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A mobilidade centrada no trabalho e o processo de periferização urbana no aglomerado urbano de Maringá William Antonio Borges 1 Márcia Regina Ferreira 2 Marcio Mendes Rocha 3 Resumo: O presente artigo tem como objetivo compreender o processo de periferização no aglomerado urbano de Maringá, por meio da mobilidade centrada no trabalho. Com efeito, parte-se de uma abordagem referente a mobilidade centrada no trabalho, dando sustentabilidade conceitual a pesquisa. Em seguida buscou-se perceber o processo de periferização no Agomerado Urbano de Maringá. A análise empírica resultou de uma abordagem qualitativa, auferida por entrevistas semidiretivas, realizadas em empresas situadas em Maringá e com trabalhadores (empregados nestas empresas e desempregados) das cidades de Paiçandu e Sarandi, com o propósito de retratar a dinâmica entre a cidade pólo e a sua periferia externa, no intuito de evidenciar a inclusão perversa de trabalhadores na urbes onde prevalece o capital. Palavras-chaves: Periferização, Mobilidade Centrada no Trabalho, Aglomerado Urbano, Gestão Pública. Abstract: This article aims at understanding the periphery formation process in the urban crowd in Maringá, through the work-centered mobility. In fact, it starts by presents a work-centered mobility approach giving conceptual support to the research. Next, it seeks to get to know the periphery formation process in Urban Crowd of Maringa. The empirical analyses resulted in a qualitative approach, through semi-directive surveys conducted in some companies in Maringá, and also, applied to some workers (people working in these companies or unemployed people) in the cities of Paiçandu and Sarandi. The purpose of them was to portray the dynamics between pole city and its outer periphery aiming at evidencing the perverse inclusion of workers in urbes, where the capital prevails. Key-words: Periphery Formation, Work-centered Mobility, Urban Crowd, Public Management. Área V - População e mercado de trabalho paranaense 1 Universidade Estadual de Maringá. Endereço eletrônico: [email protected] 2 Universidade Federal do Paraná- Campus Litoral. 3 Universidade Estadual de Maringá .

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A mobilidade centrada no trabalho e o processo de periferização urbana no aglomerado urbano de Maringá

William Antonio Borges1 Márcia Regina Ferreira2 Marcio Mendes Rocha3

Resumo: O presente artigo tem como objetivo compreender o processo de periferização no aglomerado urbano de Maringá, por meio da mobilidade centrada no trabalho. Com efeito, parte-se de uma abordagem referente a mobilidade centrada no trabalho, dando sustentabilidade conceitual a pesquisa. Em seguida buscou-se perceber o processo de periferização no Agomerado Urbano de Maringá. A análise empírica resultou de uma abordagem qualitativa, auferida por entrevistas semidiretivas, realizadas em empresas situadas em Maringá e com trabalhadores (empregados nestas empresas e desempregados) das cidades de Paiçandu e Sarandi, com o propósito de retratar a dinâmica entre a cidade pólo e a sua periferia externa, no intuito de evidenciar a inclusão perversa de trabalhadores na urbes onde prevalece o capital. Palavras-chaves: Periferização, Mobilidade Centrada no Trabalho, Aglomerado Urbano, Gestão Pública. Abstract: This article aims at understanding the periphery formation process in the urban crowd in Maringá, through the work-centered mobility. In fact, it starts by presents a work-centered mobility approach giving conceptual support to the research. Next, it seeks to get to know the periphery formation process in Urban Crowd of Maringa. The empirical analyses resulted in a qualitative approach, through semi-directive surveys conducted in some companies in Maringá, and also, applied to some workers (people working in these companies or unemployed people) in the cities of Paiçandu and Sarandi. The purpose of them was to portray the dynamics between pole city and its outer periphery aiming at evidencing the perverse inclusion of workers in urbes, where the capital prevails. Key-words: Periphery Formation, Work-centered Mobility, Urban Crowd, Public Management.

Área V - População e mercado de trabalho paranaense

1 Universidade Estadual de Maringá. Endereço eletrônico: [email protected] 2 Universidade Federal do Paraná- Campus Litoral. 3 Universidade Estadual de Maringá .

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1 - Introdução

Estudar o processo de periferização no aglomerado urbano de Maringá é

tomar contato com o fenômeno de crescimento dos espaços urbanos de médio porte

no Brasil. A reprodução do urbano nestes espaços retrata a mesma condição de

desigualdade vivenciada pela metrópole, por mais que estas últimas apresentem

dinâmicas diferentes ou mais intensas. Deste modo, este fenômeno é também

decorrente do processo de desconcentração das grandes metrópoles tradicionais,

São Paulo e Rio de Janeiro.

A cidade pode ser olhada a partir de vários ângulos, haja vista a

complexidade existente no lócus urbano, fruto da vivência humana, da construção e

reprodução de uma estrutura de vida social complexa e contraditória. A cidade

poderia ser a expressão coletiva emancipada e desejável, decorrente de um

significado, porém, se reproduz com base na acumulação capitalista decorrente do

desenvolvimento desigual e combinado, o que, por sua vez, resulta na produção da

periferia.

Embora exista um descontentamento da sociedade, a acomodação

pactuada das classes dominantes - as detentoras de capital e possuidoras da voz

ativa - determina as ações públicas no país e no mundo, expressa uma ganância de

auferir um maior acúmulo, sustentando a mais-valia, ao passo que sustenta a

depreciada mão-de-obra excluída.

A cidade que incute a esperança no imaginário da força de trabalho lhe

proporciona as mazelas e o “prazer” de habitar um dos símbolos do capitalismo (a

cidade caótica e atraente), mesmo para aquele que mora na periferia carente.

Na conformação dos espaços, estes são regidos pelo modo de produção

capitalista, a partir de suas novas formas. A população, por sua vez, conforma-se

com as leis de acumulação de capital, embora isso não deixa de ser uma estratégia

de vida. Nesse sentido, os espaços periféricos devem ser vistos como resultado de

um processo de produção do espaço urbano, e também como reflexo da

sustentabilidade da nova estrutura laboral flexível que viabiliza a nova lógica do

capital.

Com efeito, para se realizar a análise do aglomerado urbano de Maringá,

teve-se o materialismo histórico e dialético como método. Desse modo, fez-se

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necessário iniciar por uma abordagem histórica referente a mobilidade centrada no

trabalho que ocorrera no Brasil, delimitada à partir da modernização conservadora.

Em seguida, adentra-se ao contexto do aglomerado urbano de Maringá por meio de

uma pequena introdução a modernização conservadora no Norte Central

Paranaense. Por fim, parte-se para uma análise de dados secundários com o

propósito de constatar a desigualdade que impera nesta aglomeração urbana e,

posteriormente, a pesquisa abarca uma análise qualitativa dos resultados de 30

entrevistas semidiretivas, das quais 20 foram realizadas nas empresas (10 com

encarregados dos setores de recursos humanos ou produção e 10 com

trabalhadores, dos quais, 5 são moradores de Sarandi e 5 são moradores de

Paiçandu), e 10 entrevistas com desempregados, sendo 5 habitantes de Sarandi e 5

habitantes de Paiçandu, onde se buscou auferir uma leitura da mobilidade do

trabalho, social e física, em suas vidas.

Foram realizadas entrevistas em empresas que operam em Maringá com o

propósito de apreender a dinâmica pólo-periferia (onde se tem o trabalho na cidade-

pólo e o trabalhador habitante da periferia externa4).

Cabe pontuar que todas as questões estão direta ou indiretamente ligadas à

mobilidade centrada no trabalho, o que denota uma preocupação em compreender

este movimento e o que dele se pode relacionar ao processo de periferização.

2 – A Mobilidade Centrada no Trabalho no Brasil

Crescimento e desigualdade é o retrato do desenrolar histórico da

economia e da sociedade brasileira. O Brasil, país possuidor de imensas riquezas,

nada mais construiu do que uma sociedade espoliada. Percebe-se que o

desenvolvimento que sempre foi almejado nunca chegou perto de acontecer, pois

desenvolvimento sem melhora de condição de vida para todos os que deveriam ser

cidadãos ficou distante do ideário defendido pela proposta vencedora dos

neoclássicos, a qual fez instaurar uma mobilidade centrada no trabalho, ou seja,

uma dinâmica sócio-econômica que promoveu a uma maior desigualdade social.

4 Segundo Capel, (apud NEGRI, 2001, p. 72), a periferia que se localiza no município central se denomina de periferia interna, já as áreas periféricas localizadas nos municípios adjacentes são denominadas periferia externa.

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A modernização conservadora se apresentou fortemente como a grande

temática de discussão, partindo de duas vertentes com propostas diferentes, já na

década de 1960. De um lado os neoclássicos defendiam a inserção de tecnologias

sem mexer na estrutura fundiária; do outro lado, os marxistas defendiam uma

modernização que pregava uma verdadeira reforma agrária – mudança estrutural.

Esse entendimento, para Montenegro (1993), parte de uma determinada

concepção da história, que, no tocante às duas linhas do pensamento

socioeconômico mais preeminentes do final do século XIX ao XX, tem como

fundamento a “filosofia da história da consumação”. A idéia de progresso como

inexorável se encontra tanto nos neoclássicos quanto nos marxistas.

Para os neoclássicos a consumação da história seria atingir, em seu aspecto

absoluto, o liberalismo econômico e político, o ponto optimum em que o mercado,

com “sua mão invisível”, regularia e equilibraria todos os excessos e apararia todas

as arestas, satisfazendo assim as necessidades e interesses tanto dos

consumidores quanto dos produtores. Já para o marxismo, a consumação da

história seria a concretização das utopias socialistas: o estabelecimento do “reino”

da igualdade, justiça, liberdade e solidariedade (MONTENEGRO, 1993).

Com a vitória dos pressupostos neoclássicos, os quais representavam os

interesses da elite gestora, deu-se continuidade a concentração de renda, rumo a

industrialização do país.

Segundo Graziano da Silva (apud MORO, 1998), a modernização foi

parcial, conservadora e dolorosa. Parcial porque se limitou a algumas regiões do

país, a alguns produtos específicos e a certas fases da organização da produção;

conservadora porque não rompeu com a tradicional concentração fundiária; e, por

fim, dolorosa porque concorreu para expulsar do campo milhares de pessoas ligadas

às atividades agropecuárias, acentuando o êxodo rural.

Segundo Rocha (1998), ocorreu no Brasil, no final da década de 1960 e

início dos anos 1970, o estabelecimento de uma política econômica de

modernização à custa de um forte endividamento, acarretando a penetração mais

intensiva de empresas multinacionais. Com isso se gerou, no mercado brasileiro, um

dinamismo da economia, onde se verifica um aumento do parque industrial,

principalmente nos setores de bens duráveis e não duráveis; porém esta

modernização é uma modernização conservadora, à medida que a dinamização da

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economia é socialmente restritiva, os contrastes sociais aumentam e o usufruto do

crescimento econômico é restrito às camadas de maior poder aquisitivo.

Neste ínterim, na agricultura, quatro fatores caracterizaram o domínio do

interesse do capital, quais sejam: 1) assalariamento dos operários agrícolas,

predispondo à prática capitalista; 2) a inserção de tecnologias no campo, para

sustentar a indústria do setor; 3) a expulsão do trabalhador do campo, com o

conseqüente aumento do exército de reserva na cidade; e 4) sustentação da

geração de divisas por meio da exportação de produtos agrícolas, como a soja.

Segundo Graziano da Silva (1982, p. 46), “Foi no final da fase de expansão

do ciclo da industrialização pesada brasileira que se instalaram no País as principais

indústrias de insumos agrícolas (em particular a indústria de tratores e máquinas

agrícolas, fertilizantes químicos, rações, medicamentos veterinários etc.)”.

Com base nesta perspectiva, que revela a agricultura e a indústria numa

relação interdependente, denota-se que a primeira passa a ganhar notoriedade na

realidade econômica nacional, como fonte de desenvolvimento atrelado ao modo de

produção capitalista. A agricultura, principalmente a partir da década de 1980, se

transformou numa verdadeira indústria, pois, além de consumir o artefato industrial

(máquinas e insumos), se posiciona como vendedora de produtos. Neste novo

cenário, as grandes agroindustriais são o retrato de um modelo de desenvolvimento

no domínio dos latifúndios e da elite.

Cabe elucidar que a agricultura brasileira retrata uma forte aliança entre o

capital e a grande propriedade. Decorre disso a dificuldade de se fazer uma reforma

agrária e democratizar o acesso à terra. Um fator determinante para se dar a

concentração das propriedades foi o acesso ao crédito rural, já que apenas os

grandes proprietários tinham como dar garantia à dívida (GRAZIANO DA SILVA,

1982)

O reflexo disso se verifica no aumento da classe oprimida, identificada neste

trabalho como a classe incluída de forma perversa. Isso é decorrente de uma gestão

do Governo Federal que objetivou o crescimento econômico, utilizando-se de um

discurso que se apresenta como busca do desenvolvimento. O próprio Delfim Neto

defendia: “Vamos primeiro fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”. A divisão ainda

não aconteceu! Continua a imperar no Brasil a desigualdade!

Com efeito, a urbanização no Brasil ganha força justamente com a

mecanização da agricultura, que, nas décadas de 1970 e 1980, promove mais

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intensamente o êxodo rural, ocasionando um grande processo migratório do campo

e de pequenas cidades para os médios e grandes centros urbanos, bem como o

surgimento de novas regiões que se industrializam. Logo de início, se faz oportuno

revelar os números migratórios do rural para o urbano, que foram os seguintes: na

década de 1950, 7 milhões; na de 1960, 12,3 milhões; e na de 1970, 15,8 milhões,

de acordo com Martini & Garcia (apud OLIVEIRA, 1998).

O processo de urbanização impacta de forma significativa a mobilidade do

trabalho, e está associado a um maior dinamismo produtivo da economia brasileira.

A industrialização brasileira representou, para uma parcela restrita da

população, o acesso efetivo a padrões de consumo semelhantes aos das economias

capitalistas avançadas, e, para outros, os incluídos de forma perversa, o sonho, nem

sempre alcançado, da ascensão social e da melhoria de vida.

O Brasil, pós 1990, abre sua economia ao mercado mundial, conforme os

preceitos neoliberais, ajustando sua indústria a uma produção mais flexível e

subordinada ao capital financeiro, hegemônico. Tal contexto o levou à especulação

financeira e à flexibilização do trabalho, esta conquistada pela terceirização, projetos

modulares de produção e fragmentação do trabalho pelo território global, viabilizada

pelas telecomunicações e tecnologia da informação, seguindo o modelo toyotista.

Mello (1999) observa que nas últimas décadas emergiram novas

combinações entre as antigas empresas multinacionais, conhecidas atualmente

como transnacionais, em decorrência da sua fragmentação pelo território, viabilizada

por investimentos internacionais, fusões, incorporações, joint ventures5 ou

privatizações e, principalmente, pela desconcentração produtiva, instaurando uma

nova divisão internacional do trabalho.

De acordo com Antunes (2003, p. 31), “Como resposta à sua própria crise,

iniciou-se um processo de reorganização do capital e de seu sistema ideológico e

político de dominação, cujos contornos mais evidentes foram o advento do

neoliberalismo”. Isso se deveu ao processo de privatização (desmontagem do setor

produtivo estatal) e também à desregulamentação dos direitos do trabalho. Somado

a isso, o desenvolvimento tecnológico cumpriu o papel de criar condições para que

uma nova forma de acumulação capitalista pudesse entrar em vigor, permitindo

5 Joint venture é uma parceria formada por uma empresa de um país com uma empresa em outro país com a finalidade de perseguir empreendimentos mutuamente desejáveis (CERTO, S. C., 2003, p. 552).

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auferir uma maior mais-valia relativa, mediante a substituição do trabalho vivo pelo

trabalho morto.

Para Milton Santos (2000), a política agora é feita no mercado, sendo as

empresas verdadeiros atores inconseqüentes quanto à responsabilidade social.

Como esse mercado não tem uma posição ética, a empresa reina na ideologia do

mercado global e domina o cenário, usufruindo as leis do sistema vigente,

anunciando o fim do Estado-nação.

Não obstante, neste contexto existe uma contradição, como salienta

Sampaio Júnior (apud HENRIQUE, 1998), a qual se expressa pelo avanço da

transnacionalização do capitalismo ao passo em que o Estado nacional luta pela

sobrevivência. Frente a esta questão, há que se considerar que cada indivíduo

constitui o Estado. Deste modo, o fim do Estado estaria no ápice da alienação do

indivíduo, quando este passa a não se perceber como sujeito coletivo. Com efeito, o

Estado, como totalização das individualidades no cumprimento da ação coletiva,

perde legitimidade quando impera a ausência de consciência do sujeito de pertencer

e participar efetivamente na estrutura democrática, retratando um comportamento

preso à ordem e à passividade.

O cidadão trabalhador se encontra em piores condições na atualidade, em

decorrência da sustentabilidade do capital, a qual concorre para a pauperização

social. O Estado gestor se “inibe” ao se render à gestão de melhores condições

frente à competitividade para atrair capital, e seu auxílio na construção social e da

cidadania é geralmente ínfimo, principalmente nos países periféricos.

Mesmo com os avanços tecnológicos, com a competitividade global e as

novas condições de vida que se apresentam à sociedade, a população continua a

buscar as cidades como morada e o mundo assiste a uma grande mobilidade de

seus povos, principalmente rumo aos centros urbanos produtivos. Isso teve como

causa “a mobilidade dos trabalhadores entre empresas, profissões e regiões, isto é,

a mobilidade do emprego, a mobilidade profissional e a mobilidade geográfica”

(BENKO, 1999, p. 32).

Para atender à dinâmica trabalho-emprego urbano, a qual na atualidade

sobressai ao trabalho rural, pelo fato de a grande massa de trabalhadores brasileiros

ter se dirigido para os médios e grandes centros urbanos, têm-se as cidades-satélite

e cidades-dormitório como as grandes receptoras de pessoas originárias do campo.

Essas pessoas chegam totalmente desqualificadas e muitas vezes encontram estas

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cidades sem recursos para arcar com a educação, a saúde e o emprego para um

grande contingente de famílias migrantes, fruto da modernização conservadora.

Com base na razão instrumental, o discurso atual se apresenta

completamente alienado das questões sociais. Não se pode deixar de considerar,

nesse contexto, a importância de uma requalificação da força de trabalho, que

confira uma maior flexibilização, por meio de novas habilidades, pois num ambiente

sem empregos, que acarreta uma competição desumana, é fundamental se

apresentar empregável. Segundo Pochmann (1999, p. 97), “Como a educação torna-

se cada vez mais uma condição necessária para o emprego da mão-de-obra, a

oferta de trabalho tende a estar mais identificada com a busca de maior qualificação

profissional”.

No Brasil, quanto à qualificação, constata-se que as empresas têm buscado

oferecer cursos de reciclagem, já que passaram a ter dedução fiscal dos gastos com

formação. Já por parte do governo, tem sido ofertada uma variedade de programas

aos desempregados, sendo a participação em tais programas uma condição para se

receber o seguro-desemprego (GUIMARÃES, 1998).

A mobilidade acontecida com os avanços tecnológicos no mercado brasileiro

instaurou, sem dúvida, uma maior exigência quanto à qualificação da força de

trabalho, em conseqüência da necessidade de novos conhecimentos para operar um

sistema de produção. Isso explica o desemprego - causado pelo aumento de

produtividade obtido com as novas tecnologias e pela concomitante estagnação do

crescimento econômico do país.

De acordo com Pochmann (1999, p. 104),

“Entre 1989 e 1996, o desemprego cresceu relativamente mais: 1) para as pessoas com mais de 11 anos de escolaridade; 2) para pessoas com idade mais avançada (mais de 40 anos), para os homens; 3) para os não-chefes de família (cônjuge); 4) para as pessoas negras; e 5) para os que buscam o primeiro emprego”.

No entanto, há que se considerar que o problema da precarização do

trabalho não se resolve apenas com qualificação. A questão é estrutural6, de modelo

de desenvolvimento. Tem-se que sair de um modelo concentrador para um modelo 6 Para Pochmann (1998, p. 219), “por desemprego estrutural entende-se aquele originado pela inadequação da estrutura econômica que opera sem utilizar plenamente a força de trabalho disponível. Decorre, na maior parte das vezes, do baixo e prolongado dinamismo econômico, da destruição de ocupações tradicionais no campo, da rápida mudança na base técnica, da carência educacional, da desregulação do mercado de trabalho, da abertura inadequada da economia, etc”.

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descentralizador, com menores distanciamentos sociais entre as classes. A

permanência na pobreza absoluta de grande parte da população urbana do país é a

verdadeira expressão de uma situação de extrema desigualdade e de polarização de

classes.

Com efeito, segundo Diniz (apud RIBEIRO, 2000), todo o processo de

flexibilização produtiva apresentado no presente trabalho tende a reforçar a região

mais desenvolvida do país, a qual ele delimita como o polígono e seu entorno

definido por Belo Horizonte – Uberlândia – Maringá – Porto Alegre – Florianópolis –

São José dos Campos, e salienta que nesse espaço está a maior parcela da base

produtiva, que se moderniza mais rapidamente, e também onde estão as melhores

condições locais. Nesse contexto, tais regiões se tornam pólos de atração, fazendo

com que ocorra uma concentração da população nos médios e grandes centros

urbanos.

3 – A Periferia decorrente da Mobilidade Centrada no Trabalho: A Questão no Aglomerado Urbano de Maringá

Por volta do final dos anos 1960, a sociedade paranaense era constituída

fundamentalmente de pequenos produtores, proprietários ou não, já que no Norte do

estado era grande o número de meeiros e colonos. Nas cidades, o que predominava

era o comércio e os serviços ligados à agricultura, enquanto a indústria era

inexpressiva e rudimentar. Conseqüentemente, era reduzido o número de

trabalhadores assalariados, tanto no campo como nas cidades.

Com efeito, a região do Grande Norte apresentava condições propícias à

implantação da mecanização da agricultura, já que, com base no desenvolvimento

auferido pelo ciclo cafeeiro, a região estava dotada de capitalistas do café e de uma

classe de produtores familiares mercantis, o que propiciara a existência de uma

infra-estrutura de produção no que se refere a meios de transporte, armazenamento,

bancos e uma rede de prestadores de serviços, uma organização política entre os

produtores rurais e um movimento cooperativista (MARTINE E GARCIA, 1987, p.

132).

A modernização conservadora teve como uma de suas justificativas - já que

se tratou de uma política do Governo Federal - liberar mão-de-obra para o trabalho

urbano. Neste contexto, com a mecanização da agricultura, a região de Maringá se

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industrializou, passando de 3.499 postos de trabalho na indústria, no ano de 1970,

para 15.091 em 1985. De 1970 a 1985, a microrregião de Maringá foi, dentre os

principais pólos industriais, o 3º que mais cresceu, com 10,2% ao ano, só perdendo

para Manaus e Vitória, com respectivamente 12,8% e 10,5% (DINIZ, 1995).

Não obstante, esse expressivo crescimento não foi suficiente para atender à

demanda por empregos por parte dos trabalhadores rurais que foram expulsos do

campo. Na década de 1980, como fruto deste quadro de dificuldades encontrado na

transição do trabalho do meio rural para o meio urbano, muitos paranaenses

migraram para outras regiões do país, principalmente para o Centro-Oeste (Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul), Rondônia e São Paulo (capital e interior).

Deve-se frisar que este processo migratório ocorreu de forma caótica e os

emigrantes de parcos recursos encontraram dificuldades em seus deslocamentos.

Como já visto, parte significativa do contingente que deixou o campo no decorrer das

décadas de 1960 e, principalmente, 1970 e 1980 se dirigiu, preferencialmente, às

cidades-pólos regionais, instaurando um processo de periferização externa nos dois

principais núcleos urbanos do interior do Paraná, Londrina e Maringá.

Segundo Rocha (1999), observa-se nesse eixo o estabelecimento de dois

núcleos dinâmicos fundamentais, Londrina e Maringá, que formam uma zona de

influência, polarizando capital e força de trabalho; e adjacentes a esses pólos se

encontram cidades-satélites, reservatórios de mão-de-obra desqualificada que busca

no centro hegemônico um emprego sazonal e precário.

Neste universo regional, Maringá é conhecida por sua beleza urbanística -

decorrente do seu planejamento - e pelas áreas verdes (parques, praças e extensos

canteiros centrais arborizados). É um forte núcleo prestador de serviços

especializados, se destacando como um importante centro educacional, comercial e

agroindustrial. Sua população, quando do censo 2000, realizado pelo IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística), era de 288.653 habitantes. Dentre todos os

municípios do Norte do Paraná, o de Maringá foi classificado pela ONU

(Organização das Nações Unidas) como detentor do melhor índice de

desenvolvimento humano. Com base no Atlas de Desenvolvimento Humano (PNUD-

ONU)7, o município, dentre os maiores do estado, aparece como o menos carente:

7 Projeto das Nações Unidas para o Desenvolvmento.

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8,3% da população são pobres, contra 9,1% em Curitiba, 12,8% em Londrina, 19,1%

em Cascavel, 20,8% em Ponta Grossa e 21,1% em Foz do Iguaçu.

Por outro lado, embora Maringá expresse dados favoráveis no contexto

estadual, seu aglomerado se apresenta muito desigual. Percebe-se que no entorno

desta cidade-pólo se “esconde” um número significativo de portadores de carência.

Deste modo, não fugindo à “regra” das consagradas metrópoles nacionais, no

aglomerado urbano de Maringá se identificam cidades que nasceram cidades-

dormitório e, de certo modo, ainda exercem essa função, retratando um espaço

urbano degradado.

Esse território passou a se constituir em decorrência do êxodo rural, a partir

da década de 1970; no entanto, o planejamento executado na região, com a criação

de cidades distantes em média 15 quilômetros umas das outras, facilitou a

aglomeração, a qual é formada pelos municípios de Marialva, Maringá, Sarandi e

Paiçandu.

Com base na última década, constata-se que os municípios que tiveram a

maior taxa de crescimento dentre os que congregam o Aglomerado Urbano de

Maringá, Sarandi (4,52% a.a.) e Paiçandu (3,69 % a.a.), se situam respectivamente

nos limites leste e oeste do município de Maringá, sendo que Sarandi se encontra

conurbada (por meio de bairros residenciais) e Paiçandu em processo de

conurbação (por meio do setor industrial), cresceram num ritmo cerca de duas vezes

maior que o da cidade-pólo, Maringá (2,06%), e bem acima do crescimento

experimentado pela 4º cidade do aglomerado – Marialva (2,68%).

Os municípios de Sarandi e Paiçandu deixam perceber que no aglomerado

urbano se constata um acentuado processo de periferização externa à cidade de

Maringá. Isso se confirma quando se depara com altos indicadores de exclusão

social (IES), expressos pelos baixos índices de desenvolvimento social

apresentados por estas localidades, principalmente quando comparadas com o pólo.

Veja a tabela nº. 1.

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Tabela 1 - Índices de exclusão social dos municípios do Aglomerado Urbano de Maringá

Municípios Posição no Ranking* IES Marialva 823º 0,540 Maringá 27º 0,671 Paiçandu 1682º 0,493 Sarandi 1566º 0,500

Fonte: POCHMANN, Márcio; AMORIN, Ricardo. Atlas de exclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003. ORG: BORGES, W. A. * a partir da melhor situação social – dentre todos os municípios do Brasil (total de 5507)

Não obstante, é perceptível que Sarandi e Paiçandu são municípios que se

apresentam com os piores indicadores de condições socioeconômicas do

aglomerado urbano de Maringá. Por esse fato, aliado as altas taxas de crescimento

populacional não compensadas pelo incremento e dinamismo econômico no mesmo

ritmo, eles se constituem como periferia do aglomerado.

Deste modo, o processo de periferização externa ao pólo acompanhou o

aumento do dinamismo de sua economia, que resultou principalmente do processo

de industrialização. Parte da classe operária que trabalha em Maringá e grande

parte do seu exército de reserva, principalmente aqueles que buscavam adquirir a

sua casa própria, conseguiram se inserir neste espaço urbano, passando a habitar

as cidades de Paiçandu e Sarandi, ambas muito próximas dos dois principais

parques industriais da cidade-pólo.

Com efeito, as cidades de Sarandi e Paiçandu apresentaram dois

importantes desdobramentos. O primeiro deles era viabilizar a inserção da força de

trabalho demandada pelas indústrias e empresas em geral que se instalaram na

cidade-pólo, assim como abrigar os potenciais trabalhadores que compunham o

exército de reserva, os quais alimentavam a expectativa de realização do sonho

provocado pela fábula da vida urbana. Esses espaços periféricos cresceram como

reflexo das políticas de gestão empreendidas por um rodízio de sucessivos

mandatos comandados pela elite maringaense, que cumpria o propósito de impedir

a pauperização do espaço urbano compreendido pelo município de Maringá. O

segundo desdobramento foi o incentivo às incorporadoras e loteadoras

maringaenses a atuar em espaços muito próximos ao centro dinâmico, beneficiadas

pela fragilidade das legislações urbanísticas de Sarandi e Paiçandu. O fato propiciou

loteamentos dotados de uma infra-estrutura mínima, de baixo custo, que permitia a

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comercialização dos lotes a preços baixos e, concomitantemente, a prática de

reserva de valor, fonte de especulação imobiliária de áreas com potencial de

valorização decorrente dos investimentos públicos que passariam a ser exigidos

pelos próprios moradores.

Neste sentido, cabe citar Tonella e Rodrigues (2003, p. 6)

“Diante desse quadro é possível compreender as relações entre a

manutenção/reafirmação das configurações espaciais urbanas de Maringá e região, sem perder de vista a ocupação inicialmente planejada. A periferização das camadas populares se acentuou no processo de crescimento da indústria e conseqüentemente da mão-de-obra demandada pela nova atividade econômica. Ou seja, o incremento na economia demandou a vinda de população cujas rendas são auferidas nas ocupações não especializadas, portanto baixas. Mesmo assim, não houve um processo de degradação do espaço urbano maringaense, o que mostra claramente amplo controle do poder público sobre o seu uso e ocupação”.

Conquanto seja evidente que Maringá polariza uma região na qual se

constata a aglomeração urbana caracterizada pela interdependência intermunicipal,

a cidade-pólo possivelmente atrai mais pessoas destinadas ao consumo do que

trabalhadores. É significativo o número de pessoas que se dirigem diariamente a

Maringá a trabalho, porém a proporção não é tão expressiva, quando se observa

que 83% dos trabalhadores habitam Maringá.

Considerando-se que a cidade tem 73,9% da população do aglomerado

formado em conjunto com Sarandi e Paiçandu, e que em Maringá se localiza o

centro dinâmico e grande parte das indústrias, o nível de interdependência poderia

ser maior. Isso é ainda mais preocupante pelo fato de os municípios adjacentes não

apresentarem um mercado de trabalho amplo, empregando menos trabalhadores

habitantes da localidade do que a cidade-pólo. Neste caso, onde estão trabalhando

as pessoas economicamente ativas? No mercado informal? Em outras cidades? É

preciso considerar que muitos são autônomos, empresários ou microempresários, e

muitos outros, desempregados.

Conforme ilustra a tabela n.º 2, apesar de Sarandi e Paiçandu serem as

cidades que mais possuem trabalhadores empregados em Maringá, o item “outras

cidades” aparece em terceiro lugar, com 3,4%, na frente da quarta cidade que

constitui o aglomerado urbano de Maringá, Marialva, donde vem 0,7% dos

trabalhadores ocupados no mercado formal de Maringá.

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Como mostra a análise com base nos setores considerados, a indústria é o

que mais ocupa trabalhadores de outras cidades - 35% (7.729 trabalhadores) -

seguido do comércio, com 13,2% (3.230 trabalhadores) e do setor de serviços, com

12,5% (4.433 pessoas).

Neste contexto, dentre as cidades que formam a periferia externa ao pólo,

Sarandi e Paiçandu detêm uma expressiva participação da mão-de-obra empregada

nas indústrias, representando respectivamente 14,9% e 7,9% e ao todo, 22,8%. Isso

pode estar relacionado à qualidade dos empregos ofertados pelas indústrias, os

quais não requerem uma mão-de-obra altamente qualificada (compreendem tarefas

em rotinas pouco complexas), e ao fator localização, pois, como já foi referido, as

cidades mencionadas ficam muito próximas de dois grandes parques industriais de

Maringá. Os habitantes de Maringá detêm uma participação de apenas 65% no setor

da indústria, bem abaixo dos 83% de todo o mercado de trabalho.

Tabela 2 - Cidade de residência dos funcionários das empresas localizadas em Maringá – 2002

% relativo Itens Indústria Comércio Serviço Total MARINGÁ 65,0 86,8 87,5 83,0 REGIÃO 35,0 13,2 12,5 17,0 Sarandi 14,9 6,2 5,7 7,7 Paiçandu 7,9 2,9 2,7 3,7 Marialva 1,5 0,6 0,5 0,7 Mandaguaçú 0,9 0,8 0,6 0,7 Mandaguari 0,6 1,0 0,6 0,8 Ângulo 0,0 0,0 0,0 0,0 Iguaraçu 0,2 0,0 0,0 0,0 Outras cidades 9,0 1,7 2,4 3,4

Fonte: ACIM (Censo Econômico, 2002).

Para compreender melhor a periferia, vale dedicar uma breve análise aos

números referentes ao mercado de trabalho de Maringá, Paiçandu e Sarandi. Neste

contexto, cabe fazer uma análise comparativa entre os dois últimos municípios

quanto aos respectivos níveis de empregabilidade.

A cidade de Paiçandu emprega no setor formal 2.123 pessoas, enquanto

3.246 de seus habitantes trabalham em Maringá. Somados os números, se têm

5.369 pessoas trabalhando no mercado formal. Há que se considerar que nem todos

os empregados em Paiçandu residem nessa cidade. A população economicamente

ativa desse município é de 14.812 pessoas, 14.018 das quais estão ocupadas em

alguma atividade. Com este cenário, constata-se que apenas 38,30% dos ocupados

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estão no mercado de trabalho formal em empresas de Maringá (60,46%) e de

Paiçandu (39,54%). Sendo assim, ao menos, 62,70% delas são constituídos de

autônomos (atuantes no mercado informal), empresários (microempresários,

principalmente), bóias-frias, ou ainda trabalhadores de empresas de outros

municípios da região.

No outro extremo do aglomerado, Sarandi revela um cenário parecido,

porém menos dependente de Maringá e um pouco menos informal, quando se

compara com Paiçandu. A cidade emprega no setor formal 6.648 pessoas, enquanto

6.756 de seus habitantes trabalham em Maringá. Somados os números, têm-se

13.404 pessoas trabalhando no mercado formal. A população economicamente ativa

desse município é de 32.828 pessoas, das quais, 31.068 estão ocupadas em

alguma atividade. Com este cenário, constata-se que apenas 43,14% dos ocupados

estão no mercado de trabalho formal em empresas de Maringá (50,40%) e de

Sarandi (49,60%), além do fato de que nem todos que trabalham em Sarandi (assim

como verificado em Paiçandu) habitam a cidade. Os restantes 56,86% trabalham na

informalidade - em Maringá, em Sarandi ou em outras cidades da região - ou são

donos de empresas e/ou propriedades rurais.

Com efeito, quando se parte para analisar a renda per capita média dos três

municípios, tem-se Maringá com a maior renda, R$ 465,40, 2,5 vezes maior do que

as apresentadas por Sarandi (R$ 187,10) e Paiçandu (R$ 182,20). Por outro lado, a

desigualdade aumentou, já que a renda per capita média da cidade-pólo cresceu

mais (42,28%), na última década, do que a renda dos municípios investigados da

periferia externa (a renda de Sarandi cresceu 29,30% e a de Paiçandu 35,56%).

Tais taxas de crescimento denotam uma concentração de renda na cidade-

pólo. Constata-se que a proporção de pobres nos três municípios diminuiu, porém é

preciso considerar que o demarcador da pobreza é o fator renda, e esta, por mais

que tenha aumentado em números absolutos, devido ao próprio aumento do salário-

mínimo, tem um poder de compra menor, pelo fato de a inflação ter sido mais alta do

que o aumento do nível de renda da classe mais pobre.

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Tabela 3 - Indicadores de Renda, Pobreza e Desigualdade - 1991 e 2000 PAIÇANDU MARINGÁ SARANDI LOCALIDADES →

INDICADORES

↓ 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Renda per capita média 134,4 182,2 327,1 465,4 144,7 187,1

Proporção de pobres (%) 30,5 23,1 10,8 8,3 29,2 20,6

Índice de Gini* 0,37 0,43 0,51 0,56 0,40 0,43

Fonte: PNUD – Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, 2000 * Trata-se de um índice de desigualdade proposto por Corrado Gini em 1914, freqüentemente utilizado para expressar o grau de desigualdade de renda.

Mapa 1 – Predominância de renda dos responsáveis por domicílio

em Maringá, Paiçandu e Sarandi – 2003

Além do índice de Gini, no contexto da desigualdade, observa-se, por meio

dos extratos apresentados pela tabela nº 3, conforme já expresso, que o município

de Maringá é o que se apresenta mais desigual, porém, isso se explica pela maior

concentração na cidade-pólo da classe detentora de um nível de renda mais

elevado, ou seja, a elite do aglomerado urbano. Em Maringá, segundo o Atlas de

Exclusão Social (V. 3, 2004), 1.970 famílias são consideradas ricas (aquelas que

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auferiam em setembro de 2003 uma renda de R$ 10.982,00), o que coloca a cidade

em 53º lugar no mapa dos ricos, apesar de este município ser o 68º mais populoso

do Brasil.

Por outro lado, embora as cidades de Paiçandu e Sarandi se revelem menos

desiguais, isso se justifica pela maior homogeneidade da renda auferida pelos seus

trabalhadores, o que não acontece em Maringá. Poder-se-ia dizer que Sarandi e

Paiçandu se constituem da classe dos incluídos de forma perversa no espaço

urbano (salvo poucos), e Maringá, como o pólo onde se concentra a classe

dominante. Embora a cidade-pólo contenha também, na sua periferia interna, uma

classe de incluídos de forma perversa, esta classe detém uma renda média um

pouco melhor, o que lhe possibilita ocupar um espaço no meio urbano mais próximo

do centro dinâmico.

4 – Considerações Finais: Retrato via Depoimentos – A Dinâmica Pólo-Periferia Externa

No intuito de compreender o processo de periferização no aglomerado

urbano de Maringá por meio da mobilidade centrada no trabalho, tendo como base

as entrevistas semidiretivas realizadas com empresas e trabalhadores, constatou-se

que prevalece a busca pela maior produtividade e a exigência de uma maior

capacitação dos trabalhadores, o que é notório para a sociedade. Apesar disso, em

sua maioria, as empresas estão contratando mais do que demitindo, por se

encontrarem num momento de expansão. Deste modo, os funcionários que deixam

um determinado setor em decorrência da inserção de tecnologias são realocados

em outros.

Apesar de os relatos terem evidenciado um saldo positivo no tocante à

empregabilidade, os salários somente são corrigidos quando os trabalhadores

passam a exercer novas funções e assumir mais responsabilidades.

Deparou-se com um fator agravante, o qual se expressa pela gestão do

ensino oferecido por algumas empresas. Estas oferecem cursos de ensino

fundamental e médio na própria sede, como uma condição para assegurar o

emprego dos funcionários, exigindo destes sua freqüência em horários em que não

estão trabalhando.

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Com efeito, tais exigências se referem à busca pela qualificação dos

funcionários, pois os programas que as empresas desenvolvem se destinam a

garantir o certificado de qualidade total.

Apesar de existir uma ação organizacional preocupada com a qualidade,

esta está voltada à sustentação do capital, porém pouco envolvida e comprometida

com a condição humana. Disso resulta a precarização do trabalho, em que o capital

espolia o trabalhador, por remunerá-lo mal, adestrá-lo, percebê-lo como um recurso.

Impera a razão instrumental no ambiente empresarial, que busca a especialização

na utilização das técnicas, embora seu discurso dissemine a visão do todo. O

trabalhador que opera a máquina ou exerce funções delimitadas perde a referência

de si próprio, obrigando-se a se comportar conforme a empresa dita ou prega, a se

submeter a um modelo missionário de gestão. O trabalhador, embora se encontre

com maior grau de escolaridade, concomitantemente se revela ainda mais alienado

e submisso à condição imposta pelas empresas.

As empresas acabam agindo e se conduzindo de maneira pouco

responsável, por mais que prestem assistência. Apesar de se envolverem em

campanhas de alimentos ou de agasalho, ou de oportunamente oferecerem serviços

como assistência psicológica ou cursos para os próprios funcionários, precarizam a

condição de vida do trabalhador, por sempre se apropriarem mais de sua força de

trabalho e aliená-lo.

A submissão é tamanha, que se apresenta como uma mobilidade forçada,

identificada pela quantidade de pessoas de cidades circunvizinhas que demandam a

cidade-pólo em busca de emprego. A participação de currículos de trabalhadores

desempregados das cidades de Paiçandu e Sarandi nas empresas pesquisadas que

se situam em Maringá chega a 40% e 50%, o que evidencia uma forte dinâmica

entre o pólo e a periferia, no que se refere à tentativa de inclusão daqueles que se

encontram na margem do espaço urbano e à margem da sociedade. Entretanto, a

participação dos trabalhadores vindos da região (principalmente de Sarandi e

Paiçandu) para trabalhar em Maringá é inferior à quantidade que busca se inserir.

Não se verificou o propósito de atuação na sociedade em prol da dignidade

humana; pelo contrário, o capital encontra espaço para se reproduzir vendendo

mercadoria para a periferia e ao mesmo tempo constituindo os espaços periféricos.

Isso se verifica quando as incorporadoras loteiam espaços barateados com o

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respaldo da flexibilidade da legislação urbana, assegurada pela esfera pública. A

sociedade se reproduz de forma desigual, no entanto, a atuação é de todos.

Apesar disso, não foi essa a percepção constatada nos relatos das

entrevistas com trabalhadores, mas sim, uma visão individualista, tanto no âmbito da

cobrança relativa às deficiências da gestão pública e à corrupção inescrupulosa e

beneficiária, quanto na percepção das causas das dificuldades de auferir uma

melhor renda (o que leva o indivíduo a se culpar). Esse fato denota a exclusão do

trabalhador, decorrente do preço a ser pago àqueles que estão no poder ou

incluídos na gestão do capital que norteia a ação social.

Com efeito, por mais que existam cobranças, estas são dirigidas ao Estado

ou a si próprio, mas não no âmbito da participação. Por sua vez, todos os cidadãos

constituem o Estado! No entanto, nenhum trabalhador se percebeu efetivamente

como partícipe da sociedade, e sim, como um indivíduo que arca com as

conseqüências, mas que depende só de si para obter êxito profissional.

Desta forma, os trabalhadores habitantes da periferia externa a Maringá se

culpam pelo atual estado de pobreza ou por este ter se perpetuado no decorrer de

sua vida. Eles não se percebem participantes de um movimento conduzido por uma

gestão da sociedade em que, embora cada sujeito se apresente como um indivíduo

e resguardado pelo espaço privado, prevalece a interação social e o avanço na

composição e elaboração de novas técnicas. Esse quadro não leva ao

desenvolvimento da concepção humana, pois o movimento, fruto desta gestão, se

sustenta por meio da espoliação, da periferização, do aumento da desigualdade.

Neste contexto, sua história de vida é esquecida. Suas origens são percebidas como

um problema causador das dificuldades encontradas hoje, no momento em que não

percebem os rompimentos instaurados docemente por promessas de uma vida

melhor na cidade, no comércio, nos serviços (entretenimentos), da indústria, etc.

Este discurso se apresenta fortalecido pela cultura de massa, a qual

sustenta a sociedade do consumo ao buscar uma homogeneização desse consumo.

A cultura de massa manipula as pessoas quanto à criação de necessidades que se

transformam em desejos por superfluidades, em detrimento da percepção de quão

importante é a cultura popular, a história do lugar e a dignidade e condição

humanas. A potencial consciência de sujeito coletivo e crítico é impedida de se

disseminar pela sociedade devido ao fato do cidadão ser erroneamente

compreendido como agente do consumo, por imperar a ideologia criadora de um

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desenvolvimento desigual. Deste modo, os incluídos de forma perversa se

encontram dominados pela passividade assegurada pela alienação.

Como retrato do desenvolvimento desigual e combinado, o aglomerado

urbano de Maringá se configura como uma desorganização, por não existir um

objetivo comum e a integração entre as cidades. O que prevalece é a esfera privada

na gestão dos envolvidos na dinâmica local. O cenário degradado se revela como o

pauperismo decorrente da contradição capital x trabalho. Tal pauperismo se traduz

na condição de espoliação urbana generalizada na periferia externa, que a gestão

pública, inclusive por falta de interesse e participação do cidadão, não consegue

dotar de infra-estrutura, em face do intenso crescimento populacional e físico-

territorial. Mesmo assim, a esfera pública respalda e valida a precariedade dos

espaços criados, por estes representarem a condição de acesso do trabalhador à

cidade. Por sua vez, as respostas dos trabalhadores retratam esta condição. Eles

buscaram Paiçandu e Sarandi, em grande parte, por terem conseguido viabilizar a

casa própria nestas cidades. Nelas é menor o custo moradia em relação a Maringá,

onde prevalece uma legislação urbana mais exigente. Neste contexto, de acordo

com os trabalhadores, o trabalho e a moradia se revelaram como os dois principais

fatores de uma boa qualidade de vida.

Com efeito, sabe-se que a cidade, como um espaço coletivo, deve se

constituir como uma unidade, porém, repleta de contradições e de conflitos pautados

no exercício de uma efetiva participação de todos na política e na gestão, para o

alcance do êxito da democracia. Deste modo, a transformação das cidades que se

encontram no aglomerado urbano de Maringá, depende de uma gestão

metropolitana efetivamente integrada, com o propósito de combater a periferia como

sinônimo de pobreza, no exercer a consciência coletiva em respeito à condição

humana.

É fundamental acreditar na construção de uma sociedade e de uma cidade

melhor, numa aglomeração urbana menos desigual. Enfim, acreditar que é possível

conquistar a participação efetiva no âmbito da gestão metropolitana democrática, no

intuito de lutar contra o processo de periferização.

Para isso, cabe elucidar a necessidade de se trabalhar com políticas de

desenvolvimento urbano integradas as políticas de desenvolvimento regional, pois,

frente a esta aglomeração urbana, percebe-se que sua constituição advém de um

desenvolvimento desigual, provocado por políticas conservadoras, tanto àquelas que

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promoveram a modernização dolorosa, quando as ações locais/regionais, as quais

produziram um aglomerado que expressa uma forte segregação entre o pólo e a

periferia externa.

Compreender o processo de periferização por meio da mobilidade centrada

no trabalho no aglomerado urbano de Maringá foi se deparar com constituição de

um ambiente urbano desigual, que se constitui de uma hierarquia social entre as

cidades, entre os incluídos e os incluídos de forma perversa, fruto da concentração

do capital em Maringá e dos trabalhadores (empregados e desempregados)

espoliados em Paiçandu e Sarandi (periferia externa), o que configura uma

desorganização das cidades.

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