“A INFLUÊNCIA DA SEGREGAÇÃO CONTROLADA DOS...

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E TURISMO FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA - FAENQUIL PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS “A INFLUÊNCIA DA SEGREGAÇÃO CONTROLADA DOS SOLUTOS SOBRE O EFEITO MEMÓRIA DE FORMA DE UMA LIGA DO TIPO CU - ZN – AL” CARLOS ANTONIO VIEIRA Lorena – SP – Brasil Maio 2004

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E TURISMO

FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA - FAENQUILPÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

“A INFLUÊNCIA DA SEGREGAÇÃO CONTROLADA DOS SOLUTOS SOBRE O EFEITO MEMÓRIA DE FORMA DE

UMA LIGA DO TIPO CU - ZN – AL”

CARLOS ANTONIO VIEIRA

Lorena – SP – Brasil Maio 2004

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E TURISMO

FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA DE LORENA - FAENQUILPÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

“A INFLUÊNCIA DA SEGREGAÇÃO CONTROLADA DOS SOLUTOS SOBRE O EFEITO MEMÓRIA DE FORMA DE

UMA LIGA DO TIPO CU - ZN – AL”

CARLOS ANTONIO VIEIRA

Tese apresentada à Comissão Examinadora do programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais da Faculdade de Engenharia Química de Lorena para obtenção do título de “Doutor em Engenharia de Materiais”

Área de concentração: “Materiais metálicos, cerâmicos e poliméricos”

Prof. Dr. Herman Jacobus Cornelis Voorwald – Orientador

Banca Examinadora: Prof. Dr. Herman Jacobus Cornelis Voorwald – FEG/UNESP Prof. Dr. José Arana varela – UNESP

Profa. Dra. Maria Odila Hilário Cioffi – FEG/UNESP Prof. Dr. Miguel Justino Ribeiro Barboza – DEMAR/FAENQUIL Prof. Durval Rodrigues Junior – DEMAR/FAENQUIL

Lorena – SP/ Maio 2004

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Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Especializada em Engenharia de Materiais

DEMAR/FAENQUIL

Vieira, Carlos Antônio V665i A influência da segregação controlada dos alunos sobre o

efeito memória de forma de uma liga do tipo Cu-Zn-Al/ Carlos Antônio Vieira. – Lorena, 2004

180f.: il.; 30cm.

Tese (Doutorado em Engenharia de Materiais) – faculdade de Engenharia Química de Lorena. Departamento de Engenharia de Materiais.

Orientador: Herman Jacobus Cornelis Voorwald

1. Efeito memória 2. EMF 3. Fabricação de ligas a base de cobre I. Voorwald, Herman Jacobus Cornelis, Orient. II. Título.

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Dedico este trabalho a Cristina – minha esposa, companheira e amiga – e a Frederico

Augusto, Guilherme Apoena e Lucas Alexandre – nossos filhos.

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AGRADECIMENTOS

Ao orientador professor Dr. Herman Jacobus Cornelis Voorward pelas diretrizes,

incentivos nos momentos de dificuldades, confiança e apoio.

Ao professor Dr. Helcio José Izonio Filho do Departamento de Engenharia

Química – DEQUI- FAENQUIL, pela realização das análises químicas de composição

das ligas produzidas.

Ao professor Dr. Durval Rodrigues Junior do Departamento de Engenharia de

Materiais – DEMAR - FAENQUIL pela realização das medidas das temperaturas de

transformações de fases das ligas memória de forma estudadas.

Aos professores e funcionários do Departamento de Engenharia de Materiais-

DEMAR- FAENQUIL pela colaboração.

À Universidade de Taubaté, por meio da Pró-reitoria de Extensão, pela

concessão da bolsa-auxílio pesquisa.

Aos técnicos Lamarino Vendramini e José Arauto Ribeiro, da Unitau, por suas

prestimosas colaborações.

À Villares Indústria de Base S/A, pela doação dos niples de grafita utilizados na

fabricação das lingoteiras.

À Sra. Ana Dinorah Rodrigues pela editoração final do trabalho.

E a todos os meus familiares e amigos, pela paciência e generosidade.

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RESUMO

O Efeito Memória de Forma é conhecido desde a década de 50. Por volta do ano

de 1975, as atenções voltaram-se para as ligas à base de cobre e a partir dos anos 90, as

pesquisas concentraram-se nas soluções de problemas típicos da fabricação deste tipo de

liga, visando atender às exigências de novas aplicações, tornando-as definitivamente um

material funcional. As ligas para os estudos realizados neste trabalho foram produzidas

em fornos de cadinho com queimador a gás (gás natural ou gás liqüefeito de petróleo),

sem atmosfera controlada, com controle de temperatura feito por pirômetros de imersão

e sendo a solidificação realizada em atmosfera ambiente. Todo o equipamento utilizado

na fabricação das ligas estudadas, foi projetado e fabricado no período de

desenvolvimento deste trabalho. Este trabalho apresenta um método de controle da

volatização do zinco que foi empregado na fabricação das ligas básicas. Após um

tratamento de solubilização, essas ligas foram utilizadas em um novo procedimento

proposto de fabricação, por difusão e fusão seletiva, empregado para obter ligas Cu-Zn-

Al com composições químicas distintas no sentido longitudinal do lingote,

caracterizando, desta forma, uma segregação controlada dos solutos. A seguir as ligas

foram laminadas a quente com o propósito de verificar a influência da segregação

controlada dos solutos sobre o Efeito Memória de Forma. As análises dos resultados

permitiram concluir que: a) o processo de controle da volatização do zinco mostrou-se

eficiente; b) a fabricação de ligas com uma segregação controlada ao longo do lingote,

pelo processo de difusão e fusão seletiva é possível; c) a dureza das ligas produzidas

tem um efeito muito mais dependente da morfologia estrutural do que das variações de

composições químicas; d) constatou-se que o efeito da segregação por variação de

massa específica dos elementos químicos não foi eliminado, o que provocou uma

variação na composição química levando as amostras a não manifestarem os Efeitos

Memória de Forma nas temperaturas esperadas e e) a padronização dos procedimentos

de fabricação permitirá produzir ligas com um controle da segregação dos solutos

ampliando o Efeito Memória de Forma em um único componente fabricado com esse

tipo de liga.

Palavras-chave: Efeito Memória de Forma; EMF; fabricação de ligas à base de cobre.

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ABSTRACT

The Shape Memory Effect (SME) is known since the decade of 1950. By theyear 1975 the attention focused on the copper-based alloys and from the 90s the researches focused on the solution of problems typically arisen from the manufacturingof this type of alloy, aiming the demands of the new applications. They have been definitely transformed, then, into a functional material.The alloys for the study done in this work were produced in crucible furnace with gas burners (natural and liquefied from petrol) without controlled atmosphere and with control of temperature done by pyrometers of immersion. The solidification occurred on room atmosphere.Theequipment utilized on the manufacturing of the studied alloys has been projected and manufactured during the development of this work.This work presents a method of control of volatization of zinc utilized on the manufacturing of basic alloys. After a solubilization treatment, these alloys have been utilized in a new procedure proposed for manufacturing through selective diffusion and fusion used to obtain alloys Cu-Zn-Al with distinct chemical compositions on the longitudinal direction of the ingot, characterizing a controlled segregation of the solutes.The alloys were, then, hot rolled with the purpose of verifying the influence of the controlled segregation of the soluteson the Shape-Memory Effect (SME). The analysis of the results led to the following conclusions: a) the process of the control of the volatization of zinc proved to be efficient; b) the manufacturing of alloys with controlled segregation along of the ingotby the process of selective diffusion and fusion is possible; c) the hardness of the produced alloys has an effect much more dependent on the structural morphology than on the variation on the chemical compositions; d) it has been verified that the effect of the segregation by the variation of the specific mass of the chemical elements has notbeen eliminated, which caused a variation on the chemical composition leading to thenon manifestation in the expected temperature of the Shape Memory Effect (SME); e) the standardization of the manufacturing procedures will permit the production of alloys with a control of segregation of the solutes broadening the Shape Memory Effect (SME) in just one component manufactured with this type of alloy.

Key-words: Shape Memory Effect; SME; copper-based alloys manufacturation.

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ILUSTRAÇÕES

Lista de Figuras Figura 2.1 - Comparação entre as temperaturas de transformações martensíticas

não-termoelástica (Fe-Ni) e uma termoelástica (Au-Cd) ............................ 7Figura 2.2 - Curvas Resistividade X Temperatura para os dois tipos de

transformações martensíticas termo-elásticas.............................................. 9Figura 2.3 - Sistema cristalino CCC: (a) Célula unitária da estrutura cristalina da

fase matriz 2’ (b) e (c) planos {110} da seqüência de empilhamento ........ 10Figura 2.4 - Representação de três tipos de planos resultantes do deslocamento

atômico na transformação martensítica, em (a), (b) e (c) .......................... 11Figura 2.5 - Empilhamento de planos alternados da martensítica resultantes da

seqüência (1)3 ou 3 R ................................................................................. 11Figura 2.6 - Empilhamento de planos alternados fase da fase martensítica

resultantes da sequência (21) ou 9R .......................................................... 12Figura 2.7 - Célula unitária cristalina na fase matriz 1 , em (a) e planos {110} da

sequência de empilhamento, em (b) e (c) .................................................. 13Figura 2.8 - Os Seis tipos de planos resultantes do deslocamento atômico na

transformação martensítica ........................................................................ 13Figura 2.9 - Estruturas martensíticas resultantes do empacotamento alternado dos

planos da Figura 2.20, em (a) 18R (1) , (b) 18 R (2) e (c) 6R .................... 14Figura 2.10 - Representação esquemática da transformação da fase matriz DO 3 ou

( 1 ) para fase martensítica 18 R (l ) ou (’1 ) ............................................ 15Figura 2.11 - As quatro direções possíveis de deformação para um plano {011}......... 16Figura 2.12 - Componentes da deformação na transformação martensítica.(P): fase

matriz; (M): fase martensítica ................................................................. 17Figura 2.13 - Estrutura do diamante grupo II resultante do crescimento das

martensitas lado a lado ............................................................................ 18Figura 2.14 Representação da auto-acomodação das martensitas variantes: (a) em

duas dimensões e (b) em três dimensões................................................. 19Figura 2.15 - Curvas Tensão versus Deformação para um monocristal de uma liga

Cu-34,7Zn-3,0Sn (%em peso), com Mi = -52°C, Mf= - 65°C, Ai == - 50°C e Af= - 38°C................................................................................. 20

Figura 2.16 - Curva Tensão versus Deformação de uma liga com memória de forma a uma temperatura menor que Af.................................................. 21

Figura 2.17 - Correspondência do reticulado cristalino no momento da reversão da transformação matriz - martensita ........................................................... 22

Figura 2.18 - Comportamento das transformações pseudo-elásticas para ummonocristal de uma liga do tipo Cu- Al-Ni ............................................ 23

Figura 2.19 - Representação esquemática da ocorrência dos efeitos EMF e pseudo-elástico em função das tensões e temperaturas........................................ 24

Figura 2.20 - Diagrama Tensão X Deformação mostrando os múltiplos estágios dapseudo-elasticidade associados com as sucessivas transformaçõesinduzidas por tensões............................................................................... 25

Figura 2.21 - Estrutura cristalina das várias martensitas induzidas por tensões nas ligas Cu-Al-Ni, em (a) representação do plano basal e em (b) representação das transformações ........................................................... 26

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Figura 3.1 - Diagrama de fase para as ligas Cu-Zn........................................................ 28Figura 3.2 - Diagrama de fase para um sistema ternário Cu-Zn-Al com 6 % em

peso de alumínio ........................................................................................ 29Figura 3.3 - Diagrama de fase para um sistema ternário Cu-Zn-Al, mostrando a

temperatura Mi para a liga com 2 %, 4% e 6 % em peso de alumínio...... 30Figura 3.4 - Relação entre a porcentagem do alumínio e as temperaturas de

transformação para uma liga Cu-Al-Ni, após uma solubilização a 1000°C com resfriamento em água fria ..................................................... 31

Figura 3.5 - Comportamento da deformação em um monocristal da ligatipo Cu-Al-Ni, com Mi = -140°C, Mf= - 150°C, Ai = - 109°C eAf= - 90°C (T<Af) ..................................................................................... 33

Figura 3.6 - Comportamento da deformação em um monocristal da liga tipoCu-Al-Ni, com Mi = - 140°C, Mf= - 150°C, Ai = - 109°C e Af=-90°C ... 34

Figura 3.7 - Comportamento da deformação de uma liga do tipo Cu-Al-Ni policristalina, com Mi = - 82°C, Mf= - 70°C, Ai = - 60°C e Af=-48°C.... 34

Figura 3.8 - Comportamento da deformação de uma liga do tipo Cu-Zn-Al policristalina, com Mi = 15°C, Mf= - 5°C, Ai = 15° C e Af= 155°C........ 35

Figura 3.9 - Relação entre o número de ciclos térmicos (N) e as alterações nas tempera turas de transformações ( T ) para uma liga do tipo Cu-Zn-Al ... 37

Figura 3.10 - Alterações nas curvas Tensão X Deformação de um policristal de Cu-Zn-Sn próprias do ciclo de deformação................................................... 38

Figura 3.11 - Alterações nas curvas Tensão X Deformação de um policristal de Cu-Al-Ni próprias do ciclo de deformação ................................................... 39

Figura 3.12 - Alterações nas curvas Tensão X Deformação de um monocristal de Cu-Al-Ni próprias do ciclo de deformação ............................................. 40

Figura 3.13 - Vida em fadiga dos corpos de provas A, B e C ....................................... 42Figura 3.14 - Curvas Tensão X Deformação e vida em fadiga para um monocristal

de um a liga do tipo Cu-Al-Ni deformada a 24°C e a 100°C,com Mi = - 45°C e Af= - 20 °C............................................................... 43

Figura 3.15 - Relação entre a temperatura e a deformação de uma liga do tipoCu-Al-Ni policristalina............................................................................ 45

Figura 3.16 - Relação entre as temperaturas de transformações e o tempo de envelhecimento, após tratamento de solubilização seguido por envelhecimento a baixa temperatura, 39°C............................................. 51

Figura 4.1 - Forno de cadinho com aquecimento por queimador à gás ......................... 54Figura 4.2 - Forno de cadinho com aquecimento por queima de carvão ....................... 54Figura 4.3 - Forno de cadinho basculante ...................................................................... 55Figura 4.4 - Representação esquemática das zonas estruturais da macroestrutura de

fundição, seção transversal de uma peça cilíndrica ................................... 56Figura 4.5 - Possíveis variações na macroestrutura de uma mesma peça, seção

longitudinal, em função das condições de solidificação: (a) ausênciada zona equiaxial central; (b) presença das três zonas; (c) ausência das coquilhada e colunar .................................................................................. 56

Figura 4.6 - Exemplo de alimentação do metal líquido inadequada (a)e adequada (b) ............................................................................................ 62

Figura 4.7 - Esquema da solidificação dendrítica: a) equiaxial; e b) colunar................ 63

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Figura 4.8 - Influência do intervalo de solidificação na formação da estrutura: (a) ligas de grande intervalo de solidificação; e (b) pequeno intervalo de solidificação ............................................................................................... 63

Figura 4.9 - Efeito da velocidade de crescimento de bolhas em sua forma e tamanho...................................................................................................... 65

Figura 4.10 - Formação de bolhas junto à interface metal/molde.................................. 66Figura 4.11 - Representação esquemática da sequência de formação de uma gota

quente durante a solidificação.................................................................... 69Figura 5.1 - Relação entre a composição química e a Mi de transformação ................. 71Figura 5.2 - Forno 2, de cadinho com aquecimento por queimador a gás .................... 75Figura 5.3 - Forno 2 - de cadinho com aquecimento por queimador a gás

(Detalhe da tampa com seu refratário fundido) ......................................... 76Figura 5.4 - Queimador: (1) corpo; (2) direcionador de combustão; (3) entrada de

ar; (4) duto condutor da mistura ar/gás; (5) vedação; (6) suporte do misturador ar/gás; (7) placa defletora: (8) cone venturi e(9) entrada do gás....................................................................................... 78

Figura 5.5 - Suporte do queimador ................................................................................ 78Figura 5.6 -Insuflador de ar: l - rotor; 2 - carcaça; 3 - correia; 4 - motor;

5 - suporte de madeira, e 6 - válvula reguladora do fluxo de ar. ............... 79Figura 5.7 - Ponta para alojamento dos termopares: superior ponta redonda e

inferior ponta chata. ................................................................................... 80Figura 5.8 - Lingoteiras: (a) vistas lateral e (b) vista superior....................................... 82Figura 5.9 - Lingoteiras destruídas após a primeira tentativa de fusão.......................... 82Figura 5.10 - Lingoteiras protegidas por uma estrutura externa de aço Inoxidável

AISI 304 .................................................................................................. 83Figura 5.11 - Lingoteira protegida no interior do Forno 1: (a) antes do processo de

fusão e (b) depois do processo de fusão com forte volatização do zinco ........................................................................................................ 84

Figura 5.12 - Várias lingoteiras de grafite ..................................................................... 85Figura 5.13 - Identificação da disposição da composição química dos lingotes a

serem produzidos por difusão e fusão seletiva: (a) L.456.,(b) L.564. e (c) L.645 .............................................................................. 88

Figura 5.14 - Mufla de aquecimento das ligas a serem laminadas ................................ 90Figura 5.15 - Sistema experimental para caracterização das curvas x T das ligas

com efeito memória de forma. Caracterização durante o aquecimento/resfriamento até 180ºC ......................................................... 94

Figura 5.16 - Sistema experimental para caracterização das curvas x T das ligas com efeito memória de forma. Caracterização durante o resfriamentocom nitrogênio líquido............................................................................... 94

Figura 5.17 - Sistema experimental para caracterização das curvas x T das ligas, com Efeito Memória de Forma.................................................................. 95

Figura 6.1 - Identificação das amostras para análise química de três lingotes comcomposição 72Cu-22Zn-6Al...................................................................... 96

Figura 6.2 - Representação gráfica da Concentração x Posição das análisesquímicas das ligas 72Cu-22Zn-6Al .......................................................... 97

Figura 6.3 - Representação gráfica da Concentração x Posição das análisesquímicas das liga 1 (70Cu-24Zn-6Al), liga 2 (71Cu-23Zn-6Al)e Liga 3 (72Cu-22Zn-6Al). ........................................................................ 99

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Figura 6.4 - Lingote da liga 3 mostrando dois pedaços de cobre não fundidos, provocados pela retirada da coquilha prematuramente do forno ............. 100

Figura 6.5 - Fratura em uma das interfaces de composições durante processo de usinagem, Liga 645.0.............................................................................. 102

Figura 6.6 - Identificação das amostras das placas a serem laminadas:(a) amostra 2 e (b) amostra 1 ................................................................... 102

Figura 6.7 - Amostras após o processo de laminação: amostras 1 e 2 (liga 456.0) e amostra 3 (liga 4.0) .................................................................................. 105

Figura 6.8 - Aspectos estruturais dos lingotes L.456.1 , L 564.1 e L 645.1 ................ 107Figura 6.9 - Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição das

análises químicas das liga 456.1, liga 564.1 e Liga 645.1.................... 108Figura 6.10 - Representação gráfica da Concentração de Zinco x Posição das

análises químicas das liga 456.1, liga 564.1 e Liga 645.1.................... 109Figura 6.11 - Representação gráfica da Concentração de Cobre x Posição das

análises químicas das liga 456.1, liga 564.1 e Liga 645.1.................... 109Figura 6.12 - Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição

equivalente das análises químicas das liga 4.1, liga 5.1 e Liga 6.1...... 110Figura 6.13 - Disposição e identificação dos lingotes das liga 456.1, liga 564.1 e

liga 645.1 ............................................................................................... 110Figura 6.14 - Lingotes após a difusão e fusão seletiva: (a) Lingotes após fusão

seletiva (em bruto) e (b) Marcação dos lingotes para retirada de amostras para análise química ............................................................... 111

Figura 6.15 - Aspectos macrográficos das ligas 456.1, liga 564.1 e liga 645.1........... 111Figura 6.16 - Aspectos macrográficos das liga 4.2, liga 5.2 e liga 6.2 ........................ 114Figura 6.17 - Disposição e identificação dos lingotes das liga 456.4, liga 564.4,

liga 645.4, liga 456.3 e liga 465,3 ......................................................... 114Figura 6.18 - Aspectos macrográficos das liga 456.3 e liga 465.3 .............................. 115Figura 6.19 - Aspectos macrográficos das liga 456.4, liga 564.4 e liga 645.4 ............ 116Figura 6.20 - Ligas 4.2, 5.2, 6.2, 456.3 e 465.3 laminadas a quente............................ 117Figura 6.21 - Mostra as liga 456.4, liga 564.4 e liga 645.4 ......................................... 118Figura 6.22 - Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição das

análises químicas das liga 456.4, liga 564.4 e Liga 645.4.................... 121Figura 6.23 - Representação gráfica da Concentração de Zinco x Posição das

análises químicas das liga 456.4, liga 564.4 e Liga 645.4.................... 122Figura 6.24 - Representação gráfica da Concentração de Cobre x Posição das

análises químicas das liga 456.4, liga 564.4 e Liga 645.4.................... 122Figura 6.25 - Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição das

análises químicas das liga 456.3 e liga 465.3....................................... 123Figura 6.26 - Representação gráfica da Concentração de Zinco x Posição das

análises químicas das liga 456.3, liga 465.3......................................... 123Figura 6.27 - Representação gráfica da Concentração de Cobre x Posição das

análises químicas das liga 456.3, liga 465.3......................................... 124Figura 6.28 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para corrente de

excitação de 0,3A e respectivas temperaturas de transformações de fases durante o aquecimento e resfriamento........................................ 126

Figura 6.29 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para corrente deexcitação de 0,6A e respectivas temperaturas de transformações de fases durante o aquecimento e resfriamento........................................ 127

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Figura 6.30 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para corrente deexcitação de 0,8A e respectivas temperaturas de transformações de fases durante o aquecimento e resfriamento....................................... 127

Figura 6.31 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para as ligas 4.2 e 5.2 .......................................................................................................... 128

Figura 6.32 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para a liga 456.1.... 129Figura 6.33 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura, para as ligas 465.3

e 564.4 ................................................................................................... 130Figura 6.34 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura, para as ligas 456.4

e 456.3 ................................................................................................... 131

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Lista de Tabelas

Tabela 3.1 - Efeito da concentração de Níquel na temperatura de transformação de uma liga Cu-Al-Ni (% em peso) ................................................................ 31

Tabela 3.2 - Efeito do resfriamento e composição sobre a temperatura Mi................... 32Tabela 3.3 - Tipos de deformações ocorridas em cada fase, durante os ensaios de

fadiga em uma liga Cu-Al-Ni .................................................................... 41Tabela 4.1 - Cristalografia de Dendritas ........................................................................ 57Tabela 5.1 - Composição química das ligas para estudo da volatização do Zinco ........ 72Tabela 5.2 - Composição química das ligas básicas a serem utilizadas na fabricação

dos lingotes com segregação no sentido longitudinal do lingote por difusão e fusão seletiva .............................................................................. 73

Tabela 5.3 - Massa de cada elemento químico utilizado na fabricação das ligas paracontrole da volatização do zinco................................................................ 73

Tabela 5.4 - Massa de cada elemento químico utilizado na fabricação das ligas a serem utilizadas na fabricação dos lingotes com segregação no sentido longitudinal ................................................................................................ 74

Tabela 5.5 - Grau de pureza de matéria-prima usada na preparação das ligas LMF .... 74Tabela 5.6 - Resultados da calibragem dos termopares montados nas pontas

redonda e chata .......................................................................................... 80Tabela 6.1 - Resultados das análises químicas das ligas 72Cu-22Zn-6Al, posição

analisada por concentração (% em peso) ................................................... 97Tabela 6.2 – Resultados das análises químicas da liga 1 (70Cu-24Zn-6Al), liga 2

(71Cu-23Zn-6Al) ....................................................................................... 99Tabela 6.3 - Valores das reduções sofridas pela amostra 01....................................... 103Tabela 6.4 - Valores das reduções sofridas pela amostra 02....................................... 104Tabela 6.5 - Valores das reduções sofridas pela amostra 03........................................ 104Tabela 6.6 – Resultados das análises químicas da liga 456.1, liga 564.1 e liga 645.1;

posição analisada por concentração (% em peso).................................... 108Tabela 6.7 - Valores de dureza Vickers para as ligas no estado bruto de fundição ..... 119Tabela 6.8 - Valores de dureza Vickers para as ligas laminadas. ................................ 120Tabela 6.9 – Resultados das análises químicas da liga 456.3 e liga 465.3;

posição analisada por concentração (% em peso).................................... 120Tabela 6.10 – Resultados das análises químicas da liga 456.4, liga 564.4 e liga

645.4; posição analisada por concentração (% em peso)......................... 121Tabela 6.11 - Resultados das análises químicas das ligas 4.2, 5.2 e 6.2 ...................... 125Tabela 6.12 – Valores das temperaturas Mi (início da transformação martensítica) -

teórios e reais ........................................................................................... 132

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Lista de Siglas, Símbolos e Abreviaturas

Mi - temperatura de início da transformação martensítica

Mf - temperatura do término da transformação martensítica

Ai - temperatura de início da transformação matriz

Af - temperatura do término da transformação matriz

EMF – Efeito Memória de Forma

LMF – Liga Memória de Forma

SME - Shape Memory Effect

SMA – Shape Memory Alloys

Et’ = variação total de energia na transformação termoelástica

Ec = variação da energia química livre por unidade de volume

To = temperatura de equilíbrio

T = tensão na linha de discordância

G = módulo de elasticidade transversal

b = valor do vetor de Burgers

R = raio de curvatura da linha de discordância

= resistividade elétrica

V = leitura da voltagem

A = área da seção transversal das amostras

I = corrente elétrica

L = distância entre os terminais devoltagem

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1

1.1. Considerações Iniciais ..................................................................................................................... 11.2. Objetivos do trabalho ...................................................................................................................... 51.3. Justificativa...................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO II - ASPECTOS TEÓRICOS DAS TRANSFORMAÇÕES MARTENSÍTICASTERMOELÁSTICAS E O EFEITO MEMÓRIA DE FORMA ................................ 7

2.1. A transformação martensítica termoelástica.................................................................................... 72.1.1. Características gerais.............................................................................................................. 7

2.2. Características estruturais das transformações martensíticas........................................................... 92.2.1. Ligas que apresentam transformação martensítica termoelásticas......................................... 92.2.2. Análise da estrutura cristalina na transformação martensítica ............................................ 10

2.3. Mudança de forma na transformação martensítica ........................................................................ 162.4. A própria acomodação da deformação na transformação e nucleação da martensita .................... 172.5 O Efeito Memória de Forma........................................................................................................... 19

2.5.1. Considerações sobre os mecanismos do Efeito Memória de Forma ..................................... 192.6. A origem do Efeito Memória de Forma ........................................................................................ 222.7. A pseudo-elasticidade.................................................................................................................... 23

CAPÍTULO III - VARIÁVEIS E SELEÇÃO DAS LIGAS COM EFEITO MEMÓRIA DEFORMA À BASE DE COBRE................................................................................. 27

3.1 Considerações iniciais .................................................................................................................... 273.2 Ligas Cu-Zn-Al ............................................................................................................................. 273.3. Variações nas temperaturas de transformações ............................................................................. 303.4. O Comportamento da deformação................................................................................................. 32

3.4.1 Deformação em monocristais ................................................................................................. 323.4.2. Deformação em policristais................................................................................................... 34

3.5. A estabilidade do Efeito Memória de Forma (EMF) em ciclos de deformação e ciclos térmicos........................................................................................................................................ 36

3.5.1. O efeito do ciclo térmico sobre o EMF.................................................................................. 363.5.2. O efeito do ciclo de deformação sobre o EMF ...................................................................... 38

3.6. Resistência à fadiga de ligas com Efeito Memória de Forma à base de cobre .............................. 413.7. Resistência à fratura e à ductilidade .............................................................................................. 433.8. Refino de grãos.............................................................................................................................. 463.9. Efeito do envelhecimento ............................................................................................................. 49

3.9.1. Envelhecimento da fase matriz .............................................................................................. 503.9.2. Envelhecimento na fase martensítica..................................................................................... 51

CAPÍTULO IV - A FUSÃO E SOLIDIFICAÇÃO DE LIGAS METÁLICAS................................... 53

4.1. Técnicas e equipamentos de fusão................................................................................................. 534.2. Macroestrutura de fundição ........................................................................................................... 55

4.2.1. A Zona Coquilhada................................................................................................................ 574.2.2. A Zona Colunar ..................................................................................................................... 574.2.3. A Zona Equiaxial Central ...................................................................................................... 58

4.3. A Segregação................................................................................................................................. 594.4. Defeitos originados na solidificação.............................................................................................. 61

4.4.1. Porosidades ........................................................................................................................... 614.4.2. Bolhas .................................................................................................................................... 644.4.3. Inclusões ................................................................................................................................ 66

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4.4.4. Trincas de contração ............................................................................................................. 684.4.5. Gotas quentes ........................................................................................................................ 684.4.6. Gotas frias ............................................................................................................................. 69

CAPITULO V - PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL..................................................................... 71

5.1. Seleção das ligas a serem estudadas .............................................................................................. 715.2. Os fornos utilizados na fabricação das ligas em estudos ............................................................... 74

5.2.1. Queimador ou tocha .............................................................................................................. 775.2.2. Insuflador de ar ..................................................................................................................... 785.2.3. Sistemas de controle da combustão ....................................................................................... 795.2.4. O controle da temperatura .................................................................................................... 795.2.5. O sistema operacional do Forno 1 e do Forno 2................................................................... 81

5.3. Sistema de lingoteiras para fusão e solidificação .......................................................................... 815.3.1. A primeira experiência .......................................................................................................... 815.3.2. A segunda experiência........................................................................................................... 825.3.3. A terceira experiência............................................................................................................ 84

5.4. Processos de fabricação das ligas com Memória de Forma do Tipo Cu-Zn-Al comsegregação controlada no sentido longitudinal do lingote............................................................ 85

5.4.1. Processo de fabricação de ligas Cu-Zn-Al com o controle da volatização do zinco............. 865.4.2. Processo de solubilização das ligas produzidas segundo os procedimentos acima ............. 875.4.3. Procedimento de difusão e fusão seletiva para produção de ligas com a segregação

controlada ao longo do sentido longitudinal do lingote......................................................... 875.5. Procedimento de laminação a quente das ligas produzidas ........................................................... 89

5.5.1. O laminador........................................................................................................................... 895.5.2. Mufla de aquecimento............................................................................................................ 905.5.2. Preparação das ligas para laminação e o procedimento de laminação................................ 91

5.6. Procedimento de análise química .................................................................................................. 915.7. Caracterização elétrica das ligas com Efeito Memória de Forma.................................................. 92

CAPÍTULO VI - RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................ 96

6.1. Experimento I ................................................................................................................................ 966.2. Experimento II............................................................................................................................... 986.3. Experimento III ........................................................................................................................... 1016.4. Experimento IV ........................................................................................................................... 1066.5. Experimento V ............................................................................................................................ 112

6.5.1. Laminação .......................................................................................................................... 1166.5.2. Análise química................................................................................................................... 1206.5.3. Características elétricas e o Efeito Memória de Forma..................................................... 126

CAPÍTULO VII - CONCLUSÕES....................................................................................................... 133

7.1. Propostas para futuros trabalhos.................................................................................................. 134

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 135

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA....................................................................................................... 140

ANEXO A - Projeto de fabricação de fornos a gás para fusão de ligas metálicas até 1500ºC comatmosfera controlada ...................................................................................................... 143

ANEXO B - Equipamentos e instalações utilizadas na fabricação das ligas com efeito memória de

forma do tipo Cu-Zn-Al, com segregação controlada no sentido longitudinal do

lingote por fusão seletiva ................................................................................................ 177

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CAPÍTULO I - Introdução

1.1. Considerações Iniciais

O Efeito Memória de Forma (EMF) foi descoberto no início da década de 50 em

ligas Au-Cd. Na década seguinte (1963), o mesmo efeito foi observado em ligas Ti-Ni,

quando descortinaram-se as primeiras chances de aplicações práticas do fenômeno

devido às excelentes propriedades da liga como resistência mecânica, resistência à

corrosão e ductilidade. Muitas outras ligas com Efeito Memória de Forma foram

descobertas mais tarde, tais como: Cu-Al-Ni, Cu-Zn-Al, Fe3-Pt, Ni-Al, Ag-Cd e Cu-Sn.

No entanto, apenas as ligas à base de cobre apresentaram características que

viabilizariam algumas aplicações em substituição às ligas Ti-Ni.

Por volta de 1975, as atenções voltaram-se mais especificamente para as ligas à

base de cobre, por causa de suas potencialidades como um novo material funcional.

Atualmente, a aplicação das ligas com EMF tem sido pesquisada em vários campos e o

aspecto econômico do seu processamento, tem sido um fator importantíssimo na

escolha de tais ligas. Esta é a principal razão do crescente interesse pelas ligas à base de

cobre, que têm um custo até cem vezes inferior às ligas de Ti-Ni.

Ligas à base de cobre, comparadas com as ligas Ti-Ni, possuem propriedades

mecânicas um pouco mais baixas devido a seu tamanho de grão e maior anisotropia

elástica. Por outro lado, ligas de cobre podem ser produzidas mais facilmente e

economicamente, são mais baratas quando comparadas às ligas Ti-Ni, as quais exigem

tecnologia e processos caros e complicados em sua fabricação (KOSTOV e

ZIVKOVIC, 1997, p. 51).

A fabricação de monocristais de ligas à base de cobre (GARCIA R., 2000) bem

como suas aplicações, têm sido freqüentemente citadas e esclarecidas na literatura sobre

ligas com Efeito Memória de Forma. Entretanto, uma aplicação mais genérica de ligas

policristalinas deverá passar pela elucidação dos seguintes itens:

a) a estabilidade do EMF sob deformações repetidas e ciclos térmicos ocorridos

durante sua aplicação;

b) a resistência à fadiga;

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c) a resistência mecânica em geral;

d) a plasticidade;

e) o efeito do refino de grão;

h) o efeito do envelhecimento;

i) a interferência da composição química;

j) as condições de solidificação.

A análise separada dos itens acima, em razão de sua complexidade, poderá

inviabilizar economicamente as aplicações mesmo com ligas à base de cobre. A

complexidade em se obter o controle de todos parâmetros e fatores que influem

diretamente sobre o Efeito Memória de Forma inviabiliza técnica e economicamente a

fabricação deste tipo de ligas, principalmente levando-se em conta as exigências de

equipamentos e sistemas de controles, que são de altíssimos custos. Todos esses fatores

tornam definitivamente inviável a produção comercial da liga Cu-Zn-Al.

A aplicabilidade das LMF (Ligas Memória de Forma), como “Material

Inteligente”, sensores e atuadores simultâneo, passa pela necessidade de uma garantia

de seu comportamento (WAYMAN, 1993).

A existência de uma temperatura de transformação martensítica entre fases

metaestáveis supõe uma capacidade intrínseca das ligas. Além disso, a complexidade da

transformação, cria dificuldades substanciais no domínio das aplicações práticas e nos

estudos fundamentais, particularmente por causa da dificuldade de tratamento em

separado de cada fenômeno do conjunto do processo simultâneo que toma lugar no

material no momento das transformações de fases (LOVEY e TORRA, 1999). Desde

1990, a literatura concentra-se nesses problemas de estabilidade das transformações, e

um outro fator que é importante citar, são as dificuldades associadas à resolução e

precisão limitada do equipamento e das técnicas industriais usadas na fabricação deste

tipo de ligas. Para Stalmans, Van Humbeeck e Delaey (1992), a resolução está

assinalada e muito bem explicada, pois é o tipo de instrumento que modifica os

resultados: “os resultados obtidos em estudos anteriores estão influenciados por

artefatos resultantes dos testes de prova”.

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Algumas vezes, os termos usados na literatura sobre ligas memória de forma

(LMF) são de difícil interpretação. Ortin (1992a e b), por exemplo, alega que as LMF

são inadequadas em aplicações de atuadores contínuos. Também para Wollants, Roos e

Delaey (1993) as medidas de calorimetria têm produzido algumas interpretações

errôneas e controversas, relatadas quanto ao comportamento espontâneo dos ciclos

mecânicos e termodinâmicos, além das controversas em relação aos termos usados nos

estudos das LMF.

Um dos maiores problemas na fabricação das ligas com efeito memória de forma

do tipo Cu-Zn-Al é a volatização do zinco, o que torna difícil o controle sobre a

composição química deste tipo de liga, mesmo na fabricação de ligas monocristalinas

pode-se detctar este tipo de problema (PELEGRINA e ROMERO, 2000).

Os procedimentos até então encontrados para a produção de ligas Cu-Zn-Al

consistiam em adicionar todos os componentes para a fusão em um cadinho, sendo esse

levado até um forno do tipo elétrico à indução com atmosfera controlada (ZHANG,

FERNANDEZ e GUILEMANY, 2000 e DATTA, BHUNYA e BANERJEE, 2001) ou

um outro procedimento usa o tipo de forno de cadinho com aquecimento por queimador

a gás (KOSTOV e ZIVKOVIC, 1997). Feita a fusão, efetuava-se o vazamento do metal

em uma coquilha, cuja solidificação poderia se dar em atmosfera controlada ou em

atmosfera ambiente. Nesta seqüência, era inevitável a perda do zinco por volatização, o

que levava sempre à perda do controle da composição química da liga que se pretendia

produzir.

Apenas a título de reflexão, pode-se concluir que a utilização de ligas com efeito

memória de forma do tipo Ti-Ni, apesar de um custo de até 100 vezes superior aos das

ligas Cu-Zn-Al, ainda é a mais aplicada em tecnologia, graças ao seu rígido controle de

composição química e de comportamento, o que torna essas ligas típicas para aplicações

aeroespaciais.(HOPULELE et al., 2004).

Como um novo material, o conhecimento aumenta progressivamente. Somente

sua análise precisa permitirá um correto e repetitivo comportamento para sua aplicação,

bem como uma nova introspecção para melhorias. A compreensão quantitativa e

comparativa dos mecanismos que caracterizam o material é decisiva para as aplicações

sofisticadas. (LOVEY e TORRA, 1999).

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Em decorrência da complexidade envolvida nos procedimentos de fabricação de

ligas com efeito memória de forma, cabe aqui a discussão sumária de questões tanto da

Física Clássica, quanto da Quântica. Para a Clássica, cada efeito tem sua causa e, dadas

as leis corretas, tudo pode ser previsto, esses são os princípios que regem

fundamentalmente nossa ciência e tecnologia. Mas também não se pode deixar de ser

influenciados pelas Teorias da Física Quântica, nas quais não se encontram

previsibilidade e, portanto, não há controle possível.

Nos modelos quânticos, os sistemas funcionam no limite entre a ordem e o caos

e, mesmo assim, explicam, com uma quase contraditória harmonia, o nosso meio – do

microcosmo ao macrocosmo, nos quais estão inclusos todos os itens citados de

influência sobre o Efeito Memória de Forma. Os sistemas quânticos se auto-organizam

de modo que suas partes têm propriedades específicas que não são encontradas no todo

e vice-versa. Por isso, não se pode estudar a organização quântica através de análises,

mas partindo-se apenas da apreensão de seu padrão de auto-organização.

No Princípio da Incerteza, fala-se da impossibilidade de determinar com

precisão os dados de um sistema em sua totalidade. Sua grande implicação é que as

perguntas que são feitas vão determinar as respostas que vamos obter. Analogamente,

todas as vezes que se tenta controlar um processo tecnológico introduz-se variáveis que

afetam diretamente o que se pretende controlar, o que é coerente com a citação de

Stalmans, Van Humbeeck e Delaey (1992).

Este trabalho propõem estudar não os efeitos dos processos sobre os resultados

do produto – no caso as ligas com Efeito Memória de Forma –, mas sim o que se pode

produzir com os recursos e métodos disponíveis. Mais uma vez, não se pode esquecer

que nossas necessidades estão sempre à nossa disposição, principalmente quando vistas

do ponto de vista quântico.

A alusão à Física Quântica, neste momento, tem apenas o objetivo de justificar

uma filosofia de trabalho e fazer uma reflexão sobre o conhecimento. É fundamental, no

decorrer deste trabalho, o conhecimento dos fatores que influem no Efeito Memória de

Forma e que estão implícitos muito mais num contexto quântico do que clássico.

Ressalta-se ainda que todos os procedimentos adotados no controle da

volatização do zinco e na produção das ligas com segregação controlada ao longo do

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sentido longitudinal dos lingotes são inéditos. Não foi encontrada, na literatura,

nenhuma referência sobre a metodologia desenvolvida neste trabalho.

1.2. Objetivos do trabalho

Motivado pelos grandes desafios de produzir ligas com EMF, que venham

atender às exigências de propriedades e econômicas necessárias às suas aplicações, este

trabalho objetiva:

propor métodos de controle da volatização do zinco;

desenvolver processos tecnológicos eficientes na produção de ligas com o

“Efeito Memória de Forma” (EMF), com uma segregação controlada do

soluto, no sentido longitudinal dos lingotes, produzidos a partir dos recursos

tecnológicos disponíveis;

analisar a ampliação do Efeitos Memória de Forma proveniente da

segregação controlada do soluto ao longo do lingote;

estudar as propriedades das ligas produzidas, como sua resistência mecânica e

dureza;

esclarecer pontos desconhecidos ou discutíveis nos meios acadêmicos,

científicos e tecnológicos quanto à grande dificuldade em se controlar a

composição química deste tipo de liga durante sua fabricação.

1.3. Justificativa

O trabalho justifica-se fundamentalmente pela necessidade de se produzir ligas

Memória de Forma – LMF, em equipamentos convencionais e disponíveis a qualquer

pesquisador ou empresa que desejar produzir componentes com esse tipo de material

funcional. O controle de composição química e das propriedades das LMF, conforme já

citado, exige uma grande complexidade de métodos e controles, que claramente não

trouxe nenhuma solução definitiva e viável para a produção das LMF a base de cobre.

As ligas, objeto de estudo deste trabalho, serão produzidas pelo mais simples

processo de fusão, que é aquele feito por intermédio de um forno de cadinho com

aquecimento por queimador à gás (Gás natural ou Gás Liqüefeito de Petróleo), sem

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atmosfera controlada, com controle de temperatura feito por pirômetro de imersão e

seguida de solidificação realizada em atmosfera ambiente. As ligas serão submetidas

posteriormente à nova técnica de fusão, difusão e solidificação capaz de impor uma

segregação ao longo do lingote, no sentido longitudinal (técnica esta inovadora e

inédita). Espera-se que a nova técnica na produção das LMF possa aumentar a

amplitude do Efeito Memória de Forma, próprio dos efeitos da segregação controlada.

Qualificando-se este novo material para as aplicações tecnológicas, tem-se uma

perspectiva de produção e fabricação de uma nova geração de ligas Efeito Memória de

Forma, disponibilizando, desta forma, um novo material funcional com ampla gama de

aplicações, bem como a abertura de novas frentes de pesquisas vizando otimizar e

qualificar um novo material para aplicações específicas dentro das necessidades

tecnológicas.

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CAPÍTULO II - Aspectos teóricos das transformações martensíticas termoelásticas

e o Efeito Memória de Forma

2.1. A transformação martensítica termoelástica

2.1.1. Características gerais

As transformações martensíticas termoelásticas são caracterizadas por

necessitarem de uma pequena variação de energia de ativação. Este comportamento

difere consideravelmente das transformações martensíticas, como por exemplo as

transformações típicas dos aços, ou seja, nestas transformações martensíticas

termoelásticas depois dos cristais terem sido nucleados, eles crescem ou decrescem com

a mudança da temperatura, tornando este um ponto importante para o entendimento do

Efeito Memória de Forma.

Os valores das variações das energias da interface e da deformação plástica são

tão pequenas que podem ser desprezíveis nas transformações martensíticas

termoelásticas. O equilíbrio entre o efeito térmico e o efeito elástico leva ao efeito

Termoelástico (FUNAKUBO, 1987). Observa-se que a diferença de energia livre para

promover a força motriz da transformação é muito menor na reação martensítica termo-

elástica, resultando assim em uma histerese bem menor de transformação, conforme

ilustra a Figura 2.1.

Figura 2.1 – Curvas Resistência Elétrica X Temperatura para comparação entre as temperaturas de transformações martensíticas não-termoelástica (Fe-Ni) e uma

termoelástica (Au-Cd)(Fonte: KAUFMAN E COHEN, 1958, p. 165)

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Para ocorrer a transformação martensítica termoelástica é necessário uma

pequena variação da energia da interface e da energia da deformação plástica. Isso será

possível se:

a mudança estrutural, e conseqüentemente, a mudança de volume da fase

martensítica forem pequenas, e

houver uma boa coerência entre as fases matriz e a martensítica.

Essass condições são satisfeitas quando a fase martensítica possuir uma estrutura

ordenada.

Numa transformação termoelástica tem sido observado experimentalmente que

os primeiros cristais de martensita formados à temperatura Mi são os últimos a sofrerem

a transformação reversa em Af (TONG e WAYMAN, 1974).

Na transformação martensítica, a força de ativação provém da variação de

energia do sistema:

P ____ M

Et’ (transformação da martensita)

M _____ P

Et’ (transformação reversa da martensita)

Os valores das variações de energias são quase iguais para uma temperatura To,

temperatura de equilíbrio, desde que o super-resfriamento (To - Mi) e o

superaquecimento (Ai - Mi) sejam iguais. A temperatura To pode ser obtida por:

To = 1/ 2 ( Ai + Mi) ..................................................................(1)

onde:Ai = Temperatura de início da transformação reversa da

martensita.

Mi = Temperatura de início da transformação martensítica.

No entanto, as transformações martensíticas termoelásticas, não podem ser

analisadas pela equação (1). As transformações martensíticas termoelásticas podem

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apresentar outras temperaturas de equilíbrio, “To”, antes da transformação iniciar, desde

que só ocorram mudanças nas variações das energias químicas, Ec, e considerando

T = To, onde T é a temperatura de equilíbrio para:

P____ M P______ M

Et’ = Ec = 0

Pode-se observar, Figura 2.2, a existência de dois tipos de transformações

martensíticas termoelásticas, em função de suas temperaturas de equilíbrio,

determinadas através das variações da resistência elétrica das amostras ensaiadas ou

pelas variações de sua resistividade elétrica.

Tipo I: Af > Ai > To > T’o > Mi > Mf ( Au-Cd )

Tipo II: Af > To > Mi > Ai > T’o > Mf ( Cu-Zn )

Figura 2.2 - Curvas Resistência Elétrica X Temperatura para os dois tiposde transformações martensíticas termoelásticas

(Fonte: TONG E WAYMAN, 1974, p. 93)

2.2. Características estruturais das transformações martensíticas

2.2.1. Ligas que apresentam transformação martensítica termoelásticas

As ligas que apresentam a transformação martensítica termoelástica e que

guardam o Efeito Memória de Forma são predominantemente de reticulado cristalino

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cúbico de corpo centrado (A2), que serão designadas de fase matriz e a fase

martensítica ’ (FUNAKUBO, 1987).

Para as ligas com composições químicas fixas, tendo:

50% do elemento A; 50% do elemento B (porcentagem atômica), tem-se a

fase matriz 2 e a fase martensítica ’2,

75% do elemento A; 25% do elemento B (porcentagem atômica), tem-se a

fase matriz 1 e a fase martensítica ’1.

As exceções do sistema cúbico de corpo centrado (A2) são as ligas In-Ti e Mn-

Cu, que são cúbicas de face centrada (A1) fase a liga Fe-Pd do sistema tetragonal de

face centrada (L10,) fase , e o composto Fe3-Pt com super reticulado cúbico de face

centrada ( L12 ) fase .

Dependendo da fase matriz, as fases martensíticas de outros sistemas cristalinos

podem ser: ’1 ou ’1 ; ’2 ou ’2. Esta notação adotada não é padronizada e está sujeita

a alterações.

2.2.2. Análise da estrutura cristalina na transformação martensítica

a) Transformação da fase matriz 2 para a fase martensítica ’2

A fase matriz 2, tem sistema cristalino CCC, conforme ilustrado

na Figura 2.3.

Figura 2.3 - Sistema cristalino CCC: (a) Célula unitária da estrutura cristalina da fase matriz 2 (b) e (c) planos {110} da seqüência de

empilhamento (Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 15)

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A martensita, fase ’2 , será formada pelo empilhamento alternado dos planos

{110} a partir da fase matriz representada na Figura 2.3.

A Figura 2.4 representa os planos resultantes do deslocamento atômico numa

transformação martensítica termoelástica.

Figura 2.4 - Representação de três tipos de planos resultantes do deslocamento atômico na transformação martensítica, em (a), (b) e (c)

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 16)

O empilhamento alternado dos planos representados na Figura 2.4 resulta nas

seguintes seqüências de empilhamento: (1)3 ou 3R e (2 1 ) ou 9R, originando

assim as fases martensíticas típicas de cada arranjo cristalográfico.

Figura 2.5 - Empilhamento de planos alternados da

martensítica resultantes da seqüência (1)3 ou 3 R

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 18)

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12

Figura 2.6 - Empilhamento de planos alternados fase da fase martensítica

resultantes da sequência (2 1) ou 9R(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 18)

As notações (1)3 e ( 2 1) são de Zhdanov (apud FUNAKUBO, 1987, p. 18) e

3R e 9R de Ramsdell (apud FUNAKUBO, 1987, p. 18). Essas notações são

bastante usadas como uma forma de representar o período da seqüência de

empilhamento da martensita. Na notação Ramsdell (apud FUNAKUBO, 1987,

p. 18), o “H” e o “R” representam a simetria hexagonal e a simetria

romboédrica, respectivamente. No entanto, os símbolos individuais não

promovem uma completa descrição da ordem de empilhamento.

A notação Zhdanov (apud FUNAKUBO, 1987, p. 18) representa melhor as

diferenças nas ordens de empilhamento ou empacotamento dos planos atômicos.

A martensita representada por 3R e 9R são constituídas somente de três

variações de planos de empacotamento A, B e C e aparecem nas ligas do tipo 2.

b) Transformação da fase matriz 1 para a fase martensítica ’1

A fase matriz tem estrutura cristalina do tipo DO3 , como exemplo as ligas Cu3Sn

e Cu-Ni-Al, ilustrada na Figura 2.7.

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Figura 2.7 - Célula unitária cristalina na fase matriz 1 , em (a) e planos {110} da sequência de empilhamento, em (b) e (c)

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 15)

A fase martensítica ’1 será formada pelo empacotamento dos planos {110} na

fase martensítica a partir da fase matriz representada na Figura 2.7.

A Figura 2.8 ilustra os tipos possíveis de planos formados pelo deslocamento

atômico na transformação martensítica.

Figura 2.8 - Os Seis tipos de planos resultantes do deslocamento atômico na transformação martensítica

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 16)

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14

O empacotamento alternado dos planos representados na figura 2.8, resulta nas

seguintes estruturas martensíticas:

(2 1) 6 ou 18 R ( 1 ), (1 1 3 1) ou 18 R ( 2 ) e ( 1 )6 ou 6 R representadas em a, b e c da

Figura 2.9.

Figura 2.9 - Estruturas martensíticas resultantes do empacotamento alternado dos planos da Figura 2.20, em (a) 18R (1) , (b) 18 R (2) e (c) 6R

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p.17)

As martensitas com estrutura cristalina dos tipos 6R e 18R resultam do

empacotamento dos 6 planos variantes: A, B, C, A’, B’ e C’, como exemplo

tem-se as ligas do tipo DO3. Já a martensita com sistema cristalino do tipo 2 H

(notação Ramsdell com simetria hexagonal) pode aparecer em uma ou outra

espécie.

Caso os elementos químicos da liga não sejam iguais, os deslocamentos dos

planos A, B, C, A’, B’ e C’ não ocorrem a 1/3 do parâmetro do reticulado e o

ângulo do eixo C não será normal ao plano basal, ocasionando então um sistema

cristalino monoclínico, necessitando acrescentar na notação da estrutura o

diferencial (M) para designar o reticulado monoclínico (TADAKI, TOKORO e

SHIMIZU, 1975).

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15

Analisando a transformação da fase matriz 1 para a fase martensítica ‘1 ou seja

a transformação DO3 em 18 R através da Figura 2.10, permite concluir que

existem as seguintes relações cristalográficas.(SABURI et al., 1980):

(0 1 1) DO3 ________ (001) 18R

1/2 [0 1 1 ]DO3 ____ [100] 18R

[ 1 0 0] DO3 ____ [010] 18R

[0 4 5] DO3 ____ [001] 18R

A Figura 2.10 tem como finalidade representar, esquematicamente, a

deformação por pseudo-cisalhamento na transformação martensítica, bem como

as relações entre os planos e direções da fase matriz com a fase martensítica.

Esta representação ilustra o empacotamento da Figura 2.9 em (a).

Figura 2.10 - Representação esquemática da transformação da fase matrizDO 3 ou ( 1 ) para fase martensítica 18 R (l ) ou ( ’1 )

(Fonte: VIEIRA, 1995, p. 17)

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Verifica-se, ainda, a existência de 6 tipos de planos (011) na fase matriz e para

cada um existem duas direções de cisalhamento, o que resultará em 12

reticulados equivalentes correspondentes, totalizando 24 planos de hábitos

possíveis, isto se forem considerados 12 planos com referência positiva e outros

12 planos com referência negativa, conforme ilustra a Figura 2.11.

Figura 2.11 - As quatro direções possíveis de deformação para um plano (011)

(Fonte: VIEIRA, 1995, p. 17)

Modelos matemáticas das transformações martensíticas nas ligas Cu-Zn-Al

possibilitam uma visualisação dos fatores microestruturais que influêm nestes tipos de

transformações (GAO e BRINSON, 2002; STUPKIEWICZ, 2004).

2.3. Mudança de forma na transformação martensítica

As deformações decorrentes das transformações são acompanhadas por

mudanças de forma ou efeito de relevos na superfície. Essas mudanças da forma são

resultantes das deformações por movimento cooperativo, ao longo dos planos de hábito;

porém, quando não houver deformação e nem rotação no plano de hábito, o tipo de

deformação passa a ser denominada de deformação plana e invariante (FUNAKUBO,

1987, pp. 27-33).

Macroscopicamente a deformação plana e invariante é uniforme, por causa da

preservação dos planos e linhas retas da fase matriz na fase martensítica. A formação da

fase martensítica variante a partir da fase matriz, Figura 2.12, ilustra as deformações no

plano invariante representadas pela componente por cisalhamento ( s) e a componente

de deformação normal ou axial ( n).

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Figura 2.12 - Componentes da deformação na transformaçãomartensítica.(P): fase matriz; (M): fase martensítica

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, pp. 27-33)

A transformação martensítica termoelástica que ocorre nas ligas que apresentam

o Efeito Memória de Forma são basicamente pura deformação por movimento

cooperativo, uma vez que a mudança de forma envolve, usualmente, pequenas

mudanças no volume e, consequentemente, a transformação procede sem induzir uma

deformação plástica na vizinhança da fase matriz.

2.4. A própria acomodação da deformação na transformação e nucleação da

martensita

A Figura 2.12 mostra a deformação ocorrida quando uma placa de martensita é

formada dentro de um cristal na fase matriz. Esta deformação que acompanha a

transformação martensítica é manifestada diretamente nas mudanças das formas

externas da fase matriz.

Mesmo em um simples cristal da fase matriz, o número de martensitas com

diferentes planos de hábitos aparecerão espalhados por todo o espécime. Essas

martensitas, com diferentes planos de hábitos, são chamadas de martensitas variantes

(FUNAKUBO, 1987, p. 34).

As deformações, como as mostradas na Figura 2.12, não produzirão mudanças

na forma externa do espécime, uma vez que não se dará a transformação em apenas um

sistema de plano de hábito.

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Além da deformação da martensita variante em vários locais dentro de cada

grão, tem-se, ainda, o efeito compressivo dos cristais vizinhos, quando o espécime for

policristalino.

Na seção 2.2.2, foi feita uma análise da estrutura cristalina na transformação

martensítica da fase matriz DO3 para a martensita 18R e foi concluído que existem 12

reticulados cristalinos equivalentes correspondentes, com 24 planos de hábitos possíveis

para a nucleação da fase martensítica. Observando-se estas martensitas variantes com 4

planos de hábitos crescendo lado a lado, ver-se-á a formação de uma estrutura do

diamante do grupo II, ao redor de um plano da família {101} da super-rede DO3

(Figura 2.13). Esta transformação reduz mutuamente a deformação que acompanha a

transformação martensítica e a este efeito chama-se de A Própria Acomodação, o que

vem explicar a ausência da mudança de forma no espécime, simplesmente pela

transformação martensítica.

Figura 2.13 - Estrutura do diamante grupo II resultante do crescimento das martensitas lado a lado

(Fonte: SABURI et al., 1980, p 15)

A Figura 2.14 tem o único objetivo de ilustrar a auto-acomodações das martensítas

variantes, as quais apresentam uma aleatoriedade em seus sentidos de formação.

A auto-acomodação própria da formação do grupo de placas de martensitas

variantes pode ser melhor compreendidas através de esclarecimentos da cristalografia

(AYDOGDU, AYDOGDU e ADIGUZEL, 2002, p. 500).

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(a) (b)

Figura 2.14 - Representação da auto-acomodação das martensitasvariantes: (a) em duas dimensões e (b) em três dimensões

(Fonte: BARON, 1998)

No entanto, se uma força externa for aplicada no momento da transformação, a

forma externa do espécime mudará sob a influência desta força, pois esta provocará a

transformação da martensita predominantemente em um dos 24 planos de hábitos

possíveis para a nucleação da martensita, acumulando toda a deformação própria da

transformação num sentido preferencial dado pelo sentido da força aplicada. No entanto

se o espécime for mais tarde aquecido acima da temperatura Af, cuja fase matriz é

estável, a reversão da transformação será induzida e a amostra retornará à forma

original, conclui-se, então, que é possível controlar a mudança de forma nas

transformações martensíticas e este controle nada é do que a aplicação do Efeito

Memória de Forma (EMF).

2.5 O Efeito Memória de Forma

2.5.1. Considerações sobre os mecanismos do Efeito Memória de Forma

A transformação martensítica termoelástica ocorre por deformações pseudo-

cisalhantes e, portanto, opera por uma deformação similar ao deslizamento ou à

maclação. Entretanto, a transformação martensítica é reversível e, portanto, ausente de

deformações plásticas, como as originárias do deslizamento ou da maclação

(FUNAKUBO, 1987, p. 27).

São apresentados para análise, os diagramas x tensão x deformação) para

uma liga Cu-34,7 Zn-3 0Sn, que exibe transformação termoelástica.

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Figura 2.15 - Curvas Tensão versus Deformação para um monocristal de uma liga Cu-34,7Zn-3,0Sn (%em peso), com Mi = -52°C, Mf = - 65°C, Ai = - 50°C e Af = - 38°C

(Fonte: EISEMWASSER E BROWN, 1972)

a) Quando a temperatura de transformaçãoT Af, uma aparente deformação

plástica segue a deformação elástica na fase matriz. No entanto, esta

deformação, aparentemente plástica, desaparece quase completamente se for

removida a tensão. Tal elasticidade não linear, capaz de recuperar a

aparente deformação plástica da ordem de 7%, é chamada de deformação por

movimento cooperativo, própria das transformações martensíticas induzidas

por tensões.

b) Comportamento da transformação para T < Af. Observa-se, na Figura 2.16

que a deformação não é totalmente reversível após a retirada da tensão.

= 0 e que uma deformação 1 permanece.

A deformação 1 no entanto, será eliminada se a amostra for aquecida. Essa

quase completa eliminação da deformação no aquecimento é que se denomina Efeito

Memória de Forma EMF

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Figura 2.16 - Curva Tensão versus Deformação de uma liga com memória de forma a uma temperatura menor que Af

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 28)

A recuperação da forma provém da diferença de energia livre entre a fase

matriz e a fase martensítica na reversão da transformação No entanto esta

recuperação da forma nem sempre será completa (FUNAKUBO, 1987, p. 28).

Os fatores necessários para uma completa recuperação de forma são:

a transformação deve ser cristalograficamente reversível, e

não deve envolver deformações plásticas na transformação

A reversão cristalográfica existirá não só se a estrutura retornar a sua forma de

origem mas também se o sentido e a orientação forem preservados tal qual as

características cristalográficas da fase matriz, antes da transformação Assim, nessas

condições, a forma será totalmente recuperada.

Para haver a recuperação total será necessário satisfazer as condições:

a liga deve tolerar transformação termoelástica, e

se a deformação for induzida no cristal, sua recuperação ocorrerá por

aquecimento desde que esta deformação seja proveniente da martensita

induzida por tensões.

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2.6. A origem do Efeito Memória de Forma

Como foi visto na seção 2.8 há 24 planos de hábitos possíveis para a nucleação

da martensita porém estas martensitas só coales cerão nos planos que estiverem

favoravelmente orientados com a tensão resultando num sentido preferencial da

martensita

Como a transformação martensítica ocorre preferencialmente no sentido da

tensão suas deformações por movimento cooperativo também obedecem o sentido da

tensão, levando assim o espécime a uma mudança de forma externa no sentido da

tensão

Se a tensão for removida no meio da transformação martensítica a partir deste

instante as novas martensitas terão orientação aleatória e poderão não contribuir para a

mudança de forma do espécime. A ilustração da possibilidade de uma recuperação total

pode ser feita a partir da Figura 2.17.

Figura 2.17 - Correspondência do reticulado cristalino no momento da reversão da transformação matriz - martensita

(Fonte: OTSUKA E SHIMIZU, 1977)

São três as possibilidades de transformação: A, B e C, conforme ilustra a

Figura 2.17, em (a) A simples observação leva a concluir que apenas a possibilidade

"A" ocorrerá, representada em (b), pois é a mais favorável energeticamente, uma vez

que resultará numa situação mais estável, pois é a única situação em que os vínculos

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são entre átomos idênticos, o que não ocorre com as possibilidades "B" e "C",

representadas em (c), às quais resultam numa maior energia para o sistema.

A menor energia resultante da possibilidade “A” (Figura 2.17) está realacionada

com a concentração de elétrons/átomos, (e/a), na liga e pela soma de seus pares

pontenciais entre os átomos vizinhos, o par potencial é aceito por estar independente da

estrutura do cristal, mas sim sendo função apenas da distância entre eles (AHLERS,

1996). Conclui-se que a fase matriz será automaticamente preservada Logo a forma

memorizada será a desta fase.

A memorização parcial da fase martensítica pode ocorrer quando:

a martensita for submetida a uma excessiva deformação, e

aquecendo-se o espécime sob compressão após este ter sido deformado no

estado martensítico. (OTSUKA e SHIMIZU, 1977)

2.7. A pseudo-elasticidade

O comportamento da pseudo-elasticidade está associado às transformações

martensíticas induzidas por tensões quando o espécime estiver a uma temperatura

acima de Af A martensita só existirá se for induzida por tensão Logo, quando se retira

a tensão a reversão da transformação ocorrerá pois a martensita é instável em

temperaturas superiores à Af Assim sendo tem-se uma seqüência de deformações

conforme ilustra a Figura 2.18

0

Figura 2.18 - Comportamento das transformações pseudo-elásticas para um monocristal de uma liga do tipo Cu- Al-Ni

(Fonte: OTSUKA E SHIMIZU, 1981)

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Uma análise desta figura mostra as seguintes deformações:

o_ a: deformação elástica da fase matriz;

a_ b: deformação pseudo-elástica, durante a transformação da fase

matriz para a fase martensítica induzida por tensão;

b_ c: deformação elástica da fase martensítica;

c_ d: recuperação da deformação elástica da fase martensítica;

d_ e: reversão da transformação martensítica induzida por tensão

para fase matriz, e

e_ o recuperação da deformação elástica da fase matriz

Os estudos sobre o Efeito Memória de Forma (EMF) e das transformações

pseudo-elásticas permitem a representação esquemática de seu comportamento, Figura

2.19 (OTSUKA e WAYMAN apud FUNAKUBO, 1987, p. 41).

Figura 2.19 - Representação esquemática da ocorrência dos efeitos EMF e pseudo-elástico em função das tensões e temperaturas

(Fonte: OTSUKA e WAYMAN, apud FUNAKUBO, 1987, p. 41).

Porém para que o Efeito Memória de Forma seja possível, é necessário trabalhar

as transformações por variações termodinâmicas aliadas à uma tensão aplicada ao

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espécime com valores de tensões que variam de um mínimo até um máximo dados

pelas tensões críticas de escorregamento cujo resultado está ilustrado na Figura 2.19.

Para tensões menores que o valor da tensão crítica de escorregamento B não

ocorrerá a transformação pseudo-elástica Esta só ocorrerá entre os valores de tensões

de escorregamento crítico A e B e a temperaturas superiores a Ai Nesta situação

observa-se que apenas as martensitas induzidas por tensões são estáveis

As ligas com Efeito Memória de Forma podem apresentar múltiplos estágios de

transformação pseudoelásticas conforme ilustra a Figura 2.20

Figura 2.20 - Diagrama Tensão X Deformação mostrando os múltiplos estágios dapseudo-elasticidade associados com as sucessivas transformações induzidas por tensões

(Fonte: OTSUKA e SHIMIZU, apud FUNAKUBO, 1987, p. 50)

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Os diagramas da Figura 2.20 foram feitos para um monocristal da liga Cu-

14 0Al-4 2Ni (% em peso) com orientação das tensões mais ou menos ao longo da

direção <001> 1 da fase matriz. A visualização das transformações estruturais ocorridas

nas mudanças de fases acima podem ser melhor entendidas através da Figura 2.21

(OTSUKA e SHIMIZU, apud FUNAKUBO, 1987, p. 51).

(a) (b)

Figura 2.21 - Estrutura cristalina das várias martensitas induzidas por tensões nas ligas Cu-Al-Ni, em (a) representação do plano

basal e em (b) representação das transformações(Fonte: OTSUKA e SHIMIZU, apud FUNAKUBO, 1987, p. 51)

Na Figura 2.21, em (b), pode-se observar, na seqüência da esquerda para a

direita, os sistemas cristalinos típicos das martensíticas nas ligas com transformações

termoelásticas , representadas pelas fases ’1, ’1, ”1 e ’1.

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CAPÍTULO III - Variáveis e seleção das ligas com Efeito Memória de

Forma à base de cobre

3.1. Considerações iniciais

A liga com Efeito Memória de Forma à base de cobre com o maior

interesse comercial é a Cu-Zn-Al geralmente acrescida de um 4o elemento químico,

isso devido ao seu custo de produção ser de até 100 vezes inferior ao das ligas Ti-Ni.

Estas ligas, TiNi, são as mais utilizadas e produzidas atualmente. Ainda tem-se as ligas

Cu-Al-Ni, apesar de menor intersse comercial tem sido pesquisada e estudada

(HOPULELE et al., 2004).

A primeira análise para a escolha de uma liga com memória de forma LMF a

base de cobre, deve ser feita nos seus respectivos diagramas de fases onde devem ser

selecionadas ligas contidas no campo da fase A estabilidade da fase

em temperaturas elevadas é um importante parâmetro no efeito memória de

forma conforme item 2.2.1.

3.2 Ligas Cu-Zn-Al

A Figura 3.1 representa um diagrama de fases para o sistema Cu-Zn (VAN

VLACK, 1984) Na faixa de composição entre 30 % e 60 % de zinco em peso tem-se as

seguintes fases

fase , solução sólida substitucional primária de Zn em Cu, com estrutura

cristalina (CFC), A1,

fase , solução sólida substitucional de estrutura (CCC), A 2, desordenada,

onde os átomos de Cu e de Zn posicionam-se aleatoriamente nos vértices e

nos centros das células unitárias,

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fase ’, fase intermediária com estrutura (CCC), B2 ordenada, ou seja,

mantém uma configuração de átomos de cobre alternados com átomos de

zinco, e

fase , fase intermediária do tipo composto Cu5 Zn8 com estrutura cristalina

(CCC), D8 2

Figura 3.1 - Diagrama de fase para as ligas Cu-Zn(Fonte: VAN VLACK, 1984)

No sistema binário Cu-Zn da Figura 3.1 observa-se que a fase é estável até

temperaturas relativamente baixas portanto as transformações martensíticas irão

ocorrer em temperaturas muito baixas este fato leva à necessidade de uma adaptação

das transformações da fase a temperaturas mais elevadas por intermédio da

adição do alumínio o que desloca para temperaturas mais elevadas a reação eutetóide

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No diagrama da Figura 3.2 (DELEAY et al., 1978) fica evidenciado o

deslocamento para a esquerda da fase para ligas com menores teores de zinco e em

temperaturas mais elevadas com a adição do alumínio

Figura 3.2 - Diagrama de fase para um sistema ternário Cu-Zn-Al,com 6 % em peso de alumínio (Fonte: DELEAY et al., 1978)

Nos gráficos representados na Figura 3.3 (BARON, 1998) pode-se observar a

influência do teor de alumínio sobre a temperatura de início da transformação

martensítica, a temperatura Mi

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Figura 3.3 - Diagrama de fase para um sistema ternário Cu-Zn-Al, mostrando a temperatura Mi para a liga com 2 %, 4% e 6 % em peso de alumínio

(Fonte: BARON, 1998)

3.3. Variações nas temperaturas de transformações

Um cuidadoso controle da composição química da liga deverá ser feito quando

se desejar temperaturas de transformações específicas. A Figura 3.4 (MIYAZAKI,

ICHINOSE e OTSUKA apud FUNAKUBO, 1987, p. 123) mostra a relação entre as

percentagens de alumínio e as temperaturas de transformações para uma liga Cu-Al-Ni.

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AfAiMiMf

Figura 3.4 - Relação entre a porcentagem do alumínio e as temperaturas de transformação para uma liga Cu-Al-Ni, após uma solubilização a 1000°C com

resfriamento em água fria (Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 123)

A Tabela 3.1 mostra a relação entre a concentração de Ni e as temperaturas de

transformação para uma liga Cu-Al-Ni, após um tratamento de solubilização 920 oC

com resfriamento em água (NAKAMURA et all, apud FUNAKUBO, 1987, p. 124).

Tabela 3.1 - Efeito da concentração de Níquel na temperatura de transformaçãode uma liga Cu-Al-Ni (% em peso)

Cu (%) Al (%) Ni (%) Mi (oC) Mf (oC) Ai (oC) Af (oC)72 28 0 12 -33 -43 4771 28 1 -8 -23 4 1770 28 2 -3 -4 10 1769 28 3 -25 -40 -13 768 28 4 -93 -101 -73 -43

Fonte: Funakubo, 1987, p. 124

As variações das temperaturas de transformação decorrem muito mais do

aumento da concentração do alumínio em relação ao teor de cobre, nas ligas

apresentadas na Figura 3.4, do que propriamente aos efeitos do níquel na difusão

atómica do cobre e do alumínio.

A Tabela 3.2 mostra a variação da temperatura de transformação Mi, em função

da velocidade de resfriamento. Negligenciando a composição química, observa-se um

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aumento do valor da temperatura Mi, quando se tem menores velocidades de

resfriamento.

Os efeitos da velocidade de resfriamento podem ser causados pela variação da

concentração de alumínio na matriz, próprio das mudanças provenientes de

precipitações, excesso de vacâncias retidas pelo resfriamento, ou pelo aumento das

tensões induzidas termicamente. No entanto, os mecanismos para explicar as mudanças

da temperatura Mi, não estão ainda bem esclarecidos.

Na Tabela 3.2, verifica-se a relação entre a velocidade de resfriamento,

composição e temperatura de transformação Mi, para ligas do tipo Cu-Al-Ni, após

tratamento de solubilização a 1000 ° C e resfriamento na temperatura Tr = 15 °C e Tr =

100 °C (MYIAZAKI et al., 1981, p. 244).

Tabela 3.2 - Efeito do resfriamento e composição sobre a temperatura Mi

% em peso) Tr oC) Mi (oC) Tr (oC) Mi (oC)

Cu-14 0-Al-3 9Ni 15 9 100 90Cu-14 1-Al-4 0Ni 15 11 100 60Cu-14 2-Al-4 0Ni 15 45 100 35

Fonte: MYIAZAKI et al., 1981, p. 244

3.4. O comportamento da deformação

3.4.1. Deformação em monocristais

Para temperaturas inferiores a Mi (T < Mi), existem placas de martensita

termicamente estáveis antes da deformação. Logo, o movimento das interfaces entre as

placas de martensita, ou das interfaces das maclas dentro da martensita, agem como um

modo de deformação operando em baixas tensões. A região elástica é muito limitada e a

deformação ocorre facilmente conforme ilustrado na Figura 3.5 (a) (OTSUKA et al.,

1976).

Para temperaturas maiores que Mi e menores que Af, (Mi < T < Af), existe uma

região elástica da fase matriz, que se expande até a tensão que induz a transformação da

martensita '1. Após a martensita ser induzida ocorre imediatamente uma queda da

tensão e este fenômeno deve-se ao fato do surgimento da fase martensítica. Com o

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surgimento instantâneo da martensita sobre uma extensa área, uma grande deformação é

concomitantemente aliviada e ocorrerá um significativo relaxamento da tensão – Figura

3.5 (b).

Nas temperaturas inferiores a Af, toda ou parte da deformação ocorrida na

transformação permanece mesmo depois de aliviada a tensão; mas estas deformações

serão completamente recuperadas se o espécime for aquecido a uma temperatura acima

de Af, retornando assim a sua forma original. Este é o fenómeno já conhecido como

SME (OTSUKA et al., 1976).

Figura 3.5 - Comportamento da deformação em um monocristal da liga tipo Cu-Al-Ni, com Mi = -140°C, Mf = - 150°C, Ai = - 109°C e Af = - 90°C (T < Af)

(Fonte: OTSUKA et al., 1976)

Para temperaturas superiores a Af (T > Af), as tensões induzirão à transformação

da martensita ’1 e, portanto, não haverá grande queda da tensão. Porém, se a

temperatura for próxima da temperatura Af, no meio da deformação própria da

martensita ’1 aparecerá uma queda da tensão devido à transformação da martensita ’1

induzida por tensão, conforme ilustra a Figura 3.6 (a). Como acima da temperatura Af

a martensita é instável, basta que seja retirada a tensão para que o espécime retorne a

sua forma original, exibindo assim, o fenômeno de pseudo-elasticidade (OTSUKA et

al., 1976).

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Figura 3.6 - Comportamento da deformação em um monocristal da liga tipo Cu-Al-Ni, com Mi = - 140°C, M = - 150°C, Ai = - 109°C e Af =-90°C (Fonte: OTSUKA et al., 1976)

3.4.2. Deformação em policristais

Para temperaturas menores que Mi (T < Mi) (OISHI e BROWN, 1971), a fase

martensítica é também elástica na região de temperaturas inferiores a Mi. Isso indica

que a movimentação das interfaces entre as martensitas Variantes ou dos contornos de

maclas são mais difíceis que nos monocristais, devido às forças compressivas dos grãos.

Figura 3.7 (a).

Para temperaturas maiores que Mi (T > Mi), as tensões necessárias para induzir

a transformação martensítica aumentam com o aumento da temperatura, análogo aos

monocristais, Figura 3.7 (b) e (c).

Para temperaturas maiores que Af (T > Aí), no caso do monocristal, o espécime

manifestava completa pseudo-elasticidade. Porém, no espécime policristalino poderá

ocorrer a fratura antes que seja atingido o valor da tensão necessária para induzir a

martensita. Figura 3.7 (d).

Figura 3.7 - Comportamento da deformação de uma liga do tipo Cu-Al-Ni policristalina, com Mi = - 82°C, Mf = - 70°C, Ai = - 60°C e Af = -48°C

(Fonte: OISHI e BROWN, 1971)

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A suscetibilidade à fratura intergranular em ligas Cu-Al-Ni resulta num

importante impedimento de aplicações práticas deste tipo de liga à base de cobre,

tornando necessário um perfeito dimensionamento e classificação de sua aplicação.

As ligas à base de Cu-Zn apresentam maior ductilidade no estado policristalino e

suas propriedades são mais promissoras entre as ligas à base de cobre com efeito

memória de forma.

Na Figura 3.8 (WIELD e GILLAN, 1977), é mostrado o comportamento da

deformação da liga Cu-Zn-Al, pode-se observar o quase completo EMF e a pseudo-

elasticidade para tensões inferiores a 200 MPa se o espécime for deformado nos níveis

de tensões superiores a 200 MPa. Como mostram as curvas para 180 °C e 220 °C, tem-

se a indicação de uma deformação residual permanente, pois nestas temperaturas

superiores a Af, a fase estável é a matriz.

Figura 3.8 - Comportamento da deformação de uma liga do tipo Cu-Zn-Al policristalina, com Mi = 15°C, Mf= - 5°C, Ai = 15° C e Af = 155°C

(Fonte: WIELD e GILLAN, 1977)

Nas ligas ternárias à base de Cu-Zn tem-se uma maior facilidade de

deslizamento, o que permite um alívio da concentração de tensões nos contornos de

grãos durante a deformação. Sendo assim, elas são menos suscetíveis à ocorrência de

trincas.

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De acordo com citações anteriores para que seja garantida a utilização com fins

tecnológicos das ligas memória de forma (LMF), deverão ser analisados outros tópicos

sobre essas ligas, entre os quais:

a) a estabilidade do Efeito Memória de Forma, sobre o ciclo de deformação e o

ciclo térmico a que estará sujeita a liga durante seu uso;

b) a resistência à fadiga;

c) a resistência à fratura e a ductilidade;

d) o refino de grãos, e

e) o efeito do envelhecimento.

3.5. A estabilidade do Efeito Memória de Forma (EMF) em ciclos de deformação e

ciclos térmicos

A estabilidade das ligas com Efeito Memória de Forma, que envolve repetidas

transformações e reversões, deve ser estudada quanto às alterações na capacidade de sua

recuperação da forma após submetida a ciclos térmicos e/ou ciclos de deformações

(PERKINS e MUESING, 1983).

3.5.1. O efeito do ciclo térmico sobre o EMF

O ciclo térmico altera as temperaturas de transformações o que pode ser

comprovado experimentalmente. Com o aumento do número de ciclos, excluindo-se a

temperatura Ai, as demais temperaturas sofrerão mudanças: Mi, Af e Mmáx. aumentarão;

e Mf e A máx decrescerão, conforme pode ser visualizado na Figura 3.9.

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Mf

Ai

Af

Mi

Mmáx.

Amáx.

T (oC)

Figura 3.9 - Relação entre o número de ciclos térmicos (N) e as alterações nas tempera turas de transformações ( T ) para uma liga do tipo Cu-Zn-Al

(Fonte: PERKINS e MUESING, 1983)

Foi confirmada a elevação da temperatura Mi pela presença de colônias de

martensita em temperaturas 20°C acima da temperatura Af inicial, de antes dos ciclos

térmicos. Tem-se demonstrado que o ciclo térmico introduz discordâncias na estrutura

(PERKINS e MUESING, 1983). A região onde o cristal de martensita é nucleado pode

ser determinada pela existência destas estruturas de discordâncias. Além disso,

observou-se que estes são os locais onde os cristais desaparecem na reversão da

transformação. O fato de que a temperatura Mi muda mais do que a temperatura Af

indica que a estrutura de discordâncias, gerada pelo ciclo térmico, tem diferente efeito

no crescimento e no processo de reversão da martensita, como também na localização e

no processo de nucleação, que são fortemente afetados.

Desde que a estrutura de discordâncias introduzida pelo ciclo térmico endurece a

fase matriz e eleva o valor da tensão crítica de escorregamento, torna-se mais difícil a

movimentação das discordâncias para novos ciclos. Após aproximadamente dez ciclos,

a deformação por escorregamento torna-se mais difícil durante as transformações e a

densidade de discordâncias tende a se estabilizar. Além disso, as mudanças nas

temperaturas de transformações são raramente detectadas. Assim a estabilidade das

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temperaturas de transformação pode ser obtida por uma pré-exposição da liga a um

ciclo térmico, antes de sua aplicação definitiva.

Como os efeitos dos ciclos térmicos são provenientes da introdução das

discordâncias, nas ligas Cu-Al-Ni com tensões críticas de escorregamento mais elevadas

que as das ligas Cu-Zn-Al, deve-se esperar menor sensibilidade a este efeito.

A degradação do efeito memória de forma acima de duzentos ciclos foi

detectado em uma liga Cu-Zn-Al e cujo principal motivo foi o próprio envelhecimento

(DATTA, BHUNYA e BANERJEE, 2001)

3.5.2. O efeito do ciclo de deformação sobre o EMF

As repetidas aplicações das ligas com EMF levam a uma incompleta

recuperação das deformações. Esse efeito depende das tensões aplicadas e do número de

repetições, diminuindo, assim, a capacidade de recuperação da forma (BROWN, 1979 e

1982; SAKAMOTO e SHIMIZU apud FUNAKUBO, 1987, p. 135).

Nas aplicações das ligas com efeito de pseudo-elasticidade, onde nas quais as

deformações ocorrem para tensões mais elevadas do que nos casos do EMF, a

degradação da capacidade de recuperação da forma é mais acentuada (BROWN, 1982,

p. 25).

Figura 3.10 - Alterações nas curvas Tensão X Deformação de um policristal deCu-Zn-Sn próprias do ciclo de deformação

(Fonte: BROWN, 1982, p. 25)

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Na Figura 3.10, no primeiro ciclo de deformação e após o começo da

transformação, existe uma região onde a deformação prossegue aproximadamente com

a tensão constante. No segundo ciclo, a deformação prossegue com um pequeníssimo

aumento da tensão. Isto é devido ao escorregamento que ocorreu no primeiro ciclo,

evidenciado pela deformação, a qual permanece após o descarregamento do espécime.

Visto que o campo de tensões formado pela introdução da estrutura de discordâncias,

durante a deformação por escorregamento no primeiro ciclo, promove a fácil

transformação da martensita induzida por tensão durante as subsequentes

transformações e após o segundo ciclo, é necessária uma pequena força para ocorrer a

transformação da martensita induzida, o que leva a uma região elástica diminuída.

A razão do gradual aumento da tensão durante a formação da fase martensítica é

que as tensões internas variam com a localização dentro do espécime. Então, a tensão

interna influi para baixar a tensão necessária para transformação martensita induzida, o

que pode provavelmente ajudar na formação da martensita induzida termicamente, e

podendo causar a mudança da temperatura Mi, já comentada na seção anterior.

Nas ligas Cu-Zn-Al a deformação por escorregamento ocorre facilmente, uma

vez que o valor da tensão para o deslizamento é aproximadamente 3 vezes menor que a

tensão crítica para ocorrer o escorregamento nas ligas Cu-Al-Ni.

Nas curvas de Tensão x Deformação para a liga Cu-Al-Ni observa-se uma

pequena variação do comportamento da tensão ou da deformação em função dos ciclos,

o que deve ser causada pela relativa estabilidade das propriedades. Isto é devido ao

difícil início do escorregamento nesta ligas (SAKAMOTO e SHIMIZU apud

FUNAKUBO, 1987, p. 135).

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Figura 3.11 - Alterações nas curvas Tensão X Deformação de um policristal deCu-Al-Ni próprias do ciclo de deformação

(Fonte: FUNAKUBO, 1987, p. 135)No entanto, após apenas nove ciclos, o espécime fratura. Isto por que a tensão

elástica gerada para manter a coerência da deformação do contorno de grãos não foi

facilmente aliviada por deformação Assim, trincas podem surgir no contorno e provocar

a fratura intergranular.

Essa espécie de fragilidade encontrada nas ligas do tipo Cu-Al-Ni, originária da

concentração de tensões geradas nos contornos de grãos, pode ser um comportamento

menos estável em relação a um espécime monocristalino, uma vez que não existem os

contornos de grãos.

As curvas Tensão X Deformação para um espécime monocristalino de uma liga

Cu-Al-Ni, obtida dentro do comportamento pseudo-elástico em temperaturas maiores

que Af, no qual as tensões e deformações são ambas maiores que no espécime

policristalino. No presente caso, o espécime suportou mais de 400 ciclos, mas esse valor

é aproximadamente a metade da vida útil da liga Cu-Zn-Sn (BROWN, 1979, p. 217).

Figura 3.12 - Alterações nas curvas Tensão X Deformação de um monocristal de Cu-Al-Ni próprias do ciclo de deformação

(Fonte: BROWN, 1979, p. 217)

Conclui-se que os cristais de Cu-Al-Ni são essencialmente frágeis sob condições

de deformações cíclicas. Já as ligas à base de Cu-Zn são mais recomendadas para

aplicações tecnológicas. Mas dada à necessidade de se manter estáveis as propriedades

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durante o ciclo de deformação, as tensões empregadas devem ser mantidas o mais baixo

possível. No entanto, ainda que o efeito dos ciclos seja inicialmente grande, o

comportamento ajusta-se dentro de um estado aproximadamente estável com a

continuidade dos ciclos. Este fato pode levar a uma estabilidade das propriedades da

liga.

3.6. Resistência à fadiga de ligas com Efeito Memória de Forma à base de cobre

A origem e as previsões da vida em fadiga devem ser bem conhecidas, para que

as técnicas disponíveis para ampliar o período de utilização dessas ligas sejam

dominadas.

A fadiga nas ligas com EMF é fortemente dependente do modo como ocorre a

deformação por ciclo. Assim, todos os parâmetros que interferem no processo de

deformação por ciclo, interferirá na vida em fadiga. Por exemplo:

as diferenças entre as fases matriz e martensítica,

as interfaces entre as martensitas variantes,

os contornos de grãos, e

estrutura das discordâncias antes e após a transformações de fases.

Para analisar os efeitos das estruturas sobre o comportamento em fadiga,

Sakamoto, Kijima e Shimizu (1982) submeteram corpos de provas a ensaios de fadiga,

conforme sistematizado na Tabela 3.3, à temperatura ambiente.

Tabela 3.3 - Tipos de deformações ocorridas em cada fase, durante os ensaios de fadiga em uma liga Cu-Al-Ni

CP Temperatura Fase Tipo deMi (ºC) deformação

A -93 Matriz elásticaB 0 Martensita induzida por tensão induzida por tensão

C 147 Martensita ‘ termo- própria do rearranjodinamicamente estável da estrutura

Fonte: Shimizu (1982)

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O espécime A tem maior resistência à fadiga entre os três, segundo Figura 3.13,

e somente tolerará deformações elásticas. No caso do espécime B, o valor da resistência

à fadiga foi o menor, indicando que a fadiga é significativamente comprometida,

quando ocorre a transformação martensítica induzida por tensão. Em tais casos, a fratura

provém das tensões produzidas para manter a coerência entre as deformações devido às

transformações nos contornos de grãos ou nas interfaces entre a fase matriz e a fase

martensítica. Essa fratura é intergranular e pode-se concluir que ela é causada pêlos

motivos já expostos. No espécime C, a resistência à fadiga é maior que em B, isso deve-

se ao fato da melhor coerência entre as interfaces das martensitas variantes ou entre as

interfaces de maclação dentro das martensitas.

A Figura 3.13 (SAKAMOTO, KIJIMA e SHIMIZU, 1982) representa a vida em

fadiga para os três espécimes anteriormente referidos.

C

B

A

Figura 3.13 - Vida em fadiga dos corpos de provas A, B e C(Fonte: SAKAMOTO, KIJIMA e SHIMIZU, 1982)

Nos casos B e C, pode-se ter um aumento na vida em fadiga para solicitações

com baixa tensão, o que resulta em baixos índices de concentrações de tensões nos

contornos de grãos. No entanto são nestes casos que a fratura é fundamentalmente

intergranular, e isto vem confirmar que a razão da baixa vida em fadiga nas ligas à base

de cobre policristalina é própria da existência do contorno de grãos.

A análise anterior pode levar a uma previsão prematura de longa vida para

espécimes monocristalinos submetidos à fadiga; no entanto, a Figura 3.14 mostra um

espécime fraturado após 256 ciclos de deformação pseudo-elástica. Se o espécime com

a mesma composição química e orientação for submetido às mesmas deformações a

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100°C, a uma idêntica tensão no regime elástico e não ocorrerem transformações

martensíticas induzidas por tensões, o espécime não fraturará antes de 4600 ciclos.

Deste resultado conclui-se que a causa da fratura por fadiga num monocristal é devido à

formação e movimentação de interfaces entre a fase matriz e a fase martensítica

(BROWN, 1979).

Figura 3.14 - Curvas Tensão X Deformação e vida em fadiga para um monocristal de um a liga do tipo Cu-Al-Ni deformada

a 24°C e a 100°C, com Mi = - 45°C e Af= - 20 °C (Fonte: BROWN, 1979)

As curvas Tensão X Deformação apresentam uma aparente recuperação das

deformações. No entanto, uma microscópica deformação não é reversível e a fratura por

fadiga ocorre como resultado deste acúmulo de deformação. Pode-se concluir que as

ligas à base de cobre prezam-se à aplicações de baixo ciclos de deformações.

3.7. Resistência à fratura e à ductilidade

A fratura das ligas com efeito memória de forma pode apresentar os seguintes

aspectos:

a) fratura dúctil para ligas Ti-Ni, e

b) fratura frágil intergranular para ligas à base de cobre.

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A análise da fratura intergranular deve passar pelas considerações sobre suas

possíveis causas:

a) orientação cristalográfica;

b) granulação grossa;

c) dependência da orientação com a deformação da transformação, e

d) segregação nos contornos de grãos.

Nas ligas Cu-Al-Ni com significativa anisotropia de elasticidade, a concentração

da tensões sobe para manter a continuidade da deformação no contorno de grão, quando

o cristal muda de orientação. Além disso, quando o tamanho de grão é maior, as

distorções nos contornos são maiores. Existe uma grande diferença entre as

deformações que acompanham as transformações e aquelas determinadas pelas

concentrações de tensões nos contornos de grãos (SAKAMOTO, KIJIMA e SHIMIZU,

1982).

As causas a), b) e c) citadas anteriormente podem provocar a fratura

intergranular através da criação de tais concentrações de tensões. A causa d) diminui a

resistência do contorno por fragilização dos próprios grãos e pode ser fator de fratura

intergranular.

Na tentativa de determinar quais são as causas predominantes das fraturas

intergranulares, tem-se o seguinte comportamento da deformação para um espécime

policristalino de uma liga Cu-Al-Ni.

No momento da têmpera pode surgir trincas causadas por tensões térmicas.

Essas trincas podem ser evitadas quando:

evita-se grandes choques térmicos,

aumenta-se a temperatura Mi e

diminui-se a concentração de Al nas ligas Cu-Al-Ni.

A Figura 3.15 (MIYAZAKI et al., 1981) mostra três condições de ensaios de

tração: a 20 °C, 150°C e 180°C, para uma temperatura Mi = 130°C.

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(%)

Figura 3.15 - Relação entre a temperatura e a deformação de uma liga dotipo Cu-Al-Ni policristalina (Fonte: MIYAZAKI et al., 1981)

O espécime ensaiado na condição (a) estava na fase martensítica antes da

deformação, enquanto que aqueles das condições (b) e (c) encontravam-se na fase

matriz.

A diferença entre a deformação ocorrida em (b) e (c) está no fato de que, para a

temperatura de 180 °C, a formação da martensita induzida por tensões requer maiores

tensões, o que leva a nucleação de trincas na região elástica, causando uma fratura

intergranular, antes que a martensita induzida por tensão possa aliviar as tensões

internas. Logo, o espécime (b) terá uma maior deformação que o espécime (c) por

apresentar a transformação martensítica induzida por tensão em valores bem inferiores

de tensão

Para Funakubo (1987, p. 153-4), as ligas à base de cobre apresentam grãos com

tamanho de vários milímetros e um índice de anisotropia elástica de 13 a 15. Esses

elevados índices propiciam a fratura intergranular. O índice de anisotropia elástico é

determinado pela razão entre os valores das constantes elásticas medidas nas diferentes

orientações cristalográficas. Como as ligas Cu-Zn-Al são muito mais dúcteis que as

ligas Cu-Al-Ni, conclui-se que a diferença de comportamento entre estas ligas esteja no

tipo de estrutura cristalina. As ligas do tipo Cu-Al-Ni têm estrutura do tipo DO3 ,

enquanto que as ligas do tipo Cu-Zn-Al as quais apresentam o EMF têm estrutura do

tipo B2. O vetor de Burgers das discordâncias da estrutura DO3 é da ordem de 2 vezes o

valor do vetor de Burgers das discordâncias em B2 o que leva as discordâncias em DO3

se moverem com mais dificuldade, uma vez que a movimentação das discordâncias é

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afetada pelo alto valor da tensão da linha de discordância que é dado, segundo Hull

(1989), por:

T = Gb2/R.............................................................................(3.1)

onde:

T = tensão na linha de discordância

G = módulo de elasticidade transversal;

b = valor do vetor de Burgers;

R = raio de curvatura da linha de discordância

A diferença de comportamento entre as ligas Cu-Al-Ni e Cu-Zn-Al pode ser

observada comparando as suas resistências mecânicas. Na liga Cu-Al-Ni é da ordem de

600 MPa contra 200 MPa das ligas Cu-Zn-Al.

Conclui-se que a fratura intergranular das ligas a base de cobre é causada por

concentração de tensões e não por fragilidade dos seus próprios contornos de grãos.

Portanto, qualquer técnica que venha a aumentar a ductilidade da liga, poderá minimizar

tais tipos de fraturas e isso pode ser obtido por alguns tipos de textura resultantes de

processos termomecânicos ou por refino de grãos.

3.8. Refino de grãos

Nas ligas com Efeito Memória de Forma à base de cobre os grãos crescem

facilmente na fase matriz e também, durante os tratamentos térmicos de solubilização.

A granulação fina é possível de se obter por:

um aumento na nucleação e

restrição na velocidade de crescimento dos grãos.

São as principais técnicas de refino de grãos:

1 - adição de novos elementos de ligas,

2 - super-resfriamento e

3 - sinterização de pós.

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Na técnica l, o elemento de liga selecionado deverá ter baixa solubilidade ou

combinar-se com outros e formar microprecipitados, o que levaria a uma restrição no

crescimento dos grãos (IKAI, MURAKAMI e MISHIMA, apud FUNAKUBO, 1987, p.

154).

Na técnica 2, o super-resfriamento levaria a uma alta nucleação e,

conseqüentemente, a uma baixa velocidade de crescimento dos grãos, o que resulta em

granulação fina. A técnica 3 é equivalente a um aumento da velocidade de nucleação de

grãos.

O refino de grãos pela técnica l, de 160 micros para 60 micros em ligas à base de

cobre do tipo Cu-Zn-Al e Cu-Al-Ni, apresentou o seguinte resultado (IKAI,

MURAKAMI e MISHIMA, 1982, apud FUNAKUBO, 1987, p. 154-155):

melhorou em 40% o alongamento na fratura;

aumentou em 30% o valor da tensão de ruptura, e

aumentou em função do tipo do espécime, vida em fadiga de 10 a 100 vezes.

Porém, uma liga com o mesmo tamanho de grão apresentou propriedades

mecânicas inferiores, quando foi adicionado cério. Isso vem reforçar a premissa de que

o efeito de alguns elementos verifica-se apenas na redução do tamanho do grão.

O refino de grãos com titânio é bem sucedido para ligas do tipo Cu-Al-Ni e

apresenta os seguintes efeitos (SUGIMOTO, apud FUNAKUBO, 1987, p. 155):

restrição ao crescimento de grãos colunares em lingotes e crescimento de

minúsculos grãos equiaxiais. A ocorrência de trincas foi efetivamente

eliminada em subseqüentes fusões e laminações;

impediu posterior crescimento de grãos no recozimento, indicando que o

efeito do titânio não é apenas temporário;

em testes de compressão, espécimes com granulação fina puderam ser

deformados mais de 20% à temperatura acima de 300°C, e

deformações por tração foram possíveis acima de 350°C, com alongamento

da ordem de 300% ou mais, alcançados a 650°C, indicando que o espécime

também mostrou comportamento de superplasticidade, facilitado por um

eficiente processo de difusão atômica.

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A respeito das características mecânicas da liga Cu-Al-Ni, durante o trabalho a

frio com espécime sem titânio, dificilmente mostrou trabalhabilidade. Com adição do

titânio foi possível estiramento ou laminação por volta de 10%.

Nas ligas Cu-Zn-Al o refino de grãos tem sido feito com vanádio. Por exemplo,

uma liga Cu- 21,7 Zn-6,0 Al - 0,55 V laminado a 600°C e recozida posteriormente a

800°C por 30 minutos apresenta tamanho de grãos da ordem de 250 m, mantendo-se

invariável mesmo sendo submetida a recozimento mais longos.

Os principais efeitos do vanádio sobre as ligas Cu-Zn-Al são (ENAMI,

TAKIMOTO e NENNO, apud FUNAKUBO, 1987, p. 156):

restringe o crescimento de grãos na fase e tornam possível o trabalho a frio.

A laminação por volta de 20 % na martensita e de 10 % na fase matriz foram

possíveis sem a ocorrência de trincas;

reduziu de 100 a 150 m o tamanho de grãos de ligas trabalhadas a frio e

posteriormente submetida a recristalização por um recozimento a 700°C por

um tempo de 10 a 15 minutos;

aumentou de aproximadamente l % sobre as ligas convencionais com

granulação grossa a recuperação das deformações de memória que foi de 5 %,

e as deformações pseudo-elásticas que foi de 5,5 %, e

foi detectada fratura dúcteis nas ligas com refino de grãos por vanádio.

O boro também tem um efeito refinador de grãos nas ligas do tipo Cu-Zn-Al

permitindo obter grãos menores que 50 m para teores da ordem de 0,025% (em peso) e

ainda tem demonstrado satisfatório efeito memória de forma (HANADATE et al., apud

FUNAKUBO, 1987, p. 156).

O refino de grãos por super-resfriamento pode levar a obter grãos com poucos

microns de diâmetro, porém não conduz a uma melhoria da ductilidade. O efeito do

refino por super-resfriamento só tem sentido em finas lâminas, pois em grandes massas

a liga pode sofrer o envelhecimento e perder o EMF (OSHIMA et al., apud

FUNAKUBO, 1987, p. 157).

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A sinterização de pós na fabricação de ligas do tipo Cu-Zn-Al tem mostrado ser

eficiente na obtenção de estrutura com grãos de até 30 m. Este fato pode ser

comparado, considerando-se duas ligas, uma com granulação grossa que fraturou após

10.000 ciclos a 240 MPa e após 1.000.000 ciclos a 100 MPa, enquanto que a mesma

liga sinterizada suportou o mesmo número de ciclos para tensões de 530 MPa e 400

MPa, respectivamente. Conclui-se que houve um significativo aumento na vida em

fadiga do espécime sinterizado (JANSSES et al., apud FUNAKUBO, 1987, p. 157).

Apesar do maior custo das ligas à base de cobre submetidas a refino de grãos, os

seus efeitos são significativos. Porém, serão necessários profundos estudos no sentido

de se esclarecer se estas ligas à base de cobre podem atingir os mesmos efeitos memória

de forma e pseudo-elasticidade das ligas Ti-Ni.

A liga Cu-Zn-Al-Mn-Zr tem mostrado um bom comportamento mecânico,

apresentando uma elevado limite de ruptura e relativa alta ductilidade. Além disso, ela

demostra excelente estabilidade térmica contra o envelhecimento e é menos sucetível a

estabilização martensítica. (CHUNG e LAM, 1999).

3.9. Efeito do envelhecimento

A capacidade de recuperação da forma nas ligas com efeito memória de forma à

base de cobre é alterada devido ao efeito do envelhecimento, para aplicações em

algumas temperaturas. Este fator é muito importante na determinação das condições de

trabalho destas ligas. O efeito do envelhecimento poderá ser utilizado positivamente

para estabelecer as temperaturas de transformações das ligas requeridas para situações

específicas.

O efeito do envelhecimento difere em seus casos dependendo das temperaturas

em que este envelhecimento ocorre. O modo da mudança nas propriedades da memória

de forma também varia.

Dependendo da fase em que ocorre o envelhecimento, na fase matriz ou na fase

martensítica, sua manifestação será diferenciada, embora em ambos os casos o efeito do

envelhecimento seja acompanhado por difusão atômica. Assim, é importante para o

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projeto da liga o acompanhamento do efeito dos elementos adicionados, os quais

alteram os coeficientes de difusão atómica, com por exemplo o Ni na liga Cu-Al-Ni.

3.9.1. Envelhecimento da fase matriz

São considerados dois fatores como causa dos efeitos do envelhecimento nas

ligas à base de cobre (SCHOFIELD e MIODOWNIK, 1980):

1) quando a liga é tratada termicamente por têmpera a partir de uma fase

desordenada em altas temperaturas. E o caso da formação incompleta da

estrutura ordenada, ou seja, haverá a persistência de uma estrutura

desordenada, mesmo em temperaturas baixas, e

2) formação de precipitados.

Fator l - Em ordem, o processo que ocorre durante a têmpera tem dois estágios:

1°) Em altas temperaturas a transformação que ocorre é a da fase

(desordenada) em super-rede 2 , e

2°) Nas regiões de menores temperaturas ocorrer-se-á a transformação da

estrutura 2 em super-rede DO3.

A transformação em 2 na liga Cu-Zn ocorre a uma temperatura próxima de

500°C e, portanto, tem pouca dependência com a composição da liga, podendo ser ainda

diminuída esta dependência por volta da temperatura ambiente. Por esta razão será

completamente atingida fora do processo de têmpera e o espécime permanecerá com

uma estrutura parcialmente desordenada.

Pode-se concluir que o efeito do envelhecimento a baixa temperatura, mostrado

na Figura 3.16, pode ser causado pela transformação da estrutura residual 2 na

estrutura DO3, a qual não tinha sido completamente transformada durante a têmpera

(SCHOFIELD e MIODOWNIK, 1980).

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Figura 3.16 - Relação entre as temperaturas de transformações e o tempode envelhecimento, após tratamento de solubilização seguido por

envelhecimento a baixa temperatura, 39°C(Fonte: MIODOWNIK, 1980)

Fator 2 - Precipitação da fase 2 . A precipitação desta fase em baixas

temperaturas, ao longo do tempo, leva a um aumento de dureza da liga, enquanto ocorre

uma diminuição da fase , o que reduz a capacidade de recuperação da forma do

espécime. As regiões de estabilidade da fase podem ser observadas nos diagramas de

fases das Figuras 3.1, 3.2 e 3.3 para as ligas dos sistema Cu-Zn.

3.9.2. Envelhecimento na fase martensítica

As aplicações do EMF é uma combinação da aplicação das temperaturas Mi e

Ai, ou seja, temperatura de início da transformação da martensita e temperatura de

inicio da transformação reversa. Nestas espécies de aplicações são exploradas as

temperaturas de transformações e a força restauradora da liga com efeito memória de

forma durante essas transformações. O propósito é manter o espécime na fase

martensítica até que a temperatura de operação (temperatura da transformação reversa)

seja atingida. Nesse estado, ocorre o envelhecimento dentro da fase martensítica e,

como resultado a fase martensitica torna-se mais estável enquanto a temperatura na qual

a transformação reversa ocorre se eleva excessivamente. O envelhecimento da fase

martensítica está relacionado com a estabilidade das vacâncias originárias do processo

de têmpera.

O envelhecimento da fase martensítica implica mudança nas temperaturas de

transformações das ligas com EMF após a sua instalação e torna-se-á um importante

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problema tecnológico a ser solucionado (SCARSBROO, COOK e STOBBS, apud

FUNAKUBO, 1987, p. 165).

As considerações anteriores levam a concluir que o envelhecimento pode alterar

extraordinariamente o EMF nas ligas à base de cobre. No entanto, o caminho no qual o

efeito do envelhecimento se manifesta é afetado pela concentração de níquel nas ligas

Cu-Al-Ni e do alumínio nas ligas Cu-Zn-Al.

No entando, a observação de precipitados , em martensita induzida por tensões

com forma elipsoidal e com um grande campo de tensão orientada na mesma direção na

fase matriz , concede seu campo de tensões à transformação martensítica

termoelástica e toma a forma esférica na martensita. Na transformação reversa, o

precipitado pode recuperar seu campo de tensões, tornando-se um importante

componente de ativação do efeito memória de forma. (ZHANG et al., 2000).

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CAPÍTULO IV – A fusão e solidificação de ligas metálicas

4.1. Técnicas e equipamentos de fusão

Este capítulo tem como objetivo tratar de problemas comuns e freqüentes

durante todo processo de fusão e solidificação. No entanto, se os problemas aqui

expostos forem negligênciados a qualidade do produto fundido não sera atingida. Esse

é o motivo pelo qual essa parte do trabalho basea-se em uma literatura classica de fusão

e solidificação.

A prática de fusão de um metal requer grande variedade de fornos de diferentes

tipos e capacidades. O requisito básico para uma unidade é levar uma dada massa do

metal, com composição química específica à uma temperatura de vazamento, numa

velocidade de fusão desejada e com eficiência econômica . Dentre os vários tipos de

fornos disponíveis no mercado o forno de cadinho é o mais acessível e com a

possibilidade ser fabricado para atender uma necessidade com o menor custo de

fabricação.

No forno de cadinho o aquecimento é feito normalmente por meio de gás ou

óleo combustível ocasionalmente, utilizam-se fornos aquecidos por meio de carvão. Os

cadinhos são construídos com argila, grafita, carbeto de silício ligado com carbono ou

qualquer outro tipo de concreto refratário que venha atender as exigências do processo

de fusão. O forno de cadinho é utilizado principalmente na fundição de ferro, aço, ligas

de alumínio, de magnésio e de cobre.

Existem três classes principais de fomos de cadinho (CAMPOS FILHO e

DAVIES, 1978):

forno de extração por levantamento, Figura 4.1;

forno de extração por empacotamento, Figura 4.2;

forno basculante, Figura 4.3.

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A faixa de temperatura de trabalho desses fornos é de 200 a l400°C. Sua

capacidade pode variar desde l até l 000 kg por sua vez e com a velocidade de fusão

situada entre l e 100 kg/hora.

Figura 4.1 - Forno de cadinho com aquecimento por queimador à gás (Fonte: DAVIES, 1978)

Figura 4.2 - Forno de cadinho com aquecimento por queima de carvão (Fonte: DAVIES, 1978)

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Figura 4.3 - Forno de cadinho basculante (Fonte: DAVIES, 1978)

4.2. Macroestrutura de fundição

As peças fundidas, ou lingotes, podem apresentar três zonas distintas em sua

macroestrutura, conforme mostra Figura 4.4 (CAMPOS FILHO e DAVIES, 1978):

(a) zona coquilhada, que forma uma camada periférica de pequenos grãos,

cristais, equiaxiais, isto é, com orientação cristalográfica aleatória;

(b) zona colunar, formada por grãos alongados que se alinham paralelamente à

direção do fluxo de calor;

(c) zona equiaxial central, formada por grãos equiaxiais de orientação

cristalográfica aleatória.

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Figura 4.4 - Representação esquemática das zonas estruturais da macroestrutura de

fundição, seção transversal de uma peça cilíndrica (Fonte: DAVIES, 1978)

Conforme observa-se na Figura 4.5 através da variação dos diferentes

parâmetros do processo de solidificação, a macroestrutura poderá apresentar uma, ou

mais, das zonas acima descritas. Para se entender esse fato, torna-se necessário o

conhecimento da origem e dos mecanismos de formação das três diferentes zonas da

macroestrutura.

(a) (b) (c)

Figura 4.5 - Possíveis variações na macroestrutura de uma mesma peça, seção longitudinal, em função das condições de solidificação: (a) ausência da zona equiaxial

central; (b) presença das três zonas; (c) ausência das coquilhada e colunar (Fonte: DAVIES, 1978)

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4.2.1. A Zona Coquilhada

Os grãos coquilhados nucleiam e crescem sobre as paredes do molde, e serão tão

mais notáveis quanto maior for o contato térmico na interface metal/molde, medido pelo

coeficiente de transmissão de calor. Este coeficiente vai depender do estado superficial

das paredes do molde. Em condições de elevado contato térmico, haverá a possibilidade

de se oferecer uma alta frequência de nucleação heterogênea junto às paredes do molde,

denominada nucleação copiosa. Cabe mencionar que, no caso de uma nucleação

heterogênea extremamente copiosa, uma parte dos núcleos pré-dendríticos pode ser

arrastada ao centro do molde pela ação da convecção do vazamento.

4.2.2. A Zona Colunar

Os grãos colunares desenvolvem-se a partir dos grãos coquilhados, por meio de

crescimento seletivo e preferencial. Os cristais colunares apresentam seus principais

eixos cristalográfícos paralelos à direção do fluxo de extração de calor e mostram uma

orientação marcadamente preferencial de crescimento, coincidente com as direções

cristalográficas do crescimento dendrítico, Tabela 4.1. O comprimento relativo da zona

colunar depende muito do superaquecimento de vazamento e do teor de elementos de

ligas.

Tabela 4.1 - Cristalografia de Dendritas

Estrutura Metal Direção Normal das Dendritas

Cúbica de face centrada Chumbo <001>

Cúbica de corpo centrado Latão - <001>

Hexagonal compacta Zinco <1010>

Tetragonal Estanho <110>Fonte: Campos Filho e Davies, 1978, p. 62.

O crescimento da zona colunar continua até que as condições do processo

tornem favorável o surgimento da zona equiaxial central.

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4.2.3. A Zona Equiaxial Central

Esta é a zona mais complexa da macroestrutura de fundição. Nela, os grãos são

equiaxiais na forma, mas apresentam-se geralmente grandes em tamanho. A formação

da zona equiaxial central é fornecida por altos teores de elementos de ligas e por baixos

superaquecimentos de vazamento. Pode-se notar que, à medida que a temperatura de

vazamento aumenta, diminui a tendência de formar grãos equiaxiais, mas aumenta a

tendência de formar grandes grãos equiaxiais.

Existe também um signifícativo efeito de tamanho na formação de grãos

equiaxiais centrais. Em peças fundidas de grande tamanho, os grãos equiaxiais deverão

apresentar maiores dimensões. Os grãos centrais podem originar-se de diferentes fontes:

(a) Pelo mecanismo de nucleação copiosa que forma a zona coquilhada,

decorrente do super-resfriamento do metal líquido ao entrar em contato com

as paredes do molde, muitos núcleos pré-dendríticos podem ser arrastados ao

centro do molde pela ação da convecção forçada do vazamento Estes

núcleos podem eventualmente crescer na região central, caso as condições

térmicas o permitam, e dar origem a uma rede de grãos equiaxiais que

bloqueiam posteriormente o crescimento da zona colunar

(b) Pelo mecanismo de multiplicação cristalina da estrutura dendrítica

constituinte da zona colunar, que resulta da refusão local das ramificações

dendríticas e/ou de sua ruptura pela ação mecânica da convecçao, natural ou

forçada, do metal líquido Esse processo de ruptura destaca as ramificações

dendríticas e as arrasta ao centro do molde, onde podem continuar

crescendo, caso as condições o permitam, e dando lugar ao surgimento de

grãos equiaxiais centrais que posteriormente bloqueiam o crescimento

colunar.

(c) Pela nucleação de grãos na superfície livre do metal líquido, como é

freqüente na solidificação de lingotes. A radiação térmica da superfície livre

do líquido pode provocar um super-resfnamento suficiente para nuclear

grãos superficiais que decantam para o centro do molde.

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É claro que, de um modo geral, todos os mecanismos acima indicados podem

atuar conjuntamente na formação da zona equiaxial central (CAMPOS FILHO e

DAVIES, 1978).

4.3. A segregação

Os líquidos que são solidificados para a produção de ligas industriais usualmente

contêm, além dos elementos soluto, intencionalmente adicionados por seus efeitos

benéficos, impurezas que se agregam ao metal liquido de muitas formas diferentes

Assim, as impurezas presentes nos minérios são, com frequência, só parcialmente

eliminadas durante as operações de fusão e refino. Os revestimentos de tijolos

refratários dos fornos usados na fusão e no refino e os gases da atmosfera dos fornos

podem ser outras fontes elementos.

Nesse ultimo caso, as impurezas se encontram no metal liquido sob a forma de

gases dissolvidos Os diversos elementos dissolvidos nos metais líquidos comerciais

muitas vezes reagem entre si, formando compostos como óxidos, silicatos e sulfetos

entre outros, que, em muitos casos, são menos densos que o liquido e sobem para a

superfície, agregando-se a escória que flutua sobre o metal liquido. Por outro lado, e

bem possível que pequenas partículas de impurezas permaneçam no liquido. Essas

partículas, sem duvida, agem como centros para a nucleação heterogênea. Este

fenômeno tem sido usado no controle do tamanho de grão de fundidos pela inoculação

artificial com elementos que, combinando, formam catalisadores para a nucleação. O

aumento do numero de centros de nucleação naturalmente produzira um tamanho de

grão mais fino no fundido.

Quando uma liga solidifica, e aplicável uma regra aproximadamente geral,

segundo a qual o soluto, presente como elemento de liga ou como impureza, e mais

solúvel no estado liquido que no estado solido Este fato geralmente conduz a uma

segregação de soluto no fundido. Ha duas maneiras básicas de se encarar a não-

uniformidade de distribuição de soluto resultante. Em primeiro lugar, como o liquido se

torna progressivamente mais rico em soluto, a medida que a solidificação progride, as

concentrações de soluto de um fundido tendem a ocorrer nas regiões que se solidificam

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por último, centro de lingote. Esta segregação, bem como outras flutuações de

composição a longa distância, são classificadas como macrossegregação.

De um modo geral, a macrossegregação corresponde a mudanças da composição

média do metal de ponto para ponto do lingote. Segregação deste tipo nem sempre e

causada pela solidificação seletiva de constituintes de alto ponto de fusão. Efeitos

gravitacionais muitas vezes podem produzir macrossegregação, especialmente durante a

formação da zona central equiaxial Os cristais que se formam livremente no liquido

têm, muitas vezes, uma densidade diferente da do liquido Assim, eles podem tanto subir

para a superfície da peça fundida, como assentar-se no fundo.

Em peças fundidas, ou lingotes encontram-se não somente variações de

composição a longa distância, macrossegregação, como também variações de

composição localizadas em uma escala menor que o tamanho do cristal. A isto chama-se

microssegregação. Uma de suas formas a segregação associada à estrutura celular

resultante do movimento combinado da interface sólido-líquido e de uma camada muito

delgada de super-resfriamento constitucional. Um tipo de microsegregação muito mais

freqüente, comumente chamado de segregação dendrítica, zoneamento, é devido à

solidificação dendrítica de ligas. Os ramos dendríticos originais, que crescem no metal

super-resfriado, solidificam como metais relativamente puros. O líquido que envolve

essas projeções dendríticas está, assim, enriquecido de soluto e, quando solidifica, os

espaços entre os ramos se tornam regiões de elevada concentração de soluto.

A segregação dendrítica, ou microssegregação dendrítica, é muito comum em

ligas fundidas. Ela pode ocorrer para concentrações de soluto tão baixas quanto 0,01%,

sob condições adequadas, e não pode ser eliminada por resfriamento rápido. Quando

uma peça fundida é secionada e a superfície preparada para exame metalográfíco, a

superfície exposta normalmente será uma seção plana que corta uma floresta de ramos

dendríticos. Como a composição no centro de um ramo difere dos pontos situados a

meia distância entre os ramos, estes poderão ser revelados por ataque com um reagente

metalográfíco adequado (REED-HILL, 1982).

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4.4. Defeitos originados na solidificação

É evidente que a conformação uma peça metálica através da solidificação é bem

sucedida quando as características de qualidade, tanto do ponto de vista da geometria

pretendida quanto da estrutura interna, são alcançadas (GARCIA, 2001). São inúmeros

os defeitos que podem decorrer dentro do próprio processo de fundição a começar por

aqueles que surgem a partir do próprio projeto do sistema metal/ molde, e outros que

são inerentes aos fenômenos que acompanham a transformação liquido/sólido e aos

fluxos de calor e de massa que ocorrem durante essa transformação. Serão analisados

alguns desses defeitos mais diretamente relacionados aos fenômenos envolvidos durante

a solidificação.

4.4.1. Porosidades

As porosidades podem surgir durante a solidificação na forma de

macroporosidades ou de microporosidades. O primeiro tipo pode ser resultado de uma

alimentação de metal líquido inadequada, conforme mostra o esquema da Figura 4.6,

onde o metal liquido é vazado através de um alimentador na fundição de uma placa

metálica de espessura variável.

Quando o alimentador é colocado na extremidade correspondente à menor

espessura da placa, conforme mostrado na parte (a) dessa figura, as frentes de

solidificação se encontram no instante t2 isolando um certo volume de líquido do

contato com o liquido proveniente do alimentador. Quando finalmente a solidificação

desse volume se completa surge a formação de um poro macroscópico por causa da

contração volumétrica da solidificação. Entretanto, a colocação do alimentador na

extremidade mais espessa da placa, conforme mostrado na parte (b) da figura, não

provocará o bloqueio de líquido proveniente do alimentador e conseqüentemente não

haverá a formação de uma macroporosidade. Esse é um exemplo simples que mostra a

possibilidade do projeto inadequado do sistema metal/molde provocar a formação de

um defeito interno.

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(a) (b)

Figura 4.6 - Exemplo de alimentação do metal líquido inadequada (a) e adequada (b)(Fonte: GARCIA, 2001, p. 360)

Na solidificação de ligas com microestrutura dendrítica, falhas de alimentação

de metal líquido entre as ramificações dendríticas, podem provocar a formação de

microporosidades (GARCIA, 2001).

A presença de gases no metal líquido que não estão diretamente relacionados

com a composição química da liga, mas que podem surgir por meio de reações químicas

desencadeadas durante o processo e que, em função da diferença de solubilidade desses

gases nas fases líquida e sólida, podem também provocar a formação de

microporosidades.

Pode ocorrer a presença de gases de diferentes naturezas na formação dessas

microporosidades e, contrariamente às porosidades de contração, são favorecidas por

espaçamentos dendríticos maiores, ou seja, dependem da composição química da liga e

do processo de fundição utilizado e podem se constituir em um sério problema de

qualidade na fundição de peças de ferro fundido, ligas de alumínio e de cobre.

As microporosidades constituem um resultado inerente à solidificação de

estruturas dendríticas, e seu surgimento é favorecido no caso de ligas que apresentem

elevada contração volumétrica na solidificação e zonas pastosas maiores, já que um

comprimento dendrítico maior implica em canais interdendríticos mais longos e maior

tortuosidade.

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Existem dois tipos característicos de microporosidades; aquelas que se

distribuem de forma dispersa através da seção transversal e outras que se arranjam na

forma de camadas, e com tamanhos da ordem de 5 a l0 m para grãos colunares e de

cerca de 25 m para grãos equiaxiais (GARCIA, 2001). A Figura 4.7 mostra uma

representação esquemática da solidificação dendrítica colunar e equiaxial em

lingoteiras, onde pode-se notar que a dispersão das porosidades tende a ser maior para o

caso do crescimento equiaxial.

Figura 4.7 - Esquema da solidificação dendrítica: a) equiaxial; e b) colunar(Fonte: GARCIA, 2001, p. 362)

A influência do intervalo de solidificação das ligas pode ser observada no

esquema da Figura 4.8.

Figura 4.8 - Influência do intervalo de solidificação na formação da estrutura: (a) ligas de grande intervalo de solidificação; e (b) pequeno intervalo de solidificação

(Fonte: GARCIA, 2001, p. 362)

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4.4.2. Bolhas

Quando um metal ou uma liga contendo um gás, como por exemplo oxigênio,

nitrogênio ou hidrogênio em solução, solidifica, o gás será rejeitado na interface

sólido/líquido de forma similar a qualquer outro soluto com coeficiente de distribuição,

k < l, onde k = cS/cL.

Se o gás no metal líquido já se encontra em condição de super-saturação,

significa que há mais gás em solução do que a quantidade prevista pelo equilíbrio, e

conseqüentemente uma força motriz deverá atuar no sentido de reduzir essa quantidade

de gás em solução.

Esse excesso de gás em solução poderá ser eliminado através da superfície livre

do metal líquido, desde que as condições de difusão no líquido permitam, ou pela

nucleação de bolhas de gás. Observações experimentais mostram que de fato pode

ocorrer nucleação de bolhas durante a solidificação, e a subsequente distribuição dessas

bolhas depende se elas venham a flutuar a partir do ponto em que são nucleadas e

atingem a superfície livre do metal ou flutuam até serem bloqueadas por cristais sólidos,

ou se são capturadas pela frente de solidificação. Se a bolha fica oclusa na frente de

solidificação, ela pode tornar-se um ponto de escape para o gás que está contido em

excesso no líquido. Nessas condições ocorre um crescimento da bolha ao mesmo tempo

em que a interface sólido/líquido continua a se movimentar.

A velocidade de deslocamento dessa interface é que vai determinar se a bolha

continua com formato esférico e cresce em diâmetro, se assume um formato cilíndrico

alongado e permanece com o diâmetro original ou se será completamente envolvida

pelo metal solidificado, conforme mostra o esquema da Figura 4.9.

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(c) crescimento rápido

(b) intermediário

(a) crescimento lento

Figura 4.9 - Efeito da velocidade de crescimento de bolhas em sua forma e tamanho (Fonte: GARCIA, 2001, p. 364)

Outros tipos de bolhas de formas arredondadas ou alongadas podem ser

encontradas na superfície ou mesmo no interior da peça solidificada. Essas bolhas

podem se formar a partir de diversas causas:

aprisionamento de ar pela corrente de metal líquido durante o vazamento no

molde;

geração de gás através de reações do metal líquido com o material do molde

ou do recobrimento de moldes, conforme mostra o esquema da Figura 4.10 ;

reações químicas que ocorrem no metal líquido durante a solidificação, como

por exemplo a evolução de monóxido de carbono na fundição de aços dada

por: FeO + C Fe + CO

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Figura 4.10 - Formação de bolhas junto à interface metal/molde(Fonte: GARCIA, 2001, p. 365)

A incidência de gases dissolvidos no metal pode ser impedida através de

modificações no processo produtivo que incorporem técnicas de fusão a vácuo ou

desgaseificação a vácuo. Como essas técnicas envolvem custos elevados, na prática da

fundição é mais comum a utilização de procedimentos de borbulhamento de gases

inertes como o argônio ou o nitrogênio no metal líquido antes do vazamento. A

eficiência da remoção do gás depende do fluxo de gás inerte utilizado, mas quantidades

significativas podem ser removidas. Por exemplo, para 103 kg de alumínio, a utilização

de um fluxo de gás inerte de 0,01 m 3 /s durante 100 s provocará uma redução no teor de

hidrogénio de 0,2 para 0,09 ppm. Podem ser usados alternativamente produtos químicos

que provoquem a liberação de bolhas de gás não solúveis no metal líquido, como por

exemplo tabletes de hexacloretano na desgaseificação do alumínio.

4.4.3. Inclusões

As inclusões podem ser definidas como fases não-metálicas e, às vezes,

intermetálicas, envolvidas por uma matriz metálica. Na solidificação de ligas

comerciais, na maioria dos casos, a primeira fase a se formar não é a fase que

corresponde ao maior volume da peça, mas sim compostos que decorrem da adição de

um refinador de grão ou de produtos adicionados ao metal líquido e que reagem

quimicamente com o meio ambiente provocando a formação de sulfetos, nitretos,

óxidos. Essas inclusões são denominadas inclusões primárias. As inclusões que surgem

durante ou após a solidificação da fase principal são chamadas de inclusões secundárias

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e se formam como decorrência da rejeição de impurezas para as regiões interdendríticas.

Esses dois tipos de inclusões são endógenas já que são inerentes ao tratamento que o

metal líquido é submetido anteriormente ao vazamento e são de pequenas dimensões, o

que exige a utilização de microscópio e aumentos significativos na sua identificação.

Outros tipos de inclusões que são provocadas por causas externas, as chamadas

exógenas, podem também ocorrer através de:

aprisionamento de escória;

material de molde e

produtos de reações com materiais ou recobrimentos de moldes.

Geralmente essas inclusões são macroscópicas e podem ser vistas a olho nu na

superfície das peças ou mesmo em seu interior quando não houver tempo suficiente para

decantarem ou flutuarem em direção à superfície.

As propriedades mecânicas são afetadas negativamente pela presença de

inclusões que atuam como concentradores de tensão. O alongamento e a estricção são

afetados de forma mais significativa do que o limite de resistência à tração, o que faz

com que a dúctilidade seja um parâmetro mais adotado no controle de qualidade de

peças fundidas. As inclusões podem prejudicar também de forma séria o

comportamento de peças sujeitas a esforços dinâmicos. Esse reflexos negativos sobre o

comportamento mecânico sugerem que, para assegurar um produto de boa qualidade, as

técnicas de manipulação do metal líquido devem promover a maior remoção possível

das inclusões.

Como a formação das inclusões nem sempre pode ser evitada, é interessante

utilizar-se de técnicas que permitam eliminá-las ao máximo durante o processo

produtivo. Os produtos que se formam inicialmente por conta da desoxidação, na

maioria dos materiais metálicos, são constituídos por finas partículas que não

conseguem flutuar em direção à superfície do líquido. Somente quando essa partículas

crescem é que a taxa de flutuação aumenta e uma quantidade significativa de inclusões

pode ser reduzida pela aderência ou dissolução dessas inclusões na escória mantida na

superfície do banho.

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Como exemplos, na fundição de ligas de alumínio ou magnésio a agitação do

banho é utilizada no sentido de promover um maior contato dos óxidos presentes no

metal líquido com a escória facilitando sua remoção. Outro método bastante utilizado

consiste na filtragem do metal líquido por ocasião do vazamento.

A morfologia das inclusões endógenas varia bastante com a natureza do

composto, aspectos termodinâmicos de sua formação e também pelas colisões que

ocorrem entre inclusões em função do movimento do metal líquido. Nesse último caso,

as inclusões podem agregar-se formando uma cadeia de inclusões unidas entre si.

4.4.4. Trincas de contração

As trincas são defeitos que comprometem seriamente a estrutura de peças

fundidas e lingotes e podem levar até mesmo a um descarte de volumes significativos de

uma produção em série e são geralmente classificadas em trincas frias e gotas quentes.

As trincas frias são provocadas pelas tensões que surgem durante o resfriamento,

causadas ou pela resistência do molde ou por restrições à contração de seções mais

delgadas ou por seções mais espessas que resfriam-se mais lentamente. Essas trincas

estão conseqüentemente relacionadas com a geometria da peça e ao projeto do sistema

de fundição e portanto estão fora do escopo da análise, uma vez que o enfoque neste

trabalho é a produção de lingotes cilíndricos.

4.4.5. Gotas quentes

Um primeiro tipo de gota quente que surge durante o resfriamento se desenvolve

em regiões nas quais acontece o estágio final do processo de solidificação e é típico de

ligas com grandes intervalos de solidificação. Essas regiões ficam isoladas do líquido e

são caracterizadas por dendritas primárias separadas por um filme de metal líquido, e as

tensões de contração que acompanham esse final de solidificação podem ser suficientes

para a formação desse gênero de trincas. A segregação de fases de baixo ponto de fusão

e inclusões para os contornos de grão reduzem a resistência mecânica e tornam esses

contornos susceptíveis à formação de trincas frias. Um segundo tipo de gota quente

ocorre inicialmente na superfície das peças e pode se desenvolver em direção ao interior

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da mesma. Esse tipo é causado pela formação de uma camada solidificada de espessura

irregular ao longo da superfície do molde, o que pode ocorrer pela presença de óxidos

ou escória de forma localizada na superfície do metal, pela presença de gases e por

irregularidades na superfície do molde que prejudiquem de forma localizada a retirada

de calor. Conforme mostrado esquematicamente na Figura 4.11, quando as seções mais

espessas da camada solidificada começam a contrair, as seções mais finas sofrem

ruptura e as gotas quentes são formadas. Essas trincas são então preenchidas pelo metal

líquido mais rico em soluto, e com a continuidade do resfriamento do processo pode

haver a formação de novas trincas de contração, como mostra o esquema da Figura

4.11 (d).

(a) (b (c) (d)

Figura 4.11 - Representação esquemática da sequência de formação de uma gota quente durante a solidificação (Fonte: GARCIA, 2001, p. 368)

4.4.6. Gotas frias

As gotas frias são formadas quando o metal líquido solidifica em contato com

uma camada de metal solidificado previamente e a união entre as duas superfícies

sólidas é prejudicada pela existência de um filme de óxido formado localizado ou na

superfície do líquido ou do sólido solidificado inicialmente. Esse tipo de defeito

geralmente é causado pelo espalhamento do líquido no momento do preenchimento do

molde e que pode provocar a formação de gotas sólidas no contato com a parede fria do

molde em pontos acima do nível instantâneo de metal líquido no molde. Se a

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temperatura do líquido não for suficientemente elevada para provocar a refusão dessas

regiões sólidas, as gotas frias podem ser formadas. Esses defeitos aparecem na forma de

rugas ou trincas na superfície e podem ser evitados ou pelo pré-aquecimento do molde

ou pela elevação da temperatura de vazamento do metal líquido (GARCIA, 2001).

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CAPITULO V - Procedimento Experimental

5.1. Seleção das ligas a serem estudadas

A escolha das ligas a serem estudadas, bem como os princípios de

procedimentos de solidificação e de fusão, fez-se com base nos estudos realizados em

“A Influência dos Processos de Fusão e de Solidificação sobre o Efeito Memória de

Forma de uma Liga do Tipo Cu-Zn-Al” (VIEIRA, 1995), na qual as ligas Cu-Zn-Al

estudadas não apresentaram nenhum padrão percentual de volatização do zinco. O que

pôde ser observado foi uma perda média de zinco da ordem de 3,14% e cuja influência

dos processos de fusão em um forno a indução com atmosfera controlada seguida de

solidificação, também em atmosfera controlada, não apresentou efeitos no controle da

volatização do zinco sobre as ligas produzidas em forno de cadinho com aquecimento

por queimador à gás e solidificação a atmosfera ambiente.

Selecionada a liga do tipo Cu-Zn-Al para estudo, faz-se necessário definir sua

composição química, cuja condição inicial é a obtenção de ligas com temperaturas de

transformação martensítica (Mi) superiores a 0ºC, permitindo uma melhor condição de

medição das temperaturas de transformações de fases e demonstrações do EMF.

Segundo Delaey et al. (1978), tem-se as temperaturas Mi de início das

transformações martensíticas representadas na Figura 5.1.

Figura 5.1 - Relação entre a composição química e a Mi de transformação(Fonte: DELAEY et al., 1978)

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O uso do gráfico da Figura 5.1 é um passo para a escolha da composição

química de uma liga Cu-Zn-Al que venha atender as exigências de uma temperatura de

transformação Mi.

Feita a escolha, a temperatura pode ser verificada pela equação (LEE e

WAYMAN, 1986).

Mi (ºC) = 1890 - 51,0 (% de Zn em peso) - 134,5 (% de Al em peso)................. (5.1)

Adotando-se o critério de seleção através da Figura 5.1 e da Equação 5.1,

define-se as composições químicas das ligas para estudos conforme as Tabelas 5.1 e

5.2, as quais devem apresentar uma temperatura Mi superior a 0oC após sua produção,

uma vez que, antes da otimização do procedimento de controle da volatização do zinco

espera-se inicialmente uma perda deste elemento da ordem de 3%.

As ligas da Tabela 5.1, para o estudo da volatização do zinco são

caracterizadas por apresentarem um teor de alumínio fixo na percentagem de 6%. Com

a fixação deste teor, pretende-se viabilizar uma observação mais precisa das variações

ocorridas nos teores de zinco, bem como as perdas de alumínio por oxidação, ocorridas

nos processos de fabricação. As temperaturas Mi de início das transformações

martensíticas , antes da otimização do procedimento de controle da volatização do

zinco, devem ser obtidas acima da temperatura de 0oC, uma vez que se espera a perda

de 3% de zinco.

Tabela 5.1 - Composição química das ligas para estudo da volatização do zinco

Liga composição química (% em peso)

Mi1 (ºC) Mi2 (ºC)

1 70Cu-24Zn-6Al -150 -141

2 71Cu-23Zn-6Al -100 -90

3 72Cu-22Zn-6Al -35 -39

Definido um procedimento que evite as perdas do zinco por volatização e do

alumínio por oxidação, serão desenvolvidos os procedimentos que venham garantir a

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segregação controlada ao longo do sentido longitudinal do lingote. Para esta segunda

fase dos estudos, adota-se as ligas com composições químicas descritas na Tabela 5.2,

caracterizadas por teores variados de zinco e alumínio, cujo objetivo é o de facilitar a

confirmação da segregação por procedimentos de análises químicas.

Tabela 5.2 - Composição química das ligas básicas a seremutilizadas na fabricação dos lingotes com segregação no sentido

longitudinal do lingote por difusão e fusão seletiva

Ligacomposição química

(% em peso ) Mi1 (ºC) Mi2 (ºC)

4 71,0Cu-24Zn-5,0Al 0 -6,5

5 72,5Cu-22Zn-5,5Al 50 28,5

6 74,0Cu-20Zn-6,0Al 70 63,0Nota: Mi

1- conforme Figura 5.1; Mi

2- conforme equação 5.1.

Os valores das massas de cada elemento químico utilizado na fabricação das

ligas para controle da volatização do zinco encontram-se na Tabela 5.3.

Tabela 5.3 - Massa de cada elemento químico utilizado na fabricação das ligas paracontrole da volatização do zinco.

Elementos Liga 1.1

70,0 Cu 24,0 Zn 6,0 Al

Liga 2.1

71,0 Cu 23,0 Zn 6,0 Al

Liga 2.1

71,0 Cu 23,0 Zn 6,0 Al

Cobre 700,00 x 10-3kg 710,00 x 10-3kg 720,00 x 10-3kg

Zinco 240,00 x 10-3kg 230,00 x 10-3kg 220,00 x 10-3kg

Alumínio 60,00 x 10-3kg 60,00 x 10-3kg 60,00 x 10-3kg

Valores da massa de cada elemento químico empregado na fabricação das ligas a

serem utilizadas na fabricação dos lingotes da série 1, com segregação no sentido

longitudinal encontram-se na Tabela 5.4. Os lingotes produzidos posteriormente nas

séries 2, 3 e 4 tiveram uma redução de 40% da matéria prima utilizada na série1.

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Tabela 5.4 - Massa de cada elemento químico empregado na fabricação das ligas a serem utilizadas na fabricação dos lingotes com segregação no sentido longitudinal

(série1)

ElementosLiga 4.1

71,0 Cu 24,0 Zn 5,0 Al

Liga 5.1

72,5 Cu 22,0 Zn 5,5 Al

Liga 6.1

74,0 Cu 20,0 Zn 6,0Al

Cobre 706,70 x 10-3kg 723,30 x 10-3kg 738,23 x 10-3kg

Zinco 239,00 x 10-3kg 219,79 x 10-3kg 199,51x 10-3kg

Alumínio 50,65 x 10-3kg 55,90 x 10-3kg 60,10 x 10-3kg

A matéria-prima usada na fabricação das ligas Cu-Zn-Al com EMF foi

preparada a partir de barras de cobre eletrolítico, ânodos de zinco em bolas e um lingote

de alumínio ‘Alcan Alumínio do Brasil’ com graus de pureza mostrados na Tabela 5.5,

segundo certificados de composição química dos fornecedores.

Tabela 5.5 - Grau de pureza de matéria-prima usada na preparação das ligas SMA

Matéria-prima Grau de pureza (%)

Cobre (ASTM 11000) 99,900

Zinco (ASTM-B6) 99,990

Alumínio (AA-1085) 99,850

5.2. Os fornos utilizados na fabricação das ligas em estudos

Os fornos elétricos são atualmente os principais equipamentos para produção e

processamento das ligas metálicas, sejam utilizados para fusão, sinterização ou nos

tratamentos térmicos. Estes estão sempre presentes e são indispensáveis para o

desenvolvimento e produção destes materiais. No entanto, seu custo e suas instalações

muitas vezes inviabilizam pesquisas e desenvolvimentos de novos materiais.

Neste trabalho, visando apresentar uma alternativa tecnológica de baixo custo, e

provar que a indisponibilidade de equipamentos recomendados e exigidos pela literatura

sobre a fabricação das ligas Efeito Memória de Forma não deve ser um fator

desmotivador e determinante para não se prosseguir com um trabalho de pesquisa nesta

área, desenvolveu-se procedimentos de fabricação destas ligas LMF em fornos de

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cadinho com aquecimento por queimador a gás e com solidificação a atmosfera

ambiente.

Construiu-se um forno de cadinho com aquecimento por queimador a gás com

dimensões mostradas na Figura 5.2 e com toda estrutura fabricada com aço inoxidável

AISI 306. Este forno receberá a designação de Forno 2.

Figura 5.2 - Forno 2, de cadinho com aquecimento por queimador a gás

O isolamento térmico na região sombreada na Figura 5.2 foi feito inicialmente

com refratário Castibar PLW-41, refratário destinado a aplicações na Indústria Química,

constituindo-se de: 30% Al2O3, 48% SiO2, 9% CaO, 6,5% de Fe2O3 e outros. Sua massa

específica é de 1,18x103kg/m3, a condutividade térmica de 0,42 W/m.K, e sua

temperatura de trabalho é de 1100oC, exigindo desta forma, uma camada protetora de

Castibar N na região hachuriada na Figura 5.2 , onde estará alojado o cadinho e

ocorrerá a combustão. O Castibar N , é um refratário para aplicações gerais,

constituindo-se de: 49% Al2O3, 40% SiO2, 6% CaO, 1,4% de Fe2O3 e outros. Sua massa

específica é de 2,13x103kg/m3 a 100 oC e sua temperatura de trabalho é de 1400oC.

O preparo e a dosagem para modelagem teve a orientação técnica da IBAR,

Indústria Brasileira de Artefatos Refratários, fornecedora dos refratários para a

fabricação dos fornos.

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A base teórica do desenvolvimento dos fornos fabricados neste trabalho pode ser

vista no Anexo A – Um projeto de fabricação de fornos a gás para fusão de ligas

metálicas até 1500 oC com atmosfera controlada.

A tampa do forno representado na Figura 5.3, após o funcionamento na sua

primeira operação de fusão, teve que receber uma camada de refratário Castibar N na

região de contato com os gases resultantes da combustão.

Pode-se observar, na Figura 5.3, que o refratário inicialmente utilizado na tampa

do forno, o Castibar PLW-41, simplesmente fundiu em contato com a corrente de gases

provenientes da combustão, exigindo a aplicação de uma camada de aproximadamente

50 mm de espessura do refratário Castibar N.

Figura 5.3 - Forno 2 - de cadinho com aquecimento por queimador a gás (Detalhe

da tampa com seu refratário fundido)

Esse tipo de problema ocorrido nesta fase, em qualquer outro estudo, seria mais

um motivo de fracasso, porém na filosofia adotada neste trabalho, a falha ocorrida

permite sugerir a possibilidade da utilização deste tipo de forno na produção e

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reciclagem de vidros, principalmente nos setores de pequenos produtores e artesãos.

Uma vez que o sistema de geração de calor do forno foi capaz de fundir o refratário cuja

temperatura de trabalho é de 1100oC, é com certeza adequado para fusão e aquecimento

necessários à manufatura de utensílios de vidro de cal de soda, também conhecidos

como vidro de janelas, com ponto de fusão entre 1350oC a 1400oC e com composição

típica de (TOOLEY, 1984):

72,0 SiO2 + 14,3 Na2O + 8,2 CaO + 3,5 MgO + 1,3 Al2O3 + 0,3 K2O + 0,3 SO3.

Feita a correção do isolamento térmico no forno, não foi mais observada

nenhuma anomalia em seu funcionamento.

Utilizou-se também neste trabalho o forno de cadinho com aquecimento por

queimador a gás (Verificar Anexo B - Figuras B.1 e B.2) (VIEIRA, 1995), cuja

designação neste trabalho será de Forno 1, com equipamentos e características descritas

a seguir para ambos os fornos.

5.2.1. Queimador ou tocha

O queimador foi construído conforme desenho esquemático da Figura 5.4. Este

tipo de queimador ou tocha é usado em caldeiras e fornos com combustão de óleo, tendo

um insuflador como elemento fornecedor de ar para combustão. Seu suporte é

representado esquematicamente na Figura 5.5.

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Figura 5.4 – Queimador: (1) corpo; (2) direcionador de combustão;(3) entrada de ar; (4) duto condutor da mistura ar/gás; (5) vedação;

(6) suporte do misturador ar/gás; (7) placa defletora: (8) cone venturie (9) entrada do gás

Figura 5.5 - Suporte do queimador

5.2.2. Insuflador de ar

O insuflador de ar, representado esquematicamente na Figura 5.6, foi

desenvolvido a partir do corte ao meio de uma carcaça do sistema de ventilação de um

motor Volkswagem 1300, usando inclusive o mesmo rotor. O acionamento é feito por

um motor elétrico de l CV a 3520 rpm, 7,0 A/220 V, com relação de transmissão de 1:1.

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Figura 5.6 -Insuflador de ar: l - rotor; 2 - carcaça; 3 - correia; 4 - motor; 5 - suporte de madeira, e 6 - válvula reguladora do

fluxo de ar

5.2.3. Sistemas de controle da combustão

O combustível usado no forno é fornecido por dois botijões de 13 kg de GLP

cada um, controlados por um manômetro - OXICAMP GLP- para pressão máxima de

4,9x105 Pa (5 kgf /cm2).

Pressão do gás para funcionamento otimizado igual a 4,9 x 104 Pa

(0,5 kgf/cm2);

Válvula reguladora do fluxo de ar (item 6 da Figura 5.6) deve estar

totalmente aberta, a pleno funcionamento ;

Os gases resultantes da combustão não podem apresentar nenhum odor, caso

isso ocorra, deve-se reduzir a pressão do gás, e

Caso haja a interrupção da combustão, a válvula do gás deve ser fechada

imediatamente, caso contrário, um incêndio poderá ocorrer se os

equipamentos estiverem em ambiente com baixa ventilação e fechado.

5.2.4. O controle da temperatura

O controle da temperatura faz-se com uso de Multímetro Digital – FT-830 B,

marca Fort, com medidas em mV (mili-Volts), através de termopares ECIL - CS11/K-S-

08-620-00-0-100) do tipo Cromel-Alumel bitola 8AWG, apresentando a Relação

Diferença de Potencial / Temperatura ( 0,04 mV/K ). (GUY, 1980; COTTRELL,

1975).

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Foram construídas pontas em aço inoxidável AISI 306 para alojar os termopares

e protegê-los durante as tomadas de temperaturas: uma ponta conforme Figura 5.7

denominada de ponta redonda, devido ao formato de sua extremidade, e uma outra com

extremidade chata, designada por ponta chata.

Figura 5.7 – Ponta para alojamento dos termopares: superior ponta redonda e inferior ponta chata.

Construídas as pontas com os termopares, estas foram calibradas em zinco,

alumínio e cobre fundentes e apresentaram-se os resultados conforme Tabela 5.6.

Tabela 5.6 – Resultados da calibragem dos termopares montadosnas pontas redonda e chata

Redonda ChataMaterial Temperaturade Fusão (oC) (mV) mV/oC (mV) mV/oC

Zinco 419,5 13 0,0310 13 0,0310Alumínio 660,1 25 0,0379 23 0,0348Cobre 1083,0 43 0,0397 42 0,0388

Observa-se na Tabela 5.6 que a forma das extremidades das pontas montadas

com os termopares influem significativamente nos valores das medidas de temperaturas,

uma vez que cada variação de 1mV medido no multímetro corresponde a uma variação

de aproximadamente 25o C, mesmo com um tempo suficiente para a estabilização da

temperatura.

Conclui-se que não se pode deixar de executar o processo de calibragem das

pontas montadas com os termopares e que o sistema de leitura de temperatura encontra-

se em uma faixa de tolerância de 50o C, fato este que não compromete a realização

dos processos de fusão das ligas estudadas neste trabalho. Esta calibragem deverá ser

feita sempre após a manutenção das pontas e dos termopares.

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5.2.5. O sistema operacional do Forno 1 e do Forno 2

Utilizam-se os mesmos equipamentos e sistemas de controle descritos

anteriormente nos dois fornos, porém enquanto o Forno 1 leva um tempo aproximado de

duas horas para atingir uma temperatura da ordem de 1150 50 oC, o Forno 2, leva

aproximadamente 45 minutos. O consumo em ambos é, em média, de 2 kg/h de gás e

com uma produção 1kg de liga fundida e solidificação por hora de funcionamento.

Pode-se justificar deste comportamento de funcionamento dos dois fornos , que o Forno

2 foi o utilizado a partir da otimização das lingoteiras de grafita devido ao menor

consumo e maior rapidez para fusão das ligas.

5.3. Sistema de lingoteiras para fusão e solidificação

Na fabricação por fusão e solidificação de um componente ou lingote das ligas

com efeito memória de forma do tipo Cu-Zn-Al, um dos grandes problemas está no

manuseio dos metais em estado líquido, umas vez que estes geralmente encontram-se

em temperaturas muito elevadas, causando desconforto, perigo e riscos de contaminação

por gases e vapores próprios do processo.

Como um dos objetivos deste trabalho é a produção primária da matéria-prima

de Ligas com Efeito Memória de Forma, as quais serão posteriormente utilizadas na

fabricação de componentes funcionais, o processo pode ser conduzido a partir da

fabricação de lingotes.

Adotando-se lingoteiras para a fusão e solidificação, todo o manuseio com

material fundido deixa de ser necessário e a fabricação torna-se simples e segura.

Definido o procedimento básico para a produção das ligas, fez-se necessário

desenvolver as lingoteiras, que não são nada mais do que formas nas quais o metal será

fundido e solidificado.

5.3.1. A primeira experiência

Foi construir lingoteiras de tubos de aço inoxidável AISI 304 revestidas por uma

proteção em concreto refratário Castibar N, conforme ilustra a Figura 5.8.

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(a) (b)

Figura 5.8 - Lingoteiras: (a) vistas lateral e (b) vista superior

Os resultados da fusão, realizada no Forno 2, com este tipo de lingoteira foi

catastrófico, pois ocorreu uma forte oxidação principalmente na região da solda feita no

aço inoxidável e a desintegração completa do refratário, conforme pode ser visto na

Figura 5.9.

Figura 5.9 - Lingoteiras destruídas após a primeira tentativa de fusão Conclui-se que a esta temperatura, em torno de 1050 50 oC o aço escolhido

não resiste a forte oxidação e a conjunção metal – refratário não foi eficiente para

suportar a forte agressão do processo.

5.3.2. A segunda experiência

Foi feita dentro do princípio adotado anteriormente, porém, a lingoteira de aço

inoxidável neste experimento se alojaria no interior de um outro tubo, também de aço

inoxidável , revestidos de concreto refratário Castibar N e protegidos por uma estrutura

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externa, também fabricada em aço inoxidável AISI 304. Estas lingoteiras podem ser

vistas nas Figuras 5.10.

Figura 5.10 - Lingoteiras protegidas por uma estrutura externade aço Inoxidável AISI 304

Foram fundidos seis lingotes, no Forno 1, com estas lingoteiras, porém ocorreu

uma falha por oxidação e a dificuldade de manuseio e a persistente volatização do

zinco continuaram, conforme pode ser visualizado na Figura 5.11 (b), resíduos por todo

o forno.

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(a) (b)

Figura 5.11 - Lingoteira protegida no interior do Forno 1: (a) antes do processo de fusão e (b) depois do processo de fusão com forte volatização do zinco

5.3.3. A terceira experiência

No desenvolvimento das lingoteiras, a tentativa foi colocar em prática uma das

idéias iniciais deste estudo, a fabricação das lingoteiras em grafita.

O único problema estava em disponibilizar a matéria-prima, a grafita, para a

fabricação. Esta é cara e vendida apenas em grandes quantidades. Após uma pesquisa de

mercado e dos usuários de grafita, foi possível otimizar a fabricação das lingoteiras de

grafita a partir de niples de eletrodos de fornos elétricos a arco utilizados em grandes

empresas siderúrgicas e metalúrgicas.

Estando com a matéria prima disponível para a fabricação das coquilhas em

grafita, foi desenvolvida uma ferramenta para que pudesse ser feito o acabamento final e

a calibragem de cada coquilha, condição esta necessária para a continuidade deste

trabalho, uma vez que os procedimentos de fusão para a impressão da segregação

controlada exigirá conformidade entre as lingoteiras utilizadas. A Figura 5.12 mostra

algumas lingoteiras produzidas e utilizadas neste trabalho.

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Figura 5.12 - Várias lingoteiras de grafite

Resolvidos definitivamente todos os problemas referentes à resistência das

lingoteiras, às severas condições do processo de fusão e sua efetiva otimização, a fusão

e solidificação das ligas se deu de maneira segura e eficaz.

5.4. Processos de fabricação das ligas com Memória de Forma do Tipo Cu-Zn-Al

com segregação controlada no sentido longitudinal do lingote

Conforme citado no início deste trabalho, um dos maiores problemas na

fabricação das ligas com efeito memória de forma do tipo Cu-Zn-Al é a volatização do

zinco, o que torna quase unânime a falta de controle sobre a composição química deste

tipo de liga.

Os pontos de fusões desses tipos de ligas podem ser observados no diagrama de

fases da Figura 3.1 e encontram-se entre 950oC e 1000oC, mais o sobreaquecimento

necessário em qualquer operação de fusão, atinge-se uma temperatura da ordem de 1050

50 oC, temperatura esta, muito acima da volatização do zinco, que é de 907oC. Este

fato, a princípio, quase inviabiliza qualquer uma das possibilidades de se produzir este

tipo de ligas.

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5.4.1. Processo de fabricação de ligas Cu-Zn-Al com o controle da volatização do

zinco

O processo tem a seguinte rotina de procedimentos:

Utilizando-se de um diagrama de fases do sistema Cu-Zn, conforme

Figura 3.1, pode-se observar que a liga 60Zn40Cu tem ponto de fusão a

aproximadamente 835oC, temperatura esta inferior à volatização do zinco.

Portanto o problema da volatização do zinco será resolvido desde que se

inicie a fusão das ligas CuZnAl com uma liga primária com a composição

de 60Zn40Cu;

com o Forno 2 estabilizado a uma temperatura de 1050 50 oC, coloca-se a

coquilha no seu interior, deixando-a aquecendo até todo o sistema

forno/coquilha se estabilizarem novamente a 1050 50 oC;

retira-se a coquilha aquecida e faz-se a carga da liga primária, 60Zn40Cu, o

simples calor contido na coquilha é suficiente para fundir a quantidade de

zinco, que em seguida recebe o elemento químico cobre;

estando todo o cobre envolto pelo zinco fundido, adiciona-se o alumínio e

retorna-se a lingoteira para o interior do forno, mantendo a temperatura do

mesmo por volta de 850 50 oC, até que todo cobre da liga primária esteja

fundido;

em seguida, completa-se a carga do cobre para a composição química

exigida pela liga fabricada, deixando a temperatura do forno atingir

novamente 1050 50 oC e permanecendo nesta temperatura por um tempo

de 5 minutos;

finalmente, desliga-se o forno e mantem-se com o insuflador ligado por um

tempo de aproximadamente 10 minutos, para que se tenha o início da

solidificação do lingote produzido no próprio interior do forno;

a certeza da não volatização do zinco neste processo é o fato de não ser

observado o desprendimento de vapores de zinco, caracterizado por uma

fumaça extremamente branca e às vezes seguida de uma oxidação cuja

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chama é caracterizada por um tom de azul, próprio do zinco. Pode ser notado

ainda que a perda do cobre pode estar ocorrendo quando se detecta a

presença de uma chama em um tom esverdeado, típico do cobre.

para evitar a oxidação do alumínio no banho metálico, são usados

principalmente o cloreto de sódio (NaCl) e o cloreto de potássio (KCl).

Segundo esse procedimento foi produzida uma série de ligas cujas composições

químicas constam da Tabela 5.1.

O Procedimento descrito deve ser repetido quantas vezes for o número de ligas

a serem produzidas, gerando se desta forma uma rotina fixa de produção.

5.4.2. Processo de solubilização das ligas produzidas segundo os procedimentos

acima

Fundidas as ligas básicas, cada uma com suas composições químicas exigidas e

com a garantia da não volatização do zinco, as mesmas devem passar por um tratamento

de solubilização de 72 horas a 800oC em um forno elétrico a resistência. Na temperatura

de 800oC todas as ligas encontram-se na fase e 72 horas é um tempo máximo do ponto

de vista do custo do processo, caso este tempo não seja suficiente para a solubilização,

deve-se redimencionar os lingotes para dimensões reduzidas e menor massa a ser

solubilizada.

Esse tratamento é necessário, pois não se tem informações de padrões regulares

da segregação em ligas CuZnAl. Ainda não foi determinado um padrão de

comportamento da segregação nessas ligas, o que tem justificado a grande dificuldade

de controle de composição química.

5.4.3. Procedimento de difusão e fusão seletiva para produção de ligas com a

segregação controlada ao longo do sentido longitudinal do lingote

Produzidos e solubilizados os lingotes das ligas básicas segundo os

procedimentos dos itens anteriores 5.4.1 e 5.4.2, esses são identificados e cortados em

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três partes ou mais, e utilizados na fabricação de lingotes com três composições

químicas diferentes ou mais, ao longo de seu sentido longitudinal, conforme Figura

5.13, caracterizando desta forma uma impressão de segregação da composição química

totalmente controlada, após a difusão e fusão, neste trabalho chamada de seletiva.

(a) (b) (c)

Figura 5.13 - Identificação da disposição da composiçãoquímica dos lingotes a serem produzidos por difusão e fusão

seletiva: (a) L.456., (b) L.564. e (c) L.645

O processo da difusão e fusão seletiva tem a seguinte rotina de procedimentos:

são preparadas e identificadas cada uma das partes dos lingotes das ligas

básicas;

as partes são montadas na coquilha de grafita separadas por discos de cobre

eletrolítico com espessura de 1mm, conforme disposição mostrada na Figura

5.13. Esta é a razão da necessidade do tamanho padronizado destas coquilhas;

a seqüência de montagem pode ser aleatória, ou de acordo com uma

necessidade de aplicação exigida tecnologicamente;

preparado cada lingote em sua coquilha, com as respectivas ligas L.456,

L.564 e L.645, estes são levados individualmente, ao Forno 2, onde aguarda-

se a estabilização da temperatura em 1050 50 oC ;

estabilizada a temperatura, permanece-se nesta, por aproximadamente 5

minutos e retira-se a coquilha com o lingote do forno, resfriando-se em

atmosfera ambiente.

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Este procedimento inédito é possível porque utilizando-se os discos, no caso de

cobre puro, com separadores das várias composições adotadas, ele permitirá um

processo de difusão e solidificação localizada produzindo a união de todos os

componentes de composições químicas diferentes em um único lingote.

São produzidos, de acordo com este procedimento, lingotes cuja característica

principal é a de apresentar, para este caso estudado, três diferentes composições

químicas, ou mais quando necessária, ao longo de seu sentido longitudinal, através de

um processo seletivo de difusão e fusão.

5.5. Procedimento de laminação a quente das ligas produzidas

As LMF do tipo Cu-Zn-Al aceitam em processos industriais apenas deformações

plásticas a quente, ou seja, em temperaturas acima da temperatura de recristalização. As

deformações plásticas a frio neste tipo de liga são desprezíveis, devido à elevada

anisotropia própria da granulação grosseira deste tipo de liga.

5.5.1. O laminador

O laminador utilizado neste processo é do tipo duo-simples com as seguintes

características:

motor de 0,735 kW de potência a 1750 rpm;

redução total motor/cilindro de laminação de 1:22,3;

cilindro de laminação com diâmetro de 58 mm e largura de 100 mm; e

regulagem de abertura de cilindros manual.

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5.5.2. Mufla de aquecimento

O aquecimento das ligas a serem laminadas foi feito em uma mufla construída

para permitir um aquecimento da ordem de 800±50 oC, e apresenta as seguintes

carcterísticas:

fabricada com um tubo de aço inoxidável AISI 304 de diâmetro interno de 162 mm e comprimento de 795 mm;tem uma camada interna de concreto refratário Castibar-PLW-41 comaproximadamente 44 mm de espessura; o aquecimento é feito por dois pequenos maçaricos de GLP; o controle de temperatura é feito através de termopares do tipo Cromel/Alumel e possui uma tampa basculante em cada extremidade.

A mufla desenvolvida poderá ser utilizada também como fonte geradora de

energia para fusão zonal de ligas com efeito memória de forma entre outras, cujo ponto

de fusão, não seja superior a 1000ºC, bem como modelo para um incinerador contínuo

de resíduos hospitalares.

A Figura 5.14 mostra a mufla em sua posição de aquecimento.

Figura 5.14 - Mufla de aquecimento das ligas a serem laminadas

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5.5.3. Preparação das ligas para laminação e o procedimento de laminação

Os lingotes foram cortados em pequenas barras de dimensões de 10 a 30 mm de

largura e com uma espessura variando de 4 a 10 mm, dependendo do caso. As pequenas

barras foram aquecidas até 800 50 oC e submetidas a uma redução de até 25 % na

espessura a cada passe de laminação. As barras foram transformadas em lâminas com

espessuras entre 1 e 2 mm.

5.6. Procedimento de análise química

As amostras foram obtidas por um processo de furação, utilizando-se broca de

5mm de diâmetro e furos com 3,5mm a 5mm de profundidade, e foram submetidas a

um processo de limpeza, para eliminação das contaminações superficiais. Esta limpeza

consistiu em submeter os cavacos das ligas a lavagens sucessivas e ataque ácido, com

auxílio de cuba de ultrassom na seguinte sequência: água, acetona, metil-isobutil-

cetona, mistura ácida (na proporção em volume de 1 HCl : 0,5 HNO3 : 1 H2O) , três

vezes com água e acetona. A amostras foram secas em estufa com corrente de ar e

estocadas em frascos de polietileno fechados, até o momento da dissolução.

Na dissolução, foram pesados cerca de 200mg de cada amostra e, após

aquecimento em chapa de aquecimento, adicionava-se uma mistura de HCl, HNO3 e

H2O.

A técnica analítica por Espectrometria de Absorção Atômica com atomização

por chama foi utilizada para a determinação da composição da liga, utilizando-se um

espectrômetro de absorção atômica da PerkinElmer, modelo Analyst 800. Esse

equipamento possui um sistema completamente integrado, incorporando os

componentes para operação chama e forno de grafite, em um único instrumento,

permitindo a troca automática da técnica de atomização escolhida. Possui sistema óptico

de duplo feixe (mono feixe para operação com forno de grafite), monocromador tipo

Littrow, motorizado para automático selecionamento dos comprimentos de onda, ajustes

e alinhamentos. Correção de background para chama é feita por lâmpada de deutério,

possui forno de grafite com aquecimento transversal proporcionando perfil uniforme de

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temperatura, com correção de background por efeito Zeeman longitudinal. Todos os

sistemas são controlados por um software Analyst AA.

5.7. Caracterização elétrica das ligas com Efeito Memória de Forma

Como visto anteriormente na seção 2.1.1, o efeito memória de forma obtido nas

amostras pode ser caracterizado através do levantamento da curva de resistividade

elétrica versus temperatura ( x T) no intervalo que englobe a transformação estrutural.

As medidas experimentais de x T visaram analisar e comparar o efeito

memória de forma obtido em cada uma das amostras analisadas no presente trabalho,

verificando-se as influências das condições de processamento no efeito memória de

forma.

Essas medidas foram realizadas no Departamento de Engenharia de Materiais

(DEMAR) da FAENQUIL, em Lorena, SP, pelo Prof. Dr. Durval Rodrigues Junior. As

medidas foram realizadas utilizando-se o chamado “método das quatro pontas”, no qual

quatro fios são conectados à amostra, sendo dois para transportar a corrente elétrica de

teste e os outros dois para leitura do sinal de voltagem (diferença de potencial) gerado

na amostra durante a caracterização elétrica e a variação de temperatura. Foram

utilizadas correntes de excitação das amostras de 0,30 A, 0,60 A e 0,80 A. Verificando-

se que não havia influência importante da corrente nas medidas, mesmo em baixas

temperaturas onde a dissipação por efeito Joule poderia ser importante, foi definida a

corrente de teste de 0,60 A para todas as amostras.

Para as medidas foi desenvolvido um forno constituído por um tubo de cobre ao

redor do qual foi enrolado um elemento resistivo de aquecimento tipo fita aquecedora

com potência de cerca de 300 W, trabalhando em 127 V. O forno foi calculado de forma

a permitir o aquecimento das amostras até temperaturas da ordem de 200ºC,

possibilitando a caracterização das transformações martensíticas nas amostras

analisadas no presente trabalho. A obtenção de baixas temperaturas foi realizada

colocando-se todo o forno, após atingir temperatura ambiente, dentro de um banho de

nitrogênio líquido (-196ºC) em uma caixa de isopor. Esta montagem simples permitiu a

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caracterização das amostras, apesar deste procedimento necessitar implementação

futura.

Durante as medidas experimentais foi variada a temperatura da amostra desde a

temperatura ambiente até a temperatura máxima (~200ºC), deixada a temperatura

retornar à temperatura ambiente, abaixada a temperatura até próxima da temperatura do

nitrogênio líquido (-196ºC) e deixada a temperatura retornar à temperatura ambiente.

Durante todas as etapas, a temperatura no forno foi controlada com um controlador de

temperatura PID e termopar de cobre-constantan (tipo T). Procurou-se definir as

mesmas taxas de variação de temperatura em qualquer etapa de medição, procurando-se

evitar a introdução de efeitos inerentes ao processo térmico. A temperatura da amostra

foi lida constantemente com um segundo termopar de cobre-constantan através de um

multímetro digital acoplado a um computador. Simultaneamente à medida da

temperatura, a diferença de potencial gerada na amostra devido à passagem da corrente

elétrica de teste de 0,60 A foi lida utilizando-se um multímetro digital acoplado a um

computador. A aquisição digital de dados dos dois multímetros foi feita utilizando-se

um programa de computador que, em cada ponto de medida, gravava as leituras em

arquivo para posterior utilização em um programa para geração dos gráficos x T.

A Figura 5.15 mostra o sistema experimental durante o

aquecimento/resfriamento até 180ºC. A Figura 5.16 mostra o sistema durante o

resfriamento com nitrogênio líquido. A Figura 5.17 mostra todo o aparato experimental

incluindo o forno, a instrumentação e o sistema de aquisição digital de dados.

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Figura 5.15 - Sistema experimental para caracterização das curvas x T das ligas com efeito memória de forma. Caracterização durante o aquecimento/resfriamento até 180ºC

Figura 5.16 - Sistema experimental para caracterização das curvas x T das ligas com efeito memória de forma. Caracterização durante o aquecimento/resfriamento entre –

196 e ~200º C

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Figura 5.17 - Sistema experimental para caracterização das curvas x T das ligas com Efeito Memória de Forma

Próximo da extremidade de cada amostra foram soldados dois fios para

passagem da corrente I(A), e dois fios anexos aos dois primeiros para leitura da

voltagem V(V). A distância entre os terminais de voltagem L foi medida para cada

amostra, assim como a espessura média e a largura média das amostras.

Para determinação da resistividade elétrica das amostras em cada temperatura,

usou-se a expressão:

=LIAV

** (5.1)

Onde:

A é a área da seção transversal da amostra, calculada como sendo a espessura

média da amostra vezes a sua largura média, e L é a distância entre os terminais de

voltagem. A corrente de medida foi I = 0,6 A.

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CAPÍTULO VI – Resultados e Discussão

6.1. Experimento I

Através das fusões da liga 3 - 72Cu-22Zn-6Al em coquilhas descritas na seção

5.3. Sistemas de coquilhas para fusão e solidificação, e de acordo com o

procedimento descrito na seção 5.3.2 com a utilização da lingoteira conforme Figuras

5.10, foram produzidos seis lingotes, cuja finalidade foi apenas verificar o

comportamento das perdas do zinco e alumínio pelo procedimento de fusão e

solidificação tradicional. Estas ligas não foram submetidas a nenhum outro tipo de

tratamento térmico, químico ou mecânico e foram analisadas em seu estado bruto de

fusão e solidificação.

As falhas causadas pelas dificuldades de manuseio e falhas nas coquilhas

conforme citadas na seção 5.3, levaram à utilização de apenas três lingotes para análise

química, cuja identificação de amostras está representada na Figura 6.1.

Liga 1 Liga2 Liga 3

Figura 6.1 - Identificação das posiçõesdas amostras para análise química de três lingotes com composição 72Cu-22Zn-6Al

A Figura 6.2 e a Tabela 6.1 mostram os resultados das análises químicas das

amostras identificadas anteriormente, Figura 6.1.

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Figura 6.2 – Representação gráfica da Concentração x Posição das análises químicas das ligas 72Cu-22Zn-6Al

Tabela 6.1 - Resultados das análises químicas das ligas 72Cu-22Zn-6Al,posição analisada por concentração (% em peso)

Liga 1 Liga 2 Liga 3 Posição% Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al

1 74,4 18,7 5,9 79,5 16,5 3,1 69,9 26,6 3,42 74,4 18,8 5,7 79,5 16,5 3,2 68,9 26,5 3,83 74,8 18,5 4,7 80,0 15,8 3,2 68,8 26,8 4,04 74,7 19,0 5,5 80,9 16,2 3,2 65,0 29,9 4,25 74,8 18,5 5,4 80,1 15,9 3,1 64,9 30,7 4,96 75,0 19,2 5,7 79,8 16,4 3,0 64,4 30,8 4,97 75,0 18,3 5,6 79,7 16,5 3,0 63,9 30,7 4,88 74,3 19,8 5,5 79,7 16,8 4,4 64,0 29,9 4,99 74,6 19,7 5,6 78,6 14,5 6,4 64,2 30,7 4,8

10 74,9 19,7 6,0 79,0 14,5 5,511 74,6 19,6 5,5 78,3 15,6 5,612 74,9 19,3 5,4 79,6 15,4 5,613 74,1 19,2 5,4 78,0 15,7 5,614 74,6 18,6 5,3 78,5 15,3 5,8

77,4 15,4 6,6

Os resultados contidos na Figura 6.2 e na Tabela 6.1 conforme esperado, não

apresentaram nenhum padrão de perda de zinco por volatização e do alumínio por

oxidação. Nota-se ainda que erros operacionais na elaboração da liga 2 resultaram em

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uma excessiva volatização do zinco e defeitos ocorridos na coquilha levaram à perda do

cobre por vazamento na liga 3.

Definitivamente, a fabricação e o efetivo controle dos elementos zinco e

alumínio nas ligas Cu-Zn-Al através dos procedimentos tradicionais de fusão e

solidificação, tornam-se impossíveis e vêm comprovar a bibliografia sobre as SMA.

6.2. Experimento II

Utilizando-se as coquilhas de grafita, comentadas na seção 5.3.3 e seguindo-se

os procedimentos descritos na seção 5.4.1 foram produzidas as ligas:

1 70Cu-24Zn-6Al

2 71Cu-23Zn-6Al

3 72Cu-22Zn-6Al

Com o propósito de verificar a eficácia do procedimento utilizado no controle da

volatização do zinco, e sem que as ligas fossem submetidas a nenhum outro tipo de

tratamento térmico, químico ou mecânico, elas foram analisadas em seu estado bruto de

fusão e solidificação.

Não se observou, durante a fusão e solidificação das ligas produzidas, nenhuma

volatização aparente do zinco. Os resultados das análises químicas constam da Figura

6.3 e Tabela 6.2. As amostras foram retiradas a partir do fundo de cada lingote e

identificadas como: L.1.1, L.1.2, sucessivas até a L.1.10, para liga L.1 e igual

identificação para as demais ligas, conforme identificação análoga a Figura 6.1.

Os resultados encontram-se dentro de um erro analítico que ficou < 3 %, nas

ligas analisadas. O erro analítico é em função da média das duplicatas realizadas, não

necessariamente em torno de um elemento químico.

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Figura 6.3 – Representação gráfica da Concentração x Posição das análises químicas da liga 1 (70Cu-24Zn-6Al),

liga 2 (71Cu-23Zn-6Al) e liga 3 (72Cu-22Zn-6Al)

Tabela 6.2 – Resultados das análises químicas da liga 1 (70Cu-24Zn-6Al),liga 2 (71Cu-23Zn-6Al) e liga 3 (72Cu-22Zn-6Al );

posição analisada por concentração (% em peso) Liga 1 Liga 2 Liga 3 Posição

% Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al1 72,524 24,890 2,590 74,560 25,387 1,009 77,194 16,830 6,0192 72,544 23,612 3,853 74,568 22,712 2,718 77,218 17,257 5,5003 72,626 25,994 1,440 72,945 24,338 2,720 73,079 20,768 6,0074 70,545 24,582 4,878 70,254 24,713 5,000 71,425 23,434 5,1505 66,613 22,760 10,582 72,296 24,534 3,011 69,010 24,876 6,1156 70,768 24,996 4,240 73,778 27,011 0,874 68,947 24,593 6,5177 72,760 25,134 2,110 72,506 24,413 3,105 69,925 25,927 4,2018 74,601 25,649 1,001 70,019 23,128 6,870 70,136 25,402 4,4709 71,659 22,896 5,433 72,869 23,868 3,317 69,858 26,755 3,422

10 67,712 23,781 8,500 67,360 22,648 9,577 68,418 25,912 5,713

Observa-se, nos resultados da Figura 6.3, que se tem, na liga 1, um teor efetivo

de zinco de 24,128% e, na liga 2, um teor de zinco de 23,210%, realizando-se, assim, a

correção dos teores de alumínio, perdido por oxidação. Esse exemplo demonstra a

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100

ausência total de padrão da segregação dos solutos, não sendo possível o controle sobre

as mesmas. Na liga 3, pode-se observar um desvio acentuado do teor de cobre, em

relação aos valores padrão das ligas anteriores. Esse fato, deve-se à posterior detecção

de dois pequenos pedaços de cobre não fundidos no interior deste lingote, conforme

pode ser visto na Figura 6.4.

Figura 6.4 - Lingote da liga 3 mostrando dois pedaços de cobre não fundidos, provocados pela retirada da coquilha prematuramente do forno

A perda de alumínio neste experimento deveu-se pela oxidação do mesmo,

durante a fusão. Ainda, a não perda de zinco por volatização caracterizada neste

procedimento ressaltou os valores das perdas por oxidação do alumínio, as quais já

poderiam estar ocorrendo e poderiam não estar sendo detectadas.

O aspecto positivo desta operação é o real controle do zinco. Quanto ao controle

do alumínio, este poderá ser feito através do controle da adição de um anti-oxidande

mais eficaz ou através da correção da percentagem do alumínio perdido por oxidação

durante o processo de fusão das ligas.

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101

6.3 – Experimento III

Fundiu-se dois lingotes da liga 4 e um lingote de cada uma das ligas 5 e 6:

Liga 4: 71,0Cu-24,0Zn-5,0Al;

Liga 5: 72,5Cu-22,0Zn-5,5Al;

Liga 6: 74,0Cu-20,0Zn-6,0Al.

Os lingotes foram produzidos nas coquilhas de grafita, calibradas

dimensionalmente e seguindo rigorosamente o procedimento descrito na seção 5.4.1,

para o controle da volatização do zinco. Nesta fase do trabalho, as ligas produzidas não

foram submetidas a nenhum tratamento térmico ou químico.

Este experimento objetivou verificar a eficiência do procedimento de difusão e

fusão seletiva, descrito na seção 5.4.3, para produção dos lingotes com segregação

controlada ao longo do sentido longitudinal dos lingotes e, ainda, analisar o

comportamento das interfaces das diferentes composições químicas dos novos lingotes

produzidos, durante a laminação.

Os lingotes produzidos receberam a designação de liga 456.0 e liga 645.0

conforme Figura 5.14.

A liga 4.0 caracteriza-se por possuir uma única composição química em todo seu

lingote.

O lingote da liga 645.0 sofreu uma fratura na usinagem, torneamento e

fresamento, durante sua preparação para obtenção de placas destinadas a posterior

laminação, que pode ser visualizada na Figura 6.5, sendo então descartada. Esse

problema ocorreu em conseqüência de falhas de controle do processo e defeitos típicos

de solidificação, uma vez que estes lingotes das liga 456.0 e liga 645.0 foram os

primeiros a serem produzidos pelo procedimento de difusão e fusão seletiva, seção

5.4.3.

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Figura 6.5 - Fratura em uma das interfaces de composições durante processo de usinagem,

Liga 645.0

A liga 456.0 não apresentou nenhum defeito durante a preparação das placas

para laminação e, na Figura 6.6, são mostradas as placas a serem laminadas.

A liga 4 será laminada a partir de um pequeno corpo cilíndrico com diâmetro de

26 mm e comprimento de 62 mm e será designada por amostra 3, para laminação.

(a) (b)

Figura 6.6 - Identificação das amostras das placas a seremlaminadas: (a) amostra 2 e (b) amostra 1

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103

A laminação foi realizada de acordo com a seção 5.5, Procedimento de

laminação a quente das ligas produzidas, e os resultados deste procedimento estão

contidos nas Tabela 6.3 e Tabela 6.4 para suas respectivas amostras 01 e 02.

Tabela 6.3 - Valores das reduções sofridas pela amostra 01

Passes de laminação

esp. inicial (mm)

esp. final (mm) variação (mm) redução (%)

1o passe 10,8 9,3 1,5 13,89

2° passe 9,3 7,9 1,4 15,05

3° passe 7,9 6,6 1,3 16,46

4° passe 6,6 5,7 0,9 13,64

5° passe 5,7 4,9 0,8 14,04

6° passe 4,9 4,3 0.6 12,24

7°passe 4,3 3,8 0,5 11,63

8° passe 3,8 3,2 0,6 15,79

9° passe 3,2 2,9 0,3 9,38

10° passe 2,9 2,8 0,1 3,45

11° passe 2,8 2,7 0,1 3,57

12° passe 2,7 2,3 0,4 14,81

13°passe 2,3 1,9 0,4 17,39

14° passe 1,9 1,5 0,4 21,05

15° passe 1,5 1,3 0,2 13,33

Redução total 87,96

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Tabela 6.4 - Valores das reduções sofridas pela amostra 02

Passes de laminação

esp. inicial (mm)

esp.final(mm)

variação(mm)

Redução(%)

1°passe 7,0 5,7 1,3 18,57

2° passe 5,7 4,9 0,8 14,04

3° passe 4,9 4,1 0,8 16,33

4° passe 4,1 3,7 0,4 9,76

5° passe 3,7 3,4 0,3 8,11

6° passe 3,4 3,0 0,4 11,76

7° passe 3,0 2,7 0,3 10,00

8° passe 2,7 2,3 0,4 14,81

9° passe 2,3 2,2 0,1 4,35

10° passe 2,2 1,9 0,3 13,64

Redução total 72,85

A amostra 03, por ter forma diferente das barras e sua composição química ser

única, foi laminada com valores de reduções bem acima dos valores especificados na

seção 5.5, mostrados na Tabela 6.5.

Tabela 6.5 – Valores das reduções sofridas pela amostra 03

Passes de laminação esp. inicial (mm) esp. final

(mm) variação (mm) redução(%)

10 passe 23,7 11,5 12,2 51,48

2° passe 11,5 5,5 6,0 52,17

3° passe 5,5 4,2 1,3 23,64

4° passe 4,2 2,5 1,7 40,48

5° passe 2,5 2,0 0.5 20,00

6° passe 2,0 1,7 0,3 15,00

Redução total 92,82

As ligas produzidas por difusão e fusão seletiva, caracterizadas por apresentarem

segregação ao longo do sentido longitudinal do lingote, amostras 01 e 02, suportaram

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satisfatoriamente o processo de deformação plástica a quente. Já a amostra 03,

constituída por uma única composição química, liga 4.0, por apresentar porosidades

superficiais, uma falha própria do processo de solidificação, sofreu uma fratura durante

o processo de laminação, conforme pode ser vista na Figura 6.7.

Amostra 01

Amostra 02

Amostra 03

Figura 6.7 - Amostras após o processo de laminação: amostras01 e 02 (liga 456.0) e amostra 03 (liga 4.0)

Deve-se ressaltar que todos os problemas e a baixa qualidade do laminado são

conseqüências de defeitos próprios do processo de solidificação, uma vez que todos os

materiais utilizados encontram-se em estado bruto de fusão, e nenhum procedimento

disponível para melhoria da qualidade do fundido foi aplicado.

Fato esse, assumido propositalmente, pois neste momento desejou-se verificar o

comportamento a deformação plástica a quente das interfaces entre as diferentes

composições químicas dos lingotes em seu mais rústico estado.

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6.4 – Experimento IV

Fundiu-se novamente um lingote de cada uma das ligas básicas:

Liga 4: 71,0Cu-24,0Zn-5,0Al;

Liga 5: 72,5Cu-22,0Zn-5,5Al;

Liga 6: 74,0Cu-20,0Zn-6,0Al.

Os lingotes foram produzidos nas coquilhas de grafita calibradas

dimensionalmente, e seguindo rigorosamente o procedimento descrito na seção 5.4.1,

para o controle da volatização do zinco, conforme experimento III. Neste experimento

as ligas foram homogeneizadas mecanicamente com uma haste de aço inoxidável antes

da solidificação.

Nessa etapa do trabalho, as ligas produzidas foram solubilizadas a 800 50oC

por 72 horas em um forno elétrico a resistência, conforme previsto na seção 5.4.2.

Estando as ligas básicas produzidas, estas foram preparadas e identificadas para

o processo de difusão e fusão seletiva, cujo procedimento seguiu o descrito na seção

5.4.3, ‘Procedimento de difusão e fusão seletiva para produção de ligas com a

segregação controlada ao longo do sentido longitudinal do lingote’. Neste momento da

preparação, as interfaces dos pedaços de cada lingote e os discos de cobre eletrolíticos

foram submetidos a uma limpeza com a solução: 50ml de HNO3 + 5g de AgNO3 + 50ml

de H2O, recomendada pela Norma ASTM – E 340 , para ataque em análise

macrográfica em qualquer tipo de liga a base de cobre.

Os lingotes produzidos, conforme citado na seção 5.4.3, foram identificados

como: liga 456.1, liga 564.1 e liga 645.1 conforme Figura 5.14 (Disposição da

composição química dos lingotes a serem produzidos por difusão e fusão seletiva).

Estando os lingotes produzidos por difusão e fusão seletiva, foram retiradas as

amostras para análise química e usinados para preparação das placas a serem laminadas,

conforme pode ser visto na Figura 6.8.

Observa-se ainda que os lingotes apresentam em suas partes superiores uma

grande concentração de defeitos próprios da solidificação, como rechupes e

porosidades. Estes defeitos permanecem e são causados ainda na fusão das ligas básicas,

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uma vez que as ligas produzidas por difusão e fusão seletiva mantêm as posições e

falhas herdadas das ligas básicas. A parte superior da liga básica, continua sendo a parte

superior do novo lingote produzido por fusão seletiva.

Os problemas de solidificação podem ser resolvidos com a utilização da técnica

de massalote de cabeça quente, técnica muito utilizada em processos de fusão e

solidificação.

Figura 6.8 - Aspectos estruturais dos lingotes L.456.1 , L 564.1 e L 645.1

Nesta série de ligas produzidas, não observou-se nenhuma volatização de zinco.

Os resultados das análises químicas das amostras identificadas, segundo o

procedimento adotado nesse trabalho, são mostrados na Tabela 6.6 e nas Figuras 6.9,

6.10 e 6.11.

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Tabela 6.6 – Resultados das análises químicas da liga 456.1, liga 564.1 e liga 645.1; posição analisada por concentração (% em peso)

Liga 456.1 Liga 564.1 Liga 645.1Posição% Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al

1 74,81 19,50 5,65 71,6 23,45 5,00 67,93 27,66 4,352 74,64 19,73 5,63 71,41 23,27 5,34 70,00 25,61 4,343 75,15 19,40 5,41 71,07 23,62 5,31 69,80 25,75 4,364 74,10 20,75 5,17 71,3 23,39 5,25 69,44 25,77 4,805 73,21 21,63 5,20 71,15 23,58 5,29 68,81 26,09 5,066 73,08 21,72 5,19 71,61 23,09 5,27 68,26 26,50 5,247 73,75 21,09 5,11 71,03 23,77 5,23 68,10 26,59 5,358 71,80 22,99 5,19 70,88 23,80 5,35 68,40 25,94 5,689 72,25 22,59 5,16 70,34 23,90 5,76 70,80 23,18 5,93

10 72,00 22,74 5,20 71,06 23,00 5,86 71,31 22,76 5,9111 71,67 23,08 5,22 71,35 22,75 5,90 71,03 22,75 6,2012 71,70 23,00 5,24 71,19 22,81 5,98 71,42 22,42 6,13

Figura 6.9 – Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição das análises químicas da liga 456.1, liga 564.1 e liga 645.1

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Figura 6.10 – Representação gráfica da Concentração de Zinco x Posição das análises químicas da liga 456.1, liga 564.1 e liga 645.1

Figura 6.11 – Representação gráfica da Concentração de Cobre x Posição das análisesquímicas da liga 456.1, liga 564.1 e liga 645.1

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A análise dos resultados das concentrações do alumínio na Figura 6.9, permite

obter as concentrações originárias das ligas básicas solubilizadas: liga 4.1, liga 5.1 e liga

6.1.

Na Figura 6.12, nota-se um padrão de variação na composição, próprio de

segregação por diferença de massas específicas, exceto a liga 6.1 a qual apresentou uma

grande concentração de porosidade na região central do lingote, levando a uma

significativa perda de material, conforme pode ser visto nas Figuras 6.13 e 6.14.

Figura 6.12 – Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição equivalente das análises químicas das ligas 4.1, 5.1 e 6.1

(a) (b) (c)

Figura 6.13 - Disposição e identificação dos lingotes da liga 456.1, liga 564.1 e liga 645.1

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L.456.1 L.564.1 L.645.1 L.456.1 L.564.1 L.645.1

(a) (b)

Figura 6.14 - Lingotes após a difusão e fusão seletiva: (a) Lingotes após fusão seletiva (em bruto) e (b) Marcação dos lingotes para retirada de amostras para análise química

A Figura 6.15 mostra aspectos macrográficos das liga 456.1, liga 564.1 e liga

645.1, nas quais podem ser observados os defeitos de solidificação ocorridos na fusão

das ligas básicas utilizadas para a produção dos lingotes com segregação. Pode-se

observar ainda, a granulometria da estrutura após o processo de difusão e fusão seletiva.

Figura 6.15 - Aspectos macrográficos das ligas 456.1, 564.1 e 645.1

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Os defeitos de solidificação (Figura 6.15) não permitem êxito na laminação das

ligas. No entanto, otimizados os procedimentos de controle da volatização do zinco e de

obtenção de lingotes com segregação controlada por difusão e fusão seletiva, esse

experimento teve como meta a eliminação dos problemas típicos de solidificação e a

obtenção de novos dados para a avaliação final dos efeitos da segregação sobre o efeito

memória de forma.

6.5. Experimento V

Foram produzidos nove lingotes das ligas básicas, conforme procedimentos

descritos na seção 5.4.1, e uma massa total de matéria prima de 0,6 kg. A liga 6.2 teve

um acréscimo de uma massa equivalente a 1,2 % de alumínio, para uma análise da

compensação da perda deste por oxidação durante sua fabricação, além do teor nominal

da mesma. Nesse experimento, os lingotes produzidos não foram submetidos a

homogeneização mecânica antes da solidificação, pois o objetivo foi eliminar os

defeitos típicos de solidificação, vázios, rechupes e porosidades.

A solidificação foi feita fora do forno, com a troca de calor da base da lingoteira

feita através do contato com um cadinho de grafita refrigerado a água, e a parte superior

da lingoteira protegida por um complemento refratário de concreto Castibar PLW-41,

citado na seção 6.2, para evitar a rápida troca de calor da parte superior do lingote,

responsável por grande parte dos defeitos de solidificação.

Observou-se nesta etapa do trabalho, que o uso do escorificante, estava

favorecendo a formação dos defeitos encontrados nos lingotes produzidos

anteriormente, como a porosidade, bolhas e inclusões não metálicas.

Os lingotes produzidos tiveram a seguinte identificação:

ligas 4.2, 5.2, 6.2 e 4.3, fundidos com escorificate e cujos defeitos de

solidificação ainda foram observados;

ligas 5.3, 6.3, 4.4, 5.4 e 6.4, fundidos sem o uso de escorificante e com

ausência de defeitos macroscópicos de solidificação.

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113

Os lingotes foram solubilizados conforme previsto na seção 5.4.2 e

identificados.

Os lingotes das ligas 4.2, 5.2 e 6.2 foram analisados e laminados com uma única

composição química respectivamente, para uma análise da fusão primária e do

tratamento de solubilização.

Os lingotes produzidos pelo procedimento de difusão e fusão seletiva, seção

5.4.3, tiveram a seguinte identificação:

liga 456.3 e liga 465.3 produzidos sem o disco separador de cobre

eletrolítico;

ligas 456.4, liga 564.4 e liga 645.4, produzidas rigorosamente conforme o

procedimento descrito na seção 6.4.3.

A Figura 6.16 mostra aspectos macrográficos das ligas 4.2, 5.2 e 6.2, as quais,

ainda, foram fundidas com o escorificante e a presença dos defeitos de solidificação

ainda persistiram. Observou-se acentuados rechupes de contração, o que pode ser

explicado pela falta do controle na solidificação dos primeiros lingotes solidificados

com refrigeração na base e complemento refratário na parte superior, conforme

procedimento citado anteriormente.

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Figura 6.16 - Aspectos macrográficos das ligas 4.2, 5.2 e 6.2

A Figura 6.17 mostra a disposição e identificação das partes do lingote

produzido por difusão e fusão seletiva.

Figura 6.17 - Disposição e identificação dos lingotes das ligas456.4, 564.4, 645.4, 456.3 e 465.3

A Figura 6.18 mostra as liga 456.3 e liga 465.3, com a presença de alguns

pequenos defeitos superficiais e um rechupe por contração quase totalmente controlado.

Foi possível produzir apenas dois lingotes destas ligas da série três, porque o

lingote da liga 4.3, fundido ainda com escorificante, apresentou uma alta concentração

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de defeitos, muito similares aos observados na Figura 6.16, liga 5.2. Esse fato levou ao

descarte da parte superior destes ligotes fundidos com o uso do escorificante.

A ausência do disco separador não causou interferência no processo de

laminação nem gerou falhas nas interfaces de composição , e o aspecto macrográfico

das ligas foi de granulação mais fina e uniforme em todo o lingote, em relação às

produções anteriores.

A provável causa para esse resultado foi o menor tempo de exposição às

temperaturas elevadas, pois, ao se atingir a temperatua de 1050 50 ºC, as ligas foram

retiradas do forno, uma vez que as mesmas não tinham os discos separadores de cobre

eletrolítico.

Figura 6.18 - Aspectos macrográficos das ligas 456.3 e 465.3 após o processo de difusão e fusão seletiva sem o disco separador

As ligas 456.4, 564.4 e 654.4 (Figura 6.19) apresentaram estruturas

macrografiacas quase perfeitas, a não ser pelo aparecimento de uma trinca de

solidificação na parte inferior da liga 456.4 e um pequeno rechupe na liga 564.4.

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Figura 6.19 - Aspectos macrográficos das ligas 456.4, 564.4 e 645.4,após o processo de difusão e fusão seletiva com o disco separador

Na Figura 6.19, há três regiões distintas ao longo do sentido longitudinal dos

lingotes. Esta é uma característica positiva do procedimento apresentado neste trabalho

para a fabricação de ligas com composições químicas bem distintas, com uma

segregação de composição química bem definida.

A presença dos discos separadores permite um tempo maior à temperatura de

1050 50 ºC, o que leva a um efeito mais acentuado da difusão e fusão seletiva, próprio

da elevada variação de concentração dos elementos zinco e alumínio das ligas e o cobre

puro, eletrolítico do disco separador.

A variação de composição química entre as ligas básicas e o cobre eletrolítico,

usado no disco, propicia uma elevada difusão localizada. O emprego do termo difusão e

fusão seletiva justifica-se, pois, com a dependência dos pontos de fusão às composições

químicas, podem ocorrer fusões localizadas.

6.5.1. Laminação

As ligas foram preparadas para o processo de laminação a quente, conforme

descrito na seção 5.5.2 e laminadas até espessura entre 1mm e 2 mm.

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117

Na Figura 6.20 pode ser notado que as falhas no laminado têm início em

defeitos quase imperceptíveis na superfície dos lingotes, fato este que exige um bom

preparo das placas a serem laminadas.

4.2 5.2 6.2 456.3 465.3

Figura 6.20 - Ligas 4.2, 5.2, 6.2, 456.3 e 465.3, laminadas a quente,a parte inferior das lâminas correspondem ao fundo dos lingotes

A Figura 6.21 apresenta as ligas 456.4, 564.4 e 645.4, laminadas a quente. Na

liga 645.4, há uma falha de laminação, em que foi perdida a parte do lingote

correspondente à liga 6. Esse defeito na laminação é próprio da elevada anisotropia,

provocada por uma granulação grosseira na parte superior do lingote. Essa característica

estrutural tem uma grande importância no processo de laminação, pois provoca

dificuldades extras durante o processo de laminação, neste tipo de material.

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118

Figura 6.21 - Mostra as liga 456.4, liga 564.4 e liga 645.4,o lado direito das lâminas correspondem ao fundo dos lingotes

Nas Figuras 20 e 21 não foram observados nenhum defeito de laminação que se

relacione ao processo de fabricação por difusão e fusão seletiva. As interfaces das

diferentes composições químicas integraram-se completamente a estrutura final do

lingote.

As ligas produzidas apresentaram valores médios de dureza Vickers, com carga

de 15kg e tempo 30 segundos conforme Tabela 6.7, valores de dureza Vickers para as

ligas no estado bruto de fundição. Nesta tabela observa-se que a variação dos valores de

dureza são muito mais em conseqüência das diferenças estruturais dos lingotes,

acentuando-se a anisotropia, do que pela variação da composição química dos mesmos,

uma vez que cada posição de medida de dureza corresponde a respectiva posição da

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119

análise química adotada no trabalho e os aspectos macrográficos podem ser vistos nas

Figuras 6.18 e 6.19.

Tabela 6.7 - Valores de dureza Vickers para as ligas no estado bruto de fundição

Liga 456.3 Liga 465.3 Liga 456.4 Liga 564.4 Liga 645.4Posição

HV15/30 (kgf/mm2)1 103 172 95 102 1192 119 142 103 125 1493 122 153 119 125 1614 130 153 140 155 1615 196 175 162 195 1616 210 180 132 183 1617 203 184 130 201 1618 212 176 128 215 1619 212 188 167 220 207

10 192 177 212 217 17811 190 183 211 213 258

As ligas, após o processo de laminação, foram aquecidas até 800 50ºC na mufla

de aquecimento e resfriadas ao ar. O tempo de aquecimento foi apenas o necessário para

a homogeneização da temperatura.

Na Tabela 6.8, encontram-se os valores de dureza Vickers para as ligas

laminadas, após aquecimento a 800 50ºC, na qual, nota-se uma menor variação dos

valores de dureza do que as encontradas na Tabela 6.9, uma vez que o material

laminado encontra-se mais uniforme estruturalmente e com uma variação anisotrópica

muito menor.

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Tabela 6.8 - Valores de dureza Vickers para as ligas laminadas,após aquecimento de 800 50oC

Liga 456.3 Liga 465.3 Liga 456.4 Liga 564.4 Liga 645.4Posição

HV15/30 (kgf/mm2)1 100 140 103 100 1342 102 140 103 102 1323 101 140 103 102 1334 103 140 103 103 1315 160 141 161 160 1316 161 141 161 161 1337 161 138 161 161 1328 161 138 161 1619 161 138 161 161

10 161 138 161 16111 161 139 161 161

A ausência dos valores para as posições de 8 a 11 da liga 645.4 foi em

conseqüência da não aceitação do processo de laminação nesta região do lingote,

conforme observado na Figura 6.21.

6.5.2. Análise química

Conforme procedimento descrito na seção 5.6, foram obtidos os resulados das

análises químicas das ligas estudadas. Nas Tabelas 6.8 e 6.9 pode-se observar os

resultados das análises químicas em suas respectivas posições.

Tabela 6.9 – Resultados das análises químicas da liga 456.3 e liga 465.3;posição analisada por concentração (% em peso)

Liga 456.3 Liga 465.3Posição% Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al

1 78,15 17,55 4,34 75,30 20,04 4,712 77,85 18,08 4,21 75,23 20,00 4,833 76,80 18,34 4,86 74,82 20,41 4,814 75,36 20,00 4,74 74,51 20,62 4,965 74,23 20,87 5,08 74,16 20,82 4,996 74,39 20,65 5,01 73,99 20,98 4,817 74,45 20,50 4,98 74,62 20,15 5,158 74,90 20,31 4,81 74,97 20,00 4,909 74,87 20,15 4,91 74,71 20,41 4,88

10 73,64 21,10 5,26 74,93 20,35 4,6511 73,48 21,40 5,00 74,72 20,66 4,75

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Tabela 6.10 – Resultados das análises químicas da liga 456.4, liga 564.4 e liga 645.4;posição analisada por concentração (% em peso)

Liga 456.4 Liga 564.4 Liga 645.4Posição% Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al % Cu % Zn % Al

1 82,04 13,86 4,10 78,52 17,19 4,39 79,17 16,06 4,862 81,00 14,70 4,37 78,40 17,43 4,30 79,09 15,84 5,043 78,80 16,50 4,67 77,82 17,80 4,58 78,92 16,30 4,804 78,05 17,00 4,78 77,98 17,44 4,68 78,25 17,09 4,715 76,32 18,98 4,80 77,15 17,56 5,25 76,79 18,54 4,756 75,59 19,56 4,95 76,50 17,90 5,57 76,85 18,68 4,697 73,90 20,96 5,06 76,97 17,39 5,52 75,84 19,36 4,848 73,00 22,05 5,09 76,71 17,85 5,53 75,37 19,29 5,409 70,88 23,92 5,12 76,43 18,00 5,51 73,70 19,72 6,65

10 70,91 23,89 5,20 75,99 18,40 5,64 73,82 19,64 6,7811 70,90 23,71 5,35 75,32 18,89 5,79 73,29 19,84 6,77

A análise de composição química pode ser vista a partir das Figuras 6.22, 6.23,

6.24, 6.25, 6.26 e 6.27.

Figura 6.22 – Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição das análises químicas das ligas 456.4, 564.4 e 645.4

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Figura 6.23 – Representação gráfica da Concentração de Zinco x Posição das análises químicas das ligas 456.4, 564.4 e 645.4

Figura 6.24 – Representação gráfica da Concentração de Cobre x Posição das análises químicas das ligas 456.4, 564.4 e 645.4

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Figura 6.25 – Representação gráfica da Concentração de Alumínio x Posição

das análises químicas das ligas 456.3 e 465.3

Figura 6.26 – Representação gráfica da Concentração de Zinco x Posição das análises químicas das ligas 456.3 e 465.3

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Figura 6.27 – Representação gráfica da Concentração de Cobre x Posição das análises químicas das ligas 456.3 e 465.3

As análises químicas dessas séries de ligas produzidas mostraram uma perda de

alumínio com padrão semelhante ao das séries anteriormente produzidas, porém a perda

do zinco, não foi a esperada, uma vez que não houve perda por volatização, pois esta

não foi detectada em nenhum momento durante a fabricação das ligas, o que comprova

a eficiência do procedimento utilizado para o controle do zinco por volatização.

No entanto, ficou caracterizado nesta série de ligas, uma segregação por variação

de massa específica. Este fato pode ser observado pela variação crescente dos teores de

zinco da parte inferior para a parte superior dos lingotes.

A não homogeneização mecânica dos lingotes, levaram-nos a manter uma

segregação por diferença de massas específicas, que não foi possível ser homogeneizada

pelo tratamento de solubilização.

A falta da completa homogeneização das ligas durante o tratamento de

solubilização, pode ser comprovada na Tabela 6.11, resultados das análises químicas

das ligas 4.2, 5.2 e 6.2, solubilizadas.

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Tabela 6.11 - Resultados das análises químicas das ligas 4.2, 5.2 e 6.2

Liga 4.2 Liga 5.2 Liga 6.2

Cu Zn. Al Cu Zn Al Cu Zn Al

1 75,20 20,41 4,39 75,95 19,57 4,52 73,33 19,37 7,28

2 74,65 20,95 4,61 75,62 19,64 4,85 73,10 19,61 7,41

3 74,20 21,02 4,80 75,43 20,04 5,06 73,46 19,44 6,98

4 72,96 22,26 4,90 74,83 19,99 5,22 72,96 20,00 7,31

5 72,95 22,50 4,84 74,49 20,08 5,34

A perda do zinco nestas ligas ficou ainda mais acentuada quando as

extremidades dos lingotes foram descartadas no processo de preparação para produção

dos lingotes por difusão e fusão seletiva, pois a maior concentração do zinco

encontrava-se nesta região do lingote.

A perda do alumínio manteve o mesmo padrão, tanto nas ligas fundidas com

escorificante, anti-oxidante, quanto nas ligas fundidas sem escorificante. Este fato

permite sugerir o não uso do escorificante, uma vez que o uso deste, apenas trouxe

perda da qualidade dos lingotes produzidos, conforme discussões anteriores. A

atmosfera do forno poderá ser controlada para uma condição mais redutora do que

oxidante, o que minimizara as oxidações.

O controle efetivo do alumínio poderá ser feito através da adição de um

percentual que considere as perdas por oxidação, conforme resultado obtido pela

adição de um valor maior que o nominal do teor de alumínio na liga 6.2. O valor desta

correção só poderá ser feito em valores definitivos, após um estudo específico sobre a

eficiência do tratamento de solubilização e a partir das análises químicas das ligas

perfeitamente homogeneizadas. Este procedimento permitirá verificar o real percentual

de perda do zinco, também por oxidação.

Uma vez que as composições químicas variaram além dos valores esperados em

conseqüência da segregação por variação de massa específica e pela ineficiência do

tratamento de solubilização, o efeito da segregação controlada pelo processo de

fabricação por difusão e fusão seletiva, nestas séries de ligas, sofreu uma variação a qual

levou as ligas a composições químicas cujos Efeitos Memória de Forma não vieram

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126

manifestar conforme o desejado, ou seja, em três diferentes faixas de temperaturas ao

longo dos lingotes produzidos.

6.5.3. Características elétricas e o Efeito Memória de Forma

Conforme a seção 5.7, caracterização elétrica das ligas com efeito memória de

forma, pode-se obter as curvas de resistividade elétrica versus temperatura ( x T ), as

quais permitem inicialmente avaliar o efeito da corrente elétrica usada na caracterização

e em suas respectivas temperaturas de transformações de fases martensita/austenita no

aquecimento e austenita/martensita no resfriamento e ainda comprovar o tipo II, de

transformação martensítica, seção 2.1.1, Figura 2.2, na qual Af Mi Ai Mf, através

da análise das Figuras 6.28, 6.29 e 6.30.

Figura 6.28 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para corrente deexcitação de 0,3A e respectivas temperaturas de transformações de fases durante o

aquecimento e resfriamento

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Figura 6.29 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para corrente deexcitação de 0,6A e respectivas temperaturas de transformações de fases durante o

aquecimento e resfriamento

Figura 6.30 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para corrente deexcitação de 0,8A e respectivas temperaturas de transformações de fases durante o

aquecimento e resfriamento

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Fez-se as leituras das temperaturas de fases, tomando um valor médio através

das retas paralelas inseridas nos gráficos, as quais encontram-se com uma diferença

entre si menor que 3% do valor da resistividade elétrica medida, uma vez que a ordem

de grandeza é de .cm, esta variação poderá ser desprezível.

A pequena variação nas temperaturas de transformações de fases, a qual pode ser

própria do efeito dos ciclos térmicos, discutida na seção 3.5.1, permitiu definir a

corrente de 0,6A para a caracterização das ligas a serem analisadas quanto ao efeito da

segregação sobre a memória de forma.

Na Figura 6.31, pode-se avaliar o efeito da composição química sobre a

memória de forma para as ligas 4.2 e 5.2.

Figura 6.31 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para as ligas 4.2 e 5.2

Na Figura 6.31, observa-se uma histerese bem característica das temperaturas

de transformações de fases na liga 5.2, a qual também se manifesta na liga 6.2 (Figura

6.29). A composição química resultante dos processos de fabricação da liga 4.2 não

permitiu que o mesmo efeito fosse obtido, devido a perda do alumínio por oxidação e do

zinco pela segregação por variação de massa específica, comprovada na Tabela 6.11.

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Os gráficos a seguir são os da caracterização elétrica das ligas fabricadas com a

segregação controlada por difusão e fusão seletiva, Figuras 6.32, 6.33 e 6.34.

Figura 6.32 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura para a liga 456.1

Na seção 5.1, Figura 5.1 e Equação 5.1, constata-se que a liga 456.1 deveria

estar manifestando o EMF , em uma faixa de temperatura Mi de aproximadamente 293K

(20oC) até 423K (150oC), no entanto, em nenhum ensaio realizado nas amostras desta

liga, o EMF manifestou-se, conforme pode ver observado na Figura 6.32 e no processo

de memorização da mesma.

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Figura 6.33 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura,para as ligas 465.3 e 564.4

Na seção 6.5.2, análise química, pode-se verificar nas Figuras 6.22 até 6.27 e

nas Tabelas 6.9 e 6.10 as respectivas variações das composições químicas das ligas

465.3 e 564.4 e notar uma maior variação na composição química, segregação mais

acentuada, na liga 564.4. Esta encontra-se mais próxima do efeito de segregação

imposto pelo processo de difusão e fusão seletiva, desenvolvido neste trabalho, do que a

liga 465.3. Porém, conforme já citado, as previsões do EMF segundo referências

teóricas, as temperaturas Mi , encontravam-se todas em um valor superior aos medidos

na liga 564.4. A liga 465.3, por apresentar maior homogeneidade não manifestou uma

histerese típica do EMF.

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Figura 6.34 - Gráfico resistividade elétrica versus temperatura, para as ligas 456.4 e 456.3

Em uma análise análoga ao da Figura 6.33, observa-se que, na Figura 6.34, a

liga 456.4 apresenta uma maior segregação do que a liga 456.3, porém as variações de

composição levaram-na, a não manifestação do EMF, por sair do campo de composição

química em que o EMF se manifesta. No entanto, a liga 456.3 com uma maior

homogeneidade, ficou em uma faixa de composição na qual pode-se verificar uma

histerese típica do EMF.

Observa-se que as duas ligas 456.4 e 456.3 apresentam composições químicas

semelhantes em alguns seguimentos das amostras e este fato levou as curvas da Figura

6.34 apresentar uma forma característica para as duas ligas a temperaturas superiores a

363K (90oC).

As variações e os picos apresentados nos gráficos resistividade elétrica versus

temperatura podem ser explicados através das variações estruturais ocorridas nas

transformações de fases, uma vez que o movimento dos elétrons não pode ocorrer sob

condições que satisfaçam a lei de Bragg (REED-HILL, 1982, p. 84), sem se esquecer

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que as fases têm sua dependência na relação elétrons de valência/átomos, já citado

anteriormente.

A Tabela 6.12 foi obtida através da determinação das temperaturas de início da

transformação martensítica (Mi) teóricas e os valores reais encontrados.

Tabela 6.12 – Valores das temperaturas Mi (início da transformação martensítica) – teórios e reais

Liga Mi1 (ºC) Mi2 (ºC) Mireal (ºC)

4.2 sem EMF 165 sem EMF5.2 200 157 606.2 50 -85 70

456.1 75 a 200 25 a 145 sem EMF 465.3 sem EMF 167 a > 200 sem EMF 456.3 177 a > 200 144 a > 200 52456.4 25 a > 200 -39 a > 200 sem EMF 564.4 sem EMF sem EMF -13

A falta de correspondência dos dados encontrados na literatura com os valores

obtidos experimentalmente, a não eficiência do tratamento de solubilização e a forte

segregação por variação de massa específica , levaram as curvas resistividade elétrica

versus temperatura, que caracterizam o EMF, a manifestarem em situações extremas de

composição química em que o EMF ocorre. Porém, mesmo em valores extremos

observa-se uma forma de curva peculiar nas ligas produzidas por difusão e fusão

seletiva o que permite afirmar que, com as devidas correções a produção de ligas

memória de forma com segregação controlada é uma realidade.

O procedimento de difusão e fusão seletiva, apresentado neste trabalho, poderá

ser aplicado em outras áreas da engenharia de materiais.

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CAPÍTULO VII – Conclusões

Das observações e análises dos resultados deste trabalho, extraem-se as

conclusões finais:

a) o processo de controle da volatização do zinco mostrou-se eficiente e

tecnologicamente viável;

b) a fabricação de ligas com uma segregação controlada ao longo do lingote, pelo

processo de difusão e fusão seletiva é possível e pode ser aplicado em outras áreas

da engenharia de materiais;

c) a dureza das ligas produzidas tem um efeito muito mais dependente da morfologia

estrutural do que da variações de composições químicas;

d) constatou-se que a composição química das ligas produzidas ficaram em campos

extremos de manifestação do EMF, em conseqüência da segregação por variação de

massa específica dos elementos químicos e da não eficiência plena do tratamento de

solubilização o qual pode ser otimizado com um aumento da temperatura e uma

diminuição das dimensões dos lingotes a serem tratados, diminuindo desta forma as

massas a serem homogeneizadas;

e) sem uma padronização de procedimentos de fabricação, da metodologia de ensaios e

de normas de avaliação, a produção comercial de ligas Cu-Zn-Al com memória de

forma, será sempre dificultada, porém fica claro a possibilidade de produzir ligas

com um controle da segregação dos solutos que amplie e torne mais preciso o Efeito

Memória de Forma em um único componente fabricado com esse tipo de liga;

f) os dados e resultados encontrados na literatura específica sobre ligas EMF Cu-Zn-

Al, devem ser utilizados apenas como um referencial, pois os mesmos são muito

dependentes das condições metodológicas em que foram obtidos, razão esta, da

maioria dos trabalhos serem feitos em amostras monocristalinas e sem uma

elucidação clara do que se pretendia estudar antes da produção da amostra, estuda-se

quase sempre aspectos das amostras já produzidas, mas raramente são esclarecidos

os procedimentos de produção das amostras;

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134

g) as ligas Cu-Zn-Al com EMF têm um grande potencial de aplicação em sistemas de

controle residenciais, ou seja, na engenharia civil e arquitetura, nas quais as

exigências funcionais são menores;

7.1. Propostas para futuros trabalhos

1) Estudo da eficiência e otimização do tratamento de solubilização em ligas Cu-Zn-

Al.

2) Caracterização mecânica das interfaces de composições em ligas fabricadas por

difusão e fusão seletivas em ligas Cu-Zn-Al.

3) Aplicações de componentes com múltiplos efeitos memória de forma fabricados

com ligas Cu-Zn-Al difundidas e fundidas seletivamente.

4) Aplicação da fabricação por difusão e fusão seletiva em ligas metálicas e outros

materiais não metálicos.

5) A produção de ligas metálicas por difusão e fusão seletiva no sentido transversal.

6) Otimização dos procedimentos de caracterização elétrica das ligas com EMF.

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143

ANEXO A

PROJETO DE FABRICAÇÃO DE FORNOS A GÁS PARA

FUSÃO DE LIGAS METÁLICAS ATÉ 1500OC COM

ATMOSFERA CONTROLADA

CARLOS ANTONIO VIEIRA

ORIENTADOR: PROF. DR. HERMAN JACOBUS

CORNELIS VOORWALD

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144

Sumário

Capítulo I – Introdução.

1.1 - Considerações iniciais..................................................................................... 03

1.2 - Objetivo do trabalho ....................................................................................... 03

1.3 - Justificativa do trabalho.................................................................................. 04

Capítulo II - Revisão Bibliográfica.

2.1 - Os fornos elétricos......................................................................................... 05

2.2 - A combustão - combustíveis.......................................................................... 06

2.3 - O processo de combustão.............................................................................. 08

2.4 - Análise da 1a lei da termodinâmica em sistemas reagentes........................... 10

2.5 - O calor........................................................................................................... 12

2.6 - A transferência de calor................................................................................. 14

Capítulo III - Materiais e Métodos.

3.1 - O forno............................................................................................................ 18

3.2 - O queimador ou tocha ................................................................................... 21

3.3 - O insuflador de ar............................................................................................ 22

3.4 - O combustível e o controle da combustão ..................................................... 22

3.5 - O controle da temperatura.............................................................................. 23

3.6 - A otimização do forno.................................................................................... 23

3.7 - Consumo estimado de combustível ................................................................ 24

Capítulo IV - Fabricação e Custos

4.1 - O forno............................................................................................................ 28

4.2 - O queimador ou tocha .................................................................................... 28

4.3 - O insuflador .................................................................................................... 29

4.4 - Sistema de alimentação, controle e segurança .............................................. 30

Referências ........................................................................................................... 31

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145

Capítulo I – Introdução

1.1 - Considerações iniciais

A metalurgia é uma arte e a ciência da produção de ligas metálicas com forma e

com propriedades convenientes à sua utilização prática. Ela desempenhou, sem dúvidas,

um papel de relevante importância na História; na antigüidade transportou a civilização

da Idade da Pedra à Idade do Bronze e, posteriormente, à Idade do Ferro.

Atualmente a metalurgia constitui-se em um dos ramos de grande importância na

ciência e tecnologia dos materiais e o seu atual estudo baseia-se no conhecimento que

relaciona composição, estrutura e processamentos de materiais com suas propriedades

e usos.

No atual contexto dos estudos dos materiais, um dos fatores de extrema

importância para a pesquisa e desenvolvimento de uma nova liga metálica é, sem

dúvida, a forma como a mesma será fundida e solidificada. Atualmente as ligas

metálicas são fundidas por processos que envolvem fornos elétricos, muitas vezes com

alto custo de aquisição e operacional, inviabilizando muitos trabalhos de pesquisas. Não

bastassem todas essas dificuldades, estamos no início de uma crise de energia e o gás

natural ainda é, com certeza, uma alternativa para as próximas décadas.

Por todas as razões expostas, este trabalho propõe um “Projeto de Fabricação

de um Forno a Gás para fusão de ligas metálicas até 1500oc com atmosfera

controlada”.

1.2 - Objetivos do Trabalho

Motivado pelos grandes desafios de produzir ligas metálicas, que atendam as

exigências e aos interesses tecnológicos, tais como ligas com efeito memória de forma,

ligas para aplicações em ortodontia, em ortopedia, entre tantas outras aplicações, este

trabalho objetiva a fabricação de um forno cuja fonte de calor seja a combustão de um

gás: gás natural de petróleo, gás liqüefeito de petróleo ou gás gerado por bio-digestores

e que ainda tenha como característica fundamental o controle da atmosfera de fusão.

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146

1.3 - Justificativa do Trabalho

Justifica-se este projeto de fabricação de um forno a gás com atmosfera

controlada:

em primeiro momento pela própria inexistência de algum equipamento

similar disponível no mercado;

ter um equipamento acessível, barato e que torne possível pesquisas em novas

ligas;

desvincular a dependência da energia elétrica para fusão de ligas metálicas;

produzir ligas de aplicações tecnológicas baratas e competitivas no mercado

globalizado, e;

despertar nos novos pesquisadores a ousadia de criar e inovar mediante as

adversidades.

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147

Capítulo II - Revisão Bibliográfica

2.1 - Os fornos elétricos

Os fornos elétricos são atualmente um dos principais equipamentos para

produção e processamento das ligas metálicas, sejam utilizados para fusão,

sinterização ou nos tratamentos térmicos. Estes são sempre presentes e

indispensáveis para o desenvolvimento e produção destes materiais.

O critério da classificação dos fornos elétricos baseia-se no método de produção

e transmissão do calor e poderá ser visualizado na Tabela 2.1 (Stasi, 1981).

Tabela 2.1 - Classificação dos fornos elétricos

Tipo de forno Tipo de aquecimento

A resistência Resistivo direto

A resistência Resistivo indireto

A resistência Direto a resistência

A resistência Indireto a resistência

A eletrodo Direto a eletrodo

A eletrodo Indireto a eletrodo

A arco A arco-resistência

A arco A arco direto

A arco A arco indireto

A indução Direto a indução

A indução Indireto a indução

Dielétrico Dielétrico

A raios infravermelhos A raios infravermelhos

A fixes eletrônicos A fixes eletrônicos

A plasma A plasma

A ondas ultra-sonoras A ondas ultra-sonoras

Fonte: Stasi, 1981.

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148

A eletrotermia trata de todas as utilizações da energia elétrica para produção de

calor.

Do ponto de vista econômico, devemos ter em mente que 1 kg de gás natural

(CH4 - metano + C2H6 - etano), tem poder calorífico médio de 51476 kJ/kg. , ou o gás

liqüefeito de petróleo (C3H8 - propano + C4H10 - butano) , com poder calorífico

médio de 47867 kJ/kg. , a um custo de mercado aproximado de R$ 2,30 o quilo contra

o consumo médio de energia elétrica equivalente de 13,798 kW.h a R$ 4,83, (com um

valor médio de R$ 0,35 o kW.h), concluindo-se que o custo do calor gerado por

eletricidade é superior ao do calor gerado pela combustão de gases derivados de

petróleo em 110,0% (valor atualizado em dezembro de2003).

Apesar dos menores custos da geração de calor por combustão de gases, os

motivos da predominante utilização dos fornos elétricos são:

somente os fornos elétricos podem ultrapassar os 2000oC, temperaturas as

vezes necessárias ao processo;

rendimento da central térmica de grandes dimensões é certamente melhor do

que o de fornos pequenos a combustíveis;

sistema de controle da temperatura, da potência e da atmosfera é mais fácil e

preciso.

Levando-se em conta as considerações gerais acima expostas, antes de passar a

claro qualquer projeto técnico de instalação de qualquer forno elétrico, é preciso que o

projeto seja precedido de um estudo de caráter econômico e comercial do produto ou de

sua finalidade (Stasi, 1981).

Neste estudo preliminar dos prós e contras dos fornos elétricos, devido aos seus

custos, sua dependência de fontes geradoras de energia elétrica, não se pode descartar a

possibilidade de um forno a gás com atmosfera controlada, para fusão, sinterização e

tratamentos térmicos até temperaturas de 1500oC e que venha atender as necessidades

de pesquisadores e pequenas indústrias que desejam trabalhar no desenvolvimento e

fabricação de materiais com pequenos fornos.

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2.2 - A Combustão - Combustíveis

Na engenharia, muitos são os problemas que envolvem reações químicas, dentre

os quais a combustão se destaca pela sua utilização na maioria das máquinas ou

aparelhos que trabalham em sistemas de produção de potência e fornos.

O estudo da combustão divide-se em quatro partes, justamente as que são

definidas pelos princípios da:

conservação de massa, o qual permite calcular-se a massa dos produtos de

combustão em função das massas do ar e do combustível, ou mediante uma

análise dos gases de escape e da composição do combustível, determinar as

massas de combustível e ar no processo;

primeira lei da termodinâmica, o qual permite fazer-se uma análise das

quantidades de energia envolvida no processo;

segunda lei da termodinâmica, o qual permite fazer-se uma análise da

eficiência do processo;

cinética química (Guy, 1980).

A combustão é uma reação entre o oxigênio e diversas substâncias, em geral C e

H2 ou substâncias que contenham esses elementos, chamadas combustíveis.

O combustível a ser utilizado neste trabalho será o gás natural ou gás liqüefeito

de petróleo, classificados como hidrocarbonetos gasosos e obtidos nos poços de gás

natural classificados conforme Tabela 2.2 (Van-Wylen, 1976).

Tabela 2.2 - Análise volumétrica de alguns combustíveis gasosos típicos

Tipos de gases naturais Constituinte

A B C D

Metano 93,9 60,1 67,4 54,3

Etano 3,6 14,8 16,8 16,3

Propano 1,2 13,4 15,8 16,2

Butano* 1,3 4,2 7,4

Nitrogênio 7,5 5,8 Nota: (*) Butano e todos os hidrocarconetos mais pesados .

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150

A principal fonte de oxigênio é o próprio ar atmosférico, que se constitui da

seguinte composição:

volumétrica - 21% de oxigênio, 78% nitrogênio e 1% de argônio e outros;

gravimétrica - 1kg de ar tem, 0,231kg de O2 , 0,756 kg de N2 e 0,013kg de

argônio e outros gases.

O nitrogênio e os outros gases que compõem o ar não reagem com o

combustível.

2.3 - O processo de combustão

O processo de combustão envolve a oxidação dos constituintes do combustível

que são capazes de serem oxidados e pode, portanto, ser representado por uma reação

química. Durante o processo de combustão, a massa de cada elemento permanece a

mesma. Assim, escrever as equações químicas e resolver os problemas que envolvem

quantidades de vários constituintes, basicamente implica a conservação da massa de

cada elemento.

Quando um combustível constituído por hidrocarbonetos é queimado, o carbono

e o hidrogênio são oxidados. Considere a combustão completa do metano como

exemplo.

CH4 + 2O2 CO2 + 2H2O

Nesse caso, os produtos de combustão incluem tanto o dióxido de carbono

quanto a água, a qual encontra-se, neste caso, na fase gasosa.

Nesta análise não serão mencionados os produtos intermediários da combustão,

embora em um estudo mais detalhado da combustão estes produtos intermediários não

possam ser negligenciados, pois podem ser elementos poluidores.

Na maioria dos processos de combustão, o oxigênio é fornecido pelo ar e não

como oxigênio puro. A composição do ar, conforme já citada em base molar, é

aproximadamente 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio e 1% de argônio e outros.

Admite-se que o nitrogênio e o argônio não sofrem reações químicas (exceto a

dissociação que poderá ser considerada em um estudo mais detalhado). No final da

combustão, entretanto, eles estão na mesma temperatura que os demais produtos e,

portanto, sofrem uma mudança de estado se os produtos finais não estiverem à mesma

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temperatura que o ar no início da combustão. Deve-se observar que em altas

temperaturas atingidas, como por exemplo em motores de combustão interna, há, na

realidade, alguma reação entre o nitrogênio e o oxigênio, o que causa a poluição do ar

associada com o óxido de nitrogênio presente nos gases de escape, fato este que não

deverá acontecer nos fornos, pois as reações ocorrem a pressão atmosférica.

Na solução dos problemas de combustão que envolvem o ar, o argônio é

comumente desprezado, e o ar é considerado como sendo composto de 21% de

oxigênio e 79% de nitrogênio, em volume. Quando essa hipótese é feita, o nitrogênio é,

algumas vezes, chamado de "nitrogênio atmosférico". O nitrogênio atmosférico possui

um peso molecular de 28,16 g/mol, (levando em consideração o argônio), enquanto que

o nitrogênio puro tem peso molecular de 28,016 g/mol. Nas considerações a seguir,

adota-se o percentual de nitrogênio de 79% como sendo puro.

A hipótese de que o ar é constituído por 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio,

em uma base volumétrica, conduz à conclusão de que para cada mol de oxigênio estão

envolvidos 3,76 moles de nitrogênio (79 21 = 3,76). Portanto, quando o oxigênio para

a combustão do metano, por exemplo, é fornecido junto com o ar, a reação pode ser

escrita:

CH4 + 2O2 + 2(3,76) N2 CO2 + 2H2O + 7,52 N2

A quantidade mínima de ar que fornece o oxigênio suficiente para a combustão

completa do carbono, hidrogênio e quaisquer outros elementos do combustível que

possam oxidar é chamada de "ar teórico". Quando se consegue combustão completa

com o ar teórico, os produtos resultantes não contêm oxigênio. Na prática, sabe-se que a

combustão completa não é conseguida, a menos que a quantidade de ar fornecida seja

pouco maior do que a quantidade teórica necessária. A quantidade de ar realmente

fornecida é expressa em termos de porcentagem do ar teórico. Assim 150% de ar teórico

significa que o ar é realmente fornecido numa quantidade uma vez e meia maior do que

o ar teórico. A combustão completa do metano, com 150% de ar teórico, é descrita:

CH4 + 2(1,5)O2 + 2(3,76)(1,5)N2 CO2 + 2H2O + O2 + 11,28 N2

A quantidade de ar, realmente fornecida, também pode ser expressa em termos

de porcentagem de excesso de ar. O excesso de ar é a quantidade de ar fornecida além

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da teórica. Assim 150% de ar teórico é equivalente a 50% de excesso de ar. Ambos os

termos, ar teórico e excesso de ar, são de uso corrente.

Dois parâmetros importantes utilizados nos processos de combustão são a

relação ar- -combustível (designada AC) e o seu recíproco, a relação combustível-ar

(designada CA). A relação ar-combustível é comumente expressa em relação à massa,

mas, algumas vezes, também é expressa em relação ao mol. A relação ar teórico-

combustível é a relação entre a massa (ou moles) de ar e a massa (ou moles) de

combustível.

Quando a quantidade de ar fornecida é menor do que a quantidade de ar teórica

necessária, a combustão é dita incompleta. Se há somente uma pequena deficiência de

ar, o resultado é que um pouco de carbono une-se com o oxigênio para formar o

monóxido de carbono (CO), ao invés de dióxido de carbono (CO2). Se a quantidade de

ar fornecida for consideravelmente menor do que a quantidade de ar teórico necessária,

poderão existir também alguns hidrocarbonetos nos produtos de ombustão.

2.4 - Análise da primeira lei da termodinâmica em sistemas reagentes

A importância da entalpia de formação é que ela é mais adequada à análise da

primeira lei em sistemas reagentes, pois as entalpias de substâncias diferentes podem ser

somadas ou subtraídas, desde que elas sejam relativas à mesma base.

Em tais problemas escrevemos a primeira lei, para um processo de escoamento

em regime permanente, na forma.

Qv.c. + HR = Wv.c. + HP ..............................................................................(1)

ou

Qv.c. + R nehe = Wv.c + P ns hs ..............................................................(2)

Onde R e P referem-se, respectivamente, aos reagentes e aos produtos. Em cada

problema é necessário encontrar um parâmetro como base para a solução. Comumente

efetuam-se os cálculos em relação a um mol de combustível.

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Os valores das entalpias de formação podem ser encontrados em tabelas como

por exemplo:

[Da Janaf Thermochemical Data, The Dow Chemical Company Thermal

Laboratory, Midland, Michigan, EUA] ou;

[Da F. D, Rossini et al., API Research Project 44].

A entalpia de combustão, hRP, é definida como a diferença entre a entalpia dos

produtos e a entalpia dos reagentes, quando ocorre combustão completa a uma dada

temperatura e pressão. Os valores tabelados de entalpia de combustão são usualmente

dados para uma temperatura de 25oC e pressão de 1 atm. A entalpia de combustão, para

alguns combustíveis utilizados neste trabalho, é dada na Tabela 2.3 (Funakano, 1987).

Tabela 2.3 - Entalpia de combustão de alguns hidrocarbonetos a 25o C, em kJ/kg

H2O(l) nos produtos [Ps] H2O(v) nos produtos [Pi]

Hidrocarboneto Fórmula líquido gasoso líquido gasoso

Metano CH4 - 55462 - 50020

Etano C2H6 - 51882 - 47490

Propano C3H8 - 49990 - 50358 - 45996 - 46360

Butano C4H10 - 49161 - 49530 - 45376 - 45745

Freqüentemente, são utilizados os termos "poder calorífico" ou "calor de

reação". Isso representa a quantidade de calor transferida da câmara de combustão,

durante o processo, à temperatura constante. No caso de pressão constante ou processo

de escoamento em regime permanente, conclui-se, pela primeira lei da termodinâmica,

que ela é igual à entalpia de combustão com sinal contrário. Por esse motivo, essa

quantidade de calor transferido é , algumas vezes, chamada de poder calorífico à

pressão constante, para os processos de combustão.

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No caso de um processo a volume constante, a quantidade de calor transferido é

igual à energia interna de combustão com sinal contrário, isto é , algumas vezes

designado como poder calorífico a volume constante no caso da combustão.

Junto ao poder calorífico, são usados os termos "superior" e "inferior", para

designar quantidade de calor transferida com H2O(l), água líquida, nos produtos e

quantidade de calor transferida com H2O(v), vapor d'água, nos produtos,

respectivamente.

A análise feita neste item do trabalho tem como objetivo dispor de meios que

possibilitam estimar o consumo de combustível necessário ao funcionamento do forno

para uma certa aplicação, uma vez que o importante, no forno, é a eficiência na

transferência de calor da câmara de combustão para a câmara de trabalho, cujo ambiente

deve ter controle atmosférico. Desta forma, a análise da segunda lei da termodinâmica

será importante na determinação da eficiência geral do forno (Funakano, 1987).

2.5 - O Calor

Define-se o calor como sendo a energia que flui entre um sistema e sua

vizinhança, como conseqüência da diferença de temperatura que existe entre eles.

A energia também pode ser transferida de um sistema para sua vizinhança por

meio de trabalho. Neste projeto, o trabalho transferido será desprezado, uma vez que

nas reações ocorridas no forno não se apresentam variações de volume e

consequentemente a transferência de energia por trabalho realizado não existirá.

Tanto o calor quanto o trabalho representam energia em trânsito entre um

sistema e sua vizinhança. O calor e o trabalho, ao contrário da temperatura, da pressão e

do volume, não são propriedades intrínsecas de um sistema. Eles têm significado

somente enquanto descrevem transferência de energia para dentro ou para fora do

sistema, adicionando-a ou subtraindo-a do estoque de energia interna do sistema.

U = Q - [1a Lei da termodinâmica] ......................................................(3)

U = variação da energia interna do sistema, (J)

Q = quantidade de calor transferida, (J)

= trabalho realizado ou recebido, (J)

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2.5.1 - Absorção de calor

O calor pode ser absorvido por um sistema de duas maneiras: com mudança de

sua temperatura, ou com transformação de fase de um dos componentes do sistema. O

calor absorvido nos processos com variações de temperatura é chamado de calor

sensível e pode ser expresso por:

Q = c.m. (Tf - Ti) ..........................(4) ou Q = C (Tf - Ti)............................(5)

Q = quantidade de calor, (J) Q = quantidade de calor, (J)

c = calor específico, (J/kg.K) C = capacidade térmica, (J/K)

Tf = temperatura final, (K) Tf = temperatura final, (K)

Ti = temperatura inicial, (K) Ti = temperatura inicial, (K)

m = massa, (kg.)

O calor absorvido por um sistema com transformação de fase é chamado de

calor latente de transformação. A quantidade de calor por unidade de massa transferida

durante uma mudança de fase é chamada de calor latente de transformação ou calor

latente (símbolo L).

O calor latente de transformação total transferido será expresso por:

Q = L .m ........................................................................................................(6)

Q = quantidade de calor ,(J)

m = massa,(kg.)

L = calor latente, (J/kg.)

Os valores dos calores específicos e dos calores latentes de transformações das

substâncias encontram-se nas tabelas da IUPAC (Tabelas periódicas da União

Internacional para Ciência Pura e Aplicada) (Oberg, 1979).

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2.6 - A transferência de calor

A transferência de calor de um corpo quente para um corpo frio ocorre por três

mecanismos: condução, convecção e radiação.

a) A condução é o mecanismo de troca de calor através das massas de um

sistema. As amplitudes de vibração dos átomos e elétrons, como por exemplo em um

metal na extremidade quente, assumem valores relativamente grandes. Estas amplitudes

vibracionais crescentes são passadas ao longo do material de átomo a átomo. Desta

forma, uma região de temperatura crescente se estende ao longo do material em direção

à região mais fria.

Considere uma barra de área da seção reta A e comprimento L , cujas

extremidades são mantidas a temperaturas, Ti e Te .Seja Q o calor que flui através da

barra, de sua face quente para a sua face fria, num tempo t. A experiência mostra que a

taxa com que o calor flui (=Q/t) é dada por :

H (= Q/t) = kA (Ti- Te).L-1 ...........................................................................(7)

H = fluxo de calor.(W) ou (J/s)

A = área da seção reta. (m2)

K = condutividade térmica (W/mK)

Ti = Temperatura interna (K)

Te = Temperatura externa (K)

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Figura 01 - Condução térmica. Calor flui de um ambiente à temperatura Ti

para um ambiente mais frio à Te, através de uma barra condutora de

espessura L área transversal A e condutividade k (ZEMANSKY, 1978)

Tabela 2.4 - Algumas Condutividades Térmicas

Materiais Condutividade, k (W/m.K)

Prata 428,000

Cobre 401,000

Alumínio 235,000

Grafita 180,000

Castibar- 96 (a) (b) 17,000

Aço Inoxidável 14,000

Castibar N(b) 5,000

Refratário- Castibar-PAC (b) 1,270

Refratário- Castibar-PSI (b) 0,450

Refratário- Castibar PLW61(b) 0,200

Fibra de Vidro 0,048

Lã Mimeral 0,043

Ar (seco) 0,026

Espuma de Poliuretano 0,024

Notas: (a) 96,0 % Al2O3 + 3,0% SiO2 + 1% outros[4][6][7]; (b) Catálogo Técnico, Indústria

Brasileira de Artefatos Refratários.

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b) A convecção é o mecanismo de transferência de calor nos fluidos, por

intermédio do deslocamento das massas. A temperatura do fluido em contato com o

objeto quente aumenta e, na maioria dos casos, o fluido se expande. Tendo menor massa

específica que o fluido mais frio da vizinhança, ele sobe por efeito de um empuxo. O

fluido do meio mais frio desce tomando o lugar do fluido quente que subiu, formando-

se, então, uma circulação convectiva.

A teoria matemática de convecção de calor é bastante complexa, devido ao fato

de que o calor perdido ou ganho por uma superfície, a uma temperatura, em contato

com um fluido, a outra temperatura, depende de vários fatores, como:

forma geométrica da superfície (plana ou curva);

posição da superfície (horizontal ou vertical);

estado do fluido (gás ou líquido);

a massa específica, viscosidade, calor específico e condutividade térmica;

tipo de escoamento (lento laminar ou turbulento);

ocorrência de evaporação, condensação ou formação de películas.

O procedimento adotado nos cálculos práticos consiste inicialmente em definir

um coeficiente de convecção, h por meio da equação (Zemansky, 1978):

H = hA T .....................................................................................................(8)

H = corrente térmica de convecção, (Q/t) (J/s)

h = coeficiente de convecção, (J/s.m2.K) ou (W/ m2.K)

A = área da superfície, (m2)

T= diferença de temperatura entre a superfície e a massa do fluido, (K).

c) A radiação é uma forma de transferência de calor através das ondas

eletromagnéticas que percorrem livremente o vácuo.

O termo radiação refere-se à emissão contínua de energia da superfície de todos

os corpos. É chamada de energia radiante e tem a forma de ondas eletromagnéticas.

Essas ondas propagam-se com a velocidade da luz e são transmitidas através do vácuo

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ou no ar (na realidade, são melhor transmitidas no vácuo, pois no ar são parcialmente

absorvidas).

A energia radiante emitida por uma superfície, por unidade de tempo e de área,

depende da natureza e da temperatura do corpo. A baixas temperaturas, a taxa de

radiação é pequena e a energia radiante consiste principalmente de comprimentos de

onda relativamente longos. À medida que a temperatura aumenta, a taxa de radiação

cresce rapidamente, sendo diretamente proporcional à 4a potência da temperatura

absoluta, (K). Por exemplo, um bloco de cobre à temperatura de 373K irradia cerca de

300W/m2 de sua superfície, enquanto a 773K sua radiação é de 5400W/m2. Já a 1273K

ele irradia 40000W/m2, essa taxa de radiação é cerca de 133 vezes maior que a uma

temperatura de 373K.

A cada temperatura, a energia radiante emitida tem um comprimento de onda

característico, mais uma mistura de ondas de diferentes comprimentos com menor

intensidade (Zemansky, 1978).

Figura 02 - Taxa de emissão de energia radiante a 6000K, com indicação do espectro

visível. Fonte: [www.hyperphysics.phy-astr.gsu/h.base/bbrc.htm#c1]

A potência total por unidade de área irradiada de um corpo negro pode ser obtida

pela integração da Fórmula da radiação de Plank para todos os comprimentos de

ondas compreendidos na emissão e é dada por:

12

/5

2

kThcedhc

AddP .......................................................................................(9)

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Integrando a fórmula de Plank, tem-se:

0

/5

22

)1(22 kThce

dhchcAP .......................................................................... (10)

Fazendo a substituição:

kThcx .........(11) e d

kThcdx 2

....................................................(12)

Tem-se

dxe

xchkT

AP

x

0

34

23 )1(2 ........................................................................ (13)

Usando a integral :

15)1(

4

0

3

dxe

xx

....................................................................................... (14)

Na forma final, encontra-se a lei de Stefan-Boltzmann: (15)

..................... (15)

Nesta lei, o valor P/A é chamado de emitância radiante e é igual à energia radiante que

a superfície emite por unidade de tempo e de área, medida em watts por metro

quadrado. Assim, com um estudo de todos os mecanismos de transferência de calor,

pode-se fazer uma análise mais completa e detalhada sobre o projeto do forno em estudo

neste trabalho e estimar o consumo de combustível.

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Capítulo III - Materiais e Métodos

3.1 - O Forno

O forno será desenvolvido a partir da concepção representada no desenho

esquemático, Figura 03, (a qual já é o resultado de experiências com modelos similares,

porém sem a câmara de trabalho com proteção), na qual apresenta uma câmara de

combustão, geradora de calor, independente da câmara de trabalho. Pode-se, desta

forma, proteger a atmosfera de trabalho, como por exemplo, usando gases inertes.

Figura 03 - Desenho Esquemático do Forno: 1- Estrutura Metálica; 2 - Lã

Mineral; 3– Refratário Castibar PSI ou grafita ; 4 - Tampa de Refratário

Castibar PSI ; 5 - Cadinho; 6 - Câmara de Trabalho Castibar 96; 7 - Câmara

de Combustão; 8 - Saída dos gases; 9 - Manipulador da tampa

3.1.1- Estrutura Metálica

A estrutura será construída na forma tubular de aço ABNT 1020 com diâmetro

de 700 mm, uma altura de 700mm e espessura de 1,5 mm e tendo como fundo um

disco de diâmetro igual a 705mm, conforme desenho , Figura 04.

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Figura 04 – Estrutura Metálica

Fabricada a estrutura, será aplicada uma camada interna de aproximadamente 20

mm de espessura de lã mineral, visando a um melhor isolamento térmico, uma vez que

a condutividade térmica da lã mineral é de, k = 0,043W/m.K.

3.1.2 - A moldagem do concreto refratário

Faz-se necessário confeccionar um molde em madeira da câmara de combustão,

Figura 05, para que sejam aplicados os respectivos refratários de cada parte do forno,

em uma única operação.

Figura 05 – Desenho do molde da câmara de combustão

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A câmara de trabalho será moldada por um modelo desmontável, conforme

Figura 06.

Figura 06 – Desenho do molde da câmara de trabalho

O alojamento da tampa e a própria tampa terão seus respectivos moldes, para

que se obtenha a máxima conformidade entre tampa e alojamento.

Todos os moldes serão, a princípio, fabricados em madeira, por facilidade de

modelagem e baixo custo.

O molde da câmara de combustão ficará mantido na massa de refratário

moldada, o qual deve ser incinerado para que se tenha a cavidade da câmara. Todos os

componentes moldados não devem ter interfaces, mas sim constituir-se em um

monólito. Este é o principal ponto a atender para se ter controle da câmara de trabalho.

3.1.3 - Os Refratários

O refratário usado no item 3, Figura 03, é o CastibarPSI , Refratário destinado a

aplicações na Indústria Química, constitui-se de: 51% Al2O3, 39% SiO2, 8% CaO, 2,5%

de Fe2O3 e outros. Sua massa específica é de 1,56.103kg/m3, a condutividade térmica de

0,45 W/m.K, e a temperatura de trabalho de é 1300oC, exigindo, desta forma, uma

camada protetora do Castibar 96 na região da câmara de combustão.

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No item 06, Figura 03, será usado o concreto Castibar 96, o qual apresenta as

seguintes características; 96% Al2O3, 3,5% CaO, 0,3% SiO2 e outros ; massa específica

de 3,11.103kg/m3, a condutividade térmica de 30W/m.K, e temperatura de trabalho de

1750oC, Dados estes obtidos no catálogo de produtos da IBAR, Indústria Brasileira de

Artefatos Refratários. Sua função nesta aplicação é a de permitir a transferência de calor

da câmara onde ocorre a combustão para a câmara de trabalho.

O preparo e a dosagem para modelagem tem a orientação técnica da IBAR,

Indústria Brasileira de Artefatos Refratários, fornecedora da matéria prima.

Pode, ainda, ser usado a grafita com uma condutividade térmica de 180W/m.K e

uma temperatura de trabalho da ordem de 2000oC, para substituir o concreto Castibar 96

na fabricação da câmara de trabalho.

3.2 - O queimador - (Tocha de Combustão)

O sistema gerador de calor terá um queimador de GLP, conforme ilustrado

esquematicamente na Figura 07. Obtido de desenhos antigos de caldeiras desativadas,

cujas referências se perderam no tempo. Este tipo de queimador necessita de um

insuflador como elemento fornecedor de ar para combustão.

Figura 07 – Queimador: (1) corpo; (2) direcionador de combustão; (3) entrada de ar; (4)

duto condutor da mistura ar/gás; (5) vedação; (6) suporte do misturador ar/gás; (7) placa

defletora: (8) cone venturi e (9) entrada do gás

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3.3 - O Insuflador

O insuflador de ar, representado esquematicamente na Figura 08, pode ser

desenvolvido a partir do rotor do sistema de refrigeração do Volkswagem 1300. O

acionamento é feito por um motor elétrico de 1CV a 3520 rpm, 7,0 A/220V, com

relação de transmissão de 1:1.

Figura 08 -Insuflador de ar: l - rotor; 2 - carcaça; 3 - correia; 4 - motor; 5 - suporte de

madeira, e 6 - válvula reguladora do fluxo de ar

3.4 - O combustível e o controle de combustão

O combustível usado no forno é fornecido por botijões de 13 kg com GLP ou de

45 kg com gás natural. Se usar botijões de 13kg, estes devem ser ligados em série de

cinco, permitindo, desta forma uma quantidade de combustível suficiente para utilização

do forno.

O controle de vazão e pressão do combustível será feito por um manômetro -

OXICAMP GLP - para pressão máxima de 4,9x105Pa. O controle do fluxo de ar será

controlado pela válvula, item 06, Figura 08, o que permite um controle eficaz e

suficiente para operação do forno.

Este controle pode ser otimizado por uma completa análise da combustão e um

variador de velocidade do insuflador.

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3.5- O controle da temperatura

O controle da temperatura faz-se com uso de multímetro, com medidas em mV

(mili-Volts), através de termopares ECIL - CS11/K-S-08-620-00-0-100) do tipo

Cromel-Alumel bitola 8AWG possibilitando uma redução de custos significativa na

operação de todo o equipamento.

O termopar Cromel-Alumel apresenta a seguinte relação/temperatura ( 0,04

mV/K), (Guy, 1980; e Cottrell, 1975). Este pode ser calibradado em zinco, alumínio e

cobre fundentes.

3.6 - A Otimização do FornoO forno deve ser utilizado, como por exemplo, para fusão de ligas com memória

de forma do tipo CuZnAl, na qual se deve fazer uma comparação entre o grau de

contaminação das ligas produzidas pelo forno desenvolvido com relação a ligas de

mesmas composições químicas fabricadas em fornos elétricos a indução e com

atmosfera controlada.

Estudos anteriores mostram que o processo de fusão e o de solidificação têm

pouca influência sobre o efeito memória de forma de uma liga CuZnAl, uma vez que

tais ligas devem ser laminadas a quente, e qualquer estrutura resultante da solidificação

torna-se irrelevante para o efeito memória de forma, e que as variações dos teores de

contaminação encontradas nas ligas fabricadas por forno a gás, sem controle

atmosférico, foram muito próximos dos valores encontrados nas ligas fundidas em

fornos com atmosfera controlada. Esses resultados levam a crer que a fabricação destas

ligas pelo processo de fusão por forno a gás pode ser altamente eficiente e com custos

muito reduzidos (VIEIRA, 1995).

Deve-se utilizar o novo forno para produção de ligas memória de forma do tipo

TiNi, por fusão ou por sinterização. As ligas do tipo TiNi têm ponto de fusão máximo

de 1310 ºC. O grande desafio em produzir tais ligas é evitar a contaminação do titânio

durante o processo (FUNAKANO, 1987; e HODGSON e BIERMAN, s/d).

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Dos elementos químicos naturais apenas 25 deles têm ponto de fusão acima de

1500o C, lembrando ainda, as ligas formadas por estes elementos químicos têm, na sua

maioria, seus pontos de fusão menores que os dos elementos que as constituem. Logo,

têm-se infindáveis possibilidades de otimização para o forno desenvolvido.

3.7 - Consumo estimado de combustível O cálculo estimado do consumo de combustível tem como objetivo obter um

custo médio operacional do forno.

Nesta primeira estimativa será tomado todo valor máximo de constantes que

levem a um valor superestimado de consumo, para que posteriores análises possam ser

feitas e que se atinja um produto final otimizado operacionalmente.

3.7.1 - Cálculo da quantidade de calor necessária para fusão de até 8kg das

a) Ligas TiNi, dados:

calor específico c = 0,323 kJ/kg [12]

calor latente de fusão L = 293,6 kJ/kg

variação de temperatura T = 1500o C

massa a ser fundida m = 8 kg

QaTiNi = m. c. T QaTiNi = 3876 kJ

Ql TiNi = Lm QlTiN i = 2349 kJ

QT TiNi = QaTiN + Ql TiNi QTtiNi = 6225 kJ

b) Ligas CuZnAl , dados:

calor específico c = 0,400 kJ/kg [11]

calor latente de fusão L = 196,8 kJ/kg

variação de temperatura T = 1500o C

massa a ser fundida m = 8 kg

QaCuZnAl = m. c. T QaCuZnAl = 4800 kJ

QlCuZnAl = Lm QlCuZnAl = 1575 kj

QTCuZnAl = QaCuZnAl + QlCuZnAl QTcuZnAl = 6375 kJ

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3.7.2 - Cálculo da quantidade de calor necessária para o aquecimento da câmara

de trabalho:

Câmara fabricada de Castibar 96

calor específico c = 0,820 kJ/kg (Oberg, 1979)

variação de temperatura T = 1500o C

massa m = 125 kg

Qa câmara = m. c. T Qa câmara = 153750 kJ

3.7.3 - Cálculo do fluxo de calor transferido para o meio por condução:

Paredes isolantes de Castibar PSI

condutividade térmica k = 0,450 W/m.K

variação de temperatura T = 1500o C = 1500K

raio externo re = 0,350 m

raio interno ri = 0,225 m

altura L = 0,700 m

área circunferencial Ac = 1,265 m2

área transversal At = 0,770 m2

Transferência de calor através da área circunferencial (Kreit, 1977; e Holman,

1983):

ie rrkLTH

/ln2

H = 6720 W

Transferência de calor através das áreas transversais (Zemansky, 1978):

LTkAH t H = 4158 W [5]

Ht = 10878 W

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3.7.4 - Transferência de calor por convecção:

coeficiente de convecção h = 300 W/m2K (ar superaquecido convecção

forçada) (Kreit, 1977)

área de saída dos gases A = 0,002m2

variação de temperatura T = 1500o C (valor de máxima variação de

temperatura)

H = hA T H = 900 W

3.7.5 - Cálculo da quantidade total de calor necessária para o aquecimento pleno

do forno:

Os resultados do trabalho anterior (Vieria, 1995), demonstram que um forno

com dimensões similares entra em regime de equilíbrio termodinâmico a partir de duas

horas de funcionamento (tempo = 7200s), o que permite calcular a quantidade de calor

necessária para tal.

Somando as quantidades de calores necessárias em cada um dos itens:

3.7.1 - QTcuZnAl ........................ = 6.375 kJ;

3.7.2 - Qa câmara ........................ = 153.750 kJ;

3.7.3 - Q = Ht.t ......................... = 78.322 kJ;

3.7.4 - Q = H.t ........................ = 6.480 kJ;

3.7.5 - QT .................................. = 244.927 kJ para duas horas de

funcionamento.

3.7.6 - Cálculo da quantidade de combustível e ar consumida

A quantidade de combustível consumida em duas horas será;

M = QT/ hRP

hRP = (entalpia de combustão), Tabela 2.3 – butano, por exemplo, tem

hRP = 45745kJ/kg.

QT = Quantidade total de calor necessária (kJ)

M = 244.927/45745 = 5,36 kg de gás butano.

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Um vez atingido o regime pleno de funcionamento, pode-se estimar um

consumo médio de 3kg/h. de gás e com uma corrida de 8kg de liga fundida por hora.

Este valor foi superestimado, uma vez que o valor da variação de temperatura de

operação do forno foi a adotada de1500o C.

Pode-se estimar que o custo com energia na fusão será de R$ 0,87/kg de liga

fundida. (valor de estimativo de dezembro de 2003).

A quantidade de Ar pode ser estimada pelo balanço de massa dos reagentes e

produtos:

2C4H10 + 13 O2 +13(3,76) N2 8CO2 +10H2O + 48,88N2

116g C4H10 + 416g O2 + 1368,64g N2 352g CO2 + 180g H2O + 1368,64g N2

Da reação apresentada, tem-se que para cada 116 g de butano é necessário

1784,64 g de ar, esta é a relação teórica. Mas a combustão é eficiente se for fornecida

uma quantidade da ar da ordem de 150% do valor teórico, o butano foi utilizado nestes

cálculos estimativos por ser o tipo mais comum de gás dos botijões de 13kg.

Conclui-se que a relação AC (ar/combustível) seja:

AC = 1784,64 . 1,5 / 116 = 23,08

Logo o consumo de ar será de 69,24 kg/h.

Massa específica do ar ar = 1,166 kg/m3 à 20o C (Kreit, 1977)

Volume de ar necessário = 59,383m3/h.

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CAPÍTULO IV - FABRICAÇÃO E CUSTOS

4.1 - O forno

Dos desenhos representados nas Figuras 03, 04, 05 e 06 do capítulo 03, fez-se o

levantamento de materiais necessários a fabricação do forno, conforme a descritos na

Tabela 4.1

Tabela 4.1 - Materiais Necessários para Fabricação do Forno

Item Quant. Descrição Material Dimensões (mm) Massa (kg)

1 1 Estrutura Aço SAE 1020 2200x700x1,5 18,00

1 Est.Fundo Aço SAE 1020 700 x1,5 4,50

2 1 Isolante - 2 Lã Mineral 3600x700x20 10,00

3 e 4 1 Isolante - 3 Ref.Castibar PSI 17 sacas de 25kg 425,00

5 5 Cadinhos Grafite 150 x 180

6 1 Isolante - 4 Ref. Castibar 96 5 sacas de 25 kg 125,00

7 2 Modelos Madeira

8 1 Saída de Gás Tubo - aço SAE 30316 60,33 x 57,03 x 455 1,25

9 1 Manipulador Tubo - aço SAE 1020 25,4 x 21.18 x 3000 3,20

Tabela 4.2 - Custos de fabricação do forno Descrição Valor (R$)

Materiais 2077,00

Usinagem 175,00

M.Obra 597,00

Total 2849,00*

Nota: * valores corrigidos em dezembro de 2003.

4.2 - O queimador ou tocha.

A Figura 07 do capítulo 03, mostra o desenho para fabricação do queimador e

na Tabela 4.2, são descritos os materiais necessários para sua fabricação:

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Tabela 4.3 - Materiais necessários para fabricação do queimador

Item Quant. Descrição Material Dimensões (mm) Massa (kg)

1 1 Corpo Tubo - aço SAE 30316 73.03 x 68,81 x 320 1,200

2 1 Bocal Tubo - aço SAE 30316 73.03 x 68,81 x 55 0,300

3 1 Conector Tubo - aço SAE 30316 60,33 x 57,03 x 55 0,150

4 8 Duto Tubo - aço SAE 30316 13,72 x 10,42 x 125 0,490

5 2 Tampão Aço SAE 30316 69,85 x 15 0,900

6 1 Suporte Aço SAE 30316 9,52 x 145 0,200

7 1 Defletor Aço SAE 30316 69,85 x 15 0,450

8 1 Cone Aço SAE 30316 63,50 x 40 1,000

9 1 Niple Latão 12,7

Tabela 4.4 - Custos de fabricação do queimador Descrição Valor (R$)

Materiais 154,70

Usinagem 112,50

M.Obra 40,20

Total 307,40*

Nota: * valores corrigidos em dezembro de 2003.

4.3 - Insuflador

O insuflador será construído conforme Figura 08, e constitui-se basicamente de

componentes já manufaturados, portanto, a Tabela 4.3 descreve os materiais e

componentes necessários à fabricação do insuflador.

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Tabela 4.5 - Componentes do insuflador de ar Item Quant. Descrição

1 1 Rotor eixo montado de 12,7

2 1 Carcaça

3 1 Correia

4 1 Motor elétrico 1CV - 1750rpm

5 1 Base

6 1 Válvula reguladora

Tabela 4.6 - Custos de fabricação do insuflador Descrição Valor (R$)

Materiais 506,00

Usinagem 22,50

M.Obra 95,70

Total 624,20*

Nota: * valores corrigidos em dezembro de 2003.

4.4 - Sistema de Alimentação, Controle e Segurança

Na Tabela 4.7 estão descritos os materiais e componentes do sistema de

alimentação do gás e do ar, do sistema de controle e periféricos e seus respectivos

custos.

Tabela 4.7 - Componentes dos Sistemas de Alimentação - Controle e Periféricos Descrição Quant. Custo (R$)

Botijões de Gás 13kg. 5 300,00

Manômetro OXICAMP- GLP (4,9.105 Pa) 1 262,50

Mangueira de Alta Pressão para GLP 10m 150,00

Termopar Cromel-Alumel e Pontas 2 150,00

Válvulas de Segurança – Anti-Retorno 1 125,00

Multímetro 2 75,00

Componentes de instalação 5conj. 95,00

Luvas 3 60,00

Máscara de proteção 3 240,00

M.de Obra 168,00

Total 1625,50*

Nota: * valores corrigidos em dezembro de 2003.

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Conclui-se que o custo estimado de fabricação do forno, valores corrigidos em

dezembro de 2003, deva ser de R$ 5406,10 e que fornos similares projetados e

construídos com base neste projeto vem desenvolvendo suas funções na fusão e

solidificação nas produção de ligas efeito memória de forma, com excelente

desenpenho, e eficiência.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1975. p.765.

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Science Publisher, 1987.

GUY, A.G. Ciência dos Materiais. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos S.A,

1980. p.224

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; MERRILL, J. Fundamentos da Física, vol.2. Rio de

Janeiro: Livros Técnicos e Científicos S.A, 1994.

HODGSON, D. E.; Wu, M. H. e BIERMAN, R. H. Shape Memory Applications. Inc.

Menry Techologies Harrison Alloys Inc., s/d. pg.5. Disponível em: http://www.sma-

inc.com/SMAPaper.html

Holman, J. P. Transferência de Calor. São Paulo : Editora Mc-Graw-Hill, 1983.

Kreit, F. Princípios da Transmissão de Calor. São Paulo : Editora Edgard Blücher

Ltda, 1977.

OBERG, J. Manual do Engenheiro, vol.6. São Paulo, Editora Hemus, 1979.

SHACKELFORD, J. F. Introduction to Materials Science for Engineers. New

Jersey: Prentice-Hall, Inc., 1996.

SOUZA, Z. Elementos de Máquinas Térmicas. Rio de Janeiro: Editora Campus,

1980.

STASI, D. L. Fornos Elétricos. São Paulo: Hemus Editora Ltda, 1981.

TiNi-ALLOYS COMPANY. Introduction to Shape Memory Alloys. Disponível em:

http://www.sma-mems.com/intro.htm.

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VAN-WYLEN, G. J.; SONNTAG, R. E. Fundamentos da Termodinâmica Clássica.

São Paulo: Edgard Blücher, 1976.

VIEIRA, C. A. A influência dos processos de fusão e de solidificação sobre o efeito

memória de forma de uma liga do tipo CuZnAl. 1995. Dissertação (Mestrado em

Engenharia Mecânica) - Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, Guaratinguetá,

1995.

ZEMANSKY, S. Física, vol. 2, Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos S.A,

1978.

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ANEXO B

Equipamentos e instalações utilizadas na fabricação das ligas com efeito memória de

forma do tipo Cu-Zn-Al, com segregação controlada no sentido longitudinal do lingote

por fusão seletiva.

Figura B.1 Forno 1 com sua tampa basculante aberta

Figura B.2 Forno1 em operação com forte volatização do zinco.

Figura B.3 Forno 2

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Figura B.4 Forno 2 em operação e seus periféricos

Figura B.5 Laminador duo simples Figura B.6 Conjunto laminador /mufla

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Figura B7 - Forno 2 em operação e com forte volatização de zinco

Figura B8 - Forno 2 em operação e sem a volatização de zinco

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Figura B.9 - Ferramentas e acessórios