A IMPORTÂNCIA DA PATOLOGIA CLÍNICA NA VETERINÁRIA ... Furtado de... · ii tatiane furtado de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ TCCG – GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA A IMPORTÂNCIA DA PATOLOGIA CLÍNICA NA VETERINÁRIA: HEMATOLOGIA E URINÁLISE EM PEQUENOS ANIMAIS Tatiane Furtado de Carvalho Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cecília Nunes Moreira Sandrini JATAÍ 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CAMPUS JATAÍ

TCCG – GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

A IMPORTÂNCIA DA PATOLOGIA CLÍNICA NA VETERINÁRIA: HEMATOLOGIA E URINÁLISE EM PEQUENOS ANIMAIS

Tatiane Furtado de Carvalho

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cecília Nunes Moreira Sandrini

JATAÍ

2008

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TATIANE FURTADO DE CARVALHO

A IMPORTÂNCIA DA PATOLOGIA CLÍNICA NA VETERINÁRIA:

HEMATOLOGIA E URINÁLISE EM PEQUENOS ANIMAIS

Trabalho de Conclusão de Curso de

Graduação apresentado para a obtenção

do título de Médica Veterinária junto

à Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí.

Orientadora:

Prof.ª Dr.ª Cecília Nunes Moreira Sandrini

Supervisor:

Prof.º Dr.º Antônio Vicente Mundim

JATAÍ

2008

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (GPT/BSCAJ/UFG)

Bibliotecário responsável: Enderson Medeiros CRB 2.276

Carvalho, Tatiane Furtado de. (1986 - ) C3311a A importância da patologia cliníca na veterinária: hematologia

e urinálise em pequenos animais. / Tatiane Furtado de Carvalho. – Jataí : [S.n], 2008.

122 f. : il.; figs.; tabs.

Orientador: Prof. Dra. Cecília Nunes Moreira Sandrini.

Trabalho de Conclusão de Curso (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, 2008.

1. Pequenos Animais. 2. Medicina Veterinaria. 3. Patologia Cliníca. 4. Hematologia. 5. Urinálise. 6. Contagem automatizada hematológica. 7. Bioquímica sérica automatizada. 8. Hematozoários. 9. Sedimestoscopia. I. Sandrini, Cecília Nunes Moreira. II. Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí. III. Título.

CDU : 619:616.15+616-008.846.1

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TATIANE FURTADO DE CARVALHO

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação defendido e aprovado em 26 de

novembro de 2008, pela seguinte Banca Examinadora:

Profa. Drª. Cecília Nunes Moreira Sandrini – UFG

Presidente da Banca

Profa. Drª. Vera Lúcia Dias da Silva Fontana

Membro da Banca

Profº. Edismair Carvalho Garcia

Membro da Banca

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A você, que me deu a vida e me ensinou a vivê-la, com dignidade, não bastaria um

obrigada. A você, que ilumina os caminhos obscuros com afeto e dedicação para

que eu trilhasse sem medo e cheia de esperanças, não bastaria um muito

obrigada. A você, que se doou inteira e renunciou aos seus sonhos, para que,

muitas vezes, pudesse realizar os meus. Pela longa espera e compreensão

durante minhas longas viagens, não bastaria um muitíssimo obrigada. A você, mãe

por natureza, por opção e amor, não bastaria dizer, que não teria palavras para

agradecer tudo isso. Mas é o que me acontece agora, quando procuro arduamente

uma forma verbal de exprimir uma emoção ímpar. Uma emoção que jamais seria

traduzida por palavras.

Amo você!

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, sempre estiveste ao meu lado, nas minhas

quedas, nas minhas fraquezas, nas lutas e controvérsias, vitórias e derrotas. Sei

que, principalmente agora, estais ao meu lado. Obrigada por este presente que

agora me ofereces. Obrigado por tudo que vi, ouvi e aprendi. Obrigada pela Vida!

A você mãe, que trilhou comigo este caminho, meu sincero

agradecimento pelo apoio, pelo carinho, pela onipresença, pela força, enfim, pelo

amor incondicional. Agradeço também a minha família, ao meu irmão, pela

existência em minha vida.

Aos colegas, em especial, que nesses anos juntos com dificuldades,

inseguranças, erros, acertos, vitórias e alegrias. Chegamos ao final com a certeza

do dever cumprido. Mesmo que a vida venha nos separar, jamais estaremos longe

para sermos esquecidos. No coração de cada um haverá saudade, recordação,

companheirismo... Em especial as minhas amigas Thays, Éllen, Valéria e Dalila

pelas alegrias que partilhamos em nosso caminhar.

À profª. Drª. Cecília, minha orientadora, pelos ensinamentos de

dedicação profissional, e pela imensa contribuição na minha vida acadêmica e

profissional. Também pela amizade e atenção constante durante esta jornada. Aos

professores pelos preciosos conhecimentos ensinados.

Registro o meu profundo agradecimento ao meu supervisor profº

Mundim e ao profº. Fernando Cristino, as residentes Cristiane e Danielli, aos

técnicos Tiãozinho e Felipe, a funcionária Celinha e mestranda Renata, pessoas

que tão gentilmente me receberam no laboratório de patologia clínica da UFU e me

repassaram as informações essenciais para o desenvolvimento deste estudo, pela

paciência e amizade.

Em especial aos professores, funcionários e amigos da UFG, em

especial o Cabral, Patrícia e Sidney, pela diversão, pelo aprendizado, pela

convivência e pela amizade.

A todos que, de alguma forma estiveram presentes em minha vida.

Meu muito obrigada!!!

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1 2 DESENVOLVIMENTO ..................................................................................... 2 2.1 Estágio curricular na área de Laboratório de Análises Clínicas,

realizado no Hospital Veterinário da UFU (HV/UFU) .................................. 2

2.1.1 Localização, estrutura e funcionamento ........................................................... 2 2.1.2 Atividades desenvolvidas ................................................................................. 4 2.1.3 Exames laboratoriais acompanhados no HV-UFU durante o estágio

supervisionado ................................................................................................. 4

2.2.4 Procedimentos para realização dos Exames .................................................. 6 3 HEMOGRAMA ................................................................................................. 19 3.1 Colheita de sangue ........................................................................................ 19 3.2 Interpretação do Hemograma na clínica de pequenos animais ................ 20 3.2.1 Eritrograma ...................................................................................................... 21 3.2.2 Alterações morfológicas dos eritrócitos ........................................................... 31 3.2.3 Parasitas eritrocitários ..................................................................................... 35 4 LEUCOGRAMA ............................................................................................... 40 4.1.1 Neutrofilia ......................................................................................................... 42 4.1.2 Neutropenia ..................................................................................................... 43 4.2.1 Linfocitose ........................................................................................................ 44 4.2.2 Leucemia linfocítica.......................................................................................... 45 4.2.3 Linfopenia ........................................................................................................ 46 4.3.1 Eosinofilia ......................................................................................................... 47 4.4.1 Basofilia ............................................................................................................ 47 4.5.1 Monocitose ....................................................................................................... 48 4.6 Os mais comuns Hematozoários em leucócitos ........................................ 48 4.7 Inclusões virais .............................................................................................. 53 4.8 Anomalias de Pelger-Huet ............................................................................ 54 5 URINÁLISE DE ROTINA ................................................................................. 55 5.1 Colheita e armazenamento ........................................................................... 55 5.2 Exame físico da urina .................................................................................... 57 5.3 Exame químico da urina ................................................................................ 65 5.4 Exame do sedimento urinário ....................................................................... 77 5.4.1 Elementos organizados .................................................................................... 78 5.4.2 Elementos inorganizados ................................................................................. 88 6 DISCUSSÃO .................................................................................................... 95 7 CONCLUSÃO .................................................................................................. 101 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 102

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 HV/UFU vista frontal ......................................................................... 2

FIGURA 2 Contador Sanguíneo veterinário ABC Vet ....................................... 6

FIGURA 3 Localização da contagem das células sanguíneas na camara de

Neubauer (L= leucócitos; E = eritrócitos) ..........................................

8

FIGURA 4 Contador semi automático leucócitos, hemácias e hemoglobina ..... 9

FIGURA 5 Esquema de contagem diferencial de leucócitos em esfregaço

sanguíneo ........................................................................................

10

FIGURA 6 Suporte com lâminas, para realização de fixação do corante May

Gruenwald em esfregaços sanguíneo .............................................

11

FIGURA 7 Aparelho automatizado para bioquímica sérica – Chem Well ......... 13

FIGURA 8 Formação do anel na urina do tubo à esquerda, já no tubo à direita

não houve formação de anel ............................................................

17

FIGURA 9 Formação de cristais de nitrato de uréia na urina ............................ 17

FIGURA 10 A esquerda um macroconídeo, e a direita uma hifa septada,

presente em raspado de pele de cão ...............................................

18

FIGURA 11 Tubos para hemograma e bioquímica sérica ................................... 20

FIGURA 12 Esfregaço sanguíneo de cão, evidenciando a presença de

Hemácias jovens (Policromatófilos) .................................................

28

FIGURA 13 Hemácia nucleada (seta maior branca), policromatófilo (seta

menor), e corpúsculo de Howell Jolly ( seta preta), em esfregaço

de sangue periférico de cão ............................................................

33

FIGURA 14 Eritrócitos crenados ou equinócitos em esfregaço de sangue

periférico de cão .............................................................................

33

FIGURA 15 Esfregaço sangüíneo de gato com eritrócitos parasitados com

Mycoplasma haemofelis ..................................................................

36

FIGURA 16 Esfregaço sangüíneo de cão com eritrócito parasitado com

Mycoplasma haemocanis ................................................................

37

FIGURA 17 Esfregaços sangüíneos de cão com eritrócitos parasitados com

Babesia canis .................................................................................

38

FIGURA 18 Esfregaço sangüíneo de eqüino com eritrócito parasitado com

Babesia equi ...................................................................................

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 19 Esfregaço sangüíneo de um puma com eritrócito parasitado com

piroplasmas de Citauxzoon...........................................................

39

FIGURA 20 Esfregaço sangüíneo de uma cadela com linfossarcoma. Presença

de linfoblastos (setas pretas) e linfócitos (seta branca)...................

46

FIGURA 21 Esfregaço sangüíneo de cão com monócitos com mórulas Erlichia

spp....................................................................................................

49

FIGURA 22 A esquerda um esfregaço sanguíneo de cão, com leucócito

parasitado com Hepatozoon canis. A direita esfregaço sangüíneo

de um jacaré, evidenciando um eritrócito parasitado com

Hepatozoon roullex...................................................................

52

FIGURA 23 Esfregaço sanguíneo de cão evidenciando eritrócito com

Corpúsculo de Lentz..........................................................................

53

FIGURA 24 Esfregaço sanguíneo de cão evidenciando neutrófilos com

Corpúsculo de Lentz........................................................................

53

FIGURA 25 Granulócitos de cão com anomalia de Pelger-Huet há quatro

neutrófilos hipossegmentados..........................................................

54

FIGURA 26 Leucócitos (seta) no sedimento urinário de cão............................... 81

FIGURA 27 Cilindro hialino(seta) no sedimento urinário de cão......................... 82

FIGURA 28 Cilindro epitelial (seta) no sedimento urinário de cão..................... 83

FIGURA 29 Cilindros granulosos (seta) em sedimento urinário de cão.............. 84

FIGURA 30 Espermatozóides (seta) no sedimento urinário de cão.................. 87

FIGURA 31 Cristais de oxalato de cálcio (seta) no sedimento urinário de cão... 90

FIGURA 32 Cristais de Fosfato triplo (setas) no sedimento urinário de cão...... 91

FIGURA 33 Cristais de carbonato de cálcio (seta) no sedimento urinário de cão 91

FIGURA 34 Cristais de tirosina (seta) no sedimento urinário de cão.................. 92

FIGURA 35 Cristais de bilirrubina (seta) no sedimento urinário de cão............... 93

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Exames realizados no laboratório de análises clínicas do HV/UFU, no

período de 17 de agosto a 18 de outubro de 2008, relativos a rotina

interna do HV/ UFU e requisitações externas .....................................

5

TABELA 2 Exames realizados no laboratório de análises clínicas do HV/UFU, no

período de 17 de agosto a 18 de outubro de 2008, relativos à

pesquisa dos alunos da graduação e da pós-graduação ......................

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1 INTRODUÇÃO

Inúmeras dificuldades encontra o clínico, quando, após examinar um

animal, procura formular um diagnóstico. Os sintomas observados nem sempre são

típicos. Outras vezes, existem complicações que dificultam o diagnóstico. Por outro

lado, por meio dos exames de laboratório, o clínico pode prescrever um tratamento

adequado e observar o desenrolar da doença (FERREIRA NETO et al., 1977).

O estágio curricular supervisionado foi realizado no Hospital Veterinário

da Universidade Federal de Uberlândia (HV/UFU), na área de Laboratório Clínico,

no período de 18 de agosto a 17 de outubro de 2008, perfazendo um total de 490

horas. Tive como supervisor o Prof. Drº Antônio Vicente Mundim, da UFU, e como

orientadora, a Profa. Drª. Cecília Nunes Moreira, da UFG.

A escolha do HV/UFU para o local de estágio foi feita por ser uma

Instituição de Ensino Superior, encontrando o apoio de professores, os quais são

profissionais capacitados nas várias áreas da Medicina Veterinária, dispostos a

passar seus conhecimentos aos estagiários. Além de oferecer grande liberdade de

atuação para o estagiário, possibilitando o aprendizado diversificado. Foi escolhida

também pela qualidade de sua infra-estrutura, devido à sua grande demanda de

exames que possibilita ao estagiário a realização e acompanhamento de inúmeros

e diversos casos clínicos e principalmente ao comprometimento dos bons

profissionais que atuam no laboratório.

O estágio no laboratório teve por objetivo a aplicação e ampliação dos

conhecimentos relativos à patologia clínica devido ao gosto e interesse por futura

especialização nesse segmento veterinário.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Estágio curricular na área de Laboratório de Análises Clínicas, realizado

no Hospital Veterinário da UFU (HV/UFU).

2.1.1 Localização, estrutura e funcionamento.

O HV/UFU localiza-se na Avenida Mato Grosso, n° 3286, Campus

Umuarama, Uberlândia-MG (Figura 1). Funcionam todos os dias incluindo os

feriados. Seu horário de funcionamento é de sete às 19 horas de segunda a

sábado e aos domingos até meio dia. O atendimento começa às sete e encerra as

18:30 h. Realiza atendimento nas áreas de Clínica, Cirurgia e Patologia Clínica de

pequenos e grandes animais e também animais silvestres.

FIGURA 1 - HV/UFU vista frontal

O ambiente interno é constituído por uma recepção, onde o cliente tem

o primeiro contato com o Hospital, cinco consultórios, um local de vacinação, uma

enfermaria, uma farmácia, uma UTI, um laboratório clínico, um ambiente de

estudos e sala de televisão para residentes e três salas do setor administrativo.

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O laboratório clínico conta com três salas, uma com ar condicionado para

permanência dos equipamentos automáticos de bioquímica (Chem Well®),

hematologia (ABC VET®) e computador. Uma sala com maior área onde se

encontra os microscópios, bancadas, geladeiras, pias e reagentes em prateleiras.

E uma terceira sala, com armários, estufa, microscópios de reserva, e é nesta sala

que se colocam os resultados dos exames, em uma pasta com divisórias e

identificações por nome do Residente, Médico Veterinário ou Professor que

requisitou o exame, ficando à disposição destes.

Há um centro cirúrgico constituído de quatro ambientes de mesmo

tamanho equipados com aparelhos sofisticados de anestesia inalatória e

respiração artificial, um canil da cirurgia, composto de oito gaiolas, uma sala de

tricotomia, uma sala para confecção de curativos, gesso e talas, duas salas de

Raio x, uma sala para ultra-sonografia e uma sala de técnica operatória utilizada

pelos professores para ministrarem suas aulas.

O ambiente externo é constituído por currais de recepção para animais

de grande porte, um brete para eqüinos e um para bovinos, um centro cirúrgico e

dez baias destinadas a pré e pós-operatório. O Hospital no seu quadro técnico

conta com duas Médicas Veterinárias, três Residentes de clínica, dois Residentes

de patologia, dois Residentes de cirurgia, dois Técnicos de enfermagem e dois

Técnicos de radiologia.

Neste momento, o laboratório conta com a presença das residentes

Cristiane de Brito Silva e Danielli Luana Scherer, além dos técnicos Sebastião

Firmiano de Araújo, Felipe César Gonçalves e Célia e uma mestranda Renata Lima

de Miranda. Conta também com os professores plantonistas do laboratório Prof.

MSc. Fernando Cristino Barbosa e Prof. Dr. Antônio Vicente Mundim.

No Laboratório de Análises Clínicas o estagiário pode realizar todos os

exames, mediante acompanhamento de um técnico ou de um residente. Os

exames feitos são os de rotina, como hemograma completo com pesquisa de

hemoparasitos, urinálise, análise de raspado cutâneo, exame parasitológico de

fezes, bioquímicas diversas, testes específicos de função hepática, e testes para

avaliação do líquido cavitário.

A rotina é composta tanto por exames solicitados pelos Médicos

Veterinários autônomos, quanto pelos residentes e professores. Incluem-se

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também na rotina solicitações externas de outras clínicas e propriedades rurais

além da execução de projetos científicos de alunos da graduação e pós-graduação.

2.1.2 Atividades desenvolvidas

O Laboratório de Análises Clínicas (LAC) faz parte da infra-estrutura do

Hospital Veterinário de Uberlândia.

A demanda de exames consiste primariamente das solicitações internas,

ou seja, de amostras provenientes de consultas realizadas dentro do HV/UFU.

Para uma solicitação de exame, o animal primeiramente passa por uma consulta

onde é realizada a completa anamnese e exame clínico do animal. Essa consulta é

realizada ou por um Veterinário contratado, ou em horário de aula pelos alunos e

com o acompanhamento dos professores ou pelos Médicos Veterinários residentes

ou estagiários plantonistas.

Outra parte da demanda de exames consiste de solicitações externas, ou

seja, amostras enviadas de outras clínicas, fazendas ou Veterinários autônomos.

Elas apenas são recebidas devidamente embaladas, nos recipientes adequados e

bem identificados e com uma solicitação por escrito do exame.

Por fim, uma parcela da demanda de exames dos laboratórios consiste

de projetos científicos realizados por alunos da graduação e pós - graduação, sob

orientação dos professores responsáveis pelo laboratório.

2.1.3 Exames laboratoriais acompanhados no HV-UFU durante o estágio

supervisionado.

O estágio foi realizado na área de Patologia Clínica Veterinária do

período de 18 de agosto até 17 de outubro de 2008. O aproveitamento foi

considerado bom, pois durante este período foi possível acompanhar quase todos

os procedimentos laboratoriais totalizando 4.630 exames que estão expostos nas

Tabelas 1 e 2.

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TABELA 1 – Exames realizados no laboratório de análises clínicas do HV/UFU, no

período de 17 de agosto a 18 de outubro de 2008, relativos a rotina

interna do HV/ UFU e requisitações externa

TABELA 2 – Exames realizados no laboratório de análises clínicas do HV/UFU, no

período de 17 de agosto a 18 de outubro de 2008, relativos à pesquisa

dos alunos da graduação e da pós-graduação

Serão descritos os procedimentos técnicos realizados no laboratório

para execução dos exames laboratoriais requisitados. Foram escolhidos o

Rotina Quantidade Freq. (%)

Hemograma 1213 37,36

Contagem de plaquetas 1213 37,36

Pesquisa de hemoparasita 261 8,04

Urinálise 122 3,76

Bioquímica 330 10,16

Raspado de pele 46 1,42

Fezes 53 1,63

Outros 9 0,28

Total 3247 100

Pesquisa Quantidade Freq. (%)

Hemograma 77 5,6

Bioquímica 1261 91,2

Fezes 00 00

Pesquisa de hemoparasita 23 1,66

Dosagem de hemoglobina 21 1,52

Raspado de pele 01 0,07

Total 1383 100

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hemograma e a urinálise para revisão de literatura, devido a grande importância na

interpretação destes para o Clínico de Pequenos Animais.

2.2.4 Procedimentos para realização dos exames

a) Realização do Hemograma

A contagem dos eritrócitos e da hemoglobina pode ser realizada por métodos

automáticos, semi-automáticos ou manuais. Na rotina do LAC-HV/UFU utiliza-se o

ABC Vet ® (Contador Sanguíneo Animal Veterinário), (Figura 2), que é um

analisador hematológico completamente automatizado (controlado por

microprocessador) usado para o teste de diagnóstico in-vitro de amostras de

sangue composto. O aparelho é totalmente automatizado, com um sistema interno

de diluição e uma impressora gráfica para o registro de todos os resultados de

testes, incluindo a impressão de marcas e de gráficos.

FIGURA 2 - Contador Sanguíneo

veterinário ABC Vet®

O aparelho ABC Vet® permite o processamento de 45 amostras por hora, podendo

processar amostras sanguíneas de 10 tipos de animais como, gato, cachorro,

cavalo, rato, camundongo, coelho, porco, vaca, ovelha e macaco. Sendo que

fornece 16 parâmetros hematológicos para gato, cachorro e cavalo, sendo estes:

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WBC (Contagem de glóbulos brancos), RBC (Contagem de glóbulos vermelhos),

HGB (Hemoglobina), HCT (Hematócrito), VCM (Volume celular médio), CHCM

(Concentração média de hemoglobina corpuscular), HCM (Hemoglobina

Corpuscular média), PLT (Contagem de plaquetas), MPV (Volume médio de

plaquetas), RDW (Amplitude da distribuição vermelha), LYM# (Número de

linfócitos), LYM% (Porcentagem de linfócitos), MON% (Porcentagem de

monóciotos), MON# (Número de monócitos), GRA% (Porcentagem de

granulócitos) e GRA# (Número de granulócitos). E fornecem somente 8 parâmetros

para rato, camundongo, coelho, porco, vaca, ovelha e macaco, sendo estes WBC,

RBC, HGB, HCT, VCM, CHCM, HCM e PLT (Manual do fabricante).

O instrumento mantém na memória a última espécie de animal

registrado com o cartão inteligente veterinário. Cada cartão inteligente veterinário

contém as seguintes informações: espécie do animal, limites inferiores e superiores

para cada parâmetro, limiares das marcas de plaquetas e eosinófilos e limites de

marcas para WBC, RBC, HGB, HCT e PLT. A qualquer momento, antes de passar

uma amostra, pode ser inserido um cartão inteligente para mudar a espécie

(Manual do fabricante).

Este aparelho automatizado de hematologia (ABC Vet®) trabalha com

manuseio da amostra em tubo aberto, ou seja, necessita que se homogeneíze a

amostra, que se verifique a presença de coágulo na amostra para posterior retirada

da tampa do tubo e permitindo que a agulha do aparelho possa aspirar o sangue.

Necessita somente de 12 µl de sangue total de cada amostra, sem necessidade de

pré-diluição.

É utilizado o método semi-automático para contagem de eritrócitos e

hemoglobina através da diluição e leitura no ISOCELM-CELM CC530® se faz

leitura também dos leucócitos totais. Esse método é utilizado quando o analisador

hematológico automático esta com defeito.

O método manual também é utilizado na rotina do HV/UFU para

contagem de eritrócitos por µl de sangue através da seguinte técnica: diluição de

10µl de sangue com EDTA em um tubo contendo 1990µl de solução fisiológica

(aberta sempre no dia para evitar a precipitação de solutos que pode interferir na

contagem) e homogeneização. Após, é realizado o preenchimento da câmara de

Neubauer, colocando a ponta da pipeta na abertura lateral desta câmara, formando

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um ângulo de 45º, fazendo o líquido penetrar por capilaridade entre a lâmina e a

lamínula. Após, são contados 5 quadrantes de 16 subunidades sendo preciso

multiplicar o resultado por 106, encontrando assim o total de células por mm3 de

sangue (Figura 3).

Já a leitura da hemoglobina manualmente é procedida da seguinte

maneira: diluição de 20 µl de sangue com EDTA em tudo com 5ml de solução

especial de hemoglobina, sendo está ácido clorídrico, diluído n/10.

Homogeneização e em seguida procedida à leitura em espectrofotômetro.

FIGURA 3 - Localização da contagem das

células sangüíneas na

câmara de Neubauer (L=

leucócitos; E = eritrócitos) Fonte: LACVET UFRGS, 2005.

Para obtenção do hematócrito é preenchido 2/3 de um tubo capilar com

sangue com EDTA e o fechamento com auxílio do bico de Bunsen na chama azul,

girando o tubo entre os dedos até o fechamento completo. Após, é centrifugado por

5 minutos (tubos posicionados de modo que a extremidade vedada fique voltada

para a borda da centrífuga) e em seguida procedida a leitura em uma escala de

leitura especial, determinando assim o volume globular ou hematócrito.

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9

O método manual para contagem de leucócitos utilizado consiste em

diluir 100µl de sangue com EDTA em um tubo com 1900µl de ácido acético glacial,

preenchendo a câmara de Neubauer com a solução bem homogeneizada e em um

microscópio óptico, na objetiva de 10X ou 40X contar o número de leucócitos

contidos nos quatro quadrantes laterais da câmara (Figura 3).

No HV/UFU além do método manual para contagem total de leucócitos,

há também o já mencionado ISOCELM-CELM CC350® (Figura 4) que faz a

contagem pelo meio de diluição e leitura.

FIGURA 4 - Contador semi-automático de

leucócitos, hemácias e

hemoglobina Fonte: LACVET UFRGS, 2005.

Para contar leucócitos por este método, é primeiramente necessário

eliminar as hemácias da suspensão. Isso é feito através da adição de um agente

hemolítico na alíquota de diluição dos leucócitos. Esse agente destrói as

membranas celulares e dissolvem o citoplasma, deixando somente os núcleos (dos

leucócitos) como partículas contáveis. Isso ocorre porque os contadores por

impedância não podem ser usados para contagem de leucócitos em aves e répteis

– o núcleo das hemácias também permanece em suspensão, sobrepondo-se

completamente aos núcleos dos leucócitos. Depois da lise, a contagem procede

como a contagem de hemácias.

Assim inicialmente é feita uma diluição inicial de 1:500 da amostra, que

será usada para contar os leucócitos e mensurar, fotometricamente, a

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hemoglobina. Imediatamente, uma alíquota dessa diluição é removida e diluída

novamente para obter uma segunda diluição de 1:500.000 para contagem de

hemácias. Existem diluidores automáticos que simplificam esse processo. A

diluição mais alta é usada inalterada, com o instrumento no seletor para hemácias.

A primeira diluição é adicionalmente tratada com a adição de um volume fixo de

agente lisante. Isso faz com que os núcleos dos leucócitos fiquem em suspensão

para a contagem e libera a hemoglobina de dentro das hemácias. Um reagente de

hemoglobina é incluído no agente lisante. Depois de esperar, geralmente 30s, para

que ocorra a lise completa e para que a reação com cianometemoglobina seja

finalizada, essa diluição é passada no instrumento no seletor para leucócitos e

hemoglobina. O fluxo da amostra é dividido, com parte dela indo para o fotômetro

de fluxo celular para a mensuração da hemoglobina e parte indo para o transdutor

para a contagem de leucócitos.

A contagem diferencial de leucócitos é feita em esfregaços de sangue

corado. O esfregaço é feito estendendo-se uma pequena gota de sangue com

EDTA sobre uma lâmina, formando uma fina película de sangue que depois é

corada (May Grünwald – Giemsa) e examinada ao microscópio na objetiva de

imersão, onde são contadas 100 células, revelando assim a porcentagem de cada

tipo de leucócito por mm3 de sangue.

Para a realização da contagem diferencial dos leucócitos no esfregaço,

segue-se o trajeto da Figura 5, isto para tornar menor a margem de erro, pois no

momento da realização do esfregaço os neutrófilos tendem a localizar-se na

periferia deste, os linfócitos na parte central, enquanto os eosinófilos distribuem-se

homogeneamente (MATOS & MATOS, 1995).

FIGURA 5 - Esquema de contagem diferencial de

leucócitos em esfregaço sanguíneo Fonte: LACVET UFRGS, 2005.

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O esfregaço deve ser fino, homogêneo, ter uma distribuição uniforme

das células, sem sobreposições, apresentar pelo menos uma das bordas livre.

Sendo confeccionado o mais rápido possível, no máximo 30 minutos após a

colheita, para evitar alterações na morfologia celular.

É utilizado o Método de May Grünwald – Giemsa para a realização da

coloração do esfregaço sangüíneo. Que consiste na seguinte técnica: é colocado o

esfregaço voltado para cima sobre um suporte (Figura 6), é depositado sobre ele

15 a 20 gotas de May Grünwald deixando agir por três minutos. Esse é o tempo de

fixação. E depois é colocado igual quantidade de água destilada e assopra por

cima com a pipeta ou a boca, para que ela se misture ao corante. Deixa corar por 2

minutos. Por último é derramado o líquido da lâmina e a coloca numa cuba com

suporte para lâminas. Nesta cuba contém Giemsa na concentração de 4%. Deixa-

se corar por 20 minutos, retira-se a lâmina, é lavada em água, secando por

agitação e examinando ao microscópio.

FIGURA 6 - Suporte com lâminas, para realização de fixação do corante

May Grünwald em esfregaços sanguíneo

Existem duas classes de corantes utilizadas: corantes básicos e

corantes ácidos. Os corantes básicos de Wright são uma complexa mistura de

tiazinas, principalmente azula de metileno e azure B. O corante ácido é uma

solução metil alcoólica de eosina. Quando o núcleo e outras estruturas no

esfregaço de sangue periférico absorvem o corante básico, eles são denominados

basofílicos; estruturas que adquirem os corantes ácidos são denominados

acidofílicos ou eosinofílicos. Outras estruturas nucleadas que são coradas por uma

combinação dos dois são denominadas neutrofílicas. Coletivamente, esses termos

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são usados para classificar os leucócitos: basofílicos, eosinofilicos e neutrofilicos

(SINK & FELDMAN, 2006).

Contando também 5 campos mais “limpos” do esfregaço, é realizada a

contagem de plaquetas. O número encontrado é multiplicado depois por 1.000 e

pelo número de hemácias, achando assim o número de plaquetas por mm3 de

sangue. Entretanto o ideal seria a contagem de plaquetas na câmara de Neubauer.

Porém, o aparelho automático de hematologia já fornece o número de plaquetas da

amostra sangüínea.

b) Realização da Bioquímica Sérica

No HV/ UFU, a bioquímica sérica é realizada por meio de um aparelho

automatizado chamado Chem Well® (Figura 7). Que é um analisador automático

de bioquímica e Elisa imunoensaio (dosando hormônios, teste para toxoplasmose).

No momento no Laboratório de Análises Clínicas do HV/UFU, esta sendo

implantada a realização de testes para a dosagem de T3 e T4.

O equipamento bioquímico Chem Well®, funciona em sistema aberto,

isso significa que pode trabalhar com reagentes de várias marcas, que no caso se

fosse um sistema fechado teria que trabalhar com um reagente específico.

Necessita de uma pequena quantidade da amostra, menos de 250 µL. Tem

capacidade para 200 L de volume de reagentes.

É de fácil manuseio e fácil programação. Tem um sistema automático

de adição de amostra e reagentes para evitar contaminações. A precisão de

pipetagem de amostras e reagentes é superior a 99%. Possui uma bandeja para 96

amostras, e uma bandeja para até 40 reagentes. Possui detecção automática do

nível de reagentes.

Tem capacidade para diluição, pré-diluição, dispensa simples ou múltipla

de reagente, controle de temperatura 25º e 37º graus e armazenamento de dados

ilimitados. Os resultados são impressos por paciente ou por teste. Possui

calibração automática. É um analisador automático de bioquímica multicanal, pois,

realiza vários ensaios ao mesmo tempo, como por exemplo: uréia, creatinina,

alanina aminotransferase e outros. Podendo assim obter os resultados de um

paciente com maior rapidez. No caso de analisador monocanal, este faz só um

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ensaio por vez, como por exemplo, ele faz todos de creatinina, tendo que lavar o

equipamento para realizar outro teste.

Tem acesso randômico, que permite parada no processo que esta

sendo realizado para requisitar um teste de urgência. Esse acesso randômico,

também permite a verificação das telas de outros processos que estão sendo

realizados, sem parar o processo requisitado. Possui interfaceamento, ou seja, o

aparelho é ligado a um programa, que permite a leitura em código de barra da

identificação do animal.

FIGURA 7 - Aparelho automatizado para bioquímica sérica – Chem Well®

Para realização da bioquímica, a amostra era centrifugada, para separar

o soro ou plasma. Algumas bioquímicas eram feitas a partir do plasma, obtido de

amostras com EDTA. Após a centrifugação, não é preciso colocar o soro em outro

recipiente, podendo levar ao aparelho o próprio tubo de ensaio, desde que se

tenha uma boa quantidade de soro, para que a agulha do aparelho não sugue o

coágulo. O tubo era colocado na bandeja para amostras, e preparado o reagente

como indica o fabricante e colocado na bandeja para reagentes. Posteriormente

identifica-se a amostra no programa do computador, com os dados do animal:

nome, número da ficha clínica e sexo. E em seguida o teste desejado é requisitado

ao aparelho automatizado de bioquímica. O resultado é rápido, e é anotado na

ficha do animal, e gravado no sistema, para que ao final do dia seja impresso a

relação de exames e seus devidos resultados, para controle interno do laboratório.

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c) Realização do Exame de Fezes

Vários métodos são feitos no laboratório, para a realização do exame de

fezes, como o método de Willis, método de sedimentação e método de Baermann

modificado.

Método de Willis: era realizado dissolvendo 2g de fezes com solução de

cloreto de sódio ou açúcar em um frasco de boca larga. O frasco era colocado

em posição perfeitamente vertical e sobre ele uma lâmina bem limpa e

desengordurada. Após um período de aproximadamente 15 minutos, a lâmina

era retirada, coberta com uma lamínula e examinada ao microscópio. Por esse

processo, os ovos de helmintos e cistos de protozoários flutuam e aderem à

lâmina, sendo um bom método para herbívoros.

Método de sedimentação: ao contrário do anterior, esse método é

baseado na sedimentação, na deposição do material a pesquisar, no fundo do

frasco. Dissolvendo 1 ou 2g de fezes em solução fisiológica ou em água e

passando através de uma gaze, diretamente para um frasco cônico ou um tubo

de centrifugação. No primeiro caso, era deixado em repouso por 15 a 30

minutos (tempo mais longos dão resultados mais seguros); no segundo,

centrifugado a 1500 r.p.m. por 5 minutos. Em qualquer um dos casos, era

retirado do fundo do tubo o material sedimentado, colocado entre lâmina e

lamínula limpas e examinado ao microscópio, observando a presença de

parasitos ou de seus ovos.

Método de Baermann modificado: esse método é baseado no

aproveitamento da motilidade e no termotropismo das larvas, que são

estimuladas ao se usar água aquecida. É colocado um funil de 20 a 25 cm de

diâmetro em um suporte e conectado a sua extremidade, com o auxílio de um

tubo de borracha, a um tubo de hemólise de 8 a 12 mm de diâmetro. Enchendo

o sistema até a superfície do funil com água a 45ºC, evitando-se que se formem

bolhas de ar. É colocada uma peneira forrada de gaze por cima da superfície da

água e, sobre a gaze 10g ou mais de fezes recentes, retiradas diretamente do

reto do animal; 1 hora após, retira-se o tubo de hemólise, e centrifugada-se a

1000 r.p.m. por 5 minutos, desprezado o sobrenadante cuidadosamente,

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colocado o sedimento entre lâmina e lamínula e examinado ao microscópio com

pequeno aumento ou com auxílio de uma lupa.

d) Realização da Urinálise

No HV/UFU as amostras são processadas em um prazo máximo de 30

minutos para que não haja alterações em suas propriedades. Primeiramente o tubo

de ensaio com a urina é recebido já identificado, com o nome do paciente (animal),

o número da ficha clínica e a data. Posteriormente é preenchida a ficha de

urinálise, com esses dados, e iniciado o exame físico, que consiste da

determinação de volume, cheiro, cor, aspecto, densidade e reação (pH) da urina.

Para obter a densidade é colocado uma gota de urina no refratômetro, e

feita a leitura diretamente na escala do aparelho, na coluna a direita, que vai de

1000 a 1040. Quando a densidade ultrapassa 1040, é observada a marca na

coluna a esquerda e some ao do 1040.

Para realizar a análise química é utilizada uma tira reagente da seguinte

forma:

É removida uma tira reagente do recipiente;

O recipiente é tampado imediatamente;

A tira reagente é mergulhada em uma amostra de urina não

centrifugada. A tira reagente deve ficar saturada de urina;

Sem hesitação, a tira reagente é removida da amostra de urina

usando a lateral do recipiente para eliminar o excesso de líquido;

A tira é segurada horizontalmente para evitar que os líquidos de

reação dos quadradinhos se misturem;

É lido e registrado os resultados para cada teste;

O fabricante também fornecerá uma cartela de cores para ser

consultada, a fim de graduar as reações e relatar os resultados;

As tiras reagentes secas estão disponíveis em diversas configurações

de testes, incluindo pH, proteína, cetonas, glicose, bilirrubina, gravidade especifica,

sangue, urobilinogênio, leucócitos e nitritos.

Em seguida a urina é colocada em um tubo cônico de centrifuga, e

levada a centrifuga, contrabalanceando com outro tubo contendo água no mesmo

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volume da urina; a amostra é centrifugada por 5 minutos a 2.000 r.p.m..

Posteriormente a urina é decantada lentamente, evitando-se a saída do sedimento.

O sedimento é agitado, e é transferida uma gota para uma lâmina, cobrindo a em

seguida, com uma lamínula. É levada ao microscópio e examinada com um

pequeno aumento, usando luz fraca. Em seguida, é mudado para o médio aumento

e utilizada luz mais forte. Tanto com o médio como o pequeno aumento, é

percorrido todo o campo.

Os elementos encontrados no sedimento podem ser agrupados em:

Organizados (eritrócitos, leucócitos, células epiteliais, bactérias,

protozoários, ovos de parasitas, leveduras, fungos, espermatozóides e cilindros)

E não organizados (cristais e material amorfo).

Esses elementos são observados e anotados, e registrados por cruzes.

Uma cruz: quantidade reduzida; duas cruzes: presença um pouco aumentada; três

cruzes: quantidade aumentada de forma importante e quatro cruzes: quantidade

muito aumentada.

A urina decantada é colocada em dois tubos, em um tubo é colocado

apenas 2 ml de urina, e adicionado 2 ml de ácido nítrico nitroso no fundo do tubo,

com uma pipeta de vidro, evitando qualquer agitação. Essa técnica é conhecida

como Teste de Gmelin, para detecção de pigmentos biliares na urina (Figura 8).

Para detecção de proteína na urina é utilizado o método de Heller, que

consiste da seguinte técnica:

É colocada uma pequena quantidade de acido nítrico puro num tubo

de ensaio;

É estratificado (é colocado uma pequena camada em cima) um pouco

de urina sobre o ácido;

Se houver a formação de um anel branco no ponto de contato, há a

presença de albumina;

O ácido úrico e a uréia aparecem sob a forma cristalina (Figura 9).

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FIGURA 8 - Formação do anel na urina do

tubo à esquerda, já no tubo da

direita não houve formação

de anel

FIGURA 9 - Formação de cristais

de nitrato de uréia na

urina

Com a urina decantada que não foi utilizada e colocada em um outro

tubo de ensaio, é realizado o Teste de Hay, para sais biliares. O teste de Hay é

utilizado para analisar a presença de sais biliares na urina. No tubo de ensaio, com

o restante da urina, é deixado cair flor de enxofre sobre a superfície. Isso é

conseguido facilmente, quando se coloca a flor do enxofre dentro de um tubo de

ensaio, cuja boca é tampada com uma camada de gaze, de modo a permitir a

saída do enxofre, como se fosse numa peneira.

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e) Realização do Raspado de Pele

O esfregaço direto é realizado colocando o material tratado com uma

solução de 10% de hidróxido de sódio (NaOH) sobre a lâmina. È triturado com um

bastão, por 1 minuto com o intuito de amolecer a ceratina. É espalhado o material,

e coberto com uma lamínula, comprimindo suavemente e examinando com

pequeno aumento, para a verificação da presença ou não de esporos (conídeos ou

macroconídeos) e hifas (Figura 10).

FIGURA 10 - A esquerda um macroconídeo, e a direita uma hifa septada, presente

em raspado de pele de cão

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3 HEMOGRAMA

3.1 Colheita de sangue

O local de punção varia de acordo com a espécie, quantidade de sangue

a ser colhido e a finalidade laboratorial da amostra. As amostras sempre devem

estar corretamente identificadas.

Os tubos (Figura 11) mais utilizados na Medicina Veterinária são:

EDTA: Preserva melhor o volume celular e as características

morfológicas das células nos esfregaços corados. Uso universal, quelante de

cálcio; Cor da tampa do frasco: roxa.

Heparina: Possui ação antitrombina e antitrompoplastina, não muito

utilizado na rotina hematológica, pois afetam de forma intensa as qualidades de

coloração dos leucócitos sendo utilizado mais em bioquímica; Cor da tampa do

frasco: verde.

Fluoreto de sódio: Não é um anticoagulante. Inibe enzimas que

participam da via glicolítica, impedindo a metabolização da glicose pelos eritrócitos

durante o período de transporte até o laboratório. Cor da tampa do frasco: cinza.

Citrato de sódio: combina com o cálcio formando citrato de cálcio

insolúvel, utilizado em algumas provas hematológicas e de coagulação; Cor da

tampa do frasco: azul (THRALL et al., 2006).

O EDTA é o anticoagulante de eleição, quando a preservação das

células e de suas características são os aspectos considerados (COLES, 1984).

As causas de hemólise por erro de colheita incluem o uso de seringas e

frascos quentes ou molhados, inadequada descarga da seringa, contaminação

bacteriana, calor excessivo e transporte antes de completa coagulação (MUNDIM,

2008). Outro erro comum é a presença insuficiente de anticoagulante ou o seu não

funcionamento. Para evitar esse inconveniente, observar sempre que a quantidade

de sangue colhida corresponda à do anticoagulante utilizado e agitar suavemente a

amostra, para permitir a mistura do anticoagulante com o sangue (GARCIA-

NAVARRO, 2005a).

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FIGURA 11 - Tubos para hemograma e

bioquímica sérica

Para coleta de sangue podem ser utilizados outros tubos, como, o tubo

de tampa vermelha (Figura 11), destinado à obtenção de amostra de soro, não

contem anticoagulante. O sangue nele contido deve coagular para que se obtenha

o soro. Esse tubo é utilizado para obtenção de soro necessário as análises

bioquímicas comuns (THRALL et al., 2006).

O Tubo de tampa amarela, (Figura 11), é uma variação do tubo de

tampa vermelha que não contém anticoagulante. Contém um gel que separa a

fração de células compactadas daquela fração do soro quando a amostra é

centrifugada. É indicado em situações em que se deseja fazer a centrifugação no

local da coleta e o transporte para o laboratório sem a transferência do soro para

outro tubo. O gel separa fisicamente as células e o soro evitando que ocorra o

metabolismo do componente de interesse célula/soro (THRALL et al., 2006).

3.2 Interpretação do Hemograma na clínica de pequenos animais

O hemograma é constituído pelas informações quantitativas (número

total de células, contagem diferencial, índices hematimétricos, etc.) e qualitativas

(morfologia das células sanguíneas no esfregaço sanguíneo). Uma interpretação

adequada depende da integração de ambas (REBAR, 2003).

O hemograma completo inclui todos os testes laboratoriais utilizados

para examinar as células contidas no sangue periférico. As células são

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classificadas como eritrócitos (células vermelhas do sangue), leucócitos (células

brancas do sangue) ou plaquetas. Os valores de proteína plasmática e de

fibrinogênio são frequentemente incluídos nos hemogramas completos em

Medicina Veterinária (SINK & FELDMAN, 2006).

3.2.1 Eritrograma

É a avaliação dos eritrócitos, do hematócrito e da hemoglobina, assim

como a contagem e avaliação dos reticulócitos, nos casos necessários.

A mensuração primária das hemácias que fornece uma avaliação básica

do tamanho do éritron (circulante) é o volume globular (VG) ou hematócrito (Ht),

que está incluso no eritrograma. Ele é simplesmente uma mensuração da fração do

volume sanguíneo que é ocupada pelos eritrócitos (KERR, 2003). Numa centrífuga

o sangue é separado em três partes distintas: massa de eritrócitos ao fundo, uma

camada branca ou cinza de leucócitos e trombócitos, imediatamente acima e

referida como “botão leucocitário” e o plasma sanguíneo (COLES, 1984).

As causas fisiológicas de aumento do hematócrito são: desidratação,

medo/excitação, atividade intensa, altitudes e outras. As causas patológicas são:

choque, policitemia absoluta (desvio cardíaco da direita para esquerda, doença

alveolar crônica, tumores renais e distúrbios endócrinos), hipertireoidismo (gato) e

esteróides anabólicos. As causas fisiológicas de diminuição do hematócrito são:

estágio avançado de gestação, tranquilização, anestesia e erros na coleta como

hemólise durante ou após a coleta. E uma causa patológica da diminuição do

hematócrito é a anemia. As alterações no hematócrito dos animais refletirão em

anemia ou policitemia (BUSH, 2004).

a) ANEMIA

São três os exames de laboratório utilizados no diagnóstico da anemia:

o hematócrito, a taxa de hemoglobina e o número de eritrócitos por mm³ de

sangue. Sempre que o hematócrito estiver abaixo do normal, o animal está com

anemia. A taxa de hemoglobina circulante acompanha o valor do hematócrito,

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permanecendo igualmente baixa na anemia. Quanto à contagem de eritrócitos por

mm³ de sangue, esta pode estar diminuída ou não. A contagem encontra-se

diminuída nas anemias não regenerativas ou aplásicas, que ocorrem por

diminuição da produção de eritrócitos pela medula óssea. A contagem de

eritrócitos pode permanecer no limite normal inferior no caso das anemias

regenerativas, que ocorrem por perda aumentada de eritrócitos, através de

hemorragia ou hemólise, quando os eritrócitos aparecem em número normal ou

perto do normal, mas com uma quantidade de hemoglobina por eritrócito abaixo do

normal, devido à falta de reposição de ferro na medula óssea (GARCIA-

NAVARRO, 2005a).

De acordo com MUNDIM (2008) as anemias ocorrem em razão de uma

excessiva perda de sangue (hemorragias) ou destruição (hemólise) ou diminuição

da produção de eritrócitos. Têm sido propostas muitas classificações para as

anemias. No entanto 3 classificações têm sido mais usadas entre os clínicos: a

classificação quanto à resposta da medula óssea, a morfologia e a etiologia.

Quanto à resposta da medula óssea

De acordo com a resposta da medula óssea as anemias são

classificadas em regenerativas e não regenerativas. As anemias regenerativas

ocorrem devido a uma perda aumentada de eritrócitos, mantendo normal sua

produção. Nas anemias não regenerativas ocorre o inverso, isto é, há uma

diminuição da produção dessas células, associada a uma perda das mesmas em

quantidades normais (GARCIA-NAVARRO, 2005a).

Anemia regenerativa

Anemia regenerativa é causada por hemorragia ou hemólise. A

hemorragia pode ser externa ou interna, bem como crônica ou aguda. A hemólise

pode ser intra ou extravascular. As causas mais comuns de hemólise são

mecanismos imunomediados, hemoparasitas e medicamentos ou substâncias

químicas que provocam lesão oxidativa, resultando na formação de corpúsculo de

Heinz (THRALL et al., 2006). São também conhecidas como anemias ferroprivas,

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pois o ferro existente nos eritrócitos perdidos não se apresenta disponível para a

formação de nova hemoglobina, como ocorre num indivíduo normal (GARCIA-

NAVARRO, 2005a).

Achados laboratoriais

De acordo com KERR (2003), as anemias podem ser diferenciadas

laboratorialmente da seguinte forma:

Na anemia hemolítica aguda o Ht já está reduzido até mesmo nos

estágios mais iniciais visto que o plasma não é perdido concomitantemente. Tanto

a hemoglobina (vermelha) quanto a bilirrubina (amarelo-alaranjada) podem ser

vistas no plasma de um tubo de micro-hematócrito. Quando houver hemoglobina

livre no plasma, o CHCM terá um valor aumentado.

Na anemia de início gradual o Ht cai lentamente em um período

de dias ou semanas, o volume plasmático se expande concomitante para

compensar. Pode ser dividida em anemia moderada/suave apresentando Ht abaixo

do normal, mas ainda acima de 0,20-0,25, e anemia severa/muito severa apresenta

Ht abaixo de 0,20-0,25 podendo diminuir para até 0,05- 0,06.

Na anemia hemorrágica crônica haverá evidências de

regeneração, muitas células policromatófilas estão presentes junto com algumas

hemácias nucleadas. Nos estágios inicias, as células policromatofílicas serão

macrócitos e as células adultas serão normocíticas e normocrômicas. Entretanto,

em casos de longa duração, a perda continua de constituintes das hemácias (ferro,

proteínas) leva uma exaustão secundária da medula óssea. Isso acaba resultando

no aparecimento de células cada vez mais hipocrômicas (isto é, CHCM reduzido,

devido à deficiência de ferro) e menores e, em casos muito crônicos, até mesmo as

células jovens, embora ainda policromatofílicas, ficam hipocrômicas e microcíticas.

Células com formas alteradas podem aparecer. Nos casos em que a hemorragia

não é causada por trombocitopenia, a contagem de plaquetas estará

frequentemente elevada, devido ao consumo de plaquetas no sítio da lesão,

causando uma retroalimentação positiva na produção.

Na anemia hemolítica grave mostra um quadro eritrocitário

regenerativo, e células marcantemente disformes até mesmo nos estágios iniciais

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da condição. Na anemia hemolítica em casos infecciosos, pode ocorrer neutrofilia

e/ou monocitose.

De acordo com THRALL et al. (2006), a anemia hemorrágica aguda é

caracterizada da seguinte forma:

Na anemia hemorrágica aguda a avaliação hematológica tem

pouca utilidade, inicialmente o hematócrito permanece normal, porque há perda

simultânea de hemácias e do plasma. No entanto, em algumas horas o VG e o

teor plasmático de proteínas diminuem em razão do efeito diluidor decorrente da

transferência de fluido intersticial ao sangue. Aproximadamente 72 h após a

hemorragia surgem hemácias policromatofílicas (reticulócitos) no sangue.

Na anemia hemorrágica crônica caracterizada por anemia por

deficiência de ferro ocorre diminuição do volume corpuscular médio (VCM). Nota-

se microcitose porque os precursores das hemácias continuam se dividindo na

tentativa de obter o conteúdo máximo de hemoglobina. As divisões adicionais

resultam em hemácias menores do que o normal. O VCM de reticulócitos também

está diminuído, pois o tamanho das hemácias imaturas deficientes em ferro é

menor do que o normal. Embora nesses pacientes se espere diminuição da CHCM,

pois as células contém menor teor de hemoglobina que o normal, esse parâmetro

encontra-se na faixa de normalidade. No exame do esfregaço sangüíneo,

principalmente nos estágios finais da anemia por deficiência de ferro, as hemácias

da maioria das espécies, exceto de gatos, podem parecer pálidas, com aumento da

palidez central; às vezes, nota-se apenas um fino bordo de hemoglobina. É comum

encontrar anormalidades de membrana nas hemácias.

Anemias não regenerativas

Anemias não regenerativas são também chamadas anemias aplásicas e

são causadas por hipoplasia eritrocitária, que é uma queda da produção de

eritrócitos com uma diminuição no número de precursores nucleados dos eritrócitos

na medula óssea. Do ponto de vista morfológico, são normocíticas e

normocrômicas, e seu índice de reticulócitos é zero. Quanto a sua etiologia,

podemos dividí-las em primárias, cuja origem está numa disfunção primária da

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medula óssea, e secundárias, cuja origem se encontra em outro órgão ou sistema,

com consequência sobre a eritropoiese (GARCIA-NAVARRO, 2005a).

A anemia não regenerativa secundária pode ser decorrente de

anormalidades extrínsecas à medula, inclusive anemia por doença inflamatória, por

insuficiência renal crônica, associada à doença endócrina e, raramente, associada

a deficiências nutricionais (THRALL et al., 2006).

Na anemia hipoplásica/aplásica a morfologia das hemácias geralmente

é caracterizada por uma completa ausência de células jovens, com células adultas

mostrando, algumas vezes, anormalidades marcantes. Micrócitos e células

hipocrômicas são frequentemente uma característica. Isso pode ser distinguido de

exaustão secundária da medula óssea devido a uma hemorragia crônica pela

ausência de células policromatofílicas ou de reticulócitos (KERR, 2003).

A anemia aplásica verdadeira é uma condição séria, na qual a medula

óssea inteira simplesmente paralisa. Devido às diferentes meias-vidas dos

diferentes tipos celulares, os granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e as

plaquetas são afetados em primeiro lugar. A contagem total de leucócitos e a

contagem de plaquetas serão bastante baixas e a maioria das células brancas que

estiverem presentes será constituída de linfócitos. O hematócrito pode

simplesmente estar na parte mais baixa da variação normal, mas mesmo que

tenha havido uma hemorragia substancial, não haverá evidências de regeneração

eritrocitária. Os fatores implicados na aplasia de medula óssea são irradiação,

intoxicação aguda por samambaia, e certos medicamentos (estrógenos em cadelas

para evitar prenhez indesejada, fenilbutazona e o cloranfenicol). Ocasionalmente,

os casos de aplasia da medular se desenvolvem na ausência de qualquer um dos

fatores causados ou de qualquer administração medicamentosa (KERR, 2003).

Classificação quanto à morfologia

Os índices hematimétricos são úteis na classificação das anemias e são

calculados conforme as fórmulas a seguir:

VCM (volume corpuscular médio) = Hematócrito (%) x 10 / nº eritrócitos

(em milhões)

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CHCM (concentração de hemoglobina corpuscular média) =

Hemoglobina (g/dl) x 100 / hematócrito (%)

Quanto ao VCM as anemias podem ser classificadas de acordo com o

tamanho das hemácias em: macrocíticas, normocíticas e microcíticas. Quanto ao

CHCM as anemias são classificadas de acordo com a cromia em: normocrômica

ou hipocrômica (MUNDIM, 2008).

Informações acerca da morfologia das hemácias são fornecidas pelos

valores do VCM e CHCM. O VCM é uma mensuração do tamanho das hemácias e

o CHCM é uma mensuração da concentração de hemoglobina nas hemácias

(KERR, 2003).

De acordo com SINK & FELDMAN (2006), a concentração média de

hemoglobina (HCM) é o peso médio de hemoglobina em um eritrócito individual.

Um valor de HCM menor que o limite inferior do intervalo de referência espécie -

específico indica que os eritrócitos possuem menos que o peso médio de

hemoglobina. Um valor de HCM maior que o limite superior do intervalo de

referência espécie - específico indica que os eritrócitos possuem mais que o peso

médio de hemoglobina.

O HCM é menos preciso que o CHCM, pois é calculado a partir das

duas medidas menos precisas: a contagem de hemácias e a concentração de

hemoglobina. É raramente usada. Mas, na deficiência crônica de ferro, a queda na

HCM é maior que a queda no VCM (BUSH, 2004).

Um aumento no VCM implica células anormalmente grandes, isto é

macrócitos. São principalmente células imaturas - reticulócitos e, possivelmente,

hemácias nucleadas, em anemias regenerativas. Uma diminuição no VCM implica

células anormalmente pequenas, ou seja, microcíticas. Raramente são vistas e

isso se deve principalmente a anemia ferropriva. Células com VCM normal são

chamadas “normocíticas”. Diminuição na CHCM implica células com uma

quantidade reduzida de hemoglobina, chamadas “hipocrômicas”. As mais

comumente encontradas são os reticulócitos; as hemácias em estágio avançado da

deficiência de ferro são hipocrômicas. As células com quantidade normal de

hemoglobina – CHCM normal são chamadas “normocrômicas” (BUSH, 2004).

O valor do CHCM é cerca de 35g/100mL independente da espécie ou

do tamanho das hemácias, isto é, para qualquer valor de hematócrito fornecido, a

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quantidade total de hemoglobina por unidade de volume de sangue será a mesma

independente da espécie. Um CHCM anormalmente alto não é assim tão possível;

não existe uma hemácia hipercrômica. Há três razões possíveis quando isso

ocorrer:

Amostra de sangue hemolisada (ou devido a uma coleta mal feita

ou, mais raramente, hemólise intravascular genuína)

Outras substâncias interferentes no plasma (por exemplo, plasma

lipêmico) podem causar um valor erroneamente alto de hemoglobina.

Erro laboratorial simples ou na determinação do hematócrito ou na

mensuração da hemoglobina (KERR, 2003).

Microcitose e hipocromia são dois fenômenos que geralmente andam

juntos, sendo a microcitose a presença de eritrócitos menores que o tamanho

normal da espécie, chamados micrócitos e a hipocromia a presença de eritrócitos

com menos hemoglobina que o normal. Na verdade, é a falta de hemoglobina que

deixa o eritrócito pequeno, tornando-o um micrócito hipocrômico. A microcitose

hipocrômica faz baixar os índices VGM e CHCM, característica das anemias

ferroprivas (GARCIA-NAVARRO, 2005a).

Hemácias macrocíticas são maiores e apresentam maior volume

corpuscular médio. A principal causa de macrocitose é o aumento da quantidade

de hemácias imaturas, (Figura 12), que se apresentam policromatofílicas em

esfregaços sanguíneos (THRALL et al., 2006).

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FIGURA 12 - Esfregaço sanguíneo de cão,

evidenciando a presença de

Hemácias jovens

(Policromatófilos)

Classificação quanto ao mecanismo fisiopatológico ou etiologia

Anemias por perda integral de sangue (anemias hemorrágicas).

Anemias por destruição acelerada de eritrócitos (anemias

hemolíticas).

Anemia por deficiência de substâncias essenciais (a eritropoiese está

ineficaz, porem a medula óssea está hiperproliferativa).

Anemia por depressão da hematopoiese (a eritropoiese está reduzida

devido a medula óssea estar hipoproliferativa) (MUNDIM, 2008).

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Quanto à classificação morfoetiológica:

QUADRO 1 – Classificação das anemias quanto a morfoetiologia

Fonte: MUNDIM, 2008

b) POLICITEMIA

Policitemia é o aumento do número de hemácias. Pode ser absoluta ou

meramente relativa (BUSH, 2004).

Policitemia relativa

É definida como um aumento no hematócrito sem ter havido nenhum

aumento no tamanho real do éritron como um todo e é, sem dúvida, o tipo mais

comum de policitemia. Nas espécies animais, há duas causas possíveis:

VCM CHCM CARACTERÍSTICAS

HIPOCRÔMICA

Sempre regenerativas. Perda aguda de sangue/anemia hemolítica aguda.

MACROCÍTICA NORMOCRÔMICA

Deficiência de vitamina B12, ácido fólico, niacina. Problemas nos fatores de multiplicação

(divisão) hemoglobina podem estar anormal.

HIPOCRÔMICA

Deficiência de Ferro por perda: - perda crônica de sangue: tumores, úlceras - parasitas: Ancylostoma spp, Haemonchus spp.

MICROCÍTICA

NORMOCRÔMICA

Deficiência de ferro por fatores que atuam no seu uso: - piridoxina, riboflavina, Cobre.

NORMOCRÔMICA

NORMOCÍTICA HIPOCRÔMICA

Doença infecciosa crônica. Nefrite com uremia. Hemorragia sem resposta. Leucemias: invasão da médula óssea. Anemias hipoplásticas: radiação, antibióticos. Intoxicação: chumbo, drogas.

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Deficiência de água (desidratação): em um animal desidratado, o

conteúdo de líquido plasmático será reduzido e, visto que as hemácias não podem

escapar da circulação, a sua concentração e, deste modo, o hematócrito, vão

aumentar. As proteínas plasmáticas ficam também, em grande parte presas na

circulação e, assim, em pacientes desidratados, a concentração de proteína total

plasmática aumenta junto com o hematócrito aproximadamente na mesma

porcentagem.

Contração esplênica: excitação, apreensão ou medo faz com que a

musculatura do baço se contraia, disponibilizando na circulação as hemácias

armazenadas. Durante esta ocorrência, a concentração de proteína total

plasmática permanece inalterada (KERR, 2003).

Policitemia absoluta

Deve-se a um aumento genuíno no número de hemácias, que eleva o Ht

e também expande o volume total de sangue. Essa concentração excessiva de

hemácias faz as membranas mucosas parecerem mais vermelhas e aumenta a

viscosidade do sangue, causando lentidão no fluxo sangüíneo com conseqüente

hipóxia tecidual. A policitemia absoluta é um quadro raro, relatado apenas em

alguns cães e poucos gatos (BUSH, 2004).

A policitemia absoluta pode ser primária ou secundária (THRALL et al.,

2006).

Policitemia absoluta primária (policitemia vera): é um tipo raro de

alteração mieloproliferativa, caracterizada por uma superprodução marcante de

hemácias adultas, de aparência normal. Poderia se pensar que ela é um tipo de

neoplasia da medula óssea. Seu diagnóstico depende do achado de um

hematócrito de cerca de 0,70 ou mais em um animal com hidratação normal, não

excitado, na ausência de qualquer alteração respiratória, cardiovascular ou

endócrina (KERR, 2003). Acredita-se que a fisiopatologia dessa disfunção envolva

a presença de uma célula anormal e precursores eritróides capaz de proliferar

independentemente da concentração de eritropoietina ou da hiper-responsividade

à eritropoietina (THRALL et al., 2006).

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Policitemia absoluta secundária: é o termo usado quando o aumento

do tamanho do éritron é uma conseqüência de uma doença em outro sistema

orgânico. A policitemia secundária pode, ela mesma, ser dividida em dois grupos,

dependendo se ela acompanha ou não uma baixa tensão tecidual de oxigênio.

Quando uma baixa tensão tecidual de oxigênio é uma conseqüência de doença, a

cianose está geralmente presente e os órgãos envolvidos são ou o sistema

respiratório ou o sistema cardiovascular. As causas de policitemia secundária não

associadas com diminuição da tensão tecidual de oxigênio são principalmente

alterações endócrinas, onde a anormalidade hormonal primária tem um efeito

direto sobre a produção de eritropoietina, por exemplo, o excesso de cortisol na

síndrome de Cushing. Em geral, os valores de hematócrito são menos

espetacularmente anormais do que os vistos na policitemia vera (KERR, 2003). A

produção de eritropoietina pode estar aumentada em pacientes com lesões renais

(geralmente neoplasias indutoras de hipóxia renal localizada). Embora seja raro,

também pode ocorrer aumento na produção de eritropoietina ou de uma

substância semelhante à eritropoietina estimulada por neoplasias extra-renais

(THRALL et al., 2006).

3.2.2 Alterações morfológicas dos eritrócitos

A morfologia do eritrócito é acessada pelo exame microscópico de um

esfregaço sanguíneo. As principais alterações morfológicas vistas nos eritrócitos

dos animais são a policromatofilia, anisocitose, o rouleaux, poiquilocitose,

hemácias em alvo (codócitos ou target cells), esferócitos, acantócitos, esquisócitos

além de corpúsculos de inclusões citoplasmática como os de Howell-Jolly, Heinz,

ponteado basofílico e parasitas eritrocitários como Babesia spp, Anaplasma spp e

Haemobartonella spp.

Policromatofilia é a presença aumentada de policromatófitos no sangue.

Os policromatófilos são eritrócitos jovens que, nas colorações de Wright ou

Giemsa, aparecem com uma tonalidade levemente azul - acinzentada (Figura 12).

Essas células indicam regeneração medular da linhagem vermelha e aparecem em

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casos de anemias regenerativas. Policromatófilos e reticulócitos são as mesmas

células com colorações diferentes (GARCIA- NAVARRO, 2005a).

Anisocitose do grego, anisos, desigual, é uma variação acentuada no

tamanho das hemácias (Figura 13) (GARCIA-NAVARRO, 2005a). Anisócitos são

hemácias de tamanhos diferentes que aparecem no sangue do mesmo animal

simultaneamente. Certo grau de anisocitose é normal nas hemácias de gato. A

anisocitose deve-se à presença de um número significante de macrócitos ou,

menos freqüentemente, de micrócitos entre as hemácias de tamanho normal. A

maioria dos casos ocorre pela presença de reticulócitos nas anemias

regenerativas. Os contadores eletrônicos de hemácias fornecem uma medida da

variabilidade do tamanho destas – anisocitose – chamada de RDW, que é a faixa

de distribuição do tamanho das hemácias (BUSH, 2004).

Hemácias nucleadas (Figura 13) são também chamadas de rubrícitos,

normoblastos ou eritroblastos com os prefixos apropriados. São hemácias

imaturas, em desenvolvimento, que precedem os reticulócitos na escala

maturativa; são liberadas pela medula óssea. Números elevados aparecem em

anemia regenerativa grave (hemorrágica ou hemolítica) acompanhada de grande

quantidade de reticulócitos (BUSH, 2004).

Rouleaux eritrocitário é uma disposição dos eritrócitos formando cadeias

como se fossem moedas colocadas em pilhas e que foram derrubadas. Ocorre em

casos em que há um aumento da proteína plasmática, como em certos estados

inflamatórios, em diversos tipos de câncer e na gestação. O Rouleaux aumenta a

velocidade de hemossedimentação ou VHS, que mede a capacidade dos eritrócitos

sedimentar em num tubo de vidro, durante um tempo determinado. Em animais sua

utilização é limitada (GARCIA-NAVARRO, 2005a).

Poiquilocitose é a variação no formato do eritrócito. Eritrócitos de

formato anormal são chamados de poiquilócitos. Diversos termos são usados para

conotar formatos específicos dos eritrócitos e podem ser associados com estados

patológicos específicos (SINK& FELDMAN, 2006).

As alterações morfológicas mais importantes incluem vários tipos de

hemácias espiculadas, esferócitos e excentrócitos. As hemácias espiculadas

apresentam um ou mais espículos na superfície e incluem equinócitos (Figura 14),

acantócitos, ceratócitos e esquistócitos. Hemácias com alteração morfológica

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menos importante incluem leptócitos (células dobradas ou células-alvo), codócitos

(células-alvo), dacirócitos (hemácias em forma de lágrima) e torócitos (hemácias

arredondadas) (THRALL et al., 2006).

FIGURA 13 - Hemácia nucleada (seta maior branca),

policromatófilo (seta menor), e

corpúsculo de Howell Jolly ( seta preta),

em esfregaço de sangue periférico de

cão

FIGURA 14 - Eritrócitos crenados ou

equinócitos em esfregaço

de sangue periférico de cão

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De acordo com MUNDIM (2008), as alterações na forma das hemácias

ocorrem nos seguintes casos:

Esquisócitos: vistas nas vasculites, insuficiências renais,

mielofibrose, deficiência crônica de ferro e glomerulonefrites. São fragmentos de

células ou células deformadas (em capacete, em boné ou em gota).

Esferócitos: no cão sugere anemia hemolítica imunomediada. São

células pequenas, muito coradas, sem descoloração central.

Acantócitos (burr cells): vistas nas doenças renais e esplênicas,

hemangiossarcomas e cirrose hepática. São células de contorno irregular, em

forma de estrela.

Eliptócitos ou ovalócitos: ocorre nas leucemias. São células de

forma oval ou elíptica.

Equinócitos (crenados): indicam excesso de EDTA, exercícios,

uremia, amostras velhas e coagulação intravascular disseminada (CID). São

células com projeções finas na superfície.

Os estomatócitos possuem palidez central semelhante a uma fenda

envolvida por zona densa; resultam de defeitos de membranas dos eritrócitos;

essas células podem estar presentes na anemia hemolítica. Os corpúsculos de

Burr são equinócitos com múltiplas espículas de extremidade pontiaguda

produzidos pela ruptura da membrana celular; eles podem ser observados na

doença renal. As células alvo (leptócitos e codócitos) possuem uma única palidez

central que dá à célula uma aparência de alvo; costumam ser observadas na

doença hepática. Os dacrócitos são eritrócitos em formato de lágrima caindo e

estão frequentemente associadas a doenças na medula óssea (SINK & FELDMAN,

2006).

As inclusões encontradas nos eritrócitos podem ser os pontilhados

basofílicos que aparecem como grânulos azuis de tamanho variáveis dentro dos

eritrócitos. Na maioria dos casos, esses grânulos são RNA residual e representam

reticulócitos. Os corpúsculos de Howell Jolly (Figura 13) são inclusões celulares

roxo-escuras com aproximadamente 1 µm de diâmetro, são resquícios de

fragmentos de cromatina nuclear. Os corpúsculos de Heinz não são identificados

com facilidade pela coloração de Wright, mas quando corados com o novo azul de

metileno, aparecem como inclusões em azul-claro, essa inclusões tem 1 a 4 µm de

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diâmetro; são formados nos eritrócitos quando a hemoglobina desnatura e

precipita, o que pode ser resultado de lesão oxidativa (SINK & FELDMAN, 2006).

Os grânulos de Howell-Jolly raramente estão presentes em cães

normais, mas aparecem em mais de 1% das hemácias de gatos aparentemente

sadios. Números elevados estão associados, primariamente, com anemia

degenerativa, mas também podem ocorrer: com função esplênica diminuída, por

exemplo, esplenectomia e tumores esplênicos; após administração de

glicocorticóides nos cães; nos quadros de macrocitose em Poodle (BUSH, 2004).

O ponteado basofílico esta associado à resposta regenerativa

exagerada observada em muitos casos de intoxicações por chumbo em cães

(BUSH, 2004).

Os grânulos de Heinz são raros em cães saudáveis, mas ocorrem em

mais de 10% das hemácias de gatos aparentemente sãos (até em mais de 50%

das hemácias em alguns gatos). Números anormais são causados primariamente

por drogas oxidativas, e sua remoção pelos macrófagos (no baço) pode produzir

anemia hemolítica. Números elevados também estão associados em gatos com:

doenças intestinais; disautonomia felina (síndrome de Key-Gaskell) sem anemia.

Em cães está associado com: terapia regular com prednisolona; e esplenectomia

(redução da retirada de grânulos de Heinz do sangue) (BUSH, 2004). E também no

cão indica intoxicação por cebola (MUNDIM, 2008).

3.2.3 Parasitas eritrocitários

A destruição de hemácias (hemólise) pode ser intra ou extravascular e

decorrente de fatores intrínsecos (primários), como deficiências de membrana de

enzima de origem hereditária ou de fatores extrínsecos (secundários), como

hemoparasitas ou hemólise imunomediada. A hemólise intravascular representa a

lise verdadeira de hemácias no sistema vascular. Ocorre hemólise extra-vascular

quando as hemácias anormais são fagocitadas pelos macrófagos, geralmente no

baço ou no fígado. Anticorpos contra os microorganismos, complexos imunes ou

complemento se ligam às hemácias, resultando em fagocitose por macrófagos.

Quando há hemólise intravascular, pode haver também hemoglobinemia,

hemoglobinúria, hiperbilirrubinemia e bilirrubinúria. Além disso, o teor de

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hemoglobina pode estar falsamente aumentado em relação ao volume globular,

com falso aumento da CHCM. O VCM pode estar aumentado quando houver

reticulocitose (THRALL et al., 2006).

Mycoplasma haemofelis: Antigamente conhecido como

Haemobartonellla felis, que aparecem como pequenos cocos ou bacilos de

coloração escura, medindo entre 0,3 e 0,5 µm e localizados na periferia dos

eritrócitos (Figura 15), no auge da parasitemia é rápido e os parasitas

desaparecem em seguida, geralmente, apenas alguns poucos são vistos no

momento do exame (GARCIA-NAVARRO, 2005a). É transmitido pelo sangue

infectado, possivelmente pelo sangue que alimenta os artrópodos, como pulgas e

carrapatos, por mordidas de gatos e pela exposição iatrogênica. É também

transmitido pelas gatas aos seus filhotes, no útero, ao nascimento ou pelo

aleitamento. Os sinais clínicos incluem aqueles de anemia, esplenomegalia, febre,

letargia e às vezes, icterícia ( THRALL et al., 2006).

Em gatos, a anemia hemolítica imunomediada é associada à infecção

por Mycoplasma haemofelis. Os achados laboratoriais são variáveis, porém

sempre incluem diminuição do volume globular, da contagem de hemácias e da

concentração de hemoglobina (KERR, 2003).

FIGURA 15 - Esfregaço sangüíneo de gato com eritrócitos

parasitados com Mycoplasma haemofelis

Mycoplasma haemocanis: é pouco comum em cães e pode ter a mesma

aparência de M. haemofelis, mas, frequentemente, a bactéria forma cadeias

atravessando a superfície das hemácias (Figura 16) (BUSH, 2004). Essa cadeia

geralmente se ramifica em formato de “Y” (THRALL et al., 2006). Estão geralmente

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associadas com anemia normocítica normocrômica e aparecem, particularmente,

após a esplenectomia (BUSH, 2004).

FIGURA 16 - Esfregaço sangüíneo de cão com

eritrócito parasitado com

Mycoplasma haemocanis

Babesia spp, são protozoários, também chamados piroplasmas; que são

hematozoários vistos no interior dos eritrócitos, na sua forma característica de

gotas únicas ou duplas, unidas pelo vértice e presente no sangue de bovinos (B.

bovis, B. bigemina), eqüinos (B. cabali, B. equi) e cães (B. canis) (Figura 17). Nos

eqüinos, as babésias podem aparecer em número de quatro no mesmo eritrócito,

unidas pelo vértice e formando a chamada Cruz de Malta (Figura 18) (GARCIA-

NAVARRO, 2005a).

Várias espécies de Babesia causam anemia hemolítica e

trombocitopenia em animais domésticos. As babésias são transmitidas por vários

tipos de carrapatos; sua patogenicidade é variável e representa a principal causa

de hemólise intravascular e extravascular. Outros mecanismos de infecção incluem

transmissão transplacentária e contaminação por sangue infectado. Pode ser

diagnosticada por meio do esfregaço sanguíneo ou do exame do creme

leucocitário obtido a partir da centrifugação do sangue; entretanto, um teste PCR é

mais sensível e específico. É comum ocorrer hiperglobulinemia, trombocitopenia e

neutropenia; portanto, a erliquiose também deve ser considerada no diagnóstico

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diferencial, visto que tais achados laboratoriais também são comuns nessa doença

(THRALL et al., 2006).

FIGURA 17 - Esfregaços sangüíneos de cão com eritrócitos

parasitados com Babesia canis

FIGURA 18 - Esfregaço sangüíneo de eqüino com

eritrócito parasitado com Babesia

equi

Citauxzoon felis: é um protozoário pertencente à mesma família da

Theileria spp. Semelhante à Theileria spp, os merozoítos (piroplasmas) infectam

hemácias, enquanto um estágio tecidual, os esquizontes, infectam e preenchem os

macrófagos e os vasos sanguíneos adjacentes em todo o corpo. O diagnóstico se

baseia na identificação de piroplasmas em forma de anel de sinete nas hemácias

do esfregaço sangüíneo (Figura 19), em uma fase relativamente final da doença ou

na constatação de esquizontes, em macrófagos no exame citológico de baço,

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fígado, linfonodo ou aspirado de medula óssea. Linces, panteras e pumas, que

atuam como reservatórios naturais, em geral apresentam infecção assintomática

persistente, embora os linces ocasionalmente desenvolvam doença fatal (THRALL

et al., 2006).

FIGURA 19 - Esfregaço sangüíneo de um

puma com eritrócito

parasitado com piroplasmas

de Citauxzoon

Anaplasma marginale é uma riquétsia intra-eritrocitária que causa a

Anaplasmose bovina, doença transmitida por carrapato mais prevalente em

bovinos; é de ocorrência cosmopolita. É transmitido por carrapatos, picadas de

moscas e iatrogenicamente. Anaplasma marginale se apresenta como pequenas

inclusões azul-escuras (0,5 a 1 µm) nas margens das hemácias. Anaplasma

centrale parece semelhante, mas está localizado em uma posição mais central das

hemácias. A infecção pelo microorganismo pode causar anemia hemolítica fatal. O

mecanismo fisiopatogênico da anemia pode ser imunomediado. O bovino não

tratado e que sobreviveu a infecção pode se tornar hospedeiro crônico. O

diagnóstico pode ser definido por PCR e pelo exame de esfregaço sangüíneo

(THRALL et al., 2006).

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40

4 LEUCOGRAMA

O leucograma compreende a contagem total e diferencial de leucócitos e

suas alterações morfológicas. Há uma grande variação na resposta leucocitária

entre as espécies animais. O cão responde violentamente as infecções e às

demais condições de “stress”. Contagens de 30.000 a 50.000 leucócitos/mm³, são

comuns, não sendo raros os casos de mais de 100.000 leucócitos/mm³. O gato

responde mais discretamente, com contagens de 30.000 a 50.000 leucócitos/mm³

sendo considerada leucocitose de grande magnitude, raramente encontramos

contagens de 75.000 leucócitos/mm³ e acima de 100.000 leucócitos/mm³, são

contagens extremamente raras (MUNDIM, 2008).

Existe uma série de fatores que influenciam tanto na contagem global

como na diferencial de leucócitos entre eles: idade, raça e espécie, exercício

muscular, sexo e digestão (MUNDIM, 2008).

São as alterações observadas no leucograma que indicam a resposta

leucocitária, como leucocitose, leucopenia, neutrofilia/penia, linfocitose/penia,

monocitose/penia, eosinofilia/penia, desvio à esquerda regenerativo/degenerativo e

desvio à direita (BUSH, 2004).

O sufixo penia indica diminuição da contagem do tipo celular no sangue.

As citopenias importantes para a interpretação das contagens celulares são

neutropenia, linfopenia e eosinopenia. O termo citopenia não se aplica aos

monócitos porque a diminuição na contagem desse tipo celular não é importante. O

termo também não se aplica aos neutrófilos bastonetes, metamielócitos, basófilos e

metarrubríciotos porque a ausência dessas células é um achado normal (THRALL

et al., 2006).

4.1 Neutrófilos

Os neutrófilos funcionam primariamente como fagócitos e são

particularmente importantes em quadros infecciosos e na inflamação. Neutrófilos

maduros estão presentes no organismo em três compartimentos: o compartimento

circulante, o compartimento marginal e o compartimento da medula óssea. Quando

há uma súbita demanda de neutrófilos, ocorre a mobilização do compartimento da

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medula óssea, que pode corrigir a neutropenia em algumas horas, enquanto

necessidades em longo prazo estimulam maior diferenciação das células

precursoras em neutrófilos. Essas células levam de 4 a 6 dias para maturar e não

há como acelerar o processo (KERR, 2003).

A inflamação é a principal causa de resposta leucocitária. Quando se

instala uma inflamação, um conjunto de mediadores químicos modula vários

eventos. Vasodilatação e substâncias quimiotáticas facilitam a saída de neutrófilos

do compartimento marginal em direção ao local inflamatório. As citocinas liberadas

pelas células mononucleares locais se dirigem a medula óssea, aumentando a taxa

de liberação de neutrófilos maduros e a taxa de produção, por exacerbar o

ingresso de células-tronco e os eventos de proliferação e de maturação. Desse

modo, a resposta medular aumenta intensamente a taxa de liberação de neutrófilos

para o sangue. Nas lesões inflamatórias muito graves, tipicamente agudas, pode

haver consumo muito rápido de neutrófilos, acima da capacidade de liberação de

neutrófilos da medula óssea para o sangue. Quando isso acontece, ocorre

neutropenia. Nesse caso, espera-se um desvio a esquerda (THRALL et al., 2006).

Em um ou mais estágios da inflamação, a contagem de bastonetes pode

ser maior do que a de neutrófilos segmentados (THRALL et al., 2006). De acordo

com o número de leucócitos, a percentagem de neutrófilos e o seu grau de

maturação na corrente sangüínea, podem classificar a resposta leucocitária em:

desvio para a esquerda e desvio para a direita (MUNDIM, 2008).

Desvio nuclear dos neutrófilos para a esquerda (DNNE) é o aumento na

circulação, acima do número normal, dos neutrófilos jovens, chamados bastonetes.

Existem dois tipos de DNNE, o regenerativo e o degenerativo. O DNNE

regenerativo é o desvio dos neutrófilos à esquerda, que acompanha a neutrofilia,

com o número de bastonetes sendo sempre menor que o de segmentados.

Representa prognóstico bom, pois indica funcionamento normal do processo

inflamatório. O DNNE degenerativo ocorre quando o número de bastonetes for

superior ao de segmentados, independentemente do número total de neutrófilos

(GARCIA-NAVARRO, 2005a). Ele revela uma incapacidade da medula óssea em

maturar as células, frente às infecções, aparecendo assim às formas imaturas na

circulação ou uma grande destruição ou seqüestro de neutrófilos (MUNDIM, 2008).

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Desvio para a direita é o aumento no número de neutrófilos com núcleo

hipersegmentados na circulação. Aumento no número de neutrófilos

hipersegmentados indica neutrófilos permanecendo mais tempo na circulação. Isso

pode ocorrer por presença de corticosteróides, reduzindo o movimento dos

neutrófilos para os tecidos; deficiência de folato ou vitamina B12, causando

redução na divisão celular; leucocitose por neutrofilia (ocasionalmente) (BUSH,

2004). Em cães e gatos existem normalmente mais neutrófilos do que linfócitos,

numa proporção de 70:30, aproximadamente (KERR, 2003).

4.1.1 Neutrofilia

É o aumento do número de neutrófilos circulantes acima do máximo

normal da espécie. Podem ser fisiológica ou patológica. A neutrofilia fisiológica não

tem relação com doença e é causada por uma liberação súbita dos neutrófilos do

pool marginal. Isso ocorre após as refeições, na gestação, após exercícios

violentos ou prolongados, vômitos ou convulsões, no estresse e durante a

taquicardia paroxística. A neutrofilia inflamatória, frequentemente causadora de

uma leucocitose, é a principal característica laboratorial das infecções agudas,

especialmente as causadas por microorganismos piogênicos, como a maioria dos

cocos, e por outras bactérias, certos fungos, espiroquetas e parasitas (GARCIA-

NAVARRO, 2005a).

As principais neutrofilias patológicas são encontradas nas seguintes

situações:

Empiema uterino na cadela;

Hipocalcemia puerperal; picadas de artrópodos peçonhetos;

Fase inicial de regeneração das hemorragias e nas anemias

hemolíticas, quando a liberação aumentada de eritrócitos jovens pode vir

acompanhada de um maior número de neutrófilos;

Lesões com necrose importante de órgãos e tecidos;

Leucemia granulocítica, caso em que os neutrófilos maduros vêm

frequentemente acompanhados de seus precursores;

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Pós-operatório. A neutrofilia é um achado comum após cirurgias

internas, mas que normalmente diminui com o tempo (GARCIA-NAVARRO,

2005a).

4.1.2 Neutropenia

É a diminuição do número de neutrófilos circulantes. A neutropenia é

frequentemente, um sinal de agravamento clínico e, quando progressiva, deve ser

encarada como um indício de desenlace desfavorável da doença (GARCIA-

NAVARRO, 2005a).

A diminuição de neutrófilos no sangue (neutropenia) ocorre

principalmente com:

Satisfação da demanda do tecido por neutrófilos para combater a

infecção, a qual não pode ser rápida o suficiente;

Produção da medula óssea diminuída devido a lesões por drogas,

substâncias químicas, toxinas e neoplasia;

Condições mais raras podem ser responsáveis: destruição de

neutrófilos na circulação por anticorpos e choque anafilático (BUSH, 2004).

Causas patológicas de neutropenia:

Infecção viral: esta é a suposição mais comum quando se

observa neutropenia em um animal. Frequentemente é uma suposição correta, já

que muitas viroses realmente causam este efeito e algumas como o parvovírus

felino e o parvovírus canino causam neutropenia em grau muito acentuado;

Aumento da destruição de neutrófilos na circulação: pode ocorrer

em casos de neutropenia auto-imune, um quadro incomum;

Aumento do movimento dos neutrófilos para o compartimento

marginal: isto ocorre logo após ingestão de endotoxinas, e é por isso que,

frequentemente, encontra-se neutropenia em casos de intoxicação alimentar em

cães e gatos;

Aumento da demanda por neutrófilos sem liberação

compensatória da medula óssea: isto pode acontecer nas primeiras horas de uma

infecção aguda, antes que a medula óssea tenha tido tempo para responder, ou

em um quadro crônico, no qual a medula óssea está ficando totalmente exaurida;

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Diminuição da produção pela medula óssea: uma neutropenia

marcante é uma característica proeminente de aplasia de medula óssea,

juntamente com anemia e trombocitopenia (KERR, 2003);

A neutropenia pode ser regenerativa ou não regenerativa. A neutropenia

regenerativa obedece ao mesmo princípio da anemia regenerativa. Há um excesso

de consumo dos neutrófilos em processos infecciosos graves e demorados. Neste

caso há uma hiperplasia granulocítica com aumento do número de precursores dos

neutrófilos da medula óssea. Essas células, no entanto, são consumidas no foco

inflamatório a uma rapidez maior que sua reposição pela medula óssea, dando

origem a neutropenia circulante. Por seu lado, a neutrofilia não regenerativa

decorre de uma hipoplasia da série granulocítica da medula óssea. É um achado

raro nos animais, geralmente apresentando um prognóstico desfavorável

(GARCIA-NAVARRO, 2005a).

4.2 Linfócitos

Ao contrário das outras células sangüíneas, os linfócitos desenvolvem-

se principalmente fora da medula óssea, nos linfonodos, baço e tecidos linfóides

associados ao intestino (e timo nos animais jovens) e não na medula óssea. Este

desenvolvimento compreende de seis a oito mitoses, mas um caminho maturativo

mais curto, de duas a três mitoses, ocorre na medula óssea. As funções primárias

dos linfócitos são imunológicas. Eles atuam na imunidade celular e produzem

anticorpos na resposta humoral (KERR, 2003).

4.2.1 Linfocitose

A linfocitose é o aumento do número de linfócitos circulantes acima do

máximo normal da espécie. Ocorre nas ocasiões a seguir:

Linfocitose infanto-juvenil: a linfocitose é comum em animais jovens,

pois a atividade imunogênica é mais elevada;

Após vacinações ou imunizações de qualquer tipo, é comum aparecer

uma linfocitose transitória;

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Doenças infecciosas de natureza crônica ou que não foram bem

curadas, como a tuberculose, a brucelose e as infecções crônicas inespecíficas;

Doenças virais, onde o número de linfócitos começa a aumentar antes

que nos outros tipos de infecções, devido a maior ação antigênica dos vírus;

Protozoonoses, como a doença de Chagas e a toxoplasmose,

caracterizam-se por linfocitose persistente, ainda que moderada (GARCIA-

NAVARRO, 2005a).

De acordo com THRALL et al. (2006), a linfocitose tem só duas causas

comuns. A primeira é a resposta à excitação; a segunda é a leucemia linfocítica.

Caso haja contagem celular apenas moderadamente aumentada e células

morfologicamente pequenas, com linfócitos de aparência normal, deve-se

considerar uma resposta a excitação. Como referência, considera-se aumento

moderado quando a contagem de linfócitos estiver em torno de 12.000 e 20.000

células/µL, em cães e gatos, respectivamente. Quando a contagem exceder esse

valor de referência e o animal não for excitado, deve-se considerar a ocorrência de

leucemia linfocíica (THRALL et al., 2006).

Um conceito errôneo comum é aquele que considera a possibilidade

de linfocitose nas doenças inflamatórias crônicas. Essa concepção provavelmente

é oriunda do conhecimento de que a doença inflamatória resulta em resposta do

sistema imune, inclusive hiperplasia linfóide. Isso ocorre, mas a expansão se

restringe aos tecidos linfóides e raramente se manifesta como linfocitose. Uma

exceção é a forma crônica de erliquiose canina, que resulta em linfocitose. Em

cães, deve-se considerar a possibilidade de erliquiose crônica quando a contagem

de linfócitos chegar a 30.000 a 40.000 células/µL (THRALL et al., 2006).

4.2.2 Leucemia Linfocítica

É também chamada de leucose linfóide, linfossarcoma ou linfoma

maligno. A denominação linfossarcoma e linfoma são dados a neoplasias de

órgãos linfóides, produzindo tumores sólidos, podendo ou não ter a presença de

blastos (Figura 20) na circulação. É o tipo de leucemia mais freqüente entre os

animais domésticos. Aproximadamente 11% dos cães e 27% dos gatos com

linfossarcoma apresentam quadros sanguíneos leucêmicos (MUNDIM, 2008).

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FIGURA 20 - Esfregaço sangüíneo de uma cadela com linfossarcoma. Presença de

linfoblastos (setas pretas) e linfócito (seta branca)

4.2.3 Linfopenia

A linfopenia é a diminuição do número de linfócitos circulantes abaixo do

mínimo normal da espécie. A linfopenia ocorre geralmente quando há uma queda

na capacidade de resposta imunológica, uma vez que os linfócitos são células

participantes do processo imunológico. As principais causas de linfopenias são:

Fase aguda da inflamação: é comum haver linfopenia na fase pré-

aguda, que é o período incubatório do agente (bactéria) inflamatório, e na fase

aguda, que é o período de multiplicação exponencial do agente;

Linfopenia das doenças prolongadas;

Linfopenia iatrogênica, causada pela administração de antagonistas

do ácido fólico, de drogas antineoplásicas e uso excessivo de corticoesteroídes

(GARCIA-NAVARRO, 2005a).

4.3 Eosinófilos

A principal função dos eosinófilos é a desintoxicação por inativação de

histamina e materiais com toxidade semelhante à histamina. Eles também inibem a

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produção de edema e por isso são importantes na resposta alérgica, alem de

serem capazes de fagocitar (KERR, 2003).

4.3.1 Eosinofilia

A eosinofilia é o estado caracterizado por um aumento no número de

eosinófilos circulantes acima do normal da espécie (GARCIA-NAVARRO, 2005a).

Causas de eosinofilia:

Dano tecidual crônico, especialmente reações alérgicas;

Doenças eosifílicas disseminadas de gatos (raras);

Leucemia eosinofílica (muito rara);

Parasitismo – migratório / respiratório / hipersensibilidade

cutânea / dirofilaríase;

Reação leucemoíde eosinofílica em gatos (muito rara);

Hipoadrenocroticismo;

Terapia por drogas;

Estro (cadela);

Predisposição racial

Distúrbios purulentos;

Eosinofilia ressaltada (BUSH, 2004).

4.4 Basófilos

O basófilo está diretamente relacionado ao mastócito tecidual e divide

com ele a função de liberar grânulos de histamina e começar a resposta

inflamatória (que então é modificada e mantida em equilíbrio pelos eosinófilos). Os

basófilos são produzidos na medula óssea e duram de 10 a 12 dias (KERR, 2003).

4.4.1 Basofilia

Basofilia é incomum. Na verdade, os basófilos são tão raros em animais

normais que geralmente não são encontrados no exame microscópico diferencial

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de 100 leucócitos. A causa de basofilia é desconhecida ou não evidente e

geralmente acompanha a eosinofiilia. Quando constatada, é descrita como

eosinofilia e basofilia, mas a interpretação da eosinofilia que é importante (THRALL

et al., 2006).

4.5 Monócitos

Os monócitos são formados na medula óssea, de onde eles saem para

o sangue e levam cerca de 2 a 3 dias antes de irem aos tecidos, para se

transformarem em macrófagos. A principal função dos monócitos e dos macrófagos

é a fagocitose, particularmente de partículas grandes tais como debris celulares e

os patógenos mais difíceis de serem debelados, como fungos, protozoários e

Brucella spp (KERR, 2003).

4.5.1 Monocitose

Monocitose é uma alteração relativamente insignificante e pode

acompanhar respostas inflamatórias agudas e crônicas. Nesses casos, a

monocitose é interpretada como uma resposta à maior demanda por células

mononucleares nos tecidos. Monocitose também pode ser notada na resposta a

esteróides, principalmente em cães (THRALL et al., 2006).

4.6 Os mais comuns Hematozoários em leucócitos

Erlichia canis (Figura 21) é uma ricketsia trasmitida por carrapatos,

causando a Erlichiose canina, que é uma doença parasitária dos leucócitos. Os

achados de laboratório são de uma anemia não regenerativa, normocítica e

normocrômica, acompanhada de leucopenia e trombocitopenia. Os leucócitos

apresentam mórulas de parasitas, no citoplasma de monócitos e linfócitos

(GARCIA-NAVARRO, 2005a).

Erlichia canis pode induzir pancitopenia por dois mecanismos:

destruição imunomediada de células circulantes e anemia aplásica (que também

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pode ser causada por mecanismo imunomediado). Além disso, cães com erliquiose

podem apresentar diminuição de apenas uma linhagem celular (por exemplo,

trombocitopenia), manifestar linfocitose e, muitas vezes, hiperglobulinemia.

Raramente nota-se o microorganismo no esfregaço sangüíneo (THRALL et al.,

2006).

Em cães, a principal causa infecciosa de trombocitopenia é a erliquiose.

Infecção com Ehrlichia canis e, menos comum, com E. platys, E. ewingii e E. equis

provoca trombocitopenia. Acredita-se que Ehrlichia canis inicialmente ocasione

destruição de plaquetas por mecanismos imunomediados. Ao final da doença, o

microorganismo provoca aplasia de medula óssea e consequentemente diminuição

na produção de plaquetas. A aplasia de medula também pode ser imunomediada

(THRALL et al., 2006).

Várias espécies de Ehrlichia podem infectar os cães, incluindo a E.

canis, agente da Ehrlichiose Monocítica Canina; E. chaffeensis, agente da

Ehrlichiose Monocítica Humana e E. ewingii, agente da Trombocitopenia Cíclica

Canina. Ainda há a E. platys, agente da Trombocitopenia Cíclica Canina, que de

acordo com a nova classificação taxonômica proposta a partir de análise de genes

do RNA ribossomal 16S, foi transferida para o gênero Anaplasma, sendo

designada A. platys (DUMLER et al., 2001).

FIGURA 21 - Esfregaço sangüíneo de cão com monócitos com

mórulas Ehrlichia spp

A denominação Erlichiose Monocítica Canina está relacionada à

infecção de monócitos por E. canis (WANER & HARRUS, 2000). A anemia

caracteriza-se pela redução no número de hemácias, ou no teor de hemoglobina,

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ou em ambos. É um reflexo de um estado patológico. A anemia ocorre em razão a

uma excessiva perda de sangue (hemorragias), destruição (hemólise), ou queda na

produção de eritrócitos (BIRCHARD & SHERDING, 2003).

Durante a fase aguda pode haver um aumento no seqüestro e

destruição de células sangüíneas provocando uma pancitopenia transitória, já que

a medula óssea continua a função de produção normalmente (BUHLES Jr. et al.,

1975).

Após o período de incubação que varia de 7 a 21 dias, mórulas podem

ser isoladas no sangue. A bactéria multiplica-se nas células mononucleares, por

divisão binária, principalmente nos linfonodos, baço e medula óssea, depois se

espalha por todo o organismo como inclusões em forma de mórulas (BIRCHARD e

SHERDING, 2003; NELSON e COUTO, 1998; ALMOSNY et al., 2002).

Depois de um período de incubação de 8 a 20 dias, o cão infectado

entra na fase aguda da erliquiose, que dura de duas a quatro semanas. Durante

esse período, o microrganismo multiplica-se dentro das células mononucleares

circulantes e dos tecidos fagocitários mononucleares do fígado, baço e linfonodos.

O consumo, o seqüestro e a destruição das plaquetas parecem contribuir para a

trombocitopenia durante a fase aguda. As contagens de leucócitos são variáveis, e

a anemia, relacionada à supressão da produção de eritrócitos e à destruição

acelerada dessas células, desenvolve-se progressivamente durante a fase aguda

(ALMOSNY et al., 2002; ETTINGER & FELDMAN, 2004).

Na fase crônica, nos exames hematológicos pode ser encontrar

pancitopenia devido a hipoplasia da medula óssea, linfocitose ocasionalmente

composta de grandes linfócitos granulares (BIRCHARD & SHERDING, 2003;

NELSON & COUTO, 1998). A técnica de PCR permite um diagnóstico preciso,

podendo ser usada para detectar o DNA específico do microorganismo em

leucócitos de sangue periférico (NELSON & COUTO, 1998; ALVES et al., 2004).

A Anaplasma platys é uma rickettsia específica de plaquetas de cães

que causa trombocitopenia cíclica canina (HARVEY et al., 1978 citado por

INOKUMA et al., 2002). É um microorganismo antigenicamente não relacionado

com E. canis ou E. equi, consiste no agente causador da Trombocitopenia Cíclica

Infecciosa dos cães (SWANGO et al., 1989).

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Segundo WOODY & HOSKINS, (1991), A. Platys foram observados

apenas em plaquetas, podendo ocorrer com uma, duas ou três inclusões. De

coloração basofílica em esfregaços corados pelo Giemsa, mede entre 0,4 a 1,2 µm,

podendo ser arredondada, oval ou achatada (RISTIC & HUXSOLL.,1984).

Na Erliquiose Granulocítica Canina, o principal agente erliquial que

infecta os granulócitos de cães (neutrófilos e eosinófilos) é a E. ewingii, tendo como

possíveis vetores o carrapato Amblyomma americanum e o Otobius megnini. Ela

causa doença moderada a grave, com claudicação, trombocitopenia e edema

articular (STOCKHAM et al., 1990). A E. equi também causa Erliquiose

Granulocítica Canina (EGC). A E. equi (LEWIS et al., 1975; MADIGAN, 1993) tem

como hospedeiros naturais além do cão, o homem, eqüinos e lhamas e

experimentais, os muares, ovinos, caprinos, gatos e primatas não humanos.

As espécies de erliquias que naturalmente infectam felinos ainda não

foram caracterizadas, entretanto, material genômico de E. canis proveniente de

gatos naturalmente infectados foi amplificado, clonado e sequenciado. Corpúsculos

de inclusão e mórulas já foram encontrados em células sangüíneas mononucleares

e polimorfonucleares periféricas de gatos (BOULOY et al.,1994).

Gênero Hepatozoon spp: os gametócitos são encontrados dentro dos

leucócitos nos mamíferos (Figura 22) e das hemácias nos répteis (MUNDIM, 2008).

Nos hospedeiros que são os canídeos domésticos e silvestres, a forma mais

conhecida é o gametócito ou gamonte, visualizado no citoplasma dos neutrófilos e

monócitos (Figura 22). Os gametócitos são estruturas alongadas, medindo de 8,0 a

12,0 µm de comprimento por 3,0 a 6,9 µm de largura, citoplasma corado em róseo,

envolto por uma membrana, núcleo avermelhado localizado próximo a uma das

extremidades. Os gametócitos são corados pelos corantes derivados de

Romanowsky usados frequentemente nas rotinas hematológicas (MUNDIM et al.,

2002).

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FIGURA 22 - A esquerda um esfregaço sanguíneo de cão, com leucócito

parasitado com Hepatozoon canis. À direita esfregaço

sangüíneo de um jacaré, evidenciando um eritrócito

parasitado com Hepatozoon roullex

A transmissão do Hepatozoon spp ocorre principalmente pela ingestão

de carrapatos contendo oocistos maduros. Assume-se que o Rhipicephalus

sanguineus e Amblyoma spp sejam os principais vetores da doença em cãs na

América do Sul. Outros vetores têm sido incriminados como piolhos, pulgas e

mosquitos. Existe também a possibilidade da transmissão vertical (AGUIAR et al.,

2004).

Nos cães a doença geralmente é intercorrente a outras enfermidades

imunossupressoras ou associadas a outros parasitos como Erlichia canis e

Babesia canis. A doença pode manifestar-se de três formas: aguda que pode

evoluir para morte em uma semana; crônica que é a forma com maior variedade de

sinais clínicos e a subclínica ou inaparente que é a mais comum, ocorrendo em 70

a 80% dos animais infectados (MUNDIM et al., 2002; AGUIAR et al., 2004).

Entre as alterações hematológicas, tem sido observada anemia de

moderada a severa, sendo a arregenerativa a mais freqüente devido à cronicidade

da infecção. No leucograma comumente é observado leucocitose com neutrofilia,

podendo ser detectado também desvio nuclear de neutrófilos para a esquerda

(O’DWYER et al., 2006). Em estudo realizado por AGUIAR et al. (2004), os exames

hematológicos revelaram anemia regenerativa, leucocitose por neutrofilia,

linfopenia e monocitose.

GAVAZZA et al. (2003) relataram que animais infectados por H. canis

apresentaram leucocitose em casos severos da doença, eosinofilia, monocitose e

linfocitose. Sendo que em alguns casos foram encontrados também

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trombocitopenia e linfopenia, Já no eritrograma foram encontrados desde anemia

arregenerativa normocítica normocrômica à anemia microcítica hipocrômica.

4.7 Inclusões virais

Inclusões virais são raramente constatadas em cães com Cinomose. E

apresentam variações de tamanho (1 a 2 µm), quantidade e cor (azul claro a

magenta); são mais vistas em hemácias policromatofílicas (THRALL et al., 2006).

Corpúsculo de Sinigalglia Lentz são proteínas do vírus da Cinomose, observados

dentro do citoplasma de linfócitos, neutrófilos (Figura 24) e raramente dentro das

hemácias (Figura 23) (MUNDIM, 2008).

FIGURA 23 - Esfregaço sanguíneo de

cão evidenciando eritrócito

com Corpúsculo de Lentz

FIGURA 24 - Esfregaço sanguíneo de cão evidenciando neutrófilos

com Corpúsculo de Lentz

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4.8 Anomalia de Pelger - Huet

Notam-se neutrófilos maduros hipossegmentados em animais

heterozigotos para a anomalia de Pelger-Huet. Essas células apresentam um

núcleo com forma imatura (ou seja, forma de bastonete ou de mielócito), porém

com um padrão de cromatina madura, grossa (Figura 25). A função dos neutrófilos

é normal, e os animais acometidos são sadios. Geralmente, não há neutrófilos

segmentados no esfregaço sangüíneo desses animais. Os eosinófilos também são

afetados, e sua aparência é de bastonetes. O diagnóstico da anomalia de Pelger-

Huet é importante para prevenir erro na identificação de um desvio à esquerda e a

interpretação errônea de uma resposta inflamatória em um indivíduo portador do

distúrbio, porém aparentemente sadio (THRALL et al., 2006).

FIGURA 25 - Granulócitos de cão com

anomalia de Pelger-Huet

há quatro neutrófilos

hipossegmentados

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5 URINÁLISE DE ROTINA

Os exames de urina são de grande importância como auxiliares no

estabelecimento de diagnóstico de muitas moléstias sistêmicas ou do trato gênito-

urinário, sendo em muitos casos, de valor decisivo (FERREIRA NETO et al., 1977).

A urinálise representa um componente vital no conjunto de informações

laboratoriais de qualquer paciente cuja enfermidade justifique a determinação do

perfil bioquímico sérico (THRALL et al., 2006).

A análise da urina é composta de três partes distintas, que devem ser

interpretadas em conjunto devido ao seu inter-relacionamento. São exames

organolépticos e físico-químicos, exames químicos qualitativos (elementos

anormais) e exame microscópico da urina (sedimentoscopia) (SILVA, 2004).

O exame de urina deve ser solicitado nos seguintes casos:

Presença de sinais clínicos de doença renal ou órgãos urinários;

Suspeita de doença generalizada, com envolvimento de outros órgãos

ou sistemas do organismo;

Como exame de triagem nos internamentos, principalmente

cirúrgicos;

Quando houver interesse em complementar o diagnóstico,

acompanhar quadro clínico e estabelecer um prognóstico (GARCIA-NAVARRO,

2005b).

5.1 Colheita e armazenamento

As amostras de urina podem ser obtidas por cateterização,

cistocentese ou por coleta de urina eliminada espontaneamente. As amostras

devem ser coletadas em frascos limpos e à prova de vazamento e rotulados com a

informação apropriada de identificação do paciente, horário e data da coleta (SINK

& FELDMAN, 2006).

A micção normal tem a vantagem de poder ser colhida pelo proprietário,

mas pode apresentar maior número de contaminantes. A cateterização no caso de

machos deve-se ser por meio de sondas de calibre menor para evitar irritação; em

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fêmeas as sondas sempre oferecem riscos de irritação, devendo os animais ser

sedados para colheita; colher o jato médio, realizar a limpeza prévia da genitália

externa (BICALHO & CARNEIRO, 2007). A coleta de urina com o cateterismo

uretral, todavia, apresenta riscos de introduzir novos germes no trato urinário e de

contaminar uma urina potencialmente estéril (KUNIN, 1997; NABER et al., 2001).

Cistocentese é o melhor método para colheita de urina em cães e gatos, avaliando

a amostra sem interferência de fatores externos, pois a urina é colhida diretamente

do conteúdo vesical (BICALHO & CARNEIRO, 2007).

A colheita da urina por cistocentese pode provocar hematúria

iatrogênica, possibilidade de provocar perfuração intestinal, e é contra indicada em

casos de cálculos vesicais, neoplasias vesicais, peritonites e animais submetidos à

cistocentese recentemente (menos de 15 dias) (SILVA, 2004).

Os preservativos químicos, como tolueno e formalina, matam as

bactérias impedindo sua cultura e interferem em alguns testes químicos (MATOS &

MATOS, 1995; BUSH, 2004).

Independente da forma de colheita, a urina deve ser refrigerada até

trinta minutos após a colheita e pode permanecer em geladeira até seis horas,

porém a mesma deverá estar na temperatura ambiente antes do exame, pois os

aparelhos são calibrados para esta temperatura e a fita reagente com a baixa

temperatura demora a responder a coloração (BICALHO & CARNEIRO, 2007).

Qualquer que seja o método de conservação ou armazenamento,

amostra deve ser sempre colocada ao abrigo da luz solar direta, já que os

pigmentos biliares nela presentes são instáveis a sua ação (GARCIA-NAVARRO,

2005b).

O exame de urina deve ser feito o mais rapidamente possível, devido à

possibilidade de alterações químicas, físicas, e mesmo de sedimento, que podem

ocorrer na amostra. A demora em realizar o exame pode, por exemplo, facilitar a

multiplicação bacteriana com produção de amônia, alcalinização do pH e

dissolução de cilindros eventualmente presentes. Pode fazer ainda com que haja,

nos casos de glicosúria, uma diminuição da glicose devido à sua utilização pelas

bactérias presentes (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

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5.2 Exame Físico da Urina

O exame físico da urina, na rotina laboratorial, constitui-se dos seguintes

itens:

Quantidade diária de urina eliminada;

Cor;

Aspecto;

Densidade especifica;

Formação de sedimento (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

5.2.1 Volume da urina

Para quantificar o volume urinário diário seria necessário manter o

animal em uma gaiola metabólica durante um período de 24 horas (GONZÁLEZ &

SILVA, 2006), em função disto sua quantificação fica restrita à pesquisa. A

produção de urina diária varia com a ingestão de água, a dieta, atividade,

temperatura externa e outros fatores (REECE, 1996). Sendo este procedimento

considerado de difícil realização, tal parâmetro é estimado, de forma indireta,

através de sua densidade.

O aumento da quantidade de urina eliminada chama-se poliúria e sua

diminuição oligúria. Na poliúria, a urina tem uma cor mais pálida e sua densidade

específica é mais baixa, ao contrário do que ocorre na oligúria, quando a

quantidade de água eliminada é menor e a urina mais concentrada. Ambas podem

ser fisiológicas ou patológicas (GARCIA- NAVARRO, 2005b). Anúria é a supressão

absoluta da produção de urina e deve ser distinguida da retenção urinária por

bloqueio físico, como ocorre em casos de cálculos uretrais (BAUER et al., 1974;

MATOS & MATOS, 1995).

Causas de poliúria:

Fisiológicas ou transitórias:

terapia diurética;

aumento da ingestão de líquidos ou de fluídos;

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após administração de corticóides ou ACTH (BAUER et

al., 1974; MATOS & MATOS, 1995).

Patológica:

nefrite aguda ou crônica;

diabetes mellitus, diabetes insípidus;

fase diurética da nefrose tóxica;

glicosúria renal primária;

piometra, amiloidose renal avançada;

hiperadrenocorticismo, pielonefrite generalizada;

hepatopatias graves com polidipsia;

Sindrome de Fanconi e feacromocitoma (MUNDIM, 2007).

Causas de oligúria:

Fisiológica:

redução da ingestão de líquidos;

exercícios físicos intensos, com sudorese intensa;

temperatura ambiente elevada;

hiperventilação pulmonar (cão) (BAUER et al., 1974;

MATOS & MATOS, 1995).

Patológica:

associada à desidratação nos episódios de vômito, diarréia;

nefrites agudas (queda acentuada da pressão sangüínea no

glomérulo);

febres prolongadas, disfunção circulatória, edemas;

nas enfermidades renais terminais (prognóstico

desfavorável) (MUNDIM, 2007).

Causas de anúria:

bloqueio renal agudo e obstrução da uretra (MUNDIM,

2007).

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Na poliúria fisiológica, a urina apresenta densidade baixa, embora dentro

dos limites normais para a espécie. Na poliúria patológica, em casos de diabete

melito, há presença de glicose na urina, a qual com sua intensa atividade osmótica

faz com que o filtrado tubular seja hipertônico em relação ao meio extra-tubular,

não permitindo que a água seja reabsorvida normalmente e produzindo, como

conseqüência, uma diurese (ANDRADE, 2002). A diabete insípida consiste em

uma falha na produção ou na secreção, do hormônio antidiurético pela neuro-

hipófise, podendo ser total ou parcial, ou devido à ausência de resposta ao ADH a

nível renal (BIRCHARD & SHERDING, 2003; SHAW & IHLE, 1999). Que faz com

que haja uma reabsorção insuficiente de água na porção distal dos túbulos o que

leva o paciente a uma perda de água abundante com conseqüência polidipsia. Nas

doenças graves do fígado, bem como o empiema uterino da cadela podem também

causar polidipsia com conseqüência poliúria (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

A oligúria fisiológica é geralmente passageira, aparecendo em situações

nas qual o organismo tem necessidade de conservar água. A oligúria patológica de

origem renal ocorre na fase oligúrica da nefrite aguda generalizada, bem como na

fase terminal de qualquer doença renal. Neste caso, a diminuição progressiva do

volume de urina eliminado, que pode chegar à anúria ou ausência total de urina, é

sinal de falha completa do rim. Quanto à oligúria patológica secundária, trata-se de

um grupo de distúrbios que têm a sua origem em outro órgão que não o rim, e cuja

causa é uma diminuição do fluxo de sangue que chega ao glomérulo (GARCIA-

NAVARRO, 2005b).

5.2.2 Cor da urina

Normalmente amarela devido à presença de urocromos. A presença de

outros pigmentos e constituintes podem alterar a cor, assim como a concentração

da amostra. A urina dos eqüídeos normalmente é amarela ao ser excretada, mas

pode se tornar escura devido à oxidação da pirocatequina. Em casos de excesso

de mioglobina (azotúria) pode apresentar coloração negra. A presença de

medicamentos diversos podem também alterar a coloração da urina como o azul

de metileno que a torna de coloração verde ou azulada; fenotiazínicos

apresentando coloração avermelhada (BICALHO & CARNEIRO, 2007).

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De acordo com SILVA (2004) as principais alterações da cor da urina

são:

Urinas descoradas, semelhante à água: observadas nas poliúrias com

densidade baixa. São decorrentes do aumento da ingestão de líquidos ou da perda

da capacidade tubular em reabsorver a água ou do aumento da taxa de filtração

glomerular. São observadas principalmente nos seguintes casos:

Piometras (devido à polidipsia);

Doenças renais crônicas;

Diabete insipidus;

Hiperadrenocorticismo;

Nefroses (fase poliúrica);

Administração de diuréticos;

Fluidoterapia;

Reabsorção rápida de transudatos (SILVA, 2004);

Ingestão excessiva de líquidos (JONES, 1992).

Urinas amarelo-escuro ou âmbar: ocorre nas oligúrias com densidade

elevada. Decorre da diminuição da ingestão de líquidos ou do aumento da

reabsorção tubular da água ou da diminuição da taxa de filtração glomerular. São

observadas principalmente nos seguintes casos:

Diminuição da ingestão de líquidos;

Doenças renais agudas;

Febre, vômito e diarréia;

Hemorragias graves;

Nefroses (fase oligúrica);

Insuficiência cardíaca.

Urinas róseas ou vermelhas e turvas: ocorre nas hematúrias por

incorporação de sangue a urina (CARR & DONE, 1996). São observadas

principalmente nos seguintes casos:

Cistites agudas;

Traumatismos renais e das vias excretórias da urina;

Urolitíases;

Neoplasias do sistema urinário.

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Obs: na hematúria, as urinas quando em repouso ou quando

centrifugadas se tornam claras, formando depósitos de hemácias.

Urinas de cor marrom ou de vinho e translúcidas: ocorre nas

hemoglobinúrias decorrentes da incorporação da hemoglobina na urina na

hemólise intravascular. São observadas principalmente nos seguintes casos:

Doenças hemolíticas (hemoparasitoses);

Anemia hemolítica autoimune;

Hemólise pós transfusão de sangue.

Obs: na hemoglobinúria, as urinas não se tornam claras por

centrifugação ou quando colocadas em repouso e nem formam depósitos de

hemácias.

Urinas de coloração negra, semelhante ao café: ocorre nas

mioglobinúrias em casos de lesões musculares graves, na alcaptonúria

(melanosarcomas e melanocarcinomas).

Urinas amarelo-esverdeada com espuma: ocorre na bilirrubinúria, nos

casos de estase biliar, icterícias pós-hepáticas ou obstrutivas e hepatocelulares

(SILVA, 2004).

5.2.3 Odor da urina

O odor da urina é característico para cada espécie (“sui generis”) e

provavelmente é influenciado pela dieta (REECE, 1996). GONZÁLEZ & SILVA

(2006) relatam que o odor urinário é influenciado pela quantidade e tipo de ácidos

orgânicos voláteis presentes. Odores amoniacais fortes em urinas frescas,

resultam de infecções por bactérias capazes de produzir a enzima urease, a qual é

responsável pela transformação de uréia em amônia. O odor pútrido ocorre em

decorrência da degradação bacteriana de proteínas urinárias (ALMOND &

STEVENS, 1995; BUSH, 2004) e odor de acetona indica cetonúria (BUSH, 2004;

GONZÁLEZ & SILVA, 2006).

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5.2.4 Aspecto da urina

A urina pode ser classificada como límpida, turva e floculenta. A

turbidez da urina é causada pela presença de eritrócitos, leucócitos, células

epiteliais, bactérias, muco, lipídeos ou cristais (COLES, 1984; ALMOND &

STEVENS, 1995). A causa da turbidez somente poderá ser definida através da

avaliação microscópica do sedimento. Segundo MATOS & MATOS (1995) o

aspecto floculento geralmente é observado quando há aumento da quantidade de

muco e ALMOND & STEVENS (1995) relatam que este aspecto ocorre devido à

agregação de cristais, células descamadas, bactérias e leucócitos. PÔRTO (2003)

classifica a urina floculenta em turva com grumos.

5.2.5 Densidade específica da urina

É definida como sendo o peso da urina em relação à água destilada. Ela

nos irá informar sobre a capacidade dos túbulos renais em concentrar a urina

(MUNDIM, 2007). Na interpretação da urinálise toma-se como referência os seus

valores médio (1025 para cães e 1030 para gatos) (SILVA, 2004).

A densidade urinária varia conforme a concentração de substâncias

dissolvidas e, consequentemente, tem uma ligação direta com o volume de

ingestão de água. Quanto maior o volume ingerido, menor será a densidade e vice-

versa (REECE, 1996).

A habilidade dos pacientes de concentrar a urina (densidade acima de

1015) é dependente do sistema de produção e liberação perfeito do ADH,

suficiente população de néfrons funcionais para gerar e manter alta concentração

de solutos na medula renal e suficiente população de túbulos funcionais para

responder ao ADH. A urina tem a densidade maior que a água, pois possui água e

vários solutos de diferentes densidades. A densidade urinária reflete não só o

funcionamento renal, mas a ingestão de água, disfunções hormonais, intoxicações,

uso de medicamentos, infecções (BICALHO & CARNEIRO, 2007).

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Considerações importantes sobre a densidade urinária:

De maneira geral as nefropatias agudas apresentam urinas com

densidade elevada, alcançando valores superiores à média, em decorrência da

febre, anorexia, e de outros sinais, que promovem a diminuição da taxa de filtração

glomerular;

As nefropatias crônicas geralmente apresentam urinas com densidade

baixa (valores inferiores à média), decorrência da diminuição ou da perda da

capacidade tubular em concentrar a urina;

No diabete mellitus, apesar da polidipsia e da poliúria, as urinas

apresentam densidade normal ou elevada em decorrência da presença da glicose

(glicosúria);

Nos processos agudos das vias urinárias a urina pode apresentar

densidade elevada em decorrência da febre e da incorporação de células do trato

urinário, pús e sangue;

A densidade da urina é inversamente proporcional ao volume produzido;

Processos febris de qualquer natureza apresentam urinas com

densidades elevadas em decorrência da desidratação e de outros fatores

correlatados a esta síndrome (SILVA, 2004).

Aumento da densidade da urina e suas possíveis causas:

Nefropatias agudas: em decorrência da febre e suas conseqüências

(desidratação, hipovolemia e hipertonicidade plasmática). A taxa de filtração

glomerular diminui em decorrência da pressão glomerular;

Cistites agudas: em decorrência da febre e da incorporação à urina de

produtos do processo inflamatório;

Desidratação por vômito ou diarréia: através de um mecanismo de

compensação, no qual há permeabilização dos túbulos contornados distais e tubos

coletores, sob a ação do ADH, promovendo a reabsorção da água nestes locais;

Desvio de grande quantidade de plasma para cavidades ou tecidos:

principalmente nos casos de ascites ou anasarca promovendo a diminuição da

pressão glomerular e a conseqüente queda da taxa de filtração glomerular;

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Insuficiência cardíaca: em decorrência da estase sangüínea e a

conseqüente diminuição da taxa de filtração glomerular;

Pouca ingestão de líquidos: por diminuição da taxa de filtração glomerular

(SILVA, 2004).

Diabete mellitus: por incorporação da glicose a urina (ANDRADE, 2002);

Diminuição da densidade da urina e suas possíveis causas:

Nefropatias crônicas: por incapacidade dos rins em concentrar a urina, em

decorrência do número de néfrons lesados irreversivelmente, superarem o número

de néfrons normais;

Diabete insípidus: por diminuição ou ausência do hormônio antidiurético

(ADH) ou por lesões graves nos túbulos contornados distais e coletores

impossibilitando a ação do hormônio nestes locais (BIRCHARD & SHERDING,

2003; SHAW & IHLE, 1999).

Piometra: em decorrência da polidipsia, indutora da hipervolemia e

hipotonicidade plasmática;

Reabsorção rápida de transudatos: por hipervolemia e hipotonicidade

plasmática;

Ingestão excessiva de líquidos: por hipervolemia e hipotonicidade

plasmática (SILVA, 2004).

Diabete insípidus: por diminuição ou ausência do hormônio antidiurético

(ADH) ou por lesões graves nos túbulos contornados distais e coletores

impossibilitando a ação do hormônio nestes locais (BIRCHARD & SHERDING,

2003; SHAW & IHLE, 1999).

Termos referentes à densidade específica da urina em relação à

densidade do filtrado plasmático:

Isostenúria: densidade entre 1007 a 1015, onde a concentração de

solutos é igual a do filtrado glomerular.

Hipostenúria: densidade inferior a 1007.

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Barúria ou normostenúria: densidade superior a 1015 (MUNDIM,

2007).

Na isostenúria quando o valor da densidade urinária se mantém por

tempo significativo nos limites da densidade do filtrado glomerular (1008 – 1012),

sugerindo graus variáveis de incapacidade dos rins em concentrar a urina. Na

hipostenúria quando o valor da densidade urinária, de forma persistente, se

mantém abaixo do limite mínimo da densidade do filtrado glomerular (1008),

sugerindo falência renal. Na hiperestenúria quando o valor da densidade urinária

ultrapassar em muito, a média das densidades da urina de cães e gatos, como nos

casos graves de hipovolemia e hipertonicidade plasmática que requerem a ação da

aldosterona e do hormônio antidiurético (SILVA, 2004).

5.3 Exame Químico da Urina

O exame químico da urina apresenta como função avaliar o grau de

excreção de algumas substâncias orgânicas, que possuem significado clínico

(COLES, 1984). As substâncias filtradas pelos glomérulos úteis ao organismo,

como aminoácidos, glicose e vitaminas, são reabsorvidas pelos rins e somente

aparecerão na urina se excederem o limiar renal de reabsorção ou caso os rins

estejam com um mau funcionamento. Por outro lado, substâncias tóxicas ou

desnecessárias ao organismo, como creatinina e alantoína, são excretadas pela

urina. Outras substâncias, como eletrólitos e água, são regulados conforme as

necessidades corpóreas (BUSH, 2004).

Antigamente os testes químicos de urina eram realizados através de

reações químicas com diferentes reagentes no interior de tubos de ensaio, num

processo trabalhoso e demorado (BAUER et al., 1974; VALLADA, 1981).

Atualmente, estas avaliações químicas são fácil e rapidamente realizadas através

de fitas reagentes para urinálise. Estas são compostas por tiras de plástico

cobertas com pedacinhos de papel de várias cores, embebidos em diferentes

reagentes químicos, que mudam de cor quando em contato com determinadas

substâncias eventualmente presentes na urina (GARCIA-NAVARRO, 1996).

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Segundo ALMOND & STEVENS (1995), as tiras reagentes são a forma

mais econômica e prática de realizar uma detecção semiquantitativa de vários

constituintes urinários.

5.3.1 Reação (pH)

O pH urinário está relacionado com a função renal de eliminação de

álcalis e ácidos não voláteis, ajudando a manter o equilíbrio ácido-básico. O pH da

urina é determinado pela dieta e pelo metabolismo corporal do animal. Com

relação à dieta, a ingestão de grandes quantidades de proteína produz uma urina

ácida, como ocorre com carnívoros, lactantes ou nas dietas ricas em grãos de

cereais. Por outro lado, dietas ricas em carboidratos produzem uma urina alcalina,

como acontece nos herbívoros. Em relação ao metabolismo orgânico, a urina

geralmente acompanha o pH corporal (COLES, 1984; GARCIA-NAVARRO, 1996).

A infecção do trato urinário ou a contaminação da urina com bactérias

pode alterar o pH da urina. Várias bactérias (por exemplo, Proteus species,

Pseudomonas species) produzem urease, a qual irá criar um ambiente alcalino.

Inversamente, E. coli pode produzir urina ácida. Alterações falsas no pH podem ser

causadas por amostras de urina contendo bactérias mantidas a temperatura

ambiente, que podem causar proliferação bacteriana e resultar em alteração do pH

urinário (SINK & FELDMAN, 2006).

Urinas ácidas com pH abaixo de 6,0 – possíveis causas:

Alimentação excessivamente rica em proteínas;

Administração de agentes acidificantes como o acido ascórbico, o

cloreto de amônio e o fosfato ácido de sódio;

Diabete mellitus;

Inanição e doenças caquetizantes;

Uremia (SILVA, 2004).

Acidose metabólica ou respiratória;

Gastroenterites e enterites (OSBORNE et al., 1995).

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Na inanição, estado em que o organismo passa a utilizar as suas

próprias proteínas plasmáticas, origina-se então o aparecimento de uma urina

ácida. Na acidose respiratória ocorre acúmulo de CO2 nos pulmões, na metabólica

ocorre uma perda aumentada de bicarbonato ou ao acúmulo de ácidos no

organismo, condição vista na diabete melito e na insuficiência renal crônica com

uremia (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Urinas alcalinas com pH acima de 7,0 – possíveis causas:

Alimentação excessivamente rica em vegetais;

Alcalose metabólica ou respiratória;

Retenção urinária;

Infecção do trato urinário (SILVA, 2004);

Administração de alcalizantes (bicarbonato de sódio, bicarbonato de

cálcio, citrato de potássio) (DiBARTOLA, 2000).

A demora em realizar o exame, resulta em alcalinização da amostra

devido à transformação bacteriana da uréia em amônia. Em cistites, principalmente

acompanhada de retenção urinária por obstrução parcial da uretra ou outro motivo,

a alcalinização da urina ocorre pelo mesmo motivo acima exposto (GARCIA-

NAVARRO, 2005b).

5.3.2 Presença de Proteínas na urina

As proteínas, principalmente a albumina normalmente não atravessam a

membrana glomerular. Uma pequena quantidade que atravessa é logo em seguida

reabsorvida nos túbulos renais. A quantidade que consegue escapar junto com a

urina é tão pequena que não é detectada pelas provas laboratoriais de rotina

(MUNDIM, 2007).

Em geral a proteinúria deve ser avaliada junto com a densidade;

densidade diminuída com presença de proteína significa valores mais altos para a

mesma. A avaliação também se relaciona com o exame do sedimento, proteinúria

sem presença de hemácias, leucócitos, espermatozóides geralmente significa

lesão renal, podendo ser glomerular por aumento da permeabilidade tendendo

essa proteinúria ser mais elevada; pode ser também de origem tubular pela

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diminuição da capacidade de absorção, apresentando geralmente valores menos

elevados (BICALHO & CARNEIRO, 2007).

A proteinúria pode ser de origem renal ou pós renal. No primeiro caso a

proteinúria é formada no rim, e no segundo, a sua origem são as vias urinárias ou

órgãos genitais. A proteinúria renal pode ser ainda de origem fisiológica com

caráter transitório, ou ter como causa uma lesão renal, quando é constante e se

caracteriza pelo aparecimento de cilindros no sedimento. Os cilindros são

formações protéicas e a sua presença na urina indica ser a proteinúria de origem

renal. A simples proteinúria, sem cilindrúria, sugere ou que a proteinúria é de

origem pós-renal ou que, sendo renal, é passageira sem maior lesão associada

(GARCIA-NAVARRO, 2005b).

A proteinúria pode ser fisiológica ou funcional e decorre do aumento

transitório da permeabilidade glomerular como no exercício muscular intenso, nas

convulsões e na ingestão excessiva de proteínas (COLES, 1984; GARCIA-

NAVARRO, 1996).

A proteinúria falsa ou acidental é decorrente da contaminação da urina

por fluxo vulvo-vaginal, abcessos perineais e prepuciais e por matéria fecal. A

proteinúria pré-renal é decorrente do aumento da permeabilidade glomerular por

estase sanguínea, como acontece nas cardiopatias e hepatopatias graves (SILVA,

2004).

A proteinúria renal é decorrente de alterações glomerulares, túbulo-

glomerulares e intersticiais, como ocorre nas nefrites, pielonefrites, amiloidose

renal, glomerulonefrites imunomediadas, nefroses, rins policísticos, parasitose por

Dioctophyma renale e na passagem de microfilária pelos rins (SILVA, 2004).

Conforme GONZÁLEZ & SILVA (2006), para se diferenciar a proteinúria

renal da pós-renal, além do quadro clínico, deve-se avaliar o sedimento urinário

buscando indicadores de inflamação, como eritrócitos e leucócitos, que encontram-

se presentes no segundo caso.

5.3.3 Presença de Glicose na urina

A glicose quando em quantidade normal no sangue, encontra-se

ausente na urina devido ao fato dela ser totalmente reabsorvida nos túbulos

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proximais renais (LOPES, 2004). O aparecimento de glicosúria ocorre quando a

quantidade de glicose no filtrado glomerular é superior à capacidade de reabsorção

do túbulo, ou quando a reabsorção tubular é insuficiente. A diferenciação dessas

duas causas se faz pela dosagem de glicose no sangue (MATOS & MATOS, 1995;

GONZÁLEZ & SILVA, 2006).

A glicosúria pode ser metabólica, quando associada a uma hiperglicemia

e renal quando associada à normoglicemia (MUNDIM, 2007). É classificada

segundo SILVA (2004) em:

Glicosúria fisiológica: ocorre transitoriamente na ingestão excessiva de

açúcar ou de hidratos de carbono, nos exercícios musculares intensos e nas

situações de estresse e medo;

Glicosúria falsa: decorrentes da ação redutora de substâncias endógenas

(ácido úrico, uratos e creatinina) e exógenas, na grande maioria, medicamentosas

(ácido ascórbico, salicilatos, morfina, hidrato de cloral, estreptomicina, tetraciclinas,

penicilinas, clorafenicol, lactose, maltose, pentose e epinefrina, entre outras);

Glicosúria patológica: a glicosúria patológica pode ser classificada em

metabólica ou hiperglicêmica e renal ou normoglicêmica, de acordo com o aumento

concomitante ou não da glicose sangüínea. Suas principais causas são:

Hipertireoidismo: por maior absorção da glicose no trato gastrointestinal;

Hiperadrenocorticismo: por ação de glicocorticosteróides estimuladores

da ação enzimática no aproveitamento de aminoácidos para a neoglicogênese

hepática;

Superatividade da medular das supra renais: através da formação

excessiva da catecolaminas de ação hiperglicemiante, por estimularem a

neoglicogênese;

No feocromocitoma: tumor funcional da zona medular das supra renais

por mecanismo semelhante ao anteriormente descrito;

Superatividade da hipófise anterior: por liberação excessiva do hormônio

adrenocorticotrófico, que atua na córtex da supra renais estimulando a síntese de

glicocorticosteróides (SILVA, 2004);

Diabete mellitus e necrose pancreática: por deficiência da insulina

(LOPES, 2004).

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5.3.4 Presença de Acetona na urina

O estabelecimento de uma dieta pobre em carboidratos faz com que o

organismo lance mão de suas reservas de gordura como fonte de energia. O

metabolismo dos ácidos graxos tem como subprodutos a formação dos chamados

corpos cetônicos que são o ácido acetoacético (diacético), o ácido

betahidroxibutírico e a acetona (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

O teste de tira reagente para cetona pode detectar acetona e ácido

cetoacético, mas não detecta um outro tipo de corpo cetônico, o ácido

betahidroxibutírico. Consequentemente, alguns casos de cetonúria podem não ser

detectados simplesmente porque esse ácido corresponde à cetona predominante

(THRALL et al., 2006).

A presença de corpos cetônicos não é um achado normal na urina, pois

após serem filtrados no glomérulo, estes são totalmente absorvidos nos túbulos

proximais (GONZÁLEZ & SILVA, 2006).

A acetonúria está presente nos seguintes casos:

Inanição: por mobilização da reserva lipídica orgânica, gerando os

corpos cetônicos (MATOS & MATOS, 1995).

Diabete mellitus: nesta doença metabólica os animais deixam de

utilizar a glicose como fonte de energia, passando a utilizar os lipídios, gerando os

corpos cetônicos (LOPES, 2004).

5.3.5 Presença de Bilirrubina na urina

A bilirrubina urinária é mais um indicador de enfermidade hepática do

que de doença do sistema urinário (THRALL et al., 2006). A bilirrubinúria pode ser

encontrada em casos de obstrução do ducto biliar, sendo que sua quantidade na

urina é diretamente proporcional ao grau de obstrução, doença hepática

envolvendo lesão dos hepatócitos e associado com hemólise intravascular aguda

grave ou febre (BUSH, 2004), hepatites viral ou tóxica e cirrose (LOPES, 2004). Os

níveis urinários de bilirrubina fornecem informações limitadas sobre a função

hepática (BUSH, 2004).

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É produzida pelo catabolismo de eritrócitos velhos e de proteínas que

contém o grupo heme. No sangue existem dois tipos de bilirrubina, que são

conhecidas como livre ou indireta (ligada à proteína) e conjugada ou direta. Esta

substância quando livre é pouco solúvel no sangue, sendo transportada por

proteínas, principalmente albumina, até o fígado, onde será conjugada com ácido

glicurônico a diglicuronídeo de bilirrubina. A bilirrubina conjugada é solúvel no

sangue, sendo excretada pela bile e pela urina. A bilirrubina livre está fortemente

ligada à albumina e não poderá ser excretada pelo rim, pois não será filtrada pelos

glomérulos. Um aumento de bilirrubina na urina é denominado de bilirrubinúria

(COLES, 1984; GARCIA-NAVARRO, 1996; GONZÁLEZ & SILVA, 2006). A

bilirrubina e seus derivados tomam o nome coletivo de pigmentos biliares

(GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Normalmente, a bilirrubina não esta presente na urina do cão e do gato.

Porém, o rim canino pode degradar a hemoglobina em bilirrubina, e o limiar renal

da bilirrubina é baixo nos cães. A magnitude da bilirrubinúria deve sempre ser

interpretada junto com a gravidade específica da urina. São comuns os resultados

variarem de “traços” até “leves reações” para bilirrubina na urina do cão, com uma

gravidade específica maior ou igual a 1040. Isso já não se verifica no caso dos

gatos: urina altamente concentrada em gatos deve ainda ser negativa para

bilirrubina. A bilirrubinúria em gatos é sempre patológica (SINK & FELDMAN,

2006).

Na maioria das espécies, as células do epitélio tubular reabsorvem

eficientemente essa bilirrubina; portanto, raramente se detecta bilirrubina na urina

antes que ocorra hiperbilirrubinemia. Em cães, a capacidade de reabsorção tubular

(o limiar renal) de bilirrubina é baixa. Essa capacidade é menor em cães machos;

desse modo, traços de bilirrubina é normal na urina de cães, especialmente em

machos, com densidade urinária superior a 1040. Além disso, é comum ocorrer

hiperbilirrubinúria antes da manifestação de hiperbilirrubinemia (THRALL et al.,

2006).

De acordo com GARCIA-NAVARRO (2005b), as principais causas do

aumento da bilirrubina na urina são:

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A obstrução dos ductos biliares e/ou do canal biliar:

quando a obstrução é total, há um refluxo da bile para a

circulação, o que determina um aumento da bilirrubinúria, mas sem

urobilinogenúria;

quando a obstrução for parcial, ambos, a bilirrubina e o

urobilinogênio aparecem na urina, aquela aumentada e este diminuído;

Doenças hepáticas: como a hepatite infecciosa canina ou doença de

Rubarth, a leptospirose, a cirrose hepática, as diversas neoplasias do fígado, as

toxicoses e outras hepatopatias, quando pode haver aumento de bilirrubinúria

antes de qualquer outro sinal clínico, e cuja urina contém ambos aumentados, a

bilirrubina e o urobilinogênio.

A icterícia hemolítica: que acompanha as anemias hemolíticas com

aumento de hemólise, que dá como resultado um aumento na produção de

bilirrubina e, como conseqüência, um aumento na produção de urobilinogênio

intestinal e na sua eliminação urinária.

Outras causas: como a obstrução intestinal, por diminuírem a

eliminação de bilirrubina pela via intestinal, com conseqüente aumento da taxa de

bilirrubina conjugada plasmática, que passa a ser eliminada pela urina.

5.3.6 Presença de Urobilinogênio na urina

O urobilinogênio é formado pela ação de hidrolases bacterianas

intestinais, que reduzem a bilirrubina conjugada dando origem a este composto

incolor. Uma parte desta substância é oxidada até urobilina, sendo um dos

pigmentos fecais. O restante volta à circulação, porta ou sistêmica, onde a maior

parte vai ao fígado para ser novamente excretada pela bile e uma pequena porção

será eliminada pelo rim (COLES, 1984; GARCIA-NAVARRO, 1996; GONZÁLEZ &

SILVA, 2006). Do urobilinogênio produzido no intestino, apenas 20% são

reabsorvidos. Destes, 90% são reexcretados pela bile e somente 10% voltam à

circulação geral, podendo ser excretados na urina. Portanto, somente 1 a 2% do

urobilinogênio total produzido estão presentes em condições normais na urina

(GONZÁLEZ & SILVA, 2006). Segundo COLES (1984), se o urobilinogênio está

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presente na urina, então o ducto biliar está aberto e a circulação entero-hepática de

pigmento biliar está ocorrendo.

Como foi visto o urobilinogênio é a forma reduzida da bilirrubina

conjugada e as duas alterações urinárias devem ser interpretadas em conjunto. A

eliminação de uma pequena parte do urobilinogênio pela urina é normal, sendo ele

o principal pigmento que dá a cor amarela à urina (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Cães e gatos apresentam até 1/32 de urobilinogênio na urina. O

urobilinogênio depois de excretado na urina em contato com o ar oxida-se dando

origem a urobilina (MUNDIM, 2007). Como principais causas do aumento do

urobilinogênio urinário, podemos citar:

Hepatopatias: por lesões instaladas nos hepatócitos que interferem no

ciclo entero-hepático do urobilinogênio;

Doenças hemolíticas: por excesso de produção do glucoronato de

bilirrubina (SILVA, 2004).

A ausência ou diminuição do urobilinogênio urinário ocorre

principalmente nos seguintes casos:

Obstrução das vias biliares;

Inibição das bactérias intestinais;

Diarréia (distúrbios na absorção intestinal) (GARCIA-NAVARRO,

1996; BUSH, 2004).

5.3.7 Presença de Indican na urina

O aumento da quantidade de indican na urina se denomina de

indicanúria. O indican é um derivado do indol que por sua vez é um produto

resultante da putrefação de proteínas no trato intestinal. Após a absorção do indol,

o mesmo sofre oxidação no fígado originando o indoxil, que se combina com

sulfato de potássio, formando o indoxil sulfato de potássio (Indican) que é

excretado pela urina (SILVA, 2004).

A indicanúria tem valor diagnóstico questionável por alguns autores,

principalmente para herbívoros, onde sua eliminação é maior, enquanto que nos

carnívoros, sua eliminação ocorre em pequenas quantidades ou mesmo nem

ocorre nos animais saudáveis (MUNDIM, 2007).

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O aumento de indican está associado a um aumento da putrefação

protéica intestinal, como a verificada após a ingestão de alimentos excessivamente

ricos em proteínas ou em decomposição, bem como na constipação e obstrução

intestinais importantes ou crônicas. Ele acontece também nas lesões do aparelho

digestivo, tais como gastrite, gastroenterites, intussucepção, vólvulo e etc. Outras

situações como a peritonite, a febre tifóide e, principalmente, a gangrena com

decomposição bacteriana de proteínas corporais podem também aumentar o

indican eliminado na urina (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

5.3.8 Presença de Sais biliares na urina

Os ácidos biliares são sintetizados nos hepatócitos a partir do colesterol.

Na maioria dos animais, os ácidos cólico e quenodesoxicólico representam os

ácidos biliares primários. Após sua síntese, eles são conjugados em aminoácidos.

Essa conjugação torna os ácidos biliares mais hidrossolúveis e eles são secretados

no sistema biliar. No momento da alimentação, fatores hormonais e neuro-

hormonais estimulam a contração da vesícula biliar e a transferência dos ácidos

biliares para o intestino delgado, onde sua desidroxilação pelos microorganismos

anaeróbicos resulta na transformação dos ácidos biliares primários em

secundários. No íleo, a maior parte dos ácidos biliares retorna ao sangue.

Normalmente o fígado é muito eficiente na remoção dos ácidos biliares da

circulação portal. Os ácidos biliares excretados pelos hepatócitos são secretados

no sistema biliar e circulam novamente; uma molécula de ácido biliar circula

novamente várias vezes após uma única refeição (THRALL et al., 2006).

As possíveis causas do aumento na concentração de ácidos biliares na

urina são:

Desvio da circulação portal e conseqüente anormalidade na sua

absorção pela circulação sistêmica (por exemplo, shunt portossistêmico, cirrose

grave). Nessa situação, o sangue é desviado dos hepatócitos, impossibilitando a

remoção dos ácidos biliares;

Diminuição intrínseca da capacidade de absorção dos ácidos

biliares pelos hepatócitos. Essa é a principal causa em várias doenças hepáticas

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(por exemplo, hepatite, necrose, hepatopatia por glicocorticóides) e, em alguns

casos, corresponde à redução da massa hepática funcional;

Menor excreção de ácidos biliares pelo sistema biliar e

conseqüente regurgitação a circulação sistêmica. Tal distúrbio em geral deve-se a

colestase, mas também pode ocorrer quando houver extravasamento do ducto ou

da vesícula biliar (THRALL et al., 2006).

MUNDIM (2007) cita que nas icterícias tanto a hemolítica como a

obstrutiva, se encontra sais biliares na urina.

Os sais biliares estão presentes na urina nos casos de

comprometimento hepático acompanhando a bilirrubina (SILVA, 2004).

5.3.9 Presença de Sangue na urina

Resultado positivo para sangue oculto na urina obtido em tira reagente

deve-se a hemorragia no trato urinário, hemoglobinúria ou mioglobinúria.

Hemorragia do trato urinário pode ser confirmada pelo achado de hemácias no

sedimento urinário. No entanto, urina hipostenúrica pode resultar em lise hipotônica

de hemácias, interferindo na sua detecção microscópica. Caso não haja

hemorragia, deve-se diferenciar hemoglobinúria e mioglobinúria a partir da

avaliação do hemograma e do histórico clínico. Hemoglobinúria resulta de intensa

hemólise intravascular, geralmente acompanhada por anemia grave, podendo ser

notada manifestação clínica de icterícia e colapso súbito. Geralmente nota-se

mioglobinúria apenas quando há grave lesão muscular, acompanhada de aumento

na atividade sérica de enzimas musculares (por exemplo, CK, LDH, AST) (THRALL

et al., 2006).

Hematúria:

Cor da urina rósea ou avermelhada, formando depósito de hemácias

quando centrifugadas ou colocadas em repouso. O número de eritrócitos é elevado

no sedimento urinário. A cor do plasma é normal. A dosagem sérica da

creatininoquinase (CK), sugestivas de alterações musculares é normal (SILVA,

2004).

A ocorrência de hematúria acontece sempre que houver uma

hemorragia renal ou das vias urogenitais (COLES, 1984). Ela pode ser vista

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também em casos severos de glomerulonefrite, vasculite e infarto renal, quando há

passagem de eritrócitos para dentro dos túbulos. Deve ser lembrado, ainda, que as

amostras cateterizadas podem apresentar hematúria, como resultado do

traumatismo não raro a essa técnica (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Hemoglobinúria:

Cor da urina variando do marrom ao vinho. O número de eritrócitos no

sedimento urinário é normal. Não forma depósito quando centrifugadas ou em

repouso. A cor do plasma é avermelhada. A dosagem sérica da CK é normal

(SILVA, 2004). Dependendo de sua origem, a hemoglobinúria pode ser verdadeira

ou falsa.

Na forma verdadeira, a hemoglobinúria aparece como resultado da

hemoglobinemia, que é a existência de hemoglobina livre no plasma. Essa

hemoglobina atravessa a barreira glomerular e, estando em quantidade aumentada

e não sendo toda reabsorvida, aparece na urina. A hemoglobinúria é indicativa de

uma hemólise intravascular, fato que ocorre nas reações às transfusões

incompatíveis e nas anemias hemolíticas com hemólise intravascular e

hemoglobinemia. Entre estas últimas, podem ser citadas as babesioses e a doença

hemolítica do recém- nascido. Pode aparecer ainda como resultado da ação de

certos venenos de cobra, agentes tóxicos como cobre, o mercúrio e as sulfas,

hemolisinas, produzidas pela Leptospira pomona, ingestão de certas plantas

tóxicas, e finalmente queimaduras severas (GARCIA – NAVARRO, 2005b).

Hemoglobinúria falsa: a sua causa mais freqüente é a ruptura de

glóbulos vermelhos, quando presentes em urinas muito diluídas ou alcalinas. Essa

ruptura ocorre geralmente in vitro, mas pode acontecer ainda no interior da bexiga

urinária. Trata-se, na verdade, de uma hematúria mascarada de hemoglobinúria. A

diferenciação se faz procurando eritrócitos inteiros no sedimento, já que essa

hemólise raramente é total (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Mioglobinúria:

Ocorre devido à excreção da mioglobina plasmática excedente, ou seja,

quando a sua concentração no plasma excede 15 a 20 mg/dl. A mioglobina é o

pigmento responsável pelo transporte de oxigênio nos músculos e quando ocorre

uma lesão muscular, sua concentração no sangue pode aumentar (LOPES, 2004).

A urina com esse pigmento deteriora-se rapidamente (BUSH, 2004).

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5.4 Exame do sedimento urinário

Nos animais saudáveis a urina contém poucas células ou elementos que

podem ser formados ao longo do trato geniturinário, como cilindros e cristais. A

urina normal é livre de microorganismos, podendo ocorrer contaminação quando

esta é expelida. Neste momento, também pode ocorrer contaminação por ovos de

parasitas intestinais, esporos vegetais e outras matérias orgânicas. O exame

microscópico da urina é imprescindível para uma correta interpretação da urinálise.

Frequentemente, urinas com aspecto físico normal revelam estruturas importantes

ao diagnóstico clínico, que não são observadas em urinas muito turvas. A

composição do sedimento urinário muda logo após sua coleta, portanto esta

avaliação deve ser realizada em amostras recentes. Caso isto não seja possível, a

amostra deve ser refrigerada para uma adequada manutenção das estruturas

presentes e avaliada, preferencialmente, em 4 horas (COLES, 1984; DOXEY,

1985). Com o passar do tempo ocorre aumento da alcalinidade da urina, causando

lise das células e cilindros e, eventualmente, alterações nos cristais (BUSH, 2004).

O exame do sedimento urinário é o procedimento de maior sensibilidade

no diagnóstico de doença do trato urinário, sendo útil na localização da lesão renal

(THRALL et al., 2006). O sedimento urinário é composto pelos elementos sólidos

existentes na urina, que se depositam no fundo do tubo após centrifugação da

amostra (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

O objetivo da análise do sedimento em uma urinálise rotineira é

identificar elementos formados na amostra de urina: células, cilindros e cristais

(GARCIA-NAVARRO, 2005b). Além do registro de presença destas estruturas em

uma amostra de urina, esse exame deve também permitir uma idéia numérica

aproximada de tais estruturas particulares (COLES, 1984).

O sedimento urinário pode ser dividido em elementos organizados

(orgânico) e não organizados (inorgânico). No primeiro grupo estão presentes

eritrócitos, leucócitos, células epiteliais, microorganismos (bactérias, protozoários,

fungos, leveduras), cilindros, parasitos e espermatozóides. O segundo é composto

por cristais e gotículas de gordura (MATOS & MATOS, 1995; GARCIA-NAVARRO,

1996).

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A quantidade dos diversos elementos no sedimento varia muito conforme

a situação, devendo ser interpretada subjetivamente. Ela é tradicionalmente

registrada por cruzes; uma cruz: quantidade reduzida; duas cruzes: presença um

pouco aumentada; três cruzes: quantidade aumentada de forma importante e

quatro cruzes: quantidade muito aumentada (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

5.4.1 Elementos organizados

a) Células epiteliais

As células epiteliais são grandes em relação a outros constituintes do

sedimento urinário (SINK & FELDMAN, 2006). Podem ser transicionais,

descamativas, ou, mais raramente, de origem tubular renal (GARCIA-NAVARRO,

2005b).

As células pavimentosas, também chamadas de descamativas, são

provenientes da camada superficial da uretra e da vagina, aumentando de número

durante o cio. São as maiores células observadas no sedimento. Apresenta bordas

irregulares, núcleo visível, arredondado e pequeno em relação ao citoplasma

(GARCIA-NAVARRO, 1996; GONZÁLEZ & SILVA, 2006). Estas células são finas,

podendo apresentar-se de forma dobrada ou enrolada, sendo por vezes

confundidas com cilindros (COLES, 1984; BUSH, 2004). As células descamativas

são normalmente encontradas no sedimento, pois resultam da renovação tissular

do sistema urinário. Quando estão em número elevado, podem sugerir a

localização dos processos patológicos nos rins ou nas vias excretoras da urina

(SILVA, 2004).

As células de transição revestem a mucosa desde a pelve renal até a

uretra. Apresentam vários tamanhos, sendo menores na região próxima aos rins,

aumentando gradativamente até se encontrar com a vagina, porém são sempre

menores que as pavimentosas. Sua forma é variável, podem ser redondas, ovais,

fusiformes e caudadas. Seu citoplasma é granular e o núcleo redondo ou

ligeiramente oval (GARCIA-NAVARRO, 1996), podendo ser visualizadas em

agrupamentos ou folhas. As células da pelve renal podem ter o citoplasma em

forma de cauda, adquirindo a aparência de uma vírgula, sendo chamadas de

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caudadas (BUSH, 2004). Em condições normais, o número dessas células é muito

reduzido na urina. Seu aumento pode estar relacionado com inflamação, irritação

(LOPES, 2004) ou neoplasia (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

As células renais são provenientes dos túbulos renais. Possuem

tamanhos semelhantes a um leucócito, são arredondadas e com núcleo grande,

sendo difíceis de distinguir dos glóbulos brancos ou das células da bexiga

(GONZÁLEZ & SILVA, 2006). Estas estruturas são identificadas mais facilmente

quando incorporadas a cilindros (COLES, 1984) e degeneram-se com rapidez

mesmo em amostras frescas, sendo que sua presença indica um processo de

descamação tubular (GARCIA-NAVARRO, 1996). Se o número de células

encontrado for grande, indica um processo degenerativo do órgão de onde provém

(FERREIRA NETO et al., 1977).

Causas da presença de células epiteliais na urina

Renais: degeneração tubular aguda;

Intoxicação renal;

Isquemia renal;

Processo inflamatório;

Pelve: pielite, pielonefrite;

Vesicais: cistite, cateterização agressiva;

Uretrais: uretrite, cateterização agressiva;

Tumorais: diagnóstico por morfologia citológica do sedimento (MUNDIM,

2007).

b) Eritrócitos

Não são encontrados com freqüência. Sua presença indica hemorragia

no trato urogenital, devido a doenças infecciosas, nefrites agudas, cistites,

parasitos, ingestão de venenos, traumas (LOPES, 2004), cálculos, exercícios

violentos, ou pode ser devido a traumatismo por cateterismo (FERREIRA NETO et

al., 1977).

A presença de eritrócitos na urina pode resultar em teste de sangue

oculto positivo, acompanhado de discreta proteinúria. Os animais normais

apresentam menos de três eritrócitos por campo de grande aumento (THRALL et

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al., 2006). São redondos e refráteis internamente, assemelham-se a gotas de

gorduras. Sua forma no sedimento depende da densidade urinária, e do pH

(MUNDIM, 2007).

A aparência destas células é afetada pela concentração da urina.

Tornam-se pequenas e crenadas em urinas concentradas e ingurgitadas e

esféricas em urinas diluídas, onde serão visualizados anéis descoloridos e pálidos

que podemos chamar de células fantasmas (ALMOND & STEVENS, 1995). Estas

células fantasmas nem sempre são uniformes em dimensões e morfologia, embora

tenham, geralmente, contorno circular (COLES, 1984).

c) Leucócitos – Piócitos

Denomina-se de piúria o aumento do número de piócitos na urina

(LOPES, 2004), ocorrendo nos casos das doenças do sistema urinário com

envolvimento bacteriano (nefrites, pielonefrites, cistites, e etc) (SILVA, 2004).

Ocorre sempre que houver inflamação, supurativa principalmente, ou necrose em

qualquer ponto do aparelho urogenital, sendo que, se a amostra for cateterizada,

apenas os órgãos urinários devem ser considerados. Se a piúria estiver

acompanhada de cilindros leucocitários pode-se deduzir ser o rim o local da

inflamação, lembrando-se ainda que, pacientes em tratamento prolongado com

corticosteróides, podem fazer inflamação sem reação leucocitária importante na

urina (GARCIA-NAVARRO, 2005b). Além da infecção, a febre ou o exercício

intenso também podem aumentar, temporariamente, o número de leucócitos na

urina (COLES, 1984; GARCIA-NAVARRO, 1996).

Os leucócitos são redondos e com o citoplasma granular (Figura 26),

maiores que os eritrócitos e menores que as células renais. Mais de 5 a 8

leucócitos por campo indica piúria e inflamação das vias geniturinárias (MUNDIM,

2007).

A presença de um número elevado de piócitos, acompanhado de

albuminúria e de numerosos cilindros, indica um processo inflamatório renal. A

piúria, acompanhada de traços de albumina e ausência de cilindros, sugere um

processo inflamatório localizado depois dos rins. Ocorrendo piúria, presença de

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grande número de bactérias e células da bexiga, pode-se tratar de cistite

(FERREIRA NETO et al., 1977).

FIGURA 26 - Leucócitos (seta) no

sedimento urinário de

cão

d) Cilindros

Os cilindros são estruturas protéicas moldadas nos túbulos, sendo sua

base a mucoproteína (proteína de Tamm-Horsfall) que é secretada na alça de

Henle, no túbulo distal e no ducto coletor (BUSH, 2004). São formados a partir da

proteína que atravessa a membrana glomerular, sendo que o pH ácido, encontrado

nas inflamações e na porção terminal do néfron, favorece a formação destes

(LOPES, 2004). Sua presença, principalmente na forma hialina pode ser

esporádica e acompanhar uma proteinúria fisiológica. Quando encontrados

frequentemente ou em grandes quantidades, geralmente estão relacionados à

doença renal e tem grande valor diagnóstico. Além da quantidade, o tipo de cilindro

presente e o seu diâmetro auxiliam na identificação e prognóstico da doença. Os

que apresentam diâmetro menor provêm do néfron, indicando inflamações agudas,

já os maiores foram formados nos túbulos coletores, indicando lesões mais

avançadas e importantes, com prognóstico geralmente desfavorável (COLES,

1984; GARCIA-NAVARRO, 1996). Normalmente a urina não contém mais do que

1-2 cilindros hialinos ou granulares por campo de 400 X (GONZÁLEZ & SILVA,

2006). A grande maioria apresenta formato alongado, uma vez que adquirem a

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forma do túbulo onde ocorreu a deposição protéica. O tipo de material incorporado

à matriz protéica durante a formação destas estruturas, determinará qual cilindro

será formado (DOXEY, 1985).

Uma grande quantidade de cilindros é observada na urina de animais

que tiveram seus rins afuncionais, tão logo suas funções retornarem ao normal, é

chamada fase de lavagem dos túbulos (MUNDIM, 2007). Os cilindros podem ser

hialinos, epiteliais, granulares, céreos, gordurosos, hemáticos, hemoglobínicos,

leucocíticos e largos (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Cilindros Hialinos

Os cilindros hialinos não possuem coloração, são homogêneos, são

semitransparentes e tem extremidades tipicamente arredondadas (Figura 27). Eles

são formados por mucoproteína gelatinosa e não contem células (SINK &

FELDMAN, 2006). São formados exclusivamente por proteínas, geralmente

albumina (GARCIA-NAVARRO, 2005b), se dissolve rapidamente em urina diluída

ou alcalina (BUSH, 2004). Não tem valor diagnóstico, sua presença indica uma

forma leve de irritação renal, porém pequena quantidade pode ser visualizada em

animais normais devido à febre, hiperemia renal e proteinúria fisiológica (COLES,

1984; GARCIA-NAVARRO, 1996), insuficiência cardíaca congestiva, estresse,

desidratação, exercício físico intenso e exposição ao calor (LOPES, 2004).

FIGURA 27 - Cilindro hialino (seta) no

sedimento urinário de

cão

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Cilindros Epiteliais

São cilindros hialinos que contém várias células epiteliais renais (Figura

28). Eles resultam da descamação das células tubulares que não se

desintegraram, o que ocorre em qualquer doença que produz lesão ao epitélio

tubular. Esses cilindros às vezes são difíceis de distinguir de cilindros leucocíticos,

especialmente se as células epiteliais renais tiverem sofrido alguma degeneração

(SINK & FELDMAN, 2006). Ocorrem nas nefrites agudas (DIETZ, 1997), nefroses,

nas degenerações do epitélio tubular (MUNDIM, 2007). A gravidade do processo é

proporcional ao número de cilindros por campo e ao número de células no seu

interior (GARCIA-NAVARRO, 1996).

FIGURA 28 - Cilindro epitelial (seta) no sedimento urinário de cão

Cilindros Granulosos

São formandos por proteínas e fragmentos celulares. Ao contrário dos

cilindros epiteliais, neles não são observados contornos celulares (Figura 29). De

acordo com a gravidade dos processos estes cilindros se dividem em granulosos

grossos, que contém no seu interior granulações grosseiras e cilindros granulosos

finos, granulações finas. Estes cilindros representam à desintegração das células

tubulares (SILVA, 2004). São considerados indicadores de um estágio de doença

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renal mais avançado que os dois anteriores, raramente sendo vistos nas

inflamações agudas. Quando em grandes números, podem indicar doenças renais

com necrose do epitélio tubular (MEYER & HARVEY, 1998), tais como a nefrite de

qualquer natureza ou a nefrose por isquemia ou nefrotoxinas (GARCIA-NAVARRO,

2005b).

São formados em função da estase urinária, em que os cilindros

celulares permanecem nos túbulos com conseqüente desintegração e formação

das granulações. A posterior desintegração do cilindro granuloso origina o cilindro

céreo (LOPES, 2004).

FIGURA 29 - Cilindros granulosos

(seta) em sedimento

urinário de cão

Cilindros Céreos ou Cerosos

São formações largas, homogêneas, opacas, constituídas de substância

amorfa, fosca semelhante à cera (MUNDIM, 2007). São mais largos que os

cilindros hialinos e parecem muito mais sólidos que estes. Eles usualmente

apresentam extremidades quebradiças, com cantos em ângulo reto, e são fáceis

de visualizar microscopicamente em virtude de sua natureza altamente refratária

(SINK & FELDMAN, 2006). Ocorrem quando há estase prolongada por obstrução

tubular e são freqüentemente chamados cilindros da insuficiência renal. São

comumente encontrados nos pacientes com insuficiência renal crônica e também

em rejeição de transplantes (MOTTA, 2003). Não são vistos nunca em doenças

agudas, e sua presença indica cronicidade (LOPES, 2004). São cilindros que

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apresentam no seu interior uma massa homogênea oriunda da desintegração das

células tubulares. A sua presença na urina é sempre sugestiva de doenças renais

graves, como as que ocorrem nos processos de natureza degenerativas (SILVA,

2004).

Cilindros Gordurosos

Os cilindros gordurosos é um tipo de cilindro granular grosseiro

contendo gotas de gordura. Essas gotas são altamente refratárias e se acumulam

nos cilindros como resultado de degeneração celular lipídica. Esses cilindros

ocorrem na doença tubular degenerativa (SINK & FELDMAN, 2006). Aparecem nas

doenças degenerativas dos túbulos, com deposição de material lipídico (COLES,

1984; GARCIA-NAVARRO, 1996; BUSH, 2004), como acontece na diabete melito

do cão (LOPES, 2004) e na lipúria do gato (GARCIA-NAVARRO, 2005b). São

vistos nos casos de envenenamento pelo fósforo e arsênico (FERREIRA NETO et

al., 1977). Os cilindros gordurosos representam o estágio final da degeneração de

células tubulares (THRALL et al., 2006).

Cilindros Hemáticos e Hemoglobínicos

São cilindros hialinos que contém eritrócitos. Esses cilindros se formam

quando os eritrócitos se agregam dentro do lúmen tubular. São raros em cães e

gatos e sua presença indica sangramento intra-renal (LOPES, 2004). São

encontrados na hematúria e indicam nefrite hemorrágica (FERREIRA NETO,

1977). Podem estar associados com traumatismo (GONZÁLEZ & SILVA, 2006).

Os cilindros hemáticos estão associados à doença renal intrínseca. Suas hemácias

são freqüentemente de origem glomerular, como na glomerulonefrite, mas podem

também resultar de dano tubular, como na nefrite intersticial aguda (MOTTA,

2003).

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Cilindros Leucocíticos

Indicam um processo inflamatório supurativo associado a uma lesão

renal, como a pielonefrite e os abcessos renais. Em geral, vem acompanhado de

cilindros de outros tipos e de piúria. Aparecem como formações cilíndricas em cujo

interior estão os leucócitos (GARCIA-NAVARRO, 2005b). É necessário prestar

atenção, pois em certas ocasiões, os leucócitos podem ser eliminados na urina,

aderidos uns aos outros em massas alongadas (COLES, 1984; GARCIA-

NAVARRO, 1996). Essas formações são chamadas cilindróides de pus e não são

verdadeiros cilindros (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Quando a origem dos leucócitos é glomerular como na glomerulonefrite,

encontra-se no sedimento grande quantidade de cilindros leucocitários e cilindros

hemáticos. Quando é tubular, como na pielonefrite, os leucócitos migram para o

lúmen tubular e são incorporados na matriz do cilindro (MOTTA, 2003).

e) Muco

Os filetes de muco aparecem como linhas longas, delgadas e maleáveis

no sedimento urinário. Originam-se nas superfícies mucosas, sendo comuns em

pequena quantidade e muito aumentados com qualquer forma de irritação (SINK &

FELDMAN, 2006). Não é considerado clinicamente significativo. Seu aumento na

urina está comumente associado à contaminação vaginal (MOTTA, 2003).

f) Bactérias

Normalmente, a urina é estéril. Grande número de bactérias presentes

em uma amostra de urina obtida após cateterização ou cistocentese é indicativo de

uma infecção de trato urinário. Nesse caso, as bactérias costumam ser

acompanhadas pelo número aumentado de leucócitos (WALLACH, 2000).

Bacteriúria não acompanhada por número aumentado de leucócitos sugere

contaminação bacteriana. A urina eliminada espontaneamente pode ser

contaminada ao passar pela uretra distal ou pelo trato genital, que pode conter

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bactérias. A contaminação pela uretra das amostras eliminadas de forma

espontânea ou obtidas por cateterização em geral não resulta em número grande o

suficiente para ser visualizado microscopicamente. Se a amostra de urina for

deixada à temperatura ambiente e as bactérias estiverem presentes na amostra,

elas irão proliferar (SINK & FELDMAN, 2006). São vistas como pequenos pontos

ou traços que podem ficar parados ou em constante movimento (GOLDBERG,

2007).

g) Espermatozóides

Podem ser encontrados, embora geralmente sem valor de diagnóstico,

principalmente na urina de cães (GARCIA-NAVARRO, 2005b) (Figura 30).

Aparecem na urina por contaminação de sêmen em urinas coletadas após relação

sexual (LOPES, 2004).

FIGURA 30 - Espermatozóides (seta)

no sedimento urinário

de cão

h) Parasitas

Ovos de parasitas podem ser visualizados no sedimento urinário. As

possibilidades incluem Dioctophyma renale (ovos do verme dos rins do cão),

Capillaria plica (ovos do verme da vesícula urinaria do cão) e microfilárias de

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Dirofilaria immitis. Diversos ovos de parasitas podem ser visualizados no

sedimento urinário se este for contaminado com fezes infectadas (SINK &

FELDMAN, 2006).

5.4.2 Elementos inorganizados

a) Cristais

A presença de cristais na urina é conhecida como cristalúria. Estes se

formam através da precipitação de substâncias minerais presentes na urina e

podem adquirir o formato amorfo ou cristalino, sendo que sua formação pode

ocorrer tanto in vivo, quanto in vitro. A identificação visual dos diferentes tipos pode

ser difícil, pois vários deles apresentam morfologia semelhante. Na interpretação

do seu significado deve-se levar em consideração que os cristais podem sofrer

modificações entre a coleta e a análise, dependendo do período de

armazenamento, temperatura, pH da amostra e dieta. O tipo de cristal formado e

sua quantidade dependem da concentração da urina, da solubilidade dos sais e do

pH (GOLDBERG, 2007). A cristalúria pode ser assintomática ou estar relacionada

à formação de cálculos no sistema urinário (MATOS & MATOS, 1995). Raramente

tendo valor diagnóstico (MUNDIM, 2007). A cristalúria pode significar urolitíase,

mas não necessariamente a indica (SINK & FELDMAN, 2006).

Na urina ácida pode-se encontrar:

Cristais de ácido úrico: é comum nos dálmatas (nos quais não ocorre a

conversão hepática deste ácido em alantoína, realizada pela enzima uricase)

(GOLDBERG, 2007) e em casos de urolitíases (MUNDIM, 2007). Essa raça excreta

maior quantidade de ácido úrico devido a uma deficiência no mecanismo de

reabsorção nos túbulos renais (CHANTREL, 1984; NELSON & COUTO, 1994). O

aparecimento de cristais de ácido úrico na urina de cães que não pertencem à raça

dálmata é sugestivo de disfunção hepática, decorrente da impossibilidade parcial

ou total do fígado na conversão do ácido úrico em alantoína. A literatura relata a

possibilidade de se encontrar cristais de ácido úrico em urinas de felinos (SILVA,

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2004). Esses cristais são amarelados ou amarronzados quando visualizados

microscopicamente. Eles aparecem como placas rombas, rosetas, prismas ou são

ovais com extremidades pontiagudas (SINK & FELDMAN, 2006). Sua presença

pode estar relacionada a casos de gota, febre e nefrite crônica (GOLDBERG,

2007).

Cristais de uratos amorfos: aparecem sob a forma de grânulos de areia

fina, numerosos na urina fortemente ácida (GOLDBERG, 2007). Como os cristais

de ácido úrico, só se apresentam como componentes normais nos carnívoros

(FERREIRA NETO et al., 1977). A constatação de cristais de urato amorfo é

descrito em casos de desvio portossistêmico (JUHNSTON et al., 2004).

Cristais de oxalato de cálcio: são encontrados em urina ácida

(KRUGER & ALLEN, 2000), neutra ou alcalina e são incolores quando visualizados

microscopicamente. Esses cristais são comuns na toxicidade por etilenoglicol

(SINK & FELDMAN, 2006). O etilenoglicol quando ingerido é metabolizado pelo

fígado e origina o ácido oxálico, esse ácido reage com o cálcio para formar oxalato

de cálcio que, por sua vez, se precipita nos túbulos renais e pode ser excretado na

forma de cristais na urina (THRALL et al., 2006). Podem estar aumentados na

diabete melito, nas doenças do coração ou dos pulmões (GARCIA-NAVARRO,

2005b). Ocorre por níveis elevados de cálcio na urina devido uma hipercalcemia ou

reabsorção tubular de cálcio inadequada (NELSON & COUTO, 1994). LULICH et

al. (2000) citam que a ocorrência de urólito de oxalato de cálcio está relacionada

com dietas ricas em cálcio, proteínas e sódio e pobres em fósforo e potássio.

SLATTER (1998) descreve a ocorrência desses cristais no hiperadrenocorticismo.

Pesquisadores apóiam a hipótese de que alguns dos fatores promotores da

formação dos urólitos de oxalato de cálcio em cães sejam hereditários (LULICH et

al., 2000). Apresentam uma forma característica de “envelope de carta” (Figura 31)

ou “balão de São João” (GOLDBERG, 2007).

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FIGURA 31 - Cristais de oxalato de

cálcio (seta) no

sedimento urinário de

cão

Na urina alcalina podem-se encontrar:

Cristais de triplo-fosfatos: são também chamados de estruvita ou

fosfato de amônia e magnésio. Podem estar presentes em pH neutro e levemente

ácido. Apresentam-se na forma de prismas curtos ou alongados, podendo lembrar

o telhado de uma casa (Figura 32). Eventualmente unem-se uns aos outros,

lembrando uma folha de samambaia ou uma pena de ave. São formados em

função da fermentação alcalina da urina podendo ocorrer antes ou depois da

eliminação (GOLDBERG, 2007). Quando encontrados em urinas recém colhidas,

podem sugerir retenção da urina na bexiga, como a verificada na cistite crônica

(FELDMAN, 1997), paraplegia, aumento do volume da próstata ou pielite crônica.

Em gatos, esses cristais podem aparecer na síndrome urológica felina, ou podem

ainda indicar a presença de urolitíase por estruvita (GARCIA-NAVARRO, 2005b).

Os urólitos por estruvita estão associados a infecções do trato urinário causada por

microrganismos produtores de urease e à urina alcalina na maioria dos cães

(LULICH et al., 2000).

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FIGURA 32 - Cristais de Fosfato

triplo (setas) no

sedimento urinário

de cão

Cristais de carbonato de cálcio: podem estar presentes também em

pH neutro e levemente ácido. Apresentam-se com o formato de “halteres” ou de

corpos esferoidais estriados (Figura 33) de diversos tamanhos (GOLDBERG,

2007). São encontrados em casos de urolitíases (MUNDIM, 2007).

FIGURA 33 - Cristais de carbonato

de cálcio (seta) no

sedimento urinário

de cão

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Cristais de fosfatos amorfos: Apresentam aspecto idêntico ao urato

amorfo, podendo ser de constituição bicálcica ou tricálcica. Podem aparecer na

forma cristalina como agulhas, losangos ou rosetas (GOLDBERG, 2007). São

encontrados em casos de urolitíases (MUNDIM, 2007). Em grandes quantidades

produzem uma turvação branca na urina (LOPES, 2004).

Cristais de leucina e tirosina: podem ser encontrados em severas

lesões hepáticas provocadas principalmente por envenenamento pelo fósforo,

tetracloreto de carbono ou clorofórmio (FERREIRA NETO et al., 1977). Os cristais

de tirosina são incolores e aparecem como agulhas delgadas agrupadas em feixes

que se cruzam em vários ângulos (SINK & FELDMAN, 2006) (Figura 34). Sendo

estes de ocorrência rara em urina ácida, mas quando presentes podem indicar

doença hepática grave (LOPES, 2004). Os cristais de leucina aparecem como

esferas com estriações radiais e concêntricas, de cor amarela (LOPES, 2004).

Associados as diversas doenças com curso agudo e grave como envenenamento

por fósforo e leucemia, ou alterações hepáticas (GOLDBERG, 2007). Assim como

os cristais de tirosina, a sua presença no sedimento pode indicar doença hepática

grave e defeito no metabolismo de aminoácidos (LOPES, 2004).

FIGURA 34 - Cristais de tirosina (seta) no

sedimento urinário de cão Cristais de cistina: são placas hexagonais, incolores e refráteis,

podendo indicar um distúrbio no metabolismo das proteínas, com formação de

cálculos (GARCIA-NAVARRO, 2005b). Ocorrem devido à cistinúria por defeito na

reabsorção tubular da cistina, que é relativamente insolúvel na urina. A presença

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de cristais de cistina é indicativa de cistinúria, um defeito metabólico no transporte

tubular de aminoácidos (cistina, lisina, arginina e ornitina) (LOPES, 2004). Assim a

cistinúria é um fator potencial para a formação dos urólitos (SLATTER, 1998).

Cristais de bilirrubina: esses cristais são amarelados, vermelho-rubi ou

castanho-enegrecidos. Aparecem como placas quadradas ou como agulhas,

placas ou grânulos (SINK & FELDMAN, 2006) (Figura 35). A presença de cristais

de bilirrubina significa insuficiência hepática, colestase, distúrbio venoso porto-

sistêmico (MUNDIM, 2007). Podem ser eliminados em caso de doença hepática

em que o nível de bilirrubina plasmática está alto (LOPES, 2004).

FIGURA 35 - Cristais de bilirrubina (seta)

no sedimento urinário de

cão

Cristais de urato de amônia: são encontrados na urina ácida ou

neutra, são amarelados e apresentam formato de “halteres” ou “feixe” ou “roldana

de agulhas”. Às vezes, aparecem como esferas cobertas com espículas (LOPES,

2004). Quando presentes significam hepatopatias, shunt venoso porto-cava

(LULICH et al., 2000).

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b) Gorduras

Quando vistas microscopicamente, as gotas de gordura aparecem como

esferas refratárias. Elas costumam ser encontradas nas amostras normais de cães

e gatos (SINK & FELDMAN, 2006).

Causas de lipúria:

lubrificação do cateter;

metamorfose gordurosa das células dos túbulos renais (gatos);

obesidade;

lipúria fisiológica dos gatos;

dietas ricas em gordura;

hipotireoidismo;

diabetes mellitus (BUSH, 2004).

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6 DISCUSSÃO

A facilidade para interpretar os dados laboratoriais se baseia no

conhecimento dos mecanismos fisiológicos de cada teste laboratorial e no

conhecimento das conseqüências das doenças nesses mecanismos normais e,

portanto, nos próprios resultados dos testes. Pensando assim, é possível avaliar

todas as causas possíveis de uma alteração no resultado do exame laboratorial e,

com isso, optar pelas mais prováveis. Se realizados adequadamente, os exames e

a interpretação dos resultados podem propiciar importantes informações a respeito

das doenças e guiar as estratégias terapêuticas a serem utilizadas (THRALL et al.,

2006).

Os autores GONZÁLES & SILVA (2006); KERR (2003) e REBAR et al.

(2003) relatam que o envio de amostras inadequadas implica em perda de tempo,

de recursos e, em ocasiões, complicações na saúde do animal devido a uma

interpretação incompleta ou incorreta de resultados. O Laboratório de Análises

Clínicas do HV/UFU sempre se preocupa em receber uma amostra de qualidade e

corretamente identificada, e de acordo com os autores citados, conservantes

físicos ou químicos devem ser utilizados com muita cautela, pois o uso inadequado

pode fazer com que a amostra seja inviabilizada.

No laboratório do HV/UFU, o ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA)

é o anticoagulante de escolha para a realização do hemograma nas espécies

domésticas, estando de acordo com REBAR et al. (2003) e SINK & FELDMAN

(2006). E concordando com KERR (2003), é essencial que os tubos com EDTA

sejam preenchidos com volume adequado de sangue, pois quando colhida uma

quantidade muito pequena de sangue, a concentração resultante de EDTA

danificará as células, se ao contrário, o tubo for preenchido em demasia, o sangue

provavelmente coagulará.

Segundo GONZÁLES & SILVA (2006), as hemácias apresentam

aumento da suscetibilidade à lise após 24 horas em contato com EDTA. Este fato

permite que uma amostra possa ser processada até 24 horas após a colheita,

desde que a mesma permaneça sob refrigeração, esperando pelo menos 15

minutos depois da colheita em temperatura ambiente antes de ser refrigerada, para

evitar que ocorra hemólise. No laboratório o sangue colhido permanece em

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temperatura ambiente, e é processado o mais rápido possível após a colheita, pois

de acordo com WEISS & TVEDTEN (2004), as mostras sangüíneas armazenadas

no EDTA podem produzir alterações leucocitárias e artefatos morfológicos nas

lâminas de esfregaço se o sangue for deixado em temperatura ambiente por mais

de 3 horas.

Segundo THRALL et al. (2006), hemogramas com equipamento

automatizado têm várias vantagens. Em primeiro lugar, com exceção de contagens

diferenciais automatizadas, os resultados assim obtidos têm um controle mais

rígido e alta taxa de repetição. O exame hematológico é mais completo, em

comparação aquele obtido por meio de técnicas manuais. A informação sobre o

tamanho das hemácias é muito útil para caracterização das anemias. Outro ponto

importante é o fato desses instrumentos propiciarem maior rapidez na obtenção

dos resultados e o custo dos reagentes ser mínimo.

Porém, no Laboratório de Análises Clínicas do HV/UFU as contagens

diferenciais de leucócitos geradas automaticamente são evitadas. De acordo com

KERR (2003), não somente a metodologia não se adapta muito bem ao sangue

não humano, como também este procedimento não é apropriado para a clínica de

pequenos animais, onde o exame do esfregaço sangüíneo deve ser um

procedimento-padrão. Visto que os refinamentos do sistema para a diferenciação

entre os diferentes tipos de leucócitos certamente não são sensíveis à espécie.

Embora existam instrumentos com essa capacidade, eles foram desenvolvidos

com base em instrumentos humanos ao invés de terem sido diretamente

desenvolvidos para a espécie-alvo desde o começo.

No laboratório quando se tem a necessidade de realizar a contagem

manual, como no caso da realização de hemogramas de aves, que não é

recomendada à utilização de aparelhos automáticos de hematologia, de acordo

com GARCIA-NAVARRO (2005a), o método de contagem na câmara funciona

muito bem, desde que a técnica seja seguida à risca. Esse método, entretanto,

pode ser considerado antiquado, devido ao tempo que demanda.

Quando o analisador automático hematológico está com defeito se

utiliza o ISOCELM-CELM CC530® no laboratório, porém demanda um tempo maior

para realizar o hemograma, pois é um processo mais lento, além de ter que

calcular os valores hematimétricos manualmente, o que sempre se procura é

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utilizar metodologias de maior precisão segundo orienta THRALL et al. (2006),

antes da realização totalmente manual.

THRALL et al.(2006) relatam que a erlichiose raramente é vista no

esfregaço sanguíneo, discordando de VASCONCELOS et al. (2008), que

encontrou como sendo a hemoparasitose mais frequente neste estudo, dos 56

cães com hemoparasitose 21 (37,5%) apresentaram mórula de Ehrlichia spp, na

pesquisa parasitológica por esfregaço sangüíneo. Valores semelhantes de

erlichiose foram encontrados por LABARTHE et al. (2003) em estudo realizado em

três estados da região Sul do Brasil.

A bioquímica sérica é importante, pois o conhecimento das variações

fisiológicas e patológicas dos vários constituintes do sangue apresenta para o

clínico um grande interesse, pelo seu valor no diagnóstico e prognóstico das

doenças, principalmente aquelas de caráter metabólico (FERREIRA NETO et al.,

1977).

No laboratório do HV/UFU, o sangue coletado para a realização da

bioquímica, após ser centrifugado é colocado no aparelho de análise bioquímica,

para ser rapidamente analisado, para evitar qualquer tipo de alteração por parte

das células que metabolizam alguns componentes químicos do soro, isso concorda

com as orientações de THRALL et al. (2006), que relatam que como regra geral

para melhor confiabilidade, a atividade sérica das enzimas deve ser determinada

até 24h após a coleta.

Os analisadores bioquímicos modernos realizam todas as mensurações

e cálculos para cada teste invisivelmente, que de acordo com KERR (2003), não é

mais necessário que o operador tome nota das leituras de absorbância dos

padrões, faça uma curva-padrão e depois obtenha o resultado do paciente a partir

do gráfico. Ao invés disso, os resultados são relatados diretamente como mmol/L,

UI/L ou outras unidades. Isso economiza bastante tempo e trabalho e, quando tudo

está funcionando adequadamente, há uma melhora da confiabilidade pela

eliminação do erro humano embutido nas leituras, anotações e cálculos.

Segundo orienta KERR (2003), a liberação dos resultados é de forma

clara, fornecendo os resultados impressos com a identidade do paciente inclusa

(conforme digitada pelo operador no início da análise), isso evita trocas de

resultados entre pacientes. É capaz de fazer vários testes de um paciente em uma

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única operação, nada é mais frustrante do que ter que esperar o teste de uréia

terminar para poder começar o de creatinina.

O exame de urina é o processo mais importante na avaliação da função

renal. A avaliação do sedimento revela informações muito importantes para a

finalização de um diagnóstico e apesar de sua realização ser mais trabalhosa e

demorada, apresentar um custo mais elevado e necessitar de pessoal treinado,

deveria ser mais utilizada na rotina de exames para pequenos animais. Entretanto

é necessário tomar certos cuidados, principalmente no que diz respeito ao intervalo

entre a coleta e a realização deste, para não comprometer o diagnóstico

(GOLDBERG, 2007). No laboratório as amostras provenientes do HV/UFU, eram

recebidas imediatamente após a coleta e analisadas dentro de 30 minutos para

evitar artefatos pós-colheita e alterações degenerativas, concordando com KERR

(2003) e HENDRIX (2006). Já as amostras recebidas de solicitações externas só

são recebidas pelo laboratório quando coletas e levadas ao laboratório em até 30

minutos ou mantidas refrigeradas por no máximo seis horas como relata BICALHO

& CARNEIRO (2007).

No laboratório são realizados o Teste de Gmelin para analisar a

presença de pigmentos biliares, o teste do ácido nítrico nitroso para analisar a

presença de proteínas na urina, e o teste da flor de enxofre para detectar sais

biliares na urina. Baseados em FERREIRA NETO et al. (1977), esses testes

podem ser interpretados da seguinte forma: quando aparece no Teste de Gmelin

um anel com as cores do arco-íris revela positividade para pigmentos biliares; já no

teste pelo ácido nítrico nitroso, de acordo com esses autores, a formação de um

anel (de Heller), de cor branca leitosa no limite dos dois líquidos revela a presença

de albumina, em quantidade maior ou menor de acordo com a espessura desse

anel; já os sais biliares diminuem a tensão superficial da urina, por isso quando

presentes permitem que a flor de enxofre desça para o fundo do tubo, a velocidade

da descida da flor de enxofre está relacionada com a concentração de sais na

urina.

Além da urinálise, em alguns casos é importante a solicitação da

urocultura e antibiograma. A cultura de urina quantitativa, avaliada em amostra de

urina colhida assepticamente, jato médio, poderá fornecer, na maioria dos casos, o

agente etiológico causador da infecção e trazer subsídio para a conduta

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terapêutica. Sua importância crescerá quando, diante de falha da terapia empírica,

possibilitará a realização do teste de sensibilidade in vitro (antibiograma), que

orientará uma nova conduta terapêutica (HOOTON & STAMM, 1997; ORENSTEIN

& WONG, 1999).

Fator limitante à importância da cultura de urina é a demora

habitualmente exigida para a obtenção do seu resultado. Na grande maioria das

vezes, a paciente com cistite não complicada, tratada empiricamente, já está

clínica ou mesmo microbiologicamente curada quando o resultado da cultura é

fornecido; nestas situações, este exame torna-se inútil, além de dispendioso

(HOOTON & STAMM, 1997; FIHN, 2003).

Os exames de fezes fornecem uma série de informações importantes,

tanto macroscópica como microscopicamente. O seu exame cuidadoso

proporciona valiosa indicações para o diagnóstico diferencial, não só nas

enfermidades do trato digestório, como também nas enfermidades localizadas em

outros órgãos. Assim sendo, informam sobre a dieta, o estado do sistema

digestório, a presença de parasitos, corpos estranhos, hemorragias ocultas e

estudo bacteriológico (FERREIRA NETO et al., 1977). Sendo que no Laboratório

de Análises Clínicas não é realizado nenhum exame bacteriológico de fezes, sendo

de interesse de outro setor.

De acordo com o mesmo autor, rotineiramente, os exames de fezes

limitam-se quase que exclusivamente a pesquisa de endoparasitoses; entretanto,

dependendo do caso, informações de igual ou maior importância podem ser

obtidas, através de um exame mais criterioso, ou específico. No laboratório era

utilizado o método de Willis, método de sedimentação e método de Baermann

modificado, concordando com as orientações desses autores, sendo que o método

de Willis é o método mais utilizado, que de acordo com BICALHO & CARNEIRO

(2007), é um bom método para carnívoros e herbívoros.

No Laboratório de Análises Clínicas do HV/UFU, é essencial que as

amostras de fezes sejam recentes, e a realização dos exames é feita logo após a

colheita, como relata BICALHO & CARNEIRO (2007).

No caso dos exames de raspado de pelo, um conhecimento das

principais dermatopatias que acometem os animais de companhia tornam a técnica

eficiente e segura para os clínicos de pequenos animais. O raspado de pele é uma

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das técnicas mais executadas na dermatologia veterinária, com grande importância

no auxílio do diagnóstico, para a identificação de parasitas dos gêneros Demodex,

Sarcoptes e Notoedris. Esta técnica também é utilizada para exame direto para a

detecção de fungos causadores de dermatofitose e bactérias (SILVA, 2007).

Quando se realiza o exame direto do pêlo no Laboratório Clínico do

HV/UFU para determinar possível caso de dermatofitose é observados além de

esporos (ectotrix e endotrix) e hifas, estruturas de reprodução sexuada

(macroconídeos), discordando com LUCAS (2004), que relata que não é possível

a identificação de macroconídeos, que por sua vez são somente observados em

crescimento nos meios de cultura enriquecidos.

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7 CONCLUSÃO

O estágio curricular supervisionado teve como objetivo aprimorar os

conhecimentos obtidos durante o curso de Medicina Veterinária. Tendo também

como objetivo buscar novas experiências e conhecimentos para estar melhor

preparada para uma futura especialização.

O período permanecido no HV/UFU possibilitou um contato com a rotina

de um laboratório com uma grande demanda de exames, além de propiciar um

contato com professores especialistas na área de patologia clínica, permitindo uma

maior aquisição de conhecimentos e experiências práticas. Visto que nossa

universidade tem déficit nessa área, principalmente na aquisição de aparelhos

automáticos, porém não deixamos a desejar em conhecimentos teóricos, e temos

uma maior facilidade na realização de exames de forma manual.

É muito importante contar com um Laboratório Universitário, prestando

serviço para o próprio Hospital Veterinário e a comunidade em geral, justificada

pela rapidez da execução, confiabilidade dos resultados, diluição de custo e

possibilidades de apoio de profissionais especializados para consultas de dúvidas.

Porém, temos que lembrar que durante a atuação profissional poderá não existir tal

opção, caso aconteça, teremos como opção, Laboratório Veterinário comercial,

Laboratório Humano e até Laboratório em Clínica Veterinária, nesse sentido

teremos vantagens e desvantagens. Os Laboratórios humanos podem fornecer

resultados não condizentes com os parâmetros veterinários, ainda assim servem

como auxiliares para um diagnóstico quando não há outra opção.

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