A Moda Na Publicidade

download A Moda Na Publicidade

of 25

Transcript of A Moda Na Publicidade

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    1/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    1

    A moda na publicidade: apresentaes com estilo e o estilo

    nas apresentaes1

    Eduardo J. M. Camilo2

    Resumo

    Neste ensaio, propomo-nos reflectir sobre a possibilidade de na comunicaopublicitria existir uma moda; de nas mensagens comerciais sentir-se a

    preocupao pela criao de um determinado estilo subjacente no apenas aovesturio, mas igualmente ao adereo, maquilhagem, etc.. Este artigo est

    estruturado em duas partes principais. Na primeira, iremos demonstrar como a

    publicidade um processo de comunicao que, na sua dimenso mais primordial e

    estrutural, no admite a existncia de moda. Torna-se, ento, importante

    identificar e este ser o objecto da segunda parte, quem so esses sujeitos e quais

    so as suas funes no mbito do processo de comunicao publicitria.

    Palavras chave: publicidade; narrativa; moda; estilo.

    Introduo

    Neste ensaio, propomo-nos reflectir sobre a possibilidade de na

    comunicao publicitria existir uma moda; de nas mensagens

    comerciais sentir-se a preocupao pela criao de um determinado

    estilo subjacente no apenas ao vesturio, mas igualmente ao

    adereo, maquilhagem, etc.. Ser que a publicidade comercial

    caracterizada pela explorao recorrente de um conjunto especfico

    de figurinos? Em caso, afirmativo, qual o valor desses figurinos?

    Remete para uma funcionalidade comunicacional, semelhana do

    que acontece no cinema e no teatro em que a moda apresenta um

    valor narrativo?

    Este artigo est estruturado em duas partes principais. Na

    primeira, iremos demonstrar como a publicidade um processo de

    1 Este artigo j foi publicado em Portugal, na LUSOCOM Comunicao,Identidades, Migraes e Culturas na Lusofonia. Anurio Internacional deComunicao Lusfona. Lisboa, Intercom, 2005 e na Biblioteca on Line de Cinciasda Comunicao, Departamento de Comunicao e Artes da Universidade da Beira

    Interior - :www.bocc.ubi.pt2Professor doutor da Universidade da Beira Interior

    http://www.bocc.ubi.pt/http://www.bocc.ubi.pt/http://www.bocc.ubi.pt/http://www.bocc.ubi.pt/
  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    2/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    2

    comunicao que, na sua dimenso mais primordial e estrutural, no

    admite a existncia de moda. Como pode existir moda num discurso

    estritamente objectal baseado na apario comercial de umamercadoria? Esta ideia radical, no incompatvel, todavia, com ofacto de se descortinar nas actuais mensagens cada vez mais

    pessoas, actores, vestidos ou despidos, cuja importncia cada vez

    maior na apresentao e na contextualizao das mercadorias. Essas

    pessoas protagonizam um certo estilo, a actualizao de cnones de

    moda. Torna-se, ento, importante identificar quem so esses

    sujeitos e quais so as suas funes no mbito do processo de

    comunicao publicitria. precisamente esta a temtica da segunda

    parte deste texto: se as mensagens publicitrias no remetem

    apenas para objectos, mas igualmente para protagonistas, ento

    quem so eles e qual o seu estilo?

    1 Objectividade comercial e negao da moda

    Nos ltimos tempos, temos vindo a ensaiar a caracterizao

    estrutural da mensagem publicitria, conceptualizando-a como o

    produto de um exerccio lingustico de ndole referencial e denatureza comercial (Camilo [a], 2004: 2-7) que, no seu grau mais

    absoluto, independente das circunstncias em que produzido.

    Certamente que os riscos inerentes a esta atitude epistemolgica de

    negao consciente da dimenso pragmtica do discurso publicitrio

    so evidentes. Mas a suspenso voluntria de tal dimenso foi

    importante para averiguar as particularidades mais bsicas e estveis

    da mensagem publicitria, precisamente as que a determinam

    enquanto gnero comunicacional3. Significa esta particularidade que,

    3Existe uma forma distinta de proceder da mesma maneira, mas evitando cair numirreducionismo epistemolgico incontornvel quando se defende a singularidadeabsoluta dos enunciados. Mikil Bakhtine defende esta posio da dimensoabsolutamente singular do enunciado (ao contrrio do acontece na frase), opondo-se assumidamente s posies do formalismo (que esto subjacentes a esteensaio) e do prprio estruturalismo, no qual se inscreve o paradigma de RomanJakobson (e que nos serve de referncia). Porm, afirma que esta singularidadepoder ser estudada - no qualquer coisa evanescente no espao e no tempo,totalmente irredutvel -, na medida em que ser concebida como o reflexo dos

    sinais dos tempos. No s da produo de outros discursos (com os quais entraem relao dialgica), mas tambm de contextos sociais, institucionais, polticosque enquadram a produo dos enunciados e lhe atribuem uma singularidade

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    3/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    3

    se optarmos metodologicamente por eliminar todos os exerccios

    lingusticos que esto subjacentes a uma mensagem publicitria,

    ento deveremos descobrir aquele que responsvel pela suasingularidade formal: um exerccio lingustico de natureza referencial,mas na condio de apresentar uma especificidade comercial. Tal

    implica que, na sua dimenso mais bsica, a mensagem publicitria

    se resume simples divulgao de uma oferta. Esta questo de

    divulgao importante: na mensagem publicitria a presena e a

    identidade do produto ocupam a totalidade ou a centralidade do

    manifesto publicitrio, impossibilitando a coexistncia de signos

    evocativos de outros significados. O discurso da publicidade na sua

    dimenso mais bsica o da ostentao de uma presena (comercial)

    figura n 1.

    O facto de, na sua dimenso mais bsica, a mensagem

    publicitria se fundamentar num total objectividade comercial

    apresenta implicaes para a temtica da moda. Considerando queno possvel conceber a moda sem um sujeito que a corporize, a

    publicidade, nesta perspectiva mais formal, ser incompatvel com o

    fenmeno da moda.Poder o leitor arguir sobre a possibilidade de se conceber uma

    moda estritamente objectal, em que mercadoria, tem um estilo,

    apresenta um figurino na forma de um design. Todavia, esta

    hiptese, no totalmente impertinente, remeteria para a suposio de

    que os produtos se vestem, para a existncia uma aura nos

    prprios produtos. Trata-se de uma hiptese aceitvel, mas na

    condio de considerarmos o design como uma espcie de estilismo

    objectal que se encontra patente na esfera da produo e no na dacomunicao. O design dos objectos prvio mensagem publicitria

    especfica. por isso que Bakhtine afirma que, no obstante a especificidadeconcreta dos enunciados, eles podero ser sempre classificveis em categoriasconforme a natureza dos contextos que lhes esto subjacentes. assim queconcebe os discursos em tipologias: da empresa, da famlia, os discursosideolgicos, etc. (Todorov, 1981: 90). Nesta interessante contextualizao,redescobrirmos (mas com outras configuraes) as regras inerentes prpriaproduo dos actos de fala: as condies preliminares de Searle e todas as queesto relacionadas com procedimentos convencionais inerentes dimenso

    ilocutria dos actos de fala, tal como foram postulados por Austin.

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%201%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%201%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%201%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%201%20CAMILO.pdf
  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    4/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    4

    e no dever ser com ela confundido. No estilo objectal, designer

    refuncionaliza os objectos, atribuindolhes significaes extra-

    comerciais e funcionais.Por agora, a nossa concepo de moda, supe a existncia de

    corpos biolgicos , ou pelo menos de entidades que possam envergar

    um vesturio, que possam protagonizar um estilo (como o caso dos

    animais), que se possam subjectivar ou personalizar. Por exemplo, no

    caso dos animais s h moda na condio de existir uma fbula. Nos

    objectos, este fenmeno tambm possvel, mas implica um

    processo de personalizao, uma dinmica que, no caso da

    publicidade, Georges Peninou (Pninou[a], 1971: 67-81; Peninou:95-100) inscrever na das imagens de marca. Porm, voltamos a

    reafirmar a nossa posio formalista de considerar que estas prticas

    no se integram na categoria de exerccios lingusticos que

    determinam a singularidade primordial da mensagem publicitria.

    Caracterizada por uma absoluta pobreza do ponto de vista

    estilstico, a publicidade consiste na simples e pura ostentao de um

    produto, na mera divulgao de uma denominao comercial. Nesta

    estrita perspectiva formalista, impossvel concebermos uma modana publicidade. A existir, ela ser de ndole extra-publicitria,

    inerente a fenmenos semiticos prvios ao processo de comunicao

    publicitria em que o objecto caracterizado por um design

    especfico. Relativamente a estes fenmenos, a publicidade limita-se

    a ostent-los, a apresent-los como se fossem vantagens

    competitivas.

    2 A subjectividade publicitria e a emergncia da moda

    Pelo que at agora foi escrito, poderemos concluir que, na suadimenso mais bsica, a publicidade no admite a moda porque o

    processo de comunicao publicitria se encontra centrado num

    exerccio lingustico que remete para uma objectivao, para uma

    ostentao comercial. Neste processo comunicacional, a existir a

    alguma moda, ela objectal, extra-comunicacional, e explorada na

    mensagem publicitria como se se tratasse de mais uma vantagemcompetitiva subjacente ao prprio objecto comercial. Esta situao,

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    5/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    5

    que na sua dimenso mais absoluta impe mensagem publicitria

    uma configurao pobre, baseada numa pura ostentao objectal no

    , porm, incompatvel com a particularidade de, por vezes,descobrirmos nos anncios actores publicitrios que envergam umdeterminado vesturio, que protagonizam um determinado estilo

    (figura n 2). Porm ,salientamos que nesta situao, a mensagem

    publicitria objecto de uma modificao estrutural pela qual as

    prticas lingusticas que a comportam j no se limitam a apresentar,

    a ostentar, mas tambm a encenar uma existncia ou emergncia

    comercial. Confira-se, por exemplo, a publicidade do BPI na qual a

    actriz Fernanda Serrano corta o cabelo e enverga um determinado

    vestido de tailleur e cromatismo especficos. Verifique-se, igualmente

    o traje do homem da Martini e, nas mesmas campanhas, o estilo dos

    fatos de banho das perso nagens femininas. Note-se o design dos

    fatos de banho envergados pelas protagonistas que supostamente

    evocam o ideal de corpo da Danone. Nesta reestruturao, as

    prticas lingusticas podem mesmo incidir sobre a configurao dos

    prprios produtos atravs de processos retricos de personalizao.

    Os produtos tambm so personagens que envergam um

    determinado vesturio, e apresentam certo estilo. o caso, da roupada Michelin, taillheur base de pneus ou do vesturio dos produtos

    no Mini-Preo. Tambm pode dar-se o caso de existirem personagens

    (humanas ou animais) evocativas dos produtos e que apresentam um

    figuro especfico. o caso do casual style do coelho da Nesquik e da

    Chocapik, que envergam trajes que remetem para um imaginrio de

    aventuras. igualmente o estilo jovial dos irmos Carls e Berg, ou o

    rebelde do cowboyda Marlboro.

    Como j se referiu, a existncia de sujeitos na mensagem

    publicitria implica a concretizao de prticas lingusticas

    complementares quelas que apresentavam um valor estrutural.

    Relativamente a estas ltimas, elas so dotadas de uma dimenso

    conjuntural: so exerccios de linguagem que variam de anncio para

    anncio publicitrio e a sua funo comunicacional j no remete

    para a caracterizao da especificidade do processo de comunicao

    publicitria. Inspirando-nos nas teses de Roman Jakobson sobre a

    temtica do gnero e da poesia (Jakobson, 1963: 213 e ss),

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%202%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%202%20CAMILO.pdf
  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    6/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    6

    poderemos considerar que a conjugao destas prticas lingusticas

    de natureza conjuntural com as que so dotadas de um valor

    estrutural origina tipos de publicidade, ou gneros publicitrios: aPublicidade Teasing, a Publicidade Informativa, a Publicidade deMarca, etc.

    Esta ideia que acabmos de apresentar, importante para a

    temtica da moda na publicidade. Passamos a explicitar a suas

    principais implicaes:

    1a- S possvel concebermos moda na publicidade na

    condio de existirem na

    mensagem publicitria prticas lingusticas complementares s que

    apresentam um valor estrutural. Por outras palavras: impossvel

    descobrir moda na Publicidade em si, masj vivel descortinar a

    moda nas publicidades,isto , no mbito dos gneros publicitrios;

    2o- No h moda sem sujeitos. Esta ideia significa que na

    mensagem publicitria dever existir uma prtica lingustica referenteao exerccio de uma subjectividade: um conjunto de exerccios de

    linguagem, baseados em palavras e em imagens, que remetam paraa afirmao da existncia de sujeitos na mensagem ou, ento, que

    procedam subjectivao dos prprios objectos, personalizao das

    entidades comerciais. Esta particularidade importante, na medida

    em que, como na criao das imagens de marca os produtos

    adquirem uma personalidade, um carcter, como, por vezes, ganham

    o estatuto de estrelas (Sguela citado Floch 1995; Camilo [b], 2004),

    ento necessariamente eles devero apresentar um estilo;

    3o- A moda na publicidade no uma moda qualquer. Nodever confundir-se com um assunto, com um tpico publicitrio, isto

    com o prprio objecto comercial que publicitado. A moda queestamos a reflectir pertencer, por direito, dinmica do prprio

    processo de comunicao publicitria.

    Explicando esta ideia por outras palavras: neste artigo, no

    queremos reflectir sobre as estratgias de publicidade a produtos de

    moda (estilistas, empresas de confeces e calado, etc.), mas sobre

    o estatuto da prpria moda na mensagem publicitria. A modadever, portanto, apresentar um valor publicitrio, uma

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    7/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    7

    funcionalidade comunicacional. Se bem que esteja relacionada com

    um exerccio lingustico de especificidade conjuntural, ela s existe na

    condio de favorecer a publicitao de uma certa oferta comercial.Se quisermos, a moda na publicidade um exerccio de estilo aoservio da divulgao de uma determinada mercadoria. Nesta

    perspectiva, no pretendemos estud-la no que respeita suas

    particularidades estticas, vestimentares, sociolgicas, etc., mas

    exclusivamente a partir de parmetros relacionados com uma eficcia

    comunicacional de ndole publicitria. S assim possvel medir o

    valor publicitrio da moda.

    Esta ideia da eficcia comunicacional inspirada no conceito defigurino para teatro e para cinema. A funcionalidade do figurino est

    relacionada com valores adequados s singularidades desses

    processos de comunicao. o caso, por exemplo, das

    especificidades do canal (h uma roupa para teatro que mais fcil

    de vestir e despir na transio das cenas, que materialmentedistinta do vesturio no cinema), mas sobretudo das que remetem

    para as particularidades intrnsecas ao teatro ou ao cinema:

    processos comunicacionais que se caracterizam por prticaslingusticas de ndole narrativa. por isso que os figurinos do teatro

    so concebidos por referncia a uma histria. O vesturio est ao

    servio de um relato. O mesmo acontece no cinema, onde abundam

    exemplos que ilustram este raciocnio. Apresentamos somente dois: o

    cromatismo dos figurinos patentes no Gone with wind e o guarda-

    roupa envergado por Audrey Hepburn no My Fair Lady, onde o

    barroquismo do vesturio envergado pela personagem acompanha a

    sua crescente fluncia e domnio lingustico do ingls.

    Esta correlao entre o estilo e o processo comunicacional importante pois vai determinar qual o estatuto da moda na

    publicidade: o de um estilo ao servio de uma apresentao;

    4a- Deveremos proceder a uma delimitao mais rigorosa do conceito

    de moda. At agora temos explorado este conceito numa perspectiva

    muito restrita, associando moda tudo que da ordem do vesturio.

    Pretendemos, porm, alargar o mbito conceptual: nesta perspectiva,

    a moda est relacionada com o look, o estilo, tal como definido porJean Marie Floch (Floch, 1995) a propsito de Coco Chanel: remete

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    8/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    8

    para uma espcie de sintagma composto por signos objectais que

    est inscrito no corpo de um sujeito. Sendo assim, na sua dimenso

    semntica, a moda um significado complexo que resulta no s dainteraco de um vesturio especfico, mas tambm de certo tipo deadereos (por exemplo, as jias), bem como dos artifcios inerentes

    maquilhagem e ao corte de cabelo. Na evocao deste significado, h

    cdigos hierrquicos que determinam a importncia dos signos nos

    sintagmas evocativos. Por exemplo, o vesturio pode apresentar um

    valor publicitrio superior maquilhagem ou vice-versa. Regressando

    ao exemplo da Fernanda Serrano na publicidade ao BPI, o seu lookpublicitrio radica principalmente no corte de cabelo; um corte cuja

    configurao concretiza metaforicamente as caractersticas do

    produto que se pretende apresentar. Ser possvel encontrar um

    melhor look publicitrio sobre as alegadas taxas de juro baixas que

    um corte de cabelo curto, porquequanto menos melhor? Um corte

    de cabelo milimtrico, porque a Taxa de juro arredondada

    milsima? Um corte barato, fcil, faa voc mesmo, concretizado

    pela prpria Fernanda Serrano, porque o custo de avaliao [do

    Crdito Habitao] muito reduzido?

    Apresentadas estas quatro implicaes passamos a identificar

    as principais prticas lingusticas que esto relacionadas com a

    afirmao de sujeitos na mensagem publicitria e, indirectamente,

    com a evocao de uma moda na publicidade.

    Salientamos a particularidade de cada um destes exerccios

    lingusticos estar relacionado com gneros especficos de publicidade.

    Esta ideia importante: conceber a moda em publicidade implica

    igualmente perceber as caractersticas subjacentes s diversasprticas publicitrias. Encontramos assim uma moda caractersticados gneros da Publicidade de Marca (2.1), da Publicidade

    Informativa (2.2) e da Publicidade Apelativa.

    2.1 A moda na Publicidade de Marca

    J tivemos a oportunidade de demonstrar que a Publicidade de

    Marca se caracteriza principalmente por uma espcie de lirismopublicitrio: como a prtica lingustica remete para a afirmao da

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    9/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    9

    fonte publicitria na mensagem (concretamente, o anunciante),

    constata-se a presena de signos que so evocativos de uma

    existncia ou de umacarncia comercial (Camilo [a], 2004: 9).Huma espcie de adorao relativamente existncia de uma ofertaou um repdio, uma crtica, mais ou menos velada, no que respeita a

    ofertas obsoletas ou concorrenciais.

    A existncia de uma moda especfica da publicidade de marca,

    implica que na mensagem no exista apenas uma prtica lingustica

    significativa de uma subjectividade comercial. essencial que

    tambm haja algum que a protagonize: um actor que no se limite a

    apresentar o produto, mas que tambm protagonize uma atitudepositiva (ou negativa) relativamente sua existncia (ou ausncia).

    Ora, se existe um actor, ento ele necessariamente dever

    personificar um estilo, envergar um figurino que estar

    estruturalmente adequado ao seu estatuto no processo de

    comunicao publicitria.

    Relativamente publicidade de marca descobrimos algumas

    categorias de actores. Cada uma delas remeter para um estilo que

    lhes tpico.

    a - O actor enquanto anunciante: o estilo institucional

    H mensagens publicitrias nas quais o prprio produtor que

    glorifica a existncia do produto. No respeitante moda publicitria,

    pouco importante delimitar a natureza dessa glorificao e mais til

    descortinar em que medida os figurinos envergados pelo produtor

    correspondem a uma espcie de estilo institucional.Remeter para amaneira como o anunciante se apresenta ao destinatrio

    relativamente ao produto que publicita. Neste fenmeno, percebemosa existncia de uma dinmica de transferncia do estilo institucional

    do produtor para o produto que ele divulga. Complementarmente, a

    este processo projectivo, gostaramos de salientar que este estilo

    institucional tambm poder desempenhar uma funo emotiva

    integrada no tal lirismo publicitrio. Em tal caso, o figurino

    publicitrio estar coerente com asatitudes positivas ou negativas doprodutor relativamente presena ou ausncia de uma

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    10/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    10

    determinada oferta. No nos estamos a referir configurao da

    roupa, mas, por exemplo, ao seu cromatismo, que poder evocar

    estados psicolgicos negativos ou positivos. Estes estados conotamideologicamente perodos prvios ou posteriores existncia de umadeterminada oferta comercial.

    b - A evocao indirecta do anunciante atravs de actores

    H certas campanhas publicitrias, nas quais o estilo

    publicitrio embora sendo de cariz institucional, no protagonizado

    pelo prprio anunciante mas sim por actores ou por apresentadores

    que o conseguem evocar metonimicamente. Nesta situao existe

    como que uma espcie de emotividade por procurao, uma

    representao da prpria emotividade do anunciante. Ora, esta

    evocao indirecta tambm se constata na prpria especificidade da

    moda publicitria. H semelhana do que se verificava nos figurinos

    do anunciante, tambm estes apresentam um valor significativo dapropriedade comercial: o estilo remete para a instituio (a fabrica, a

    companhia, etc.) que produziu o produto ou prestou o servio. Trata-

    se de um estilo empresarial, um estilo corporativo que caracterstico de uma espcie de fardamento. Encontramos assim, o

    vesturio dos trabalhadores do Continente, o formalismo acinzentado

    da IBM, relativamente ao qual a Apple se destaca por intermdio de

    uma moda jovem, informal, desportiva, libertadora, o vermelho

    gritante das hospedeiras da Portuglia, etc..

    Para l destes figurantes, cuja representao publicitria tem

    por funo evocar o anunciante/produtor e, ao mesmo tempo, a sua

    emotividade perante as existncias comerciais, salientamos tambm

    a existncia de outros que desempenham distintos papispublicitrios. Ao invs de remeterem para a existncia do prprio

    anunciante, evocam os valores subjacentes sua actuao.

    Explicando esta ideia de outra maneira: estes actores, em vez de

    evocarem o produtor, significam os princpios caractersticos de uma

    determinada esfera de produo. Sendo assim, devero conseguir

    remeter para um imaginrio concreto que est relacionado com a

    concepo, produo, comercializao e a distribuio do produto ou

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    11/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    11

    do servio. Na publicidade de marca existe, ento, um estilismo

    relacionado com situaes de testemunho, de depoimento, de

    prescrio e de influncia. um estilismo que apresenta umaespecificidade tecnolgica, produtiva, estando associado aoprotagonismo de certos papis profissionais. Designamos a este

    estilismo publicitrio por estilismo do engenheiro: batas brancas

    conjugadas com os mais variados tipos de adereos. o caso, por

    exemplo, dos culos de aros redondos, dos computadores portteis,

    das canetas de tinta permanente, dos blocos de notas, dos capacetes

    de estaleiro, etc..

    Independentemente do facto de o lookinstitucional apresentaruma dimenso directa, quando protagonizado pelo prprio

    anunciante, ou indirecta, por actores que lhe so metonmicos, ele

    impe sempre uma qualificao existncia comercial. Porm, tal

    conotao estritamente de ordem tecnolgica reflectindo uma

    ideologia tecnocrata mais ou menos, enftica, superlativa e, por issomesmo, relativamente arrogante, sem dvidas no que respeita a

    capacidades e atributos tecnolgicos. Este estilo est, portanto,

    relacionado com um posicionamento hi-tech.

    c- Da moda do anunciante para o produto

    O processo de comunicao publicitria apresenta algumas

    caractersticas importantes que tm reflexo na especificidade dos

    exerccios lingusticos. Uma das mais importantes, estar relacionada

    com uma espcie de descentramento subjectivo no que respeita

    produo da mensagem publicitria.

    Qualquer anncio publicitrio o produto da aco de, pelo

    menos, duas entidades com poderes de influncia dspares: oanunciante e o emissor publicitrio, isto , o criativo, o agente de

    publicidade. Estas entidades remetem para valores simtricos no que

    respeita ao processo de comunicao: o anunciante possui

    expectativas comerciais sobre a publicitao de uma oferta; em

    contrapartida, o emissor publicitrio apresenta expectativas

    estritamente comunicacionais relativas configurao das prpriasmensagens. Neste contexto, a oferta comercial a publicitar tende a

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    12/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    12

    assumir-se como um mero pretexto. Estas duas ordens incompatveis

    de expectativas so responsveis por tenses e por conflitos

    frequentes no trabalho publicitrio, facilmente superveis porreferncia ao desequilbrio de poderes que est subjacente relaoanunciante-publicitrio. Efectivamente, o anunciante, e no o

    publicitrio, que determina o processo de comunicao publicitria.

    Ao contrrio do que acontece no jornalismo, em que a mensagem se

    reporta a tudo o que reconhecido como apresentando um valor

    comunicacional de notcia, na publicidade, partida, qualquer coisa

    digna de ser publicitada, pois essa avaliao no concretizada em

    termos de uma actividade comunicacional, mas por referncia a uma

    aco de ndole micro-econmica. Sendo assim, tudo publicitvel na

    condio de ser comercialmente competitivo, de estar relacionado

    com um objectivo econmico que legitimado comunicacionalmente.

    Concebido pelo anunciante como um simples tcnico, um mero

    publicista, h, todavia, ocasies em que o agente publicitrio ganhaimportncia. So cada vez mais frequentes porque esto relacionadas

    com o facto de os produtos estarem destitudos de vantagens

    competitivas reais, isto , extracomunicacionais. Torna-se necessrioproceder a um processo de singularizao simblica que

    caracterstico das imagens de marca. Explicando esta ideia por outras

    palavras: a oferta comercial passa a ser gerida por critrios

    comunicacionais e j no mais por aqueles, estritamente de ordem

    microeconmica, que estavam relacionados com a esfera da produo

    (a performance, a composio, a novidade, o preo, etc.) ou do

    consumo (a funcionalidade, a oportunidade, a utilidade, etc.). Que

    critrios so estes? No s so de natureza pragmtica mas

    igualmente semntica. Do ponto de vista pragmtico, esto

    relacionados com formas convenientes e convencionais de produzir

    (enunciar) publicidade que j no dependem totalmente das

    modalidades de funcionamento de um campo micro econmico, mas

    de uma esfera comunicacional. Por sua vez, do ponto de vista

    semntico, a publicitao dos produtos reporta, cada vez mais

    frequentemente, as existncias comerciais para universos ideolgicos

    que pouco ou nada tm a ver com os seus planos de existncia

    econmica ou tecnolgica. nesta remisso que a publicidade

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    13/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    13

    adquire uma dimenso assumidamente intertextual. Os produtos so

    contextualizados por referncia a outras prticas textuais que no

    apresentam uma dimenso assumidamente comercial. Neste trabalhode remisso textual (de com-textualizao), a representaoprprios produtos ou a sua referencializao, ganha uma densidade,

    um carcter ideolgico que anteriormente no possua.

    precisamente no mbito deste trabalho comunicacional de

    recontextualizao da oferta comercial que surgem outros sujeitos

    nas mensagens dotados de estilos e looks especficos. Estamos a

    referir-nos, em particular, s personagens publicitrias.

    Antes de procedermos caracterizao destes actores,queremos salientar que a sua funcionalidade, isto , o seu valor

    publicitrio, relativamente baixo. A personagem publicitria j no

    est mais ao servio de uma oferta relacionada com a performance, a

    novidade, a oportunidade. A sua funo j no a de comunicar uma

    existncia comercial, mas a de a com-textualizar noutros relatos,noutras histrias, noutros imaginrios nos quais o produto apresenta

    um estatuto central (figura n 3).

    Subjacente emergncia da personagempublicitria, sentimosque se verificou uma mutao estrutural nas modalidades de

    comunicao publicitria. H um artificialismo expressivo, um

    barroquismo, que se encontra cada vez menos adequado s tais

    caractersticas estruturais da mensagem publicitria tal com a

    concebamos numa perspectiva formalista. Tal artificialismo

    progressivamente intensificado at ao ponto em que a mensagem

    dificilmente reconhecvel como ainda apresentando uma

    especificidade publicitria. Explicando esta ideia: a dimensoestruturalmente configurativa da mensagem dilui-se at que seconfunda com as que so pertencentes a outras categorias de

    mensagens: por exemplo, a da fotografia de moda (figura n 4).

    Subjacente a este fenmeno, encontra-se a conhecida

    dicotomia entre o fordismo e o estilismo no campo dos objectos

    (Maldonado, 1993: 39 e ss): a funcionalidade, que, no fordismo, se

    caracterizava por um design estritamente utilitarista, onde existia um

    compromisso entre utilidade e beleza, incompatvel com umdecorativismo, um estilismo que afasta esse tal compromisso.

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%203%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%204%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%204%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%204%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%203%20CAMILO.pdf
  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    14/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    14

    Certamente que ele dotado de imensas potencialidades fticas;

    todavia, faz depender aaceitabilidade do objecto de um conjunto de

    expectativas de fruio simblica que j no so mais de ndoleprodutiva ou de consumo objectal, mas, sobretudo, sociais, comoprovam Abraham Moles e Jean Baudrillard Moles, 1972; 157-195:

    Baudrillard, 1972: 42- 87). O sucesso dos produtos passa a estarsujeito a um imaginrio, a uma estratgia social de apropriao

    relacionada com o seuestatuto simblico, um imaginrio que conduz

    a que eles fiquem vulnerveis a caprichos, a desejos, a

    oportunidades, a fantasias,etc., exactamente como acontece no tal

    barroquismopublicitrio, quando a publicitaodo produto se assume

    como a confluncia de uma multiplicidade de textos que est

    dependentede certas circunstncias e contextos.

    A emergncia das personagens publicitrias implica, portanto,

    um meticuloso trabalho de re-contextualizao comunicacional.

    Dever ser entendido na sua perspectiva de com-texto, isto , apartir de um relacionamento dialgico (mediado por uma oferta

    comercial) com outras produes textuais. Da que as personagens

    publicitrias remetam para essas mesmas tais produes, sendo elasrepescadas para a mensagem publicitria a partir de valores

    estritamente comunicacionais. Quais so eles? Apesar de no existir

    bibliografia sobre este assunto, consideramos que so os que esto

    relacionados com o fait divers, concebendo-o como um exerccio

    inerente ao imaginrio (Mendes, 1999: 348 e ss.). Nesta perspectiva,

    a personagem publicitria - que j no se encontra ao servio de uma

    apresentao comercial mas de uma histria com produtos -

    sempre algum cujas caractersticas remetem para um processo de

    singularizao. caracterizado por algumas das seguintes marcas:

    desproporo entre o motivo e o acto (E se algum lhe oferecesse

    flores? Isso seria Impulse...- desodorizante Impulse); desvio de

    causalidade (Ambrsio, apetece-me algo. . . ; Tomei a liberdade

    minha senhora... - bombons Ferrero Rocher); a raridade do

    acontecimento (Em vez de visitar a Av, o Capuchinho Vermelho vai

    a Paris e o Lobo Mau cmplice- perfume Chanel no 5) ou da sua

    causa (O poder branqueador da loia deve-se a meia dzia de gotas

    do detergente Fairy- detergente Fairy); e a qualidade das pessoas

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    15/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    15

    envolvidas (Pierce Brosnam escolhe Omega relgios Omega). Ora,

    precisamente nesta comtextualizao do produto que se

    descortina a importncia da personagem publicitria caracterizadapor algumas categorias: a estrela, o actor e a mascote.

    A estrela publicitria s uma celebridade por referncia

    reputao que alcanou noutras situaes de produo textual:

    televiso, cinema, teatro, desporto, etc.. Sendo assim, o figurino das

    estrelas, a sua moda, apesar de poder ser substancialmente rico em

    termos de adereos e de pormenores formalmente pobre no que

    respeita funcionalidade comunicacional na mensagem publicitria.

    um figuro que estabelece um nexo intertextual com outros universosde produo de sentido. Por exemplo, no caso da publicidade s

    chamadas telefnicas da Novis, a apresentadora Jlia Pinheiro no s

    se encontra vestida de uma maneira semelhante quela como

    apresenta programas, mas tambm utiliza um adereo metonmico

    do universo televisivo: o microfone. O mesmo acontecer com outrasestrelas: o jogador Figo, o apresentador Carlos Cruz, o treinador

    Carlos Queiroz, o jornalista Artur Albarran, etc..

    Passemos para a moda inerente aos actores publicitrios.Relativamente s estrelas, os actores publicitrios no so

    celebridades, pelo que a sua utilidade na mensagem publicitria

    somente a da evocao de outros universos textuais, de outros

    imaginrios. A moda dos actores publicitrios apresenta o valor

    metonmico de remisso para outras narrativas, histrias, diversas

    produes de sentido nas quais o produto apresenta o estatuto de

    adereo. Sendo assim, as potencialidades, no que respeita ao

    trabalho de moda, so infinitas: desde a evocao de um estilorebelde (Easy Rider), aventureiro (Salteadores da Arca Perdida) ou

    infantil (Capuchinho Vermelho), etc.. Destacamos o pormenor dos

    figurinos subjacentes aos actores publicitrios serem muito mais ricos

    e criativos do que os das celebridades. Se nestas ltimas, estabelece

    uma relao de convergncia intertextual com os universos

    relativamente aos quais elas ganharam fama, no que respeita aos

    actores publicitrios a situao poder ser distinta. Certamente que a

    relao intertextual remete para um imaginrio que se encontra noprprio figurino. Porm, nada obriga (ao contrrio do que severifica

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    16/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    16

    na celebridade) a que a relao de intertextualidade seja convergente

    como se se tratasse de uma citao. Pelo contrrio poder ser

    divergente, na perspectiva de ser polmica, satrica ou pardica.Para finalizar este assunto da moda publicitria relativa s

    personagens passamos a referir-nos aos figurinos das mascotes.

    A existncia de mascotes na mensagem publicitria constitui

    um interessante fenmeno de personalizao dos produtos ou das

    designaes comerciais, cujo mecanismo dever ser reflectido mais

    detalhadamente noutros estudos. O que agora nos interessa

    salientar que a existncia de mascotes publicitrias resulta de um

    processo de subjectivao, pelo qual os produtos ganham umapersonalidade. Mais uma vez descobrimos o tal barroquismo

    expressivo, pelo qual a publicidade j no se limita ostentao de

    uma oferta, mas assume-se como um domnio no qual se cruzam

    infinitos textos produzidos nas mais variadas circunstncias e

    contextos. Nesta dinmica enfabulatria, os produtos-sujeitos so

    dotados de uma moral, de atributos configurativos de uma imagem

    de marca. Ora, esta particularidade oferece grandes desafios para a

    actividade do prprio criativo publicitrio e do estilista. O primeiroprocurar conceber um sujeito, algum que seja digno de

    personalizar o produto. Tanto ser um ser humano (por exemplo, os

    irmos Carls e Berg, a cigana da Gitanes), um animal (o Joe Camel,

    ), ou uma figura mitolgica (Pgaso no que respeita Ferrari). J o

    estilista ter de conceber um figurino, um look que seja evocativo do

    seu carcter: despreocupado, descomprometido, sedutor,

    aventureiro, manhoso, trgico etc.. O objectivo fazer o espectador

    publicitrio adivinhar instantaneamente o carcter da mascote, eindirectamente reconhecer a imagem de marca do produto a partir dotrao vestimentar. H aqui um trabalho de produo de sentido

    atravs da roupa que muito semelhante aos dos efeitos de sentido

    decorrentes dos figurinos teatrais, sobretudo dos da Comdia Dell

    Arte (Camilo, 2004: 9).

    2.2 A moda na Publicidade Informativa

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    17/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    17

    neste gnero publicitrio que o grau de funcionalidade

    comunicacional da moda adquire o seu valor mais baixo. Esta

    desvalorizao natural: a publicidade informativa o gnero depublicidade no qual o exerccio conjuntural da linguagem (de ndolereferencial) apresenta o mesmo valor daquele que de natureza

    estrutural. Na mensagem publicitria verificamos uma omnipresena

    do produto. A totalidade da produo lingustica remete para uma

    mera referencialidade publicitria. Como no processo de comunicao

    publicitria o produto se encontra sobrevalorizado relativamente a

    outros tpicos, compreende-se a inexistncia ou a desvalorizao de

    actores e, indirectamente, de uma moda publicitria. Quando existem

    actores, estes so simples apresentadores. A sua performance est

    relacionada com a publicitao, a exibio de uma existncia

    comercial. Ora, a figurao de apresentao implica a necessidade de

    conceber um estilo publicitrio, uma moda adequada. Como na

    Publicidade Informativa, a mensagem incide principalmente na

    significao de uma existncia ou de uma emergncia comercial, a

    moda publicitria apresentar uma dimenso discreta, totalmente

    simtrica ao estatuto barroco, exibicionista que ela detinha no mbito

    da Publicidade de Marca.

    Neste caso, a moda do apresentador remete para um look

    despojado, cinzento, o mais apagado possvel (figura n 5). Esta

    particularidade acontece devido ao valor ftico do apresentador: ele

    s existe na mensagem para chamar a ateno do destinatrio para

    uma existncia comercial, ou para salientar aquilo que apresenta.

    Tanto o apresentador, como o seu estilo (vesturio, adornos,

    maquilhagem, etc.) encontram-se ao servio da publicitao da

    existncia do produto. A forma como se comporta, fala, anda e se

    veste, apresenta um elevado grau de discrio. Pode constatar-se

    no s a partir da configurao do vesturio - o mais simples possvel

    -, idealmente sem ornamentos, mas tambm a partir do cromatismo

    dos figurinos, o mais neutro ou, pelo contrrio, propositadamente o

    mais contrastado possvel com a gama cromtica em que se inscreve

    o produto que o apresentador exibe e demonstra.

    2.3 A moda da Publicidade Apelativa

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%205%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%205%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%205%20CAMILO.pdf
  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    18/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    18

    A riqueza, a variedade estilstica da moda readquire a sua

    importncia a partir do momento em que na mensagem publicitria

    ressurgem prticas lingusticas que remetem para os actorespublicitrios. Todavia, desta vez, eles esto relacionados com oestabelecimento de um relacionamento inter-subjectivo com os

    destinatrios publicitrios, relacionamento esse que consideramos

    inscrever-se no mbito da Publicidade Apelativa. Tal como acontece

    na Publicidade de Marca, tambm na Publicidade Apelativa

    descobrimos algumas categorias de actores dotados de um tipo de

    look prprio.

    a- O destinatrio e o estilo de consumo

    Ao contrrio do que se verifica na Publicidade de Marca, em que

    o produtor pode figurar na mensagem publicitria, na Publicidade

    Apelativa esta oportunidade s possvel de concretizar em casos

    muitos especficos de monopsnio, quando o mercado composto porum nico consumidor. Como compreensvel, esta situao

    incompatvel com a especificidade do processo de comunicao

    publicitria que caracterizado por uma transmisso de mensagensatravs de meios de comunicao de massa para um pblico amplo e

    heterogneo. Tal particularidade determina que a evocao do

    destinatrio de publicidade no s seja metonmica, como apresente

    uma configurao estereotipada (figura n 6) . O actor publicitrio

    que o evoca, consegue faz-lo por referncia a atributos reais (por

    exemplo, o sexo, a idade, a classe social) e, simultaneamente,

    idealizados (o estilo de vida). , por exemplo, o caso da testemunha,

    que presta um depoimento sobre a utilizao e as vantagens doproduto. Ora, esta evocao suportada no s por um cenrio e por

    uma figurao especfica (por exemplo, os jovens da Optimus), mas,

    igualmente, por um estilo, por uma determinada moda.

    O estilismo relativo publicidade exortativa ambguo. Tanto

    pode remeter para uma espcie de moda dotada de um de valor

    ideolgico, como utpico. No primeiro caso, caracteriza-se por uma

    dimenso consensual e estereotipada do estilo vigente no

    destinatrio. No segundo caso, remete para um padro idealizado do

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%206%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%206%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%206%20CAMILO.pdf
  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    19/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    19

    estilo que o destinatrio gostaria de adoptar. Enfatizamos, porm,

    que este estilo, embora possa estar relacionado com uma espcie de

    prescrio de moda, tal como acontece nas coleces dos estilistas,s existe no mbito de uma situao de mediao comercial. Poroutras palavras: a funcionalidade desta moda utpica a de

    favorecer uma existncia comercial.

    b- O actor e o estilo funcional

    No mbito da Publicidade Apelativa, a representao dos

    actores publicitrios no se desenvolve exclusivamente para evocar

    os destinatrios, mas tambm os valores subjacentes esfera do

    consumo. Nesta ordem de representao, os actores publicitrios

    desempenham papis simtricos aos que remetem para os valores

    pertencentes esfera da produo. Se atravs destes ltimos,

    evocavam os universos da concepo, da produo, da distribuio e

    da comercializao dos produtos, nos relativos PublicidadeApelativa so significados os valores do consumo e do usufruto dos

    produtos. Esta dinmica determina que o estilo publicitrio j no

    seja mais tecnocrata, mas sim funcional: por um lado, estrelacionado com uma situao de carncia, uma situao de

    necessidade, por outro, est associado emergncia do produto e ao

    seu consumo. No primeiro caso existir um estilo da infelicidade. Do

    ponto de vista vestimentar, esta significao no completamente

    evidente, a no ser no que respeita ao cromatismo: roupas escuras

    evocativas de uma espcie de luto, de uma tristeza caracterstica de

    uma situao de consumo que infeliz. Esta infelicidade significada

    mais explicitamente quer no respeita maquilhagem(propositadamente carregada) ou ao penteado (intencionalmente

    desarranjado, mal cortado, assimtrico, etc.). O segundo caso,

    relativo moda caracterstica da emergncia e do consumo do

    produto, mais interessante. Como o actor protagoniza o

    aparecimento do produto e o seu usufruto, o estilo e a moda esto

    subordinados a este valor testemunhal. Sendo assim, no existe

    apenas um corpo Danone, mas igualmente uma moda Danone (os

    fatos de banho que possibilitam exibir esse corpo), ou Evax (umaroupa para a qual o produto serve) ou um fato de banho Piz Buin

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    20/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    20

    (isto , um fato de banho que possibilita evidenciar o bronzeado que

    se consegue alcanar), ou at mesmo um corte de cabelo BPI, etc.

    (figura n7). A moda na publicidade recupera uma riqueza expressivaque no detinha no caso do estilismo especfico dos apresentadoresintegrados na Publicidade Informativa.

    Em complemento a esta moda caracterstica da existncia e da

    funo do produto, encontramos um estilismo expressivo de uma

    euforia comercial: de um prazer, de um estado de felicidade

    decorrente do consumo do produto. Do ponto de vista estrutural,

    apresenta o mesmo valor que a moda significativa dos estados de

    depresso de consumo. , ento, no que concerne sua dimensosubstancial que adquire uma configurao simtrica.

    3 O estilo na apresentao e a apresentao com estilo:

    mudanas estruturais na comunicao publicitria

    O estilo, a moda na publicidade, constitui uma temtica queest relacionada com uma questo central inerente teoria da

    comunicao publicitria: como gerir a dicotomia entre o artificialismoe a funcionalidade comunicacional relacionada com a objectivao de

    uma vantagem comercial competitiva, cuja publicitao determina

    basilarmente a mensagem publicitria?

    Por artificialismo, concebemos um estilo expressivo relacionado

    com a afirmao de um conjunto de valores que, na sua dimenso

    mais absoluta, atentam contra as especificidades formais da

    mensagem publicitria e que esto associadas explicitao de uma

    referencialidade publicitria. Demonstrmos como este fenmenoestava relacionado com uma Publicidade de Marca centrada na aco

    do emissor publicitrio, isto , com uma publicidade que sedesenvolve a partir de valores que j no so mais estritamente de

    ndole micro-econmica e unilateral. Esta particularidade significa que

    a moda publicitria tambm pode remeter para outras realidades,

    apresentando uma potencialidade evocativa que j no remete

    exclusivamente para a divulgao de um produto.

    A valorizao cada vez mais intensa e frequente de umimaginrio no comercial est relacionada com a problemtica da

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%207%20CAMILO.pdfhttp://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_3/figura%20n%C2%BA%207%20CAMILO.pdf
  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    21/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    21

    criatividade ao servio da funo. Dever a criatividade submeter-se

    a uma funo neste caso uma funo de ndole comercial ou

    sobrepor-se a ela, remetendo intertextualmente para outrasfuncionalidades, geralmente de ndole comunicacional (de ndoleliterria, teatral, cinematogrfico, televisivo, etc.)? Esta questo

    importante e est relacionada com problemticas importantes ao

    nvel do prprio design e dos processos de criao publicitria:

    dever ao no existir uma confluncia da criatividade artstica na

    comunicao publicitria? No que respeita moda na publicidade, ela

    dever ser obrigatoriamente publicitria, comercial, ou poder ser

    outra coisa qualquer?

    Se considerarmos a mensagem publicitria como um texto

    adequado a um processo de comunicao singular, ento deveremos

    considerar que tudo na publicidade se esgota num funcionalismo

    referencial de ndole micro-econmica. Neste aspecto, a moda na

    publicidade s tem sentido a partir do momento em que elaapresenta um puro valor de comunicao publicitria, o mesmo

    acontecendo como a imagem e a palavra.

    Que acontece, todavia, nas situaes em que a moda deixa deapresentar esse valor que reivindicamos? O que sucede quando os

    exerccios lingusticos cada vez mais tm um valor que j no

    comercial? Em tais casos consideramos que o processo de

    comunicao publicitria se encontra em transformao estrutural:

    ele ainda pode ser considerado como publicitrio, mas j no

    avaliado na sua dimenso mais pura. Consideramos que este o

    preo a pagar pelos fenmenos da intertextualidade pela qual a

    mensagem sobre o produto cada vez mais um pr-texto,encontrando-se este remetido ao estatuto de adereo literrio,teatral, cinematogrfico, etc.. posicionado juntamente com a

    designao comercial - por referncia a um mundo extra-econmico,

    a um cosmos de pessoas, ficando dependente j no de uma

    oportunidade econmica, mas de um conjunto de expectativas, de

    desejos, de temores, etc. que afectam decisivamente o seu estatuto.

    A divulgao comercial cada vez fica mais dependente dos caprichos

    da vida humana, do que constitui notcia, daquilo que est na moda.Trata-se de um fenmeno que conduz a uma transformao radical

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    22/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    22

    no estatuto do profissional de publicidade: de publicista passa a

    publicitrio, a criativo, a estilista, a designer enfim a algum que

    consegue objectivar as expectativas dos mais diversos pblicos numaproposta comercial.

    Com as devidas distncias no que respeita especificidade dos

    fenmenos, consideramos a dinmica que acabmos de mencionar

    muito semelhante que se verificou a partir da Grande Depresso do

    sculo passado, em que a funcionalidade subjacente aos modelos da

    Ford - isto , a tudo o que determinava a sua vantagem competitiva -

    deixou de se adequar s expectativas do pblico, que passaram a

    estar centradas, principalmente, no desenho e no conforto. Estadesadequao facilitou a emergncia do styling quer dizer, daquela

    modalidade de desenho industrial que procura fazer o produto

    superficialmente atractivo, frequentemente em detrimento da sua

    qualidade e convenincia; (...) que fomenta a sua obsolescncia

    artificial em vez da sua fruio e utilizao prolongadas(Maldonado,1993: 41). O styling remete para uma resposta do regime capitalista

    crise econmica da grande depresso, uma soluo que se

    caracterizou por uma poltica de fabrico de muitos modelos de curtadurao, uma poltica que se substituiu s anteriores orientaes

    baseadas na concepo de poucos modelos de longa durao. Para

    ns, esta dicotomia importante para entender a especificidade de

    alguma da publicidade contempornea que, curiosamente, tambm

    comeou a surgir a partir da mesma altura (a estratgia de reduo

    do preo do produto substituda pela da promoo - Maldonado,

    1993: 41): o estilismo publicitrio actual cada vez mais confundido

    com um decorativismo expressivo que nos faz lembrar o styling

    industrial da primeira metade do sculo passado. A estabilidade da

    mensagem publicitria, baseada na afirmao de uma vantagem

    competitiva, por intermdio de uma estratgia comunicacional de

    longa durao, substituda, cada vez mais, por abordagens criativas

    dispersas, errantes diversas, por vezes incoerentes ou contraditrias,

    desenvolvidas ao sabor de oportunidades, cada vez mais limitadas no

    espao e no tempo. Se bem que surpreendente e at escandalosa, a

    mensagem publicitria contempornea , nos dias de hoje,

    camalenica e diletante. Enftica, no consegue, todavia, resistir ao

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    23/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    23

    passar do tempo e est dependente de circunstncias e de contextos

    de enunciao extra-econmica. Trata-se de uma situao que no

    deixa de constituir uma caracterstica paradoxal, sobretudo quandopensamos nas campanhas publicitrias de grande alcance, integradasem estratgias de marketingglobal

    4 Concluso

    Considerar uma moda publicitria implica descobrir nas

    mensagens publicitrias actores ou, ento, fenmenos de

    subjectivao em que os produtos so objecto de uma personalizao

    integrada numa espcie de fbula publicitria.

    Comemos por conceber a existncia dos actores publicitrios

    e, indirectamente, dos fenmenos de moda como estando

    obrigatoriamente dotada de uma funcionalidade comunicacional de

    ndole publicitria. Este pressuposto levou-nos a conceber a

    existncia de diferentes tipos de moda (e, indirectamente, de actorpublicitrio) de acordo com distintos gneros publicitrios. Assim, da

    mesma maneira que existem publicidades (ou gneros publicitrios:Publicidade Informativa, de Marca, Apelativa, etc.), tambm h vrias

    categorias de moda publicitria. Um estilo tpico da Publicidade

    Informativa, um figurino caracterstico da Publicidade Apelativa, um

    look relativo Publicidade de Marca e assim sucessivamente.

    A existncia de modas na publicidade e no de uma moda

    genericamente concebida, est relacionada com o facto de o

    vesturio que os actores publicitrios envergam apresentar uma

    funcionalidade comunicacional estritamente de ndole comercial.Subjacente a esta concepo encontra-se a defesa do valor utilitrio

    dos signos que compem as mensagens publicitrias, como se elesestivessem submetidos a uma sintaxe de expresso publicitria que

    est adaptada divulgao das mercadorias. Ora este utilitarismo,

    que no limite se traduz numa estabilidade das formas expressivas do

    processo de comunicao publicitrio (uma espcie de gramtica

    publicitria), contrasta com o barroquismo publicitrio cada vez mais

    frequente na publicidade contempornea. Explorando o produto comum pr-texto, a mensagem publicitria assume-se como o espao de

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    24/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1

    24

    confluncia intertextual de uma multiplicidade de discursos. Esta

    situao importante e apresenta implicaes nos signos de moda,

    na medida em que estes deixam de estar submetidos a umafuncionalidade comunicacional de ndole estritamente comercial paratraduzirem tambm as circunstncias e os contextos de enunciao

    de discursos perpassados por outros valores. Se anteriormente a

    moda encontrava-se encerrada num processo de afirmao da

    existncia do produto, actualmente, encontra-se aberta ao mundo,

    num processo de comtextextualizao. Ora, na nossa opinio, este

    fenmeno no novo: apesar das suas configuraes serem

    especficas, sintomtico de uma polaridade que j se encontrava

    presente no design: a dicotomia entre o funcionalismo e o estilismo,

    que cada vez mais um apangio das sociedades capitalistas.

    5 Referncias

    BAUDRILLARD, Jean A moral dos objectos. Funo-signo e lgica declasse, in: VRIOS Semiologia dos Objectos. Petroplis Editora,

    Vozes, p. 42- 87

    CAMILO, Eduardo [a] Das especificidades estruturais das

    mensagens publicitrias, in: Actas do 2o Lusocom, CCCC2004.

    Covilh, Universidadeda Beira Interior, 2004, Formato CDROM

    CAMILO, Eduardo [b] A monstruosidade das marcas: da

    massificao absoluta singularidade in. CORREIA, Joo Carlos

    Correia; SANTOS, Jos Manuel (Org.) Teorias da comunicao.

    UBI, 2004, Col. Ubianas

    CAMILO- Antonmias da fotografia publicitria: da ostentao eliso dos objectos, in: Actas de do I Congreso de Teoria y

    Tcnica de los medios audiovisuales:el anlisis de la imagenfotogrfica. Castellom Universidadd Jaume I, 2004. Formato CD

    ROM

    FLOCH, Jean- Marie Identits visuelles. Paris, Puf, 1995. Col.

    Formes Semiotiques

    JAKOBSON, Roman- Essais de Linguistique GnraleParis, Ed.Minuit, 1963

  • 8/13/2019 A Moda Na Publicidade

    25/25

    COMUNICOLOGIARevista de Comunicao e Epistemologia da Universidade Catlica de Braslia

    ISSN 1981-2132 N 8 2011.1MALDONADO, Toms El diseo industrial reconsiderado.

    Barcelona, Ed.Gustavo e Gili, 1993

    MENDES, Joo Maria Gomes Ribeiro Por que tantas histrias.Lisboa, FCSHA moda na publicidade17da Universidade Nova deLisboa, Texto policopiado, Tese de Doutoramento em Cincias da

    Comunicao, 1999

    MOLES Kitsch e objecto in VRIOS Semiologia dos Objectos.

    Petroplis Editora,Vozes, p. 157- 195

    PNINOU, Georges [a] Le oui, le nom et le caractre in : COLE

    PRATIQUE DES HAUTES TUDES CENTRE DTUDES DES

    COMMUNICATIONS DE MASSE (ED.) Communications. Paris,

    Seuil. 1971, p. 67- 81

    PNINOU, Georges - Semitica de la publicidad. Barcelona,

    Editorial Gustavo Gili, s.d., Col. Comunicacin Visual

    TODOROV, Tzvetan - Mikhal Bakhtine, le principe dialogique suivi

    de crits du Cercle de Bakhtine. Paris, Seuil, 1981