A modalidade blended learning como caminho para atender a heterogeneidade dos estilos de aprendizgem

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A MODALIDADE BLENDED LEARNING COMO CAMINHO PARA ATENDER A HETEROGENEIDADE DOS ESTILOS DE APRENDIZGEM Prof. Me. Everton Luiz Renaud de Paula Trabalho final do curso de especialização em Gestão, Inovação e Docência na Educação a Distância, com orientação da Profa. Luciene Iahn

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Verifica se a modalidade blendend learning é uma reposta eficaz para o desafio de ensinar na heterogeneidade de perfis de aprendizagem, observando a relação com as inteligências múltiplas de Howard Gardner. A população de pesquisa é composta por 208 alunos da graduação no Ensino Superior em uma disciplina realizada em modalidade blended onde se constatou um volume elevado perfis predominantes entre as inteligências cinestésica, espacial e interpessoal. Com cunho qualitativo e explicativo e se desenvolve com análise documental, revisão bibliográfica e observação. A sustentação teórica é oriunda da sistematização de Marshal McLuhan (2007) e Pierre Levy (1999), em conjunto com Maria Luiza Beloni (2010), João Mattar (2014) e Andrea Filatro (2012). Celso Antunes (2008) contribui com a sistematização da visão das inteligências múltiplas na sala de aula.

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A MODALIDADE BLENDED

LEARNING COMO CAMINHO

PARA ATENDER A

HETEROGENEIDADE DOS

ESTILOS DE APRENDIZGEM Prof. Me. Everton Luiz Renaud de Paula

Trabalho final do curso de especialização em Gestão, Inovação e Docência na Educação a

Distância, com orientação da Profa. Luciene Iahn

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Prof. Me. Everton Luiz Renaud de Paula

RESUMO

Esta pesquisa tem o objetivo de verificar se a modalidade blendend learning é uma reposta eficaz para o desafio de ensinar na heterogeneidade de perfis de aprendizagem, observando a relação com as inteligências múltiplas de Howard Gardner. A população de pesquisa é composta por 208 alunos da graduação no Ensino Superior em uma disciplina realizada em modalidade blended onde se constatou um volume elevado perfis predominantes entre as inteligências cinestésica, espacial e interpessoal. A pesquisa é de cunho qualitativo e explicativo e se desenvolve com análise documental, revisão bibliográfica e observação. A sustentação teórica é oriunda da sistematização de Marshal McLuhan (2007) e Pierre Levy (1999), em conjunto com Maria Luiza Beloni (2010), João Mattar (2014) e Andrea Filatro (2012). Celso Antunes (2008) contribui com a sistematização da visão das inteligências múltiplas na sala de aula. A pesquisa pode comprovar que a modalidade blended learning é uma alternativa para promover a aprendizagem diante da heterogeneidade dos estilos de aprendizagem, integrando sala de aula e espaços online, mas que é desafiador para o professor, para os alunos e para as instituições. Requer uma nova postura docente, uma nova mentalidade institucional e uma tomada de consciência do seu papel por parte do aluno.

ABSTRACT

This research aims to verify if the blendend learning mode is an effective way to the challenge of teaching through heterogeneity of learning profiles, observing the relationship with the multiple intelligences of Howard Gardner. The population of survey consists of 208 undergraduate students in higher education in a discipline held in blended mode where it was found a high volume predominant profiles between kinesthetic, spatial and interpersonal intelligences. The research is qualitative and explanatory nature and develops with document analysis, literature review and observation. The theoretical support comes from the systematization of Marshall McLuhan (2007) and Pierre Levy (1999), together with Maria Luiza Beloni (2010), John Mattar (2014) and Andrea Filatro (2012). Celso Antunes (2008) contributes to the systematic vision of multiple intelligences in the classroom. The research may explain that the blended learning mode is an alternative to promote learning on the diversity of learning styles, integrating classroom and online spaces, but that is challenging for the teacher, for students and for institutions. It requires a new teaching position, a new institutional mindset and an awareness of their role by the student.

Palavras-chave: aprendizagem,

blended learning,

inteligência múltiplas,

novas metodologias.

Keywords: learning,

blended learning,

multiple intelligence,

new methodologies.

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Sumário

Palavras-chave: ....................................................................................................................... 1

Introdução .................................................................................................................................... 4

HIPÓTESES ................................................................................................................................ 5

Objetivos .................................................................................................................................. 5

Justificativa............................................................................................................................... 5

Breves considerações teóricas ................................................................................................. 6

A Modalidade Blended Learning .............................................................................................. 6

As inteligências múltiplas e a aprendizagem ........................................................................... 7

POPULAÇÃO E AMOSTRA ......................................................................................................... 9

INTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ...................................................................................... 9

Análise e discussões ................................................................................................................... 10

Conclusão ................................................................................................................................... 14

REFERENCIAS .............................................................................................................................. 16

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Introduçã o

Esta pesquisa investiga a modalidade de ensino blended no contexto de

uma disciplina de graduação no ensino superior. No cenário atual vivido na

sociedade os limites são cada vez mais efêmeros. O tempo, o espaço e as relações

são conceitos que estruturam de forma nova a sociedade e o ensino. Situamo-nos,

desta maneira, em um momento de novos paradigmas. O ensino também vive a

construção de um novo paradigma. Não é a escola a detentora magna do saber.

Não é o aluno tábula rasa que nada sabe e a quem será transmitido todo o

conhecimento determinado pelo currículo.

A forma de pensar em relação ao desenvolvimento da autonomia,

liberdade e formação cidadã difundida por Paulo Freire (1921-1997) é, em especial

hoje, um imperativo no modelo de formação educacional. A escola reconhece que

o estudante é um ser cheio de conhecimentos e possibilidades. As sistematizações

piagetianas (1869-1980) e vygotskyanas (1896-1934) formam contribuições

importantes na esteira do entendimento de um novo paradigma na educação.

Frente a estas grandes construções, o pedagogo Celéstin Freinet (1896-1966)

promoveu a aproximação, a partir do contexto francês, entre comunicação e

educação, ligando a comunicação de massa com a escola.

Diante das diversas transformações históricas e sociais, o Homem de hoje

está começando a entender de que maneira é possível promover a aprendizagem e

ensinar por diversos caminhos, acompanhando a conjuntura social que está se

estabelecendo. Não é a posse dos aparatos tecnológicos que faz a diferença. É a

construção de uma nova postura diante do ensino e de um novo modelo mental a

respeito da prática educativa.

A partir da realização do teste das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner

com alunos do Ensino Superior em uma disciplina realizada em modalidade blended

constatou-se um volume elevado de alunos cujo perfil predominante está entre as

inteligências cinestésica, espacial e interpessoal. Neste cenário, a questão

norteadora da pesquisa é como atender ao perfil destes alunos por meio da EAD. O

modelo blended learning se configura como uma resposta para a heterogeneidade

dos alunos em suas formas de aprender?

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HIPÓTESES

A modalidade blended learning é uma alternativa para promover a

aprendizagem diante da heterogeneidade dos estilos de

aprendizagem.

Utilizando a integração entre aprendizagens realizadas online e em

sala de aula os alunos utilizam suas inteligências predominantes em

momentos distintos e são desafiados em outros momentos a

aprender de maneiras diferentes.

A tomada de consciência acerca do perfil do aluno, tanto por parte

dele mesmo, quanto por parte do professor, pode fazer a diferença

na contextualização das atividades propostas na modalidade.

Objetivos

Geral

Analisar se há relação de inteligência predominante de um grupo de alunos com a

modalidade de ensino blended e se esta se apresenta como uma alternativa

adequada para as necessidades de aprendizagem.

Específicos

Relacionar a inteligência predominante de um grupo de alunos com a modalidade

de ensino blended.

Verificar se a relação da inteligência predominante de um grupo de alunos com a

modalidade de ensino blended se apresenta como uma alternativa adequada para

as necessidades de aprendizagem.

Descrever as atividades realizadas em disciplinas na modalidade blended e

comparar com as inteligências múltiplas.

Justificativa

A aprendizagem não se constroi por um caminho único. Dessa forma, conhecer e

sistematizar os possíveis caminhos de aprendizagem que se fundamentam na

heterogeneidade dos perfis dos alunos é uma demanda pujante no cenário de

pesquisa. A organização dos conhecimentos, métodos e modalidades de ensino que

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apresentam soluções neste contexto é um dos objetivos desta breve investigação,

cuja importância se estabelece especialmente na articulação entre as diferentes

inteligências e a modalidade blended learning.

Breves considerações teóricas

As tecnologias fazem parte da vida das pessoas de uma forma intensa e

permanente. E sua presença, segundo Marshal McLuhan, em Os meios de

comunicação como extensões do homem (2007), existe uma relação entre as

pessoas e as tecnologias desenvolvida de forma a viverem a realidade cotidiana e a

realidade virtual ao mesmo tempo. Isso promove mudanças na estrutura de

pensamento e valorização daquilo que nos cerca. Para ele, “a mudança técnica não

altera apenas os hábitos da vida, mas as estruturas de pensamento e valorização”.

Dessa maneira, para a construção deste estudo, a percepção de McLuhan

sobre esta relação íntima entre as pessoas e as tecnologias se apresenta como

espaço pertinente de fundamentação teórica. Além disso, sua percepção sobre a

“união híbrida” que libera energias e gera um confronto em culturas, as orais,

letradas, sonoras permite estabelecer conexões entre as tecnologias, como meios,

e os seres humanos, como agentes de ações culturais.

Na mesma esteira de pensamento, o filósofo francês, Pierry Levy, contribui

com a argumentação da pesquisa. O autor é pioneiro no estudo da cibercultura. O

termo é a junção de duas palavras, “cibernética” e “cultura”. Usado para designar

uma nova forma de cultura influenciada pelos computadores e as ideias de redes e

suas diversas relações. As novas maneiras de se comunicar e relacionar por meio

do computador e da internet. Acolhe-se sua contribuição acerca do desafio da

cibercultura para a educação. “Os sistemas educativos encontram-se hoje

submetidos a novas restrições no que diz respeito a quantidade, diversidade e

velocidade de evolução dos saberes” (1999, p.170). Para ele o desafio está na nova

relação com o saber.

Na atualidade a mudança de paradigma para a aprendizagem é um desafio

para os alunos, pois a forma como aprenderam historicamente foi diferente. Assim

como em todas as esferas da vida, o chamado atual não é o de acumulo de

informações, mas sim o de articulação entre diversas informações a partir das bases

de autonomia. Há um novo contorno a respeito do conceito de tempo e espaço,

que impacta diretamente nas formas de relacionamento e aprendizagem.

A Modalidade Blended Learning

O cenário atual, uma vez caracterizado, impõe a reflexão sobre o perfil atual

das pessoas que se relacionam com as tecnologias. A autora Martha Gabriel (2013)

contribui com o conceito de sociedade digital e a ideia de seres híbridos, ou

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cibridismo. O termo é formado por Cyber + Híbrido, e tem como significado a

expansão do ser humano além do seu corpo biológico, ou seja, o ser humano

coexistindo nos mundos on e off line. Em suas pesquisas sobre o uso de tecnologias

na educação a autora diz que expandimos nosso cérebro para o mundo digital e

somos seres híbridos, ou como ela chama, “cíbridos”: seres reais no ambiente físico

e online, pois são esferas complementares que se relacionam e coexistem.

A respeito do conceito de ciberespaço Lévy explana que:

O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da

interconexão mundial de computadores. O termo especifica não

apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas

também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim

como os seres humanos que navegam e alimentam este universo.

Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica o conjunto de

técnicas, de práticas, atitudes, de modos de pensamento e de

valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaço. (Lévy, 1999, p.34)

E nesse contexto a educação não pode continuar “como espaço de

homogeneização, que atende a todos ao mesmo tempo, com os mesmos critérios

e onde os currículos são uniformes” (OLIVEIRA, 2009, p. 96). Por isso é necessário

que as modalidades pedagógicas possibilitem aprendizagens personalizadas e

conectadas às necessidades dos estudantes. Diante dessa realidade, a “distinção

entre ensino presencial e ensino a distância vem se tornando cada vez menos

pertinente” (LÉVY, 1999, p. 170).

As potencialidades encontradas diante de aproximação das modalidades de ensino

tratadas como um continuum e não como partes desconexas das práticas

educativas são enormes. Mobilizam inteligências e recursos capazes de impulsionar

a aprendizagem em contexto amplo, promovendo a circulação de informações e o

espaço propício para a articulação entre eles na elaboração da formação. É a

convergência entre os modelos de ensino que forma o conceito de blended

learning.

As inteligências múltiplas e a aprendizagem

Considerar o novo perfil das pessoas, por consequência dos alunos, e para

focar o perfil dos alunos da Educação a Distância, esta pesquisa também acorre às

articulações teórica de Maria Luiza Beloni (2010), João Mattar (2014) e Andrea

Filatro (2012). Os autores contribuem com a sistematização sobre as principais

características comuns entre os alunos que buscam a aprendizagem mediada pelas

tecnologias. Além disso, apontam para características a respeito dos estilos de

aprendizagem que podem ser apresentados por estes estudantes.

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Consoante a estas concepções colocam-se em interação as sistematizações de

Celso Antunes (2008), no livro Como desenvolver conteúdos explorando as

inteligências múltiplas. O autor apresenta uma reflexão sobre a Teoria das

Inteligências Múltiplas de Howard Gardner e interpretações para sua relação com

as atividades de ensino.

“A teoria das Inteligências Múltiplas se apoia nas novas

descobertas neurológicas procedidas em Harvard e outras

universidades dos Estados Unidos, mudando as linhas de

conhecimento neurológico sobre a mente humana e

colocando em questão processos anteriormente descritos

para explicar sistemas neurais que envolvem a memória, a

aprendizagem, a consciência, as emoções e as

Inteligências em geral” (ANTUNES, 2008, p. 12).

Estas inteligências abrigadas em nosso cérebro podem ser

classificadas como: Cinestésica, Espacial, Interpessoal, Intrapessoal,

Linguística, Lógico-matemática e Musical. Estão ligadas à nossa forma de

relacionamento com as pessoas, sensibilidade a sons, estruturas

linguísticas, criatividade e relações espaciais, pensamento lógico,

movimento, autoconhecimento e diversos outros aspectos pelos quais

passamos. Elas não são uma verdade única e absoluta. Existem estudos,

inclusive do próprio Gardner que aprofundam as ideias e propõem novas

relações.

Diante de estímulos variados de aprendizagem cada pessoa

apresenta um estilo predominante para aprender. Para algumas pessoas é

mais fácil desenvolver questões que envolvam cálculos, geometria ou

relações lógicas. Possivelmente, essas pessoas entenderão melhor um

texto ou um raciocínio quando puderem comparar, fazer silogismos ou criar

padrões para colocar as ideias. Dificilmente um conteúdo apresentado será

capaz de estimular todas as inteligências ao mesmo tempo.

Esse pensamento nos faz refletir sobre o perfil do professor, dos alunos e as

modalidades de ensino. É difícil imaginar como é para um aluno que vive todo esse

contexto ter o seu processo de aprendizagem centrado unicamente no professor,

nele mesmo, sua sala de aula e seus livros didáticos. Ou inversamente, centrado

apenas nele mesmo e nas leituras que faz sozinho.

Entende-se, portanto, que o blended learning é uma alternativa

possível de resposta para o cenário apresentado. Para isso, as contribuições

basilares de McLuhan (2007) e as interpretações de Romero Tori (2010) são

essenciais para caracterizar e articular as hipóteses com esta modalidade

de ensino.

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Os passos da investigação

Trata-se de uma pesquisa aplicada, de natureza qualitativa e explicativa,

segundo as sistematizações estabelecidas por Magalhães (2007). Estrutura-se

aplicada a uma determinada área do conhecimento, considerando a amostragem

escolhida como representativa para as articulações teóricas e busca explicar um

cenário com base num caso conhecido.

POPULAÇÃO E AMOSTRA

Os resultados são oriundos do teste das Inteligências Múltiplas aplicado com

208 alunos do primeiro ano de graduação de 4 turmas compostas pelos cursos de

Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Administração e Comércio Exterior.

O teste foi aplicado durante as aulas de Empreendedorismo, disciplina cuja

modalidade de ensino é a chamada blended learning, no primeiro bimestre letivo

do ano que de 2015. As respostas representam uma amostra de 110 alunos. Os

alunos fizeram o teste em sala de aula, com suporte do professor. E depois

registraram os resultados em formulário online que foi apresentado

posteriormente a todo o grupo para que fosse de conhecimento as predominâncias

de perfis da turma.

INTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

A revisão bibliográfica é parte da pesquisa como procedimento de investigação,

somada à análise documental dos modelos de atividades da disciplina, desempenho

dos alunos e avaliação feita por eles sobre o modelo de ensino adotado pela

universidade na disciplina específica.

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Anã lise e discusso es

As disciplinas desenvolvidas na modalidade Blended Learning no campo empírico de pesquisa são organizadas com espaços no AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem da universidade e momentos de encontros presenciais realizados quinzenalmente. São dois professores que trabalham com a disciplina caracterizada neste campo empírico do estudo. Um que atua com as atividades online e outro com as atividades presenciais. O percurso de aprendizagem do aluno compreende a leitura de um capítulo de cerca de vinte páginas que contém as informações cruciais para a mobilização da aprendizagem naquele período. Depois da leitura são reservadas atividades online em um fórum de discussão e questionários com questões objetivas com vistas aplicação e discussão dos conceitos, e também fixação conceitual.

As atividades presenciais desenvolvidas em sala de aula partem deste

ponto de preparo dos estudantes. O encaminhamento metodológico feito no AVA conduz o aluno para a sala de aula com informações, discussão e questionamentos potenciais. É neste momento que o professor vai mobilizar os conhecimentos presencialmente voltado para a aplicação dos conceitos em situações reais. No caso do empreendedorismo, no primeiro e segundo capítulos os alunos leram os conceitos de empreendedor, empreendedorismo e tipos de motivações empreendedoras. Em sala de aula refletiram e usaram instrumentos para mapear o próprio perfil e reconhecer em si as características empreendedoras, e sistematizaram seu propósito para empreender.

Depois, enquanto liam os conceitos que sustentam o desenvolvimento

de um plano de negócios, aplicavam em sala as informações no canvas, ferramenta de modelagem de negócios. Oriunda da primeira atividade, uma parte do mapeamento de perfil dos estudantes permitiu identificar as predominâncias das inteligências para cada um. Além de ser uma maneira de cada um conhecer a si mesmo e a forma como melhor aprende, também caracteriza um universo de informações para guiar a atuação do professor nas atividades desenvolvidas em sala de aula.

A seguir são apresentados os gráficos com os resultados de cada turma e

os perfis predominantes.

Turma 1

Turma 2

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Turma 3

Turma 4

As inteligências com maior predominância entre os alunos indicam uma facilidade

maior de aprender quando estão em situações práticas e físicas de aprendizagem.

Esse posicionamento leva a perceber que as atividades em sala de aula voltadas

para a aplicação dos conhecimentos iniciados de forma autônoma nas aulas online

é uma estratégia adequada para abordar a heterogeneidade identificada.

Contudo, a modalidade encontra um desafio em relação a este perfil, pois

ao mesmo tempo em que estão mais propensos ao estudo prático em sala, os

estudantes se encontram com perfil pouco orientado para o estudo autônomo.

Afinal, se veem diante da necessidade de mobilizar informações para aplicar, sem

terem se dedicado à aquisição destas informações previamente. Ao mesmo tempo

que parecem aprender melhor pela prática, por mobilizar as inteligências voltadas

a este quesito, ainda não se dedicam à aprendizagem online mediada pelas TICs.

Em relação aos resultados observados nas notas dos alunos, pouca

alteração pode ser vista. Fundamentalmente porque esta modalidade é nova para

eles, e mesmo qualquer tentativa de comparação histórica entre uma turma e outra

ficaria defasada em vista de que esta modalidade está intrinsecamente relacionada

ao histórico de formação do aluno. É notável, mesmo assim, que nas turmas

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observadas, as menores notas são oriundas das atividades que são realizadas no

AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem. O que pode levar ao entendimento de

que as atividades online são menos privilegiadas por estes estudantes. E ainda mais

por aqules cujo perfil está voltado predominantemente para as inteligências

espaciais e práticas.

Este entendimento se confirma nos comentários de alguns alunos, tais

como podem ser vistos abaixo:

“é muito difícil estudar sozinho” (aluno 1, turma 2)

“Eu não sei por onde começar. Tenho dificuldade de me concentrar. Eu até entendi

o que eu preciso fazer, mas quando eu começo a ler eu me distraio” (aluno 2, turma

1)

“seria mais fácil se fosse inteiramente presencial com o professor em sala. É mais

fácil quando o professor vem e explica tudo” (aluno 3, turma 1)

Existe, portanto, um grande desafio para o desenvolvimento da

modalidade que está na auto responsabilização do aluno. É o momento que ele

assume para si a responsabilidade que lhe cabe no processo de aprendizagem.

Mesmo assim, quando o trabalho conduzido em sala de aula é feito por meio de

metodologias que privilegiam o esforço do aluno e o fazem perceber que o sucesso

daquele momento depende do seu preparo anterior e que é ele que impõe o ritmo

de aprendizagem na disciplina a relação pode mudar. É possível ouvir comentários

como “professor, essa disciplina é cansativa porque nos faz pensar muito” (aluno 2,

turma 3), que reforça a percepção sobre a importância da tomada de consciência

feita pelo aluno.

E mesmo quando o aluno não se prepara e não, o trabalho em equipes e o

atendimento individualizado que o professor pode oferecer no espaço de sala de

aula pode se tornar um propulsor para a aprendizagem. O professor não fará uma

explicação daquilo que estava no texto e deveria ter sido lido, mas forçará a

aplicação dos conceitos e a reflexão sobre eles, de forma o que aluno busque esta

informação para aplicar e reconheça que o primordial da sala de aula é a relação

social que se estabelece para a aprendizagem muito mais do que um palestrar

repleta de informações e conceitos.

A falta de leitura e preparação prévia sobressai nos comentários dos

alunos a respeito de sua autoavaliação ao final da disciplina. Mas é curioso observar

que mesmo dizendo que leram pouco assumem que aprenderam bastante nos

encontros presenciais onde o professor falava pouco. A atuação do docente sempre

esteve voltada ao atendimento individualizado dos grupos em sala de aula, de

forma que acompanhasse as aprendizagens e as discussões, e provocasse mais os

grupos que estivessem perdidos. Então, o trabalho em grupo se mostra eficaz pois

o resultado da equipe é maior do que a soma dos resultados individuais de seus

membros.

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Dessa maneira, é possível perceber que o produto da modalidade é mais

do que o conhecimento específico da disciplina. São diversas competências

desenvolvidas pelos alunos, como ressaltado por eles mesmos, com gestão do

tempo, liderança e trabalho em equipe, responsabilidade, senso crítico e auto

percepção. Inclusive a capacidade de avaliar seu próprio percurso depois de passar

pelo primeiro ano do curso na disciplina com uma modalidade diferenciada. O

comentário abaixo de uma das alunas é expressivo pois demonstra a diversidade

de competências desenvolvidas, mas não identifica que foi a modalidade que

proporcionou esta relação, pois nas aulas em que o professor tivesse que passar

todas as informações exclusivamente em sala, em 1h40 por sessão, o tempo para

as demais atividades teria sido inexistente.

“A matéria de empreendedorismo me mostrou outro lado sobre administração que eu não conhecia, aprendi a ter ética, respeitar os valores organizacionais, pensar em me tornar uma empreendedora também, transformar ideias em oportunidades, ter criatividade, correr atrás das oportunidades que aparecem ter mais iniciativa, arriscar mais não temer quanto às necessidades que aparecerem, correr riscos e agir com mais responsabilidade, gostei muito do material e conteúdo que os professores passaram para a gente, mas acho que aprenderia bem mais se não fosse em disciplina blended, poderíamos explorar bem mais e adquirir muito mais conhecimento se estivéssemos mas encontros.” (Aluna 1, Turma 4)

Estas percepções, somadas ao que se pode encontrar no teste das

inteligências múltiplas confirma a predominância dos tipos de inteligência mais

voltados a aproveitar as atividades em sala de aula. Contudo, registra o explícito

desafio de estimular as demais inteligências dos alunos para que usem as

predominantes para impulsionar uma aprendizagem que se constroi em todos os

níveis, não apenas centrada em uma única situação de aprendizagem desenvolvida

presencialmente.

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Conclusã o

“Venham até a borda, ele disse.

Eles disseram: Nós temos medo.

Venham até a borda, ele insistiu.

Eles foram, Ele os empurrou

...e eles voaram!”

Guillaume Apollinaire

A modalidade blended learning se mostra como uma alternativa real para

atender a heterogeneidade dos estilos de aprendizagem dos alunos da graduação.

Contudo, é preciso assumir que sua vivência é um desafio para o professor, para os

alunos e para as instituições. Muitos professores expressam como aula ideal aquele

em que ele passa mais tempo formando do que informando, contando coma

preparação prévia do aluno para aprofundar conhecimentos e fazer conexões entre

as diferentes dimensões e situações de aprendizagem. Muitos alunos pedem por

aulas que façam sentido onde possam vislumbrar sua atuação e aplicar sua

aprendizagem. Reinvindicam sua autonomia e seus direitos. As instituições querem

alunos com preparo para agir diante das situações da vida. Como é possível atender

pensamentos tão diversos e demandas tão específicas com palestras de 1h40?

A modalidade blended cria, notadamente, um espaço profícuo para a

criação deste tipo de aula desejado pelos professores e por seus alunos. Contudo,

não é fácil! A modalidade responde adequadamente ao desafio, mas o seu fazer

diário deve ser alvo de constante aprimoramento e não pode ser tecido no

aprisionamento metodológico e burocrático.

O cenário é desafiador para o professor, pois requer uma nova postura. É

preciso ser consultor, flexível, ao mesmo tempo muito sagaz na análise constante

da turma, da sua evolução. É preciso ouvir os alunos e entender seus desafios.

Muitas vezes quando um aluno diz que não gosta da modalidade ou da dinâmica de

aprendizagem, o que ele está expressando verdadeiramente é um pedido de ajuda.

“Professor, eu não aprendi a aprender assim, me ajuda!”.

É pujante ler este pedido e agir diante dele sem assistencialismo. Este não

é o momento de explicar, reexplicar e traduzir virgula por vírgula, removendo do

caminho da aprendizagem suas pedras. Mas sim de fazer o movimento ensino por

Sócrates, a maiêutica, o parto das ideias. Nesse sentido o professor se assemelha

ao parteiro, mas de ideias. Tirá-las de onde elas já estavam. Fazer perceber a

competência pessoal para chegar à aprendizagem. O maior orgulho do professor é

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ser superado pelos seus alunos. Este é o caminho da autonomia que a modalidade

blended learning faz emergir.

O espaço de sala de aula é essencial para o trablaho em grupo, para as

trocas. Mas deve existir uma forte relação entre este momento e as atividades

realizadas no AVA. A tendência dos estudantes cuja inteligência predomintante está

voltada para as atividades práticas, com relação com os colegas e no espaço de sala

de aula é priorizar tais atividades em detrimento das demais. Em uma modalidade

onde o resultado está na junção das possibilidades este é um risco importante para

o seu desenvolvimento. É preciso que o aluno reconheça a importância de integrar

e vivenciar as diferentes situações de aprendizagem que lhe são propostas e

estruturadas.

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REFERENCIAS

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GABRIEL, Martha. Educ@r - a (r)evolução digital na educação. São Paulo: Saraiva, 2013.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.

MAGALHÃES, Luzia Eliana Reis. O trabalho científico: da pesquisa à monografia. Curitiba: Fesp, 2007

MATTAR, João. Design Educacional: educação a distância na prática. São Paulo: Artesanato Educacional, 2014.

MCLUHAN, Marshal. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 2007.

OLIVEIRA, Leila Assis Mascarenhas de. Ambientes Virtuais e psicopedagogia: reflexões e novos desafios. In: SILVA, Angela Carrancho da (Org.). Aprendizagem em ambientes virtuais e educação a distância. Porto Alegre: Mediação, 2009. Cap. 4. p. 91-113.

TORI, Romero. Educação sem distância: As tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem. São Paulo: Senac, 2010.