A Importância do Material Impresso no processo de aprendizagem na Educação a Distância (EaD)

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1 A Importância do Material Impresso no processo de aprendizagem na Educação a Distância (EaD) São Bernardo do Campo – SP - Novembro de 2011 César Pereira Faustino – Faculdade de São Bernardo do Campo/Fasb- [email protected] Franciely Flavia Silva – Faculdade Anchieta- [email protected] Jaqueline Erray Cecchi – Faculdade Anchieta - [email protected] RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar e discutir a importância que o material impresso faz na relação com o processo de ensino e aprendizagem na Educação à Distância, bem como as formas de sua utilização. O trabalho identifica as mudanças na forma dos textos impressos ao longo da história da educação à distância e sua utilização, principalmente em função da evolução do pensamento pedagógico e das atuais concepções, na qual, infere diretamente sobre as formas de organizar e estruturar os textos escritos pertinentes ao processo de elaboração dos materiais didáticos impressos para EaD e, o grau de “abertura” adequado a um material que será utilizado para o aluno construir seus saberes, na ausência de um instrutor / orientador. Partindo desses pressupostos, estruturou-se o presente artigo da seguinte forma: I- Introdução: explicitando as

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Este trabalho tem por objetivo analisar e discutir a importância que o material impresso.

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A Importância do Material Impresso no processo de aprendizagem na Educação a Distância (EaD)

São Bernardo do Campo – SP - Novembro de 2011

César Pereira Faustino – Faculdade de São Bernardo do Campo/[email protected]

Franciely Flavia Silva – Faculdade Anchieta- [email protected]

Jaqueline Erray Cecchi – Faculdade Anchieta - [email protected]

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar e discutir a importância que o

material impresso faz na relação com o processo de ensino e aprendizagem na

Educação à Distância, bem como as formas de sua utilização. O trabalho identifica

as mudanças na forma dos textos impressos ao longo da história da educação à

distância e sua utilização, principalmente em função da evolução do pensamento

pedagógico e das atuais concepções, na qual, infere diretamente sobre as formas

de organizar e estruturar os textos escritos pertinentes ao processo de elaboração

dos materiais didáticos impressos para EaD e, o grau de “abertura” adequado a

um material que será utilizado para o aluno construir seus saberes, na ausência

de um instrutor / orientador.

Partindo desses pressupostos, estruturou-se o presente artigo da seguinte

forma: I- Introdução: explicitando as necessidades e indagações a serem

discutidas no decorrer do artigo; II- Evolução dos textos impressos para EaD e

suas gerações; III- Estatísticas sobre o uso do material impresso e outras mídias

na Educação à Distância; IV- Observações relevantes sobre a produção de MDI

para EaD; V-Pontos positivos e negativos da utilização do MDI na EaD; VI-

Considerações Finais que por si só, exprime as considerações referentes às

reflexões realizadas.

Palavras- chaves: Material Didático Impresso, Ensino e Aprendizagem, Educação à Distância.

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1. Introdução:A elaboração do artigo fundamenta-se nos estudos realizados na área da

Educação à Distância, focalizando o processo de desenvolvimento de materiais

didáticos para a EAD, abrangendo seu histórico com ênfase nos recursos

didáticos utilizados, fazendo um breve comparativo com a utilização de materiais

didáticos no ensino presencial, bem como os critérios adotados no que cerne ao

processo de elaboração de materiais didáticos para EAD e sua relevância, sendo

que o processo de planejamento, elaboração e utilização dos mesmos são

totalmente diversos aos do ensino presencial.

Muito já se pesquisou sobre a utilização de materiais didáticos em situações

presenciais, porém com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB

nº 9.394 de 1996 e demais legislações subsequentes, oficializaram a possibilidade

de realizar cursos de graduação e pós-graduação à distância, fazendo com que

houvesse a necessidade de estudar e praticar novos olhares e diretrizes para a

elaboração de materiais didáticos que atendam às peculiaridades da modalidade à

distância.

Entretanto, a trajetória da EAD no Brasil antecede o emprego da informática

na educação, por meio de ações como o ensino por correspondência,

transmissões radiofônicas e tele-educação. Todavia, muitas dessas experiências

partem da concepção de educação enquanto transmissão de saberes e os

materiais didáticos funcionam como meios para que a informação chegue a uma

quantidade maior de pessoas. Se essas iniciativas, por um lado, democratizam o

acesso à educação, por outro, geram um isolamento do estudante devido às

precárias ferramentas de interação disponíveis verificamos historicamente.

2. Evolução dos textos impressos para a Educação à Distância:Dentro do EaD conforme LANDIM (1997) demonstra, temos três gerações

do Ensino à Distância permeados pela educação, e nessa gerações temos o

material impresso sendo citado.

A primeira geração surgiu nos idos do século XIX e o ensino consistia por

meio de correspondências, em que textos escritos para o ensino presencial eram

enviados aos alunos por meio do correio postal. O conteúdo dos textos reproduzia

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as “lições” do professor, sem que houvesse a preocupação de imprimir ao material

instrucional um caráter específico que o distinguisse do material destinado ao

ensino presencial (EMERENCIANO, M. S. e WICKERT, M.L, 1998).  

   Nas primeiras décadas do século XX, a elaboração dos textos passa a

atender pressupostos das teorias de aprendizagem vigentes, tomando

características especificamente talhadas para o ensino à distância.   Dentre os

fatores que influíram nos rumos da educação e do ensino, com reflexos na

elaboração de textos para EaD estavam: as concepções pragmatistas da Filosofia

de Educação de Dewey; a Psicologia Behaviorista e os avanços da Psicologia

Experimental; os métodos de ensino diretivo inspirados em Skinner; e os

princípios de Tyler para a construção de currículos e ensino. A teoria geral dos

sistemas, apresentada pela primeira vez por Bertalanffy, em 1937, só terá

repercussão após a segunda guerra mundial, mas, aos poucos, a abordagem

sistêmica é adotada em todos os setores de atividades, inclusive no setor

educacional e no material instrucional para “estudo programado”.

Sob o impacto desses fatores, o material impresso para EaD passa a ser

elaborado na forma de “módulo de ensino”, que caracterizava-se por ser um

material escrito que oferecia ao aluno, duas ou mais alternativas de aprendizagem

(texto alternativo, textos suplementares, esquemas) para atingir determinados

objetivos, que por sua vez deveriam ser redigidos de forma específica,

explicitando claramente o comportamento a ser desempenhado pelo aprendiz ao

final do processo.

Sob influência dos princípios de Tyler, os objetivos comportamentais

passaram a orientar todo o processo de ensino e aprendizagem e, por extensão,

marcaram a própria estruturação do material instrucional.  No Brasil, a influência

de Tyler por longo tempo fundamentou as diretrizes para a construção de

currículos e para o ensino, com reflexos também na construção de material

instrucional, tendo como expoente nos anos 30, o Instituto Monitor. O mesmo

desenvolvia os famosos cursos a distância que envolvia apostilados e no final do

curso era remetido ao discente um diploma. Outro Instituo forte nesta época foi o

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Instituto Universal Brasileiro, presente até hoje com cursos apostilados das mais

diversas áreas.

Seguindo na segunda geração, o material apostilado deu espaço para os

recursos síncronos do rádio e da televisão. Nos anos 70, um movimento de

renovação da Educação denunciava o caráter reprodutivista do ensino formal, cuja

função seria a de reproduzir as condições da sociedade vigente, e clamava por

uma prática pedagógica mais coerente com a realidade sócio-cultural do aluno

(BOURDIEU & PASSERON, 1975). 

De acordo com esse movimento, a Educação só pode ser compreendida a

partir dos condicionantes sociais e das relações de dependência para com as

forças dominantes da sociedade que a mantém.  Várias correntes, denominadas

por SAVIANI (2000) de Crítico-Reprodutivistas, tentavam explicar a dinâmica das

funções sociais da educação e da escola, e entre as principais se situam: a teoria

do sistema de ensino enquanto violência simbólica de Bourdieu e Passeron e a

teoria da escola enquanto aparelho ideológico do estado de Althusser. 

 Prevalecendo os pressupostos crítico-reprodutivas da educação, seria

impossível considerar que ações pedagógicas da escola pudessem contribuir para

superar as desigualdades sociais.  Entretanto, dentre as teses surgidas naquele

momento, predominou a visão da relação dialética existente entre educação

escolar e sociedade, isto é, a educação escolar é, a um só tempo, produto e fator

da sociedade.  Por um lado, a escola é a forma institucionalizada de transmitir o

saber e a cultura acumulados pela sociedade, com o fim de preservá-la; por outro

lado, constitui espaço de manifestação e desenvolvimento de seu potencial para

criar novos significados, novos saberes e novas culturas, o que por sua vez

concorre para transformar essa mesma sociedade. Surgem assim, os

pressupostos do que Moacir Gadotti (1987) chamou de Pedagogia Dialética -

comprometida com os interesses das classes menos favorecidas e que se negava

a ver a escola como instrumento para reprodução da estrutura social vigente.  

De fato, os preceitos básicos da pedagogia dialética, em oposição à

concepção reprodutivista, reconhecem a existência de conflitos no espaço escolar,

mas acreditam nas possibilidades de enfrentá-los e assumem um compromisso

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com a libertação - a transformação social.  Para tanto, estudiosos consideram que

o processo de ensino e aprendizagem não poderia ser desvinculado da realidade

social e dos condicionantes históricos presentes na experiência de vida dos

alunos.  Ou seja, a ação pedagógica crítica e transformadora deveria integrar-se à

realidade concreta do aluno, buscando transformá-la. 

Nessa concepção, os conteúdos trabalhados precisariam estar relacionados

com a experiência e com os conhecimentos já dominados pelo aluno.  Portanto,

na relação pedagógica dialética, ao mesmo tempo em que novos temas são

apresentados, devem ser reelaborados pelo aluno num processo de reflexão e em

confronto com os conhecimentos que já são de seu domínio, na qual, a última

etapa do processo é a aplicação dos conhecimentos aprendidos (ou reelaborados)

sobre a realidade, no sentido de transformá-la.

Já na terceira geração, a concepção da aprendizagem crítico-reflexiva

começa a ganhar sentido, embasada pelas correntes teóricas sóciointeracionistas,

sendo que o material impresso é complementado, também, pelo ambiente virtual.

Virtualmente o material impresso vira arquivo pdf e é lido da mesma forma que

livro, podendo ser reproduzido em Desktop’s, Notebook’s, Netbook’s, Tablet’s, etc.

3. Estatísticas do uso de materiais didáticos impressos (MDI) e outras mídias na Educação à Distância no Brasil:Segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e à Distância

de 2006, há uma estimativa razoável de que ao menos 84,2% do que acontece

neste planeta em termos de educação a distância usa como base o material

didático impresso (MDI). Assim verifica-se que a educação à distância no Brasil

ainda é dominada por este tipo de mídia, geralmente utilizada na forma de

apostilas, fascículos e livros didáticos, geralmente distribuídos pelo sistema dos

Correios aos alunos de EaD.

Atualmente, todas as Universidades Federais que estão autorizadas - ao

menos em caráter experimental por dois anos – para atuar em Educação a

Distância superior pelo Ministério da Educação (MEC) - através da Portaria nº 873,

publicada no Diário Oficial da União de 11/04/2006 - utiliza o material impresso

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como mídia predominante (84%). A internet vem crescendo, e ocupa o segundo

lugar, com 63% de instituições que a utilizam em EaD. Nota-se a predominância

da mídia impressa em todos os tipos de ensino oferecidos a distância: 81,3% das

instituições com credenciamento federal, que oferecem cursos de nível superior,

utilizam o papel, contra 73,4% do e-learning. Já as instituições com autorização

em âmbito estadual, com cursos de educação básica e técnica, utilizam a mídia

impressa em 93,9% dos casos, ante 39,4% do e-learning, conforme quadro

abaixo:

O especialista Roberto Palhares e o coordenador do Anuário Fábio

Sanchez afirmam que a tendência a curto e médio prazo é o material impresso

virar um apoio ao sistema virtual, de acordo com o que já está acontecendo.

Embora o avanço do aprendizado via internet, dependa, porém do maior acesso

ao computador e às conexões de rede no país.

Segundo a Avaliação do Ensino Superior a Distância no Brasil por José

Manuel Moran-2007, nos revela ainda que, o auxílio mais oferecido como suporte

e atendimento aos alunos é o e-mail, com 87%; na seqüência vem o telefone, com

82%; depois se destaca o auxílio do professor presencial, com 76%; e do

professor on-line (via chat ou fórum), com 66%. Alternativas como o fax, chegam a

58%; cartas enviadas por correio tradicional chegam a 50%; reuniões presenciais,

a 45%; e reuniões virtuais, por último, com 44%. Outros recursos atingem a marca

de 23%.

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AbuSabha, Peacock e Achterberg (1997) relatam que 55% dos

participantes de um curso que utilizava teleconferência como mídia principal,

solicitaram que mais material impresso fosse incluído nos próximos cursos, dadas

as dificuldades de se reter o conteúdo somente com apresentações em vídeo ou

transmissão simultânea.

De acordo com os resultados da pesquisa do IBGE (2006) apenas 16% da

população tem acesso a internet, que é a segunda tecnologia de maior

abrangência nas iniciativas de EaD. Embora, segundo os levantamentos mais

atuais do Gartners Group (publicados pela revista InfoExame e pelo portal IDGnow

em Janeiro de 2007) esses 16% representam mais de 10 milhões de

computadores conectados à internet de banda larga e mais outros 5 milhões de

máquinas com outras modalidades de conexão (por exemplo: conexão discada,

rádio, cabo). Entretanto ainda é baixa a presença do computador no país se

comparado com outros países mais avançados em termos de adesão à

tecnologia, segundo a Pnad 2006 (Pesquisa Nacional por Amostragem de

Domicílios do IBGE), apenas 21,5% dos domicílios do país têm computador e

desses somente 16% possuem internet. Contra 16,3% de posse de computador

em casa e 12,2% de acesso a internet em 2004, o que representa grande

crescimento no intervalo de apenas dois anos (2004 para 2006). Estes dados

significam que por um bom tempo o MDI para EaD será a principal ferramenta

utilizada, mas tenderá a perder terreno para o crescente uso das mídias digitais.

Antigamente, com o advento do microcomputador supunha-se que o

volume de papel impresso cairia. Na prática, o que aconteceu foi que o volume

cresceu, porque as pessoas estão acostumadas e gostam de ler textos em papel e

não no monitor.

Portanto, este levantamento estatístico demonstra a penetração do MDI,

sua aceitação e melhor eficiência no transporte de conteúdo aos alunos de EaD,

mesmo com o crescimento de novas tecnologias de comunicação sendo aplicadas

a este método de ensino. Nesse sentido, CHAVES (1999) afirma que, a primeira

tecnologia que permitiu a educação à distância foi à escrita. Contudo, a tecnologia

tipográfica proporcionou a ampliação do alcance da educação à distancia, mais

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recentemente as tecnologias de comunicação, principalmente em versão digital

ampliando cada vez o alcance e as possibilidades da EaD.

O manuscrito (o livro, a apostila) é com certeza, a tecnologia mais

importante na área da educação à distância, pois juntamente com as modernas

tecnologias virtuais, especialmente as digitais, e outras ferramentas para o

desenvolvimento da educação, o manuscrito auxilia no processo de aprendizagem

e ao alcance da educação à distância, e também uma melhor compreensão dos

conteúdos administrados.

4. Observações relevantes sobre a produção de MDI para EaD:Como Consuelo (2008) reitera, o material impresso deve ter cuidados para

com o aluno que tenha em mãos: a seleção do conteúdo a ser tratado; a

organização  do conteúdo deixando claro sua sequência; linguagem de fácil

acesso e entendimento; exemplos e exercícios são formas de fixação de

conteúdo; Respeitar fontes bibliográficas utilizadas.

É importante considerar que existem duas categorias de sistema de

distribuição de EaD. Sendo elas os materiais que requerem interação assíncrona:

não requer a participação simultânea de todos os participantes e tutor. E os

materiais que requerem interação síncrona: requer a participação simultânea dos

participantes e tutor. Podendo encontrar sistemas mistos, sendo as duas formas

de distribuição de materiais.

Segundo Almeida (2000), um bom material de EAD deve considerar os

seguintes aspectos: Ordenar o conteúdo de forma extremamente cuidadosa, numa

progressão clara e lógica; tratar cada tópico passo a passo, de forma que o aluno

possa compreender inteiramente cada novo ponto, antes de passar para o

próximo; planejar cada pagina de forma muito clara; fornecer muitos exemplos que

ajudem a ilustrar a teoria na prática; incluir atividades de revisão, que permitam ao

aluno testar sua compreensão; fornecer oportunidade para o aluno verificar as

respostas das atividades e incluir para aluno testar seu progresso com atividade

de auto-avaliação. Dessa maneira quando o aluno escolher o manuscrito pode ter

uma aprendizagem eficaz com qualidade.

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Portanto a escrita e a oralidade devem, sempre que possível, dirigir-se

diretamente ao sujeito da aprendizagem, no intuito de envolvê-lo, fazê-lo pensar e

contribuindo para a aprendizagem. Para tanto, O Ministério da Educação

estabeleceu os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância,

documento elaborado pela secretaria de EAD do MEC e organizado por Neves

(2003), reestruturado em 2007, quando passou a orientar não só a graduação à

distância, mas toda a Educação Superior à distância.

Segundo esse documento, tem-se por objetivo orientar alunos, professores,

técnicos e gestores de instituições de ensino superior para que possam “usufruir

dessa modalidade educativa ainda pouco explorada no Brasil e empenhar-se por

maior qualidade em seus processos e produtos” (NEVES, 2003, p. 03). Com base

nesses referenciais, é possível extrair os itens básicos a serem observados pelas

instituições que preparam programas a distância.

Um dos critérios exigidos, diz respeito à equipe profissional multidisciplinar,

devendo pontuar que a multidisciplinaridade, segundo Japiassu (1976), ocorre

quando "a solução de um problema torna necessário obter informação de duas ou

mais ciências ou setores do conhecimento sem que as disciplinas envolvidas no

processo sejam elas mesmas modificadas ou enriquecidas" (p.37).

No que se refere à atuação docente a distância, percebe-se que alguns

pensam, equivocadamente, que cursos à distância têm a possibilidade de

dispensar a intervenção e mediação do professor, sendo conduzida por tutores

generalistas. Conforme Authier (1998), os professores no AVA “são produtores

quando elaboram suas propostas de cursos; conselheiros, quando acompanham

os alunos; parceiros, quando constroem com os especialistas em tecnologia,

abordagens inovadoras de aprendizagem” (p. 31). Dessa forma, não só o

acompanhamento docente é indispensável, como também de outros profissionais

da área de gestão educacional, técnicos especializados em temáticas abordadas

pelos cursos, especialista em tecnologia educacional e informática na modalidade

e-learning, entre outros.

Conforme o documento do MEC, os programas de educação à distância

precisam dispor de docentes com habilidades multidisciplinares, capazes de:

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a) estabelecer os fundamentos teóricos do projeto;

b) selecionar e preparar todo o conteúdo curricular de articulado a

procedimentos e atividades pedagógicas, inclusive interdisciplinares;

c) identificar objetivos referentes a competências cognitivas, habilidades e

atitudes;

d) definir bibliografia, videografia, audiografia etc., básicas e

complementares;

e) elaborar textos para programas a distância;

f) apreciar avaliativamente o material didático antes e depois de ser

impresso, videogravado, audiogravado, etc, indicando correções e

aperfeiçoamentos;

g) motivar, orientar, acompanhar e avaliar os alunos;

h) auto-avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo

de um projeto de curso ou programa a distância;

i) fornecer informações aos gestores e outros membros da equipe no

sentido de aprimorar continuamente o processo; (NEVES, 2003, p. 8-9).

Dentre as capacidades citadas, a maioria delas também devem ser

presentes em cursos presenciais. Destaca-se, porém, que no contexto da EAD,

mediado por tecnologias da informação e comunicação (TIC), os professores

precisam desenvolver habilidades para trabalhar, ensinar e aprender em mídias

diversificadas e inovadoras. Um segundo critério diz respeito à

comunicação/interação entre os agentes, que está diretamente relacionado e

dependem da qualidade dos materiais didáticos, aos quais permitem a difusão de

conteúdos de maneira prática e fácil, além de proporcionar a interatividade entre

professor e aluno por meio de ferramentas de comunicação, como chat, fóruns e

correio eletrônico.

Portanto, deve-se respeitar não só os critérios estipulados pelo MEC, mas

também ter a consciência de que é necessário um planejamento, de relevância

fundamental na elaboração do MDI, que tem seu início no atendimento dos

requisitos base da sustentação de todo o trabalho. Ao produzir o MDI é preciso

levar em conta: a promoção dos objetivos do curso; as metas de aprendizagem a

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serem atingidas com seu estudo; a coerência pedagógica; a apresentação dos

conteúdos de maneira clara e bem definida; as atividades de auto-avaliação; as

sugestões de leituras complementares etc. Portanto, o planejamento é a primeira

e indispensável etapa do processo de criação e produção de material instrucional

para EaD.

Um dos problemas encontrados com freqüência nos materiais didáticos, diz

respeito ao tratamento dos conteúdos: muitas vezes não há preocupação em

trazê-los para o cotidiano do aluno, levando-o a encontrar dificuldade em

relacionar o que está estudando com as questões da sua realidade, seja pessoal

ou profissional. O SENAI/RJ (1998) enfoca esse aspecto: “Para o educando,

quase sempre o MDI parece falar de outro mundo, longínquo, totalmente afastado

daquele onde ele vive, o que o faz perder a noção de aplicabilidade do

conhecimento em seu cotidiano” – ou seja, se o MDI não for motivador, o aluno

não entenderá porque é necessário aquele conhecimento e muito menos para que

serve.

A necessidade de que os materiais didáticos sejam concebidos levando em

conta a aprendizagem significativa, que favoreçam o estabelecimento de relações

com as questões cotidianas do aluno na EaD são de extrema relevância,

considerando a separação física entre o aluno e o docente, tal cuidado torna-se

ainda mais relevante: o processo de ensino e aprendizagem é mediado pelo

material didático e este deve trazer os temas abordados para a vida real. De que

adianta, por exemplo, tratar teoricamente o tema meio ambiente, sem promover a

relação dos conceitos apresentados com o dia-a-dia do aluno? Sem levá-lo a

pensar e agir sobre o seu entorno? Sem incentivar a sua ação cidadã? Novas

propostas para a educação à distância devem privilegiar a construção do

conhecimento pelo aluno e, assim, não podem ignorar a contribuição das

pesquisas sobre a forma como aprendemos. LITWIN (2001) aborda a questão: “A

psicologia cognitiva e suas derivações no campo da didática enfatizaram que as

práticas rotineiras, descontextualizadas dos problemas autênticos, dificilmente

possibilitam o desenvolvimento da capacidade de reflexão. Trata-se de ensinar

problemas reais, e não selecionar para o ensino ‘problemas de mentira’,

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‘pedagogizados’, os quais não implicam um desafio para o estudante e este se

habitua a resolvê-los aplicando fórmulas prontas. Os problemas autênticos não

costumam ter respostas unívocas ou facilmente previsíveis, envolvendo, na

maioria dos casos verdadeiros desafios cognitivos.” A linguagem e os conteúdos

devem instigar a curiosidade, a experimentação e a ação do aluno sobre as

questões que pertencem à sua realidade, ajudando-o a desvendá-la, a entender o

mundo a partir daquilo que faz sentido para ele.

Para que o aluno adquira autonomia em seus estudos, é importante que o

material deva ser bem elaborado, diferenciando-se dos livros tradicionais no que

diz respeito às questões de linguagem e do formato de apresentação das

informações. A mídia impressa deve ser um veículo utilizado para estabelecer a

comunicação entre os professores e alunos, assim, faz com que a necessidade de

que o material impresso seja bem formulado e redigido em uma linguagem

dialogada que, na ausência física do professor, possa garantir um certo grau de

compreensão e comprometimento com o estudo. A linguagem coloquial

reproduzindo mesmo, em alguns casos, uma conversa entre professor e aluno

tornando a leitura leve e motivadora, podendo contribuir para este

comprometimento e estimular as reflexões.

Isabel Solé (2006) afirma que, “(…) se um aluno não conhece o propósito

de uma tarefa e não pode relacionar esse propósito às suas próprias

necessidades, muito dificilmente poderá realizar aquilo que o estudo envolve em

profundidade”; ilustrando muito bem a necessidade de contextualização do

conteúdo, não só em MDI, mas na educação como um todo.

Já as questões de design do MDI (o design instrucional), ao contrário do

que acreditam alguns artistas pós-modernos, a forma jamais irá sobrepor-se ao

conteúdo, ou seja, por mais visualmente bem elaborado que seja o MDI, com

fundamentação teórica heterogênea, proporcionando o contraditório e o

embasamento para pesquisas, se o material não levar em conta os aspectos

específicos de cada região, de cada assunto abordado, de cada cultura e

comunidade, não poderá haver a potencialização do aproveitamento dos

conteúdos, uma vez que o distanciamento e a impossibilidade de realização de

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analogias entre a teoria e a realidade de cada grupo de pessoas (traduzido nas

diferentes formas de agrupamento) poderão acabar gerando a ineficácia do MDI.

MISANCHUCK (citado por Willis, 1996), sugere uma série de cuidados ao

elaborar material impresso para cursos à distância, considerando o estilo do texto,

a organização do conteúdo, a diagramação do texto, a inclusão de questões e

indicações claras da localização dos itens (sinalização visual), no qual “Os

indicativos de localização devem estar claros não apenas no que se refere ao

material impresso, mas também em relação às demais mídias utilizadas no curso.”

A elaboração de um MDI é antes de tudo um ato de criação. O material tem

que ser atrativo, e desta forma, exige do criador o conhecimento do público alvo:

quem é este público, seus hábitos, suas necessidades. Trata-se de uma relação

de análise deste público, para que seja atingido o objetivo que se pretender

alcançar no projeto pedagógico como um todo.

5. Pontos positivos e negativos da utilização do MDI em EaD:Como já analisamos, o material impresso é um dos meios mais utilizados

em EaD devido à suas características, sendo que o mesmo oferece oportunidades

de acesso eliminando barreiras, podendo assim, atender a um público numeroso,

disperso e de culturas diferentes. Dessa forma, poderemos enumerar as principais

vantagens do MDI:

1. Fácil adaptação à complexidade da sociedade moderna;

2. Flexibilidade de espaço, tempo e ritmos de aprendizagem;

3. O aluno é estimulado a se tornar sujeito de sua aprendizagem;

4. Tem abertura a uma diversidade e amplitude de oferta de cursos e,

através dos sistemas de distribuição logística, o MDI pode alcançar

qualquer local do país ou do mundo;

5. Pode realizar a formação permanente no campo profissional e pessoal,

para dar continuidade à formação recebida formalmente;

6. Permite economia na produção em escala;

7. É familiar, razoavelmente compreensível e aceito pelos alunos de

diversas partes do país e do mundo;

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8. Favorece ao aprendizado autônomo, por ser adaptável ao ritmo dos

alunos, permitindo a releitura, a leitura seletiva, em maior ou menor

aprofundamento do que se lê;

9. Pode ser “navegado” com facilidade. O acesso aleatório a partes

específicas é rápido e conveniente.

10. Oferece independência, pois os alunos não precisam de suporte,

equipamento nem assistência para utilizá-lo. Pode ser lido em qualquer

lugar e acessado a qualquer momento, permitindo ao aluno maior

flexibilidade no acesso ao conteúdo didático;

11. Não requer nenhum horário específico para sua utilização (o aluno não

precisa estar em um lugar e hora específicos);

12. Não requer equipamento específico para ser utilizado;

13. Também não requer nenhum treinamento para que seja usado com

eficiência;

14. Oferece portabilidade e é facilmente transportável;

15. É um meio “transparente”, permitindo à mensagem ser transmitida sem

distração ou interferência da tecnologia de entrega;

16. O material impresso é a tecnologia que os alunos estão mais

familiarizados com a linguagem, formato e manuseio;

17. É uma alternativa de baixo custo e de alta durabilidade;

18. A visualização do conteúdo através da mídia impressa estimula a

percepção e a cognição. O MDI concentra a atenção do aluno por longos

períodos de tempo;

19. Oferece a sequenciação de idéias e conteúdos. Possibilita a

transmissão eficiente de grandes quantidades de conteúdo e se integra a

outros meios facilmente.

20. De acordo com a elaboração do seu conteúdo, pode estabelecer a relação teoria e prática, facilitando a compreensão dos conceitos;21. Permite a reflexão e auto-avaliação do conhecimento.

22. Oferece grande capacidade de armazenamento de informações e aceita

toda e qualquer expressão gráfica (imagens, textos, gráficos, diagramação,

etc.).

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Embora as vantagens do MDI serem amplamente difundidas e aplicadas na

EaD na qual, por um lado, democratizam o acesso à educação, entretanto, geram

ainda, o isolamento do estudante devido às precárias ferramentas de interação

disponíveis, bem como limitações e desvantagens de sua utilização:

1. Logística complexa, tanto para armazenamento quanto para estabelecer

a quantidade exata de reproduções, com menor perda;

2. Alta perecibilidade dos conteúdos podendo perder a validade facilmente.

A vida útil de um material depende também do tema, um curso sobre

história ou matemática com certeza poderá ser reeditado e/ou consultado

mais vezes do que um material sobre informática ou outra área que esteja

em constante mudança;

3. Não oferece possibilidade de manutenção de seu conteúdo, uma vez

impresso e encadernado, não há como refazer;

4. O material impresso é pouco interativo. Possibilita apenas a visão de

uma dimensão estática, sem o recurso de mostrar com clareza uma

seqüência de ações em movimento como, por exemplo, o vídeo;

5. A interação aluno/professor via material impresso não permite respostas

imediatas e depende de outras mídias para estabelecer o contato direto

entre professores e alunos;

6. A informação é apresentada por meio de uma cadência de leitura

(seqüencial) e não é possível ter acesso a ela globalmente, de modo

imediato;

7. Intimida um número grande de alunos. Há um número significativo de

aprendizes que não sabem fazer uso adequado do material impresso, com

dificuldades de interpretação de textos e decodificação da leitura;

especialmente, ao que parece, a geração educada assistindo mais à TV do

que lendo livros, seja por desinteresse, hábito ou baixa escolaridade;

8. É mais difícil alcançar a motivação para o estudo fazendo uso somente

do MDI;

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6. Considerações Finais:Produzir material didático impresso para EaD é um grande desafio, na qual

é possível compreender que não se trata da mesma natureza de um material

destinado para um contexto presencial. Em EaD o material deve ser

especificamente organizado com orientações dialógicas a fim de integrar o aluno e

suas vivências nas leituras e atividades planejadas. Esses materiais devem estar

atualizados tecnologicamente, buscando se utilizar das novas tecnologias de

informação e comunicação como instrumentos para aproximar todos os que atuam

no curso, principalmente alunos e professores. Estruturar um material e escrever

para EaD é diferente de escrever em geral, pois "a redação para EaD é

essencialmente didática, com uma forte obrigação no sentido de comunicar-se

com os leitores, e com uma missão social muito clara"(LAASER, 1997, p. 32).

Levando-se em conta as particularidades da EaD, a metodologia e o

planejamento aplicados ao processo de ensino-aprendizagem devem garantir que

as características de interatividade, dialogicidade, multimídia e autonomia estarão

presentes. A equipe envolvida deve elaborar os materiais didáticos visando

assegurar as peculiaridades de uma modalidade de educação que deve ser

pautada em um planejamento cuidadoso e reflexivo do processo de ensino-

aprendizagem, na contextualização do conteúdo de acordo com o público-alvo e

nos objetivos do curso ou ação educativa a ser empreendida.

Elaborar materiais didáticos para a EAD é um grande desafio, pois é

preciso compreender que não é o mesmo tipo de material utilizado na educação

presencial, devendo ser especialmente preparado visando o público que se deseja

atingir, com orientações dialógicas objetivando sempre integrar o aluno e as suas

vivências nas leituras e atividades planejadas. Além disso, deve-se buscar a

utilização das novas tecnologias de comunicação, disponibilizadas pela internet,

como forma de aproximar todos os participantes de um curso, sejam eles alunos

ou professores.

Ainda são necessárias muitas pesquisas e reflexões sobre a produção e

utilização de materiais didáticos para EaD, tais como orientações específicas para

cada tipo de mídia a ser utilizada; estudos mais aprofundados sobre design

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instrucional; análise dos MDI, suas ferramentas e aplicabilidade; entre outras. Este

breve artigo não pretendeu esgotar o assunto, mas, sim, promover a reflexão e

instigar os interessados nessa temática a produzir novos trabalhos a fim de

preencher a carência que se tem nessa área do conhecimento educacional.

7. Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, Alaciel Franklin. Produção de materiais didáticos: elaboração de manuais. Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Brasília, 2000

CONSUELO, Maria da Graça. Educação a Distância – o Estado da Arte. São Paulo: Pearson Educational, 2008

CHAVES, Eduardo. Ensino á distância: conceitos básicos. Campinas. Disponível na Internet: www.edutecnet.com.br. Visitado em 02 de novembro de 2011

LANDIM, Claudia Maria Ferreira. Educação à distância: algumas considerações. Rio de Janeiro, s/n, 1997