A IMPLANTAÇÃO DO CENTRO TURÍSTICO CAMILO CHAVES NETO NA

CIDADE DE ITUIUTABA – MG E A ACELERAÇÃO DO PROCESSO DE

ASSOREAMENTO DO CÓRREGO PIRAPITINGA

João Victor Freitas Silva Universidade Federal de Uberlândia - Campus Pontal

joaovictorfs14@yahoo.com

Ana Cristina Araújo Foli

Universidade Federal de Uberlândia - Campus Pontal anacafoli@outlook.com

INTRODUÇÃO

Desde o início de sua existência, o homem interage com o ambiente a sua volta

modificando-o e adequando-o de acordo com as necessidades de sobrevivência. As

transformações provocadas pelo desmatamento, o consumo exacerbado dos recursos

naturais, a ocupação e a esculturação do relevo, entre outras, são realizadas a partir da

ação humana, sendo claramente percebidas na superfície terrestre. Muitas intervenções

são feitas de forma inconsequente, ou seja, sem qualquer tipo de planejamento

ambiental ou implantação de uma infraestrutura de saneamento básico adequada, o que

pode contribuir para a degradação do ambiente, tendo como consequência os mais

diversos impactos ambientais.

Com os fluxos migratórios e a forte expansão territorial urbana, as cidades,

cada vez mais populosas, incorporam parcelas das áreas rurais, que são locais que se

apresentam em grande parte permeáveis, tornando-se cada vez mais intensas e

destrutivas as formas de apropriação e ocupação.

As áreas urbanas são os locais onde as relações socioambientais, caracterizada

por ser a interação entre a sociedade e o ambiente, são comandadas pelos agentes

sociais produtores do espaço urbano1 que interferem diretamente em sua dinâmica

natural, nos processos geomorfológicos, hidrológicos, pedológicos, entre outros,

1 Os agentes sociais produtores do espaço urbano são os proprietários dos meios de produção,

sobretudo os grandes industriais, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o

Estado e os grupos sociais excluídos (CORRÊA, 1995).

expressos por meio de feições erosivas (como splash, os sulcos, ravinas e voçorocas), na

formação de depósitos tecnogênicos, nos assoreamentos dos cursos de água, etc.

Desta forma, com a apropriação do relevo pela dinâmica dos agentes sociais,

ocorre uma aceleração dos processos geomorfológicos que esculturam desde os topos,

passando pelas vertentes e chegando aos fundos de vale, resultando em novas

morfologias que podem, ou não, causar diversos impactos, que atingem tanto a

sociedade quanto a natureza.

Assim, as cidades são os locais onde os impactos ambientais se manifestam de

forma mais intensa devido à grande transformação que o homem é capaz de promover

na paisagem. Dentre essas modificações pode-se citar, por exemplo, aquelas ligadas às

implantações de infraestruturas voltadas à prática do turismo.

No Brasil, assim como em outros países, o turismo está diretamente

relacionado ao crescimento econômico e a uma mudança social, apresentando fatores

positivos e negativos para as localidades onde se processa. Como fator positivo pode-se

citar a geração de emprego e renda, melhoria de equipamentos urbanos,

desenvolvimento econômico local, entre outros. Já como exemplo de fatores negativos

tem-se, como principal, o aumento da degradação ambiental.

Atualmente ocorre no município de Ituiutaba - MG a implantação do Centro

Turístico Camilo Chaves Neto.

O município está localizado na porção oeste da Mesorregião do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba, especificamente na microrregião de Ituiutaba, situado entre os

paralelos 19º22’ e 19º35’ de latitude Sul e os meridianos 49º10’ e 49º52’ a Oeste de

Greenwich (figura 01).

Figura 01: Localização da área do Município de Ituiutaba - MG. Fonte: IBGE (2010).

O mesmo possui como área de unidade territorial 2.598,046 km² e uma

população estimada em 103.333 habitantes segundo dados do IBGE (2015), sendo esta

uma cidade que exerce importante papel em sua microrregião geográfica,

principalmente pelas suas atividades econômicas e por seus equipamentos urbanos.

No dia 20 de dezembro de 2011 o prefeito do Município de Ituiutaba,

juntamente com os representantes da construtora Tenco Engenharia, se reuniram para

assinar o contrato de serviço para o início das construções do Centro Turístico Camilo

Chaves Neto.

O Centro Turístico, que está sendo construído na área urbana da cidade de

Ituiutaba é uma estrutura voltada ao lazer (figura 02). No local existem quadras

esportivas, parque infantil e quiosques, além de um lugar amplo e verde para prática de

caminhada e outros esportes. No local será implantado ainda o “Lago Novo 2”, o qual,

será abastecido pelas águas do Córrego Pirapitinga.

O recorte estudado está localizado na porção sudoeste da malha urbana da

cidade e se encontra na sub-bacia do Rio Tijuco, nas proximidades dos bairros Novo

Tempo I e II.

Figura 02: Localização da área de estudo. Fonte: IBGE (2010).

No local, as técnicas e os processos utilizados na apropriação e ocupação do

relevo para a implantação da infraestrutura turística, como a escavação, carregamento,

espalhamento, compactação e transporte do excesso de solo, têm provocado, de forma

negativa, transformações na paisagem onde ocorre a implantação do mesmo. Essas

modificações no solo, como por exemplo, o processo de terraplanagem e

consequentemente a retirada da vegetação natural têm provocado o aceleramento da

erosão.

As ações dos agentes exógenos combinada com o solo exposto, a retificação das

vertentes e a impermeabilização das ruas do local estudado causaram e ainda causam,

impactos negativos ao meio ambiente, como por exemplo, a formação de sulcos e

ravinas, além da formação de depósitos tecnogênicos e, principalmente, provocando o

assoreamento do Córrego Pirapitinga, objeto do estudo.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi identificar e caracterizar as principais causas do

aceleramento do processo de assoreamento de parte do Córrego Pirapitinga, localizada

na porção sudoeste da área urbana do município de Ituiutaba - MG, local onde ocorre a

implantação do Centro Turístico Camilo Chaves Neto, circundado pelos loteamentos

habitacionais Nova Ituiutaba I e II, mostrando como os processos utilizados no

“preparo” do terreno para construção da infraestrutura turística e o descaso com o local

deixam o solo vulnerável aos processos erosivos.

Destacando ainda, a possibilidade de termos encontrado, nas margens do

referido córrego, artefatos de uso humano (como plástico, vidro, etc.), decorrentes desse

processo de expansão urbana, o que pode ocasionar também a formação de depósitos

tecnogênicos.

METODOLOGIAS

Para a elaboração do presente trabalho foram utilizados os seguintes

procedimentos metodológicos: Inicialmente foi feito um trabalho de revisão

bibliográfica a respeito do assunto a ser estudado e, posteriormente, a caracterização

feita a partir do desenvolvimento de pesquisas de campo na área estudada.

O levantamento bibliográfico consistiu em uma busca de materiais relacionados

a impactos ambientais e expansão urbana, realizados em livros e em periódicos

disponíveis online.

O reconhecimento da área feito através da pesquisa de campo foi realizado no

dia 01 de Maio de 2016, onde, pode-se perceber, de uma forma mais concreta, os

processos erosivos ocorrentes naquele local.

Foram registrados, com o auxílio de uma câmera fotográfica, os principais

impactos oriundos da ocupação no local estudado, bem como o assoreamento do canal

fluvial resultantes da implantação do Centro Turístico Camilo Chaves Neto.

RESULTADOS PRELIMINARES

Atualmente, um assunto que vem ganhando destaque nos debates e discussões

em diferentes esferas da sociedade são as questões ambientais. Neste sentido, cientistas

e pesquisadores buscam cada vez mais explicações e soluções para que se possa

resolver ou minimizar os problemas ambientais, os quais afetam tanto o equilíbrio

natural, quanto provocam impactos sobre a sociedade.

Esses problemas são fortemente expressos no ambiente urbano, que, devido a

sua dinâmica, é palco de diferentes impactos ambientais que afetam o equilíbrio

dinâmico natural, podendo, assim, ser facilmente identificados, pois, são impactos

oriundos da degradação dos recursos naturais, da concentração populacional em locais

ambientalmente inadequados, da falta de infraestrutura, de saneamento básico entre

outros.

Segundo a Resolução do CONAMA 001/1986, que trata dos critérios básicos e

diretrizes para avaliação de impactos ambientais, o impacto ambiental é qualquer

alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por

qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou

indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais.

Atrelados a tais impactos, e ligado diretamente ao aumento populacional, o

processo de expansão territorial, que ocorre geralmente em áreas periféricas, acontece

muitas vezes sem levar em consideração a dinâmica dos processos naturais.

Este processo, que acontece principalmente nos países em desenvolvimento, é

a mais violenta e destrutiva forma de relacionamento entre o homem e o meio ambiente,

caracterizando-se, principalmente, por ser o processo de crescimento das cidades, sendo

este, o grande responsável pelo aparecimento dos problemas urbanos.

É importante observar que esses chamados problemas urbanos podem resultar

tanto de ações planejadas quanto daquelas com ausência de planejamento e que uma e

outra podem ser objetos de manipulação de grupos de interesses. Essas possibilidades

conferem maior importância ainda aos estudos sobre agentes urbanos.

De acordo com Casseti (1991), o homem ao se apropriar e transformar a

natureza, provocando significativas alterações no seu potencial ecológico, pode gerar

um processo erosivo acelerado devido à alteração do sistema hidrológico da vertente,

gerando consequências irreversíveis.

A caracterização da morfoescultura situada no munícipio de Ituiutaba- MG, de

acordo com Martins e Costa (2012), contém feições geomorfológicas do tipo de relevo

residuais, onde por sua vez, as áreas de maiores altitudes dessa forma de elevação se

encontram em processo de dissecação, por outro lado, os locais mais rebaixados e

retilíneos são dissecados pela drenagem.

Assim, a compartimentação geomorfológica onde se encontra a malha urbana

pode ser dividida em domínios dos topos das colinas suavemente onduladas (Figura 03),

domínios das vertentes côncavas, convexas e retilíneas (Figura 04) e domínio dos

fundos de vale (Figura 05).

Figura 03: Domínio dos Topos. Figura 04: Domínio das vertentes côncavas.

Autor: Miyazaki, L. C. P. (2014). Autor: Miyazaki, L. C. P. (2014).

Figura 05: Domínio dos fundos de vale.

Fonte: Google Earth (2014).

Sobre a geomorfologia no local estudado (figura 06) pode-se destacar que o

Centro Turístico foi implantado de forma que as obras de terraplanagem se iniciaram

nas áreas de topo, passando pelo domínio das vertentes, direcionando-se ao fundo de

vale.

Figura 06: Centro Turístico Camilo Chaves Neto. Autor: SILVA, J. V. F. (2016).

No local estudado, nota-se que a erosão intensifica-se em virtude das mudanças

constantes que o homem tem realizado naquela área, mudanças essas feitas muitas vezes

de forma errônea resultando na aceleração dos processos erosivos naturais ali

encontrados, no caso específico, o do processo de assoreamento do córrego (figura 07 e

08).

De acordo com Guerra e Guerra (2008), o assoreamento é um processo

geomórfico de deposição de sedimentos, ex: fluvial, eólico e marinho. Este ocorre de

forma natural provocado por processos erosivos que ocasionam na desagregação de

rochas e solos que, consequentemente, acumulam sedimentos no fundo dos leitos

obstruindo o curso d’água e dificultando a navegação.

Figura 07 e 08: Assoreamento do Córrego Pirapitinga.

Autor: SILVA, J. V. F. (2016).

Na área de estudo, além da instalação dos do Centro Turístico é possível

considerar outro agravante no aceleramento do assoreamento do córrego, pois, ao lado

oposto da localização da infraestrutura turística encontram-se algumas propriedades

cujos donos possuem animais de médio e grande porte que contribuíram para

degradação nas margens do curso d’água (Figura 09 e 10).

Figura 09 e 10: Pisoteio animal nas margens do Córrego Pirapitinga.

Autor: SILVA, J. V. F. (2016).

Segundo Casseti (1991), alteração do local, retirada da cobertura vegetal,

dificultará a infiltração da água no solo, proporcionando uma desagregação mecânica

deste, tendo como consequência, os processos de ravinamentos, voçorocamentos e até

mesmo deslizamento de terras. Para Martins e Costa (2012), os processos erosivos são

um dos problemas ambientais mais significativos na área urbana e rural de Ituiutaba.

Além desses fatores, outro fator contribuinte para a degradação da área de

instalação do centro turístico são os ligados ao descarte inadequado de resíduos sólidos

encontrados às margens do referido córrego durante os estudos em campo como, por

exemplo, plástico, vidro, materiais de construção, entre outros, ocasionando na

formação do chamado depósito tecnogênico (figura 11 e 12).

Figura 11 e 12: Descarte inadequado de resíduos sólidos.

Autor: SILVA, J. V. F. (2016).

Pedro (2008) ressalta que os depósitos tecnogênicos são formações decorrentes

da acumulação de materiais úrbicos, de resíduos sólidos domésticos em alguns

compartimentos do relevo, as planícies tecnogênicas são exemplos dessas formas de

relevo, sendo áreas planas formadas pelo acúmulo de sedimentos e outros tipos de

materiais.

No momento, faz-se necessário uma extrema avaliação sobre a forma de como

estão ocorrendo o planejamento e execução da obra, a qual aparenta um estado de total

abandono e descaso.

A falta de planejamento adequado, tanto na construção como nos investimento

em infraestrutura é o grande causador dos problemas relacionados aos impactos

ambientais. Os agentes públicos da cidade devem implantar políticas relacionadas à

questão ambiental, visando minimizar maiores impactos sobre meio ambiente,

priorizando desta forma a qualidade ambiental.

BIBLIOGRAFIA

CASSETI, Valter. Ambiente e Apropriação do Relevo. São Paulo: Contexto, 1991,

147 p. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/203387465/AMBIENTE-E-

APROPRIACAO-VALTER-CASSETI#scribd>. Acesso em: 12 de Abril de 2015.

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Licenciamento Ambiental –

Normas e procedimentos. RESOLUÇÃO CONAMA nº 1 de 1986. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=23>. Acesso em: 19 de

Abril de 2015.

CORRÊA, R. L. O espaço urbano. 4ª edição, 2ª reimpressão. São Paulo: Editora Ática,

1995.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de

Pesquisa de Solos. Manual de Métodos de Análise de Solo. 2ª edição, Rio de Janeiro,

1997.

FOLI, A. C. A. et al. Análise dos agentes transformadores do espaço urbano na

cidade de Ituiutaba – MG. In: Anais VI Encontro de Geografia do Pontal: a geografia

e suas multiplicidades. Ituiutaba, 2014.

GOMES, B. M. A. Redes organizacionais e canais de distribuição no turismo. Turismo

& Sociedade, Curitiba, v. 3, n.1, p. 37-50, abril de 2010.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Minas Gerais: Ituiutaba. 2015.

Disponível em:

<http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=313420&search=min

as-gerais|ituiutaba> Acesso em: 17 de dez. de 2015.

GUERRA, A.T.G. & GUERRA, A. J. T. Novo Dicionário Geológico-Geomorfológico

– 6 ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Minas Gerais: Ituiutaba. 2015.

Disponível em:

<http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=313420&search=min

as-gerais|ituiutaba> Acesso em: 17 de dez. de 2015.

IPEA, PNDU, FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, ATLAS DE DESENVOLVIMENTO

HUMANO NO BRASIL 2003. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de

Ituiutaba, 1970-2000. Disponível em: <http://www.pndu.org.br/atlas/>. Acesso em: 29

de dez. de 2015.

MACHADO, C. A. A PESQUISA DE DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS NO

BRASIL E NO MUNDO. Revista Tocantinense de Geografia, Araguaína (TO), Ano

01, no 02, p. 15-35, jan - jun, 2013.

MARTINS, F.; COSTA, R. Compartimentação Morfológica do Município de Ituiutaba,

Estado de Minas Gerais, Brasil. In: Simpósio Nacional de Geomorfologia, IX, 2012,

Rio de Janeiro/RJ. Anais - Geomorfologia e Eventos Catastróficos: passado,

presente e futuro. Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. Disponível em: <

http://www.sinageo.org.br/2012/trabalhos/8/8-122-75.html>. Acesso em: 15 de Out. de

2015.

PEDRO, L. C. Ambiente e apropriação dos compartimentos geomorfológicos do

Conjunto Habitacional Jardim Humberto Salvador e Condomínio Fechado

Damha. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual Paulista,

Faculdade de Ciência e Tecnologia. Presidente Prudente, 2008.

SPOSITO, M. E. B. O Chão em Pedaços: Urbanização, Economia e Cidades no

Estado de São Paulo. 2004. Tese (Livre Docência) - Faculdade de Ciências e

Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.