A Mãe de Jesus - Vida de Maria Narrada as Crianças

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. A MAE DE SUS VA DE NA ÀS CRIANÇAS cqmpada por vio, SSP. EDIÇOES PAINAS http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

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    A MAE DE JESUS VIDA DE MARIA NARRADA S CRIANAS

    cqmpilada por Milvio, SSP.

    EDIOES PAULINAS

    http://alexandriacatolica.blogspot.com.br

  • aa ... r.t: S.C. Dr. 3ol0 Roatta, SSP. - 5:ao Paulo, 28-91987 I

    1: t J. Lata:rette; Vlg. Ger. SAo Paulo, 2791987

    @ 1968 BY EDIES PAULINAS SO. PAULO

  • A histria dll- Me de ] esus., narrada nestas pginas, perte.nceao passado: faz dois mil anos que as estradas .da Palestina viYantseu encerramento terrestre. Mas, um captulo interessante dessaavetura ao memo tempo divina e humant, ainda hoje vivoe atual para ns.

    Maria, a Me. de Jesus, me de todos os homens, porquea todos regenera na: graa: me de cada U;m de n4s1 e suahistria, entrelaada de esperanas:, de ((suspenses", de ansiedader., de oraes e de bnos, renova-se dia a. dia no curso da vida de cada um.

    Na vida de Maria tambm n6s temos um lugar: voc quel., eu que lhe falo, todos devemos representar um papel, porquea redeno foi realizada para todos e ningum pode ficar margem. Diante de Jesus, assim como de. : Maria, no h lugar para indiferena. Estamos presentes em cada uma das passagens da histria da salvao. Choramos com Ado e Eva, culpados de pecado, com os profetas e com os patriarcas, invocamos a salvao e a graa; com os paitres de Belm, saudamos I esus que renasce contznuamente na Igreja; s vzes nps misturamos tambm ns com a multido de ingratos que ofendem a Deus e queremcrucificlo com o pecado; como Pedro, renegamos ao Senhor por mdo ou por fraqueza: Maria nos oferece., como a le" seu amormaterno, a fim d que nos arrependamos. e peantos perdo; comos apstolos participamos da alegria da ressurreio e unidos acentenas de milhes de irmos, vivemo_..s na Igreja que, unida comMaria, ora por ns para alcanar o divino Esprito Santo.

    Por conseguinte, os acontecimentos da vida de Maria; A1e de I esus, ainda hoje so atuais e nos envolvem como protagonistas.

    No esquea ;amais isso, meu. caro amiguinho, na leituradestas pginas!

  • Tudo era perfez.to

    A promessa do stimo dia

    C hegava ao fim a primeira seana do mundo: em seis longos "dias" $ palavra todo-poderosa de Deus tinha criado tdas as coisas, tirando-as do nada: o sol, as estrlas, o cu, a terra, as Ores: os animais, o mar tudo ...

    O mundo era maravilhoso: o curso vertiginoso dos astros no imenso espao sideral prosseguia em perfeita harmonia; na terra, milhares e milhares de espcies diferentes de animais e de plantas sorriam vida.

    Deus olhou ao redor: a quem iria confiar sse mravilhoso_ reino? Faltava ma criatura racional, capaz de ser feliz no meio de tantas

    belezas. A sabedoria infinita de Deus realizou, ento, o maior de todos os prodgios. Do limo da terra formou o homem, o ser mais perfeito, criado sua imagem e semelhana, dotado de alma- espiritual,livre, inteligente, imortal.

    O primeiro homem chamou-se Ado, que quer dizer "feito do barro 1t. Para no deix-lo sem companhia, Deus criou Eva, a primeira mmlher, me de todos os homens. E, finalmente, ficou satisfeito com

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  • 'OMS Guror, cognominado MASACcro Florena, Santa Maria do Carmo

    Expulso do paraso terrestre

  • o maravilhoso trabalho realizado. A Bblia diz: "0 Senhor viu queo mundo criado era bom", ficou feliz e resolveu "descansar", isto ,no dar existncia .a outras criaturas, porque tudo era perfeito.

    Era o stimo dia.

    "1""[1 D ,1 ornar-me-et como eus ...

    Ado era o :rei da criao. Deus tinha-o colocado num jardim maravilhoso, revestido de beleza, onde floria eterna primavera, com as mais lindas flres e as frutas mais saborosas. Era o "paraso terresre"lugar encantador, aonde o prprio Deus descia para conversar amigvelmente com Ado e Eva.

    Mas, tambm no mais feliz recanto do mundo o demnio, invejando a felicidade do homem, estava de tocaia. Um dia, Sat disfarou-se de cobra, e escondeu-se na folhagem de um arbusto. Eva, afastando-se de Ado e cantando doce melodia, recolhia flres escolhidas no bosque. Assim que se aproximou da cobra, esta saudou-a. Eva no se assustou, porque nenhum bicho podia fazer-lhe mal: Mas ficou surpreendida ao ver uma cobra falar.

    -Por que Deus proibiu vocs de comerem as frutas do jardim? -perguntou maliciosamente a cobra.

    - De modo nenhum:! - sorriu Eva.- Deus sazona para ns t-das as frutas dsse jardim delicioso. Ado, meu marido, dono detudo... Deus proibiu-nos somente de apanhar as frutas da "rvore da cincia do bem e do mal". Se comermos dessas frutas, morreremos com certeza.

    Era verdade: Deus, para mostrar seu domnio sbre tdas as Ct;Jisas, e lembrar ao homem que tdas as criaturas deviam obedecer ao Todo-poderoso, tinha reservado para seu domnio exclusivo uma rvore, dentre milhares e milhares que .floriam no paraso terrestre.

    Era uma prova de fidelidade que Deus exigia do homem. Mas a cobra insistiu:

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  • - Vocs no morrero. Deus proibiu vocs de comerem essas frutas, porque se comerem, vocs ficaro como le, e conhecero tudo, o hem e o; mal.

    Eva ficou indecisa. Olhqu a fruta J.:)robida: era, de fato, atraente! ... Depois olhou em derredor. Deus estava longe, Ado descansav beira do regato, ningum podia vla. Apanhou uma fruta darvore da cincia do bem e do mal, e segurou-a firme entre as mos, enquanto a cobra infernal sorria zombeteira com sua vitria.

    Eva pensava consigo mesma: - Tornar-me-ei tambm eu igual a Deus . . . No precisarei mais

    obedecer a ningum... Conhecerei tudo: o bem e o mal . . . Levou a fruta proibida bca e comeu; sentiu logo em seguida

    um grande tndo. E se a cobra a tivesse enganado? ... Olhou por todos os lados: a cobra tinha desaparecido. Transtornada, amedrontada, Eva correu e atirou-se nos braos de Ado. O marido compreendeu o drama de sua mulher, e para no lhe desagradar, recebeu de, suas mos a fruta do primeiro pecado, e comeu tambm le.

    Naquele mpento, o homem tornava-se inimigo de seu Criador. Ado e Eva tinham recusado a amizade de Deus, espezinhando sua lei. :sse primeiro pecado chamou-se "original" porque cometido no incio da humanidade. E os homens de tdas as geraes, at o fim.do mundo, ao nascer trazem consigo essa mancha infame.

    A esperana na Mulher

    ..

    A voz de Deus fz-se ouvir no paraso terrestre: - Ado, Ado... onde ests? O homem no reconheceu a voz amiga. Fugiu e se escondeu en

    tre os arbustos. Mas, a Deus nada se pode esconder, ningum pode escapar. Ecoaram, ento, no jardim de delcias, palavras terrveis de maldio. Ado: e Eva inclinaram a cabea confusos.

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  • orcna, Uffizi ANDR!l DEL S,\RTO'

    A Me de Jesus

  • As conseqncias do pecado origina eram gravssimas. A terra, antes amiga, tornou-se rida, inimiga do homem e, por si, s teria produzido abrolhos e espnhos. Os animais, antes a servio do rei da criao, tornaram-se -selvagens e ferozes. O trabalho, o cansao, o sofrimento, .a doena, o pranto e sobretudo a morte, como Deus tinha ameaado, tornaram-se a herana do homem desobediente.

    Deus amaldioou a cobra tentadora, amaldioou Eva, amaldioou Ado: visto que tinham recusado a amizade de Deus, deviam morrer, isto , voltar ao p, porque o primeiro homem tinha sido tirado da terra.

    * * *

    Antes de expuls-los para sempre longe de si, o Senhor lembrou-se de todo o bem que tinha querido a Ado e Eva, e resolveu no. abandonar ao prprio destino de morte as criaturas mais perfeitas, .que le tinha feito sua imagem e semelhana.

    Foi assim que Deus concebeu um maravilhoso plano de salvao a fim de reconduzir o homem sua amizade.

    "Eis: estabelecerei guerra sem trguas entre a cobra e a mulher, entre os filhos de Sat e o Filho da Mulher: ela esmagar a cabea da cobra infernal! "

    Para o homem pecador c;lesabrochava a esperana. Ado pde, ento, erguer o olhar: queria agradecer a Deus, que

    ria perguntar, implorando quando viria o "Filho da Mulher" , o Salvador do gnero humano, queria saber... Mas o Senhor tinha desaparecido.

    E um anjo cheio de majestade, com uma espada de fogo, expul sou-os do paraso terrestre e ficou de guarda entrada.

  • As primezras lgrimas do mundo

    Ado deu a mo a Eva e, a passos lentos., saram para o des conhecido. Comeava a dolorosa marcha da humanid-ade atravs do tempo. Fulmneos oriscos riscaram .o cu que, de repente, escure cera. O trovo ribombou terrivelmente. -Eva estreitou.;se ao peito de Ado, ocultando o rosto. Tambm Ado tremeu de mdo e fechou os olhos para- no ver . Ante a natureza que se rebelava e mostrava sua fra, os primeirQs homens provram o mdo e derramaram as pri meiras lgrimas. Correram para se esconder nuPJa caverna, ofegantes de cansao. Na fronte do homem apareceram as primeiras gtas de suor.

    Mas ainda lhes restava uma esperana: o Salvador, o "Filho da Mulher", que esmagaria a cabea da serpente.

    Quando viria.? Ningum poderia saber, mas .Deus tinha prometido: para salvar o homem pecador, o Senhor comea, ento, a redeno, a obra maravilhosa do "stimo dia" , que continua ainda hoje, e no terminar mais.

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  • :os.nco oo stc. vr Ravena, IgreJ_a de Santo Apolinrio

    O sacrifcio de Abel

  • A

    HTT l "" ""/" v o .taras a ser po.

    anttga aliana

    P assaram os anos. Ado e Eva viviam numa caverna perto do rio. Tinham aprendido a defender-se dos animais selvagens com o fogo e por isso, junto sua morada buscavam guarida os animais mais tmidos: cabras e ovelhas, fugiam s garras dos animais carnvoros . Ado cultivava a terra para se alimentar, e Eva lhe dava uma mo, cuidando do pequeno rebanho que conseguira formar.

    Tiveram filhos, as primeiras crianas da humanidade. Caim dedicou-se agricultura e Abel ao pastoreio. Nunca tinham visto o Senhor, mas os pais lhes tinham eninado orar e a oferecer em sacrificio as primcias do rebanho e dos campos.

    Caim, avarento e ciumento de seus haveres, oferecia sabre o altar as &utas inferiores, e Deus no apreciava sse sacrifcio, ao passo que ._,reciava as ofertas de Abel, que imolava os melhores exemplares de seu rebanho.

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  • Tomado de inveja, Caim ataou Abel, ferindo-o com uma pedra. Abel tombou, manchando com seu sat1gue a entrada da caverna. Inutilmente inclinou-se Eva sbre seu corpo para reanim-lo;. em vo apertava-o contra o peito como que para aquec-lo: aqules olhos no se abriram mais!

    S nesse momento Eva compreendeu o que significava a morte; s ento percebeu o que significava o terrvel "voltareis ao p donde fostes tirados", pronunciado por Deus depois do pecado.

    Eva chorou por long tempo, 1nconsolvel: aqule filho sem vida era o castigo do seu pecado. Deus fz ouvir sua voz, a voz terrvel da justia, que se levantava contra Caim, ru do primeiro homicdio:

    - Caim! o sangue de teu irmo brada por vingana diante de mim! Tu sers amaldioado, porque mataste ...

    Caim ficou aturdido com essas palavras. Teve mdo, chorou, desesperou. Ea procurou consol-lo: tambm ela, um dia, tinha ofendido a Deus.

    Desde aqule dia de luto e de lgrimas, Eva no cessou de repetir aos prprios filhos, aos filhos de seus filhos e aos mais remotos de: seus descendentes, que Deus tinha prometido o perdo, a misericrdia, que Deus reataria novamente a amizade com o gnero humano. Ates, porm, deverja correr muito tempo, os homens deviam ainda sofrer e chorar a fim de reparar a desobedincia.

    Amide Ado e Eva rezavam juntos: - Senhor, esquecei nossa desobedincia. Mandai o Salvador que

    prometestes para que nos reabra as portas do Paraso!

    Um pacto com o pastor fiel

    Com o correr dos sculos, os homens cresceram em nmero, e formaram 'tribos e povos. Esqueceram a promessa de Deus. No s. Muito esqueceram-se at do prprio Deus e comearam a adorar comQ dolos as criaturas: o sol, a lua, animais.

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  • BELBELLO DE PAVI

    Assassinto de Abel

  • Deus no podia tolerar que sua promessa fsse esquecida. Um dia chamou Abrao, um humilde pastor, e fz com le um pacto de amizade:

    - Abrao, eu serei teu Deus, proteger-te-ei. Ters por ptria uma terra frtil com muitas pastagens para teus rebanhos. Farei de ti um grande povo. Os teus descendentes sero numerosos como as areias do mar e como as estrlas que brilham no firmamento. Podes, por acaso, cont-las? Pois bem, umerosos assim sero teus descendentes. Tu, porm, devers ser fiel ao meu pacto: Andars sempre na minha presena, isto ' adoars somente a m im e no dolos, e te conservarssempre bom. Como sinal dste pacto, determinars que teus filhos circuncidem todos os meninos oito di$ depois .de nascidos.

    A circunciso, um corte aplicado com uma pedra afiada, era dolorosa, mas exigido por Deus como prova de fidelidade.

    Abrao prometeu observar o pacto do Senhor e, finalmente, aps anos de espectativa, alcanou a graa de ter um filho. Circuncidou:o de acrdo com a ordem de Deus, e lhe ps o nome de lsaac.

    * * *

    Deus quis provar Abrao, como tinha provado Ado e Eva no paraso terrestre. Apareceu-lhe e disse:

    - Abrao, toma teu filho que tanto amas, e sacrifica-o em minha honra sbre o altar!

    O pobre pai viu-se desfecer: como poderia le matar o prprio filho que tanto desejara? Alm 4isso, se matasse seu filho nico, como poderia ter uma descendncia numerosa como as estrlas do frmamento? Mas, logo se controlou: precisava obedecer a Deus. Chamou Isaac e, juntos, encaminharam-se para o monte do sacrifcio. O rapaz, ignorando o que o esperava, corria alegre e feliz, enquanto ao pobre pai Abrao sangrava o corao. Chegados ao lugar, o velho pai amarrou o filho e estva para sacrific-lo, quando um anjo lhe segurou a mo:

    - Pra, Abrao! No faas mal ao menino, porque Deus quis provar tua fidelidade e j viu tua obedincia herica!

    Deus renovou seu pacto com Abrao, que se tornou o primeiro chefe do povo escolhido do Senhor, aqule povo que devia manter viva

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  • no mundo a f no nico Deus verdadeiro e a esperana no Messias salvador.

    sse pacto chamouse Antiga Aliana ou Antigo Testamento. O ovo pacto ou Nvo Testamento, Deus o realizar por meio do Messias, o "Filho da Mulher ".

    Deus 1nazs fortedo que o fara do Egito

    lsaac teve. dois filhos, Esa e Jac; Jac teve doze filhos, entre as quais se contava Jos, que foi vendido pelos irmos e levado comoescravo para o Egito, pas do qual se tornou mais. tarde vice-rei.

    Durante uma grande fome, a famlia de Jac teve que refugiar-se no Egito, a procura de mantimentos. L cresceu e se tornou um - Mas o fara,. para impedir que sse povo se tomasse mais nume:'01510 ainda, obrigava os israelitas a trabalhar como escravos e chegou a mandar matar tdas as crianas do sexo masculino que nascessem.

    Uma mulher israelita, no querendo matar o prprio filho, coloCDO-O numa cesta de vime, que fz boiar nas guas do rio Nilo. A oouenteza arrastou a

  • RAFAEL S,\NZIO Vaticano, Logge

    Moiss apresenta ao povo as tbuas da lei

  • blia. Ela o livro mais importante do mundo, porque inspirado pelo divino Esprito Santo.

    A Bblia encerra ainda a histria. da criao do mundo e do .primeiro pecado, e especialmente tudo quanto Deus fz para redimir o mundo e apagar o pecado, comendo de Abrao at vinda de Jesus e a fundao da Igreja.

    No se trata, porm, s de fatos antigos, porque atra\rs da histria dos patriarcas, dos profetas, do povo israelita, est narrada a histria de todos os homens, tambm a nossa. De fato, todos nascemos pecadores, fomos redimidos pelo satigue de Jesus, fazemos _parte do povo de Deus, a Igreja, e estamos a caminho do Paraso, que nos foi aberto pelo Redentor.

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  • o da

    retrato mulher prometida

    .Setecentos anos antes

    P or sculos e sculos os israelitas mantiveram-se fiis ao pacto feito por Deus com Abrao, e cultivaram a esperana no Messias que devia vir, o ''Filho da Mulher" de que Deus tinha falado no paraso terrestre.

    Mas, quem era aquela ditosa Mulher? Quem era aquela que todo mundo aguardava com ansiedade e vivo desejo? Era Maria Santssima, a Me de Jesus. Deus tinha revelado isso de maneira misterio sa e, para aumentar a expectativa, de tempos a tempos transmitia atra vs dos profetas referncias mais claras Me do Messias.

    * * *

    Setecentos anos antes do nascimento de Jesus, Isaas, o maior dos profetas, predisse que a Mulher prometida devia ser virgem e que o

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  • prprio Deus a teria feito me, porque seu Filho devia ser o "Filho do Altssimo".

    O profeta .Daniel, num famoso vaticnio, predisse o tempo em que devia naser Jesus: "Foram estabelecidas setenta semas de anos ( 490 anos) para pr trmo o mal, acorrentar o pecado, reparar a iniqidade e comear o tempo da justia, que no ter mais fim".

    * * '{(

    Alm das profecias, Deus quis tambm dar aos homens figuras que mostrassem a grandeza da Me do Messias. A Bblia traz, por isso, a histria de personagens extraordinrias, suscitadas por Deus para que o povo escolhido pudesse ao menos imaginar quo importante devia sera Mulher prmetida ..

    Sozinha contra .

    um exerczto

    O poder e a grandeza de Maria, Me de Jesus, esto bem represatados em Judite, a mulher corajosa que livrou Betlia do crco dos, . .assm:os.

    A pequena cidade, fortificada coni altos muros, .foi cercada pelos Wmigos, que cortaram a gua a fim de obrigar os moradores a se en:rqarem pela sde. Ningum podia sair nem entrar na cidade. Nin'uftn podia vir em socorro. Terminadas as provises de v-veres e de ipa, os chefes queriam entregar-se. Mas Judite sabia que se Betlia se !'eOdesse, todos os seus moradores seriam levados para a Assria coDO escravos. Pediu ao generais que esperassem ainda trs dias. Nes tempo suplicou a Deus, jejuou e fz penitncias no recesso de sua CISI, para alcanar ajuda do cu.

    Depois vestiu os melhores trajes, enfeitou-se com colares e jias Pft'Ciosas, e saiu da cidade. Foi iediatamente prsa pelas sentinelas

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  • Florena, Galeria F CRISTFANI Al.LORI Judite, libertadora de Betlia

  • assrias, que ao ver sua beleza no tiveram coragem de mat-la, mas levaram-na ao comandante Holofernes. Tambm le ficou irresistivelmente atrado pela singular beleza de Judite, a qJ,Iem Deus concedera graa e encanto extraordinrios. Holofernes resolveu conserv-la consigo, para se casar com ela. Uma nofte le deu utn grande banquete aos generais para celebrar a prxima vitria e convidou Judite.

    Houve cantos, danas e bebidas vontade. Alta noite, Holofer nes caiu em profundo sono, vti:ma da embriaguez. Judite, que tinha ficado a ss com le, invocou a ajuda de Deus, depois pegou a espada que pe:J;ldia da parede e matou o comandante inimigo, cortando-lhe a cabea. Escondeu a cabea e Holofernes num saco e aproveitando aescurido, saiu do acampamento inimigo em companhia de sua criada. As sentinelas deixaram-nas passar, porque sabiam-na amiga do comandante. Judite voltou a Betlia e mostrou ao povo a cabea de Holofernes. A vista do trofu, o povo criou nimo e, saindo da cidade, atacou os assrios. stes, vendo-se sem chefe, fugiram em debandada. E Betlia foi salva. Deus tinha vencido pela mo duma mulher: assim, Maria devia vencer a serpente infernal.

    u A Lei n.o foi feita para tt, . h . l , mzn a ratnoa ...

    Outra figura do poder da Virgem Santssima Ester, ma israelita, que nasceu no exlio e se tornou espsa do rei Xerxes da Prsia.Tambm esta histria contada pela Bblia.

    Um ministro muito mau alimentava dio profundo contra os israelitas e por meio de falsas acusaes convenceu o rei a decretar seuextermnio. Ester queria salvar seu povo. A lei do pas proibia sob pena de morte que algum se apresentasse ao rei sem ser chamado. Assim mesmo, Ester arriscou a vida e se aproximou do trono para pedir ao rei em favor do prprio povo. Os ministros ficaram estupefaros: como ousava a rainha violar a lei? Ester sentiu-se desfalecer e

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  • caiu nos braos das criadas. Mas o rei ficou encantado com sua beleza e e_tendeu-Ihe o- cetro em sinal de perdo, dizendo:

    - No tenhas mdo, Ester. No morrers. A lei foi feita para os outros, no para ti, minha rainha!

    Ester pde recomendar seu povo ao rei, demonstrou a falsidade das acusaes feitas pelo prfido Am e conseguiu um decreto de anistia para todos os israelitas.

    Ester figura de Maria. De fato, Maria foi concebida sem pecado. a nica imaculada. Por um especialssimo privilgio de Deus no foi atingida pela lei da morte, que conseqncia do pecado original. Podia apresentar-se diante do trono de Deus para alcanar o perdo para os homens pecadores. Dando ao mundo seu filho Jesus, ela alcanou o decreto de perdo e a salvao para todos os homens.

    * -* *

    Na Bblia h muitas outras- manifestaes que se referem Vir gem Santssima e a seu Filho divino. Atravs dos sculos de expecta tiva, De_us qis preparar um verdadeiro retrato da Mulher vencedora da serpente wernal e de seu Filho para que, quando chegasse a hora da redeno, os bons pudessem reconhec-los e receb-los dignamente.

    Infelizmente, s depois de. sua morte e ressurreio, os _apstolos: iluminados pelo divino Esprito Santo, puderam reconhecer em Jesu o verdadeiro Messias prometido, porque tinham-se realizado nle tdas as profecias da Sagrada Escritura.

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  • vtgoroso Um ramo

    como um cedro

    A provncza agrada a Deus

    D epois de sculos de espera, chegou afinal o ditoso tempo em que Deus tinha resolvido mandar o Salvador. As setenta semanas de anos anunciadas pelo profeta Daniel, j tinham passado, e todo bom .israelita acalents;tva no corao as mais belas esperanas.

    Roma dominava o mundo. A maior parte das terras conhecidas tinha sido subjugada pelas legies romanas e obedeciam ao imperador de Roma. Tambm a Palestina era uma "provncia", isto , uma colnia romana, e devia pagar o tributo ao csar.

    Agora podia realizar-se o- que o profeta Ezequiel anunciara sculo antes: "Eis que apanharei um ramo da copa de uma grande rvore, e o plantarei no monte de Israel. .. Lanar seus ramos, produzir frutosabundantes, e crescer vigoroso como frondoso cedro, em cujos ramos pousaro os . pssaros. Assim, tdas . as rvores da floresta reconhecero

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  • ANPR DEk CASnGNO Florena, Cenculo de Santa Apoln

    A rainh Ester

  • que eu sou o Senhor, que posso humilhar a rvore grande e erguer a pequena".

    O sentido da profecia claro: a rvore grande indica o imprio romano; o pequeno ramo plantado a Palestina, onde floriu a Igreja de Jesus, que cresceu como uma rvore frondosa para acolher em seus ramos os homens de tda a terra, enquanto o imprio romano, j grande e poderoso, desaparecia.

    O drama de um lar sem filhos

    Infelizmente a Bblia no fala da famlia da Virgem Maria. Somente fala que Maria descendia do rei Davi, como prediziam os pro-fetas.

    .

    Precisamente para preencher o silncio da Sagrada Escritura, surgiram desde a mais remota antiguidade, belssimas histrias sbre a infncia de Maria. Embora no sejam historicamente provadas, vamos lembr-las. ..

    O pastor Joaquim era homem bom, temente a Deus, casado com Ana. Ambos descendiam do rei Davi, observavam a .Lei de Deus e viviam na doce esperana de que se cumprissem as profecias referentesao Messias. Tda mulher israelita desejava muitos filhos, porque ambicionava ser me do Messias prometido. Ana, ao invs, andava. triste, porque nenhuma criana chegava para alegrar seu lar. Os bons esposos j estavam 'idosos e tinham perdido tda esperana de receber de Deus o presente de um filho.

    Um dia Joaquim apresentou-se no Templo mais triste do que nunca, a fim de oferecer em sacrifcio a Deus .dois cordeirinhos, como era costume ento. Mas, uma voz misteriosa o arrancou de seus pensamentos:

    J . J . ' - oaqu1m, oaqu1m ....Assustado, le olhou em derredor, mas no viu ningum:. Pas

    sados uns instantes de silncio, a voz continuou:

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  • - No podes oferecer agora teu sacrcio ... No deves sacricar agora teus cordeiros, mas depois que tiveres um filho ...

    O pobre homem achou que at o cu queria divertir-e s suas custas.

    - Como?!. .. - resmungou. - J pedi tantas vzes a Deus um filho, mas talvez eu no seja digno. Quem ser que quer gozar de mim?

    Sem saber o que fazia, Joaquim saiu do Templo e eteu-se pelos campos. No queria voltar para casa. O que diria querida Ana? Retirou-se para um lugar solitrio e rezou com mais fervor do que nunca. A velha espsa j comeava a preocupar-se com a longa ausncia de Joaquim, quando um anjo lhe trouxe uma notcia maravilhosa: Seria me de uma menina extraordinria, destinada a misso especial. Tambm Joaquim, avisado pelo anjo, soube da nova e, fora de si pela alegria, correu para casa rpido como se tivesse trfu.ta anos a menos.

    Os velhos esposos atiraram-se nos braos um do outro, banhados em lgrimas: desta vez eram lgrimas de alegria e gratido.

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  • Maria, a ttamada de Deus"

    A filha do milagre

    C omo o anjo anunciara, no tardou e a casa de Joaquim foi alegrada por um lindo sorriso e menina. Era talvez o dia 8 desetembro, a estao em que o sol sazona as mais saborosas frutas. Lembrando a longa espera dsse presente miraculoso, os piedosos pais consagraram, reconhecidos, sua filhinha a Deus e prometer apresent-la no Templo para as funes litrgicas.

    A filha do milagre recebeu o nome de Maria, que significa "amada de Deus". :E:sse o nome da feliz Mulher de que falavam as profecias, e que todos os homens esperavam h milnios. Ela seria novaEva, aquela que haveria de trazer ao mundo o Salvador.

    Maria no era como as demais crianas, porque tinha sido preservada do pecado original por um singular privilgio de Deus, e nasceu imaculada, isto , sem mancha alguma na alma.

    Joaquim e Ana eram os pais mais felizes da terra, embora nada soubessem da futura misso de Maria.

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  • A meili crescia viva e alegre, dotada de aguda inteligncia e feliz memria . Aprendia com facilidade tudo quanto a mame lhe ensinava, isto , as pginas bblicas, as profecias, os salmos, a histria doseu povo. Apreciava de modo especial a narrativa dos prodfgios realizados por Deus e das promessas que se deviam cumprir com a vinda do Messias.

    Ma:is perto de Deus

    Passados alguns anos de indescritvel alegria, chegou o dia da separao. Maria devia ser apresentada no Templo, para servir a Deus como o anjo tinha anunciado antes que ela nascesse. Anexo ao Templo de Jerusalm, havia um colgio, onde eram educadas as jovens israelitas que se votavam ao servio de Deus.

    - J tempo que Maria siga seu caminho ... - dizia Joaquim,com voz cheia de tristeza.

    ?vias ainda criana... - suspitava Ana. Co.mo poder viversem ns? - A boa -senhora falava assim, mas bem sabia que rio poderia viver sem a sua pequena Maria. Tinha-se afeioado a ela de tal maneira, que lhe parecia no poder mais separar-se.

    Chegou o di do adeus. Joaquim tomou Maria pela mo. Ana levava, numa cesta, o en

    xoval da filha. - Arrumei todos seus pertences aqui, Maria - dizia a me. -

    Se voc precisar de mais alguma coisa, .... mande-me avisar logo ... no tenha receio.

    Joaquim ia em _silncio. A pequena comitiva parou assim que avistou ao longe a cidade. santa, Jerusalm, onde se destacava a branca e imensa construo do Templo. Maria exultou de jbilo. Joaquim e Ana entreolharam-se, como que para se encojararem mutuamente. E num fervoroso e ntimo .ato de f, renovaram a consagrao da prpria filha a Deus, de quem a tinham recebido qual precioso presente.

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  • Madri, Galeria do Prad

    Sant'Ana e Maria Menina

  • Maria corria jubilosa: talvez sentisse no ntimo a voz de Deus que a chamava junto a si no Templo. Foi preciso mais uma parada ao p dos muros de Jerusalm. A viagem se aproximava da meta, mas o sol a pino tornava por demais cansativa a caminhada dos velhos pais. A cidade era um desordenado burburinho- de povo: na praa, os mercadores misturavam-se aos bomios; mulheres apressadas ocupavam-se das compras; camelos, jumentos e muares jaziam preguiosos e sonolentos sombra dos muros, por perto das penses onde seus donos faziam as refeies. Os trs, Maria, de mos dadas com o pai e a me, encaminharam-se por entre o vozerio do mercado, para o Templo.

    Na escadaria um sacerdote foi-lhes ao encontro. Joaquim apresentou-lhe Maria e confiou-a a seus cuidados. Um ltimo abrao, algumas recomendaes mais da bondosa Ana, depois Maria encaminhou-se para o porto, onde algumas meninas a esperavam para dar-lhe as boas-vindas. Voltou-se, olhou ainda uns instantes e despediu-se agitan-do a mozinha:

    -

    - Mame, papai. .. no chorem. Perto de Deus serei certamente feliz. Alm disso, podem visitar-me sempre. At logo!

    Assim que Maria desapareceu, Ana agarrou-se com fra ao brao de Joaquim e, juntos, entraram no Templo para orar. Ana ficou no ptio das mulheres e Joaquim continuou at perto do altar. No silncio, mais uma vez agradeceram a Deus a graa daquela filha abenoada e renovaram a generosa oferta! Maria fra recebida de Deus, voltava para Deus.- A misso dles dava-se por encerrada.

    Ao se encontrarem na ada do Templo, os dois bondosos velhinhos tinham os olhos midos, mas eram lgrimas de reconhecida gratido para com Deus:-o duro sacrifcio da separao de Maria er_a compensado pela imensa alegria ntima que sentiam. Porque Deus premia sempre os sacrifcios que os homens fazem por seu amor.

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  • Deus escolheu-te um espso

    llma inspirao singular

    O tempo passou depressa. Maria contava seus quinze anos. No Templo havia aprendido tantas coisas. Adquirira instruo. Sobretudo tinha aumenta do seu amor para com Deus e seus conhecimentos sbre as SagradasEscrituras. J era ma formada, inteligente, gentil, formosa e sobretudo boa.

    Joaq .. dm e Ana tinham descansado na paz do Senhor, recebendo de Deus o prmio de sua fidelidade. Maria ficara s6 no mundo e,;x-ecisando deixar o Templo, necessitava de colocao segura.

    Quem devia resolver o caso era o sumo sacerdote, que a chamou e lhe disse:

    - Maria, voc j est crescida, e no pode mais ficar entre ns. Saas preceptoras no tm mais nada para lhe ensinar. Voc. aprendeua.do o que elas podiam ensinar-lhe. Suas companheiras so bem maisioftos do que voc ... Agora, Maria, voc deve pensar em formar sua,. l" :-m 18.

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  • A jovem ergueu para o ancio dois grandes olhos incrdulos: prc metera a Deus pertencer sempre e somente a le. Queria dedicar-s a vida tda ao servio de Deus no Templo, numa consagrao tota Para que casar? ...

    - No, Maria - insinuou o sumo sacerdote. - vontade d Deus que voc deixe o Templo. Eu j. escolhi um espso para vod Jos. um bom rapaz, voc sabe. Conhece-o h muito tempo ...

    - Jos? E por que logo le? - perguntou Maria, ruborizandc - a vontade de Deus, Maria - continuou o ancio, toar

    do-lhe a mo. Maria aproximou .. se do sacerdote. rue, ento, retomo o assunto, e lhe segredou:

    - Escute, Maria: h alguns dias tive uma inspirao esquisit Eu pensava precisamente na sua colocao. Estavam comigo algun bons rapazes. Pois bem, Deus sugeriu-me que o seu espso estava eiJ tre les. Sem pensar no que fazia, dei a cada um dles uma vara cc Ihida nessa sebe a. Apenas Jos pegou na vara que lhe entregue] ela floriu miraculosamente. Por isso, estou convencido que Deus que que voc se case com Jos.

    Maria no soube o que dizer: Deus tinha pensado nela... Deu fizera um milagre s por ela! ...

    Seja como Deus quiser- concluiu.- Farei tudo o que Deu qwser.

    I

    Quando /(Jrem grandes

    Jos e Maria se conheciam h muito tempo. Desde criapas brincavam juntos, porque moravam--.perto. O bon

    Joaquim amava Jos como filho ainda antes que Maria nasesse. Un dia Joaquim, vendo que a morte se aproximava, chamou-os junto d seu leito.

    Na hora solene da agonia, houve um emocionante colquio. C velho pai estava preocupado com o futuro da filha, ainda muito- jo vem. Falou:

    -

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  • TORI, alcunhado .BRONZINO Florena, Galeria Pitr

    So Jos, espso de Maria

  • - Jos, eu vou morrer e Maria fica s6 no mundo. Confio-a a voc. Quando ela deixar o Templo, cuide dela como um irmo e pai.

    O agonizante estreitou entre as suas, as mos dos dois jovens, e os abenoou:

    - Deus permita que sejam felizes. Sejam sempre fiis s suas leis e no se esqueam nunca que somos o povo escolhido... Do seio de nosso povo, de nossa famlia, nascer o Salvador, porque tamb:tn n6s pertencemos famlia de Davi.

    - Quando ficarem grandes ... -e uniu as mos dos dois nas suas -quando ficarem grandes, se Deus quier, formaro sua famlia. Oh, sim! ... so feitos um para o outro.

    E o bondoso ancio fechou os olhos para sempre .. ,

    Um grande segrdo

    Maria e Jos choraram muito a morte de Joaquim, e rezaram por le. Antes de voltar para o Templo, Maria chamou Jos parte, no silncio do jardim, e lhe confiou um grande segrdo: ela se tina consagrado a Deus, porque sentia dentro de si a voz de Deus que a chamava para alguma misso especial e, por isso, jamais em sua vida haveria de pertencer a homem algum, mas s6 e sempre a Deus. Jos no se maravilhou com sse generoso sacrifcio. Conhecia muito bem Maria, to bondosa, to piedosa. Admirado ou melhor, conquistado por essa herica resoluo, respondeu:

    - Prometi a seu saudoso pai cuidar de voc, Maria, e cumprirei minha palavra. Hei de proteg-la por tda a vida e se voc quiser pertencer s6 a Deus e consagrar-se a le, saiba que eu farei o mesmo. Mas, ficarei a seu lado como irmo.

    Maria, consolada com tanta compreenso, voltou para o Templo, e dsse momento em diante, viram-se raramente. Jos era pobre e devia trabalhar na oficina de um carpinteiro. Maria, cujos pais haviam passado para o seio de Abrao, no voltou mais cidade natal.

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  • A vontade de Deus evidente

    Por essa razo, Maria ficou surpreendida com a proposta de casamento apresentada pelo sumo sacerdote.

    Mas a vontade de Deus tinhase manifestado de maneira inequvoca atravs do milagre. Sempre humi)de e obediente, no teve outra alternativa seno aceitar docilmente a sugesto do sacerdote.

    Deixou Jerusalm para encontrar-se com Jos. Foi um encontro que os deixou felizes. Juntos, passaram a morar em Nazar, vilarejo agrcola, onde Jos conseguira. montar carpintaria por conta prpria.

    * * *

    Estas' . .!passagens da vida de Maria menina no esto contidas na Bblia. So Jendas antiqussimas, que chegaram at ns atravs dos escritos de autores annimos do primeiro e segundo sculos do cristia-. rusmo.

    A Igreja venera como santos Joaquim e Ana, pais da Virgem, e celebra sua festa nos dias 16 de agsto e 2 6 de julho respectivamente.

    A Bblia comea a falar de Jos e Maria, ambos da estirpe de Davi, j casados e morando em Nazar. Eram pobres, mas felizes, porque abenoados por Deus. Depois da labuta de cada dia, rezavam juntos implorando do cu o suspirado Messias prometido. Na sua grande humildade, nem lhes passava pela cabea que seriam a famlia do Redentor.

    Deus, porm, l no corao, e sabia que eram as pessoas mais indicadas e, por isso, do alto dos cus olhava com carinho para a pobre casinha de Nazar, esperando o tempo certo, para transform-la em morada terrena do Filho de Deus.

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  • Um anJo aparece em Nazar

    Nada de importan te

    N azar, perdida num pitoresco crculo de colinas .ridas e rochosas, no tinha absolutamente nada de importante. Umas poucas famlias de pobres lavradores mourejavam naquela terra queimada pelo sol. Pastres, com seus rebanhos, vagavam de contnuo pelos morros dos arredores em busca de pastagens por entre as moitas ressequidas. Alguns artesos fabricavam os objetos indispensveis de maior consumo, como sejam nforas, jarras, louas, caldeires.

    Por um motivo ou por outro, todos j tinham visitado a oficina .. de Jos em Nazar. Homem bom, trabalhador e alegre, consertava .-nxadas e ps, construa arados de madeira e jugos, arranjava carretas, trocava o cabo de velhos machados ou enxades ainda aproveitveis, consertava ps de mesas desconjuntadas ou empalhava cadeiras ...

    Jos era conhecido de todos, que o estimavam porque era bondoso e no perdia ocasio de prestar algum favor a quem quer que precisasse.

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  • tESTRE DA LENDA DE SANTA CATARINA Aia, Mauritshui

    O arcanjo Gabriel sada Nossa Senhora

  • As asinhas de N azar eram tdas iguais: pequenas, quadradas, espalhadas ao longo da estrada poeirenta que ia da praa fonte, pendiam agrupadas do "lado rochoso da colina; simples cubos brancos quesorriam, abrindo-se para pequenos quintais animados pela gritaria e pelos brinquedos das crianas. Maria e Jos moravam numa pequena aglomerao, perto de parentes do carpinteiro de Nazar. Clofas, irmode Jos, tinha quatro filhos: Tiago, Joo, Simo e Judas Tadeu. Mariamorava num quartinho pobre, mas bem ordenado e asseado; olhandopara o seu quintal, um pouco mais no alto,. ficava a casa de Jos: a.um canto do quintal, sob um telheiro, estava o banco de trabalho docarpinteiro, que guardava seus apetrechos numa escavao feita narocha.

    Apesar do muito trabalho que lhe solicitavam os moradores de Nazar, Jos andava atarefado na organizao de sua casa para acolher Maria. A lei prescrevia um ano de noivado e depois, para encerar a cerimnia nupcial, havia a introduo da espsa em casa do espso.

    Maria passava horas sentada a um canto do quintal, e se deliciava em fiar, olhar Jos, cuidar dos sobrinhos dle que brincavam alegremente e conversar com seu noivo. Amide rezavam juntos os salmos, isto , as oraes e os cnticos mais belos da Bblia. E viviam tranqilos na sua laboriosa pobreza.

    Gabriel tinha entendido bem/

    A casa de Maria nada tinha de extraordinrio. Poucos metros quadrados, com um nico quarto, uma mesa e duas cadeiras. A um canto um pote de gua, pratos e tigelas de madeira ou de terra-cota,. tudo bem arrumado numa prateleira pregada na parede. Umas brasas dormiam sob as cinzas do pequeno fogo. Do lado de fora, uma escada de pedras conduzia ao terrao, que servia tambm de jardim. Tdas as casas de Nazar eram construdas assim ...

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  • E no entanto, .o arcanjo Gabriel tihha entendido .bem. Deus tinha-o mandado precisamente l, quela casa, para levar a Maria a mais bela mensagem da histria: o nascimento do Messias.

    O mensageiro celeste deixou o Paraso, mas chegando a Nazar,---_boc_@o. No ptio estava um rapaz, descalo e corado, e ouvia-se Jos repetir:

    - J lhe disse que sim, vou logo ... diga a seu pai que dentro de alguns minutos estarei l Sim, sim, voc ver: antes do meio-dia tero a janela recolocada. S alguns minutos, enquanto apanho os apetrechos ...

    Finalmente Jos apareceu na soleira da oficina, aproximou-se da porta de Maria, que no momento arrumava a .loua aps o desjejum, e lhe disse:

    - Maria, vou por uma hora mais ou menos casa de Simeo ... Veja o que acontece neste mundo: esta noite, o jumento que le amarrava l fora, afundou-lhe a janela. Voltarei logo. At j.

    Maria retribuiu o cumprimento, indo at porta. Jos seguiu pela trilha da colina. Maria acompanhou-o com o !Olhar por algum tempo, depois fechou a porta e pegou da cesta para o trabalho.

    HTeu Filho ser chamado Filho de Deus"

    O anjo decidiu __ entrar ... Apareceu--a-Maria e saudou-a, inclinando-se profundamente: - Salve, cheia de graa. O Senhor contigo! Maria levou um susto e deixou cair o fuso que tinha nas mos.

    Quem era sse estranho? Por onde entrou? A porta estava fechada. O que queriam dizer essas palavras?

    O arcanjo acalmou-a: - No temas, Maria. Encontraste graa diante de Deus. Eis que

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  • ters um filho, a quem dars o nome de Jesus. le ser grande e ser chamado Filho de Deus.

    Filho de Deus? ! ... ?vlaria conhecia as profecias bblicas, pois sua me Ana lhe ensi

    nara, e tambm ouvira tantas vzes ler no Templo. Sabia que o Salvador devia nascer, porm era por demais humilde para acreditar que Deus quisesse escolh-la logo a ela, para to alta misso. Sua casa era pobre, ela nada possua! Alm disso, como poderia ter um filho, se tanto ela como Jos tinham-se consagrado inteiramente a Deus com o voto de virgindade?

    O anjo dissipou-lhe logo as dvidas: - Ficars me-.. por obra do prprio Deus, por isso teu filho ser

    o Filho de Deus, reinar no trono de Davi, vosso antepassado, e seureino no ter fim.

    No havia dvidas: erani as mesmas .palavras que os profetas haviam dito a respeito do Messias prometido. Deus foi escolher preci: samente a ela, a pobre, a pequena Maria, para torn-la a Me do Salvador do mundo!

    Maria ficou confusa, atrapalhada. No foi capaz nem de dizer ' --sim. Disse simplesmeD:te:---

    - Eu sou apenas uma criada do Senhor: Deus faa de mim o que bem lhe aprouver.

    Foi sse o momento mais importante da histria. Deus, graas ao consentimento de Maria, tornava-se homem. Nesse dia feliz, Maria tornava-se a nova Eva e Jesus o nvo Ado, para reparar o pecado de nossos primeiros pais.

    Para Deus nada mpossvel

    O arcanjo, antes de voltar pa7a o cu , quis dar a Maria uma prova de que tudo quanto anunciara era verdade. Disse:

    ._ Tua prima Isabel, apesar de sua idade avanada, receber de Deus um filho, precisamente agora que todos ttoam dela, porque no

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  • Turim, Galeria Sabuda A Anunciao

  • tem filhos. Sirva isso para provar que tudo o que te disse verdade yontade de Deus, para quem nada impossvel.

    Em seguida, depois de prestar sua homenagem a Maria, futur:Me de Deus, o anjo desapareceu.

    Maria ficou a ss com seus pensamentos .. Nesse momento, Jos voltava para casa cantarolando.

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  • Palavras e cantos misteriosos

    numa vtagem de Karm de Jud

    " . , , Quem lhe dzsse?

    E ra tempo de Maria pensar nas npcias. O tempo prescrito para o noivado passava depressa e Jos j tinha resolvido tudo o queera. preciso para o dia do casamento. At o sumo sacerdote deu a entender que, se os seus compromissos lho permitissem, participaria pessoalmente das cerimnias, porque estimava sses jovens que le mesmo em pessoa, por inspirao divina, aconselhara a casar. Tudo devia ser preparado com carinho: os convites aos parentes e amigos, asprovises de comes-e-bebes, vestes novas e bonitas ...

    Maria, porm, pensava em coisa muito diferente. Na manh seguinte mensagem do anjo, chamou Jos e lhe falou: - Precisamos visitar Zacarias. Minha prima Isabel espe.ra criana

    para breve, talvez precise de ns. - Isabel? - perguntou Jos admirado. - Faz tanto tempo que

    no temos notcias... Alm disso, est velha! Quem lhe trouxe essa informao?

    L A ftiJI A .r ...... 49

  • Maria encolheu os ombros e depois de alguns instantes dum silncio que lhe pareceu eterno, disse simplesmente:

    - Creia-me, Jos. Estou certa. Jos conhecia . muito bem Maria. Sabia que ela via sempre me

    lhor as necessidades alheias que as prprias E resolveu partir. Afinal, quem teria revelado a Maria que a casa de Zacarias seria alegrada por uma criana?

    Mistrio!

    o a nJo que cas tzga

    Zacarias morava em Karm de Jud, bem longe de Nazar. Era sacerdote porque pertencia tribo de Levi, e de acrdo com os turnos,precisava de vez em quando ir ao Templo para oferecer incenso ao

    Senhor.Alguns meses antes que o arcanjo aparecesse a Maria, Zacarias

    entrou no Templo para oferecer incenso na parte mais secreta, o ''Santo dos san.tos" , onde s os sacerdotes podiam ntrar. Ao se aproximar do altar, viu um anjo de p do lado esquerdo. Levou tremendo susto, mas o anjo lhe falou:

    - No tenl;tas mdo, Zacarias. Trouxe-te uma boa notcia. Finalmente o Senhor ouviu tua orao e dar-te- um filho, que ser motivo de alegria e esperana no s para ti, como para todo o povo. le dever anunciar a vin_da do Messias, e preparar-lhe- o caminho, dispondo os coraes dos homens a ouvi-lo.

    Zacarias ficou em dvidas: talvez fizesse pouco dle? . .. Sua espsa Isabel j estava avanada em idade, le cansado e adoentado. Como poderia aparecer em sua famlia uma criana? No podia ser verdade. Criando coragem, disse:

    - Como possvel que Deus queira dar um filho a dois ancios como eu e minha espsa? Quero uma prova de que Deus quer mes-

    f . ' mo azer 1sso . . . .

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  • O anjo respondeu: - Zacarias, tu no quiseste acreditar na mensagem que Deus te

    manda do alto! Sers castigado: ficars mudo e no poders proferir palavra at que se cumpra tudo quanto te foi anunciado.

    E o anjo desapareceu. O pobre ancio quis falar, chamar o anjo, pedir perdo, mas sua lngua estava prsa, no conseguia articular palavra. Estava mudo.

    O povo, no entanto, esperava no ptio do Templo. Zacarias demorava a sair do " Santo dos santos" e quando, por fim saiu, no cantou a orao prescrita, mas afastou-se titubeante. Parecia ter envelhecido de vinte anos em poucos minutos. Foi seguido, e fizeram-lhe perguntas. :E:le, porm, respondeu por gestos, visto que rio podia falar. Seus olhos assustados demonstravam que algo de misterioso tinha acontecido.

    Chegando a casa, Zacarias parecia um homem acabado. Isabel, ao invs, no cabia em si de alegria. Tambm a ela um anjo tinha falado. Ao ver a triste situao do marido, ficou penalizada. Que lhe teria acontecido?

    O "Magn i fi cat "

    Entrementes, Maria viajava na direo de Jerusalm, porque Karm ficava a duas horas aproximadamente da cidade santa. Parou umas horas no Templo, cumprimentou preceptoras e amigas que deixara alguns meses antes, e ao entardecer alcanou a casa de Isabel.

    Assim que chegou, saudou a prima . . Qual no foi, porm, sua estupefao, ao ouvir Isabel dirigir-lhe palavras misteriosas:

    - Bendita s, Maria, entre tdas as mulheres da terra. E donde me vem a honra de receber em minha casa a Me do Senhor?

    Maria empalideceu. Quem teria revelado a Isabel a celestial mensagem do anjo? Tranqilizou-se, todavia, logo em seguida. O pr6prio Deus deveria ter iluminado Isabel, porque ningum mais sabia que ela tinha aceitado tornar-se Me do Senhor.

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  • Jos no entendeu o sentido dessa saudao. Para le surgia Mais um mistrio a ser somado queles que j lhe martelavam mente e corao a respeito de Maria.

    Percebendo que a prima estava ao corrente de seu segrdo, Maria, inspirada por Deus, entoou:

    "Minha alma glorifica ao Senhor, e meu esprito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. De fato, desde ste momento ho de me chamar ditosa tdas as geraes, porque me fz grandes coisas o Todo-poderoso . . . que le mesmo predissera aos nossos pais, em favor de Abrao e sua descendncia, para sempre".

    ste hino de agradecimento est contido na Bblia, assim como os principais fatos que estamos narrando, e chama-se "Magnificat" , por causa da sua primeira palavra em latim. A Igreja entoa com freqncia sse cntico, como orao de agradecimento .

    Joo, o profeta do A ltssimo

    Depois dsse hino inspirado de agradecimento, Maria guardou ciosamente seu segrdo, e nem Jos conseguiu compreender aqule mistrio escondido.

    Entrementes o bom carpinteiro voltou para Nazar e recomeou seu trabalho na oficina; seu pensamento, porm, estava fixo na casa de Isabel, onde Maria. tinha ficado para prestar seus humildes servios ' . a prtma.

    Finalmente nasceu a criana: vizinhos .e amigos no cessavam de exprniir sua maravilha e de se congratular com Isabel. No oitavo dia, conform.e a velha aliana feita po! Deus com Abrao, foi preciso :circuncidar o menino e dar-lhe o nome.

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  • ROGER VAN DER WEYDEN

    Maria visita e sada sua prima Isabel

    Turim, Galeria,Sabuda

  • Os parentes sugeriam que se chamasse Zacarias, como o pai. Mas Isabel se ops:

    - Seu. nome ser Joo. - Era o que o anjo lhe dissera. Obje tavam os outros:

    - Mas, entre os parentes, no h ningum com sse nome. Zacarias, o que voc diz?

    O pobre pai no podia falar. Trouxeram-lhe uma tabuinha, e le escreveu: " Seu nome ser Joo" . Nesse preciso momento soltouse a lngua, e le comeou a falar. O castigo de sua incredulidade terminara. Pde, ento, contar a todos o que o anjo lhe dissera, e como o havia castigado porque no tinha acreditado na palavra do Senhor.

    Depois, inspirado pelo Esprito Santo, Zacarias fz uma orao de agradecimento a Deus:

    "Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo. E suscitou uma fra para nos salvar, na casa de seu servo Davi. Conforme anunciou por bca dos profetas, para restabelecer a aliana com Deus. E tu, pequeno Joo, sers chamado o profeta do Altssimo, porque irs adiante .da face do Senhor, e preparars o caminho Lm; de salvao que deve iluminar todos os homens" .

    Aps o nascimento de Joo, Maria ficou ainda trs meses com Isabel, ajudando-a nos afazeres de casa. Quando sua presena se tor nou dispensvel, retornou a Nazar.

    Jos a esperava ansioso: ficara longe tanto tempo! . . .

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  • do Deus

    carpinteiro de

    Pai aos olhos dos homens

    prec1sa Nazare

    J os andava preocupado. Por tantos meses Maria ficou longe . O dia do casamento se aproximava. E ela parecia que nem se lem. brava. Pensara somente em ajudar a prima, e nada preparara para a celebJ;ao do casamento.

    Alm diso, Jos andava torturado por terrvel dvida .. Maria escondia-lhe algo de importante. Seu procedimento misterioso era uma prova mais que vidente. Por exemplo, como foi que ficou sabendo que Joo ia nascer? E o que significavam as palavras com que Isabel a saudou : "Bendita s entre as mulheres . . . Me do Senhor"? Jos desejava pedir uma explicao sua noiva, mas no ousava, tinha mdo de mago-la.

    Calava, mas sofria. Depois de muito pensar, tomou uma deciso importante:

    - V-se que Maria no feita para mim. Talvez eu no a merea. Ela tem segredos muito importantes para um pobre carpinteiro

    ''

  • como eu . . . Esta noite - concluiu - partirei para longle, bem longe, onde ningum me conhea, e procurarei squecer. Maria no para mim. Eu no mereo . . .

    Mas, e a promessa que tinha feito ao velho Joaquim? . . . parecia-lhe ver o ancio diante de si, a olh-lo com bondade. Prometera cuidar sempte de Maria. . . Oprimido por sses pensamentos, Jos adormeceu profundamente. Deus, porm, em seus insondveis desgnios, tinha ecolhido o carpinteiro de Nazar para ser o espso de Maria. No sono apareceu a Jos um anjo e lhe falou:

    - No receies tomar Maria por espsa. Tudo o que se passa com ela, obra de Deus. Ela foi escolhida para ser a Me do Messias prometido, que o Filho de Deus. Tu passars por pai, e lhe dars o nqe de Jesus. le livrar os homens do pecado .

    . Quando Jos acordou, era um homem feliz. Deus o iluminara e

    agora le compreendia o grande mistrio que se realizava em Maria. Suas dvidas e ansiedades, transfor.maram-se em intensa alegria. Cabia-lhe a honra singular de ser o espso da Me de Deus. Deus precisav dle para ser o chefe da famlia do Messias.

    Um bro luxuoso demais

    Naquele mesmo dia Jos e Maria marcaram definitivamente o dia dos esponsais . No houve muitos convidados para a festa. Alguns parentes e amigos de Jos, algumas amigas que Maria conhecera no Templo. Os meses passados humildemente a servio de Isabel, impediram a Maria maiores preparativos para o casamento, m.s a bno de Deus supria com imensa e terna felicidade.

    Os santos esposos j no ligavam s coisas mundanas. Tudo se norteava pelo pr6ximo nascimento de Jesus, o Messias prometido h milnios, anunciado pelos profetas, suspirado pelos patriarcas, esperado das naes.

    Para receb-lo, o lar vinha sendo carinhosamente preparado. Jos

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  • RAFAEl SANZIO Milo, Pinacoreca de Brera Esponsais de Maria com S . Jos

  • fz um lindo bero, com madejra escolhida. Maria selecionava a li mais macia e fiava com carinho as roupinhas para o seu nen.-

    Deus, porm, decretara que o Messias nasceria em Belm, a ci dade de Davi. E o bero preparado com tanto carinho por Jos, nc teria acolhido o recm-nascido Jesus. Era por demais luxuoso, linde demais para o Filho de Deus, que devia nascer na mais ext1ema po. breza, para reparar o pecado com que Ado e Eva tinham pretendido tornar-se iguais a Deus. , .

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  • O Messias deve nascer em Belm

    Uma notcia m

    A s setenta semanas de anos anuncidas pelo profet.a Daniel tinham passado chegou o momento marcado por Deus para o nasCimento do Salvador. O imprio romano era aquel rvorefrondosa de que tinha falado o profeta Ezequiel. Ningum dos "gran des" do mundo sabia que tinha chegado o tempo em que Jesus devia nascer. Bem poucas pessoas conheciam a ditosa Me e seu espso car pinteiro. Mas, na casinha de Nazar j estava tudo preparado para o grande evento.

    Um dia chegou uma notcia m. O imperador Tibrio Csar ordenara um censo geral. Todos os

    sditos do vasto imprio romano deviam ser contados e registrados para poderem ser impostas e cobradas as taxas. Cada Cidado devia dirigirse cidade donde provinham seus antepassados, a fim de que seu nome pudesse ser registrado pelos emissrios de Roma.

    Jos e Maria eram da famlia de Davi e deviam ir a Belm, cidade originria .do antigo rei de Israel. O desconfrto de semelhante

    '9

  • viagem perturbara bastante Jos. Era inverno e a distncia a percorrer, notvel. . . Mas, o recenseamento era uma ordem e devia ser cumprida, porque tda a autoridade vem de Deus. E o corajoso espso da Virgem preparou rpidamente tudo quanto precisava para a longa jornada.

    * * *

    O lindo bero, o enxoval nvo, e tantas outras coisinhas importantes preparadas com carinho para receber o divino infante, deviam ser deixadas em Nazar e precisava pr-se a caminho, enfrentar os dissabores do frio e do cansao. Maria, porm, apanhou o indispensvel

    . (

    que podia levar consigo, porque sabia que de acrdo com as Escritu-ras Sagradas, Jesus devia nascer em Belm, embora ignorasse como beus haveria de conduzir os acontecimentos.

    Nada disse a Jos, para no contrist-lo ainda mais . Qual no se-- ria a angstia do amado espso, se adivinhasse que o Messias ia nascer naquela penosa viagem. . . Puseram-se a caminho em companhia de outros viandantes. Seguiam pela tortuosa e poeirenta estrada, Jos a p e Maria acomodada no lombo dum jumento, carregando a trouxa com as provises. Como ocorria freqentemente entre os bons israelitas que demandavam Jerusalm em peregrinao, durante a caminhada eram lidas m voz alta pginas da Bblia, que todos ouviam em silncio. De vez em quando, juntos, entoavam os salmos mais comuns, que todos sabiam de cor. Dsse modo, com a mente alimentada por bons pensamentos, o cansao da viagem pesava menos .

    Estava

    escrz to no Livro de Deus! Um dia, o leitor comeou as profecias de Miquias, que se refe

    riam ao Messias. Em dado momento leu o seguinte: " . . . e tu, Belm, terra de Jud, no s a mnima entre as principais cidades de Jud, porque de ti sair o chefe que h de governar Israel, meu povo " .

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  • BATISTA SALVI, cognominado SASSOFERRATO Trieste

    A Virgem Maria

  • Maria e Jos entreolharam-se. Estava escrito que Jesus devia nascer em Belm, por isso Deus disps que les fizessem essa fatigante viagem. Maria apertou as mos na trouxa que continha umas fraldas esolhjds enquanto Jos pensava com pesar no lindo bero nvo que fra obrigado . a deixar em Nazar. Como haveriam de acolher o Salvador? S traziam umas poucas fraldas. . . Maria desviou Jos de seus pensamentos :

    - Foi Deus qe quis assim . . . Est escrito na Bblia, e a palavra inspirada no pode falhar. Console-se, Jos. Trouxe comigo algumas roupinhas, .e alm disso, temos as mantas . . .

    * * *

    Ao pr do sol, avisaram Belm no horizonte. Maria olhou a longo as casinholas brancas, na esperana de que Deus lhe mostrasse o lugar escolhido para o nascimento ele Jesus. Jos precedia o jumento a longas passadas, a fim de alcnar Belm antes do escurecer. :tle tambm perguntava-se:

    - Onde ser que vou encontrar um lugar apropriado para alojar Maria e o Menino que vai nascer? Possvel, que o Messias deva nascer numa terra estranha, entre pobres viandantes, no desconfrto do inverno? No poderemos oferecer-lhe outro .confrto que no o calor de nosso abrao.-

    Mas, para Jesus bastava precisamente s isso.

    No havia lugar para les . . .

    Assim que chegaram a Belm, dirigiram-se apressadamente para o caravanar, um msero ptio rodeado de prticos, onde pernoitavam homens e animais. J estava lotado cunha. No havia lugar para les. Jos lembrou-se de- alguns parentes. Foi bater-lhes ' porta. A cidade estava cheia de gente que vinha de tdas as partes para o censo. Nem ali havia lugar. A noite descia e J9s j estava desanimado:

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  • aonde levaria sua espsa? Maria estava . cansadssima ningum os acolhia. Eram pobres, e para les no havia lugar! Com o corao amargurado, saram da cidade. O Messias esperado h milnios ia nascer, e agora ningum queria acolh-lo ...

    Desceu a noite, fria e pontilhada de estrlas. Jos seguiu uma vereda por entre moitas e ervas do mpo. Maria o acompanhava ofegante e tremendo de frio. Ao claro da lua avistaram uma gruta. Era uma concavidade protegida de ventos e chuvas por uma cobertura de palha. Era um abrigo de pastres . Jos olhou para Maria :

    - Se pernoitssemos aqui? ... Maria anuiu com um movimento de cabea e sorriu. Via Jos to

    preocupado, e queria encoraj-lo. Quanto andar, para conseguir um abrigo ! A culpa no era dle, se nada conseguira!

    Jos estugou o passo. - Vou dar uma espiadela - disse. E entrou depressa, a fim de

    no deixar ver as lgrimas. Pobre Jos! le preparara tudo. em Nazar, no aconchgo do lar ... E Jesus escolhe ste lugar pobre e cheio de privaes para nascer, a fim de mostrar aos homens que le prefere os coraes simples e que o amam, aos grandes palcios dourados, m.as frios de afeto e de amor.

    O lugar escolhz"do por DeusNaquela gruta Jos sentiu uma calma fora do comum. Noite si

    lenciosa, bela e cheia de mistrio. A um canto, ruminava velho boi. Jos reuniu uns gravetos e fz fogo. Com palhas scas improvisou uma cama para Maria, que estava cansada mas feliz por ter encontrado finalmente lugar onde passar a noite. , - Escuta Jos, - disse a Virgem - olha que calma, que tranqilidade, . que noite esplndida, milhares de estrlas pontilham o cu. Voc se lembra, Jos? ... : "Belm ... tu s a menor das cidades de Jud, mas de ti sair o Messias ! " ste o lugar escolhido por Deus.

    - Maria, - interrompeu Jos - voc conhecia essa profecia? - Sim, Jos, . aprendi de cor ainda nos joelhos de mame . .. Talvez fsse o dia 24 de dezembro.

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  • Natal, noite de luz

    O Paraso numa gruta

    Meia noite! Essa hora cheia de mistrio foi escolhida por Deus para o nascimento do Salvador.- De repente, a gruta ficou miraculosamente iluminada. Na calada da noite, longe de todos, na mais completa pri-vao, nasceu o prometido "Filho da Mulher" , o Redentor suspirado h milnios, anunciado pelos profetas.

    A gruta de Belm tornara-se nvo paraso terrestre, o lugar abenoado em que Deus e o homem voltavam a se- encontrar como amigos na pessoa de Jesus, o nvo Ado, homem-Deus que quis fazer-se como um de ns a fim de que pudssemos todos ser filhos de Deus.

    Finalmente o mundo tinha o seu Salvador. Com a pretenso de se tornarem "iguis a Deus" , Ado e Eva tinham desobedecido. No prespio, Jesus, o Filho de Deus, fazia-se humildemente semelhante aos homens, para reparar a culpa original.

    Maria foi a primeira a adorar Jesus. Apenas nascido, aconchegou-o ao corao e envolveu-o nas fraldas que trouxera qe Nazar. Sua

    64

  • GERARDO PELLE NOTTI Florena, Galeria Uffizi O nascimento de Jesus

  • f ardente fazia com que ela visse naquele infante necessitado de tudo, o Filho de Deus, o todo-poderoso feito homem por amor.

    Jos no cabia em si de alegria e admirao. A noite tornara-se clara como o dia, o silncio transformara-se em maravilhosa melodia celeste. Ao redor da gruta j no havia simples estrlas a tremeluzir no firmamento, mas milhares de anjos em adorao.

    A crte celeste participava visivelmente do acontecimento mais importante da histria humana, porque Deus se tornara semelhante criatura. Tantos prodgios em trno dessa pobre gruta era a mais bela demonstrao de que Deus tinha escolhid aqule lugar para o nascimento do Messias, a fim de que se manifestasse :tJ;lais maravilhosamente sua onipotncia.

    Maria envolvia delicadamente o seu Jesus, enquanto Jos revivava o fogo no centro da gruta.

    - Maria - susurrou-lhe, com mdo de distra-la ...... aproxime-se do fogo. Olhe : essa manjedoura servir de bero. Ajeitei-a com palhas macias e pus meu manto por cim. E acrescentou: naturalmente, obero de f'lazar seria mais apropriado;. mas le, o Senhor, quis assim !. ..

    Maria aninhou delicadamente Jesus nesse bero improvisado. Depois ajoelhou-se, inclinando-se sbre o infante e cobrindo-o com uma aba do manto.

    - Jos! - disse baixinho, sem tirar os olhos de Jesus que adormecera - Jos, Deus escolheu-nos precisamente a ns para criar o seu Messias, tambm le Deus como o Pai. .. Agradeamos juntos.

    Passaram momentos de exttico recolhimento e arrebatados em contemplao. Depois Jos voltou a si:

    - Maria, olhe: v.em vindo algum!

    "Ide ver . . . numa mangedoura "

    O que aconteceu ? Nos arredores de Belm, naqueles dias, havia muitos pastres que

    passavam a noite ao relento, dormitando ao redor de fogueiras e alter-

    66

  • nando-se na guarda dos rebanhos. meia-noite, uma luz fulgurante r.asgou- repentinamente a escurido.

    O velho Eleazar esfregou os olhos. No se enganara. A noite era um tapte estrelado. No podia, por conseguinte, tratar-se de relmpagos. O que seria, ento, aquela luz misteriosa?

    Acordou,. espantado; os companheiros: ......... J raiou o sol? - bocejou preguiosam.ente um rapaz. - No o sol, um milagre! um milagre de Deus! ... - gri

    tavam outros. - o aviso de algum castigo que est para vir ... - murmurou

    uma mulher. - Mame, tenho mdo ... - choramingava um garotinho, acorda

    do de sobressalto. A luz aproximou-se . Tambm o rebanho comeou a mostrar-se ir

    requieto, enquanto os ces ladravam. Por fim a luz parou e apareceu um anjo. Os pasttes abaixaram instintivamente o - olhar, cheios de mdo. O anjo acalmou-os:

    - No temais. Tenho uma boa nova a dar-vos, que ser de ale gria para todo o mundo. Em Belm, cidade de Davi, acaba de nascer o Salvador, o Messias prometido. No o procureis, porm, na casa dos L--poderosos. Nasceu como um de v6s, numa gruta, e agora descansa acomodado numa simples manjedoura. Ide e vde . . Encontr-lo-eis na gruta sul, que olha para o oriente.

    Nesse instante, uma multid de anjos uniu-se ao l11;ensageiro celeste e afastaramse enchendo a noite com seu canto: "Glria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade " .

    O Messias mazs pobre do que ns/

    Os pastres entreolharam-se assombrados. Quando o canto dos anjos desapareceu ao longe, Salom, a vovozinha de cabelos brancos, falou:

    - Nasceu na gruta . .. pobre criana ! Na gruta de Tobit no h

    67

  • mesmo nada, nenhum confrto. Estaro faltos de tudo. Vamos depres-r p h . . " f . r sa. .. . o re crtana, com este rto ....

    - Mas, como possvel? .. . - perguntou um rapaz, ajeitando o turbante - como possvel que o Messias tenha nascido nessa gruta? Nem o mais pobre dentre ns nas ceu em lugar to mesquinho.

    - Meu filho, - explicou Eleazar - voc no se lembra das profecias que lhe expliquei tantas vze s e que j deve saber de cor? "Deus enviou-me para levar a boa nova aos pobres" . Aos. pobres, Siqum, entendeu? Oh, sim! mesmo le: cumpriu-se o tempo. Corramos a Belm. Vamos ver o prodgio que Deus nos manifestou.

    - Mriam, apanhe trs pes ... e voc, um pacote de requeijo -dizia Salom a um e outro. - E voc, Benjamim, pegue o melhor cordeiro do rebanho . . . O Messias mais pobre do que ns: devemos ajud-lo, embora sejamos pobres.

    A bondosa mulher apanhou ainda ums roupinhas e todos juntos tomaram a trilha da gruta.

    O mazs belo de todos os presentes

    Joro, um rapazinho de treze anos, corria veloz pela sua j conhecida vereda. Quando parou para retomar flego, virou-se e notou q\le todos que vinham, traziam alguma coisa. Desejoso de ser o primeiro a ver o recm-nasido Messias, correra frente sem levar nada. Ficou envergonhado, querendo voltar. . . Nisso foi alcanado pela comitiva e sua me viu que o rapaz tinha lgrimas nos olhos:

    - Mame, s eu no levo .nada para o Messias que nasceu na gruta do tio Tobit!

    -. Meu. filho, no chore. Ao Messias podem-se levar tambm presentes preciosos que no se vem. A entrega do corao a nica coisa necessria, o melhor de todos os presentes ... o corao tambm voc p.ode oferecer-lho.

    Eleazar, pousando afetuosamente a mo no ombro do menino, sugeriu-lhe:

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  • Paris, Museu do Louvre

    dos pastres

  • - J oro, porque voc -no toca o seu "chifre" em honra do Messias? Nenhum pastor sabe tocar to bem como voc. Assim sero mais agradveis os -presentes de todos.

    Joto enxugou os olhos com as .costas da mo: - Tem razo, eu no tinha pensado. Com certeza o suave toque de sua corneta de chifre haveria de

    agradar ao Messias, que quisera nascer entre pastres, descendente de um povo de pastres, da famlia de Davi, rei e pastor. O rapaz comeou a tocar com garbo e sentimento, to bem como nunca tinha tocado antes.

    Quando chegaram gruta, Joro ainda tocava.

    Os pobres querem-se

    Quem os recebeu porta da gruta, foi o prprio Jos: - Bo gente - saudou logo - se querem passar a noite conos

    co, podem entrar: juntos estaremos bem . . . Ou a gruta lhes pertence? Ento devem desculpar-me: eu no sabia. Ah, ento de vocs o boi que - est antarrado perto da manjedoura . . .

    A velhota entrou e dirigiu-se afetuosamente a Maria: - Minha filha, quem sabe quanto sofreu . . . como deve estar can

    sada . . . Maria ergueu seu olhar para os recm-chegados, um olhar maravi

    lhoso, onde no transparecia nem ansieda4e nem sofrimento, mas s profunc1a felicidade. Encorajados com tanta simplicidade, todos se apro-

    xunaram. - Que menino encantador! murmurava Salom extasiada, en

    quf4nto com cuidados matemos estendia alguns panos sbre o menino Jesus que dormia plcidamente. Depois virou-se para Maria e acrescentou:

    - So umas roupinhas que j serviram para agasalhar meus filhos e os numerosos netos que tenho, mas lhas cedo com muito prazer, minha filha, pois vejo que vocs so pobres.

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  • Eleazar, enquanto iss, conversava com Jos: - Um anjo nos avisou que nasceu aqui o Messias prometido. Es

    tamos aqui para ajud-los. Olhe: trouxemos alguma coisa para comer. Benjamim, traga o cordeiro! . . . Um pouco de requeijo. . . aqui trs pes. . . Somos pobres pastres, mas no queremos que o Messias sofra s porque quis nascer entre ns.

    Jos disfarou uma lgrima. Bem sabia que s entre os pobres pode florescer semelhante amor!

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  • BERNARDINO DE BETTO, apelidado PINTURICCHIO. Roma, Igr e ja d e Santa Mar ia d e l Pop

    Ma ria em adorao

  • Cham-lo-s Jesus

    O sangue pela antiga aliana

    A lguns dias depois, Jos encontrou acomodao em casa de Nadab, um amigo dos pastres que por primeiro acorreram gruta. Todos tinham-no ajudado. Todos os pastres dos arredores tinham-nos visitado na gruta, no dia do nascimento, a fim de lhes manifestar a prpria alegria e proporcionar-lhes o confrto de alguma ajuda. De modo especial, 'cada qual quis agradecer ao Messias por ter nascido no seu meio, pobre, nmade, sem casa, precisamente como les ...

    No oitavo dia foi realizada em casa de Nadab a cerimnia da circunciso e imposio do nome. Jos aplicou no inocente corpinho do Messias a dolorosa operao imposta por Deus a Abrao como sinal de sua .aliana: eram as primeiras gtas de sangue derramadas pela redeno do mundo.

    Durante essa cerimnia foi impsto ao pequenito o nome Jesus, que quer dizer " Deus salva ", como o anjo tinha mandado. As profe .. cias diziam que o Salvador devia chamar-se " Emanuel " que significa

    7 3

  • "Deus conosco" , mas isto era mais uma qualidade caracterstica do Messias.

    Para assistir solene cerimnia, acorreram a . Belm tambm Zacarias e Isabel com o Joozinho, seu filho. Os dois garotos mais extraordinrios da histria, viram-se frente a frente. Era o encontro do Messias com seu precursor. Depois da festa, os primos de Maria regressarann a 1Carnn.

    Jos ao invs, preferiu ficar ainda em Belm, por causa do mau tempo, do intenso frio e principalmente porque Maria queria proveitar a proximidade de Jerusalm para apresentar Jesus no Templo, como prescrevia a Bblia: "Todo primognito homem seja consagrado ao Senhor" . Por isso, quarenta dias aps o nascimento, Jesus ingressava no Templo nos braos de Maria .

    A I maculada e o Filho de Deus confundidos com os pecadores

    A Bblia prescrevia que ap6s o nascimento do primognito, se realizassem duas cerimnias: " a purificao" da me e a " apresentao" do recm-nascido no Templo! A purificao era uma cerimnia de pentncia, para lembrar o castigo impsto por Deus a Eva e a tdas as mulheres: "Dars luz com sofrimento teus filhos". Nessa ocasio os ricos ofereciam em sacrifcio um cordeiro e os pobres duas pobas.

    A apresentao consistia na consagrao do menino a Deus e em seguida no seu resgate mediante um pagamento simblico de cinco sielos, corespondentes ao salrio d duas semanas de um operrio coo Jos. Deus impusera essa cerimnia para lembrar ao povo escolhido que todos deviam estar sujeitos a le como servos, porque le os tinha libertado da escravido do Egito, quando o anjo exterminador matou todos os primognitos dos egpcios. Por isso, todos os primognitos dos israelitas deviam ser consagrados ao servio de Deus e em seguida eram " resgatados" , isto , livrados dessa obrigao mediante a oferta do dinheiro para o Templo.

    74

  • A obrigao de i ao Templo, naturalmente, se limitava s famlias que moravam perto de Jerusalm. Maria no estava obrigada purificao, porque imaculada e no sujeita ao castigo impsto por Deus por causa do pecado original. Alm disso, Jesus era o Filho de Deus e por consegu.illte .no precisava ser consagrado nem resgatado . Mas aVirgem quis ir ao Templo e cumprir perfeitamente tudo o que a Bblia prescrevia.

    "Agora, Senhor, deixai-me morrer em pazl"

    Indo ao Templo, Maria confundiu-se com as demais mulheres, esperando a sua vez. Em nada absolutamente se diferenciava das outras, a no ser na compostura e devo.

    Um velho sacerdote, quase cego, cabelos e barbas brancas e longas, como que guiado por uma luz sobrenatural, aproximou-se del e pediu-lhe a honra de estreitar Jesus em seus bros. Maria consentiu wu ta11to surpreendida. O sacerdote apertou o menino contra o peito,repetindo comovido e com. lgrimas nos olhos: E,. "1 ' - ' "I ' - e e . . . . s1m, smto que e e e mesmo . . . .

    O ancio era Simeo, "homem justo e piedoso'' , como diz o Evangelho de S. Lucas. Em recompensa de sua vida reta, tinha recebido de Deus a promessa de que no morreria sem antes ver o Messias.

    Aqule dia, seguindo uma inspirao ntima, le tinha ido ao Tempio, e embora os olhos estivessem quase apagados pela idade, viu Jesus e compreendeu de imediato que era le o esperado das naes, o Salvador. Apertando Jesus nos braos trmulos, Simeo ergueu os olhos

    , ao ceu, e orou:

    " Senhor ' agora deixai-me morrer em paz, conforme me prometestes; porque os meus olhos viram o Salvador, que enviastes para que seja a luz que deve iluminar todos os povos" .

    75

  • A dor ser como uma espada, . .

    Depois o ancio olhou para Maria e, misterioso, continuou: - Eis que ste menino ser um sinal de contradio: para mui

    tos ser pedra de trpo, para outros ocasio de ressurreio e vida Ser um sinal de contradio a separar os bons dos maus. E lembra-te:Tu ters que sofrer muito por isso; uma cruel espada de dor atravessar tua prpria alma! ...

    O ancio calou-se, ficou uns instantes imvel, solene, depois devolveu o menino aos braos maternos, dizendo:

    - Obrigado, Maria... . E afastou-se com passo incerto, confundindo-se com a multido.

    * * *

    O povo tinha-se aglomerado ao redor da sagrada Famlia, atrado pela cena fora do comum. Todos estavam maravilhados e no conseguiam .compreender as palavras misteriosas de Simeo. Maria, ao invs, que conhecia a Bblia, compreendeu muito bem. Iluminado pelo Esprito Santo, o velho sacerdote predissera a misso de Jesus: le devia levar a. graa e a salvao a quantos estavam dispostos a receb-la; e a morte da alma; para quem recusasse a graa. No que tocava a ela,Maria compreendeu que a dor faria parte integrante de sua altssima vocao de 1ne do Messias, porque no calvrip das lgrimas ela deveria tornar-se a co-redentora do gnero humano.

    Maria estava para se afastar da aglomerao de curiosos, quando chegou uma anci, a viva Ana, que Maria conhecera d'llrante sua estada no Templo.

    Abraou Maria e parabenizou-a, vivamente emocionada, pelo lindo menino. Em seguida, aps uns momentos de silncio, iluminada pelo Esprito Santo, reconheceu tambm ela no filho de Maria o Messias prometido e, tomada de santo entusiasmo, comeou a espalhar a boa nova por entre a multido que enchia o ptio ao Templo.

    76

  • lNTOR DAS MEIAS FIGURAS (sc. XVI) Estrasburgo, Museu das Belas Artes

    Maria apresenta Jesus no templo

  • Um breve entusiasmo

    Quando finalmente Maria e Jos conseguiram terminar as cerimnias da purificao e da apresentao, feita a oferta das pombinhas, Jerusalm j era sacudida por um frmito de alegria e entusiasmo:

    - Nasceu o Messias . . . Sua me de Belm . . . Quem falou foi o velho Simeo . . . - comentavam as mulheres, de porta em porta.

    Mas, quando o povo quis saber quem era o menino de quem tanto se falava, todos encolhiam os ombros, sem nada dizer: ningum sabia informar com certeza.

    Maria e Jos j se tinham confundido com a multido, sem deixar pista; no humilde anonimato como tinham vindo, tambm tinham retornado a Belm. Em poucos dias Jerusalm esqueceu que o Messias tinha nascido.

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  • Aparecer uma estrla

    Uma antiga: profecia

    E m Jerusalm j no se comentavam os extraordinrios eventos de prindpios de fevereiro. Algumas semanas depois, porm, guiados por uma estrla misteriosa, chegavam Cidade santa uns magos provenientes das longnquas regies da Arbia e da Prsia.

    Eram sbios astrlogos, ricos e estudiosos, que conheciam os segredos das estrlas . e passavam longas horas no silncio de seus observatrios estudando o firmamento e a natureza. Ao vasculhar o firmamento na noite do dia 25 de dezembro, um dos magos ficou impressionado pelo extraordinrio brilho de uma estrla que nunca vira antes. Olhou mais atentamente: que maravilha! . . . A estrla movia-se lentamente, deixando emps de si um rasro de luz. Devia tratar-se de algo realmente grandioso, pois ningum jamais tinha visto estrlas moverem-se dessa maneira! Atrado pelo fat prodigioso, o sbio astrlogo resolveu seguir a estrla. Alcanou assim, um pas vizinho, onde encontrou um amigo seu, astrlogo como le:

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  • GRARD DAVID

    Madonna chamada "da papa"

  • - Vi uma estrla extraordinria, que se move em direo ao ocidente. .. Procurei segui-la para observar melhor o fenmeno, e aqui estou. O que voc pensa disso? r.

    - Incrvel ! - observou o amigo. - Eu fiz a mesma descoberta,e ia procurar voc para lhe pedir uma explicao. Talvez seja um aviso do cu . . .

    A admirao dos dois magos aumentou quando, alguns dias depois, chegou da longnqua Prsia outro sbio. Tambm le tinha sado em per:;eguio da estrla misteriosa.

    Decidirm consultar um velho eremita, sbio e prudente, tido por profeta. O ermita explicou-lhes:

    - H uma antiga profecia israelita, que diz: "Sair unia estrla da famlia de Jac, e um grande chefe, um rei poderoso, nascer em Israel" . Os israelitas habitam a Palestina.

    Os magos, profundamente religiosos, acreditaram na profecia,. (!resolveram pr-se a caminho em seguimento da estrla brilhante, que se movia sempre em direo ao ocidente.

    u Onde nasceuo nvo rei dos judeus ?"

    Ao alvorecer da manh seguinte, uma caravana pitoresca, cotn camelos, dromedrios, numeroso squito e ricos presentes, movimentou-se para o ocidente. Atravessando o deserto da Sria, alcanaram a Palestina, e chegaram a Jerusalm. A estrla misteriosa desapareceu. Pararam, pensando que o "rei poderoso" de que falava a profecia, devia ter nascido ai. Maravilharam-se muito, ao notar que a cidade no dava nenhum sinal de alegria especial como habitualmente acontece por ocasio do nascimento de algum filho do rei.

    Perguntaram a uns curiosos que se aproximaram da caravana : - Onde nasceu o rei dos judeus? Onde est o nvo rei do povo

    de Israel?

    A - A ... A A -'411 8 1

  • Ningum sabia informar. Alguns chegaram a rir, pensando que aqules estranhos visitantes tivessem sido vtimas de alguma brincadeira de mau gsto. Por fim, um senhor falou:

    - Aqui no nasceu nenhum rei. Nosso rei Herodes. Seu palcio est l, na praa grande. Perguntem a le se nasceu um nvo rei .

    Os moradores de J emsalm ,riram maliciosamente. Todos sabiam que Herodes era um rei cioso, terrivelmente cioso de seu reino. Para conserv-lo, tinha aniquilado a aristocracia, chegou msmo a mandar matar muitos membros da famlia, com mdo que lhe tirassem o trono.Mas os magos, que no sabiam disso, dirigiram-se para o pao real, enquanto o povo, admirado, indagava:

    - Quem sero sses estrangeiros? O que vieram procurar? . . . um nvo rei em Jerusalm? No basta Herodes? . . .

    Esperteza frustrada

    Quando anunciaram a Herodes que trs "grandes" do oriente o procuravam, le, pra dar-se importncia, mandou-lhes dizer que no podia receb-los, porque estava muito ocupado. Ento os magos pedi-: ram ao pajem que comunicasse a Herods que queriam apenas ver o nvo rei dos judeus, anunciado pela estrla. A estas palavras, Herodes empalideceu: o nvo rei dos judeus?

    - No diga palavra a ningum a respeito, ouviu? - gritou, lvido de raiva, ao criado. - E manda entrar imediatamente sses es-. ' trangettos . . . .

    O rei recebeu os magos secretamente. Em vista da importnciadas notcias. que trazem, trata-os com grande deferncia e muitas atenes, a fim de no despertar suspeitas. Depois pede-lhes para contar.-lhe de fio a pavio tda a histria da estrla. :le 'ignorava as profecias,e menosprezava os sacerdotes do Senhor, mas desta vez mandou cham-los, e fingindo acreditar nas Sagradas Escrituras, perguntou-lhes:

    - Onde que deve nascer o rei dos judeus, de que falam os vossos livros sagrados? E em que . poc deve ocorrer seu nascimento?

    82

  • Os sacerdotes consultaram-se entre si, releram as profecias que j liam de cor, fizer seus clculos, e por fim responderam ao rei:

    - J estamos no tempo anunciado pelo profeta Daniel, e Belm :t cidade onde o Messias prometido deve nascer. Ns, porm,. no samos o momento exato em que Deus vai suscitar o -libertador do povo.

    Um sacerdote acrescentou: - Ouvi dizer que, h algumas semanas, falou-se no Templo s

    e o Messias -j naScido. Incrvel! . . . Dizem que o velho Simeo o conheceu: pobre coitado, est quase cego e n sei o que possa ter sto! . . .

    - Eu inda no acreditei numa nica palavra de tudo "isso: se Messias tivesse nascido - continuou outro sacerdote - Deus pri

    .eiramente nos teria avisado a ns, no acha? . . . Herodes, porm, no ia atrs de _sutilezas: algum dissera que o

    [essias tinha nascido; as profecias falavam de Belm, e isso bastava. Afastou os sacerdotes e falou aos magos: - Aqule que procuram, nasceu em Belm, aqui perto. Pro

    nem-no com cuidado, .e assim que o encontrarm, avisem-me poistmbm eu quero ir adorlo! . . .

    Assim que os magos_ partiram em demanda de Belm, o astuto e rfido. rei esfregou as mos contente:

    - A stes eu tapeei; les no perceberam minhas intenes. Voluo e dar-meo as informaes necessrias para eficontr-lo, e eu hei .e matlo com minhas prprias mos, sse '' rei dos judeus " ! . . . Ho : ' le ver . . . .

    /

    J furo zncen soJ m zrra

    Saindo de J erpsalm, os magos tiveram a imensa alegria de tornar 1 ver a estrla, que se movia, com sua cauda. de luz, em direo de Belm.

    No foi difil encontrar a casa onde morava Jos, porque o misterioso cometa acompanhou-os com seu facho de luz, pelas vielas da

    83

  • velha cidade de Davi, e foi iluminar a casa onde se encontrava o me- runo.

    Apenas entraram onde estava Maria com Jesus, os magos ajoelharam. Ignoravam a Bblia, mas como sbios observadores da natureza, compreendiam que s Deus pode mandar aos astros e fazer-se servir pelas estrl_; aqule menino, pobre mas maravilhosamente belo, devia ser Deus, uma vez que as estrlas lhe obedeciam e se encarregavam de guiar os peregrinos sua morada. E . . . adoraram-no.

    Em seguida, abriram seus tesouros e presentearam Jesus com ouro, incenso e mirra: com o ouro Jesus era homenageado como rei do cu e da terra; o incenso significava a adorao a Jesus como Deus; a mirra ( resina preciosa, odorfera e amarga que servia para curar, embalsamar e preservar da corrupo ) indicava a perenidade eterna e incorruptvel do reino de Jesus, que no ter fim, e ao mesmo tempo, simbolizava os so&iinentos e a morte a que Jesus devia sujeitar-se e vencer para redimir o mundo.

    * * *

    Jos nunca tinha visto tanta riqueza. Depois de agradecer aos gegerosos magos os prciosos presentes, distribuiu tudo entre os pobres, principalmente entre os pastres dos arredores de Belm, que por Jesus se tinham privado de tantas coisas de que les prprios precisavam.

    O velho Eleazar no queria aceitar nada. Jos insistiu: - Com um pouco de ouro voc pode comprar uma tenda nova

    para a famlia, mandar colocar uma porta e construir um muro de pedras caiadas na gruta do tio Tobit, onde nasceu Jesus.

    Eleazar, ento, aceitou, mas quis retribuir, presenteando Jos com o melhor jumento que encontrou em Belm.

    .

    - Servir-lhe- para voltar a . Nazar - explicou. - Embora voc j tenha um, a viagem longa. Alm disso, ter dois jumentos no nenhum luxo para ningum.

    Mais tarde Eleazar mandou limpar e embelezar a gruta onde tinh nascido Jesus, e no quis mais que fsse usada como abrigo de ani mais . Ningum mais a chamou " gruta _do tio Tobit" : tornou-se come que um pequeno, um simples templo dos humildes pastres e passot a chamar-se " a gruta de Jesus" .

    84

  • Florena, Capela do Palcio Mdic.

    Cortejo dos magos

  • Outro caminho para o oriente

    Os magos ficaram alguns dias em Belm, mantendo longos con-1 tatos com Maria e Jos. Pediram que lhes fssem explicadas minuciosai mente as profecias bblicas que falavam do Messias e, sobrenaturalmente iluminados, fizeram ardorosa profisso de f, crendo que Jesus era realmente o Filho de Deus feito hoem para salvar o mundo do pecado.

    Como os: pastres foram os representantes do povo israelita no dar testemunho de Jesus, os magos foram os representantes de todos os povos pagos. Voltando para sua ptria, foram os primeiros apstolos em suas terras.

    J estavam prontos para regressar ao oriente, quando um anjo, lhes revelou os inquos planos de Herodes, que tramava a morte de Jesus. Tomaram, ento, outro caminho, e voltaram para suas longnquas terras sem passar por Jerusalm.

    Entrementes, Jos e Maria, pobres como quando vieram, resolveram deixar Belm e retornar a Nazar.

    Deus, porm, como acontece com freqncia, tinha outros planos.

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  • A fria intil de um rei ludibriado

    Impacincia no pao real

    Herodes no confiava absolutamente em ningum. Falara secretame.Qte com os magos e, sem nada comentar com ningum a respeito, esperava impaciente a volta dles, para poder dirigir-se a Belm e matar Jesus, que le considerava rival perigoso.

    Belm no fica longe de Jerusalm. Mas os magos demoravam. Diriamente Herodes vasculhava com o olh,ar a estradela poeirenta que ligava Jerusalm a Belm, porm a suspirada caravana de camelos e dromedrios no assomava no horizonte.

    Para no despertar suspeitas em seus servidores, Herodes escon dia-lhes seus negros planos. E pensava consigo:

    - Os magos, naturalmente, no tm nenhuma pressa. Que diacho! Vieram de to longe para ve um menino e \ ficaro certamente f!lguns dias para festej-lo. . . lgico! . . . Tambm, com tdas aquelas provises e riquezas, podero viajar anos! . . .

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  • Com essas--e outras consideraes similares, Herodes procurava suavisar a ansiedade que o domirtava. Passads, porm, algumas semanasde impaciente e angustiosa espera, deu-se conta de que- os magos o tinham ludibriado. Tinham desaparecido da regio, sem deixar o mnimo trao de sua pitoresca caravana.

    Ao rez , pouco interessam as profecias

    O rei ficou enfurecido. Convocou novamente sacerdotes, sbios e rabinos de Israel, e quis ouvir com a mxima ateno as mais minuciosas explicaes da Bblia sbre o Messias.

    Enquanto um dos sacerdotes lia em voz alta as profecias de Daniel, Miquias, Isaas, percorrendo os rolos de papiro da Bblia, o rei com seu olhar turvo fixo em terra, media a grandes passadas a sala.

    De repente parou e bradou: - Basta ! Quem lhes garante que seja verdade sse palavrrio?

    Vocs chamam-nas profecias, mas no passam de conversa fiada, pura conversa fiada e invencionices de carolas ! Fora daqui ! Mostrar-lhes-ei quem sou eu e quem .. _ _ o "rei poderoso, o grande dominador de Israe1" !

    O leitor estremeceu. Porm, no se tinha equivocado ! Na Bblia estava bem claro : "De ti, Belm, sair o Messias, o rei que dever governar Israel. . . " Amedrontado com os brados descontrolados do rei, o sacerdote enrolou depressa o papiro consultado e, junto com os outros, saiu precipitadamente.

    Herodes, fora de si pelo cime e mdo de um rival que viesse a priv-lo do trono, reuniu seus piores esbirros, e deu-lhes ma terrvel ordem. Poucos minutos depois, um esquadro armado pa_rtia de galope em direo a Belm.

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  • MINIATURA DE LIVRO DE HORAS (sc. XV) Vaticano, Biblioteca

    Fuga para o Egito

  • Deus chega sempre m tempo

    Na tarde anterior, na cidade de Davi, Jos tinha terminado os preparativos para regressar a Nazar. Num csto reuniu suas poucas coisas, umas: roupas, um odre cheio de bom vinho . . Maria deitou cedo com o menino Jesus, a fim de estar pronta para partir ao clarear do dia. Durante a noite, porm, Jos teve uma viso. Apareceu-lhe um anjo e lhe falou:

    - Jos, levant.a-te depressa. Toma o menino e sua me; e parte imediatamente, que 'Herodes procura Jesus para mat-lo. Foge para o Egito'. L estareis a seguro.

    Jos no esperou mais um minuto. Chamou Maria e explicou-lhe . ,., a v1sao.

    - Partamos j, - respondeu a Virgem. - Se Deus quis avisar--nos a estas horas, sinal de que no temos tempo a perder.

    * * ,.,

    Enquanto Belm estava imersa no sono, a sagrda Famlia rumava para o Egito. Saram da cidade, passaram diante da gruta e dali alcanaram a tenda de Eleazar. O ancio cochilava perto do fogo, montando guarda. Ao aproximar-se da pequena comitiva, os ces ladraram, mas o pastor reconheceu a voz do amigo, e acalmou-se.

    - Eleazar - cochichou Jos - n6s vamos. Voc foi .P primeiro amigo que Deus nos fz encontrar em Belm, e quero agradecer-lhe: s a voc confio um grande segrdo. Amanh, em Belm, todos pensaro que eu parti para Nazar, como estava decidido. Saiba, ao invs, que devemos fugir no sei ainda para que cidade, porque Herodes procura Jesus para mat-lo. Eleazar, fique de sobreaviso, porque todos sabem que voc era nosso amigo, e Herodes procurar, por isso, faer-lhe mal. Deus lhe pague por todo o bem que nos fz. Adeus, velho

    amtgo . . . Jos desapareceu na noite. Eleazar saudou-o agitando a mo tr

    mula.

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  • De madrugada, quando os pastres acordaram, viratn u jumento amarrado a uma rvore ali perto. Eleazar compreendeu imediatamente :

    - de Jos ! . . . Deixouo aqui e fugiu cm aqule que lhe presenteei.

    E era realmente assim. Jos retribuiu o presente do pastor amigo. Porque, entre os pobres, h verdadeira amizade!

    \

    Chora-se em- Belm

    Ao meio-dia em ponto os esbirros de Herodes entravam em Belm. Poucas horas depois a cidade vestia-se de crepe: o prfido rei tinha mandado matar tdas as crianas do sexo masculino de Belm, de dois anos para baixo. Pensava, assim, suprimir tambm o temido nvo " rei dos judeus " . Deus, porm, como j vimos, tinha desvendado seus planos sanguinrios.

    O mundo comeava a dividir-se em dois campos em trno de Jesus. Como dissera Simeo, le seria " um sinal de contradio " : os bons que o amam, e os maus que o odeiam.

    Belm em