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A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COM ADOLESCENTES DA ETEC DE LINS/SP
THE IMPORTANCE OF THE PROFESSIONAL GUIDANCE WITH TEENAGERS FROM THE ETEC OF LINS/SP
Camila Okuyama Diniz de Oliveira – [email protected]
Daniela Cristina Okuyama Diniz de Oliveira – [email protected] Graduandas do curso de Psicologia – UniSALESIANO Lins
Profª Ma. Liara Rodrigues de Oliveira – UniSALESIANO Lins [email protected]
Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni – UniSALESIANO Lins [email protected]
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo refletir sobre o projeto de vida,
formação pessoal e profissional, orientação sobre currículo, mercado de trabalho e entrevistas de emprego, dos alunos do ensino médio de uma Escola Técnica Estadual (ETEC), antes e após participarem de uma intervenção em Orientação Profissional. Iniciou-se a pesquisa com 10 adolescentes, que possuíam entre 14 e 15 anos. Foi aplicado um questionário, com o objetivo de obter informações sobre o conhecimento dos alunos acerca do mercado de trabalho, autoconhecimento e informação profissional. Após, foi realizado um processo de Orientação Profissional com duração de oito encontros semanais, sendo 1h30 cada encontro. A Orientação Profissional se deu por meio de questionários, dinâmica de grupo, roda de conversas, oficinas, dramatização e reflexões que permitiram a obtenção de dados dessa população. Após o processo de Orientação Profissional foi realizada a aplicação de um questionário pós-intervenção em que se analisou o conteúdo com base nas respostas apresentadas pelos orientandos, com a finalidade de verificar as contribuições que Orientação lhes proporcionou. Constatou que a participação no processo desencadeou ao orientando a construção de novos sentidos relacionados ao trabalho e a escolha profissional, ampliando seu conhecimento e autoconhecimento. Palavras-chave: Orientação Profissional. Adolescentes. ETEC. Autoconhecimento.
ABSTRACT
The current survey had as a goal to think about the life Project, personal and professional education, guidance about resumés, job Market and job interviews for the High School students from the State Technician School (ETEC), before and after taking part of the Professional Guidance. It started with 10 teenagers ranging from 14 to 15 years old. Was application of a questionnaire, with the aim of getting information about the students´knowledge related to the job Market, their self-awareness and professional information. After, a process of Professional Guidance has been accomplished by having eight meetings per week, each one lasting one hour and a half. This Professional Guidance has been performed through questionnaires, role-plays, group conversations, brainstorms and considerations that caused to obtain more information about those people. After the intervention of the
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Professional Guidance there was the application of a questionnaire in which it was possible to analyze its content based on the answers showed by the people who had been guided. It found that participation in the process triggered guiding the construction of new meanings related to work and professional choice, expanding their knowledge and self-awareness.
Keywords: Professional Guidance. Teenagers. State Technician School (ETEC). Self-awareness.
INTRODUÇÃO
A seguinte pesquisa teve por objetivo conhecer a percepção dos alunos e
propor uma reflexão sobre o projeto de vida, formação pessoal e profissional,
orientação sobre currículo, mercado de trabalho e entrevistas de emprego, dos
alunos do ensino médio de uma Escola Técnica Estadual (ETEC), em relação ao
conhecimento que possuem sobre seu projeto de futuro, escolha profissional,
mercado de trabalho e autoconhecimento antes e após participarem da Orientação
Profissional. A hipótese inicial consiste em conhecer as percepções dos orientandos
e constatar a importância da participação de adolescentes num processo de
Orientação Profissional como sendo capaz de estimular no orientando a construção
de um projeto de futuro mais estruturado, uma escolha mais assertiva, e a ampliação
de conhecimento de si e das profissões.
A escolha pelo público surgiu com a experiência de estágio Específico de
Formação Profissional em Psicologia na área da Orientação Profissional, com
alunos da ETEC, onde percebeu-se a necessidade e a carência de atividades na
área com os alunos; a demanda inclusive surgiu dos próprios alunos e da
orientadora educacional da instituição.
Dessa forma a proposta de pesquisa foi elaborada com o intuito de
compreender a opinião dos adolescentes a partir da participação no projeto de
orientação profissional e as mudanças que ocorreriam após este processo.
A pesquisa teve como referencial teórico a abordagem sócio histórica da
psicologia, que Bock; Gonçalves; Furtado (2009, p.17) acreditam que o fenômeno
psicológico se desenvolve ao longo do tempo, assim ele não pertence a natureza
humana; não é preexistente ao homem; e sim reflete a condição social, econômica e
cultural em que vivem os homens; portanto, para essa abordagem falar do fenômeno
psicológico é obrigatoriamente falar da sociedade.
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O método escolhido foi o qualitativo, realizado através da aplicação de dois
questionários com perguntas abertas e fechadas, um anterior ao processo de
orientação profissional e outro posterior a este processo. O objetivo foi de comparar
os resultados e a efetividade da intervenção realizada.
As respostas dos participantes foram analisadas pelo método qualitativo que
de acordo com Minayo (2008) é o que se aplica ao estudo da história, das relações,
das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das
interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus
artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.
Após os dados colhidos por meio do questionário l, foram realizados oito
encontros semanais com duração de 01h30minh cada, em uma instituição de
ensino, com os alunos do ensino médio da Escola Técnica Estadual (ETEC), nos
encontros abordou-se assuntos relacionados ao autoconhecimento, planejamento de
futuro, mercado de trabalho, confecção de currículo e dramatização de entrevistas
de emprego.
Após a participação no processo de Orientação Profissional, foi aplicado o
questionário ll, com a proposta de identificar o conhecimento adquirido
posteriormente à essa experiência e as mudanças provocadas na construção do seu
projeto de futuro, escolha profissional e autoconhecimento; desta forma ocorreu a
subsequente análise das respostas.
1 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
Definida como o processo pelo qual o indivíduo é ajudado a escolher e a se
preparar para entrar e progredir numa ocupação, a orientação profissional propicia o
desenvolvimento do autoconhecimento, aplicando essa compreensão às ocupações
(SUPER & BOHN JUNIOR, 1980).
Segundo Lucchiari (1993, p.12) a orientação profissional tem por objetivo
facilitar o momento da escolha, auxiliando a compreender a situação vivida, e os
aspectos pessoais, familiares e sociais. É a partir dessa compreensão que ele terá
mais condição de definir a melhor escolha - escolha possível - no seu projeto de
vida.
A orientação profissional tem como finalidade a ampliação da consciência do indivíduo sobre a realidade, instrumentando-o para
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agir, no sentido de transformar e resolver as dificuldades que essa realidade lhe apresenta, possibilitando uma reflexão acerca dos aspectos psicológicos, econômicos e sociais que influenciam a escolha; discutir a relação homem-trabalho; informar sobre as profissões e possibilitar autoconhecimento relacionado à escolha. Justifica-se e ressalta-se, assim, a importância do trabalho de Orientação Profissional em escolas públicas, tendo em vista as desigualdades sócio-econômicas que o Brasil apresenta, trazendo para aquele contexto uma reflexão e possível mudança de tais condições. (MULLER, 2009, p. 39).
Desse modo, compreende-se que a orientação profissional tem a finalidade
de auxiliar os jovens com o intuito de trabalhar não apenas questões relevantes ao
trabalho, mas exercitar reflexões acerca do autoconhecimento, segurança na
escolha.
Outro assunto a se considerar é a questão socioeconômica que a Orientação
Profissional (OP) traz como enfoque em suas reflexões, pois pressupõe-se que os
determinantes externos também condicionam a escolha profissional, para além dos
aspectos pessoais.
Lucchiari, ao referir o trabalho em grupo considera que:
É importante para o indivíduo, sentir-se igual aos outros, há possibilidade de compartilhar sentimentos de dúvidas em relação à escolha e ao futuro, cada participante do grupo é um facilitador, pois auxiliam a entender o outro e o conhecimento que cada membro busca de si mesmo (1993 p.13-14).
Essa afirmação traz à tona como a orientação profissional tem a função
reflexiva do indivíduo, na medida em que, a partir da interação e identificação com
seus pares no grupo de orientação profissional, possa se perceber e se colocar
diante do outro e de si mesmo.
O orientador profissional deve auxiliar o adolescente na identificação dos seus
interesses e definições de seu projeto de vida, as influências que irá vivenciar
durante esse processo e entender como funciona o mercado de trabalho atual e
estabelecer metas realistas para sua carreira, traçando estratégias para alcançá-las.
Deve-se salientar ainda a importância de considerar, neste processo, a etapa da
vida em que o adolescente se encontra, as vivências ocorridas durante o seu
desenvolvimento e as influências da família e dos amigos. (LEVENFUS; SOARES,
2010).
A vida ocupacional de um homem é considerada um dado fundamental de
sua existência (SUPER & BOHN JUNIOR, 1980, p. 216). Nos dias atuais, pode-se
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vir a escolher uma carreira profissional; se existe essa possibilidade de escolha,
existe também a possibilidade de alguém ajudar o indivíduo a escolher, isto é, de
orientar. (PIMENTA, 1981).
Toda escolha provoca uma renúncia; ao optar por uma opção acaba-se por
deixar de lado todas as outras, esse é um movimento de causa sofrimento. O
profissional de OP vai ajudar o adolescente a escolher, devendo-se estar consciente
de que é mais difícil fazer um diagnóstico referente à problemática vocacional do
que um de personalidade, pois o primeiro tende a investigar a dinâmica interna do
adolescente, verificando não só os conflitos e dificuldades referentes à escolha
profissional, mas também de outras áreas. (BOHOSLAVSKY, 1993).
A pertinência do processo de OP aparece de fato quando se percebe uma
identificação profissional, havendo assim maiores possibilidades de o indivíduo se
desenvolver em todas as suas potencialidades.
O profissional tendo como objetivo alcançar maior adesão e eficácia no
processo deve considerar diversos aspectos como: o papel do profissional de OP
frente a realidade sócio econômica e cultural do grupo em que intervirá; e que o
processo de OP não tem apenas a finalidade de informar sobre as carreiras
profissionais, mas mobilizar reflexões e aspectos pertinentes ao autoconhecimento,
a questão da segurança na escolha, levando em conta questões como influências
que os jovens encontram no contexto familiar e escolar, e determinantes sociais e
econômicos, como a realidade do mercado de trabalho atual.
2 ETEC
O Centro Paula Souza é uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo,
vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e
Inovação (SDECTI). Presente em aproximadamente 300 municípios, a instituição
administra 223 Escolas Técnicas (Etecs) e 71 Faculdades de Tecnologia (Fatecs)
estaduais, com 292,8 mil alunos em cursos técnicos de nível médio e superiores
tecnológicos.
As Etecs atendem mais de 211 mil estudantes nos Ensinos Técnico, Médio e
Técnico Integrado ao Médio, com 148 cursos técnicos para os setores industrial,
agropecuário e de serviços, incluindo habilitações nas modalidades presencial,
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semipresencial, online, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e especialização
técnica.
O Exame do Processo Seletivo Vestibulinho é constituído de uma prova com
50 (cinquenta) questões-teste, cada uma com 5 (cinco) alternativas (A, B, C, D, E),
relacionadas às diferentes áreas do saber (científico, artístico e literário), à
comunicação e à expressão, em diversos tipos de linguagem, abrangendo
conhecimentos comuns de 5ª a 8ª série ou do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.
As questões são elaboradas por uma equipe interdisciplinar e dizem respeito
a um determinado tema - ligado a situações do cotidiano, envolvendo problemáticas
sociais, culturais, científicas e tecnológicas - apresentado em um texto-matriz e em
vários textos complementares.
O Centro Paula Souza mantém 223 Escolas Técnicas Estaduais (Etecs),
distribuídas por 165 municípios paulistas. As Etecs atendem cerca de duas centenas
de classes descentralizadas – unidades que oferecem um ou mais cursos técnicos
sob a administração de uma Escola Técnica. No primeiro semestre de 2018, mais
de 211 mil alunos estão matriculados nos Ensinos Técnico, Técnico integrado ao
Médio e Médio, distribuídos nos 143 cursos técnicos para os setores Industrial,
Agropecuário e de Serviços.
3 METODOLOGIA
O presente estudo foi desenvolvido por meio de uma pesquisa de campo, que
é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos
acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta.
Consiste na observação de fatos e fenômeno tal como ocorrem
espontaneamente na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis
que se presumem relevantes, para analisá-los.
Os instrumentos utilizados na pesquisa foram: o questionário pré orientação,
o processo de Orientação Profissional e o questionário pós orientação, que
aconteceu durante oito encontros semanais com duração de 01h30 cada encontro.
O questionário pode ser definido como “um conjunto de perguntas sobre um
determinado tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua
opinião, seus interesses, aspectos de personalidade e informação biográfica”
(YAREMKO, HARARI, HARRISON & LYNN, 1986, p.186 apud GUNTHER, 2003).
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Existem nos questionários perguntas do tipo abertas e fechadas. Nesta
pesquisa utilizou-se dos dois tipos para conhecer o entendimento dos jovens sobre o
assunto, as influências que enfrentam no momento da escolha profissional e os
fatores que são importantes na decisão da escolha profissional.
Os questionários foram aplicados com a finalidade de identificar o nível de
aproveitamento dos jovens após a orientação profissional e os reflexos da
intervenção.
Segundo Bock (2002), a psicologia sócio histórica parte da ideia de que o ser
humano é multideterminado, mas ao mesmo tempo pode ser agente ativo em seu
contexto social, tendo possibilidades para mudá-lo.
A orientação profissional, quando vê a adolescência como fase natural caracterizada por dúvidas e crise de identidade, terá, com certeza, um tipo de proposta de trabalho; a própria escolha de profissão fica naturalizada. Contudo, quando considera que essa fase é construída historicamente e que suas dificuldades são geradas fundamentalmente pela contradição condição/autorização, terá outro tipo de proposta para esses jovens. Contribuir para que compreendam esse processo e se apropriem de suas determinações, tornando-se mais capazes de interferir no mundo social, deve ser a meta desse trabalho. (BOCK; GONÇALVES; FURTADO, 2009, p.171).
Na perspectiva sócio histórica não se reconhece como meramente ideológica
a possibilidade de escolha das classes subalternas. Ao contrário, entende-se que
nisso reside à possibilidade de mudança, de alteração histórica, ao reconhecer que
os indivíduos podem, de certo modo intervir sobre as condições sociais, por meio de
ações pessoais e / ou coletivas. (BOCK, 2002, p.69).
Os dados foram analisados por meio do método qualitativo. De acordo com
Minayo (2008), a pesquisa qualitativa é o que se aplica ao estudo da história, das
relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões,
produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem,
constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.
A pesquisa foi realizada com os alunos do ensino médio da ETEC, com faixa
etária variando entre 14 e 16 anos de idade, no período vespertino, em sala de aula,
sendo desenvolvida em três etapas. A primeira foi o levantamento de dados sobre
os conhecimentos dos alunos em relação as informações profissionais, mercado de
trabalho, perspectiva de futuro e escolha profissional. Na segunda parte da pesquisa
foi realizado desenvolvido o processo de Orientação Profissional com temas
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relevantes na escolha profissional, como, autoconhecimento, mercado de trabalho,
planejamento de futuro e informações acerca das profissões. Na terceira etapa
realizou-se um questionário referente ao conhecimento obtido durante o processo de
Orientação Profissional.
Para o recrutamento dos adolescentes participantes utilizou-se a técnica de
pesquisa dos grupos focais. Morgan (1997 apud GONDIM, 2002) define grupos
focais como uma técnica de pesquisa que coleta dados por meio das interações
grupais ao se discutir um tópico especial sugerido pelo pesquisador. Pode-se
considerar que os participantes se sentem livres para revelar a natureza e as origens
de suas opiniões sobre determinado assunto, permitindo que pesquisadores
entendam as questões de forma mais ampla (BARBOUR; KITZINGER, 1999;
TEMPLETON, 1994 apud TRAD, 2009). Valoriza-se ainda, no emprego do grupo
focal, a flexibilidade do seu formato, que permite ao moderador explorar perguntas
não previstas e incentivar a participação dos integrantes; além disso, são referidos
como pontos positivos: seu baixo custo e rapidez no fornecimento de resultados
(GOMES; BARBOSA, 1999; RALLIS; ROSSMAN, 1998; GREENBAUM, 1998 apud
TRAD, 2009).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os questionários aplicados, algumas questões se tornaram
relevantes para à análise da intervenção de Orientação Profissional.
Tabela 1: Você acredita que a Orientação Profissional pode ajudá-lo (a) nessa
escolha?
Sim: 100%
Não: 0%
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.
Todos os adolescentes acreditam que a orientação profissional pode ajuda-
los na escolha profissional; citando o auxílio que a OP traz.
Segundo Bock, Gonçalves e Furtado (2009) nessa afirmativa fica claro que a
orientação profissional possibilita uma intervenção que traz informações e reflexões
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sobre vários aspectos dando ao sujeito a possibilidade de se apoderar de suas
determinações, compreendendo-se como um sujeito único, singular/histórico e social
ao mesmo tempo.
A questão “O que você entende por orientação profissional?” foi inserida nos
dois questionários, de forma que é possível ver a evolução dos alunos diante do
processo de Orientação Profissional realizado na escola.
Antes da intervenção em orientação profissional 8 responderam somente que
a OP ajuda na escolha da carreira profissional. Como o S9 cita “acho que é um tipo
de ajuda para escolher que faculdade fazer”. Já S4 responde “grupo de pessoas que
precisam ser ajudadas para escolher uma carreira”.
Como a maior parte (80%) apresenta uma concepção que relaciona a OP
com a escolha da profissão, o que não condiz ao processo de Orientação defendido
pela abordagem sócio histórica, que traz uma forma ampla e não diretiva.
Após a intervenção as respostas ficam mais bem elaboradas, os alunos citam
a importância do autoconhecimento no processo de escolha, a segurança diante da
escolha, o auxílio que a OP traz, e a reflexão sobre o futuro. Como explica S5
“Entendo que é um processo onde se é estimulado a refletir sobre a escolha
profissional, conhecendo profissões e atividades relacionadas ao âmbito profissional
(currículo e entrevistas)”. S7 cita “É uma orientação para o seu futuro profissional,
você entra em uma busca por autoconhecimento que te ajuda a fazer suas
escolhas”. Finalizando S9 cita a orientação profissional como “é aquilo que auxilia as
pessoas a se encontrarem para que possam se sentir bem na escolha de sua
carreira”.
Outra questão comparativa foi “Na sua opinião o que influencia na escolha
profissional?”
No primeiro questionário 40% respondeu que a família e a sociedade
influencia na escolha, foram citados também as matérias que gosta e as
dificuldades/facilidades; S5 cita “Status, dinheiro e por último amor”.
Santos (2005) enfatiza que os fatores que influem na escolha de uma
profissão variam de características individuais a convicções políticas e religiosas,
valores e crenças, situação política e econômica do país, a família e os pares.
No questionário aplicado após a intervenção 80% citou que o apreço, gosto e
interesse na profissão é o mais importante na escolha profissional, e 20% o mercado
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de trabalho. S5 cita “O apreço pela área, as condições do mercado de trabalho e o
fator financeiro”.
Segundo Bock (2002, p. 144 apud Bock, Gonçalves e Furtado, 2009, p.173) a
melhor escolha profissional é aquela que consegue dar conta (reflexão) do maior
número de determinações para, a partir delas, construir esboços de projeto de vida
pessoal e profissional.
Na questão “Que tipo de informação você tem sobre o mercado de trabalho
no Brasil?”
Anteriormente à intervenção 60% dos participantes citaram a crise
econômica, 10% citaram que há necessidade de mais professores e médicos, 10%
acredita que ainda existem áreas novas de trabalho e jovens a procura de emprego
e 20% não tem qualquer tipo de informação. Após a intervenção 30% citou a crise
econômica enfrentada pelo país, 30% a concorrência dentro do mercado de
trabalho, 30% citaram sobre o crescimento de vários campos novos e 10% não tem
informação.
Com relação ao mercado de trabalho consideramos importante estimular os jovens a refletir sobre até que ponto se deve privilegiar esse item na escolha profissional. No momento da escolha, o jovem tende a idealizar a sociedade e o mercado de trabalho, compreendendo esse mercado como algo imutável, cristalizado. Nosso esforço é para que o jovem compreenda o mercado como um fenômeno conjuntural, determinado pela dinâmica da sociedade capitalista. Sem dúvida, o mercado é um aspecto importante a ser considerado, mas desde que compreendido nessa perspectiva dinâmica. (BOCK; GONÇALVES; FURTADO, 2009, p.174-175).
Fica nítido que após a intervenção as possibilidades das informações sobre o
mercado de trabalho ampliaram, o que antes baseava-se em grande parte numa
única opção, crise econômica (60%), percebeu-se que a visão ficou mais vasta e se
distribuiu em outras questões. Logo sendo o objetivo da OP de levar os jovens a
reflexão, indagação e a compreensão sobre sua realidade individual, a realidade
social e de seus contextos em seus múltiplos aspectos, foi atingido.
Tabela 2: “Quando você terminar o ensino médio, você sabe o que pode fazer?”.
Antes da OP Após a OP
Sim: 60% Sim: 90%
Não: 40% Não: 10%
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.
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Diante do comparativo das respostas dos participantes dos questionários pré
OP e pós OP, evidencia-se o possível impacto que a orientação profissional
realizada tenha dado a eles, propiciando a descoberta de novos horizontes, novas
reflexões e com isso maiores possibilidades de escolhas e de oportunidades.
O que claramente constitui uma das contribuições que a orientação
profissional os proporcionou.
Nesse sentido, a OP, por caracterizar-se como uma prática que objetiva auxiliar as pessoas a conscientizarem-se dos caminhos possíveis, escolhendo a partir de uma apropriação de seu contexto e dos fatores que influenciam a escolha, pode sensibilizar o jovem para a construção de seu projeto de vida. Se o jovem não for o agente desse projeto, ficará alheio a seus próprios planos de vida. A OP com jovens de baixa renda e, consequentemente, de baixa escolaridade vida orientar para a ressignificação ou mesmo para a construção de um projeto de vida, compreendendo suas possibilidades e vislumbrando caminhos para a realização desse tipo de projeto. (Mandelli, Soares e Lisboa, 2011, p. 53).
Tabela 3: “O que você pretende fazer ao concluir os estudos?”
Antes da OP Após a OP
Faculdade: 60% Faculdade: 40%
Faculdade e Trabalhar: 20% Faculdade e Trabalhar: 30%
Trabalhar: 20% Faculdade, Pós Graduação e Trabalhar: 20%
Trabalhar: 10%
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.
Quando comparado as respostas anteriores à intervenção e posteriores, é
possível perceber as novas tomadas de decisões dos jovens, e a ampliação de seu
campo de escolha. Evidenciando novamente que os objetivos da OP foram
alcançados, de forma com que os adolescentes se mostraram mais críticos e
preparados para seu planejamento futuro.
A abordagem sócio histórica conceitua a OP como “um conjunto de
intervenções que visam à apropriação dos chamados determinantes da escolha.
Estes determinantes é que levam à compreensão das decisões a serem tomadas e
possibilitam a elaboração de projetos” (Bock, S.,2002 apud Bock, Gonçalves,
Furtado 2009).
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Tabela 4: “Acha importante que as escolas tenham algum tipo de Orientação
Profissional?”
Sim: 100%
Não: 0%
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.
S2 “Porque os alunos saem da escola sem muitas informações sobre carreira,
trabalho e currículo”. S5 “Pois ao mesmo tempo em que temos acesso a muitas
informações através da internet, não podemos atribuir veracidade a todas, portanto
um profissional qualificado é o mais adequado”. S9 “Acho que é uma forma ótima de
tentar tirar essa pressão que os jovens tem de se sentirem obrigador a escolherem
rápido algo a fazer, o que muitas vezes leva a insatisfação”.
Segundo Lisboa e Soares (2018) apud Mandelli, Lisboa e Soares (2011): a escola é definida como espaço onde o aluno desenvolve suas potencialidades afetivo, cognitivas e sociais. Assim, seu objetivo seria não só fornecer conhecimentos teóricos como também preparar para o trabalho, oferecendo uma formação adequada para o ingresso no mundo profissional. Entretanto, na realidade não é bem assim que acontece. Em geral, as escolas não fornecem atividades sistemáticas de informação e orientação ocupacional. Nessa perspectiva a OP aonde é realizada de modo superficial e informativo, sendo fundamental e urgente um trabalho consistente que propicie aos estudantes escolhas apropriadas e bem fundamentadas.
Tabela 5: “Como você se sente diante da sua escolha profissional?”
a) Ainda não me vejo pronto para escolher: 0%
b) Tenho dúvidas: 0%
c) Estou seguro das minhas escolhas: 50%
d) Não penso sobre isso: 0%
e) Sinto-me perdido diante dessa escolha: 0%
f) Já escolhi, mas tenho dúvidas: 40%
Outras: S1 “Já escolhi mas não sei se conseguirei realizar meu sonho”.
Obs.: S9 complementou “E também me sinto apta para no futuro, quem sabe,
ter novas escolhas”.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.
Segundo Levisky (1995), “o sentimento de dúvida é uma condição adquirida,
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um sinal de maturidade, pois pressupõe capacidade de suportar a ambivalência
frente ao objeto”.
Diante desta questão percebe-se que os adolescentes se sentem inclinados a
realizar uma escolha segura, porém mesmo após o processo há ainda um
sentimento de dúvida e angústia diante do caminho a ser seguido.
CONCLUSÃO
A partir da pesquisa relatada, compreende-se a importância e necessidade do
processo de Orientação Profissional com adolescentes, já que a intervenção
realizada com este público alcançou seus objetivos, constatando que a participação
no processo desencadeou ao orientando a construção de novos sentidos
relacionados ao trabalho e a escolha profissional, ampliando seu conhecimento e
autoconhecimento, despertando nos jovens a reflexão e percepção de novas
possibilidades.
Ao decorrer de toda a orientação profissional, iniciada com o pré questionário
ficou nítida a evolução dos participantes, não só durante as dinâmicas, roda de
conversa, mas também diante dos comportamentos e principalmente na mudança
diária da visão sobre a escolha profissional e sobre o amadurecimento do futuro.
As diferenças acima apontadas através das respostas ficam mais claras
diante dos seguintes apontamentos, quando os jovens explanam sobre suas
escolhas, sabendo que podem mudá-las no meio do caminho porque essa escolha
não é estática e quando percebem que carregamos muitos mitos do senso comum,
junto com uma pressão acerca do futuro e da escolha acertada.
Percebe-se essa mudança diante do feedback dos alunos quanto a escolha
profissional, pois mesmo quando se apresentam com dúvidas e angústias ainda sim,
têm uma postura mais madura diante dessa escolha. Postura essa que foi
observada também na questão sobre seus planos para o futuro, onde deixam de
lado sonhos imaturos e criam espaço para sonhos mais bem elaborados,
relacionados não apenas a seu crescimento profissional, mas também pessoal e
emocional.
Outro ponto relevante a ser comentado sobre o número de encontros, já que
uma das orientandas coloca isto como uma questão a ser melhorada; notou-se que
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diante à demanda apresentada pelos adolescentes é perceptível a necessidade de
mais aprofundamento e até mesmo a incorporação de novos temas.
Com a fala dos participantes de nunca terem antes participado de um
processo de OP, e da importância que os mesmos percebem que este processo
tem; se vê neste campo uma necessidade de ampliação e criação de novas
intervenções, afim de suprir esta carência da instituição e dos adolescentes, criando
cada vez mais um ambiente de descoberta do mundo e de si.
REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Mercês Bahia, GONÇALVES, Maria da Graça Marchina, FURTADO, Odair et al. (Orgs.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez, 2009b. BOCK, Silvio Duarte. Orientação Profissional, a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2002. BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação vocacional: a estratégia clínica. 9 ed. São Paulo: Martins Fontes. 1993. GONDIM, Sônia Maria Guedes. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto , v. 12, n. 24, p. 149-161, 2002 . Disponível em . Acesso em 06 mar. 2018. GUNTHER, Hartmut. Como Elaborar um Questionário.Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental, 2003. LEVENFUS, Rosane Schotgues; SOARES, Dulce Helenna Penna (Orgs). Orientação vocacional ocupacional:Novos achados teóricos técnicos e instrumentais para clínica, a escola e a empresa. Porto Alegre: Artmed. 2010. LEVINSKY, David. (1995). Adolescência: reflexões psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas. LUCCHIARI, Dulce Helena Penna Soares; Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus, 1993. MANDELLI, Maria Teresa; SOARES, Dulce Helena Penna; LISBOA, Marilu Diez. Juventude e projeto de vida: novas perspectivas em orientação profissional. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro , v. 63, n. spe, p. 49-57, 2011 . Disponível em . acesso em 30 out. 2018.
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