A MATEMÁTICA FINANCEIRA COMO FERRAMENTA PARA O … · gerenciamento do orçamento familiar....
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A MATEMÁTICA FINANCEIRA COMO FERRAMENTA PARA O
EXERCÍCIO DA CIDADANIA
Eni Vaz de Lima Facchin1
Arilda Maria Passos 2
Resumo
O presente artigo foi elaborado a partir da percepção das dificuldades que temos em lidar com as finanças pessoais e ajustar nossas despesas mensais dentro do orçamento familiar. Este estudo propôs aos alunos do 9º ano A do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Nova Visão - EFM, do município de Chopinzinho, trabalhar o conteúdo de Matemática Financeira relacionando-o ao dia a dia financeiro das suas famílias, pois se vê a facilidade com que os crediários vêm mudando a realidade brasileira, propiciando o endividamento, fazendo com que muitas famílias fiquem com contas totalmente desestruturadas Assim, objetivou-se com esta proposta a aproximação da matemática ensinada na escola com a utilizada pelas famílias no gerenciamento do orçamento familiar. Comumente, o que se ouve de muitos pais, é que não entendem a matemática estudada pelos seus filhos na escola. Propôs-se então que os alunos analisassem e resolvessem questões relacionadas a organização financeira tanto pessoal quanto familiar com o professor em sala de aula, fazendo de suas casas o laboratório de aprendizagem, auxiliando assim, suas famílias, na organização financeira. Com esta metodologia didático-pedagógica procurou-se trabalhar a Matemática Financeira articulada a um projeto de vida e realização de sonhos futuros, levando-os a desenvolverem conceitos de porcentagem, juros e compreenderem a sua utilidade.
Palavras chaves: Matemática Financeira; gerenciamento; orçamento; sonhos futuros.
Introdução
O presente trabalho apresenta os resultados de uma proposta de estudo
que buscou tentar dar mais significado e compreensão da realidade em que os
educandos estão inseridos. A proposta foi a aproximação da matemática
ensinada na escola com a matemática utilizada pelas famílias para gerenciar o
orçamento familiar. No desenvolvimento da proposta deu-se enfoque às
tendências da Educação Matemática presentes nas Diretrizes Curriculares do
Estado do Paraná, na Resolução de Problemas, às Mídias Tecnológicas e à
1 Profª.especialista, docente da disciplina de matemática do Colégio Estadual Nova Visão-EFM,
Chopinzinho, Paraná. E-mail: [email protected]. 2 Profª, Mestre, Orientadora, UNICENTRO, Guarapuava, Paraná. E-mail: [email protected].
Etnomatemática, considerando os aspectos mais relevantes da Matemática
Financeira, trabalhando com conteúdos relacionados ao gerenciamento de
orçamentos e despesas familiares, incentivando assim o hábito de poupar para
poder investir na realização de metas.
O estudo desenvolveu-se em uma turma do Colégio Estadual Nova
Visão-EFM, do município de Chopinzinho, no primeiro semestre de 2013, junto
à turma do 9º ano A do Ensino Fundamental. O presente trabalho norteou-se
em uma metodologia didático-pedagógica em que os alunos fizessem uma
interação escola/família, auxiliando-os nas questões relacionadas à
organização financeira tanto pessoal quanto familiar, utilizando os
conhecimentos adquiridos em sala de aula.
Tais procedimentos foram tomados de acordo com a teoria de Macedo
(2012) em que ele diz: “Filhos que veem seus pais gerando informações sobre
o que eles fazem com o dinheiro - discutindo, controlando, e planejando -
tendem a ser mais responsáveis” (MACEDO, 2012, p. 78).
Foram propostas algumas etapas de organização financeira, tais como:
sonhos/metas, autoconhecimento, planejamento, plano financeiro, pesquisa de
mercado, disciplina e investimento, para assim, o aluno em conjunto com a sua
família pudesse, saber o destino do dinheiro, planejar objetivos e realizar seus
sonhos. Trabalhou-se utilizando recursos tecnológicos para tornar mais
atrativa a promoção da compreensão deste trabalho e o entendimento de forma
concisa, porém eficaz.
Desenvolvimento
Hoje, na escola, é necessário fazer com que o aluno adquira, somados
aos conhecimentos teóricos, as práticas para que possa atuar e transformar o
mundo onde vive, buscando sempre uma vida digna onde, como cidadão,
possa, de fato, exercer seus direitos e, em contrapartida, cumprir com seus
deveres, contribuindo assim para a construção de um mundo melhor. A esse
respeito Brito (2005) afirma que há:
[...] a necessidade de elaboração de planos de ensino onde, sempre que possível, os conteúdos matemáticos estejam relacionados ao cotidiano dos estudantes, buscando atender as exigências de uma sociedade em constante transformação, na qual a escola se insere (BRITO, 2005, p. 88).
Além disso, esta pesquisa possibilitou vislumbrar que, ao longo da
história humana, houve várias correntes de pensamento sobre a aquisição e a
aplicação da aprendizagem e do conhecimento desenvolvido.
Neste estudo, buscou-se dar ênfase à resolução de problemas, às
mídias tecnológicas e à Etnomatemática, considerando os aspectos mais
relevantes da Matemática Financeira, trabalhando com conteúdos relacionados
ao gerenciamento de orçamentos e despesas familiares, incentivando assim o
hábito de poupar para poder investir na realização de metas.
Segundo Dante (2005), percebeu-se que a matemática pode e deve ser
usada para resolver os mais variados problemas, cuja metodologia o aluno
pode aplicar por meio dos conhecimentos matemáticos adquiridos, nas
situações do cotidiano, uma vez que há a necessidade, dentro da atual
realidade, de cidadãos pensantes, participantes, ativos, decididos, dentro da
precisão obtida com a matemática. Para tanto, faz-se necessário alfabetizar
matematicamente os indivíduos, a fim de que possam resolver os problemas de
modo inteligente e eficiente.
Encontrou-se em Polya (1995) o respaldo teórico para explicar o
processo de aprendizagem através da resolução de problemas, pois o
professor, ao propor um problema, precisa mostrar um caminho para a sua
resolução. Em primeiro lugar deve acontecer a compreensão do problema,
depois o estabelecimento de um plano, em seguida a execução desse plano e
por fim a verificação.
Sob esse ponto de vista, a pesquisa e, consequentemente, a
descoberta, são valiosas na construção do saber. Assim sendo, concorda-se
com Bordenave e Pereira (1999) que pontuam que, às vezes, um professor que
vem ensinando sua matéria há vinte anos com sucesso, nem sempre vê a
necessidade de inovar. E acrescentam ainda que todo professor inovador deve
proceder com inteligência e propor o método do descongelamento do sistema
em vigor para estimular novas ideias, colocando-as em prática, vivenciando-as
com os alunos novos métodos e aprendizagens. Para tanto, precisará definir
estratégias de ação, ter flexibilidade e saber adaptar-se a novas situações.
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o ensino da
Matemática (2008) contribuem para esta pesquisa quando dizem que:
[...] embora se compreendam as disciplinas escolares como indispensáveis no processo de socialização e sistematização dos conhecimentos, não se pode conceber esses conhecimentos restritos aos limites disciplinares (...) propõe-se que o currículo de Educação Básica ofereça, ao estudante, a formação necessária para o enfrentamento com vistas à transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo (DCEs, 2008, p. 20).
Por meio dessa reflexão, percebeu-se que nada é permanente; a
educação é um processo de retrocessos e avanços contínuos, com o objetivo
de oferecer aos alunos uma formação mais apurada, sempre embasada na
reflexão de professores e alunos, numa prática pedagógica mediada pelos
recursos tecnológicos disponíveis, sempre buscando alternativas que possam
contribuir para a melhora do ensino.
Segundo as novas tendências, as escolas públicas no Paraná requerem
um olhar sob as perspectivas da construção do conhecimento; assim sendo, a
escola entra em um processo cujo intuito é viabilizar as condições de ensino-
aprendizagem.
Para tanto, entendeu-se que o conteúdo Matemática Financeira é
essencial no meio educacional, já na educação básica, haja vista que no
mundo contemporâneo existe um número cada vez mais expressivo de bens e
serviços a serem financiados. Macedo (2012) diz que:
[...] Não é novidade dizer que todas as pessoas enfrentam problemas e precisam encontrar mecanismos para superá-los, eleger prioridades e fazer escolhas. [...] Planejar não significa gastar menos, e sim gastar melhor! (MACEDO, 2012, p. 82).
Nesse contexto, o aprendizado da Matemática Financeira é
essencialmente relevante para poder gerir as finanças pessoais e familiares,
em um tempo em que os crediários proliferam e a grande maioria das pessoas
não tem o aparato necessário para calcular corretamente os juros e as
consequências deste crediário no orçamento familiar.
Por ser um assunto abrangente, tem-se a convicção de que somente
com o envolvimento dos alunos será possível verificar todas as implicações da
prática consumista no dia a dia de todos. Essa reflexão foi muito importante
para despertar no aluno a motivação necessária na busca dos conhecimentos
matemáticos de acordo com a realidade onde se encontram inseridos.
A esse respeito Dante (2005) refere-se sobre o gosto dos alunos pela
matemática, dizendo que:
[...] em geral os alunos, logo nos primeiros contatos com essa ciência, começam a detestá-la ou tornam-se indiferentes a ela [...] seja por que o ensino ocorre na maioria das vezes, descontextualizado, seja pelo exagero de treinos e regras, tornando-se desgastante (DANTE, 2005, p. 13).
A história da matemática financeira
Neste tópico demonstra-se que o conceito de juros existe desde que
surgiu o dinheiro. De acordo com Piton (2005), as tábuas, ou seja, os
documentos sumérios antigos já registravam transações legais no dia a dia,
tais como recibos, faturas, notas promissórias, juros simples e impostos que
apareceram na Babilônia por volta de 2000 a.C., sendo o juro uma das
aplicações mais antigas da Matemática Financeira.
No que diz respeito às instituições bancárias, seu aparecimento deu-se a
partir do comércio de moedas de ouro e prata que eram cunhadas em diversos
países, com o surgimento da classe burguesa a partir do século XI. Esse
comércio cresceu, alguns comerciantes começaram a investir na compra de
moedas, e ficaram conhecidos como cambistas. Os primeiros bancos surgiram
por meio da instituição eclesiástica, pelas mãos dos sacerdotes da Igreja
Católica, cujo primeiro nome veio a ser “Banco do Espírito Santo”. A finalidade
deste era facilitar o pagamento de dízimos, indulgências e transações
relacionadas a empréstimos, pois a Igreja ambicionava o monopólio que, no
entanto, não aconteceu, por conta da avidez por ganhos e lucros que girava em
torno desta instituição. Desse modo, as redes bancárias foram se expandindo.
Isto se deu de início pelas cidades-estado da Itália, que tinham um vasto
comércio.
A matemática financeira e o exercício da cidadania
É constante no diálogo entre os educadores afirmar que o papel da
educação é garantir aos alunos uma formação que possa conduzi-los ao
exercício pleno da cidadania. Sob esse ponto de vista é possível afirmar que a
Matemática Financeira oferece-lhes muitas opções de conhecimentos
indispensáveis ao seu exercício, como a capacidade de entender e expressar
opiniões. Nesse sentido, D´Ambrósio (2005) assim se refere facilitando esta
compreensão: “[...] A capacidade de explicar, de apreender e compreender, de
enfrentar, criticamente, situações novas, constituem a aprendizagem por
excelência" (D'AMBRÓSIO, 2005, p.81).
Portanto, o desenvolvimento das situações financeiras interfere no modo
de vida das pessoas e exige novas estratégias e novos conhecimentos, que
possibilitem à educação acompanhar as transformações na sociedade, pois, na
realidade brasileira, observa-se que grande parte da população está sempre
com as finanças desequilibradas e isto ocorre, na maioria das vezes, pela falta
de conhecimento sobre o assunto.
Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade proposta para a educação básica teve como meta
estabelecer interrelações com as demais disciplinas. Neste caso, levou-se em
conta o fato de se trabalhar os conteúdos matemáticos de uma forma mais
integrada e contextualizada com os conteúdos das outras disciplinas e os
próprios conteúdos da matemática, passando uma visão de unidade e
totalidade do saber.
No presente estudo, isso se deu em todos os momentos de sua
aplicação, uma vez que os textos e outros recursos pedagógicos dialogaram
com a Língua Portuguesa, na leitura e interpretação de textos diversos, com a
Geografia ao referir-se aos espaços físicos, além das temáticas
contemporâneas amplamente discutidas, como ética e cidadania, questões
ambientais. Neste contexto, aplicou-se o que recomendam as Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná:
A interdisciplinaridade é uma questão epistemológica e está na abordagem teórica e conceitual dada ao conteúdo em estudo, concretizando-se na articulação das disciplinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a compreensão desse conteúdo (DCEs, 2008, p.27).
Entendeu-se que essas relações interdisciplinares só se estabelecem
quando os conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina são chamados à
discussão e auxiliam na compreensão dos conteúdos de outra disciplina. Assim
é que, sob a visão do ensino dos conteúdos escolares as relações
interdisciplinares se fazem necessárias para eliminar as limitações e
especificidades próprias do objeto de estudo e ampliar as diversas abordagens
dos conteúdos levando-se em conta a ampla dimensão do conhecimento,
segundo o que afirma Freire: "[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar possibilidades para sua própria produção ou sua construção" (FREIRE,
2004, p. 47).
Etnomatemática
Pela pesquisa, constatou-se que a Etnomatemática é considerada
como uma ramificação da História da Matemática relacionada ainda com a
Antropologia e as ciências da cognição. Ela é praticada por grupos culturais,
comunidades urbanas, rurais, trabalhadores, grupos em conformidade à faixa
etária e outros que se identificam, seja por tradição, ou por objetivos comuns,
conforme diz D´Ambrósio:
[...] será impossível entendermos o comportamento da juventude de hoje e, portanto, avaliarmos o estado da educação, sem recorrermos a uma análise do momento cultural que os jovens estão vivendo (D'AMBRÓSIO, 2005, p.30).
Tais atividades remeteram a uma reflexão de como a matemática vem
sendo vivenciada individualmente, pois cada um já traz uma bagagem de
conhecimentos adquiridos nos ambientes sociais nos quais convive.
Assim, na pesquisa realizada, a Etnomatemática se identificou pela
procura de reais possibilidades, levando os alunos adolescentes a terem
acesso ao conhecimento matemático contextualizado. Confirma-se isto em
D´Ambrósio: "A proposta pedagógica da Etnomatemática é fazer da
matemática algo vivo, lidando com situações reais no tempo [agora] e no
espaço [aqui]. E, através da crítica, questionar o aqui e agora" (D'AMBRÓSIO,
2005, p. 46).
Ao recorrer-se às Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o
Ensino da Matemática, viu-se que “[...] O papel da Etnomatemática é
reconhecer e registrar questões de relevância social que produzem o
conhecimento matemático" (DCEs, 2008, p. 64).
Nesta proposta, coube ao professor de Matemática oportunizar aos
alunos experiências enriquecedoras, através das quais pudessem olhar o
mundo de forma crítica, a fim de conseguir, ao longo do tempo, alcançar uma
melhora de vida, mais consciente e feliz.
Por isso, por meio desta intervenção, como educadora de Matemática,
pretendeu-se demonstrar aos alunos que há inúmeros obstáculos das mais
variadas dimensões, mas que, para superá-los, é necessário perseverar,
traçando metas para que se obtenha êxito durante a caminhada, para que se
possa, dignamente, alcançar o sonho que se persegue.
Pelo exposto até aqui, pretendeu-se, por meio dessa intervenção, fazer
com que o aluno fortalecesse sua individualidade, percebendo que ele é o
protagonista de sua história e que o mesmo pode liberar sua força criadora,
combatendo a sujeição a controles externos, à obediência cega, a normas que
lhe são impostas, conforme aponta Brito (2005):
[...] tem se tornado cada vez mais notório que vários dos componentes do domínio afetivo, tais como as atitudes e os valores, as emoções e os sentimentos, a motivação, a confiança em si [...] desempenham papéis fundamentais papéis fundamentais na atividade mental dos indivíduos (BRITO, 2005, p. 236).
Outro ponto relevante consistiu na preocupação com as formas de uso
dos recursos naturais de forma regrada, uma vez que o homem é parte
integrante da natureza e por isso interage diretamente com ela, de forma
correta ou não, de acordo com o que disse D´Ambrósio (2005): ”[...] Vida é a
resultante de três fatos: indivíduo, outro, natureza" (D'AMBRÓSIO, 2005, p.
70). Assim sendo, cabe ao ser humano consumir comedidamente os recursos
naturais para legar às outras gerações um ambiente sustentável com qualidade
ambiental.
Apresentação da proposta
A matemática financeira como ferramenta para o exercício da cidadania
O início do trabalho deu-se com a apresentação do projeto de
intervenção e em seguida, da produção didático-pedagógica ao Colegiado do
Colégio Estadual Nova Visão-Ensino Fundamental e Médio, do município de
Chopinzinho. Esta apresentação foi realizada nas dependências Colégio, em
um dos momentos da Semana Pedagógica, destacando a relevância deste
projeto para a Escola, bem como para os alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental.
A proposta foi apresentada de forma clara e objetiva e a grande maioria
dos presentes demonstrou grande interesse, acreditando ser de alta relevância
para o alunado em questão, pois é a partir de um planejamento bem
estruturado que se pode estabelecer metas para a melhoria da qualidade de
vida e efetivá-las.
Em outro momento realizou-se a reunião com os pais, objetivando dar-
lhes ciência do trabalho que seria desenvolvido, uma vez que seriam
solicitados para terem participação ativa, para que houvesse sucesso no
empreendimento deste trabalho. As discussões em família sobre quanto se
ganha e quanto se pode gastar, sobre as prioridades financeiras de cada um e
o uso consciente do dinheiro seriam o ponto principal para o bom
desenvolvimento da pesquisa. Este encontro com os pais foi bastante fecundo,
com o comparecimento de cerca de 70% deles colocando-se à disposição
como colaboradores, por entenderem que se tratava de uma proposta que
vinha auxiliar o processo pedagógico.
O trabalho com a matemática financeira em sala de aula
Este trabalho teve início com a apresentação da proposta à turma do 9º
ano do período matutino, explicitando as ideias do projeto, sua importância,
destacando-se a necessidade do comprometimento de todos. Os alunos foram
bastante atenciosos e interessados na proposta. Assistiram ao vídeo
introdutório com muito interesse, respondendo aos questionamentos com
maturidade.
Em seguida realizou-se uma tarefa exploratória junto aos alunos para
verificar quais eram os seus conhecimentos sobre porcentagem e descontos,
bem como quais seus projetos para o futuro, quais objetivos pretendiam
alcançar. Verificou-se que tinham algum conhecimento de porcentagem e
descontos, já tinham ouvido falar nos termos juros simples e compostos, mas
não os sabiam diferenciar. Quanto aos projetos futuros, observou-se que
alguns nem tinham pensado nisso e que alguns tinham sonhos, mas grande
parte deles pensava em realizá-los sem disciplina e esforço pessoal.
A introdução do tema Sonhos/Metas foi realizada por meio de um
documentário, para o qual os materiais utilizados foram recursos audiovisuais,
aula dialogada com a reflexão sobre qual era o seu projeto de vida, ou seja,
questionou-se aos alunos sobre quais eram/são seus objetivos e suas metas.
O vídeo tratava da história de dois irmãos: uma faxineira e um operário
de fábrica têxtil que, com força de vontade e muita disciplina, conseguiram
economizar o suficiente para realizar seu sonho de ter uma vida confortável,
com estabilidade financeira, sendo possível viajar e comprar um apartamento
em frente ao mar. Os alunos ficaram impressionados em como pessoas
humildes conseguiram realizar seus objetivos. Destacaram algumas qualidades
delas como, lutadoras, responsáveis, disciplinadas. Percebeu-se que eles
entenderam quais as características necessárias para vencer, para atingir
metas e objetivos.
O tema Autoconhecimento foi introduzido através de reflexão: Quem é
você? O que você gosta? O que você quer? Qual o seu objetivo de vida?
Visualizar um emprego faz parte do seu projeto futuro? Foram apresentadas
perguntas instigando os alunos a se conhecerem, apontando qualidades e
defeitos, bem como seu potencial. Por meio dessas reflexões, iniciou-se uma
discussão com os alunos a respeito do consumismo e observações que eles
fizeram sobre o tema, levando-os pensarem matematicamente sobre o
conteúdo de porcentagem.
O ponto alto do trabalho foi o planejamento, que é fundamental para que
possamos alcançar o sucesso, pois o sucesso profissional depende do sucesso
pessoal, tendo um plano e atuar dentro de um determinado contexto para
atingir um objetivo. Macedo (2012) diz que:
Planejamento de vida e financeiro andam lado a lado e contribuem de forma positiva para o desenvolvimento de uma sociedade. O planejamento financeiro só faz sentido se a pessoa tiver planos para sua vida, se tiver sonhos. Sem sonhos, ninguém precisa planejar. Para aqueles que têm sonhos, o planejamento vai ajudar a transformá-los em metas. Definidas as metas, o planejamento será como um mapa para atingir o sucesso - que nada mais é do que alcançar as metas traçadas (MACEDO, 2012, p.39).
Só assim poderemos saber o que queremos e o que faremos para atingir
nossos objetivos.
Através de aula dialogada os alunos se reportaram a suas casas e sobre
as metas a serem atingidas, tanto pessoais, quanto familiares. O debate
prosseguiu sobre como diminuir gastos, que deve começar eliminando-se o
máximo de despesas. Se possível comprar à vista, não esquecendo de pedir
descontos. Ter cuidado com as compras a prazo.
As atividades envolvendo representação gráfica de porcentagem deram
continuidade à aula. Houve também um momento de reflexão onde os alunos
foram convidados a silenciar, fechar os olhos, concentrarem-se, pensar no seu
futuro, procurando liberar a mente por alguns minutos e posteriormente
registrarem por escrito as ideias que iam surgindo sobre suas metas e
objetivos. Houve ainda o questionamento do por que a maioria das pessoas
não concretizarem seus sonhos? Eles chegaram à conclusão de que falta
perseverança, responsabilidade e a ciência de que nada é fácil e, para se
conseguir atingir um objetivo é, muitas vezes, necessário abrir mão de algo que
dá prazer no momento.
Em seguida discutiu-se com os alunos sobre a importância do Plano
Financeiro, levando-os a uma revisão de algumas definições de porcentagem,
instigando-os a elaborarem conjecturas relacionando o conteúdo matemático a
um futuro bem planejado. Foi feita uma planilha de gastos com receitas e
despesas fictícias. Conforme combinado em reunião com os pais, para evitar
constrangimentos, em sala seriam trabalhados valores fictícios, em casa
auxiliariam seus pais na organização financeira utilizando valores reais. Falou-
se em determinado momento com a turma sobre a importância dos benefícios
de um plano financeiro mensal (não gastar mais do que ganha) gerenciar
emoções (não comprar tudo o que vê) para melhor administrar a renda familiar.
Outra atividade proposta para a turma foi a pesquisa de mercado,
buscando a redução de custos das mercadorias a serem adquiridas. Através
desta pesquisa, eles poderiam orientar-se através na obtenção dos menores
preços e na observação da qualidade dos produtos. A conscientização sobre a
qualidade e o custo dos produtos antes de uma compra, é fundamental.
A fim de se analisar o comportamento e conhecimento sobre juros e
descontos foi assistido o filme "O sonho dourado". Esse vídeo teve duração de
10min59seg e seu objetivo foi observar a aplicabilidade da Matemática
Financeira na resolução de situações problemas em diferentes contextos. Após
sua exibição, introduziu-se o conteúdo de juros simples, levantando-se, a partir
do vídeo, pontos de reflexão sobre os termos utilizados suas justificativas,
como: “alguém poupando em nosso lugar”, juros; taxas; créditos; valor
financiado; planejamento financeiro; “sonho de consumo”. Construiu-se ainda
uma tabela modelo para pesquisa de preços, observando-se que, ao pesquisar
o preço de um produto em locais diferentes, deve-se ficar atento às marcas,
pois marcas diferentes terão preços diferentes.
Os alunos agiram sensatamente durante a discussão sobre o tema,
dizendo ser imprescindível pesquisar antes de comprar, observar na hora da
compra o total gasto, não somente o valor da prestação, neste caso tomar-se
cuidado com os juros. Eles foram provocados a chegar em casa e juntamente
com suas famílias colocar em prática o conselho de Mauro Calil:
Costumo dizer que, indiferente da profissão ou da renda, o ideal é seguir a regra dos 70-30, ou seja, do total de ganhos, 70% devem ser reservados para as contas (aqui se incluem todos os gastos necessários, como impostos, contas de água, luz e telefone, plano de saúde e supermercado, e também os esporádicos, como roupas, calçados e lazer) e 30% para os investimentos.
3
Seguindo essas premissas, pais e alunos tiveram a oportunidade de
aprimorar seus conhecimentos em investimentos através de uma palestra
sobre Investimentos, com um funcionário bancário, nas dependências do
Colégio.
O trabalho lúdico com a matemática financeira
Partindo do interesse demonstrado pelo alunado, procurou-se organizar
um teatro em parceria com a professora de Artes, intitulado “O meu, o teu, o
nosso dinheiro”, que relatou a história de uma família totalmente
desestruturada financeiramente. O pai participa de um cursinho de organização
financeira e inicia-se um momento de reflexão em família, onde cada membro
começa a rever suas atitudes perante o dinheiro. Esse teatro foi apresentado
nos três turnos para os alunos da escola, divulgando o trabalho realizado.
Socialização do trabalho com a Matemática Financeira como ferramenta
para o exercício da cidadania no Grupo de Trabalho em Rede
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) foi um momento fundamental de
compartilhamento entre os professores da rede, que tornou possível interagir a
respeito do projeto, da produção didática e sua implementação.
3 Artigo disponível em meio eletrônico, sem paginação.
Iniciou-se com a apresentação dos participantes, que trouxeram
algumas informações sobre suas realidades, o local em que trabalham, as
turmas em que executam suas atividades, bem como suas expectativas quanto
ao curso.
Houve um aprofundamento teórico apresentando-se o Projeto de
Intervenção Pedagógica na Escola "A Matemática Financeira como ferramenta
para o exercício da cidadania".
Esta iniciativa justificou-se pela observação da realidade da referida
escola, onde a grande maioria dos alunos carece de metas, aspirações e
projetos futuros. Dessa forma, procurou-se trabalhar a Matemática Financeira
articulada a um projeto de vida e realização de sonhos vindouros.
Nesse sentido, Brito (2005) diz que:
[...] o ensino deve possibilitar aos estudantes maneiras diversificadas de solucionar problemas relacionados a situações com os quais ele irá se defrontar, levando-o a perceber o valor e a utilidade da matemática e do pensamento matemático (BRITO, 2005, p. 89).
Durante as interações realizadas entre os professores cursistas, no
fórum e no diário, pode-se perceber que os participantes entenderam a
proposta do Projeto, tendo em vista que a Matemática Financeira é relevante e
imprescindível já no Ensino Fundamental, na formação do cidadão consciente
e crítico, diminuindo desse modo as diferenças sociais, as fraudes e armadilhas
da propaganda enganosa. As reflexões trazidas pelos cursistas contribuíram
positivamente para este projeto, podendo vir a ser aproveitadas para
enriquecer o estudo proposto.
Foi apresentada a Produção Didático-Pedagógica do Professor PDE,
verificando-se a expressiva participação dos cursistas, mostrando-se
interessados na metodologia proposta, contribuindo com sugestões e
experiências pessoais, que enriqueceram este trabalho. Foi destacada a sua
importância, conforme dizem BRITO e GONÇALEZ (2005):
Cabe aos professores propiciarem situações motivadoras, desafiadoras e interessantes de ensino, nas quais os alunos possam interagir com o objeto de estudo e, acima de tudo, possam construir significativamente o conhecimento, chegando às abstrações mais complexas. Provavelmente, experiências pedagógicas desse tipo permitirão o desenvolvimento de atitudes positivas com relação à matemática (BRITO e GONÇALEZ, 2005, p. 223).
Os professores cursistas ressaltaram durante as discussões que as
aulas de Matemática Financeira podem servir de suporte para mudanças de
comportamento individual e grupal, sendo necessário que os alunos
compreendam a matemática como meio ou instrumento de realização pessoal.
Diante disso, vê-se a importância da interação entre o Professor PDE e
os demais professores da rede, pois possibilita a troca de experiências,
aperfeiçoando, assim, o estudo do Professor PDE, uma vez que, por meio
dessas interações, conhecem-se diferentes realidades e pontos de vista.
Foi apresentada a forma da aplicação do projeto na escola, mostrando
alguns resultados já obtidos do trabalho que está em andamento. Como nas
demais etapas do GTR, os cursistas contribuíram com atividades pertinentes
ao conteúdo proposto, trazendo comentários reflexivos a respeito da
aplicabilidade de algumas atividades, tendo em vista que as realidades
educacionais são diferentes, necessitando apenas de alguns ajustes para
efetiva realização das mesmas.
Foram apresentados os avanços e desafios enfrentados durante a fase
de implementação pedagógica. Relatou-se o perfil da turma, composta por
trinta alunos adolescentes, no auge da efervescência da idade em que estão,
ressaltando-se que não foi tarefa fácil manter a atenção dos mesmos,
principalmente nas atividades que exigiam concentração. Todavia, apesar de
bastante falantes, foram participativos, o que permite afirmar que se obteve um
retorno positivo.
Considerações finais
Como avaliação, foi retomado o trabalho exploratório inicial, para
verificar se houve aprendizagem. Percebeu-se no pós-teste que grande parte
dos alunos dominava os conceitos de porcentagem e descontos, sendo que o
restante realizava as atividades de forma satisfatória. Quanto aos juros
simples e compostos, observou-se que todos os alunos conseguiam-nos
diferenciar e, quanto aos cálculos, resolviam-nos de forma satisfatória. Na
pergunta referente a projetos futuros/sonhos, observou-se maturidade nas
respostas, com projetos firmados em esforço pessoal e responsabilidades.
Pelo exposto, pode-se afirmar que teoricamente o entendimento foi bom.
Quando questionados, os alunos responderam prontamente com conhecimento
e maturidade. Através de depoimentos de pais e alunos percebeu-se que as
mais variadas situações:
- alguns pais permitiram que os filhos participassem da organização
financeira da família e os filhos demonstraram estar interessados em aplicar o
que aprenderam;
- alguns pais permitiram que os filhos participassem da organização
financeira da família e alguns filhos que, segundo a mãe, "Se interessou no
início, mas depois não falou mais no assunto";
- alguns pais não permitiram que os filhos participassem da organização
financeira, por não quererem que os filhos soubessem quanto ganham, pois
segundo eles, este assunto não lhes diz respeito.
No segundo caso, especificamente, crê-se que poderia ter um pouco
mais de incentivo da família, que tem conhecimento sobre o que o filho está
estudando.
Acredita-se que semeou-se em terreno fértil. Ao menos algumas
sementes vingarão e produzirão frutos. Percebeu-se que uma mudança de
atitude, requer tempo, perseverança. Portanto, o trabalho não se esgota aqui,
continuar-se-á em vários momentos relembrando, seja através de atividades,
seja através de reflexões.
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