A LOGÍSTICA DA EXPORTAÇÃO DE SOJA DO ESTADO DE MATO GROSSO PARA O PORTO DE SANTOS

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    Maria Lcia Rangel FilardoDoutora em Economia pela USP e professora da Faculdade de Economia e Administrao Departamento deEconomia da mesma instituio. Pesquisadora da Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas (FIPE), onde atuacomo coordenadora tcnica do ndice Nacional do Custo do Transporte Rodovirio de Carga e do ndice deDesempenho Econmico do Transporte.

    Antonio Augusto IlarioGraduado em Economia pela FMU/SP. Pesquisador da Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas (FIPE) desde1995. Possui dez anos de experincia na rea de Transporte, com ampla experincia no modal Ferrovirio deCarga. Participao na elaborao e manuteno de ndice de Custo de Transporte Urbano de Passageiros eRodovirio de Carga. Responsvel pela anlise de dados dos modais Ferrovirio e Urbano de Passageiros sobreRodas.

    Gerson Daniel da SilvaGraduado em Economia pela FEA/USP. Pesquisador da Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas (FIPE)desde 1995. Possui dez anos de experincia na rea de Transporte. Participao na elaborao e manuteno dondice IDET setor Transporte rodovirio de cargas. Responsvel pela anlise dos dados dos modais Rodoviriode Carga, Aquavirio de Carga, Aerovirio de Carga e Aerovirio de Passageiros.

    Marcelo Alves de CarvalhoGraduado em Economia pela FEA/USP. Pesquisador da Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas (FIPE) entre2000 e junho de 2005. Responsvel pela anlise dos dados do modal Rodovirio de Passageiros entre 2000 e

    junho de 2005, alm de responsvel pela anlise dos dados do ndice INCT no mesmo perodo.Av. Corifeu de Azevedo Marques, 5677 So Paulo SP CEP 05339-005.E-mail: [email protected].

    A LOGSTICA DAEXPORTAO DE SOJA DOESTADO DE MATO GROSSOPARA O PORTO DE SANTOSTHE LOGISTICS OF THE EXPORTATION OF SOYBEENS FROM THE

    STATE OF MATO GROSSO TO THE SANTOS SEAPORT

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    O objetivo deste artigo descrever todo o processo de transporte da soja pro-

    duzida no Estado de Mato Grosso e exportada pelo Porto de Santos, e mostrar

    que ainda existem muitos gargalos na infra-estrutura desta rota que geram custos

    muito elevados. Primeiramente, ser verificado o custo do transporte rodoviriodentro do Estado de Mato Grosso, seguido pelo levantamento dos custos das

    opes disponveis para transportar a soja de Mato Grosso at o Porto de Santos

    e, finalmente, ser analisada a situao do embarque no Porto de Santos. A

    importncia deste trabalho reside no fato de ser feita uma avaliao dos custos

    econmicos de uma cadeia completa de transporte que inclui o transporte rodo-

    virio, o ferrovirio e o embarque porturio de um importante produto da nossa

    pauta de exportao que, por seu volume fsico, tem o custo de transporte como

    um componente muito importante.

    Palavras-chave: Custo do transporte; infra-estrutura; logstica.

    This paper aims to describe the whole process of transportation of the soybeans

    produced in State of Mato Grosso and exported through Santos Seaport, and to

    show that it still exists many deficiencies in the infrastructure of this route, which

    generates very high costs. First of all, the cost of the highway transportation will be

    analyzed within the State of Mato Grosso, followed by a survey of the available

    options costs to transport the soybeans from Mato Grosso to Santos Seaport

    where, the embarkment conditions will be discussed at end. The importance ofthis work resides in the fact that an evaluation of the economic costs was made on

    a complete chain of transport that includes highway, railroad and ship transporta-

    tion of an important product of our export list, and because of its physical amount,

    the costs must be considered as a very important component of the process.

    Keywords: Cost of transport; infrastructure; logistics.

    Resumo

    Abstract

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    ranking foi atingida na safra de 1999/2000, quando o Estado produziu 8,8milhes de toneladas, superando o Estado do Paran em 1,6 milhes de tone-ladas. A partir de ento o Estado no perdeu mais sua posio de destaque,como se pode ver no Grfico 1. Na safra de 2003/2004 foram colhidas 49,8milhes de toneladas no pas.

    Grfico 1

    Produo de soja

    Fonte: Conab.

    Cerca de dois teros da soja produzida no Estado Mato Grosso embarca-da em caminhes e/ou pela Brasil Ferrovias, chegando at Porto de Santos,onde exportada. Este custo de transporte ser analisado neste artigo.

    Primeiramente verifica-se o custo do transporte rodovirio dentro do Esta-do de Mato Grosso. Das fazendas produtoras de soja at Rondonpolis

    podem-se percorrer distncias de at mil quilmetros de caminho ou decaminho bitrem, em estradas mal pavimentadas. A soja em Rondonpolis transportada em caminhes por 270 km de estrada at atingir o Porto Seco de

    Alto Taquari, onde armazenada em silos. O transbordo dos silos para o tremda Ferronorte realizado mecanicamente. Do Porto Seco de Alto Taquari ato Porto de Santos o tempo de transporte da soja de 66 horas, e realizadonum trem nico (que s transporta um produto, evitando paradas para carre-gar ou descarregar novas cargas).

    1990

    /1991

    1991

    /1992

    1992

    /1993

    1993

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    1999

    /2000

    2000

    /2001

    2001

    /2002

    2002

    /2003

    2003

    /2004

    Milhesdetoneladas

    Safra

    Mato Grosso Paran

    16

    14

    12

    10

    8

    6

    4

    2

    0

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    Como a soja pode ser enviada do produtor ao Porto de Santos por caminho preciso comparar o custo do transporte rodovirio com o rodo-ferrovirio.

    Finalmente ser analisada a situao do embarque desta soja no Porto deSantos. Depois da Lei dos Portos, o nmero de terminais privativos aumen-tou, ampliando o espao para atracao de navios. Assim, soja de MatoGrosso pode ser embarcada em terminais privativos em Santos diminuindo otempo para chegar ao exterior. Mas, mesmo assim ainda existem gargalos noPorto de Santos.

    A importncia deste trabalho reside no fato de ser feita uma avaliao dos

    custos econmicos de uma cadeia completa de transporte, que inclui o trans-porte rodovirio, o ferrovirio e o embarque porturio de um importante pro-duto da nossa pauta de exportao que, por seu volume fsico, tem o custo detransporte como um componente muito importante.

    2CUSTO DO TRANSPORTE RODOVIRIO DA SOJA

    Para a safra 2004/2005, estimativas da Companhia Nacional de Abasteci-

    mento (Conab) apontam para uma colheita no Estado de 16,2 milhes detoneladas, enquanto a produo total do pas dever atingir um recorde de61,4 milhes de toneladas. Na safra de 2003/2004 foram colhidas 49,8milhes de toneladas de soja no pas; em Mato Grosso foi colhida cerca de30% de toda a safra nacional.

    No Estado do Mato Grosso, assim como no restante do pas, grande parteda safra destinada exportao. Um clculo bastante preciso deveria utili-zar o percentual exportado sobre o suprimento total de soja menos o estoquefinal (o suprimento dado pela soma do estoque inicial com a produo doano e a importao); mas,grosso modo, o estoque inicial se anula com o esto-que final e o volume importado no significativo para alterar os clculos.

    Logo, calcularemos o percentual destinado exportao somente sobre ovolume total de produo.

    Do volume total de produo do gro, parte destinada ao consumo eoutra parte destinada diretamente exportao. O volume destinado aoconsumo dividido entre o consumo interno (que no significativo) eesmagamento; desse total, a quase totalidade (em mdia, 96%) destinada aoesmagamento. Do processo de esmagamento surgem dois subprodutos quesero destinados ao consumo direto ou exportao: leo de soja e farelo de

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    soja. O leo vegetal tem uma utilizao bastante difundida, e o farelo utili-zado basicamente na avicultura e na suinocultura. Somando-se os valoresdestinados exportao do Complexo Soja (gro, farelo e leo), verifica-seque atualmente mais de trs quartos deste Complexo destinado exporta-o, conforme a Tabela 1.

    Tabela 1

    Complexo de soja Soja em gro, farelo de soja e leo de soja

    em mil toneladas

    Produo xportao xportao

    de soja Gro Farelo leo Total Produo

    1998/99 30,765 8,917 10,431 1,433 20,781 68%

    1999/00 32,345 11,517 9,375 1,100 21,992 68%

    2000/01 38,432 15,675 10,800 1 ,400 27,875 73%

    2001/02 41,917 16,000 12,800 1 ,800 30,600 73%

    2002/03 52,018 20,300 14,500 2 ,400 37,200 72%

    2003/04 49,770 21,000 14,500 2 ,500 38,000 76%

    Fonte: Conab.

    A quase totalidade da produo no Estado de Mato Grosso pode ser sub-dividida em quatro regies: BR-163, Grande Primavera, Grande Tangar eRondonpolis. Historicamente, as principais vias de escoamento utilizam asBRs 163 e 364 para o transporte rodovirio at Alto Taquari (Sudeste doEstado) onde a soja embarcada nos vages da Brasil Ferrovias (BF), atraves-sando o Nordeste do Estado de Mato Grosso do Sul, entrando no Estado deSo Paulo e seguindo at o Porto de Santos.

    Essas vias rodovirias, juntamente com outras vias federais ou estaduais

    que so utilizadas nas proximidades das fazendas produtoras, foram classifi-cadas pela Pesquisa CNT de 2004 como deficientes tanto no que tange aopavimento quanto s suas geometrias e sinalizaes. A tabela a seguir mostraas condies das principais rodovias de Mato Grosso.

    As condies deficientes apontadas pela Pesquisa CNT de 2004 impactamdiretamente nos custos do transporte rodovirio. Por exemplo, a velocidademdia com que operam as composies que transportam soja na regio deaproximadamente 30 km/h. No clculo do custo do transporte rodovirio de

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    Carga Lotao apurado mensalmente pela FIPE, o valor mdio utilizado comoparmetro para clculo dos custos e que foi apurado junto s principaisempresas de transporte de carga do pas de quase 60 km/h. Isso significaque, ceteris paribus, a soja demora quase o dobro do tempo para ser escoadaquando comparada com outras rotas cujas condies so superiores s vias deescoamento da soja. As condies das estradas tambm aumentam os custosquando se tem em conta o menor rendimento do combustvel, o maior des-gaste dos pneus, custos mais elevados de manuteno etc., apenas para citarparmetros mais significativos na composio do custo total.

    Tabela 2

    Avaliao das rodovias

    Mato Grosso

    Rodovias Extenso Classificao

    Pesquisada km Estado geral Pavimento Sinalizao Geometria

    BR-070 720 Deficiente Deficiente Deficiente Ruim

    BR-158 344 Ruim Ruim Ruim Ruim

    BR-163 916 Deficiente Deficiente Deficiente Deficiente

    BR-174 594 Deficiente Bom Deficiente DeficienteBR-364 710 Deficiente Deficiente Deficiente Deficiente

    MT-246 81 Deficiente Deficiente Deficiente Pssimo

    MT-320 189 Pssimo Ruim Pssimo Pssimo

    MT-343 20 Deficiente Deficiente Deficiente Ruim

    MT-358 120 Deficiente Ruim Deficiente Ruim

    Fonte: Pesquisa Rodoviria CNT 2004.

    Dados do IBGE, apresentados na Tabela 3, mostram que at setembro de2004 o Estado do Mato Grosso havia produzido 14,5 milhes de toneladas desoja e exportado 7,4 milhes de toneladas do Complexo Soja. Esse totalexportado equivale a 51% da produo e difere dos trs quartos apontadosanteriormente. Mas os dados desagregados do Porto de Santos para 2004revelam que at o ms de julho haviam sido exportados 7,7 milhes de tone-ladas do Complexo Soja (4,5 milhes de toneladas de gro; 2,3 milhes detoneladas de farelo e 0,9 milho de toneladas de leo). Comparados com ototal exportado no ano inteiro, at o ms de julho haviam sido exportados80% do gro, 61% do farelo e 59% do leo. O escoamento, portanto, tem

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    uma distribuio desigual ao longo do ano; por isso, at o ms de julho nohaviam sido exportados o equivalente a trs quartos do total produzido dogro, mas a proporo se verifica quando tomamos os dados fechados para oano: dos 15 milhes de toneladas produzidas em Mato Grosso, 10,9 milhessaram pelo Porto de Santos, o que equivale a 73% do total.

    A produo apontada pelo IBGE foi realizada nas quatro grandes regiessupracitadas e se distribuiu da seguinte maneira: 4,5 milhes de toneladas naregio da BR 163; 3,3 milhes de toneladas em Grande Primavera; 4,2milhes de toneladas em Grande Tangar e 2,5 milhes de toneladas em Ron-

    donpolis. Os municpios que essas regies abrangem distam de Ron-donpolis, em mdia, respectivamente, 552, 166, 642 e 105 quilmetros.Levando-se em conta a proporo produzida em cada regio, e ponderandoessas quantidades pela distncia mdia de cada regio at Rondonpolis, che-gamos a uma distncia mdia geral at Rondonpolis de 413 quilmetros.Somados 270 quilmetros de distncia at Alto Taquari, chegamos a um per-curso rodovirio mdio de 683 quilmetros das fazendas produtoras at o ter-minal ferrovirio da Ferronorte em Alto Taquari.

    Tabela 3

    Mercado de soja no Mato Grosso

    Safra 2003/2004

    Principais Produo Disponvel p/ Export. Distncia Distncia

    regies em Milhes export. em at Set./04 mdia de mdia de

    produtoras de t. 1 Milh.de t. 2 Rondonpolis Santos

    km km

    BR-163 4,5 3,4 552 1.877

    Gde. Primavera 3,3 0,3 166 1.462

    Gde. Tangar 4,2 3,2 642 1.995

    Rondonpolis 2,5 0,5 105 1.393

    TOTAL 14,5 7,4 4,13

    (1) Fonte: IBGE, set. 2004.

    (2) Previso sujeita reviso.

    A distncia percorrida por trem de Alto Taquari at Santos de 1.404 qui-lmetros. Ento, se a soja utilizar a multimodalidade para ser transportada,percorrer em mdia 2.087 quilmetros de sua regio produtora at ser

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    exportada no Porto de Santos. O custo do transporte ferrovirio para umadistncia de 1.404 quilmetros est atualmente em R$ 85,00 (US$ 32,69) portonelada (fevereiro de 2005). Este o custo terico de uma viagem, o que noexclui o fato de que podem existir descontos para grandes contratos.

    Apuraes com alguns transportadores da regio de Sorriso mostram queo frete para uma viagem de Sorriso at Alto Taquari de R$ 75,00 (US$28,85) por tonelada (fevereiro de 2005). Este valor dividido pela distncia deSorriso at Alto Taquari, que de 908 quilmetros, nos fornece um valor deR$ 0,0826 por tonelada quilmetro. Multiplicando este valor pelos 683

    quilmetros apurados anteriormente, chegamos a um valor de R$ 56,42 (US$21,70) para o percurso rodovirio das fazendas produtoras at Alto Taquari.Somando o valor do percurso rodovirio ao do percurso ferrovirio obtemosum total de R$ 141,42 (US$ 54,39) por tonelada para escoar a soja da regioutilizando a multimodalidade.

    Por outro lado, dados do Sifreca mostram que o valor do frete rodoviriopara a rota Rondonpolis-So Paulo (1.730 quilmetros) em janeiro de 2005foi de R$ 135,00 (US$ 51,92) por tonelada. Mas, segundo um agricultor daregio de Tangar da Serra, em Mato Grosso, o custo para o produtor, em2004, para transportar 40 toneladas de soja da regio at o Porto de Santos foide R$ 5.600,00 (R$ 140,00 por tonelada). Em 2005 esse custo subiu para R$

    6.000,00 (R$ 150,00 ou US$ 57,69 por tonelada), o que equivale a umaumento de 7%. A distncia de Tangar da Serra at o Porto de Santos de2.201 quilmetros.

    3CUSTO DO TRANSPORTE FERROVIRIO

    DE ALTO TAQUARI A SANTOS

    No ano de 1999, com a Ponte Rodoferroviria construda, ligando o Esta-

    do do Mato Grosso do Sul ao Estado de So Paulo, houve um aumento dacapacidade potencial para transportar soja, e de toda a soja destinada expor-tao pelo Porto de Santos, a ferroviria transporta 56% naquele ano. Em2000, a participao da ferroviria no corredor passa para 72% e de 2001 a2003 estabiliza-se em 76%, acompanhando o crescimento de 35% no pero-do, mas no conseguindo aumentar sua participao nas exportaes docomplexo soja. Em 2004, com o aumento significativo das exportaes peloPorto de Santos, a participao da ferroviria cai 23%, de 76% para 58%.

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    Apesar dos investimentos realizados no modal, em 2004, a ferrovia noacompanha o crescimento das exportao do complexo soja no Porto de San-tos, conforme podemos ver no Grfico 2.

    Grfico 2

    Exportao de soja em milhares de toneladas

    Fonte: IDET-Fipe/CNT.

    No Centro-Oeste, o Estado do Mato Grosso possui maior produtividade,com 3.000 kg/ha (Tabela 4)

    O custo de produo da soja em 2004 foi de US$ 174/tonelada (Tabela 5). Opreo da soja aumentou significativamente entre 2003 e 2004, chegando a cus-tar US$ 363,50/tonelada em abril de 2004; no mesmo ano, o preo mdio ficouem US$ 277/tonelada, uma margem sobre o custo produo de 59,19%. Emdezembro de 2004 o preo da soja caiu para US$ 198,72/tonelada, resultando,ceteris paribus, numa margem sobre o custo de produo de 14,21%, ou 12,44%sobre o preo de venda. O frete da soja at o porto custa US$ 55,78/tonelada(US$ 57,69/tonelada no modo Rodovirio e US$ 54,39/tonelada na multimoda-lidade Rodoferroviria), 28,07% do preo de venda. possvel que neste caso oprodutor prefira estocar a soja para vender quando o preo internacional subir.

    Exportao de soja via Porto de Santos

    Exportao de soja pelo modo ferrovirio com destino ao Porto de Santos

    11.000

    9.000

    7.000

    5.000

    3.000

    1.000

    1999 2000 2001 2002 2003 2004

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    Tabela 4

    Soja Centro-Oeste

    Produo rea Produtividade

    mil toneladas) mil hectares) kg/ha)

    CENTRO-OESTE 29.091 10.082 2.885

    MT 16.219 5.406 3.000

    MS 5.041 1.977 2.550

    GO 7.699 2.649 2.906

    DF 132 50 2.669

    Fonte: Conab.

    A soja um produto de baixo valor agregado, e portanto pede um trans-porte de baixo custo. Teoricamente, os transportes de menores custos so ohidrovirio e o ferrovirio, e se por um lado a criao da Ferronorte ajudouno aumento da produo de soja no Mato Grosso, por outro encontrou entra-ves logsticos que desafiam a criatividade do empresrio brasileiro e fazemcom que se perca grande parte da vantagem que o Brasil tem no custo de pro-duo. A produtividade brasileira 17% maior do que a produtividade norte-americana; entretanto, os gargalos de infra-estrutura agregam custo logsti-ca de transporte, diminuindo a competitividade dos produtos brasileiros.

    Tabela 5

    Custo de produo de soja

    BRASIL

    MatoGrosso

    2003

    US /ha)

    CUSTOS VARIVEIS

    Semente 19.8

    Fertilizantes 119.5

    Produtos qumicos 63.9

    Mquinas operacionais/consertos 65.8

    Juros do capital 15.6

    Assistncia tcnica 12.9

    Outros 31.3

    Total dos custos variveis 328.8

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    BRASIL

    Mato Grosso

    2 3

    CUSTOS FIXOS

    Depreciao de mquinas e equipamentos 156.6

    Custo da terra 7.8

    Taxas e seguros 4.4

    Retorno do investimento da fazenda 24.5

    Total dos custos fixos 193 3

    Total dos custos de produo

    522

    Produtividade por hectares em kg 3.000

    Total dos custos por tonelada 74

    Fonte: Conab.

    O corredor exportador de Santos na multimodalidade rodoferrovirio ini-cia com o transporte da soja dos centros produtores do Mato Grosso at o

    Alto Taquari, onde a soja segue pelo trem da Brasil Ferrovias BF (Fer-ronorte, Novoeste e Ferroban); na nova linha (Ferronorte), a composiochega velocidade de 80 km/h e termina o trecho com mdia horria de 40

    km/h. Na divisa com So Paulo a malha antiga (Ferroban) e a velocidadechega at 50 km/h, mas termina o trecho at Santos com velocidade mdia de14 km/h; no conjunto a velocidade mdia de 18 km/h, isso porque, notransporte ferrovirio, o corredor exportador de Santos possui aproximada-mente 1.400 quilmetros, dos quais apenas pouco mais de 500 so trilhos daFerronorte; 892 ficam no Estado de So Paulo, que, alm de possuir umamalha antiga, conta com outros fatores que colaboram para a queda da velo-cidade mdia, como a falta de sinalizao, de obras civis (contornos, viadutose pontes), impasses sobre o regime de passagem (trfego mtuo ou direito depassagem) e invases por habitao popular na faixa de domnio da ferrovia.Com a frota atual, para a ferrovia escoar toda a produo que foi para o Porto

    de Santos em 2004, teria que reduzir o ciclo (tempo de ida e volta de umacomposio) em aproximadamente 40%. Para reduzir o ciclo, pode-seaumentar a velocidade mdia no corredor, diminuir o tempo de carga e des-carga, ou, ainda, efetuar a combinao das duas hipteses; certamente tama-nha eficincia requer soma significativa de investimentos.

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    4CARACTERSTICAS E CUSTOS DO PORTODE SANTOS NO EMBARQUE DA SOJA

    O Porto de Santos apresentou aumento expressivo na exportao de soja,tornando-se uma alternativa ao Porto de Paranagu, embora o ltimo conti-nue a principal via de embarque da soja exportada. Contudo, como a Tabe-la 6 abaixo demonstra, os dois portos so responsveis pela maior parte da

    exportao de soja do pas.No Porto de Santos, a exportao feita basicamente via porto pblico, e

    este evento se intensificou principalmente em tempos mais recentes, pelo fatode a exportao ter crescido e vrios operadores passarem a exportar a soja,tanto utilizando terminais privados como o porto pblico. Analisamos aquios dados de 2002/2004, devido exportao de soja nestes trs anos ter ultra-passado os oito milhes de toneladas:

    Tabela 6

    Evoluo da exportao de soja em Santos e Paranagu toneladas2000 2001 2002 2003 2004

    Paranagu 9.208.983 10.898.709 11.909.532 13.351.524 11.969.899

    Santos 2.135.252 6.163.519 8.248.934 8.709.521 10.944.197

    Total 11.344.235 17.062.228 20.158.466 22.061.045 22.914.096

    Fonte: Codesp/APPA.

    Tabela 7

    Exportao geral no Porto de Santos 2001/2004 toneladasermin l pblico ermin l priv do ot l

    2.001 40.884.414 7.277.179 48.161.593

    2.002 45.681.764 7.792.504 53.474.268

    2.003 50.343.295 9.733.778 60.077.073

    2.004 58.005.326 9.604.427 67.609.753

    Total 194.914.799 34.407.888 229.322.687

    Fonte: Codesp.

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    Tabela 8

    Embarque de soja no Porto de Santos 2002-2004 em toneladas

    ermin l pblico ermin l priv do ot l

    2002 4.813.610 3.435.324 8.248.934

    2003 5.644.579 3.064.942 8.709.521

    2004 7.259.332 3.684.865 10.944.197

    Total 17.717.521 10.185.131 27.902.652

    Fonte: Codesp.

    Nota-se nas Tabelas 7 e 8 uma participao maior dos terminais privadosem relao ao embarque de soja, do que em relao carga geral. Este aspec-to importante, pois os terminais privados apresentam grau de especializaomaior para determinadas cargas do que o porto pblico, e isto agiliza o pro-cesso, como fica demonstrado no tempo de permanncia do navio no cais,para terminais pblicos e privados, nos Grficos 3 e 4.

    Grfico 3

    Tempo de permanncia do navio no cais porto pblico

    Fonte: Codesp.

    jan./2

    002

    abr./2

    002

    jul./2

    002

    out./2

    002

    jan./2003

    abr./2003

    jul./2003

    out./2

    003

    jan./200

    4

    abr./2

    004

    jul./2

    004

    out./2

    004

    Navios

    Tempo

    120

    100

    80

    60

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    0-24 24-28 48-36 72-

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    Antonio Augusto Ilario; Gerson Daniel da Silva; Marcelo Alves de Carvalho

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    Grfico 4

    Tempo de permanncia do navio no cais terminais privados

    Fonte: Codesp.

    Como a maior carga, contudo, embarcada no porto pblico, o processodo embarque de soja fica um pouco mais lento, uma vez que a porcentagemde navios embarcados num tempo menor maior nos terminais privativos, deforma que o total de navios embarcados maior nos terminais privados doque no porto pblico, como indica o Grfico 5.

    Esta diferena entre os dois cais (pblico e privado) deve-se demora maisno embarque no porto pblico, uma vez que os possveis motivos de atraso,como documentao alfandegria, necessidade de um calado compatvel como tamanho do navio, espera de mar, e at a espera pelo carregamento com-pleto do navio (que pode embarcar diversas mercadorias, alm da soja), fazcom que a sada de navios apresente uma distribuio mais homognea e pre-dominante em at 24 horas depois da chegada do navio nos terminais priva-

    dos, e uma distribuio mais heterognea no porto pblico.Alm disto, h a questo dos fobbings (custo da movimentao de cargadentro do porto e embarque). No Porto de Santos, os mesmos oscilam entreaproximadamente US$ 6,00 e US$ 9,00 por tonelada. Este valor calculadocom base nos contratos estabelecidos, de modo que maiores contratos obtmmenores valores para osfobbings, e contratos menores obtm valores maiores. sem dvida um valor bastante alto para os padres brasileiros, impactandode maneira significativa no frete total da soja.

    jan./200

    2

    abr./2

    002

    jul./20

    02

    out./2

    002

    jan./200

    3

    abr./2

    003

    jul./20

    03

    out./2

    003

    jan./200

    4

    abr./2

    004

    jul./20

    04

    out./2

    004

    Navios

    Tempo

    200

    180

    160

    140

    120

    100

    80

    60

    40

    20

    0-24 24-28 48-36 72-

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    Grfico 5

    Total de navios embarcados

    Fonte: Codesp.

    Considerando estes dois fatores (maior lentido no embarque da soja, porser realizada prioritariamente no cais pblico) e o preo dosfobbings no Portode Santos, pode-se concluir que h significativo gargalo no porto para a

    exportao de soja.

    5CONCLUSES

    Levando-se em conta que estamos trabalhando com preos mdios e queos valores obtidos para o transporte rodovirio e o transporte rodoferrovirioesto muito prximos, podemos dizer,grosso modo, que o preo do transpor-te o mesmo qualquer que seja a via de escoamento escolhida, exceto para os

    grandes contratos que podem obter descontos no percurso ferrovirio. Por-tanto, h uma complementaridade entre os modais, possibilitando o escoa-mento de toda a produo da soja do Estado de Mato Grosso.

    Dados do ano de 2004 do Porto de Santos mostram que dos 10,9 milhesde toneladas do Complexo Soja exportado por esse porto, aproximadamente6,3 milhes de toneladas chegaram ao porto por via ferroviria e 4,6 milhesde toneladas por via rodoviria. Levando-se em conta que em 2003 a via fer-roviria havia transportado 6,6 milhes de toneladas e a via rodoviria, 2,1

    jan./2002

    abr./2002

    jul./2002

    out./2

    002

    jan./2003

    abr./2003

    jul./2003

    out./2

    003

    jan./200

    4

    abr./200

    4

    jul./200

    4

    out./2

    004

    Navios

    Tempo

    300

    250

    200

    150

    100

    50

    Total pblico

    Total privado

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    milhes de toneladas, dos 8,7 milhes de toneladas exportadas em 2004, omodal ferrovirio no conseguiu manter sua participao dos ltimos anos noescoamento do Complexo Soja, resultando num aumento significativo domodal rodovirio no escoamento da produo. Apesar do gargalo existenteno Porto de Santos, foi possvel atender, em 2004, um acrscimo de 25% emrelao a 2003 na exportao do Complexo Soja.

    Conclumos que os custos de transporte da soja de Mato Grosso para oPorto de Santos so muito elevados. Nossas estimativas indicam que estecusto est entre US$ 58/t e US$ 63/t e segundo Tavares (2004), em Illinois

    (Estados Unidos) o custo US$ 29/t, e no Pampa (Argentina) de US$ 16,4/t.Assim o custo de transporte quase quatro vezes maior que o menor custoquando se realizam comparaes internacionais.

    A logstica de transporte exige que os gargalos de todos os modos detransporte sejam tratados de forma balanceada. Assim, so necessrias aexpanso e a modernizao da malha da Brasil Ferrovias, a pavimentao dasestradas do Estado de Mato Grosso e a modernizao do Porto de Santos.No se pode deixar de considerar outras possibilidades de escoamento dasoja que no foram objeto de nossa anlise, pois a soja plantada no Norte doMato Grosso pode ser transportada pelo Rio Madeira at o Rio Amazonas edo Porto de Manaus ser embarcada para o exterior, o que atualmente dif-

    cil, com custos muito elevados, pois as rodovias que atravessam o Estado doAcre no so pavimentadas.

    AGNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT). Disponvel em:

    .

    ASSOCIAO NACIONAL DOS USURIOS DO TRANSPORTE DE CARGA (ANUT). Disponvel

    em: .

    DADOS DO PORTO DE PARANAGU, Disponvel em: .

    DADOS DO PORTO DE SANTOS. Disponvel em: .

    FRETES RODOVIRIOS. Soja. Disponvel em: .

    NDICE DE DESEMPENHO ECONMICO DO TRANSPORTE (IDET) FIPE/CNT. Disponvel

    em: .

    Referncias

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    Revista de Economia Mackenzie Ano 3 n. 3 p. 35-52

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    NDICE NACIONAL DO CUSTO DO TRANSPORTE RODOVIRIO DE CARGA (INCT)

    FIPE/NTC. Disponvel em: .

    MINETTO, T. Custo de produo da lavoura de soja no Rio Grande do Sul. Disponvel em: .

    MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO. Disponvel em: .

    MINISTRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDSTRIA E COMRCIO EXTERIOR. Disponvel em:

    .

    SOJA BRASIL. Srie Histrica de Produo. Disponvel em: .

    SUMRIO EXECUTIVO. Soja. Disponvel em: .

    TAVARES, C. E. C. Fatores crticos competitividade da soja no Paran e no Mato Grosso . Disponvel

    em: .