A Missão da Umbanda

148
A Missão da Umbanda Ramatís 1 RAMATIS A MISSÃO DA UMBANDA Obra mediúnica inspirada pelo espírito Ramatís ao médiumNorberto Peixoto

Transcript of A Missão da Umbanda

  • A Misso da Umbanda Ramats

    1

    RAMATIS

    A MISSO DA UMBANDA

    Obra medinica inspirada pelo esprito Ramats

    ao mdiumNorberto Peixoto

  • A Misso da Umbanda Ramats

    2

    Norberto Peixoto nasceu em Porto Lucena, Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1963. Ainda criana, viu-se diante do mediunismo por intermdio de seus pais, ativos trabalhadores umbandistas. Sendo filho de militar, residiu no Rio de Janeiro at o final de sua adolescncia, onde teve a oportunidade de ser iniciado na umbanda aos sete anos de idade. Aos 11 anos deparou-se com a mediunidade aflorada, presenciando desdobramentos astrais noturnos com clarividncia. Aos 28 anos foi iniciado na Maonaria, oportunidade em que teve acesso aos conhecimentos espiritualistas, ocultos e esotricos desta rica filosofia multimilenar e universalista, que somente so propiciados pela freqncia regular em Loja Manica estabelecida. Em 2000 "concluiu "sua educao medinica sob a gide kardequiana, e atualmente desempenha tarefas como mdium trabalhador em Porto Alegre. Este sexto livro, sob a orientao de Ramats, intitulado A Misso da Umbanda, foi escrito por meio da psicografia inspirada e das experincias e instrues recebidas diretamente do Plano Astral em desdobramento clarividente. A Misso da Umbanda Embora surgida no Brasil em 1908, com a manifestao do Caboclo das Sete Encruzilhadas pelo mdium Zlio de Moraes, a umbanda "mais antiga nos planos rarefeitos que o prprio planeta Terra". Para desvelar sua essncia e seus verdadeiros fundamentos, Ramatis retorna literatura espiritualista e delimita o perfil doutrinrio e ritualista desta religio eminentemente brasileira fundamentada no Evangelho do Cristo, que em nada se parece com as prticas mgicas populares e os cultos de origem africana. O que so verdadeiramente os orixs e exus, o que representam os assentamentos vibratrios, o surgimento da tela etrica e sua relao com o mediunismo, as correspondncias vibratrias entre os planos do Universo, os corpos sutis, os chacras e os orixs; as escolas orientais e a gnese desta religio de razes csmicas, os sincretismos e as influncias indgena, negra e branca, so elucidados com a objetividade que lhe peculiar. E mais: a realidade oculta atrs dos sacrifcios de animais, prtica que nada tem a ver com a ritualstica da verdadeira umbanda, assim como os populares"despachos"nas esquinas urbanas, so definitivamente esclarecidos. Esta obra , portanto, um relevante marco na trajetria do movimento umbandista, e sem dvida uma importante referncia para todos os umbandistas srios e espiritualistas estudiosos.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    3

    OBRAS DE RAMATIS .

    1. A vida no planeta marte Herclio Mes 1955 Ramatis Freitas Bastos 2. Mensagens do astral Herclio Mes 1956 Ramatis Conhecimento 3. A vida alem da sepultura Herclio Mes 1957 Ramatis Conhecimento 4. A sobrevivncia do Esprito Herclio Mes 1958 Ramatis Conhecimento 5. Fisiologia da alma Herclio Mes 1959 Ramatis Conhecimento 6. Mediunismo Herclio Mes 1960 Ramatis Conhecimento 7. Mediunidade de cura Herclio Mes 1963 Ramatis Conhecimento 8. O sublime peregrino Herclio Mes 1964 Ramatis Conhecimento 9. Elucidaes do alm Herclio Mes 1964 Ramatis Conhecimento 10. A misso do espiritismo Herclio Mes 1967 Ramatis Conhecimento 11. Magia da redeno Herclio Mes 1967 Ramatis Conhecimento 12. A vida humana e o esprito imortal Herclio Mes 1970 Ramatis Conhecimento 13. O evangelho a luz do cosmo Herclio Mes 1974 Ramatis Conhecimento 14. Sob a luz do espiritismo Herclio Mes 1999 Ramatis Conhecimento 15. Mensagens do grande corao America Paoliello Marques ? Ramatis Conhecimento 16. Evangelho , psicologia , ioga America Paoliello Marques ? Ramatis etc Freitas Bastos 17. Jesus e a Jerusalm renovada America Paoliello Marques ? Ramatis Freitas Bastos 18. Brasil , terra de promisso America Paoliello Marques ? Ramatis Freitas Bastos 19. Viagem em torno do Eu America Paoliello Marques ? Ramatis Holus Publicaes 20. Momentos de reflexo vol 1 Maria Margarida Liguori 1990 Ramatis Freitas Bastos 21. Momentos de reflexo vol 2 Maria Margarida Liguori 1993 Ramatis Freitas Bastos 22. Momentos de reflexo vol 3 Maria Margarida Liguori 1995 Ramatis Freitas Bastos 23. O homem e a planeta terra Maria Margarida Liguori 1999 Ramatis Conhecimento 24. O despertar da conscincia Maria Margarida Liguori 2000 Ramatis Conhecimento 25. Jornada de Luz Maria Margarida Liguori 2001 Ramatis Freitas Bastos 26. Em busca da Luz Interior Maria Margarida Liguori 2001 Ramatis Conhecimento 27. Gotas de Luz Beatriz Bergamo 1996 Ramatis Srie Elucidaes 28. As flores do oriente Marcio Godinho 2000 Ramatis Conhecimento 29. O Astro Intruso Hur Than De Shidha 2009 Ramatis Internet 30. Chama Crstica Norberto Peixoto 2000 Ramatis Conhecimento 31. Samadhi Norberto Peixoto 2002 Ramatis Conhecimento 32. Evoluo no Planeta Azul Norberto Peixoto 2003 Ramatis Conhecimento 33. Jardim Orixs Norberto Peixoto 2004 Ramatis Conhecimento 34. Vozes de Aruanda Norberto Peixoto 2005 Ramatis Conhecimento 35. A misso da umbanda Norberto Peixoto 2006 Ramatis Conhecimento 36. Umbanda P no cho Norberto Peixoto 2009 Ramatis Conhecimento

  • A Misso da Umbanda Ramats

    4

    Agradecimento origem africana da umbanda Importante para ns, umbandistas, refletir sobre como nos comportamos diante da origem africana da umbanda - tambm temos a origem indgena e branca judaico-crist, no catolicismo e no espiritismo. Percebemos muitas vezes, dado a pluralidade e diversidade na prtica umbandista, certos ritos de outros cultos includos como sendo de umbanda. Observemos que tudo o que contraria a caridade no pode ser aceito como prtica de umbanda. Este estado de coisas deve ser colocado num clima amistoso, de concrdia, dilogo e unio, pois toda iniciativa sectria, de excluso abrupta que tenta impor uma verdade absoluta, gera uma ruptura que contraria o "ser umbandista". Saudamos os ensinamentos de todas as naes africanas, bem como os de todas as demais que tm enorme influncia dentro da umbanda, e as enaltecemos quanto prtica da magia em seu aspecto positivo, benfeitor, que sobejamente prepondera, fortalecendo a cultura e a caridade umbandista. Consideramos ainda que o conhecimento milenar dos orixs foram preservados pelos africanos, que sabiamente criaram o sincretismo como forma de aceitao dos seus credos e cultos. Sarav!

  • A Misso da Umbanda Ramats

    5

    A Roger Feraudy

    Existem instrutores espirituais. que encarnam para trabalhar na umbanda. Genuinamente, Roger Feraudy foi um deles, pois transmitia conhecimentos profundos com simplicidade e escolhia palavras afetuosas, moldando-as sabiamente a cada conscincia que o escutava, conforme sua capacidade de entendimento, nem mais nem menos que o necessrio. Ele e seus guias me orientaram muitssimo. No incio desta obra, rogo s muitas mentes que a lerem e quelas que conheceram Pai Roger que elevem o pensamento em um preito fraterno de gratido at onde ele se encontra, pois para o amor no h limites. A Pai Roger, as sete encruzilhadas estaro eternamente abertas. Que Oxal e todos os orixs vibrem para sempre em sua coroa! [1] [1] Chacra coronrio.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    6

    Todas as entidades sero ouvidas, e ns aprenderemos com os espritos que souberem mais, alm de podermos ensinar aos que souberem menos. No viraremos as costas a nenhum nem diremos no, pois esta a vontade do Pai. O verdadeiro umbandista vive para a umbanda, e no da umbanda. Vim para criar uma nova religio, fundamentada no Evangelho de Jesus, e que ter Cristo como seu maior mentor.

    Caboclo das Sete Encruzilhadas, 16/11/1908. O Caboclo das Sete Encruzilhadas nunca determinou o sacrifcio de aves e animais, quer para homenagear entidades,. quer para fortificar minha mediunidade. Nunca recebi um centavo pelas curas praticadas pelos guias. O Caboclo abominava a retribuio monetria ao trabalho medinico. No h ningum que possa dizer, no decorrer destes 66 anos, que retribuiu uma cura (e foram aos milhares) com dinheiro.

    Zlio de Moraes Da atitude de Zlio de Moraes,[1] em 15 de novembro de 1908, que, incorporado, declarou estar "faltando uma flor" na mesa da Federao Esprita de Niteri, surgiu um dos pontos cantados mais belos da umbanda:

    Surgiu no jardim mais uma flor, Mame Oxum trazendo paz e amor, Que vai crescendo, por este imenso Brasil. Bandeira branca de Oxal, fora do Alm, Me caridosa que ao mundo deseja o bem... Vai sempre em frente, minha umbanda querida! Leva a doura da vida para aqueles que no tm.

    Assim foi delineada a doutrina que se conhece por umbanda, despida de preconceitos racistas, pela sua origem africana, no sentido de agrupar em suas atividades escravos, senhores, pretos, brancos, nativos, exilados, imigrantes, descendentes, e todos os povos do mundo, sediados em solo brasileiro.

    Ramats, A Misso do Espiritismo, 1967. [1] O mdium Zlio de Moraes faleceu em 3 de setembro de 1975.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    7

    Sumrio

    Invocao s Falanges do Bem 9 Invocao s Falanges do Bem 10 Nascimento da umbanda e centenrio do advento do Caboclo 11 das Sete Encruzilhadas Projeto Divina Luz na Terra 16 Prembulo 19 PARTE 1 FORMAO DA CONSCINCIA UMBANDISTA E PRTICAS MGICAS POPULARES 22 1. Umbanda e influncias religiosas indgenas, negras e brancas 23 2. A dualidade do sincretismo na crendice popular: orixs santificados, exus demonizados 36 3. Despachos e "iniciaes" com sacrifcios nos ritos, e cultos sincrticos distorcidos 51 4. Preconceitos racistas contra os espritos 77 5. Magia e dialtica cientifica 84 PARTE 2 UMA PERSPECTIVA ESOTRICA DA UMBANDA 90 1. Origem csmica e universal da umbanda 91 2. Mediunismo e surgimento da tela bdica 95 3. Escolas filosficas orientais e gnese umbandista 102 4. Correspondncias vibracionais das sete dimenses 111 do Universo com os raios csmicos ou orixs, os corpos sutis e os chacras PARTE 3 PSICOLOGIA DE PRETO VELHO - LENI SAVISCKI 116 1. Breve histria de Vov Benta 117 2. Era "gira de preto velho" no terreiro 118 3. O milagre da mediunidade 121 4. Por que isso foi acontecer justamente comigo? 124

  • A Misso da Umbanda Ramats

    8

    5. A voz do silncio 126 6. Discriminao 128 7. A bno de Pai Benedito 131 8. A lio de Pai Tom 134 9. A bengala de Pai Antnio 137 PARTE 4 REFLETINDO SOBRE A UMBANDA 141 1. Refletindo sobre a umbanda 141 2. Exu, O grande paradoxo na caridade umbandstica 143 3. Apelo mgico da iniciao: 145 raspar a cabea e deitar para o santo 4. Est faltando mediunidade na umbanda? 146 Palavras finais do mdium 147

  • A Misso da Umbanda Ramats

    9

    Invocao s Falanges do Bem

    Doce nome de Jesus, Doce nome de Maria, Enviai-nos vossa luz Vossa paz e harmonia! Estrela azul de Dharma, Farol de nosso Dever! Libertai-nos do mau carma, Ensinai-nos a viver! Ante o smbolo amado Do Tringulo e da Cruz, V-se o servo renovado Por Ti, Mestre Jesus! Com os nossos irmos de Marte Faamos uma orao-. Que nos ensinem a arte Da Grande Harmonizao!

  • A Misso da Umbanda Ramats

    10

    Invocao s Falanges do Bem

    Do ponto de Luz na mente de Deus, Flua luz s mentes dos homens, Desa luz terra. Do ponto de Amor no Corao de Deus, Flua amor aos coraes dos homens, Volte Cristo Terra. Do centro onde a Vontade de Deus conhecida, Guie o Propsito das pequenas vontades dos homens, O propsito a que os Mestres conhecem e servem. No centro a que chamamos a raa dos homens, Cumpra-se o plano de Amor e Luz, e mure-se a porta onde mora o mal. Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleam o Plano De Deus na Terra.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    11

    Nascimento da umbanda e centenrio do advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas

    A umbanda ir completar 100 anos em 15 de novembro de 2008, data de sua anunciao pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Esse fato legitima o verdadeiro nascimento da umbanda, pelo ineditismo do estabelecimento das normas de seu culto, proclamado s ento por essa entidade missionria. Tal data marca o surgimento estruturado da umbanda para os homens, j que a Senhora da Luz Velada muito mais antiga nos planos rarefeitos que o prprio planeta Terra. Embora a participao do mdium Zlio de Moraes e o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas no sejam o nico fato relacionando organizao terrena da umbanda, no se pode negar que o marco referencial mais importante do movimento. Inegavelmente a umbanda uma religio brasileira, e nela encontra-se o amlgama do misticismo do ndio, da magia do negro africano e das crenas brancas judaico-crists, catlicas e espritas. Zlio Fernandino de Moraes nasceu em 10 de abril de 1891, no distrito de Neves, municpio de So Gonalo, Rio de Janeiro. Aos 17 anos, quando se preparava para servir s Foras Armadas, ocorreu um fato curioso: ele comeou a falar com um sotaque diferente, em tom manso, parecendo um senhor de idade avanada. A princpio, a famlia achou que estivesse apresentando algum distrbio mental, e ento o encaminhou aos cuidados do tio, Epaminondas de Moraes, psiquiatra e diretor do Hospcio de Vargem Grande. Mas, no tendo sido encontrado em nenhuma literatura mdica os sintomas apresentados pelo rapaz, o mdico sugeriu que o encaminhassem a um padre para que fosse realizado um ritual de exorcismo, pois desconfiava que o sobrinho estivesse possudo pelo demnio. A famlia procurou ento um padre, que, mesmo tendo realizado o ritual de exorcismo, no conseguiu nenhum resultado. Novamente, em fins de 1908, os familiares foram surpreendidos por uma ocorrncia que tomou aspectos sobrenaturais: o jovem Zlio, agora acometido por estranha paralisia, a qual os mdicos no conseguiam debelar, ergueu-se certo dia do leito e declarou: "Amanh estarei curado". No dia seguinte, comeou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum mdico soube explicar como ocorrera a recuperao. Dona Leonor de Moraes, resolveu levar o filho a uma curandeira chamada Cndida, figura conhecida em Niteri, e que incorporava o esprito de um preto Velho chamado Tio Antnio. A entidade atendeu o rapaz e disse que ele j tinha desenvolvido o fenmeno da mediunidade, e que, portanto, deveria trabalhar na caridade. O pai de Zlio, Joaqulin Fernandino Costa, apesar de no freqentar nenhum centro esprita, era adepto do espiritismo e tinha o hbito de ler livros espritas. Em 15 de novembro de 1908, por sugesto de um amigo, levou Zlio Federao Esprita de Niteri. Convidados por Jos de Souza, dirigente da instituio, para participar da sesso, ambos sentaram-se mesa, e em seguida, contrariando as normas do trabalho, Zlio levantou-se e disse: "Aqui est faltando uma flor". Dirigiu-se ao jardim, apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa. Iniciou-se ento uma estranha confuso no local: ele incorporou uma entidade e, simultaneamente, diversos

  • A Misso da Umbanda Ramats

    12

    mdiuns tambm apresentaram incorporaes de caboclos e pretos velhos. Advertida pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou: "Por que repelem a presena desses espritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Ser por suas origens sociais, ou em decorrncia de sua cor?". Novamente uma fora estranha dominou o jovem Zlio, e ele continuou a falar, sem saber o que dizia; ouvia apenas sua prpria voz perguntar o motivo que levava os dirigentes dos trabalhos a no aceitarem a comunicao daqueles espritos e se os consideravam atrasados apenas por suas encarnaes anteriores. Seguiu-se um dilogo acalorado, e, embora o esprito desconhecido desenvolvesse uma argumentao segura, os responsveis pela sesso procuravam doutrin-lo e afast-lo. "Por que o irmo fala nesses termos, pretendendo que a direo aceite a manifestao de espritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, so claramente atrasados? Por que fala desse modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuta [1], cuja veste branca reflete uma aura de luz? Qual o seu nome, irmo?" [1] Percebia-se a forma astral de encarnao anterior da entidade, quando fora padre Gabriel Malagrida, santo sacerdote que a Inquisio sacrificou na fogueira, em Lisboa. O esprito desconhecido respondeu ento: "Se julgam atrasados os espritos de pretos e ndios, devo dizer que amanh (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho para dar incio a um culto em que esses irmos podero transmitir suas mensagens, e, desse modo, cumprir a misso que o plano espiritual lhes confiou. Ser uma religio que falar aos humildes simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim no haver caminhos fechados". O vidente retrucou com ironia: "Julga o irmo que algum ir assistir ao seu culto?". Ao que o esprito respondeu: "Cada colina de Niteri atuar como porta-voz, anunciando o culto que amanh darei inicio". No dia seguinte, na casa da famlia Moraes, rua Floriano Peixoto, nmero 30, s 20 horas, estavam reunidos os membros da Federao Esprita para comprovar a veracidade do que fora declarado na. vspera. Parentes prximos, amigos e vizinhos tambm se fizeram presentes, e, do lado de fora, uma multido de desconhecidos. Foi ento que o Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestou-se e declarou que naquele momento se iniciava um novo culto, com a participao de espritos de velhos africanos escravos que, desencarnados, no encontravam campo de atuao nos remanescentes das seitas negras, deturpadas e totalmente dirigidas a trabalhos de feitiaria, alm de ndios nativos de nosso territrio que trabalham em benefcio de seus irmos encarnados, independentemente de cor, raa, credo ou condio social. A prtica da caridade, no sentido do amor fraterno, seria portanto a caracterstica principal do culto, que teria por base o Evangelho de Jesus, cujas normas o caboclo ento estabeleceu. Dentre elas, as de que nas sesses dirias (assim seriam chamados os perodos de trabalho espiritual), das 20 s 22 horas, os participantes estariam uniformizados, todos de branco, e o atendimento seria gratuito, e que o nome do movimento religioso seria umbanda, que significa "manifestao do esprito para a caridade". A casa de trabalhos espirituais ento fundada recebera o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque, assim como Maria de Nazar acolhera o filho nos braos, tambm seriam

  • A Misso da Umbanda Ramats

    13

    acolhidos ali todos os que necessitassem de ajuda ou conforto. Ditadas as bases do culto, aps responder em latim e alemo s perguntas dos sacerdotes presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou prtica dos trabalhos, curando enfermos e fazendo andar paralticos. Naquele mesmo dia, o mdium incorporou um preto velho chamado Pai Antnio, que, em decorrncia de sua fala mansa, foi tratado por alguns como uma manifestao de loucura. O preto velho, proferindo palavras de muita sabedoria e humildade, alm de aparente timidez, recusava-se a sentar mesa com os presentes, dizendo: "Nego num senta no, meu sinh; nego fica aqui mesmo. Isso coisa de sinh branco, e nego deve arrespeit". Aps a insistncia dos presentes, ele pronunciou: "Num carece preocup no. Nego fica no toco, que lug di nego". E assim continuou, dizendo outras palavras que expressavam sua humildade. Uma pessoa participante da reunio lhe perguntou se sentia falta de alguma coisa que havia deixado na Terra, ao que ele respondeu: "Minha caximba; nego qu o pito que deix no toco. Manda mureque busc".[2] [2] Provavelmente deve ter surgido da o seguinte ponto cantando de pretos velhos: "Seu cachimbo t no toco, manda moleque buscar / No alto da mata virgem, seu cachimbo ficou l", o qual, por essa circunstncia, torna emblemtica a presena dos pretos velhos na origem da umbanda. A solicitao desse primeiro elemento de trabalho para a nova religio deixou perplexos os presentes. Foi Pai Antnio tambm a primeira entidade a solicitar uma guia. As mesmas guias so usadas at hoje pelos membros da Tenda, carinhosamente denominadas de "guia de Pai Antnio". No dia seguinte, formou-se verdadeira romaria em frente casa da famlia Moraes. Cegos e paralticos foram curados. Todos iam em busca de cura, e ali a encontravam, em nome de Jesus. Mdiuns cuja manifestao medinica fora considerada loucura deixaram os sanatrios e deram provas de suas qualidades excepcionais. A partir de ento, o Caboclo das Sete Encruzilhadas comeou a trabalhar incessantemente para esclarecer, difundir e sedimentar a umbanda. Foi assim que fundou a corrente astral da umbanda. Aps algum tempo, um esprito se manifestou com o nome de Orix Mal, responsvel por desmanchar trabalhos de baixa magia. Essa entidade, quando em demanda, mostrava-se sbia, capaz de destruir as energias malficas dos que a procuravam. Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do Astral, fundou sete tendas para a propagao da umbanda, sendo elas: Tenda Esprita Nossa Senhora da Guia, Tenda Esprita Nossa Senhora da Conceio, Tenda Esprita Santa Brbara, Tenda Esprita So Pedro, Tenda Esprita Oxal, Tenda Esprita So Jorge; Tenda Esprita So Jernimo. O termo "esprita", bem como os nomes de santos catlicos nas instituies recm-fundadas, foram usados porque naquela poca no se podia registrar o nome umbanda, uma vez que esta era proibida, e seus membros perseguidos pela polcia, que a confundia com macumba. Quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referncia para os fiis

  • A Misso da Umbanda Ramats

    14

    da religio catlica que procuravam os prstimos da umbanda. Enquanto Zlio estava encarnado, foram fundadas mais de 10 mil tendas, a partir das mencionadas. Ministros, industriais e militares que recorriam ao poder medinico de Zlio para a cura de parentes enfermos, vendo-os recuperados, procuravam retribuir o benefcio com presentes ou preenchendo cheques vultosos. "No os aceite; devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo. Mesmo no tendo seguido a carreira militar, para a qual se preparava, pois sua misso medinica no permitira, Zlio nunca fez da religio sua profisso. Trabalhava para o sustento da famlia, tendo contribudo financeiramente diversas vezes para manter abertos os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou. Isso sem contar as pessoas que se hospedavam em sua casa (que, segundo dizem, parecia um albergue) para os tratamentos espirituais. Zlia nunca aceitava ajuda de ningum; era ordem de seu guia-chefe, apesar de que inmeras vezes isso lhe fora oferecido. O ritual era simples, nunca tendo sido permitido o sacrifcio de animais. No utilizavam atabaques ou quaisquer outros objetos e adereos. Esses instrumentos comearam a ser usados com o passar do tempo por algumas das tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. A Tenda Nossa Senhora da Piedade no os utiliza em seu ritual at hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam. A preparao dos mdiuns era feita com banhos de ervas, alm do ritual do amaci, isto , a lavagem da cabea com ervas, em que os filhos de umbanda se afinam com a vibrao de seus guias. Aps 55 anos de atividade, o mdium entregou a direo dos trabalhos s suas filhas Zlia e Zilmia. Mais tarde, junto com sua esposa Maria Isabel de Moraes, mdium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo, Zlia fundou a Cabana de Pai Antnio, no distrito de Boca do Mato, municpio de Cachoeira do Macacu, no Rio de Janeiro. Eles dirigiram os trabalhos enquanto a sade de Zlia permitiu, tendo ele falecido aos 84 anos, em 3 de outubro de 1975. Em 1971, a senhora Lilian Ribeiro, diretora da Tenda de Umbanda Luz, Esperana, Fraternidade (TULEF), no Rio de Janeiro, gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que espelha a humildade e o alto grau de evoluo dessa entidade de luz. A umbanda tem progredido e vai progredir. preciso haver sinceridade, honestidade, e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a umbanda; mdiuns iro se vender e sero, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhes do templo. O perigo do mdium homem a consulente mulher; do mdium mulher o consulente homem. preciso estar sempre. de preveno, porque os prprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no corao da mulher que fala ao pai de terreiro, como no corao do homem que fala me de terreiro. preciso haver muita moral para que a umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda humildade, amor e caridade - esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmos, rodeiam-me diversos espritos que trabalham na umbanda do Brasil: caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xang. Eu, porm, sou da falange de Oxossi, meu pai, e no vim por acaso, trouxe uma ordem, uma misso. Meus irmos, sede humildes, tende amor no corao, amor de irmo para irmo, porque vossa mediunidade ficar mais pura, servindo aos espritos superiores que venham a baixar entre vs. preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes

  • A Misso da Umbanda Ramats

    15

    que Jesus pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicaes e proteo para aqueles que vm em busca de socorro nas casas de umbanda. Meus irmos, meu aparelho j est velho, com 80 anos a fazer, mas comeou antes dos dezoito. Posso dizer que o ajudei a se casar, para que no ficasse a dar cabeadas, para que fosse um mdium aproveitvel e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa umbanda. A maior parte dos que trabalham na umbanda, se no passaram por esta Tenda, passaram pelas que saram desta casa. Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, no foi por acaso; assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da poca, mas foi escolher aquela que havia de ser sua me, este esprito que viria traar humanidade os passos para obter paz, sade e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a humildade com que Ele baixou Terra sirvam de exemplos, iluminando os vossos espritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou prticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos coraes e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para no murmurar contra quem quer que seja; no julgueis para no serdes julgados; acreditai em Deus, e a paz entrar em vosso lar. dos Evangelhos. Eu, meus irmos, como o menor esprito que baixou Terra, mas amigo de todos, numa concentrao perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peo que eles sintam a necessidade de cada um de vs e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados e a sade para sempre em vossa matria. Com um voto de paz, sade e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas. Zlio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida umbanda, tendo retornado ao plano espiritual com a certeza da misso cumprida. Seu trabalho e as diretrizes traadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuaram sendo desenvolvidos por suas filhas Zlia e Zilma, que carregam em seus coraes um grande amor pela umbanda, rvore frondosa que est sempre a dar frutos a quem souber e merecer colh-los. Nota do mdium: Este texto fundamentou-se em informaes verdicas obtidas diretamente de fitas gravadas pela senhora Lilian Ribeiro, presidente da Tenda de Umbanda Luz, Esperana, Fraternidade (TULEF), contendo os fatos histricos narrados pelo prprio Zlio de Moraes, manifestado mediunicamente com o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 2 de novembro de 2005, visitei dona Zilmia em sua residncia, em Niteri, oportunidade em que tambm conheci dona Lygia Moraes, respectivamente filha e neta de Zlio, dando conhecimento a ambas do presente texto, quando ento me foi confirmada sua autenticidade, e autorizada esta transcrio.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    16

    Projeto Divina Luz na Terra

    Salve os filhos de f, salve Oxal! Salve a umbanda, nossa casa!

    Esta preta velha, que ainda se acha uma "menina", mesmo depois de tantos ns j contados no bambu da existncia, [1] quando na carne, lembra-se de quantos cestos de roupa suja precisou aguar na lavanderia do esprito para alvejar as ndoas enegrecidas pela magia negativa usada em proveito prprio. [1] Era da tradio indgena brasileira contar os anos de vida das pessoas pela florao dos bambus, que acontece a cada 15 anos. Ento, sobre uma pessoa com 30 anos, dizia-se ter "dois bambus"; os ns representam tambm os anos de vida. Comprometida com a Grande Fraternidade Universal para levar conhecimento s mentes mais endurecidas, no deixou ainda de ser a velha feiticeira que vez ou outra se enreda em um envolvimento magstico, agora direcionado para o desmanche, e, com a graa de Zambi, nunca mais para macular um irmo de caminhada. Deste lado, ns, obreiros da umbanda, a Senhora da Luz Velada, temos rdua tarefa, pois contrariamos o objetivo das trevas, que se embrenham e compram os filhos da Terra com o falso brilho do ouro e dos prazeres sensrios. Se j nos difcil encontrar aparelhos medinicos com seriedade e altivez para assumir junto conosco a tarefa caridosa, muito mais oneroso mant-los vigilantes e leais luz. Quando o Caboclo das Sete Encruzilhadas verbalizou por intermdio do menino Zlio a responsabilidade de implantao da nova religio, misso to bem cumprida por ele, a espiritualidade descia aos humildes. Esse objetivo nobre precisava de canal elevado, e os Maiorais do Espao no buscaram para tal feito nenhum mdium "coroado", ou renomado de segmentos religiosos terrenos, nem mesmo mestre, mago, iniciado ou bastio de insgnias sacerdotais. claro que o menino Zlio, que serviu de instrumento fsico, j viera preparado do Astral e, ao retomar a ele, continua envolvido no projeto umbanda na Terra, "como um todo". A umbanda, que tambm ainda uma menina, em si no se resume tenda onde foi alicerada. Sua histria, seus valores, seu objetivo esto intrnsecos muito alm das instituies, que mais buscam posies do que resultados; esto sim nos mdiuns, cujo comprometimento e cuja seriedade do continuidade religio. No seria o local onde a luz refulgiu que deixaria de ser atrativo para as trevas, assim como tem acontecido na terra onde Oxal mandou nascer Seu maior representante. No conseguindo deturpar todas as mentes, focalizam os templos e terreiros pela maior ou menor representatividade que exercem, ante a viso temporria e vaidosa de certas lideranas. Os caridosos sero vencedores, e os mercadores de graas iro se consumir em sua colheita. Este um sinal dos tempos. Portanto, prossigam, guerreiros, caravaneiros da Divina Mediadora,

  • A Misso da Umbanda Ramats

    17

    no para combater os muros das trevas intencionalmente, mas para implantar o estandarte da luz, distribuindo-a por todos os cantos onde o vento possa lev-la. No lastimem pelos que se deixam escravizar, pois no Alm o projeto ganha foras. No ser o fluido vital derramado de nossos irmozinhos do mundo animal, sacrificados e utilizados por alguns mdiuns, infelizmente ainda comandados pela dependncia psicolgica das iniciaes e dos despachos sanguinolentos, que far desmerecer todas as tochas que a nossa amada umbanda j acendeu pelas Terras do Cruzeiro. Continuem firmes! Perseverem justos e fortalecidos pela certeza da vitria, sem batalhas. Busquem disseminar a verdadeira doutrina umbandista, isentando-se de ceder quilo tudo que contraria o que foi implantado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Exemplifiquem e deixem que seus iguais exeram a atrao natural entre si. Documentos so importantes, porm mais importante o compromisso moral dos verdadeiros seguidores do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Prossigam na busca desses valores e no se preocupem com as querelas e as trevas, as quais respeitamos, mas s quais no podemos nos curvar. A Luz se far valer. Lembrem-se sempre, filhos amados, de que o maior ax, a mais completa fora oferecida para os orixs, o amor e a caridade dentro de cada criatura. Sarav aos irmos da Terra! As bnos das falanges de Aruanda, do Caboclo das Sete Encruzilhadas, de toda a Confraria da Umbanda e da Fraternidade Universal. Paz! Vov Benta

    * * * A luz da verdadeira religiosidade est provisoriamente compartimentada na Terra. Iludem-se os filhos pelo falso brilho e, aprisionados nas religies que praticam, consideram-se "salvos". No so muito diferentes das mariposas atradas cegamente pela luminosidade das lamparinas nas varandas da casa do sinh. Facilmente se afogavam no azeite ou caam ao solo pela oleosidade que paralisava suas delicadas asas, sendo rapidamente devoradas pelos rpteis rastejantes ao longo da noite que nos encobria, escravos exaustos. Saibam que no passado de grande opresso aos cultos ancestrais, esta preta velha, triste, ficava sentada na entrada da senzala. Ao fundo, escutava gemidos provocados pela dor das chibatadas dirigidas aos dorsos nus dos negros "preguiosos". Pensava que, se no houvesse perseguies religiosas e se cada um dos manos brancos procurasse o caminho mais desejvel para apaziguar a nsia espiritual que os afligia - no somente quando seus filhos ou eles mesmos adoeciam, ocasies em que, sem jeito, s escondidas e com pouca modstia, pediam cura aos intermedirios dos orixs -, no haveria tanto conflito at os dias atuais.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    18

    Religies, doutrinas, crenas, cultos e ritos, raas, sexos, idiomas, riqueza e pobreza, sade e doenas, alegrias e dores, todas as diferenas psquicas e biolgicas, as peculiaridades caractersticas das formas que animam as personalidades mortais, tudo isso nada mais que ilusrios degraus, os quais devem ser superados a caminho da real escada evolutiva do esprito. Se hoje nos apresentamos como fomos ontem - eu, por _exemplo, com a aparncia de uma preta velha, contando "causos" e descontraindo os nimos -, para chegarmos mais facilmente aos endurecidos coraes da Terra. A umbanda despersonaliza legies de espritos e libera-os do apego s formas, uma vez que no importa qual a entidade espiritual curvada diante de seu aparelho no terreiro, e sim sua essncia missionria: fazer a caridade com Jesus. A umbanda molda-se diversidade das conscinciaS e ativa, dinmica, universalista e convergente em sua parte visvel terrena, estvel e firme no espao oculto. Nessa abenoada "mistura", todos esto evoluindo. Graas a Oxal, a umbanda no mais uma lamparina que afoga e imobiliza os que buscam a luz espiritual. Vov Maria Conga

  • A Misso da Umbanda Ramats

    19

    Prembulo

    Observamos na Umbanda praticada nesse Brasil-continente grandes magos, supremos sacerdotes dos mistrios, regentes dos tronos, pai ou me donos dos orixs. E assim, este caboclo atlante enfeixado na vibratria de Ogum olha para o fundo do terreiro e enxerga l, sentadinho e agachado num cantinho discreto, um preto(a) velho(a) iluminado que nunca encarnou na Terra dos homens, esprito transmigrado de Srius, como tantos outros humildemente escondidos atrs de uma aparncia frgil de negro curvado, adotando mais um nome simblico de Joo, Benedito, Tom, Guin, Maria Conga, Catarina, Benta..., que os colocam como mais um tio, vov, tia ou vov, despersonalizando-os e liberando-os da escravido do ego inferior. Esse discreto esprito que se molda na forma de um pai velho derrama lgrimas geradas do amor que sente pela Divina Luz e pelos descaminhos atvicos dos homens que se envaidecem no pequeno planeta azul. Nesse momento pensamentos comuns se fixam fazendo-nos refletir em unssono: - umbanda no grandiosidade de magos, diminuio de vaidades frente s equnimes leis evolutivas; - umbanda no mistrio, simplicidade; - umbanda no tem magno trono, tem toco de preto velho; - umbanda no tem cetro de poder, tem o balano do caboclo; - umbanda no d curso pago, ensina gratuitamente os segredos; - umbanda no tem pastor de rebanhos, conduz auto-iniciao resgatando a criana divina interna de cada um; - umbanda no tem insgnia sacerdotal que exalta, sim vontade de servir o prximo que iguala; - umbanda caridade e no mata pelo orix, ela vivifica os seres na vibrao de exu-guardio; - umbanda s tem um maioral, Jesus, o Mestre dos mestres, que se igualou aos excludos dos templos e religies de outrora. As lideranas da umbanda devem aprender a ouvir as muitas vozes de Aruanda que expressam sua diversidade, sabendo interpretar a dinmica de seu movimento, canalizando-o para a convergncia que unifica. As diferenas de ritos e formas no devem separar e excluir, e sim aglutinar e incluir. Sua fora sonora, unificadora, vem de baixo para cima, de todos os aparelhos e terreiros para os lderes, por meio de centenas de milhares de espritos que se comunicam pela voz do canal da mediunidade, e que labutam pela caridade. Ao contrrio, sero poucas vozes para

  • A Misso da Umbanda Ramats

    20

    muitos ouvidos - do cume para o sop da montanha -, tentando dominar, impor rituais, liturgias ou doutrinas, gerando a diviso separatista em vez do respeito s diferenas, que os unem. A umbanda d oportunidade a todos para auxiliarem na caridade e tambm para evolurem, assim como permite que todas as raas, indistintamente, labutem em seus templos, seguindo um compromisso recproco que refulge sobre as frontes movidas pelo sentimento amoroso de amparo ao prximo. A umbanda fica acima das temporalidades que separa, a favor da perenidade espiritual que nos liga grande fraternidade universal movida pela maior das religies: o amor. Essa religio no ter codificao ortodoxa. Cada vez mais ter verdades consagradas, amplamente praticadas luz da razo e do bom-senso, verdadeiros cdigos de amor fundamentados em uma tica universalista, coletiva e convergente. No existe uma nica verdade, e a diversidade umbandista por enquanto no consegue interiorizar nos coraes iludidos, em toda a plenitude de sua psicologia convergente, a unidade do amor que no separa, e sim une nas diferenas. Faz-se sumamente importante o movimento de convergncia, amainando as personalidades e suas iluses transitrias, mesmo que muitas conscincias no sintam a inexorabilidade dessa vibrao csmica, em uma repetio atvica de comportamentos do esprito, como condenaram os que defendiam a translao da Terra no passado. As verdades universais no se apressam; requerem o tempo necessrio no plano da matria para ser percebidas plenamente, e a quantidade de encarnaes do esprito ser proporcional a essa compreenso. A influncia das prticas mgicas populares, to arraigadas na relao com o "divino", atrito que imanta espritos encarnados com o Astral, enredando-os em novelos de difcil soluo, diante do total descaso com as leis universais de causa e efeito. Trata-se do magismo potencializado no aspecto negativo, em proveito prprio, contra o merecimento do prximo. Vale a vontade de quem aluga a fora mental do "grande" mago, a mo regiamente paga que segura a faca afiada habilmente ceifadora da vida, imprimindo um corte fatdico no animal ofertado; o sacerdote quem derrama o sangue quente totalmente desrespeitoso diante do livre-arbtrio do irmo ao lado, e aos verdadeiros orixs. Em uma recorrncia csmica e temporal da terceira dimenso, muitos dos que vieram para a Terra h milhares de anos, [1] ficando alojados nos planos densos da subcrosta umbralina, agora novamente iro para outro orbe mais atrasado, pois as faixas vibratrias do planeta esto se alterando irremediavelmente, e isso denota a fora da natureza em transformao. [1] Exilados de outros orbes, que, enquistados na rebeldia contra a Lei da Evoluo, tornaram-se lderes das trevas, ensaiando sempre a dominao do planeta. Quanto aos repetentes costumeiros da escola primria terrcola, as hostes espirituais da umbanda intercedem nas sombras, clareando os charcos trevosos, fazendo ressoar as trombetas de Ogum, que sinalizam a nova era que vibra no incio do terceiro milnio, aps o advento do Cristo-Jesus. Haver, irremediavelmente, remoes de ,comunidades umbralinas para outros orbes, assim como outras chegam, mantendo equilibrados os ciclos e ritmos csmicos, particularizados na aura planetria de cada astro por sua freqncia eletromagntica especfica.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    21

    O crescimento da umbanda, o processo de incluso social do culto nascente, na coletividade urbanizada aps o perodo colonial, movido por refinada psicologia do Astral superior. Oportuniza indispensvel refrigrio para almas desafetas desde idos remotos - dominados e dominadores, escravos torturados e senhores despticos -, equilibrando a balana da justia csmica, que determina o ciclo carnal como abenoado desbaste das inferioridades espirituais. O que aos vossos olhos parece desventura, justa experincia retificadora para espritos rebeldes que extrapolam as estreitas portas das religies terrenas; so retalhos que esto vagarosamente sendo costurados na colcha que religar os espritos com o Eterno. A compreenso da origem csmica da umbanda, de seu esoterismo e gnese, fortalecer a convergncia de todas as doutrinas na Terra, expressadas nas escolas orientais e ocidentais. Mudam os nomes, permanecem por ora os preconceitos, mas a essncia divina uma s, independentemente de como os homens a denominam em sua estreita religiosidade. Tudo se transforma no Cosmo, e nada definitivo. Cada vez mais os rituais externos voltam-se para o interno. Por sua vez, os filhos da f umbandista, interiorizando-se, descobrem aos poucos o Deus vivo dentro de cada um, levando-os inexoravelmente a concluir que Ele em tudo est e tudo . Esse estado de conscincia, de todos no Um e um no Todo, acalma as conscincias, fazendo-as concluir que s de mos dadas, cultivando o amor, possvel se libertarem da priso das reencarnaes sucessivas. Ao mesmo tempo, do Alto, provindo do tringulo fludico que sustenta a umbanda - formas astrais de pretos velhos, caboclos e crianas -, condensam-se os sete raios csmicos, ditos orixs, aspectos do Incriado, espargindo suas vibraes divinas sobre todos os terreiros, manifestando-se nos mdiuns por intermdio dessas entidades estruturais e, ininterruptamente, abrigando no plano oculto todas as formas utilizadas pelos espritos para se manifestarem no meio denso. Os orixs propiciam a manifestao do Incriado nos planos concretos das formas, interpenetrando e se fazendo sentir por meio dos corpos sutis e chacras dos terrcolas, condio indispensvel evoluo da coletividade espiritual retida no Planeta Azul. misso da umbanda ser instrumento de iluminao e despertar o Cristo interno, mostrando que a potencialidade para encontrar o caminho e a verdade do esprito imortal est dentro de cada um de seus filhos de f. No se mostra como o nico caminho, ou mais um tratado doutrinrio definitivo; serve sim como mediadora na Terra para auxiliar os que buscam a unio com o Divino. Que esta humilde obra, A Misso da Umbanda, despretensiosa, porque no inclui nada de novo alm dos conhecimentos anotados nas letras dos homens, pelo canal medinico, ao longo da histria terrena, sirva como mais um singelo roteiro de estudo, para que se compreenda a formao da conscincia umbandista. Umbanda, Luz Divina, constante e ininterrupta evoluo! Porto Alegre, 15 de novembro de 2005 Ramats

  • A Misso da Umbanda Ramats

    22

    Parte 1

    Formao da conscincia umbandista e prticas mgicas populares

  • A Misso da Umbanda Ramats

    23

    1 Umbanda e influncias religiosas

    indgenas, negras e brancas As normas de culto ditadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas servem como balizadores queles que esto em dvida sobre se os terreiros que freqentam so amparados ou no pela Divina Luz. PERGUNTA: - Em vossas recentes mensagens e em vossos livros, verificamos a preponderncia da umbanda como tema central Isso um compromisso elucidativo vosso, anterior ao atual mdium, ou influncia dele, notadamente umbandista? RAMATS: - Anteriormente, abordvamos a umbanda como "espiritualismo de terreiro".[1] No atual momento da coletividade terrcola, impem-nos os compromissos assumidos com nossos Maiorais de que devemos elucidar a umbanda em sua significao csmica superior, distinguindo-a das prticas mgicas populares que vicejam em vossa ptria, como contribuio ativa para a formao da conscincia coletiva umbandista quando se aproxima seu centenrio. [1] Na obra A Misso do Espiritismo, de Herclio Maes, publicada pela EDITORA DO CONHECIMENTO. Mais especificamente no captulo "Espiritismo e umbanda". Desde os primrdios do planeta, quando se materializou o conhecimento uno trazido de outras latitudes siderais, acompanhamos a evoluo dos homens. Agora chegado o tempo de a Alta Confraria Csmica que rege a umbanda elucidar sua elevada significao aos homens, extrapolando a condio de sistema doutrinrio medinico. Nesse sentido, falta-nos trazer conhecimentos esotricos da Luz Divina em prol desse projeto maior, esquematizado no Espao, que traa os desgnios do movimento umbandista em solo terreno. Quanto ao fato de o sensitivo que ora nos recepciona ser notadamente umbandista, isso se faz necessrio. Ele h de nos sentir nos refolhos de seu ser, manter-se equilibrado, vivenciar e praticar a caridade nos terreiros, tendo no Astral a cobertura das falanges de umbanda, para que consiga recepcionar nossos pensamentos e traduzir o que temos a transmitir. Nada adianta ao oleiro ter o melhor terreno que fornece a mais valiosa argila se no sabe moldar o barro em pea til de loua. Isso s se consegue com treino rduo no comando da olaria. inevitvel a influncia do instrumento medinico consciente, o que diminui nosso esforo, alm da preparao que todo mdium recebe antes de reencarnar e nas vidas anteriores. Obviamente as excrescncias anmicas que vm tona devem levar o atual instrumento a um exerccio continuado de vigilncia e humildade, a compartilhar e dividir tudo isso com o grupo que o apia, sob pena de rapidamente se instalarem a vaidade e o impedimento vibratrio por recepcionar nossas idias. PERGUNTA: - Sedes um esprito "famoso" no meio universalista, pelo conjunto de livros psicografados com a inigualvel sensibilidade de vosso primeiro mdium. Para alguns, o fato de vos servirdes de mais de um sensitivo "desacredita" os novos ttulos. Neste momento, em que trazeis importantes conhecimentos sobre a umbanda, alguns espritas duvidam da

  • A Misso da Umbanda Ramats

    24

    veracidade de vossas comunicaes por intermdio do atual mdium e probem vossos livros. Outros, umbandistas, dizem que sedes um "esprito esprita" e que vossos ensinamentos no so de uma entidade "de umbanda". Por que vossos escritos sempre causam tantas polmicas? RAMATS: - nosso compromisso com os Maiorais do Espao, neste incio de terceiro milnio, abordar a umbanda em concordncia com o atual estado de conscincia coletiva, confrontando-a com as prticas mgicas populares, contribuindo humildemente para que a convergncia no meio umbandista acontea sem absorver fundamentos distorcidos e inaceitveis diante do ideal de caridade. No nos preocupamos em agradar a todos, nem pretendemos ser unanimidade. Jesus, o Maior dos Maiorais, que nos autoriza a labutar na mediunidade caritativa neste orbe, se pensasse de forma contrria no teria deixado Seu Evangelho libertador. Importa registrar que "nossa" obra no ficou concluda anteriormente por no ser o momento csmico para esta abordagem da umbanda, como o agora. Para tal desiderato, tivemos de preparar o atual sensitivo, desde muito antes desta encarnao. lgico que todo esse esforo proveio do fato de o corpo fsico do mdium anterior ter se decomposto diante do inexorvel transcorrer dos anos, uma vez que, se estivesse"vivo" no escafandro grosseiro, seria o aparelho ideal, pela grande afinidade que nos une; a memria dessa unio se perde entre as incontveis estrelas do Cosmo infinito. [2] [2] Para maiores informaes quanto preparao dos mdiuns afins com Ramats, seja quando encarnados, seja no plano astral, recomendado o livro Haiawatha, o Mestre da Raa Vermelha, de Marila de Castro e Roger Feraudy, publicado pela EDITORA DO CONHECIMENTO. Em verdade, a "personificao" do esprito num sensitivo psicgrafo um mecanismo psicolgico de transferncia em que o leitor projeta no aparelho medinico que recebe as mensagens referncias "palpveis" da espiritualidade benfeitora. Dado o apego dos homens aos conceitos acomodados na casa mental e uma recorrente indisposio por tudo aquilo que contraria a cartilha doutrinria das religies definitivas, alm das disposies internas caracterizadas pela preguia de rever opinies cristalizadas, irretocveis, h uma ininterrupta vigilncia sobre os mdiuns quando se trata de nomes "famosos" de espritos. Como no conseguem indicar defeitos no contedo das comunicaes, exaltam as diferenas de estilo, como se o mdium intuitivo fosse um rob autmato. Eles preterem a essncia pela forma que a transporta. A dificuldade maior no est no fato de os espritos encontrarem mdiuns que consigam sintonizar com eles e que tenham afinidade com suas idias. Isso acontece anonimamente, todos os dias, nos inmeros centros espritas e terreiros de umbanda. As montanhas a serem transpostas, cheias de pedras no percurso, so os cimes velados e as vaidades feridas dos "lderes", doutrinadores famosos, chefes de terreiro e fundadores de centros, que se consideram antigos proprietrios dos saberes e dos espritos, quando no impem ao "lado de c" os contedos que devem ser ditados. Esses irmos se esquecem de que na mediunidade o telefone toca "de cima para baixo". Nenhum mdium dono. de esprito, nem os espritos devem ser proprietrios dos mdiuns. Todos so livres, e cada orientador espiritual utiliza um, dois ou centenas de sensitivos diferentes; quanto maior sua influncia, tanto mais dilatada sua capacidade mental. No por acaso, entidades luminares do Espao, sabendo da dificuldade de a comunidade terrena aceitar novos sensitivos e j tendo concludo seus compromissos crmicos de transmisso

  • A Misso da Umbanda Ramats

    25

    de conhecimentos doutrinrios atravs de mdiuns que desencarnaram, preferem o anonimato, pois so menos afeitos a temas polmicos. Reportando-nos sabedoria da Divina Luz, afirmamos que nas hostes umbandistas do Astral superior espritos "famosos" , da envergadura de Joana de ngelis, Bezerra de Menezes, Scrates, Pitgoras, Plato, Saint Germain, Zoroastro, entre tantos outros da Grande Fraternidade Universal, enfeixam-se humildemente "atrs" de mais uma forma ilusria que os iguala, com nomes simblicos de pretos velhos ou caboclos. Despersonalizam, assim, as referncias mundanas dos inseguros humanos, que apegados ao ego inferior, personificam os espritos em encarnaes passadas, como freira, mdico, ou filsofo de renome, como se eles estivessem aprisionadas a um nico mdium, tal qual um casamento indissolvel. Naturalmente, "nossas" obras, pelo universalismo e convergncia entre todas as doutrinas terrcolas, libertam os cidados comuns dos conceitos csmicos, de acordo com sua ndole psicolgica avessa a dogmas, fazendo-os encontrarem-se com o livre pensador adormecido dentro de si. Obviamente, o universalismo convergente que preconizamos entre todas as doutrinas da Terra, entendendo que as diferenas unem, e no separam, tanto encanta mentes que nos so simpticas quanto desagrada conscincias sectrias. Assim, qual incansvel pescador num rio caudaloso que tira pacientemente os entulhos do anzol, a essncia de "nossos" singelos escritos continuar causando polmica e contrariando os tubares, "donos da verdade", a fim de retirar o p das mentes acomodadas e fisgar os pequenos peixes nos mares revoltos, as almas simples levadas pelas correntezas paralisantes das religies e as doutrinas terrenas que rotulam a forma, excluindo o pensamento e a essncia do amor universal. PERGUNTA: - Alguns "umbandistas" acusam-vos de serdes demasiadamente eletivo, complicando o que simples, "misturando" conceitos de apometria, teosofia, hinduismo, maonaria e rosacrucianismo, em vossos recentes ensinamentos sobre a umbanda. Quais vossas consideraes sobre isso? RAMATS: - Se residis num apartamento em que cada uma das janelas feita de um material especfico e pintada com uma cor distinta, vosso endereo deixar de ser o mesmo dos demais moradores do prdio? Obviamente as opinies estandardizadas de alguns proslitos, quando contrariados em seu ideal de umbanda, podem confundir o que eletivo com o ser elitista. Sem dvida, muitos irmos encarnados que se dizem umbandistas se mostram refratrios diversidade, querendo impor verdades em meio a diferenas, apontando para todos os lados o que ou no umbanda, indicando qual esprito pertence e qual no pertence a suas hostes, transferindo para o "lado de c" essa guerra de vaidades veladas. Nossos singelos conhecimentos, transmitidos pela mediunidade intuitiva do atual sensitivo, no ousam impor verdades absolutas, tampouco totalizar a umbanda num elitismo sacerdotal, abstraindo da simplicidade seus usos e costumes, como almejam muitos "magos" e sacerdotes. O simples conhecimento no significa sabedoria; a sabedoria est na forma como ele aplicado. Est claro que a busca do saber se efetiva por meio do estudo continuado das verdades csmicas universais, que independem das doutrinas da Terra, o que vos levar a um comportamento de eleio diante da enorme diversidade de conhecimentos espiritualistas registrados na Histria e contidos na umbanda. O "estar" teosofista, maom, hindusta, budista, rosacruciano, esprita, umbandista mero rtulo que fragmenta as leis csmicas na Terra e separa o homem de sua essncia, que "ser" esprito, iludindo-o com a aparncia transitria da personalidade terrena, algemada ao molde da

  • A Misso da Umbanda Ramats

    26

    carne. Vibrando na essncia permanente da umbanda, do Alto para a Terra, unem-se espritos de pretos velhos, caboclos, crianas, exus, hindus, rabes, etopes, chineses, europeus, negros, vermelhos, amarelos e brancos, que se manifestam aos vossos olhos por todas as raas que j pisaram em solo terreno. O que "permanente" e se far infinito, como unidade essencial nas diversas formas de exteriorizao da umbanda, o amor e a caridade em nome do Cristo. PERGUNTA: - Para maiores esclarecimentos, para vos comunicardes necessria a mecnica de incorporao? Alm disso, habitual usardes emissrios para transmitir vossas mensagens? RAMATS: - No h necessidade de "incorporao" para ditarmos as mensagens. O acoplamento do corpo astral da entidade comunicante com os chacras do sensitivo, levemente desdobrado, efetivado durante as consultas na sesso de caridade, ocasio em que necessitamos de enormes quantidades de ectoplasma. Mesmo assim, essa mecnica feita em conjunto com a irradiao intuitiva, sendo praticamente impossvel uma incorporao longa nesses moldes, sob pena de afetar a contextura vibratria dos chacras em seus giros e em suas freqncias originais (os espritos dos caboclos e pais velhos tm vrtices vibratrios mais potentes que o dos mdiuns, mesmo impondo enorme rebaixamento para serem sentidos). Para a escrita, utilizamos o corpo mental e o processo da irradiao intuitiva, em que, por meio do pensamento, envolvemos a mente do sensitivo, e, a partir de ento, em estado de inspirao que denota conscincia alterada, ele deixa os pensamentos flurem. Ao mesmo tempo, ele escreve rapidamente, digitando as idias no teclado do computador, deixando-as fluir com agilidade muito superior quela que pode ser atingida em estado normal de viglia. Embora no tenhamos mais um corpo astral, [3] atuamos seguidamente e com desenvoltura no plano astral, por meio dos chamados corpos de iluso (nos aglutinamos, por nossa fora mental, s molculas astralinas, a fim de formar novos veculos de manifestao, como hindu, caboclo atlante, preto velho ou outra configurao que se fizer necessria, para atuar perante os sensitivos). Quanto ao atual instrumento de que nos servimos, isso no se faz mais necessrio, uma vez que ele percebe nitidamente nossa vibrao e nosso magnetismo peculiares, independentemente de quaisquer formas ilusrias. Essa facilidade de recepo se moldou por muitos sculos, entre vrias encarnaes, com o exerccio medinico continuado na umbanda, na vida atual, indispensvel sua percepo, para ditar diretamente nosso pensamento. No de nossa ndole espiritual utilizar emissrios, para nossa comunicao com os que esto na Terra. Lamentavelmente, vemos muitos escritos circulando nos meios espiritualistas que so improcedentes. [3] Para compreender melhor, consultar a obra A Segunda Morte, R. A. Ranieri, publicada pela Editora da Fraternidade. Observaes do mdium: Certa noite, fiquei at tarde lendo o livro Fundamentos de Teosofia, de C. Jinarajadasa, publicado pela Editora Teosfica. Esse livro possui excelncia didtica e clareza de contedos raras, diante da grande quantidade de ttulos romanescos, repetitivos e superficiais, existentes atualmente. Poderamos ter outros Jinarajadasas encarnados. Fato que fiquei naquele estado de imerso na leitura, atividade em que sintonizo com certas ondas mentais coletivas com as quais

  • A Misso da Umbanda Ramats

    27

    Ramatis comumente atua. muito gratificante quando isso acontece: sinto uma "esttica" no alto da cabea que me confere uma sensao inefvel. Aps as meditaes, fui dormir. Estava quase cochilando, quando houve um deslocamento repentino de ar ao lado de minha cama, escutei uma espcie de minitrovo, e as venezianas trepidaram. Como num flash de clarividncia, enxerguei um ovide pairando no ar, com cerca de 1,5 m de altura por 1 m de largura e profundidade em seu centro. Saindo da superfcie desse corpo, vi vrios e intensos raios multicoloridos, com cores belssimas e indescritveis. Acredito que, para minha permanente e renovada confiana, fui brindado com essa viso psicomental (a ocorrncia no foi notada com os olhos fsicos) do corpo causal de Ramatis, que veio me buscar para receber instrues no plano mental. Isso ocorreu efetivamente, e lembro-me de que foi sobre os fundamentos csmicos do tringulo da Fraternidade Universal, a base de sustentao da umbanda. Fico a refletir sobre quantas discrdias e quantos sectarismos existem entre ns pelas diferenas de formas. Esquecemo-nos de que a essncia divina que jaz dentro de ns tem a mesma origem. PERGUNTA: - Quais as diferenas entre umbanda e espiritismo? RAMATS: - As peculiaridades que distinguem as prticas espritas das umbandistas foram aprofundadas em outra obra.[4] importante relembrar que a umbanda um movimento espiritualista visivelmente diferente do espiritismo, mas com muita sincronia em vrios aspectos, tendo em vista que ambos so regidos pelas leis universais que regulam o intercmbio entre os planos de vida. A umbanda fundamenta-se na magia e nas foras da natureza manifestadas nos planos das formas (mental e astral), representadas pelos orixs. Ela no concorre com os centros espritas, que no permitem smbolos mgicos, cnticos, defumaes, ervas, essncias aromticas, fogo, plvora, velas. O espiritismo preconiza libertar os homens das formas transitrias e no aceita a magia em seus postulados doutrinrios. Infelizmente, muitos homens ditos espritas se consideram melhores, superiores e salvos em relao aos umbandistas, condenando equivocadamente a umbanda em suas atividades de intercmbio com o Espao. Lamentavelmente, muitos dirigentes zelosos da pureza doutrinria, s escondidas, como criana que rouba doce da geladeira, encaminham consulentes, alvos de magia negra, aos terreiros, abafando esses casos dos estudos doutrinrios, mesmo que ocorram diuturnamente em seus centros. [4] A Misso do Espiritismo, j citada anteriormente. PERGUNTA: - Essa nfase na umbanda no contraria vosso compromisso de trazer os conhecimentos do Oriente para o Ocidente de forma palatvel ao racionalismo ocidental, pouco afeito a smbolos e ao esoterismo? RAMATS: - A umbanda dinmica e se adapta aos proslitos em seus anseios espirituais, desapegada de dogmas intocveis e engessamentos doutrinrios. Como se encerra seu primeiro centenrio, perodo cclico de sua afirmao, para angariar o mximo de fiis no menor tempo possvel, suas lideranas terrenas no se preocuparam em buscar uma unidade doutrinria mnima. Ela vicejou num meio caracterizado pela variedade de ritos, cultos e smbolos que tendem "umbandizao", acrescidos do sincretismo, como "aval" para a incluso urbana e social num habitat cultural predominantemente catlico. Obviamente haver continuao desse movimento de forma mais digna, ficando a doutrina de umbanda "depurada", sem traumas ou imposies das

  • A Misso da Umbanda Ramats

    28

    lideranas, fato essencial para sua estabilidade; doravante, isso ensejar constante estudo, no sentido de conduzi-Ia, no plano fsico, a um conquistado e merecido conceito de religio estruturada, a servio da coletividade .encarnada e desencarnada da ptria verde e amarela. A umbanda produto da evoluo espiritual, como tudo no Cosmo. Estando suas origens contidas nas filosofias orientais, com fragmentos mais ou menos acentuados, dependendo de sua origem tnica e geogrfica, quanto mais pesquisardes os cultos que deram origem s religies, do mundo antigo e primitivo ao civilizado e cosmopolita, mais facilmente podereis constatar a procedncia e veracidade dos fundamentos umbandistas, desde os idos da antiga raa vermelha, na Atlntida. Verificai a Sabedoria Divina nessa reunio das prticas e crenas dos ndios, negros e brancos do Brasil, que vibra em harmonia com nossos compromissos assumidos no Espao, neste momento consciencial da coletividade terrena, consoante a nova raa que se formar na crosta, fraterna e universalista, num amlgama entre as culturas e filosofias do Oriente e do Ocidente. PERGUNTA: - Vossa maneira direta e sem rodeios de abordar assuntos polmicos que outros autores espirituais se eximem de elucidar, num universo caracterizado pela diversidade de ritos, no ocasionar interpretaes melindrosas e posturas de parcialidade doutrinria de alguns confrades, lideres da umbanda? RAMATS: - A profcua cultura dos umbandistas, de imparcialidade e de no estabelecer julgamentos belicosos diante da diversidade, no deve vos levar passividade letrgica que se isenta de apontar desvios estruturais na umbanda praticada na Terra, tampouco fortalecer o temor de ressentimentos e melindres de irmos de seara. O conhecimento das leis universais estimula aqueles que o detm. Seres do "lado de c" indicam fraternalmente o respeito s diferenas, mas sem abrir mo de diretrizes e princpios bsicos que norteiam a umbanda: o amor e a caridade crstica. Dessa forma, os Maiorais da Grande Fraternidade Universal esto engajados nesses esclarecimentos e nos autorizam a continuar laborando em prol da ampliao do discernimento dos terrcolas. O momento est de acordo com o merecimento coletivo da comunidade encarnada, principalmente quanto elucidao dos aspectos sociolgicos e csmicos da umbanda. necessrio ampliarmos o entendimento do mediunismo, que no se limita ao espao da porta de acesso para dentro dos terreiros, mostrando as distores ritualsticas que aconteceram no processo de incluso social, nas comunidades da religio nascente, alm dos aspectos esotricos no plano espiritual, em que a umbanda movimento doutrinrio arquitetado do plano astral para a Terra. claro que nosso labor mantm os fundamentos verdadeiros j existentes, trazidos pelos diversos canais srios e fidedignos da espiritualidade, tendo em vista que o novo no destri o que j est estabelecido, apenas o amplia. Assim, almejamos sacudir a paralisia enraizada em algumas lideranas religiosas da umbanda, desarrumando as mentes acomodadas e parciais, em conformidade com a harmonia csmica de um universo dinmico onde tudo se transforma ininterruptamente, de acordo com as leis universais imutveis. PERGUNTA: - Umbanda, uma religio brasileira ou afro-brasileira? RAMATS: - Inquestionavelmente a umbanda nasceu em solo ptrio, abrigando influncias religiosas indgenas, negras e brancas. Unem-se em suas prticas, tal como est estruturada atualmente, em doutrina medinico-espiritualista de terreiro, espritos de caboclos,

  • A Misso da Umbanda Ramats

    29

    pretos velhos e crianas, alm de todas as outras formas e "raas" espirituais que as entidades do plano astral utilizam para fazer a caridade, tendo em vista que a umbanda guindada universalidade no intercmbio medinico, . preponderantemente com influncia africanista, em seu aspecto positivo, benfeitor. o contrrio da rotina fetichista e atvica dos ritos de alguns terreiros eminentemente de cultos africanos e indgenas j distorcidos dos rituais ancestrais das naes e tribos originais de que so procedentes, o que podeis denominar prticas mgicas populares, que no se enquadram nas "normas" do culto umbandista ditadas pelo missionrio e luminoso Caboclo das Sete Encruzilhadas, particularmente quanto gratuidade, dispensa de oferendas votivas com sacrifcios animais e no-utilizao de sangue ritualstico. Respeitosamente, e sem excluir nenhuma forma de mediunismo que almeja a caridade com o Cristo, diante da saudvel diversidade da umbanda, faz-se necessrio, neste momento da formao da conscincia coletiva umbandista, distinguirdes as prticas mgicas populares, distorcidas diante das leis de causalidade que regem a harmonia csmica, do verdadeiro movimento de umbanda, que se espraia na Terra provindo do Espao com a finalidade de interiorizar nos coraes o "esprito" da caridade. As normas de culto ditadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas servem como balizadores queles que esto em dvida sobre se os terreiros que freqentam so amparados ou no pela Divina Luz. Est claro que toda sorte de mediunismo tem um valor diante da inexorvel evoluo dos seres, desde que a cada um seja dado em conformidade com seu merecimento e afinidade, necessidade de retificao e capacidade de assimilao, nada se perdendo do rumo do Pai. Ao pblico espiritualista que nos simptico; impem-nos os compromissos assumidos com os Maiorais do Espao para ditar elucidaes ampliando o discernimento das coletividades encarnadas que nos lem. Assim, esclarecemos que h tipos de rituais confundidos com a umbanda que vo desde a pajelana, um tipo de xamanismo brasileiro em que o paj incorpora em transe ritual com beberagem de ervas; o tambor de mina, em que se misturam cultos de diversas naes africanas com a pajelana para dar passagem s entidades de cura e para "tirar" feitio; o catimb, em que a fumaa da queima de certas folhas oferece xtase, dando poderes "sobrenaturais" ao paj e colocando-o em comunicao com os espritos; o ritual de jurema, em que os "juremeiros" manifestam ndios ousados, violentos e ardilosos ostentando enfeites de penas, cocares, tacapes, arcos-e-flechas, danando em rito exterior que arrebata as populaes carentes de assistncia social e sade, com suas ervas e razes curativas apresentando proezas fenomnicas entre fogo, brasa e cacos de vidros; bem como os rituais africanistas descaracterizados das matrizes ancestrais das antigas naes. No vos iludais com as aparncias espirituais, em que espritos com formas astrais smiles aos da verdadeira umbanda nas apresentaes e completamente diferentes de sua essncia caritativa, alimentam-se energeticamente em ritos "iniciticos" sanguinolentos, regalados entre danas e acepipes de pedaos de animais sacrificados e farofas, finamente temperados, que enchem as covas estomacais qual enterro famoso em trio sepulcral, tudo pago para o bem-estar dos mdiuns e consulentes. Afirmamos que nada disso umbanda, enquanto movimento plasmado pelo Cristo Csmico, que se irradia para a crosta terrcola do Astral superior. Umbanda uma verdade que independe da vontade e das suscetibilidades feridas de lideranas sacerdotais que conspurcam seu nome sagrado com prticas que no so condizentes com a caridade referendada no Evangelho de Jesus.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    30

    Por outro lado, reconhecemos a existncia de variados ritos, usos e costumes na umbanda; alguns um tanto fetichistas, outros um pouco distorcidos: aqui um grito exagerado, ali uma apoteose dispensvel, acol um mdium envaidecido com o guia "infalvel", o consulente desejoso do milagre em seu favor, doa a quem doer. O hbil jardineiro do tempo extrai delicadamente os espinhos para no ferir as mos. Nem tudo so belas e perfumadas rosas no jardim dos orixs. No atual movimento umbandista, isso explicvel pelo fato de no termos padronizao ritualstica ou codificao, o que, por sua vez, acaba "enxotando" os dogmas, tornando o movimento dinmico e sempre evoluindo, como tudo no Cosmo. Oxal e seus ditames prevem o equilbrio nessa diversidade.[5] [5] Da obra Fundamentos de Teosofia, de C. Jinarajadasa, p. 22, publicada pela Editora do Pensamento, transcrito o seguinte texto que elucida a questo da "diversidade" - to vvida na umbanda -, diante do Grande PIano de Evoluo engendrado pelos engenheiros e arquitetos siderais: "...existe um processo evolutivo em incessante atividade; a converso do Uno em Muitos. No um processo em que, nos Muitos, cada qual luta para si, mas em que cada qual chega compreenso de que a sua mais alta expresso depende do servio prestado a outros, por serem todos Um. A nota fundamental da evoluo da forma no uma srie de partes semelhantes, simplesmente justapostas, mas um todo constitudo de partes dessemelhantes em que uma depende das outras. E a nota fundamental da evoluo da vida no se limita a um nico temperamento, um nico credo, um nico modo de adorao, mas tem por caracterstica a diversidade de temperamentos, de credos e de maneiras de servir, que se unem todos para cooperar com o Lagos - Deus - e se lanarem na realizao do que Ele planejou em relao a ns." Diz-nos Ramatis: "Enquanto no praticardes o esprito de cooperao e respeito fraterno entre as religies e doutrinas da Terra, possivelmente continuareis retidos no ciclo vicioso das reencarnaes sucessivas. O que rejeitais e exclus com o fel do preconceito de hoje influencia decisivamente o que, onde e como voltareis ao vaso carnal no futuro. Cooperao e respeito fraterno sem excluses - que no vos leve a ter receio de indicar o que no umbanda, pois convivendo em harmonia nas diferenas que amadurecereis espiritualmente. Os proslitos que vos agridem, quando assim vos intumos, no se mostram conscincias preparadas para interiorizar e sentir a essncia que sustenta a umbanda: fazer a caridade". oportuno registrar que os costumes africanistas tribais de religiosidade ancestral aportaram no Brasil com acentuadas distores de suas prticas originais. J eram atacados pela Inquisio antes de as levas de escravos capturados serem jogadas nos ftidos pores das naus portuguesas. Via de regra, isso foi intensificado aqui pela continuidade da opresso do clero, que redundou em vrias outras adaptaes, com raras excees que conseguiram manter os ritos primrios inclumes. Imps-se uma necessidade de sobrevivncia da populao negra explorada, "liberta" com a Lei urea, que ficou excluda do contexto social e entregue prpria sorte, sem nenhum apoio do Estado monrquico, que se curvava ao controle de um catolicismo arcaico e perseguidor (ambos se beneficiaram da pujana econmica oferecida pelo brao escravo). Finalmente livres, os negros se viram sem as moedas dos patres que os alimentavam, sem o mnimo para a manuteno de suas vidas. Foram, circunstancialmente, "obrigados" a cobrar pela magia curativa que faziam gratuitamente aos sinhs e sinhs no recndito das senzalas de cho batido. Dessa vez, estimulados pelos constantes pedidos dos prprios homens brancos que furtivamente saam das missas e procuravam as choupanas dos ex-escravos alforriados, os quais subitamente se viram transformados em ilustres magistas de aluguel.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    31

    Distorceram, portanto, as leis divinas e deu no que deu: o vil mercantilismo religioso que viceja culturalmente em todos os recantos desta nao atual, formando o carma grupal a ser queimado no futuro, assim como foi no passado. Afinal, quando nos vestimos com a roupagem transitria de Pai Benedito, perfilado na linha de frente da umbanda, no fazemos a magia branca de raiz, ancestral e originria do Congo, da Angola, da Etipia, do Egito ou dos velhos templos da Luz de nossa remota e saudosa Atlntida? A magia que praticamos do "lado de c", aptrida, referendada por leis csmicas universais e imutveis, no atingida pelas iluses dos homens, que infelizmente se perpetuam, pelos equvocos que passam de gerao a gerao, ao longo das encarnaes sucessivas nessa ptria verde e amarela. PERGUNTA: - Historicamente, na Africa, o indivduo se destribaliza, deixando nas lembranas de seu passado os cultos e ritos ancestrais quando se transfere para as cidades, adotando rapidamente novos costumes religiosos. No processo de "migrao" dos negros para o Brasil isso no ocorreu. Por que essa inverso de comportamento? RAMATS: - A manuteno das crenas nativas africanas pelos grupos raciais que vieram "migrados" (escravos) apresentou-se como uma maneira de sobrevivncia inglria. Na verdade, era uma expresso de revolta contra a nova condio imposta pelo dominador branco. O relho nas costas e 'as repetidas chibatadas faziam curvar o corpo fsico sob o guante doloroso das muitas horas de trabalho ao sol, mas no curvavam o esprito dos sacerdotes iorubs, angolanos e jejes. Os rituais e cultos de harmonizao com as foras vivas da natureza, praticados no interior da frica, onde os negros podiam cOnviver com a fora dos orixs e senti-Ias, encontraram forte similitude com a geografia brasileira, rodeada de matas, montanhas, lagos, cachoeiras, rios e mares. O homem que deixava a tribo para buscar vida nova na cidade, por sua vontade, desejava ser considerado includo na nova sistemtica social, tendo outra religio como fator relevante e de "progresso", o que favoreceria seus contatos e relacionamentos. Ao contrrio, no solo verde e amarelo do enorme Brasil a ser conquistado, o escravo no teve opo de escolha exterior, diante da subjugao do escravizador, e se apegou interiormente s suas lembranas, como forma de adquirir nimo para suportar os males, o que o fez ser radicalmente fiel s suas origens. Dentro das senzalas imundas, as diversas religies africanas se conectavam com os orixs, por meio dos cnticos velados e transes rituais, servindo como verdadeiros exaustores psicoemocionais da negritude e que, junto com a utilizao milenar das ervas, mantinha a sade de seus membros. No sabiam todos os envolvidos que as tradies preservadas estavam de acordo com os ditames csmicos que impunham o enredamento crmico dessas vrias tribos negras com a raa branca, em que o excesso de hoje, para muitos, foi a ausncia de ontem para outros tantos. O negro dominado e submisso de agora foi o dominador orgulhoso de antigamente, nas conquistas fratricidas de novos territrios; aquele que perseguido e rejeitado hoje tambm realizou tal feito no passado. Houve perfeito equilbrio do calendrio divino, ocasionando sbia inverso de papis que levou espritos endurecidos retificao nas leis espirituais, as quais se estendem indistintamente sobre todos, independentemente de raa e cor da pele, pois so aspectos transitrios, em favor da perenidade do amor que perdoa, e no subjuga.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    32

    PERGUNTA: - O Brasil tem larga tradio catlica, originria preponderantemente de Portugal, pas de extrema devoo aos santos, com os quais os fiis estabelecem relao de favor sempre em troca de algo, presumindo "intimidade" com as coisas do sagrado. Isso no intensificado na umbanda? RAMATS: - A f catlica nos santos e milagres era comum aos portugueSes que aportaram no Brasil. Os lusitanos acostumados s "rezadeiras", com promessas aos santos padroeiros, seus intercessores divinizados, acreditavam que seus pedidos eram levados mais rapidamente a Deus. Na luta dos conquistadores contra os ndios selvagens e os negros sem alma,[6] pela preservao da povoao dos territrios, invocavam os santos guerreiros, como Santo Antnio, So Jorge, So Sebastio e So Miguel. Contra as doenas de pele, a tuberculose e a hidroencefalia, entre tantas outras enfermidades da poca que acometiam seus familiares, reivindicavam apoio dos Cus por meio de ladainhas e auto-flagelaes a So Roque, So Brs e So Lzaro; das mulheres, como bom comportamento, exigiam que durante as missas interminveis ficassem ajoelhadas, orando Virgem Maria, em suas aparies como Nossa Senhora das Dores, da Conceio, do Parto, caracterstica das famlias patriarcais portuguesas que elegiam a pureza de Maria como modelo de comportamento para suas mooilas e matronas. [6] Os negros e ndios passaram a ter alma, para a Igreja Catlica, a partir de 1741, com a bula papal Immensa Pastorum, selada pelo papa Bento XIV, que declarava que essas raas, apesar de infiis, eram receptivas converso como todas as outras. A aceitao das almas dos negros e ndios simboliza a imposio da espiritualidade branca do catolicismo sobre as concepes originais dos escravos e silvcolas, que se apresentavam de f inabalvel, profundamente aferrados a seus mitos e rituais milenares, os quais foram combatidos ferrenhamente com muitos assassinatos que "contribuam" para os "Cus" na extino dos "endemoniados" da Terra, que no aceitavam a catequizao imposta. Na verdade, o catolicismo colonial profundamente mgico e mstico. Mesmo o clero proibindo as supersties pags, taxadas de herticas em plena vigncia inquisitorial, o discurso doutrinrio no pregava a inexistncia dos fenmenos ocultos e milagreiros. De maneira velada, os clrigos incentivavam essas prticas mgicas de apelo ao divino para conseguir benesses materiais, desde que a interveno ao sobrenatural na vida dos crentes fosse propriedade da Igreja e por ela patrocinada. Assim, bentinhos, figuras, medalhas de santos, depois de benzidos pelos sacerdotes e colocados debaixo de travesseiros e colches, detinham poderes miraculosos. Quando costurados em pequeno pedao de pano viravam amuletos poderosos contra as foras malficas do demnio. Ter em casa um vidro de gua benta garantia proteo contra os maus espritos, bastando espargi-Ia nos cantos, entre cnticos. As fitas cortadas e abenoadas pelos padres nas missas dominicais, se amarradas na cintura do crente, removiam dores, nevralgias e problemas de coluna. Para as almas alcanarem os cus, alm da imprescindvel extrema-uno, quanto mais velas, novenas e ladainhas fnebres, maiores seriam os portes de entrada do paraso. Todo o fascnio mgico do catolicismo se confundia com a missa dominical: as rezas ritmadas, os sinos e campnulas, o altar com ossos e pedaos de roupas dos santos, a purificao pela fumaa aromtica dos incensadores, os anjos e querubins retratados na abbada celestial nos tetos das capelas, sob os olhos intimidados dos crentes pedintes, tudo isso estabelecia uma fascinao mgica de que as lideranas eclesiais se aproveitam para reprimir fiis, convert-los e atra-los.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    33

    Os negros e ndios das cidades, proibidos de entrar pela porta principal das igrejas, eram acomodados em p nas laterais, aos fundos (os melhores lugares eram da nobreza branca), e ficaram totalmente submetidos religio do conquistador portugus, sendo convertidos, porm preservando sua religiosidade original, sem perda da f ancestral. Nos dias atuais, na umbanda, essa relao de troca mgica entre os consulentes pedintes e os espritos ainda visvel. De fato, a grande aceitao das tradies afro-amerndias amalgamadas com o espiritismo e os santos catlicos penetrou intensamente na alma mstica do brasileiro: Existe um infindvel nmero de terreiros umbandistas e centros universalistas em que possvel o estreitamento do contato com os espritos dos mortos, criando uma relao mgico-religiosa personalizada pelo transe medinico. Nela, desgua o carma grupal que envolve as individualidades encarnadas e desencarnadas em busca de redeno espiritual, pois todas esto retidas no orbe terrcola, impedidas momentaneamente de alcanar o passaporte csmico que as levar a novas paragens espirituais. Como dizem os pretos velhos em suas mensagens simples e de grande sabedoria: "...quando a pedra aperta no sapato, h de se parar um pouco para aliviar a dor no p, podendo o filho continuar depois a caminhada". Considerando o mediunismo de forma ampla, o qual no se restringe umbanda, no vos deixeis enganar, tendo em vista que as preces veladas, as posturas silenciosas e compungidas de muitos espritas e espiritualistas da "Nova Era" so recheadas de pedidos ntimos e secretos de apelo materialista, alm de muito escassos no merecimento, de acordo com as leis de causa e efeito e respeitando o livre-arbtrio do prximo. Na relao individual com o plano espiritual, so inevitveis os maneirismos e condicionamentos mentais arraigados no inconsciente, como podereis deduzir por vs ao avaliar vosso prprio ntimo. PERGUNTA: - fato que espritos originrios de outros orbes, que aqui aportaram desde os primrdios do planeta, depois da decadncia atlante, com o passar dos sculos vieram a originar naes indgenas brasileiras que herdaram suas tradies mgicas, rituais e curadoras, atualmente canalizadas nas falanges de caboclos da umbanda? RAMATS: - No incio dos tempos em vosso planeta, poca em que o orbe era uma massa gnea coberta de vapores sulfurosos, a regio que se solidificou mais rpido, tendo despontado posteriormente na superfcie, foi onde hoje est localizado o Brasil. Na escala geolgica do planeta, isso propiciou que a primeira crosta terrestre emersa do oceano primitivo fosse a ptria verde e amarela. Tal regio foi a que se formou mais rapidamente, oferecendo condio propcia, na natureza que se forjou, para a encarnao de espritos extraterrestres no ciclo hominal terrcola. Podeis concluir que as tradies mgicas e xamnicas que nasceram nas tribos brasileiras de antanho antecederam todos os demais ciclos reencarnatrios que se efetivaram. Na verdade, essa "porta" de entrada espiritual planetria originou o conhecimento em todas as outras raas, naes e tribos antigas, no s da indgena formada primeiramente. Os pays (pajs) interpretavam os astros, liam as energias irradiadas e, por meio da natureza e do intercmbio psicoastral com entidades incorpreas de outros orbes, que vieram em suas vimanas (naves) intensamente. at o auge da Atlntida, adquiriam instrues e eram governados do Espao. Com certeza, a umbanda pratica essa herana mgica ancestral, seja de caboclo, preto velho ou oriental; as aparncias dos espritos so meras formas e uma no melhor que a outra. Os conhecimentos milenares ficam registrados no esprito e independem da nao, tribo ou raa, desde que isso se configure como iluses, impresses transitrias do vaso da matria que abriga uma coletividade encarnada.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    34

    Obviamente os espritos que se enfeixam nas aparncias de caboclos, ligados antiga raa vermelha, assim o fazem prioritariamente para impressionar mediunicamente vossos embotados sentidos psquicos, no pelo fato de serem herdeiros das tradies mgicas, rituais e curadoras, uma vez que as outras "raas" dos espritos tambm o so e que a vertente que a trouxe e foi uma s e se espargiu pelas migraes provocadas ao longo da histria e geografia terrenas. PERGUNTA: - Qual a razo de muitos dos mitos e histrias das tribos indgenas e das naes africanas contadas de gerao a gerao serem semelhantes, mesmo que transmitidos em pocas diferentes e com personagens peculiares a cada cultura, mantendo vivos os conhecimentos dos orixs? RAMATS: - No passado das civilizaes, seja na Atlntida, sia, frica, Europa, ou nas Amricas, reencarnaram os mesmos espritos. em vrias ocasies. Eles traziam no inconsciente, o qual no se reportava s cores das peles ou raas que os abrigavam provisoriamente nos corpos fsicos, a sabedoria antiga dos iniciados extraterrestres. Ocorre que a transmisso dos saberes ocultos sempre foi velada, um tanto misteriosa ao homem comum, preocupado em saciar a fome e sem tempo para maiores abstraes filosficas. Seria perigoso o magismo praticado pelos magos nos templos, se fosse aberto a todos. Por esse motivo, os Senhores da Luz Velada, espritos de escol de outros orbes que velavam pela transmisso dos conhecimentos mgicos, quando encarnados como instrutores atlantes, hierofantes egpcios, mahatmas indianos, pajs sul-amerndios ou sacerdotes tribais africanos, preservaram o saber tecendo histrias que viraram lendas para o povo, numa verso popularizada para as mentes brutas, tornando esse saber"palatvel" oralmente interpretao esotrica superficial das leis divinas que regem o micro e o macrocosmo. Fixaram em santurios, pirmides, criptas e cavernas o que no era acessvel ao primitivismo do povo absorvido pela sobrevivncia num cotidiano inspito. Imaginai centenas de poos na crosta que saciam a sede das populaes locais, em que os muros e telhados que enfeitam sua superfcie so diferentes, mas a gua da fonte que os enche igual em todos os locais. Assim a umbanda: diferena nos terreiros no significa desigualdade perante os orixs; ela vos une numa mesma essncia, e no vos separa na iluso das formas. PERGUNTA.: - Existem espritos tupi-guaranis que so caboclos de umbanda: Tupinamb, Tupiara, Tupiau, Tupimirim, entre outros. Muitos ainda falam o nheengatu e pertenceram s tribos mais evoludas do planeta. Como explicar uma civilizao to antiga falar um idioma considerado desenvolvido pela lingstica, inclusive se comparado com as lnguas atuais? RAMATS: - O som pensamento, e a sonoridade verbal o expressa. As imagens mentais antecedem a idia e sua verbalizao. Somente espritos de grande conhecimento poderiam se adaptar a um idioma como o falado pelos tupi-guaranis. Essa tribo "primitiva" no era monossilbica; e seu vocabulrio era expresso das conscincias espirituais extraterrestres, com os quais mantinham sintonia e de quem eram procedentes. No plano hiperfsico, atuavam os regentes dessa raa, espritos de escol que vieram de Srius para a Terra trazendo o intercmbio com o mundo rarefeito interdimensional. Os espritos que atuam na umbanda, descendentes do portentoso tronco tupi e originrios dessa estrela distante (Srius), so exmios mensageiros e viajantes astrais.

  • A Misso da Umbanda Ramats

    35

    Por detrs de suas prticas xamnicas (sopros, benzeduras, baforadas, ervas, mandingas e mirongas), esto alinhadas verticalmente no ter, numa outra dimenso vibratria, naves espaciais de outros orbes, preexistentes formao de vosso planeta, que auxiliam na evoluo humana. PERGUNTA.: - Como entender que essas culturas e civilizaes foram do apogeu decadncia, se eram to evoludas, e por que esto na umbanda? RAMATS: - A Terra no destinada a ter uma raa dominante e uniforme. natural que "blocos" de espritos que reencarnam durante um perodo, numa determinada raa, fazendo-a evoluir, deixem de encarnar em uma forma e cor especficas para animar outras, instalando-se assim os ciclos de apogeu e declnio. Existiram vrias etnias no orbe, e atualmente existe uma miscelnea racial no planeta. A diversidade da umbanda atrai esses espritos por sua universalidade. Sendo um amlgama de todas as cores e formas raciais, a mais universal das religies e doutrinas medinicas da Terra; leva os homens fragmentados em sua relao com o Divino a um processo de unificao com Ele. PERGUNTA.: - possvel falar-nos sobre a magia das cantigas e sonoridades dos caboclos da umbanda, descendente do magismo tribal mais antigo do planeta? RAMATS: - Os homens afoitos e zelosos das purezas doutrinrias criticam os caboclos da umbanda quando assoviam, cantam, assopram e chilreiam como pssaros, baforando o charuto. A estreiteza de opinio oriunda do desconhecimento, aliado ao preconceito, favorece as "superioridades" doutrinrias e as interpretaes sectrias. Os fundamentos dos mantras e seus efeitos curativos (vocalizao de palavras mgicas) fazem parte dos ritmos csmicos desde os primrdios de vossa civilizao. Os vocbulos pronunciados, acompanhados do sopro e das baforadas, movimentam partculas e molculas do ter circundante do consulente, impactam os corpos astral e etrico, expandindo a aura e realizando a desagregao de fluidos densos', miasmas, placas, vibries e outras negatividades. Assim como as muralhas de Jeric tombaram ao som das trombetas de Josu, os cnticos, tambores e chocalhos dos caboclos desintegram poderosos campos de fora magnetizados no Astral, bem como o som do diapaso faz evaporar a gua. Os infra e ultra-sons do Logos, o Verbo sagrado, deram origem ao Universo e compem a trade divina: som, luz e movimento. Como o macrocosmo est no microcosmo, e vice-versa, se pronunciardes determinadas palavras contra um objeto ou ponto focal no Espao, mentalizando a ao que esse som simboliza, ser potencializada a inteno pelo mediunismo do caboclo manif