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A Iluminação Natural como estratégia de projeto visando a Eficiência Energética nas edificações Amazônia janeiro/2013
A Iluminação Natural como estratégia de projeto visando a
Eficiência Energética nas edificações Amazônia
Natália D. de Lima Vinagre - [email protected]
Iluminação e Design de Interiores
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
Belém/Fevereiro/2012
Resumo
A iluminação natural pode ser considerada uma estratégia fundamental para minimizar o
consumo da energia em edificações no momento de projetação. Para prever um potencial de
economia de energia elétrica através da iluminação natural são considerados o uso dos
sistemas de controle da iluminação natural, entre eles: brise e, prateleiras de luz, que
influenciam no comportamento da mesma. Na região Norte do Brasil, são consideradas
importantes para uma edificação, algumas estratégias arquitetônicas como a proteção solar
e o uso da ventilação natural. Assim, este trabalho tem como objetivo apresentar estratégias
arquitetônicas de projeto para o uso da iluminação natural como agente amenizador do alto
consumo de energia gerado por edificações residenciais da cidade de Belém.
Palavras – chave: Eficiência Energética, Iluminação Natural, Sistemas de Controle
1. Introdução
A construção civil tornou-se o setor responsável por um alto consumo energético e geração de
poluentes, por isso, novas práticas têm sido incentivadas a fim de reduzir o consumo de
energia elétrica nas edificações. Entre elas estão o uso de fontes alternativas de geração de
energia, a exemplo o uso de painéis fotovoltaicos para captação de energia solar, assim como
a utilização de estratégias passivas aliadas ao uso de técnicas e materiais adequados para a
obtenção de conforto térmico e lumínico, substituindo dessa forma parte da energia elétrica
gasta com a utilização de ar condicionado e iluminação elétrica artificial para alcançar o
conforto ambiental.
Hoje, não dá para imaginar uma sociedade desenvolvida sem que possua os recursos
energéticos suficientes para suprir todas as necessidades básicas coletivas de uma nação, este
fator é responsável pelo aumento do consumo energético da sociedade. A luta para a
minimização de forma sustentável do uso destes recursos perpassa por inúmeras disciplinas,
como as engenharias, engenharia elétrica, mecânica, inclusive a arquitetura, a qual é
responsável pela criação da forma das edificações, da escolha de materiais e outros fatores
importantes no momento de projetação.
A eficiência energética é um conjunto de práticas para a redução do consumo de energia em
relação aos custos e a quantidade de energia oferecida, sem que haja, excessos ou cortes
gravíssimos para a sociedade. Portanto, a arquitetura, o projeto arquitetônico, tem papel
fundamental no processo de projetação, é a partir desse momento que se pensa na volumetria,
na organização do espaço, nas técnicas a serem utilizadas com um objetivo mais recente, a
questão da sustentabilidade da edificação, onde a eficiência energética é um dos elementos
importantes desse contexto.
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A edificação é considerada sustentável quando possui princípios ecologicamente corretos,
economicamente viáveis, socialmente justos e culturalmente aceitos (FENZL, 2009). É
preciso compreender que a construção sustentável é um desafio que se tornou essencial,
pressupondo um estudo mais aprofundado em busca de alternativas viáveis para a sustentação
da mesma. A relação entre a sustentabilidade e a arquitetura, pode ser percebida na medida
em que a utilização racional da energia elétrica em edificações garante a preservação dos
recursos energéticos e ambientais para as gerações vindouras, sem prejuízo ao progresso da
humanidade.
Figura 1 - Evolução do consumo de energia em alguns países.
Fonte: LAMBERTS e CARLO, 2004.
As edificações são responsáveis por uma alta porcentagem de emissão de gases de efeito
estufa, do consumo de energia elétrica, da geração de resíduos e do consumo de água. Só no
Brasil, a quantidade de energia gasta por tipologia de edificação é equivalente a um total de
42%, englobando o residencial, o comercial e o público (ver figura 2) (MEIRIÑO, 2004).
Figura 2 - Consumo de energia elétrica no Brasil.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Segundo estudo de projeção do consumo energético no Brasil, feito pelo EPE
(Empresa de Pesquisa Energética), o consumo total de energia elétrica por tipologia de
edificação aumentará cerca de 4,5% até o ano de 2021(ver tabela1).
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Tabela 1 – Projeções do consumo energético por tipologia de edificação no Brasil (mil GWH)
Fonte: Adaptado por EPE (Empresa de Pesquisa energética)
Além destas, outras tipologias de edificações também são responsáveis por uma grande
porcentagem do consumo de energia, entre elas estão as indústrias, comerciais, públicos e
residencial. Nas edificações residenciais parte considerável da energia consumida provém das
atividades realizadas pelo usuário e dos equipamentos que este utiliza (chuveiro elétrico,
geladeira, ar condicionado, televisão, lâmpadas e outros). Já no setor comercial e público, a
energia consumida que possui uma significância maior são na iluminação e ar condicionado
(ver figura 3).
Figura 3 - Consumo de energia elétrica em edificações.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Foi constatado que de 20 a 30% da energia consumida na edificação seriam suficientes para o
seu funcionamento. Devido a falta de controles adequados da instalação, manutenção e mau
uso, cerca de 30 a 50% da energia consumida são desperdiçados. De 25 a 45% da energia são
consumidos indevidamente por má orientação da edificação e por desenho inadequado de suas
fachadas. A demanda da energia elétrica pode variar em até 80% para o mesmo projeto de
edificação em locais diferentes, por exemplo, quando se compara Belém e Porto Alegre
(MEIRIÑO, 2004).
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O uso de estratégias e tecnologias passivas que adequam a iluminação natural ao projeto
arquitetônico é um dos fatores fundamentais para a minimização do alto consumo de energia
elétrica e diminuição dos impactos ao ambiente natural.
A utilização da iluminação natural reflete-se diretamente na energia gasta em ar condicionado
e iluminação artificial, presente no contexto brasileiro. Na maioria das cidades do país, como
Belém (cidade foco de estudo), a variação da insolação devido à declinação solar ao longo do
ano é pouco representativa, havendo insolação direta durante todo o ano. Assim, o
aproveitamento da radiação solar tende a ser limitado devido a ocorrência de nebulosidade e
chuvas.
Devido a estes fatores, deve-se levar em consideração no momento de projetar uma edificação
o conforto térmico, lumínico e a eficiência energética, avaliar a melhor orientação da
edificação, a volumetria, os materiais que serão utilizados, e o aproveitamento da iluminação
natural para a edificação, para que o consumo de energia seja minimizado e assim a
edificação atinja um excelente grau de sustentabilidade. É importante que as estratégias
arquitetônicas utilizando a iluminação natural sejam bem pensadas pelos profissionais, pois
quando contrário podem causar o ofuscamento e a fadiga visual do usuário. O bom uso da luz
natural deve priorizar o alcance dos espaços interiores, a minimização da incidência direta da
radiação solar e o ofuscamento, além da utilização de alternativas amenizadoras do clima
local.
Desta forma, este trabalho visa contribuir para a melhoria da eficiência energética das
edificações na cidade de Belém – PA, assim como no conforto térmico interno destas,
resultando na melhoria da qualidade de vida da população, em um projeto arquitetônico mais
eficaz, baseado na escolha das melhores soluções projetuais visando a iluminação natural dos
ambientes, a fim de garantir a sustentabilidade da edificação e a proteção solar da área interna
da mesma.
2. Objetivo
O objetivo deste artigo é apresentar alternativas de projeto para a minimização do consumo
energético em edificações, considerando o contexto climático da cidade de Belém, a fim de
contribuir para as boas práticas na arquitetura para o uso da luz natural e escolha das
estratégias arquitetônicas.
3. Desenvolvimento
3.1. O que é arquitetura?
A arquitetura pode ser entendida como abrigo, organização de espaços, construção que visa o
bem estar do usuário, a arte de projetar bem envolvendo o conforto, a funcionalidade, a
estética, é projetar segundo as exigências, limitações e leis construtivas. Esta visa facilitar a
vida do usuário, estudar as necessidades destes, a qualificação do ambiente e o melhor
conforto entre o meio e o homem.
3.2. O projeto arquitetônico eficiente energeticamente
Para que se alcance a eficiência energética, a arquitetura deve ser vista como um elemento,
para isso, algumas medidas e ações de estratégicas são propostas para melhorar e alcançar a
eficiência energética das edificações, afim de, promover um bom desempenho e adaptações às
condições climáticas locais.
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A eficiência pode ser entendida como a obtenção de um serviço de baixo desperdício de
energia. Um edifício é mais eficiente energeticamente que outro quando proporciona as
mesmas condições ambientais com o menor consumo de energia possível. Este acaba sendo
incluído em um conceito clássico da arquitetura de Vitrúvio para a arquitetura contemporânea
(ver figura 2).
Fig. 2. Conceito Vitruviano da arquitetura contemporânea
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Um bom projeto arquitetônico deve ser desenvolvido contemplando estratégias e soluções
para o uso racional de energia elétrica, sem prejudicar o conforto térmico, a acústica e o
lumínico da edificação.
Os projetos devem conter a caracterização climática do local, condições climáticas, da
orientação solar, dos ventos dominantes e, se forem utilizadas técnicas de construção e
materiais adequados, é possível diminuir os gastos energéticos com a iluminação ou com os
sistemas de climatização. É fundamental investir, gastar um pouco mais de tempo e certificar-
se de que o tipo do material escolhido é o ideal. Equívocos na escolha podem causar
problemas, e corrigir pode se tornar mais caro que se torna simplesmente inviável.
É por isso que o projeto arquitetônico deve ser integrado e associado com os projetos
complementares, e o arquiteto deve ser o coordenador desse processo para que não haja
negligências e também deve ter conhecimento de todos os conceitos básicos relacionados ao
desempenho energético de edificações, a fim de, tornar possível e eficiente a
multidisciplinaridade do seu projeto (ver figura 3).
Figura 3 - Coordenação do processo de projeto por supervisão do arquiteto
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Para iniciar a concepção de um projeto arquitetônico é importante levar em consideração:
A escolha do terreno;
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Implantação;
Adequação ao clima local;
Programa de necessidades
Volumetria
Estratégias construtivas (estratégias de projeto: aproveitamento da iluminação natural
e ventilação)
Materiais a serem utilizados
Entre outros
Para que a edificação seja bem sucedida, que proponha conforto ao usuário e todos os outros
itens citados anteriormente, e assim alcance a eficiência energética é importante levar em
consideração as variáveis climáticas, humanas e arquitetônicas, que são variações do clima,
temperaturas da edificação e conforto térmico que poderão ser responsáveis por efeitos na
edificação e em sua eficiência energética.
3.3. Sistema de iluminação
A iluminação quando bem dosada é fundamental para proporcionar conforto aos usuários de
uma edificação. A qualidade e a quantidade de luz devem ser equilibradas, pois promove o
conforto e a segurança do usuário. Quando a iluminação é deficiente e excessiva, pode causar
desconforto ao usuário, o ofuscamento ou a fadiga visual, impedindo o mesmo de realizar
tarefas do dia a dia.
a) A iluminação Natural
Nos últimos anos, a crescente necessidade relacionada aos aspectos ambientais do espaço
construído, veio abrindo caminho direcionando ao uso dos recursos naturais, como radiação
solar, ventilação natural, ente outros. A luz natural proveniente da radiação solar de forma
direta ou difusa, têm grande importância para que se atinja maior qualidade ambiental e
sustentabilidade nos espaços construídos (AMORIM, 2007).
Aproveitar a iluminação natural no projeto ajuda para as condições de conforto dos usuários e
possibilita reduções no consumo de energia elétrica, além de facilitar o desenvolvimento das
tarefas visuais e na eficiência do trabalho (VIANNA & GONÇALVES, 2001). Para ser
adequado e atender às necessidades de conforto ambiental e iluminação natural, o projeto não
precisa de invenções de alta tecnologia para que as necessidades do homem sejam
respondidas (CUNHA, 2006).
De acordo com Oliveira (2007), basta o projeto contemplar alguns aspectos: planejamento das
exigências visuais com base no levantamento das atividades transitórias e permanentes;
solução da iluminação apropriada tanto para o período diurno, como para o noturno;
integração das soluções de iluminação artificial e natural, visando a conservação da energia e
a sustentabilidade ambiental; utilização de elementos e/ou aspectos que revelem a intenção de
emocionar e/ou comunicar visões de mundo aos usuários da arquitetura; por vezes,
independência e/ou contraste da solução lumínica; simbiose mais que coerência com outras
dimensões da arquitetura.
Existem trabalhos que apresentam a discussão sobre a economia de energia gerada através da
instalação de diferentes tipos de sistemas de controle de iluminação artificial integrado a luz
natural nas edificações. Deve-se ressaltar a importância de analisar os sistemas de controle em
diversas áreas do país.
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A análise ou orientação do processo de projeto, visando admissão de luz natural de forma
adequada depende de vários fatores como o conhecimento climático local, com seu rigor
térmico, o comportamento da luz diante das superfícies envidraçadas, que também são
definidas etapas de análise, embasadoras para a avaliação final, assim como o sistema de
abertura zenital e /ou lateral (HOEPERS, 2011).
A utilização adequada dos dispositivos de sombreamento pode melhorar o aproveitamento da
luz natural e impedir a incidência solar direta, diminuindo desta forma os efeitos provocados
pelo ofuscamento e brilho e os excessos de ganho de calor. De outra forma, o uso indevido
destes elementos pode interferir no uso do sistema de iluminação artificial, provocando o seu
acionamento indevido.
O Diagrama Morfológico é também um instrumento que através de parâmetros e variáveis,
representa soluções de projeto, pode ser utilizado para apresentar a seleção de sistemas e
estratégias de soluções efetivas para empregar a luz natural nas edificações. Através dele
identifica-se um repertório de soluções adequadas e sensibilização na análise de projetos com
enfoque na luz natural, este possui três níveis de análise: o espaço urbano, o edifício e o
ambiente interno (ver figura 4) (AMORIM, 2007).
Figura 4 - Os três parâmetros do Diagrama Morfológico: Nível I (Espaço Urbano), Nível II (Edifício) e Nível
III (Ambiente Interno).
Fonte: PARANOÁ. Diagrama Morfológico Parte I, p.61(2007).
b) Fechamentos
Os fechamentos, vedações das edificações são importantes no sentido de promover as trocas
de energia (luz ou calor) entre o interior e o exterior da edificação.
Para este deve-se levar em consideração fatores como a radiação solar e o comportamento dos
materiais utilizados nestes. Existem os materiais opacos e os transparentes (ver figura 5).
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Figura 5 - Transmissão da radiação por fechamentos opacos e transparentes.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Fechamentos Opacos
O fluxo de calor será sempre da superfície mais quente para a mais fria, ou seja, quando há
uma diferença de temperatura entre os meios externo e interno. Este pode ser subdividido em
três fases: troca de calor com o meio exterior; condução através do fechamento; e troca de
calor com o meio interior.
Todos os fechamentos opacos (paredes, pisos, tetos) podem ser fontes de ganhos ou perdas
térmicas do ambiente por condução entre os meios exterior e interior.
Fechamentos transparentes
É onde ocorrem as principais trocas térmicas de uma edificação, que compreendem as janelas,
clarabóias, e qualquer outro elemento transparente na arquitetura. Estes atuam através dos
ganhos de calor por insolação e das trocas entre meios externo e interno por condução,
convecção e radiação.
Estas vedações são responsáveis pela troca de ar dos ambientes entre interior e exterior,
geralmente ao abrir ou fechar as esquadrias. A radiação é o principal fator que transmite
diretamente para o interior da edificação, o que é inexistente para os fechamentos opacos, que
depende da transmissividade do vidro. Para este existem três aportes de calor pela abertura:
orientação e tamanho da abertura; o uso de proteções solares internas e externas; e o tipo de
vidro.
c) Proteções solares
As proteções solares são utilizadas quando a radiação direta não é desejada no ambiente
interno. O traçado das proteções exige que o projetista conheça o movimento feito pelo Sol e
pela Terra, e os efeitos sob a visão do observador na terra. Este pode ser um ponto, uma reta, um plano como uma parede ou janela ou um volume, no caso de uma edificação (LAMBERTS, 2005). Para se iniciar o traçado de máscaras, ferramenta usada no projeto de proteções solares, deve-se conhecer o tipo de mascaramento que cada modelo de brise proporciona.
Brise horizontal infinito Estes impedem a entrada de raios solares através da abertura a partir do ângulo de altitude solar. Este brise proporciona um traçado de mascaramento determinado em função do ângulo α (ver figura 6).
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Figura 6 - Mascaramento proporcionado pelo brise horizontal infinito.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Brise vertical infinito Estes impedem a entrada dos raios solares através da abertura a partir do ângulo azimute solar. O traçado do mascaramento do brise vertical infinito é determinado em função do ângulo (ver figura 7).
Figura 7 - Mascaramento proporcionado pelo brise vertical infinito.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Brise horizontal finito Este modelo de brise tem a sua eficiência limitada, pois a sua projeção lateral é limitada pelos ângulos γ (ver figura 8).
Figura 8 - Mascaramento proporcionado pelo brise horizontal finito.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Brise vertical finito O sombreamento para este tipo de brise é produzido pelos ângulos β, o qual é limitado pelos ângulos γ (ver figura 9).
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Figura 9 - Mascaramento proporcionado pelo brise vertical finito.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Brise misto Este modelo de brise nada mais é do que a combinação dos tipos de brises verticais e horizontais mostrados anteriormente (ver figura 10). .
Figura 10 - Mascaramento proporcionado pelo brise misto.
Fonte: LAMBERTS, 1997.
Prateleira de luz São dispositivos arquitetônicos utilizados na parte superior de aberturas nas edificações, formadas por planos horizontais ou inclinados. As prateleiras de luz são capazes de promover uma melhor distribuição da luz natural ao longo da profundidade dos ambientes, dessa forma contribui para uniformização da iluminância no ambiente interno. Tem o funcionamento baseado na captação de radiação luminosa que é refletida para o teto do ambiente, redirecionando desta forma a radiação para espaços que possuem a abertura mais distante. Tem a capacidade de reflexão variável em função das propriedades físicas de suas superfícies (ver figura 11).
Figura 11 - Prateleira de luz – Planta baixa e Corte.
Fonte: CÂNDIDO, 2005.
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Programas computacionais Existem alguns programas computacionais destinados para cada área de estudo do conforto
ambiental, estes são capazes de agilizar o processo de projetação e na melhoria da eficiência
das edificações, para a Geometria solar e cálculo de sombras: Ecotect; Luz do sol; Sol ar; e
outros.
4. Clima de Belém: condicionantes de projeto
O clima da cidade de Belém é classificado como tropical chuvoso, de acordo com a
classificação de Koppen, onde apresenta pequena amplitude térmica anual e precipitação
média mensal superior a 60mm, do tipo Afi. E de acorodo com a classificação Thorthwaite, a
cidade é classificada como clima muito úmido, com pequena deficiência de água, ou seja, do
tipo B4A’r (COSTA E MATTOS, 1998).
A variação diária de temperatura do ar da cidade de Belém está diretamente ligada a absorção
da radiação solar pela superfície. Destacam-se alguns fatores responsáveis pela variação
térmica local: o tipo de superfície, a cor , a umidade, a latitude, a inclinação, a hora e o dia do
ano.
A região em questão apresenta pouca variabilidade anual da sua temperatura média, tendo o
valor máximo alcançado no mês de outubro (27,9°C) e o mínimo no mês de março (25,7°C).
O valor médio anual é de 26,5°C, e as menores temperaturas médias são verificadas nos
meses de fevereiro, março e abril, correspondentes aos meses de maior nebulosidade e
precipitação pluviométrica, fato que acaba por contribuir para minimizar o aquecimento da
superfície.
Com a pequena variabilidade anual da temperatura média do ar, as variações sazonais da
cidade de Belém podem serclassificadas em função das precipitações pluviométricas
ocorridas durante todo o ano. Desta forma é possivel identificar duas estações distintas no
ano: a chuvosa, que dura do mês de dezembro a maio e a menos chuvosa, que dura do mês
junho a novembro.
Quanto a umidade relativa do ar a região apresenta um valor médio anual elevado diretamente
relacionado a oscilação latitudinal da ZCIT. Os meses de fevereiro, março e abril, apresentam
os maiores valores de umidade relativa do ar com aproximedamente 91% e os meses de
outubro e novembro apresentam os valores mínimos com aproximadamente 83% de umidade
relativa do ar.
Com relação aos ventos a predominância é de Norte e Nordeste, onde as velocidades médias
anuais oscilam entre 1.0m/s e 2,0 m/s, e durante a estação chuvosa ocorrem os menores
valores.
De acordo com a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), Belém está localizada na zona 8, cujas
principais estratégias bioclimáticas recomendadas são: o uso de resfriamento artificial o qual
será necessário para amenizar a eventual sensação de desconforto térmico por calor; a
ventilação cruzada obtida através da circulação de ar pelos ambientes da edificação, ou seja,
permitindo a ventilação cruzada nos ambientes, atentando-se também para a predominância
dos ventos na região e para o entorno, pois o entorno pode alterar significativamente a direção
dos ventos; as sensações térmicas podem ser melhoradas através da desumidificação dos
ambientes, a qual pode ser obtida através da renovação do ar interno por ar externo através da
ventilação dos ambientes.
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Figura 12 - Classificação Bioclimática dos Municípios Brasileiros.
Fonte: Programa computacional ZBBR, versão 1.1 (2004).
5. Exemplos do uso de proteção solar na cidade de Belém
Foram selecionados três projetos compostos por algum tipo de proteção solar, estes são:
Centro Social Santo Agostinho, Belém – PA; Projeto Laboratório Biodisel, UFPA
(Universidade Federal do Pará); e Projeto Laboratório Física, UFPA (Universidade Federal do
Pará).
a) Centro Social Santo Agostinho (ver figuras 13, 14 e 15)
Contextualização resumida:
Tipo de recurso/elemento arquitetônico: brises misto, classificado como componente de
passagem (abertura) lateral;
Uso do ambiente: passagem, no caso prática social;
Tipo de envidraçado e a admissão de luz natural: não possui envidraçamento, luz difusa
distribuída;
Estratégias de controle solar: redução da área de admissão e filtração, reduzindo admissão
solar;
Efeitos cênico-luminosos gerados (+ e -): iluminação homogênea (+);
AVALIAÇÃO FINAL: Adequado, pois foram projetadas brises horizontais e o tipo de brise misto,
onde o primeiro caso as dimensões pequenas e bem distribuídas ao longo do ambiente, filtrando a
incidência solar, já no segundo a proteção é para a área de circulação.
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Figura 13 – Centro Social Santo Agostinho.
Fonte: Joaquim Meira (2004).
Figura 14 – Centro Social Santo Agostinho.
Fonte: Joaquim Meira (2004).
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Figura 15 – Centro Social Santo Agostinho.
Fonte: Joaquim Meira (2004).
b) Projeto do Laboratório Biodisel, UFPA (Universidade Federal do Pará) (ver figuras 16)
Contextualização resumida:
Tipo de recurso/elemento arquitetônico: brises misto, classificado como componente
de passagem (abertura) lateral e varanda, também classificada como protetor da radiação
solar;
Uso do ambiente: local de permanência, no caso prática escolar;
Tipo de envidraçado e a admissão de luz natural: vidro transparente, luz direta;
Estratégias de controle solar: bloqueio parcial (por meio de varanda), elemento que não
reduz grande parte a entrada de luz solar direta.
Efeitos cênico-luminosos gerados (+ e -): insolação difusa; efeito de transparência ou de
visualização exterior (+)
AVALIAÇÃO FINAL: Adequado, pois foram projetadas brises horizontais e o tipo de brise
misto, onde o primeiro caso as dimensões pequenas e bem distribuídas ao longo do ambiente,
filtrando a incidência solar, já no segundo a proteção é para a área de circulação.
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Figura 16 – Maquete eletrônica, projeto Laboratório Biodisel, UFPA (Universidade Federal do Pará).
Fonte: Natália Vinagre (2009).
c) Projeto Laboratório de Física, UFPA (Universidade Federal do Pará) (ver figura17)
Contextualização resumida:
Tipo de recurso/elemento arquitetônico: fachada com sistema de prateleira de luz e brise
misto, classificada como componente de passagem (abertura) lateral;
Uso do ambiente: permanência, no caso prática escolar;
Tipo de envidraçado e a admissão de luz natural: vidro transparente, luz direta;
Estratégias de controle solar: sistema de prateleira de luz e brise misto;
Efeitos cênico-luminosos gerados (+ e -): insolação difusa (-); efeito de visualização
interior (+);
AVALIAÇÃO FINAL: Adequado, pois a fachada possui elementos de controle solar e vidro
transparente, o que pproporciona a iluminação natural do ambiente em boa parte do dia sem
causar excesso de calor ou ofuscamento.
Figura 17 – Maquete eletrônica , projeto Laboratório de Física, UFPA (Universidade Federal do Pará).
Fonte: Natália Vinagre (2009).
6. Conclusão
Este trabalho mostra a influência do aproveitamento da iluminação natural e dos sistemas de
controle de iluminação natural existentes em alguns projetos na a cidade de Belém.
Para melhorar as condições de conforto ambiental em clima tropical úmido, são essenciais
dois princípios básicos: sombrear e ventilar ao mesmo tempo. Como exemplo, evitar o
bloqueio da circulação de ar e utilizar pilotis na área térrea do edifício, deixando a área térrea
livre para o convívio. Desta mesma forma, a utilização de áreas de janelamento devidamente
sombreadas, auxiliaria na sensação de calor, além de melhorar a iluminação natural e a
qualidade do ar.
O uso de estratégias exige cautela e, acima de tudo, a demonstração do estudo e a
documentação de cálculo da viabilidade da solução envolvida.
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Algumas ações edificantes para manter o conforto ambiental nas edificações de cidades de
clima tropical úmido:
a) Consultar um arquiteto e urbanista habilitado a documentar, por meio de planilhas de
cálculo e gráficos, a metodologia mais adequada ao conforto térmico e luminoso do
ambiente em questão, de acordo com o tipo de uso e a localização da construção;
b) Usar cores claras para as fachadas das casas e edifícios, afim de minimizar o acúmulo
de carga térmica na edificação;
c) Abrir janelas que adotem 40% da área do piso da edificação, garantindo a
permanência, por mais tempo, da luz natural no ambiente e adotar sombreadores (brise
soleil), uma espécie de borda protetora projetada como um toldo, para evitar o
aquecimento interno do ambiente pela entrada dos raios solares;
d) Consultar e aplicar a norma NBR15220- Desempenho Térmico de Edificações - Parte
3 - Zonemaneto Bioclimático Brasileiro e diretrizes construtivas para habitações
unifamiliares de interesse social;
e) Ao edificar, deve-se optar por com materiais que evitam o acúmulo de carga térmica
na estrutura da edificação;
f) Associar áreas de "circulação livre" junto aos recuos, utilizando sistemas de varanda
nos espaços para circulação do vento através do uso de pilotis (pilares), ou ainda
grades em vez de muros, assegurando, assim, a circulação do vento junto ao solo.
Desta forma é possível garantir um bom projeto arquitetônico e a eficiência da energia nas
edificações, procurando estratégias viáveis para proporcionar a iluminação natural no
ambiente.
Referências
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Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações
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