade atual, princi-palmente nos países em desenvolvimento.Mas há que se dizer que, mesmo nos paí-ses desenvolvidos, como revelam investi-gações sérias e avaliações rotineiras deserviços e coleções, as falhas ainda exis-tem, contradizendo as cinco leis de Ran-ganathan: desde talvez a mais antiga quese pôde registrar e lamentada ainda pelopróprio Ranganathan: a dos bibliotecáriosque agem mais como curadores do que"como alguém treinado na exploração dosrecursos bibliográficos". Investigaçõesatuais mostram resultados de avaliação de

serviços de referência que apontam parauma "norma da metade certa" (half rignt rule), isto é, 50% de probabilidade de osusuários obterem respostas completas ecorretas às questões propostas. É baixa aprobabilidade, também apontada em inú-meras pesquisas, de o usuário conseguirda biblioteca a obra que deseja, no mo-mento em que dela necessita.

Se tais resultados reportam-se ao uso de

bibliotecas em países desenvolvidos, oque se dizer dos resultados de estudosque fossem feitos neste país? Não se tem

a pretensão de responder aqui a estaquestão, mas é sabida a precariedade naqual ainda funciona a maioria de biblio-tecas brasileiras – semelhante talvez emmuito àquelas bibliotecas indianas às quaisRanganathan tencionou dirigir as suas cin-co leis. É o alto nível de subutilização des-tas bibliotecas em geral, no país, devido àsua precariedade? Ou a precariedade édevida à falta de demanda, que não as le-vam a uma melhor atuação? Novamente,não vai se tentar responder aqui a estasquestões fundamentais, que exigiriamanos de pesquisas.

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A mo dernidade das cinco leis de Ranganathan

O que importa é que muita desta precarie-dade e subutilização são devidas a fatoresque envolvem o próprio comportamento eatuação dos bibliotecários, além, é lógico,

dos sempre mencionados problemas/bar-reiras de ordem sócio-político-econômico-cultural... Como educadores, formadores

de bibliotecários – ou como querem os

nossos colegas internacionais – profissio-nais da informação –, cabe-nos alertar pa-

ra a inadiável necessidade de mudança depostura e atuação perante a profissão ea sociedade que os bibliotecários têm derealizar.

E nada mais adequado, como base paraesta mudança, ainda e após 60 anos, afilosofia e a visão prática preconizadasnas cinco leis de Ranganathan. Moderni-zadas, como indicado pela revisão da lite-ratura, elas demonstram como atingir umaatuação profissional eficiente e oferecemos meios para se fazer frente às novassituações criadas petas mudanças sociaise tecnológicas que a profissão terá de

enfrentar, mais cedo ou mais tarde, nes-te país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. MANGLA, P.B., Research in library andinformation science and the contribution ofRanganathan. Education for information,n.2, p.267-82, 1984.

2. PALMER, B.I., Ranganathan, the man and hisworks: view through a bibliography. Library Science, v.3, n.3, p.273-288, Sept 1969.

3. GARFIELD, E., Father of Library Science in

India: a tribute to S.R. Ranganathan.Herald of Library Science, v.24, n.3, p.151-64, July1985.p.153-154.

4. RAJAGOPALAN. J.S., RAJAN, T.N. Use of in-formation in science and research with em-phasis on national development some In-dian experiences. International Forum on In- formation and Documentation, v.9, n.3,p.3-9,1984.

5. SOUZA, S. de. Fundamentos filosóficos daBiblioteconomia Revista de Biblioteconomia de Brasília; v.9, n.2, p. 189-196, jul./dez.1986.

6. LANCASTER, F,W. If you w ant to evaluate your library..., London, Library Association(c1988). p.8-12.

7. ORTEGA y GASSET. Obras completas. Ma-drid: Espasa – Calpe, 1943, v.2,p.1.297-1.322.

8. LANCASTER, F.W., MEHROTRA, R. The fivelaws of library science as a guide to theevaluation of libraiy services. In: Perspective in Library and Information Sciences, v.1,p.26-39, Lucknow, Print House, 1982.

Artigo aceito para publicação em 20 de novembro de 1992.

Nice Menezes de Figueiredo

Bibliotecária, doutora em Biblioteconomia pelaState University, Flórida, Estados Unidos, pesqui-sadora titular do CNPq/IBICT, professora do Cursode Mestrado em Ciência da Informação da Escolade Comunicação da Universidade Federal do Riode Janeira.

The contemporaneousness ofRanganathan's five laws

Abstract

Developme nt of the ph ilosophical and practical concepts of Ranganathan's "five laws" is described, in a comparative study ot these laws as interpreted by international authors in the literature.It is praved the contemporaneousness of these "five laws" that can still be use d for the establishment of a philosophy for library science as a basis for an efficiet performance of librarians and as the essential element for the processes of planning and evaluation of services and information systems at any level.

Key words

Ranganathan; Five laws of Library Science/Ranganathan.

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