A Hora Veterinária - Mastite Bovina

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27 A Hora Veterinária – Ano 29, nº 175, maio/junho/2010 Mastite bovina A mastite é o processo inflamatório da glândula mamá- ria, caracterizado por alterações patológicas do tecido ma- mário, microbiológicas, físico-químicas, organolépticas do leite. A etiologia é complexa, com potencial zoonótico, respon- sável por causar grandes prejuízos aos produtores de leite e laticínios, tais como, redução na produção leiteira, deprecia- ção do animal, limitação na produção de derivados, descarte do leite, gastos com medicamentos, honorários veterinários, aumento de mão-de-obra, descarte precoce de fêmeas, entre outros. As causas da mastite são: tóxica, traumática, alérgica, metabólica e infecciosa. As infecciosas são as causas mais comuns e aproximadamente 150 espécies de microorganismos podem causar essa enfermidade. Como a mastite bovina é a doença que mais onera a exploração de animais com interesse zootécnico, destinados à produção de leite; a prevenção, con- trole e tratamento dessa doença são de fundamental impor- tância para a pecuária leiteira. D. M. S. CASSOL 1 , G. A. F. SANDOVAL 2 , J. J. PERÍCOLE 3 , P. C. N. GIL 4 , F. A. MARSON 5 1 Daniela Miyasaka S. Cassol, Médica Veterinária, Gerente Téc- nica Ourofino, Ribeirão Preto, SP, BRASIL. 2 Gabriel A. F. Sandoval, Médi- co Veterinário, Diretor Técnico Ourofino, Franca, SP, BRASIL. 3 Jean J. Perícole, Médico Veteri- nário, Supervisor Técnico de Pro- dutos, Uberaba, MG, BRASIL. 4 Paulo César Nunes Gil, Médi- co Veterinário, Gerente de Pes- quisa Clínica (PDI) Ourofino, Olímpia, SP, BRASIL. 5 Fábio A. Marson, Médico Vete- rinário, Supervisor de Pesquisa Clínica (PDI) Ourofino, Ribeirão Preto, SP, BRASIL. INTRODUÇÃO AGENTES DA MASTITE DIAGNÓSTICO TRATAMENTO INTRODUÇÃO A mastite é a inflamação da glândula mamária que se caracteriza por apresentar al- terações patológicas no tecido glandular e uma série de modificações físico-químicas no leite. As mais comumente observadas são: altera- ção de coloração, aparecimento de coágulos e presença de grande número de leucócitos (Radostits et al., 2002). Entre as diversas patologias que afetam o rebanho leiteiro, esta enfermidade se desta- ca, pois causa grandes prejuízos como o des- carte do leite, a queda da produção leiteira, os gastos com antibióticos e, eventualmente, o descarte do animal (Brito e Brito, 1998). A etiologia dessa doença pode ser de origem tóxica, traumática, alérgica, metabólica ou in- fecciosa, sendo as causas infecciosas as prin- cipais, destacando-se as bactérias pela maior frequência, além de fungos, algas e vírus (Fon- seca e Santos, 2000). Alguns estudos demonstram prejuízos de aproximadamente US$ 200 (duzentos dóla- res) para cada vaca acometida por mastite ao ano (National Mastitis Council, 1996). Esses prejuízos são representados por: 70% devido à redução na produção dos quartos mamários com mastite subclínica; 14% por desvaloriza- ção dos animais pela redução funcional dos quartos acometidos, descarte precoce do ani- mal ou morte; 8% pela perda do leite descarta- do por alterações e/ou pela presença de resí- duos após tratamento; 8% pelos gastos com tratamentos, honorários de veterinários, mais despesas com medicamentos (Costa, 1998). Segundo Domingues e Langoni (2001), a mastite continua sendo a doença que mais onera a produção leiteira, resultando nos Es- tados Unidos em perdas anuais da ordem de US$ 2 bilhões. Isto significa uma perda esti- mada em US$ 18.000/ano em um rebanho de 100 vacas. Costa et al. (1996), em estudo se-

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Mastite Bovina

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  • 27A Hora Veterinria Ano 29, n 175, maio/junho/2010

    Mastite bovina

    A mastite o processo inflamatrio da glndula mam-ria, caracterizado por alteraes patolgicas do tecido ma-mrio, microbiolgicas, fsico-qumicas, organolpticas doleite. A etiologia complexa, com potencial zoontico, respon-svel por causar grandes prejuzos aos produtores de leite elaticnios, tais como, reduo na produo leiteira, deprecia-o do animal, limitao na produo de derivados, descartedo leite, gastos com medicamentos, honorrios veterinrios,aumento de mo-de-obra, descarte precoce de fmeas, entreoutros. As causas da mastite so: txica, traumtica, alrgica,metablica e infecciosa. As infecciosas so as causas maiscomuns e aproximadamente 150 espcies de microorganismospodem causar essa enfermidade. Como a mastite bovina adoena que mais onera a explorao de animais com interessezootcnico, destinados produo de leite; a preveno, con-trole e tratamento dessa doena so de fundamental impor-tncia para a pecuria leiteira.

    D. M. S. CASSOL1, G. A. F. SANDOVAL2 ,J. J. PERCOLE3, P. C. N. GIL4, F. A. MARSON5

    1Daniela Miyasaka S. Cassol,Mdica Veterinria, Gerente Tc-nica Ourofino, Ribeiro Preto, SP,BRASIL.

    2Gabriel A. F. Sandoval, Mdi-co Veterinrio, Diretor TcnicoOurofino, Franca, SP, BRASIL.

    3Jean J. Percole, Mdico Veteri-nrio, Supervisor Tcnico de Pro-dutos, Uberaba, MG, BRASIL.

    4Paulo Csar Nunes Gil, Mdi-co Veterinrio, Gerente de Pes-quisa Clnica (PDI) Ourofino,Olmpia, SP, BRASIL.

    5Fbio A. Marson, Mdico Vete-rinrio, Supervisor de PesquisaClnica (PDI) Ourofino, RibeiroPreto, SP, BRASIL.

    INTRODUOAGENTES DA MASTITEDIAGNSTICOTRATAMENTO

    INTRODUO

    A mastite a inflamao da glndulamamria que se caracteriza por apresentar al-teraes patolgicas no tecido glandular e umasrie de modificaes fsico-qumicas no leite.As mais comumente observadas so: altera-o de colorao, aparecimento de cogulos epresena de grande nmero de leuccitos(Radostits et al., 2002).

    Entre as diversas patologias que afetamo rebanho leiteiro, esta enfermidade se desta-ca, pois causa grandes prejuzos como o des-carte do leite, a queda da produo leiteira, osgastos com antibiticos e, eventualmente, odescarte do animal (Brito e Brito, 1998). Aetiologia dessa doena pode ser de origemtxica, traumtica, alrgica, metablica ou in-

    fecciosa, sendo as causas infecciosas as prin-cipais, destacando-se as bactrias pela maiorfrequncia, alm de fungos, algas e vrus (Fon-seca e Santos, 2000).

    Alguns estudos demonstram prejuzosde aproximadamente US$ 200 (duzentos dla-res) para cada vaca acometida por mastite aoano (National Mastitis Council, 1996). Essesprejuzos so representados por: 70% devido reduo na produo dos quartos mamrioscom mastite subclnica; 14% por desvaloriza-o dos animais pela reduo funcional dosquartos acometidos, descarte precoce do ani-mal ou morte; 8% pela perda do leite descarta-do por alteraes e/ou pela presena de res-duos aps tratamento; 8% pelos gastos comtratamentos, honorrios de veterinrios, maisdespesas com medicamentos (Costa, 1998).

    Segundo Domingues e Langoni (2001),a mastite continua sendo a doena que maisonera a produo leiteira, resultando nos Es-tados Unidos em perdas anuais da ordem deUS$ 2 bilhes. Isto significa uma perda esti-mada em US$ 18.000/ano em um rebanho de100 vacas. Costa et al. (1996), em estudo se-

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    melhante realizado no Brasil, concluram que os prejuzos de-vido mastite subclnica em propriedades leiteiras produtorasde leite tipo B e C, com produo mdia de 28.000 litros/ms/propriedade, foi de 4.800 litros/ms/propriedade, ou seja, umaperda de 17% do volume total de produo. Se levarmos emconta a produo de leite do Brasil em 2008, que foi de 27 bi-lhes de litros (Embrapa, 2010), teramos uma perda de 4,6 bi-lhes de litros, ou aproximadamente R$ 2,3 bilhes.

    Para o produtor a presena da mastite significa menorretorno econmico, em decorrncia da reduo na produo,dos gastos com medicamentos e tambm das penalidades apli-cadas pelos laticnios.

    Para a indstria, a presena da mastite significa proble-mas no processamento do leite e reduo no rendimento emrazo dos teores inferiores de casena, gordura e lactose, queresultam em produtos de baixa qualidade e estabilidade (Brito,1999). Por esses motivos, alguns laticnios tm utilizado siste-mas de bnus ou penalidades para estimular a produo deleite com baixa CCS (Edmondson, 2002).

    Alm desses prejuzos a mastite representa um risco empotencial sade do consumidor. A veiculao de agentescausadores de zoonoses, como nos casos de mastitesbruclicas e tuberculosas (Acha e Szyfres, 1989), a possibili-dade de desencadear fenmenos alrgicos em indivduos sen-sveis, os efeitos txicos e carcinognicos decorrentes dasalteraes no leite; por alteraes no equilbrio da microbiotaintestinal e pela seleo de bactrias resistentes no tratodigestrio decorrentes do uso de antibiticos so outros ris-cos, nos quais os consumidores so expostos se consumiremleite oriundo de animais acometidos por essa enfermidade(Mansur et al., 2003).

    Outro fator importante para a sade pblica o fato deque mais de 25% do leite produzido no Brasil no industria-lizado em estabelecimentos sob algum tipo de fiscalizao ofi-cial, compondo o mercado informal, ou seja, podendo ser con-sumido sem nenhum tratamento trmico ou controle laboratorial(Embrapa, 2010).

    AGENTES DA MASTITE

    Os patgenos causadores da mastite so classificadoscomo contagiosos e ambientais. Os agentes contagiosos ne-cessitam do animal para a sobrevivncia, multiplicando-se naglndula mamria, canal do teto ou sobre a pele. So transmi-tidos de uma vaca infectada, ou quarto mamrio infectadopara uma vaca sadia, ou quarto sadio, principalmente durantea ordenha. Os principais agentes contagiosos so:Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae eCorynebacterium bovis. Os patgenos ambientais so agen-tes oportunistas, esto presentes no ambiente em que o ani-mal vive e, a partir desta fonte, alcanam o teto, destacando-se a Escherichia coli, Streptococcus uberis, Enterobacteraerogenes e Klebisiella spp (Philpot e Nickerson, 2002). A E.coli considerada um dos principais agentes da mastite bovi-na de origem ambiental. As infeces esto relacionadas aocomportamento oportunista desse agente, veiculado nas fe-zes dos animais, pela via ascendente para o canal galactforo(Radostits et al., 2000). A grande quantidade de matria org-

    nica e umidade da cama podem provocar o aumento do nme-ro de bactrias. Portanto, a limpeza dos estbulos de funda-mental importncia (Tyler e Cullor, 2006).

    DIAGNSTICO

    Esta enfermidade pode ser dividida em dois grandes gru-pos quanto forma de manifestao, as mastites clnicas e assubclnicas. A mastite clnica apresenta sinais evidentes, taiscomo edema, aumento de temperatura, endurecimento, dor naglndula mamria, aparecimento de grumos, pus, ou qualqueralterao nas caractersticas do leite denomina-se mastite cl-nica. Seu diagnstico realizado pela inspeo e palpaocom base nas alteraes inflamatrias do bere e por altera-es macroscpicas do leite, visualizados nos primeiros jatosda ordenha com o auxlio da caneca telada ou fundo preto(Corra e Corra, 1992).

    Na outra forma de manifestao da doena, a mastitesubclnica, no so observados os sinais clnicos anterior-mente descritos, mas se caracteriza por apresentar alteraesna composio do leite como o aumento na CCS, o aumentonos teores de cloreto, sdio, protenas sricas e a diminuionos teores de casena, lactose e gordura do leite (Fonseca eSantos, 2000). Esses casos so de alta prevalncia e para oprodutor um fator concorrente dos lucros, devido ao elevadocusto na produo de leite (Philpot, 2002). Fonseca e Santos(2000) destacaram que a mastite subclnica responsvel por70% a 80% das perdas econmicas ocorridas em decorrnciado complexo mastite, no entanto, a prevalncia da mesma subestimada, uma vez que muitos consideram para efeito deanlise apenas a mastite clnica porque esta se apresenta deforma evidente e de fcil diagnstico.

    Por no apresentar sinais visveis de um processo in-flamatrio ou fibrosamento, para o diagnstico da mastitesubclnica necessrio a utilizao de testes indiretos comoo California Mastitis Test (CMT), Whiteside, acondutibilidade eltrica, a contagem de clulas somticas,entre outros (Costa, 1998).

    O CMT consiste na reao do leite um detergenteaninico, que promove a liberao de DNA das clulassomticas, levando a formao de um composto na forma degel, correspondente quantidade de clulas presentes(Andrade, 1998). Pianta (1997) relatou que o CMT um testeque apresenta boa sensibilidade, alm de facilidade de serrealizado ao p da vaca, momentos antes da ordenha.

    De acordo com Fonseca e Santos (2000), o resultado doteste avaliado em funo do grau de gelatinizao, ou visco-sidade da mistura de partes iguais de leite e reagente, sendo oteste realizado em bandeja apropriada. Os resultados so ex-pressos em escores: negativo, traos, uma, duas ou trs cru-zes, os quais apresentam uma boa correlao com a contagemde clulas somticas da amostra.

    Schfer e Rosado (1993) compararam a reao positivado CMT com a contagem de clulas somticas igual ou supe-rior a 500.000 clulas/mL e encontraram correlao em 85,11%das reaes.

    Outra forma de diagnstico muito utilizado a Conta-gem de Clulas Somticas (CCS) que vem sendo realizada por

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    Laboratrios da Rede Brasileira de Controle da Qualidade doLeite, tendo como objetivo melhorar a qualidade do leite emonitorar a situao do rebanho leiteiro. De acordo com Fonse-ca e Santos (2000), a CCS do leite proveniente de animais sadios normalmente menor que 300.000 clulas/ml, quando o proces-so inflamatrio se instala este nmero tende a aumentar.

    O teste microbiolgico o mtodo definitivo para o di-agnstico, pois, revela o agente etiolgico especfico e permi-te escolher a teraputica e a profilaxia adequada (Corra eCorra, 1992).

    O controle desta infeco em uma propriedade leiteiradeve ter como princpio bsico a limpeza e a higienizao dasinstalaes, utenslios e equipamentos, higiene pessoal doordenhador, realizao dos testes da caneca de fundo escuro,CMT, CCS e testes microbiolgicos (VEIGA, 1998).

    to do ponto de vista da sade do animal, quanto da produtivi-dade da glndula mamria. Os resultados dos testes de sus-ceptibilidade a antimicrobianos auxiliam o veterinrio na esco-lha do medicamento apropriado (Francis et al., 1989; Bramleyet al., 2000).

    Os antimicrobianos mais recomendados para o tratamen-to da mastite so: amoxicilina, ampicilina, enrofloxacina,estreptomicina, gentamicina, oxitetraciclina, penicilina,sulfamerazina e tetraciclina (Andrei, 1999). Deve-se, entretan-to, considerar que nem sempre os resultados in vitro podemser totalmente eficazes, pois vrios fatores podem interferir nosucesso do tratamento, tais como, uma reao tecidual defibrose, a subdosagem e a produo de leite que diluem omedicamento e dificultam a manuteno de nveis teraputicos,entre outros fatores (Costa, 1998).

    A resposta ao tratamento de casos demastite clnica na lactao varia muito; foramobtidas taxas de 40% a 70% de acordo comvrios estudos, devido s diferenas na sus-ceptibilidade de vrios microorganismos sdrogas, durao da infeco antes do trata-mento, idade do animal e grau de envolvimentodo tecido da glndula (Natzke, 1981).

    Costa et al. (1997) avaliaram a eficciado tratamento da mastite clnica e subclnica,com base no resultado do perfil de sensibili-dade in vitro. Para Staphylococcus spp sen-sveis a gentamicina a taxa de cura foi de 94,8%.

    Lopes e Moreno (1991) analisando trscefalosporinas contra Staphylococcus aureus de origem bo-vina, obtiveram boa sensibilidade frente a cefalotina, entre-tanto o cefoxitin e o ceftriaxone apresentaram resistncia paraa maioria das cepas.

    Freitas et al. (2005) estudaram o perfil da sensibilidadede 59 cepas de Staphylococcus coagulase positivo in vitroaos antibiticos e obtiveram 100% de sensibilidade davancomicina, 96% da norfloxacina e 20% da penicilina.

    Antiinflamatrios no esteroidaisOs antiinflamatrios no esteroidais (AINES) tem vrias

    aes teraputicas, que podem ser de carter perifrico, comono caso das aes antiinflamatrias, antitrombticas eantiendotxicas, ou podem atuar sobre o Sistema NervosoCentral (SNC), promovendo ao antipirtica.

    Especificamente nos casos de mastites clnicas, em vir-tude do quadro inflamatrio que se desenvolve, o uso dessasdrogas bastante desejvel, reduzindo o desconforto dosanimais, alm de aumentar o sucesso das terapias quandoassociadas aos antibiticos (Anderson et al., 1986; Rentala etal., 2002).

    Anderson et al. (1986) observaram que o uso de flunexin,administrado pela via injetvel em vacas com mastite experi-mentalmente induzida, reduziu a temperatura retal e os sinaisclnicos da inflamao.

    Anderson e Hunt (1989) relataram que a administraode flunexin ou dexametasona em animais com mastite, induzidaexperimentalmente, reduziu a temperatura retal e a temperaturada superfcie das glndulas mamrias. Os animais tratados

    TRATAMENTO

    O tratamento da mastite deve ser feito como parte de umprograma de controle que visa prevenir a mortalidade nos ca-sos agudos, o retorno composio e produo normal doleite, a eliminao de fontes de infeco e a preveno denovas infeces no perodo seco (Cullor, 1993).

    AntibiticosCom o progresso tecnolgico na rea da farmacologia

    antimicrobiana, diversos problemas foram solucionados eoutros surgiram, entre eles, o uso inadequado de drogas nointuito de sanar doenas bacterianas que acometiam o reba-nho leiteiro. Este fato resultou em respostas estratgicas dosprincipais agentes etiolgicos de mastite, uma vez que o em-prego exagerado e indiscriminado de antibiticos conduz aresistncia bacteriana (Mota et al., 2002).

    As decises teraputicas so comumente realizadas deforma emprica ou baseadas em informaes prvias de sensi-bilidade para o rebanho em questo, pois raramente os mdi-cos veterinrios dispem de recursos como identificaomicrobiana, e a susceptibilidade dos agentes para se tomardecises teraputicas (Owens et al., 1997).

    Para a melhor indicao teraputica, o ideal que sejamfeitos cultivo, isolamento e antibiograma do agente etiolgicoda mastite (Langoni, 1995).

    A seleo do antimicrobiano apropriado essencial, tan-

    Figura 1. Testes de diagnstico de mastite clnica e subclnica, mais comumenteutilizados: a) Teste de caneca de fundo preto com apresentao de grumos; b)Raquete utilizada para teste CMT.

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    com dexametasona apresentaram queda na produo leiteirae, embora o nmero de leuccitos e neutrfilos segmentadosestivesse aumentado, no houve aumento da quantidade declulas somticas no leite.

    Rentala et al. (2002) observaram que, ao tratar vacascom mastite por Escherichia coli induzida experimentalmen-te, a associao de enrofloxacina com flunexin foi mais eficazque o tratamento apenas com o antiinflamatrio.

    McDougall et al. (2009) concluram que animais commastite clnica tratados com meloxicam e hidroiodeto depenetamato apresentaram menores contagens de clulassomticas no leite, assim como menores ndices de descarteno rebanho, quando comparados com os animais que foramtratados apenas com o antibitico.

    OrdenhaA ordenha deve ser realizada por pessoas treinadas,

    destacando os princpios de higiene, fisiologia da lactao,funcionamento e manuteno do equipamento (Mller, 2002).Existem algumas maneiras corretas no manejo, como os proce-dimentos de desinfeco dos tetos antes da ordenha,estimulao da ejeo, extrao eficiente e rpida do leite edesinfeco dos tetos aps a ordenha (Fonseca e Santos,2000). Os tetos e a parte inferior do bere devem ser lavadoscom gua corrente de boa qualidade ou gua clorada e secarcom papel toalha descartvel (Silva, 2003). Esses procedimen-tos constituem a melhor estratgia na preveno da transmis-so de agentes contagiosos e ambientais durante todo o pro-cesso. importante saber que o manejo de ordenha no pos-sui um padro. Assim deve ser adaptado realidade de cadapropriedade.

    A rotina pode ser estabelecida da seguinte maneira:1) Estabelecer uma linha de ordenha: novilha de primeira

    cria; vacas que nunca tiveram mastite; vacas que tiverammastite clnica h mais de 6 meses; vacas que tiveram mastiteclnica nos ltimos 6 meses; separar do rebanho vacas commastite clnica (Silva, 2003);

    2) Realizar diariamente o teste da caneca de fundo escu-ro, com leite retirado nos primeiros jatos. Este teste permite odiagnstico da mastite clnica e diminui o ndice de contami-nao do leite (Mller, 2002);

    3) Fazer a imerso dos tetos em soluo desinfetante;4) Utilizar o papel toalha descartvel para fazer a seca-

    gem dos tetos;5) Colocar as teteiras e ajust-las;6) Retirar as teteiras aps terminar o fluxo de leite;7) Fazer a imerso dos tetos em soluo desinfetante;8) Fazer a desinfeco das teteiras entre as ordenhas.Algumas aes e terapias so essenciais para diminuir

    os casos de mastite clnica, exemplos: pr-dipping; ps-dipping; terapia da vaca seca; tratamento da mastite durante alactao e estratgias de descarte; manuteno adequada dossistemas de ordenha e estratgias de aumento da resistnciada vaca.

    No pr-dipping deve-se fazer a imerso dos tetos emsoluo desinfetante antes da ordenha, usando uma soluoeficaz, na diluio certa e que no seja irritante para a pele.

    O ps-dipping realizado com a imerso dos tetos em

    soluo anti-sptica depois da ordenha (Fagundes e Oliveira,2004). Essa medida considerada prtica, econmica e eficazpara o controle da mastite, reduzindo mais de 50% das novasinfeces intramamrias durante a lactao. No entanto, suaeficcia contra alguns tipos de mastite no tem sido compro-vada, principalmente aquelas causadas por Streptococcusuberis e coliformes (Silva, 2003).

    As vacas devem ter acesso ao alimento depois da retira-da do leite para mant-las em p at que a extremidade da tetaseque e o canal estriado se feche completamente. Essa tcnicaajuda a impedir uma contaminao ambiental imediatamenteaps a ordenha (Rebhun, 2000).

    DesinfetantesA definio oficial de desinfeco pela American Public

    Health Association (1950), US Publix Health Service andBritish Ministry of Health a morte de microrganismospatognicos por meios qumicos ou fsicos, aplicados direta-mente sobre os mesmos (Block, 1991).

    Os programas de controle da mastite objetivam reduzirsua prevalncia em nveis economicamente aceitveis, umavez que sua erradicao no se apresenta como uma metavivel (National Mastitis Concil, 1978). Um dos mtodos maisefetivos para prevenir novas infeces a realizao daantissepsia pr e ps-ordenha (Costa et al., 1993).

    A imerso dos tetos em produtos desinfetantes podeeliminar a maioria dos patgenos e reduzir os riscos das bact-rias terem acesso glndula mamria (Fonseca e Santos, 2001).

    Oliver et al. (1992) demonstraram que a antissepsia dostetos antes e depois da ordenha com produtos a base de dixidode cloro foi efetivo na preveno de infeco intramamria porStaphylococcus aureus e Streptococcus uberis.

    Com o sucesso desta prtica na reduo de novas infec-es intramamrias, com o tempo surgiram vrias bases desolues desinfetantes em diversas concentraes (NationalMastitis Concil, 2004).

    Os princpios ativos mais utilizados para desinfecodos tetos so iodo, clorexidina, cido sulfnico, cloro,perxidos, lauricidina, cido cloroso, entre outros. Com obje-tivo de diminuir a irritao e condicionar a pele dos tetos,pode-se utilizar essas bases germicidas associadas aemolientes como a glicerina, lanolina, propilenoglicol, sorbitol,leos vegetais, minerais e colgenos (Fonseca e Santos, 2001).

    Ribeiro (1996) concluiu que um dos principais fatoresenvolvidos na preveno de novas infeces a realizao daantissepsia adequada ps-ordenha, com solues prepara-das de preferncia com emolientes (lanolina ou glicerina 5-10%), evitando-se o acmulo de matria orgnica.

    Os melhores resultados no ps-dipping tm sido obti-dos com as seguintes concentraes de compostos: iodo - 0,7a 1,0%, clorexidina - 0,5 a 1,0% e cloro - 0,3 a 0,5% (4%hipoclorito de sdio). No pr-dipping, os produtos tradicio-nalmente utilizados so hipoclorito de sdio 2%, iodo 0,3%e clorexidina 0,3%. Em ambos os casos deve-se fazer a imersocompleta dos tetos (Fonseca e Santos, 2001).

    Costa (1998) verificou que as amostras de Staphyloco-ccus spp apresentaram resistncia in vitro quando testadasfrente ao cloro, o mesmo sendo verificado frente ao

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    Streptococcus spp. A eficcia da clorexidina e do cloro frentes cepas de Corynebacterium spp sofreu interferncia na pre-sena da matria orgnica, sendo, portanto, menor quandocomparada com os produtos a base de iodo.

    O uso de derivados de amnia tem sido indicado nops-dipping e desinfeco de material de ordenha, bem comomos das pessoas envolvidas no processo.

    VacinaoA vacinao em alguns casos de mastite clnica reduz a

    prevalncia e a gravidade dos quadros clnicos, como ocorrenas ambientais causadas por coliformes: E. coli, Klebsiellaspp, Enterobacter spp. Podem ser usadas vacinas autcto-nes, produzidas a partir de patgenos isolados de surtos daprpria fazenda, ou comerciais j existentes no mercado (Mller,2002; Silva, 2003). Para mastites causadas por S. aureus, Silva(2003) relatou resultados promissores do uso da terapia vacinalna reduo da gravidade, bem como da prevalncia.

    ResduosA presena de resduos de antibiticos no leite tem sido,

    nos ltimos anos, um dos maiores desafios da indstria dealimentos no mundo, pois eles interferem na industrializaode alguns produtos lcteos, podem causar hipersensibilidadeem humanos, alm de resistncia antibioticoterapia, e soconsiderados indesejveis pelos consumidores. Estima-se queaproximadamente 3,5% das pessoas tratadas com doses tera-puticas de sulfonamidas exibem reaes adversas a essasdrogas, e mais de 10% so alrgicas s penicilinas e seusmetablitos (Fonseca e Santos, 2000).

    A preveno das enfermidades e o monitoramento douso dos antimicrobianos diminuem a ocorrncia de resduosnos alimentos e o aparecimento de resistncia bacteriana. Sobo ponto de vista do uso teraputico de antimicrobianos, algu-mas consideraes so sugeridas: Devem ser utilizados apenas sob prescrio veterinria; Devem ser usados nos casos em que se suspeite ser o agen-te causal no apenas de natureza infecciosa como, tambm,sensvel ao medicamento escolhido, com base em resultadosde antimicrobianos; A escolha do antimicrobiano deve ser feita levando em considera-o a relao risco versus benefcio ( sade animal e humana); Seguir rigorosamente as instrues da bula do produto utili-zado, principalmente respeitar o prazo mnimo do perodo decarncia estabelecido pelo fabricante; Us-los pelo menor perodo de tempo possvel, porm pelo tem-po necessrio para que ocorra total remisso do agente causal; Manter um registro dos animais tratados, dos medicamentosutilizados, da posologia, do perodo em que foi feito o trata-mento, e dos nomes dos que os prescreveram e forneceram; Monitorar os animais aps tratamento antes de liberar o leitepara consumo humano; Monitorar quartos no tratados de animais com tratamentointramamrio se for utilizado o leite destes quartos no trata-dos, pelo risco destes tambm apresentarem resduos; Sempre que possvel dar preferncia ao tratamento de mastitesubclnica ao final da lactao, na secagem, minimizando osriscos de resduos;

    Ateno especial deve ser dada tambm aos antimicrobianosutilizados como aditivos, antisspticos e desinfetantes (Fon-seca e Santos, 2000).

    A sade da glndula mamria um fator de alta relevn-cia na qualidade do leite e na lucratividade do produtor, umavez que a mastite determina redues drsticas na produo.

    Em 18 de setembro de 2002, o Ministrio da Agricultura,Pecuria e Abastecimento (MAPA), por intermdio do Depar-tamento de Inspeo de Produtos de Origem Animal (DIPOA)publicou a Instruo Normativa N 51 no Dirio Oficial daUnio. Esta instruo normatiza a produo, estabelecendoos critrios e parmetros de identidade e qualidade do leitedesde a ordenha, o resfriamento na propriedade e seu trans-porte a granel, incluindo requisitos fsico-qumicos emicrobiolgicos, contagem de clulas somticas (CCS) e limi-tes mximos de resduos (LMR) de antimicrobianos. Destaforma busca-se a melhoria da qualidade do leite produzido eindustrializado (Brasil, 2002).

    Diante do exposto muito importante diminuir a inci-dncia da mastite para evitar as perdas de quantidade e quali-dade do leite. A utilizao de antimicrobianos dever ser feitacorretamente, de acordo com a recomendao do mdico ve-terinrio. O manejo na fazenda influencia na ocorrncia damastite, assim a ordenha deve ser bem feita. A higiene e desin-feco so fundamentais para o controle dessa enfermidade.

    AGRADECIMENTODr. Jos Ricardo Garla de Maio, M.V., Diretor Comerci-

    al. Ourofino Agronegcio Ltda.

    LITERATURA CONSULTADA

    A literatura consultada pode ser adquirida mediante so-licitao autora: [email protected]

    Rsum

    La mammite bovine

    D. M. S. Cassol et al.

    La mammite est un processus inflamatoire de la glandemammaire caractris par des altrations pathologiques dutissu mammaire: microbiologiques, fisico-chimiques etorganoleptiques du lait. Ltiologie est complexique, avec dupotentiel zoonotique, et est responsable de grandes pertespour le produteurs de lait: reduction de la production laitire,chute du valeur de lanimal, limitation de la production desproduits lacts, limination de lait, dpenses avec assistencevtrinaire, mdicaments, main-doeuvre, limination prcocede vaches, dentre autres. Les causes de la mammite sontdordre toxique, traumatique, alergique, mtabolique etinfectieuse. Les causes infectieuses sont les plus couranteset environ 150 types de microbes peuvent tre responsablesde la maladie. Comme la mammite est la plus importante desmaladies des vaches laitires, sa prvention, son contrle etson traitement sont essentiels pour la rentabilit des levages.