A menina que vendia bolinhos

13
A MENINA QUE VENDIA BOLINHOS Yves Pinguill y Peggy

Transcript of A menina que vendia bolinhos

Page 1: A menina que vendia bolinhos

A MENINA QUE VENDIA BOLINHOS

Yves PinguillyPeggy Nille

Page 2: A menina que vendia bolinhos

Apresento-vos Yangba. Passa-se por ela quase sem a ver. Mas ela está sempre lá! É uma menina.É vendedeira, ali, à porta da escola.

Page 3: A menina que vendia bolinhos

Yangba fica sentada no seu banquinho. Com a bacia pousada diante dela. Tem sete ou oito anos, não mais do que isso.Vende ali, à porta da escola. Dèngbè a yé bia: a Escola do Coelho Cantor. Vende bolinhos fritos de banana, os makara ti ndongo.

Page 4: A menina que vendia bolinhos

Yangba ocupou o lugar de sua mãe no mundo. Vive com o pai, com a esposa do pai e com as filhas da esposa do pai. O pai! Quase nunca o vê. É vigilante noturno na cidade. Só chega para dormir quando começa o dia. E desconhece a vida que leva a sua pequena Yangba. Sim, a mãe morreu quando Yangba veio ao mundo. É assim. E é para a mulher do pai, a madrasta, que ela trabalha. Mas Yangba quer crescer.

Page 5: A menina que vendia bolinhos

E, ultimamente, amarra um pedaço de tecido à volta da anca. E traz um top descaído da cor do pó.Yangba é um lindo nome. É costume dizer-se: mesmo quando vai seco, o rio conserva o seu nome.Yangba tem um amigo, um pássaro: um kaya de barriga amarela. Está preso a um fio que, no pulso de Yangba, parece um bracelete. Umas vezes, leva-o pousado no ombro… Outras vezes, vai pousado na cabeça…

Page 6: A menina que vendia bolinhos

Naquele dia, Yangba vê as crianças entrar no pátio da escola, vê-as brincar, pôr-se em fila junto à sala de aulas.

De seguida, vê ainda chegar pessoas com batas brancas.Todos trazem um saco na mão ou ao ombro.Mas há um homem e uma mulher que têm, para além dos sacos, uma mala térmica.Entram na escola. Vão para as salas. Estão ali para vacinar cinco, dez ou vinte alunos, talvez mais.

Page 7: A menina que vendia bolinhos

Depois disso, ainda chega um carro. Um carro enorme. Um carro-elefante, ou hipopótamo ou baobá! Um carro que faz levantar um turbilhão de poeira em volta de Yangba.Uma senhora alta sai do carro. Linda. Com uma túnica bordada nas mangas e no peito. Passa sem cumprimentar. E entra na escola sem sequer olhar para Yangba.Vem ver como corre a vacinação.E ali fica Yangba, sem ninguém por perto.

Page 8: A menina que vendia bolinhos

Depois, a senhora sai da escola. Pôs-se ao volante do seu carrão. Liga o motor e pronto! Mete marcha atrás… mas…— Hé! Ai!

O carro-elefante, ou hipopótamo ou baobá esmaga a bacia com os bolinhos fritos de Yangba.A senhora sai do carro. Yangba está a chorar. E a senhora põe-se aos gritos.É sempre assim. Um grão de milho nunca tem razão diante da galinha….A senhora engata a primeira e arranca.

Page 9: A menina que vendia bolinhos

Depois disso, vem a noite.Yangba não aparece em casa da madrasta.Não quer que lhe batam por chegar a casa de mãos vazias.Com o kaya, vai dormir no seu esconderijo que é uma mangueira.Ali, entre os galhos e as mangas, enrola-se numa pele de boi que lhe deram.A pele ainda tem dois grandes chifres afiados.

Page 10: A menina que vendia bolinhos

Já a noite vai alta quando ela adormece. Mas depressa acorda. Junto à árvore estão uns ladrões a conspirar. E a discutir. Yangba fica a tremer de medo, muito… mesmo muito medo, e cai no meio dos ladrões, coberta com a sua pele de boi com chifres. A lua que está a observar tudo e que tudo ouve, torna-se mais clara.

Então, os cinco, seis ou sete ladrões gritam de medo:— Uma bruxa! Um likundü!Desaparecem a correr para se perder na noite. Deixam ali, no chão, embrulhados num paninho, oito pequenos diamantes. Yangba volta a trepar para a mangueira, para se esconder com a sua pele de boi. Encontrou oito pequenos brilhantes… diamantes da floresta.

Page 11: A menina que vendia bolinhos

A manhã nasceu.Yangba não foi vender os seus bolinhos.Na rua principal da cidade, vai vender um pequeno brilhante, apenas um. Os outros, escondeu-os. Deram-lhe notas grandes. Notas-elefantes, hipopótamos, baobás. E pode assim realizar o seu sonho: comprarum lindo par de sapatos.

Page 12: A menina que vendia bolinhos

Depois disto, aparece no bairro rodeado pelo grande rio Oubangui. A madrasta quer apanhá-la e bater-lhe. Mas Yangba, com os seus sapatos, corre mais depressa do que o vento e desaparece. Quer tanto ir à escola….Em que cantinho do mundo estará agora Yangba? No bairro, dizem uns que os seus sapatinhos a fizeram correr para o meio do céu e do mundo.Outros dizem que ela apenas voou para o outro lado do rio, segurando o seu kaya pelo fio. E que pôde, por fim, realizar o seu sonho: juntar-se aos meninos que aprendem a ler e a escrever.

Page 13: A menina que vendia bolinhos

Mas eu sei que ela anda por aí… Ouvi dizer que foi para um sítio bonito e que, finalmente, agora vai à escola, com outros meninos e meninas. Dizem que é muito feliz…Se a visses…Tenta encontrá-la! É tua amiga.