A justiça dos homens · Zé Povinho associa-se à justa homenagem que o município de Óbi- ......

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8 | Janeiro | 2010 Ú Ú Ú ltima ltima ltima ltima ltima 36 A Semana do Zé Povinho A justiça dos homens Publicada no jornal O Círculo das Caldas de 8 de Novembro de 1913, a notícia pertence ao tempo em que a honra se lavava com sangue, e revela o apoio entusiástico do jornalista a uma sentença que hoje seria considerada iní- qua. O cronista começa por relatar factos: «[…] Respondeu José Felício, viúvo, de 23 anos de idade, natural dos Casais da Gracieira […] que no dia 13 de Setembro último assassinara sua mulher, dando-lhe duas pancadas na cabeça, e degolando-a depois com uma navalha.» A crónica evolui depois para a legitimação do acto, com adjectivação depreciativa para a vítima: «[…] Todas as testemunhas dadas pela acusação declararam que o réu rompera nes- se excesso devido aos inúmeros agravos que tinha da mulher, que, além de o atraiçoar, abandonando por vezes o lar doméstico para viver em mancebia com uma criatura tão ab- jecta como ela, insultava-o escarnecendo […] foi na ocasião em que a adúltera repetia os insultos que se habituara a dirigir ao marido, que este, desvairado, verdadeiramente aluci- nado, desagravou a sua honra tão vilmente ultrajada». Segue-se a descrição exaltada dos dotes oratórios do defensor, que nas suas alegações enaltece o réu e considera patriótica a arma do crime: «[…] Fala a seguir o sr. Manuel de Carvalho […] disse que a defesa do seu constituinte dispensava a sua intervenção na causa, mas o seu dever ordenava-lhe que também alguma coisa dissesse em favor da vítima do desvario de duas criaturas perversas, que torturavam o desgraçado que estava sendo julgado […]. Teve sempre uma grande repugnância pela navalha, por essa arma cobarde e traiçoeira, mas hoje vê- se obrigado a dignificar esse objecto, que, em- pregado como o Felício empregou, converte-se na arma do herói. Sim, o seu constituinte usou da navalha em defesa da sua honra ultrajada, como o soldado português tem usado da espada em defesa dos sagrados interesses da pátria. Felí- cio, ferindo como feriu com a navalha, prestou um grande serviço à sociedade, ensinando as mulheres levianas e más a respeitar a honra dos maridos […]». Depois dos discursos, a sentença: «[…] O júri deu como provada a circunstância do réu se achar privado das suas faculdades mentais na ocasião em que assassinou a mulher, sendo por isso o Felício absolvido. A decisão do júri mereceu o aplauso geral». O mesmo jornal, na edição de 1 de Janeiro de 1910, conta a curiosa história de uma suspeita de crime não confirmada. Uma mulher da Serra do Bouro abandonou a sua casa. Devido às constantes as cenas de violência en- tre o casal, pouco depois do desaparecimento começou a correr o boato de que o marido a as- sassinara com a cumplicidade de uma sobrinha. Capturados os suspeitos, interrogados e pro- nunciados pelo delegado, o juiz não confirmou a pronúncia e ordenou a sua libertação. Dias depois, soube-se que a pretensa vítima se encontrava bem de saúde, a trabalhar na casa de um médico da Lourinhã. O Círculo termina a notícia de uma forma que não deixa dúvidas sobre a avaliação que faz do carácter da mulher: «[…] A velhaca tinha resolvi- do fazer-se passar por morta para assim incomo- dar o marido […]. Que grande patifa!». Reflectindo valores da época, o tribunal não reconhecia estatuto à mulher, bastando o epíteto de adúltera para con- verter o carrasco em vítima. Em Portugal, apesar da implantação da República, não havia igualdade de direitos cívicos, sendo o direito de voto reconhecido apenas a «cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família». Carolina Beatriz Ângelo, viúva e mãe, invoca a sua quali- dade de chefe de família e vota nas eleições para a Assem- bleia Constituinte de 1911. Uma semana após a publicação da notícia da absolvição de José Felício, no dia 15 de Novembro de 1913, o jornal A Luta noticiava um facto inédito: uma mulher entrava num tribunal sem o estatuto de ré ou de vítima. Tratava-se do primeiro julgamento em Portugal com in- tervenção de uma advogada. Foi na Boa Hora. Chamava-se Regina Quintanilha. Carlos Querido Carlos Querido Carlos Querido Carlos Querido Carlos Querido [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Palácio da Justiça na Palácio da Justiça na Palácio da Justiça na Palácio da Justiça na Palácio da Justiça na época – Colecção Chaby época – Colecção Chaby época – Colecção Chaby época – Colecção Chaby época – Colecção Chaby Uma candidatura única a um património comum? Zé Povi- nho não cabe em si de espanto e pergunta-se como é que dois municípios que confinam com “a maior e mais bela la- goa da Península Ibérica” não se consigam entender para uma candidatura conjunta ao concurso das “7 Maravilhas Naturais de Portugal”. De facto, é espantoso como só a Câmara das Caldas avan- çou com este processo, ficando de fora o município vizinho, que partilha metade daquele património. Parece que os dois concelhos que propuseram ao governo chamar a si a gestão das dragagens daquele ecossistema, não conseguem agora falar e entender-se para dar força aquela candidatura. Zé Povinho já se apercebeu há muito do divórcio entre os principais responsáveis dos dois municípios, mas julgava que para questões tão pacíficas como esta, seria fácil entende- rem-se. É uma questão de bom senso. Ou será que não que- rem partilhar a possibilidade de um prémio conjunto? Zé Povinho associa-se à justa homenagem que o município de Óbi- dos presta ao jornalista, poeta, ficcionista e critico literário, Armando da Silva Carvalho, natural do Olho Marinho, onde nasceu há 72 anos. No último meio século, o homenageado colaborou nas publicações Diário de Lisboa, Jornal de Letras, O Diário, Poemas Livres, Colóquio- Letras, Hífen, As Escadas Não Têm Degraus, Sílex, Nova, Via Latina, Loreto 13, depois de se ter licenciado em Direito na Universidade de Lisboa. Ainda jovem, foi distinguido com o Prémio de Revelação da Associa- ção Portuguesa de Escritores pela sua “Lírica Consumível”. Ao longo da sua vida literária tem sido distinguido com vários galar- dões, como foi o caso, recentemente, do Grande Prémio de Poesia, também da APE/CTT com a colectânea “O Amante Japonês”. Segundo a crítica, Armando da Silva Carvalho é um dos poetas por- tugueses mais consagrados, facto a que Zé Povinho não é insensível e daí a sua satisfação por este gesto bonito de que vai ser alvo.

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8 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A justiça dos homensPublicada no jornal O Círculo das Caldas de

8 de Novembro de 1913, a notícia pertence aotempo em que a honra se lavava com sangue,e revela o apoio entusiástico do jornalista auma sentença que hoje seria considerada iní-qua.

O cronista começa por relatar factos: «[…]Respondeu José Felício, viúvo, de 23 anos deidade, natural dos Casais da Gracieira […] queno dia 13 de Setembro último assassinara suamulher, dando-lhe duas pancadas na cabeça,e degolando-a depois com uma navalha.»

A crónica evolui depois para a legitimaçãodo acto, com adjectivação depreciativa para avítima: «[…] Todas as testemunhas dadas pelaacusação declararam que o réu rompera nes-se excesso devido aos inúmeros agravos quetinha da mulher, que, além de o atraiçoar,abandonando por vezes o lar doméstico paraviver em mancebia com uma criatura tão ab-jecta como ela, insultava-o escarnecendo […]foi na ocasião em que a adúltera repetia osinsultos que se habituara a dirigir ao marido,que este, desvairado, verdadeiramente aluci-nado, desagravou a sua honra tão vilmenteultrajada».

Segue-se a descrição exaltada dos dotesoratórios do defensor, que nas suas alegaçõesenaltece o réu e considera patriótica a armado crime:

«[…] Fala a seguir o sr. Manuel de Carvalho[…] disse que a defesa do seu constituintedispensava a sua intervenção na causa, mas oseu dever ordenava-lhe que também algumacoisa dissesse em favor da vítima do desvariode duas criaturas perversas, que torturavam odesgraçado que estava sendo julgado […]. Teve

sempre uma grande repugnância pela navalha,por essa arma cobarde e traiçoeira, mas hoje vê-se obrigado a dignificar esse objecto, que, em-pregado como o Felício empregou, converte-sena arma do herói. Sim, o seu constituinte usou danavalha em defesa da sua honra ultrajada, comoo soldado português tem usado da espada emdefesa dos sagrados interesses da pátria. Felí-cio, ferindo como feriu com a navalha, prestouum grande serviço à sociedade, ensinando asmulheres levianas e más a respeitar a honra dosmaridos […]».

Depois dos discursos, a sentença: «[…] O júrideu como provada a circunstância do réu se acharprivado das suas faculdades mentais na ocasiãoem que assassinou a mulher, sendo por isso oFelício absolvido. A decisão do júri mereceu oaplauso geral».

O mesmo jornal, na edição de 1 de Janeiro de1910, conta a curiosa história de uma suspeita decrime não confirmada.

Uma mulher da Serra do Bouro abandonou asua casa.

Devido às constantes as cenas de violência en-tre o casal, pouco depois do desaparecimentocomeçou a correr o boato de que o marido a as-sassinara com a cumplicidade de uma sobrinha.

Capturados os suspeitos, interrogados e pro-nunciados pelo delegado, o juiz não confirmou apronúncia e ordenou a sua libertação.

Dias depois, soube-se que a pretensa vítima seencontrava bem de saúde, a trabalhar na casa deum médico da Lourinhã.

O Círculo termina a notícia de uma forma quenão deixa dúvidas sobre a avaliação que faz docarácter da mulher: «[…] A velhaca tinha resolvi-do fazer-se passar por morta para assim incomo-

dar o marido […]. Que grande patifa!».Reflectindo valores da época, o tribunal não reconhecia

estatuto à mulher, bastando o epíteto de adúltera para con-verter o carrasco em vítima.

Em Portugal, apesar da implantação da República, nãohavia igualdade de direitos cívicos, sendo o direito de votoreconhecido apenas a «cidadãos portugueses com mais de21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes defamília».

Carolina Beatriz Ângelo, viúva e mãe, invoca a sua quali-dade de chefe de família e vota nas eleições para a Assem-bleia Constituinte de 1911.

Uma semana após a publicação da notícia da absolviçãode José Felício, no dia 15 de Novembro de 1913, o jornal ALuta noticiava um facto inédito: uma mulher entrava numtribunal sem o estatuto de ré ou de vítima.

Tratava-se do primeiro julgamento em Portugal com in-tervenção de uma advogada.

Foi na Boa Hora. Chamava-se Regina Quintanilha.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

Palácio da Justiça naPalácio da Justiça naPalácio da Justiça naPalácio da Justiça naPalácio da Justiça naépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chabyépoca – Colecção Chaby

Uma candidatura única a um património comum? Zé Povi-nho não cabe em si de espanto e pergunta-se como é quedois municípios que confinam com “a maior e mais bela la-goa da Península Ibérica” não se consigam entender parauma candidatura conjunta ao concurso das “7 MaravilhasNaturais de Portugal”.

De facto, é espantoso como só a Câmara das Caldas avan-çou com este processo, ficando de fora o município vizinho,que partilha metade daquele património. Parece que os doisconcelhos que propuseram ao governo chamar a si a gestãodas dragagens daquele ecossistema, não conseguem agorafalar e entender-se para dar força aquela candidatura.

Zé Povinho já se apercebeu há muito do divórcio entre osprincipais responsáveis dos dois municípios, mas julgava quepara questões tão pacíficas como esta, seria fácil entende-rem-se. É uma questão de bom senso. Ou será que não que-rem partilhar a possibilidade de um prémio conjunto?

Zé Povinho associa-se à justa homenagem que o município de Óbi-dos presta ao jornalista, poeta, ficcionista e critico literário, Armandoda Silva Carvalho, natural do Olho Marinho, onde nasceu há 72 anos.

No último meio século, o homenageado colaborou nas publicaçõesDiário de Lisboa, Jornal de Letras, O Diário, Poemas Livres, Colóquio-Letras, Hífen, As Escadas Não Têm Degraus, Sílex, Nova, Via Latina,Loreto 13, depois de se ter licenciado em Direito na Universidade deLisboa.

Ainda jovem, foi distinguido com o Prémio de Revelação da Associa-ção Portuguesa de Escritores pela sua “Lírica Consumível”.

Ao longo da sua vida literária tem sido distinguido com vários galar-dões, como foi o caso, recentemente, do Grande Prémio de Poesia,também da APE/CTT com a colectânea “O Amante Japonês”.

Segundo a crítica, Armando da Silva Carvalho é um dos poetas por-tugueses mais consagrados, facto a que Zé Povinho não é insensível edaí a sua satisfação por este gesto bonito de que vai ser alvo.

15 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia veio no semanário O Caldense,edição de 18 de Junho de 1893 e ilustra odesgoverno da cadeia da Vila, situada àépoca no edifício dos Paços do Concelhona praça Dona Maria Pia1.

Reza a crónica que um recluso que saíada cadeia todos os dias pela calada danoite, para regressar tranquilamente namanhã seguinte, por irresponsável negli-gência ficou “fechado na rua” num dia emque acordou tarde de mais.

São estes os factos:«Já se apresentou nas cadeias da Villa o

preso Pedro dos Santos de quem se noti-ciou a supposta evasão.

O Pedro sahira effectivamente de noitea passeio, como costumava, na intenção,é claro, de voltar para a cadeia.

Dormira porém de mais sobre o caso equando chegou à praça para entrar na cadeia, jáera manhã clara e havia acolá gente.

Demorou-se ainda um pouco a ver se podiadisfarçadamente entrar mas não o poude fazerem todo o dia em consequência do carcereiro terobedecido ao provérbio: casa roubada trancas àporta […]».

A notícia não desmente a crónica publicadasete anos antes por Ramalho Ortigão em As far-pas, onde o ilustre viajante se refere à Cadeia doRossio, nestes termos:

«[…] na cadeia das Caldas há apenas dois pre-sos. Afirmam-me que são sempre os mesmos:dois honestos e assíduos funcionários, devida-mente gratificados para fingir de criminosos e seconservarem às grades do cárcere, com o fim defazer ver aos povos que os ferros de el-rei se nãofizeram para as moscas, e que ainda há juízes ...

A cadeia da Vila

nas Caldas. Quando algum destes cavalheiros pede licença para seausentar alguns dias da masmorra, deixa um amigo incumbido de osubstituir no seu cargo. Se não se tomassem tão sérias e rigorosasmedidas, a cadeia passaria, segundo todas as probabilidades, pelodesgosto de ficar desabitada, tal é a pertinaz velhacaria com que oscelerados aqui se recusam à obsequiosa perpetração de qualquerespécie de crime! […]».

Seria Pedro dos Santos um pacato funcionário, despedido sumari-amente por falta de assiduidade?

Afigura-se que não, porque em notícia publicada pelo mesmo se-manário no dia 22 de Novembro de 1891, refere-se a evasão de seispresos, entre os quais Pedro dos Santos, condenado por homicídio emseis anos de prisão celular, seguido de dez anos de degredo, ou emalternativa vinte e cinco anos de degredo.

Por outro lado, a ousada medida de prevenção criminal, que tantoimpressionou Ramalho Ortigão, não teria qualquer eficácia, porquecertamente os habitantes da Vila conheceriam os figurantes.

O certo é que na cadeia da Vila vai um rebo-liço todas as noites de domingo para segunda,como explica indignado o O Caldense, em su-cessivas crónicas intituladas «Scenas da ca-deia».

Reza assim a de 14 de Dezembro de 1890:«[…] No domingo último, à noite, houve de-

sordem nas cadeias d’esta Villa. […] Estas scenas não são raras aos domin-

gos.As famílias ou os amigos dos presos esco-

lhem esse dia para os visitar, passam-lhes pe-las grades garrafas de vinho, d’ahi a origem dobarulho

[…] O meretíssimo delegado substituto nãopôde como desejava remediar este inconveni-ente.

Em tempos estacionava nas Caldas um des-tacamento que fazia guarda à cadeia. Com essamedida preventiva podia evitar-se que os pre-

sos abusassem da bebida, mais difficilmente setornava o passarem-lhes garrafas e garrafas devinho.

Infelizmente o destacamento foi d’aqui retirado,a polícia limita-se a três agentes, as Caldas estápois num desgraçado estado de verdadeira desor-dem […]».

Mas o reboliço não acaba aqui. Na noite de Natalde 1891 houve festa de arromba na cadeia da Vila,relatada na edição de 3 de Janeiro de 1892 pelosemanário O Caldense, que volta a noticiar desor-dens entre os reclusos, completamente ébrios como vinho que as famílias e amigos lhes passarampelas grades para a celebração da consoada.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

O presidente da Câmara das Caldas pode não ser culpado, mas tema responsabilidade política da ausência do primeiro-ministro da se-gunda cidade do distrito de Leiria durante a operação “governo pre-sente”.

Afinal, uma parte do governo faz-se à estrada pelo distrito e passapela A8, ao largo das Caldas, sem que no programa se inclua umasimples paragem de cortesia, uma breve visita à lagoa de Óbidos ouuma troca de cumprimentos nos Paços do Concelho?

Talvez José Sócrates conheça o estilo repetitivo do presidente daCâmara local (e talvez se recorde do triste episódio com Guterres emLeiria em que o Dr. Fernando Costa prometeu “um das Caldas” aoprimeiro-ministro por causa da guerra das portagens) e, por isso, te-nha preferido ir ao Bombarral, Peniche, Batalha e Leiria.

Do ponto de vista político é um sério revés para o autarca-sénior quepreside há mais de 24 anos aos destinos das Caldas da Rainha e dequem seria de esperar um prestígio suficiente para “obrigar” a umaparagem do primeiro-ministro.

Como um revés nunca vem só, o Dr. Fernando Costa viu-se agoraconfrontado com uma candidatura surpresa à distrital de Leiria porparte dos seus jovens rivais do Bombarral (Dr. João Carlos BarreirasDuarte), Óbidos (Dr. Telmo Faria) e Alcobaça (Dr. Carlos Bonifácio).

Na cerimónia da inauguração da “Palácio das Artes – Fábricados Talentos” no Porto, que se realizou no início do mês deDezembro, presidida pelo Presidente da República, foram dis-tinguidas duas ex-alunas da ESAD com os primeiros prémios doConcurso Nacional de “Design em Português”, edição de 2009.

Tanto Ana Isabel Morais como Ana Carina Cabete receberamas maiores distinções do concurso, no qual participaram algu-mas dezenas de jovens entre os 18 e os 35 anos de todo o país.

Uma vez mais Zé Povinho constata a presença de alunos daescola de artes caldense nos lugares cimeiros, o que demonstrao prestígio que continua a desfrutar no contexto da criatividadenacional entre as várias Escolas de Design.

Zé Povinho só lamenta, em nome destes alunos, que Portugalnão lhes dê uma oportunidade de emprego compatível nem asua Escola lhes possa oferecer uma formação complementar naárea do Design, ao nível do Mestrado, o que os obriga a procuraroutras paragens como se comprova nas declarações que fize-ram depois da cerimônia.

22 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O protesto foi lavrado no semanário Echos dasCaldas de 20 de Setembro de 1908, com o título«A sinêta do Parque» e um texto que oscila entrea indignação e a ironia.

Indignado, começa o cronista por referir que«[…] Apenas o céu se torna purpúreo […] e a luzda tarde vai expirante, já para as bandas do Par-que D. Carlos I se faz ouvir uma infernal campa-inha […]. Com effeito! Todas as noites, durante 4ou 5 horas, um insensível assalariado sacode cons-tantemente, com uma fúria implacável a infernalsinêta, atormentando os ouvidos, ainda os maisrombos e indifferentes, do banhista que passeia[…]».

Irónico, continua: «[…] Ora, com franqueza«[…] acham que no Parque, onde tudo se dispõepara ser ameno, brando e perfumado, deva exis-tir o supplício da sinêta? […] Só nos falta verentrar o homem da sinêta pelo céu de vidro den-tro, ir até ao grande salão e ahi badalar, badalarconstantemente atrás dos galantes pares, comosendo a marca mais interessante d’um cotillondepois da meia noite […]».

Para o cronista, o maior agravo da sineta resi-de na perturbação que causa aos frequentadoresdo elegante Clube do Parque, e à má imagemque a mesma provoca na Vila que pretende seracolhedora e tranquila para quem a visita.

Para os visitantes mais viajados e ilustres, sendoum local de agradável diversão, mesmo antes daperturbadora sineta o Clube não era propriamenteconsiderado um espaço de elegância elitista, comose conclui da descrição de Júlio César MachadoVaz no Jornal do Comércio de 27 de Agosto de1883:

Animatógrafo

«[…] A ostentação elegante das Caldas da Rainha é o seu clube.Toda a pessoa que para aqui vem a águas, tem o direito de se inscre-ver como sócio. Paga três mil réis e pode levar a família. Às dez horasda noite serve-se chá com fatias de torradas; a família come astorradas e bebe o chá; o sócio nestas condições custa ao clube maisdo que dá. A facilidade de admissão estabelece uma deplorável con-fusão de sociedade, ali. Só uma igualdade pode dar-se naquela ele-gante e graciosa roda, serem todos doentes. Os que não são reumá-ticos sofrem do estômago […]».

Voltando ao protesto do Echos. Para além da indignação e da iro-nia, há informação no texto: «[…] aquele immaterial e invisível somde sinêta, convertido num instrumento anunciador do animatographo[…]».

Surgia na época uma pequena luz que projectava na parede ima-gens silenciosas. Já era magia mas ainda não se chamava cinema. EmPortugal, Edwin Rousby divulga uma versão de projector a que chamaAnimatógrafo Colossal, chegando a Caldas um dos primeiros exem-plares

Do jornal O Círculo das Caldas de 20 de Novembro de 1907, recolhe-se a primeira notícia sobre a nova arte: «[…] Estreou-se no domingoúltimo, no salão da Convalescença, a magnífica machina animatogra-

phica apresentada pelo sr. Guilherme Bolander […].A primeira e única sessão de domingo teve enor-míssima concorrência com a instalação e nitidezdos seus esplêndidos quadros de que especialisa-remos: “Amor e Pátria ou A Noiva do Voluntário”,de maravilhosos efeitos de luz e intensidade dra-mática […] e bailados da Bella Romero […]. Segun-da-feira foi exibida a grandiosa peça “Martyres daInquisição”, assumpto impressionante, muito fielde reprodução mas, a nosso ver, pesado de maispara espectáculos de verdadeiro passatempo […].Para amanhã […] dar-nos-ha o sr. Bolander a extra-ordinária fita, não só de empolgante assumptocomo de fina estructura e viva realidade: um dra-ma de Sevilha “Amor d’um toureiro”, fechando asessão com “Aventuras na Corte de Luiz XIV” […]».

No Echos das Caldas de 2 de Agosto de 1908, háuma notícia com o título «Inauguração dos Pavi-lhões do Parque» e dela se reproduz o seguintetrecho:

«[…] A conhecida empreza Netto, Valle & C.ª,vae apresentar soberbos espectáculos n’um dosPavilhões do Parque D. Carlos1. A inauguração rea-lisa-se […] com magníficas sessões do Animato-grapho Colossal e com esplendorosos bailados,executados pela bella e notável bailarina ConchaMonedero (Currita Madrileña) […]. Os preços sãobaratíssimos: cadeiras a 100 réis, superior a 80 réise geral a 60 réis […]».

É para este espectáculo que é convocado o pú-blico com a famigerada sineta.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

Os manos Barreiras Duarte, os inspiradores da candidatura daoposição ao Dr. Fernando Costa (apesar de também terem sidoapoiantes de Pedro Passos Coelho à liderança do PSD), e quedurante mais de uma década conseguiam influenciar a estruturadistrital, estão a perder paulatinamente a sua projecção distrital.

Para quem sempre defendeu a hegemonia da capital do distritoe chegou a afirmar em livro, publicado em 2005, que Leiria não“podia ser um gigante económico e um anão político”, não temdeixado de averbar derrotas nos últimos anos.

E desta vez foi a vingança do seu mais predilecto adversáriodentro do partido e da distrital.

Nos próximos anos, a não ser que haja um milagre nas hostes enas consciências sociais-democratas, vão ficar na sombra, tendoperdido os postos na Assembleia da República. Só com uma gran-de conversão poderão ter acesso aos corredores do poder. E comisto levaram na bagagem, um tanto incomodado, o autarca prefe-rido da governação do PSD nos anos 2003/05 – o Dr. Telmo Faria –que paga caro pela sua fidelidade aos manos bombarralenses.

Zé Povinho chora pela sua pena...

Zé Povinho tem mesmo uma infindável admiração pelo presi-dente da Câmara das Caldas da Rainha, que conseguiu desta vezatingir um objectivo estratégico no seu partido: dominar a estru-tura distrital e afastar para longe os seus arqui-adversários, queele próprio acusa de estarem por detrás da candidatura contra ounanimismo.

O Dr. Fernando Costa, desta vez, apesar de ter querido juntartodas as concelhias do distrito à sua roda, foi surpreendido nosúltimos dias por uma candidatura onde acha que se juntavamalguns ressabiados da sua pessoa.

Depois da vitória quase esmagadora, não quis ter a magnani-midade de juntar todos no seu albergue distrital. Venceu e ven-ceu claramente. E fez questão de o afirmar. Afinal um vencedoré um vencedor. Mas aqueles que se levantaram contra si que secuidem.

A partir de agora irá passar pela sua mão a elaboração daslistas dos deputados pelo distrito, para além de caber-lhe arepresentação do distrito nas reuniões nacionais do seu partido.

As hostes de Pedro Passos Coelho, o único candidato assumi-do à liderança do PSD nacional nas directas que se aproximam,regozijaram-se com a vitória em Leiria. Caso ganhe nos próxi-mos meses, o presidente caldense pode enfim ter projecçãonacional no reino social-democrata.

29 | Janeiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia, publicada no jornal O Círculo das Caldasde 20 de Novembro de 1903, abre com um lamento:«Esta Villa, outrora tão ordeira e respeitadora dasauctoridades, vae perdendo os honrosos créditos deque gozava […]».

Segue-se a crítica à falta de qualidades do admi-nistrador do concelho e a irónica descrição das des-graças que têm atingido tão ilustre personagem: «[…]não é respeitado nem temido, e d’ahi os desaires porque tem passado. Há dias foi apedrejado […] e, emlugar de procurar castigar os auctores de tão conde-nável desacato, ficou-se com o vexame, calado e sa-tisfeito como se tivesse sido distinguido por qualqueramabilidade! […]».

Refere-se depois o cronista, ao escândalo provo-cado pelo facto de os jornais da capital terem divul-gado os incidentes que embaraçam a Vila e que con-sistiram «[…] na cobarde agressão de que foram vic-timas os guardas n.º 6, 18 e 23 na noite de 11 docorrente […]».

Reza a crónica que os guardas se encontravam napraça D. Maria Pia, onde foram chamados «[…] poucodepois das 11 horas da noite, por um indivíduo quenão conheceram, a fim de irem apaziguar uma desor-dem que havia na Rua do Capitão Filipe de Sousa,junta da casa d’umas meretrizes […]».

Indignado com o logro e comovido com a inocênciados agentes da autoridade, diz o cronista: «[…]ospobres guardas, acreditando no desconhecido, diri-giram-se apressadamente para o sítio indicado, e,chegados ali, viram próximo do chafariz d’El Rei, 3homens armados de varapaus, simulando uma de-sordem. Ao aproximarem-se mais, para interviremna supposta contenda, saltam os 3 a agredi-los comcacetadas […]».

Segue-se a descrição dos efeitos da agressão, or-denada por rigorosa ordem numérica crescente: «[…]ficando logo prostrado o guarda n.º 6, depois o n.º 18

Números de Políciae por último o n.º 23, que ainda lutou por algumtempo com os cobardes aggressores […]».

Após a agressão, durante a qual não identifica-ram os autores, foram os guardas, muito combali-dos «[…] recolhidos à casa da polícia, sendo-lhesfeitos os primeiros curativos pelo Sr. Dr. AugustoCymbrom, director do Hospital Real […]».

Recaíram suspeitas sobre dois criados do comer-ciante José Monteiro Ferreira da Silva, confirmadascom a descoberta «de dois paus manchados de san-gue» na casa onde dormiam.

Na edição de 1 de Outubro de 1905, o Circulo dasCaldas protesta indignado contra uma outra agres-são, também referida na imprensa de Lisboa, masdesta vez a vítima é um pacato cidadão de nomeFrancisco Valentim Vão, cabendo o papel de agres-sores aos guardas n.º 11, 26 e 38.

O jornal volta a atribuir as responsabilidades aoadministrador do concelho Abel Fernandes, a quemacusa como «principal responsável dos actos vio-lentos cometidos pela polícia que serve sob as suasordens», e transcreve o breve trecho que se segue,do jornal A Vanguarda:

«[…] Pois fique toda a gente sabendo, que há unstempos a esta parte, raro é o preso que não levatareia lá dentro, não escapando um pobre loucoinoffensivo de Óbidos, nem um aleijadinho das per-nas […] fiquem sabendo isto os senhores juiz dedireito e delegado do procurador régio […]».

Confrontadas as duas notícias, os guardas inter-venientes, que nunca são identificados pelos no-mes, não terão sido os mesmos, já que os númerosnão coincidem.

Por outro lado, é curioso verificar que na ediçãode O Caldense, de 14 de Dezembro de 1890 se refereque o policiamento das Caldas é efectuado apenaspor três agentes, número duplicado no ano seguin-te, de acordo com o mesmo semanário, que na edi-

ção de 3 de Janeiro de 1892 refere a propósito das constantes desor-dens na cadeia da Vila: «[…] os polícias aqui destacados são apenasseis, este número já é insuficiente para a polícia da Villa, quanto maispara estarem permanentemente de guarda às cadeias […]».

Mudam-se os tempos, mantêm-se as críticas. Falta de meios, diz-se hoje.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

O Oeste e o distrito de Leiria continuam a ter no actualgoverno uma boa representação, agora nas pessoas dosministros dos Negócios Estrangeiros, da Economia e Ino-vação e da Saúde, respectivamente Luís Amado, Vieira daSilva e Ana Jorge.

Será que não serão sensíveis aos propósitos demons-trados por todos os partidos com representação parla-mentar e mais individualidades (algumas nem sequer ali-nhadas partidariamente), para se baterem pela concretização das promessas datransferência do aeroporto da Ota?

Zé Povinho recorda que foi um membro do distrito do anterior governo que votoucontra a anulação da escolha do aeroporto da Ota e se bateu pelas compensações,como foi noticiado na altura.

Agora os membros do governo restantes, com ligações a Porto de Mós, MarinhaGrande e Lourinha, parece não estarem muito despertos para a região a que estãoligados.

Ao menos poderiam ter alguma sensibilidade e senso uma vez que o que se pedenão é exagerado e tem uma promessa anterior do primeiro ministro. Promessa essadiversas vezes reeiterada.

Será que Luís Amado, Vieira da Silva e Ana Jorge, estão surdos e mudos peranteestas questões, nomeadamente a modernização da Linha do Oeste, tantas vezesprometida e sempre esquecida?

Fosse, por exemplo, o Ribatejo e o ministro Jorge Lacão não esqueceria...

Tal como o Presidente Obama foi distinguido com o Prémio Nobel das Paz semter realizado obra suficiente para tal distinção, valendo-lhe apenas os propósitosque tinha enunciado em favor da Humanidade, também o jovem candidato àliderança do PSD nacional deve merecer um prémio a ser atribuído a nível distri-tal.

O Dr. Pedro Passos Coelho vai ter uma missão hercúlea de conciliar na distritalde Leiria do seu partido as principais lideranças das duas listas que se bateramencarniçadamente entre elas e a que não faltam piropos já depois de conhecidos

os resultados.Na recente apresentação em Lisboa do seu livro “Mudar”, lá estavam alguns dos seus

apoiantes distritais desavindos, cada qual se posicionando da forma mais visível, fosse naprimeira fila da assistência ou na primeira linha dos apoiantes que procuravam um livroautografado.

Zé Povinho vai assistir atento e deliciadamente aos próximos episódios, sabendo quenenhuma das partes se vai acusar de chapeladas nas eleições directas que se aproximam,nem de terem pago as quotas recentemente de forma pouco estatutária. Afinal (se nãohouver arrependimentos mais próximos da data crucial e transferências de campo) estãoambas as correntes a trabalhar para o mesmo líder. O problema só se verificará (casoPedro Passos Coelho vença o PSD) quando for a escolha das listas para o Parlamento em2013, ou antes se houver eleições antecipadas. Aí perceberá o que significa “Para queminvectivou e tentou o “agiornamento” por via da infâmia, diabolização. Que não se iludam.Nada ficará como dantes. A unidade tem um preço. Que é a dignidade e a desculpa. Semisso nada feito. (...) O tempo do sempre em pé, do dança de ombros e dos cortiças, jácomeçou a ser descontado”. (Feliciano Barreiras Duarte in Região de Leiria – 22/01/2010)

Zé Povinho acha que com amigos e companheiros destes o Dr. Passos Coelho nãoprecisa de mais adversários.

5 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Preocupado com a falta de privacidade no Clubede Recreio1, o Cavacos das Caldas de 29 de Novem-bro de 1896 aborda o problema e propõe a solução:

«[…] Evitar a constante exposição dos que concor-rem aos bailes do club, perante o público que dasjanellas observa esses bailes, por vezes procedendocomo nas geraes dos theatros barracas ou de feira[…] sendo impossível instalar o club em outro local,supprir o inconveniente, vedando as janelas conve-nientemente, […] por isso que as famílias que con-correm ao club, não vão ali para serem motivo dacríticas menos correctas e às vezes bem pouco de-centes e feitas em voz alta pelo supra citado público[…]».

A sugestão foi prontamente seguida pela direc-ção do clube, que ali colocou persianas, mal recebi-das pela população, privada do espectáculo munda-no que animava os serões de quem, não podendoentrar pela porta, se habituara a espreitar pela ja-nela, acompanhando activamente o desenrolar dasfestas, com comentários, aplausos, palpites e críti-cas.

Do veemente protesto dá notícia o Cavacos de 8de Julho de 1897:

«[…] Relatámos em um dos nossos passados nú-meros que a direcção do estabelecimento thermal,resolvera mandar collocar de noite umas meias per-sianas nas janelas do club de recreio […]. Começavaeste acto a praticar-se na noite de 1 de Julho corren-te, era elle bem aceite por uns, reprovado por ou-tros, estes impensadamente exaltados, manifesta-vam infelizmente o seu desagrado nas noites de 1, 2,3 e 4 do corrente, levando o seu excesso ao ponto dearrancarem e partirem três daquelas persianas […]».

Apesar de contestar a forma do protesto, sobre-tudo por prejudicar a imagem da vila «[…] muitoprincipalmente em época de affluência de forastei-

Os mirones do cluberos a uma terra que tem sempre goza-do de foros de conveniente, pacífica eordeira […]», o Cavacos não deixa dereconhecer alguma legitimidade aosque se opunham à medida, revogató-ria de uma “servidão de vistas” con-solidada pela tradição: «[…] Foi paraisso … que se creou o direito de peti-ção e de representação, onde em ter-mos convenientes e suasórios se podepedir esta ou aquella concessão gra-tuita ou costume de há muitos annos,que se pretenda fazer revogar […].

Era inegável a existência de umdano, por isso se seguiu a inevitávelinvestigação e posterior julgamento,onde se veio a revelar, particularmen-te no interrogatório do juiz, um intri-gante personagem que dava pelonome de Dominó.

Disso nos dá conta o Cavacos de 7 de Dezembro de 1897:«[…] Há dias foi julgado em polícia correccional e absolvido por

falta de provas, um artífice que tem por nome de Guerra o Dominó.Era accusado de crime de damno nas persianas do club, feito que

deu tanto que fallar.Perguntado pelo meritíssimo juiz como se chamava, respondeu:António Félix Dominó Lourenço Miguel d’Oliveira Quidalhe Casca

d’Azinha Pelle de Batata Pachi Cró Cambournac Comendador dosCrentes.

[…] ao ser interrogado para declarar qual o seu estado, replicou:Que ignorava. Casara aos 12 de Novembro de 1883, vivera seis me-

ses com sua mulher, mas esta ao fim d’esse tempo passara-lhe aspalhetas, razão porque não sabia se era casado, solteiro ou viúvo.

No género um original de primeira ordem, não acham? […]».A exclusividade de utilização do espaço do clube pelos seus sócios

é preocupação antiga do Cavacos, já anteriormente manifestada noregozijo com que noticiou a abertura de um portão do parque.

Rezava assim a notícia de 17 de Julho de 1896:«[…] Na rua de Camões está-se procedendo à aber-

tura de mais um portão, dando entrada para o par-que D. Carlos. A inovação, pelo que nos informam, éacertadíssima. Os que não forem sócios do club te-rão por alli franca a entrada para o mesmo parque,com isto evitar-se-ha, e muito justamente, o quetodos os annos se repetia. Não poderem alcançar ossócios do club lugares no chamado céu de vidro, poraqueles estarem ocupados na sua grande maioria,por pessoas que não contribuíram para o club. […]»

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

(Footnotes)1 Mais tarde, indevidamente chamado “Casino do Parque”

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

Zé Povinho ficou muito satisfeito no passado domingo com a inauguração do jardim emLisboa do seu Patrono, Rafael Bordalo Pinheiro, agora assinando como Bordallo com dois l´s.

Uma ideia simples, apesar de envolver uma verba avultada (menor certamente do queeventuais subsídios de desemprego), mas bem gasta, uma vez que serviu para viabilizaralgum tempo de trabalho da fábrica que, na altura do lançamento do projecto, estava aatravessar momentos conturbados e com o fim anunciado.

Catarina Portas demonstrou ter a imaginação que a muitos faltou, uma vez que em muitasocasiões preferem esmolar do que oferecer trabalho que depois reverte para a comunidade.

Joana Vasconcelos deu o seu contributo aproveitando criativamente as peças criadas pelomestre. Depois coube também na fábrica a Elsa Rebelo dar corpo aos animais em cerâmica.

Será que este projecto, que fez renascer uma ideia antiga que havia sido desenvolvida noJardim da Estrela no século passado, irá ainda animar no futuro uma parte do Campo Grande,entre os dois Museus - da Cidade e Bordalo?

Zé Povinho acha que outros deviam olhar para o exemplo levado a cabo na capital eespalhar por outros locais obras em que utilizem mais intensamente a cerâmica decorativae criativa. Daria sustentabilidade a uma tradição portuguesa que os estrangeiros muitoadmiram.

Por todas estas razões Catarina Portas, Joana Vasconcelos e Elsa Rebelo, merecem umasaudação.

É de louvar que a CP tenha respondi-do de forma tão completa e numa atitu-de tão pedagógica às questões apresen-tadas pela Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas, procu-rando explicá-las e anunciando algumasmudanças que vão no sentido de corrigirerros passados.

Mas nem por isso a transportadorapública deixa de prestar um serviço in-suficiente, sobretudo na linha do Oeste.Independentemente das questões legaisque evoca, o certo que é nesta região ocaminho-de-ferro oferece maus comboi-os, maus horários e um tarifário que nãoincentiva à sua utilização.

Zé Povinho faz votos para que a em-presa pública arrepie caminho e aja commais flexibilidade - sem se desculpar como Estado ou com a Refer - e torne o seuserviço mais atractivo.

12 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

A polémica surge no Echos das Caldas, envolve emi-nentes figuras do reino e chega aos jornais da capital.

Francisco José Machado, digno par do reino, sintetizaa questão em carta dirigida ao Correio da Noite, repro-duzida no Echos de 5 de Agosto de 1909:

«[…] Há 9 ou 10 anos, o grande amigo das Caldas, ogrande homem de bem, que se chamou Francisco Sa-loio, requereu para que lhe fossem concedidos uns 10metros quadrados de terreno no parque, para armaruma barraca de madeira, cujo desenho, do inimitávelRaphael Bordalo Pinheiro, apresentou.

A barraca era para vender refrescos, tabacos, etc.Foi-lhe logo concedida pelo director senhor conselheiroJosé Filipe.

Fallecido aquelle meu chorado e saudoso amigo, Fran-cisco Saloio, foi sempre, em todos os annos, concedidaa licença a seu genro José Leandro. Nunca mais se le-vantou a mais pequena dúvida ou obstáculo acerca daarmação da barraca […]».

No Verão de 1909, Augusto Cymbron Borges de Sou-sa, director do Hospital, negou a José Leandro dos San-tos Pereira a habitual autorização para a montagem doquiosque, tendo este dirigido ao Rei D. Manuel II umapelo reproduzido no Echos de 5 de Julho de 1909.

Na mesma edição o Echos transcreve artigos de apoioà pretensão de José Leandro, publicados em O País e noDiário Ilustrado.

O artigo do Diário Ilustrado avança uma explicaçãopolítica para o facto de Augusto Cymbron se recusar amanter a concessão do espaço do quiosque, iniciada noano de 1901 e nunca questionada pela anterior direcçãodo Hospital:

«[…] Ponhamos os pontos nos ii. O sr. José Leandro éproprietário do jornal intitulado Echos das Caldas quepara pôr em evidência quanto tem sido perniciosa aadministração do hospital, chegou a transcrever algunsartigos do nosso jornal quando apreciámos o relatório

Os quiosques do Parqueda célebre syndicância realizada pelosr. dr. Tenreiro Sarzedas […]».

Em funções desde Janeiro de 1903,Augusto Cymbron Borges de Sousa,cunhado do antigo dirigente do Par-tido Regenerador e chefe do gover-no, Hintze Ribeiro, ocupava naquelaépoca conturbada um cargo ambicio-nado por todas as forças políticas, oque torna particularmente difícil ava-liar a justiça das acusações que osadversários lhe imputavam.

Havia quem se insurgisse contra asregalias do administrador, que inclu-íam ordenado de 900$000 réis anuaise 180 litros de azeite, imputando-lheirregularidades que os inquéritos ofi-ciais não confirmaram1.

O Echos de 5 de Julho de 1909, trans-creve um texto do Diário Ilustrado queacrescenta acusações de «[…] san-gria nos cofres desse estabelecimen-to de caridade […]», censurando comironia o aumento de 100$000 réis dosordenados dos dois capelães do Hos-pital, nestes termos: «[…] a forma delhes proporcionar este bolo é enge-nhosa, porque os dois reverendos ga-lopins passam a degluti-lo, a pretextode dizerem mais um certo número demissas do que até agora diziam … poralma da Rainha Dona Leonor! Esta pro-vidência espiritual, para fazer bem aocorpo, não é mal inventada … e comopara tanta missa um sacristão nãopossa, manifestamente, dar aviamen-to, arranjou-se segundo sacristão, com

72$000 réis … para haver ma-neira de um par de reverendoscapellães ter um creado pago aexpensas do Hospital […]».

O Círculo das Caldas sai aterreiro em defesa de Cym-bron, e na edição de 10 de Ju-nho explica o indeferimento doquiosque de José Leandro: «[…]este ano deu-se o caso de o sr.Salomão Levy requerer o ar-rendamento de uma faixa deterreno […] e como, para a pre-sente época balnear não hou-vesse ainda nenhum pedido deconcessão de terreno, anteriorao do sr. Levy, foi, como nãopodia deixar de ser, deferido orequerimento por este apre-sentado […]».

O folhetim termina com a

vitória do proprietário do Echos das Caldas, que ob-tém despacho favorável do governo para a continui-dade do quiosque, conforme vem relatado na ediçãode 25 de Julho de 1909.

Afinal, no Parque havia espaço para todos, e tam-bém Salomão Levy lá instalou o seu quiosque, repro-duzido na imagem que acompanha este texto2.

O “quiosque do Levy” muda de donos e a Gazetadas Caldas de 30 de Janeiro de 1927 sugere outrasmudanças: «[…] A propósito de barracas, ocorre-nosdizer a necessidade que há, para o aformoseamentodo Parque, na substituição das actuais, de que sãoproprietários os nossos amigos Francisco e João Ga-linha «[…]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected][email protected][email protected][email protected][email protected]

(Footnotes)1 S. P. Danton, in A Questão Política nas Caldas da Rainha, destaca 18 “para amostra”2Cedidaporhttp://externatoramalhoo rtigão.blogspot.com

Os empresários do distrito de Leiria queixam-se do mauserviço prestado pela EDP. Não são os únicos. Muitos par-ticulares lamentam também, periodicamente, as quebrasabruptas de energia eléctrica que muitas vezes danificammaterial informático e electrodomésticos.

Contudo, é na actividade económica que os prejuízossão maiores, queixando-se também os empresários queaquela empresa não responde atempadamente às solici-tações e que o call center nada resolve (como, de resto, amaioria dos call centers hoje em dia).

A esta má prestação da EDP, Zé Povinho pensa que nãoserá alheio o facto da empresa estar a concentrar-se nosgrandes centros, desinvestindo nos pólos regionais – deque é exemplo o edifício das Caldas da Rainha que está ásmoscas -, bem como a subcontratação excessiva de gran-de parte daquilo que deveria ser o seu núcleo duro deactividades.

Depois da má imagem que se colou a esta empresa nasequência do temporal no Oeste, os resultados deste in-quérito deveriam fazer com que a EDP reflectisse seria-mente numa estratégia diferente e que tivesse em linhade conta as preocupações de muitos funcionários que sa-bem bem das vantagens da proximidade na gestão numaorganização gigante como esta.

O Sr. Joaquim Lopes criou nas Caldas um núcleo do Movimento VoluntárioDesportivo, logo a seguir ao 25 de Abril, dando origem ao lançamento nacidade de várias modalidades desportivas, em especial dos torneios defutebol 5 na Parada do Hospital, mas o Badminton foi sempre a modalidadeeleita.

Zé Povinho acha que este caldense é uma pessoa directa e eficaz, saben-do muito de organização desportiva, conseguindo agregar pessoas dos maisvariados quadrantes e impor uma forte dinâmica de trabalho.

O Badminton desenvolveu-se a nivel regional e nacional graças a JoaquimLopes, bem como às suas filhas, que foram campeãs nacionais e internaci-onais daquele desporto.

Face aos seus contributos e ao apoio que recebeu da Câmara das Caldas,Joaquim Lopes conseguiu trazer a Federação de Badminton para a cidade,sendo esta a primeira federação a ficar sediada fora dos grandes centros,onde dispõe de modelares instalações incluindo alojamentos para os atle-tas.

Culmina agora com a concretização de uma obra a todos os títulos notávelcom é o Centro de Alto Rendimento, já considerado o melhor centro deBadminton da Europa e um dos melhores do mundo.

O Secretário de Estado da Juventude, Dr. Laurentino Dias, na sua vinda àsCaldas da Rainha no passado fim de semana, destacou e felicitou o caldenseJoaquim Lopes como “uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e que“uma pessoa que muito aqui trabalhou e queacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àacompanhou todo o desenvolver desta obra desde o início até àabertura”.abertura”.abertura”.abertura”.abertura”.

Zé Povinho felicita este dinâmico dirigente por tudo isto. Se já muitagente foi homenageada com medalhas municipais, Joaquim Lopes será cer-tamente merecedor do mais alto galardão das Caldas a nível desportivo.

12 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Na noite tempestuosa de 28 de Outubro de 1891, afunda-seno mar da Foz, junto ao Gronho, o navio inglês S S Roumania.

Das 122 pessoas a bordo salvam-se apenas 9, e nos diasque se seguem o mar não cessa de devolver à terra corpossem vida.

O semanário O Caldense acompanha a tragédia com duascrónicas publicadas no dia 6 de Novembro, numa das quaislavra solene protesto: «[…] Foi extraordinaria a pilhagem desalvados a ponto de terem d’ella sido victimas dois homensda Foz. Diz-se que nas cercanias da costa, onde o mar arrojousalvados, estão escondidos valores. Na sexta feira a pilha-gem na praia da Foz era repugnantíssima […] houveram rou-bos importantissimos e feitos pela forma mais desavergo-nhada e ignóbil que se pode dar. Custa a crer que se pilhecom tal desplante em face d’uma praia onde aqui, alli e acolajaziam cadaveres que attestavam scenas verdadeiramentedesoladoras […]».

Na mesma edição, O Caldense refere a chegada de deze-nas de estranhos à praia, critica a passividade das autorida-des no local e sugere que os autores da pilhagem não sãogente da terra: «[…] mais de 80 ciganos invadiram um d’estesdias a Foz do Arelho em busca de quinhões em tão boa preza[…]».

Na edição seguinte, de 13 de Novembro, O Caldense sai emdefesa do administrador interino do concelho, acusado denegligência pelo Século, e louva a atitude do pároco e doregedor da freguesia da Serra do Bouro, que diligenciam pelasepultura dos primeiros corpos.

Refere o semanário das Caldas, que há cadáveres «[…]entallados por tal forma nas pedras batidas constantementepelo mar que foi impossivel […] sepulta-los […]», e avançacom mais notícias sobre as consequências da pilhagem emlocais de acesso perigoso: «Tem continuado a affluência enor-me de gente ao local do sinistro. Em consequência de umatemeridade verdadeiramente condemnavel têm perecido alliumas 5 pessoas afogadas […]».

Na última página o jornal actualiza o número de mortos emconsequência da temeridade que os faz arriscar a vida em

O naufrágio

busca dos despojos do naufrágio:«[…] De toda a parte afflue gente a visitar a Foz e as quebradas do

mar até á Serra do Bouro. […] A romaria tem custado a vida a umas12 ou 13 pessoas […]. Para se providenciar, diz-se, devia mandar-separa alli tropa que prohibisse o povo de aproximar-se do mar paraque não haja mais victimas. […] E por aqui ficamos para não termosque explicar a razão porque estas mortes se têem succedido, razõesque são bem degradantes e impróprias, perdoem-nos a desapieda-de, de merecerem compaixão, razões, emfim, que são a consequên-cia de uns exemplos tristes e bem tristes […]».

Ainda na edição de 13 de Novembro, O Caldense refere a presen-ça de uma força de vinte praças comandada por um tenente e criticaa ausência das forças policiais afectas aos serviços aduaneiros: «[…]A guarda fiscal não pode para ali fornecer da sua gente porque estaprecisa concentrar-se onde ha menos que fazer […]».

Finalmente, na edição de 20 de Novembro de 1891, O Caldensepublica uma lista de cadáveres que o mar trouxe para a praia, algunsidentificados por familiares vindos de Inglaterra, outros descritos de

forma a permitir futura identificação.Mas o mar não devolveu à terra apenas corpos.Na edição de 13 de Novembro, o jornal destaca um por-

menor curioso. Num cenário de desolação e morte, na areiada praia onde chegam os cadáveres e os haveres dos náu-fragos, arrancada pela fúria do mar há uma página dumlivro, onde se lê uma frase de esperança, talvez uma ora-ção: «[…] Tambem appareceu na praia uma folha d’albumonde estava escripto em inglez o seguinte versículo: Quan-do atravessar o mar serei comvosco. […]».

A tradução livre do cronista não permite saber se setrata da profecia de Isaías «Se tiveres de atravessar aságuas, estarei contigo», ou do livro do Êxodo sobre a passa-gem do Mar Vermelho, mas não restam dúvidas de que nãose refere ao Mar da Foz, porque da fúria das suas águasnão fala o Antigo Testamento.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])

Zé Povinho nunca gostou muito de banqueiros desdesempre, até por lhes conhecer as manhas. O seu patrono,Rafael Bordalo Pinheiro, foi sempre muito mordaz para oshomens que mexem nos capitais.

Contudo, ficou lisonjeado com a escolha feitas pelosministros das Finanças da União Europeia de um portuguêspara a vice-presidência do Banco Central Europeu.

A escolha recaiu no Governador do Banco de Portugal eprofessor de Economia Monetária do Instituto Superior deEconomia e Gestão, Dr. Vitor Constancio, até há poucofeito em saco de pancada do parlamento português, pelassuas omissões na supervisão da banca comercial.

Zé Povinho sabe que santos ao pé da porta não fazemmilagres e que os portugueses dificilmente reconhecem omérito dos seus concidadãos antes que os estrangeiros ofaçam.

O Dr. Vitor Constancio segue as pisadas de muitos ou-tros, na política, na arte, no desporto, etc., que chegaramprimeiro aos pódios lá fora, tendo passado por saídas pou-co airosas em Portugal. Foi o que aconteceu com o Eng.António Guterres, o conceituado Alto Comissário das Na-ções Unidas para os Refugiados, ou o Dr. Durão Barroso,reeleito presidente da Comissão Européia, com um apoiomuito substancial

Zé Povinho espera que o Dr. Vitor Constancio leve paraFrankfurt, onde está a sede do BCE, a sensibilidade medi-terrânica muito avessa ao rigor milimétrico dos monetaris-tas do centro da Europa e faça esquecer a má fama dosPIGS (Portugal, Itália, Grécia e Spain).

A Engª Dulce Pássaro, ministra do Ambiente, não tem culpa dos fenóme-nos naturais que ocorrem na Lagoa de Óbidos, nem que a “aberta” tenhavindo a deslocar-se para norte, pondo em perigo a praia da Foz do Arelho edeixando preocupadas todas as pessoas da zona.

Mas como responsável pela tutela do INAG, que superintende as interven-ções na lagoa, arca de imediato com o mau comportamento que aqueleorganismo e o seu presidente, Eng. Orlando Borges, têm tido neste proces-so.

Zé Povinho, que não é especialista na matéria, até pode admitir que aatitude do INAG é correcta, que é prudente aprofundarem-se estudos antesde intervir de foram irreversível naquele ecossistema, e que não é fácilprever as manhas e as manias do mar.

Também é certo que se há algumas décadas não se tivesse alcatroado apraia (bem como muitas outras safardices que têm sido feitas) e tivessehavido maior cuidado com as recomendações do Ministério do Ambiente àépoca, talvez este problema não fosse hoje tão acutilante.

Mas o que não é admissível é a arrogância com que aquele órgão doEstado e, por maioria de razão, o próprio ministério e a sua ministra, de-monstram neste processo. As pessoas estão preocupadas e esperam que asautoridades do país as tranquilizem, mas nem o INAG nem a ministra têmtido a atitude pedagógica que se impõe – explicar às pessoas o que pensame o que deve ser feito.

Esta atitude autista por parte daquele ministério (o que já acontecia como anterior ministro deste governo), também é aplicada à imprensa, simples-mente ignorada nos pedidos de informação.

Tratam-se de atitudes censuráveis que não são admissíveis num Estadode Direito, ainda por cima no Ambiente em que os cidadãos têm o direito aser informados tal como a participarem nas decisões.

A Engª Dulce Pássaro andará distraída? Não entenderá que a sustentabi-lidade dos sistemas lagunares obriga a uma co-responsabilização de todos?

26 | Fevereiro | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A crónica veio na Gazeta das Caldas de 9 deJaneiro de 1927, com o título «A prisão do Re-pórter X nas Caldas da Rainha», ilustrada comum desenho de Luiz Teixeira, que retrata o au-tor Reynaldo Ferreira.

Para o jornalista, a topografia das cidadesnão são ruas, avenidas ou bairros, mas momen-tos: «[…] Para mim, o papel colorido onde sefixa e se evoca um continente, quer paiz, quercidade, quer rua – é uma evocação viva de umdesejo vagabundo – ou a saudade ou a recorda-ção duma hora emocionada, de uma hora vividaou de um minuto de dor […]».

Depois de evocar Berlim com a referência às“tardes de Under Linden” e às “noites deKuspersd’anne”, e Moscovo com a memória dos“poentes ensanguentados da capital russa”, das“passeatas no Traveskay” e de todos os misté-rios que descobriu “nos olhares da pobres mo-cinhas burguesas que o bolchevismo reduzira aoperárias”, o jornalista escolhe para a evoca-ção das Caldas, um momento passado no anode1918.

Não o diz, mas terá sido no mês Dezembro,tempo de grande agitação política, mês em quefoi assassinado Sidónio Pais.

Segue-se a descrição do momento com queevoca a cidade:

«[…] Em 1918, O Século ordenou-me que inva-disse Santarém, então campo dos revolucioná-rios chefiados por Álvaro de Castro.

Fui … Os comboios só rodavam até meio docaminho. O resto do trajecto foi feito a cavalo,de motociclete, e por fim numa velha tipóia. Aochegar às Caldas, a guarnição que aderira si-lenciosamente ao movimento pretendeu pren-der-me só para que eu não falasse d’ela.

Repórter XNa Praça a gente das Caldas esperava-me.Fez-me uma recepção afogueada, como se eu e a tipóia em que

vinha pudesse desfazer o pesadelo que se adensava no horizonte.Acarinharam-me … Festejaram-me. E os soldados comandados porum tenente médico vieram prender-me. Libertei-me no dia seguin-te.

A notícia da minha prisão espalhou-se pela vila e jamais esque-cerei a emoção carinhosa com que as mulheres das Caldas metrataram nesse dia de liberdade. Foram maternais, foram irmãs eforam noivas… Sofreram por mim durante vinte e quatro horas e eufiquei-lhes rendido para toda a vida.»

Com uma criatividade à beira do delírio, Reynaldo Ferreira, océlebre “Repórter X”, viveu vertiginosamente o seu tempo.

Não se limitando às fronteiras do jornalismo, realizou filmes,escreveu novelas, contos policiais, e peças de teatro como a queestreou no Teatro São Luís em 12 de Julho de 1935, com o título “OHomem que Mudou de Cor”.

Falecido no dia 4 de Outubro de 1935, com apenas 38 anos, todoslhe reconhecem o talento e a imaginação, não merecendo idênticocrédito a objectividade das notícias que assinou.

Correspondente na Rússia dos Sovietes, onde afirmava ter en-contrado portugueses nas funções mais inacreditáveis, como oporteiro do Kremlin e o homem que embalsamou Lenine, é convic-ção do seu biógrafo Joel Lima, que nunca lá terá posto os pés,limitando-se a ficar em Paris, onde aguardava os artigos de HenriBéraud, destacado em Moscovo pelo periódico “Le Journal”.

Também no que respeita às últimas palavras que alegadamenteteria recolhido de Sidónio Pais no dramático momento em quefalecia na Estação do Rossio - «Morro eu, mas salva-se a Pátria» -nem o repórter se encontrava no local, nem o estadista terá tidooportunidade de articular qualquer frase após os disparos que ovitimaram.

Dependente da morfina, vive momentos de delírio como aqueleem que forja uma entrevista a Conan Doyle, e talvez essa depen-dência explique a constante mistura da realidade com a fantasia.

A motivação do artigo que escreveu para a Gazeta das Caldas érevelada na frase coloquial que antecede a descrição da cidade:

«Caldas da Rainha? Querem também uma recordação?Eil’a».

A recordação poderá ser imaginária. Mas a fantasia éuma excelente forma de exprimir o afecto por uma cidade.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])

Zé Povinho ouviu os testemunhos impressionados daeficiência do SIS (Serviço de Incêndio e Socorro) de Gene-bra, na Suíça, feita pelos alunos e professores da EscolaSecundária Raul Proença que foram vitimas (mas semconsequências graves) de um repentino e fortuito incên-dio no hotel em que estava alojados naquela cidade alpi-na.

Em poucos minutos, em plena madrugada, doze carrosde bombeiros, com trinta homens, mais quatro veículoscom dez bombeiros do serviço de segurança do aeroportoe uma dezena de bombeiros voluntários, acorreram aque-le incêndio, pondo a salvo sem qualquer beliscadura os 90residentes num hotel de seis pisos, onde se encontrava ogrupo caldense.

A eficiência foi exemplar, ao ponto de montarem ime-diatamente na rua fronteira uma tenda com um posto desocorros avançados, onde prestavam os primeiros socor-ros. Terminada a fase de reconhecimento e de evacuaçãodo hotel, imediatamente instalaram o grupo noutro hotel,sem qualquer burocracia ou espera de autorizações supe-riores.

Zé Povinho tem grande admiração pelos soldados dapaz de qualquer país e salienta o zelo e eficiência destesbombeiros suíços que deram uma lição que ficará na me-mória dos jovens portugueses.

Zé Povinho está triste com o desapego que os professores comcapacidade para se candidatarem à presidência da ESAD demonstra-ram na primeira vez que lhes foi proporcionada elegeram a sua direc-ção.

Todos sabem que a vida directiva da escola nos seus vinte anos deexistência sofreu vários sobressaltos, nunca tendo conseguido rece-ber um corpo de professores com laços de efectividade em número evariedade de especialidades que constituíssem uma massa crítica queultrapassassem estas situações.

Poucas vezes a tutela do IPL ajudou na criação de um corpo docenteestável e cumprindo as exigências legais para haver uma variedade deelementos que consigam preencher as inúmeras funções científicas,pedagógicas e directivas.

A solução utilizada ao longo da sua já longa história de duas déca-das de nomear pessoas de fora, criou comodismos e facilitismos queagora é difícil inverter.

Zé Povinho não pode regozijar-se com o que se está a passar naESAD, uma vez que tudo isto contribui para a perda de peso e influên-cia desta escola no seio do IPL, arriscando-se a ser menorizada pelasde Leiria e até pela mais nova (Peniche). E espera que o bom senso doactual residente do IPL ajude a preparar uma solução de futuro próxi-mo.

5 | Março | 2010

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A Semana do Zé Povinho

MendigosNos antigos jornais caldenses era frequente a referência à mendi-

cidade, normalmente associada à preocupação pelo facto de poderpôr em causa a boa imagem da cidade termal perante os seus visi-tantes.

Reza assim uma notícia de O Caldense de 4 de Janeiro de 1891: «[…] Foram mandados affixar os respectivos editaes, proibindo rigorosa-mente no concelho das Caldas, o exercício da mendicidade, aosestranhos no mesmo concelho e mesmo n’elle residentes, que nãoestejam munidos de licença administrativa. A licença deve ser solli-citada na administração do concelho, mediante atestado d’indigenciapassado pelos parochos [… ]».

Na edição seguinte, de 11 de Janeiro de 1891, O Caldense manifes-tava regozijo pela aplicação da medida decretada: «[… ] No sábadoultimo foram passadas na administração d’este concelho, 22 licençasa pobres deste concelho. Era uma necessidade, a medida tomadapela auctoridade administrativa. As Caldas estavam constantemen-te infestadas de mendigos estranhos ao concelho [… ]».

A medida administrativa não terá tido o êxito pretendido, porquena edição de 25 de Outubro de 1891, O Caldense volta a falar damendicidade como flagelo social que embaraça a Vila, propondo aostrabalhadores que previnam situações de incapacidade por doença,inscrevendo-se no Montepio «[… ] que por uma módica quantiasemanal e paga previamente a jóia respectiva, concede ao artistaimpossibilitado, médico, botica e uma pensão diária até que termineessa impossibilidade [… ]».

Na mesma crónica, O Caldense retrata um esboço sociológico damendicidade por doença «[… ] Investigando-se a origem do artistaindigente, apura-se quasi sempre que não é natural das Caldas, quevindo buscar aqui trabalho, constitui esta localidade como residên-cia habitual [… ]».

Conclui o velho semanário, que antes da doença deveria o traba-lhador ter gasto no Montepio o dinheiro que deixou na taberna: «[…] O que nos contraria, porém, é vermos o artista, quando valido, fazervida de taberna, gastar ali o que pode e não pode [… ] para o Monte-Pio não pode concorrer enquanto na taberna tudo pode consumir[…]».

O mesmo jornal volta a insurgir-se contra a mendicidade, apon-

tando na edição de 25 de Outubro de 1891 como causa da sua falta decontrolo, o facto de haver apenas três polícias destacados na vila, ecriticando na edição de 12 de Março de 1893 a medida policial adoptadano reino, que determinava o regresso dos mendigos às suas terras,enviados sob custódia de cadeia em cadeia (tinham chegado 5 à cadeiada vila), o que considerava injustificada oneração do erário público.

A mesma preocupação transparece na edição do Cavacos das Caldasde 29 de Novembro de 1896, voltando o mesmo jornal a insistir no apeloàs autoridades para pôr termo à prática da “vagabundagem”, como lhe

chama, na edição de 20 de Janeiro de 1897, alegando que as“esmolas” só servem para aumentar o consumo de bebidas alco-ólicas e insurgindo-se contra a autorização administrativa: «[…]passa-se-lhe licença por escripto para livremente poderem duran-te dois dias exercer a sua industria […]».

A licença a que se refere a crónica do Cavacos foi criada pelopoder liberal, que com vista a pôr cobro ao flagelo da mendicidadecriou asilos1 onde recolhia os pedintes da cidade, a quem propor-cionava cama, alimentação, vestuário e um capelão, concedendolicença para mendigar apenas aos que não tinham lugar nessesestabelecimentos, impondo-lhes para o efeito o uso de uma cha-pa metálica ao peito.

Mais tarde, o Código Penal de 1852 passou a punir a vagabunda-gem e mendicidade com prisão correccional, impondo a lei aosmendigos sadios o trabalho em obras públicas ou em casas agrí-colas.

A preocupação com o drama social da mendicidade mantém-seapós a implantação da República, como relata o jornal O Círculodas Caldas de 23 de Maio de 1914, que transcreve uma carta dogovernador civil, dirigida ao presidente da comissão municipal daassistência, onde se sugere um curioso procedimento:

«[…] esta Comissão Distrital, atendendo a que a verba com queo governo contribui se deve destinar principalmente á pobresarecatada, encetou os seus trabalhos pedindo aos habitantes dacidade para concorrerem mensalmente com uma pequena cota, afim de tirar a mendicidade das ruas. A ideia foi bem recebida e aComissão angariou assim com que distribuir a cada pobre, sema-nalmente, 140 réis, tanto quanto eles iam esmolar de porta emporta, poupando-lhes um sacrifício e conseguindo evitar o espec-táculo, sempre deprimente para um povo, das ruas da cidadepercorridas aos sábados, por bandos de pobres esfarrapados eimundos […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])([email protected])

1 O primeiro foi em 1836, em Lisboa

Zé Povinho dá os parabéns ao Eng. Humberto Marques,o vereador “verde” da Câmara de Óbidos, pelo trabalhoque desenvolve no âmbito do projecto Carbono Social.Numa altura em que a redução dos índices de CO2 setorna imperioso para a continuidade da vida na Terra,Óbidos está a dar o seu contributo e a ser um exemplopara o país.

É, pois, merecido o galardão de ouro Rede Climática,da Associação Portuguesa de Engenharia do Ambiente,que, tendo sido atribuída ao município, é também, umreconhecimento do seu trabalho.

Ferrenho adepto ambiental, Zé Povinho gostaria quemais autarcas seguissem o exemplo do engenheiro agró-nomo que, na sua autarquia, vai apostando nas energiasrenováveis e na implantação de medidas de eficiênciaenergética. Ainda por cima, tal esforço poderá agora tra-duzir-se em fonte de receitas se a autarquia conseguirvender no mercado do carbono os créditos das suas pou-panças e investimentos energéticos.

O Eng. Orlando Borges, presidente do INAG, insiste em manter umaatitude distante, para não dizer arrogante, face aos problemas da lagoade Óbidos e à necessidade de uma intervenção séria e profunda naqueleecossistema.

A sua postura ausente e a falta de humildade para explicar, de formapedagógica, o que está a ser feito pela instituição a que preside pararesolver o problema, merece as mais veementes criticas de Zé Povinho. Éque o Inag até pode estar a actuar correctamente e até podem justificar-se, do ponto de vista técnico, todas as cautelas e adiamentos para umaintervenção profunda. Mas o que não se justifica é a total falta de comu-nicação daquele instituto e a quase inexistência de diálogo com os autar-cas da região (por muito aborrecidos, deselegantes e insistentes queestes até possam ser).

É graças a tudo isto que o Eng. Orlando Borges consegue neste momen-to ser muito pouco querido na região. Mas resolveu agora colocar a “cere-ja em cima do bolo” ao mandar para a reunião da Comissão de Acompa-nhamento da Lagoa a sua vice-presidente, Engª Ana Seixas.

Como se não bastasse, mais uma vez as propostas do Inag para a lagoanão satisfizeram os autarcas, que voltaram a ficar desiludidos com assoluções apresentadas.

12 | Março | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O Círculo das Caldas de 30 de Dezembro de 1911, fazeco de uma proposta avançada pelo jornal O Século naedição de 22 de Dezembro do mesmo ano, sugerindo autilização dos pavilhões do parque para o aquartela-mento dos recrutas que hão-de receber instrução mili-tar no ano seguinte.

Reza assim a crónica: «[…] Lutando o ministério daguerra, como luta, com falta de alojamentos para os45.000 mancebos que dentro de poucos dias serão cha-mados às fileiras do exército, e achando-se o importan-te anexo do referido Hospital sem nenhuma aplicaçãoútil, o alvitre do “Século” é muito para atender […] daaceitação dele advirá um grande benefício para estaregião […]».

Decorridos cerca de seis anos e meio, no dia 26 deMaio de 1918, foi o Regimento de Infantaria 5 instaladonos Pavilhões do Parque.

Com os primeiros rumores da possibilidade de trans-ferência do Regimento para Lisboa, surge na Gazeta dasCaldas de 7 de Março de 1926, o artigo com o título«Caldas e a sua guarnição militar», onde é feita umaeloquente defesa da permanência do Regimento nasCaldas, estabelecendo uma relação directa entre a gran-deza da vila e a da sua guarnição.

Reza assim a crónica: «[…] as guarnições militaresestão de acordo com a importância das localidades. Umadá lugar à outra. […] No dia em que Tornada tivesse asua guarnição militar, seria uma cidade; no dia em queCaldas ficasse sem a sua, seria uma aldeia. Porquê?Porque, para lhe ser retirada, tornar-se-ia necessárioque ela tivesse sido arrastada do seu pedestal de graçapara um turbilhão de desgraça que secasse as suas nas-centes sulfurosas ou tornasse imprestável o seu climaprivilegiado. […] Das vilas maiores do norte de Lisboa,que são Torres Vedras, Alenquer, Vila Franca e Caldas,apenas possui guarnição militar a última que é semdúvida a que reúne maior número de condições paraascender primeiro à categoria de cidade «[…]».

A Guarnição da vilaAssociada, de forma indissolúvel, a grandeza da vila à importân-

cia do seu regimento, o cronista reserva para a segunda parte dotexto as razões económicas para a manutenção da guarnição nacidade:

«[…] O efectivo do Regimento é hoje de 1.100 homens. […]Se se calcular pelo mínimo a despesa diária média feita por cada

um dos 1.100 homens da guarnição de Caldas, em três escudosdiários teremos uma mensalidade de 100.000$00, aproximadamen-te.

Esta cifra que para os tempos milionários que vão correndo édesprezível, não o pode deixar de ser para o comércio de qualquervila. […]».

Segue-se a minuciosa avaliação «do que perderia o movimentoda estação ferroviária, se a vila não fosse sede de uma unidademilitar, durante o primeiro semestre de 1926», com resultados sur-preendentes.

Como último argumento, surgem as cartas de amor:«[…] Para acabar e admitindo que cada militar da guarnição

escreve uma carta por semana, de uma folha de papel cada inclu-indo os recrutas (cujo coração é sempre um poço de saudades)teríamos nada menos de 4.400 cartas por mês, o que se traduzia em1.760$00 de selos, intimamente ligados a nada menos de 88 caixasde papel. […]»

Em 22 de Agosto de 1926, perante a eminência da transferênciado Regimento, a Gazeta das Caldas publica na sua primeira página,em destaque e com título em letras garrafais, o editorial «A SAÍDADO 5», que reza assim: «[…] Pela recente reorganização do Exérci-to, o Regimento de Infantaria 5, actualmente aquartelado nestaVila, passa para Lisboa. Vem para aqui, diz-se, um batalhão deciclistas. Não sabemos se toda a gente compreende, ou pensa,sequer, nos prejuízos que semelhante deliberação acarreta para asCaldas […]. Quer-nos parecer que entre um Regimento de Infanta-ria e um Batalhão de Ciclistas há uma distância digna de medir comatenção; assim, a excelente banda de Infantaria 5, terá de ir, maistarde ou mais cedo para Lisboa […].»

Apesar do apelo do jornal, à intervenção urgente da ComissãoAdministrativa do Município e da Comissão de Iniciativa da Associ-ação Comercial, o Regimento é transferido ainda nesse ano, em 28

de Setembro, para o Castelo de S. Jorge, tendo sidoinstalado em Caldas o Batalhão de Ciclistas n.º 2.

Nem o jornal nem as associações da vila se calamna reivindicação da guarnição militar, e ainda no anode 1927 é reinstalado nos Pavilhões do Parque o Regi-mento de Infantaria n.º 5, transferido para o novoquartel em 5 de Junho de 1953, onde virá mais tarde,entre 1 de Janeiro de 1976 e 31 de Maio de 1981, a terum nome que consagra a sua qualidade de guarniçãoda cidade: Regimento de Infantaria de Caldas da Rai-nha.

Imagem acessível em zeventura.blogspot.com

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

A Lagoa de Óbidos que julgava ter muitos amigos, agora queestá a passar uma crise dramática, apenas vê a solidariedade deumas centenas de residentes nos concelhos circunvizinhos e nãoescuta nenhuma palavra de alguns influentes do país.

Neste momento, pessoas como os Drs. Mário Soares, ManuelAlegre e Narana Coissoró podiam dar uma ajuda levantando a suavoz para exigir maior empenho das instâncias públicas no sentidode salvar rapidamente aquele eco-sistema.

Mas infelizmente é capaz de haver outros problemas que osmobilizam e nenhum destes ilustres personagens - cujas ligaçõesantigas à lagoa são conhecidas - se manifestou em seu socorro.

Como se diz vulgarmente, nos momentos de crise é que seconhecem os amigos.

A Lagoa de Óbidos vê mais funcionários e burocratas em seuredor do que verdadeiros amigos, para não falar nalguns queapenas querem colher e nada semear.

Zé Povinho ainda espera que Mário Soares, Manuel Alegre eNarana Coissoró, levantem a voz, mas não deixa de se contristarjá com o atraso que levam.

Zé Povinho tem poucas instituições nas Caldas da Rainha commais idade do que a da sua criação. Uma delas é o MontepioRainha D. Leonor, uma associação de socorros mútuos que foifundada em 1860 por um grupo de caldenses e outros cidadãos eque tem desempenhado um papel insubstituível na cidade e naregião Oeste.

Com cerca de 8000 sócios, o Montepio preencheu durante muitosanos uma lacuna nos serviços de saúde na região, que só foi supri-da com o aparecimento do Serviço Nacional de Saúde na décadade 70.

Hoje desempenha um papel muito importante no cluster dasaúde da cidade. Devido ao empenho do seu grande zelador, osaudoso médico Ernesto Moreira, desde há alguns anos tambémdesenvolveu uma linha de acção no apoio à terceira idade, que vaiagora culminar neste aniversário com a inauguração das Residên-cias Assistidas.

Zé Povinho não pode deixar em claro este significativo aniversá-rio de 150 anos de vida e felicita o seu presidente, Sanches deSousa, pelos passos significativos dados nos últimos anos, espe-rando que se possam concretizar alguns projectos, como o daabertura de uma nova linha na área do termalismo, ou da constru-ção da futura nova clínica nos terrenos entretanto adquiridos.

19 | Março | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Quem percorra os jornais antigos, encontra a Pra-ça ao virar de cada página. Desde a invasão dosperus (O Caldense de 6 de Agosto de 1893), até aodesdobramento do mercado semanal (O Círculo dasCaldas de 10 de Outubro de 1897), e aos protestosdos representantes do comércio contra esse desdo-bramento (Cavacos das Caldas de 4 de Novembro de1897), tudo o que se passa na Praça passa nos jor-nais.

Veja-se, a propósito, a descrição colorida dos fes-tejos de Santo António, do ano de 1890. Reza assim OCaldense de 22 de Junho: «[…] A villa dava-se ostons garridos de uma festa, a Praça Dona Maria Piaem obediência a esses tons, embandeirava-se, or-nava-se de balões á veneziana e de dois elegantissi-mos coretos destinados á exibição musical das duasphylarmonicas da localidade, a velha e a nova comovulgarmente por cá se chama […]».

A imprensa local atribui à Praça a centralidadeque tem na Vila, e tudo o que tenha a ver com aalteração da localização do mercado que a anima, émotivo de paixão e de polémica.

Corria o ano de 1926. Falava-se com insistência naeminente transferência do mercado para um espaçofechado, quando foi publicado na Gazeta das Caldasum dos mais belos textos que já se escreveram so-bre aquele espaço emblemático. Foi na edição de 21de Março. Assinado por França Borges, tinha o su-gestivo título «O Elogio Duma Condenada».

O cronista começa por assumir a consumação datransferência do mercado, descrevendo-o com anostalgia de quem fala do passado: «[…] A Praça eraassim um segundo Parque com frutos sem árvores,com frescura sem água, com vida sem etiqueta, comharmonia sem música […] passeio de um saber cam-

Praça da Frutapesino, a que a própria confusão se torna-va indispensável […]».

Invocava depois a tradição e a ruralida-de: «[…] Das tradições que atravessam osséculos, impressos nos costumes, uma, ado mercado em plena praça pública […] lem-bra o grande campo próximo; cheira a ros-maninho; lembra a merenda comida à som-bra da oliveira velha e à beira do caminhocom sol alto. Os cestos de três asas, oscabazes, as sacas remendadas, retratam-nos logo à volta a casa pela tarde serena,com os carros e os burros que procuram opiso macio das terras poeirentas […]».

Termina com a certeza da proximidadedo fim e do esquecimento: «[…] Praça ca-leidoscópica, praça da fartura, cesto enor-me apregoando o trabalho ininterrupto doscampos e a riqueza perene da região, vaicessar de vez a magia colorida das tuas manhãs. Apartir dum dia ficarás despovoada […]. Velha praça por-tuguesa, cheia de cores […] assim vais desaparecendo,expulsa pelas exigências das novas estéticas […]. E sóos arquivos, as crónicas e as saudades dos velhos selembrarão de ti […]».

Duas semanas depois, na edição de 4 de Abril de 1926,a Gazeta publica uma carta sobre o tema, assinada comas iniciais “J. B.” «dum nosso querido e muito presadoamigo natural desta vila», que dá largas à sua indigna-ção perante a projectada transferência do mercado:«[…] é um pasmar todo aquele arraial (…) São os parzi-nhos de saloios namorados, o matiz dos barretes e doslenços, das moçoilas rozadas e frescas como a frutaque vendem, o vozear dos ajustes, dos diálogos, dasapostas, das novidades sem fim, dos convites para o

meio litro … E é isso tudo que vocês querem meter num mercadofechado, fedorento como todos, hirto, insípido e igual aos outrostodos que há no mundo, onde tripudiam umas dezenas de rega-teiras e as pobres frutas e hortaliças amarelecidas se guardamburrifadas de dia para dia até atingirem o preço desejado eperderem a frescura […]».

O tema não era pacífico tal como hoje, e a Gazeta das Caldasna edição de 4 de Abril de 1926 abre as suas páginas «aos presa-dos assinantes e leitores, para dizerem da sua justiça».

O tema é actual, tal como no ano de 1926, porque não há praçaque resista definitivamente ao tempo, e aquela é mais do queuma praça, é um espaço onde a cidade se revê e se identifica.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

foto de Inês Querido

O presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Dr. FernandoCosta, foi a grande atracção do Congresso Extraordinário do PSDque decorreu no passado fim-de-semana em Mafra.

Quem estava acordado depois da meia noite de sábado e teve asorte de sintonizar as televisões que estavam a fazer os seusdirectos do Congresso, puderam vibrar com a inflamada e acuti-lante intervenção deste autarca, feita depois do apressado jantar,quão D. Quixote de la Mancha que ergueu o seu elmo e lançou-secontra tudo e todos.

Não perdoou a ninguém, apesar de ter sido mais simpático como seu eleito candidato à liderança do PSD, o também “jovem” Dr.Passos Coelho, mas vergastando duramente as principais figurasdo poder do seu partido. Não esqueceu a “traição” de SantanaLopes, que trocou Óbidos pelas Caldas quanto à sede da Escola deHotelaria, o intelectual Pacheco Pereira pelas suas diatribes natelevisão, bem como a própria líder Manuela Ferreira Leite e a suaentourage por terem escorraçado das listas para deputados noano passado Passos Coelho e Miguel Relvas.

Foi uma ruidosa intervenção interminável, cujo destemor e ou-sadia até intimidaram o presidente do Congresso, o Dr. Rui Mache-te, que apesar do orador caldense ter ultrapassado todos os limi-tes de tempo, nunca ousou (a não ser no final e muito cerimonio-samente) interromper o discurso.

Zé Povinho deliciou-se com as palavras desabridas e muitasvezes alterosas, dizendo o que muitos pensam e não têm coragemde o dizer, seja por reverência, seja por temor.

O Dr. Fernando Costa teve ainda as honras de todos os telejor-nais, dos jornais e das rádios, nuns casos procurando o picante e aspicardias da intervenção, noutros dando relevo às acirradas críti-cas à direcção ainda no poder social-democrata.

Zé Povinho não consegue ser tão imediatista ao ponto de se pôr acorrer atrás das posições mais populistas que viram no Dr. FernandoCosta o espírito de vingança para tão elitista e sulista direcção do PSD.

Não é impunemente que o Dr. Costa repete a boutade de que “senão fosse mentiroso não era presidente da Câmara”, ou de que até elevenceria o professor Vital Moreira nas eleições para o ParlamentoEuropeu!

Também não parece muito elegante, para ironizar contra uma inter-venção anterior do Dr. Mendes Bota, seu colega líder da distrital doAlgarve, que trocava o copo de água por um de vinho, porque nãopertencia aos copos de leite, numa piada machista a qualquer opositornão identificado.

A forma egocêntrica como justificou as suas vitórias caldenses e assuas afirmações sobre o seu espírito contemporizador com as oposi-ções e as divergências no seio do seu partido localmente ou a nível dodistrito, vêm no sentido contrário ao que tem sido a sua prática.

Que o digam alguns dos seus opositores locais que foram afastadosou menosprezados sempre que quiseram ter algum protagonismo lo-calmente ou na distrital.

Por tudo isto, Zé Povinho não deixa de o censurar pela sua displicênciana linguagem e no exagero, que só uma pseudo-vulgaridade e populismode momento, alimentada com os risos desbragados de muitos e as palmasde outros, alimentaram tal intervenção. No fundo, todos os partidos têm oseu Tino de Rans, como profusamente se veio a verificar em inúmeroscomentários na blogosfera que não abonavam nada a favor do autarcanem da urbana Caldas da Rainha.

Desta forma, o desbragado líder regional perdeu eventualmente a con-fiança de qualquer futuro presidente do PSD líder para a grande oportuni-dade de desempenhar algum cargo a nível nacional, que tanto ambiciona.A não ser que os equilíbrios partidários tudo façam esquecer...

26 | Março | 2010

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A Semana do Zé PovinhoZé Povinho está muito impressio-

nado que a capacidade competitivados alunos de design da ESAD seesteja a estender aos de outros cur-sos, alguns distantes da vocação ini-cial daquela escola de artes calden-se.

Muito se regozija que dois alunos do curso de Som e Ima-gem, uma área em que a formação superior daquela escola éinovadora e quase a única nesse domínio, tenham ganho osprimeiros prémios do concurso nacional “Artes e Breves”.

O jovem designer gráfico Hugo Rosado ganhou na modali-dade animação de vídeo o prémio “Grafe & Vídeo”, utilizandonesse projecto as técnicas da produção televisiva, em quePortugal não tem ainda uma experiência semelhante à demuitos paises desenvolvidos.

De igual modo o aluno Bruno Cravide, venceu com umacurta metragem de animação a categoria “AnimBreve”, utili-zando técnicas de animação no filme “Os Teus Últimos DiasComo Criança”.

Zé Povinho salienta mesmo a atitude deste último premia-do, que depois de ter frequentado durante algum tempo ocurso de Engenharia Informática na pólo do IPL leiriense, pre-feriu vir para as Caldas para estudar uma área mais criativa einovadora.

Por tudo isto, merecem esta distinção e podem ser um exem-plo para os estudantes que andem à procura de novas voca-ções em áreas que Portugal não tem habitualmente muitosvalores.

O Eng. Orlando Borges arrisca-se a ba-ter o recorde de visibilidade na Semana doZé Povinho. Infelizmente pelas más razões.

O motivo é conhecido de todos – estesenhor é o presidente do INAG, uma enti-dade do Ministério do Ambiente que tempor missão “propor, acompanhar e asse-

gurar a execução da política nacional no domínio dos recursoshídricos de forma a assegurar a sua gestão sustentável”.

Ora deixar que as águas do mar destruam a praia da Foz doArelho, o emissário submarino e a própria avenida, não é pro-priamente uma gestão sustentável nem eficaz.

O presidente do INAG não tem culpa das manhas do mar nemdos disparates feitos por outros protagonistas, mas é respon-sável pela forma distante e ausente como tem tratado o assun-to, sendo incapaz de vir a terreiro explicar as suas razões e serminimamente pedagógico perante as populações e autarcasque reivindicam uma atitude mais pró-activa na defesa de umpatrimónio que é de todos.

É que em vez de descer à terra e falar com os homens, o Eng.Orlando Borges pensará que é Deus e acha que não deve darsatisfações. À Foz do Arelho mandou a sua vice-presidente naúltima reunião e perante os avanços do mar, encolhe os om-bros e apresenta uma calendarização rígida que consiste emfazer obras em Abril para abrir uma nova “aberta” e avançarcom as dragagens no fim do ano. Zé Povinho arrisca uma metá-fora: parece-se a um burro com pálas no meio de uma linha decaminho-de-ferro. Jamais sairá do seu caminho independente-mente dos perigos.

A gota de água que mostra à saciedade que este gestorpúblico se está nas tintas para a comunidade que deve servirfoi a recusa de uma entrevista à GazetaGazetaGazetaGazetaGazeta onde ele poderia,calmamente, sem ser pressionado por ninguém, explicar asdecisões (ou falta delas) sobre este assunto.

Se calhar, ficasse a lagoa de Óbidos na Cova da Beira, emdomínios de influência do seu “chefe” e não ousaria tais atitu-des.

O Caldense de 2 de Agosto de 1891 fala do problema e identifica as razões: «[…] Éenorme a falta de trocas nas Caldas. Ha três semanas não se notava esta falta, os agiotas,porém, ávidos da ganância, encarregaram-se de recolher a prata e o cobre que por cahavia, para irem negociar a Lisboa […]».

O jornal enaltece os esforços de Faustino da Gama, que se tem prestado a trocar notaspara permitir o funcionamento do comércio, e na edição de 9 de Agosto apela à guerracontra o odiado agiota: «[…] Unam-se todos para os guerrearmos e verão como elleslargarão o rendoso comércio […]».

Na edição de 6 de Setembro de 1891, o mesmo jornal congratula-se com o decreto dogoverno de 6 de Agosto do mesmo ano, que mandou estampar na Casa da Moeda cédulasde 100 e de 50 réis representativas da moeda de cobre, para fazer face ao grave problemada escassez de numerário metálico que ameaçava o comércio da vila e do país.

Reza assim a notícia: «[…] A casa da moeda poz finalmente em circulação cedulas de 50réis, cuja distribuição principiou sexta-feira, trocando-se a cada pessoa uma nota de 2$500 réis. É um auxílio para omovimento comercial, cada vez mais difficultoso, por causa do desapparecimento do cobre […]».

A crónica evolui depois para uma referência à instabilidade social provocada em todo o país pela crise monetáriadecorrente da absoluta inutilidade das notas, que sem trocos não permitem trocas: «[…] hontem mesmo, se deu um caso degrave insubordinação por causa dos trocos, tendo sido suspensos onze guardas de polícia, que foram incorporados exigir dogovernador civil o câmbio das notas que lhe tinham sido dadas como pagamento do pret […]».

Mas é a situação na vila que mais preocupa o cronista: «[…] Na província […] as difficuldades em vez de diminuir estãoaugmentando cada vez mais porque a prata desappareceu de todo e o cobre vae levando o mesmo caminho. Um dos grandesmales que a falta de trocos produz é o descrédito das notas, que os negociantes, vendedores e operários recusam em todaa parte – por não as poderem trocar – e que o publico, forçado por essa circunstância, se vae igualmente habituando arecusar […]».

A falta de trocos ameaçava paralisar as transacções comerciais, criando situações insólitas, como a que o semanário deRafael Bordalo Pinheiro, O António Maria, satiriza na edição de 9 de Julho de 1891:

«[…] A falta de trocos continua a ser a abundancia de assumpto para os articulistas de fundo, para os chronistasfinanceiros, e de pretexto para muitos irem vivendo, menos mal, á tripa fôrra, por conta do tendeiro que dá fiado, e do talhoque faz o mesmo.

Sei eu d’um … Mantem-se o patife, e dá de comer aos filhos, vae em dois mezes, com uma nota de cinco mil réis que aindanão gastou, e traz inteira. Ei-lo que entra, impávido e estrategico, na mercearia da esquina, e manda ao caixeiro que peze,dando-se ares de freguez taludo, tanto de seccos, e que meça tanto de molhados… - “que lho levem a casa” – e sacca dacarteira a pérfida da nota.

Sorriso complacente da boa pessoa do caixeiro, todo dedos espetados em manteiga, o qual, por não ter prata, por não tertroco, mas confiado, fia:

- Vossa ex.ª pagará depois.É isto o que sua ex.ª quer ouvir: sua ex.ª não pagará nunca! […]».Para ultrapassar o problema da falta de trocos, o semanário O Caldense propunha uma solução amplamente adoptada nos

anos da crise monetária:«[…] Nós não gostamos, como minguem gosta, do regimen das cédulas. Mas se é esse o único meio prático de conjurar,

de momento, um mal existente e que pode ter as mais graves consequências, lance o governo mão d’elle francamente, quitecom o trocar por prata essa emissão extraordinária o mais breve que possa ser […]».

Devido sobretudo ao entesouramento da moeda metálica que, refundida por particulares, rende mais do que o seu valorfacial, a crise da falta de trocos há-se regressar mais tarde, com particular incidência em 1921, ano em que a Câmara e aAssociação Comercial e Industrial das Caldas da Rainha foram autorizadas a imprimir as cédulas que ilustram este texto1.

Mas não é só por cá que se verifica o desaparecimento da prata e do cobre.O Alvorada Diária2 de 26 de Outubro de 1920 traz uma curiosa notícia sobre os efeitos da crise nas ruas de Paris: «[…] A falta

de trocos acabou com os mendigos em Paris. Teem sido obrigados a procurar trabalho. […] um mendigo ganhava tanto comoum operário, vivia bem e alegremente, não tendo senão que se sentar numa rua, estender o chapéu e receber os cobres. Hojeporem as condições mudaram. O cobre desapareceu, e os francos em papel teem valor demais para esmolas […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido [email protected]

(Footnotes) 1Imagens acessíveis, respectivamente, em: http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/ e http://zeventura.blogspot.com/

2 Jornal em língua portuguesa publicado em New Bedford.

Devido ao feriado de sexta-feira santa, a próxima edição da Gazeta encerra na segunda-feira, dia 29, devendo por isso os nossoscolaboradores e anunciantes entregar-nos os originais até às 18h00 daquele dia.

MUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORAMUDANÇA DA HORA

Na noite de sábado para domingo inicia-se a hora de Verão. Quando for uma da manhã, deverá acertar os seu relógio para as duasda manhã.

Gazeta das Caldas fecha mais cedo

Falta de trocos

2 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia veio no Echos das Caldas de 7 deAgosto de 1908.

Ao abrir as portas do Parque D. Carlos I, oguarda deparou-se com o corpo de um jovem«[…] de cerca de vinte anos, que jazia inerteno solo, junto do lago, tendo próximo umavelha pistola de carregar pela boca […] ».

Quando o guarda se debruçou sobre o cor-po, verificou que «[…] se achava deitado so-bre o lado direito, vendo-se-lhe no frontalsuperior um ténue fio de sangue, que per-correndo a face do desgraçado, vinha man-char-lhe o colarinho da camisa […]».

Relata o jornal, que foi de imediato cha-mado um polícia, tendo sido o cadáver colo-cado sobre um banco «[…] e revistadas asalgibeiras foi-lhe encontrado um cartão d’onde se provouque o desgraçado era de nacionalidade hespanhola, e porum caderno de apontamentos se viu que tinha chegado hádias a esta localidade […]».

A causa da morte afigurou-se óbvia ao jornalista, depoisde uma análise tão lógica quanto sumária dos indícios: «[…]continuando a inspecção, foi-lhe encontrada uma carta di-rigida a uma das bailarinas que trabalham no Pavilhão doParque, pelo que se chegou à conclusão de que o infelizmorreu d’amor […]».

Morre jovem o que os deuses amam, dirá mais tardeFernando Pessoa acerca de um amigo que se suicida numhotel de Paris. Não foi, no entanto, o amor dos deuses maso desamor das mulheres que levou o jovem apaixonado aodesespero, como constatou o repórter após a leitura dacarta «[…] pois o infeliz rapaz, depois de ter assistido quin-ze dias seguidos a todas as sessões do animatographo co-lossal e aos bailados das formosas bailarinas Josephina eAntónia, não conseguiu que nenhuma d’ellas se apaixonas-se por elle […]».

Amor é fogo que arde, proclamava o poeta da alma lusa.Nem de propósito. Na mesma edição, o Echos informa osleitores da subida à cena no domingo, no Teatro PinheiroChagas, da peça Entre dois fogos, com Carlos d’Oliveira,Palmira Torres e Elvira Costa. Informa ainda o jornal que aliao lado, no «[…] Cynematographo Ibéria-Club, todas asnoites há sessões permanentes e 4 estreias. As fitas sãoescolhidas entre as melhores produções de casas da espe-cialidade. As cadeiras custam 100 réis e a geral 60 réis […]».

Suicídio no Parque

Da investigação realizada no local, o jornalista extrai umaoutra razão que poderá ter contribuído para o fatal desfe-cho. O desventurado jovem estava na penúria, tendo-lhesido encontrada apenas uma moeda de cinco réis. Tudo oresto fora gasto nas obsessivas sessões do animatógrafo,como se demonstrou com a inspecção aos parcos haveres:«[…] Nos bolsos do infeliz, foram encontrados vários talõesde bilhetes de entrada no referido animatographo, e entreelles alguns de cadeira, cujo preço eram de 80 réis, outrosde superior, de 60 réis, e bastantes de geral de 40 réis […]».

A cidade termal fervilhava. Na edição anterior o Echosnoticiava a nova forma de animação: «[…] Chegou o Agostoe com elle cinematographos no Ibéria-Club, Convalescençae Pavillões, circo de cavallinhos, touradas, vacadas, etc. […]A conhecida empresa Netto, Valle & C.ª, vae apresentarsoberbos espectáculos n’um dos Pavilhões do Parque. Ainauguração realiza-se hoje, domingo, com magníficas ses-sões do Animatographo Colossal e com esplendorosos bai-lados […]».

O mesmo jornalista acompanha o corpo ao cemitério enão reprime um juízo de censura pela indiferença das baila-rinas, perante o trágico fim daquele desconhecido que porelas se perdera de amores: «[…] Nota curiosa. – Á hora dosingelo funeral da victima, as distinctas e formosas bailari-nas encontravam-se no Parque fazendo exercícios de pati-nagem».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido ([email protected])

O novo líder do PSD, Dr. Pedro PassosCoelho, cometeu a proeza de ter obtido 90% dos votos na concelhia calden-

se das eleições da passada sexta-feira, para apresidência do seu partido.

Nem Ferreira Leite, Santana Lopes, Durão Barroso ou Luís FilipeMenezes conseguiram tal quase unanimidade.

Mas a façanha do novo dirigente máximo daquele partido es-tendeu-se ao distrito de Leiria, onde também obteve a maiormaioria de todas as distritais do PSD no país, com mais de 70% dosvotos expressos. A nível nacional o número de apoiantes nasurnas ultrapassou os 61% com uma afluência recorde de votantes.Isto tudo para quem ainda há cerca de um ano foi excluído pelapresidente eleita do partido, Manuela Ferreira Leita, que tinhasido eleita com apenas 38% dos votos em 2008.

O Dr. Passos Coelho vai ter uma tarefa hercúlea para unificar oseu partido e principalmente para calar os comentadores do seupartido na comunicação social, a maioria dos quais apoiava ou-tros candidatos e que são críticos em relação a si.

Outra tarefa que terá de carregar sobre os seus ombros é a depacificar os militantes do distrito de Leiria, que nalguns casosestavam todos na sua lista e que gostam tanto deles com osmuçulmanos de toucinho. Certamente que terá de destacar paraLeiria um bombeiro de serviço a fim de acorrer à mínima faúlha.

Zé Povinho felicita o Dr. Passos Coelho pela vitória da passadasemana e espera que ele não soçobre nos primeiros meses deliderança com tantos e variados apoiantes.

Há coisa de um ano Zé Povinho regozijava-se com a subida da equipa de voleibol do Sporting Clube das Caldas à pri-

meira divisão nacional. Este sábado recebeu com tristeza a notí-cia que a equipa tinha descido de novo à A2, depois de perder emEspinho.

Com tristeza, porque a equipa caldense merecia ficar entre osgrandes pela caminhada que fez nestes últimos anos e tambémnesta época. Esta equipa construída pelo trabalho sustentado naformação, foi certamente a mais portuguesa das 12 participantese também uma das mais jovens. Mas pagou cara essa inexperiên-cia. Nos dois encontros a eliminar teve vantagem, que não conse-guiu segurar porque pela frente estavam equipas mais batidas ecom mais argumentos financeiros.

Mas neste momento que não será fácil para os jogadores,treinadores e dirigentes, Zé Povinho deixa uma palavra de alento,porque o trabalho quando é bom dá frutos e esta nova passagempela divisão secundária fará por certo evoluir mais os jovens atle-tas do grupo para que no regresso a equipa esteja mais forte. E seeste grupo provou durante a época que merece estar entre osmelhores, o voleibol também precisa do Sporting Clube das Cal-das na A1, porque sem o público caldense os jogos vão ser decerteza mais monótonos.

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16 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O CHON – Centro Hospitalar do OesteNorte nasceu com um parto difícil, tirado aferros, com algumas malformações pro-venientes de incompatibilidade sanguíneados seus progenitores próximos.

Juntar casais um pouco artificialmentee sem se conhecerem o suficiente, nemterem experiência prévia de vida em comum, é pouco aconselha-do degenerando na maioria das vezes em insucesso.

Esse terá sido o erro do Ministério da Saúde que, ingenua-mente, tentou fazer quase uma operação de fertilização in-vitrojuntando genes não de dois patrimónios, mas de três (Caldas,Alcobaça e Peniche), sem a introdução de um estabilizador paraperrmitir a prévia compatibilização genética.

Zé Povinho desconfia que o insucesso da gestão daquele novocentro hospitalar estava quase definido à partida, ainda paramais em tempos de dificuldades, com diferentes visões estraté-gicas dos seus elementos e ainda por cima com um foco detensão resultante da gestão do património do Hospital Termal.

A notícia da Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas sobre as obras em curso noParque e no céu de vidro da antiga Casa da Cultura serviramcomo elemento desencadeador das divergências que levaram àdemissão daquele Conselho de Administração.

Razão insuficiente, dado que as mesmas estavam programa-das há dois anos e podiam ter um retorno em termos de receitas.Mostra este facto que as relações num órgão de tão grandeimportância eram pouco consistentes.

Assim perdeu principalmente o Centro Hospitalar Oeste Nor-te, que teve uma primeira falsa partida, que se não for atalhadapelo Ministério da Saúde com medidas inteligentes, pode levar àdegradação progressiva deste projecto estruturante da saúde anorte da região Oeste.

Zé Povinho está estupefacto com o êxitoobtido pelo PSD das Caldas da Rainha no Con-gresso do seu partido realizado no passadofim de semana em Carcavelos.

A secção caldense dos sociais democratasconseguiu colocar o presidente da Câmara

Municipal e líder distrital do partido, Dr. Fernando Costa, comovice-presidente da Mesa do Congresso e a vereadora e deputadaà Assembleia da República, D. Maria da Conceição Pereira, naComissão Política Nacional do partido em coligação com os doisoutros candidatos à liderança, Drs. Paulo Rangel e Aguiar Branco.(O Dr. Telmo Faria também aproveitou a boleia do novo presiden-te e foi o sétimo da lista oficial para o Conselho Nacional).

Os mais jovens militantes do PSD, encabeçados pelo caldenseDr. Miguel Goulão, acompanhado por outros elementos das anti-gas estruturas juvenis, onde se incluía o Dr. Hugo Oliveira, concor-reram em lista autónoma, conseguindo eleger cinco elementos,onde se incluem os dois caldenses.

Parece mesmo que os militantes caldenses fizeram o pleno nanova gestão do PSD, o principal partido da oposição ao governo doEng. José Sócrates e que será seu opositor nas próximas eleições.

A pequena mácula de toda esta estratégia monopolizadoradas Caldas no quadro da distrital de Leiria nos órgãos nacionais,foi conhecida já no início desta semana, com a nomeação dofigadal opositor interno ao Dr. Fernando Costa para chefia dogabinete do Dr. Passos Coelho - o eterno seu adversário, o bom-barralense Dr. Feliciano Duarte, presidente da Assembleia Muni-cipal de Óbidos.

Só que este êxito caldense no partido traz a factura ao conce-lho das Caldas, que vê cada vez mais dois dos quatro elementosefectivos do PSD no executivo camarário à distância no dia-a-diada autarquia. Sabe-se o que tem de centralizador o Dr. FernandoCosta, pelo que agora, com ainda menos um vereador que tinhaem anterior executivos (com a conquista obtida pelo CDS-PP), amaioria dos problemas e dos cheques para assinar têm de espe-rar dias a fio que o presidente estacione algum tempo na Câmara.Não se augura, pois, para as Caldas próximos tempos com atitu-des mais estratégicas e reivindicativas. A actividade do Partido anível nacional e distrital vai estar primeiro, até pelos temposcríticos que se aproximam.

A notícia veio no semanário O Regionalista de 4 de Ju-nho de 1922 e chocou profundamente a vila: «[…] No sába-do da outra semana, uma patrulha da guarda republicanarecebeu denúncia de que na casa de um tal Manuel dosSantos, fabricante de gazosas em Santa Rita, a poucadistância das Caldas, estava uma criança açamada. Diri-gindo-se ali, os guardas conseguiram surpreender a me-nor de 11 anos Filomena do Carmo com um aparelho dearame tapando-lhe a cara e vedando-lhe completamentea boca. Não foi difícil averiguarem que o dono da casa éque lho havia colocado, pelo que o prenderam e o trouxe-ram para o posto, bem como a vitima […]».

O que mais indigna o cronista é a futilidade da motiva-ção dos maus-tratos: «[…] Interrogado, o Santos declarouque assim procedia para tirar à pequena, que de mais amais era sobrinha de sua mulher, o vício da guloseima![…] ».

Segue-se a versão do tormento, dada pela criança eregistada pelo cronista: «[…] Pelo seu lado, a Filomenapôs as autoridades ao corrente dos maus tratos de que hámuito vinha sendo vítima, pois que lhe davam uma ali-mentação péssima e deficiente e a faziam dormir fora decasa, numa coelheira! Quanto ao açamo, há um ano quelho aplicavam, sendo o que lhe foi encontrado já o tercei-ro. Parece que todos eram fechados na nuca por um cade-ado! […]»

Para o jornal, anticlerical e republicano, havia uma ex-plicação ideológica confirmada pelos indícios recolhidosem sumária investigação no local: «[…] Foi presa tambéma mulher do Santos, claramente sua cúmplice. Tanto elacomo o marido estiveram em conventos, sendo-lhes en-contrados grossos rosários, estampas religiosas, etc. Tam-bém em casa lhes foi encontrado muito papel de cartascom o retrato de Paiva Couceiro estampado no ângulosuperior esquerdo. Vê-se que os algozes sabiam aliar es-plendidamente as suas ideias monárquico-religiosas àdureza de ânimo e maus instintos que o seu procedimentopara com a Filomena revelam […]».

A crónica termina com a intervenção do tribunal: «[…]Os criminosos foram entregues em juízo, sendo-lhes arbi-trada a fiança de 15 contos a cada um […]».

As crianças ocupavam pouco espaço nos antigos jornaisda vila, e não deixa de ser curioso o texto publicado nosemanário O Círculo das Caldas de 25 de Novembro de1911, onde se faz um entusiástico elogio aos objectivos deuma associação criada em Espanha: «[…] diffundir o ma-ximo respeito pelos velhos, inspirar compaixão pelos quesoffrem e pelas pessoas defeituosas, estimular o carinhomutuo e o espirito de camaradagem entre os alunnos,formular a proteccção ás creancinhas e aos animais […]».

Na época não existia o conceito de “direitos da crian-ça”, e só posteriormente, em 1924, surge o primeiro ins-trumento normativo internacional com referência expres-sa a tal conceito, quando a Assembleia da Sociedade dasNações adoptou a Declaração dos Direitos das Crianças.

Nesse ano na vila já decorriam movimentações para acriação da primeira instituição de apoio às crianças – oLactário-Creche Rainha D. Leonor – iniciativa amplamenteapoiada pela Gazeta das Caldas, que lhe consagra a pri-meira referência na edição de 25 de Outubro de 1925: «[…]Um dos números com que a Comissão do Centenário re-solveu comemorar a morte da Fundadora das Caldas e dasMisericórdias é a inauguração do Lactário-Creche, peque-na obra de beneficiência que evoque as tão notáveis queela fundou […]».

Direitos das crianças

No mesmo artigo, a Gazeta avança dados curiosos:«[…] a percentagem de óbitos na primeira infância équase o dobro em filhos de operários do que em filhos deburgueses instruídos […]».

O objectivo da nova instituição é definido na cónica daGazeta, como uma forma de proteger as crianças pobrese de reduzir a mortalidade infantil : «[…] O Lactário-Creche vai ter dez berços destinados a criancinhas po-bres, cujas mães, aguadeiras, lavadeiras, operárias, etc.,ali as deixarão enquanto trabalham, indo de 2 e meia em2 e meia horas dar-lhes de mamar […]».

Mas é sobretudo na prevenção e na pedagogia que ospromotores apostam: «[…] o principal fim do Lactário-Creche será o de ser um centro de educação das mães.Vai organizar-se a instituição das Enfermeiras-Visitado-ras, a quem podem pertencer senhoras de todas as clas-ses sociais e de quaisquer ideias religiosas e a quemincumbirá a vigilância das crianças. Far-se-á o cadastrodas crianças e mães pobres. Todas as crianças serãopesadas semanalmente e vigiadas pelas Visitadoras; se-rão dados conselhos de higiene infantil, nomeadamentede higiene digestiva às mães; far-se-á a maior propagan-da da amamentação materna, a maior glória duma mãe,mostrando bem como o maior inimigo da criança é obiberon mal empregado […]. As Enfermeiras-Visitadorasserão instruídas por médicos, que, todos têm dado o seuapoio à iniciativa […]».

Na edição de 27 de Dezembro de 1925, a Gazeta dasCaldas volta ao tema das crianças negligenciadas e àdefesa do projecto do Lactário Rainha D. Leonor, com umtexto que nos recorda que na época, tal como hoje, seriatão fácil reduzir o sofrimento das crianças: «[…] Se cadaum dos sete mil habitantes das Caldas se inscrevessecom a quota mensal de 5 tostões não haveria na vila umaúnica criança mal vestida nem mal alimentada […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

23 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

CemitériosA Gazeta das Caldas de 17 de Janeiro de 1926 lança um

apelo que terá eco em edições posteriores: «[…] Urge que osmortos do Cemitério Velho alcancem o repouzo eterno de umtúmulo respeitado […] evitando que ainda um dia tenhamosde salvar os seus ossos dos dentes de algum rafeiro […]».

A crónica começa com uma referência ao respeito pelosmortos como característica dos povos civilizados, seguindo-se uma síntese histórica sobre os cemitérios da vila: «[…]N’esta Vila, antes de existir o Cemitério Municipal, era sob otecto da casa de Deus que os mortos iam a enterrar. Só ahipor 1840 se construiu ao cimo da Rua Nova um acanhadomausoleu […]. Ficou sempre por acabar, abandonado, e pre-cocemente mereceu o nome de Cemitério Velho. […] Só em1918 mandaram reunir numa única cova os ossos que anda-vam dispersos pelo chão […]».

O cemitério situava-se muito próximo do portão que davaacesso à parada do antigo quartel do regimento de infantaria5, tendo sido o seu espaço cedido àquela unidade militar, comos resultados que o cronista da Gazeta descreve nestes ter-mos: «[…] Os ferreiros do regimento levaram para lá as suasbigornas e as suas forjas, instalando comodamente uma ofi-cina de serralharia e utilizando o resto do mausoléu paraarrecadação da lenha. No local onde houve outrora um altarde mármore com os braços da cruz a impor silêncio, acumula-se agora a hortaliça que no dia seguinte os caldeirões doquartel hão-de cozer. Sob os montões de cepas para o fogãoda cozinha próxima, sob as ferramentas da oficina, ao som domalhar do ferro, partidas pelas botas da soldadesca que alivai trocar as suas frazes de caserna, lá estão ainda as campascom inscrições, cobrindo os restos mortais dos que há oitentaanos para ali foram atirados […]».

Os primeiros decretos de secularização dos cemitérios, doano de 1835, impunham o fim do enterramento nos adros eigrejas, prevendo que em todas as povoações, fora dos seuslimites, fossem criados cemitérios públicos resguardados pormuros com não menos de dez palmos de altura, sendo oscorpos enterrados em covas separadas com pelo menos cincopalmos de profundidade e à distância de palmo e meio dasoutras covas.

A reforma não foi pacífica, e encontrou a resistência popu-lar, que via as alterações ditadas pelo estado liberal comouma profanação que afastava os mortos do altar, impedindoa sua ressurreição final.

Para o cemitério velho terão sido deslocados os restosmortais provenientes da demolição da Capela de Nossa Se-nhora do Rosário, que existiu na Praça Dona Maria Pia, e deSão Bartolomeu, que se erguia em frente ao adro da Igreja de

Nossa Senhora do Pópulo.Com a construção do cemitério municipal em 1867, o

antigo cemitério junto da Rua Nova, actual Rua RafaelBordalo Pinheiro, ficou esquecido e abandonado.

A Gazeta de 20 de Fevereiro de 1927 volta a abordar otema, questionando-se o cronista sobre as razões quejustificavam o desprezo pelas ossadas que jaziam nocemitério: «[…] Dar-se-ha o caso de estes ossos, estascaveiras aparecidas serem dalguns dos primeiros povoa-dores da vila, criminosos a quem foi perdoada a pena porD. João II? E porque não seriam alguns dos primeirosalmoxarifes, enfermeiros, capitães, etc? «[…]».

Num outro artigo, em 21 de Fevereiro de 1926, sob otítulo «Respeitemos os mortos. É necessário remover asossadas que estão no cemitério velho», a Gazeta apela àacção imediata da câmara, censurando a inércia destaentidade perante a omissão de um acto urgente porque«[…] se trata de um caso que se prende com a decênciae a moral […]».

No mesmo artigo, a Gazeta refere-se ao abandono deum outro cemitério: «[…] Mas há mais: No lugar e fregue-sia de Santa Catarina […] existe dentro de uma proprie-dade particular uma coisa parecida com cemitério, queestá vedada com umas taboas carcomidas, carunchosas,e onde dormem o sono eterno, creaturas arrebatadaspela terrível pneumonica. Não seria tempo de fazer atraslação para o cemitério novo e acabar com aqueleespectaculo deprimente e desmoralizador? […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected]

Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.Portão de acesso ao antigo quartel.

Quem está mais atento às iniciativas daautarquia nos últimos meses tem reparadona particular actividade e dinamismo do ve-reador Hugo Oliveira, em vários domínios.

A ausência do presidente da Câmara, naslides partidárias a nível distrital e nos seus

protagonismos no Congresso do PSD, bem como nas inevitáveismanobras para influenciar a escolha dos elementos das listas,tal como a vereadora Maria da Conceição a acumular o lugarcom a Assembléia da República, onde tem novas solicitações,tem deixado campo aberto para que este jovem possa brilhar.Ainda por cima, nesta semana o Dr. Fernando Costa esteveausente em Newark, junto da comunidade caldense nos EstadosUnidos, e a vereadora e deputada retida na Eslovénia numamissão parlamentar. Ou seja, mais uma janela de oportunidadepara o Dr. Hugo Oliveira que avançou com a apresentação dosnovos projectos estruturantes para as Caldas da Rainha, desdeo parque subterrâneo na Avenida da Independência Nacionalaté às inúmeras intervenções no tecido urbano.

A Zé Povinho cheira-lhe que a escolha do sucessor do Dr.Fernando Costa para a lista do seu partido candidata à Câmaravai ser sofrida, uma vez que estão vários a posicionar-se e o Dr.Hugo de Oliveira já se lançou na corrida três anos antes, como sepode ver.

Zé Povinho estava a admirar o discursodo Dr. Fernando Costa, presidente da Câ-mara Municipal das Caldas da Rainha emuito recente líder da distrital do seu par-tido.

Este arvorava-se até há bem pouco tem-po no grande reconciliador dos social-de-mocratas do distrito.

Aos seus companheiros do PSD, nas duas intervenções queempolgaram o congresso, tentou mostrar as suas característicasde conciliador e avisou o novo líder, Dr. Passos Coelho, que nuncadeveria trair a confiança dos seus colegas de partido, nunca mar-ginalizando aqueles que se haviam batido contra si.

Sabia também que a admiração dos seus correligionários haviacrescido bastante nas hostes dos congressistas que o felicitavamcom frequência e o desafiavam para novas intervenções, especi-almente no último congresso, visando quebrar a sonolência dostrabalhos.

Mas chegado ao momento chave da escolha dos novos dirigen-tes para os órgãos nacionais, o caseirismo caiu-lhe na imagem.

Ao que diz a imprensa mais metida nos mexericos do seu par-tido, o Dr. Fernando Costa não aguentou a preferência do seunovo líder pelo Dr. Telmo Faria, autarca seu vizinho com quemmantém um desamor nos últimos dez anos. Por isso, ameaçou opresidente do seu partido com uma intervenção no congresso deCarcavelos que desfazia a imagem de unidade e com a sua pró-pria demissão dos cargos na distrital. Ou seja, estalou-lhe a finacamada de verniz que tinha vindo a mostrar junto do seu líder.

É evidente que os seus colegas das Caldas da Rainha tambémo apoiaram nessa vingança e cerraram fileiras na escolha davereadora e deputada Maria da Conceição para Comissão PolíticaNacional. Só que estas manobras parece que dividiram o PSD nodistrito que não acreditou no Dr. Fernando Costa quando estegarantia que tinha proposto vários nomes e que o líder haviapreferido a deputada caldense.

Zé Povinho acha que o Dr. Fernando Costa cometeu, uma vezmais, o suicídio político-partidário e dificilmente conseguirá vol-tar a estar nas boas graças da nova liderança, por muitas juras defidelidade que faça.

O grupo Deolinda irá actuar nas festas da cidade, depois de terestado pela primeira vez nas Caldas, no CCC, em Julho do anopassado. Cabe ao grupo de Ana Bacalhau animar o público naPraça 25 de Abril, na noite de 14 de Maio, num espectáculo queconta ainda com a actuação de uma banda caldense.

Os “Deolinda” surgiram em 2006 quando os irmãos Pedro daSilva Martins e Luís José Martins convidaram a prima Ana Baca-lhau, então vocalista dos Lupanar, para cantar quatro cançõesoriginais. Mais tarde, convidaram o contrabaixista Zé Pedro Lei-tão e assim se formou o grupo. O disco de estreia, “Canção aoLado”, foi lançado a 21 de Abril de 2008 e desde então tem figu-rado no top dos mais vendidos no pais.

Na próxima segunda-feira será editado o novo disco da banda,

Foto: Inês QueridoFoto: Inês QueridoFoto: Inês QueridoFoto: Inês QueridoFoto: Inês Querido

Deolinda no concerto do 15 deMaio

intitulado “Dois selos e um carimbo”. O álbum integra 14 temas daautoria de Pedro da Silva Martins, intitulando-se o primeiro single“Um contra o outro”.

F.F.F.F.F.F.F.F.F.F.

GAZETA PODE CHEGAR MAISTARDE AO ESTRANGEIRO

Devido às restrições no tráfego aéreo provocadas pelas cin-zas vulcânicas, que têm afectado a distribuição de correio in-ternacional, esta edição da Gazeta poderá chegar atrasada amuitos dos nossos assinantes no estrangeiro, nomeadamentena Europa.

30 | Abril | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Com alguma frequência, surgem nos velhos jornais calden-ses, artigos onde se expressa a preocupação pela “instrução noconcelho”, como ocorre com O Círculo das Caldas de 23 de Se-tembro de 1909, que em primeira página aborda a questão comestatísticas, interrogações e censuras, publicando um mapa ondese identificam os professores que não apresentaram alunos aexame.

Reza a crónica:«[…] Desde que ha annos uma estatistica official, com a frieza

rude dos numeros, nos veio dizer que em Portugal existem 85 porcento de analphabetos, collocando-nos abaixo da Turquia e apar de Marrocos, um movimento consolador se iniciou no nossopaiz a favor da instrucção primaria. […] No ultimo anno lectivo,as creanças recenseadas – 6 a 12 annos – eram em todo oconcelho 2.621. Pois d’estas creanças, mais de 2.000 não frequen-taram a escola! A quem cabe tamanha responsabilidade? Aogoverno e a nós todos […]».

Segue-se a enumeração das razões, onde avulta a falta deestímulo dos professores, causada pelas péssimas condiçõesremuneratórias:

«[…] N’este malfadado paiz tem havido dinheiro para tudomenos para a instrucção. Pois pode lá ser que um concelho quetem uma população escolar de 2.621 almas tenha só 15 escolas eestas ainda quasi despovoadas? […] de duas uma: ou os nossosprofessores desanimados com a mesquinhez do seu ordenado eainda caloteados pelo estado não trabalham, o que para suahonra não queremos, ou as escolas que possuímos são pessima-mente frequentadas […]».

Devido à preocupação do Estado Liberal com a instru-Devido à preocupação do Estado Liberal com a instru-Devido à preocupação do Estado Liberal com a instru-Devido à preocupação do Estado Liberal com a instru-Devido à preocupação do Estado Liberal com a instru-ção primária, e às várias reformas que se sucederam nação primária, e às várias reformas que se sucederam nação primária, e às várias reformas que se sucederam nação primária, e às várias reformas que se sucederam nação primária, e às várias reformas que se sucederam nasegunda metade do século XIX, de acordo com o segunda metade do século XIX, de acordo com o segunda metade do século XIX, de acordo com o segunda metade do século XIX, de acordo com o segunda metade do século XIX, de acordo com o Annua-Annua-Annua-Annua-Annua-rio Estatistico de Portugal rio Estatistico de Portugal rio Estatistico de Portugal rio Estatistico de Portugal rio Estatistico de Portugal referente a 1900, das 3921 fre-referente a 1900, das 3921 fre-referente a 1900, das 3921 fre-referente a 1900, das 3921 fre-referente a 1900, das 3921 fre-guesias existentes em Portugal apenas 935 não têm qual-guesias existentes em Portugal apenas 935 não têm qual-guesias existentes em Portugal apenas 935 não têm qual-guesias existentes em Portugal apenas 935 não têm qual-guesias existentes em Portugal apenas 935 não têm qual-quer escola primária oficial, registando-se no entantoquer escola primária oficial, registando-se no entantoquer escola primária oficial, registando-se no entantoquer escola primária oficial, registando-se no entantoquer escola primária oficial, registando-se no entantouma percentagem de 78,6% de analfabetismo no país.

Mas para além das razões sociológicas que não motivam aprocura do ensino, há um problema que todos reconhecem: adesmotivação dos professores face à sua insustentável situaçãoeconómica.

Na década de 1870, os professores de instrução primária doconcelho auferiam 90$000 réis anuais pagos pelo Tesouro Públi-co, a que acresciam 20$000 réis pagos pela Câmara Municipal,vivendo no limiar da subsistência, à semelhança do que aconte-cia por todo o país, o que leva Eça e Ramalho a proclamar em AFarpas: «[…] Se o país não tem senão 90$000 réis por ano parafazer instrução, que prescinda da instrução […]. O Magistério oufaz mendigar de miséria ou faz morrer de fome […]».

O Echos das Caldas de 23 de Agosto de 1908 publica uma cartasubscrita por três ilustres caldenses que pedem a ajuda da po-pulação «[…] para um modesto mas distinctissimo professorofficial primario d’esta villa […] condoídos da sua dolorosa situ-ação […] a quem o estado tem negado os seus mais sagradosdireitos na importância de 176$000 réis, reduzindo tão cruel comoinjustamente uma numerosa familia de treze pessoas á maisprecaria e humilhante situação […]».

Diz-se que a instrução primária era a religião da República,que pretendia substituir a influência social tutelar do párocopela do mestre-escola, mas, apesar das promessas, o estatutosalarial do professor não melhora com o novo regime, situaçãodenunciada pelo jornal O Circulo das Caldas de 3 de Janeiro de1914: «[…] Vae num século, nada menos, que se diz e repete,aliaz com verdade, que o professor primário é a mola real dacivilização […] contudo, ainda há quatro ou cinco anos antigosprofessores primarios careciam, para não morrer de fome, rece-ber esmolas de 500 réis da caridade pública […]».

Na mesma notícia, o Círculo faz referência a uma esmola de

A condição do professor

500 réis atribuída por um jornal «[…] a um pobre e honradovelho, talvez de mais de 80 anos de idade que toda a sua vidatrabalhou como professor primario de uma freguesia dêsteconcelho, não lhe sendo dada a reforma, deixando-se ingrata-mente que […] esteja em grande miséria e tenha que viver deestender a mão à caridade […]».

A Voz do Povo de 18 de Agosto de 1923, a propósito doCongresso do Professorado Primário em Leiria, atribui todasas culpas ao regime monárquico: «[…] o analfabetismo, quefora a mais larga capa do monarquismo clericalista, não convi-nha, nem convém á República, por que mantendo as consciên-cias em perpétuas trevas é a negação formal da Democracia[…]».

No entanto, na edição de 8 de Março de 1925 do mesmojornal, em defesa de uma associação mutualista, um professordescreve situações de degradação social da classe, semelhan-tes às do regime anterior: «[…] assiste-nos a todos nós aobrigação de nos associarmos nessa benemérita Lutuosa, paraque aos nossos olhos não se depare o triste espectáculo devermos, por essas ruas, crianças, filhos de colegas nossos aestenderem a mão à caridade pública e para que não experi-mentemos a mágoa profunda de encontrarmos, como em Lei-ria se encontra, uma pobre e desgraçada viúva de um profes-sor primário a receber diariamente a refeição distribuída naSopa dos Pobres […]».

Entre o reconhecimento social que o domínio das letras lheconferia e a miserável situação económica que a avareza doestado lhe impunha, o mestre-escola foi mais uma vítima doeterno preconceito do estado, que nunca considerou a culturacomo um bem indispensável e urgente.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected] Mestre-Escola

Imagem: Ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro para A Lusa Bambochata (1885).

A agência de rating Standard & Poor‘s,que faz a análise dos riscos de curto,médio e longo prazo, dos compromissosfinanceiro dos Estados, bem como dasinstituições financeiras, reviu em baixano início desta semana os referidos índi-ces para Portugal, Grécia e Espanha,entre outros países.

A decisão daquela consultora norte-americana afectou gra-vemente a situação económica e financeira de Portugal, le-vando à queda drástica das cotações nas bolsas, bem como aoaumento dos encargos com a dívida nacional e dos paísesafectados por aquela apreciação.

Zé Povinho desconfia da oportunidade desta empresa nor-te-americana, que durante bastante tempo omitiu as análisesnegativas da banca norte-americana e também da própriaIslândia (que quase foi à falência no período anterior à gravecrise internacional) e agora vem penalizar gravemente os pa-íses na orla mediterrânica da Europa do Euro.

Estas manobras dão oportunidade aos especuladores inter-nacionais para utilizarem a sua influência no sistema monetá-rio mundial, a fim de realizarem mais valias sem qualquertrabalho e apenas decorrentes do poder de influência que têmjunto dos investidores. Recorde-se os milhões de dólares queo especulador Soros ganhou numa anterior crise ocorrida nadécada de 90 do século passado e que penalizou gravementeas economias dos países asiáticos.

Zé Povinho considera que só a desunião e a falta de solida-riedade dos países europeus está a oferecer a oportunidadesoberana para que as agências de notação, como a Standard& Poor‘s, possam manipular a vida económica e financeira dosportugueses (e dos europeus). Fosse vivo Bordalo Pinheiro eeste não perdoaria: colocaria certamente a Standard & Poor‘snum penico ou num escarrador onde os povos atingidos sepudessem vingar.

O 25 de Abril de 1974 merece ainda hoje(e merecerá enquanto as gerações marca-das directa ou indirectamente pelo salaza-rismo e pela ditadura estiverem vivas) umacomemoração condigna, pelo significado

que teve enquanto manifestação popular de genuína adesãoao movimento dos militares.

Nem todos os municípios e políticos locais assim o conside-ram, desvalorizando esse dia com um desinteresse que, se fordeliberado, apenas os desqualifica, se for por desmazelo,mostra afinal como entendem a liberdade readquirida.

Por tudo isto, Zé Povinho não pode deixar de louvar a atitu-de dos autarcas alcobacenses, que organizaram actividadesvárias, umas de conteúdo mais político e cívico, como a sessãosolene da Assembleia Municipal, outros de carácter desporti-vo a que adesão popular deu grande relevo (reuniram mais de800 pessoas numa passeata pela cidade).

Quiseram ainda relevar o papel desempenhado na tentativade derrube do fascismo pelo general Humberto Delgado, queteve residência na Cela e que ali foi homenageado com ummonumento à sua memória. Se Caldas da Rainha quisesse terum herói que não levantasse polémica e que tenha lutadoabnegada e valorosamente contra a ditadura, e de que foiuma das primeiras vitimas, apesar de ter morrido cedo demaisno exílio, teria em Raul Proença uma boa motivação.

Por isso, a autarquia alcobacense, na figura do seu presi-dente da Câmara, Paulo Inácio, merece ser destacada portudo o que foi dito antes.

7 | Maio | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O Regionalista de 7 de Dezembro de 1924 anuncia aconstituição da Associação dos Alunos da Escola In-dustrial e Comercial de Rafael Bordalo Pinheiro e olançamento do jornal A Voz Escolar, pertencente a estaassociação.

O primeiro número é distribuído no dia 1 de Janeirode 1925 e assume a missão declarada no seu editorial:«[…] O nosso periódico foi feito expressamente parapropagar a instrução, defendendo os interesses doensino […]».

A segunda edição traz uma promessa: «elevar bemalto o nome da nossa escola», cumprida durante o tem-po em que foi publicado este jornal «noticioso, sporti-vo e literário», que abriu as páginas a figuras prestigi-adas na região, como Tito de Sousa Larcher e JoaquimManuel Correia1.

Presença frequente nos jornais da Vila, a Escola In-dustrial e Comercial de Rafael Bordalo Pinheiro foi ob-jecto de um longo artigo no Diário de Notícias de 17 deOutubro de 1925, com eco na Gazeta das Caldas do dia25 desse mês, onde se refere a abertura do ano escolarcom 250 alunos.

No mês seguinte, em 18 de Novembro, a Gazeta dasCaldas noticia a aprovação dos estatutos da “CaixaEscolar Dona Leonor”2, que tem como sócios os profes-sores e alunos, protectores as pessoas estranhas àescola que contribuam com 1$00 mensal, e beneméri-tos todos os que façam donativos de 500$00 ou mais.

A mesma Gazeta publica um extenso artigo sobre aEscola em 7 de Março de 1926, com uma entrevista aoseu director Agostinho de Sousa, que entre outros te-mas fala dos fins da Caixa Escolar: «[…] destina-se apromover a educação dos alunos pelos seguintes mei-os: adquirindo materiais para trabalhos escolares delaboratório e oficinas; pagando pequenos salários deestímulo aos alunos que produzirem trabalhos vendá-veis; promovendo excursões e visitas de estudo; auxili-ando os alunos reconhecidamente pobres na comprade livros e outros utensílios de estudo; instituindo pré-mios aos alunos que se distinguirem […]».

Volvidos mais de oitenta anos, surpreende a actua-lidade do pensamento deste director, que defendia ainteracção da escola com o meio, propondo «uma edu-cação profissional científica», de forma a responder àsnecessidades «de desenvolvimento da indústria de ce-râmica» da região, e a autonomia financeira possível,a realizar com a venda dos trabalhos produzidos pelosalunos, nomeadamente os trabalhos femininos: «[…] aEscola promoverá a sua venda no fim de cada ano lec-tivo, revertendo uma parte do seu produto líquido afavor da aluna que o tiver executado, como estímuloao seu trabalho […]».

A aposta do director é sobretudo na cerâmica «revi-ver em barro o que foi e é nosso», sem esquecer outroobjectivo: a especialização técnica de profissionais docomércio, que terminado o curso podem aceder ao Ins-tituto Comercial.

O jornal O Progresso num longo artigo publicado em15 de Maio de 1947 inventaria os pergaminhos da Esco-la, desde o ano de 1884 e da regência do Mestre que lhedeu o nome: «[…] A Escola Industrial e Comercial deRafael Bordalo Pinheiro pode dizer-se que é, até aopresente, a última das metamorfoses da Escola deDesenho Industrial Rainha Dona Leonor, que por decre-to de Emídio Navarro, datado de 1884, se criou nestacidade, com o fim de cooperar no desenvolvimento da

A Escola

indústria típica e tradicional das Caldas da Rainha – acerâmica […]. Ficou esta Escola instalada nos baixos dosPaços do Concelho, frequentada por 64 alunos, e porsugestão de Bordalo Pinheiro, em 1888 é dotada comuma aula de química, provida dum dos melhores labora-tórios do País, sendo a sua regência entregue ao profes-sor ilustre que foi Von Bonhorst, e logo no ano imediatocom uma aula de pintor vidreiro, regida pelo próprioBordalo […]».

Segue-se uma síntese histórica: em 1918 a Escola deDesenho Industrial Rainha Dona Leonor é transformadaem Escola das Artes e Ofícios; em 1924 a Escola dasArtes e Ofícios funde-se com a Escola Comercial (antigaAula Comercial, existente desde 1919), dando origem àEscola Industrial e Comercial de Rafael Bordalo Pinhei-ro.

No mesmo artigo, um quadro com a evolução do nú-mero de matrículas revela que no ano lectivo de 1937/38se matricularam 230 alunos, tendo esse número subidosistematicamente todos ao anos, cifrando-se em 461 onúmero de alunos matriculados no ano lectivo de 1946/47.

Na lista dos professores mais ilustres que contribuí-ram para o prestígio da Escola, para além de BordaloPinheiro e Von Bonhorst, há referência aos nomes deEduardo Gonçalves Neves, Cunha Ferraz, Francisco Elias(Mestre Elias), José Fuller e Eduardo Mafra Elias.

Na lista dos alunos célebres, o cronista refere entreoutros os escultores João Fragoso e António Duarte.

A Voz Escolar de 7 de Junho de 1925 anuncia teremsido «concedidos vinte contos para a adaptação do edi-fício da Escola Bordalo Pinheiro ao fim a que se destina[…]».

No artigo de 7 de Março de 1926 a Gazeta informa quea Escola está instalada no edifício conhecido por “CasaBerquó” onde foram efectuadas obras que o modifica-ram e adaptaram às necessidades do ensino

Na edição de 15 de Maio de 1947, O Progresso refere-se a novas obras e à promessa de «construção de umedifício próprio em breve».

O edifício foi construído e a Escola transferida no anode 1964, levando consigo a memória de outros tempos ede outros lugares, singular património que a identificacom a antiga vila e com um nome que muito a presti-giou: Rafael Bordalo Pinheiro.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

Imagem: Colecção Miguel Chaby(Footnotes)1 Números 10 e 112 Para a qual contribuem a Câmara e a Associação

Comercial e Industrial da Vila

Zé Povinho, apesar de não sermuito beato, tal como o seu cri-ador, contudo sensibiliza-secom as visitas do mais alto dig-natário da Igreja Católica eApostólica Romana.

Mesmo tendo sido, porfiadasvezes, mordaz em relação à hi-erarquia e a alguns dos seus

protagonistas, bem representado nalgumas figuras de movi-mento como o padre e o sacristão, Zé Povinho acha muitoprestigiante que tenha sido uma empresa caldense e um ar-tista-técnico que reside nas Caldas os escolhidos para execu-tarem a pomba em porcelana concebida pelo mais prestigia-do arquitecto e designer português, Siza Vieira.

É significativo que se oiça e veja nos principais meios decomunicação social portuguesa que foi nas Caldas que se rea-lizou a peça em porcelana para o Papa, quando outras cidadessão bem mais conhecidas na fabricação desse material.

Foi mesmo do Arq. Siza Vieira que se ouviu na televisão oprincipal elogio à perfeição do trabalho realizado nas Caldasda Rainha, pelo principal criativo da empresa Braz Gil Studio,Pedro Gil.

Por tudo isso, Zé Povinho não pode deixar de o destacarnesta obra realizada em prazo tão apertado, desejando queem breve abra as portas o seu Jardim d´Artes para se podervisitar a panóplia de peças criadas ou realizadas por aquelaempresa.

O distinto economistaEduardo Catroga, que foitambém ministro das Finan-ças de Cavaco Silva, afirmouno início desta semana que“no conceito de serviço pú-blico não encaixa o financia-mento pelos contribuintes deum Ferrari ferroviário paraMadrid, isto é, de um comboio de alta velocidade, mas sim deum comboio normal”. E por essa razão iria reunir com Presi-dente da República, que também não simpatiza com o TGV,para reforçar juntamente com outros ex-ministros, o lobbydos que estão contra este projecto.

Ora chamar “Ferrari ferroviário” a um modo de transporteque é hoje habitual para milhões de europeus, que faz partedo quotidiano de muitos milhares de franceses, espanhóis,alemães, belgas, ingleses, holandeses e italianos, revela queo Dr. Eduardo Catroga não conhece, nitidamente, do que estáa falar e que continua agarrado ao viciozinho bem portuguêsde andar de carro ou de avião para todo o lado.

Como economista que é, deveria saber que todas as linhas dealta velocidade se revelaram um êxito do ponto de vista comer-cial, excedendo, na maioria dos casos, a procura prevista, querpela transferência de mercado de outros modos de transporte,quer pela própria procura que o TGV induziu. Mais: a sua articu-lação com o comboio convencional fez disparar o número deutilizadores do modo ferroviário, que todos sabem ser mais sus-tentável do ponto de vista ambiental, mais rápido e mais seguro.

O Dr. Catroga chama, pois, um luxo aquilo que é o transpor-te do século XXI. Não sabe do que fala. Zé Povinho fica àespera de o ouvir demonstrar idênticas preocupações com as“pistas de fórmula 1” que Portugal tem construído excessiva-mente desde os tempos do seu colega de governo, Ferreira doAmaral, e que agora também continuam em alta. Ou será queas auto-estradas, pagas por todos, mesmo em regiões compouca procura, já não constituem uma ameaça para as finan-ças públicas?

14 | Maio | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Durante os 99 anos devigência do Código Civilde 1867, a mulher deveuobediência ao marido(artigo 1885.º), não po-dendo dispor dos seusbens nem praticar qual-quer acto sem a sua au-torização (artigos 1115.°,1117.°, 1193.° e 1194.°),sob pena de nulidade,porque nos termos da leio marido era administra-dor de todos os bens docasal, incluindo benspróprios da mulher, mes-mo os que ela ganhassecom o seu trabalho.

Esquecida pela Repú-blica, só em 1931 a mu-lher viu reconhecido oseu direito de voto, re-servado às diplomadascom cursos superiores ousecundários, enquantoaos homens se continuaa exigir apenas que sou-bessem ler e escrever.

Neste quadro jurídicoe social, encontram-sena imprensa da vila curi-osas reflexões sobre oestatuto feminino, comoa que O Círculo das Cal-das de 20 de Maio de 1910insere na primeira pági-na.

Começa o cronista porafirmar: «[…] A Mulherestá hoje onde a deixouJesus! Arrancada pelaIgreja à escravidão pagã,caminhou algo dignifica-da e com lindos touca-dos de rendas por essaedade media, que, comose sabe, não fora útil acoisa nenhuma, e por-tanto menos o poderiaser a um ente fraco. […]»

Segue-se a censura aorecuo cultural da IdadeMédia, definida nestestermos: «[…] Um tunelcollocado entre o passa-do e o presente, assimconnsiderou alguemaquella obscurantissimaepocha; e tão miserávelfoi na parte que respeitaaos progressos huma-nos, que levou Saint Just,em 1793 a gritar que omundo estava vasio des-de os romanos […]. Umacoisa, porem, sobressahena edade media, é a ru-deza e a grosseria do

Condição femininamasculino quenão deixava res-pirar a mulher[…]».

Para o cronistaa Idade Modernaesquece a mulhere nem o séculodas luzes a liber-ta: «[…] Vemmais tarde Jac-ques Rosseau eapregoa os Direi-tos do Homem,mas a respeitodos direitos damulher estamosconversados! […]o grau de inferio-ridade em quepermanece emrelação aos privi-legios fruidos pelo Homem, é sim-plesmente deplorável. […]».

Segue-se a demonstração deque a desigualdade assenta nainjustiça da falta de reconheci-mento do mérito: «[…] E haveraduvida para alguem, que a Mu-lher […] nas sciencias, nas artes,nas lettras, na politica e em to-dos os ramos de actividade seemparelha ao homem? Quemd’isto duvidar é porque olvida osnomes de Esther, Judith, Joannad’Arc, Santa Thereza de Jesus,Josepha d’Obidos, madamesPape-Carpentier, de Sevigné, deStael, Catharina da Rússia, Ma-dame Curie e a Sr.ª Dona MariaAmália Vaz de Carvalho […]».

Para o cronista, o estatuto deesposa é falso pedestal onde ohomem aprisiona a companhei-ra: «[…] Observam os que enca-ram com leveza este problemaque ás mulheres se ofereceu oshonrosos logares de esposas!Olha que favor! Isto é porque obicho homem os não podia accu-mular […]».

Analisando a forma «[…] comometade do género humano trataa outra metade […]», conclui quepoucas possibilidades de escolharestam: «[…] As mulheres […] quenão alcançarem um modo de vidano casamento só têem trez car-reiras a seguir: mestras de meni-nas, costureiras e serviçaes oujornaleiras! […]».

Conclui que apesar das mudan-ças políticas e sociais, a mulher«[…] embora um tanta aliviadada sua velha condição d’opprobio,permanece a serva que fora nostempos bíblicos […]», e por issoapoia o movimento feminino fran-

O ex-Ministro Manuel Pinho, desde que viu posta em causa asua presença no governo socialista pelas cenas de que foi prota-gonista no Parlamento, deixou empalidecer a sua estrela.

Apesar de ter sido recebido nas Caldas com grande regozijopor ter ajudado a salvar as Faianças Bordalo Pinheiro, uma partedos políticos locais da maioria não foi sensível à sugestão paraque fosse distinguido com uma medalha no 15 de Maio.

Será que o Dr. Manuel Pinho foi vítima da qualidade partidáriade quem foi o autor inicial da proposta? Talvez tenha sido isso,mas os trabalhadores da Bordalo Pinheiro e os caldenses terãobem em conta o esforço que foi desenvolvido por si a fim de manter a fábrica mais emblemática dacidade em funcionamento.

Caso as pessoas que mais se envolveram para resolver o problema – como Manuel Pinho, osproprietários da Visabeira, Catarina Portas e Joana Vasconcelhos - tivessem tido uma relação maisestreita com a autarquia caldense, e certamente sobrariam medalhas para oferecer no 15 de Maio(como aconteceu com responsáveis pelo call center Contact).

Contudo, o papel do então ministro da Economia foi muito importante para as Caldas, evitandoque tivesse sido encerrada abruptamente uma das empresas que dá uma imagem mais rica daregião para o país e estrangeiro. Mas parece que, apesar da sua prestimosa intervenção, hoje o Dr.Manuel Pinho não conseguiu o reconhecimento unânime dos autarcas caldenses.

O Presidente da República, professor Cavaco Silva, atribuiuno final da sua visita ao Oeste várias condecoração a pessoasligadas à vida económica, política, social e cultural da região,numa cerimónia muito concorrida.

Do sul do distrito foram designados para receberem as co-mendas, o mestre Ferreira da Silva (ceramista caldense consa-grado), o Dr. Gonçalves Sapinho (ex-presidente da Câmara deAlcobaça e responsável durante muitos anos pelo Colégio daBenedita), o professor Rogério Cação (responsável pela Cerci-

Peniche e presidente da Assembleia Municipal daquele concelho) e o empresário João Jorge,director-geral da ICEL-Indústria de Cutelarias da Estremadura, S.A. da Benedita.

Zé Povinho ficou muito feliz por saber que as mais altas instâncias do Estado Portuguêstenham recebido tão elevada distinção por parte do mais alto magistrado na Nacão, que assimsoube reconhecer o mérito de alguns dos obreiros da região em variadas dimensões.

Portugal não é pródigo com os mais merecedores, distribuindo muitas vezes medalhas aeito, pelas figuras mais sonantes e colunáveis da vida social ou política, segundo as amizadesque mantêm com as elites.

No caso em apreço, o Presidente da República quis repartir as distinções pela maioria dosconcelhos visitados, destacando figuras que em muitos casos não têm uma projecção muitomundana. Fez bem. E no caso caldense deu concretização a uma proposta cidadã que lhe haviachegado há quase dois anos.

A todos e em especial aos nomes já referidos, Zé Povinho endereça as suas congratulações.

cês: «[…] Têem carradas de ra-zão; deve fazer-se a partilha poregual entre o genero humano,e pôr-se termo ao systema pre-conisado na fabula do leão! Efrancamente já não é sem tem-po […]».

Mas eis que surge uma ligei-ra discordância: «[…] Ahi as te-mos agora em França […] pro-mettendo que quando governa-rem acabarão com as bebidasalcoolicas. Pouco nos importa[…] porque não oramos no tem-plo de Baccho; mas parece-meque entram mal les femmes dosocialismo francez acabandocom a pinga […]».

Explicadas as razões, pare-cem fazer sentido: «[…] acha-mos a medida de pouca estra-tegia politica, porque quantomais os homens se embebeda-rem, mais se enfraquecem, eportanto mais fácil se tornarápara o bello sexo a tarefa devencê-los! Não julgamos darnenhuma novidade ao affirmar-lhes que um homem bêbedo valemenos que uma mulher! […]».

E em tempos de guerra, osmeios podem justificar os fins:«[…] Nas questões sociaes nun-ca fica mal um pouco d’arte emanha … mesmo quando se tra-ta de ser sincero. E as senhorasfrancezas pretendendo acabarcom o alcoolismo são realmen-te sinceras, mas não são habeis… Segundo nos parece, até de-viam fomentar o seu desenvol-vimento. Ia n’isso em grandeparte o seu triumpho politico esocial […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

Embora não conste no pro-grama oficial do Dia da Cida-de, este ficará também mar-cado pela inauguração donovo restaurante Sabores deItália, que mudou a sua loca-lização da Rua Eng. DuartePacheco para um edifício re-construído na Praça 5 de Ou-tubro, que mantém a facha-da de azulejos.

O 15 de Maio começa, comohabitualmente, com missa

Câmara das Caldas ensaiainauguração do Hotel Lisbonenseno 15 de Maio

solene na Igreja de Nª Sra. doPópulo pelas 10h00, realizando-se às 11h30 a sessão de entregade medalhas no CCC, que esteano serão atribuídas a CarlosCosta Faro, Carlos Gouveia, co-ronel Ferreira da Silva, Rui Go-mes, António Galamba, AntónioHilário Ferreira, Carlos Rodri-gues, Isabel Xavier, João Almei-da Silva, José Casimiro, NicolauBorges, Rui Valadas e Vítor Ca-listo Marques, entre outros.

A homenagem à Rainha terálugar às 15h00 e a sessão deabertura do Hospital Termalocorrerá meia hora depois. Às18h30 será apresentado o livro“A Décima Sétima Freguesia” naCâmara Municipal.

Mas hoje à noite já há festa,que começa às 22h00 com osconcerto dos Deolinda e da ban-da Trio, seguido do costumeirofogo de artifício à meia-noite.

C.CC.CC.CC.CC.C

(Cont. 1º página)

21 | Maio | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Publicado no semanário O Caldense de 1 deMarço de 1891, reza assim o anúncio:

«Capella do Hospital Real das Caldas da Ra-inha

O administrador do Hospital Real das Caldasda Rainha, faz publico que se acha aberto oconcurso para o provimento do logar de cape-llão da referida capella, por espaço de trintadias a contar da data da publicação d’este an-nuncio, com o ordenado, habilitações e obriga-ções seguintes:

Ordenado – 270$000 réis annuaes.Habilitações – Licença para dizer missa e

confessar; ter boa voz, cantar cantochão1 e sa-ber musica.

Obrigações – Missa obrigada na hora aosdomingos e dias santos, 143 missas anuais ecaptivas, assistir como cantor ás missas aosdomingos, dias santos, festividades da casa eladainhas aos sabbados, servir de coadjutor doparocho e thesoureiro da capella em annos al-ternados.

Os pretendentes deverão apresentar os seusrequerimentos devidamente documentados, nacontadoria do mesmo Hospital, dentro do men-cionado praso. […]

O administrador do Hospital Real, RodrigoMaria Berquó»

Consta dum manuscrito do final do SéculoXVIII2, relativamente à agenda do vigário e ca-pelães: «[…] É o Vigário nomeado pelo Provedor, confirmadopelo Patriarca, e provido pela Rainha de quem é esta Vila. Asua obrigação é, no primeiro e segundo dia depois de tomarposse, dizer missa pela alma da Rainha fundadora; terceirodia livre, quarto e quinto, missa por alma d’El Rei D. João oSegundo, sexto dia livre, sétimo e oitavo missa por alma dosdois Esposos, e nos mais dias um livre e dois missa por almada dita. Os Capelães têm a obrigação de dizerem Missa, umdia sim, outro não, por alma da sobredita Rainha […]».

De acordo com o testemunho de Jorge de S. Paulo3: «[…]Todos os dias depois das Avé-marias os religiosos que securam na sua Enfermaria cantam uma Ladainha a NossaSenhora, que está escrita em uma tábua dependurada nomesmo oratório, e na orla da tábua está uma letra que diz:Tem todo o Religioso obrigação de dizer a primeira missapela alma da Rainha, e um responso no fim da mesa […]».

A Corografia Portugueza informa que Caldas da Rainha«[…] tem cinco Capellaens, que rezam em coro e celebrãopela alma da Rainha Dona Leonor, mulher del-Rey D. João, oSegundo […]».

No consulado de Augusto Cymbron, foi decidido um au-mento do número de missas por alma da rainha, e com essefundamento o vigário dirigiu ao governo “uma representa-ção” pedindo «[…] em troca de missas a celebrar por almada rainha D. Leonor um augmento de 100$000 réis ao seuordenado, mais 100$000 réis para o capelão e 72$000 réispara um segundo sacristão […]», o que vem a ser concedido,com grande escândalo para alguma imprensa da época, de-signadamente o Echos das Caldas que contra tal aumentose insurge na edição de 5 de Julho de 1909.

Era o tempo em que se remiam os pecados e se ganhavaa eternidade com a disposição de bens terrenos, e por isso opapa Alexandre VI havia concedido em 1497 aos que morren-do no Hospital, deixassem os seus bens à instituição, a “re-missão plenária de todos os seus pecados”, posteriormentealargada aos que se finassem no mesmo Hospital sem dei-xar disposição que o favorecesse.

Por alma da rainha

Era também vulgar na época, o estabelecimento pelosmonarcas, do “vínculo perpétuo” de celebração de missaspor suas almas, como aconteceu no vizinho Mosteiro de Al-cobaça, escolhido para sepultura por D. Pedro I, que ordenouno seu testamento que ali houvesse para todo o sempre seiscapelães que diariamente celebrassem missa de sufrágiopor sua alma, encargo que viria a ser suportado pela doaçãoaos monges por D. Fernando, da vila e porto de Paredes comtodas as rendas e senhorios.

No Compromisso do Hospital, D. Leonor mandou consignarad aeternum: «[…] Queremos e mandamos que na dita Igreja deNossa Senhora do Pópulo o dito vigário e capelães digam cadadia para sempre, três missas rezadas pelas almas del Rei D.João, meu senhor, e minha e do príncipe D. Afonso, nosso filho[…]. Será o dito vigário obrigado a dizer em cada ano na ditaIgreja duzentas e cinquenta e cinco missas […]. Cada um doscapelães dirá em cada ano duzentas e oitenta missas […].4»

Previa o Compromisso o desconto de seis reais no salário dovigário e dos capelães, por cada missão não rezada.

Mas esta Rainha terá conquistado o céu na sua passagempela terra, com as obras de caridade e sem necessidade demissas futuras, de acordo com a descrição que Frei Jerónimo deBelém faz da sua morte: «[…] revelada a hum devoto e virtuosoErmitão, o qual na mesma hora do deu fallecimento vio subir asua alma ao Ceo, e que passando pelo Purgatorio, levava emsua companhia as dos seus parentes, privilegio concedido asoberania da virtude, e não a dignidade de Rainha […]»

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

(Footnotes)1 Prática monofónica de canto utilizada na liturgia católica2 “Notícias Interessantes da Real Villa das Caldas …”, edi-

tado pelo PH.3 “O Hospital das Caldas da Rainha até ao ano de 1656"4 Citação com ortografia e pontuação actualizadas.

Um caldense, por adopção e com resi-dência familiar já não muitorecente,declarou-se no passado sábado, emgrande entrevista ao semanário Expresso,prestes a assumir a sua candidatura à lide-rança do Partido Socialista “se houver um

momento em que seja útil” dar o seu “contributo ao país, emtrono do projecto que defendo”.

Trata-se de António José Seguro, que casou com uma cal-dense com ascendência na família histórica do PS nacional.

Apesar de considerar não ser ainda o momento actual paraesse fim, o deputado do PS na Assembleia da República diz queestá preparado para assumir tal encargo, ao contrário do queaconteceu em 2004 em que deixou o caminho livre a José Sócra-tes.

Zé Povinho admira a postura recatada e pouco mundana dodeputado residente nas Caldas da Rainha, que expressamentequis e quer manter a família longe das querelas partidárias oudas intromissões dos media.

Por tomar esta posição ponderada e calmamente neste mo-mento, marca o campo em relação aos potenciais concorren-tes ao lugar de Sócrates, revendo-se numa postura de bomsenso dialogante, no respeito pelos outros, na sensibilidadesocial e no combate às injustiças.

Na entrevista ainda dita a sua previsão em relação ao futurodos partidos: “Se continuarem por esta via, vão morrer. Ouarejam, ou se aproximam das pessoas, ou estão condenados”.

O Dr. Fernando Costa, na sua senda impa-rável de arranjar acontecimentos e inaugu-rações nos dias 15 de Maio, mesmo que elesnão existam verdadeiramente para funcio-nar, obrigou a “abrir” o incompleto Hotel Lis-bonense no passado sábado.

Esta forçada “inauguração” até confundiu alguma impren-sa mais apressada, que a deram por real, não se lembrandoque hoje em dia já existe muita realidade virtual. Afinal, aber-to o hotel, os visitantes apenas puderam ver um quarto mobi-lado para a ocasião, não tendo sequer direito a apreciar osoutros espaços, como o restaurante, bares, sauna, suítes, etc.que fariam a diferença.

Nesta ânsia de mostrar obrar aos seus concidadãos o Dr.Fernando Costa atrapalhou os próprios responsáveis pela obra,que se viram obrigados a prometer aquilo que ainda não sa-bem como vai ocorrer, ou seja, como irá ser feita a locação ouse haverá venda do edifício para funcionar como hotel.

“Iluminado” repentinamente pela fugaz fama obtida atra-vés das televisões nos últimos congressos do seu partido, opresidente da Câmara avança em todas as direcções que lhedêem algum mediatismo. E a pretendida “inauguração” dohotel estava entre os seus objectivos para 2010, antes quecomeçasse a pagar pelas traições que vai sofrer na estruturadistrital do seu partido.

Para começar, o seu jovem líder da JSD das Caldas da Rai-nha, Paulo Ribeiro, já provou o fel na eleição para a distritalem que todas as concelhias do distrito se aliaram contra ele,o que o levou a retirar a candidatura na véspera das eleiçõespara não passar pela vergonha de não ter votos.

Mas o mau momento do Dr. Fernando Costa não ficou poraqui, uma vez que teve de reconhecer as criticas feitas pelaoposição no executivo camarário por os serviços da autarquiaterem feito a promoção do seu jantar partidário (e de aniver-sário) e a vinda do seu líder nacional, como se se tratasse dematéria de interesse público.

Por tudo isto, os próximos tempos não se auguram muitofavoráveis dentro do partido para o Dr. Fernando Costa, a nãoser que tente fazer as pazes com os seus arqui-inimigos inter-nos. Assim, Zé Povinho também não lhe perdoa desta vez.

28 | Maio | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A história andava nas bocas do mundo, agitava as aldeiasda região e veio publicada no Diário de Notícias em 31 deJaneiro de 19271.

Reza a notícia, que Maria da Conceição «[…] empregadana taberna dum individuo conhecido por Estefânio no lugarde Infantes […] tinha “espírito” no corpo. E esse “espírito”,que falava e barafustava, inquietando toda a gente que viaa pessoa, era, segundo afirmavam os mais científicos, o deJosé Loureiro, um honrado comerciante das Caldas da Rai-nha falecido aqui há mais de 20 anos […]».

O repórter deslocou-se ao local, e descreve nestes termosas crises de Maria da Conceição e as reacções da vizinhançaque acudia à taberna sempre que havia notícia de manifes-tação do “espírito de José Loureiro”:

«[…] Assim que lhe dava a tal crise, a rapariga caia esta-telada no chão estendendo os braços ao longo do corpo eesperneando muito. […]

As mulheres ajoelhavam e faziam rezas junto da rapariga.A Maria, com o peito arfando violentamente, soltava ge-

midos e frases incompreensíveis.- Fala, filha!... Fala... - diziam-lhe vários circunstantes.- O José Loureiro está lá dentro? - perguntavam outros.- Não … Não está ... Já saiu - respondia a rapariga com

dificuldade, entre espasmos aterradores.E aqueles que até então se haviam conservado de joelhos

e rezando, levantavam-se muito satisfeitos e não menoscrentes de que os exorismos deviam ter dado importantesresultados […]».

Desesperados com o agravamento das crises e com a fal-ta de resultado das rezas, os habitantes do lugar procura-ram a ajuda de um médico de Caldas da Rainha, Mário Cor-reia Mendes que, prontamente entrevistado pelo repórter,deu a sua versão do estranho caso:

«[…] Trata-se dum caso de histerismo. […] apenas o fana-tismo da gente rude e ignorante acredita tratar-se dum acon-tecimento sobrenatural.

Quando me chamaram para ir a Infantes ver a rapariga,dispus-me a fazer o que a medicina indicava […]. Notei quealgumas pessoas, principalmente mulheres, estavam ajoe-lhadas e rezando.

Quando regressei do quarto onde estive a ver a doente,que tinha sido acometida por uma síncope quando lá che-guei, e que recuperara os sentidos depois das compressõesque lhe fiz, procurei tranquilizar toda essa gente, declaran-do que ela já estava boa.

Quer saber o que me respondeu uma mulherzinha? Disse-me isto: - Já está boa, já, mas não é devido ao que o senhorlhe fez… Foi devido ao Padre-nosso que eu aqui estava re-zando muito devagarinho […]».

Com a humildade da sabedoria, achou por bem o ilustre

Exorcismo vs medicina

clínico não responder ao desafio, recusando a competiçãoentre a ciência e a superstição: «[…] Fingi que concordava,despedi-me com umas “boas tardes” e vim para as Caldas[…]».

O repórter conclui a notícia com a informação de que algu-mas pessoas do lugar dos Infantes «[…] querendo explorarcom a doença da Maria da Conceição, embora reconheçamque depois da primeira visita médica ela tem melhorado, atri-buem o facto às rezas, promoveram uma festa de igreja, con-seguindo dessa forma atrair muitíssima gente a uma capeli-nha do lugar. Uma verdadeira romaria! […]».

A capela a que se refere a notícia, situa-se no Formigal.Construída no início do Século XVII, dedicada a Nossa Senhorada Piedade, encontra-se hoje abandonada e esquecida, masera naquela época data local de culto das gentes dos arredo-res.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

(Footnotes)1 Versão publicada em New Bedford, Massachusetts

Capela do Formigal. Foto de Inês QueridoCapela do Formigal. Foto de Inês QueridoCapela do Formigal. Foto de Inês QueridoCapela do Formigal. Foto de Inês QueridoCapela do Formigal. Foto de Inês Querido

Contrariamente a José Mourinho,o actual treinador da selecção por-tuguesa, Carlos Queiroz, não conse-gue esconjurar a maldição que o temacompanhado desde que regressouao seu país.

A etapa prévia do apuramento parao Mundial na África do Sul não lhecorreu bem e só com muita sorte conseguiu ver no último mo-mento a selecção portuguesa atingir a pontuação exigida.

Nos últimos dias a escolha dos jogadores que irão ao Campe-onato do Mundo não foi muito bem aceite nos meios desporti-vos nacionais, a que se seguiu um arranque da concentração naCovilhã feito a soluços.

Esta semana o jogo treino com a selecção de Cabo Verde,que terminou com um empate, foi mais um momento polémicopara a sua carreira nesta corrida para o troféu mundial.

O treinador brasileiro Filipe Scolari que o antecedeu (e quehoje deixa muitas saudades à maioria dos portugueses) deveestar a rir-se pelas críticas de que foi alvo por tantos treinado-res de bancada.

Caso a selecção portuguesa não desminta as expectativasnegativas que os portugueses já antecipam, a carreira de Car-los Queiroz no retorno a Portugal vai ser rápida e depois daÁfrica do Sul terá de lhe ser encontrado um substituto. ZéPovinho não está muito optimista com tudo o que se tem pas-sado no futebol nacional e o epílogo mais temido pode ocorrerlogo na primeira fase do Campeonato do Mundo.

José Mourinho é um portuguêsque no presente momento está adestoar da grande maioria dos seusconcidadãos, pois atingiu nos últi-mos dias todos os objectivos a quese tinha proposto em Itália, conquis-tando naquela país do cálcio a «trí-plice coroa» (Liga dos Campeões,

Campeonato Italiano e Taça de Itália).É o próprio que comenta que lhe parece contraditório, num

momento em que em Portugal todos apertam a bolsa, ele estara reforçar as suas receitas e até se dar ao luxo de escolher umnovo clube, que é apenas um dos mais ambicionados do mundo- o Real Madrid.

Com um feitio muito torcido e exagerando no sarcasmo, con-tudo, tem demonstrado uma elevada competência para trazerpara as equipas por onde tem passado, seja em Portugal, emInglaterra ou agora em Itália, os melhores troféus.

Mantendo com Portugal e com os seus colegas de métier umarelação conflitual, nunca se eximindo a criticar o trabalho dosoutros, especialmente dos que estão à frente da selecção naci-onal, não parece querer voltar à sua Pátria tão rapidamente.

Zé Povinho, que não é muito fadado nas coisas do desporto-rei, de qualquer forma não pode omitir os seus feitos e valorizara sua prestação, bem como a sua persistência em enfrentarnovos desafios como aquele que vai agora acontecer na capitalmadrilena.

Gazeta das Caldas fecha maiscedo nas próximas semanas

Devido aos feriados das próximas duas quinta-feiras (3 e 10 de Junho), somos obrigados a antecipar o fecho da nossa edição emum dia por forma a que o jornal possa chegar aos nossos leitores à sexta-feira.

Os nossos anunciantes e colaboradores deverão, assim, fazer-nos chegar os originais até às 18h00 de segunda-feira (31 de Maio e7 de Junho) durante as próximas duas semanas semanas.

4 | Junho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Gazeta das Caldas fecha mais cedo napróxima semana

Atento aos tempos actuais e àsboas ideias para facilitar a vida àspessoas, Zé Povinho não pode dei-xar de congratular a designer Su-sana Nobre (licenciada na ESAD)pelo seu projecto das receitas mé-dicas electrónicas com o qual foidistinguida pela Secretaria de Es-

tado da Modernização Administrativa com o prémio Idéia Sim-plex 2010.

Além de poupar tempo e dinheiro (dado que não é utilizadopapel), esta medida poupa aos farmacêuticos a “dor de cabe-ça” de tentar perceber a letra de médico.

É de realçar também o gosto e empenho desta funcionáriada Câmara de Óbidos, responsável pela implementação damodernização administrativa no município, que pretende es-tender aquelas medidas a todo o país. É sempre bom quandose tem como objectivo simplificar a pesada máquina burocrá-tica que é a administração pública portuguesa.

Zé Povinho fica expectante pelas novas medidas que pos-sam surgir em breve na Câmara de Óbidos com a participaçãoactiva da Dra. Susana Nobre, que dá um bom exemplo depessoa inovadora e criativa.

O novel projecto TV Caldas pareceque nasce torto. Ou, pelo menos, apadecer de um mal de alguns jovenscaldenses que andam na esfera daCâmara e dos seus dirigentes laran-jas, sempre aptos a mostrar serviçoaos seus chefes.

Aquela televisão on line fez umapseudo-reportagem sobre a Assembleia Municipal realizada naFoz do Arelho há três meses, na qual se limitou a transmitir asposições dos presidentes da Câmara e da Assembleia Munici-pal, ignorando as dos próprios deputados do PSD e dos outrospartidos. Foi preciso a oposição levantar esta questão nesteórgão para que o vereador da Juventude, Dr. Hugo Oliveira,viesse admitir que houve falta de isenção e que ele própriochamara a atenção dos responsáveis da TV Caldas.

Pelos vistos, um projecto que anda há três anos a ser elabo-rado, arranca com falhas graves ao nível da deontologia e dorespeito pelo que está consagrado na Lei da Imprensa e naConstituição.

É claro que a juventude de alguns dos seus responsáveis podeservir de desculpa, mas também não é menos verdade que tal“verdura” pode agradar ao poder local instituído.

Houvesse alguém com formação e competência na área dacomunicação social e situações como estas não aconteceriam.

Zé Povinho, que é um adepto das novas tecnologias e simpa-tiza com projectos desta natureza, deseja que a TV Caldas ad-quira maturidade e seja um projecto aberto a todas as cores e atodos os caldenses, não necessitando de ralhetes de quem atri-bui os subsídios.

Imortalizado pelas penas de Torga e Agustina, temposhouve em que o varapau era rei de feiras, mercados e roma-rias, instrumento de defesa e de afirmação de qualquerhomem «[…] pronto a vingar afrontas de compadrio […]1»,mas também de perturbação da ordem pública, mesmo namorna atmosfera da vila termal.

Na edição de 15 de Setembro de 1896, o semanário Antó-nio Maria de Rafael Bordalo Pinheiro publica uma sátiraonde conta as desventuras de Themudo, negociante de courosque «[…] soffrendo de rheumatismo e de celibato resolvepartir para as Caldas da Rainha, para se pagar uma villegi-aturasinha amena […]».

Na vila das termas, o ilustre personagem dá conta dassuas deambulações: «[…] Fui ao mercado em busca do pit-toresco. Muita môsca, muito burro, muito varapau, muitopôrco. Ao lado de cada varapau, um selvagem, atraz decada pôrco, uma mulher. As môscas morderam-me fundo,os varapaus pisaram-me forte […]».

Com o título «Impressões d’um banhista», o Echos dasCaldas de 2 de Agosto de 1908, publica na primeira páginaum olhar deprimente de um visitante da vila das termas:

«[…] O Banhista quer distrahir-se, carece de attracçõesque lhe desannuviem e refrigerem o espírito attribuladopela doença ou pelo aborrecimento.

Porem, que distracções possui as Caldas para attrahirbanhistas e forasteiros?

Nada ou quasi nada […]»O lamento arrasta-se pelo “Circo dos Cavalinhos” e pelo

Animatógrafo, animação nocturna que não entusiasma oexigente visitante, e termina no Parque D. Carlos I «[…] quea maioria das noites está ás escuras, mercê da soberbainstallação electrica com que a villa foi dotada. Todas asnoites há successivas interrupções do brilhante elemento,que nos faz saudosas recordações das extinctas lâmpadasde petróleo […]».

No meio de tanta escuridão, o cronista vislumbra apenasuma razão para a elevada frequência nocturna do local:«[…] É o Parque o logar mais frequentado, pelo menos ánoite, porque não se nota, mercê da luz, se um vestido játem quatro invernos, se a seda é do Printemps ou do Gran-dela, ou se as botas teem solas; mas no escuro todos osgatos são pardos, la mode marche […]».

Mas é o passeio nocturno pelas ruas da vila, que maisdeprime e assusta o atento banhista:

«[…] É vulgar passearem nas ruas da villa tanto de diacomo de noite, gente dos arrebaldes, de aspecto medonho,quasi selvagem, munidos de grossos varapaus mais altosdo que elles proprios, e de que fazem uso sempre que selhes proporciona occasião, como ha dias succedeu com doistypos de Rio Maior, que desafiaram a policia em plena villaá hora de começarem os espectaculos.

Ora o banhista observador, e que traz por arma a delica-da badine ou o aristrocratico bastão á directorio em mognoou nogueira, em que risco tera as costellas se os cacetesdos vizinhos da villa se lembrarem de o contemplar no bodo?

Varapaus

Todavia, se ao cidadão pacífico não é permittido usar ar-mas, ainda que para sua defeza, porque razão não deveria onodoso varapau ser considerado arma agressiva e perigosa,prohibindo-se a entrada na villa aos seus portadores? […]».

Na segunda página da mesma edição, o Echos elege como«caso da semana», a aventura de José Dias, comerciante naRua de São Sebastião, que vê entrar no seu estabelecimento«[…] sem mais tir-te nem guar-te […] três lapuzes de RioMaior […] munidos de grossos varapus, mas d’aquelles derespeito […]».

Tudo começa com um mal entendido. Os clientes insistemem comprar navalhas, que o comerciante afirma não ter paravenda. Embriagados, os clientes confundem as “lapiseiras”que vêem na vitrina, com as navalhas que pretendem. Daí adesfiarem o comerciante para a rua, foi um pequeno passo.

Prudente, José Dias foi entretendo os intrusos até à chega-da do seu empregado, com o guarda n.º 8, que sem resultado«[…] intimou os provocadores a sahir e seguirem o seu cami-nho […]».

A escaramuça transfere-se para a Travessa da Cova daOnça, onde os intrusos são dominados pela população queprontamente acorre em auxílio do guarda «[…] fazendo umcerco completo, desarmando os malvados e prendendo-os[…]», após o que se organizou uma procissão espontânea, naqual «[…] o povo indignado seguiu os presos até á esquadra,na rua do Hospício, fervendo os commentarios desfavoraveisaos prisioneiros […] que no dia seguinte foram enviados paraa cadeia […]».

Também no Echos de 20 de Novembro de 1903 há notícia deagressão à polícia por três homens armados com varapaus,sendo recorrentes na imprensa da vila as notícias de desaca-tos semelhantes, normalmente em dias de feira.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])(Footnotes)1 Agustina Bessa Luís, in A Sibila

A visita de Themudo ao mercado das Caldas.A visita de Themudo ao mercado das Caldas.A visita de Themudo ao mercado das Caldas.A visita de Themudo ao mercado das Caldas.A visita de Themudo ao mercado das Caldas.Caricatura publicada emCaricatura publicada emCaricatura publicada emCaricatura publicada emCaricatura publicada em O António Maria O António Maria O António Maria O António Maria O António Maria de de de de deRafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896.Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896.Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896.Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896.Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896.

Devido ao feriado da próxima quinta-feira ( 10 de Junho), somos obrigados a antecipar o fecho da nossa edição em um dia porforma a que o jornal possa chegar aos nossos leitores à sexta-feira.

Os nossos anunciantes e colaboradores deverão, assim, fazer-nos chegar os originais até às 18h00 de segunda-feira (7 de Junho)

11 | Junho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

O eremitaA história, contada

no jornal A Nazaré, edi-ção de 9 de Outubro de1930, sobreviveu aotempo, gravada duran-te mais de um século namemória das popula-ções e em duas lápidesfunerárias.

Na planura do antigoareal, por onde o marandou em tempos idos,perto da ermida de S.Gião, templo visigóticodo Século VII para al-guns, ou asturiano doSéculo X para outros,local de culto até à se-gunda metade do Sécu-lo XVII, curral de gadoapós o abandono, mo-numento nacional comdecreto emitido e or-dem de restauro sus-pensa, irrompe ummonte solitário deno-minado de S. Bartolo-meu, onde segundo alenda se refugiou D.Rodrigo, último rei visi-gótico da Hispânia, de-pois da derrota dos cris-tãos no ano de 711 nabatalha de Guadalete.

No topo do Monte er-gue-se uma pequenacapela, com duas sepul-turas, e da lápide damais antiga constam osdizeres: «Aqui Jaz D.Joaquina Nunes Cascaisde Abreu […]. Nasceu a25 de Janeiro de 1801.Faleceu em o Sítio daNazaré no dia 1 de Se-tembro de 1832. Casa-da com José António deAbreu o qual lhe man-dou colocar esta lápide

em testemunho da sua pungentedor e acerba saudade. Quasi flosegreditur et conteritur».

Conta o jornal que «[…] algumtempo depois veio habitar estemonte de S. Bartolomeu um er-mitão, que dizia chamar-se Ma-nuel Luiz, homem de longa barbae vestindo o hábito de 3.º de S.Francisco […]».

Refere a crónica que «[…] pes-soas que o conheceram de pertoafirmam que revelava ser homemfino, instruído e piedoso […]», eque em vão se esforçavam pordecifrar o mistério da vida do es-tranho penitente, que «[…] dor-mia junto ao pequeno altar dacapelinha, ao lado da sepulturaque ali estava, sobre a qual con-servava sempre acesa uma lam-parina […]. Quando precisava dealimento esmolava pelas povoa-ções próximas e subia novamen-te à sua tebaída onde se oculta-va envolto na sua solidão e naexpiação […]. Se alguém lhe per-guntava qual a sua naturalidaderespondia que era de muito lon-ge; e se alguém indiscretamentedesejava saber o motivo da suavida naquele monte solitário eprivado de todas as comodidadese de conforto para a vida, res-pondia ao importuno: “A minhavida não pode interessar a nin-guém». E despedia-se com umarespeitosa inclinação da cabeça[…]».

Dezassete anos permaneceu oestranho eremita no Monte de S.Bartolomeu.

Mais refere a crónica que «[…]quando adoeceu gravemente, opadre José Carepa da Pederneiramandou-o buscar para a sua casaonde caritativamente o tratou eonde morreu. Nas últimas horasde vida pediu ao seu benfeitor

que o sepultasse por caridadena capelinha onde vivera e aolado da outra sepultura. Os quelhe assistiram nos últimos mo-mentos de vida viram que dopescoço do moribundo pendiaum relicário, que ninguém ou-sou tocar e assim com ele bai-xou à sepultura o segredo desua vida de ermitão […]».

As populações dos arredorestratavam-no por irmão Manuele sentiram profundamente a suaperda, assinalada com uma lá-pide sobre a sepultura, ondeforam gravadas estas palavras:«Aqui jaz o virtuoso irmão Ma-nuel Luiz, ermitão deste mon-te, de pátria desconhecida.Morreu na Pederneira a 13 deFevereiro de 1849. Foi acompa-nhado para este monte pela Fi-larmónica da Nazaré e por maisde 300 pessoas. Foi o restaura-

dor deste monte. Modifi-cou a sua subida, fez acasa e cozinha e muitasobras na capela. D. Emí-lia César da Câmara re-sidente na Quinta de Al-pompé lhe mandou pôresta campa para eternalembrança. Ano de 1859».

Diz o jornal que o ere-mita sepultado no Montede S. Bartolomeu é JoséAntónio de Abreu, querenunciou à vida do mun-do para morrer junto dacampa da esposa.

Jamais o saberemos.A história raramente

confirma os amores quea lenda eterniza.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

Os mundanos estão no presentemomento a aperceber-se das conse-quências da exploração intensiva dosfundos marinhos para extrair o pe-tróleo, especialmente em platafor-mas de águas profundas.

O acidente ocorrido no Golfo doMéxico, numa plataforma da BP –British Petroleum, mesmo junto àscostas das praias norte-americanas do sul dos Estados Unidos,especialmente do malogrado Estado da Luisiana (ainda nãorecomposto da desgraça do furacão Katrina), mostra que não éapenas nos países pobres e subdesenvolvidos que estas tragé-dias ambientais ocorrem.

O grupo BP já conta 11 mortos com o acidente e prejuízos naordem dos 2 mil milhões de dólares, não contando com todasas perdas que não se conseguem exprimir numericamente eque levará a Natureza a sofrer dolorosamente, com muitasespécies animais afectadas irremediavelmente.

O Presidente Obama bem se tem esforçado em procurar so-luções para esta catástrofe ambiental – que já é considerada oseu Katrina – mas as ameaças que tem feito à BP não têm sidosuficientes.

A técnica humana não tem conseguido, com a facilidadeesperada, controlar as dificuldades em colmatar a fuga depetróleo bruto a profundidades imensas com pressões dificil-mente domináveis à distância, pelo que os responsáveis da BPparecem perdidos e sem solução realista.

Os dias vão passando e novos falhanços vão ocorrendo pe-rante a incredulidade geral.

A companhia BP é hoje a face visível do que a exploração atodo o custo e em todo o lado, sujeita aos imponderáveis dasorte, pode trazer ao mundo. Pela forma irresponsável e levia-na como tratou do assunto desde o início, merece a reprovaçãodo Zé Povinho.

A senhora ministra da Saúde, Dra. AnaJorge, com a decisão que anunciou napassada sexta-feira aos autarcas do Oes-te, conseguiu quase agradar a gregos e atroianos e respeitar um princípio recenteque está a atravessar o país e toda aUnião Europeia, de restringir ao mínimo

desejável os gastos públicos.Zé Povinho congratula-se que, quatro anos volvidos das pri-

meiras manifestações com vista à construção de um hospitalde raiz para substituir o Hospital Distrital das Caldas da Rai-nha, tenham concluído por voltar ao alargamento do edifícioexistente, ainda para mais em terrenos públicos.

Há que ter respeito por quem sabe zelar pelo dinheiro públi-co e não alardeia hábitos de ricaço perdulário, num tempo emque é necessário mostrar um sentimento contido sobre as fi-nanças públicas.

Quando em todo o mundo desenvolvido se diminui a capaci-dade dos hospitais para os tornar instituições viáveis e facil-mente geríveis, aproveitando os desenvolvimentos da tecnolo-gia para diminuir os custos com os internamentos e eliminar osdesperdícios, não era sustentável abandonar instalações onderecentemente haviam sido gastos alguns milhões de euros.

Só se espera que num momento seguinte, a senhora minis-tra aproveite um pouco do seu precioso tempo para acabar deresolver os problemas pendentes no sistema de saúde local eregional: a nomeação do novo Conselho de Administração doCHON com gestores que não se percam nas minundências ca-seiras dos interesses instalados em cada instituição e umasaída definitiva e perene para o Hospital Termal das Caldas daRainha. É que este bem precisa de ânimo e decisão duradoura.

PUB.PUB.PUB.PUB.PUB.

18 | Junho | 2010

ÚÚÚÚÚltimaltimaltimaltimaltima48

A Semana do Zé Povinho

O Cavacos das Caldas de 20 de Janeiro de 1897 exprime apreocupação pelo facto de não existir na Vila «uma tabellacamararia de preços», o que levava ao descontentamento dosvisitantes: «[…] Queixavam-se, e não pouco, na passada epochathermal, os nossos hospedes e visitantes do preço que se lhespedia pelo aluguer d’um trem […] cavaqueava-se ha dias, repe-timos, no sentido de lembrar á vereação a necessidade urgentede organizar a referida tabella, por forma a não continuaremuns queixumes que podem affastar d’aqui a concorrência. […]».

O mesmo jornal, na edição de 12 de Agosto de 1897, volta amanifestar a preocupação pelo eventual desagrado dos verane-antes, devido aos hábitos dos ciclistas no Parque: «[…] Em diffe-rentes pontos do parque acham-se affixados avisos aos senho-res cyclistas, pedindo-lhes o favor de não transitarem em ma-china pelas ruas de maior transito. Os cyclistas porém, esque-cem esse aviso e lá vão cyclando pelas taes ruas, com risco dospasseantes […]».

O Echos das Caldas de 23 de Agosto de 1908 publica umacrónica onde se insurge contra os «casos que prejudicam osmunícipes e os seus hóspedes», referindo, para além da falta dehigiene, a falta de segurança nas ruas: «[…] Os automóveisatravessam as ruas da villa, a 90 kilómetros á hora, gritando eespalhando o salve-se quem puder, pelas boccas das suas buzi-nas e sereiras. Percorrem vertiginosamente as ruas da villa, sematenção ás costellas do próximo […]».

O Círculo das Caldas de 24 de Abril de 1913, critica a Compa-nhia dos Caminhos de Ferro, protestando contra «[…] os incon-venientes que, no ano passado, causou aos caldenses e aosfrequentadores destas termas o péssimo horário que estabele-ceu de Maio a Novembro […]», concluindo que «[…] a linha doOeste tem sido […] uma verdadeira enjeitadinha. Muito maiscara que as outras linhas, é pessimamente servida por horáriose materiais […]».

A Gazeta das Caldas de 1 de Agosto de 1926 critica o excessode zelo de engraxadores e motoristas:

«[…] Chamam a nossa atenção para o que no Largo da Copase passa com engraxadores e condutores de automóveis e cami-onetes, pois qualquer transeunte que ali passe é obrigado aengraxar as botas e dar um passeio à Foz, quer lhe apeteça quernão.

Alguns são metidos dentro dos veículos, levados quase aocolo.

Se bem que este excessivo amor à brilhante figura que cadaum faz com as botas bem engraxadas e o justificado desejo delhe mostrar esse lindo bocado que é a Foz, seja muito louvável,a verdade é que nem toda a gente está disposta a deixar-seengraxar e a passear à força, só porque aos interessados lhe dêpara semelhante amabilidade […]».

Numa crónica de 29 de Agosto de 1926, a Gazeta volta a referiros inconvenientes da ausência de estipulação de preços dos

Em defesa dos hóspedes

serviços prestados:«[…] Um ilustre cidadão que passa a vida a levar malas para

a estação, teve há dias o arrojo de exigir pelo frete de duaspequenas malas de mão, do Hotel da Copa para a estação docaminho de ferro, a bagatela de oito escudos […]».

O mesmo jornal, no dia 7 de Março de 1926, traz a lume umapolémica suscitada no jornal O Século do dia 3 do referido mês:

«[…] Diz-se que o chefe da estação desta Vila, por andar derelações cortadas com o concessionário do restaurante, o nos-so amigo sr. Manuel Cardoso, tem o hábito de dar a partida doscomboios quando os passageiros estão a jantar e isto no intuitode o prejudicar.

Diz-nos aquele nosso amigo que isto é absolutamente falso,pois mantém com o referido chefe as melhores relações. […]».

Com vista a afastar a má imagem do serviço prestado, é opróprio jornal que certifica a qualidade do funcionário:

«[…] Em nome, pois, da população das Caldas, tomamos aliberdade de afirmar que isso é menos verdade, pois o funcio-nário em questão é aqui estimado e considerado como cumpri-dor dos seus deveres».

Comum a todas as críticas, é a preocupação com a imagemda vila aos olhos de quem a visita, com frequentes aplausospara a Comissão de Iniciativa das Caldas que, de acordo com anotícia publicada na Gazeta de 3 de Julho de 1927: «[…] fezdistribuir profusamente por todo o paiz e Espanha, uns artísti-cos cartazes-réclamos das nossas termas, que representam umtrabalho de fino gosto».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos [email protected]

Chegada de um visitante à Estação das Caldas.Chegada de um visitante à Estação das Caldas.Chegada de um visitante à Estação das Caldas.Chegada de um visitante à Estação das Caldas.Chegada de um visitante à Estação das Caldas.Caricatura publicada emCaricatura publicada emCaricatura publicada emCaricatura publicada emCaricatura publicada em O António Maria O António Maria O António Maria O António Maria O António Maria de de de de deRafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896Rafael Bordalo Pinheiro, 15 de Setembro de 1896com a legenda: «Sou assaltado peloscom a legenda: «Sou assaltado peloscom a legenda: «Sou assaltado peloscom a legenda: «Sou assaltado peloscom a legenda: «Sou assaltado pelosbagageiros, que se atiram a mim como gato abagageiros, que se atiram a mim como gato abagageiros, que se atiram a mim como gato abagageiros, que se atiram a mim como gato abagageiros, que se atiram a mim como gato abofes…»bofes…»bofes…»bofes…»bofes…»

A presença de munícipes naAssembleia Municipal dedica-da à saúde no concelho e ashistórias que estes contaramsobre o deficiente funciona-mento (ou mesmo não funcio-namento) das extensões desaúde nas freguesias ruraisdevido à falta de médicos, sãosinais inquietantes de que aqui-lo que durante muito tempo foi dado como adquirido, podedesmoronar-se, deixando sem assistência uma parte da popu-lação. População que, ainda por cima, é a mais fragilizada, dadotratar-se de idosos ou de pessoas sem mobilidade para fre-quentar as mais urbanas Unidades de Saúde Familiar (USF).

A directora do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES)Oeste Norte, Dra. Teresa Luciano, é - para o bem e para o mal -a responsável institucional por esta situação. Não tem culpaque os médicos que davam consultas nas freguesias tenhamaderido às USF – que se têm revelado entidades mais eficientese mais próximas dos utentes dos que os centros de saúde -, masé ao ACES que compete encontrar soluções para um problemaque se arrasta há demasiado tempo. As pessoas têm razão. Enão é por acaso que todos os deputados municipais as apoiam.

Zé Povinho espera que a responsável regional do Ministérioda Saúde tenha uma postura menos ausente e se envolva maisneste assunto, empenhando-se na sua resolução.

Nem tudo, porém, são másnotícias para as freguesias dointerior do concelho das Caldas.Santa Catarina e Salir de Matostiveram a honra de receber umaministra da República que ali foiinaugurar dois equipamentos deextrema importância e que, ain-da por cima, reúnem excelentes

condições. Trata-se dos dois lares de idosos com capacidadepara 60 pessoas e que representam um investimento de 2,5milhões de euros, co-financiados pelo Programa de Alarga-mento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES).

Zé Povinho regozija-se com este investimento numa valênciasocial tão importante e aproveita para cumprimentar respeito-samente os seus presidentes de Junta, Rui Rocha (Sta. Catari-na) e João Rosa (Salir de Matos), bem como os responsáveispelo Centro Social e Paroquial de Santa Catarina, Padre Fran-cisco Cosme (e o seu antecessor Padre João Brás) e da Associ-ação de Solidariedade e Educação de Salir de Matos, Dr. Antó-nio Galamba. Cumprimentos estes extensivos às populaçõesdas ditas freguesias, a quem Zé Povinho deseja as maioresfelicidades.

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25 | Junho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia veio no semanário O Regionalista de 23 de Outu-bro de 1920, e tem um título jocoso «O descaro do jesuíta»,prenúncio da extrema agressividade que atravessa todo otexto.

Para abrir as hostilidades, começa o repórter por insinuara “má vida” do protagonista e a falsa devoção dos que lhepermanecem fiéis:

«[…] Para matar saudades suas e de alguns seus antigosadmiradores, apareceu aqui, como por encanto, acompa-nhado da sua dama de companhia, no dia 14 do corrente, océlebre “jesuíta” padre Agnelo.

Houve beija-mão e missa, onde compareceram beatosfingidos, que desde a sua ausência nunca mais quiseramouvir missa dita pelo actual pároco, padre Rebelo, provo-cando assim grande desconsideração a este, perante quemo jesuíta se desfez em desculpas […]».

Para terminar, um epíteto pouco dignificante e uma ame-aça, ou uma promessa: «[…] Bom seria que não mais apare-cesse cá tal bicho, para evitar actos desagradáveis, pois queo actual padre também cá tem amigos».

O local da visita era Santa Catarina, o padre indesejadodava pelo nome de Agnelo Monteiro Dinis e a notícia reflec-tia a dificuldade com que saram as feridas do ressentimen-to.

Tudo começou em 1887, quando o padre Agnelo introduziuna paróquia as cerimónias religiosas de Nossa Senhora doRosário, que se realizavam durante todo o mês de Outubro.

No início, os fiéis eram chamados à igreja ao fim da tarde,mas no ano de 1910, no mês que foi implantada a república,o polémico pároco transferiu as cerimónias para as quatrohoras da manhã, mandando repicar os sinos às três emponto.

Ninguém mais dormia na terra, acordados pelo persisten-te chamamento do sino, espertina prolongada pela ruidosaprocissão das mulheres dos casais dos arredores, rebanhosubmisso que não ousava desobedecer ao chamamento dopastor.

Protestavam alguns maridos à boca pequena, incomoda-dos com o estranho horário da cerimónia religiosa que lhesarrancava as mulheres da cama quando a claridade do diaainda era uma promessa distante.

Protestou o professor primário, Guilherme Júlio de MouraBurguette, republicano assumido, com ofícios para o rege-dor da freguesia, António da Silva Freire, e para o adminis-trador do concelho, Joaquim Manuel Correia.

O ruído intempestivo do sino não terá sido mais do que

O sino da discórdia

Igreja de Santa Catarina. Foto de Inês QueridoIgreja de Santa Catarina. Foto de Inês QueridoIgreja de Santa Catarina. Foto de Inês QueridoIgreja de Santa Catarina. Foto de Inês QueridoIgreja de Santa Catarina. Foto de Inês Querido

um pretexto para o confronto adiado das duas pessoas maisrelevantes da terra, separadas por convicções inconciliá-veis: o professor liberal e republicano, o prior conservador emonárquico.

Há quem diga que a instrução primária era a religião daRepública, que pretendia substituir a influência social dopároco pela do mestre-escola.

Chegara a hora do professor, com a mudança de regimeprotagonizada por aqueles com quem partilhava o ideal re-publicano. Tempos difíceis para o padre, que impunha umaprática madrugadora como forma de afirmação de um poderque o novo regime questionava.

De cada um dos lados da barricada havia defensores fer-vorosos, mas foram os do padre que abriram as hostilida-des, com um ataque à pedrada ao edifício público escolar,partindo os quatro vidros de uma janela.

Com receio dos partidários do padre, refugiou-se o pro-fessor na Vila das Caldas. Com receio da hostilidade donovo poder e da possibilidade de vir a ser preso, fugiu opadre para parte incerta.

Gerido o conflito pelo administrador do concelho, de for-ma serena e exemplar, o padre regressou, para sair maistarde, deixando um pequeno exército de fiéis irredutíveisperante a nova autoridade religiosa que nunca aceitaram.

Quando voltou à terra ainda havia feridas abertas.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

É comum dizer-se que o Blo-co de Esquerda tem uma boaprimeira linha a nível nacional,mas falha nas suas liderançasao nível local e regional, comomuitas vezes tem sido dadoobservar.

Agora é o próprio deputadodaquele partido pelo distritode Leiria, Dr. Heitor de Sousa,que vem enunciar uma série de absurdos contra um projectoque só beneficia a região que o elegeu e que até merece oacordo da sua cúpula partidária.

Diz o deputado que o TGV em Leiria não é bem vindo e queprefere “um serviço pendular, uma linha que seria tam-“um serviço pendular, uma linha que seria tam-“um serviço pendular, uma linha que seria tam-“um serviço pendular, uma linha que seria tam-“um serviço pendular, uma linha que seria tam-bém moderna e rápida, mas que em vez de ter uma horabém moderna e rápida, mas que em vez de ter uma horabém moderna e rápida, mas que em vez de ter uma horabém moderna e rápida, mas que em vez de ter uma horabém moderna e rápida, mas que em vez de ter uma horae um quarto de percurso entre Lisboa e Porto, teria umae um quarto de percurso entre Lisboa e Porto, teria umae um quarto de percurso entre Lisboa e Porto, teria umae um quarto de percurso entre Lisboa e Porto, teria umae um quarto de percurso entre Lisboa e Porto, teria umahora e meia”hora e meia”hora e meia”hora e meia”hora e meia” porque seria mais barata.

Ou seja: existe o projecto de servir Leiria com uma linha dealta velocidade que terá uma estação conjunta com a linha doOeste, potenciando ambas, e o Dr. Heitor de Sousa vem dizerque isso é “completamente dispensável”“completamente dispensável”“completamente dispensável”“completamente dispensável”“completamente dispensável” e que o TGV sódeveria servir para ligar Portugal à rede europeia “e apenas“e apenas“e apenas“e apenas“e apenaspara isso”para isso”para isso”para isso”para isso”.

Ignora certamente que a linha para Madrid tem uma rentabi-lidade muito abaixo da que está prevista para ligar Lisboa aoPorto, e que esta se justifica não só por causa da redução dotempo de percurso entre as duas cidades, como é absoluta-mente fundamental para descongestionar a linha do Norte e“cozer” o território litoral português (onde vivem 60% dos por-tugueses e se produz 90% da riqueza nacional).

Zé Povinho acha que isto é ignorância a mais para um econo-mista com mestrado em Transportes. Ou então o Dr. Heitor nãofez bem o trabalho de casa, como quando afirma que em Pom-bal, na linha do Norte, param um ou dois Intercidades por dia,quando, na verdade, param lá 20. Assim só se descredibiliza a sie ao seu partido.

Zé Povinho levanta os braçosà S.A.Marionetas e aos “marre-tas” que teimam fazer dos bo-necos a sua vida. De Alcobaçapara o mundo, os bonecreirostêm dado provas do seu imensotalento e conquistado miúdos egraúdos. Prova disso é a distin-ção que recentemente recebe-

ram na República Checa, pelo seu trabalho na preservação epromoção de tão antiga arte de entretenimento.

Sem nunca esquecer as suas origens, a companhia alcoba-cense tem primado por abordar episódios da História de Portu-gal, sobretudo daqueles que têm a ver com a sua cidade natal.Mas nunca se esquecem da sátira e do humor, que tanta faltafazem nos dias que correm.

Atento às notícias que vão dando conta dos feitos daS.A.Marionetas, Zé Povinho não pode deixar de aplaudir a forçade vontade inquebrável que tem sido demonstrada pelos seusresponsáveis, que muitas vezes vêem negado o apoio das maisaltas instâncias da Cultura em Portugal. Lamentavelmente, porvezes é mais fácil obter reconhecimento fora de portas…

Um documento com textos e ilustrações inéditas, que conta com as colaborações de Alberto Costa, Alexandre Ramirez, Ana de Palma, o cartoonista António,

António Eloy, Artur Henrique Gonçalves, Carlos Albino, Carlos Enxuto, Carlos Moreira, Carlos Pessoa, Carlos Pimenta, Carvalho Homem, Cristina Horta, Isabel

Castanheira, Isabel Xavier, João Serra, João Caraça, João Freire, João Paulo Marques, João Pereira Coutinho, João Teixeira Lopes, Jorge Delmar, José do Carmo

Francisco, José Manuel Pereira da Silva, José Santa Bárbara, José Vítor Malheiros, Lucília Verdelho da Costa, Luís Afonso, Luís Reis Torgal, Mariana Caldas,

Nicolau Borges, Pedro Bebiano Braga, Pedro D’Anunciação, Pedro Soares, Rui Pimentel, Sérgio Neto, Teresa Brandão, Valdemar Santos, Vasco Trancoso, Victor

Nogueira, Vítor Silva Tavares, Xohan Viquera e Zé D’Almeida.

Lançamento do cadernoLançamento do cadernoLançamento do cadernoLançamento do cadernoLançamento do cadernocomemorativo dos 135º aniversáriocomemorativo dos 135º aniversáriocomemorativo dos 135º aniversáriocomemorativo dos 135º aniversáriocomemorativo dos 135º aniversário

de Zé Povinho no CCCde Zé Povinho no CCCde Zé Povinho no CCCde Zé Povinho no CCCde Zé Povinho no CCC

Zé Povinho no país das maravilhas

Sábado, 26 de Junho, às 18h30 no CCC

2 | Julho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Os antigos jornais da vila cele-bravam com euforia as visitas dafamília real, privilégio com profun-das tradições desde a Rainha Fun-dadora, repetido com frequência naparte final do regime monárquico.

O Caldense de 29 de Junho de 1890enaltece a Rainha D. Maria Pia, gra-to pela sua presença na vila, com-parando-a a D. Leonor: «[…] Comoa sua Real antecessora é a SenhoraD. Maria Pia, a Mãe e o Amparo dospobresinhos […]. Bemvinda, pois,seja Sua Magestade a Rainha D.Maria Pia. E dizemos bemvinda seja,não só pela honra que se dignoudispensar a esta localidade, mastambem por vermos as Caldas daRainha habitada por um dos vultosda nossa realeza mais querido esympathico porque o seu nobilissimo coração reune paranós os attributos mais dignos, mais sagrados da mulher –os de Mãe e Esposa extremosissima e desvelada […]».

Na edição de 3 de Agosto, o jornal da vila noticia a festade aniversário do Infante D. Afonso no Paço Real dasCaldas: «[…] a que assistiram suas Magestades e Altezasque vieram expressamente ás Caldas para, em convivioverdadeiramente intimo jantar com sua augusta mãe arainha D. Maria Pia […]».

Conta O Caldense que D. Maria Pia, para solenizar oaniversário do filho «[…] mandou distribuir um bôdo a 200pobres, e a 25 d’estes mandou Sua Magestade dar vestu-ario. Não satisfeita a sua magnanimidade mandou dar dejantar aos presos e ordenou que se fizesse n’esse diamelhoria de rancho á sua guarda d’honra […]».

Ainda na mesma edição, O Caldense traz a notícia davinda do Infante D. Afonso nestes termos: «[…] chegavana quinta-feira 24 uma bateria em marcha de resistência,commandada pelo capitão Carvalho e onde vinha comosubalterno o Infante D. Affonso. A bateria descansou doisdias nas Caldas e marchou no dia 26 pelas 10 horas danoite. Na tarde d’esse mesmo dia […] a bateria poz-se emordem de marcha e seguiu pela estrada das Águas Santas[…] onde El-Rei D. Carlos que viera ás Caldas lhe passourevista. O Infante D. Affonso é querido e muito estimadodos soldados […] Consta-nos que Sua Alteza vem passarquinze dias ás Caldas com a sua augusta mãe».

O mesmo jornal, na edição de 26 de Março de 1893 infor-ma que no domingo anterior (19 de Março) se encontravana vila toda a família real, tendo o rei doado ao Montepioa quantia de 100$000 réis e que «[…] no dia seguinte aeste acto de Munificencia Regia um outro acto que edifi-ca, que transpira gratidão merecida e devida. Realizou oMontepio Caldense uma manifestação […] abrilhantadapelas duas philarmonicas da vila […] precedidas dos cor-pos gerentes e socios do Montepio e de muito povo quelevantavam vivas á Familia Real, ao sr. Berquó, ao pro-gresso das Caldas […]».

No dia 19 de Março de 1893 fora inaugurado pelo rei oHospital de Santo Isidoro e colocada a primeira pedra nonovo Hospital D. Carlos I (Pavilhões do Parque), inserindoO Caldense na primeira página da edição de 26 de Marçoa transcrição do “Auto de collocação da primeira pedrafundamental do novo hospital real das Caldas da Rainha”:«[…] pelas 4 horas da tarde no Parque D. Carlos I, na villadas Caldas da Rainha, na presença de Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Carlos I, de Sua Magestade a Rainha

A realeza na vila

Senhora D. Amélia e das mais pessoas abaixo assignadasse procedeu á inauguração dos trabalhos de construcçãodo edificio do novo hospital real, lançando Sua MagestadeEl-Rei a primeira pedra dos seus fundamentos. Em seguidaao que se lavrou este auto, em triplicado, devendo ser umdos exemplares enviado para o archivo da Torre do Tombo,outro archivado na contadoria do referido hospital, e oterceiro juntamente com um exemplar de cada uma dasmoedas de prata e cobre cunhadas no actual reinado, seráencerrado em um cofre que devidamente fechado vai serdepositado, na presença de todos, sob os fundamentos docunhal nordeste do primeiro pavilhão do norte do edificio[…]».

Seguem-se 31 assinaturas das mais ilustres figuras doreino e da vila.

É conhecia por todo o reino a relação de afecto entre avila das termas e o rei, denunciada numa carta remetidapor António Cândido Ribeiro da Costa a José Luciano deCastro em Agosto de 1895: «El-Rei continua a divertir-senas Caldas, a divertir-se ruidosamente. Que mau efeitofaz!...».

Talvez por isso não surpreende a candura do editorial dosemanário O Caldense de 6 de Agosto de 1893: «[…] Acre-dita alguem na possibilidade da implantação do systemarepublicano em Portugal? Cremos todos respondem não[…]».

Implantada a república, no dia seguinte, 11 de Outubrode 1910, O Círculo das Caldas vincava a sua orientação emdoloroso editorial: «[…] Escrevemos ainda como que sobrea impressão d’um terrível pesadelo. Monarchicos por con-vicção, filiados quasi creanças n’um partido do antigo re-gimen que durante um longo periodo d’annos defendemoscom todo o esforço […] e uma grande fé […]. Somos dosvencidos os mais humildes; curvamo-nos, pois, perante osvencedores, a quem não podemos negar o nosso reconhe-cimento pela forma generosa porque para comnosco pro-cederam […]».

Dez dias volvidos, na edição de 21 de Outubro de 1910, omesmo jornal rende-se ao novo regime: «[…] Da nossaadhesão á republica nada mais queremos que o bem dapatria e o que as Caldas da Rainha possa com justiça haverdo governo do nove regimen […]».

Ontem, como hoje, mudam-se os tempos, mudam-se asvontades.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido [email protected]

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

Diogo Monteiro, Miguel Car-valho, Rodolfo Ribeiro, Rui Xime-nes e Sónia Cunha têm razõespara estar contentes. Fecharamcom chave de ouro a sua passa-gem pela Escola Secundária Ra-fael, onde concluíram o 12º ano,tendo recebido o primeiro pré-mio da edição 2010 do MoniT,

uma iniciativa do Instituo das Telecomunicações, que tem ori-entação do Instituto Superior Técnico.

Os jovens constituíram-se num grupo denominado “iFren-quency” e fizeram alguma investigação na área das radiofre-quências para tentar perceber se alguns dos mitos relaciona-dos com a emissão de microondas dos telemóveis têm algumarazão de ser. E chegaram à conclusão que estes não têm razãode ser.

O prémio atribuído a estes alunos finalistas é merecido e ZéPovinho deseja uma prossecução dos seus estudos no ensinosuperior com muitos êxitos. É bom saber que num panorama naEducação onde graça o facilitismo, a burocracia e a pressão dasestatísticas para o aproveitamento a todo o custo, há alunosque trabalham e aprendem, vendo, justamente, o seu esforçocompensado.

Zé Povinho havia considera-do negativamente há quatrosemanas a acção desempe-nhada pelo treinador da selec-ção portuguesa de futebol,Carlos Queiroz, comparadocom o exemplo de José Mouri-nho.

Contudo, na passada sema-na, os portugueses tiveram um sobressalto positivo, com umavitória inesperada por ser tão alargada, da selecção sobre aequipa da Coreia do Norte, que imediatamente transformou apose pessimista dos portugueses em crença vitoriosa do pró-prio campeonato do mundo.

Na passada terça-feira, infelizmente para Portugal, frente àselecção espanhola a equipa das quinas sossobraria, mesmocom uma exibição portentosa do guarda redes Eduardo, queimpediria vários golos certos ao longo do jogo.

Segundo os especialistas e comentadores, as estrelas dacompanhia, de que tanto se esperava, tiveram uma acção limi-tada e pouco decidida.

Assim, de forma um pouco envergonhada, a equipa portu-guesa sai de cena nos oitavos de final, dando razão a muitostreinadores de bancada lusos, que nunca auguraram grandesucesso à equipa seleccionada.

Mas afinal, os mais crentes sempre poderão dizer que foiuma das equipas menos batidas na prova da África do Sul,tendo quase conquistado o recorde de número de golos numsó jogo de todas as provas mundiais desde a sua criação. Epelo menos não fizeram as figuras da França, Itália e Inglater-ra, que tinham muito maiores responsabilidades.

9 | Julho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Por ter nascido com o Hospital, a Vila cresceu à sombra da instituiçãorégia, dela dependeu e com ela manteve séculos de identificação, parti-lhando a sua glória, a sua grandeza e o seu declínio.

Percorrendo a imprensa caldense dos finais do Século XIX e início doSéculo XX, encontramos várias referências à coincidência dos interessesdo Hospital com os interesses da Vila.

O Caldense de 27 de Julho de 1890 lamenta que a «nobilíssima villapatrocinada munificentemente com o valimento d’uma Rainha portu-gueza», fosse nos tempos que corriam «[…] um verdadeiro joguete dapolitica que ora a vota a um abandono, ora lhe usurpa bens e rendimen-tos que por doação real deviam exclusivamente ser applicados na manu-tenção e engrandecimento do Hospital […]».

O cronista, responsável editorial do semanário O Caldense,1 insurge-se contra a legislação liberal sobre os bens do Hospital, lamentando asituação provocada «[…] por uma contenuidade de leis […] que rasga-ram documentos importantíssimos e bem dignos de serem religiosa-mente respeitados […]».

Na edição de 24 de Abril de 1913, a propósito de um projecto aprovadona Câmara dos Deputados, o semanário O Círculo das Caldas transcreveuma crónica publicada no “Radical” por Joaquim Ribeiro de Carvalho,deputado do Partido Liberal, mais tarde director do Jornal República.

Começa o cronista por denunciar uma “campanha de ódios, rancorese despeitos” movida contra o Hospital das Caldas, afirmando a suaconvicção de que «[…] não é o Hospital que é um cancro do Estado. Oestado é que tem sido um cancro do Hospital […]».

Para demonstrar a sua tese, o deputado associa a crise das finançasdo Hospital ao Decreto de Mouzinho da Silveira, de 13 de Agosto de 1832,que no seu artigo 5.º declarou «extintos todos os Foraes dados ásdifferentes terras do Reino, ou fossem dados pelos Reis ou pelos Dona-tários da Corôa», revogando os foros, pensões, quotas, censos e outrostributos.

Reza a crónica:«[…] Os direitos reaes pertencentes ao Hospital por doação da Rainha

eram representados por jugadas, quartos e oitavos e rendiam em médiaaí pelos anos de 1810 a 1814, uns dez contos anuais – o que correspondena epoca atual a quarenta ou cincoenta contos.

Mas o decreto de 13 de Agosto de 1832 estabeleceu que todos osestabelecimentos de beneficiencia que tivessem os seus rendimentosem direitos reaes, receberiam do Estado em troca dêles, propriedadesrusticas ou urbanas cujo rendimento fosse igual a metade da mêdia doque os mesmo dízimos tivessem rendido nos últimos quatro annos […]».

Conclui que o Estado extorquia à partida ao Hospital 50% do seurendimento, o que era agravado por este facto «[…] nem sequer oscincoenta por cento, em propriedades rústicas e urbanas lhe foramdados. Não teve, ao menos, essa misera compensação – ficando reduzi-do, assim, ao rendimento dos foros que a Rainha lhe doara e aosescassos cobres dos poucos pensionistas que ali iam tratar-se, pois agrande multidão dos seus doentes era pobre […]».

Refere o cronista que logo a partir de 1833 o Hospital passou a ter umdéfice anual, assumido pelo Tesouro Público a partir de 1835, que pagoua esse título os seguintes valores, entre 1892 e 1912: «[…] De 1892 a 1901,deu desesseis contos e oitocentos mil réis. De 1901 a 1904, vinte e um

Os interesses do Hospital

contos, com mais nove contos no segundo semestre deste ultimo ano. Em1905, desoito contos. Em 1906, vinte e um contos. Em 1907, desesseis contos equinhentos mil réis. Em 1908, desoito contos, quatrocentos e vinte mil réis. De1909 a 1912, desesseis contos, quatrocentos e cinquenta e quatro mil e quatro-centos réis. […]».

A conclusão é simples aritmética: «[…] Ora, devendo os direitos reaes queo Estado usurpou ao Hospital, render hoje quarenta ou cincoenta contos porano, já os leitores vêem que grandes rasgos de generosidade os governosfaziam dando ao Hospital esses miseros subsidios. […]».

O deputado regressa às páginas do Círculo na edição de 4 de Maio de 1913,para corrigir as contas e atribuir ao Estado um crédito omitido no artigoanterior.

Trata-se do empréstimo autorizado a Rodrigo Berquó em 1892 para váriasobras, entre as quais avulta a construção dos Pavilhões do Parque, tendo sidoos respectivos encargos transferidos pela lei de meios de 1904 para o Estado«[…] ficando este a dispender com o Hospital, além dos desesseis contos e talde subsídio, mais os treze contos do referido empréstimo […]».

Refeitas as contas, ainda assim entende o cronista, que «[…] o magnificoHospital de cujo futuro dependem todos os progressos das Caldas da Rainha[…]» foi espoliado «[…] vendo-se na situação deprimente de andar todos osanos a mendigar ao Estado […]».

Concluindo, rejeita a possibilidade de entrega da exploração do Hospital aempresas privadas2, estabelecendo um paralelo com outras áreas termais«[…] Vidago, Pedras Salgadas, Caldelas, Mondariz e outras termas, explora-das por emprêsas particulares. Só essas emprêsas progridem, chamando aosseus hotéis e aos seus clubs de recreio, todos os doentes e todos os simplesveraneantes. Em volta dessas termas não se erguem povoações da importân-cia da Villa das Caldas da Rainha, que cresceu e se engrandeceu, vivendo doseu Hospital […]».

Imagem: colecção Miguel Chaby

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])(Footnotes)

1 Francisco Gomes de Avelar, administrador do concelho a partir de Dezem-bro desse ano

2 Tese defendida pelo deputado Maldonado Freitasin O Regionalista, 27 de Novembro de 1920

Nos momentos de crise profunda de umpaís, cidade, empresa ou família, o maisgrave é tomarem-se decisões duras semexplicação e sem esperança que dêem sen-tido à vida futura.

Mandar cortar, parar, suspender, inter-romper, é o mais simples e o que dá me-nos trabalho, não envolvendo nenhum esforço de reflexão críti-ca e estratégica, causando na maioria das vezes desânimo, des-crença e medo.

É uma atitude pouco inteligente e menos pro-activa, não im-pelindo os actores e responsáveis para a acção e para inovação,com vista a vencer as dificuldades e olhar o futuro com visãoredentora de forma a evitar que se caiam novamente nos mes-mos erros.

O que se está a passar em muitos sectores em Portugal, entreos quais o dos transportes ferroviários e das hesitações com amodernização da linha do Oeste, que Zé Povinho leu nesta edi-ção da Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas, representa uma atitude desmobi-lizadora e fatalista, de que afinal não valeu a pena fazer sacri-fícios porque a situação se tornou inexoravelmente pior e semretorno.

Por estas e outras, Zé Povinho não aceita que nuns dias JoséSócrates invoque que “só ele está a puxar pelo país” e noutrosdias os seus executores das politicas dêem uma imagem derro-tista e demissionária das missões que se lhe impõem levar acabo.

Se as dificuldades orçamentais e financeiras do país (como daEuropa e de muitos países do mundo) se agravam, mais umarazão para definir um rumo e priorizar as etapas para decisõescoerentes com um novo modelo de desenvolvimento que a prazodê sentido ao país e o ajude a ensaiar um novo paradigma nasociedade portuguesa.

Os investimentos dos transportes ferroviários estão dentrodesta lógica e Zé Povinho em uma coisa está certo: o modelo dotransporte individual e com veículos utilizando combustíveis fós-seis está condenado a curto prazo. E para tal acha que é neces-sário principalmente um investimento na inteligência e nas in-fra-estruturas que tenham uma lógica de longo prazo.

Se o primeiro-ministro agiu bem em relação ao negócio daVivo que iria prejudicar a Portugal Telecom e o país no médio elongo prazos, não pode ter uma visão curta e desinteressadanos investimentos no que criem novas dinâmicas.

Um bom autarca deve estar atento aospormenores e ver por vezes aquilo que, detão visto estar, já ninguém vê. Zé Povinhopede perdão pelo estilo eloquente, mas vemisto a propósito da intervenção do senhordeputado municipal, Carlos Elias, que trouxe

ao órgão de que faz parte uma questão muito simples, masigualmente relevante.

Observou o deputado que na A8, entre as Caldas e Lisboa, hávárias placas a anunciar praias e monumentos, mas que, “curi-“curi-“curi-“curi-“curi-osamente não encontramos nenhuma placa indicadoraosamente não encontramos nenhuma placa indicadoraosamente não encontramos nenhuma placa indicadoraosamente não encontramos nenhuma placa indicadoraosamente não encontramos nenhuma placa indicadorada cidade e apenas podemos ver as palavras Caldas dada cidade e apenas podemos ver as palavras Caldas dada cidade e apenas podemos ver as palavras Caldas dada cidade e apenas podemos ver as palavras Caldas dada cidade e apenas podemos ver as palavras Caldas daRainha”Rainha”Rainha”Rainha”Rainha”. E propôs que a Câmara solicite à empresa concessi-onária da auto-estrada a colocação de uma placa a indicar queas Caldas é uma cidade termal. E, já agora, acrescenta ZéPovinho, que assinale também a Foz do Arelho como praia.

A passagem de milhares de automobilistas por dia na A8, emespecial nos meses de Verão com o aumento de turistas, justi-fica que aquela via contemple informação turística sobre aregião que está a ser atravessada.

Carlos Elias esteve bem em recordar essa verdade elemen-tar e merece ser felicitado por isso.

Constituiu uma agradável sur-presa para muitos leitores daGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas o suplemen-to lançado com a última ediçãodo jornal dedicado aos 135 anosdo Zé Povinho criado por RafaelBordalo Pinheiro.

Tanto a edição em papel espe-cial e vendida a 3 euros para co-leccionadores e amantes de do-cumentos que representam im-portantes contributos para o es-tudo da História de Portugal,como o início da sua publicação

em semanas sucessivas com aedição do nosso jornal, recebe-ram os maiores elogios.

Muitos dos suplementos daedição especial têm sido compra-dos por famílias para os oferece-rem aos filhos de mais jovem ida-de, uma vez que se trata de umdocumento marcante para a suaformação social e política futura.

Recorde-se que esta iniciativada Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas em con-junto com a Loja 107, reuniu umconjunto de quase meia centena

de contributos sobre a figura doZé Povinho, que bem pode sim-bolizar o nosso povo nas suas vá-rias dimensões.

Os leitores da GazetaGazetaGazetaGazetaGazeta que ain-da não tenham tido acesso à edi-ção especial poderão fazer assuas reservas para os nossos ser-viços enviando os pedidos poremail para [email protected]. As edições pedidaspodem ficar reservadas nas nos-sos serviços ou enviadas por cor-reio (com pagamento de portes)

para as moradas que indicarem.Finalmente, pedimos desculpa

aos leitores pelo erro na pagina-ção da última edição, em que asquatro páginas do suplementonão foram devidamente inseridasnuma única folha que pudesse serseparada. Face a este erro, inse-rimos a partir desta edição aspáginas seguintes em falta, re-petindo a publicação das da últi-ma semana no fim da série.

Suplemento Zé Povinho agrada plenamente

16 | Julho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A notícia do julgamento veio no jornal O Círculo dasCaldas de 22 de Junho de 1903 e ilustra a forma como eramtratados os acontecimentos do foro e as paixões que des-pertavam nos jornais.

Reza a crónica: «[…] No tribunal d’esta comarca res-pondeu no passado dia 16 o nosso amigo e conceituadopaharmacêutico sr. Acelino Augusto Lopes, accusado peloseu particular inimigo, sr. dr. Corte Real, de ter alteradouma prescrição médica. Não obstante as justas allega-ções adduzidas pelo seu advogado, sr. dr. Botelho Moniz,o nosso amigo foi condenado […]».

Nesta, como noutras notícias, o cronista não se abstémde fazer o seu julgamento e de considerar a pena injustae a exigência de fiança um “vexame imerecido”.

Nalgumas reportagens de audiências de julgamento, ojornalista aprecia e descreve pormenorizadamente a pro-va produzida, nomeadamente os depoimentos das teste-munhas, censurando o juiz e o júri quando discorda dadecisão, o que determina situações de grande tensão como tribunal, como a que se descreve na edição de O Círculodas Caldas de 11 de Agosto de 1904.

Trata-se da reportagem de um julgamento realizadonos Pavilhões do Parque, com protestos do jornalista pornão lhe ter sido atribuído pelo juiz um lugar compatívelcom a função: «[…] fomos, como esperávamos, esqueci-dos pelo sr. dr. Vicente Gomes, e assim impossibilitadosde darmos uma notícia desenvolvida do julgamento por-que, no meio do povo que ficou fora da teia, não pudemostirar as indispensáveis notas da audiência. Cahimos umdia no crime d’apreciar desfavoravelmente uma sentençade sua excelência, que depois, certamente pela justiçaque presidiu a ella, foi anulada no Supremo Tribunal deJustiça, e d’ahi a boa vontade que o sr. dr. Vicente Gomesnão perde occasião de nos manifestar […]».

O julgamento relatado é repetição de um anteriormen-te anulado e realiza-se com intervenção de júri, institui-ção pouco pacífica nos meios forenses, hostilizada pelajuiz da comarca, em declaração polémica que o advogadode defesa aproveitou habilmente nas suas alegações fi-nais: «[…] terminou pedindo ao jury a confirmação daprimeira sentença, o que seria, para além d’um acto dejustiça, uma gentileza para os jurados que então julga-ram e um protesto contra as apreciações que o presiden-te d’aquelle tribunal tinha feito da instituição do jury, […]afirmando que ela era composta em Portugal por anal-phabetos e ignorantes […]».

Notícias há nos velhos jornais, em que a evidente hos-tilidade para com o réu leva o cronista a ultrapassar todasas fronteiras da objectividade e da isenção, utilizando ostermos mais desprimorosos que os limites da decênciapermitiam naquele tempo.

É o que acontece com a descrição do julgamento do réuManuel Vicente, acusado de furto, relatada no semanárioCavacos das Caldas de 14 de Novembro de 1897, em que o

O colarinho do causídico

jornalista adere sem reservas à acusação, manifestandodescrédito e desprezo pela defesa: «[…] Ministério Públicoque foi eloquente, sincero e demonstrante dos sentimen-tos que o honram, quando se referiu à affronta vomitadapor Manuel Vicente, sustentando que a prova mais plenada criminalidade do accusado, estava no acervo das insídi-as e calúnias que Manuel Vicente tinha com o máximodesplante ejaculado […]».

O sistema de jurados instituído valorizava a eloquênciados advogados, que nas suas longas alegações se dirigiammais à emoção do que a razão, apelando à compaixão e àpiedade do homem simples, cabendo-lhes a glória da ab-solvição e o reconhecimento social do talento.

A Gazeta das Caldas na edição de 23 de Janeiro de 1926relata o desfecho do célebre julgamento do “caso de Alen-quer”, que culminou com uma absolvição, após o que osréus «[…] foram ao edifício da Câmara cumprimentar avereação e agradecer o carinho e provas de consideraçãoque o povo das Caldas lhes dispensou. Foram também fa-zer igual agradecimento à comissão política do P.R.P. queos visitou durante a sua prisão […]».

Refere a crónica que «[…] o distinto advogado dr. Antó-nio Correia contribuiu poderosamente para que luz com-pleta fosse feita sobre o pretenso crime […]. Na noite se-guinte ao julgamento foi oferecido um jantar no Hotel daCopa […] onde foi leiloado o colarinho usado pelo dr. Antó-nio Correia durante o julgamento. Este colarinho que apre-sentava uma cor duvidosa e demonstrava bem a fadiga doseu possuidor, rendeu 120$00, importância esta que foientregue ao lactário creche […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

Zé Povinho leu na GazetaGazetaGazetaGazetaGazeta e não queriaacreditar: o militante e dirigente do PCP,senhor Filipe Rodrigues, numa reuniãopartidária nas Caldas da Rainha, reafir-mava que Portugal não devia ter aderidoà CEE, o que significava ser hoje um dospoucos países europeu fora da União Eu-ropeia.

É estranha a posição simplista e reducionista deste dirigen-te, afirmada para os militantes caldenses, dado que os própri-os documentos do seu partido não corroboram totalmente oque este afirmou. Leia-se o próprio manifesto de candidaturaao Parlamento Europeu (PE) que, embora criticando a políticaseguida no espaço europeu, defende e reafirma que “o povoportuguês deve desenvolver, em Portugal e nas instituições daUnião Europeia, a luta por uma outra Europa”, inclusive pro-testando contra a diminuição do número de deputados portu-gueses no PE.

Zé Povinho não se recorda de ter ouvido aos deputados eu-ropeus eleitos pelo PCP ao longo dos últimos quase 25 anos, aexigência da saída de Portugal da UE, apenas conhecendo asposições dos partidos de extrema direita no Parlamento Euro-peu que reivindicam mesmo a extinção da Europa dos 27.

Na própria nota do Comité Central do PCP do passado dia 12de Junho afirma-se “que é possível uma outra Europa dos tra-balhadores e dos povos. Com a sua luta será possível construira ruptura com o rumo neoliberal, militarista e federalista daUE”. E o próprio secretário-geral, Jerónimo de Sousa, enquan-to candidato à Presidência da República em 2005, exigia ape-nas «outros caminhos para a Europa, outro rumo para a UniãoEuropeia».

Por muitos erros que Portugal possa ter cometido, na CEE edepois na UE, o país beneficiou e pode continuar a beneficiarde muitas oportunidades, sendo impossível que tivesse podidosobreviver num gueto, fechado sobre si, tal como no tempo daditadura.

É por isso que Zé Povinho – que não esconde o seu apreçointernacionalista-europeísta - recomenda a este diligente mi-litante que não seja mais papista que o seu “Papa”.

Há figuras públicas que marcam os seusconcidadãos pela honestidade, modéstia esaber, e que em certos momentos da suavida sabem oferecer aos seus semelhanteso muito que juntaram no seu património ci-

entífico e cultural.Zé Povinho tem uma ternura muito especial pelo professor

João Evangelista, natural ilustre de A-dos-Negros, terra à qualdedicou uma obra de investigação etnográfica muito curiosae que fez história no meio universitário lisboeta.

Foi também um dos primeiros ambientalistas portugueses,tendo dedicado boa parte da sua vida à luta em defesa dosvalores da natureza.

Já com avançada idade, dispôs-se a voltar para as Caldasda Rainha, a fim de assumir a direcção do pólo da Universida-de Autónoma de Lisboa, que saía de um período controversoda sua existência, tendo-lhe dado credibilidade suficiente paraque terminasse os seus últimos cursos com a calma necessá-ria que não prejudicasse os alunos.

Com a sua conduta pacificadora e congregadora, é um bomexemplo de uma cidadão que demonstra o modelo de enten-dimento entre um natural do concelho de Óbidos que desen-volve a sua actividade científica também nas Caldas, mos-trando que um mais um é superior a dois.

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23 | Julho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

A Gazeta de Lisboa de 3 de Junho de 1831 insere nassuas páginas a seguinte nota publicitária: «[…] Em casado fallecido Miguel Mondoni, pasteleiro na villa das Cal-das da Rainha, se dá quarto e cama para huma pessoa,almoço, jantar, e ceia, pelo preço de 600 rs. por cada dia:o jantar consta de sopa, vaca, arroz e um prato do meio,tudo com o maior asseio, como he seu antigo costume[…]».

Um homónimo descendente deste pasteleiro é figuracentral numa crónica do semanário O Caldense de 12 deAbril de 1891, que reza assim:

«[…] Passava cerca das três horas da tarde o sr. MiguelMondoni, na terça feira ultima, junto á denominada Fon-te do Pinheiro e encontrava ahi José Joaquim que munidod’uma corda tentava suicidar-se por estrangulação.

O sr. Mondoni tratou logo de tirar a corda com queMarques pretendia enforcar-se, bem como uma cartaque Marques escrevera, perguntando-lhe ao mesmo tem-po quaes os motivos que o levaram a semelhante loucu-ra. Marques respondeu ao sr. Mondoni que era a fome ea falta de meios […]. O sr. Mondoni praticou um actodigno de louvor de mandar imediatamente a sua casabuscar de comer para aquelle desgraçado […]».

Segue-se uma breve descrição dos antecedentes datentativa de suicídio:

«[…] official d’alfayate e natural do Porto […]. Seu paeresidente n’aquella cidade […] explusara-o da casa por-que sua mulher e madrasta do filho o instigara a assimproceder. […] dirigira-se a Lisboa, onde trabalhara emcasa d’um alfaiate na Rua de S. Marçal. Esse alfayateporem adoecera e declarara-lhe não poder continuar adar-lhe que fazer.

Então Marques fôra ter com um collega a quem ven-deu um bahu e a sua roupa por 1$400 réis, depois de terseguido o conselho daquelle, que lhe dissera viesse paraas Caldas onde facilmente acharia que fazer.

Chegado a esta villa fora trabalhar para o estabeleci-mento do Graça, este porem despedira-o por ter de irtomar conta d’uma loja de algibebe1. […] Vendo-se entãosem trabalho, resolvera pôr termo á existência […]».

Compadecidos com a situação descrita, os interveni-entes actuam, de forma generosa e eficaz, como nos dáconta a crónica na sua parte final: «[…] arranjaram pro-visoriamente trabalho a Marques na alfayateria do sr.Emygdio Coelho que se promptificou immediatamente arecebe-lo […]. Consta-nos que a auctoridade ordenouque Marques ficasse no dormitorio dos guardas pliciaes[…]. José Joaquim Marques tem 16 annos […]».

O mesmo jornal, na edição de 19 de Fevereiro de 1893,conta a história de um outro jovem chegado à Vila, desta

Desgraças

vez proveniente do Sabugal, sob o sugestivo título «Um des-graçado?».

«[…] Há dias apresentava-se n’esta villa um rapaz bemtrajado dizendo-se leccionista de instrucção primaria e se-cundaria, e desejando estabelecer aqui residência para exer-cer a sua profissão.

Percorrendo diversas casas da villa a offerecer os seusprestimos; n’estes termos dirigiu-se a casa do sr. administra-dor do concelho que pela apresentação que o rapaz se lhe fezdesconfiou que na vida do leccionista havia mysterio […]».

Nas diligências de investigação ordenadas pelo adminis-trador do concelho, concluiu-se que: «[…] o leccionista tinhacerca de 18 annos, e tinha sahido ha cerca de dois mezes doseminário da Guarda, onde estudava, finalmente resolvendopermanecer nas Caldas depois de uma digressão por Paris,Madrid e Lisboa […]. Passam-se porem uns dias, recebe o sr.administrador do concelho um telegramma do comissario daGuarda, pedindo a captura de António Luiz Barreiros por terpraticado um furto […] o pobre rapaz desculpava-se entrelagrimas do crime que lhe atribuíam, tentando fazer conven-cer a auctoridade que todas aquellas coisas se traduziampela guerra que dois tios lhe moviam por ele não quererseguir a vida de padre para a qual tinha negação, acrescen-tando emfim que essa guerra se filiava n’uma espécie deromance d’amor […].

Preso o seminarista, o cronista não fica convencido da suaculpa: «[…] na vida de António Luiz Barreiros deve haver umromance ou mysterio que desconhecemos. Um desgraçado[…]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])(Footnotes)1 Loja de roupas feitas, novas ou usadas.

O Dr. José Benoliel ainda só tomou pos-se há escassos dias na presidência da CP,mas já fazia parte da administração daempresa nos últimos quatro anos. Conhe-ce, por isso, “os cantos à casa”, ou dito deoutra maneira, “sabe o que a casa gasta”.

E neste caso a casa gastou mais de 2500 euros com uns inú-teis panfletos que são quase ofensivos para as muitas pessoasque no Oeste defendem o modo ferroviário como alternativa àsestradas e são a favor do comboio como o transporte do futuro.

Promover viagens à praia que demoram 50 minutos na idapara percorrer 30 quilómetros e uma hora e meia para regres-sar é, no mínimo, incongruência do ponto de vista de qualquerestratégica de marketing. Pior ainda quando a mesma viagemimplica um transbordo que ninguém compreende na estaçãodas Caldas. E ainda mais grave quando esta ingénua campanhaé repetida candidamente pelo segundo ano consecutivo.

A CP, se tivesse vergonha, ficava quieta. Ou então metiamãos à obra e remodelava a sua oferta no Oeste com comboiosmais confortáveis, maior frequência e mais velocidade.

É por isso que Zé Povinho recomenda ao novel presidente -pessoa com pergaminhos dados na gestão de empresas públi-cas - que tome cuidado com os entusiasmos pueris de quem noMarketing ou na CP Regional quer apresentar serviço.

Zé Povinho sabe que vêm aí tempos difíceis e que o governojá fez saber que os serviços regionais serão as primeiras víti-mas da crise, na hora de cortar despesas nos transportes públi-cos.

Um verdadeiro desafio para o Dr. José Benoliel que, comestes colaboradores, em vez de ajudar, enterram mais a em-presa.

Zé Povinho tem muita admiração pelaspessoas que não se conformam com o seudestino e com as suas primeiras opções pro-fissionais, esperando até ao final da vidapor uma reforma pachorrenta, sem brilho

nem empenho.Por isso admira a pertinácia do aluno finalista de Design de

Ambientes, da ESAD, Nicola Henriques, que também é profes-sor de Educação Física numa escola da região, mas que simul-taneamente com outros colegas, investe fortemente em pro-jecto de animação e dinamização da actividade escolar emligação com a comunidade.

Nicola Henrique parece que está em todas. Era ele o grandedinamizador dos encontros “underground” FICAS, em que alu-nos da ESAD eram convocados anonimamente por sms para sejuntarem em determinado ponto da cidade, deslocando-se pos-teriormente para um local emblemático preparado antecipada-mente, onde eram apresentados trabalhos de docentes e alu-nos que mereciam esse destaque.

Antes Nicola também esteve na organização e dinamizaçãodas boas vindas de alunos estrangeiros que estiveram em Eras-mus na ESAD, bem como na da exposição final dos seus traba-lhos que decorreu no Centro da Juventude.

Agora, conseguiu juntar mais um grupo de colegas e foi paraa frente com um projecto, que a ter êxito, pode constituir umainiciativa significativa a nível nacional e equivalente ao que sefaz de melhor no estrangeiro - pegar numas instalações indus-triais antigas e desactivadas e querer transformá-las num pólode dinamização criativa, cultural e de lazer.

Conseguiu fazê-lo, contando com outros colegas, mais rápi-do e com mais eficiência que muitos institucionais que perdemanos a preparar e a aprovar projectos e à espera de financia-mentos. Demonstrou uma capacidade empreendedora muitonotável e encontrou no Eng. Manuel Paiva e Sousa, alguém queconfiou na sua iniciativa e que também quer dar uma novadinâmica ao que foi a sua unidade industrial.

Um documento com textos e ilustrações inéditas, que conta com as colaborações de Alberto Costa, Alexandre Ramirez, Ana de Palma, o cartoonista António,

António Eloy, Artur Henrique Gonçalves, Carlos Albino, Carlos Enxuto, Carlos Moreira, Carlos Pessoa, Carlos Pimenta, Carvalho Homem, Cristina Horta, Isabel

Castanheira, Isabel Xavier, João Serra, João Caraça, João Freire, João Paulo Marques, João Pereira Coutinho, João Teixeira Lopes, Jorge Delmar, José do Carmo

Francisco, José Manuel Pereira da Silva, José Santa Bárbara, José Vítor Malheiros, Lucília Verdelho da Costa, Luís Afonso, Luís Reis Torgal, Mariana Caldas,

Nicolau Borges, Pedro Bebiano Braga, Pedro D’Anunciação, Pedro Soares, Rui Pimentel, Sérgio Neto, Teresa Brandão, Valdemar Santos, Vasco Trancoso, Victor

Nogueira, Vítor Silva Tavares, Xohan Viquera e Zé D’Almeida.

Caderno comemorativo dos 135ºCaderno comemorativo dos 135ºCaderno comemorativo dos 135ºCaderno comemorativo dos 135ºCaderno comemorativo dos 135ºaniversário de Zé Povinho no CCCaniversário de Zé Povinho no CCCaniversário de Zé Povinho no CCCaniversário de Zé Povinho no CCCaniversário de Zé Povinho no CCC

Zé Povinho no país das maravilhas

3 euros - Compre Já!

30 | Julho | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Vários assinantes têm-se queixado – e com razão - por nãoterem recebido atempadamente o nosso jornal à sexta-feira.

No entanto, Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas é totalmente alheia a esseatraso, uma vez que os jornais são entregues a tempo e horasnos CTT para distribuição.

Os atrasos sentidos ultimamente, sobretudo nas Caldas daRainha, devem-se aos plenários realizados pelos carteiros (que

Distribuição da Gazeta das Caldas

têm vindo a contestar os horários de trabalho propostos pelaAdministração) e que comprometem, assim, a entrega a tempo ehoras do nosso jornal.

Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas vai apresentar queixa na administraçãodos CTT por estes sucessivos atrasos.

A DirecçãoA DirecçãoA DirecçãoA DirecçãoA Direcção

Zé Povinho ficou mesmo agradado com aspropostas visuais da equipa de arquitectosda regeneração urbana, que a Gazeta dasGazeta dasGazeta dasGazeta dasGazeta dasCaldasCaldasCaldasCaldasCaldas publica nesta edição e que vai de-certo surpreender os leitores.

Parece que pela primeira vez lhes foi dado uma liberdadecriativa em que puderam dar asas à sua formação académica,criando novos espaços e funções, ou transformando outros,numa terra que tem estado bastante imóvel há tantos anos,apenas com intervenções de curto alcance e limitando-se aalterar algumas utilizações do espaço urbano.

Podendo ser discutíveis algumas das soluções apontadas, esendo aconselhado haver um maior diálogo prévio com as po-pulações residentes para evitar protestos por alterações me-nos compreendidas, este trabalho mostra bastante imagina-ção e criatividade.

Em nome dos autores das novas propostas urbanísticas, ZéPovinho quer destacar a jovem arquitecta Sónia Lopes, quecoordena a equipa de regeneração urbana e que demonstraque afinal é possível pensar a cidade de outra maneira e dar-lhe uma nova imagem e novas funções. Que a crise económicaou as burocracias de Bruxelas não venham entravar o desenro-lar das obras previstas nos próximos meses.

A história das portagens nas auto-es-tradas e SCUT em Portugal nos últimos 15anos dava um manual de Ciência Política,instrumento que Zé Povinho acha que sóinteressa a empregados da porca da polí-tica nacional, como dizia o seu criador háquase século e meio.

Quem se lembra da guerra levada a cabo pelo Governo deAntónio Guterres para criar as auto-estradas do Oeste, cujasportagens foram quase inviabilizadas por uma Santa Aliançade todos os restantes partidos?

Depois de João Cravinho (sempre lembrado e ouvido pelassuas iniciativas da corrupção e agora esquecido pela continu-ada polémica das portagens) ter inventado as SCUT (que con-trariava a política firme seguida para o Oeste), a Santa Aliançadividiu-se com os partidos da esquerda a apoiar a medida e osda direita a criticá-la pelo agravamento que estava a provocarno défice público e pela endividamento que iria recair sobre asgerações futuras.

Os governos que se seguiram a António Guterres, de inicia-tiva do PSD e CDS, anunciaram repetidamente que iriam pôrtermo à experiência, mas, receando a impopularidade de talmedida, foram-na adiando para as calendas gregas.

Entretanto a crise e o PEC (Plano de Estabilidade e Cresci-mento) obrigaram irremediavelmente a que as portagens des-cessem à terra e, apesar das visões diversas de PS e PSD,parecia haver consenso em finalmente introduzir portagensem todas as SCUT, evitando que, afinal, as auto-estradas fos-sem pagas por todos os portugueses (nos seus impostos) emvez de o serem pelos seus utilizadores.

Constata-se agora o cinismo reinante em ambos os grandespartidos pois nenhum quer assumir claramente o ónus da me-dida na sua plenitude, deixando resvalar o momento da deci-são mês após mês. Só que as contas das estradas nacionaisestão cada vez mais no vermelho, pelo que Zé Povinho nãopode deixar de criticar os partidos do arco governamental pelaindecisão, sabendo que os restantes estão apenas a aprovei-tar-se do facto de estar fora da responsabilidade de governar.

A oferta de serviços de hotelaria na vila termal repar-tia-se entre meia dúzia de estabelecimentos e dezenasde casas particulares.

O Echos das Caldas de 2 de Agosto de 1908, celebra achegada do mês de Agosto, numa crónica que nos dizmuito sobre a forma como a vila recebia os seus visitan-tes: «Chegou o Agosto! […]. Foi hospedar-se no Lisbo-nense, hotel de primeira ordem, que rivaliza com os me-lhores da capital […].Anda n’uma roda viva, abraçandoamigos hospedados nos outros também bellos hoteis –Copa, Caldense, Madrid, Pires, Central, Leal, e conheci-das casas particulares e hospedarias – Viuva Branco, F.Santos, Cautellas, Rosa, Cartaxeiro, Foguete, Coito, Pe-nedo, Costa, etc, etc. Passa depois a visitar tantos outrosbanhistas que se acham instalados com suas respeita-veis familias, em explendidas casas alugadas, com bellasmobilias e roupas, irreprehensiveis d’aceio […]».

O Círculo das Caldas de 5 de Junho de 1915, numa cró-nica sobre «As Caldas e o Mercado Semanal», faz umabreve referência aos estabelecimentos hoteleiros da épo-ca, a propósito da procura dos produtos da praça: «[…]Agora são os criados de Hotéis – O Cautelas, O Madrid, oda Copa, o Lisbonense, o Leiriense, o Central, o HotelParque, o Gutierres, e o do Comércio – que arrematamtoda a fruta que brilha, viçosa e sã […]».

Duas décadas antes, uma notícia publicada no sema-nário O Caldense, de 26 de Abril de 1891, agitou a vila,criando enorme ansiedade nas famílias que viviam doaluguer das suas casas aos utentes do Hospital.

Começava assim a crónica, citando uma notícia doCorreio da Noite: «[…] A direcção do estabelecimento debanhos thermaes das Caldas da Rainha, vae adaptar umdos edifícios de que dispõe na villa a um grande hotel,aonde os banhistas e forasteiros encontrem alojamentocommodo e por preços rasoaveis evitando assim a cares-tia das casas. […]».

Na mesma crónica, O Caldense contesta o alegado pro-jecto de construção de «Um grande Hotel Balnear», apre-sentando os seguintes argumentos:

«[…] A construcção do noticiado hotel teria os seguin-tes contras:

A opposição dos habitantes das Caldas que veriamperdidos um dos seus rendimentos que na maioria doscasos constituem elementos da sua sustentação e desuas famílias.

O monopólio da hospedagem feito pelo estado que seestabelecia a concorrência com os particulares, gravissi-mo erro que os principios da mais elementar economiapolítica condemnam por completo.

E por ultimo teriamos tambem um attentado a umadas virtudes mais sympathicas, a qual era o de vermosconvertido em estabelecimento de negocio, um monu-mento levantado á caridade pelo mais santo impulsiona-mento do coração magnânimo de D. Leonor de Lencastre.

Hoteis

[…]»O Caldense, na edição de 10 de Maio de 1891, vem sosse-

gar os leitores, concluindo com alívio que está afastada aameaça da «construcção d’um grande hotel balnear» eque «nunca se pensou em semelhante emprehendimento,o boato não passa d’uma fantasia, d’uma pura invenção».

O mesmo semanário, na edição de 24 de Julho de 1892,transcreve o «Regulamento provisorio dos correctoresd’hoteis d’este concelho», que pretende dar resposta avárias reclamações da imprensa escrita local, relativamenteao comportamento dos angariadores de clientes, que im-portunam os viajantes que chegam à estação do caminhode ferro.

Reza o parágrafo 1.º, do artigo 1.º do citado regulamen-to, que a aquisição do alvará para «exercer o mister decorrector d’hotel ou inculcador de hospedarias», será ne-cessário apresentar «attestado de bom comportamentoda auctoridade administrativa parochial e termo de abo-nação do proprietário do hotel a quem pertença…».

De acordo com o parágrafo 1.º do artigo 2.º, todo o«corrector d’hotel» deverá identificar-se desta forma: «Nobonet ou chapa que usem devem trazer a designação dohotel que servem, e são obrigados a apresentar á policiatodas as vezes que ella o exija o documento de habilitaçãopara o que o deverão trazer sempre consigo».

No artigo 4.º exige-se que o corrector entregue ao pas-sageiro um bilhete impresso com o seu nome e a indicaçãodo hotel que serve, determinando-se que: «[…] só podeexercer o seu mister nas estações do caminho de ferro, ede quaesquer diligências ou carros de carreiras determi-nadas […]».

Finalmente, o artigo 5.º prescreve que: «[…] Nenhumpassageiro pode ser incomodado pelos correctores cominstâncias inoportunas, e muito menos com quaesquer ex-pressões inconvenientes […]».

A extraordinária importância do visitante para a econo-mia da vila termal, justifica o obsessivo cuidado reveladopela imprensa e pelas autoridades locais, com o seu bomacolhimento e instalação durante o período balnear.

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

Colecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel ChabyColecção Miguel Chaby

6 | Agosto | 2010

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A Semana do Zé Povinho

Com diversas competências e vários ofícios reconheci-dos pela tradição, ao longo da história o barbeiro rara-mente se limitou à tosquia do próximo, assumindo outrasfunções como as de cirurgião, sangrador e dentista.

Na vila termal, o ofício de barbeiro tem, no Compro-misso do Hospital, outorgado pela rainha Dona Leonor, amais antiga e elevada consagração: «[…] Queremos emandamos que haja no dito Hospital um barbeiro e san-grador, o qual haverá em cada um ano pelas rendas dodito Hospital quatro mil reais […]».

As atribuições vêm especificadas desta forma, no cita-do documento: «[…] O barbeiro e sangrador será obriga-do quando pelo provedor ou físico for mandado fazer asbarbas e tosquiar, sangrar e lançar ventosas aos pobresenfermos, sem lhe levar por isso nenhuma coisa […]. Eassim aos enfermeiros e servidores da casa, e amolar elimpar toda a ferramenta do dito Hospital […]».

A profissão de barbeiro sangrador foi oficialmente ex-tinta por decreto de 13 de Junho de 1870, mas a sangriaainda era praticada nos finais da monarquia.

Uma das funções do barbeiro era a de dentista, e aindahoje nos chegam ecos desse tempo, no provérbio popular“Quem dói dente é que cata barbeiro”.

O Círculo das Caldas de 20 de Março de 1907 contaassim um dia de aflição dum pobre barbeiro, nas funçõesde “dentista ambulante”:

«No domingo último, pelas 6 horas da tarde, quandopassava á praça D. Maria Pia, d’esta villa, foi accommet-tido de doença subita José Morgado, casado, de 35 an-nos, natural e residente no Avenal, povoação que fica a 1Km das Caldas da Rainha.

Conduzido á esquadra de polícia da rua do Hospício,falleceu antes de ali entrar.

Como ao Morgado tivessem, poucas horas antes, sidoextrahidas duas raízes de dentes pelo dentista ambulan-te Cabo Carvalho, suppoz-se que a morte fosse devida aessa operação. Sabendo-se que o referido dentista nãopossui habilitação legal que o auctorise a exercer a pro-fissão a que se dedica, entendeu o senhor administradordo concelho detê-lo até saber o resultado da autopsiaque no dia immediato ao fallecimento foi feita ao JoséMorgado pelos srs. drs. Augusto Cymbron e Manuel deMello Ferrari.

Como pela autopsia se verificasse que a morte se derapor congestão cerebral, foi o Cabo Carvalho posto em

Barbeirosliberdade […]».

Com a exigência dealvará para exercer oofício de dentista,surgem os primeirosestabelecimentos de-dicados a essa activi-dade, como o “Consul-tório Odontológico”anunciado na ediçãode O Círculo de 22 deJunho de 1903: «[…]Doenças de bôcca ecollocação de dentesartificiaes em todos os systemas, coroa de porcelana, alumí-nio e ouro. […] Consultas grátis aos pobres, ás terças-feiras,das 9 ás 11 horas da manhã […]».

Com o declínio da prática da sangria e o aparecimento dosdentistas, restava ao barbeiro o regresso à barbearia e aredução da sua actividade à tosquia e escanhoamento dopróximo, mas o hábito de exercer várias funções, justificará,talvez, a variadíssima oferta de produtos e de serviços dumabarbearia caldense, relatada num artigo que O Círculo dasCaldas publicou na edição de 22 de Junho de 1903:

«[…] O nosso amigo José Maria do Carmo e Oliveira, rapazde reconhecida actividade e intelligencia, vae dia a dia intro-duzindo inovações no seu estabelecimento de barbeiro naPraça D. Maria Pia, n.º 12, e desenvolvendo os ramos de co-mércio que ali estabeleceu.

Assim apresenta este anno um explendido sortido em per-fumarias, tabacos, artigos de papelaria, accessorios para bi-cyclettes, material photographico, bengallas, livros de mag-níficos auctores, etc, etc.

No estabelecimento do sr. Oliveira também se encontra ávenda uma interessantíssima collecção de bilhetes postaescom excellentes vistas das Caldas e das paisagens das cerca-nias d’esta villa […]».

Mas não se fica por aqui a oferta da barbearia: «[…] O sr.José Maria do Carmo e Oliveira, também vende, a promptopagamento ou a prestações, bicyclettes das marcas Clement,Gritzer, Peugeot, Griffon e Gladiator […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido ([email protected])

O Dr. Pinto Monteiro, que foi professor naUAL das Caldas da Rainha, deixou junto dosseus alunos uma imagem de pessoa corda-ta, dialogante e inteligente.

Nomeado para Procurador Geral da Re-pública, conseguiu nos primeiros anos demandato manter uma imagem de eficiênciae de acção, que rompeu um pouco com atradição dos seus antecessores.

Contudo, passado algum tempo e com a dureza e controvérsiaque assola desde há bastante tempo a Justiça em Portugal, o actualPGR passou a ser mais uma vítima do sistema de que ele é uma dascabeças.

O recente episódio da conclusão do processo do Freeport, em queos dois procuradores encarregues da investigação deixam uma ar-madilha no documento com as perguntas não realizadas “por faltade tempo” ao primeiro-ministro e a um então secretário de Estado(apesar do erro já reconhecido neste ponto), lançou uma confusãoainda maior no poder judicial.

Em entrevista dada a um matutino, o Dr. Pinto Monteiro queixa-seamargamente do “sistema”, dizendo desempenhar o papel de Rai-nha de Inglaterra e apontando setas para os seus colaboradores epara o sindicato dos mesmos.

Como o povo diz, terra onde não há pão todos discutem e nin-guém tem razão. É o que parece passar-se no Ministério Público,cujas atitudes deu ensejo para que pedissem a cabeça do seu chefee o povo ficasse com a ideia de que afinal reina a indisciplina.

Zé Povinho não gostou do que viu e ouviu nos últimos dias, e achaque o Dr. Pinto Monteiro é afinal o responsável pelo que os seusProcuradores andam a fazer, quer queira ou não. E por isso cabe-lhea ele colocar os pontos nos is, porque senão o fizer, não se podequeixar e ficar...

O Dr. Telmo Faria parece que nasceu viradopara o céu. Apesar das persistentes e renovadascríticas que recebe da oposição local, tanto àesquerda como à direita, os eventos que organi-za recebem as prebendas dos astros.

O mercado medieval, apesar da perigosa inflação das entradas,conseguiu recolher aplauso bastante generalizado, até porque cadavez mais gente foge ao pagamento com a utilização do traje daépoca.

Agora com o Festival de Ópera conseguiu no espectáculo inaugu-ral reunir uma plêiade de personalidades que faz inveja a qualquerorganizador de espectáculos na Europa.

Muitas vezes não é por reunir mais assistentes ou participantesque se atrai mais fama, uma vez que a qualidade de certos eventospode atrair mais atenção das elites internacionais.

Está, pois, de parabéns o presidente da Câmara de Óbidos, quetrouxe à região o presidente da Comissão Europeia, Dr. Durão Barro-so, bem como outras personalidades de todo o país que frequentammais facilmente aquele concelho do que os seus vizinhos autarcas.

Nem todos os autarcas se podem gabar de juntar num espectáculodo seu concelho o Dr. Rui Rio, presidente da Câmara do Porto, a Dra.Manuela Ferreira Leite, deputada e ex-líder do PSD, o Dr. CarlosTavares, ex-ministro da Economia e actual presidente da Bolsa deLisboa, o Dr. Vera Jardim, caldense e ex-ministro da Justiça, o Eng.Francisco Van-Zeller, ex-Presidente da CIP. O Dr. Telmo pode.

O governador civil deLeiria, Paiva de Carvalho,recusa qualquer polémicasobre a sua continuaçãodo cargo depois de ter fi-cado oficialmente aposen-tado da função públicadesde o dia 1 de Agosto.

A publicação da sua

Governador Civil aposentado mantém-se no cargo

Paiva de Carvalho Paiva de Carvalho Paiva de Carvalho Paiva de Carvalho Paiva de Carvalho

aposentação no Diário da Repúblicasuscitou diversas reacções nos jor-nais regionais e nacionais. O Diáriode Leiria chegou a noticiar de quehaveria movimentações no PS distri-tal para a sua substituição.

No entanto, Paiva de Carvalho nãoaceita que se faça chicana política.“Nem eu, nem o senhor ministroNem eu, nem o senhor ministroNem eu, nem o senhor ministroNem eu, nem o senhor ministroNem eu, nem o senhor ministropusemos nunca em causa a mi-pusemos nunca em causa a mi-pusemos nunca em causa a mi-pusemos nunca em causa a mi-pusemos nunca em causa a mi-nha continuidadenha continuidadenha continuidadenha continuidadenha continuidade”, afirmou.

O político admite que havia quemquisesse o seu lugar e por isso houveuma tentativa de o fazer abandonaro cargo.

“Estou aposentado das fun-Estou aposentado das fun-Estou aposentado das fun-Estou aposentado das fun-Estou aposentado das fun-ções públicas de professor da Fa-ções públicas de professor da Fa-ções públicas de professor da Fa-ções públicas de professor da Fa-ções públicas de professor da Fa-culdade de Medicina de Coimbra,culdade de Medicina de Coimbra,culdade de Medicina de Coimbra,culdade de Medicina de Coimbra,culdade de Medicina de Coimbra,que exerci desde 1972, e de direc-que exerci desde 1972, e de direc-que exerci desde 1972, e de direc-que exerci desde 1972, e de direc-que exerci desde 1972, e de direc-tor de serviço dos Hospitais dator de serviço dos Hospitais dator de serviço dos Hospitais dator de serviço dos Hospitais dator de serviço dos Hospitais da

Universidade de CoimbraUniversidade de CoimbraUniversidade de CoimbraUniversidade de CoimbraUniversidade de Coimbra”, es-clareceu, explicando que issonada tem a ver com as suas fun-ções como governador civil.

Paiva de Carvalho sublinhouque ao longo de todos estes anostrabalhou muito e descontou paraa Caixa Geral de Aposentações,“que é quem passa a pagar-que é quem passa a pagar-que é quem passa a pagar-que é quem passa a pagar-que é quem passa a pagar-mememememe”.

O representante do governo nodistrito vai receber uma reformade 3124,62 euros, que acumularáa um terço do vencimento das fun-ções de governador. Entende porisso, que o erário público não iráser prejudicado.

Paiva de Carvalho tomou pos-se como governador civil a Feve-reiro de 2008, em substituição de

José Miguel Medeiros.“Antes de ter sido convida-Antes de ter sido convida-Antes de ter sido convida-Antes de ter sido convida-Antes de ter sido convida-

do insistentemente pelo se-do insistentemente pelo se-do insistentemente pelo se-do insistentemente pelo se-do insistentemente pelo se-nhor ministro para este car-nhor ministro para este car-nhor ministro para este car-nhor ministro para este car-nhor ministro para este car-go, eu já estava a programargo, eu já estava a programargo, eu já estava a programargo, eu já estava a programargo, eu já estava a programara minha aposentação, masa minha aposentação, masa minha aposentação, masa minha aposentação, masa minha aposentação, masnessa altura havia uma pena-nessa altura havia uma pena-nessa altura havia uma pena-nessa altura havia uma pena-nessa altura havia uma pena-lização. Em Setembro de 2009lização. Em Setembro de 2009lização. Em Setembro de 2009lização. Em Setembro de 2009lização. Em Setembro de 2009a Faculdade de Medicina infor-a Faculdade de Medicina infor-a Faculdade de Medicina infor-a Faculdade de Medicina infor-a Faculdade de Medicina infor-mou-me que, feitas as contas,mou-me que, feitas as contas,mou-me que, feitas as contas,mou-me que, feitas as contas,mou-me que, feitas as contas,a penalização era a menora penalização era a menora penalização era a menora penalização era a menora penalização era a menorpossível e que seria a melhorpossível e que seria a melhorpossível e que seria a melhorpossível e que seria a melhorpossível e que seria a melhoraltura para pedir a aposenta-altura para pedir a aposenta-altura para pedir a aposenta-altura para pedir a aposenta-altura para pedir a aposenta-çãoçãoçãoçãoção”, contou.

Mas isso nada tem a ver com asua situação como governador ci-vil de Leiria.

Pedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro AntunesPedro [email protected]

À hora do fecho desta edição existia a possibilidade deuma greve nos CTT durante esta semana, que, a concretizar-se, afectará seguramente a distribuição do nosso jornal.

Embora seja alheia às questões laborais que afectam aquelaempresa, Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas pede desculpa aos seus leito-res por este previsível atraso.

A Direcção A Direcção A Direcção A Direcção A Direcção

Atrasos na distribuição da GazetaGazetaGazetaGazetaGazeta

13 | Agosto | 2010

ÚÚÚÚÚltimaltimaltimaltimaltima52

A Semana do Zé Povinho

Como se escreveu na apresentação desta crónica, anotícia do jornal desactualiza-se no dia seguinte à suapublicação, e folhear jornais antigos é regressar aomomento único em que a notícia foi actual. Recortá-losé uma tentação irresistível para quem acha que o tem-po ficou prisioneiro daquele papel frágil e amareleci-do, daquele registo efémero que se consumiu e se es-queceu.

Todas as estórias publicadas neste espaço foramrecortes de jornais e tiveram em comum o facto deterem sido notícia, novidades envelhecidas pelo tem-po, tantas vezes surpreendentes pela actualidade.

A Gazeta das Caldas foi um dos jornais mais recorta-dos, e na hora da despedida aqui ficam pequenos re-cortes de publicações do distrito, que falam sobre oseu aparecimento no longínquo ano de 1925.

O Jornal de Alcobaça de 18 de Outubro de 1925 saúdao primeiro número da Gazeta, anuncia “permutas” fu-turas e termina com elogios e votos de longevidade«[…] Cumprimentando o novo colega, que se apresentacom óptimo aspecto e excelente colaboração, deseja-mos-lhe uma longa vida […]».

O Obidense de 15 de Outubro de 1925 dá destaque ànova publicação, com palavras de apreço pela sua di-recção: «[…] Recebemos a visita deste novo colega […].Propõe-se defender os interesses da região e apresen-ta-se optimamente redigido […]. Do seu corpo editorialfazem parte homens que muito consideramos e os seusnomes são bem sólida garantia para levar a efeito aqui-lo a que se propõem. […] longa vida ao nosso colega[…]»

O Voz do Povo de 15 de Outubro de 1925, depois detranscrever parcialmente o primeiro editorial, refereos nomes dos principais responsáveis pelo novo projec-to a quem augura longo futuro: «[…] semanário regio-nalista que se propõe servir os interesses desta regiãochamando a si todos os ideais, venham de onde vieremque concorrerem para o seu progresso incessante. […]Longa vida e muitas prosperidades é o que desejamosao novo colega […]».

O Mensageiro é a publicação que mais espaço dedicaao novo semanário, a quem tece rasgado elogio naedição de 10 de Outubro de 1925: «[…] Foi com a maisagradável surpresa que recebemos a visita deste novoórgão de imprensa do Distrito de Leiria […] as Caldasda Rainha não tinham um jornal que levasse com oamor com que os filhos devem amar suas mães, as

boas novas a toda a parte. Vem preencher essa falta a Gaze-ta das Caldas. Com lindo aspecto e magnífica colaboração[…] apresenta-se como um modelo de jornal de província.São seus redactores aqueles que mais têm trabalhado pelasCaldas. Eis a melhor apresentação […]».

É com O Mensageiro, que a Gazeta das Caldas vem aestabelecer uma relação de maior proximidade e colabora-ção.

Na primeira edição da Gazeta há um elogio à publicaçãocatólica leiriense e ao seu director, Padre José Lacerda, pelaatenção dada à vila das Caldas, e na edição de 11 de Outubroo novo semanário caldense adere com entusiasmo à iniciati-va de O Mensageiro, de reunião de toda a imprensa do distri-to, com eco imediato na edição de 17 de Outubro do jornal deLeiria, que transcreve parcialmente o artigo da Gazeta.

Não era fácil a vida dos jornais na época, e os títulos commaior longevidade que se haviam publicado na vila, tinhamsido O Caldense – durante 10 anos (1884–1894), e O Círculodas Caldas – durante 25 anos (1893-1918)

Uma das razões da efemeridade dos jornais tinha a vercom a sua proximidade com interesses e forças políticas, enão será alheia à longevidade da Gazeta a enérgica procla-mação de liberdade feita no seu primeiro editorial: «[…]livre em absoluto, de toda a política de partidarismos, pro-curará servir os interesses da região, chamando a si todas asideias, venham de onde vierem […] torna-se necessário quese abatam bandeiras, que se esqueçam agravos, que se com-partilhe do mesmo afecto […]».

No segundo número, edição de 11 de Outubro de 1925,mantinha-se o tom: «[…] É preciso rasgar ou suprimir vaida-des […] conjugando todos os esforços no sentido da eleva-ção local. Vamos pois a isto. Caminhemos juntos e cumprire-mos a nossa missão […]».

Pela primeira vez, um jornal elege como razão única dasua existência os interesses da vila e da região “porta voz detodos os que amam esta região”, recusa qualquer identifica-ção com qualquer projecto ou partido político, eleva-se as-sim a um estatuto que congrega sem excluir, o do jornal quese identifica sem reservas com a vila e com os interesses dacomunidade, como fica bem patente na pequena notíciapublicada na sua edição n.º 5, de 1 de Novembro de 1925:«[…] A Gazeta das Caldas inaugurou o seu placard luminoso,colocado na Praça da República, que dará diariamente asnotícias de maior sensação […]».

Carlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos QueridoCarlos Querido([email protected])

Zé Povinho tem uma nostalgia muito gran-de pelas festas dos tempos da sua criação ea Feira do 15 de Agosto é uma dessas inici-ativas populares onde se juntam tantos seuscorreligionários.

É pena que o vereador Dr. Tinta Ferreira,que na conversa com a Gazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das CaldasGazeta das Caldas, garante que essafeira não morrerá por sua iniciativa, contudo dá-lhe pouca visibi-lidade e menos atenção.

Nem um cartaz, nem uma sinalética, nem uma mensagempublicitária, lhe dedica, sabendo que a sua prima mais jovem, afeira das tasquinhas todas as atenções recebe do executivo ca-marário.

Zé Povinho lembra-se ainda nos anos 60 do século passado,que a cidade recebia na altura da Feira do 15 de Agosto muitosmilhares de pessoas que animavam toda a cidade, todo o comér-cio citadino, noite e dia, chegando os visitantes aos magotes nostransportes públicos rodoviários e ferroviários, uma vez que nes-se tempo os transportes individuais eram muito reduzidos.

Antes no Borlão, depois na Mata, a seguir na estrada da Foz, ounas traseiras do cemitério ou na zona da Vacuum, a feira do 15 deAgosto foi sendo corrida e afastada do centro da cidade, qualfilha pródiga que não agradava ao pseudo-jet set local.

Hoje consegue sobreviver, apesar de lhe serem negadas ascondições mínimas de afirmação e de imagem, pelo que o vere-ador Dr. Tinta Ferreira devia procurar um pouco dos meios que osseus colegas conseguem para outras iniciativas com menos his-tória, tradição e interesse económico para a região.

O caldense Miguel Duarte escreveu o seunome no mural dos Campeões do Mundo detiro com besta em percurso de caça simulada.Um feito obtido de uma forma pouco conven-cional, já que diversas desistências o deixa-

ram sozinho em prova. Mas não foi isso que tirou brio nem sen-tido competitivo a este atleta do Arco Clube das Caldas, queacabou por abrilhantar o título obtendo o recorde do mundo daprova com 166 pontos, mais 14 que o anterior máximo mundial.

A marca foi possível porque Miguel Duarte só não acertou emtrês dos 48 alvos, numa prova mais forte que a de alguns bestei-ros com armas mais poderosas.

Mesmo tendo em conta esta condicionante, Zé Povinho nãopodia deixar de assinalar esta conquista, não só pelo relevo queé um título mundial, como porque se trata de uma modalidade ede um clube com tradição na cidade, levando já mais de 30 anosde actividade.

Este é, por certo, um forte incentivo para o próprio atleta,assim como os seus companheiros, técnicos e dirigentes do ArcoClube das Caldas continuarem a laborar num cenário que seacentua de falta de apoios.

A Distrital de Leiria da Juven-tude Social Democrata (JSD) es-teve nas praias da Nazaré e SãoMartinho do Porto no passado dia31 de Julho para pedir aos vera-neantes “Uma ideia pela juven-tude”. Uma iniciativa que os ‘jo-tas’ dizem ser “inédita no dis-“inédita no dis-“inédita no dis-“inédita no dis-“inédita no dis-trito”trito”trito”trito”trito”, uma vez que decorreu“sem se vislumbrarem actos“sem se vislumbrarem actos“sem se vislumbrarem actos“sem se vislumbrarem actos“sem se vislumbrarem actoseleitorais a curto prazo, semeleitorais a curto prazo, semeleitorais a curto prazo, semeleitorais a curto prazo, semeleitorais a curto prazo, semse pretender apelar ao voto”se pretender apelar ao voto”se pretender apelar ao voto”se pretender apelar ao voto”se pretender apelar ao voto”.

Com passagem pela Nazaré epor São Martinho do Porto, este“Verão Laranja – Uma ideia pela

JSD nas praias em busca de ideias pela juventudeJuventude” pediu aos banhistaspara darem ideias que possammelhorar a sua rua, a sua cidadee o país. Testemunhos recolhi-dos em vídeo e que valeu aosparticipantes uma almofada in-suflável de praia onde os jovensprometiam “o teu bem-estar é“o teu bem-estar é“o teu bem-estar é“o teu bem-estar é“o teu bem-estar éa nossa preocupação”a nossa preocupação”a nossa preocupação”a nossa preocupação”a nossa preocupação”.

A iniciativa chegou ao fim nadiscoteca Green Hill, na Foz doArelho, com um jantar onde esti-veram presentes Fernando Cos-ta, Presidente da Distrital de Lei-ria do PSD e Duarte Marques,

Vice-Presidente da ComissãoPolitica Nacional da JSD, queaproveitou a oportunidade paravoltar a apelar a um maior en-volvimento dos jovens na políti-ca. A distrital da JSD, presididapor Pedro Pimpão, entende que“ouvir sempre os jovens e“ouvir sempre os jovens e“ouvir sempre os jovens e“ouvir sempre os jovens e“ouvir sempre os jovens enão procurá-los só para osnão procurá-los só para osnão procurá-los só para osnão procurá-los só para osnão procurá-los só para osassediar em climas eleitoraisassediar em climas eleitoraisassediar em climas eleitoraisassediar em climas eleitoraisassediar em climas eleitoraisvai ser sempre um objectivovai ser sempre um objectivovai ser sempre um objectivovai ser sempre um objectivovai ser sempre um objectivodesta distrital”desta distrital”desta distrital”desta distrital”desta distrital”.

No comunicado onde dão con-ta da iniciativa, os ‘jotas’ refe-rem que “com actividades“com actividades“com actividades“com actividades“com actividades

Os ‘jotas’ dedicaram um dia de Verão a recolherem Os ‘jotas’ dedicaram um dia de Verão a recolherem Os ‘jotas’ dedicaram um dia de Verão a recolherem Os ‘jotas’ dedicaram um dia de Verão a recolherem Os ‘jotas’ dedicaram um dia de Verão a recolheremcontributos dos veraneantes, jovens ou não, paracontributos dos veraneantes, jovens ou não, paracontributos dos veraneantes, jovens ou não, paracontributos dos veraneantes, jovens ou não, paracontributos dos veraneantes, jovens ou não, paramelhorar o paísmelhorar o paísmelhorar o paísmelhorar o paísmelhorar o país

como esta, onde se faz políti-como esta, onde se faz políti-como esta, onde se faz políti-como esta, onde se faz políti-como esta, onde se faz políti-ca de forma descontraída, aca de forma descontraída, aca de forma descontraída, aca de forma descontraída, aca de forma descontraída, aJSD pretende sentir e saberJSD pretende sentir e saberJSD pretende sentir e saberJSD pretende sentir e saberJSD pretende sentir e saberquais as reais preocupaçõesquais as reais preocupaçõesquais as reais preocupaçõesquais as reais preocupaçõesquais as reais preocupaçõesdos jovens para que, em sededos jovens para que, em sededos jovens para que, em sededos jovens para que, em sededos jovens para que, em sedeprópria, lhes possa dar voz”própria, lhes possa dar voz”própria, lhes possa dar voz”própria, lhes possa dar voz”própria, lhes possa dar voz”.E fazendo um balanço muito po-sitivo do dia passado nas praiasda Nazaré e São Martinho, “que“que“que“que“quesuperou todas as expectati-superou todas as expectati-superou todas as expectati-superou todas as expectati-superou todas as expectati-vas”vas”vas”vas”vas”, dizem que esta iniciativaé para repetir.

J.F.J.F.J.F.J.F.J.F.