A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE...

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1 UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Curso de Enfermagem JAQUELINE MARIA NERY MONIQUE SOARES DE ALMEIDA A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE ACEITAÇÃO AO PARTO NORMAL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Bragança Paulista 2015

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Curso de Enfermagem

JAQUELINE MARIA NERY MONIQUE SOARES DE ALMEIDA

A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE ACEITAÇÃO AO PARTO NORMAL: UMA REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA

Bragança Paulista 2015

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JAQUELINE MARIA NERY - RA: 001201100567 MONIQUE SOARES DE ALMEIDA - RA: 001201201337

A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO NO PROCESSO DE ACEITAÇÃO AO PARTO NORMAL: UMA REVISÃO DE

BIBLIOGRÁFICA

Monografia apresentada ao Curso de Enfermagem da Universidade São Francisco, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem.

Orientador: Profº. Ricardo de Almeida

Bragança Paulista

2015

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Para nossas mães,

Elisa Nery e Thelma Soares.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus por esta oportunidade de concluirmos essa etapa da

graduação podendo assim realizar nosso sonho de nos formarmos em uma instituição

conceituada como essa e de realizar nosso sonho de formação em enfermagem.

Agradecemos a Universidade São Francisco de Bragança Paulista pelo apoio durante

esses anos para a nossa graduação, melhorando tanto nosso crescimento profissional como

mental.

Agradecemos também ao nosso orientador e professor Ricardo Almeida pelo apoio e

orientações de suma importância para que pudéssemos criar esse trabalho cientifico e

acreditar em nossas ideias com tanta fé em nossas capacidades. Pela ética e pela

capacidade de nos orientar de maneira tão intensa e certa, afinal sem ele talvez não

teríamos chegado onde chegamos.

Agradecemos a nossa coordenadora do curso Débora Magrini, pelas orientações durante

todo o período do curso para que pudéssemos estar sempre preparados para a criação

desse projeto de maneira coesa e ética.

Não poderíamos deixar de agradecer aos nossos familiares pela força que nós deram nas

horas mais difíceis assim como nossos pais: Ariosvaldo Delfiol de Almeida e Thelma Soares

de Almeida, assim como Gentil Nery e Elisa Cavallaro Nery, pela força compreensão e

auxilio durante todo esse período do curso, pois se não fossem por eles não estaríamos

aqui terminando essa graduação e concluindo nossos sonhos e efetivando nossas idéias

nesse projeto.

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“A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!” Florence Nightingale

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RESUMO

Introdução: O Estudo trata da importância do enfermeiro frente à aceitação da

gestante ao parto natural levando a uma assistência qualificada para que a escolha seja a

melhor opção tanto para mãe quanto para o bebê. Pois a enfermagem nesta situação deve

envolver a sensibilidade, a busca por um cuidado mais humanizado, permitindo vivenciar a

gestação, trabalho de parto e o parto de forma plena e natural sendo uma iniciativa segura e

qualificada. Metodologia: A pesquisa foi realizada por via eletrônica, através de consulta de

artigos científicos no período de 2000 a 2014. Resultados: Observou-se que a escolha para

a realização de parto cesárea só tem aumentado enquanto isso o processo do parto natural

tem sido deixado de lado, pois muitas gestantes por várias questões escolhem a cesariana e

com isso os próprios obstetras aproveitam desse temor das gestantes para facilitar seu

próprio trabalho, também visando a questão financeira ou a facilidade de modo geral. Para

tanto deve ser levado em conta todos os fatores que rodeiam essa situação e a importância

do enfermeiro em toda a fase da gestação, relacionada a uma assistência holística.

Considerações Finais: O Profissional de enfermagem e a pessoa que está mais ligada a

gestante em todo período, cabendo então ao profissional e a instituição a valorização do seu

trabalho, sendo ele o cuidado e a orientação segura para a tomada de decisão, deixando

que a concepção seja algo natural, mas acima de tudo seguro e humanizado, diminuindo

assim os riscos de uma cesariana.

Palavras – chave: Parto normal. Assistência. Enfermagem.

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ABSTRACT

Introduction: The study deals with the importance of the nurse in the acceptance of

the pregnant woman to natural childbirth leading to skilled attendance for this choice is the

best option for both mother and the baby. For nursing in this situation should involve the

sensitivity, the search for a more humanized care, allowing to experience pregnancy, labor

and delivery fully and naturally being a safe and qualified initiative. Methodology: The survey

was conducted electronically, through consultation papers from 2000 to 2014. Results: It was

observed that the choice to perform cesarean delivery has only increased in the meantime

the natural birth process has been left aside, for many pregnant women for several issues

choose cesarean and that obstetricians own advantage of this fear of pregnant women to

facilitate their own work, aiming at the financial issue or generally ease. For this must be

taken into account all the factors surrounding the situation and the importance of nurses

throughout the gestation period, related to a holistic care. Final Thoughts: The nursing

professionals and the person who is more connected to pregnant women throughout time,

being so professional and the institution to upgrade their work, being careful and safe

guidance for decision-making, allowing the design is something natural, but above all safe

and humane, reducing the risk of cesarean section.

Key word: Natural childbirth. Assistence. Nursing.

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LISTAS DE TABELAS TABELA 1- Proporção de partos normais, Brasil 2009..........................................................49

TABELA 2- Proporção de partos cesarianas, Brasil 2009 ....................................................50

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- Proporção de cesáreas por 100 nascidos vivos (2005).......................................47

FIGURA 2- Proporção de cesáreas por 100 nascidos vivos (2000-2008)..............................48

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO...................................................................................................................12

2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .........................................................................................15

2.1 A história do parto normal e cesariana.......................................................................15

2.2 As expectativas da gestante ao parto normal.............................................................17

2.3 O apoio ao parto normal.............................................................................................21

2.4 Indicaçoes ao parto normal e a cesariana..................................................................23

2.4.1 Parto normal ...........................................................................................................23

2.4.2 Parto cesárea ..........................................................................................................24

2.5 Os beneficios do parto normal....................................................................................26

2.6 Fatores que influêciam na aceitação do parto normal................................................26

2.7 Função do enfermeiro ................................................................................................26

2.7.1 A visão do enfemeiro obstetra.................................................................................32

2.8 Respaldo do COREN ao parto normal.......................................................................34

2.9 Humanização ao parto...............................................................................................36

2.10 Saúde pública e o parto normal ...............................................................................41

2.11 Cesarianas no Brasil.................................................................................................42

2.11.1 As razões financeiras ............................................................................................44

2.12 Relação de partos no Brasil e outros países............................................................46

3.0 JUSTIFICATIVA.............................................................................................................52

4.0 OBJETIVOS...................................................................................................................53

4.1 Objetivo Geral.............................................................................................................53

4.2 Objetivos Específicos..................................................................................................53

5.0 HIPÓTESE .....................................................................................................................54

6.0 MATERIAL E MÉTODO.................................................................................................55

6.1 Desenhos do estudo..................................................................................................55

6.2 Período de coleta de dados ......................................................................................55

6.3 Critérios de inclusão e exclusão ...............................................................................55

6.4 Análise de dados ......................................................................................................55

6.5 Aspectos éticos .........................................................................................................56

7.0 CRONOGRAMA ............................................................................................................57

8.0 CONCLUSÃO ................................................................................................................58

9.0 REFERÊNCIAS .............................................................................................................60

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1.0 INTRODUÇÃO

O presente estudo trata da importância do enfermeiro frente à aceitação da gestante

ao parto natural levando a dar assistência qualificada para que a escolha seja a melhor

opção tanto para mãe quanto para o bebê. Sabendo que o parto natural, pode ser

classificado como o processo doloroso mais antigo conhecido desde a existência humana

baseando-se no que está contido na bíblia relacionado ao fato que diz “... multiplicarei

grandemente a tua dor, com dor dará à luz filhos...” (gênesis 3:16), no entanto a dor que é

suportável, apresenta grandes benefícios consequenciais com a escolha desse processo

para a mãe e para o recém-nascido.

Na antiguidade por volta de 4.000 a C, os nascimentos eram realizados por parteiras

empíricas com a parturiente em posição vertical, apoiadas em tijolos, até mesmo no colo do

marido ou em pessoas da comunidade já treinadas para tal, no domicilio. Com o passar dos

anos, foi-se evoluindo, os partos já eram realizados com parteiras regulamentadas,

colocando a parturiente em posição vertical em cadeiras e previamente em domicilio. No

século XV a século XVIII, os nascimentos começaram a ser por parteiras, mas com a

instrução dos médicos, sempre em posição vertical ou de cócoras apoiadas em bancos ou

em cadeiras mais sofisticadas. Nessa época foi quando apareceu os primeiros livros de

obstetrícia (SABATINO H; SABATINO V, 2010).

E então a partir do século XVIII até os dias de hoje houve grandes mudanças, com o

avanço da tecnologia apoiados pela medicina. Os partos começaram a ser atendidos por

médicos e obstetras em instituições denominados maternidades para diminuir a incidência

de morte materna no período puerperal. Os partos começaram a ser realizados com a

gestante em posição horizontal em cadeiras especiais. Posteriormente surge a Neonatologia

para dar a assistência integral ao recém-nascido para evitar as complicações pós vida

uterina (SABATINO H; SABATINO V, 2010).

Segundo o Conselho Regional de Enfermagem em uma de suas cartilhas publicada

em 2010 sobre parto natural conceitua.

Entende-se por parto natural aquele realizado sem intervenções ou procedimentos desnecessários durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós parto, e com o atendimento centrado na mulher. Também pode ser chamado de ‘parto humanizado’, devido todo o respeito e ternura com que são tratados a mulher e o bebê neste período.

Percebemos que na atualidade o número de escolha para a realização de parto

cesárea só tem aumentado enquanto isso o processo do parto natural tem sido deixado de

lado, principalmente no Brasil quando comparado a outros países, pois muitas gestantes

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não querem sentir dor e muitas vezes os próprios obstetras aproveitam desse temor das

gestantes para facilitar seu próprio serviço também visando a questão financeira.

Por outro lado, para o bom desenvolvimento do trabalho de parto, é necessário o

bem estar físico e emocional da mulher, o que favorece a redução dos riscos e

complicações. Para tanto, o respeito ao direito da mulher a privacidade, a segurança e o

conforto, com uma assistência humana e de qualidade, aliado ao apoio familiar durante a

parturição, transformam o nascimento num momento único e especial, por isso deve ser

levado em conta todos os fatores que rodeiam essa situação.

Segundo Ferreira (2013), cesárea é em geral mais arriscada e pode trazer prejuízos

para a mãe e o bebê, por exemplo, dor crônica no local da incisão cirúrgica, risco de

hemorragia, recuperação pós-anestésica cautelosa. O estudo "Morte materna no século 21",

publicado em 2008 no periódico American Journal of Obstetrics and Ginecology, analisou

1,46 milhão de partos e encontrou um risco de óbito dez vezes maior para a gestante em

cesarianas. Enquanto a taxa de morte em partos naturais foi de 0,2 para 100 mil, no caso

das cesáreas chegou a 2,2 por 100 mil. No ranking da Organização Mundial de

Saúde (OMS), o Brasil aparece em segunda colocação entre os países com mais

cesarianas em relação ao total de nascimentos. De 2000 a 2010, dos novos brasileiros que

vieram ao mundo, 43,8% foram partos por cesariana, deixando o país atrás apenas do

Chipre, que teve 50,9%.

Assim sendo, foi publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que a taxa

de cesariana ideal deve ficar em torno de 15%, já que a cirurgia só é indicada em casos

emergenciais e põe em risco a gestante e o bebê. Segundo a organização, esta é a média

real correspondente aos partos complicados em que a intervenção cirúrgica é realmente

necessária.

De acordo com Ferreira (2013) o ‘Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê’,

publicado pelo UNICEF e pelo Ministério da Saúde em agosto de 2011.

A cesariana desnecessária é inaceitável. Mas, se for preciso fazer uma cesariana, deve ser realizada, geralmente, apenas depois do início do trabalho de parto. A natureza tem ritmos e razões que cesarianas com hora marcada por conveniências desrespeitam. Se tudo vai bem, a cesariana é desnecessária mesmo para parto de gêmeos (com ambos em posição cefálica), prematuro, gestante adolescente e mulheres com hipertensão moderada.

Portanto, a partir de uma rápida comparação entre os tipos de parto podemos

inicialmente considerar que as vantagens do parto natural em comparação com a cesárea

são a recuperação mais rápida da mãe e o aleitamento regular, levando consequentemente

a uma melhor valorização e incentivo ao parto normal visando a qualidade de vida da mãe e

do bebê que vai nascer.

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A assistência de enfermagem, neste caso, transcende a utilização de procedimentos

técnicos, mas sim deve envolver a sensibilidade, a busca por um cuidado mais humanizado,

isto é, que permita vivenciar a gestação, trabalho de parto e o parto de forma plena e natural

é iniciativa tanto do enfermeiro com sua sensibilidade e conhecimento técnico quanto a

avaliação do possível parto normal que não cause riscos para ambos, valorizando assim

tanto a questão física como emocional da mãe. Respeitando assim consequentemente a

mulher a família a situação do trabalho de parto e a questão cultural também, por esse

motivo que é importante a atuação do enfermeiro nesse processo, proporcionando a

humanização e o cuidado integral dos mesmos.

Portanto essa pesquisa bibliográfica será baseada em anais e revistas eletrônicas

relacionadas a área da saúde em artigos científicos já publicados nos últimos anos assim

como nos órgãos governamentais em suas publicações de cartilhas e manuais, baseado

também na parte legislatória dos órgãos que rege a enfermagem sendo eles conselho

federal de enfermagem e conselho regional de enfermagem.

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2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A história do parto normal e a cesariana

Apartir de pesquisas realizadas durante todo o processo de estudo sobre o assunto

que iremos abordar partindo de que de acordo com Davim e Menezes (2001, p. 64), o parto

pode ser considerado como um processo psicossomático, sendo que o comportamento da

gestante ou parturiente vai depender, tanto da evolução quanto do trabalho de parto, do

nível de informação da mulher, sua história pessoal, da questão socioeconômica,

personalidade, assim como também o apoio da família nesse ciclo. É vivido como uma fase

com possibilidades de riscos, irreversibilidade e imprevisibilidade, não podendo no entanto

ser prevista as intercorrências possíveis com a mãe e com o bebê. Essas situações podem

ser vivenciadas pela mulher de forma tranquila ou não, dependendo de sua adaptação. O

parto representa ainda, uma transição importante na vida da mulher e da família, um

momento em que necessita de apoio e compreensão para poder enfrentar o mais

naturalmente possível o trabalho de parto e o parto, sabendo que pode e deve dele

participar ativamente, obtendo assim, conforto físico e psíquico.

De acordo com Oliveira et al. (2008, p.668) o período moderno da obstetrícia inicia-

se com a obra de Henrique deve ter, o Novum Lumen Obstetricantibus, publicada em 1701,

e com a utilização do fórcipe, por Pedro Chamberlen, em 1677. No Brasil, a prática do parto

hospitalar difundiu-se progressivamente, após a segunda guerra mundial, quando novos

conhecimentos e habilidades nos campos da cirurgia, anestesia, assepsia, hemoterapia e

antibióticoterapia foram sendo incorporado pelos médicos, reduzindo, drasticamente, a

morbidade e mortalidade maternas nas intervenções praticadas no parto hospitalar.

De acordo com Hanami (2012, p. 01) a historicidade da assistência ao parto tem

início a partir do momento em que as próprias mulheres se auxiliam e iniciam um processo

de acumulação de saber sobre a parturição. Dessa forma, começa-se a agregar valores aos

conhecimentos acerca do processo de nascimento entre as próprias mulheres, e o parto

passa a se tornar um evento mais importante na vida das mulheres que participam do

mesmo. Então uma mulher que a comunidade considerasse como mais experiente era

reconhecida como parteira – essa parteira se traduz na figura da mulher que atende partos

domiciliares, mas que não tem nenhum saber científico. Seus conhecimentos são

embasados na prática e na acumulação de saberes, tradicionalmente passados de geração

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para geração. As parteiras foram oficializadas e atendiam também na zona rural. Surgem

neste período a grande ajuda da anestesia e, para evitar os efeitos secundários desta, os

métodos psicoprofiláticos. Posteriormente surge a Neonatologia, para dar atenção médica

ao recém-nascido. Estes avanços, como o descobrimento das transfusões sanguíneas e os

antibióticos, permitiram dar maior seguridade às mulheres e aos seus filhos. Na década de

50 foram publicados na Inglaterra os primeiros resultados estatísticos dos casos de alto,

médio e baixo riscos gestacionais, permitindo com isto separar as mulheres grávidas com

maior chance de ter problema na hora do parto. Simultaneamente nos Estados Unidos da

América, surgem as primeiras publicações questionando a posição horizontal para atender o

parto (efeito da gravidade), confirmadas posteriormente por outros pesquisadores dentro e

fora do país. Na década de 80, inspirado nas observações de Paciornick de partos nas

reservas indígenas de Curitiba e de Galba Araújo, no Ceará.

Segundo Sabatino (2012, p. 03 e 04), a história do parto pode ser dividida em períodos;

podendo ser classificado da seguinte forma:

ANTIGA: (4.000 a C a século V). Como acontecimento relevante, este período tem

as civilizações Oriental e Grega e termina com a invasão Bárbara e a queda do

Império Romano. Os nascimentos eram realizados por parteiras empíricas com a

parturiente em posição vertical, apoiada em tijolos, ou mesmo no colo do marido ou

de pessoas da comunidade treinadas para isto (boas de colo), em domicilio.

MEDIEVAL: (século V a século XV). Como acontecimentos relevantes têm o

feudalismo na Europa. Este período termina com a queda de Constantinopla (turcos)

e o término da guerra dos 100 anos (Inglaterra e França). Os nascimentos eram

realizados por parteiras regulamentadas, com a parturiente em posição vertical e

colocada em cadeiras previamente fabricadas em domicilio.

MODERNA: (século XV a século XVIII). Como acontecimento relevante, temos a

onda revolucionária na Europa. Este período termina com a Revolução Francesa

para alguns e com o Descobrimento da América para outros. Os nascimentos eram

realizados por parteiras com instrução e por médicos (sendo que a mulher atendida

por homem perdia cinco virtudes: pudor, pureza, fidelidade, bom exemplo e espírito

de sacrifício). Aparecem os primeiros livros de obstetrícia. As parturientes sempre em

posição vertical ou de cócoras, apoiadas em bancos, tamboretes e cadeiras

sofisticadas em domicílio.

CONTEMPORÁNEA: (século XVIII até nossos dias). Neste período houve muitos

acontecimentos relevantes. As várias guerras acontecidas, principalmente as

mundiais, permitiram avanços tecnológicos para facilitar a morte do inimigo. Muitos

destes avanços são hoje utilizados pela medicina. Os nascimentos começam a ser

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atendidos por médicos obstetras em Instituições denominadas de Maternidades,

para diminuir as mortes ocorridas no período puerperal.

Segundo Louredo (2014, p. 01) o primeiro parto cesáreo que se tem notícia ocorreu

em 1500, em uma pequena cidade Suíça chamada Sigershaufen, e foi realizada por um

homem chamado Jacob Nufer, em sua própria esposa. Jacob era um homem simples,

habituado a castrar porcas, e vendo o sofrimento de sua esposa no momento do parto

resolveu, auxiliado por mais duas parteiras, fazer ele mesmo o parto a partir de uma incisão

no abdome da parturiente. Após a retirada do bebê, Jacob fechou o corte, assim como ele

fazia com as porcas que castrava.

A mãe se recuperou bem e o parto não causou nenhum problema ao bebê que teve

desenvolvimento normal. Após esse fato, a esposa de Jacob deu à luz mais cinco bebês,

todos eles de parto normal. Somente no século XVIII é que esse tipo de parto tornou-se uma

prática obstétrica, mas era feito somente em casos muito especiais, pois a incidência de

morte materna era muito alta. Atualmente o parto cesáreo foi aprimorado, tornando-se mais

seguro tanto para a mãe quanto para o bebê, sendo feito pelos médicos quando há algum

risco de vida para mãe ou para a criança.

2.2 As expectativas da gestante ao parto normal

Segundo Melchiori et al. (2009, apud Halvorsen et al. 2008) Em países ocidentais,

desde a década de 70, há registros de aumento das taxas de cesariana que tem

preocupado muitos pesquisadores de diferentes áreas da saúde médica, psicológica e

social. Várias pesquisas têm chamado a atenção para o elevado índice de cesarianas

realizadas em todo o país. Este índice é maior a medida que aumenta o nível

socioeconômico da mulher, independentemente do risco obstétrico.

Hopkins (2000, p.01) afirma que a taxa de cesariana nos hospitais privados

brasileiros está acima de 70% e algumas vezes, excede 90% dos partos, embora a

Organização Mundial de Saúde (OMS) recomende que apenas 15% dos partos ocorram por

meio de partos cirúrgicos, isto é, que a cesariana seja uma indicação apenas quando há

necessidade de garantir a saúde da mãe e do feto.

Melchiori et al. (2009, apud Carniel & cols.,2007; Silveira & Santos, 2004) cita que o

Ministério da Saúde no Brasil tem incentivado o parto normal, por meio de campanhas,

programas e portarias, por defender que este tipo de parto oferece menor risco de infecções

e complicações maternas dentre outras vantagens, no entanto, os índices de cesáreas no

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Brasil mantêm-se ainda. Diante deste quadro, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional

de Saúde Suplementar continua promovendo campanhas sobre o parto normal,

incentivando a sua prática em serviços públicos e privados.

Bortolotto (2006) avaliou as frequências de partos vaginais e cesáreas em mulheres

com doenças cardíacas e destacou que a realização da cirúrgia estava relacionada a idade

gestacional no parto menor que 37semanas, possíveis intercorrências obstétricas e fetais e

a insuficiência cardíaca na mãe, mas principalmente a presença anterior de cesárea.

A prática repetida de cesariana fortalece o falso dogma de que após a cesariana, o

parto normal seria inviável, o que se trata de um equívoco (OLIVEIRA, COLS 2002). A maior

parte das mulheres brasileiras prefere e deseja o parto normal à cesariana, mas acaba se

submetendo à cirúrgia por indicação do médico.

Existe no Brasil a cultura de que as mulheres preferem a cesariana como opção de

parto, no entanto, o parto normal ainda é prioridade na escolha da maioria delas, tanto entre

as que utilizam o serviço de saúde público, quanto o privado.

Pesquisas têm destacado a importância da decisão da gestante a respeito do tipo de

parto a que vai ser submetida, após o recebimento de informações prévias sobre os custos

e benefícios dos procedimentos. No entanto, pouco se tem oferecido as gestantes, em

serviços de assistência pré-natal, sobre esses esclarecimentos (HOTMSKY; OLIVEIRA,

2002).

Paterson-brown e Fisk (1997) enfatizam que, muitas vezes, a cesariana é realizada

porque há uma escolha materna para esse tipo de parto. A escolha pela cesariana entre as

gestantes, muitas vezes não é baseada em esclarecimentos corretos e parece haver

influência de outras pessoas nos argumentos favoráveis e desfavoráveis em relação aos

tipos de parto, mas as reais motivações que direciona nas escolhas de gestantes sobre o

tipo de parto ainda parecem obscuras. Além disso, há diferentes variáveis que interferem na

escolha por determinado tipo de parto e nem sempre é possível que a escolha da gestante

se realize, o que pode gerar mais angústia, frustração e ansiedade.

Segundo a Revista Latina Americana Enfermagem diz que, a expectativa das

gestantes quanto ao tipo de parto está relacionada à maneira como as informações sobre o

assunto estão disponibilizadas e acessíveis. Nesse sentido, a orientação durante o pré-natal

deve fazer parte da assistência, sendo que um instrumento educativo de alto potencial,

conhecido como plano de parto, sendo ainda pouco desenvolvido em nosso meio. Nesse

planejamento, profissionais e usuárias - gestante ou casal – estabelecem vínculos com o

serviço de saúde, para determinar onde e por quem o parto será realizado e conhecer as

alternativas possíveis na assistência, em situações normais e no caso que surgirem

complicações. (OLIVEIRA, RIESCO, MIYA, 2002)

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Quando há a preferência pela cesariana, os argumentos das mulheres têm sido: a)

crença na diminuição de dor, no período pré parto e no próprio parto, b) crença de que a

anatomia e a fisiologia da vagina seriam preservadas, c) concepção de que seria possível

garantir a saúde do(a) filho(a) por entenderem haver menor risco ao bebê do que no parto

vaginal, d) concepção de que a cesariana é uma forma moderna de parto e, finalmente e)

como um modo de garantir o direito de controle sobre seu próprio corpo (BARBOSA et al,

2003).

Pesquisas têm destacado a importância da decisão da gestante a respeito do tipo de

parto a que vai ser submetida, após o recebimento de informações prévias sobre os custos

e benefícios dos procedimentos. No entanto, pouco se tem oferecido as gestantes, em

serviços de assistência pré-natal, sobre esses esclarecimentos. (HOTIMSKY, OLIVEIRA,

2002)

De acordo com Stuart Hall (1997 apud DUTRA, 2005), os processos de gestar e parir

são perpassados de construções culturais e agregam rituais aos corpos, que ajudam a

definir o que esse corpo "é" e como ele "pode" ou "deve" agir em determinadas

circunstâncias ou condições. Assim o evento de gerar e parir passa de evento estritamente

biomédico e fisiológico, para evento político e cultural.

Pesquisando as orientações que as gestantes receberam antes do parto, Silveira e

Santos (2004), concluíram que 71% das mulheres relataram não haver recebido orientação

educativa para o parto durante o pré-natal. Entre as 195 mulheres que lembraram alguma

orientação recebida, a taxa de cesariana foi de 36% e essas orientações incluíam

características do parto vaginal e da cesariana, sinais de trabalho de parto, incentivo à

cesariana ou ao parto normal.

Apartir de pesquisas realizadas com puérperas foi perguntado das vantagens e

também desvantagens do parto normal e entre as respostas as mais comuns foram:

“Mais rápido para cicatrizar”; “o parto normal está livre de muita infecção e restabelece mais

rápido; a cesárea tem mais risco para a criança e para a mãe”. Essas respostas revelam

que as mulheres avaliam os riscos e benefícios do parto e estabelecem suas escolhas. O

desejo pelo parto normal foi motivado pela expectativa de recuperação rápida e pelo receio

de sofrer intercorrências na cesariana que poderiam prejudicar a sua saúde e seu cotidiano

no pós-parto. Em outro estudo, justificativas semelhantes a essas, principalmente quanto à

“recuperação mais rápida” e “parto normal é mais fácil e rápido”, foram encontradas entre

primíparas que desejavam o parto normal. (OLIVEIRA et al, 2002, p. 670)

Apartir de uma leitura ampla sobre esse assunto de maneira geral podemos perceber

que quanto às justificativas para a escolha da cesárea, constam motivos relacionados à mãe

e ao bebê, tais como: “o outro parto também foi”, “eu tinha problema na gravidez”, “cesárea

dói menos”, “para fazer laqueadura” e “o bebê tinha problema”. As justificativas alegadas

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revelam que o desejo pela cesárea é determinado pelo receio de sofrer dores e pela

possibilidade de ter complicações com o recém-nascido e consigo mesma, entre outros

fatores. Chama a atenção que as justificativas “parto mais rápido/melhor”, experiência do

parto anterior” e “dói menos” são compartilhadas por mulheres que desejavam o parto e por

aquelas que desejavam a cesárea. Essa aparente contradição pode ser interpretada a partir

da subjetividade experiência de cada mulher.

Dentre os determinantes socioculturais responsáveis pela preferência das mulheres

por cesárea está o medo da dor durante o trabalho de parto e parto. Existe uma crença de

que a cesárea eletiva, decidida com antecedência para dia e hora definidos, permitirá à

mulher ter um parto sem qualquer dor. Outros fatores que contribuem para o aumento das

taxas de cesariana são a cesárea “a pedido da mulher” e para realizar a laqueadura tubária.

(OLIVEIRA et al, 2002, p. 670)

Segundo Costa et al (2003, p. 2 e 3) vários investigadores têm vindo a sugerir que a

satisfação com a qualidade da experiência de parto é susceptível de influenciar o bem-estar

psicológico da mulher, bem como a adequação da sua interação com o bebê. A verificação

do impacto que a experiência de parto tem em áreas vitais ao bom desenvolvimento da

mãe, ou do bebê e, consequentemente, da díade a estabelecer, alertou para a importância

de atender ao modo como o parto é vivido pela mulher e às dimensões que mais interferem

na qualidade dessa vivência. Assim, alguns autores dedicaram-se ao estudo da experiência

de parto e das variáveis que mais contribuem para a qualidade dessa experiência, no

sentido de delinear o tipo de intervenção preventiva, a ser eventualmente realizada pelos

profissionais de saúde, com o intuito de providenciar circunstâncias que sejam mais

positivas para a mulher.

O parto é um acontecimento muito significativo para a generalidade das mulheres,

particularmente o momento em que vê e pega no bebê pela primeira vez. No entanto, a

experiência de parto é muitas vezes pautada pela ocorrência de elevado mal-estar e

emocionalidade negativa, dado que a maior parte das mães relata ansiedade, falta de

controle, perda da noção de tempo e de lugar, bem como sentimentos negativos, como a

tristeza. À medida que o trabalho de parto progride, que as contrações aumentam de

intensidade e que a dilatação se torna maior, os níveis de dor, raiva, medo, tristeza e

cansaço são cada vez mais elevados, enquanto que são cada vez menores os níveis de

energia e as emoções positivas (LEVENTHAL, SHACHAM, EASTERLING,1989).

A dor é uma das dimensões mais preponderantes da experiência de parto, dado que

a maior parte das mulheres espera vir a sentir e sente muita dor por essa ocasião, sendo a

experiência realmente dolorosa (47%) ou mesmo insuportável (33%) para a grande maioria

delas. Não o bastante sentir dor durante o parto, a maior parte das mulheres reconhece que

essa experiência teve implicações positivas, pois deu lugar a uma maior competência para

21

lidar com situações posteriores de stress e de dor e está também satisfeita ou muito

satisfeita com a forma como lidou com a situação (COSTA, FIGUEIREDO, PACHECO,

2003, p.2,3)

A importância de existir assistência pré-natal adequada, como bem argumentam o

Oliveira, Cols (2002), é fundamental, uma vez que, a partir do oferecimento de informações

precisas que auxiliem as gestantes a compreenderem melhor os riscos e os benefícios, os

mitos e as crendices relacionados ao parto, bem como sobre a condição pessoal, é que as

gestantes poderiam se sentir mais tranquilas e seguras em relação ao parto, seja ele qual

for. Estudos têm alertado sobre a pertinência da assistência à gestante durante o parto e

pós parto, fases em que as mulheres necessitam de acolhimento de profissionais da área da

saúde e de familiares.

2.3 O apoio ao parto normal

De acordo Davim, Menezes (2001, p. 61) a visão de parto e nascimento está

iluminada por um pensamento do fazer científico racionalista de forma mecânica, onde o

homem muitas das vezes é visto como uma máquina, não vislumbrando, então o modelo

médico de assistência de maneira humanizada. Em nível assistencial, o Brasil adotou o

modelo americano em relação parto caracterizado pela intervenção, buscando sua

institucionalização, adaptando-se cada vez mais as novas tecnologias, incorporando-as ao

grande número de intervenções e apoiando-se nas incidências de riscos, sendo muitas

vezes mínimo se fosse realizado um parto de maneira natural. Partindo deste diagnóstico, é

necessário a retomada da prática do parto normal humanizado, vendo a mulher de uma

maneira holística e o parto como um evento fisiológico natural e sem riscos, podendo aqui

entrar a atuação do enfermeiro obstetra para o parto natural. Apartir desta prática a

parturiente deveria ser acompanhada por um profissional devidamente capacitado e

orientado, para que as intervenções ocorram quando necessárias, sem causar riscos

buscando sempre a segurança da parturiente e do concepto, tentando não utilizar métodos

invasivos, que podem causar danos muito maiores para ambos. Esse modelo de assistência

deveria ser realizado prioritariamente pelos enfermeiros, que atuam dentro de uma visão

mais humana e holística, focada na assistência integral, auxiliando assim consecutivamente

a aceitação de um parto mais natural, humanizado e seguro.

Na Conferência sobre Tecnologia Apropriada para Nascimento e Parto, realizada em

Fortaleza/CE, a Organização Mundial da Saúde recomendou que as técnicas de

22

comunicação devem ser incluídas no treinamento dos profissionais de saúde, principalmente

para a enfermagem para promover a sensível troca de informações entre esses

profissionais, gestantes e familiares; que toda a equipe responsável pelo nascimento e

parto devendo ter como objetivo de se realizar nascimentos saudáveis, promover a saúde

perinatal, a relação custo-afetividade e o atendimento às necessidades e aos desejos da

paciente e da família. Dessa forma, ser humanizado significa ser consciente de todas as

características únicas de um ser humano de maneira individual, onde humanizar é tornar-se

humano como também é dar condição de saúde digna a qualquer ser humano, tornando o

parto normal uma decisão da gestante e da família sendo essa decisão consciente e

orientada de todos os benefícios e segurança, sendo feita essas orientações pelos

profissionais de enfermagem, prioritariamente.

O parto é considerado como um processo psicossomático, onde o comportamento da

gestante ou parturiente vai depender, além da própria evolução do trabalho de parto, do seu

nível de informação da mulher, sua história pessoal, contexto socioeconômico, e a sua

personalidade. É vivido como uma realidade distante que encerra risco, irreversibilidade e

imprevisibilidade que nunca podemos prever se vai transcorrer normalmente ou se vai surgir

complicações. Estas situações podem ser vivenciadas pela mulher de forma tranquila ou

não, dependendo de sua adaptação e das orientações que ela recebe principalmente pela

enfermagem no pré parto (DAVIM, MENEZES, 2001, p. 64).

Concordamos com Balan (1996) quando aponta que:

A assistência pré-natal adequada durante a gestação realizada por uma equipe multiprofissional é medida essencial para preservar a saúde da gestante e do feto. A participação da enfermeira no atendimento às gestantes de baixo risco é de fundamental importância para à orientação das queixas comuns destas clientes, educação à saúde, discussão dos temores próprios desta fase e de atitudes que favoreçam a evolução fisiológica do período gestacional e do parto.

Segundo um estudo realizado pela Universidade de Campinas (UNICAMP) (1983),

“a ausência de um atendimento pré-natal que prepare a gestante para o parto vaginal está

entre um dos fatores agravantes dos índices de cesarianas”.

Sendo então imprescindível que os profissionais de enfermagem reflitam sobre as

vantagens e desvantagens de cada tipo de parto com relação aos benefícios tanto para a

mãe quanto para o bebê, tendo conhecimento da mesma dando condições mais humanas e

seguras para o nascimento, levando em consideração a forma de atendimento que é

oferecida à mulher nos serviços de saúde, podendo ser ele privado ou público. Devendo

levar em consideração também, que o parto pode acontecer em qualquer lugar, como em

um táxi, na rua, entre outros lugares, por isso não só a mãe mais toda a família deve estar

orientada de todo o processo de parto e trabalho de parto, cabendo essa missão a

enfermagem estar por dentro das condições e da situação da família. Porém, na grande

23

maioria das vezes, o parto fora da maternidade acontece no domicílio, podendo ocorrer pela

falta de recursos econômicos, ausência de hospital ou a distância, ou mesmo por opção

própria da família, pois algumas pessoas acreditam ser esta a maneira mais natural de dar à

luz.

A percepção de que o movimento da humanização está ligado à política de

diminuição de cesarianas e também à melhoria da assistência, de forma a resgatar um

nascimento mais natural. Acreditam que isso pode ser conseguido com a

“desmedicalização” da assistência e com a mudança da postura dos profissionais frente às

necessidades da mulher. A enfermeira obstetra é um dos profissionais mais apropriados

para o acompanhamento da gestante e dos partos naturais sendo eles de baixo risco.

Estudos realizados na Inglaterra e Estados Unidos demonstraram que os partos assistidos

pelas enfermeiras obstetras apresentam menores índices de cesarianas, assim como a

diminuição pelo uso de fórceps, diminuindo consequentemente a indução do parto, e menor

frequência do uso de medicação, o que reflete no nascimento de bebês apresentando

melhores índices de apgar, sendo o apgar uma avaliação realizada nos primeiros minutos

de vida do bebê (CASTRO, CAPLIS, 2005, p.965).

2.4 Indicações ao parto normal e cesariana

2.4.1 Parto normal

O parto normal é a maneira mais natural para dar à luz. Muitas mulheres têm

medo da dor, mas hoje em dia já é possível ter um parto normal sem dor através da

anestesia e de outros métodos não farmacológicos, como banho de imersão, caminhar,

massagens, acupuntura e outros.

Segundo Sediciais (2007), as vantagens do parto normal para a mãe incluem:

Menor risco de infecção, recuperação mais rápida, favorece a produção de leite materno, estreita os laços sentimentais com o bebê, é mais econômico, menor tempo de internamento hospitalar, melhor recuperação no pós-parto, o útero volta ao seu tamanho normal mais rapidamente, a cada parto normal, o tempo de trabalho de parto fica mais curto. Diminuição do desconforto respiratório, pois ao passar pelo canal vaginal, seu tórax é comprimido e isso faz com que os líquidos de dentro do pulmão sejam expelidos com mais facilidade; o bebê também se beneficia das alterações hormonais que ocorrem no corpo da mãe durante o trabalho de parto, fazendo com que ele seja mais ativo e responsivo ao nascer durante a passagem pelo canal

24

vaginal, o corpo do bebê é massageado, fazendo com que ele desperte para o toque e não estranhe tanto ao ser manipulado ao nascer; ao nascer pode ser imediatamente colocado em cima da mãe, o que acalma mãe e filho; após estar limpo e vestido, pode permanecer todo o tempo junto da mãe, se ambos estiverem saudáveis, pois não precisa ficar de observação.

O parto normal não pode ser realizado com dia marcado na agenda, mas o obstetra

é capaz de apontar uma semana de maior propensão para o nascimento do bebê, o que

favorece o preparo e maior segurança para parto.

2.4.2 Parto cesárea

Esse tipo de parto é cirúrgico e deve haver motivos clínicos para a realização.

Segundo Carrano (2002, p. 188-191) as principais indicações para a realização do parto

cesárea deve ser:

Gestação gemelar;

Na presença de gestação gemelar, mono amniótica ou amniótica, com ambos os

fetos em apresentação cefálica, há consenso de que o parto cesariana é seguro. Existem

poucos trabalhos sobre o assunto, mas a maioria mostra-se favorável ao parto vaginal. Nos

casos de gestação gemelar com o primeiro feto em apresentação cefálica e o segundo feto

em apresentação pélvica ou situação transversa após a 35ª semana de gestação, o

resultado neonatal do 2º gêmeo não é influenciado significativamente pela via de parto.

Neste caso, se não existir outra indicação recomenda-se a cesariana, no entanto pode se

avaliar a possibilidade de parto normal. Nas gestações gemelares com ambos os fetos em

apresentação pélvica ou o primeiro pélvico e o segundo cefálico, recomenda-se a realização

de cesariana em vista de possível maior morbimortalidade fetal. Nas gestações trigemelares

também se recomenda cesariana.

Prematuridade ou baixo peso;

Não há evidência epidemiológica que mostre melhor desfecho neonatal com a

realização de cesariana na presença de fetos pequenos e/ou prematuros. Os estudos ainda

apresentam maior morbidade materna nos casos submetidos à cesariana. O número de

casos descritos na literatura em estudos randomizados é pequeno, necessitando maiores

investigações (GRANT, GLAZENER, 2001).

Sofrimento fetal agudo

Há consenso que na presença de sofrimento fetal agudo real, a indicação de

cesariana é necessária. Recomenda-se a realização da cesariana no menor intervalo de

25

tempo. A literatura tem demonstrado que um intervalo de 30 minutos parece ser adequado

para a maioria dos casos (JAMES 2001).

Macrossomia;

A indicação de cesariana em fetos acima de 4.500g, principalmente em primíparas,

diminui morbidade fetal e materna. Fetos abaixo deste peso, em pacientes não diabéticas,

podem ser submetidos ao trabalho de parto com baixo risco de complicações fetais e

maternas, (MONNIER, et al, 1998).

Situação transversa;

Fetos em situação transversa persistente a termo, em ocasiões em que não há

domínio da técnica de versão externa, devem ser submetidos à cesariana fora do trabalho

de parto. Altos índices de morbidade fetal são evidenciados quando a gestação de um feto

transverso e evolução trabalho de parto (CLARK, et al 1986).

Placenta prévia;

Indica-se cesariana em gestações com placenta prévia oclusiva. Gestações com

placenta marginal podem ser submetidas ao trabalho de parto desde que com monitorização

adequada. Vinte e sete por cento das pacientes com diagnóstico de placenta prévia com 32

a 35 semanas não mais apresentarão placenta prévia no termo. No grupo restante,

recomenda-se cesariana antes do trabalho de parto (TWICKLER, 2002).

Descolamento prematuro de placenta com feto vivo;

A morbimortalidade fetal está intimamente associada com o intervalo entre o

diagnóstico e o nascimento do feto. Assim, recomenda-se a realização de cesariana na

maioria dos casos, com exceção daqueles em que a via baixa é mais rápida (TWICKLER,

2002).

Procidência de cordão;

Na maioria das vezes a cesariana urgente é obrigatória. Em alguns casos, em que a

apresentação é baixa, o colo uterino está completamente dilatado e é possível o nascimento

imediato, a via vaginal pode ser escolhida (HAEM-MAGHAMI, 2001).

Malformações congênitas;

Fetos com meningomielocele, hidrocefalia e concomitante macrocrania, defeitos de

parede anterior com fígado extra-corpóreo, teratomas sacrococcígenos, hidropsia ou

trombocitopenia, beneficiam-se do nascimento por cesariana. Fetos com hidrocefalia sem

macrocrania, defeitos de parede anterior sem exteriorização hepática ou displasias ósseas,

parece não se beneficiar da cesariana. Em vários casos, a decisão por cesariana é

influenciada pela necessidade de planejamento do horário e local de nascimento para

dispor-se de uma equipe de cirúrgia pediátrica para pronto atendimento do feto (MCMAHON

1996).

26

Segundo Carrano (2002, p. 190) existem também as patologias maternas que

podem interferir na realização do parto normal levando ao risco de morbimortalidade do

recém-nascido por isso é indicado a cesariana.

2.5 Os benefícios do parto normal

Segundo o Dr. Marco Antônio Lenci, obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein

(HIAE), o melhor parto é aquele que preza pela segurança da mãe e do bebê e garante um

final feliz para todos, independentemente de ser normal ou cesáreo.

O parto normal é a maneira mais natural para dar à luz. Muitas mulheres têm medo

da dor, mas hoje em dia já é possível ter um parto normal sem dor através da anestesia ou

analgesia. Podemos classificar dentre outros alguma vantagens para a realização do parto

normal, entre eles estão às vantagens (SEDICAIS 2013):

Menor risco de infecção;

Recuperação mais rápida:

Favorece a produção de leite materno;

Estreita os laços sentimentais com o bebê;

É mais econômico;

Menor tempo de internamento hospitalar;

Melhor recuperação no pós-parto;

O útero volta ao seu tamanho normal mais rapidamente;

A cada parto normal, o tempo de trabalho de parto fica mais curto.

Segundo a Sociedade Israelita Brasileira (2009) as vantagens do parto normal entre

eles estão:

Bebê não recebe informações psicofísicas de que está para nascer, como as contrações durante o trabalho de parto. Pode ser uma experiência traumática.

A recuperação da mulher é mais lenta, pois o corte no abdome exige descanso para a cicatrização, além de causar dores, se for realizado cesariana, caso do parto normal se for realizado a episiotomia deve ser apenas cuidado com a higiene local.

2.6 Fatores que influenciam na aceitação do parto normal

27

Segundo Viggiano (1982), Braga (1988) e Morais (1982), o despreparo psicológico

das mulheres para o parto vaginal é formado pelo ambiente social e pelos meios de

comunicação e pela falha do pré-natal neste aspecto, muitas das vezes sem a atuação de

profissionais da área qualificados, sendo estes fatores agravantes do índice de incidência de

cesáreas. Dessa maneira concordamos com Faúndes (1985), quando aponta que “o parto

cesárea transformou-se em um fenômeno cultural que extrapola a área estritamente médica

e que a popularidade deste entre a população feminina brasileira é mais que evidente”.

Segundo Barbosa, Medeiro e Camara (2000) nesse sentido, entende-se que os

aspectos sociais tais como nível econômico, acesso à educação, informação, bem como aos

serviços de saúde oferecidos, os fatores culturais, as crenças e os valores de modo geral se

modificam entre cada sociedade e família particularmente com o decorrer do tempo,

interferem e muitas das vezes podem determinar a afinidade que a mulher terá em relação

ao parto natural e a cesariana.

Há consenso entre vários pesquisadores (MORAES, 1992; VIGGIANO, 1992;

FAÚNDES, 1985.) que se preocupam com esta questão, no que diz respeito aos fatores

associados ao aumento na incidência de cesáreas sem indicação médica correta. Segundo

estes autores:

1. Ausência de alternativas apropriadas à cesárea para fazer ligadura tubária dentro do sistema oficial de saúde; 2. “Sofrimento” do obstetra, decorrente de sua insegurança no acompanhamento do parto normal; 3. “Falta de tempo” do obstetra para estar ao lado da paciente durante o período de dilatação, necessidade de chegar no horário nos múltiplos empregos. 4. Falhas na administração em saúde, o não pagamento da analgesia em parto vaginal, que deixa a cesárea como única alternativa reconhecida pelo SUS para aliviar a dor do parto; 5. Por último, a ausência de um atendimento pré-natal que prepare a gestante para o parto vaginal e o despreparo psicológico das mulheres, condicionado pelo ambiente social e a comunicação, gerando cesáreas a pedidos da paciente, por vários motivos, desde o medo da parturição até a preservação perineal.

Entre os fatores socioculturais que mais se evidenciam na literatura sem dúvida são:

a preocupação estética e de conservação da anatomia perivulvar; o medo excessivo da dor,

que pode ser eliminada com uma cesárea eletiva, e o conceito popular de que o parto

vaginal é mais arriscado para o feto do que uma cesárea.

De acordo com Osava (1995, p. 5), “acima de tudo, o parto é um ato cultural

refletindo os valores de cada sociedade humana e o contexto sociocultural tem importante

influência no sentido que é dado às providências tomadas no parto”.

Portanto, na maioria vezes o parto normal é deixado para segundo plano por esses

fatores citados, podendo pressupor no entanto que cabe ao profissional qualificado o auxílio

28

e orientação aos pais e familiares sobre os grandes benefícios que o parto natural pode

trazer a todos quando se trata de uma gravidez sem riscos.

2.7 Função do enfermeiro

A legislação que permite o acompanhamento e a realização do trabalho de parto e

parto pelo enfermeiro obstetra, é a Lei 7.498/86 e o Decreto-Lei 94.406/87, que determinam:

Art. 6º - São enfermeiros:

I - O titular do diploma de enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da lei;

II - O titular do diploma ou certificado de obstetriz ou de enfermeira obstétrica, conferidos

nos termos da lei;

III - O titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado de

Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira

segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou

revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz;

Art. 11º - O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe:

I - Privativamente:

a) Direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde,

pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem;

b) Organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e

auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;

c) Planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de

assistência de Enfermagem;

d) (vetado);

e) (vetado);

f) (vetado);

g) (vetado);

h) Consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem;

i) Consulta de Enfermagem;

j) Prescrição da assistência de Enfermagem;

l) Cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

m) Cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos

de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas.

II - Como integrante da equipe de saúde:

29

a) Participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde;

b) Participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde;

c) Prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina

aprovada pela instituição de saúde;

d) Participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação;

e) Prevenção e controle sistemático de infecção hospitalar e de doenças transmissíveis em

geral;

f) Prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante

a assistência de Enfermagem;

g) Assistência de Enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;

h) Acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;

i) Execução do parto sem distócia;

j) Educação visando à melhoria de saúde da população.

Parágrafo único - às profissionais referidas no inciso II do Art. 6º desta

Lei, incumbe, ainda:

a) Assistência à parturiente e ao parto normal;

b) Identificação das distócias obstétricas e tomada de providências até a chegada do

médico;

c) Realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local, quando

necessária.

A responsabilidade profissional do enfermeiro deve estar compatível com os deveres,

princípios, direitos, responsabilidades e proibições disciplinadas pelos órgãos competentes

da Enfermagem. O agir do enfermeiro deve ser pautado pelos princípios éticos e morais

respeitando sempre a dignidade humana de forma holística.

Cabe ao enfermeiro observar os direitos de seus assistidos, como condição

indispensável para a atuação profissional de forma ética. Um dos direitos do cliente é o de

ser informado sobre as possibilidades de escolha e os riscos inerentes aos procedimentos e

condutas, consentindo com as intervenções de enfermagem que venham a ser feitas. Da

mesma forma, o enfermeiro obstetra, deve informar a parturiente as alternativas de

assistência ao parto e práticas benéficas recomendadas pela Organização Mundial da

Saúde, como forma de respeito a seus valores e vontade, priorizando pela manutenção da

integridade moral da mulher (WINCK, BRÜGGEMANN 2010).

As funções do profissional de enfermagem, dentro da assistência humanizada ao

parto, segundo Fialho (2008, p. 11) pode-se enumerar as seguintes:

Acompanhamento das mudanças científicas e tecnológicas, preocupando-se com as ações integradas ao ser-sujeito, objeto do seu cuidado: a família e a amamentação.

Aplicação da ciência para humanização da arte de amamentar.

30

Aprendizado contínuo sobre a amamentação, ensinado sempre o aleitamento materno (talvez esta seja a maior missão do enfermeiro).

Postura profissional para responder às necessidades e demandas de saúde da população, com a realidade da amamentação.

Atendimento às mães, familiares e comunidades sempre que solicitarem auxílio ou demonstrarem insegurança.

Conhecimento científico da amamentação (inclusive as técnicas) para facilitar a interação sólida e duradoura com a mãe, pai e comunidade.

Confiança na capacidade da mãe em amamentar o seu filho, concomitante aos ensinamentos e orientações de como proceder

Ensino, cuidado e assistência ao casal que amamenta. Este é um compromisso biopsicossocial e de cidadania.

Gerenciamento da promoção, apoio e prática do aleitamento materno, garantindo, por meio da educação continuada, uma assistência mais completa e humana.

Promoção da integração da Enfermagem com os demais profissionais da saúde materno infantil, de modo que todos assegurem pronto atendimento à gestante e à nutriz.

Organização das habilidades para criar parcerias entre hospitais, escolas e comunidades.

Obtenção de conhecimentos teóricos objetivando transmiti-los, modificando condutas, demonstrando os benefícios e a importância do laço afetivo mãe-filho, gerado pela prática saudável da amamentação.

Respeito aos sentimentos pessoais da mulher em relação à amamentação, e à individualidade de cada caso.

Sendo assim, o enfermeiro, ao prestar assistência, deve assegurar que as pacientes

neste caso estarão livres de danos decorrentes de imprudência, imperícia e negligência,

conforme preconiza o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, estando assim

ciente das consequências.

No contexto atual da assistência à saúde, no qual muitos hospitais e unidades de

saúde trabalham com demandas acima de suas possibilidades de atendimento, é relevante

discutir a delicada situação ética do enfermeiro, sobrecarregado de atividades, tanto

assistenciais quanto administrativas, este profissional encontra-se mais exposto ao risco de

falhar em suas atribuições legais e provocar danos ao cliente por inobservância do dever de

zelar e empreender todos os meios para o sucesso da assistência (WINCK, BRÜGGEMANN

2010).

O enfermeiro obstetra também não pode garantir o resultado final do processo de

parturição, porém, pode munir-se de cuidados e zelo, evitando expor a mulher e o recém-

nascido a riscos desnecessários ao exercer suas atividades na assistência ao parto. Deve

voltar constantemente sua atenção aos limites da competência, agindo estritamente dentro

do que a legislação lhe autoriza fazer. Procedendo desta forma, o profissional garante o que

é de sua obrigação, ou seja, assistência livre e resguardada de ações negligentes, imperitas

ou imprudentes que podem resultar em danos a gestante e nascituro, levando sempre ao

conforto e segurança de ambos.

31

Segundo Winck, Brüggemann (2010) o enfermeiro é considerado um profissional

liberal, porém, a sua atuação é predominantemente, na condição de empregado de serviços

de saúde, com subordinação e reduzida autonomia, levando a responsabilização civil à

instituição de saúde que o mantém de forma assalariada, resguardada as peculiaridades. Na

enfermagem obstétrica tem-se observado a atuação de profissionais sem vínculo

institucional, logo de forma autônoma, prestando assistência domiciliar às gestantes,

parturientes e recém-nascidos, casos em que ficarão sujeitos a suportar individualmente as

consequências do dano que derem ensejo.

Da mesma forma com que o hospital responde solidariamente pelos danos causados

pelo profissional que integra seu quadro funcional, alguns autores afirmam que o enfermeiro

poderá responder pelos danos causados pela equipe que estiver sob seu gerenciamento.

Os enfermeiros obstetras, sabedores da possibilidade de intercorrências repentinas e

imprevisíveis, atingindo a mulher e o feto ou recém-nascido durante a assistência ao

trabalho de parto e parto, devem dedicar total atenção e cautela para agir e decidir com

rapidez e habilidade, priorizando sempre o bem-estar e o zelo com a saúde no caso da mãe

e do recém-nascido.

Segundo Tyrrel (2001), na Casa de Parto Normal que é a unidade de saúde que

presta atendimento humanizado e de qualidade exclusiva ao parto normal sem distócias, a

enfermeira obstetra têm como atribuições: desenvolver atividades educativas e de

humanização, acolher as gestantes e avaliar as condições de saúde materna, permitir a

presença de acompanhante, avaliar atividade fetal pela realização de partograma e de

exames complementares, garantir a assistência imediata ao recém nascido em situações

eventuais de risco, sendo profissional habilitado para prestar manobras básicas de

ressuscitação, segundo protocolo clínico, prestar a sistematização do atendimento de

enfermagem; No trabalho de parto efetivar massagens profiláticas para alívio da dor,

orientar a puérpera no trabalho de parto quanto a importância de uma correta respiração e

deambulação, atuar também nos cursos profiláticos para gestantes.

Gualda (2001) descreve que o profissional deve compreender o fenômeno da

reprodução como singular contínuo e saudável, no qual a mulher é o foco central e que se

desenvolve num determinado contexto sócio histórico. Clapis e Mamede (2001), quanto ao

perfil retratam que, o enfermeiro obstetra deve ter respeito à dignidade humana e o

tratamento das mulheres como pessoas com direitos humanos plenos, sensibilidade cultural

e colaboração com a mulher e os provedores de assistência sanitária com vistas a superar

as práticas ou costumes culturais que são prejudiciais para a mulher.

Segundo Tyrrel e Santos (2001), acrescentam ainda, que o Ministério da Saúde está

reorientando o modelo tradicional de assistência, que impõe um grande desafio: A formação

e capacitação do profissional da saúde, com a consolidação e expansão da consulta pré-

32

natal, da assistência ao recém-nascido normal, do Programa de Saúde da Família, com

estratégia de ampliação de cobertura de rede de serviços.

Tendo o profissional a responsabilidade de construir a sua própria realidade, Ollitta

(1988) acrescenta que é dever da enfermeira obstetra planejar, supervisionar e avaliar a

assistência de enfermagem nas atividades de promoção, manutenção da saúde a gestante,

parturiente e puérpera, da criança e do adolescente, em todas as etapas nos serviços de

saúde da comunidade.

Em relação à enfermeira-obstetra, Santos (2001) relata que essa profissional tem um

papel relevante no que tange à humanização durante o processo de nascimento. Entretanto,

denota-se a necessidade de incentivo as enfermeiras obstétricas e aos demais profissionais

de saúde no cuidado humanizado a parturiente.

Na visão de Swanson (1993), o enfermeiro deve conhecer a situação da parturiente,

para poder interpretar e obter uma compreensão informada do seu sofrimento. Essa

compreensão objetiva selecionar estratégias mais adequadas para resolver as questões que

envolvem a futura mãe, assim como quais os cuidados se deve ter com ela. A

sistematização da assistência de enfermagem garante que as ações da equipe tenham

visibilidade e especificidade. Ao realizar o processo de enfermagem, as ações se tornam

efetivas e de maior qualidade, facilitando a adaptação da puérpera para o autocuidado e

para os cuidados com o recém-nascido. Dessa forma, haverá uma maior adesão e sucesso

no processo, diminuindo as complicações no puerpério e o tempo de internação; como

consequência, gera-se economia para os setores de assistência à saúde da mulher e da

criança.

2.7.1 A visão do enfermeiro obstetra

A Organização Mundial de Saúde – OMS, argumenta que o parto humanizado tem

início já no pré-natal com o aconselhamento e explicação do processo gravídico-puerperal,

considerando as necessidades da mulher na admissão e no parto; devendo a partir deste

momento respeitar suas individualidades e desejos; durante o trabalho de parto deve-se dar

liberdade de escolher a posição mais apropriada e agradável para parir, monitorar o estado

da mãe e do bebê e, após o parto, prestar os cuidados à puérpera e ao bebê, afinal tudo

isso colabora com a aceitação por parte da mãe da realização do parto normal dando a ela

mais segurança e liberdade. (ENNING, 2000).

33

Para Tornquist (2003), as propostas de humanização do parto, ajuda a recuperar

técnicas de alívio da dor, sobretudo aquelas consideradas naturais e menos invasivas, como

também a importância da presença do acompanhante, que deveria ser algo autorizado para

todos os casos, assim como o suporte emocional, do apoio da equipe e da aceitação por

parte dos profissionais sobre a experiência da mulher em relação à dor. Este autor entende

a dor não apenas como uma manifestação universal de processo orgânico, mas como uma

construção simbólica que varia conforme o contexto sociocultural e a subjetividade da

mulher com suas experiências com a dor. Os principais aspectos da humanização seriam o

ato de tratar bem e atender as necessidades da puérpera, por meio da comunicação

interativa. Mendes (1991) acredita que a relação que se estabelece entre o enfermeiro e a

parturiente torna-se fundamental, pois o enfermeiro vê o corpo da mulher não como uma

máquina que desenvolve o seu trabalho de parir, mas como uma pessoa que precisa mais

do que cuidados físicos precisa de cuidados de forma holística (ZAGONEL, 1997).

Cechin (2002, p.445) acredita que a humanização com a parturiente, consiste em

acolher, respeitar sua individualidade, “oferecer ambiente seguro, oportunizar um

acompanhante e não intervir em processos naturais com tecnologia desnecessária”.

Também, Enning (2000) afirma que, o ideal seria que toda mulher tivesse a visão do parto

como o ato verdadeiro de dar à luz, uma experiência única, um processo espontâneo, sem

necessidade de grandes intervenções, não sendo assim considerado apenas como um ato

médico, dando importância ao ato de nascer de maneira natural e mais humana.

Nesse sentido, Tornquist (2003) entende por humanização do parto de maneira geral

o conjunto de recomendações que a Organização Mundial de Saúde adotou como o

incentivo ao parto vaginal; aleitamento materno; alojamento conjunto; à presença de

acompanhante; à redução do excessivo intervencionismo tecnológico no progresso do parto;

estímulo as técnicas mecânicas de alivio a dor, podendo ser realizado massagens, banhos e

a própria deambulação; uso cauteloso de indução intravenosa com ocitocina; comumente

usada; analgesia; abolição da prática de enema e tricotomia, fazendo apartir destes pontos

uma crítica significativa à excessiva medicalização do parto, sendo apontado como um dos

responsáveis pelas taxas de mortalidade materno-infantil em vários países, como demonstra

alguns dados do Ministério da Saúde.

E, nessa perspectiva, o despreparo dos profissionais de saúde pode infringir os

ideais do parto humanizado e gerar paradoxos: de um lado, advogar pelos direitos das

mulheres no momento do parto, e de outro, deixar de considerar as diferenças socioculturais

entre estas mulheres, deixando de colaborar de maneira eficaz e profissional neste

momento tão difícil para a mãe.

Riesco e Fonseca (2002) defendem a introdução na rede pública de um novo modelo

assistencial ao parto com a participação e realização do enfermeiro obstetra com a

34

finalidade de promover assistência mais eficaz à gestação e ao parto principalmente para a

clientela carente, onde existe grande demanda e falta assistência médica.

Davim e Menezes (2001, p.63) acreditam que a parturiente deveria ser

acompanhada por profissionais devidamente capacitado, como os enfermeiros obstetras,

para que as intervenções ocorram quando necessárias e não tornando-se rotinas,

privilegiando o bem-estar da parturiente e do concepto, tentando não utilizar métodos

invasivos neste processo, como já foi citado nos capítulos anteriores.

Nascimento et al. (1997) afirmam que o cuidado prestado à parturiente, na maioria

das vezes é norteado por um poder institucional expresso por meio de rotinas que retiram

dessa mulher a participação ativa em todo o processo do parto natural, acreditando apartir

deste fato que a assistência à parturiente deve ser humanizada e eficaz permitindo que as

mulheres vivenciem a parturição de forma mais plena e feliz.

Segundo Osava (2003), no parto humanizado, a mulher reencontra sua autonomia,

requerendo assim nova postura dos profissionais que a assistem.

Santos (2001) relata que a enfermeira obstétrica tem papel relevante no que tange à

humanização durante o nascimento, no entanto afirma a necessidade de incentivo às

enfermeiras obstétricas e aos demais profissionais de saúde no cuidado humanizado à

parturiente.

Mendes (1991) colabora com esta ideia quando afirma que existe comprometimento

e responsabilidade dos vários elementos da equipe de saúde, especialmente do enfermeiro

especialista em saúde materna e obstétrica, pelo fato de permanecer 24 horas por dia junto

da parturiente, na obtenção de verdadeira e eficaz relação de ajuda, em todos os momentos

de trabalho de parto.

A humanização no processo ne parturição é um ideal que está, pouco a pouco, se

tornando uma realidade. Podendo conceituar que o ato de humanizar é promover

assistência de qualidade a parturiente através do alívio a dor, do conforto físico e emocional,

da liberdade para escolher como deseja ter o seu bebê, dando-lhe suporte material, pessoal

e emocional que é necessário para que mãe, bebê e acompanhante vivenciem todo

processo de forma mais tranquila e com segurança. Além disso, é estar/ser consciente das

atitudes tomadas como profissionais de saúde que estão ajudando a trazer uma nova vida

ao mundo (FIALHO, 2008 p. 12).

2.8 Respaldo do COREN ao parto normal

35

Segundo definições da cartilha do Conselho Regional de Enfermagem/SP(COREN)

(2010), parto normal nada mais é do que aquele realizado sem intervenções ou

procedimentos desnecessários durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós

parto, e com o atendimento centrado na mulher. Também pode ser chamado de "parto

humanizado", devido todo o respeito e ternura com que são tratadas as mulheres e os

bebês neste período.

No parto normal, a saída do bebê ocorre pelo canal vaginal, sem qualquer

intervenção cirúrgica. Tudo transcorre da maneira mais natural possível e com o mínimo de

procedimentos, de modo a evitar causar mais dor, complicações e risco de infecções à mãe

e ao bebê. Apenas quando, durante o processo do parto, existir uma real indicação para

alguma intervenção, poderá ser realizado o corte na vagina, a colocação de soro na veia e a

suspensão da alimentação, além de outros procedimentos. O parto natural é recomendado

pela Organização Mundial da Saúde pois já foram comprovados seus inúmeros benefícios e

a diminuição dos riscos maternos e neonatais. (COREN/SP, 2010).

No Brasil, o parto natural tem sido incentivado pelo Ministério da Saúde por meio de

criação do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, das Casas de Parto,

como também a Rede Cegonha que foi lançada em março de 2011 pelo Governo Federal.

Um programa inovador que visa garantir atendimento de qualidade a todas as brasileiras

pelo Sistema Único de Saúde (SUS), desde a confirmação da gestação até os dois

primeiros anos de vida do bebê. Ela tem atuação integrada às demais iniciativas do SUS

para a saúde da mulher, podendo assim cultivar desde o pré-natal até a saúde do bebê em

seus primeiros anos de vida podendo criar assim um vínculo entre enfermagem e a mãe.

(COREN/PE, 2013).

Todos os cuidados prestados baseiam-se nas melhores evidências, com respeito à

mulher e na aplicação de uma intervenção, quando houver uma indicação. As atitudes dos

profissionais envolvidos neste parto também são fundamentais, e devem respeitar o tempo,

limites, desejos, anseios e expectativas de cada mulher, durante todo o acompanhamento

do trabalho de parto e parto. Chamá-la pelo nome, explicar o que está acontecendo em

cada momento e deixá-la – assim como a sua família – o mais orientados quanto for

possível, sentindo-se seguros da assistência prestada, são mudanças de comportamento

que devem ser incorporadas pelo profissional que está assistindo esta parturiente.

Paciência, tranquilidade, respeito ao outro e conhecimento científico são conceitos-chave

para o acompanhamento do parto natural. A mulher é o centro das atenções e a figura

principal, tendo ela poder sobre seu próprio corpo e sobre o processo do nascimento.

Atualmente, o parto natural tem sido motivo de diversos investimentos por parte do

Ministério da Saúde, como na criação do Programa de Humanização do Parto e Nascimento

e na criação dos Centros de Parto Normal. (COREN/SP, 2010).

36

A assistência ao parto normal conduzida por enfermeira obstetra é prevista em lei,

sendo assim um direito do profissional que o assiste e da mulher que o recebe ter este

acesso e informação, considerando a formação e capacitação técnica e científica destes

profissionais, independentemente do local de realização do parto, esta escolha deverá ser

informada à mulher, que decidirá acerca do que considera o melhor para si, e tendo toda a

garantia de segurança na assistência prestada, livre e isenta de imperícia, imprudência e

negligência. Os índices atuais de mortalidade materna e infantil das mulheres que tiveram o

parto natural, demonstram que os resultados maternos e neonatais são consideravelmente

melhores e com menor risco de complicação, proporcionando uma maior satisfação da

mulher e de sua família ao obter uma assistência diferenciada e humanizada do nascimento.

(COREN/SP, 2010).

2.9 Humanização ao parto normal

O conceito de humanização da assistência ao parto inclui vários aspectos. Alguns

estão relacionados a uma mudança na cultura hospitalar, com a organização de uma

assistência realmente voltada para as necessidades das mulheres e suas famílias.

Modificações na estrutura física também são importantes, transformando o espaço

hospitalar num ambiente mais acolhedor e favorável à implantação de práticas acolhedoras

para assistência. Contudo, a humanização ao parto implica principalmente, que a atuação

de profissionais respeitem os aspectos da fisiologia, questões sociais e culturais do parto e

nascimento, e ofereça o necessário suporte emocional e físico à mulher e sua família,

facilitando assim a formação dos laços afetivos importantes para os familiares e o vínculo

mãe-bebê. Outros aspectos que se referem à autonomia da mulher durante todo o processo,

com elaboração de um plano de parto que seja respeitado pelos profissionais que a

assistirem; podendo ser incluso deste caso a atuação da enfermagem, de ter um

acompanhante de sua escolha; sendo informadas sobre todos os procedimentos realizados;

e de ter os seus direitos de cidadania respeitados de maneira integra (DOMINGUES; DIAS

2005, p.699).

Para alguns autores (Davis-Floyd, 1994, Wagner, 1994), a formação médica,

centrada no modelo biologista cada vez mais seduzido pela tecnologia, seria incapaz de

proporcionar ao profissional médico os atributos necessários para a assistência ao parto

humanizado, focado no parto natural. A visão do trabalho de parto e do parto como eventos

de risco e a necessidade de conformá-los ao processo de produção do hospital implicam

37

quase sempre a tentativa de regulação e controle do parto pelos médicos, levando a

inevitáveis interferências.

Em vários países da Europa, por exemplo, o trabalho do médico obstetra está

voltado para a assistência às gestantes de risco (WAGNER, 1994). Com uma formação

voltada principalmente para as complicações da gestação e do parto, a maioria dos médicos

obstetras encara os partos como situações de risco e de necessário acompanhamento

médico (DIAS, 2001).

A formação profissional do enfermeiro obstetra, mais voltado para o cuidar, tem sido

considerada aquela que possibilita ao profissional uma abordagem diferenciada na

condução do trabalho de parto, principalmente quando se trata do parto natural (Wagner,

1994).

Desde 1994, o currículo mínimo de enfermagem foi modificado e, atualmente, o

único curso previsto para formação específica de profissionais não-médicos na área

obstétrica consiste na especialização em enfermagem, nível de pós-graduação. A formação

da enfermeira obstétrica dá maior ênfase aos aspectos fisiológicos, emocionais e

socioculturais do processo reprodutivo, privilegiando uma atuação fundamentada na

compreensão do fenômeno da reprodução como um processo singular, contínuo e saudável

no qual a mulher é o foco central, e que se desenvolve em um determinado contexto sócio

histórico (RIESCO, 2002).

Alguns trabalhos mostram que quando as gestantes na hora do parto são

acompanhadas por profissionais, no caso a enfermagem, as mulheres necessitam de menos

analgésicos, ocorrem menos intervenções e os resultados finais são melhores que aqueles

produzidos pela assistência convencional do médico exclusivamente (HODNETT, 1989,

BLANCHETTE, 1995).

A atuação do enfermeiro na assistência ao parto normal ganha força em nosso meio

a partir da discussão dos resultados do modelo médico de atenção e do exemplo da atuação

o das enfermeiras obstetras em países europeus, como Inglaterra e Holanda. Nesses locais,

o modelo de atenção ao parto inclui a importante atuação desses profissionais, apresenta

resultados perinatais muito bons e alta satisfação das usuárias e família com a assistência

prestada (WIEGERS, 1996, TURNBULL, 1996).

No Brasil, em 1998, o Ministério da Saúde reconheceu oficialmente a assistência ao

parto por enfermeiro obstetra nos hospitais conveniados com o SUS e normalizou a

remuneração desses profissionais. Como marco definidor de uma nova política de atenção

ao parto, o Ministério da Saúde propôs em 1999 a criação dos Centros de Parto Normal

(CPN), unidades que permitem a assistência aos partos de baixo risco fora dos hospitais,

com possibilidade de funcionamento sem médicos, ficando enfermeiros obstetras

responsáveis por todos os cuidados prestados às mulheres e bebês.

38

Ainda nas políticas públicas na área de saúde da mulher, em 2001 o Ministério da

Saúde editou o manual Parto, Aborto e Puerpério – Assistência Humanizada à Mulher (MS,

2001). A publicação considera a humanização dando melhor assistência, e ainda defende

uma nova perspectiva em que os cuidados prestados devem ser efetivos e benéficos, as

intervenções desnecessárias devem ser evitadas e a privacidade e a autonomia materna

sempre preservadas acima de qualquer situação.

A simples substituição do médico pela enfermeira obstetra não resulta

necessariamente na humanização da assistência. Mas se a atuação deste profissional

estiver inserida em uma nova proposta de cuidado e orientação estão dadas as condições

para a modificação do modelo de assistência.

Segundo Domingues e Dias (2005, p. 701) a perversidade do modelo, que não

oferece o suporte emocional, levando a “medicalização” em excesso a assistência ao parto,

está no fato de que grande parte das rotinas adotadas aumente a intensidade do processo

doloroso e pouco ou nada é oferecido para o seu alívio. O grande desafio que se coloca,

para todos os profissionais que prestam esta assistência, é o de minimizar o sofrimento das

parturientes, tornando a vivência do trabalho de parto e o parto em experiências de

crescimento e realização para a mulher e sua família, incentivando sempre ao parto normal,

se for de baixo risco.

Acredita-se em uma nova abordagem que estimule a participação ativa da mulher e

seu acompanhante, que priorize a presença constante do profissional, principalmente do

enfermeiro, junto da parturiente, que preconize o suporte físico e emocional e o uso de

novas técnicas de cuidado que permitam o alívio da dor, como o estímulo à deambulação e

à mudança de posição uso da água para relaxamento e massagens.

As enfermeiras obstetras têm sido seduzidas a se incorporar a este projeto, não só

pela valorização de sua atuação profissional, mas também pela possibilidade do que Pires

(1996) chamou de “assistência integral de enfermagem”. Este modelo de assistência rompe

com a fragmentação dos cuidados e permite que a profissional recupere a compreensão do

processo de assistência, superando o parcelamento de tarefas que caracteriza o sistema

tradicional de atenção.

De acordo com Domingues e Dias (2005, p.701) uma dificuldade inicial para a

implantação do projeto de humanização ligado à enfermagem era a de que, em um primeiro

momento, não havia disponível no mercado de trabalho enfermeiras obstetras em número

suficiente para que se colocasse em prática uma política de atuação destes profissionais na

assistência ao parto de baixo risco, no entanto com o apoio do Ministério da Saúde, a partir

de 1998, foi possível, em pouco tempo, para várias escolas de enfermagem, realizar cursos

de especialização em obstetrícia, que capacitaram profissionais para a rede de Sistema

Único de Saúde (MS 2001), muitas delas funcionárias da própria rede.

39

A literatura é rica em trabalhos voltados à assistência à mulher que vivência o ciclo

gravídico-puerperal e que, em sua totalidade, emprega o termo assistência humanizada. Por

sua vez, existem autores que referem que para trabalhar com humanização é necessário

despojar-se da onipotência própria da formação, trabalhando com uma equipe

multiprofissional em que o espaço de cada um deve ser respeitado, colocando sempre em

foco a gestante.

Na assistência humanizada, demonstrar interesse e compromisso com o outro requer

a conscientização dos possíveis dilemas éticos presentes nessa relação. Na proposta de

relação humanizada, as informações a serem transmitidas aos clientes e deles recebidas

são fundamentais. A humanização da assistência reside, também, nas relações

interpessoais, em especial entre o profissional e o cliente e o acompanhante. (MOURA

2007)

O relacionamento entre paciente e profissional e instituição é fundamental para o

processo de humanização, sendo este composto por fatores como comunicação, empatia,

conhecimentos técnicos científicos e respeito pelos seres humanos.

A humanização engloba uma série de diferentes aspectos referentes as idéias, aos

valores e as práticas, envolvendo as relações entre os profissionais de saúde, os pacientes,

os familiares e os acompanhantes, incluindo os procedimentos de rotina do serviço e a

distribuição de responsabilidades dentro dessa equipe. No entanto, tais fatores tornam-se

fragmentados se a experiência do nascimento não for reconhecida em seus aspectos

emocionais.

Ao prestar assistência humanizada à mulher, que vivencia o ciclo gravídico

puerperal, os profissionais devem desenvolver habilidades relacionadas ao contato com

essa mulher, favorecendo sua adequação emocional à gravidez e ao parto. Podem também

ajudá-la a superar os medos, as ansiedades e as tensões. No modelo humanizado de

atendimento, a parturiente e seu acompanhante devem ser recebidos pela equipe com

empatia e respeito, considerando sempre suas opiniões, preferências e necessidades.

Moura (2007) acredita que a assistência humanizada está representada na

assistência centrada nas necessidades da cliente e vale ser aqui apresentada em maior

profundidade. Consideramos que a assistência obstétrica centrada nas necessidades da

cliente deva ser baseada não apenas em procedimentos e normas técnicas pré-

estabelecidas, mas na valorização da individualidade, visto que o ser humano é diferenciado

pela própria natureza por ser racional e possuir características específicas, como caráter,

personalidade, sentimentos, opiniões, crenças, desejos, aspirações, valores próprios,

dignidade e senso de justiça, que devem ser respeitados, considerados e valorizados de

maneira integral.

40

Ao assistir o indivíduo, o prestador do cuidado deve considerá-lo como um todo, no

caso a equipe de saúde, com sua subjetividade e complexidade, sendo membro de um

grupo familiar e de uma comunidade. Deve, ainda, identificar as mensagens enviadas pelo

cliente/paciente e reconhecer seus códigos, compreendê-los e atuar de maneira a satisfazer

as necessidades de atenção e de cuidado da clientela de maneira holística.

Nesse processo de cuidar, não devem ser esquecidos o contexto de vida e os

valores que o cliente traz quando ocorre a internação. Saber identificar as diferenças

culturais e individuais contribui para a redução de desequilíbrios entre a assistência prestada

e as necessidades básicas da cliente. Consideramos, igualmente, que a assistência

obstétrica centrada nas necessidades da cliente caracteriza-se pelo direito à autonomia da

parturiente, em que a informação é fator relevante, sendo a base principal para que tenha a

liberdade de escolher ou recusar qualquer procedimento relacionado com seu próprio corpo,

e que esta escolha seja pertinente e convergente ao seu bem-estar. Portanto, esta

informação deve ser inteligível, exata, concisa, adaptada ao nível sociocultural e cognitivo

de quem a recebe, no caso a gestante e seus familiares, para que o indivíduo possa ser

capaz de, conscientemente, escolher qual a proposta para sua assistência que melhor se

adapte, conforme seus princípios morais e éticos. Se não houver informação com qualidade,

o direito de decidir adequadamente torna-se inexistente. (PRAÇA, MACHADO 2004, p. 2 a

4)

O conceito de humanização do parto é bastante diversificado, defendendo o respeito

a individualidade das mulheres, sendo elas as protagonistas e buscando uma adequação na

assistência à cultura, crenças, valores e diversidades de opiniões dessas pessoas, no

entanto o foco nesse momento é a humanização da gestante incentivando-a à um parto

natural sem riscos, favorecendo consequentemente conforto e segurança para a mesma.

A grande conquista para o Ministério da Saúde está em incentivar a realização do

parto normal e a diminuição das cesarianas. São medidas de humanização que visam

proporcionar bem estar à mulher e reduzir riscos para ela e seu bebê, como também

proporcionar conforto e bem estar ao acompanhante, de acordo com o preconizado.

A Organização Mundial da Saúde elaborou a assistência ao Parto Normal para

estabelecer ações às necessidades básicas da mulher e seus familiares deste período. No

Brasil, o ensino da Obstetrícia, teve início em 1832, sendo denominado curso de “partos”,

que era ministrado em Faculdades de Medicina, em conjunto com os cursos de medicina e

farmácia.

Na legislação profissional de enfermagem, o não médico que podem realizar o parto

normal é a enfermeira e a obstetriz/enfermeira obstétrica, assim como a parteira titulada no

Brasil até 1959. O Ministério da Saúde também propôs em 1999, a criação dos centros de

parto Normal (CPN) para os partos de baixo risco fora das instituições de saúde,

41

coordenados por enfermeira obstetra, que presta todos os cuidados às mulheres e recém-

nascidos.

Essas medidas visam a humanização dos serviços de saúde para redução de

intervenções desnecessárias, como a prática excessiva do parto cesárea e com

consequente diminuição da morbimortalidade materna e perinatal. Desde a década de 80,

há iniciativas ministeriais neste sentido. Diante desta problemática, foram criados pelo

Ministério da Saúde, programas para humanizar o parto e nascimento nas maternidades

públicas, além de portarias que estimulam a criação de Casas/Centros de parto normal com

a atuação da profissional enfermeira obstétrica.

A humanização da assistência ao parto implica que os enfermeiros respeitem os

aspectos da fisiologia feminina, sem intervenções desnecessárias, reconheça os aspectos

sociais e culturais do parto e nascimento, ofereça suporte emocional à mulher e a sua

família, garantindo os direitos de cidadania (MOURA2007).

Para uma humanização ao parto normal a assistência do enfermeiro é indispensável,

no entanto deve-se ser capacitada e sensibilizada a trabalhar em conjunto e superar

conflitos, a fim de que sejam respeitados os desejos das mulheres acolhidas no serviço

(MOURA 2007 p. 454).

2.10 Saúde pública e o parto normal

No Sistema Único de Saúde, assistência institucional ao parto é realizada

atualmente através de uma rede com cerca de 4757 unidades que atuam em diferentes

níveis de complexidade. O parto normal foi o procedimento de maior frequência no ano de

1999 e o segundo procedimento de maior impacto financeiro. No Brasil a assistência a

mulher no momento do parto é em grande parte hospitalar, com diferentes percentuais para

cada região.

A portaria MS/GM 2.815, de 29 de maio de 1998 inclui na tabela do Sistema de

Informações Hospitalares do SUS o procedimento “parto normal sem distócia realizado pelo

enfermeiro obstetra” e tem como finalidade principal reconhecer a assistência prestada por

esta categoria profissional, no contexto de humanização do parto. Atualmente,

o número de enfermeiros obstetras atuando no país ainda é muito baixo, embora se estime

que o número de partos realizado seja bem superior aquele registrado no Sistema Único de

Saúde.

42

Considerando as dificuldades para a redução real das taxas de cesárea, a Portaria

466 estabelece que os hospitais, sob a coordenação estadual, poderão ter diferentes limites

para o parto cirúrgico, contemplando a complexidade de cada serviço obstétrico a fim de

atender as mulheres com segurança.

No contexto de importância sobre o respeito as decisões da mulher quando se utiliza

o sistema de saúde, torna-se relevante e também necessário dispor de esclarecimentos a

respeito das indicações precisa da complexidade de cada serviço obstétrico a fim de atender

as mulheres com segurança de maneira humanizada assim como os recursos as cesarianas

no trato de cada caso especifico, ao lado de reconhecimento crítico das condições de sua

utilização. Só a informação correta, cientificamente, poderá ajudá-la na opção livre e

informada, sobre a via de parto preferencial e os riscos associados a sua escolha

(COSTA, GUILERME, WALTER 2205, p.769).

O programa do Sistema Único de Saúde apresenta uma característica marcante: o

olhar para a integralidade da assistência obstétrica. O objetivo do Sistema Único de Saúde é

reorganizar a assistência, vinculando formalmente o pré-natal ao parto e puerpério,

ampliando o acesso das mulheres e garantindo a qualidade com a realização de um

conjunto mínimo de procedimentos.

É dentro deste contexto que o Ministério da Saúde, exercendo seu papel

normalizador e regulador, vem implantando um conjunto de ações, através de portarias

ministeriais com o objetivo de estimular a melhoria da assistência obstétrica. A análise

destas portarias, e em alguns casos de seus impactos iniciais, compõe o panorama da

assistência obstétrica atual e permite sua melhor compreensão.

2.11 Cesarianas no Brasil.

Segundo Barbosa et al (2003, p. 1612), a cesárea é um procedimento cirúrgico

originalmente desenvolvido para salvar a vida da mãe e/ou da criança, quando ocorrem

complicações durante a gravidez na hora do parto. É, portanto, um recurso que deveria ser

utilizado quando surge algum tipo de risco para a mãe, bebê ou para ambos, durante a

gestação e/ou parto. Como todo procedimento cirúrgico, a cesárea não é isenta de riscos,

estando associada, no assim como em outros países, a maior quantidade de

morbimortalidade materna e infantil, quando comparada ao parto vaginal (FAUNDES &

CECATTI, 1991; MCCLAIN, 1990; MILLER, 1988). A escolha de qualquer intervenção

médica, em termos éticos, deve basear-se no balanço entre riscos e benefícios.

43

No Brasil e em outros países, no entanto, a cesárea tem sido abusivamente utilizada,

sem benefícios para as mulheres e os recém-natos (SHEARER, 1993, p.1).

De acordo com Sass e Hwang (2009), o aumento dos nascimentos por cesárea é um

fenômeno em escala mundial. Alguns fatores contribuíram para este fato, tais como a

evolução das técnicas cirúrgicas e anestésicas, os riscos reduzidos de complicações pós-

operatórias imediatas, a prática obstétrica defensiva, as características do sistema de saúde

e consequente remuneração, além da própria demanda das pacientes que é bastante

relevante.

Segundo a BBC Brasil de abril de 2014 Com 52% dos partos feitos por cesarianas

enquanto o índice recomendado pela OMS é de 15%, o Brasil é o país recordista desse tipo

de parto no mundo. Na rede privada, o índice sobe para 83%, chegando a mais de 90% em

algumas maternidades. A intervenção deixou de ser um recurso para salvar vidas e passou,

na prática, a ser regra.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, a "indústria da cesárea" começou a

se formar há 40 anos. "A epidemia de cesarianas começa na década de 70, quando ela

começou a ser vendida como solução para a esterilização definitiva, a laqueadura das

trompas", explica a obstetriz Ana Cristina Duarte, uma das principais vozes do movimento

de humanização do parto no país.

Entre os fatores que influenciam a opção por um parto cesáreo têm sido relatados na

maioria dos casos segundo os estudos: (a) a organização da atenção obstétrica, estando

ligada pela conveniência de uma intervenção programada e muitas vezes pela insegurança

do médico, decorrente de treinamento insuficiente sobre as intercorrências que podem

acontecer ocorrem durante o desenrolar de um parto normal; (b) fatores institucionais

ligados à forma de pagamento e à exclusão do pagamento de anestesia peridural para

partos vaginais pelo Sistema Único de Saúde (SUS), situação que já foi revista pelo

Ministério da Saúde, mas não foi atualizada na maioria dos hospitais; (c) a esterilização

cirúrgica, realizada durante cesáreas eletivas; (d) fatores socioculturais, que levariam à

preferência, por parte das mulheres e dos profissionais de saúde, por um parto cirúrgico, tais

como: a dor na hora do parto normal, medo de lesões na anatomia da vagina assim como a

crença de que o parto vaginal é mais arriscado do que a realização de uma cesariana,

sendo esta última considerada a forma mais “moderna” de se ter filhos (FAÚNDES E

CECATTI, 1991, p. 01; RATTNER, 1996, p.01).

Segundo a coordenadora da pesquisa, da Fiocruz de notícia Maria do Carmo Leal, o

número excessivo de cesarianas expõem desnecessariamente as mulheres e os bebês aos

riscos de efeitos adversos na hora do parto e nascimento. “O índice elevado de cesarianas

se deve a uma cultura arraigada no Brasil de que o procedimento é a melhor maneira de se

44

ter um filho. Em parte porque, no Brasil, o parto normal é realizado com muitas intervenções

e dor”.

Um estudo realizado pela agência Fiocruz aponta que quase 70% das brasileiras

deseja um parto normal no início da gravidez. Entretanto, poucas foram apoiadas em sua

preferência pelo parto normal: nos serviços privados, esse valor foi de apenas 15% para

aquelas que estavam em sua primeira gestação. Certamente há uma influência do pré-natal

na decisão das mulheres pelo tipo de parto, mas as amigas e os familiares também

influenciam. Não se pode, entretanto, deixar de destacar que é uma visão equivocada achar

que a cesariana é a forma mais segura para um parto tão esperado na maioria das vezes.

O Ministério da Saúde e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicaram

no dia 07 de janeiro de 2015 a resolução que estabelece normas para estímulo do parto

normal e a consequente redução de cesarianas desnecessárias na saúde suplementar. As

novas regras ampliam o acesso à informação pelas consumidoras de planos de saúde, que

poderão solicitar às operadoras os percentuais de cirúrgias cesáreas e de partos normais

por estabelecimento de saúde, por médico e por operadora, o que poderá auxiliar de

maneira significativa com relação aos índices de cesárias, podendo apartir deste momento

decidir-se pelo parto normal.

Atualmente, no Brasil, segundo o Ministério da Saúde o percentual de partos

cesáreos chega a 84% na saúde suplementar. Na rede pública este número é menor, de

cerca de 40% dos partos. A cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos

desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de

problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de

25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados a

prematuridade, segundo dados do Ministério da Saúde.

Segundo Ciommo (2014) na rede privada, onde o atendimento é particular ou através

dos planos de saúde, o índice é maior, de 83% que em algumas maternidades chega a

90%. A intervenção, que antigamente era um recurso para salvar vidas, passou a ser regra.

Faltam estudos, no entanto, que demonstrem o quanto desse percentual se refere a

cesáreas realizadas por questões fisiológicas da mãe e o quanto pode ser atribuído a uma

escolha anterior, feita em conjunto pelo médico e a paciente.

2.11.1 As razões financeiras.

45

Segundo Cecatti e Faúndes (1991), para o médico, a decisão de realizar uma

cesárea eletiva, ao invés de um parto vaginal, pode parecer não ter nenhuma consequência

econômica. Contudo, a soma de muitas decisões semelhantes tomadas diariamente pode

afetar seriamente o custo da assistência à saúde materno-infantil de diversas maneiras, em

diversas cidades do Brasil .O custo mais fácil de se identificar é aquele resultante da cirúrgia

comparado ao do parto vaginal assistido, somado a uma estadia mais prolongada e ao

maior uso de medicamentos e outros materiais de consumo.

Observa-se que apartir da década de 70, a cesariana começou a ser indicada pelos

médicos como a cirurgia que possibilitava a laqueadura, ou esterilização definitiva. Como

meio para conseguir a laqueadura dentro do sistema público de saúde, a saída para as

mulheres era optar pela cesárea depois de terem decidido que não teriam mais filhos e

aquela seria sua última gravidez. Na mesma época, o então INPS (Instituto Nacional de

Previdência Social) determinou que um médico somente receberia seus honorários se

participasse integralmente do parto. Anteriormente isso poderia ser feito pela parteira ou

enfermeira especializada e o médico aparecia somente se houvesse algum problema.

Com a mudança de regras, os médicos foram obrigados a permanecer mais tempo

nas salas de parto. A partir de então os índices de frequência da cesárea começaram a

subir. Ao mesmo tempo a ANS – Agência Nacional de Saúde – que regulamenta os planos

de saúde no Brasil, passou a remunerar mais aos médicos no caso de cirurgias cesarianas,

desvalorizando o parto normal. Que obriga os médicos a permanecerem muito mais tempo

no atendimento as suas pacientes e a receberem menos por isso. Dessa forma reforçou-se

a tendência de defenderem o parto cesáreo e indicarem as grávidas.

Nos planos de saúde o médico ganha um pouco a mais pelo parto normal. Mas na

prática a remuneração se torna desvantajosa, porque uma cesárea dura em média 3 horas,

enquanto que o parto normal pode durar 12 horas ou mais, para praticamente a mesma

remuneração, mas com um grande desagaste físico do médico. A cesariana pode ser

marcada com antecedência, o que favorece a agenda do médico, eliminando a incerteza do

parto normal com relação a dia e hora, que obriga muitas vezes ao cancelamento de

compromissos, consultas ou viagens.

No entanto a responsabilização criminal que atinge o médico por uma fatalidade que

acontece em uma situação de risco no parto normal também faz com que os médicos criem

receio dessa responsabilidade e prefiram a cesárea por oferecer maior controle sobre

situações inesperadas. E a palavra do médico é o que norteia as grávidas, bem como suas

famílias, em relação à escolha do tipo de parto. No entanto a enfermagem deveria agir neste

momento auxiliando na aceitação ao parto normal visando o bem-estar e não visando as

questões financeiras.

46

Ao longo das últimas décadas muito se tem debatido sobre a assistência ao parto.

Diversas análises realizadas, que retratam a complexidade de fatores que cercam o parto,

têm suscitado uma série de questões, que envolvem desde a qualidade da atenção

obstétrica até a constituição do significado da experiência do nascimento para as mulheres e

homens envolvidos. A conveniência para o obstetra e para a mãe de uma equipe para a

assistência à gravidez e ao parto não é fácil de se transmitir. Os médicos têm medo de

perder as pacientes e as mães de perder o atendimento personalizado. Convencer ambos

de que têm mais a ganhar do que a perder quando existe a posibilidade de um parto normal

não é tarefa fácil no Brasil.

Por isso cabe a cada profissional qualificado principalmente a enfermagem que está

diretamente ligada a família uma melhor orientação durante o pré-natal quanto a vantagens

e desvantagens de um parto cesariana quando se trata de uma gestação de baixo risco,

deixando assim de lado questões financeiras e se preocupando mais com a qualidade e

experiência de uma parto normal.

2.12 Relação de partos no Brasil e outros países.

De acordo com Fernandes (2013), em nível mundial, o cenário é bastante diverso.

Assim como o Brasil, a China e a ilha de Chipre (Europa) têm índices de cesarianas da

ordem de 50%. Nos Estados Unidos, as taxas atingem 33% e na Inglaterra ficam em torno

de 24%. Já nos países nórdicos, estão abaixo de 15%. Dentro da América Latina também

há um desequilíbrio: no México, o índice de cesarianas é de 45%; no Paraguai e Uruguai,

33%; no Chile, 30%; e em Cuba, 28%; enquanto na Guatemala e no Haiti as taxas são de

16% e 6%, respectivamente. Da mesma forma, percentuais maiores que 15%, que ocorrem

principalmente nos países da América Latina e do Caribe, também estão relacionados a

aumento das taxas de mortalidade. Em 2010, 7,8% dos bebês nascidos no Brasil por meio

dessa cirurgia eram prematuros, enquanto o índice em partos normais foi de 6,4%.

A cesárea é o procedimento cirúrgico mais comum em muitos países

industrializados. Em 2002, na Europa, a taxa de cesáreas variou de 6,2 a 36%, com média

de 19% (BETRÁN et al., 2007), e essas taxas têm crescido regularmente na maioria dos

países da região europeia. Estes números estão bem acima das recomendações da

Organização Mundial da Saúde, segundo a qual as taxas não devem se manter acima de

15%.

47

Embora ainda haja controvérsias sobre a taxa ideal de cesáreas, em muitos países

desenvolvidos com taxas consideravelmente acima de 15% a atenção tem se voltado a

estratégias para reduzir o uso, devido à preocupação de que taxas mais altas de cesárea

não tragam benefícios adicionais de saúde e ainda possam aumentar os riscos maternos,

gerar implicações para gestações futuras e acarretar custos aos serviços de saúde

(BETRÁN et al., 2007). Este indicador pode ter um grande potencial de melhoria de

qualidade em diversos tipos de situação.

Podendo se observar neste gráfico publicado, sobre os índices de partos cesarianas

nos países Europeus no ano de 2005:

Segundo as pesquisas realizadas nos últimos anos na Bélgica, a organização do

sistema de saúde oferece incentivos financeiros que encorajam obstetras a realizar os

partos, remunerando-os por procedimento. Nesse país, embora essas atividades pudessem

ser executadas por parteiras, ou enfermeiros obstetras oficialmente habilitadas para esse

trabalho, 94% dos partos são executados ou supervisionados por médicos obstetras. Apesar

de as taxas de cesárea serem baixas, estas passaram de 10,5% em 1990 para 15,9% em

1999, aumentando progressivamente até 17,8% em 2004. Entre os países com menor

48

intervenção médica na atenção ao parto, a Holanda é destaque por sua reduzida taxa de

cesárea comparada aos demais países desenvolvidos.

Nesse país, a frequência de intervenções médicas é pequena e cerca de 30% dos

partos de baixo risco ocorrem no domicílio da gestante. A assistência obstétrica é realizada

por parteiras que, quando suspeitam que poderá haver complicações no parto, encaminham

a parturiente para o hospital. O modelo holandês tem sido usado para indicar que a

assistência ao parto fora do hospital e efetuada por parteiras traz bons resultados, quando

se trata de gravidez de baixo risco. Porém, também na Holanda observa-se aumento das

taxas de cesárea, tendo passado de 7,4%, em 1990 para 13,5% em 2002, mantendo-se em

13,6% em 2004.

Em relação ao Brasil observasse no gráfico abaixo a quantidade de cesarianas

realizadas nos anos de 2000 a 2008, tornam-se preocupantes, pois esse índice só vem

aumentando nos últimos anos, tornando-se algo bastante relevante para os profissionais,

necessitando apatir desta situação, ações eficazes de atenção voltada ao incentivo ao parto

natural de baixo risco, cabendo isto ao enfermeiro de maneira geral.

Atualmente, quase um quarto dos nascimentos do Brasil ocorre nos serviços

hospitalares privados, e as taxas de cesárea no sistema de saúde privado atingem

proporções ao redor de 80%. Já no sistema público, que oferece assistência à maioria da

população, as taxas de cesárea chegam em média a 35%, segundo algumas pesquisas

realizadas nos dados do Ministério da Saúde.

No sistema público, os partos são realizados por médicos plantonistas, sem vínculos

com as pacientes e com remuneração que independe, na maioria das vezes, da quantidade

e do tipo dos partos realizados. Refletindo essa dualidade dos sistemas de saúde, observa-

se no país grande disparidade regional das taxas de cesárea. Nas regiões em que a

49

cobertura de planos de saúde é maior, as taxas de cesárea também o são (PATAH, MALIK,

2001, p.1).

Segundo os últimos dados do DATASUS no período de 2009 a proporção de partos

dentro dos hospitais e de cesárias poderia ser em porcentagem distribuídos das seguintes

formas:

Tabela 1: Proporção de partos normais, Brasil 2009

Região e unidade da federação (%)

Região Norte

Rondônia 99,18

Acre 85,07

Amazonas 92,21

Roraima 89,37

Pará 92,26

Amapá 93,67

Tocantins 98,33

Região Nordeste

Maranhão 94,66

Piauí 95,43

Ceará 98,66

Rio Grande do Norte 98,93

Paraíba 99,16

Pernambuco 98,72

Alagoas 98,29

Sergipe 98,64

Bahia 95,14

Região Sudeste

Minas gerais 99,16

Espirito Santo 96,46

Rio de Janeiro 98,61

São Paulo 99,52

Região Sul

Paraná 98,79

50

Santa Catarina 99,04

Rio grande do Sul 99,56

Região Centro Oeste

Mato grosso do Sul 98,38

Mato grosso 98,41

Goiás 99,68

Distrito Federal 99,84

Fonte (adaptada): Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos

(SINASC), 2009.

Com relação aos partos cesarianos classificados da mesma forma da anterior:

Tabela 2: Proporção de partos cesarianas, Brasil 2009

Região e unidade da federação (%)

Região Norte

Rondônia 61,25

Acre 30,71

Amazonas 35,53

Roraima 36,22

Pará 39,79

Amapá 29,09

Tocantins 42,03

Região Nordeste

Maranhão 32,76

Piauí 43,89

Ceará 44,71

Rio Grande do Norte 47,17

Paraíba 48,99

Pernambuco 47,01

Alagoas 47,7

Sergipe 33,04

Bahia 35,83

Região Sudeste

Minas gerais 52,06

51

Espirito Santo 58,21

Rio de Janeiro 58,41

São Paulo 58,02

Região Sul

Paraná 56,47

Santa Catarina 55,69

Rio grande do Sul 55,68

Região Centro Oeste

Mato grosso do Sul 58,11

Mato grosso 54,85

Goiás 59,01

Distrito Federal 51,97

Fonte (adaptada): Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos

(SINASC),2009.

Observa-se segundo as tabelas apresentadas, a grande disparidade de partos,

devendo apartir destes dados concretos ações que priorizem o parto normal, levando a uma

melhor atuação do enfermeiro destes casos, desde a notícia da gravidez até a hora do

parto, levando sempre em consideração o bem-estar e a diminuição de risco de morte tanto

para a mãe quanto para o bebê. Devendo essa atuação atingir não somente a gestante

como os familiares mais próximos, orientando-os de maneira segura a importância do parto

normal, enfatizando a experiência como um todo, levando consequentemente a valorização

do serviço. Devendo também que haja uma união interdisciplinar de médicos, obstetras e a

enfermagem para que todos possam entender e trabalhar juntos com um único propósito

que e a humanização de maneira segura e eficaz da mãe e do bebê.

52

3.0 JUSTIFICATIVA

Observou-se que nos últimos anos o número de partos cesariana no Brasil só tem

aumentado, deixando de lado os partos normais, sendo esses partos de risco ou não.

Segundo o ranking da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil aparece em segunda

colocação entre os países com mais cesarianas em relação ao total de nascimentos, nos

últimos anos, podendo assim já entender que existe alguma inversão nos valores deste

procedimento.

A partir das experiências profissionais observamos que a utilização do parto cesárea

tem sido cada vez mais recorrente tanto no Sistema Único de Saúde como no serviço

privado, mesmo que a gravidez seja de baixo risco. Afinal segundo os critérios do Ministério

da Saúde, o parto cesárea deverá apenas ser realizados em caso de gravidez de médio a

alto risco.

Dentro desta problemática observa-se que o enfermeiro que é parte integrante da

equipe obstétrica, deixa de lado neste momento a questão da comunicação e do

aconselhamento e da própria humanização, devendo ser essa uma preocupação constante

da enfermagem.

Para tanto tem sido buscada a melhoria das práticas de cuidado, devendo adotar

novos modelos assistenciais, onde as equipes multidisciplinares que atende a gestante

neste caso, não se preocupem apenas com a burocracia mas com o ser humano como um

todo, levando assim a aceitação consciente da realização do parto normal.

Portanto é de extrema importância que o enfermeiro nesses casos, sendo os mesmo

capacitados para orientação e cuidado, auxilie a gestante no esclarecimento de dúvidas e

na aceitação para realização de um parto seguro, tornando o vínculo de afeto mãe - bebê

maior e também uma experiência inesquecível.

53

4.0 OBJETIVO

4.1 Objetivo Geral

Oferecer subsídios para a compreensão da importância do atendimento humanizado

pela enfermagem, para que haja uma melhor aceitação ao parto natural de maneira que os

envolvidos saibam dos benefícios do mesmo, levando em consideração a experiência do

nascimento natural. Deste momento deve-se apresentar a atuação do enfermeiro na

assistência de enfermagem no pré e pós-parto normal, tornando assim ao enfermeiro como

parte principal para auxílio da aceitação e da compreensão de analisar a importância de se

preparar para esse momento rico e único que é o parto normal, deixando de lado os medos

e as próprias incidências. Diminuindo assim os riscos que é a realização de um

procedimento invasivo como a cesariana.

4.2 Objetivo específicos.

1- Atuação efetiva dos enfermeiros sendo eles com especialidade obstétrica ou não

para aceitação da gestante de baixo risco ao parto normal.

2- Demonstrar à gestante e a família da mesma os benefícios do parto normal.

3- Apoiar a importância à humanização no momento do parto normal.

4- Incentivar atuação do enfermeiro para um parto seguro.

5- A grande incidência de cesárias nos últimos anos.

6- Atuação dos meios responsáveis sobre o incentivo ao parto normal.

54

5.0 HIPÓTESE

Constatar a importância do enfermeiro na obstetrícia, principalmente na questão de

aceitação de realização de um parto seguro e de baixo risco como o parto normal, visando a

humanização e a interação multidisciplinar para melhoria do cuidado, levando

consequentemente a diminuição das cesarianas, sendo ele um procedimento invasivo e

menos seguro no caso de uma gravidez de baixo risco.

Neste caso o presente estudo visa constatar a importância do enfermeiro e sua

atuação efetiva na escolha do parto.

55

6.0 MATERIAL E MÉTODO

6.1 Desenhos do estudo

Trata-se de uma revisão bibliográfica, que visa explicar a importância da atuação do

enfermeiro na aceitação ao parto normal. Para elaboração desta pesquisa, foi necessário

consultar trabalhos publicados em livros e ou artigos científicos de acordo com a proposta

previamente selecionada.

6.2 Período de coleta de dados

A pesquisa foi realizada por via eletrônica, através de consulta de artigos científicos,

veiculados nacionalmente na base de dados do Scielo Brasil, Bireme, Bvsms, Revista

Eletrônica de Enfermagem, entre outras bases de dados, no período de 2000 a 2014.

6.3 Critérios de inclusão e exclusão

Os artigos científicos selecionados atenderam aos seguintes critérios de seleção:

artigos indexados no banco de dados em concordância com os descritores previamente

escolhidos: humanização enfermagem, parto normal, aceitação. Após uma primeira análise

dos títulos e conteúdo dos respectivos resumos.

6.4 Análise dos dados

56

Realizado a partir disso, uma leitura mais minuciosa dos artigos e selecionada as

partes que estavam relacionados ao tema. Alguns trabalhos que consideramos relevantes e

anteriores ao período definido foram incluídos para alicerçar a base conceitual.

6.5 Aspectos éticos

Não há aspectos éticos envolvidos devido a pesquisa não ser uma pesquisa de

campo.

57

7.0 CRONOGRAMA

58

8.0 CONCLUSÃO

A assistência à mulher no período gravídico no Brasil ainda está focada no modelo

biomédico, que fragmenta o ser humano, o que tem contribuído para a permanência e

aumento do número de procedimentos invasivos e intervencionistas, no caso a cesariana,

muitas vezes de forma desnecessária e sem a verdadeira opinião da mulher e/ou família.

Entretanto, nas últimas décadas, tem emergido vários movimentos governamentais e

não governamentais, em prol de uma assistência humanizada e holística em que se

considera a pessoa como principal sujeito do seu corpo e vida e não apenas simples objeto

visando lucros, dando assim prioridade ao cuidado humanizado na hora do parto, deixando

de lado a questão da experiência excepcional que é o parto normal humanizado e sem

riscos

Neste sentido, o enfermeiro de modo geral deve ser reconhecido pelo Ministério da

Saúde e outros órgãos não governamentais, como o profissional que possui formação

holística e procura atuar de forma humanizada no cuidado à parturiente tanto nas casas de

parto, como nas maternidades, pois cabe a ela as orientações desde o pré-natal até a

concepção, podendo avaliar o grau de riscos e as necessidades de uma cesariana ou não,

visando sempre o bem estar da mãe e do bebê.

Partimos do pressuposto que gravidez e parto são acontecimentos que estão

condicionados não só a fatores biológicos, mas também a fatores socioculturais, sendo que

estes podem influenciar de forma direta no transcorrer desta etapa, como foi discutido nesta

pesquisa, podendo então caracterizar que o enfermeiro é a veiculador de transformações,

devido a sua alta capacidade educacional, e que tem como objetivo usá-la para a melhoria

da qualidade de vida do cliente.

Pode-se afirmar que para que o profissional de enfermagem possa auxiliar a

parturiente nesta tomada de decisão tão importante garantindo a ela segurança de vida

devendo então o enfermeiro ser treinado, preparado para cuidar da puérpera primigesta e

da sua família, de forma segura e humanizada, pois a maternidade é uma das fases mais

significativas na vida da mulher. Ela merece um cuidado especial o qual deve englobar

características como intuição, sensibilidade, dinamismo, respeito, percepção, compromisso,

autonomia, julgamento clínico e conhecimento. A dimensão da sensibilidade no diálogo

estabelecido, certamente é necessária e imprescindível ao trabalho de suporte, podendo dar

mais força para que a gestante possa decidir-se para o parto normal caso sua gestação seja

de baixo risco.

O desafio para os profissionais da área a redução da lacuna entre expectativas das

parturientes e a real resolução do parto. Devendo-se garantir as mães um local adequado

59

para que sejam acolhidas, ouvidas, orientadas, respeitadas, livres para manifestarem seus

sentimentos, assistência de boa qualidade, acesso à tecnologia, caso necessário. Elas

devem, enfim, ser reconhecidas como seres humanos. Assim, estaremos cumprindo os

preceitos que regem os Direitos Universais do Ser Humano e os princípios do Sistema Único

de Saúde, e contribuiremos com a luta e defesa do parto natural.

Finalmente, acredita-se que mudanças na assistência pré-natal podem, também, ter

um impacto na taxa de cesárea, preparando a mãe para o trabalho de parto e parto, sendo

ele natural e sem riscos, deixando de visar lucros por parte da equipe médica e da

instituição. Esse aspecto está relacionado intimamente com o resgate da assistência

individual, principalmente por parte do enfermeiro com sua capacidade de orientar e

assegurar, uma experiência única e segura a gestante.

Valendo destacar e concluir que a questão da cesariana a pedido não é um problema

apenas do âmbito médico, estando inserida dentro de complexos contextos sociais, mas de

uma falta de orientação quanto aos riscos vinculados a este procedimento, cabendo neste

momento a intervenção do enfermeiro para o esclarecimento das dúvidas e cuidados

necessários deste momento, visando sempre na diminuição do uso da cesariana, devendo

ser usadas em casos de gravidez de risco, entre outras particularidades.

Essa desqualificação da assistência ou até mesmo a falta de acompanhamento

profissional, características das percepções negativas das mulheres participantes,

identificadas durante o estudo bibliográfico, principalmente naquelas que vivenciaram o

parto normal, necessitam de reflexão imediata por parte dos profissionais e gestores de

saúde. Esses profissionais se encontram distanciados das mulheres assistidas e não

conseguem identificar suas reais necessidades, levando as mesmas a escolhas erradas do

parto. Do mesmo modo, os gestores de políticas públicas, que apesar dos programas de

incentivo à humanização da assistência ao parto e nascimento no Brasil, precisam repensar

suas estratégias de ação, para obtenção de melhores resultados, na prática obstétrica,

deixando de lado questões de custo-benefício e pensando no cliente de forma holística e

humanizada.

Concluímos finalmente que como já se sabe o profissional de enfermagem é a

pessoa que está mais ligada a gestante em todo o período desde a descoberta da gravidez

ao preparativos para o parto, cabendo então ao profissional e a instituição a valorização do

seu trabalho, sendo ele o cuidado e a orientação segura para a tomada de decisão,

deixando assim que mãe e seus familiares entendam a importância do parto normal para

eles e para o bebê deixando claro os benefícios que podem trazer, quando deixam que a

concepção seja algo natural, mas acima de tudo seguro e humanizado, diminuindo assim os

riscos de realização de um procedimento invasivo.

60

9.0 REFERÊNCIA

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