A invasão do “Alemão” nos quadrinhos do Jornal Extra
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A invasão do “Alemão” nos quadrinhos do Jornal Extra
MENDES, Ivanilson de Melo. Especialista em História do Brasil pós -1930 UFF/RJ.
Resumo Ao longo da História os quadrinhos como linguagem de comunicação de massa são usados para entreter, comunicar, informar, representar, justificar e estereotipar de diversas formas os mais variados assuntos e temas. Em novembro de 2011 o Jornal Extra do Rio de Janeiro lançou um suplemento especial em quadrinhos de uma reportagem sobre um ano da retomada do complexo do Alemão pelas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, em um esforço conjunto para restabelecer a ordem depois de uma escalada de violência e de afronta ao estado e a sociedade fluminense. Com base na análise deste quadrinho, a idéia deste trabalho é buscar compreender como se dá a apropriação da linguagem dessa importante linguagem pelo jornalismo e como uma interfere na outra, a partir de suas especificidades e potencialidades, objetiva-se discutir como a reportagem realizada pelo jornal procura informar, representar e ao mesmo tempo estereotipar a população em questão. Buscaremos apontar de onde esta história em quadrinhos consegue legitimidade para reivindicar para si a “verdade” da prática jornalística. Palavras chave: quadrinhos; jornalismo, linguagem , violência
“jornalismo e historiografia são primos - quando se pratica um deles
com proficiência, chega-se inevitavelmente, ao outro.”
Alberto Dines
Os quadrinhos
A contribuição dos quadrinhos aos jornais nos remete aos anos 1900,
a partir dos desenhos Richard F. Outcault, mais precisamente com o personagem “The
Yellow Kid” que se tornou transmissor de mensagens sobre algo que estava na ordem
do dia, de questões do cotidiano e até de questões políticas; segundo Moya, “Por
influência das charges políticas, seu camisolão tornou-se panfletário, portando frases e
criticas do momento, eram mensagens irreverentes, ligando com outro painel
desenhado, sem balões”. (MOYA:1993, p-18), esse tipo de quadrinhos se notabilizou
entre dois grandes da imprensa americana Willian Randolph Hearst e Joseph Pulitzer, a
partir da briga pelos leitores de seus respectivos jornais, The New York Journal e The
New York Journal responsáveis pelo que ficou conhecido como Imprensa Amarela, por
conta do conteúdo sensacionalista de suas matérias; é correto afirmar que Outcault deu
forma definitiva e continuada ao fenômeno que outros artistas fizeram no passado,
dando inicio ao nascimento da linguagem dos quadrinhos como conhecemos hoje,
Existem várias definições1 do que sejam as histórias em quadrinhos, para Cirne
“Os quadrinhos são uma narrativa gráfico visual, impulsionada por sucessivos cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e ou pintadas, onde o lugar significante do corte – que chamaremos de corte gráfico – será sempre o lugar de um corte espácio-temporal a ser preenchido pelo leitor” (CIRNE, 2000 p.22)
1 Cohen (1970) diz que as HQs são um conjunto e uma sequência, com isso o que faz do bloco de imagens uma série é o fato de que cada quadro ganha sentido depois de visto o quadro anterior, já McCloud (1995) fala que as tentativas de se definir histórias em quadrinhos são fadadas ao fracasso, pelo fato de que esse tipo de linguagem ainda estaria em pleno processo de evolução, ele aponta de maneira genérica que as HQs são: Imagens justapostas em sequência deliberada , destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no expectador/leitor.
O desenhista de quadrinhos necessita da percepção de uma narrativa, o
que faz do quadrinho uma arte seqüencial, com imagens que se ligam a outras imagens,
fazendo com que os quadrinhos sejam uma forma de comunicação instantânea e
universal. Com isso os quadrinhos estão sujeitos a passos comuns no processo de
criação e de produção de qualquer obra, tal como o objetivo, a idéia principal como
primeiro impulso a ser relacionado, depois temos a forma que ele terá, qual será o
gênero da obra, a estrutura para definir o que será incluído, o que ficará de fora, como
será a composição do quadrinho e por fim, que competências serão necessárias para a
execução da obra.
Atualmente o grande expoente em fazer reportagens em quadrinhos é
o jornalista e quadrinista Joe Sacco com obras sobre a guerra da Bósnia, mas
principalmente com o aclamado Palestina vencedor do prêmio Pulitzer, o maior prêmio
de jornalismo dos Estados Unidos, e o prêmio Will Eisner, que muitos comumente
chamam de o “pulitzer” dos quadrinhos, Edward Said,(2003) fala sobre a obra de
Sacco2 e diz: “Estas sequências de desenhos, palavras repletas de convicção por vezes
grotescamente exageradas, enfatizando o absurdo das situações, são um excepcional
corretivo para nosso mundo de sobre-exposição midiática”José Arbex Jr (2011) também
comenta a obra de Sacco,“prova que não só é possível como em certos aspectos, sua
reportagem em quadrinhos é bem mais eficaz do que o tradicional texto jornalístico ou
mesmo histórico/acadêmico”.
Tanto Said quanto Arbex, parecem dizer que os quadrinhos oferecem
uma proposta de ampliar a compreensão dos discursos, sem os receber de maneira
limitada, pois sua linguagem implica palavras, gestos, entonações, expressões além de
que e principalmente nela estão inseridas as imagens3, como formadoras de um texto,
não limitando sob forma alguma suas possibilidades e potencialidades.
2 O trabalho de Joe Sacco com quadrinhos e jornalismo por si só já daria um trabalho único. Entretanto o interesse maior de nosso trabalho é o inverso é o jornal produzindo quadrinhos como reportagem, noticia. 3 Joly (2007) sobre as imagens diz: Considerar a imagem como uma mensagem visual composta de diversos tipos de signos equivale, a considerá-la como uma linguagem e, portanto, como uma ferramenta de expressão e de comunicação.
O Jornal
O sucesso dos quadrinhos através dos tempos nos jornais, é o reflexo
direto da adaptabilidade dos mesmos as mudanças sociais e da capacidade de
transportarem para si, todo e qualquer tema, os quadrinhos marcaram a historia do
século XX e, para chegar à forma que conhecemos, acompanharam toda espécie de
evolução, sofreram influências, mas forneceram nas últimas décadas subsídios para
todos os meios de comunicação e linguagens. Análogo a isto tivemos uma mudança
significativa no paradigma da leitura coletiva para a individual, antes era alguém que lia
para muitos ouvintes, ora apresentando algo seu ou retransmitindo o de outro, quando
essa pratica se torna privada e individual, em grande medida através do jornal, essa
realidade muda de modo a que
“A leitura do jornal, como ato cotidiano e institucionalizado na vida social, permite a naturalização deste universo de valores, até incorporá-lo como modelo “inconsciente” de percepção dos fatos, inclusive extrapolando-o para o real extra-jornalístico: a vida do leitor, que em parte cai sob a determinação do que ele lê” (SERRA:1979, p-24)
Partindo da idéia de que o jornal busca produzir um efeito de
representação de realidade, ou seja, se impor como meio através dos quais os fatos,
noticias seriam transmitidos ao seu público, Dines (1986) aponta que o jornal é, ao
mesmo tempo, espelho e miragem da sua audiência, caricatura e ideal de seus leitores,
com isso percebemos que por mais que a noticia, reportagem e matéria tenha em si um
objetivo, uma idéia que se pretenda hegemônica, esse momento é de “via dupla” não há
“inocentes” nessa relação, e ao mesmo tempo, que o jornal demonstre querer chegar em
algum lugar, esse mesmo lugar em certa medida é reflexo direto dos desejos de sua
audiência, isto é, para Muniz Sodré “são fantasias do real, alucinações da História, pois
a informação é sempre construída pelo próprio mass-medium4 e de uma maneira
essencialmente mágica” e como todo o campo
“O jornalístico é um espaço social, desse espaço participam agentes socialmente autorizados à produção de certo tipo de relato de atualidade.
4 Ver comunicação de massa
Um espaço de relações especificas, definidoras de posições sociais propriamente jornalísticas” (FIALHO, In VILLAÇA, 2010, P-32)
Não há noticia ou informação gratuita, em um texto jornalístico tudo é
muito bem pensado e esquematizado de maneira se chegar a um objetivo ou
expectativas, a partir de determinadas demandas, sob pena de se desviar a atenção de
seu público alvo, nesse sentido a noticia é uma reação de um fenômeno social dado,
“mas não sua tradução objetiva, imparcial e descomprometida de fato ou uma situação
qualquer” nesse momento estamos falando de ideologia para se definir um discurso, e
para Abreu (2000) “não há discurso sem sujeito, nem sujeito sem ideologia” o que nos
leva ao fato irrefutável de que, não há discurso jornalístico sem ideologia.
O Jornal Extra
O jornal Extra foi lançado em 1998 pela empresa Infoglobo que por
sua vez também é responsável pela edição do jornal O Globo, é um dos jornais mais
populares do Brasil, tornando-se um fenômeno de vendas nas bancas, o nome do
tablóide foi escolhido por meio de uma promoção, onde o vencedor receberia um carro,
a idéia original do projeto Extra, era criar um jornal que se aproximasse de um público,
com preço acessível, linguagem simples que ajudasse o leitor a compreender a realidade
que o cerca, Dines em seu clássico livro “O Papel do Jornal, uma Releitura” fala de
circunstância e substância como complemento uma da outra e não como seu oposto
direto, e nos jornais que se destinam a uma camada mais popular da sociedade incorrem
comumente no erro de não se aterem em substância como norteador de sua linha
jornalística, a circunstância define seu trabalho, mas
‘Quando se buscam circunstâncias irrelevantes e impertinentes então, sim, temos um jornalismo superficial. Quanto menos profunda for a investigação das circunstâncias, quanto menos cruciais forem as situações e condições apuradas relativas ao evento, mais perecível será este jornalismo” ( DINES, 1986 P.18 )
A generalização é a tônica dos jornais ditos “populares” a sua opinião
não assume uma forma doutrinaria de maneira enfática, na realidade ela “passeia” de
modo a acomodar todas as vertentes de pensamento desse público, ao mesmo, tempo
que remete uma opinião a ser observada e aceita pelos leitores, existe a preocupação de
não deixar sair outras possibilidades que criem dúvidas, suas temáticas por serem
populares são flexíveis o que não carecem de um aprofundamento mais rigoroso, e é
justamente esse posicionamento que mantém o equilíbrio ao “estar sempre ao lado do
povo”, como principio norteador.
O Fim
A reportagem em quadrinhos objeto desse pequeno estudo, saiu no dia
24 de novembro de 2011, um ano após a invasão do complexo do Alemão e da Vila
Cruzeiro, pelas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, após um escalada de
violência desenfreada com ataques perpetrados pela facção auto intitulada comando
vermelho, ataques esses que consistiam basicamente em incendiar carros e ataques
esporádicos a agentes das forças de segurança, basicamente policiais. A reportagem saiu
em formato de tablóide, dentro da edição diária, ele é composto de 16 páginas e abre
com a imagem que ficou icônica e representativa do que segundo o jornal Extra, foi
“O fim, O dia em que a bandidagem do Rio perdeu a fama de valente”.
Não iremos reproduzir e analisar todas as imagens, apenas as que de
uma maneira clara, defina a reportagem e sejam significativas dentro do imaginário que
se formou com o episódio e que apontem questões levantadas pelo trabalho em questão,
Fig 1
A capa é a única página que não é colorida, a idéia dela ser assim nos
remete ao “horror” que a policia impeliu aos bandidos que sempre foram os soberanos
de sua região e eles que causavam horror e medo à população em geral, os olhos
esbugalhados e amedrontados nos remete as sensações de Munch com seu quadro O
Grito, onde todo o desespero humano é simplificado em uma imagem artística, e sim,
podemos relacionar aos quadrinhos desenhados por Joe Sacco em seus albuns
Palestina, Faixa de gaza, nele se percebe elementos de suas obras em toda reportagem
do Extra determinando que o desenhista Allan Alex se inspirou em Joe Sacco.
Na segunda página temos como o jornal vê seu próprio trabalho como linguagem
jornalística e como irá contar a história de uma maneira diferente, nessa página em
questão abre da seguinte forma, com o titulo. “ALEMÃO: nós contamos assim”
Abaixo temos a reprodução de três capas do Jornal Extra, a primeira falando dos
ataques criminosos e as duas seguintes mostrando a “vitória” das forças de segurança e
da sociedade sobre o crime. Abaixo dessas páginas temos uma descrição de como a
reportagem em quadrinhos foi realizada. Com o titulo: “AGORA é uma outra história”
uma clara alusão que o Jornal irá contar a história sob uma nova perspectiva, seja ela de
contexto de derrota dos bandidos seja de outra linguagem, então temos uma
amostragem com os números todos superlativos dos homens, armamentos, blindados,
carros de combate, um mapeamento da região com população e casas das áreas do
conflito, para logo em seguida o Jornal dar seus número,s para a produção da
reportagem que também são superlativos no total foram, “13 pessoas envolvidas no
projeto, durante 47 dias, oitenta e nove personagens entre autoridades, policiais,
militares, moradores que foram entrevistados, a leitura de mais de 630 páginas, de
processos documentos e rascunhos, 74 horas de gravação de vídeo e áudio, fizeram 257
fotos” Ou seja, o empenho para se produzir um quadrinho de apenas dezesseis páginas
foi hercúleo e precisou de uma estrutura de acordo com o tema proposto, e a violência
na ordem do dia e nos meios de comunicação, por isso
“Este é um dos efeitos de noticias de violência, nas quais os crimes, além de terem características espetaculares, são apresentados de forma espetacular, e uma das mensagens veiculadas, pode ser a de que dificilmente teremos meios de escapar da violência” (SZPACENKOPF 1997, P.43)
De certa maneira Szpacenkopf defende que a mídia se
aproveita da violência existente, “justamente porque esta interessa ou se faz interessar
ao espectador, o qual carrega consigo ingredientes que podem facilitar a ligação com
atos violentos”.
Na pagina n° 3, temos a representação dos ataques e do inicio de
cooperação entre os poderes policiais e temos a representação da figura de um bandido
que estará presente em todo o quadrinho reportagem, um homem negro sem camisa e
magro, como se estivesse desnutrido
Fig. 2
Como linguagem de quadrinhos, a reportagem está um pouco longe do
que o meio comporta nos dias de hoje, ela está mais para uma história ilustrada de um
acontecimento, ela não tem personagens fixos com histórias definidas, os diálogos são
transcrições das imagens em questão, e muito das imagens do quadrinho, são
representações de imagens veiculadas pela televisão durante a cobertura da invasão,
tanto na página 4 quanto na página 5, não houve uma preocupação em criar algo
especificamente para o quadrinho, mas isso já estava determinado quando o mesmo
jornal abre reportagem com o aviso de que “agora a história é outra”, mas acaba não
acontecendo ou mesmo não trazendo nada de novo que não estivesse estado na mídia
em geral, inclusive em suas próprias páginas de cobertura jornalística, em tese é o tipo
de quadrinho que foi produzido, e muito difundido nos anos 1950, pela editora Ebal,
intitulado “Grandes Figuras” que eram biografias de políticos personalidades da vida
nacional, além de escritores ou de adaptações de livros clássicos da literatura brasileira.
Já na pagina 6 fig. 3 temos a imagem que define todo o quadrinho reportagem.
fuga dos bandidos em rede nacional ao vivo foi escala menor o mesmo que o 11 de
setembro para Nova York, essas imagens colocaram na ordem do dia, como tudo estava
fora da ordem naquela localidade da cidade como um micro cosmo que se repete em
outras comunidades dominadas pelo tráfico de drogas, por mais surreal que pudesse ser,
estávamos ali vendo em rede nacional o deslocamento de foras da lei, que durante anos
estiveram a margem do Estado e naquele momento esse mesmo Estado tentava por fim
aquela situação de estado paralelo ao Estado de Direito, mais uma vez temos a
representação dos bandidos, negros sem camisa e com tarja nos olhos revelando ser
menor perante a justiça, mas a imagem mais significativa, são as televisões mostrando
as cenas da fuga espetacular do complexo do alemão para a vila cruzeiro, e os
espectadores a frente das televisões estão atônitos, como se não acreditassem no que
estavam vendo, tanto pelo imaginário que sempre se criou da invulnerabilidade dos
bandidos em suas comunidades, como no surrealismo da situação.
“A violência é antes de mais nada um componente natural da relação entre as pessoas inscrita em seu cotidiano e resultante da natureza “selvagem” de seu meio social. O mundo legal pratica um conflito enxuto, asséptico e justificado; o mundo do desvio está entregue à violência, nela chafurda como norma de vida.” (SERRA 1980, p.55)
Serra aponta que o caráter dessa violência “está em sua apresentação da realidade
cotidiana como consistindo de episódios” onde essa mesma realidade é aceita de
maneira letárgica e sem muita possibilidade de mudança por parte da população
oprimida.
Szpacenkopf afirma que o Jornal, “participa da divulgação maciça e detalhada dos atos
de violência iluminando e colocando o olhar sobre pessoas e fatos” lhes conferindo uma
notoriedade , mesmo que efêmera , o que confere um aspecto perverso na cobertura
violência pelos meios de comunicação, primeiro ao naturalizar essas noticias como algo
inerente àquelas comunidades imersas em uma disputa por autoridade entre o Estado de
Direito e pelos criminosos que fazem dessas comunidades seus redutos de violência
Se pensarmos que tudo isso ocorre no “coração” de uma grande cidade brasileira em
pleno século 21, as vésperas de grandes eventos internacionais ,Copa (2014) e as
Olimpíadas (2016) e todas essas imagens sendo transmitidas e tempo real para todo o
mundo, faz com que a percepção dessa situação seja de perplexidade, como o desenho
sugere, desenho esse que é baseado em imagens capturadas pelas redes de televisão, e
estão em um veiculo de informação impressa, ou seja, o Jornal e tudo isso na forma de
quadrinhos, é a metalinguagem5 levada ao extremo nesse momento único da
‘”reportagem jornalística em quadrinhos”.
a página 11, fig 4 temos como os setores de segurança brigaram pela
hegemonia por um lugar de destaque da operação de retomada do complexo e da vila
cruzeiro, existe uma clara preocupação entre a Policia militar e a Policia civil, para
saber quem “colherá os frutos “ da invasão, promocionais e como foi descoberto depois,
financeiro, por conta da “banda podre” das duas corporações.
Fig. 4
5 Segundo Rabaçã e Barbosa (1987) metalinguagem e a linguagem utilizada para estudo e descrição da própria linguagem,. A linguagem com que se estuda um determinado sistema de signos.
A reportagem em quadrinhos se encerra com imagens que remetem a normalidade, de
uma época em que as coisas eram mais tranqüilas em uma comunidade que outrora era
foi dominada pelo tráfico, mas ao mesmo tempo as imagens dizem que as coisas não
são bem assim
Fig. 5
No primeiro quadro temos alguém carregando um botijão de gás, que reforça a idéia de
volta a normalidade, mesmo que tensa, é um retorno de uma tranqüilidade para fazer
coisas simples do dia a dia, mas ao mesmo tempo nesse mesmo quadro temos uma
imagem que por muito tempo esteve presente no imaginário relativo as favelas
dominadas pelo tráfico, que é o rapaz parado na subida do morro de braços cruzados, o
que demonstra que ele não está indo e nem vindo de lugar algum, ele está ali para
esperar alguém, e esse alguém pode ser o menino branco e louro com algo na mão que
pode ser interpretado como dinheiro indo ao encontro do rapaz parado nas escadarias
para comprar drogas, movimento que mesmo com a “saída” dos bandidos continuou,
segundo a policia, lembra um trecho da música “mais do mesmo” da Legião Urbana,
que diz: “Ei menino branco, o que é que vc faz aqui, subindo o morro pra tentar se
divertir (...) “ e impossível não notar o vistoso par de tênis nos pés do rapaz parado nas
escadarias. Os dois últimos quadros reafirmam que nem tudo foi resolvido, e que o
trabalho está apenas começando, um jovem com um celular na mão e uma faca na outra,
mas no quadrinho seguinte se explica, por se tratar de um churrasco, de uma
confraternização dos moradores, encerrando com a música “Hey Joe” da banda O
Rappa, o quadrinho encerra demonstrando que todos os agentes necessários para o
retorno à antiga realidade estão presentes, e se o Estado não fizer sua parte tudo
retornará ao que era.
Conclusão
o ponto de vista da linguagem dos quadrinhos, o suplemento do Jornal
Extra, alcança os objetivos pretendidos, não há uma pretensão em suplantar a
tradicional reportagem jornalística, por uma história em quadrinhos, a idéia de usar a
linguagem é tornar a leitura mais leve, tentar o maior número possível de leitores por ser
uma leitura que muitos consideram fácil, muito embora alguns códigos sejam
necessários para uma boa compreensão da linguagem, e isso é atingido, não há no
suplemento nenhuma imagem de morte, muito embora elas tenham ocorrido durante o
evento da invasão o que define de maneira clara que o suplemento foi pensado para
todas as idades, inclusive as crianças, tanto pelo seu teor como por ser quadrinhos,
linguagem ligado diretamente ao mundo infantil, muito embora todos os elementos do
quadrinho tradicional como linguagem não estivessem presentes, a informação que se
pretendeu passar obteve êxito, e, é o que se espera de uma linguagem como os
quadrinhos que para além do caráter de diversão também pode ser informativo e a
importância do Jornal como meio de comunicação.
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