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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 -
A inovação publicitária nas redes sociais
Nelly Medeiros de Carvalho 1 (UFPE) Rebeca Lins 2 (UFPE)
Rita de Kássia Kramer Wanderley3 (UFPE)
Resumo:
A linguagem publicitária tem como tarefa informar as características dos
produtos e esta função objetiva é aparentemente sua obrigação
primordial. Porém a linguagem passa da informação à persuasão clara e
depois à persuasão subliminar. Com o advento da mídia informatizada,
uma tempestade revolucionária formou-se ante ao campo das
comunicações. O objetivo do presente trabalho é analisar como a
publicidade utiliza a internet/ redes sociais para a divulgação de seus
produtos, simplesmente pelo fato de que este “meio comunicativo” veio
transfigurar a cultura e a forma como vivemos em sociedade. Para tal,
utilizaremos o Twitter, o Orkut e o Facebook como fontes de pesquisa.
Para efetivar este trabalho, analisamos as publicidades numa perspectiva
sincrônica e das relações entre língua, história, cultura e sociedade,
compreendendo o discurso como um modo de representação social e de
ação sobre o mundo e sobre o outro.
Palavras-chave: Redes Sociais, Publicidade, Sociedade.
Abstract:
The advertizing language has as its aim to inform the products
characteristics and this objective function is, apparently, its main
commitment. Nevertheless, language goes from information to persuasion
and then to subliminal persuasion. With the turning up of digital media, a
revolutionary storm has been formed before communications field. The
aim of the present work is to analyze how advertisement uses the Internet
/ social networks for the diffusion of its products, simply by the fact that
this “communicative means” came to change culture and the way we live
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in society. Therefore, we will use Twitter, Orkut and Facebook as research
sources. To make this work effective, we have analyzed the
advertisements in a synchronic perspective and the relations among
language, history, culture and society, understanding discourse as a means
of social representation and action upon the world and the other one.
Key-words: Social Networks, Advertisement, Society.
Introdução
As mensagens publicitárias, fáceis de serem compreendidas, adulam a
preguiça do público e induzem-no à passividade, nos meios audiovisuais, como a TV
e a internet. São levadas até seus olhos e ouvidos gratuitamente (na aparência,
pois no final é o consumidor quem as paga).
Segundo Georges Friedmann (1974), o visual /icônico da publicidade, no que
tem de artístico, está a serviço de algo e não apenas serve para ser admirado pela
beleza ou inteligência da mensagem. Todos os meios são usados para captar o
olhar e a atenção do usuário e levá-lo a aderir à proposta que o intima.
A publicidade, de um modo geral, e nas redes sociais da internet, de modo
específico, faz parte do arsenal de pressões cuja eficácia determina a parte de
cada um dos competidores no mercado. Os métodos usados fazem parte de uma
disputa entre vários produtores para assegurarem a mais forte influência
psicológico-afetiva, para imporem produtos (inicialmente) considerados supérfluo,
fúteis, fazendo os consumidores irem a reboque das novas necessidades.
E nas redes da internet, nos sites de compra, unificando a sedução (rápida) e
a aquisição num mesmo impulso, no mesmo ato. A promoção econômica ganha ares
de feito patriótico, humanitário, necessário ao crescimento econômico , mas
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esconde na verdade uma disputa de mercado e uma guerra de produtores, pela
maior parte do bolo.
Na mídia eletrônica o que existe de mais avançado para divulgação e venda
de produtos - o seu discurso assimila uma retórica imemorial, concebida outrora
pelo grego Górgias, como “usuária da persuasão que faz acreditar, mas não da que
faz saber”. Informar e persuadir medem forças nessas mensagens onde sai
vitorioso o último.
Podemos dizer a priori que os conceitos de publicidade e informação não se
recobrem exatamente, sobretudo a informação econômica, porque o objetivo da
primeira ultrapassa a pura racionalidade econômica. No anúncio, o valor
econômico /monetário é procurado e diz-se em filigrana, pela mediação da
cultura, pela manifestação simbólica do sistema de costumes, pela limitação dos
suportes.
O objetivo expresso do anúncio (bem /serviço/ marca) sempre aparece, mas o
objetivo oculto é definido pelos receptores a quem trata de atingir, a quem o
anúncio fala de si mesmo ( do público –alvo) e em sua língua.
Para atingir o objetivo, todos os meios são válidos: o lirismo, a pirueta, o
erotismo, mas também a mistificação, a chantagem, o cinismo, tudo menos valores
ultrapassados como a poupança (por se opor ao gasto perdulário) ou o pudor (por
se opor à erotização). Deve conter um apelo facilmente reconhecido e realizável.
O discurso publicitário tem as características específicas da sociedade na qual
se insere e é o testemunho autorizado dos imaginários sociais no contexto
envolvente, revelando o funcionamento cultural.
Com uma visão crítica do tema, Fairclough (1990) julga haver correspondência
entre análise do discurso e análise da sociedade, pois há características da
sociedade capitalista moderna que se refletem na ordem dos vários discursos que
por ela transitam. Estas sociedades são marcadas por um alto grau de integração
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das instituições sociais para manter a dominação das elites,tendo este fato sua
correspondência no discurso.
Quando o discurso legitima esta dominação existente nas relações sociais, ele
está legitimando também a colonização de uma classe por outra.
O discurso publicitário seria um exemplo, por informar a população sobre os
bens de consumo da sociedade capitalista, servindo de elo entre ambos, com uma
função incentivadora.
Confirmando as massas no papel de consumidor, torna este mesmo papel ,
legítimo e desejável. Sendo uma das formas de discurso de controle social, ele
realiza esta função simulando igualitarismo, removendo da estrutura de superfície
os marcadores de desigualdades, amenizando os marcadores de autoridade e
poder, substituídos pelos elementos provocadores da sedução.
O crescimento do volume de anúncios nas últimas décadas facilitou a
penetração da mensagem, inclusive modificando aspectos não - econômicos.
A família, como instituição, e a vida familiar cotidiana foram "colonizadas"
pelo fator econômico e pela ideologia das classes dominantes. Esta "colonização"
modificou-lhe a estrutura e a escala de valores. Baseado nesses pressupostos, a
mensagem publicitária constroi a imagem do receptor, impondo à realidade o
estereótipo criado e fazendo acreditar que corresponde à verdade.
Para construir linguisticamente este discurso, haverá escolhas especiais nos
itens lexicais e nas estruturas sintáticas. O léxico veiculador contará com
denotações dentro do campo de significado que reforcem a construção dos
estereótipos pretendidos e com conotações que possam ser inferidas com
facilidade dentro do mesmo campo de significação.
A arte na publicidade pode induzir preferência e hábitos de compras, mas ela
(a publicidade) se sustenta em nossos hábitos, em rituais como presentear,
receber, vestir, alimentar-se e em formas de lazer e cultura física onde o anúncio
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fundamentalmente busca sua motivação. Daí a quantidade de datas comemorativas
criadas recentemente.
Sem medo de errar, podemos afirmar que nossa vida é hoje, mediada pela
publicidade, parte integrante do complexo universo da comunicação de massa.
Todos os homens têm necessidades ou carências. Essas necessidades ou
carências proporcionam impulsos, isto é, uma disposição para agir no sentido de
acabar com a sensação de falta física ou psicológica. Ao marketing cabe criar
incentivos corretos a esses impulsos com o propósito de provocar a ação de
consumo dos produtos ou serviços que se quer vender.
Ao canalizar para o produto os impulsos voltados para a satisfação das
necessidades e do desejo, as estratégias de marketing (comuns nas redes sociais
da internet) fazem com que o produto se apresente como algo cuja posse irá
magicamente resolver indagações, demandas em outras esferas da vida pessoal e
social, que não têm, no consumo de bens e produtos, sua solução.
Entre instância social, consumidor e produto estabelece-se uma relação
imaginária, baseada na confiança e na legitimidade que o consumidor deposita no
anúncio publicitário como oráculo da verdade.
A utilização publicitária das novas mídias
A linguagem publicitária tem como tarefa informar/divulgar as
características dos produtos e esta função irrefutável é aparentemente sua função
indispensável. No entanto, a linguagem passa da informação à persuasão clara e
depois à persuasão subliminar e com o advento da mídia informatizada, uma
tempestade revolucionária formou-se ante ao campo das comunicações e formas de
divulgação publicitária.
Por se tratar de uma área em constante mudança e atualização, o mass media
é o verdadeiro camaleão do mercado global, adequando-se sempre a um contexto
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específico e a uma comunidade enunciativa, pois o texto publicitário é o
testemunho de uma sociedade e conduz a uma representação da cultura a que
pertence, permitindo estabelecer uma relação pessoal com a realidade particular1.
A internet veio transfigurar absolutamente a cultura e a forma em que
vivemos em sociedade e, com esse novo recurso tecnológico, modificou não apenas
a linguagem, mas a maneira como seus usuários se relacionam com o mundo. O
livre acesso a todo tipo de informação gerou uma grande interatividade entre as
pessoas, que reformulou os hábitos de toda uma geração subsequente como, por
exemplo, o consumo que cresceu assustadoramente devido à facilidade na relação
compra e venda. Sendo assim, a publicidade encontrou na internet um estratagema
ideal para a divulgação de produtos e propagação de seu “estilo de vida”
capitalista.
Por ser um novo meio de comunicação e interação, a internet é denominada
pelos publicitários e profissionais da área como “nova mídia”. O termo nova mídia
tem sido utilizado para identificar formas não convencionais de distribuição de
conteúdo e publicidade. São consideradas novas mídias os formatos que utilizam
novidades em tecnologias de informação, como internet, CD ROMs, games, redes
sociais, MP3 players.2 De acordo com o blog Spaces Live3, ‘A cada dia que passa as
novas mídias vão aparecendo, e ganhando mais espaço na comunicação. Mais do
que alternativas para criar campanhas cada vez mais criativas e com cada vez
menos verba, a solução gira em torno de chamar a atenção das pessoas em um
determinado produto’.
O consumidor é “pluricanal”, está interagindo simultaneamente com blogs,
redes sociais, Ipod... Logo, a nova mídia é trabalhada para atingir a supremacia em
comunicação e interação com o consumidor: as páginas da web dialogam de
1 Carvalho, Nelly. Pagina 106. 2 Convergir, experimentar e interagir. www.pronews.com.br. Acessado em Jan/2006. 3 As novas mídias e as redes sociais. http://nuclam.spaces.live.com/Blog/cns!4541B10ED1FA7739!2219.entry. Acessado em 28 de Agosto de 2010
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maneira lúdica e persuasiva com o cliente, construindo programas capazes de
induzir a compra.
Uma nova mídia, em especial, tem chamado atenção não apenas dos
profissionais de marketing, mas de acadêmicos como antropólogos, psicólogos e
linguistas. Trata-se da crescente demanda das mídias sociais.
Os sites de relacionamento ou redes sociais4 são ambientes que focam reunir
pessoas, os chamados membros, que uma vez inscritos, podem expor seu perfil
com dados como fotos de pessoas, textos, mensagens e vídeos, além de interagir
com outros membros, criando listas de amigos e comunidades. Rede Social é uma
das formas de representação dos relacionamentos afetivos ou profissionais dos
seres humanos entre si ou entre seus agrupamentos de interesses mútuos. 5
Isso significa a possibilidade de se estar conectado a alguém todo o tempo, o
tempo todo, sem limite de espaço, e a potencialidade de se conectar as mais
diversas pessoas, mesmo sem conhecê-las, com ou sem o seu consentimento em
comunidades criadas espontaneamente é praticamente infinita. Logo, no caso da
publicidade, o usuário se relaciona com a marca o tempo todo, através de diversos
meios diferentes ocasionando a perenidade da comunicação na comunidade
virtual. Citando LIPNAK & STAMP (1992) para ratificar o dito acima, “era da
informação é coisa do século XX, coisa do passado, já estamos na Era da
Participação”.
Maslow6 catalogou as principais necessidades humanas, organizando-as numa
ordem crescente de importância. E observou que a mensagem publicitária pode
explorar os diferentes níveis de necessidades, desde a fome até a realização
pessoal. Ela é utilizada de forma estática (escala-se degrau por degrau) ou
dinâmica (pode-se transitar entre os degraus e até mesmo estacionar entre dois 4Apresentao-opoderdasmdiassociais-andrtelles-100330080913-phpapp02-100330200748-phpapp01. Acesso: 21/09/2010. versão: slideshare. SLIDESHARE: É um aplicativo criado pela própria empresa em questão que permite divulgar os slideshows também no Facebook. Além de abrir as apresentações, ele faz atalhos para espalhar o documento no Twitter e em outros sites web 2.0. 5 Wikipédia (que também é uma rede social). Acesso em 21/09/2010 6 Apud Recuero, 2009.
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deles). Recuero7 (2009) afirma que a pirâmide, com a nova “era de participação”
deve ser modificada e assim realizar as devidas atualizações.
Pirâmides das necessidades básicas dos seres humanos
Fonte: http://www.trezentos.blog.br/?p=273
• Conhecimento tecnológico – Hoje, com interfaces cada vez mais
intuitivas, o conhecimento tecnológico é um degrau irrelevante,
facilmente transposto por qualquer um que tenha o mínimo de
conhecimento.
• Conexão, acesso – Com o advento da inclusão digital, das lan houses
populares e da queda nos preços do acesso banda larga, conexão e
acesso estão fáceis para muita gente.
• Interação, participação – É o momento em que o usuário começa a
interagir em mídias sociais tais como redes sociais, fóruns, listas de
discussão e até mesmo comentando e/ou criando blogs.
• Estima, reconhecimento – O usuário quer reconhecimento, inicia um
blog, uma comunidade, ou até mesmo torna-se um usuário
7 As imagens e seus comentários foram extraídos do site http://www.trezentos.blog.br/?p=273, acesso 21/09/2010.
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extremamente participativo nos fóruns e listas de discussão. O usuário
busca reconhecimento e investe maximamente nisto.
• Autorrealização – Sua presença no ciberespaço está garantida, ele já
é reconhecido e tornou-se uma celebridade. Faz parte de um ou mais
núcleos sociais. Torna-se um compulsivo por mashups e redes sociais.
Uma pesquisa realizada pela agência de pesquisas IBOPE8 mostrou que
campanhas online partindo de blogs ou outras redes sociais podem ter um impacto
500 vezes maior do que se as mesmas partissem dos sites das próprias empresas, o
que torna o consumidor multifacetado. A publicidade tem o papel de imprimir o
caráter e de construir a imagem de uma marca, delegando atributos para essa
nova identidade, afinal “a promessa de benefício contida na marca vai dar a ela
valor próprio, existência própria” (Echeverria, 2005). No caso especifico das redes
sociais, o produto transita de “perfil em perfil” como mais um amigo conectado
e/ou comunidade virtual. Ou seria o usuário mais tipo de produto da ‘era da
participação’?
O ritmo frenético da sociedade (urbana e rural) requer uma atenção
fragmentada dos fatos já que a vida está fragmentada. Hoje, as crianças estão
cada vez mais “plugadas” no mundo e desconectadas da realidade e um esforço
hercúleo é feito para conseguir reunir a família para um simples jantar. Hoje, os
seres são etiquetas ambulantes alimentados pelo bombardeamento cibernético
divulgado pela publicidade. Embora todos reconheçam as imensas inovações e
facilidades que as novas tecnologias proporcionaram a sociedade da informação,
deve-se observar o quanto a inserção deste novo ritmo e acepções de realidade
influenciaram e modificaram o nosso estilo de vida.
8 IBOPE - http://migre.me/35A Acessado em 20/09/2010
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Publicidades em redes de relacionamento: da tecnologia ao discurso
Como se sabe, as redes sociais se dividem em níveis específicos a partir dos
interesses dos indivíduos/sujeitos participantes de cada uma delas. Há as redes
profissionais, políticas, comunitárias, de relacionamento etc.9 Estes diferentes
tipos indicam a distinção de perfis de cada usuário, fazendo de sua inserção em
uma dessas redes uma classificação pressuposta de grupos sociais.
Nesse ínterim, as redes de relacionamento têm a propriedade de abranger um
público bastante heterogênero, tendo em vista que as pessoas participantes podem
ter preferências e perfis os mais variados possíveis, diferentemente do que ocorre
com redes mais restritas, como profissionais ou políticas, por exemplo. Por esta
razão, as redes de relacionamento, como os atualmente populares Twitter, Orkut e
Facebook, servem como excelente fonte de pesquisa sobre a relação não linear que
tem ocorrido entre publicidade, rede e usuários/consumidores.
Como já foi dito, na concepção da linguagem publicitária, existe uma relação
imaginária entre consumidor e produto e esta é baseada na confiança e na
legitimidade que o consumidor deposita no anúncio. Tendo essa ideia como
premissa e ponto de partida, pode ser suscitado o seguinte questionamento: nas
redes sociais, como se configura essa relação indispensável de confiança entre
consumidor e publicidade? As novas formas de interação mediadas pelo suporte
fluido e tecnológico - sobre o qual se desenvolvem as interfaces digitais – afetam
as estratégias de linguagem utilizadas pela publicidade?
Para responder esses questionamentos, foram selecionadas publicidades dos
três domínios de relacionamento mais populares entre o público brasileiro:
Twitter, Orkut e Facebook. Espera-se que a análise das peças selecionadas
demonstrem sinais de como a publicidade tem se comportado diante dessas novas
formas de interação e como essas relações têm se manifestado. Com base nas 9 WIKIPEDIA. < http://pt.wikipedia.org/wiki/Rede_social>. Acesso em 26 de setembro de 2010.
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concepções de interação e discurso de Patrick Charaudeau, as publicidades serão
analisadas em seu aspecto linguageiro10 e discursivo, observando com ênfase a
importância dos atores na construção do ato de linguagem.
Publicidades nas redes e o circuito de comunicação
Interatividade é a palavra que se deve considerar ícone quando se pensa em
comunicação nas redes sociais. A comunicação das mídias tradicionais se configura
através de discursos monológicos (televisão, imprensa e rádio), em que a
participação dos destinatários ou sujeitos interpretantes está reduzida a sua
posição de recepção, considerando-se normalmente seu perfil, expectativas e
outros aspectos; mas não o colocando como participante direto no ato
comunicativo, construindo mensagens no espaço interno do dizer.
O circuito de comunicação11 elaborado por Charaudeau (2008) ilustra essa
ideia de modo didático:
10 Termo cunhado e divulgado por CHARAUDEAU (2008). Entende-se a expressão linguageiro dentro da perspectiva do ato de linguagem, que o autor problematiza e explica na obra citada. 11 CHARAUDEAU, 2008, p.52.
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De acrordo com o esquema, há dois espaços envolvidos nas situações
comunicativas, em se tratando das interações midiáticas. As finalidades
comunicativas que envolvem cada discurso fazem parte do espaço externo do ato
de linguagem, mas nem por isso deixam de ser essenciais para a construção do
processo que ocorre no espaço interno discursivo. Os sujeitos envolvidos nesse
processo se diferenciam também pelo espaço em que se encontram: os sujeitos do
discurso se distinguem dos sujeitos empíricos, aqueles que representam funções
sociais. Assim, percebemos a presença de quatro sujeitos na comunicação
midiática:
• O Sujeito Comunicante – que desempenha uma função social e produz a
mensagem;
• O Sujeito Enunciador - que se manifesta como locutor da mensagem. No
caso da publicidade, esse sujeito às vezes é representado por aquilo
sobre o que se anuncia ou aquilo que se anuncia, como marcas,
produtos, eventos etc.;
• O Sujeito Destinatário - grupo social específico ao qual é dirigida a
mensagem;
• O Sujeito Receptor - sujeito empírico e situado, identificável por seu
papel social.
A interação entre os sujeitos ocorre conforme o esquema nas situações
clássicas de comunicação em que se inserem os discursos das mídias. Na “Era da
Participação“, e com a nova acepção do sujeito como pluricanal, as relações entre
os papeis são alterados pelos recursos tecnológicos que agora estão também ao
alcance direto dos receptores da mensagem. Para analisar o funcionamento de
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alguns aspectos dessa configuração comunicativa nas redes sociais de
relacionamento, observem-se as imagens a seguir:
Figura 2: publicidade no Orkut
Fonte: Orkut (<www.orkut.com> acessado em setembro de 2010)
Figura 3: publicidade no Orkut
Fonte: Orkut (<www.orkut.com> acessado em setembro de 2010)
As figuras 2 e 3 representam os dois tipos de publicidades mais comuns na rede
do Orkut. A primeira (figura 2) é uma publicidade criada por um publicitário, mas
divulgada por um indivíduo/sujeito ligado ao receptor através da rede. Na perspectiva
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do circuito de comunicação, observa-se que há uma reconfiguração de papeis
comunicativos na construção publicitária do Orkut, já que além do Locutor/ Eu-
comunicante (que seria o publicitário, autor da mensagem) e do Eu-enunciador (o
produto/evento que se anuncia), há um terceiro sujeito do discurso entre o
pressuposto enunciador e o destinatário, inscrito também no espaço interno do dizer.
A estrutura de redes altera o circuito tradicional comunicativo, posicionando um
sujeito concreto como enunciador da publicidade e, assim, tornando o fenômeno de
indentificação, persuasão e aderência ao produto muito mais provável. Não são mais
somente as estratégias liguísticas e sociais que atraem o consumidor ao produto, mas
um outro ser (sujeito empírico e sujeito do discurso), relacionado a ele de modo
muitas vezes íntimo, que vai divulgar a publicidade como sua, modificando a relação
no espaço do dizer. A publicidade utiliza como ferramenta de persuasão o poder que
há entre a estreita relação de dois “amigos”, ou pessoas que fazem parte de uma
mesma rede e, de antemão, se identificam umas com as outras, podendo facilitar ou
acelerar a aderência de uma ao discurso da outra. Essa aderêcia é concretizada
através da compra do produto, ou, no caso da publicidade analisada, a presença do
sujeito no evento divulgado.
Ainda na publicidade da figura 2, observam-se sinais de linguagem regional, o
que reforça a proximidade entre produtor e destinatário, já que sua relação é, na
rede social, de “amizade”. A mensagem que diz “É HOJE, É HOJE, HARÉM DOS
AMIGOS E SÓ NA MAROSIDADE NO MALUCO BELEZA... FAÇA SUA LISTA E ENVIE PARA
(...)” foi postada por um amigo na página de recados de outro amigo. No nome de
umas das atrações que fazem parte do evento (“Só na Marosidade” é a alcunha de
uma banda musical) há a gíria regional “marosidade”, formado através de um
processo de substantivação por sufixação com base semântica no adjetivo “maroto”
significando “qualidade de quem é maroto, malandro”. Esse termo é usado como gíria
por alguns jovens pernambucanos nesta acepção, mas ainda não está dicionarizado.
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Já na Figura 3, nota-se uma maior semelhança entre a estrutura/linguagem das
publicidades tidas como “tradicionais”, encontradas em suportes materiais como
revistas e jornais. Ela é anunciada por um patrocinador do site e divulga um produto,
trazendo informações sobre ele, o preço e onde pode ser adquirido. Nesse sentido,
quando os próprios integrantes das redes não são os veículos da divulgação
publicitária, ou seja, quando não se atuam como sujeitos internos no espaço do dizer,
a estrutura dos anúncios e a relação entre a mensagem e o destinatário continuam as
mesmas, não sendo modificadas as relações do circuito.
Uma importante observação a se fazer na leitura das peças selecionadas nesta
análise é a de que, como estão inseridas em redes de relacionamentos, se inserem em
um determinado espaço social definido pelo perfil do indivíduo que as coletou, no caso
um pernambucano. Apesar de as redes destruírem muitos limites de espaço real entre
os sujeitos, partindo do pressuposto de que os relacionamentos nos meios digitais
também refletem a rede social da realidade concreta, muitas vezes acontecerá a
aproximação entre a localização espacial e social dos produtos/eventos anunciados e o
destinatário dos anúncios. Isso se projeta na linguagem, como foi visto na análise da
figura 2, mostrando que nas redes há estruturas elásticas até certo ponto, já que
também precisam da conexão entre pessoas e entre identidades para se expandirem.
A seguir, na figura 4, observam-se anúncios postados através do Twitter:
Figura 4: publicidades no Twitter
Fonte: Twitter <www.twitter.com> (acessado em setembro de 2010)
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Nas peças acima, há divulgações publicitárias através da fonte do anúncio e
dos amigos seguidos. Seguir alguém, na rede do Twitter, significa manifestar o
interesse em partilhar das mesmas informações e pensamentos de quem se está
seguindo, pressupondo, mais ainda do que no Orkut, uma aderência (positiva ou
negativa, mas sempre aderência) ao discurso dos outros sujeitos construídos
dentro do espaço do dizer, que é a rede.
Na rede do Twitter, só é possível acessar informações/divulgações de
alguém que se segue ou que algum amigo da mesma rede siga, se este amigo
realizar o que se chama de retweet. O retweet é a postagem de uma
informação/divulgação dada por outro perfil, sendo explícita a ação de citação,
com referência à fonte de origem da informação. Nesse caso, o Enunciador da
publicidade será sempre algo (produto que anuncia a si próprio) ou alguém
selecionado de antemão pelo receptor como alguém autorizado a fazê-lo. Assim,
realiza-se de uma redução da possibilidade de fracasso do anúncio. Em geral, as
publicidades que chegam ao sujeito inserido na rede do Twitter são de seu
interesse, pois esse sujeito já indicou muitas de suas expectativas através de
sua ligação com outros sujeitos, como se a rede fosse um filtro discursivo. A
interação através das redes surge, aqui, como elemento de significação
participante do circuito comunicativo no espaço externo do dizer.
Os três “anúncios” da figura 4 estão em consonância quanto ao tema a que
se referem. Tanto o perfil “@noarcm”, que representa um evento de música
realizado no Recife, quando o perfil “@brunosouza”, que é um integrante da
rede do dono do perfil em que foram coletados os anúncios, divulgam promoções
relacionadas a música. Essa conformidade reforça a ideia de que a própria rede
faz uma triagem do que se pensa como destinatário ideal, mesmo antes da
produção da mensagem publicitária.
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Figura 5 – publicidade no Facebook
Fonte: Facebook <www.facebook.com> (acessado em setembro de 2010)
Figura 6 – publicidade no Facebook
Fonte: Facebook <www.facebook.com> (acessado em setembro de 2010)
As figuras 5 e 6 apresentam alguns aspectos da construção publicitária na rede
do Facebook. Nessa rede de relacionamento, há um recurso de ação o que se
nomeia com o verbo “curtir”. Quando os indivíduos da rede acham interessante ou
aderem a algum evento ou divulgação do site, eles têm a possibilidade de mostrar
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que “curtiram” clicando em um link da divulgação. Fazendo isto, o sujeito divulga
o mesmo evento ou produto para seus amigos da rede, compartilhando com eles a
informação e sua apreciação.
O recurso citado pode ser observado na figura 5, numa publicidade de um
evento promovido pela marca de vodca “Smirnoff”. A mensagem é sedutora,
utilizando o recurso do diálogo com o destinatário para despertar seu interesse
pelo produto divulgado. Porém, além destas estratégias de linguagem, a mensagem
conta com a colaboração das milhares de pessoas que “curtiram” o evento e estão
o legitimando com sua aprovação. Mais um elemento persuasivo para atrair os
consumidores potenciais, que se insere no gênero através dos recursos que o
suporte digital disponibiliza e das estratégias comunicativas que as redes
viabilizam.
Já na figura 6, apresenta-se um anúncio que tem como Enunciador o próprio
site do Facebook, e desta vez os destinatários são também os Produtores
potenciais. É comum encontrar esse tipo de publicidade em suportes como
outdoors, classificados de jornais etc. O enunciado “crie seu anúncio” dá
autoridade a qualquer usuário para ser ele mesmo um publicitário e divulgar seus
produtos. Obviamente isso não será feito da mesma maneira como seria em um
anúncio oficial, mas essa possibilidade ratifica a importância da interatividade nas
redes digitais de relacionamento e sinaliza a tentativa de construir uma imagem
democrática do espaço publicitário nas redes, como um serviço ao alcance de todos
os sujeitos.
Considerações finais
Na “Era da Perticição”, onde o consumidor é pluricanal, é comum não apenas
a interação entre pessoas em uma rede mas sim a interação pessoas - consumo-
pessoas em uma rede.
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As redes sociais possibilitam que a infomação flua de maneira fácil, rápida e
contagiante e estes são os principios básicos que a publicidade almeja para a
construção de marcas, facilitação da compra para seus clientes e, acima de tudo,
ratificar seu papel na sociedade capitalista.
Logo, a nova mídia aliada as múltiplas formas de “contato” veio transfigurar a
maneira como as pessoas se comunicam e interagem umas com as outras em
sociedade e como lidam com os novos aspectos tecnológicos a ponto de modicar
seu estilo de vida e necessidades básicas para a sobrevivência humana.
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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 20 -
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3Rita KRAMER (Mestranda) Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) [email protected]