A importância da avaliação minuciosa da marcha em...

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1 A importância da avaliação minuciosa da marcha em pacientes com distúrbios neurológicos Izabel Cristina De Sousa Leite 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Meija 2 Pós-graduação em Neurofuncional - Faculdade Ávila Resumo Avaliar a marcha é uma das prioridades na avaliação geral de um paciente com sequelas neurológicas, o caminhar costuma ser analisado de uma forma simples, apenas nas observações, sem detalhamentos importantes por muitos profissionais, mas devemos observar de uma forma minuciosa e coerente. Para esse fim temos as análises biomecânicas, que de uma forma geral nos mostra com detalhes as alterações ocorrida mais precisa, facilitando assim as nossas condutas. Dentre as patologias neurológicas o AVE é uma das principais causas de distúrbios neurológico alterando a deambulação e as atividades diária de uma pessoa. Palavras-chave: Avaliação; Marcha; Neurologia 1- Introdução Durante a avaliação da marcha neurológica o fisioterapeuta deve identificar com clareza as alterações não somente motora como também a sensorial e cognitiva, infelizmente para poucos profissionais a avaliação minuciosa da marcha se torna um desafio para elaboração de suas condutas, o profissional deve ter sempre em mente que ao examinar uma pessoa tem que ser de uma forma individualizada e obter o máximo de informações sobre o seu estado geral. A deambulação com disfunções neurológicas é considerada preocupante, pois a marcha normal é um dos componentes básicos de independência da vida diária que se torna complexa quando se fala de seqüelas neurológicas, e é um dos principais objetivos funcionais para um paciente que busca tratamento. Avaliar a marcha de um paciente neurológico não é uma tarefa simples, devemos priorizar algumas situações que poderão nos ajudar durante a elaboração de nossa estratégia terapêutica, a simples chegada do paciente ao ambiente terapêutico pode nos ajudar, então devemos anotar algumas observações, como por exemplo, se o paciente está utilizando órtese ou prótese, se há alguma alteração biomecânica, devemos avaliar o desempenho e habilidades do caminhar. É muito importante que solicite ao paciente que marche lateralmente, que vire, que ande com um pé na frente do outro, observar a passada se esta longa ou curta, verifique vagarosamente se há necessidade de dispositivo de auxilio e se o paciente tem a capacidade de mudar de direção. O que há de muito importante na prática clínica é não tentar realizar a avaliação da marcha de uma única vez, o que a semiologia neurológica nos alerta é que devemos observe bem 1 Fisioterapeuta. Pós-graduada em Fisioterapia Neurofuncional. 2 Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestranda em Bioética e Direito em Saúde

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A importância da avaliação minuciosa da marcha em pacientes

com distúrbios neurológicos

Izabel Cristina De Sousa Leite1

[email protected] Dayana Priscila Maia Meija2

Pós-graduação em Neurofuncional - Faculdade Ávila

Resumo

Avaliar a marcha é uma das prioridades na avaliação geral de um paciente com sequelas

neurológicas, o caminhar costuma ser analisado de uma forma simples, apenas nas

observações, sem detalhamentos importantes por muitos profissionais, mas devemos

observar de uma forma minuciosa e coerente. Para esse fim temos as análises

biomecânicas, que de uma forma geral nos mostra com detalhes as alterações ocorrida

mais precisa, facilitando assim as nossas condutas. Dentre as patologias neurológicas o

AVE é uma das principais causas de distúrbios neurológico alterando a deambulação e

as atividades diária de uma pessoa.

Palavras-chave: Avaliação; Marcha; Neurologia

1- Introdução

Durante a avaliação da marcha neurológica o fisioterapeuta deve identificar com clareza

as alterações não somente motora como também a sensorial e cognitiva, infelizmente para

poucos profissionais a avaliação minuciosa da marcha se torna um desafio para

elaboração de suas condutas, o profissional deve ter sempre em mente que ao examinar

uma pessoa tem que ser de uma forma individualizada e obter o máximo de informações

sobre o seu estado geral.

A deambulação com disfunções neurológicas é considerada preocupante, pois a marcha

normal é um dos componentes básicos de independência da vida diária que se torna

complexa quando se fala de seqüelas neurológicas, e é um dos principais objetivos

funcionais para um paciente que busca tratamento.

Avaliar a marcha de um paciente neurológico não é uma tarefa simples, devemos priorizar

algumas situações que poderão nos ajudar durante a elaboração de nossa estratégia

terapêutica, a simples chegada do paciente ao ambiente terapêutico pode nos ajudar, então

devemos anotar algumas observações, como por exemplo, se o paciente está utilizando

órtese ou prótese, se há alguma alteração biomecânica, devemos avaliar o desempenho e

habilidades do caminhar.

É muito importante que solicite ao paciente que marche lateralmente, que vire, que ande

com um pé na frente do outro, observar a passada se esta longa ou curta, verifique

vagarosamente se há necessidade de dispositivo de auxilio e se o paciente tem a

capacidade de mudar de direção.

O que há de muito importante na prática clínica é não tentar realizar a avaliação da marcha

de uma única vez, o que a semiologia neurológica nos alerta é que devemos observe bem

1 Fisioterapeuta. Pós-graduada em Fisioterapia Neurofuncional. 2 Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestranda em Bioética e Direito em

Saúde

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o paciente durante cada fase, o fisioterapeuta tem que olhar clinicamente para cada

momento e correlacionar com os músculos atuantes em cada fase, assim a avaliação se

torna mais fácil e de muito aproveitamento para chegar a uma conclusão mais eficaz.

É muito difícil para um profissional verificar minuciosamente a marcha e o grau de suas

alterações da marcha normal somente através das observações, para esse fim existem

inúmeros meios de se avaliar dos mais simples aos mais modernos tipos de análise, mas

não podemos ignorar uma boa anamnese clinica e nossas observações.

2- Marcha

Para Rose e Gamble (2007), a marcha humana é um tipo relativamente único de

deambulação porque é bípede. Embora haja exemplos de locomoção bípede em animais

(ursos, primatas, marsupias), a marcha bípede humana tem uma eficiência e

funcionalidade únicas.

Nesse sentindo Abreu (2003), defende que a habilidade de andar ereto é uma das

características determinantes do ser humano. Rítmico e aparentemente sem esforço, o ato

de andar é um evento contínuo que se constitui em transferir o peso de um membro

inferior para o outro, com o objetivo de avançar o corpo para frente, como se fossem

sucessivos desequilíbrios.

Segundo Hebert Sizinho (1998), andar não é simplesmente colocar-se um pé após o outro.

Podemos definir marcha como sendo o conjunto de movimentos rítmicos e alternados do

tronco e extremidades visando a locomoção do corpo para frente.

Para Perry (2005), Andar é um meio natural do corpo para se deslocar de um local para

outro, nesse sentido podemos afirmar com clareza que a leveza do caminhar depende do

corpo está em completa harmonia e sem alterações.

Moreira e Russo (2004), afirmam que a marcha nada mais é que um processo de

deambulação, mas especificamente, executado pelos seres humanos. Inúmeras são as

classificações utilizadas para análise da marcha. A compreensão de como se processa a

marcha humana é fundamental para que em um momento oportuno possam ser

identificados possíveis distúrbios e/ou alterações.

Um dos principais propósitos do processo de reabilitação é ajudar os pacientes a atingir

o nível mais alto possível de independência funcional, dentro dos limites de seus

comprometimentos. A deambulação humana, ou marcha, é um dos componentes básicos

do funcionamento independente que costuma ser afetado por processo de doença ou lesão

(OSULLIVAN 2004).

2.1 Ciclo da Marcha

Na marcha normal, um ciclo começa quando o calcanhar do membro de referência faz

contato com a superfície do solo. O ciclo da marcha termina quando o calcanhar do

mesmo membro faz contato com o solo movamente. (OSULLIVAN 2004).

O ciclo da marcha consiste de dois períodos, apoio e balanço (figura 01), na fase de apoio,

são reconhecidas duas tarefas e quatro intervalos, e na fase de balanço há uma tarefa e

quatro intervalos (DUTTON MARK, 2006)

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Figura(01) : Valores aproximados para as duas fases da marcha

Fonte: Dutton Mark (2006)

No ciclo normal, da marcha observa-se que cerca de 60% de sua duração ocorre na fase

de apoio, enquanto 40% ocorre na fase de balanço (MOREIRA e RUSSO, 2004;

HEBERT SIZINHO, 1998; O SULIVAN, 2004).

Para Dutton Mark (2006), o caminhar envolve a ação alternada das duas extremidades

inferiores. O estudo do padrão de andar tem como base um ciclo da macha (figura 02).

Este é definido como o intervalo de tempo entre qualquer um dos eventos repetitivos da

atividade de andar.

Cada uma das fases da marcha pode ser subdividida de acordo com critérios

preestabelecidos para melhor compreensão das ações musculares (MOREIRA e RUSSO,

2004).

Figura 02: Ciclo da marcha.

Fonte: Hebert Sizinho, 1998

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3-Tipos de análise do movimento

Analise do movimento é o conjunto de métodos e técnicas utilizados para análise

quantitativa do movimento humano. A base científica da análise da marcha se baseia na

mecânica de corpos rígidos (ROSE e GAMBLE 2007).

Segura et al (2008), defende que avaliação da marcha, da locomoção e movimentos

humanos pode ser realizada por dois métodos: método qualitativo e método quantitativo.

A análise qualitativa da marcha geralmente é realizada em clínicas de reabilitação e de

fisioterapia, sendo que a avaliação é feita subjetivamente com bases diretas, observação

visual e algumas anotações. Já a análise quantitativa da locomoção humana geralmente é

realizada em laboratórios de biomecânica ou laboratórios especializados em marcha

humana.

Há vários métodos para fazer exames clínicos da marcha, desde a observação até análise

computadorizada. A medição dos parâmetros por meio de análises computadorizadas é

mais precisa do que os resultados das observações clínicas, sendo por essa razão bastante

utilizada na avaliação e no planejamento de pacientes portadores desse tipo de

anormalidades (DUTTON MARK, 2006).

No século XX, com os avanços da tecnologia vários centros desenvolveram laboratórios

para analisar, hoje se considera inadmissível indicar tratamento para deficiência de

marcha sem uma análise cuidadosa da locomoção. (FALOPPA e ALBERTONI, 2008).

A respeito desse assunto os mesmos autores defendem que a análise da marcha é a

mensuração, a descrição e a avaliação sistemática de dados que caracterizam a locomoção

humana, ela tem fundamental relevância no estudo e no tratamento de patologias que

envolvem o aparelho locomotor.

A análise quantitativa de movimentos de sujeitos com distúrbios motores torna-se ainda

mais complexa e necessária. A análise da marcha é especialmente aplicável a sujeitos

com desordens neurológicas, uma vez que adicionam-se elementos complicadores como

a espasticidade e reflexos patológicos (ANDRADE, 2002).

Para Campos (2000), o conhecimento dos movimentos possíveis e seguros de cada

articulação do corpo humano, bem como dos graus de amplitude de cada movimento

articular, proporciona uma importante diretriz para uma correta análise biomecânica e,

conseqüentemente, cinesiológica.

3.1 Cinemática e Cinética

Segundo Sullivan (2004), os tipos de análise da marcha em uso atualmente podem ser

classificado em duas categorias amplas, cinemática e cinética.

Moreira e Russo (2004), afirmam que o estudo da cinemática está relacionado às

características do movimento, à observação e a análise desse movimento a partir de uma

perspectiva espacial e temporal e não tem referência a força que o ocasionam. Enquanto

que asanálises cinéticas da marcha são utilizadas para determinar as forças envolvidas na

marcha (O SULIVAN, 2004).

Referente á esse assunto Sousa (2010), defende que a marcha humana, vista como um

movimento rítmico constitui um fenômeno complexo modulado por um gerador de

padrão central, informação aferente e comandos supra-espinais, podendo ser quantificada

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por variáveis cinéticas e cinemáticas. É a quantificação destas variáveis que permitem

aceder, classificar diferentes padrões de marcha como mais ou menos eficientes.

3.1.1 Plataforma de Força

Durante as análises cinéticas a utilização da plataforma de força (Figura03) é um

instrumento de extrema necessidade, pois é a través dela que teremos uma análise

minuciosa das forças durante a marcha.

Há outros instrumentos disponíveis comercialmente para análise cinética Porém, suas

utilizações não são tão comuns em laboratórios de marcha como é o caso da plataforma

de força (Barela e Duarte, 2011), segundo esses mesmos autores o padrão das curvas

referentes às componentes da FRS podem ser diferentes, e muitas vezes, os picos podem

não ser tão evidentes, conforme o tipo e o grau de comprometimento músculo-

esquelético, sensorial e/ou motor.

Com relação às forças externas, a força de reação do solo (FRS) é a força externa mais

comumente investigada na análise da marcha (WHITTLE, 2007).

Ainda com relação às componentes da FRS, há um pico nos primeiros milesegundos (ms)

do período de apoio, nem sempre evidente na marcha, que se refere à força de impacto

(Nigg e Herzog, 2007). Força de impacto na locomoção humana, segundo esses autores,

é uma força que resulta da colisão entre dois corpos (no caso, o pé e o solo).

Figura 03: Plataforma de Força

Fonte: Barela e Duarte, 2011

3.2 Eletromiografia

A eletromiografia registra a atividade elétrica presente no músculo em contração a qual

é decorrente da ativação neuromuscular em condições normais. O método consiste em

registro da atividade eletromiográfica, utilizando-se um sistema de captação do sinal

biológico (placa de aquisição dos sinais, amplificador, sistema de canais, eletrodos) e um

software para processamento do sinal. São usados, para captação do sinal, eletrodos de

agulha ou eletrodos superficiais (KAY et al, 2000).

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De acordo com O Sullivan (2004), a eletromiografia fornece um instrumento útil para

documentar o papel do músculo na atividade física e para avaliar a integridade do sistema

neuromuscular. Apesar de seu uso comum na pesquisa do movimento,os terapeutas

devem usar a EMG com discernimento, identificando suas limitações como um

instrumento de medição.

3.3 Observações

O uso clínico da análise da marcha começou como habilidade de observação quando

médicos, terapeutas, e protéticos definiam movimentos normais e anormais dos membros

e desvios comuns apresentados pelos pacientes. Como o quadril, o joelho e o tornozelo

se movem em velocidades diferentes. (ROSE e GAMBLE 2007).

Observações completas podem ser uma grande fonte de aprendizado. Ao longo da

história, a revisão de sistemas, os testes e medidas e as informações coletadas formam um

conjunto de deduções que servem de base para os diagnósticos (DUTTON MARK, 2006).

Algumas das vantagens da análise biomecânica da marcha, face à simples observação

visual clínica da marcha, são a capacidade de quantificar e caracterizar o movimento dos

segmentos corporais segundo vários eixos anatômicos, o que muitas vezes não é

facilmente detectável ou mesmo visível na observação visual da marcha (SOUSA et al,

2007).

Saad et al (1997), relata que o olho humano não é capaz de observar eventos de alta

velocidade, não permite o registro dos dados e depende da habilidade e do conhecimento

do observador, levantando a hipótese de que essa análise apresenta grande variabilidade

e pequena precisão, não podendo ser considerada como fidedigna e não

garantindo o mesmo resultado se houver uma reprodução do trabalho.

O tipo de análise de marcha que o profissional escolhe depende do propósito da análise,

do tipo de equipamento disponível, e da experiência, conhecimento e habilidade do

profissional. (O SULLIVAN, 2004).

4. Acidente Vascular Encefálico

Dentre as principais patologias que afetam diretamente a marcha o AVE é considerado a

primeira causa de incapacitação funcional devido as seqüelas neurológicas que afetam o

paciente.

Segundo Sullivan (2004), o acidente vascular encefálico (AVE) é o surgimento agudo de

uma disfunção neurológica devido a uma anormalidade na circulação cerebral, tendo

como resultados sinais e sintomas que correspondem ao comprometimento de áreas focais

do cérebro.

Apresenta-se de duas formas, sendo elas isquêmica e hemorrágica. O acidente isquêmico

é o mais comum, ocorrendo a obstrução de uma das artérias cerebrais importantes (média,

posterior e anterior, em ordem descendente de freqüência) ou de seus ramos perfurantes

menores, que vão para as partes mais profundas do cérebro (UMPHRED, 2004).

De acordo com André (2005), a fase que precede de três a quatro meses após o acidente,

chamada de fase aguda ou fase de choque é determinante para as aquisições mecânicas,

pois, nesta fase, ainda não estão instaladas todas as alterações provenientes da patologia,

como as mudanças de tônus, sensibilidade e reflexos. Após este período, a doença já

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demonstrou por completo todos seus comprometimentos, iniciando, portanto, a fase

crônica da patologia.

De acordo com Stokes (2000), a fase crônica do AVE tem início por volta de cinco meses

após o ocorrido e prossegue por toda vida do indivíduo, visto quese trata de uma patologia

que não possui cura completa. Porém, o tratamento é fundamental neste período, mesmo

que a fase crônica seja caracterizada por melhoras não tanto promissoras.

A maioria dos sobreviventes de um AVE apresenta a combinação de déficits motor,

sensitivo, cognitivo e emocional, que levam a alterações no equilíbrio, dificuldades na

marcha e dependência para realizar as atividades de vida diária (AVD) (ARTAL-

CAROD, 1999).

Para Torriane Pasin et al (2010), os pacientes hemiparéticos pós-AVE, não apresentaram

disponibilidade total para realizar uma segunda tarefa concomitante à marcha, já que a

tarefa central, no caso a marcha, mesmo sendo uma habilidade extremamente praticada

antes do evento vascular e inerente ao ser humano, ainda demanda muita atenção de tais

pacientes, não favorecendo a disponibilidade de atenção necessária para a combinação de

uma segunda tarefa.

Dentre todos os acometimentos decorrentes de um AVE, a impossibilidade ou difi

culdade para deambular (andar) é um dos problemas mais incapacitantes e frustrantes

para o paciente, contribuindo de forma decisiva para a perda da sua independência e,

conseqüentemente, sua liberdade (STOKES, 2000).

A disfunção motora é um dos problemas freqüentemente encontrados no acidente

vascular encefálico, que refletirá em uma marcha cujos parâmetros mensuráveis, tais

como velocidade, cadência, simetrias, tempo e comprimento de passo e passada, serão

deficitárias. Essas alterações não são apenas devido à fraqueza muscular, mas também a

anormalidades complexas no controle motor (OLIVEIRA; ANDRADE, 2001;

SCHUSTER; SANT; DALBOSCO, 2007).

André (2005), descreve que a percepção do corpo é a maneira que se interpreta ou integra

toda a informação que chega ao SNC, a maneira como se vê e apreende o mundo à nossa

volta. Cerca de 40% dos pacientes após um AVE exibirão comprometimento desta

percepção e conseqüente dificuldades motoras, inclusive na marcha. Um tratamento

buscando esta conscientização corporal, um treino postural explorando diversos

movimentos do dia-a-dia promove uma aceitação da real condição do corpo e,

conseqüentemente, melhora dos padrões provocados pela lesão cerebral.

5- Marchas com Disturbios Neurológicos

5.1 Marcha Hemiparética.

Moreira e Russo (2004), afirmam que a marcha hemiparética normalmente observa-se, a

flexão do membro superior com extensão do membro inferior do hemicorpo acometido.

Como conseqüência, temos uma perna que não consegue suportar completamente o peso

durante a fase de apoio além de não se projetar para frente durante a fase de balanço a

não ser como um todo em circundação.

A análise da marcha no paciente hemiparético deve ser feita com bastante critério, pois

envolve múltiplos fatores, de diferentes origens, procurando levantar as alterações

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específicas de cada paciente e, assim, levar a um plano de tratamento mais eficaz para a

evolução de sua marcha, de modo a devolver sua funcionalidade ao nível mais normal

possível, dentro de um plano de tratamento mais amplo para todos os acometimentos

decorrentes do AVE (EDWARDS, 1999).

5.2 Marcha Parkinsoniana (festinante)

A doença de Parkinson também nos mostra alterações significantes na marcha. O padrão

da marcha do paciente com DP é caracterizado por pobreza de movimentos e diminuição

da velocidade (O SULIVAN, 2004).

Segundo Moreira e Russo (2004), a marcha do Parkinsonismo também denominada de

marcha festinante. Determina em que o estágio se encontra a doença de parkinson que

consiste em uma moléstia de natureza extrapiramidal. Observa-se que o paciente realiza

pequenos passos rápidos, que se aceleram em algumas situações, á medida que se

processa o deslocamento.

5.3Marcha Atáxica

A marcha atáxica é observada em duas patologias principais doença do cerebelo (marcha

atáxica cerebelar) e doença na coluna posterior (marcha atáxica sensorial). Com a marcha

atáxica cerebelar o paciente não consegue andar com um pé à frente do outro ou em linha

reta e com a marcha atáxica sensorial os pacientes não têm nenhuma consciência sobre a

posição dos membros (DUTTON MARK, 2006).

5.4 Marcha Escarvante

Nesse tipo de marcha, verifica-se paresia ou plegia dos músculos do grupo pré-tibial como

conseqüência de lesão do nervo fibular comum em seu ramo profundo. Observam-se a

flexão excessiva do quadril durante a fase de balanço e uma batida seca da região plantar

do pé no solo durante a fase de apoio ( MOREIRA E RUSSO, 2004).

6- Materiais e Métodos

Tratou-se de um estudo realizado por meio de uma revisão bibliográfica focando

definições, tipos de analises, principal patologia neurológica que alteram a marcha, e

marchas neuropatológicas. Dessa forma o presente estudo disponibiliza a outros

profissionais a importância da avaliação minuciosa da marcha em pacientes neurológicos.

Foram selecionados artigos publicados entre 2001 a 2011 nas bases eletrônicas Scielo,

Medline, lilacs Google acadêmico além de livros que defendiam o tema em questão.

7- Resultados e Discussão

Após a pesquisa podemos observar, que durante a avaliação da marcha patológica é

necessário que o fisioterapeuta possua conhecimentos importantes sobre a marcha

normal, e sobre diversos déficits que possam levar o paciente a alterar sua deambulação,

para realizar com eficiência uma análise precisa, facilitando assim condutas que direcione

aos objetivos.

No estudo de Leite et al (2011), diz que é de extrema importância que o fisioterapeuta

tenha o conhecimento sobre os padrões biomecânicos da normalidade e também da

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caracterização geral da marcha alterada após uma lesão, a fim de reconhecer a

necessidade de analisar essa marcha e com isso selecionar condutas eficazes para a

reabilitação funcional do paciente.

Rose e Gamble (2007) afirmam que normalmente durante a marcha, o centro de massa

do corpo é acelerado para cima e para baixo durante o ciclo. Poderia ser antecipado que

a força de reação do solo varia durante o ciclo da marcha, por causa dessa aceleração para

cima e para baixo.

Hebert Sizinho (1998), diz que para marcha normal na fase de apoio deve permitir três

requisitos fundamentais: estabilidade monopodal com postura ereta, avanço do corpo

sobre um pé apoiado e preparo para a fase de balanço.

Durante o balanceio inicial, o pé do membro em balanceio está totalmente fora do chão

por meio de uma combinação de flexão de quadril e de joelho. O membro move-se para

frente, estando inicialmente atrás do corpo, para uma posição oposta à do membro de

suporte. (ADLER, 2007).

Para Perry (2005), durante o ciclo da marcha, o quadril desloca-se somente através de

dois arcos de movimento durante uma passada normal: extensão durante o apoio e flexão

no balanço. Entretanto, ao final do ciclo temos uma pequena extensão do quadril para

finalizar o ciclo e fazer a colocação do retropé no solo.

Os movimentos no quadril ocorrem nos três planos durante o ciclo da marcha a rotação

ocorre no plano transversal o quadril gira cerca de 40 a 45º graus no plano sagital durantes

as passadas largas normais. O quadril flexiona e estende uma vez, durante o ciclo da

marcha, e o limite de flexão ocorre na metade da fase de balanço, enquanto a extensão se

dá antes do final da mesma. No plano coronal, a adução total do quadril ocorre no início

da fase de balanço (DUTTON MARK, 2006).

Segundo Kisner (2005), durante o ciclo da marcha normal, o joelho passa por uma

amplitude de 60º (0º de extensão no contato inicial ou batida do calcanhar até 60º no final

do balanço inicial). Há alguma rotação medial do fêmur à medida que o joelho se estende

no contato inicial e bem antes da saída do calcanhar.

Durante a fase de apoio o calcâneo toca o solo a um ângulo de 25graus, com o tornozelo

e os artelhos neutros. E durante a fase de balanço o tornozelo passa de uma flexão plantar

de 10 graus para uma dorsiflexão até a posição neutra (MOREIRA E RUSSO, 2004).

Kisner (2005), afirma que durante o ciclo da marcha normal, o tornozelo passa por uma

ADM de 35º, sendo 15 de dorsiflexão no final no do apoio médio e 20º de flexão plantar

no final do apoio.

Durante a marcha humana muitos músculos estão ativos principalmente durante a fase de

apoio ou principalmente durante a fase de oscilação. Essa contração por fases define o

papel dos músculos na produção da atividade normal da marcha. Contração prolongada

ou fora de fase durante a marcha caracteriza alterações do controle motor, como no caso

de acidente vascular encefálico ou paralisia cerebral (ROSE e GAMBLE 2007).

Com relação às alterações, após uma lesão, O’sullivan (2004), diz que os padrões de

marcha de indivíduos com déficits neuromusculares são influenciados principalmente por

anormalidades no tônus muscular e na organização sinergista, influências de reflexos

primitivos não integrados, influência diminuída das reações de endireitamento e

equilíbrio, dissociação diminuída entre as partes do corpo e diminuição da coordenação.

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Algumas patologias, principalmente as neurológicas, como o AVE, produzem marchas

com sérias modificações. As principais causas das alterações são as instalações de

deformidade, fraqueza muscular, déficit sensorial ou de controle motor e dor. Cada tipo

de lesão levará a um padrão de marcha patológica típica e, assim, o seu conhecimento

torna-se muito importante para a eleição do tratamento fisioterapêutico (PERRY, 2005).

Sem dúvidas, após uma lesão ou trauma que afete a marcha o tratamento fisioterapêutico

promove uma melhora sobre o recrutamento de unidades motoras, o que garante um

melhor desempenho no ato motor, dando por melhora na velocidade, destreza e

coordenação dos movimentos, além de promover outros benefícios, tais como melhora na

amplitude articular e regulação do tônus muscular (CÓPIA; PAVANI, 2003).

Com bases nos estudos dos autores pesquisados sobre o tema, no Brasil ainda são poucos

os recursos disponíveis nas clínicas de reabilitação para se realizar uma avaliação

necessária da marcha com distúrbios neurológicos, para esse fim a maioria dos

profissionais contam apenas com suas observações, anotações e experiências.

8- Conclusão

A marcha humana é um movimento único, onde necessitamos que o corpo esteja em

inteira harmonia entre os sistemas, o nosso corpo é uma verdadeira máquina que necessita

está em equilíbrio para nos proporcionar todos os movimentos inclusive a marcha.

Quando esse movimento se afasta do padrão da normalidade se torna um evento complexo

e dificultoso para os profissionais da reabilitação, deixar a marcha patológica próximo da

normalidade sem uma análise minuciosa é um desafio que muitos fisioterapeutas passam

no di a dia.

Esse artigo teve como foco, a importância da avaliação minuciosa da marcha em pacientes

com distúrbios neurológicos, em base nas literaturas estudas posso afirmar que uma ótima

avaliação da marcha patológica só se faz através de equipamentos nos laboratórios do

movimento.

A marcha patológica é complexa, e para ajudarmos um paciente neurológico devemos

priorizar e observar detalhadamente algumas situações durante a locomoção, não somente

de membros inferiores mais também de membros superiores e troncos.

Para obtermos detalhadamente cada fase e cada momento da deambulação com precisão,

somente teremos infelizmente com ajuda da tecnologia nos laboratórios especializados,

pois eles nos darão mais informações quanto às limitações, e nos ajudará á quantificar

sem erros o grau de afastamento da marcha normal, nos oferecendo dados importantes

para reabilitar e tratar os distúrbios da locomoção com mais eficiência.

9- Referencia Bibliográfica

ABREU, F. M. C.;LOPES, R. Q.; GABRIEL, C.; BARBOSA, W.; DANTAS, E. H. M. Análise

quantitativa da marcha no idoso institucionalizado. Fisioterapia Brasil.Vol. 4, n.2, março/abril, p. 92-

95, 2003.

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