A Influência Do Fluxo de Reativo de Cargas ISSN 2177-6164

6
Anais do V Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos, Foz do Iguaçu – PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164 1 Resumo -- O presente artigo analisa o uso de um conjunto de cargas eletrônicas, especificamente lâmpadas fluorescentes compactas e tubulares com reatores eletrônicos, como forma de compensar o excesso de reativo de uma carga indutiva, bem como seu possível impacto nas regras vigentes de tarifação. Nas medições em laboratório utilizando lâmpadas fluorescentes compactas observou-se um fluxo de carga reativo capacitivo para a fonte. Quando adicionado em paralelo a um banco de indutores, o fator de potência foi compensado pelo reativo das lâmpadas. Em medições realizadas em campo em um barramento composto por lâmpadas fluorescentes tubulares com reatores eletrônicos, também foi encontrado fluxo de reativo capacitivo em direção à fonte. Utilizando o software ATP Draw foram modelados um conjunto de lâmpadas fluorescentes compactas que confirmaram os resultados encontrados em laboratório. No decorrer deste trabalho analisa-se se este fluxo reativo capacitivo gerado pelas cargas eletrônicas pode ser vantajoso ou prejudicial para o sistema de tarifação, em função da hora do dia em que esta carga eletrônica é acionada. Palavras Chaves -- Carga eletrônica, energia elétrica reativa, demanda, fluxo de reativo, tarifação. I. INTRODUÇÃO qualidade da energia elétrica entregue pelas empresas distribuidoras aos consumidores sempre foi objeto de interesse. Porém, até algum tempo atrás, a qualidade de energia elétrica tinha a ver, sobretudo, com a continuidade dos serviços de distribuição, baseados na disponibilidade do sistema e dos parâmetros da rede. Para tanto era necessário o estudo de estado do sistema para definir meios de manter o sistema operando com qualidade. Porém, a crescente evolução da eletrônica proporcionou o aumento do uso de equipamentos eletroeletrônicos, introduzindo no sistema elétrico um grande número de cargas eletrônicas, de forma que os estudos a serem realizados em um sistema elétrico não podem mais desconsiderar a influência de tais cargas e as suas consequências. Por exemplo, ao realizar os estudos do fluxo de potência em um sistema, estes sempre levaram ao uso de elementos lineares, banco de capacitores e indutores, para a compensação de reativos e controle do nível de tensão. Entretanto, analisando o comportamento de certas cargas eletrônicas, observa-se um fluxo de reativo capacitivo que pode se comportar como uma compensação interna do sistema. As compensações de reativos através das cargas eletrônicas presentes no sistema impactariam no desempenho deste e também no faturamento do excedente de energia elétrica reativa, principalmente em sistemas predominantemente indutivos. Como já é de conhecimento, grandes consumidores são penalizados através da tarifação de energia reativa excedente, caso, por exemplo, de indústrias que operam com um significativo número de motores elétricos de indução com fator de potência inferior ao estabelecido por norma. Nesse sentido, o comportamento do fluxo de reativo das cargas eletrônicas pode ajudar na compensação de reativo diminuindo a quantidade de banco de capacitores a serem instalados. Desta forma, este artigo tem como objetivo estudar o uso de um conjunto de cargas eletrônicas, especificamente lâmpadas fluorescentes compactas e tubulares, como forma de compensar a demanda de reativo de uma carga indutiva. Para este estudo foi utilizado em laboratório, um conjunto de 30 lâmpadas fluorescentes compactas que foram ligadas em estrela, a quatro fios, com 10 lâmpadas por fase. Esta carga foi conectada em paralelo a um banco de 9 indutores também associados em estrela a quatro fios com 3 indutores por fase. Posteriormente, foram realizadas medições através do uso de instrumentos analógicos, medidores de grandezas elétricas e analisadores de energia, para analisar o comportamento do fluxo da potência reativa das cargas eletrônicas antes e após a conexão do banco de indutores lineares. Com o objetivo de comparar os resultados obtidos em laboratório foi realizada a implementação computacional do conjunto utilizado, por meio do software ATP Draw, conduzindo-se também estudos tanto da compensação reativa quanto da qualidade da energia. II. CONSIDERAÇÕES REFERENTES À ENERGIA REATIVA EXCEDENTE NOS SISTEMAS ELÉTRICO A Resolução Normativa nº 414 [1], de 9 de Setembro de 2010, que estabelece as condições gerais de fornecimento de Energia Elétrica de forma atualizada e consolidada, diz que para os consumidores do grupo A, o fator de potência de referência “fr”, indutivo ou capacitivo, tem como limite mínimo permitido, o valor de 0,92. “Aos montantes de energia elétrica e demanda de potência reativa que excederem o limite permitido, aplicam-se as cobranças estabelecidas nos arts. 96 e 97, a serem adicionadas ao faturamento regular de unidades consumidoras do grupo A, incluídas aquelas que optarem por faturamento com aplicação da tarifa do grupo B nos termos do art. 100.” A Influência do Fluxo de Reativo de Cargas Eletrônicas no Sistema de Tarifação de Energia Elétrica A. B. de Vasconcellos, Dr.,UFMT, B.C. Carvalho, Dr.,UFMT, T.I.R.C. Malheiros, PhD, IFMT, C.H. Beuter, Esp., UFMT, R. V. Rocha, Eng., UFMT, R. C. F. Gregory, Acad., UFMT A

description

blablabla...

Transcript of A Influência Do Fluxo de Reativo de Cargas ISSN 2177-6164

  • Anais do V Simpsio Brasileiro de Sistemas Eltricos, Foz do Iguau PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

    1

    Resumo -- O presente artigo analisa o uso de um conjunto de

    cargas eletrnicas, especificamente lmpadas fluorescentes

    compactas e tubulares com reatores eletrnicos, como forma de

    compensar o excesso de reativo de uma carga indutiva, bem como

    seu possvel impacto nas regras vigentes de tarifao. Nas

    medies em laboratrio utilizando lmpadas fluorescentes

    compactas observou-se um fluxo de carga reativo capacitivo para

    a fonte. Quando adicionado em paralelo a um banco de

    indutores, o fator de potncia foi compensado pelo reativo das

    lmpadas. Em medies realizadas em campo em um barramento

    composto por lmpadas fluorescentes tubulares com reatores

    eletrnicos, tambm foi encontrado fluxo de reativo capacitivo

    em direo fonte. Utilizando o software ATP Draw foram

    modelados um conjunto de lmpadas fluorescentes compactas

    que confirmaram os resultados encontrados em laboratrio. No

    decorrer deste trabalho analisa-se se este fluxo reativo capacitivo

    gerado pelas cargas eletrnicas pode ser vantajoso ou prejudicial

    para o sistema de tarifao, em funo da hora do dia em que

    esta carga eletrnica acionada.

    Palavras Chaves -- Carga eletrnica, energia eltrica reativa,

    demanda, fluxo de reativo, tarifao.

    I. INTRODUO

    qualidade da energia eltrica entregue pelas empresas

    distribuidoras aos consumidores sempre foi objeto de

    interesse. Porm, at algum tempo atrs, a qualidade de

    energia eltrica tinha a ver, sobretudo, com a continuidade dos

    servios de distribuio, baseados na disponibilidade do

    sistema e dos parmetros da rede. Para tanto era necessrio o

    estudo de estado do sistema para definir meios de manter o

    sistema operando com qualidade.

    Porm, a crescente evoluo da eletrnica proporcionou o

    aumento do uso de equipamentos eletroeletrnicos,

    introduzindo no sistema eltrico um grande nmero de cargas

    eletrnicas, de forma que os estudos a serem realizados em um

    sistema eltrico no podem mais desconsiderar a influncia de

    tais cargas e as suas consequncias. Por exemplo, ao realizar

    os estudos do fluxo de potncia em um sistema, estes sempre

    levaram ao uso de elementos lineares, banco de capacitores e

    indutores, para a compensao de reativos e controle do nvel

    de tenso. Entretanto, analisando o comportamento de certas

    cargas eletrnicas, observa-se um fluxo de reativo capacitivo

    que pode se comportar como uma compensao interna do

    sistema.

    As compensaes de reativos atravs das cargas eletrnicas

    presentes no sistema impactariam no desempenho deste e

    tambm no faturamento do excedente de energia eltrica

    reativa, principalmente em sistemas predominantemente

    indutivos. Como j de conhecimento, grandes consumidores

    so penalizados atravs da tarifao de energia reativa

    excedente, caso, por exemplo, de indstrias que operam com

    um significativo nmero de motores eltricos de induo com

    fator de potncia inferior ao estabelecido por norma. Nesse

    sentido, o comportamento do fluxo de reativo das cargas

    eletrnicas pode ajudar na compensao de reativo diminuindo

    a quantidade de banco de capacitores a serem instalados.

    Desta forma, este artigo tem como objetivo estudar o uso de

    um conjunto de cargas eletrnicas, especificamente lmpadas

    fluorescentes compactas e tubulares, como forma de

    compensar a demanda de reativo de uma carga indutiva.

    Para este estudo foi utilizado em laboratrio, um conjunto

    de 30 lmpadas fluorescentes compactas que foram ligadas em

    estrela, a quatro fios, com 10 lmpadas por fase. Esta carga foi

    conectada em paralelo a um banco de 9 indutores tambm

    associados em estrela a quatro fios com 3 indutores por fase.

    Posteriormente, foram realizadas medies atravs do uso de

    instrumentos analgicos, medidores de grandezas eltricas e

    analisadores de energia, para analisar o comportamento do

    fluxo da potncia reativa das cargas eletrnicas antes e aps a

    conexo do banco de indutores lineares. Com o objetivo de

    comparar os resultados obtidos em laboratrio foi realizada a

    implementao computacional do conjunto utilizado, por meio

    do software ATP Draw, conduzindo-se tambm estudos tanto

    da compensao reativa quanto da qualidade da energia.

    II. CONSIDERAES REFERENTES ENERGIA REATIVA

    EXCEDENTE NOS SISTEMAS ELTRICO

    A Resoluo Normativa n 414 [1], de 9 de Setembro de

    2010, que estabelece as condies gerais de fornecimento de

    Energia Eltrica de forma atualizada e consolidada, diz que

    para os consumidores do grupo A, o fator de potncia de

    referncia fr, indutivo ou capacitivo, tem como limite mnimo permitido, o valor de 0,92.

    Aos montantes de energia eltrica e demanda de potncia reativa que excederem o limite permitido, aplicam-se as

    cobranas estabelecidas nos arts. 96 e 97, a serem adicionadas

    ao faturamento regular de unidades consumidoras do grupo A,

    includas aquelas que optarem por faturamento com aplicao

    da tarifa do grupo B nos termos do art. 100.

    A Influncia do Fluxo de Reativo de Cargas Eletrnicas no Sistema de Tarifao de Energia

    Eltrica A. B. de Vasconcellos, Dr.,UFMT, B.C. Carvalho, Dr.,UFMT, T.I.R.C. Malheiros, PhD, IFMT, C.H.

    Beuter, Esp., UFMT, R. V. Rocha, Eng., UFMT, R. C. F. Gregory, Acad., UFMT

    A

  • Anais do V Simpsio Brasileiro de Sistemas Eltricos, Foz do Iguau PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

    2

    Art. 96. - Para unidade consumidora que possua equipamento de medio apropriado, includa aquela cujo

    titular tenha celebrado o CUSD, os valores correspondentes

    energia eltrica e demanda de potncia reativas excedentes so

    apurados conforme as seguintes equaes:

    (

    )

    [

    (

    ) ]

    Sendo:

    ERE: valor correspondente energia eltrica reativa

    excedente quantidade permitida pelo fator de potncia de

    referncia fr, no perodo de faturamento, em Reais (R$); EEAMT: montante de energia eltrica ativa medida em cada

    intervalo T de 1 (uma) hora, durante o perodo de faturamento, em Megawatt-hora (MWh);

    fr: fator de potncia de referncia igual a 0,92;

    ft: fator de potncia da unidade consumidora, calculado em

    cada intervalo T de 1 (uma) hora, durante o perodo de faturamento;

    VRERE: valor de referncia equivalente tarifa de energia

    "TE" aplicvel ao subgrupo B1, em Reais por megawatt-hora

    (R$/MWh);

    DRE(p): valor, por posto tarifrio p, correspondente demanda de potncia reativa excedente quantidade permitida

    pelo fator de potncia de referncia fr no perodo de faturamento, em Reais (R$);

    PAMT: demanda de potncia ativa medida no intervalo de

    integralizao de 1 (uma) hora T, durante o perodo de faturamento, em quilowatt (kW);

    PAF(p): demanda de potncia ativa faturvel, em cada

    posto tarifrio p no perodo de faturamento, em quilowatt (kW);

    VRDRE: valor de referncia, em Reais por quilowatt

    (R$/kW), equivalente s tarifas de demanda de potncia - para

    o posto tarifrio fora de ponta - das tarifas de fornecimento

    aplicveis aos subgrupos do grupo A para a modalidade

    tarifria horria azul e das TUSD-Consumidores-Livres,

    conforme esteja em vigor o Contrato de Fornecimento ou o

    CUSD, respectivamente;

    MAX: funo que identifica o valor mximo da equao,

    dentro dos parnteses correspondentes, em cada posto tarifrio

    p; T: indica intervalo de 1 (uma) hora, no perodo de

    faturamento;

    p: indica posto tarifrio ponta ou fora de ponta para as

    modalidades tarifrias horrias ou perodo de faturamento para

    a modalidade tarifria convencional binmia;

    n1: nmero de intervalos de integralizao T do perodo de faturamento para os postos tarifrios ponta e fora de ponta;

    n2: nmero de intervalos de integralizao T, por posto tarifrio p, no perodo de faturamento.

    Assim sendo, por mais que o valor a ser pago seja referente

    ao Reativo Excedente, este proporcional ao montante da

    energia eltrica ativa medida no intervalo de tempo referente

    medio e a relao do fator de potncia de referncia com o

    fator de potncia da unidade consumidora.

    Para a apurao dessas grandezas, h tambm um perodo

    de 6 (seis) horas consecutivas (a critrio da distribuidora) entre

    23h 30min e 6h e 30min, no qual se considera apenas os

    fatores de potncia ft inferiores a 0,92 capacitivo, verificados em cada intervalo de uma hora T. Ao perodo dirio complementar, se considera apenas os fatores de

    potncia inferiores a 0,92 indutivo, verificados no mesmo

    tempo.

    Sendo as cargas estudadas nesse trabalho de natureza

    eletrnica e capacitivas, h ento, uma influncia direta na sua

    utilizao com a medio dos valores de reativo excedente

    descrito na resoluo normativa, pois estas, em tese, ao injetar

    reativo capacitivo no barramento, contribuem para a alterao

    no valor do fator de potncia registrado a cada hora. Esta

    situao levanta novas discusses no meio acadmico sobre de

    que maneira e quo relevante ser essa influncia, em funo

    do considervel acrscimo de cargas eletrnicas nos

    barramentos residenciais, comerciais e industriais.

    III. CONSIDERAES REFERENTES S DISTORES

    HARMNICAS NOS SISTEMAS ELTRICOS

    Para a rede bsica de energia, o Operador Nacional do

    Sistema (ONS) estabelece desde 2002 parmetros de

    qualidade para a tenso suprida. Mas, do ponto de vista do

    consumidor, as restries a serem consideradas so (na

    maioria) as do sistema de distribuio, as quais ainda esto em

    discusso.

    A Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL), no

    documento Procedimentos de distribuio de energia eltrica no sistema eltrico nacional Prodist mdulo 8 qualidade da energia eltrica [2], prope valores de referncia para a distoro harmnica da tenso no sistema de distribuio, tal

    como ilustrado na Tabela I. TABELA I

    Valores de Referncia de DTT

    Tenso Nominal do

    Barramento

    Distoro Harmnica Total de

    Tenso [%] Vn 1 kV 10

    1 kV Vn 13,8 kV 8

    13,8 kV Vn 69 kV 6

    69 kV Vn 138 kV 3

    As lmpadas fluorescentes compactadas utilizadas na

    experincia laboratorial apresentam caractersticas no

    lineares, que resulta em formas de onda de correntes com

    significativas distores. Entretanto, para as tenses no

    barramento de suprimento das cargas, no se observou

    distores harmnicas significativas, permanecendo dentro

    dos limites recomendados pela resoluo normativa

    estabelecida pela ANEEL [3]. Contudo, nas medies

    realizadas em campo, com lmpadas fluorescentes tubulares

    com reatores eletrnicos, tanto as tenses como as correntes

    apresentaram caractersticas lineares. Logo,

    independentemente da carga eletrnica ser linear, ou no

    linear, o comportamento do fluxo da potncia reativa

    apresenta-se de forma anloga, ou seja, no sentido da carga

    para a fonte, caracterizando fluxo de potncia reativa

    capacitiva.

  • Anais do V Simpsio Brasileiro de Sistemas Eltricos, Foz do Iguau PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

    3

    IV. ANLISE DAS MEDIES EM LABORATRIO

    Inicialmente foi montada em laboratrio uma carga

    eletrnica com caracterstica no linear, constituda de

    lmpadas fluorescentes compactas (comumente encontradas

    em instalaes residenciais e industriais) ligadas em estrela a

    quatro fios conforme ilustrado na figura 1.

    Fig. 1. Conjunto de lmpadas fluorescentes compactas.

    Na sequncia, utilizando-se instrumentos analgicos,

    analisadores de grandezas eltricas e analisadores de qualidade

    de energia, conforme a figura 2, foram monitoradas, a

    potncia ativa, reativa e formas de onda das tenses e

    correntes envolvidas.

    Fig. 2. Ligao dos medidores de grandezas eltricas e analisadores de

    energia.

    Analisando a forma de onda das correntes verificou-se

    elevado nvel de distoro harmnica, como mostra a figura 3.

    Por meio do espectro da forma de onda da corrente da fase a,

    ilustrada na figura 4, foi constatada a presena significativa de

    harmnicas de sequncia positiva, negativa e zero resultando

    em uma distoro harmnica total de corrente em torno de

    115%. Os resultados para as fases b e c no foram

    apresentadas por terem as mesmas caractersticas da fase a.

    Isto era esperado visto que as lmpadas fluorescentes

    compactas so cargas eletrnicas com caractersticas no

    lineares [4] [5].

    Fig. 3. Forma de onda das correntes trifsicas solicitadas pelas lmpadas

    fluorescentes compactas do barramento.

    Fig. 4. Espectro harmnico da corrente da fase a.

    Alm das formas de onda das correntes foram analisadas

    tambm as formas de onda das tenses e os respectivos

    espectros harmnicos, ao igual que para as correntes, somente

    para a tenso da fase a conforme mostram as figuras 5 e 6.

    Fig. 5. Forma de onda das tenses trifsicas do barramento que alimenta as

    lmpadas fluorescentes compactas.

    Varmetros Analisador de energia

    eltrica Fluke

    Analisador de

    energia eltrica

    RMS

    Medidor de grandezas

    eltricas

    Medidor de Energia

  • Anais do V Simpsio Brasileiro de Sistemas Eltricos, Foz do Iguau PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

    4

    Fig. 6. Espectro harmnico da tenso da fase a.

    A figura 5 permite observar que as formas de onda das

    tenses apresentam-se prximas da forma senoidal,

    corroborado por meio do espectro mostrado na figura 6, para a

    fase a, onde encontra-se uma distoro harmnica total de

    tenso em torno de 3,25%, encontrando-se, portanto, dentro

    dos valores de referncia para o nvel de tenso do

    barramento, conforme mdulo 8 do Prodist.

    Quanto s medies das potncias ativa e reativa, observou-

    se deflexo contraria dos ponteiros dos varmetros analgicos,

    indicando que o fluxo de potncia reativa ocorria no sentido

    da carga para a fonte, portanto, sendo necessrio inverter a

    polaridade das bobinas de tenso dos varmetros [6].

    Alterada a ligao do instrumento, a deflexo do ponteiro

    se deu no sentido da escala, indicando um fluxo de potncia

    reativa de 120 VAr, por fase, resultando em uma potncia

    reativa capacitiva trifsica de 360 VAr. Nos analisadores de

    grandezas eltricas, e no medidor de qualidade de energia, foi

    medido o mesmo fluxo de potncia reativa capacitiva, porm

    com valor de 310 VAr por fase, totalizando uma potncia

    reativa trifsica de 930 VAr. Esta diferena tem relao com o

    fato de que o medidor analgico registra a parcela de potncia

    reativa referente frequncia fundamental enquanto os outros

    analisadores medem a potncia reativa referente s diversas

    frequncias do espectro das correntes, conforme ilustrado na

    figura 4. Alm da leitura das potncias, foram feitas as leituras

    dos fatores de deslocamento e de potncia, onde se verificou

    um fator de potncia de 0,57 capacitivo e um fator de

    deslocamento de 0,9 capacitivo.

    Fig. 7. Conjunto de reatores conectados em paralelo com as lmpadas

    fluorescentes compactas.

    Dando prosseguimento ao experimento, por meio de um

    disjuntor foi conectado em paralelo ao conjunto de lmpadas

    fluorescentes um conjunto de indutores ligados em estrela a

    quatro fios, conforme mostra a Fig. 7.

    Aps a conexo do banco de indutores verificou-se que o

    fluxo de potncia reativa entre a carga e a fonte sofreu

    alterao. Analisando o varmetro analgico, verificou-se que

    o fluxo reativo capacitivo entre a carga e a fonte,

    anteriormente de 120 VAr por fase reduziu para 30 VAr por

    fase, resultando em uma potncia reativa trifsica de 90 VAr

    (valor referente fundamental). Enquanto que pelos

    medidores eletrnicos foi verificado uma potncia reativa

    trifsica de 900 VAr e fator de potncia 0,61 capacitivo. Esta

    mudana de valores do fluxo de reativo capacitivo da carga

    para fonte aps a entrada do banco de indutores lineares est

    associada ao fornecimento de reativo capacitivo gerado pelas

    lmpadas fluorescentes compactas para compensar a demanda

    de reativo indutivo exigida pelo banco de indutores, cuja

    medio constatou que estava em torno de 90 VAr por fase,

    resultando em uma potncia reativa indutiva total de 270 VAr.

    Portanto, atravs desta experincia de laboratrio foi

    possvel observar que um conjunto de lmpadas fluorescentes

    compactas, devido a seus componentes intrnsecos, gera uma

    potncia reativa capacitiva, fornecendo reativo que pode ser

    usado para compensao de fator de potncia de cargas

    predominantemente indutivas. Esta constatao pode ser

    observada pela diferena na potncia reativa antes e aps a

    conexo das duas cargas em paralelo, conforme ilustrado na

    figura 8 para a potncia reativa capacitiva fundamental

    registrada pelo varmetro analgico.

    Fig. 8. Variao do fluxo de potncia reativa, entre carga e fonte, registrado

    pelo varmetro analgico.

    V. SIMULAO COMPUTACIONAL

    A fim de comparar com os resultados obtidos em

    laboratrio, foi realizada simulao computacional utilizando

    o software ATP Draw no qual foram inseridos os modelos de

    cada componente eltrico e eletrnico utilizados nos ensaios

    experimentais.

    Para a modelagem do indutor foi calculado o valor da

    indutncia atravs dos dados obtidos em medies realizadas

    com os analisadores de grandezas eltricas da potncia reativa

    e da tenso sobre o indutor. Sendo a Indutncia calculada pela

    expresso 3:

    Sendo:

  • Anais do V Simpsio Brasileiro de Sistemas Eltricos, Foz do Iguau PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

    5

    Q: Potncia Reativa monofsica medida pelo varmetro;

    V: Tenso fase-neutro medida pelo voltmetro.

    Assim como na montagem experimental os indutores na

    conexo estrela a quatro fios foram inseridos por chaves em

    paralelo com o conjunto de lmpadas fluorescentes como

    mostra a Fig. 9.

    Fig. 9. Modelagem dos indutores no software ATP DRaw.

    A modelagem da lmpada fluorescente compacta no ATP

    Draw com todos seus componentes eltricos e eletrnicos est

    ilustrada na Fig. 10.

    Fig. 10. Modelagem da lmpada fluorescente compacta no software ATP

    Draw.

    Os resultados obtidos na simulao permitiram constatar

    uma boa concordncia com aqueles obtidos em laboratrio.

    Para esta finalidade, foram analisadas as formas de onda das

    correntes e tenses ilustradas nas Figs. 11 e 12 e o espectro da

    corrente para fase a, quando apenas as lmpadas estavam

    ligadas como mostra a Fig. 13.

    Fig. 11. Forma de onda das correntes trifsicas solicitadas pelas lmpadas

    fluorescentes compactas na simulao.

    Fig. 12. Forma de onda das tenses trifsicas das lmpadas fluorescentes

    compactas obtidas na simulao.

    Fig. 13. Espectro harmnico da corrente da fase a obtida na simulao

    O comportamento e os valores do fluxo de potncia reativa

    gerado pelas lmpadas fluorescentes compactas obtidos na

    simulao tambm foram idnticos aos obtidos nos estudos

    experimentais.

    VI. MEDIO EM CAMPO

    A fim de verificar se o comportamento do fluxo de

    potncia reativa gerado pelas cargas eletrnicas lineares ou

    no lineares obtidos em laboratrio e na simulao

    computacional tambm se apresenta com as mesmas

    caractersticas em uma unidade consumidora, foi realizada

    medio em um grande Home Center em Cuiab, Mato

    Grosso, onde foram feitas medies preliminares no

    barramento do quadro geral de distribuio em um conjunto de

    150 (cento e cinquenta) luminrias com 2 (duas) lmpadas

    fluorescentes tubulares cada, utilizando reatores eletrnicos

    (2x110W cada calha) conforme mostra a Fig. 14.

    Ao contrrio dos resultados obtidos para as correntes

    produzidas para lmpadas fluorescentes compactas em

    laboratrio e nas simulaes computacionais ilustrados nas

    Figs. 3 e 11 com caractersticas fortemente no lineares, as

    correntes obtidas no barramento do Home Center foram

    praticamente lineares, isto , muito prxima de uma senide.

  • Anais do V Simpsio Brasileiro de Sistemas Eltricos, Foz do Iguau PR, Brasil. 22-25/04/2014 ISSN 2177-6164

    6

    Esta diferena deve-se instalao de filtros para harmnicos

    [7].

    Analisando a fig. 15 pode observar que a demanda de

    potncia ativa trifsica solicitada pelo conjunto de luminrias

    com reatores eletrnicos do barramento atinge o valor mdio

    de 24 kW e pode-se observar tambm uma injeo de

    demanda reativa capacitiva mdia trifsica de 5,4 kVAr no

    barramento que alimenta estas cargas da Unidade

    Consumidora.

    Por meio dos resultados obtidos em laboratrio, simulao

    computacional e campanha de medies em campo, pode-se

    analisar a influncia das cargas eletrnicas, tanto lineares

    como no lineares, no sistema de tarifao das unidades

    consumidoras do Grupo A, que esto sujeitas ao pagamento do

    excedente de energia reativa e de demanda reativa excedente

    conforme mostram as equaes 1 e 2. Como a concessionria

    de energia eltrica monitora o reativo indutivo solicitado pelas

    unidades consumidoras no perodo de 18 (dezoito) horas do

    dia, estas cargas eletrnicas podem trazer benefcio para o

    sistema de tarifao, pois com a injeo do reativo capacitivo

    no barramento podem melhorar o fator de potncia horrio da

    unidade consumidora ou diminuir o valor do excedente de

    energia reativa na sua fatura de energia eltrica. Por outro

    lado, durante as 6 (seis) horas restantes no perodo noturno,

    normalmente entre meia noite e s 6 horas da manh, a

    concessionria de energia monitora o reativo capacitivo e

    estas cargas podem ser prejudiciais para sistema de tarifao,

    podendo em tese aumentar o valor do excedente de energia

    reativa na fatura de energia da unidade consumidora.

    Figura 14: Conexo do analisador de energia eltrica Fluke no barramento de

    energia de alimentao das lmpadas fluorescentes tubulares.

    Figura 15: Tela capturada do analisador de energia eltrica Fluke conectado no barramento de energia de alimentao indicando a caracterstica de

    potncia reativa capacitiva injetada no sistema.

    VII. CONCLUSO

    No presente artigo foi analisada a influncia das cargas

    eletrnicas lineares e no lineares no sistema de tarifao das

    unidades consumidoras do grupo A. Nos experimentos

    laboratoriais e na simulao computacional foram utilizadas

    lmpadas fluorescentes compactas com fortes caractersticas

    no lineares e pode-se observar um fluxo de reativo capacitivo

    para o barramento de alimentao, tanto nos medidores

    analgicos quanto nos analisadores de energia. Nas medies

    realizadas em campo em um conjunto de lmpadas

    fluorescentes tubulares com reatores eletrnicos, os

    analisadores de energia registraram a caracterstica da carga

    praticamente linear e pode-se tambm observar um fluxo de

    potncia reativa capacitiva para o barramento de alimentao

    do conjunto de carga eletrnica. Portanto, independentemente

    do comportamento da carga eletrnica estudada neste artigo

    ser linear ou no linear, verificou-se uma injeo de potncia

    reativa no barramento, contribuindo para a alterao do fator

    de potncia da unidade consumidora e consequentemente

    influenciando no calculo do excedente de energia reativa.

    Considerando que atualmente as concessionrias de energia

    eltrica tm feito grandes investimentos na eficincia eltrica

    nos consumidores de baixa renda, aonde so substitudas

    principalmente geladeiras convencionais por geladeiras selo

    PROCEL e milhares lmpadas incandescentes por lmpadas

    fluorescentes compactas, um estudo da influncia destas

    cargas no s nos consumidores do grupo A, mas tambm em

    consumidores do grupo B se faz necessrio, para analisar o

    impacto da entrada destas cargas eletrnicas tanto no sistema

    de tarifao como na possvel melhoria do sistema eltrico da

    concessionria com a injeo de reativos nos barramentos,

    assim como a interferncia das mltiplas frequncias injetas

    pelas cargas eletrnicas no lineares no barramento da

    concessionria.

    VIII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    [1] ANEEL. Resoluo Normativa n414. 9 de setembro de 2010. [2] ANEEL. Procedimentos de Distribuio de Energia Eltrica no Sistema

    Eltrico Nacional (Prodist), mdulo 8.

    [3] ANEEL. Resoluo Normativa n345. 16 de dezembro de 2008. [4] IEEE Task Force, The Effects of Power System Harmonics on Power

    System Equipment and Loads, IEEE Trans. Power App. and Systems, vol. 104, no. 9, Set. 1985, pp. 2555-2563.

    [5] R. D. Henderson e P. J. Rose, Harmonics: The Effects on Power Quality and Transformers, IEEE Trans. Industry Applications, vol. 30, 1994, pp. 528-532.

    [6] S. M. Filho. Fundamentos de Medidas Eltricas. 2 ed. Editora Guanabara Dois. Rio de Janeiro. 1981.

    [7] IEEE Standard 519-1992, Recommended Practices and Requirements for Harmonic Control in Electric Power Systems, 1992.