A importância, utilidade, e autoridade dos credos e das confissões
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A IMPORTÂNCIA E UTILIDADE DOS CREDOS E DAS CONFISSÕES
A história da Igreja demonstra que há a necessidade de se estabelecer as verdades contidas na
Revelação de Deus contra as heresias que surgem constantemente. Como sabemos, com a entrada de
incrédulos na Igreja e o surgimento natural de heresias, a Igreja necessitava organizar suas afirmações
teológicas de forma a não haver dúvidas a respeito das doutrinas bíblicas. Daí surgiram os Credos e
Confissões.
Evidentemente que há credos pequenos, como o Credo Apostólico, por exemplo. E Confissões
extensas, como a Confissão de Westminster. Talvez alguém pense: se as doutrinas são as mesmas, por que
uma difere tanto da outra em extensão? Esta diferença se deve a fatores históricos e contextuais. Vejamos
como exemplo a Confissão de Fé de Westminster com seus Catecismos Maior e Breve. Eles foram
cuidadosamente elaborados para responder à altura das heresias que surgiram até o momento em que eles
foram produzidos. A extensão destes documentos não se deve ao prazer de seus autores serem prolixos e
detalhistas, mas à necessidade de exatidão das doutrinas afirmadas. “Através da História, na medida em que as
heresias se tornaram mais numerosas e complexas, as declarações confessionais da Igreja se tornaram mais
elaboradas. As declarações doutrinárias ficaram mais detalhadas para lidarem efetivamente com as sutis
artimanhas dos heréticos.”1 Contudo, não devemos nos incomodar com o tamanho da Confissão, mas com o
conteúdo dela.
As Confissões são importantíssimas para a Igreja, pois demonstra claramente em que ela crê.
“Resumidamente, um padrão confessional pode ser definido como uma declaração pública dos credos
defendidos pela Igreja. Tais declarações podem conter a verdade numa colocação afirmativa, ou podem refutar
idéias heréticas, as quais são negadas.”2 Como não existe só uma Confissão para todas as igrejas
(denominações), devemos observar qual Confissão aquela determinada denominação adota. Ou seja, um Credo
ou Confissão, são declarações de fé de uma denominação afirmando como eles entendem as doutrinas
principais da Bíblia. É o seu modo de declarar qual o conteúdo de sua fé religiosa.
As Confissões de Fé, os Catecismos, e os Credos são resultado de reflexão teológica. Portanto, é
claro que uma Confissão ou um Catecismo é de muita utilidade para os cristãos. O cristão deve buscar uma
igreja que seja totalmente bíblica em suas doutrinas. Sendo assim, os Credos e Confissões históricas servem
para demonstrar quem realmente está andando de conformidade com as Escrituras Sagradas. Quer dizer, uma
Confissão ou Credo, demonstra como determinada denominação interpreta a Bíblia. Vejamos o que afirma
Kevin Reed em seu livro Governo Bíblico de Igreja:
Os credos são também um resultado do crescimento do ministério de ensino da igreja. Não que
um credo usurpe o papel da Bíblia, pois esta permanece como única regra de fé e prática. Mas
como muitas seitas alegam ser as detentoras da autoridade da Bíblia, um credo é de suma
importância para revelar como uma igreja em particular entende as Escrituras.3
Ora, visto que as doutrinas só podem ser retiradas da Revelação escrita do Senhor (a Bíblia), e visto
também que muitas igrejas têm surgido a cada dia trazendo “novas doutrinas” ao povo, nada melhor do que
observar as Confissões ou Credos destas igrejas a fim de verificar se estão interpretando corretamente a Bíblia
ou simplesmente “criando doutrinas”. O valor das Confissões é incalculável. São anos de teologia resultante
da iluminação do Espírito Santo sobre a Igreja até que fossem registradas em umas poucas linhas. Devido ao
fato de que o homem sempre tem a tendência de querer substituir a Revelação das Escrituras por outra fonte de
revelação, as Confissões e os Credos dão um basta nos “supostos substitutos da Revelação Sagrada”. “Os
credos constituem uma defesa contra os modismos passageiros do liberalismo teológico. Eles também
protegem a Igreja contra os desejos místicos de trocar a natureza objetiva das Escrituras pela autoridade
subjetiva de impulsos íntimos.”4
Outro propósito das Confissões é que os membros da denominação têm mais segurança de que as
doutrinas verdadeiramente bíblicas serão ensinadas aos seus descendentes no futuro. Se alguém começar a
ensinar uma doutrina estranha ao que a Confissão ou o Credo afirmam, ele será rapidamente notado e
corrigido, concedendo maior possibilidade de a denominação continuar com sua pureza doutrinária:
As confissões de uma igreja funcionam como uma salvaguarda. Nenhum dos mestres de uma
igreja pode jamais proclamar qualquer doutrina contrária às declarações do credo da igreja. Os
1 REED, Kevin. Governo Bíblico de Igreja. São Paulo, Os Puritanos, 2002, p 48. 2 Ibid., p 47. 3 Ibid., p 49. 4 Ibid., p 50.
membros da congregação podem estar seguros de que eles (e seus familiares) não serão
submetidos a ensinamentos alheios à estrutura da sua confissão.5
Estes documentos são importantes não por causa de sua antiguidade, servindo simplesmente aos
interesses da história da Igreja; sua importância se deve a outras razões mais relevantes. Vejamos alguns
elementos que demonstram a importância e o valor dos credos:
1. Facilitam a confissão pública de nossa fé.
2. Oferecem de forma abreviada o resultado de um processo cumulativo da história, reunindo as
melhores contribuições de servos de Deus na compreensão da verdade. A ciência não é privilégio de
um povo ou de um indivíduo. Todo cientista usando a figura de João de Salisbury (c. 1110-1180)
equivale a um anão nos ombros de gigantes, valendo-se das contribuições dos predecessores, a fim de
poder enxergar um pouco além deles. Podemos aplicar essa figura à teologia e à tradição, como o fez
J. I. Packer: “A tradição nos permite ficar sobre os ombros de muitos gigantes que pensaram sobre a
Bíblia antes de nós. Podemos concluir pelo consenso do maior e mais amplo corpo de pensadores
cristãos, desde os primeiros pais até o presente, como recurso valioso para compreender a Bíblia com
responsabilidade. Contudo, tais interpretações (tradições) jamais serão finais; precisam sempre ser
submetidas às Escrituras para mais revisão”.
3. São uma exigência natural da própria unidade da Igreja, que exige acordo doutrinário (Ef 4:11-14;
Fp 1:27; 1Co 1:10; Jd 3; Tt 3:10; Gl 1:8-9; 1Tm 6:3-5).
4. Visto que o cristianismo é um modo de vida fundamentado na doutrina, os credos oferecem uma
base sintetizada para o ensino das doutrinas bíblicas, facilitando sua compreensão, a fim de que os
cristãos sejam habilitados para a obra de Deus.
5. Preservam a doutrina bíblica das heresias surgidas no decorrer da história, revelando-se de grande
utilidade, especialmente nas questões controvertidas, dando-nos uma exposição sistemática e
norteadora a respeito do assunto.
6. No que se refere à compreensão bíblica, permitem distinguir nossas igrejas das demais.
7. Servem de elemento regulador do ensino ministrado na Igreja, bem como de seu governo, disciplina
e liturgia. James Orr (1844-1913), na obra-prima O progresso do dogma, disse: ".... A idade da
Reforma se destacou por sua produtividade de credos. Faremos bem se não menosprezarmos o ganho
que resulta para nós destas criações do espírito do século XVI.
8. Servem de desafio para que continuemos a caminhada na preservação da doutrina e na aplicação das
verdades bíblicas aos novos desafios de nossa geração, integrando-nos à nobre sucessão dos que amam
a Deus e sua Palavra e que buscam entendê-la e aplicá-la, em submissão ao Espírito, à vida da Igreja.
Uma tradição saudável tem compromisso com o passado na geração do futuro.6
Se mesmo depois destas razões acima expostas que atestam a importância destes documentos
teológicos ainda surgir dúvidas na mente dos crentes, podemos complementar com as palavras abaixo:
Para que então os credos, se temos a Bíblia? O dr. A. A. Hodge (1823-1886) apresenta
relevante observação: Todos os que estudam a Bíblia fazem isso necessariamente no próprio
processo de compreender e coordenar seu ensino; e pela linguagem de que os sérios
estudantes da Bíblia se servem em suas orações e outros atos de culto, e na sua ordinária
conversação religiosa, todos tornam manifesto que, de um ou outro modo, acharam nas
Escrituras um sistema de fé tão completo como no caso de cada um deles lhe foi possível. Se os
homens recusarem o auxílio oferecido pelas exposições de doutrinas elaboradas e definidas
vagarosamente pela Igreja, cada um terá de elaborar o próprio credo, sem auxílio e confiando
apenas na sua sabedoria. A questão real entre a Igreja e os impugnadores de credos humanos
não é, como eles muitas vezes dizem, uma questão entre a Palavra de Deus e os credos dos
homens, mas é questão entre a fé provada do corpo coletivo do povo de Deus e o juízo privado
e a sabedoria não auxiliada do objetor individual.7
Um aspecto importante que deve ser aprendido é que a Bíblia ensina o governo da Igreja por
presbíteros (pastores). Eles são responsáveis pela doutrina, governo e liturgia da Igreja. Logo, as Confissões,
Credos, e Catecismos elaborados por eles devem ser seguidos. Observando-se evidentemente sua fidelidade às
Escrituras.
5 REED, Kevin. Governo Bíblico de Igreja. São Paulo, Os Puritanos, 2002, p 51. 6 http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC /vsItemDisplay.dsp&objectID =C9F2EC3B-292E-4D9E-853183986D1DC489&method=display. Acessado em 31.07.08. 7 http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC /vsItemDisplay.dsp&objectID =C9F2EC3B-292E-4D9E-853183986D1DC489&method=display. Acessado em 31.07.08.
Talvez surja em nossa mente a dúvida: Por que razão deveríamos adotar uma Confissão de Fé destes
teólogos lá da Europa (ou oriundo de qualquer outro local)? Acaso não temos nossos próprios teólogos no
Brasil, e ainda por cima, teólogos que estão vivendo hoje e não os teólogos dos séculos passados? Certamente
que temos teólogos capazes de elaborar uma Confissão para nós hoje, entretanto, as Confissões anteriormente
estão tão bem escrita, tão bem elaborada, e tão suficientemente bíblica, que não tem sentido algum fazer uma
Confissão hoje com as mesmas declarações que eles fizeram. O método de interpretação que eles usaram é o
mesmo que o nosso, e, portanto, as doutrinas que eles afirmaram continuam sendo afirmadas ainda hoje por
nós.
Uma verdade que jamais devemos esquecer é que as Confissões são úteis, mas não constituem a fonte
primária das doutrinas. Nossa fonte primária continua sendo a Bíblia. Estes documentos teológicos históricos
são apenas declarações sistemáticas de doutrinas. Vejamos a explicação elucidativa abaixo:
A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das doutrinas bíblicas, a Confissão de
Fe de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa única
regra de fé e prática é a Bíblia Sagrada. Mas, em virtude de a Bíblia não trazer as doutrinas já
sistematizadas, adotamos a Confissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de
doutrinas ensinadas na Escritura.8
A AUTORIDADE DESTES DOCUMENTOS TEOLÓGICOS HISTÓRICOS
Demonstrar que as Confissões de Fé, os Credos, e os Catecismos são úteis, não é difícil. Entretanto, a
questão é concomitantemente demonstrar o poder que eles têm sobre a vida dos fiéis. Ou seja, até que ponto
eles têm autoridade sobre os cristãos? E se a Bíblia é nossa única regra de fé e prática, por que utilizamos as
Confissões, os Catecismos e os Credos? Bom, certamente que a bíblia é nossa única regra de fé e prática, mas
esta verdade não impede o uso destes documentos.
As Confissões de Fé, os Catecismos, e os Credos possuem, podemos assim dizer, uma autoridade
indireta e subordinada. Não é uma autoridade absoluta sobre os cristãos, mas uma autoridade baseada na
Escritura. Ou seja, devido ao fato de as doutrinas destes documentos estarem inteiramente
fundamentadas na Bíblia, isto faz deles documentos que possuem uma autoridade relativa sobre os
cristãos:
Ainda outro princípio da mesma Igreja é que os concílios, sendo compostos de homens
falíveis, podem errar, e muitas vezes têm errado. Suas decisões, portanto, não podem ser
recebidas como regra absoluta e primária de fé e prática; servem somente para ajudar na
crença ou na conduta que se deve adotar. O supremo juiz de todas as controvérsias, em matéria
religiosa, é o Espírito Santo falando na e pela Escritura. Por esta, pois, devem-se julgar toda e
qualquer decisão dos concílios e toda e qualquer doutrina ensinada por homens. Admitir-se a
falibilidade dos concílios não é depreciar a autoridade da Confissão de Fé e dos Catecismos para
aqueles que de livre vontade os aceitem. Admitindo tal, a Igreja somente declara que depende
do Autor da Escritura, e recebe a direção do seu Espírito na interpretação da Palavra e nas
fórmulas de aplicar suas doutrinas. A Igreja Presbiteriana sustenta que a Escritura é a
suprema e infalível regra de fé e prática; e também que a Confissão de Fé e os Catecismos
contêm o sistema de doutrina ensinado na Escritura e dela deriva toda a sua autoridade e
a ela tudo se subordina. É justamente porque cremos que a Confissão de Fé e os
Catecismos estão em harmonia com a Escritura, nossa regra infalível, que os aceitamos. 9
Resumindo, estas Declarações de Fé (Confissões de Fé, os Catecismos, e os Credos) não possuem
autoridade por si mesmos. Contudo, devido à sua fiel exposição das doutrinas bíblicas, isto faz com que o
aceitemos a eles nos submetamos; e isto, não de maneira última e irrevogável, mas consciente que estes
documentos são falhos e são fruto da interpretação falível dos homens. Além disto, a igreja não impõe sobre os
crentes as declarações de fé contidas nestes documentos, por isto, somente quem entende ser estes documentos
fiéis ao ensino bíblico é que se submete às suas declarações. Portanto, se alguém não concorda com as
doutrinas ali inseridas, deve procurar uma confissão na qual possa aceitar com fé. Ninguém deve contradizer
sua própria consciência, mas andar de acordo com ela.
8 Ibid. p 72. 9 J.M.K. Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana.