A Lenda de São Cristóvão

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1 A Lenda de São Cristóvão (Relacionadas às cartas do Tarô Egípcio) Uma das formas mais utilizadas pela Ciência Secreta para preservar os ensinamentos esotéricos foi o recurso da criação de histórias quase sempre correlacionadas às figuras consagradas pela própria Igreja Católica, a fim de evitar a ação das autoridades eclesiásticas da Inquisição. Com este recurso, não se desfigurava o conteúdo oculto da mensagem que precisava permanecer e, ao mesmo tempo, se mantinha a essência pura dos ensinamentos iniciáticos que deviam ser preservados. A figura de São Cristóvão, já por si mesma com um conteúdo altamente esotérico (nas gravuras antigas ele aparecia levando o Salvador do Mundo (Cristo) na forma de uma criança(1) sentada sobre seus ombros, com as perninhas envolvendo seu pescoço) servia também para manter incólume, na lembrança dos aspirantes à verdade espiritual, o roteiro estipulado nas cartas do Tarô Egípcio. São Cristóvão representa, dentro do Cristianismo, o que o Titã Atlas (nome da 33ª vértebra da coluna vertebral) representou para os Mistérios Gregos. Ambos significam o Iniciado que alcança a estatura de Cristo (Efésios 4:2) e se torna um Salvador do Mundo, ou seja, sua consciência alcança a 33ª vértebra da Coluna vertebral, a sustentadora da cabeça (O Mundo, o Globo Terrestre). A jornada humana, de acordo com o Tarô Egípcio vai da carta 22 (O Regresso) até carta 1 (O Mago). Entretanto, na Árvore da Vida estes Caminhos recebem a numeração de 32 a 11 porque cada um está acrescido de dez

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Extraído do livro "As Catedrais" de Fulcanelli.

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    A Lenda de So Cristvo

    (Relacionadas s cartas do Tar Egpcio)

    Uma das formas mais utilizadas pela Cincia Secreta para preservar os

    ensinamentos esotricos foi o recurso da criao de histrias quase sempre correlacionadas s figuras consagradas pela prpria Igreja Catlica, a fim de

    evitar a ao das autoridades eclesisticas da Inquisio. Com este recurso,

    no se desfigurava o contedo oculto da mensagem que precisava permanecer

    e, ao mesmo tempo, se mantinha a essncia pura dos ensinamentos iniciticos

    que deviam ser preservados.

    A figura de So Cristvo, j por si mesma com um contedo altamente

    esotrico (nas gravuras antigas ele aparecia levando o Salvador do Mundo (Cristo) na forma de uma criana(1) sentada sobre seus ombros, com as

    perninhas envolvendo seu pescoo) servia tambm para manter inclume, na

    lembrana dos aspirantes verdade espiritual, o roteiro estipulado nas cartas

    do Tar Egpcio.

    So Cristvo representa, dentro do Cristianismo, o que o Tit Atlas

    (nome da 33 vrtebra da coluna vertebral) representou para os Mistrios Gregos. Ambos significam o Iniciado que alcana a estatura de Cristo (Efsios

    4:2) e se torna um Salvador do Mundo, ou seja, sua conscincia alcana a 33

    vrtebra da Coluna vertebral, a sustentadora da cabea (O Mundo, o Globo

    Terrestre).

    A jornada humana, de acordo com o Tar Egpcio vai da carta 22 (O

    Regresso) at carta 1 (O Mago). Entretanto, na rvore da Vida estes Caminhos recebem a numerao de 32 a 11 porque cada um est acrescido de dez

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    unidades que representam o somatrio das 10 Sephiroth a serem atingidas,

    que constituem seu objetivo principal.

    RVORE DA VIDA

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    A primeira etapa (O Regresso) vai de Malkuth at Yesod (Caminho 32 =

    carta 22 Vitria sobre a Morte) e, depois da tarefa concluda importante que o Praticante esteja preparado para realizar o Regresso a Malkuth, pois a tendncia ser

    ficar "deslumbrado" com o que v e esquece da necessidade de retornar ao corpo

    fsico. Magicamente, a realizao deste Caminho representa um novo nascimento, pois entre os fenmenos vivenciados pelo mesmo est o encontro com o Guardio do

    Umbral, a passagem pelos portais da Noite, a entrada no tero, o renascimento nas

    estrelas, alm da viso de seu destino no espelho mgico do inconsciente. A segunda etapa (Caminho 31 = carta 21) vai de Malkuth a Hod. Neste

    caminho onde o Praticante "provado pelo fogo", toma conhecimento de sua

    condio andrgina e tambm de que deve control-la. A tnica deste caminho a

    extirpao das paixes e a aceitao resignada do destino. Caracteriza-se por uma tica em que a imperturbabilidade e a vontade so as marcas fundamentais do

    homem sbio, o nico apto a experimentar este caminho com sabedoria. O estoicismo

    e a rigidez dos princpios morais so sua caracterstica.

    Hod = Esplendor = Gmeos = Dualidade

    Antes de regressar a Malkuth visita Yesod (Caminho 30 = carta 20

    = Ressurreio) para aprender a adquirir o balano de suas energias opostas,

    cujo resultado o repouso, a rapidez em seus movimentos e o reconhecimento

    de sua dualidade. Regressa para Hod, o lugar do reconhecimento, depois de se

    conscientizar da necessidade de equilbrio em relao s suas foras

    regenerativas. Em seguida volta para Malkuth, com o pressgio de sua

    regenerao mstica.

    Devidamente preparado, o praticante empreende nova viagem e

    segue de Malkuth para Netzach (Caminho 29 = carta 19 = Inspirao) onde

    obtm a Vitria definitiva sobre o medo porque aprende a ver somente o que

    existe por eliminao das interpretaes de uma imaginao desfocada.

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    Netzach = Vitrioa = Libra = Equilbrio para o caminho do meio

    A partir da, o praticante j pode focar sua vida nos diversos nveis

    de conscincia conquistados e fica preparado para realizar o Caminho 28

    (Carta 18 = O Crepsculo), que vai de Yesod a Netzach experimentando

    elevados estados de conscincia e sublimes inspiraes, o que lhe permite

    vivenciar um Humanismo Iluminado.

    Yesod = Fundamento = Escorpio = Animal peonhento ou a guia planando nas alturas

    J trabalhando em favor de seu prximo e no mais abrigando

    iluses em relao aos reclamos externos e tendo se preparado

    cuidadosamente para elevar sua conscincia a planos mais elevados

    empreende a viagem de Hod para Netzach (Caminho 27 = Carta 17 = A

    Esperana) em busca da libertao, com a expulso ou purgao daquilo que

    estranho essncia ou natureza de si mesmo e que, por esta razo, o corrompe. Este um trabalho de purificao que a alma deve passar at que,

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    apagadas as marcas dos erros cometidos nas vrias existncias material,

    conquiste acesso a uma realidade superior. a tentativa de encontro definitivo

    com sua natureza feminina (Netzach = Sentimentos) e ao realiz-la com xito

    constri o equilbrio final para suas dicotomias.

    O Caminho 26 (Carta 16 = Fragilidade) constitui a primeira

    tentativa de se alcanar Tiphareth, que ao trmino do Caminho propicia o

    vislumbre da harmonia de toda Beleza da criao e o praticante percebe

    mentalmente que verdadeiramente nico, equilibrado em sua imperfeio e

    est crucificado (no corpo humano) para salvar o mundo. Depois deste

    vislumbre, a conscincia racional sente necessidade de amar sua natureza

    inferior e desenvolve uma conscincia espiritual que se torna o veculo da Suprema Mente Intuitiva e, to logo isto acontece, a mente intuitiva se volta

    para a Luz. Neste estado de conscincia, a mente racional, por si mesma,

    comea a entabular as relaes corretas de si mesma com a personalidade. O

    obelisco humano desmorona; os valores mundanos cedem lugar aos valores

    espirituais.

    Tiphareth = Beleza = Leo = O Sol que ilumina

    O Caminho 25 (Carta 15 = Paixo), que parte de Yesod em direo

    a Tiphareth um dos mais difceis de ser percorrido, pois alm fazer parte do denominado Caminho da Seta implica em que o Praticante j tenha dominado suas paixes animais e santificado suas energias criadoras, as quais

    devero ser colocadas aos ps do Mestre. Em Yesod existem dois caminhos:

    um aponta para baixo e o outro para cima, por isso, antes de se empreender

    esta etapa da viagem (No Evangelho o deserto onde Jesus foi tentado), as

    paixes devem ter cedido lugar aos sentimentos nobres e o esprito de servio deve preponderar alicerado com a mxima absteno de qualquer laivo de

    desejo e orgulho. Isto realizado, aparece o Mestre Iniciador que leva o

    Discpulo at o Altar dos perfumes, no Mundo de Briah, onde ele v a face de Deus. A estampa ANATOMI OCCULTII, na figurao da Sephirah Yesod deixa bem claro alguns destes detalhes.

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    Por ltimo, neste trabalho, indicamos que o Caminho 24 (Carta 14

    = A Temperana), que vai de Netzach (Vitria) at Tiphareth (Beleza) tem o

    poder de nos abrir a conscincia para os Mistrios da Me Natureza. Suas

    implicaes desabrocham no Praticante o que podemos denominar a

    Inteligncia Criadora, enquanto no Caminho 26 (Hod a Tiphareth), como j dissemos antes, realizamos a plenitude da Inteligncia racional.

    Nota esclarecedora:

    Nas Sociedades Iniciticas (Maonaria, Rosa Cruz, e outras que assim

    se intitulam) os 4 primeiros Caminhos so representados pelo Batismo nos 4

    Elementos (Terra, gua, Fogo e Ar).

    Agora vamos a Lenda de So Cristvo para que reparem a similitude

    com as Cartas do Tar:

    A LENDA DE SO CRISTVO

    Antes de ser cristo, Cristvo se chamava Offerus (22); era uma

    espcie de gigante, pouco inteligente (21).

    Quando fez uso da razo, empreendeu viagem (20), dizendo que queria servir ao rei mais poderoso da terra (19). O encaminharam corte de

    um rei muito poderoso (4), o qual ficou muito contente pela oportunidade de

    ter um servidor (5) to vigoroso. Um dia, o rei, ao ouvir que um jogral

    pronunciava o nome do Diabo (15), fez, aterrorizado, o sinal da cruz.

    - Por que fazeis isso? Perguntou na hora Offerus.

    - Porque tenho medo do Diabo, lhe respondeu o rei. - Se o temes, que no sois to poderoso como ele. Neste caso, quero servir

    ao Diabo (6). Dito o qual, Offerus partiu dali.

    Depois de uma longa caminhada em busca do poderoso monarca, viu

    aproximar-se em sua direo uma numerosa tropa de cavaleiros vestidos de

    vermelho; seu chefe, que era negro, lhe disse:

    - A quem buscas?

    - Procuro ao Diabo para servi-lo.

    - Eu sou o Diabo. Segue-me.

    E eis aqui Offerus incorporado aos seguidores de Sat. Um dia, depois de

    muito cavalgar, a tropa infernal encontra uma cruz a beira do caminho; o

    Diabo ordena dar meia volta.

    - Por que fizeste isto? Perguntou-lhe Offerus, sempre desejoso de instruir-se.

    - Porque temo a imagem de Cristo.

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    - Se temes a imagem de Cristo que sois menos poderoso que Ele; em tal

    caso, quero entrar ao servio de Cristo.

    Offerus passou sozinho diante da cruz e continuou seu caminho. Encontrou

    um bom ermito (9) e lhe perguntou onde poderia encontrar a Cristo.

    - Em todas as partes, respondeu-lhe o ermito.

    - No entendo disse Offerus; porm, sei me haveis dito a verdade, que servios pode prestar-lhe um rapazote robusto e atento como eu.

    - Se Lhe serve com a orao, o jejum e a viglia respondeu o ermito.

    Offerus fez uma careta.

    - No h outra maneira de ser-lhe agradvel, perguntou.

    O ermito compreendeu a classe de homem que tinha diante de si e

    pegando-o pela mo (11), conduziu-o a beira de uma impetuosa corrente que

    descia de uma alta montanha (16), e lhe disse:

    - Os pobres (17) que cruzaram estas guas se afogaram (13). Permanece aqui

    e translada para a outra beira, sobre teus fortes ombros, aqueles que pedirem.

    Se procederes assim por amor a Cristo, Ele te admitir como seu servidor (8). - Assim procederei por amor a Cristo (14), respondeu Offerus. E ento

    construiu para si uma cabana na barranca do rio e comeou a transportar de

    noite e de dia aos viajantes que o solicitavam.

    Uma noite (18), oprimido pela fadiga, dormia profundamente; alguns golpes

    dados em sua porta o despertaram e ouviu a voz de uma criana (7) que o

    chamava trs vezes (3) por seu nome. Levantou-se, subiu a criana (que era um menino) sobre seu pescoo e entrou na torrente. Ao chegar a sua metade,

    viu que a torrente agora se enfurecia, que as ondas se avolumavam e se

    precipitavam sobre suas musculosas pernas, como que para derrub-lo.

    Offerus agentava o melhor que podia, porm o menino pesava como se fosse

    uma enorme carga; ento, temeroso de deixar cair o pequeno viajante,

    arrancou uma rvore para apoiar-se nela; porm a torrente continuava crescendo e o menino se fazia cada vez mais pesado. Offerus, temendo que se

    afogasse, levantou a cabea para ele e disse:

    - Menino, por que Te fazes to pesado? A mim me parece como se estivesse

    transportando o mundo. Ento, o menino respondeu:

    - No somente transportas o mundo, mas tambm Aquele que fez o mundo

    (1). Eu Sou Cristo, teu Deus e Senhor. Em recompensa de teus bons servios (10), Eu te batizo no nome de Meu Pai, no Meu Prprio e no do Esprito

    Santo(2); daqui por diante, chamar-te-s Cristvo.

    Desde aquele dia, Cristvo percorreu a Terra para ensinar a palavra (12) de

    Cristo.

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    As 22 cartas do Tar na histria acima:

    22. O Regresso O homem que est no Mundo e ainda movimentado pelas foras inferiores resolve mudar = Offerus (O tolo = Tendncia aos processos que favorecem a imprudncia, a extravagncia, o delrio, o envaidecimento ou as paixes desenfreadas em busca

    de satisfao.)

    21. A Transmutao = Quando fez uso da razo

    20. Ressurreio = Empreende a viagem em busca de seu Cristo Interno.

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    19. A Inspirao = Servir ao rei mais poderoso da Terra = O Sol

    4. O Imperador = Um rei muito poderoso

    5. O Hierarca = O servidor

  • 10

    15. A Paixo = Um jogral pronunciava o nome do Diabo

    6. A Indeciso = Neste caso abandona o servio ao Imperador para servir ao Diabo

    9. O Eremita = O bom ermito

  • 11

    11. A Convico = Persuaso - pegando-o pela mo

    17. A Esperana = Os pobres

    13. A Imortalidade = que cruzaram estas guas se afogaram

  • 12

    16. A Fragilidade = (A Torre atingida) Impetuosa torrente que descia de uma alta montanha

    8. A Justia = Seu servidor

    14. A Temperana = Assim procederei por amor a Cristo

  • 13

    18. O Crepsculo = Uma noite

    7. O Triunfo = Uma criana (O iniciado real)

    3. A Imperatriz = Trs vezes ( tambm Binah, na Cabala)

  • 14

    10. A Retribuio = Em recompensa de teus bons servios

    2. A Sacerdotisa = O Esprito Santo

    1. O Mago Criador = Aquele que fez o mundo (Kether, a Coroa)

    Panyatara