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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO VOLUNTÁRIO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO FONOAUDIÓLOGO MARCILA SOARES DE ABREU ORIENTADOR: MESTRE PALMIRO F. DA COSTA Rio de Janeiro Fevereiro/2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO VOLUNTÁRIO

NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO FONOAUDIÓLOGO

MARCILA SOARES DE ABREU

ORIENTADOR: MESTRE PALMIRO F. DA COSTA

Rio de Janeiro

Fevereiro/2002

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO VOLUNTÁRIO

NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO FONOAUDIÓLOGO

MARCILA SOARES DE ABREU

Trabalho Monográfico apresentado

como requisito parcial para obtenção do

Grau de Especialista em Docência

Superior.

Rio de Janeiro

Fevereiro/2002

AGRADECIMENTOS

Ao professor José Cortez pela minha iniciação no sistema Braille.

Às crianças do Instituto Benjamim Constant pela oportunidade de conhecê-las

e pelo carinho a mim dispensado.

Às comunidades carentes, que através do trabalho voluntário têm a

possibilidade de despertar para a sua cidadania.

“‘Hei de empregar toda a minha fortuna nesta obra de saúde geral’, dizia

Jeca Tatu. ‘O meu patriotismo é este. Minha divisa: Curar gente. Abaixo

a bicharia que devora o brasileiro...’... Um país não vale pelo tamanho

nem pela quantidade de habitantes. Vale pelo trabalho que realiza e pela

qualidade da sua gente. Ter saúde é a grande qualidade de um povo. Tudo

mais vem daí”.

(Monteiro Lobato. Jeca Tatu: A ressurreição. 1927)

SUMÁRIO

P.

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 6

CAPÍTULO I – O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DO TRABALHO

VOLUNTÁRIO ............................................................................................................... 7

CAPÍTULO II – A HISTÓRIA DA FONOAUDIOLOGIA .............................................. 12

2.1 A Fonoaudiologia no Século XX .............................................................................. 15

2.2 O Histórico da Fonoaudiologia no Brasil .................................................................. 16

2.2.1 – Os Primeiros Cursos ........................................................................................... 17

2.2.2 – A Legislação Brasileira ....................................................................................... 18

CAPÍTULO III – FONOAUDIOLOGIA E INTERDISCIPLINALIDADE ....................... 19

CONCLUSÃO .................................................................................................................. 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................22

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 24

6

INTRODUÇÃO

Por ser uma profissão nova, a Fonoaudiologia não tem tradição

comunitária, ficando aliada a um “setting terapêutico” sempre ligada à medicina. Assim, a

Fonoaudiologia, aliada ao trabalho voluntário, vem contribuindo para o resgate da função

social, que é a interface da profissão, procurando com que a mesma seja difundida, e

adquirida novas experiências que contribuam na formação não só do profissional como na

do recem-formado. A importância do trabalho voluntário está na viabilização da relação de

troca, traduzida em consciência comunitária. Consciência Comunitária, traduz-se como o

instrumento social para se obter mudanças favoráveis nas pessoas, principalmente quanto

aos problemas reais, e quanto às soluções planejadas para servirem ao conceito que os

mesmos tem de bem comum.

O Trabalho Voluntário na Fonoaudiologia visa a comunicação em todas

as formas buscando a integração do indivíduo. É objetivo do trabalho voluntário em

Fonoaudiologia resgatar, neste segmento da população, o seu direito de participação ativa

no processo de cidadania. É este o processo básico da Fonoaudiologia que contribui para a

mobilização do sujeito, com vistas às novas frentes de trabalho, com influência direta na

sua formação. Este processo proporciona ao indivíduo condições de ajustar-se ao meio.

A presente monografia foi possibilitada a partir de trabalho voluntário

realizado em comunidades de Deficientes Visuais e também através e leituras em livros que

relatavam a história da colonização no Brasil sua relação com o trabalho voluntário e a

Fonoaudiologia.

7

CAPÍTULO I

O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DO TRABALHO

VOLUNTÁRIO

Durante os primeiros 30 anos de nossa história, o Brasil não despertou maior

interesse de Portugal, devido ao intenso e lucrativo comércio com o Oriente.

Buscando descobrir, riquezas, as serem exploradas, veio ao Brasil a primeira

expedição comandada por Gaspar de Lemos, que constatou a existência de grande

quantidade de pau-brasil, madeira muito utilizada no tingimento de tecidos, que

passou a ser monopólio da Coroa, que arrendava áreas de exploração a

comerciantes. A mão de obra indígena era utilizada em troca de artigos sem valor,

caracterizando o escambo. Devido a grande extensão da costa brasileira, tornava-

se impossível defender a posse portuguesa sobre o Brasil, sem que houvesse

povoação e habitantes fixos. Por isso, D. João III organizou, então, a expedição

de Martim Afonso de Souza que deu início à colonização efetiva do Brasil. Em

1532 garantindo a posse portuguesa, Martin Afonso fundou o primeiro povoado,

a Vila de São Vicente (1).

Para tornar efetiva a colonização do Brasil, o governo português, que não tinha

recursos para investir na colonização brasileira, implantou um sistema

transferindo essa tarefa para iniciativa de particulares. O rei de Portugal, em

1534, decidiu pela instalação da economia açucareira e dividiu o Brasil em lotes,

as capitanias. O donatário, nomeado pelo rei, tinha que ter razoáveis condições

financeiras, tendo autoridade máxima dentro da capitania. Com a morte do

donatário, a administração da capitania passava para seus descendentes. Por isso

eram chamadas de capitanias hereditárias. O vínculo jurídico entre o rei de

Portugal e os donatários era estabelecido em dois documentos básicos: carta de

doação e carta floral. Cabia ao donatário, colonizar as capitanias, fundando vilas;

deveria policiar suas terras, proteger colonos contra ataques de índios e

8

estrangeiros. Em contrapartida, o donatário tinha o direito de doar sesmarias a

colonos (tipo de propriedade concedida em terras do Brasil, era uma transladação

do regime português), escravizar índios para o trabalho agrícola, montar

engenhos e ainda cobrar impostos e exercer a justiça em seus domínios (2).

Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos

constituímos para fornecer açúcar, tabaco, e alguns outros gêneros; mais tarde

ouro e diamantes; depois, algodão e em seguida, café, para o comércio europeu.

Nada mais que isto. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do

país e sem atenção as considerações que não fossem o interesse daquele

comércio, que se organizarão a sociedade e economia brasileiras. O sentido de

evolução brasileira, ainda se afirma por aquele caráter inicial de colonização (3).

Esse tipo de atitude teve como consequência, a frágil garantia dos direitos

sociais e a pouca preocupação com as camadas mais pobres da população. Observa-se que

o Brasil, não tem uma forte tradição comunitária, através dos contextos histórico e social.

O trabalho voluntário teve como referência histórica no Brasil, a fundação

da Santa Casa de Misericórdia, na então Vila de São Vicente no séc XVI (1543).

Bráz Cuba, fidalgo português e líder do povoado do Porto de São Vicente,

posteriormente Vila de Santos, auxiliado por outros moradores, iniciou em 1542 a

construção da Santa Casa de Misericórdia de Santos, o mais antigo hospital

brasileiro inaugurado em novembro de 1543. Tendo prestado quase cinco séculos

de assistência, a Santa Casa de Misericórdia de Santos participou de todos os

ciclos da história da nossa pátria. Cuidou dos fundadores desta Nação, navegantes

lusos, colonos, nativos e escravos (4).

No decorrer dos séculos, a maioria das entidades filantrópicas estavam

ligadas à Igreja Católica, essa ligação do Clero com o voluntariado permaneceu durante

muito tempo. A característica marcante desse trabalho era a idéia de caridade. Até porque a

Igreja e o Estado não eram separados por lei.

Na Primeira República, quando a questão social era questão de polícia, e

as políticas progressistas, de então, enquadravam-se na rubrica do sanitarismo, o

9

assistencialismo foi a forma que se apresentou como solução para o atendimento de setores

carentes da Previdência Social inexistente.

Na gestão Vargas, com as leis trabalhistas dos anos 30, o assistencialismo

passou a ter espaço nas políticas públicas. O Estado assume a função assistencial, sendo ele

o maior provedor de recursos nesta área. Em 1942 surge a Legião Brasileira de Assistência,

criada para coordenar a política social realizada no país. A direção da instituição, por

determinação de um estatuto, era ocupada pela primeira dama do país.

A primeira grande instituição nacional de assistência social, a Legião Brasileira

de Assistência é organizada em conseqüência do engajamento do país na Segunda

Guerra Mundial.

Seu objetivo declarado era o de prover as necessidades das famílias cujos chefes

haviam sido mobilizados, e ainda prestar decidido concurso ao governo em tudo

que se relacionava ao esforço de guerra. Surge a partir da iniciativa de

particulares logo encampada e financiada pelo governo, contando também com o

patrocínio das grandes corporações patronais (Confederação Nacional de

Indústria e Associação Comercial do Brasil), e o concurso das senhoras da

sociedade. O seu surgimento, teve um amplo papel na mobilização da opinião

pública. Nesse sentido serão lançadas diversas campanhas de âmbito nacional,

como as da borracha usada, confecção de ataduras e bandagens, campanha do

livro, campanhas das “hortas da vitória”, etc. Para os soldados mobilizados serão

patrocinados diversos serviços de promoção e lazer. Apenas no Distrito Federal, a

LBA montará mais de cem postos de atendimentos e postos diversos de trabalhos

voluntários. Pelo Decreto - lei no 4830, de 15 – 10 – 1942, a LBA é reconhecida

como órgão de colaboração com o estado no tocante aos serviços se assistência

social (5).

Em 1964, o Estado começa a modificar sua forma de atuação na área

social, destinando recursos para organizações privadas (hospitais, creches e fundações) em

detrimento das instituições com atuação na área social.

O fortalecimento da Sociedade Civil no Brasil se deu no bojo da resistência à

ditadura militar. No momento em que o regime autoritário bloqueava a

10

participação dos cidadãos na esfera pública, microiniciativas na base da

sociedade foram inventando novos espaços de liberdade e reivindicação (6).

As políticas de incremento da cooperação internacional ocorrem

juntamente com os movimentos sociais: em especial, os populares e o sindical. Por volta

dos anos 70 surgem a organização da sociedade civil, com característica de uma Ong se

articulando com a disseminação dos chamados movimentos sociais e o aparecimento de

uma nova orientação sindical, oriunda de oposições ao sindicalismo oficial.

O movimento voluntário era influenciado por uma corrente contestatória e

libertária presente nos movimentos sociais de origem popular da época. Apresenta uma

radicalidade em certos momentos distanciando-se dos seus ideais básicos.

A organização de sociedade civil, é o conjunto vasto e heterogêneo caracterizado

por organizações estruturadas, localizadas fora do aparato formal do Estado, que

não se destinam a distribuir lucros auferidos com suas atividades entre seus

diretores ou entre conjunto de acionistas. Autogovernadas, envolvem indivíduos

num significativo esforço voluntário, produzindo bens e/ou serviços de uso

coletivo (7).

Nos anos 80 com avanço do processo de democratização, a questão da

cidadania e dos direitos fundamentais emerge como prioridade. Sob forte influência do

neoliberalismo estabelecendo uma concepção político-econômica e cultural.

“O neoliberalismo, do ponto de vista político-ideológico é uma

superestrutura ideológica e política que acompanha uma transformação histórica do

capitalismo moderno” (8).

Uma nova fase do voluntariado nasce, vindo preencher os conseqüentes

espaços deixados por conta da diminuição da participação do Estado nas ações sociais.

Embora esse voluntariado combatesse efeitos emergenciais seu foco era primário, sem o

alcance efetivo das causas da desigualdade social.

11

A partir da Rio-92 houve uma reorientação das ações sociais em todo

país, havendo resgate da trajetória das ONGs e sua dimensão histórica e política na luta

pela democratização da sociedade brasileira. O Estado começou a reconhecer que as ONGs

acumularam um capital de recursos, experiências e conhecimentos sobre as formas

inovadoras de enfrentamento das questões sociais, que as qualificavam como interlocutores

e parceiros das políticas governamentais. Diante desses contextos as instituições

começaram a buscar diferentes parcerias, especialmente com o setor privado.

Surge em 1993 com o objetivo de combater à fome a Ação da Cidadania

Contra Miséria e pela Vida.

Essa iniciativa foi responsável pelo início do processo de conscientização

da população em relação à cultura do voluntariado, que ainda não estava plenamente

estabelecida no Brasil. Na Segunda metade da década de 90, mais precisamente no ano de

1995, foi criado pelo Governo Fernando Henrique a Comunidade Solidária e em 1998 foi

promulgada a lei 9.608 de 18 de setembro, denominada lei do Serviço Voluntário. Esses

dois fatos foram bastante relevantes na história do voluntariado no Brasil.

Lei 9.608, de 18 de setembro de 1998, Lei do Serviço Voluntário, dispõe

sobre as condições do exercício do trabalho voluntário e estabelece um termo de adesão que

regulamenta o vínculo do cidadão voluntário com a organização, trazendo uma nova

realidade para as instituições e voluntários que não tinham nenhum mecanismo legal que

amparasse esta relação de trabalho. A lei prevê questões de natureza trabalhista,

previdenciária e da não geração de vínculo empregatício entre o voluntário e a instituição

escolhida para realizar suas atividades.

O principal instrumento de compromisso de trabalho voluntário é o

Termo de Adesão, que deverá ser assinado no momento em que estiver estabelecido o

acordo mútuo para realização das tarefas propostas e assumidas.

O trabalho voluntário vem associado à questão de cidadania, e é motivado

por valores de participação e solidariedade. Desempenhando um papel importante na

12

promoção do desenvolvimento humano, seja através de iniciativa própria ou específica, seja

através de sua capacidade de mobilização da sociedade civil; construindo uma cultura física

e democrática neste final de século enfatizando a diversidade, não a um modelo, mas

propondo um processo.

CAPÍTULO II

A HISTÓRIA DA FONOAUDIOLOGIA

Desde a antigüidade, havia preocupação com os distúrbios que

perturbavam a comunicação oral. Já eram feitas referências à voz, à fala e à linguagem,

começando a aparecer estudos sobre o ouvido, faringe, laringe e osso hioíde. As pessoas de

Atenas tinham essa preocupação, Aristóteles fazia referências aos defeitos da voz, à

gagueira e à surdez como causa da mudez.

O precursor da Fonoaudiologia foi Demóstenes, que colocava seixos na

boca para melhor articular sua gagueira; inibindo, sem saber, o próprio feed-back* auditivo,

diante de uma espada, que lhe roçava o peito, a fim de auto-regular suas sincinesias**

posturais e corporais. A Fonoaudiologia não é uma técnica intuitiva, ao contrário da idéia

do seu precursor. Finalizando este período, Galeano (131-201 d.c) começa o estudo do

Sistema Auditivo e Fonador.

Na Idade Média, surgem os primeiros esquemas do laringe. Guy de

Chauliac descreve a gagueira como conseqüência de convulsões, úlceras na língua.

No início da Idade Moderna que vai de 1453-1789, um estudo meticuloso

foi realizado por Leonardo da Vinci sobre anatomia e fisiologia do sistema fonador.

13

O primeiro livro exclusivamente dedicado ao ouvido foi escrito por

Bartolomeu Eustachius. Enquanto Huronimus Mercurialis, escreveu um livro

preferencialmente sobre tratamentos.

_________________

* “Feed-back auditivo” é a formação no cérebro de engramas relativo à informação acústica (9).** “Sincinerias” é a exacerbação da hipertonia de todo membro ou todo hemicorpo durante ummovimento voluntário. (movimento involuntário de imitação sem que segmento seja solicitado) (10).

Issac Newton (1642-1727), deu sua contribuição para Fonoaudiologia,

através do trabalho de propagação e velocidade de ondas, viabilizando outros trabalhos de

Politzer, Lucae, Barany, Hartman, Hughes até chegar às possibilidades instrumentais da

audiometria*

Inicia-se no mundo, por intermédio de Pedro Ponce de Leon, a educação

de crianças surdas. O primeiro livro sobre o assunto é de autoria, de Juan Pablo Bonet.

Surgem os primeiros movimentos, no sentido de terapia, John Bulwer inicia o método de

leitura labial.

A primeira escola especializada em educação de surdos foi fundada em

Paris pelo Abade L’Epèe. Na Alemanha, em 1778, foi fundada a primeira escola para

surdos, seu fundador, Samuel Heinicke, foi o precursor do método oral.

As descrições das alterações da voz em decorrência da laringite crônica

foram realizadas por Trousseau em 1837.

O cantor Manuel Garcia inventou o laringoscópio em 1854. O objetivo do

aparelho era observar inflamações existentes nas cordas vocais.

Paul Brocà descobre a região frontal do cérebro denominada centro da

linguagem falada, fato que deu origem aos estudos sobre os problemas de linguagem de

caráter verdadeiramente científico. Em 1873, Wernicke descreve a região cerebral que

corresponde ao centro de imagens auditivas verbais.

14

Os Fundamentos da Fisiologia do som foram publicados por Sievers na

Alemanha, onde descreve os sons fonéticos baseados na audição. Na área da física

acústica, Besold, Rinné e Schava Bach mostraram a importância da Acústica, aplicada ao

diagnóstico diferencial do surdo.

__________________

* “Audiometria” é o exame que determina os limiares auditivos, isto é, o estabelecimento do mínimo deintensidade sonora necessária para provocar a sensação auditiva e a comparação destes valores ao padrão denormalidade (11).

O termo Ortofonia foi designado por Colombat em 1880 para correção

dos distúrbios da fala.

Alex Bell não foi importante por ter inventado o telefone, mas pela sua

contribuição para Fonoaudiologia. Tanto o seu avô como seu pai, foram professores de

elocução e fonética, eles desenvolveram um Sistema de Análise Visual da Onda Sonora, o

Visible Speech. Alexandre Graham Bell dedicou sua vida à comunicação e às crianças

surdas. Suas investigações sobre fonética e física acústica foram de extrema importância,

dando início ao surgimento das primeiras próteses auditivas. A Fonoaudiologia, se

desenvolveria na América, pelo extraordinário trabalho desses pioneiros.

A Medicina começou a conhecer melhor a fisiologia, a partir do século

XIX, embora esta, não dissesse o que fazer com aqueles comportamentos lingüísticos de

origem patológica, como conseqüência de um AVC*, da Gagueira e da Fissura Palatina.

Na França, M.me Djerine se preocupava em compreender, explicar e

reabilitar comportamentos Afasoídes**, que via nos pacientes de seu marido. Ela foi a

pioneira da Fonoaudiologia em seu país.

Nesta época como a Fonoaudiologia era extremamente teórica, não podia

ser aplicada aos problemas da linguagem pelos elocucionistas que hoje são chamados de

fonoaudiólogos. Não eram muitos e nem tinham uma formação regular. A influência das

Ciências Bio-Médicas, em ascensão na Europa, gerou uma reação dos fonéticos à Fonética

15

Clássica, que se tornava pura fisiologia da articulação. Por conta dessa reação foi criada a

Fonoaudiologia.

Emil Frochels fundou em 1924 uma associação de logopedistas em

Viena, que deu origem à atual Associação Internacional de Logopedia e Foniatria ( IALP).

_______________

* “A.V.C. – Acidente Vascular Cerebral (10).** “Comportamentos Afasoídes” – Alterações linguísticas decorrente de um A.V.C. (12).

A fonoaudiologia é uma ciência da comunicação que não entra em choque

ou superimpõe à Foniatria: o Fonoaudiólogo é um terapeuta, enquanto o Foniatra, é um

médico.

A Fonoaudiologia é definida como a ciência que pesquisa, avalia e propõe

terapia para os distúrbios que afetam a capacidade de utilização dos sistemas simbólicos

nos aspectos receptivos, organizacionais e expressivos da comunicação oral e escrita.

Ocupando-se também do aperfeiçoamento dos padrões de dicção.

A Foniatria é uma especialidade médica dedicada ao diagnóstico e ao

tratamento dos distúrbios da comunicação.

1.1 A Fonoaudiologia no Século XX

Até o século XVIII, a fonoaudiologia era experimental, a partir do século

XX, a profissão se desenvolveu cientificamente. Foi neste século que a Fonoaudiologia

viria a se afirmar como profissão, porque trabalharia de forma científica: o tratamento

médico aliado à terapia elocutiva. Graças ao estudo de Saussure, de língua e linguagem de

forma científica, abriu-se possibilidade teóricas para a fonoaudiologia se afirmar como

ciência. A partir desses estudos, se incorporariam à Fonoaudiologia, a Acústica, a

psicologia e a linguística.

16

Em 1951 na cidade de Cornell (U.S.A.) nasce a primeira Teoria da

Comunicação, idealizada por engenheiros eletrônicos, psicólogos, matemáticos e físicos

acústicos. Com isto, foi mostrado aos patologistas da linguagem, que este era o caminho

para estudar os distúrbios da linguagem dentro das Ciências da Comunicação.

Enquanto o linguista Saussure possibilitou a teoria, Homer Dudley, um

engenheiro eletrônico e acústico, deu à Fonoaudiologia a possibilidade instrumental. Em

continuidade às pesquisas de Bell e Watson, Homer foi um dos que contribruiu para que se

pudesse provar e explicar os pressupostos teóricos da Fonoaudiologia, nas Teorias de

Produção e Preparação do discurso.

A Audiologia nasceu da Física Acústica e da Engenharia Eletrônica,

aplicada inicialmente para medir vibrações das lâminas metálicas. Foi incorporada à

Fonoaudiologia desde o seu início. Hoje contribui na ampliação dos estudos do processo

receptivo da linguagem.

O primeiro audiômetro comercial do mundo foi fabricado nos Estados

Unidos em 1922.

A profissão de fonoaudiólogo, é reconhecida oficialmente em vinte e sete

países. O primeiro a reconhecer foi a Hungria em 1900.

A profissão é reconhecida pelo Ministério da Saúde ou da Educação ou

ambos, dependendo da legislação de cada país.

1.2 O Histórico da Fonoaudiologia no Brasil

Já se pensava em reabilitação na época do Império. Por iniciativa de D.

Pedro II, em 1854, foi fundado o Imperial Colégio para Meninos Cegos, hoje, Instituto

Benjamim Constant. Em 1855 foi fundado o Colégio Nacional, destinado ao ensino de

surdos. Após várias várias mudanças de nomes, a partir de 1957 ficou definitivamente

17

reconhecido pelo nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (I.N.E.S.). Em 1912, o

Dr. Augusto Linhares, precursor da Fonoaudiologia no Brasil, deu início às pesquisas e

reabilitação dos distúrbios da voz e fala, bem como cursos de orientação à professores. O

Instituto de Pesquisas Educacionais (IPE), órgão da Secretaria de Educação, criou o setor

de ortofonia sob a direção de Cinira Menezes, que estudava linguagem como

comportamento em 1928.

O prof. Silveira Bueno Teixeira, por volta de 1935, fundou a Escola de

Canto. Em diversas partes do país vários trabalhos começaram a surgir, principalmente em

São Paulo, Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, contribuindo para o aprimoramento no

campo da reabilitação dos Distúrbios da Fala, Voz, Audição e Linguagem.

Por volta de 1950 foi inaugurado o Primeiro Centro de Pesquisas

Educacionais com a colaboração de Dr. Ombredane. Mais tarde Ophélia Boissom Cardoso

iniciou o trabalho em linguagem no Instituto Pestallozzi. Surgem os primeiros movimentos

de habilitação sistemática em Terapia da Palavra.

Dentre os vários profissionais de teatro que contribuíram com a profissão,

destacam-se: Lilia Nunes e Esther Leão que iniciaram o curso de impostação de voz e

reabilitação dos problemas de voz. Fundado em 1956, na AFAE o setor de Terapia da

Palavra. Em 1963, Abigail M. Caraciki, visando atender os problemas de linguagem lida-

escrita, dos alunos da rede oficial de ensino primário, criou o Centro de Terapia da Palavra

pela SED (Secretaria Estadual de Educação e Cultura do Estado da Guanabara).

Este serviço funcionou na educação até 1985, logo em seguida foi criado

o quadro de fonoaudiólogo na área de saúde, passando a pertencer à Secretaria Municipal

de Saúde. O Setor de Foniatria da Secretaria Estadual de Saúde do Éstado da Guanabara foi

criado em 1969 sob a direção de Edmìee de Sousa Brandi.

Os primeiros cursos de formação para fonoaudiólogos, existentes no

Brasil, tiveram denominações diferentes de acordo com a influência dos países de formação

18

dos pioneiros. Assim, nomes como: Logopedia, Terapia da Fala, Ortofonia, Fonoaudiologia

e Terapia da Palavra eram utilizados para a mesma atividade profissional.

Para que os cursos de formação fossem regulamentados, o Departamento

de Associações Universitárias (DAU), promoveu uma reunião de estabelecimentos de

ensino, que mantinham os cursos, unificando o nome de Fonoaudiologia para todo Brasil.

1.2.1 Os Primeiros Cursos

Rio de Janeiro – Curso de Logopedia do Hospital São Francisco de Assis,

Curso de Logopedia da Sociedade Pestallozzi do Brasil; Universidade Católica de

Petrópolis; Instituto Cultural Henry Durant (FINES), hoje Universidade Estácio de Sá;

Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR); Sociedade de Ensino Superior Rio

de Janeiro (SESRIO).

São Paulo – Escola Paulista de Medicina; Pontífica Universidade

Católica; USP; Universidade Católica de Campinas.

Rio Grande do Sul – Universidade Federal de Santa Maria, onde o

Conselho Federal de Educação reconheceu a primeira faculdade de Fonoaudiologia no ano

de 1976.

Paraná – Universidade Católica do Paraná.

Pernambuco – Universidade Católica de Pernambuco

1.2.2 A Legislação Brasileira

Lei 5540, artigo 18, de 1968, título IV, artigo 175 do parágrafo 4º,

dispõem sobre as profissões ainda não regulamentadas, mas que se mostram necessárias às

comunidades, na sua assistência.

19

Lei 6965, de 9 de dezembro 1981 – O Fonoaudiólogo é o profissional

com graduação plena em Fonoaudiologia e atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia

fonoaudiológica na área de comunicação oral e escrita, voz e audição, bem como em

aperfeiçoamento dos padrões da fala e da voz. Regulamenta a profissão.

CAPÍTULO III

FONOAUDIOLOGIA E INTERDISCIPLINALIDADE

Para que haja uma viabilidade no funcionamento da interdisciplinalidade

conta-se com as seguintes condições: a manutenção de um canal de comunicação, definição

clara e precisa dos papéis e funções dos profissionais, e atitude investigatória produzindo o

saber. Desta forma as práticas interdisciplinares tendem, para a criação de campos de saber

e disciplinas novas, gerar uma fecundação e uma aprendizagem mútua.

Um trabalho de caráter social, com base na prevenção em Fonoaudiologia

não se restringe apenas à área de saúde, mas à educação, como veículo de informação e

20

conscientização. Com a Globalização, os fonoaudiólogos estão sendo obrigados a mudar de

perfil, frente aos novos desafios. Tendo que conhecer outras áreas, para aquisição de novas

experiências e trabalhar junto a elas. Incluem-se também, as organizações corporativas

como os sindicatos, associações e conselhos federais, que estabelecem continuamente

fronteiras de saber e competência com outras profissões; exercem o controle sobre a

formação e as práticas dos filiados, incluindo normas éticas. Em termos de profissões,

encontra-se as que constituem campos recombinados de uma ou mais disciplinas, pois os

saberes estão sedimentados em corporações.

O trabalho voluntário faz com que toda profissão que a exerça, tenha uma

atitude interdisciplinar, permitindo a esses profissionais, o esclarecimento das relações

entre desenvolvimento e progresso social. Essa relação de diversos profissionais com o

voluntariado, faz com que o profissional exerça sua cidadania, criando um clima de

segurança e reelaborando sua identidade profissional.

CONCLUSÃO

O trabalho voluntário teve como referência histórica no Brasil, a

Fundação da Santa Casa de Misericórdia no séc. XVI. A maioria das entidades filantrópicas

estavam ligadas à igreja, com característica marcante da idéia de caridade.

Na Primeira República, o trabalho voluntário foi enquadrado na rubrica

do sanitarismo. Este assistencialismo foi a forma apresentada como solução para o

atendimento de setores carentes.

21

Na gestão Vargas, o Estado assume a função assistencial, e cria em 1942

a Legião Brasileira de Assistência. Em 1964 o Estado modifica a sua atuação destinando

recursos para organizações privadas.

Nos anos 70 surgem as Ongs que, ao longo do tempo, são reconhecidas

pelo Estado por acumularem experiências e conhecimentos sobre as formas de enfrentar as

questões sociais.

Na década de 90, surge a Ação da Cidadania Contra a Miséria pela Vida

responsável pelo início do processo de conscientização em relação à cultura do

voluntariado. Ainda nesta década, é criada a Comunidade Solidária.

O precursor da Fonoaudiologia foi Demóstenes, e Galiano finaliza o

período (131-201 d.c) com estudo do Sistema Auditivo e Fonador.

Na Idade Média surgem os primeiros esquemas da laringe. No início da

Idade Moderna Leonardo da Vinci realizou o estudo da anatomia e fisiologia do Sistema

Fonador. Isaac Newton contribui com o trabalho de propagação e velocidade de ondas.

Com Pedro Ponce de Leon inicia-se no mundo a educação de crianças

surdas. O Abade L’Epèe criou, em Paris, a primeira escola especializada em educação de

surdos.

A Fonoaudiologia no século XX deixou de ser experimental

desenvolvendo-se cientificamente, firmou-se como profissão. O primeiro país a reconhecer

a profissão foi a Hungria em 1900.

A Fonoaudiologia no Brasil inicia-se em 1902 com o Dr. Augusto

Linhares, que deu início às pesquisas e reabilitação de distúrbios da voz e fala, bem como

curso de orientação à professores.

22

O entendimento na influência do trabalho voluntário na formação

profissional do fonoaudiólogo, baseia-se no conhecimento da evolução histórico-social das

profissões. O encadeamento dessas histórias, apresenta uma dimensão de classe social,

através da qual encontra-se o significado para a falta de tradição comunitária tanto do

trabalho voluntário como da Fonoaudiologia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) VICENTINO, Cláudio. História integrada: o mundo da idade moderna. São Paulo:

Scipliano, 1995. p. 87.

(2) COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e geral. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p.

168-173.

23

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