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A LEITURA E REFLEXÃO DO GÊNERO LÍRICO EM POEMAS DE CECÍLIA

MEIRELES TRABALHADOS EM SALA DE AULA

Autora: Cristiane Del Conte Malfe¹

Orientadora: Regina Maria Gregório²

RESUMO

O presente artigo incorpora a conclusão dos estudos do PDE 2010, exibe o relato de uma proposta de trabalho implementada na escola que tem como objeto de estudo o poema, oportunizando ao aluno a experiência com o gênero lírico e ressaltando a relevância deste com a linguagem. É um trabalho focado nos gêneros, objeto de estudo da língua Portuguesa, perpassando a análise linguística e as práticas discursivas pertinentes ao poema. Deste estudo, depreende-se uma perspectiva centrada na linguagem interacionista, propondo um estudo pormenorizado do gênero lírico através de oficinas, trabalhando a leitura, o contexto de produção, o conteúdo temático, a construção composicional e as marcas linguísticas e enunciativas dos poemas selecionados de Cecília Meireles, ferramenta oportuna e eficaz ao processo de letramento do aluno e apropriação das capacidades de linguagem e leitura. Como norteadores do ensino da língua materna destaca-se o ensino de gêneros discursivos presentes nas DCE (2008), sendo o modelo didático do poema e suas dimensões ensináveis um instrumento indispensável à prática e à produção pedagógica do professor-pesquisador e imprescindível na metodologia do trabalho com gêneros. Expõe relatos apresentando resultados do trabalho implementado e conclusões, via material didático, aplicado no nono ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa. Almeja propiciar ao aluno a interação com a linguagem estimulando a leitura e compreensão da linguagem poética trabalhada nos textos de Cecília Meireles, sabendo que a função do professor é preparar os alunos para a compreensão do que leem, visto que a prática do letramento seja útil para os estudantes, tanto na área acadêmica como social.

Palavras-chave: leitura; linguagem interacionista; gênero lírico; Cecília Meireles.

__________________________________

¹ Professora PDE, turma 2010. Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduada em Educação Especial – DM e Produção de Material Didático.

² Doutora em Educação pela USP. Docente de Língua Portuguesa na Universidade Estadual de Londrina.

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1 Introdução

O presente artigo tem por objetivo apresentar o relato da implementação do

Projeto de Intervenção Pedagógica na escola apresentando uma sugestão de

trabalho que contribua na teoria e na prática ao processo de ensino-aprendizagem

da Língua Portuguesa. Este projeto foi elaborado para o Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), edição 2010, da Secretaria do Estado da

Educação do Paraná (SEED) e foi elaborado, para sua aplicação, um Caderno

Pedagógico, que contempla a fundamentação teórica para o professor e as

atividades, divididas em oficinas, para o seu desenvolvimento junto aos alunos do 9º

ano do período matutino no segundo semestre de 2011 do Colégio Estadual

Professora Lúcia Barros Lisboa. Esta proposta de trabalho se norteia nos

pressupostos teóricos presentes nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do

Paraná (2008), cuja metodologia contempla o gênero poema através da linguagem

interacionista, práticas discursivas e análise linguística visando contribuir com o

processo de ensino-aprendizagem.

Objetivamos sugerir ao professor pistas para que ele pesquise e elabore seu

próprio material aplicando-o junto aos alunos e que desenvolva as oficinas de forma

sistematizada e centrada no gênero lírico e nos elementos que o constituem,

colaborando no aprendizado do uso da língua materna.

A partir da Produção Didática “A leitura e reflexão do gênero lírico em

poemas de Cecília Meireles trabalhados em sala de aula”, mostra-se uma

metodologia de trabalho que estuda o poema de forma sistematizada e sequencial,

observando os elementos particulares do gênero, sua compreensão, análise

linguística contextualizada, produção e leitura.

A escolha do tema abordado acima justifica-se por atender os pressupostos

teóricos contemplados na DCE (2008); por levar a professora à elaboração do seu

próprio material didático fugindo das “amarras” do livro didático que deve ser usado

pelo educador como um meio e não um fim; por motivar o educando à leitura e

análise de poemas valorizando o gênero e contribuindo progressivamente para sua

proficiência linguística e por contribuir significativamente com o processo de ensino e

aprendizagem.

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Ao fazer uso da linguagem, a escola utiliza-se da leitura em seu sentido mais

amplo, porém, sabemos que a cada ano escolar que passa o nível de interesse do

aluno pela leitura vai diminuindo gradativamente comprometendo a sua competência

linguística, assim, é preciso instigar o educando a ler e, o material em questão

objetiva um leitor mais ativo e acredita contribuir prazerosamente no aprimoramento

da competência leitora do aluno.

A leitura introduz o homem a um mundo cada vez mais amplo, mais extenso,

ao proporcionar o desenvolvimento intelectual compartilhado a graus mais abstratos

do pensamento, a partir dos quais existe a possibilidade de questionamento e

reflexão, pressupostos primordiais para o pleno exercício da cidadania. Kleiman e

Moraes (1999, p. 62) mencionam que:

Para todo leitor um texto funciona como um mosaico de outros textos, alguns mais próximos, alguns mais distantes, alguns mais pertinentes, outros menos, mas todos eles influenciando a leitura. Entendemos um texto porque somos capazes de reconhecer esses traços e vestígios. Quanto mais elementos reconhecermos, mais fácil será a leitura e mais enriquecida será a nossa interpretação.

Sob a ótica das autoras, percebe-se que à medida que o leitor vai se

aperfeiçoando, a visão de mundo ultrapassa os domínios do lugar comum e oferece

uma visão maior dos horizontes limitados a que o ser humano está confinado.

Kramer (2001, p. 18) assevera que:

Garantir o acesso à leitura e à escrita é direito de cidadania. A escola tem um papel importante a desempenhar na concretização desse direito, contribuindo na construção do conhecimento de crianças e adultos ajudando-os a nunca esquecer história, a sempre rememorar o esquecido, para que se torne possível – mais do que nunca – mudar a história. (...) ler, escrever e reescrever os textos e a história, enquanto sujeitos da história que somos, tecendo – cada qual - os fios desta trama...

Hoje, dentro do novo contexto de globalização e avanços tecnológicos, o

professor deve ser engajado assim como suas escolas, em processos políticos e

culturais, que não criem em seus alunos pessoas alienadas e discriminadas pela

falta de bases para acompanhar estas novas tecnologias que exigem a cada dia

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mais saberes dos cidadãos. O educador, neste sentido, não pode recuar e sim

avançar em direção a um ensino e aprendizagem cada vez mais eficiente e eficaz.

Sintetizando, esta nova forma de trabalho pedagógico deve direcionar a

aprendizagem a caminhos cujo final seja de integração dos sujeitos de sua ação de

maneira ativa no contexto social. A escola não pode mais ser vista como uma

instituição neutra, mas sim histórica e cultural, em termos ideológicos e políticos,

fortemente engajada com o contexto social.

É através da escola que a população obtém acesso ao saber e saber só se

adquire com leitura; esta, por sua vez, possibilita ao homem uma melhor

compreensão de si, da realidade e da história da humanidade trazendo-lhe uma

reflexão e possibilidade de transformação cultural, social e econômica. Zilbermann

(1986, p. 15) frisa que “a escola é um elemento de transformação que não pode ser

negligenciado”.

Percebe-se, assim, que as relações entre leitura e escola são sutis, porém

complexas, não são resolvidas simplesmente por uma melhor seleção de textos, é

essencial levar em conta a interação do leitor com o texto. A leitura na escola é

patrocinada de forma planejada, dirigida, limitada no tempo e no espaço, tornando-a

afastada da individualidade e gratuidade próprias da leitura.

Na escola, o aluno está imerso num mundo de conteúdos estranhos e fora

dela, está rodeado de inutilidades eletrônicas. A leitura ocupa um lugar cada vez

menor no cotidiano do brasileiro. Com poucos exemplos de bons leitores (tanto

dentro como fora da escola). Curioso é notar que quanto mais o aluno sobe na

hierarquia acadêmica mais negativa é a sua atitude frente à leitura. Na verdade, a

maioria dos nossos alunos nunca aprendeu a ler realmente, apenas foram

alfabetizados.

1.1 A escola, a leitura e o poema

A escola precisa repensar o ensino da leitura, pois antes da criança entrar na

escola, de ser introduzida no mundo das lições e deveres, vivia num mundo de jogo

e de prazer, que utilizava até então para apresentar sua realidade. Assim, seria mais

produtivo se a escola, em vez de afastá-la do brinquedo, retomasse o reencontro do

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caminho da invenção e da criatividade, dos jogos, dos sons, dos sentidos, das

imagens, levando-a assim a dominar a linguagem, a ser capaz de expressar-se,

tornando-se sujeito do seu processo de formação. E, nesse sentido, a literatura

poderá como expressão que é, completar a comunicação com o mundo conforme

Lajolo (1986, p. 59):

Ler não é decifrar, como um jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É a partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outras não previstas.

É por meio da linguagem que nos comunicamos com o mundo, ela é

responsável pela interação dos seres humanos no meio social ao qual estão

inseridos, porém, mesmo estando hoje na era da comunicação, há uma grande

dificuldade para os indivíduos estruturarem linguisticamente uma ideia.

As concepções de linguagem são essenciais para nortear nosso trabalho em

sala de aula, por isso a importância de aprofundarmos nossa compreensão sobre

tais concepções. Hoje, a linguagem não é apenas vista como expressão de

pensamento e sim, como um instrumento de comunicação, de transmissão de

mensagens. Todos os gêneros passaram a ser vistos como importantes

instrumentos de comunicação e, o aluno, passou de mero reprodutor de modelos a

um sujeito ativo e atuante no momento da construção do seu conhecimento. Sendo

assim, o professor deve promover condições para que o aluno desenvolva seu

cognitivo que não pode ser controlado, porém, deve ser lapidado e, foi pensando

nisto que escolhemos o poema como objeto de estudo, pois entendemo-lo como

essencial neste trabalho, inclusive aproveitando para resgatá-lo porque ultimamente

está sendo pouco mencionado no ambiente escolar.

A escola é um lugar apropriado para que a aproximação com a poesia

aconteça fazendo o aluno ter melhor compreensão da linguagem poética, pois a

poesia está e sempre esteve presente no nosso dia a dia através das cantigas de

ninar, bilhetinhos amorosos, músicas, adivinhas, parlendas, agendas de

adolescentes e, com o passar do tempo, muitas pessoas vão se distanciando dos

poemas e da poesia. Assim, a escola é o lugar onde se deve propiciar a

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aproximação com o poema permitindo ao aluno uma maior compreensão da

linguagem poética e oportunizando a ele expor suas emoções através da poesia.

Como dizia a grande poetisa Cecília Meireles “um poeta é sempre irmão do vento e

da água: deixa seu ritmo por onde passa”. É só a partir da compreensão do que se

lê que poderemos formar sujeitos letrados.

Cecília Meireles, uma das maiores poetisas do Brasil, enriquecerá nosso

trabalho, pois escreve com muito desprendimento, fluidez, sendo sua poesia uma

das mais belas manifestações da literatura contemporânea.

A prática de leitura na concepção adotada pela DCE é dialógica, o leitor é

ativo. De acordo com as Diretrizes Curriculares Da Educação Básica Do Paraná

(DCE, PR) de Língua Portuguesa (2008, p. 71):

Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles. Sob esse ponto de vista, o professor precisa atuar como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras significativas. Assim, o professor deve dar condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da sociedade.

Ainda, de acordo com a DCE de Língua Portuguesa do Paraná (2008, p. 82),

é importante avaliar as estratégias de leitura do aluno e a reflexão que ele faz a

partir do texto:

Leitura: serão avaliadas as estratégias que os estudantes empregam para a compreensão do texto lido, o sentido construído, as relações dialógicas entre textos, relações de causa e consequência entre as partes do texto, o reconhecimento de posicionamentos ideológicos no texto, a identificação dos efeitos de ironia e humor em textos variados, a localização das informações tanto explícitas quanto implícitas, o argumento principal, entre outros. É importante avaliar se, ao ler, o aluno ativa os conhecimentos prévios; se compreende o significado das palavras desconhecidas a partir do contexto; se faz inferências corretas; se reconhece o gênero e o suporte textual. Tendo em vista o multiletramento, também é preciso avaliar a capacidade de se colocar diante do texto, seja ele oral, escrito, gráficos, infográficos, imagens, etc. Não é demais lembrar que é importante considerar as diferenças de leituras de mundo e o repertório de experiências dos alunos, avaliando assim a ampliação do horizonte de expectativas. O professor pode propor questões abertas, discussões, debates e outras atividades que lhe permitam avaliar a reflexão que o aluno faz a partir do texto.

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Assim, para trabalhar as práticas discursivas da linguagem, são utilizadas

oficinas, através de sequências didáticas, que propõe uma maneira precisa e

gradual de se trabalhar com os gêneros textuais.

Ao elaborar a SD para trabalharmos o gênero de texto que escolhemos,

estudamos as características próprias que este apresenta e levamos aos alunos

exercícios variados, múltiplos, que desenvolvem a capacidade oral e escrita dos

educandos para posteriormente propormos uma produção final. Neste projeto

realizamos um estudo pormenorizado do gênero lírico (poema).

Os temas que sustentam este trabalho são: o modelo didático do gênero lírico

(poema) e os elementos que o compõe; a linguagem interacionista; o

desenvolvimento de uma sequência didática; como também o contexto de produção,

o conteúdo temático, a construção composicional e as marcas linguístico-

enunciativas.

Nesta visão, para aproximarmos os aprendizes à leitura, vislumbramos o

trabalho com poema em sala de aula, sabendo que a leitura e a escrita são um dos

maiores legados da nossa civilização. É através da leitura que conhecemos a

trajetória da humanidade e será através dela que os que virão terão acesso aos

conhecimentos adquiridos em nossa época e a nossa história. Portanto, a leitura é

essencial ao ser humano. É ela que o torna capaz de exercer plenamente a sua

cidadania, de participar ativamente na comunidade onde vive.

Entretanto, no século XXI, ainda encontramos um grande número de pessoas

que não sabem ler nem escrever porque infelizmente, pelo menos em nosso país, há

aqueles que conseguem passar pela escola, mas que nem sempre se tornam

leitores de fato e aqueles que nem chegam à escola. Segundo Gnerre (1985, p. 25):

A maior herança que a escola pode deixar a um aluno é a capacidade de ler e o gosto pela leitura. Se o aluno passar pela escola e aprender pouco, mas for um bom leitor, ele terá nos livros e revistas uma prolongação da escola e poderá se desenvolver muito além do que a escola esperaria de um aluno ideal.

É através da leitura que conhecemos a história da humanidade, que o homem

interpreta o mundo, e, os que virão, também conhecerão e interpretarão a nossa

história através dela, sendo assim, a leitura é essencial para que o ser humano

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possa participar ativamente da sociedade na qual vivemos, entretanto, há um

enorme número de pessoas que não são leitores de fato, e isso é preocupante, pois

tudo gira em torno da leitura.

É essencial que o educador interaja profundamente com o processo de

leitura, pois seu papel é fundamental na formação de leitores instigantes, que

possam dialogar com o texto, interagir, desenvolver a percepção dos sentidos,

questionar, criticar, saborear e se rebelar, assim, é de extrema importância uma

profunda reflexão sobre a leitura para que a entendendo possamos despertar no

aluno o gosto pela mesma.

É preciso perquirir como se forma o sujeito leitor. Nos moldes de Bakthin

(1993, p. 55):

[...] entende-se que o sujeito se constitui como tal à medida que interage com os outros, sua consciência e seu conhecimento do mundo resultam como “produto sempre inacabado” deste mesmo processo no qual o sujeito internaliza a linguagem e constitui-se como ser social, pois a linguagem não é o trabalho de um artesão, mas trabalho social e histórico seu e dos outros para os outros e com os outros que ela se constitui. Isto implica que não há um sujeito dado, pronto, que entra em interação, mas um sujeito se completando e se construindo nas suas falas e nas falas dos outros.

Face às considerações do autor, o aluno é considerado um sujeito/aprendiz

da leitura, assim, é primordial a relação que professor e aluno tenham com a leitura

em sala de aula.

Bakhtin (1993, p. 108) enfatiza a relevância da sociedade para a formação de

individualidade, uma vez que a língua “não se transmite; ela dura e perdura sob a

forma de um processo evolutivo contínuo”.

O professor precisa formar um aluno leitor que entenda as informações

implícitas nos textos fazendo relações entre os textos já lidos e os que lê, assim, há

uma necessidade de mudanças no trabalho com a leitura em sala de aula que

motive nosso aluno.

Para Bakhtin, o trabalho poético está totalmente relacionado ao contexto

social, “O poeta, afinal, seleciona palavras não do dicionário, mas do contexto da

vida onde as palavras foram embebidas e se impregnaram de julgamentos de valor”

(Bakntin, apoud Freitas, 1997, p. 127). Assim, os gêneros do discurso, representam

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a cultura, o cotidiano e são muito importantes para o processo de ensino

aprendizagem do educando.

O trabalho com o poema na sala de aula desenvolvido neste projeto tem

como pretensão propiciar o prazer da leitura e permitir o desenvolvimento da

cooperação e interação do grupo, pois trabalha com a emoção, o sentimento. O

poema é um elemento sedutor na formação do leitor e através dele pode-se buscar

no texto um sentido criativo e também crítico, reflexivo.

Interpretar poesias vai muito além do que uma mera transmissão de

conteúdos, é extremamente significativa para a reflexão interior de cada um e

através do trabalho com o gênero poético, este projeto pretende propiciar o

crescimento intelectual do aluno. Precisamos de um pouco das belezas dos poemas,

recuperar o prazer da leitura poética neste mundo conturbado no qual estamos

vivendo é essencial. O poema fala nas entrelinhas e a escola precisa reconhecer o

ser poético que há em cada um, fazer com que o educando veja a vida não apenas

como algo árido, mas também estético, belo. De acordo com Carlos Drummond de

Andrade (Revista Arte e Educação, n. 15, 1974):

Amar a poesia é forma de praticá-la recriando-a. O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e depois como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Da Educação Básica Do Paraná

(DCE, PR) de Língua Portuguesa (2008, p. 59):

O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer interpretação. O texto é carregado de pistas/estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além disso, o texto traz lacunas, vazios, que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo.

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Discutiremos a seguir as concepções de linguagem e qual foi adotada para o

trabalho com o gênero poema e, após este estudo, apresentaremos o relato da

Intervenção Pedagógica na escola destacando os resultados que foram obtidos por

meio das oficinas trabalhadas com os alunos e fazendo uso de tais pressupostos

teóricos na sistematização das considerações finais deste trabalho.

1.2 As concepções de linguagem e os gêneros discursivos

No ensino da aprendizagem da língua temos três concepções de linguagem e

é necessário que o professor conheça-as e reflita sobre elas:

A primeira concepção é que a linguagem é a expressão do pensamento que

ilumina basicamente os estudos tradicionais da língua, crê-se que pensar bem é

suficiente para escrever bem, assim, ancora-se nas bases gramaticais porque

acredita que estudando a gramática normativa o falante terá domínio da norma culta,

sendo o suficiente para dominar a língua, falar bem, assim, as pessoas que não

conseguem se expressar é porque não pensam. Parte-se da hipótese que a

linguagem é de natureza racional e sua exteriorização é apenas uma tradução do

pensamento que não é afetada pelo outro nem pelas circunstâncias vivenciadas pelo

enunciador, pois há regras a serem seguidas para que o pensamento e a linguagem

sejam organizados de forma lógica.

A segunda concepção é que a linguagem é instrumento de comunicação, a

língua é vista como um código que transmite uma mensagem ao seu receptor e isso,

levou-a a ser ensinada através de exercícios de preencher lacunas ou seguir o

modelo. Aqui, a gramática normativa foi também privilegiada como na primeira

concepção. Nesta perspectiva é menosprezado o aspecto social, histórico e

ideológico presentes nos textos, sendo a decodificação um importante aspecto, pois

a língua é um código que transmite uma mensagem que toma forma fora de nossos

pensamentos, porém, as escolas são menos autoritárias e os alunos mais ativos em

sua aprendizagem, pois buscam conhecimentos para comunicarem-se melhor. Os

professores são facilitadores do aprendizado, eles não ficam apenas impondo o

conhecimento como na primeira perspectiva e sim fazem com que o aluno tenha um

maior crescimento como ser social porque não vetam as ideias dos mesmos.

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Já, a terceira concepção, completa as duas anteriores, pois tem a linguagem

como forma de interação humana. Agora a função do indivíduo não é mais traduzir o

pensamento como na primeira ou transmitir uma mensagem como na segunda. O

ensino é mais eficaz, pois são desenvolvidos caminhos mais eficazes para a

interação humana. O aluno não aprende mais só através de repetições e métodos

tradicionalistas, pois este passa a refletir sobre a língua adquirindo independência

intelectual tendo várias compreensões do que lhe é apresentado e de acordo com

sua visão de mundo. Nesta perspectiva o objetivo de ensino são os gêneros e não

mais a gramática normativa, sendo assim, o aluno é privilegiado, pois a língua é algo

natural e os textos são unidades de significação e não mais reproduções artificiais. É

através da linguagem que mantemos um bom convívio dentro da sociedade, pois é

através dela que nos fazemos entender e que construímos nossa identidade como

seres singulares, únicos.

A escola deve priorizar aprendizagens significativas ao aluno, assim, a

linguagem na concepção interacionista tem um papel importante no ensino-

aprendizagem da Língua Materna. A língua é um discurso, que por sua vez é uma

prática social. Os gêneros são práticas sociais discursivas, assim, o conteúdo

estruturante de Língua Portuguesa é o discurso como prática social. Segundo as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná (DCE, PR) de

Língua Portuguesa (2008, p. 62-63):

A seleção do Conteúdo Estruturante está relacionada com o momento histórico-social. Na disciplina de Língua Portuguesa, assume-se a concepção de linguagem como prática que se efetiva nas diferentes instâncias sociais, sendo assim, o Conteúdo Estruturante da disciplina que atende a essa perspectiva é o discurso como prática social.

No cotidiano, constroem-se práticas sociais discursivas desde as mais

simples, até as mais complexas da literatura, assim, é importante trabalhar com os

gêneros hoje porque é uma excelente oportunidade de lidar com a língua em suas

diversas formas do dia a dia e oportuniza ao estudante entender os textos nas

variadas situações de comunicação, inclusive situações concretas do seu cotidiano,

explorando assim, o que facilita o domínio sobre os diversos gêneros discursivos

contribuindo para o aprendizado da leitura, produção e compreensão textual.

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O trabalho com os gêneros proporciona um ensino mais significativo da

língua, pois eles são encontrados em nossa vida diária com textos materializados

em situações comunicativas, assim, quando dominamos um gênero, dominamos

uma forma de realizar linguisticamente objetivos que são específicos em

determinadas situações particulares, pois os gêneros se relacionam com as

atividades sociais, humanas, e dominá-los faz com que o indivíduo materialize

melhor os seus discursos, pois são formas socialmente construídas e não invenções

individuais. De acordo com Marcurschi (2008, p. 149):

[…] a análise de gêneros engloba uma análise do texto e do discurso e uma descrição da língua e visão da sociedade, e ainda tenta responder a questões de natureza sociocultural no uso da língua de maneira geral. O trato dos gêneros diz respeito ao trato da língua em seu cotidiano nas mais diversas formas.

Os gêneros discursivos na visão de Bakhtin (1992, p. 279):

A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua — recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais —, mas também, e, sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.

Para Cláudia Lopes Nascimento Saito e Elvira Lopes Nascimento (EAD, 2005,

p. 21-22):

Há textos que pertencem a gêneros que são adequados às esferas da vida burocrática, como requerimentos, ofícios, passaporte, declaração, depoimentos, requerimentos, instruções, relatórios, roteiros, mapas, listas, regulamentos. Já outros são adequados às esferas da criação literária, como os contos de fada, os romances, os poemas etc. Outros circulam nas

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esferas da mídia, como anúncios, crônica, manchete, legenda, editorial, reportagem, entrevista, notícias, horóscopo. Os textos que circulam no mesmo contexto ou situação apresentam aspectos comuns de formato e de linguagem, o que significa que eles pertencem a uma mesma esfera ou domínio discursivo.

1.3 O trabalho com o gênero lírico via sequência didática

Para trabalhar com os alunos o gênero lírico (poema), passo a passo,

propomos o uso da sequência didática, pois possibilita ao professor explorá-lo

minuciosamente estudando suas características próprias.

Em uma sequência didática, primeiramente o professor apresenta a proposta

aos alunos, estes elaboram uma primeira produção, assim, o professor avalia o

conhecimento prévio dos educandos sobre o gênero e conclui quais aspectos

precisam ser mais trabalhados.

Então, são apresentados módulos que exibem um conjunto de oficinas

práticas e que abordam os aspectos do gênero que se quer trabalhar, atividades

planejadas para ensinar o conteúdo etapa por etapa.

É preciso que os alunos, através das atividades propostas, desenvolvam

conhecimentos sobre o gênero estudado e se tornem aptos a identificar diferenças e

semelhanças do gênero proposto com outros gêneros conseguindo também

comparar textos do mesmo gênero estabelecendo semelhanças e refletindo sobre

seu uso dentro de nossa sociedade.

Quando se produz um texto é preciso saber por que ele é escrito, para quem

é escrito, qual o papel social que está sendo assumido no momento da produção, só

assim se tem clareza em relação ao contexto da produção do texto. É necessário

identificar no gênero de texto estudado sua organização textual.

Depois de trabalhados todos os aspectos do gênero nos módulos, os alunos

fazem uma produção final. O professor não pode esquecer que os mesmos critérios

utilizados na produção e apresentação do material devem ser utilizados na produção

final dos alunos. O educador deve observar se as produções estão claras e se estão

de acordo com o contexto do gênero analisado.

Assim, a finalidade das sequências didáticas é ajudar os alunos a

reconhecerem e diferenciarem os gêneros, além de permitir ao professor reconhecer

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com mais clareza quais dificuldades os alunos precisam superar, ou até mesmo, as

dificuldades de um aluno específico. O professor pode também reconhecer

problemas morfológicos, sintáticos e ortográficos através das atividades trabalhadas.

De acordo com Marcurschi (2008, p. 213), em uma sequência didática:

Os procedimentos têm um caráter modular e levam em conta tanto a oralidade como a escrita. O trabalho distribui-se ao longo de todas as séries do ensino fundamental. A ideia central é a de que se devem criar situações reais com contextos que permitam reproduzir em grandes linhas e no detalhe a situação concreta de produção textual incluindo sua circulação, ou seja, com atenção para o processo de relação entre produtores e receptores.

Segundo Dols e Schneuwly (2004, p. 98) “As sequências didáticas servem,

portanto, para dar acesso aos alunos a práticas de linguagem novas ou dificilmente

domináveis.”

Conforme Perfeito (2010, p. 2), uma maneira de se ensinar os gêneros

discursivos em sala de aula é fazendo uma análise do mesmo da seguinte forma:

· Contexto de produção e relação autor/leitor/texto - observação de aspectos relativos ao/à: autor/enunciador, destinatário, provável objetivo, local e época de publicação e de circulação; exploração: das inferências, das críticas, das emoções suscitadas; criação de situações-problema e de transformações, veiculadas a efeitos de sentido do texto etc. · Conteúdo temático - temas que são tratados em textos pertencentes ao gênero em questão. · Organização geral (construção composicional) - a superestrutura, o arranjo textual, · Marcas lingüísticas e enunciativas - características do gênero (lingüísticas) e do auto (enunciativas), o qual veicula seu texto, fundamentalmente, em determinado gênero(recursos lingüístico-expressivos mobilizados).

Nas oficinas deste projeto foi construída a SD (sequência Didática) para se

trabalhar o gênero poético. Também foram contemplados o contexto de produção, o

conteúdo temático, a construção composicional e as marcas-linguísticas e

enunciativas apresentadas acima e que estão embasadas na concepção teórico-

didática de Perfeito (2010).

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Ao produzir a Sequência Didática planejou-se que o aluno participasse

ativamente das atividades interagindo com o gênero lírico e externalizando

aprendizagens significativas no contexto social e pessoal.

2 Sistematização das ações desenvolvidas na implementação da proposta

Retomando ao objetivo geral do Projeto de Intervenção Pedagógica na

Escola, primeira produção desenvolvida no PDE 2010, ambicionamos: desenvolver

uma proposta metodológica de trabalho com a leitura do gênero lírico, poema, para

que o aluno se familiarize com a linguagem poética sentindo prazer em ler, ouvir e

até criar poemas, conseguindo expressar com mais fluência suas próprias emoções

e sua imaginação. O objetivo proposto fora alcançado através do trabalho

sistematizado com o gênero lírico nas oito oficinas elaboradas pela professora.

Quanto às dificuldades encontradas, o tempo disponível para implementação

foi curto, pois voltamos para a escola em meados de agosto de 2011 com o terceiro

bimestre em andamento, com a semana cultural para ser preparada e com a Prova

Brasil prevista para novembro para as oitavas séries/nonos anos do ensino

fundamental, série esta para qual o projeto foi destinado. Sabemos também, diante

da nossa prática, que neste período a maioria dos alunos mostra desinteresse.

Primeiramente tivemos que organizar as coisas para depois começarmos a

aplicação da Produção Didático-pedagógica (Caderno Pedagógico), contudo, as

dificuldades não acarretaram problemas ao processo de ensino-aprendizagem dos

alunos. O trabalho com o gênero lírico foi explorado no decorrer das oficinas e teve

grande participação e interesse da maioria dos alunos.

O Grupo de Trabalho em Rede (GTR), atividade realizada no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE) para a interação virtual do professor PDE e

professores da Rede Pública, aconteceu quando a implementação do Projeto estava

em andamento. Momento onde os professores cursistas interagiram com valiosas

observações. Veja opiniões de professores da Rede Estadual de Ensino do Paraná,

participantes deste curso online que discute o projeto em questão:

Para a professora Marcia Dal’Santo em “A leitura e a produção de textos

exigem sensibilidade, que devem ser desenvolvidas através de vários gêneros

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textuais. Entretanto, nada mais gratificante que desenvolvê-las através de um

gênero que desperta isso com prazer, com emoção, que vai além do dito, que exige

a nossa capacidade de ser e sentir.” Para a professora Izabel Barbosa “Aprofundar o

texto poético em sala de aula, sobretudo a partir de Cecilia Meireles, é uma feliz

escolha. Creio que os textos da poetisa contemplam todos os objetivos do trabalho

que são, para além do desenvolvimento cognitivo, o resgate de valores,

sentimentos, a imaginação.”

A professora Rosana Mulbarach de Lara destaca que “A leitura através do

gênero lírico, poema, é um convite a viajar, a sair um pouco da razão, despertando

prazer e proporcionando um novo olhar, com riqueza de detalhes ao texto. Desta

forma, é preciso instigar, provocar, incentivar, despertar o aluno de uma maneira que

ele consiga mergulhar neste mundo de sentimentos, emoções, onde ele seja capaz

de descobrir um novo universo que o cerca e passe a buscar na leitura, o novo, o

desconhecido, dando a sua roupagem, entendendo o texto com seu toque, deixando

aflorar os sentimentos que estão adormecidos. Em se tratando de Cecília Meireles,

por experiência em sala, é possível afirmar a sua assertividade, uma vez que os

versos dela realmente envolvem o leitor, sendo capaz de exprimir um verdadeiro

estado de alma. O uso abusivo de recursos como a musicalidade, aliteração,

assonância, metáforas e sinestesias de grande originalidade deram a seus poemas

um clima mágico.”. De acordo com a professora Debora Maria Proença “A poesia é

recheada de repertório instigante que pode levar os/as alunos/as a um passeio não

apenas pela imaginação, mas um convite a valores e emoções da pessoa humana

que merecem e precisam estar em evidência constante. Neste trabalho é possível

considerar o conhecimento prévio do/a aluno/a adquirido nos diferentes espaços

sociais, como família, eventos culturais, primeiros anos de escolaridade, enfim,

ampliar os horizontes é abrir janelas para o ‘infinito e além’.”.

Para a professora Simone de Oliveira Christoni “O trabalho com o gênero

lírico em sala de aula, oportuniza ao aluno uma leitura além da mera decodificação

de palavras, visto que não apenas a forma do texto é diferente, mas também sua

linguagem, predominantemente metafórica. Essa linguagem possibilita ao leitor

descobrir os vários sentidos de uma mesma palavra ou expressão e para isso ele é

levado a abstrair o sentido do texto, descobrir outras formas de expressão de

sentimentos e emoções, quase sempre desconhecidos até então. Essa experiência

é sempre gratificante, tanto para o aluno quanto para o professor, que vê no texto

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poético uma possibilidade de leitura prazerosa.”. A professora Susana Andreia dos

Passos destaca que “para nós, professores de Português, a não compreensão do

texto lido é um dos maiores problemas que encontramos e também o nosso grande

desafio. A poesia, que brinca muito seriamente com as palavras, é uma ótima opção

para que se desperte no aluno o prazer pela leitura, tanto das linhas quanto das

entrelinhas. Torna o leitor criativo ao dialogar com a criatividade do autor. E Cecília

Meireles é especial, além de muito criativa, suas poesias são belíssimas, de

musicalidade ímpar. Excelente escolha.". A professora Claudete Del Gesso lembra

que “O trabalho com leitura e produção de poemas em sala de aula é muito

importante, pois permite uma maior interação dos alunos, sendo que o gênero lírico

trabalha a emoção, o sentimento. O poema pode ser interpretado de várias

maneiras, podemos viajar através da leitura e interpretação de um poema.”.

Agora, apresentaremos o relato das ações desenvolvidas na escola durante a

implementação do projeto em questão:

AÇÃO 1: Primeiramente foi feita a apresentação do Projeto para a direção,

equipe pedagógica e demais docentes.

Assim que retornei à escola apresentei meu Projeto a toda equipe docente,

expliquei como seria trabalhado o gênero poema, qual metodologia usaria no

Material Didático, esclareci as dúvidas surgidas e falei sobre a importância do

trabalho com o gênero lírico em sala de aula.

AÇÃO 2: Implementação do Projeto através das oficinas construídas em uma

Sequência Didática para se trabalhar com o gênero lírico. Nas oficinas serão

contemplados o contexto de produção, o conteúdo temático, a construção

composicional e as marcas linguísticas e enunciativas dos poemas.

Os alunos envolvidos na proposta foram da oitava série/nono ano do ensino

fundamental e as oficinas desenvolvidas no Material Didático-Pedagógico serão

relatadas a seguir:

Oficina 1: Apresentação do Projeto - Conversei com os alunos sobre o Projeto a

ser desenvolvido com eles, esclareci sobre a minha condição de aluna PDE e qual o

objetivo do trabalho a ser desenvolvido. Falei sobre as oficinas, o processo avaliativo

e respondi suas indagações. Apresentei a eles um vídeo, montado por mim, que

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esclareceu ainda mais os objetivos do trabalho com o gênero lírico em meu projeto.

Os educandos, em sua maioria, mostraram-se entusiasmados em participar do

Projeto e os objetivos propostos foram atingidos.

Oficina 2: Vamos à biblioteca? - Para começar não pude levar os alunos à

biblioteca, pois não havia espaço adequado, as mesas estavam ocupadas com

trabalhos de alunos, muitos livros sobre as mesas, assim, separei uma caixa com 50

livros com poemas de diferentes autores, alguns livros iguais, outros diferentes, e

levei para a sala de aula. A experiência foi ótima, eles estavam incentivados a

participarem do projeto e leram com entusiasmo, faziam rodas de leitura com os

colegas, uns liam para os outros, comentavam os poemas e por fim, alguns fizeram

declamações para a turma. Alunos que nunca tinham lido na sala de aula,

resolveram ler e o mais gratificante foi ver os garotos lendo com entusiasmo (eu

pensava que talvez fosse haver resistência por parte deles). Por fim, todos

produziram seu poema inicial. Alguns bons poemas, mas muitos precisando ser

trabalhados.

Trabalhar com os livros em sala foi melhor do que se tivéssemos ido à

biblioteca porque lá os alunos não iriam poder expressar seus sentimentos e

declamar como aconteceu na sala de aula, pois é um local de silêncio. Educandos

comentavam que nem tinham visto o tempo da aula passar e eu também senti o

mesmo. Muitos alunos que nunca tinham lido em voz alta na sala de aula foram para

frente da sala declamar poemas que despertaram interesse neles. Foi muito

gratificante o trabalho com a leitura do gênero.

Oficina 3: Agora vamos conhecer Cecília Meireles! - Apresentei para os

educandos a autora Cecília Meireles e seus poemas "Retrato" e "O Amor...". A vida,

as obras da autora e os poemas mencionados acima foram apreciados com vídeos

baixados do youtube e passados na “TV Pendrive”. Houve envolvimento por parte da

maioria da turma. Muitos tiveram interesse em pegar livros da autora na biblioteca.

Livros que nunca tinham sido emprestados por eles ou que raramente eles

pegavam, começaram a sair das prateleiras. Educandos começaram a falar mais

sobre os sentimentos expressados nos poemas. E o tempo das aulas parecia que

tinha diminuído devido ao envolvimento com o trabalho. A oficina foi concluída com

êxito.

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Oficina 4: Poema “Motivo” de Cecília Meireles – A oficina foi concluída com os

objetivos propostos atingidos. Apresentei aos alunos um vídeo do poema que foi

baixado do youtube e passado na “TV Pendrive”.

“Motivo” foi o primeiro poema de Cecília Meireles do livro “Viagem” publicado

em 1939. Neste poema Cecília trabalha com o se fazer poesia, ou seja, a

metalinguagem. Veja um fragmento do poema analisado:

Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta. (...)

(Os Melhores Poemas de Cecília Meireles. 1994, p. 11)

Os educandos puderam reconhecer através do poema “Motivo” as

especificidades do gênero no contexto de produção, conteúdo temático, construção

composicional – o arranjo textual, as marcas enunciativas e análise linguística. Os

alunos apresentaram dificuldades para analisar o poema, mas houve um grande

interesse por parte deles em aprender. Chamavam-me constantemente em suas

carteiras para esclarecer suas dúvidas. Foi grande e envolvente a participação da

maioria. Veja como foram trabalhadas as atividades do poema acima:

Contexto de produção:

1. Que tipo de texto é este?

2. Onde você encontra textos assim?

3. Quem são seus leitores?

4. Qual o nome deste poema e quem o escreveu?

5. Podemos facilmente encontrar poemas em bibliotecas e livrarias?

6. Quem é personagem neste poema?

7. Qual o objetivo da autora ao escrever o poema?

8. Quais palavras são desconhecidas por você e o que você acha que elas significam?

9. No poema, você percebe palavras de sentidos opostos, ou seja, contrários?

10. O que diferencia os poemas de uma notícia de jornal?

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Conteúdo temático:

1. De qual temática trata este poema?

2. Você conhece algum poeta além da autora deste poema?

3. Relendo o texto, como podemos definir o poeta?

4. Como podemos relacionar o título do texto com o assunto, tema, tratado no poema?

5. Pesquise outras definições de ser poeta.

Construção composicional – o arranjo textual:

1. “Motivo” é um poema. Você já leu outros poemas que tratam do mesmo assunto que

este?

2. Neste poema o eu - lírico participa do poema ou apenas o conta?

3. Como este texto é disposto no papel?

4. Por que há linhas em branco entre os versos?

5. O que são versos e estrofes?

6. No decorrer deste poema há sons que se repetem no final das palavras. Como isto

se chama?

7. Que diferenças existem em um poema e uma prosa?

Marcas enunciativas e análise linguística:

1. Releia o poema “Motivo” de Cecília Meireles e perceba que os verbos estão sendo

utilizados no tempo presente do modo indicativo. Este tempo verbal é normalmente

utilizado para assinalar um fato que ocorre no momento em que se fala; uma ação

habitual, diária; ou ainda, uma verdade tida como universal. Quais são estes verbos

e por que a autora privilegiou este tempo verbal em seu poema?

2. Rimas são sons que se repetem dando ao ouvido uma agradável impressão.

Normalmente a rima aparece no final dos versos onde as palavras têm sons

semelhantes, porém, ela também pode ser interna, ou seja, no meio dos versos.

Encontre rimas no poema de Cecília Meireles e escreva-as.

3. Perceba que as rimas neste poema são dispostas de forma alternada (cruzada), ou

seja, o verso 1 rima com o 3 e o verso 2 com o 4. Agora, que você já reconheceu as

rimas, classifique a classe gramatical de cada palavra que a autora usou em suas

rimas.

4. Note que em algumas rimas a autora utilizou palavras com a mesma classe

gramatical, formando assim, rimas pobres e, em outros momentos, utilizou palavras

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pertencentes a categorias gramaticais diferentes, constituindo então, rimas ricas.

Relacione abaixo quais são as rimas pobres e as ricas utilizadas no poema em

estudo.

5. Na primeira estrofe do poema podemos perceber algumas palavras de sentidos

opostos, ou seja, contrários. Este recurso, muito utilizado em poemas, é uma figura

de linguagem (figura de estilo) chamada antítese. Este contraste de ideias pode ser

encontrado em quais palavras da primeira estrofe? Elas dão ênfase em que ideia?

6. O que a autora expressou na segunda estrofe?

7. Você identificou alguma antítese nesta estrofe? Qual?

8. Podemos perceber na terceira estrofe novamente a presença da antítese em quais

palavras? O que compreendemos nesta estrofe através desta figura de linguagem?

9. Ainda na terceira estrofe, a autora mostra estar certa de qual decisão tomar?

Esclareça sua resposta.

10. Leia atentamente a quarta estrofe do poema. O que permanecerá eterno? O que se

calará, ou seja, ficará mudo?

11. Como você já sabe, quando escrevemos uma frase normalmente utilizamos a ordem

direta, ou seja, iniciamos com o sujeito da oração, depois o verbo e seus

complementos e/ou adjuntos, porém, na literatura é comum que frases sejam

escritas na ordem inversa, ou seja, inverter os termos da oração obedecendo os

impulsos da emoção, pois coloca em primeiro momento da frase aquilo que lhe é

mais significativo. Em qual verso da quarta estrofe você encontra inversão de

palavras (troca de ordem direta dos termos da oração)? O que a autora quer

destacar com esta inversão? Obs.: esta troca na ordem dos termos da oração dentro

do poema é uma figura de linguagem (figura de sintaxe) denominada hiperbato.

12. Escreva resumidamente as ideias que a autora Cecília Meireles expressou no

poema “Motivo”.

13. Você percebe alguma relação das ideias da autora com sua vivência cotidiana?

14. Agora, depois de analisarmos e entendermos o poema, faremos novamente sua

declamação, porém, com mais entusiasmo que de início.

Oficina 5: Poema “Cântico VI” de Cecília Meireles – Este poema é do livro

“Cânticos”, composto de 26 poemas inéditos da autora e todos possuem caráter

introspectivo e intimista. “Cântico VI” foi publicado pela primeira vez em 1981, 17

anos após a morte da autora. É um poema que promove a reflexão sobre viver e

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morrer, ou seja, as coisas não são eternas, um dia acabam. Veja um fragmento do

poema:

Cântico VI

Tu tens um medo:

Acabar.

Não vês que acaba todo o dia.

Que morres no amor. (...)

http://adrianosc0.tripod.com/sitebuildercontent/sitebuilderfiles/cecilia_canticos.html (acesso

em 01 jul. 2011)

Neste poema senti que os alunos estavam mais familiarizados com o assunto.

Aqui também trabalhamos com o contexto de produção, o conteúdo temático, a

construção composicional, as marcas enunciativas e a análise linguística. Houve

envolvimento dos alunos e os objetivos da oficina foram atingidos. Como na oficina

anterior, mostraram-se muito interessados e sempre pedindo auxílio, principalmente

na análise linguística onde as dificuldades dos alunos são mais acentuadas.

Oficina 6: Poema “Assovio” de Cecília Meireles – Este poema também é do livro

“Viagem” publicado em 1939. Este livro consagrou a autora como uma grande

poetisa da Língua portuguesa. O poema mencionado é bastante musical e

expressivo. Veja um fragmento dele:

Assovio

Ninguém abra a sua porta

para ver que aconteceu:

saímos de braço dado,

a noite escura mais eu. (...)

http://pensador.uol.com.br/frase/MjM3MTI2/ (acesso em 03 jul. 2011).

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O poema “Assovio” foi o último com o qual trabalhamos com o contexto de

produção, o conteúdo temático, a construção composicional, as marcas enunciativas

e a análise linguística. Os alunos desenvolveram as atividades com maior

familiaridade, sempre pedindo auxílio na análise linguística, porém, com menos

frequência. Os objetivos da oficina foram atingidos e percebemos um grande avanço

no entendimento dos alunos quanto ao trabalho e as especificidades do gênero

lírico.

Oficina 7: Leitura e apreciação – Nesta oficina não analisaremos de forma escrita

os poemas e sim, resgataremos o prazer de lê-los, reconhecendo-os como um

elemento sedutor à formação do leitor. As opiniões, emoções e sentimentos

despertados nos poemas serão expressos oralmente. Os alunos terão a

oportunidade de assistirem as declamações dos poemas “Reinvenção” e “Timidez”

de Cecília Meireles através de vídeos baixados do youtube e passados na “TV

Pendrive” Veja os fragmentos dos poemas apresentados nesta oficina para a

apreciação do gênero lírico:

Reinvenção

A vida só é possível

reinventada.

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas. . .

Ah! Tudo bolhas

que vêm de fundas piscinas

de ilusionismo... – mais nada. (...)

http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/reinvencao.htm (acesso em 03 jul. 2011)

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,

feito de longe e de leve,

para que venhas comigo

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e eu para sempre te leve... (...)

http://meirelescecilia.blogspot.com/2008/02/timidez-cecilia-meireles.html (acesso em 03 jul.

2011).

Marcha

As ordens da madrugada

romperam por sobre os montes.

Nosso caminho se alarga

Sem campos verdes nem fontes.

Apenas o sol redondo

e alguma esmola de vento

quebram as formas do sono

com a ideia do movimento. (...)

http://boticelli.no.sapo.pt/cecilia_meireles.htm#Marcha (acesso em 03 jul. 2011).

Após apreciarem, recitarem e falarem de suas emoções e impressões sobre

os poemas, puderam apreciar a música “Canteiros” de Fagner que foi baseada no

poema “Marcha” de Cecília Meireles. Assistiram a um maravilhoso vídeo da música

que foi baixado do youtube e passado na “TV Pendrive”.

Os alunos declamaram os poemas e cantaram a música com muito

entusiasmo, porém, faltou tempo para trabalhar com mais calma nesta oficina, pois

já estávamos no final do ano letivo e havia muito que fazer. A oficina alcançou seus

objetivos, contudo, senti que com mais tempo poderia ter sido mais explorada.

Oficina 8: Produção individual de um poema – nesta oficina, primeiramente foi

relembrado como se constrói um poema, as características estudadas nas oficinas e

que são referentes ao gênero lírico para cada aluno fazer sua produção individual e

posteriormente ser comparada com a produção inicial deles. Cada aluno escolheu o

tema de seu poema, porém, o tema devia ter relação com um dos textos

declamados no decorrer das oficinas.

Os poemas produzidos por eles tiveram de 12 a 20 versos e foram entregues

para a professora que analisou, verificou o progresso deles diante da primeira

produção e devolveu-os para as devidas correções caso fossem necessárias. Após

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todos os textos analisados e corrigidos, cada educando passou seu poema para

uma folha de sulfite e ilustrou. A maioria dos poemas e ilustrações foram feitos com

muita criatividade e dedicação. Alunos apresentaram com entusiasmo seus poemas

para a turma.

Como o tempo disponível era curto, não foi possível fazermos a votação para

eleger os três melhores poemas da turma, como estava previsto no Material

Didático, pois necessitaríamos de um tempo maior para que todos os poemas

fossem apreciados pelos alunos e votados com seriedade, então, optamos por fazer

um portfólio com os poemas ilustrados. Foi um sucesso, ficou maravilhoso, com

produções e ilustrações muito boas. O portfólio não só foi apreciado por muitos

alunos como também pela equipe docente da escola despertando muito interesse e

curiosidade. Os alunos estavam sempre procurando os poemas de seus colegas

para apreciarem. Veja fragmentos de alguns poemas dos alunos do 9º ano do ensino

fundamental:

Reinvenção

Na caminhada da vida

sempre há muitos desafios

surpresas, tristezas e alegrias

a vida é feita assim... (...)

Poema produzido pela aluna S. D. do 9º ano do ensino fundamental.

Amor

O amor é incrível

mas às vezes traz sofrimento

horrível para quem é sensível

mas, bom para quem tem contentamento (...)

Poema produzido pelo aluno M. J. do 9º ano do ensino fundamental.

Os Sentimentos

Você tem motivo pra quê?

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Pra chorar

pra sorrir

pra sentir (...)

Poema produzido pelo aluno V. G. do 9º ano do ensino fundamental.

Pesadelo

(...) O sofrimento faz parte

e esta dor me invade

parece-me até

muito covarde (...)

Poema produzido pela aluna C. M. do 9º ano do ensino fundamental.

A Vida

Embaixo do meu chapéu

existe um mundo

cheio de certezas e incertezas

existem amores e desamores

alegrias e tristezas (...)

Poema produzido pelo aluno M. A. do 9º ano do ensino fundamental.

Tempo

O tempo não passa

viajo louco na batida do relógio a cada tic tac

caio em um buraco junto com os ponteiros de um relógio (...)

Poema produzido pelo aluno V. P. do 9º ano do ensino fundamental.

A Solidão

A solidão

é um vazio

no coração

que expressa

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muita emoção

sem razão(...)

Poema produzido pelo aluno A. A. do 9º ano do ensino fundamental.

Solidão

Eu andei sem destino, perdi a razão

na estrada da vida

eu fui na contramão

mergulhei de cabeça

num abismo sem fim (...)

Poema produzido pela aluna A. C. do 9º ano do ensino fundamental.

Às vezes tenho medo

Medo de olhar e enxergar,

medo de sentir e gritar,

medo de escorregar e cair,

medo de viver e morrer.

Fico paralisada por algum tempo (...)

Poema produzido pela aluna T. K. do 9º ano do ensino fundamental.

Poema

Estou sozinho

em um dia claro

ensolarado.

Todos brincando

e só eu

isolado em um canto (...)

Poema produzido pelo aluno D. k. do 9º ano do ensino fundamental.

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Morte

Pra que temer a morte

se um dia ela virá

pra que tentar evitá-la

se querendo ou não vocês vão se encontrar (...)

Poema produzido pelo aluno J. H. do 9º ano do ensino fundamental.

3 Considerações finais

Neste artigo ressaltamos a relevância da elaboração do material Didático pela

própria professora. Material este voltado à pesquisa, análise do “corpus” e ao gênero

lírico trabalhado por meio de oficinas e abolindo as lições gramaticais e as práticas

reprodutivas do trabalho de sala de aula, muitas vezes feito de forma superficial.

Enfatizamos a importância de se trabalhar o gênero lírico na escola favorecendo ao

aluno perceber que ler não é só decodificar, é preciso entender o que se lê e o

poema, rico em sua linguagem, propiciou ao educando uma maneira original de se

enxergar o mundo. Através das práticas discursivas da linguagem, o material

pedagógico apresentado neste projeto, por meio de oficinas, trabalhou de maneira

precisa e gradual o poema, modificando significativamente a dinâmica das aulas que

propiciou maior interação e participação dos educandos nas atividades propostas

envolvendo o contexto de produção, conteúdo temático, construção composicional –

arranjo textual, marcas enunciativas e análise linguística de poemas. Também,

através das oficinas, propiciou-se a leitura prazerosa dos poemas e sua valorização.

Instigou os educandos a novas leituras emprestando mais livros na biblioteca da

escola e, aluno que nunca tinha lido na frente da sala de aula, motivou-se a ler e

durante as oficinas, declamou poemas para a turma. A produção e ilustração dos

poemas na última oficina, já com o domínio das características do gênero, gerou nos

estudantes a vontade de fazer o melhor, produzindo seus textos com entusiasmo e

dedicação, o que nos motivou imensamente no processo de ensino e aprendizagem.

Acreditamos que o desenvolvimento deste projeto junto aos alunos da série

série/nono ano foi de grande valia, pois despertou o interesse dos alunos envolvidos.

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Referências

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