A LITERATURA INFANTO - JUVENIL E AS QUESTÕES SOCIAS

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FACULDADE SÃO LUÍS DE FRANÇA Aracaju-SE, Brasil, 24 e 25 de novembro de 2012

A LITERATURA INFANTO - JUVENIL E AS QUESTÕES SOCIAS

Danielle Santos OLIVEIRA (Universidade Federal de Sergipe)1

RESUMO: O presente artigo tem como finalidade mostrar o quanto a literatura infanto-

juvenil é relevante para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Neste artigo, será

enfatizada a visão social da literatura infanto-juvenil e quais as suas vantagens diante de um

público em crescente desenvolvimeto. Usamos como ponte mediadora para o assunto uma

obra adaptada do grande escritor francês victor hugo “les misérables”, a adaptação tem como

autor walcyr carrasco. Uma obra encantadora que nos leva a pensar e questionar o caráter

humano, analisar as questões socias da época e ligá-las ao mundo atual. A literatura infanto-

juvenil serve como meio de informação para esses leitores em formação e uma de suas

funções é facilitar a compreenção do indivíduo, ajudando-o na construção de suas próprias

ideias, estimulando seu senso crítico, ou seja, mostrando ao jovem o mundo de diversas

maneiras e formas para que ele possa tirar suas próprias conclusões. O livro analisado “os

miseráveis” tem uma linguagem objetiva e retrata a sociedade da época com bastante

veracidade. No artigo também será abordado a questão das faixas etárias, qual seria o livro

mais adequado para cada idade? Relacionaremos as fábulas de la fontaine com a obra

analisada. Por fim, abordaremos as linhas e tendências da literatura infanto-juvenil.

PALAVRAS-CHAVE: crianças, fábulas, desenvolvimento, social, sociedade.

Introdução

O que se pretende com este artigo é mostrar o quanto a Literatura Infanto – Juvenil é

relevante no que diz respeito ao desenvolvimento e aprendizagem de crianças e adolescentes,

e como através da leitura podemos mostrar aos nossos alunos o verdadeiro mundo em que

vivemos.

O livro analisado é uma adaptação feita para as escolas públicas, de um projeto

chamado “Literatura em minha casa”. Uma obra encantadora que nos leva a pensar e

questionar o caráter humano, analisar as questões sociais da época e fazer comparações com

os dias atuais.

Os Miseráveis é uma obra antiga, que retrata a sociedade da época com bastante

1 Graduada em letras Português Espanhol pela Universidade Federal de Sergipe, pós

graduando em Língua Portuguesa e Literatura. E-mail: [email protected]

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veracidade, a história começa com o personagem principal Jean Valjean, que após ter roubado

um pão para dar aos seus entes que estavam com fome é preso e passa mais de 19 anos de sua

vida na prisão, ao sair de lá, sem nada, sofre com o preconceito e com as dificuldades da vida.

Revoltado, não acredita mais nos seres humanos, os anos de cadeia transformaram o homem

simples em um homem sem fé, sem esperança e com ódio da humanidade. Mas surge em sua

vida um bispo que lhe ajudou e fez com que ele se recuperasse, a partir desse dia a vida de

Jean Valjean mudou.

Após alguns anos Jean Valjean tornou-se um homem bem sucedido e conheceu

Fantine, mãe de Cosette, uma menina que sofre muito nas mãos da família dos Thenardier que

faz a menina de escrava, Jean Valjean será como seu pai

O social na Literatura Infanto – Juvenil

Para compreender e entender o que a sociedade nos impõe e nos direciona a acreditar,

um dos melhores caminhos é através da Literatura Infanto-Juvenil, pois ela está ligada a

diversos fatores da vida humana, um desses fatores sem duvidas é o social.

Quando falamos em sociedade, não podemos nos esquecer de sua importância para

todos os cidadãos que nela, estão inseridos. Ao falarmos de Literatura Infanto – Juvenil

devemos ter a máxima responsabilidade, pois o seu ensino esta relacionado a um público

ainda em formação, tanto física, como também psicológica, que são as crianças e os

adolescentes.

A Literatura Infanto – Juvenil serve como meio de informação para esses leitores em

formação e uma de suas funções sociais é justamente facilitar a compreensão do individuo,

ajudando-o a criar suas próprias ideias, ensinando-o a ser mais critico a cada dia vivido, ou

seja, mostrar o mundo de diversas maneiras e formas para que ele possa tirar suas conclusões

e expressar suas opiniões. E de onde vem um adulto consciente? Vem de uma criança

consciente, mais uma vez o social intervém, sabemos que nosso país esta aos poucos se

desenvolvendo, mas, ainda existe uma grande desigualdade social, principalmente dentro do

sistema educacional, e sabemos que com uma base fragilizada a criança tem bastante

dificuldade durante o processo de ensino - aprendizagem.

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A obra “Os Miseráveis” tem uma linguagem objetiva e retrata a sociedade da época

com bastante veracidade. Torna-se difícil explicar a uma criança as injustiças cometidas

contra o personagem Jean Valjean, que mesmo depois de ter cumprido sua pena era

constantemente perseguido pelo policial Javet. E Cosette, apenas uma criança e tão maltratada

pela família dos Thenárdier.

Criar nas crianças atos de leitura é um dos principais objetivos de vários educadores,

mas pra que isso aconteça é preciso à ajuda e o compromisso dos governantes para que seja

feita uma politica educacional sem desigualdades e com mais acesso aos livros.

Relacionando as fábulas de La Fontaine com a obra Os Miseráveis.

Voltando ao passado, no surgimento dessa literatura podemos nos basear no livro de

Nelly Novaes Coelho, para entendermos que desde o seu surgimento a Literatura Infanto –

Juvenil esteve e esta ligada as questões sociais, exemplificando, podemos citar as fábulas de

La Fontaineque como Nelly diz em seu livro: “A julgar pelo testemunho de seus

contemporâneos, as fábulas de La Fontaine são verdadeiros textos cifrados que denunciavam,

misérias, desequilíbrios ou injustiças de sua época” (Coelho, 1991, p.82).

Comparando as fábulas de La Fontaine com a obra analisada existe poucas diferenças,

umas delas, são os animais que foram substituídos por personagens humanas em “Os

Miseráveis”, mas o objetivo central é o mesmo, mostrar a miséria, a desigualdade e a injustiça

social presentes na sociedade da época.

Na adaptação do livro, um dos objetivos centrais do autor, é denunciar uma sociedade

que vive de aparências e que despreza aqueles que não tiveram oportunidades na vida, como

é o caso de Jean Valjean, mostra como o dinheiro manipula as pessoas e as fazem cometer

atrocidades. Se observarmos o lado humano da obra veremos como um ato de generosidade

pode transformar o individuo, pois desde o dia que o bispo perdoou Jean Valjean, ele se

transformou e passou a ajudar aqueles que precisavam.

Sabemos que nas fabulas denunciavam misérias e injustiças sociais, igual acontece no

livro, a miséria humana as injustiças sofridas por Jean Valjean e Cosette descreve bem tanto

nas fabulas mais antigas quanto nos livros mais modernos que a sociedade se modernizou

mais ainda precisa evoluir bastante para chegar a uma mudança verdadeiramente significativa,

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pois se observamos ao nosso redor veremos muitas pessoas no momento atual passando pelos

mesmos problemas que nossos personagens e que assim como eles precisam apenas de

alguém que os ajudem.

Escolhendo o livro para a leitura de crianças e adolescentes

Neste tópico falaremos sobre qual livro adequado para esses leitores em

desenvolvimento. Segundo, Maria Antonieta Antunes Cunha: “Já que o livro deve “ensinar”

coisas, escolhemos para nossos meninos aquele que vai desenvolver ideias, proponha

determinadas condutas que nos pareçam as mais adequadas socialmente” (Cunha, 1997,p.54).

Pode-se dizer que a autora faz uma crítica a sociedade conservadora, pois de certa forma

querem esconder de seus filhos a realidade que o cercam, em outro fragmento ela nos diz que:

Temos um temor exagerado de deixar a mão de nossas crianças livros com cenas

indesejáveis: violência, qualquer apelo ao sexo etc. No entanto, revistas, programas

de televisão, o cinema e a própria vida estão ai mostrando um mundo menos

arrumado do que o que apresentamos teoricamente para nossas crianças. (Cunha,

1997, p. 54).

Esse temor é uma das barreiras que precisamos derrubar para poder construir uma

educação com pilares fixos, que possa levar a criança e o adolescente seu senso crítico dos

assuntos destinados a sua realidade de vida ou a qualquer outro relacionado ao que acontece

ao seu redor, mas isso não quer dizer que eles podem ficar expostos a qualquer tipo de

informação de uma maneira cruel, mas sim, prepara-los para a vida externa numa sociedade

que impõem deveres e que proporciona direitos a todos os cidadãos.

Ao levarmos um livro como esse para a sala de aula abriremos vários questionamentos

e é isso que precisamos alunos questionadores, que opinem, que busquem sua verdade, a

leitura liberta, ela nos faz ver horizontes até então desconhecidos.

A questão das faixas etárias

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Algo que é muito importante no que diz respeito à Literatura Infanto – Juvenil são as

faixas etárias. São consideradas três fases para essa literatura: a do mito, a do conhecimento

da realidade e a do pensamento racional, trabalharemos com essa ultima.

A terceira fase corresponde as idades de 11/12 anos até a adolescência, Cunha explica

que:

Sobretudo para essa faixa etária, vem se desenvolvendo no Brasil, desde 1975, a

chamada “literatura realista para crianças”... Esse tipo de literatura pretende levar a

criança assuntos até agora “malditos” ou pelo menos “impróprios para menores” a

morte, o desquite, questões ecológicas e politicas – enfim, problemas de nossa

sociedade. (Cunha, 1997, p.101)

O livro Os Miseráveis enquadra-se tranquilamente nessa faixa etária, pois através de

sua leitura podemos interagir com esses leitores sobre assuntos que no livro é abordado como:

a forma como a sociedade trata um ex- presidiário, fazer comparações com os dias atuais,

podemos também levantar questões sobre trabalho infantil comparando a personagem Cosette

com as crianças que ainda trabalham no Brasil e no mundo, enfatizar o perdão, falar sobre a

Revolução Francesa, enfim podemos explorar os mais diferentes mundos com a leitura dessa

obra. Mostrar a realidade não significa que os livros de literatura destinados a crianças e

adolescentes não contenham elementos fantásticos e imaginários. É o que afirma Cunha no

fragmento abaixo:

Outro ponto a considerar é o de que a conscientização ou discussão da realidade não

se faz obrigatoriamente via realismo: a imaginação e a fantasia podem fazer o

mesmo, por caminhos subterrâneos da trama e, talvez até por isso mesmo, com mais

agudeza e profundidade. O importante é que crianças ou jovens estejam em contato

com todo tipo de obra literária e façam sua opções. (Cunha, 1997, p. 101)

A relevância esta em conduzir a criança ao que ela gosta de ler, tentar desenvolver

nelas os atos de leitura, levando-as a esse universo grandioso que são os livros, dando a elas

possibilidades infinitas de interação com o mundo ao seu redor.

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Linhas e tendências da Literatura Infanto – Juvenil

Agora partiremos do pressuposto das linhas ou tendências da Literatura Infanto –

Juvenil contemporânea para explicar melhor a relação do livro analisado com as questões

sociais.

A tendência seguida pela obra em questão foi a linha do realismo cotidiano com

traços e enigmas policiarescos, mas ainda temos a linhas centradas no Realismo Mágico que é

a fusão do real objetivo com o tran – real e as centradas no maravilhoso que estão situadas

fora do nosso tempo - espaço Coelho ainda diz que: “Ao estudioso cabe, diante de cada livro,

descobrir qual a tendência ali seguida e qual caminho da analise que essa matéria exige”.

(Coelho, 1997, p.138)

Podemos dizer que o livro analisado encaixa-se na linha do realismo cotidiano, pois

retrata a sociedade francesa do século XIX, descrevendo ações do cotidiano. Também

podemos observar traços da dinamização policialesca, quando nos lembramos do personagem

Javet em sua constante perseguição a Jean Valjean.

A literatura destinada as crianças e aos adolescentes aos poucos vem resgatando sua

identidade, os contos de fada receberam uma nova roupagem, já não há mais aqueles sonhos

utópicos, nos dias atuais é comum vermos princesas e príncipes totalmente modernos, com

objetivos diferentes dos de antigamente.

É sempre necessário manter o bom senso e sabermos escolher corretamente o livro

adequado para nossos alunos, para que assim eles possam identificar-se com o livro e

desfrutar de uma boa leitura.

Conclusão

O proposito deste artigo foi explicitar e relacionar a Literatura Infanto – Juvenil com o

social em geral, mostrando o quanto essa literatura é relevante em se tratando da formação de

cidadãos conscientes.

Ao analisarmos a obra Os Miseráveis, fica evidente que o objetivo é conduzir os

leitores ainda em processo de formação a uma literatura consciente e questionadora,

explorando seu lado humano. É importante criar nesses novos leitores os atos de leitura, para

que eles por si mesmos tenham ideias, saibam construir críticas e interagir com as questões

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sociais do mundo.Com o estudo feito através da obra foi possível explorar os problemas e as

injustiças de uma sociedade, isso serve para que o jovem ao entrar em contato com o livro

perceba que aquela história poderia e pode esta bem perto de nossa realidade de vida.

O personagem do nosso livro conseguiu cumprir com seu propósito, mas não podemos

garantir que os “Jean Valjeans” da nossa sociedade atual terão as mesmas chances que nosso

personagem. Cabe a nós educadores pensarmos no valor do ensinamento, na responsabilidade

que temos ao entrarmos em sala de aula. Precisamos conscientizar nossos alunos para talvez

garantir futuramente um país mais justo longe das grades do preconceito e da desigualdade

social. Seria muito bom se pudéssemos mostrar aos nossos alunos e filhos somente as coisas

boas que o mundo tem a nos oferecer, mais infelizmente não podemos nos iludir e muito

menos iludir nossas crianças e nossos jovens.

É preciso mostra-los a verdade por mais dura que seja, é importante ensiná-los a

sonhar, mas é preciso também deixar claro que as dificuldades existem e que precisamos

superá-las. Para isso é necessário uma educação com pilares sólidos, que seja igual para todos

nossos jovens e todas as nossas crianças, pois como sabemos elas são nosso maior tesouro e

delas depende nosso futuro.

Ensinar é um dom extremamente valioso, por isso precisamos nos responsabilizar e

acreditar que podemos sim transformar vidas com nossos esforços e com nossa dedicação.

Referencias

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. 5ª ed. São Paulo:

Editora Scipione, 1995

COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil. São Paulo:

Editora Ática, 1991.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria , análise, didática. São Paulo: editora

Ática, 1997.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: teoria e pratica. 16ªed. São Paulo:

editora Ática, 1997.

HUGO Victor. Os Miseráveis. Tradução e adaptação de Walcyr Carrasco. 1ª ed. São Paulo:

editora FTD, 2001.