A Língua Portuguesa e o Uso de Estrangeirismos

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05-08-2014 Lengua y gramática portuguesa IV Oficina de produção escrita Ensaio nº 4 Silvina Vittar A língua portuguesa e o uso de estrangeirismos Como venimos sustentando desde o começo da nossa labor como pesquisadores, forçar o uso de uma palavra X em detrimento de outra que naturalmente surge na fala, é uma maneira obstinada e talvez preconceituosa de controle cultural. Frequentemente ouvimos –ou lemos na abundante bibliografia sobre o tema– que o uso de determinadas palavras, ou de determinadas expressões só está conseguindo a destruição do idioma. É o caso de usos tais como a palavra mouse, para denominar o aparelhinho do computador, dentre outras palavras “interditadas”. Se fizéssemos o que se recomenda, por exemplo, na Europa –a Espanha tem uma política de localização muito forte–, em português deveríamos chamar o hardware de “ferramentas duras”, na sua acepção mais literal, ou “componentes físicos do computador”, em uma paráfrase de duvitável sucesso. Nessa linha de pensamento, também deveríamos chamar de “rato” o coitado do mouse, sem levar em conta o esquisito de nomear um elemento tão útil e bem conceituado com um nome tão carregado de conotações negativas na língua portuguesa. Recentemente assistimos ao XI Congresso da língua portuguesa que teve lugar em Florianópolis, e, mais uma vez, fomos convidados à mesa de discusão com Teobaldo Navarrete, indiscutível adalid da localização em informática. Navarrete sustenta incansavelmente a noção de que se nós adquirimos irreflexivamente as inovações terminológicas que chegam à nossas culturas do exterior, estamos

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05-08-2014Lengua y gramática portuguesa IVOficina de produção escritaEnsaio nº 4Silvina Vittar

A língua portuguesa e o uso de estrangeirismos

Como venimos sustentando desde o começo da nossa labor como pesquisadores, forçar o uso

de uma palavra X em detrimento de outra que naturalmente surge na fala, é uma maneira

obstinada e talvez preconceituosa de controle cultural.

Frequentemente ouvimos –ou lemos na abundante bibliografia sobre o tema– que o uso de

determinadas palavras, ou de determinadas expressões só está conseguindo a destruição do

idioma. É o caso de usos tais como a palavra mouse, para denominar o aparelhinho do

computador, dentre outras palavras “interditadas”. Se fizéssemos o que se recomenda, por

exemplo, na Europa –a Espanha tem uma política de localização muito forte–, em português

deveríamos chamar o hardware de “ferramentas duras”, na sua acepção mais literal, ou

“componentes físicos do computador”, em uma paráfrase de duvitável sucesso. Nessa linha de

pensamento, também deveríamos chamar de “rato” o coitado do mouse, sem levar em conta

o esquisito de nomear um elemento tão útil e bem conceituado com um nome tão carregado

de conotações negativas na língua portuguesa.

Recentemente assistimos ao XI Congresso da língua portuguesa que teve lugar em

Florianópolis, e, mais uma vez, fomos convidados à mesa de discusão com Teobaldo Navarrete,

indiscutível adalid da localização em informática. Navarrete sustenta incansavelmente a noção

de que se nós adquirimos irreflexivamente as inovações terminológicas que chegam à nossas

culturas do exterior, estamos em verdade sendo vítimas do colonialismo cultural, entregando

os nossos costumes e a nossa soberania. Como em outras oportunidades, sustentamos, em

relativa oposição às considerações de Navarrete, que, embora estemos em contra de mudar a

nossa cultura por imposições externas, é inegável que mundos culturais totalmente diversos

chegam a nós todo o tempo, e tentar substraer-se dessa realidade é próprio de mentalidades

arcaizantes.

Muitas dessas inovações tecnológicas acabam produzindo também uma mudança na língua, ao

acrescentar um termo novo ou dar uma nova acepção a um termo já existente. Acontece que

em muitos casos essas inovações chegam com os seus nomes já instituídos

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internacionalmente, e nós estaríamos realizando um esforço extra e provavelmente

infructuoso tentando impôr um nome vernáculo.

Como consideração a parte, devemos considerar que a metodologia de impôr um determinado

termo para afastar a colonização cultural, forma parte, por sua vez, de políticas de controle

social, determinando que palavras devem ser usadas e quais não, prática que, no nosso

entender, resulta tão ou mais nociva do que a adoção de estrangeirismos.