A Insígnia de Claymor - Publicar seu livro agora ficou ... · A Billy Alexander que me deu a capa,...
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Todos os direitos reservados.
Esse livro não pode ser reproduzido sem a prévia
autorização da autora.
Autor: Josiane Biancon da Veiga ISBN: 978-85-8045-199-3
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Agradecimentos
Meu muito obrigado a todos os leitores que me
apoiaram até a chegada da segunda edição da Insígnia de
Claymor.
A quem compra os livros, apoiando o autor
nacional e aos blogueiros que resenham e divulgam nosso
trabalho.
A Billy Alexander que me deu a capa, Melissa
Araujo pela capa da primeira edição que agora é
contracapa.
Minha mãe porque sempre arruma tempo para
sentar ao meu lado e ouvir minhas ideias, e as apoia,
mesmo que o resto do mundo torça o nariz.
A Deus, principalmente, porque me entende e
demonstra todos os dias o seu amor incondicional. Mesmo
que A Insígnia de Claymor critique, dentro de seus limites,
a religiosidade hipócrita, creio piamente num Deus
criador que sempre está ao meu lado, aconselhando e
amando-me.
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“(...) Espere por personagens tão peculiares que você terá
dificuldades em amá-los ou odiá-los, e aguardará ansiosamente pelos
próximos acontecimentos.”
Azarella - Leitora do site Nyah
“A história tem uma narrativa bem desenvolvida com um
enredo contendo ações, emoções e certa tensão dramática que não
passa despercebida pelo leitor. É um romance que em seu contexto
aborda assuntos polêmicos, com personagens ousados, que justificam
seus atos em nome do amor. Sem notar, o leitor fica
irremediavelmente apaixonado pelo enredo e seus personagens.
Amando certos personagens que o natural seria odiar, detestando os
que na adequada maneira de se viver deveriam ser amados.
Impossível ler a trama e não se emocionar com o desenrolar do
romance.”
Diorhe – Leitora.
“Foi formidável do começo ao fim. Desatou tudo de uma vez,
de uma forma magistral.”.
Amanda Catarina – Leitora
“Forte e intenso”
Regina Polli, leitora.
“Enredo polêmico e alguns personagens, mais ainda. Tudo
mostrado de forma tão genial e fascinante que, mesmo quando
tentamos odiar alguns deles, não conseguimos. Recomendo para
todos os amantes de romances, enredos maduros e bem feitos. É uma
história linda.”
Lady Myh Lee – Leitora.
"Uma história emocionante e surpreendente, que quebra
inúmeras barreiras morais e convencionais. Com personagens
complexos e humanos. Leia e surpreenda-se!"
Luciane Rangel – escritora.
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UM BREVE PREFÁCIO
Não é de hoje, mas acredito que Josiane Veiga sempre
foi e será sinônimo de “qualidade”. Uma promessa dentro de
uma promessa. É assim que vejo o empenho dela em suas
histórias – algo que sinceramente me orgulha e me assombra na
mesma medida –, sempre tão bem escritas e pensadas. Uma
história tem alma; e é exatamente o que você vê nas dela.
Dentre tantas obras maravilhosas que essa moça – que
me deu a maravilhosa oportunidade de estar escrevendo um
prefácio para uma obra dela, uma de suas mais ousadas –
escreveu em seus mais de dez anos de carreira, está “A Insígnia
de Claymor”.
Josy, como costumamos chamá-la em nosso modesto
círculo de amigos igualmente escritores, tem um dom que
acredito que sempre esteve com ela, mas que ela só começou a
descobrir e lapidá-lo muito tempo depois: um dom de chocar.
Não um choque bruto e puro, mas igualmente inesquecível e
avassalador. É um choque em doses homeopáticas, algo que vai
crescendo à medida que capítulos se desenrolam. Eu diria, um
“choque com classe”.
Nesta sua obra – que, de novo, eu ouso afirmar que é
uma de suas mais ousadas criações –, tudo converge exatamente
para isso: para um choque.
A própria idéia do livro é, pensando bem, bem pouco
comum para um romance e, em verdade, para histórias em
geral: é um triângulo amoroso, marcado pela vingança e pelo
incesto, e por uma família cuja história sangrenta não poderia
trazer nada mais senão isto, o caos.
Tudo em “A Insígnia de Claymor” grita a dedicação
que a autora teve para com sua obra e seus personagens, bem
como deixa entrever um espírito de tragédia iminente que
perdura a Primeira Parte inteira.
É um romance onde ambos os lados – bem e mal –
perdem completamente a utilidade (se é que, algum dia,
tiveram-na). Personagens encontram e desencontram-se,
envoltos em uma teia de intrigas e paixões avassaladoras. Não é
uma história comum e, sem dúvidas, também não é uma obra
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que deva ser esquecida. Todas estas pessoas estão vivas, no
sentido mais puro e certo da palavra, tanto na imaginação da
autora quanto na do próprio leitor. Eles vivem, e você pode
sentir a vida de todos.
Algo que, como leitora e amiga, gosto na Josy é a sua
capacidade de ignorar completamente “bons costumes”. Nesta
obra, particularmente, ela joga o bem e o mal existente em cada
pessoa na cara de todos, de uma forma que, como disse antes,
choca, mas choca de uma forma positiva, instigando a ler mais.
A realidade de “A Insígnia de Claymor” não poderia
ser mais crua e, também, mais certa: não existem lados.
Existem vencedores e perdedores, e os vencedores
escolhem o lado que deve prevalecer. É uma obra, muito mais
do que filosófica e um nível completamente novo e delicioso,
realista.
A paixão da autora Josiane por sua história também se
mostra em outros níveis bem mais íntimos: os personagens.
Pequenos detalhes fazem deles tão humanos quanto eu
ou você. Não só as paixões, o ódio que carregam no coração, a
fome de sobrevivência em um mundo feito de regras duras
como aço, onde a hipocrisia e o poder andavam de mãos tão
dadas que a verdade e a mentira eram somente faces de uma
mesma moeda (e, em verdade, sempre foram, naquela época e
nessa). Os encontros e desencontros, o passado e as vivências
que moldaram o caráter de todos, e a capacidade incrível de
guardarem dentro de si o bem e o mal tão perigosamente
próximos que nos cativam de uma forma que nos deixa
impossibilitados de “escolher um lado”.
É uma obra viciante como uma droga, bela como uma
flor e violenta como uma tempestade.
E, mesmo assim, é um epítome de toda a carreira
literária de Josiane Veiga, compilada de uma forma tão
perfeitamente assombrosa que, mesmo hoje, ainda não acredito
como ela foi capaz de sequer pensar em algo tão genialmente
perigoso.
“A Insígnia de Claymor” é uma história de personagens
que atravessam as gerações, desafiam o próprio tempo; porque
nós, leitores da era moderna, podemos sem problema nos
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vermos nas atitudes e mesmo sentimentos deles, personagens da
infame Idade Média.
É um épico, algo que só se pode compreender enquanto
se lê e confirma com os próprios olhos.
Portanto, caro leitor, tenha a honra de saborear uma das
idéias mais ousadas – não só desta autora, como, acredito, da
própria capacidade da imaginação humana.
Melissa Araujo
Escritora
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Prólogo
Final da Idade Média, Europa.
s gritos repetiram-se durante toda à tarde e
noite. Eram agonizantes, lamuriosos e
demonstravam com realidade a dor que Lady
Josephine sentia. O som seco e constante fez o castelo de
Claymor cair em um silêncio sepulcral.
Na antessala do castelo, uma dupla de homens sentava-
se próximo a uma lareira. Nenhum dele tecia nenhum
comentário sobre a dor da mulher e nenhuma emoção partia da
parte masculina perante o sofrimento da Lady que gemia no
quarto.
Ao lado da cadeira do Lord, uma criança de cinco anos
observava a frieza dos adultos. O menino era loiro e de intensos
olhos azuis. Seu aspecto era idêntico ao da mãe, Natasha, russa
que veio de suas terras para se casar com Albert, o imponente
homem que bebia ao seu lado.
Albert Claymor amou Natasha e amava seu herdeiro
com a intensidade de um homem de sangue quente. Mas o
destino quis que a bela e loira russa viesse a falecer num
acidente com os cavalos. Dois anos depois ele se casou
novamente, mais para satisfazer os desejos da carne do que por
amor ou pelo dinheiro que o pai de Josephine lhe oferecera.
Apesar da independência, Albert nunca se sentiu a vontade para
procurar aliviar sua tensão sexual na vila, portanto a única coisa
a fazer seria arrumar uma esposa.
Conheceu Josephine na corte francesa, e notou que
poderia desejá-la. A jovem mulher tinha cabelos tão vermelhos
quanto o sangue e olhos tão azuis quanto o céu ao amanhecer. E
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era tão pacifica quanto uma morta. Nunca se negou a nada, e
quando engravidou, mal sorriu.
-Acho que ela vai morrer... – murmurou ao homem a
sua frente.
-É o primeiro filho dela. O primeiro parto é sempre
difícil – respondeu Adam, amigo e leal cavaleiro que servia a
Albert.
Os olhos de Lord Claymor demonstraram descrença.
-Josephine é mais frágil que uma pena. Tenho certeza
de que não aguentara parir um bebê. Eu a avisei de que se
protegesse com as ervas para não ficar prenhe, mas ela não me
ouviu. Não queria mais um filho, pois já tenho um herdeiro –
falou e apontou com a cabeça o menino loiro.
Alexei Claymor, a criança, tentava compreender porque
seu pai aparentava não se importar com Josephine, já que a
madrasta era uma boa pessoa. Sem sucesso, apenas foi ao colo
de Albert como se precisasse saber se o pai mantinha com ele o
mesmo sentimento que nutria pela madrasta.
Para seu alívio, o homem de cabelos escuros sorriu ao
notar o menino no seu colo. Não... ele não amava Josephine,
mas idolatrava Alexei. Seu sangue e sangue de Natasha!
Um grito mais agudo encheu o ar, e então houve
silêncio. Parecia que na sala todos ficaram aliviados ao notar
que não mais Josephine os incomodava com sua dor. Ninguém
se levantou para ver o que tinha acontecido; portanto, o garoto
estava curioso.
Demorou cerca de cinco minutos até alguém se
aproximar. A velha parteira do vilarejo foi caminhando em
direção aos homens. Alexei assustou-se imediatamente ao vê-la
coberta de sangue e então se apertou mais ao pai.
-Milady não resistiu – balbuciou a mulher.
Albert pegou um cálice com rum que estava em uma
mesa ao lado e bebeu tranquilamente. Nenhuma palavra nem
gesto. Quando por fim se pronunciou, perguntou:
-E a criança?
-Está viva.
O Lord não sabia se ficava aliviado ou não com a
informação. Retirando o menino de suas pernas, ele se levantou.
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-É um menino? – perguntou esperando uma boa notícia.
-É uma menina.
Segurando um palavrão que dançou em seus lábios,
Albert olhou para o amigo Adam que erguia as sobrancelhas
esperando uma ordem. A ordem não veio.
-Uma menina! Era só o que faltava! Por que Deus me
enviou uma menina? Um filho mais jovem eu poderia mandar
para as guerras ou entregar a Igreja, mas uma filha só me trará
problemas. Terei que criá-la para depois entregá-la a qualquer
homem que a vai tratar como todos os homens tratam as
mulheres: como cães!
Sem entender o porquê, Alexei sentiu que não queria
que a menina fosse tratada como um animal.
-Isso se o marido não bater nela. A Igreja até está
apoiando essas atitudes para que o homem mantenha o controle
de sua casa – completou Adam, secamente.
Albert caminhou até uma janela e observou a noite que
se tornava cada vez mais densa.
-Milord deseja que eu me desfaça da menina? –
perguntou a velha, sem piedade.
Pratica comum, ele sabia. Mas era religioso. Um
intelectual que estudou grego, latim (obviamente escondido dos
padres e escribas) e aramaico não poderia se fazer de
desentendido quando se encontrasse com o Todo Poderoso no
juízo final. Além disso, temia os castigos que Deus pudesse lhe
enviar se mandasse matar a menina.
-Não. Arrume uma ama de leite.
A ordem foi acatada com servidão. Agachando-se a
mulher retirou-se do aposento.
Voltando para a mesa a fim de beber mais, Albert não
notou que o menino Alexei deixou a sala e seguiu a velha
corcunda.
Os passos o levaram até o quarto de Josephine.
Assustado ele viu a madrasta atirada sobre a cama, os olhos
abertos e marcas de lágrimas em sua face. Mesmo ainda
inocente demais para entender a morte e a maneira como a
madrasta veio a falecer, Alexei sentiu piedade. Quis se
aproximar, mas lhe faltava coragem. Foi neste momento que a
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velha parteira notou o menino. Pela primeira vez naquele dia,
ela sorriu.
-O jovem Lord Alexei quer conhecer sua irmã?
Sua irmã?
Um tanto receoso, aproximou-se da velha e observou
que a mesma tinha um embrulho nas mãos. Era uma criança que
chorava baixo, e mexia as mãos como se procurasse por algo.
Quando a parteira curvou-se, ele viu o pequeno ser,
inteiramente vermelho e tristonho.
Completamente só e desamparado.
E, naquele momento, Alexei a amou.
E não foi um amor fraterno.
Era um amor de homem para com uma mulher.