A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DAS NORMAIS...
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINADEPARTAMENTO ACADÊMICO DE SAÚDE E SERVIÇOSCURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIAPROF. ORIENTADOR (A): MICHEL MUZA; ELIANE BARETA.
RAFAELA SANTOS ATAIDESTHALES VARGAS FURTADO
A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DAS NORMAIS CLIMATOLÓGICAS PARA ANÁLISE DE VARIAÇÃO
CLIMÁTICA
FLORIANÓPOLISJULHO DE 2014
2
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus por nos dar forças e motivação em todos os momentos.
Agradecemos ao professor Michel Muza por toda a orientação, disposição, e lições durante todo o processo da produção da monografia, e a professora Eliane que ao longo do trabalho nos direcionou.
Agradecemos também ao IFSC, como Instituição, permitindo-nos a formação no Curso Técnico de Meteorologia e por todas as oportunidades advindas.
E aos nossos familiares que sempre nos motivaram a buscar o melhor.
3
RESUMO
O estudo das normais climatológicas consiste uma importante parte da meteorologia para o entendimento das características da atmosfera. As análises das variáveis meteorológicas utilizadas nas normais climatológicas permitem estabelecer padrões de tempo meteorológico e até do próprio clima. Além disso, permite identificar anomalias e possíveis relações com eventos climáticos extremos. Neste projeto procurou-se avaliar algumas destas variáveis contidas nas normais climatológicas de 1961 a 1990 para o Estado de Santa Catarina, com a finalidade de destacar sua importância prática, além de identificar o padrão climático dessas variáveis para o Estado, relacionando-as com os eventos extremos ocorridos nos últimos 10 anos. Utilizaram-se as normais fornecidas pelo INMET, com gráficos e tabelas e realizou-se a análise sobre esses dados.
Palavras-chave: Normais Climatológicas. Variáveis Meteorológicas. Clima. Eventos Extremos.
SUMÁRIO
4
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………….............................51.1 OBJETIVOS…………………….……………………………………….........................61.1.1 Objetivo Geral ……………………………………………………………………..........61.1.2 Objetivos Específicos .....…………………………………………….......…..............6
2 VARIÁVEIS CLIMATÓLOGICAS……………………………....................................8
3 NORMAIS CLIMATOLOGICAS: IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES ………..…….........................................................................................................12
4 AS NORMAIS CLIMATOLÓGICAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA …..........................................................................................................................15
5 SERVIÇO CLIMÁTICO……...........................................................…........….......236 CONCLUSÃO .....................................................................................................25
REFERÊNCIAS ………………………………………....................….........…........26
1 INTRODUÇÃO
5
Nos últimos anos, mais exatamente nas últimas décadas, muitos países
vem sofrendo com fortes e consecutivos eventos climáticos extremos, que
muitas vezes causam desastres naturais sobre as populações envolvidas. O
estado de Santa Catarina tem se destacado nos últimos anos por vários tipos
de desastres naturais. Isso ocorre devido ao tipo de clima, ao relevo e á
ocupação urbana que a região apresenta.
De acordo com Grimm (2009), a região sul do Brasil possui um clima de
muitos contrastes nos regimes de precipitação e temperatura, devido á
localização geográfica e às formações geomorfológicas. Koeppen descreve o
clima do estado de Santa Catarina como mesotérmico úmido que divide-se em
dois subtipos climáticos, por causa de diferenças de altitude de seu território e
do fator maritimidade/continentalidade: Cfa com verões quentes, encontrado no
litoral e no oeste e Cfb de verões frescos, predominante das áreas mais altas
do planalto (SANTA CATARINA, 1991). Além disso, pode também existir
variabilidade espacial e sazonal do clima médio e oscilações interanuais e
interdecenais que causam alterações no estado médio (GRIMM, 2009), e
podem caracterizar o eventos extremos em ciclos mais longos.
Muitos destes eventos estão relacionados a anomalias nas variáveis
meteorológicas de precipitação, temperatura, pressão atmosférica, vento e
também pela umidade do ar. Acredita-se que as mudanças climáticas, tão
comentadas atualmente, estão relacionadas a desvios de medidas padrões
dessas variáveis. A oscilação desconfigurada da precipitação, da temperatura,
da umidade, da intensidade do vento, podem ocasionar eventos climáticos
extremos e caracterizar desastres naturais como enchentes, inundações,
movimentos de massa, estiagens, ondas de calor, geadas, granizos, entre
outros, ocorridos nos últimos tempos em Santa Catarina. Muitas dessas
variáveis, ao serem avaliadas apresentam certo padrão, que representam um
estado normal do seu comportamento, algumas se comportam em ciclos,
longos ou curtos, de períodos mais contínuos, e outros mais anômalos, o que
poderia caracterizar os eventos extremos.
Dessa forma, mostra-se interessante avaliar as médias de uma longa
séries de dados, referentes a essas variáveis meteorológicas, a fim de
estabelecer o padrão e identificar anomalias, e eventos extremos possíveis
6
causadores de desastres. O conhecimento do comportamento atmosférico e de
suas oscilações pode servir como forma de conscientização, prevenção e até
mitigação de riscos e danos.
A longa série de dados médios do clima corresponde às normais
climatológicas, que são definidas pela regulamentação técnica da Organização
Meteorológica Mundial (OMM) como “valores médios calculados para um
período relativamente longo e uniforme, compreendendo no mínimo três
décadas consecutivas ” Portanto é importante dispor de dados referentes a
uma série longa, de no mínimo um período de 30 anos, para compreender e
identificar as variabilidades climáticas e as suas tendências. Além disso,
segundo a OMM, os dados climatológicos são mais úteis quando comparados
a alguma referência, valores padronizados, neste caso, às normais
climatológicas.
Além disso, inúmeras atividades humanas são influenciadas pelas
condições meteorológicas, a agricultura é extremamente dependente da
precipitação e da temperatura, a manutenção dos ecossistemas também
depende das condições atmosféricas, assim como o próprio desenvolvimento
econômico, gestão dos recursos hídricos e prevenção de desastres naturais.
As normais climatológicas permitem compreender as melhores condições,
espaciais e temporais, para cada necessidade específica.
Desse modo, pretende-se estudar o padrão das variáveis
meteorológicas através das normais climatológicas para o Estado de Santa
Catarina, enfatizando a variação sazonal e espacial do clima e identificando
eventos extremos.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Estudar o padrão das variáveis atmosféricas do estado de Santa
Catarina por meio das normais climatológicas com ênfase na variação sazonal
e espacial do clima.
1.1.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos deste projeto são:
a. avaliar o padrão das normais climatológicas sazonalmente;
7
b. contextualizar as normais climatológicas com as características
físicas do estado de Santa Catarina;
c. identificar possíveis aplicações das normais climatológicas
2 VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS
8
As variáveis meteorológicas são mutuamente associadas, pois uma
pode determinar ou explicar a variação da outra, ou seja, pode influenciar na
alteração de outra variável. De modo geral, baixas pressões estão associadas
a instabilidades e a precipitações, ou ainda alta pressão poderia representar
tempo estável, baixa nebulosidade, e amplitudes térmicas maiores, além de
outras relações diretas e indiretas. Dessa forma, os valores das variáveis
meteorológicas podem ser condicionados diretamente por sistemas
meteorológicos ou pela relação direta com outra variável. Para uma proposta
de caracterização climática e para a visualização melhor dessas relações
podem-se citar as variáveis de temperatura, pressão, umidade, evaporação,
nebulosidade e vento.
Compreende-se que a temperatura é o grau de agitação das moléculas,
ou seja, quanto mais se agitam mais a temperatura aumenta (AYOADE, 2003).
Existem várias escalas para expressar as temperaturas, embora a escala
Celsius seja a mais comum, além da escala Fahrenheit e da escala Kelvin.
Para se medir a temperatura usa-se um instrumento chamado de termômetro
inventado por Galileo Galilei, para medir a temperatura do ar atmosférico são
usados em abrigos meteorológicos, termômetros de mínima e máxima. A
temperatura do ar varia em cada lugar, por exemplo entre áreas de uma cidade
ou bairro, principalmente devido à influencia de fatores do microclima, como a
variação da cobertura vegetal, impermeabilização do solo, asfaltos, prédios,
movimento intenso de automóveis, entre outros fatores.
A pressão atmosférica, corresponde ao peso da coluna de ar sobre a
superfície da terra (VAREJÃO 2000). Sua forma de medição é pelo barômetro,
o qual existem dois tipos, o de mercúrio e aneróide. O mais comum é o
barômetro de mercúrio que foi inventado por Torricelli (1608-1647) em 1643. As
unidades mais comuns são milíbares (mb) e hectopascais (hPa). A variação
da pressão tem relação com a altitude, sendo assim, quanto maior for à altitude
menor a pressão, pois há diminuição da coluna de ar atmosférica, quando a
altitude é elevada, a pressão é baixa, por exemplo, nas montanhas o ar é mais
rarefeito (possui uma densidade menor). A pressão diminui 1 hPa a cada 8 m
de altitude (VAREJÃO, 2000). A comparação da pressão em diferentes altitudes
tem como referência o nível do mar. Em uma atmosfera padrão a pressão ao
nível do mar é 1013 hPa.
9
O gradiente da pressão atmosférica é a principal força motor para o
desenvolvimento dos ventos. Dessa forma compreende-se por vento todo o ar
em movimento devido ao gradiente de pressão, no qual essa força desloca o ar
de regiões de maior pressão para de menor pressão. O gradiente de pressão é
causado pelas diferenças de temperatura da superfície terrestre segundo
Ferreira (2010).
Esses movimentos em escala global caraterizam os sistemas sinóticos
das massas de ar e das correntes de jatos, enquanto esses movimentos em
uma escala menor, por exemplo, ventos locais, envolvem quantidades de ar
menores e atingem áreas também menores (FERREIRA, 2010).
Foi inventada em 1774-1857 uma escala de intensidade de vento
chamada Escala Beaufort, que vai de 0 até 12 , há qual designa esta variável
em: calma, vento brado e fresco, brisa leve, brisa fraca, brisa moderada, brisa
forte, tempestade, tempestade violenta e encerrando a escala, o furação que
tem a velocidade igual ou acima de 105 km/h (PARKER, 2001). O vento é uma
variável física que apresenta velocidade, direção e sentido, o qual esta
diretamente associada a diferença de pressão, uma vez que os ventos se
deslocam de uma zona de alta pressão e convergem para zonas de baixa
pressão.
Ainda segundo Ferreira (2010), essa variável representa um fenômeno
importante na atmosfera terrestre, e responsável por trazer ar úmido ou poeiras
de uma região para a outra, pode transportar as nuvens de precipitação, bem
como causar desastres naturais quando muito intenso, destruindo construções
e gerando ondas fortes no mar. Dessa forma, o vento corresponde a uma
variável importante na identificação das condições atmosféricas e na
representação do clima, principalmente pela sua relação com as outras
variáveis como pressão, temperatura e precipitação. Além disso, suas
características estão relacionadas também às condições geomorfológicas da
Terra, pelos relevos e pelas intervenções humanas, como construções.
Mediante a evolução das técnicas de observações meteorológicas pode-se
registrar a velocidade e direção dos ventos nos diversos níveis de altura,
analisado também, quando em superfície, nas normais climatológicas.
De acordo com Bertoni e Tucci (1997), a precipitação corresponde a toda
água proveniente da atmosfera que cai sobre a superfície da terra. Para
10
Garcez (1988), pode ser entendida como o conjunto das águas, com origem no
vapor de água da atmosfera, que se movimenta com destino à superfície da
terra em estado líquido ou sólido, podendo ser em forma de chuva, neve e
granizo. Além disso, o orvalho e a geada podem ser contabilizados como totais
de precipitação. Resumidamente, a precipitação nada mais é do que a
transferência da água da atmosfera e compreende um dos componentes mais
importantes do ciclo hidrológico, além de ser normalmente o principal
alimentador de uma bacia hidrográfica.
Os tipos mais comuns são: Precipitação convectiva - associado com
instabilidade convectiva, ou seja, mais intensa, frequentemente acompanhada
de trovões; precipitação orográfica - associada às áreas acidentadas ou
montanhosas. Precipitação frontal – relacionada a sistemas meteorológicos
como a frente fria, quente, estacionária ou oclusa.
Para medir a precipitação utilizam-se aparelhos que coletam a água da
chuva de determinado local, e a altura da água no recipiente é medida
manualmente, a partir de pluviômetros e pluviógrafos, ou de maneira
automatizada, com uso de pluviômetros das estações meteorológicas
automáticas.
Quando o elemento água encontra-se em contato com a atmosfera,
pode ocorrer mudança de fase, ou seja, do líquido para o gasoso, conhecida
como evaporação. Em nosso cotidiano, o sol aquece os oceanos, lagos, rios,
assim levando-os à evaporação, e aumentando a presença do vapor de água
na atmosfera. É medida principalmente através de duas formas, com o
instrumento chamado evaporímetro de piché e com o tanque de evaporação
Classe A.
A umidade é a quantidade de vapor de água existente no ar. Quanto
maior for à temperatura mais elevada a quantidade de umidade que o ar pode
absorver. Há medições importantes relativas a umidade do ar, como ponto de
orvalho (°C) e a umidade relativa do ar (%), pressão de vapor d’água (hPa). A
umidade relativa é a relação entre a pressão de vapor real e a pressão de
vapor para o estado de saturação. O instrumento de medição chama-se
higrômetro de cabelo e o psicrômetro.
A origem das precipitações está diretamente relacionada à formação de
nuvens na atmosfera. Grande parte da atmosfera contém vapor de água e
11
quando este aquece, o ar tende a subir e se expandir devido a menor pressão
em altitude. Isto faz com que ele comece a esfriar e por isso não possa mais
agregar vapor de água, levando ao processo de condensação.
As nuvens são compostas por gotículas de água e gelo junto com
partículas suspensas no ar, como aerossóis, as quais se caracterizam como
núcleos para a condensação. Garcez (1988) estima que a quantidade de água
presente nas nuvens não extrapola 2 a 3g por metro cúbico. Quando essas
gotículas de água presentes nas nuvens aumentam de volume, elas ganham
peso superior às forças que as mantém em suspensão e consequentemente
pela ação da força da gravidade, elas precipitam. Essas nuvens podem ser
realimentadas por vapor de água proveniente de fora das nuvens, fato que
explica chuvas de longa duração (GARCEZ, 1988).
Segundo o Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) nebulosidade
corresponde a um “elemento meteorológico que traduz a fração da abóbora
celeste que é ocupada por nuvens” (BRANCO, 2013), em outras palavras,
corresponde à cobertura total de nuvens que recobrem o céu em determinado
momento. O céu é dividido em oito partes iguais pela Aeronáutica para
observações de nebulosidade e em dez partes nas estações meteorológicas
para a determinação da cobertura de nuvens na atmosfera.
Por fim a formação de nuvens está diretamente relacionada aos
elementos umidade e temperatura, sendo que será mais comum em regiões
litorâneas devido à grande umidade proveniente do mar ou em regiões altas,
próximos a picos de morros, devido às condições geomorfológicas e à
formação de chuvas orográficas.
3 NORMAIS CLIMATOLÓGICAS: IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES
12
De acordo com a OMM, as normais climatológicas correspondem a
valores médios das variáveis meteorológicas equivalente ao período mínimo de
30 anos, para que seja suficiente para identificar um valor predominante que
represente os padrões característicos de um parâmetro do clima no local
considerado (IPMA, 2014). Estes valores médios correspondem a intervalos de
tempos diários, mensais, sazonais ou anuais das variáveis meteorológicas
(INMET, 2014). Segundo o INMET, as variáveis meteorológicas descrevem o
comportamento físico da atmosfera, enquanto que as normais climatológicas
apresentam uma informação do comportamento médio, utilizando dados de
longo período para definir o clima em uma determinada época ou era em vários
anos.
A sugestão para os cálculos das normais climatológicas surgiu em 1872
com a compilação de dados de valores médios de um período uniforme, pelo
Comitê Internacional de Meteorologia, com a finalidade de compatibilizar todos
os dados disponíveis. Assim, a OMM estipulou o início de cada década para
começo dos cálculos, a partir de 1901, e no Brasil especificamente, só existem
dados relativamente bem distribuídos no território nacional a partir de 1910
(INMET, 2014). Na Região Sul do Brasil um histórico de dados mais antigos e
com considerável consistência está na Estação Meteorológica da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) em Pelotas com dados de
precipitação desde 1983.
Segundo a própria OMM, todas as informações referentes a clima são mais
aproveitadas se comparadas a uma referência, caso contrário serão apenas
valores sem representatividade (INMET, 2014). Se estabelecido um padrão
normal destes valores, podem-se gerar análises das condições atmosféricas
momentâneas, de previsões futuras e caracterizar o próprio clima de
determinada região.
Dessa forma, os dados extraídos das normais climatológicas podem servir
diretamente para a agricultura, informando épocas melhores para plantio e
colheitas, informando o regime de precipitação, assim como também sobre
radiação solar, temperatura junto a variável derivada chamada graus dias, na
qual são importantes para o desenvolvimento da produção agrícola e da
economia de uma país. Além disso, as normais podem ser utilizadas para
áreas de saúde, turismo, lazer, para a própria manutenção dos ecossistemas e
13
preservação dos recursos hídricos, como para aplicações teóricas e estudos
acadêmicos.
No Brasil as primeiras normais climatológicas -1961 a 1990 - foram
publicadas em 1992, pelo antigo Departamento Nacional de Meteorologia do
Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, com dados extraídos a partir de
209 estações meteorológicas abrangendo as variáveis de temperatura média
(Figura 1), temperatura máxima, temperatura mínima, temperatura máxima
absoluta, temperatura mínima absoluta, pressão atmosférica, umidade relativa,
nebulosidade, precipitação total, precipitação máxima em 24 horas, evaporação
total e insolação total (INMET, 2014).
Figura 1: Normal climatológica da temperatura média anual no Brasil referente
ao período de 1961 a 1990. Fonte: Normais Climatológicas – INMET
Fonte: INMET, 2014
As normais climatológicas referem-se apenas a dados médios mensais e
anuais, entretanto as variáveis meteorológicas analisadas constituem variáveis
14
extremamente dinâmicas e muitas vezes indeterminadas. Assim, a análise
detalhada dessas variáveis também se mostra importante para determinar,
dentre as médias, valores máximos e mínimos, e para se estabelecer as inter-
relações diretas entre elas.
Analisando essas variáveis e suas intercomparações é possível
identificar as características climáticas de uma região, ainda pode-se observar
os valores máximos e mínimos de como elas se comportam ao longo do ano,
nas estações e em ciclos de períodos longos e curtos. Isso representa um fator
importante para o desenvolvimento como um todo da região, permite escolher
épocas boas para plantio, corte, colheita, turismo, lazer, entre muitos outros
fatores condicionados pelo clima.
O estado de Santa Catarina possui um clima bem típico, com chuvas
bem distribuídas ao longo do ano, com as quatro estações bem definidas, mas
com eventos extremos climáticos constantes, principalmente referentes a
precipitação, ventos fortes, estiagem e baixas temperaturas ao longo do
inverno. Muitos desses eventos foram catastróficos, considerados desastres
ambientais que afetaram diretamente toda a economia do estado, além de
danificar e destruir inúmeras residências e registrar muitos casos de óbito.
Mostra-se interessante conhecer essas particularidades do estado de SC
através das análises das normais climatológicas, do tipo de clima e
comportamento das variáveis meteorológicas.
4 AS NORMAIS CLIMATOLÓGICAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
15
As normais climatológicas são produzidas com informações baseadas
nas observações meteorológicas oficiais do INMET, com dados coletados por
30 anos no mínimo. O estado de Santa Catarina possui 10 estações
meteorológicas oficias que foram capazes de gerar a última normal
climatológica, do período de 1961 a 1990. Os municípios que forneceram
dados estão bem distribuídos dentro do estado, englobando todas as regiões
geográficas, desde o extremo Oeste em Chapecó e Xanxerê, no Norte com
Porto União, Irineópolis e São Francisco do Sul, no litoral com Florianópolis, no
planalto serrano em São Joaquim, Campos Novos e Lages, no sul com Laguna
e Urussanga e no vale do Itajaí em Indaial.
Essas estações meteorológicas são oficiais registradas na Rede
de Observações de Superfície do INMET e realizam as observações no horário
UTC, padrão mundial, às 12, 18 e 24 UTC. Dessa forma, torna-se possível
estabelecer um padrão climático nesses últimos 30 anos para todo o estado de
SC, estabelecendo reações diretas com o relevo, com a latitude, com os
sistemas sinóticos atuantes, entre outros condicionantes.
Selecionaram-se, neste trabalho, as variáveis de pressão
atmosférica, temperatura, umidade, nebulosidade, ventos e precipitação para
as devidas correlações e análises de clima, uma vez que estão conectadas e
relacionadas, além de representarem variáveis importantes para a descrição e
compreensão das condições atmosféricas de uma região
A pressão atmosférica, se analisada para todo o território brasileiro,
pouco sofre variação espacial e sazonalmente. É uma variável que está
diretamente relacionada ao peso da atmosfera sobre a superfície e às formas
de relevo e altitudes. No Brasil a pressão fica em média entre os 900 e 1010
hPa (Hector Pascal), possuindo valores menores apenas em pontos
específicos com altitudes superiores. Em Santa Catarina, por apresentar essa
peculiaridade com relevos bem acidentados e morfologias bem distintas,
apresenta valores de pressões próximo aos 900 hPa nos planaltos e serra, pois
apresentam altitudes superiores a 1000 metros em relação ao nível do mar.
Em Santa Catarina de modo geral, as normais climatológicas
apresentam valores de pressão atmosféricas mais elevados no litoral,
Florianópolis, Laguna e São Francisco do Sul, com valores em torno de 1010 a
1015 hPa, sendo que a média dos últimos 30 anos apresenta uma pequena
16
elevação dos valores de pressão nos períodos de outono e inverno e valores
mais baixos principalmente no verão. O mesmo pode ser observado para as
outras regiões, com valores normais menos elevados.
Valores muito elevados de pressão, geralmente superiores aos 1010
hPa correspondem a tempo estável, sem formações de nuvens, ao nível do
mar, e baixas pressões, por volta de 900 hPa, possibilitam maior nebulosidade,
convergência maior de ventos e consequentemente instabilidade, com
ocorrência de chuvas. Porém pode haver diferenças de pressão em escala
pequena, momentaneamente. Esse gradiente esta relacionado a chegadas de
sistemas sinóticos, massas de ar e frentes, convergência de ventos, etc. E são
esses fatores os responsáveis por anomalias ou eventos extremos.
Os valores de intensidade do vento são muito variáveis, tendo muitas
interferências de relevo, construções, entre outros, no estado de Santa
Catarina nao ultrapassa valores de 4(m/s) e não apresentam nenhum padrão
por estação do ano nem por região. Em geral, na média dos últimos 30 anos,
Campos Novos, Laguna, São Joaquim e Florianópolis apresentaram os valores
mais elevados. Além disso conhece-se que no litoral próximo ao nível do mar
existem mais ventos de baixos níveis, como as brisas que carregam muita
umidade do mar para o continente. Esse tipo de vento pode diminuir a
temperatura e trazer nebulosidade para uma pequena região e com isso
ocorrer chuvas localizadas.
Em Santa Catarina, de acordo com os dados das normais de 1961 a
1990, a nebulosidade média desses 30 anos fica em torno de 0,7 ( sete
décimos) em todo o Estado de forma geral. Orleans apresenta uma média
anual de 0,5 (cinco décimos) sendo o menor valor em Santa Catarina,
considerando que é um município localizado ao oeste da Serra do Mar (Figura
3). O município de São Francisco do Sul apresenta 0,8 (oito décimos) de
nebulosidade sendo o maior valor no Estado, justamente por ser um município
localizado no litoral (Figuras 2). De maneira geral, no inverno são observados
os menores valores, devido a menor ocorrência de precipitação, associado a
pouca formação de nuvens, e no verão a quantidade de nuvens tende a ser
maior, devido à maior precipiação relacionado à convecção.
17
Figura 2 – Gráfico de nebulosidade mensal para o município de São Francisco
do Sul/SC
Fonte: Dados INMET
Figura 3 – Gráfico de nebulosidade mensal para o município de Orleans/SC
Fonte: Dados INMET
Observando os dados mensais de Santa Catarina durante um período
de 30 anos, a quantidade de umidade relativa do ar é maior no litoral, por ter o
maior índice de vapor de água que evapora do mar. Mediante dados das
estações meteorológicas nas cidades de Santa Catarina, foram realizadas
18
algumas comparações para melhor compreensão desta variável importante,e
será formulada a média mensal dentro do período de 1961-1990.
Nos meses de janeiro a abril o litoral varia entre 80% e no interior 75%
(Figura 4), não havendo tanta diferença. Em maio e junho a umidade é alta nos
dois locais 85%. Nos três meses seguintes ocorrem novamente os percentuais
dos primeiros meses. Em outubro, novembro e dezembro no planalto oscila por
volta de 70% , e 80% no litoral como mostra a figura 5.
Figura 4 - Mapa de umidade relativa do ar do mês de março
Fonte: Normais Climatológicas INMET
19
Figura 5 – Mapa de umidade relativa do ar mês de novembro
Fonte: Normais Climatológicas INMET
Temperatura é a variável com mais influência no dia-a-dia e a mais
importante, também é a variável que a população em geral mais tem contato e
entendimento, pois sempre há uma curiosidade de querermos saber qual foi a
temperatura máxima e a temperatura mínima. Além disso, a temperatura está
diretamente relacionada com as outras variáveis meteorológicas e pode
influenciar na alteração dos valores padrões. O Estado de Santa Catarina
enfrenta alguns problemas relacionados à temperatura, nas regiões mais altas
e mais distantes do mar, como no planalto serrano, as temperaturas podem
chegar a ser negativas no inverno, com possibilidade de neve em algumas
localidades. Mas também podem ocorrer ondas de calor com temperaturas
acima da média ou ocasionada por ilhas de calor, nas grandes cidades.
Analisando o gráfico pode-se comparar que mesmo sendo no
mesmo Estado as temperaturas podem ser bem diferentes. Comparando o
gráfico de temperatura mínima das cidades de Florianópolis e de São
Joaquim, sendo uma cidade litorânea e outra a cidade mais alta da Serra
Catarinense, pode-se perceber como a temperatura mínima das duas cidades
20
são bem diferentes mesmo sendo da mesma região Brasileira, isso ocorre
porque há altitude, umidade e outras variáveis diferentes entre um lugar e
outro, mudando assim os fatores climáticos. Pode-se analisar Florianópolis no
mês de Janeiro com a temperatura mínima de 21,4°C e no mesmo período
em São Joaquim foi registrado 12,9°C, uma diferença bem significativa ja
que se está comparando o mesmo período.
Na temperatura máxima também se observa diferença mas não
tão significativa quanto na temperatura mínima, ainda comparando
Florianópolis e São Joaquim, tem-se 28°C em Florianópolis e São Joaquim
com 23,1°C, no mesmo período em que se analisaram as temperaturas
mínimas (mês de Janeiro ). Então há uma diferença de 8,5°C na temperatura
mínima, que é bem significativo, e uma diferença de 4,9°C na temperatura
máxima. Agora comparando a cidade de Lages que se localiza no Planalto
Serrano bastante famosa no inverno por suas temperaturas baixas e São
Francisco do Sul, no norte Catarinense, no período de Julho , tem-se mínimas
bem comparativas quase o dobro uma em relação a outra . Em Lages 7,2°C,
e em São Joaquim, 13,9°C , tendo como diferença de 6,7°C, em cidades do
mesmo Estado. Assim pode-se ter um exemplo bem claro de como a
temperatura e as variáveis meteorológicas mudam de região para região e de
ano para ano precipitação corresponde a uma das variáveis mais importantes
para análises de climatologia. Corresponde a toda forma de água, sólida ou
liquida que se condensa e se transfere da atmosfera para a superfície.
Essa água pode ser responsável por abastecer toda a população local,
pode servir para irrigar muitos tipos de agriculturas para fornecimento de
alimentação para toda a população, ou ainda pode ser a principal causadora de
desastres naturais, relacionados a inundações, enchentes, movimentos de
massa ou em caso de déficit, estiagens e secas.
Esta variável esta diretamente relacionada à quantidade de umidade
presente no ar, à quantidade de nuvens recobrindo o céu, além da proximidade
com oceanos, tipo de relevo, pressão atmosférica, entre outros fatores.
O estado de SC de maneira geral apresenta chuvas bem distribuídas por
todas as suas regiões ao longo do ano todo podendo apresentar algumas
particularidades provavelmente devido a fatores extremos.
21
A precipitação média acumulada anual da última normal climatológica
apresenta valores aproximados a 1600 milímetros, sendo o valor mais elevado
em Xanxerê com 2227,4 mm (Figura 7), e o menor foi observado em Araranguá
com 1158,8 mm (figura 6). As chuvas geralmente são mais frequentes no
verão, no inverno elas podem ser ocasionadas por sistemas frontais
estacionários, causando chuvas intensas em algumas regiões, porém não é o
comportamento padrão.
Figura 6 – Gráfico de precipitação acumulada - Araranguá/SC
Fonte: Dados INMET
23
5 SERVIÇO CLIMÁTICO
Os serviços ambientais são responsáveis pela manutenção da
biodiversidade. A partir daí surgiu o conceito de serviço climático que mostra-se
responsável pelo controle e prevenção de desastres causados por eventos
climatológicos assim como para a redução de atividades que possam alterar o
clima local.
A concepção de serviço climático é um termo contemporâneo na
perspectiva de avanço integrador e transdisciplinar das ciências que envolvem
o clima. A compreensão do clima é um dos maiores desafios para as
sociedades em todo o mundo. A normal climatológica é uma informação para o
serviço climático sendo uma composição da variabilidade climática e mudanças
a longo prazo, incluindo os eventos extremos. As tecnologias de informação e
comunicação voltadas ao serviço climático resultam em amenizar impactos
econômicos e desastres oriundos do clima. Isto porque o serviço climático é
disseminado como informação pública e também específica para diversos
usuários.
Envolve a formação de parceiros interessados no serviço climático como
educadores científicos ou não, agentes dos setores públicos e privados e
organizações de comunidades que abranjam a dimensão ambiental, com vistas
à aplicação de conceitos para o desenvolvimento, proporcionando-lhes a
possibilidade de empreender o bem comum de forma qualificada e voltada a
promoção da sustentabilidade.
As mudanças climáticas afetam diretamente a sociedade seja de forma
social, ambiental ou econômica. Os produtores rurais dependem diretamente
das condições climáticas propícias para o desenvolvimento da sua produção,
muitas vezes até para subsistência. A economia de muitas regiões gira em
torno do clima, e dependem diretamente das informações climáticas para seu
desenvolvimento. Além disso inúmeros desastres naturais tem ocorrido em
função das mudanças climáticas, eventos extremos, que causam dados diretos
na sociedade, destruindo moradias, plantações, alagando e isolando regiões,
causando até mortes. Por fim essas mudanças climáticas podem afetar
diretamente a qualidade de vida da população.
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Os serviços climáticos pouco se difundiram ainda na sociedade, porém é
um novo conceito que contribuirá diretamente para a melhoria dessas
condições, na divulgação de informações, na prevenção e até como medida de
resposta em caso de desastres. Segundo notícias do Terra (2011) a
Organização Meteorológica Mundial (OMM) uma nova estrutura global para
serviços climáticos visa a aumentar a disponibilidade de informações sobre o
tempo para todos os países, especialmente para os agricultores de países mais
pobres, através de medidas de redução pró-ativa do risco de desastres e servirá
como importante ferramenta de gestão integrada na luta contra a seca e a
degradação de terras
A normal climatológica também tem papel crucial na gestão de
planejamento e desenvolvimento da sociedade. Esta gestão refere-se a
oportunidades econômicas e sociais, risco, mitigação e adaptação (CARDONA,
2001). A aplicação eficiente desta informação necessita ser integrada ao vários
setores econômicos e organizacionais da sociedade. Além disso, a informação
a partir da normal climatológica deve ser formulada para a escala global,
continental, nacional e regional, atendendo uma diversidade de setores. Inclui-
se também os agentes tomadores de decisões, como organizações e políticos.
O detalhamento da informação é especificado para cada setor.
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5 CONCLUSÃO
A partir do estudo pode-se concluir a fundamental importância das
análises sobre as normais climatológicas para identificar o clima de uma
determinada região e as principais variáveis meteorológicas influentes nas
condições atmosféricas, que modificam o tempo meteorológico diariamente e
que podem influenciar diretamente no clima local, assim como em anomalias e
eventos extremos. Devido à dinâmica dessas variáveis, mostra-se necessário o
uso das normais climatológicas para estabelecer padrões, identificar
anomalias, e prever eventos extremos. Essas médias climáticas podem
representar uma importantíssima ferramenta para a gestão territorial como um
todo, evitando desastres maiores.
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REFERÊNCIAS
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